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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 1 ª VARA CIVEL DA COMARCA DE RIO


DAS OSTRAS/RJ.

Processo nº 0002402-73.2022.8.19.0068

VANICE GOMES DE SOUZA, já qualificada nos autos do


processo em epígrafe, AÇÃO DECLARATORIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, que move em face de AMPLA
ENERGIA E SERVIÇOS S/A - ENEL, por sua advogada devidamente constituída,
vem a presença de Vossa Excelência apresentar sua REPLICA a Contestação de
fls. Contestação fls.91/ 172 com duplicidade 174/255, nos termos a seguir expostos:

I. DA TEMPESTIVIDADE

Salienta-se que a presente réplica é devidamente


tempestiva, haja vista que o prazo para sua apresentação é de 15 (quinze) dias
uteis, contados do primeiro dia útil seguinte ao da publicação(31/01/2023), nos
moldes do art. 219, do CPC.

II. DOS FATOS

O Réu foi citado para apresentar contestação; e em sua


defesa alegou preliminar, que será impugnada a seguir.

DA PRELIMINAR
A Requerente repele todas as preliminares ofertadas
pelo Réu em sua “peça de Bloqueio”. E ratifica os fatos alegados na exordial.
Em primeiro lugar, seria despiciendo, nesta peça
processual reiterarmos as razões, já, exaustivamente, arguidas na petição inicial e
que nos dá sustentáculo ao pedido formulado, no que diz respeito a reparação por
danos morais sofrido pela Requerente
Apesar do brilhante exercício de retórica, apresentado
pela Empresa Ré, em sua peça defensiva, a mesma, data máxima vênia, distorcem
a verdade dos fatos, traz fatos inverídicos e não trouxe aos autos qualquer
documento que afastasse suas responsabilidades.

Portanto, não merece crédito a Contestação de fls. fls.91/


172 com duplicidade 174/255, apresentada pelo Réu uma vez que se trata de
tentativas inúteis de obscurecer os fatos, lançando sobre a verdade uma cortina de
fumaça, desviando a lide de seu verdadeiro objetivo e significado.
DA VERDADE DOS FATOS

Resumidamente, a parte autora questiona a cobrança do


valor referente à recuperação do consumo de energia não faturado em razão de
irregularidades constatadas pela Ré no sistema de medição da sua unidade
consumidora, fundamentando sua pretensão no já “batido” argumento de que a
apuração da evidente irregularidade teria ocorrido de forma unilateral, motivo pelo
qual se caracterizaria como arbitrária. Sendo essa a causa de pedir, requereu a
parte autora: a) Que determine a realização de perícia técnica no relógio medidor de
energia no endereço da Rua Capitão Silveira nº 1.076 apto 101, Cidade Beira Mar –
Rio das Ostras/RJ. CEP.:. 28890-173, antiga residência da Autora, por perito a ser
nomeado pelo M.M Juízo, com as devidas despesas custeadas pela Empresa Ré;
b) Que seja declarado NULO, ABUSIVO E INDEVIDO o débito apontado face a
suposta irregularidade no relógio medidor localizado na residência da Autora no
valor R$294,38 (duzentos e noventa e quatro reais e trinta e oito centavos), valor
apontado no TOI nº 2020/1780448;
c) A devolução em dobro do valor de R$294,52 (duzentos e noventa e quatro reais e
cinquenta e dois centavos), correspondente aos pagamentos indevidos das parcelas
referente aos meses de outubro/2021 – R$73,63 parcela 01/04; novembro –
R$73,63 parcela 02/04; dezembro/2021 – R$73,63, parcela 03/04 e janeiro/2022 –
R$73,63, parcela 04/04,totalizando o valor de R$ 589,04(quinhentos e oitenta e
nove reais e quatro centavos) ;
d) A condenação da Empresa Ré ao pagamento de indenização por danos morais,
sofridos, com o vexame, humilhação e constrangimentos perante seus vizinhos e
familiares, o qual foi prejudicada na sua qualidade de vida, no seu livre exercício do
direito de moradia, na segurança no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ou em
outro valor a ser arbitrado por Vossa Excelência, como medida pedagógica-
educativa no sentido do respeito e busca pela efetividade dos direitos da
personalidade do consumidor;

Eis a lide na sua essência.

