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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE xxxx/RS.

AUTOS Nº xxxxxxxxxx

NOME DA PARTE, já qualificado nos autos, vem respeitosamente, à presença


de Vossa Excelência, por intermédio de sua procuradora signatária, tempestivamente, nos
termos dos art. 41 e seguintes da Lei 9.099/95, interpor o presente

RECURSO INOMINADO

em face da respeitável Sentença que julgou improcedente os pedidos


formulados nos autos da ação em epígrafe, com as razões anexas, requerendo que as
mesmas sejam remetidas à Colenda Turma Recursal do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul.

Requer ainda, o recebimento do presente recurso sob assistência judiciária, já


que o Autor está impossibilitado de pagar as custas desta ação sem prejuízo de seu sustento.
Em atenção ao princípio da colaboração recursal, requer-se a intimação do Recorrente para
sanar eventual irregularidade que obste o recebimento do recurso.

Nestes termos, Pede deferimento.

LOCAL, DATA.
ADVOGADO
OAB/RS XXX

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


COLENDA TURMA RECURSAL

EMÉRITOS JULGADORES
RAZÕES DE RECURSO INOMINADO

RECORRENTE: PARTE

RECORRIDOS: PARTE.

I - DOS FATOS E DA SENTENÇA RECORRIDA


Trata-se de Recurso Inominado interposto pela parte Recorrente ante a decisão
que julgou improcedentes os pedidos formulados nos autos da ação em epígrafe, nos
seguintes termos:
“ISSO POSTO, opino pela IMPROCEDÊNCIA dos pedidos na ação que XXX
moveu contra CEEE-D, conforme o artigo 487, inciso I do CPC.”

Com efeito, em que pese o inquestionável saber do eminente Julgador, a


decisão merece reforma, conforme será exposto adiante.

II - DA JUSTIÇA GRATUITA:

O Recorrente pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurados


pela Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015.

Infere-se dos artigos supracitados que qualquer uma das partes no processo
pode usufruir do benefício da justiça gratuita. Logo, a Recorrente faz jus ao benefício, haja
vista não ter condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo de sua
mantença.
Mister frisar, ainda, que em conformidade com o art. 99, § 1º, do novo
CPC/2015, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por petição simples e
durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade de se requerer em qualquer
tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça gratuita, ante a alteração do status
econômico.
Ainda sobre a gratuidade a que tem direito, o novo Código Instrumentalista
dispõe em seu art. 99, § 3º, que “presume-se verdadeira a alegação de insuficiência
deduzida exclusivamente por pessoa natural”. Assim, à pessoa natural basta a mera
alegação de insuficiência de recursos, sendo desnecessária, num primeiro momento, a
produção de provas da hipossuficiência financeira.

Assim, ex positis, pois, requer-se os benefícios da assistência judiciária gratuita.


III – DAS RAZÕES PARA A REFORMA DA SENTENÇA

Excelência, no caso dos autos, o juízo de primeiro grau entendeu, em síntese,


que a fatura emitida em valor exorbitante e dissonante dos meses anteriores e posteriores a
abril/2021 é válida.

Para tanto, fundamentou no fato de que o Recorrente não é consumidor de baixa


renda e que, por tal razão, “pode ter ocorrido que o autor deixou equipamentos elétricos
ligados, na sua residência sem perceber, como aparelho de ar condicionado ou outro
equipamento que gerou fuga de energia elétrica, e foi viajar. Além disso, o autor não
comprovou que possui poucos eletrodomésticos em sua residência”.

Em razão disso, julgou improcedentes os pedidos formulados, inclusive de


indenização por danos morais, entendendo que a Recorrida agiu em exercício regular de
direito.

No entanto, a fundamentação e o entendimento adotado pelo julgador na


sentença estão completamente equivocados – para se dizer o mínimo – e em desacordo com
o acervo probatório constante nos autos.

Cabe destacar, inicialmente, que o fato de o Recorrente supostamente não ser


consumidor de baixa renda nada tem a ver com os pontos controvertidos da presente lide,
pois aqui o que se discute é a regularidade da fatura de consumo de abril/2021 - que foi
emitida em valor exorbitante e dissonante do real consumo do autor – e a ausência de
prévia notificação ao corte de energia elétrica.

Além disso, o julgador deve formar a sua convicção de acordo com a prova dos
autos, e não com base em juízo hipotético de fatos que não se encontram nos autos, pois no
presente caso, o Julgador supõe que o autor tenha deixado equipamentos ligados em sua
residência e adota tal fundamento infundado para amparar a sua decisão, o que não merece
prosperar.

Ademais, como o presente caso se trata de uma relação de consumo, não é o


consumidor que deve provar possuir poucos eletrodomésticos em sua residência, mas a
concessionária deve provar o efetivo consumo de energia pelo consumidor, o que não
ocorreu.

Sobre o ponto, cabe inicialmente destacar que, após receber a fatura em valor
exorbitante, o autor abriu o protocolo nº 0170480212, no qual ficou constatado que não
existia fuga de energia no medidor da sua residência.

Dessarte, conforme o demonstrativo de consumo juntado na fl. 19, verifica-se


que o consumo registrado em abril/2021 é completamente dissonante do consumo dos
demais meses anteriores e posteriores:

Houve o registro de consumo de 1554 Kwh, sendo que, nos meses anteriores e
posteriores, havia uma média de consumo de 300 Kwh.

Nesses exatos termos o extrato da fl. 115:

Registre-se que a ré se limitou a acostar telas sistêmicas e não fez nenhuma


prova para justificar a cobrança exorbitante.

Em situações análogas, o TJRS e suas Turmas Recursais têm entendimento


firmado no sentido de desconstituir essas cobranças abusivas, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA. FATURA MENSAL
EXORBITANTE. DESCONSTITUIÇÃO DO VALOR
EXCEDENTE. Fatura mensal com valores excessivos.
A desconstituição do valor excedente da fatura com
vencimento no dia 13/11/2019, no valor de R$ 749,59,
mostra-se impositiva, porquanto exorbitante o débito em
comparação com a média do consumo mensal de
energia elétrica na residência da parte autora. A parte ré,
por sua vez, não se desincumbiu do ônus que lhe cabia
de demonstrar a ocorrência do consumo destoante do
consumo regular da autora, bem como de que a leitura
era realizada de forma plurimensal, a teor do art. 6º,
inc. III, do Código de Defesa do Consumidor e do art.
373, II, do CPC/15. Contudo, embora tenha restado
claro que há valores