O que não merece procedências são as alegações da


Empresa Ré, pois de nada esclareceu.

A contestação da parte Ré é genérica, o ônus da


impugnação específica veda elaboração de defesas genéricas, inespecíficas ou
abstratas, fundadas em mera negativa geral, impondo ao réu o dever de ser claro e
preciso em suas manifestações, o que não ocorreu.

A parte Ré sequer teve o trabalho de ler atentamente a


peça exordial, pois em nenhum momento da peça exordial a Autora alega
suspensão do seu fornecimento em razão do não pagamento do valor apurado pela
concessionária, pois nota-se claramente que todo trabalho na peça contestatória
esta direcionado para o Termo de Ocorrência e Inspeção (TOI) nº 2020-1796218,
conforme as alegações contidas no item 21, quando na realidade o TOI
imputado a Autora é o TOI nº 2020-1780448, conforme abaixo:
Portanto para Autora fica fatigante ter que replicar uma
peça contestatória confusa , que trazem fatos estranhos a demanda.

No item 20, da peça contestatória, a parte Ré alega que


constatou que a unidade da Autora estava diretamente ligada à rede elétrica, sem
passagem pelo sistema de medição eletrônica de consumo. Fato totalmente
estranho a lide e que não merece apreciação deste Juízo, visto que durante o
período de 18/11/2019 a 18/05/2020, a Autora recebeu suas faturas com valores a
pagar, jamais recebeu uma fatura zerada.

E como pode ser verificado nas faturas abaixo, neste


período de 18/11/2019 a 18/05/2020, período alegado pela parte Ré que a unidade
da Autora estava com ligação direta, foi o período em que mais houve consumo de
energia em comparação as faturas anteriores, já anexadas aos autos. Como poderia
estar em ligação direta se houve a medição eletrônica do consumo, com a emissão
de faturas a pagar.

FATURA REF. NOVEMBRO/2019

FATURA REF. DEZEMBRO/2019

FATURAS REF. JANEIRO E FEVEREIRO/2020

FATURAS REF. MARÇO E ABRIL/2020

FATURA REF. MAIO/2020

Percebe-se Excelência, que após a “suposta” vistoria, o


consumo de energia da Autora não se alterou para mais, ao contrário, houve
redução do consumo. Concluindo que não havia irregularidade no relógio medidor
da residência da Autora.
Autora nunca se beneficiou de energia consumida e não
paga, pois certo de que toda energia consumida na residência era devidamente
registrada pelo relógio medidor e paga. Conforme comprova as faturas em anexo na
peça exordial.

A empresa Ré nunca solicitou perícia técnica no relógio


medidor de energia da residência da Autora, pois se tivesse feito teria a
comprovação de que não há irregularidades no relógio medidor e com certeza teria
juntado o laudo técnico aos autos, fato que não ocorreu.

De fato, o TOI 2020-1780448, foi produzido pela


empresa Ré de forma unilateral , assim como o faturamento do suposto valor
imposto sem a concordância da Autora.

A Autora nunca deixou de honrar suas obrigações perante


a empresa Ré, sempre se manteve adimplente.

Parte autora que demonstrou conforme faturas anexadas


a peça exordial, que não houve alteração da medição de consumo em sua
residência apto a legitimar a conduta da ré,

DA LAVRATURA DO TOI

Registre-se o disposto no art. 1º da Lei Estadual 3.024/98


do Rio de Janeiro, in litteris:
Art. 1º - Fica vedado às empresas concessionárias de serviços públicos incluir na
conta mensal dos serviços que prestam ou dos bens que fornecem, valores relativos
a diferenças de cobrança de contas anteriores já pagas.
§ 1º - A cobrança de eventuais diferenças relativas a contas anteriores já pagas será
efetivada em separado.
§ 2º - Ao consumidor fica garantido o direito de ser previamente informado sobre a
origem e o motivo da diferenças eventualmente cobradas, assegurando-se a ele o
pleno direito de defesa, independentemente do seu pagamento.
§ 3º - A empresa concessionária de serviço público não poderá interromper a
prestação do serviço ou fornecimento dos bens em virtude do não pagamento da
cobrança de diferenças de contas anteriores já pagas, salvo mediante autorização
expressa do juiz em processo judicial de cobrança, se tal diferença decorrer de fato
atribuído ao consumidor, tendo sido comprovado que agiu ele de má-fé, induzindo a
empresa concessionária de serviço público em erro no momento da aferição do
valor dos serviços prestados ou dos bens fornecidos.

É princípio basilar do direito do consumidor a informação


clara e adequada acerca do produto ou serviço, seu preço, quantidades e
características, conforme art. 6º, inciso III, do CDC, ratificado pelo art. 7º, II, da Lei
de Concessões (nº 8.987/95), cujo caput ainda ressalva expressamente a incidência
da Lei nº 8.078/90 na relação entre o usuário e a concessionária do serviço.

Outra não veio a ser a orientação firmada pela


jurisprudência desta Corte, cuja Súmula nº 254 assim reza:
“Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor à relação jurídica contraída entre
usuário e concessionária”.

Seria, pois, uma aberração quer às normas de Direito


Administrativo, quer aos mais basilares princípios do direito das obrigações, quer
ainda às normas protetivas do consumidor (que se presume parte vulnerável no
mercado, conforme diretriz estabelecida pelo art. 4º, inciso I, do CDC), imputar ao
usuário o ônus de provar que a apuração técnica da distribuidora de energia
estivesse equivocada.

Assim, competia à parte ré demonstrar de forma cabal a


regularidade da cobrança questionada ou a existência de causa excludente da
responsabilidade objetiva prevista no CDC, o que não ocorreu.
Ressalte-se que não foi observado o procedimento para
aferição de irregularidade previsto na Resolução n. 414 na ANEEL:
Art. 129. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a distribuidora deve
adotar as providências necessárias para sua fiel caracterização e apuração do
consumo não faturado ou faturado a menor.
§ 1o A distribuidora deve compor conjunto de evidências para a caracterização de
eventual irregularidade por meio dos seguintes procedimentos:
I – emitir o Termo de Ocorrência e Inspeção – TOI, em formulário próprio, elaborado
conforme Anexo V desta Resolução;
II – solicitar perícia técnica, a seu critério, ou quando requerida pelo consumidor ou
por seu representante legal;
III – elaborar relatório de avaliação técnica, quando constatada a violação do
medidor ou demais equipamentos de medição, exceto quando for solicitada a perícia
técnica de que trata o inciso II;
IV – efetuar a avaliação do histórico de consumo e grandezas elétricas;
V – implementar, quando julgar necessário, os seguintes procedimentos:
a) medição fiscalizadora, com registros de fornecimento em memória de massa de,
no mínimo, 15 (quinze) dias consecutivos; e
b) recursos visuais, tais como fotografias e vídeos.

O TOI emitido não tem os dados completo da Autora e


nem sua assinatura.
A empresa Ré não apresenta recursos visuais.

Observa-se, ainda, os termos do verbete sumular 256


deste Eg. Tribunal de Justiça:
“O termo de ocorrência de irregularidade, emanado de concessionária, não ostenta o
atributo da presunção de legitimidade, ainda que subscrito pelo usuário”.

Assim, devem prevalecer os direitos básicos do


consumidor previstos no art. 6°, IV, VI, VIII e X do Codecon, sendo certo que a
exigência de pagamento de consumo pretérito, com ameaça de corte do
fornecimento do serviço essencial, atenta contra a determinação legal e ainda contra
o sistema de proteção do consumidor, principalmente quanto aos valores cobrados
que não condizem, eis que há um excesso de cobrança o qual deverá ser apurado
por perícia técnica.

De toda forma, diante do quadro apresentado não restam


dúvidas da nulidade do Termo de Ocorrência de Irregularidade, bem como da
inexigibilidade e qualquer débito dele decorrente.

A empresa Ré não traz aos autos qualquer prova que a


exime de seus erros e culpas, em sua peça contestatoria apenas alegou fatos
estranhos a presente demanda.

DA APLICABILIDADE DO PEDIDO DE DEVOLUÇÃO EM DOBRO

O CDC protege o consumidor contra cobrança abusiva


de dívidas - aquelas que o expõe a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Ademais, prevê o Diploma Consumerista que o consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, salvo hipótese de engano justificável (art. 42 do CDC).

Art. 42 (...)

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

E no presente caso não houve engano justificável, o que


houve foi a má-fé da Empresa Ré em querer imputar a Autora uma cobrança
abusiva, sem que ela tenha dado causa.

DA EXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS


No que concerne ao dano moral, não é preciso vertes rios
de tinta para se chegar a conclusão de que, in casu, ele se opera in re ipsa,
decorrendo do próprio fato, dispensando comprovação, por ser inegável que a lesão
sofrida ultrapassa o mero dissabor cotidiano.

Mais ainda que assim não fosse, a Empresa Re, além de


realizar cobranças absurdas e extorsivas, imputou a Autora valores a pagar,
alegando consumo não registrado e parcelando o débito e embutindo tais parcelas
nas faturas mensais, sem a anuência da Autora.
O Dano Moral decorre do próprio fato e pelo desgaste e
constrangimento, além do Dano Material que é evidente, com a cobrança abusiva a
que, submetida, obrigada a pagar por algo que não praticou.
No caso, aplica-se a teoria da qualidade sobre o prisma
da adequação previsto no art. 14 do CDC, que traz a responsabilidade objetiva,
estipulando que o fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos a prestação dos serviços insuficientes ou inadequadas, o que se
aplica ao presente caso, no que toca a reparação do erro e de prestar o serviço de
forma segura, continua e eficiente, na forma do artigo 22 do mesmo diploma legal.

Tem-se que o TOI, por si só não serve como prova de


existência de fraude no relógio medidor de energia , por ser insuficiente a comprovar
o alegado pela Empresa Ré.
No mais, a Empresa Ré não apresenta elementos que
alterem a pretensão Autoral, sendo certo que sua versão para os fatos, logicamente
não convence e não traz fato impeditivo ou modificativo do direito da Autora.

Neste sentido, temos:


RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO DE
DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. RECUPERAÇÃO DE
CONSUMO. NÃO DEMONSTRADA A IRREGULARIDADE DO MEDIDOR.
CONSUMIDOR AUSENTE DURANTE A CONFECÇÃO DO TERMO DE
OCORRÊNCIA E INSPEÇÃO (TOI). INCABÍVEL COBRANÇA DE
RECUPERAÇÃO NO CASO CONCRETO. A parte ré pede provimento ao recurso
para que seja reformada a sentença que desconstituiu o débito relativo à
recuperação de consumo do período de 20/11/2009 a 12/09/2012. Embora
demonstrada oscilação de consumo no período apontado como irregular (fls.49 e
50), a recorrente não logrou êxito em comprovar a existência de irregularidade no
medidor, pois deixou de trazer sequer laudo que ateste a existência da alegada
violação do lacre. Além disso, o TOI juntado aos autos (fl.57), não apresenta a
assinatura da autora, o que aponta que esta não estava presente no momento da
inspeção, o que desrespeita a Resolução 414/10 da ANEEL. Assim, deve ser
mantida a sentença que desconstituiu o débito sub judice e tornou definitivos os
efeitos da tutela antecipada deferida. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
IMPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005591813, Primeira Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Fabiana Zilles, Julgado em 26/01/2016).

(TJ-RS - Recurso Cível: 71005591813 RS, Relator: Fabiana Zilles, Data de


Julgamento: 26/01/2016, Primeira Turma Recursal Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 28/01/2016)

0010334-31.2018.8.19.0205 - APELAÇÃO

Des(a). RENATA MACHADO COTTA - Julgamento: 30/01/2023 - TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. TERMO


DE OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE. PROVA UNILATERAL. IRREGULARIDADE DA
LAVRATURA DO TOI. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE COMPORTA MAJORAÇÃO. REFORMA DO DECISUM. A
presente demanda versa sobre a suposta constatação de que haveria fraude no medidor,
tendo parte ré lavrado o Termo de Ocorrência de Irregularidade. Ocorre que, impõe-se a
assertiva de que para se caracterizar a irregularidade na conduta do consumidor não se
mostra suficiente a simples lavratura do TOI (Termo de Ocorrência de Irregularidade), já que
unilateral, malfere as garantias constitucionais do devido processo legal, ampla defesa e
contraditório. Com efeito, na hipótese dos autos, em razão da matéria consumerista aventada,
caberia ao réu a comprovação de regularidade da lavratura do termo, o que não logrou
providenciar. É ônus do fornecedor fazer a prova de que o defeito no serviço inexiste ou de
alguma excludente do nexo causal, sendo de certa forma desdobramento lógico do próprio
risco da atividade por ele desenvolvida no mercado de consumo. Ademais, o laudo pericial
acostado aos autos atestou a irregularidade do TOI lavrado. E, sobre esse laudo, a parte ré
não apresentou quaisquer provas que pudessem refutar as conclusões do expert nomeado
pelo juízo para produzi-lo. Restou, assim, evidente que houve falha da empresa ré, não
podendo valer-se de provas tão abstratas para afirmar a irregularidade. No que tange à
essencialidade do serviço, certo é que, em que pesem os entendimentos de que a energia
elétrica apenas é essencial quando se tratar de hospitais e escolas, não se pode negar,
atualmente, diante da sociedade que possuímos, o caráter essencial da energia elétrica no
cotidiano das pessoas, não somente no que se refere ao bem estar e lazer, mas também
quanto às atividades ordinárias. Logo, restando comprovado que a autora foi surpreendida
com cobrança que não refletia o seu real consumo, é manifesta a ocorrência de danos morais
e materiais. O dano moral configura-se in re ipsa, derivando, inexoravelmente, do próprio fato
ofensivo, de tal modo que, provado este fato, ipso facto, está demonstrado o dano moral,
numa típica presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras da
experiência comum. Inequívocos os danos morais, resta necessária a análise do quantum
reparatório. No que tange ao dano moral, deve ser este fixado de acordo com o bom senso e o
prudente arbítrio do julgador, sob pena de se tornar injusto e insuportável para o causador do
dano. Nesse passo, considerando as circunstâncias do caso concreto, majoro a verba
reparatória para R$ 4.000,00 (quatro mil reais), patamar razoável e usualmente aplicado em
casos semelhantes. Provimento do recurso.

DO ONUS DA PROVA

Evidenciando-se a condição de vulnerabilidade da Autora


frente à ré fornecedora de serviços, é de ser reconhecida sua hipossuficiência apta a
ensejar a inversão do ônus da prova. Sendo a inversão do ônus da prova uma
faculdade concedida ao magistrado, inexiste óbice legal para que esta seja efetuada
na ocasião da sentença.
O serviço de fornecimento de energia elétrica constitui
uma relação de consumo entre a concessionária e seus usuários e, portanto, regida
pelo CDC e consequentemente gerando inversão do ônus da prova a favor do
consumidor, quando restar evidente a hipossuficiência do consumidor diante da
empresa concessionária de serviço público.

Registre-se, por oportuno, que, em razão da manifesta


hipossuficiência da Autora e por força da aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, além do uníssono entendimento jurisprudencial sobre o tema, cabe à
Empresa Ré demonstrar a regularidade da cobrança que está sendo realizada por
ela. Bem como esclarecer os motivos corretos e legais que ocasionaram a emissão
do TOI, o que, seguramente, não será possível.

Em sendo assim, fácil concluir pela ilegalidade do TERMO


DE OCORRENCIA e INSPEÇÃO nº 2020-1780448, e, nas cobranças realizadas
pela Contestante, sendo, portanto, totalmente descabidas as (genéricas) alegações
contidas na peça de bloqueio.
Quanto às demais alegações trazidas pelo Réu em sua
peça de bloqueio, na tentativa de induzir este Juízo ao erro, se tratam de ius
sperniandi, sem nenhuma valia, que não merece apreciação deste Juízo,
vislumbrando o fito meramente emulativo, ao trazer fatos estranhos para procrastinar
a presente demanda.
Pelas razões acima expostas, reitera a Autora o seu
requerimento anterior de que sejam julgados totalmente procedentes os seus
pedidos iniciais, por aí ser uma medida do bom DIREITO e da mais lídima JUSTIÇA
para com a Autora.

N.Termos,
Pede e espera o deferimento.

Rio das Ostras, 16 de fevereiro de 2023.

VANDA BIANCHI GOMES


OAB/RJ 136.608

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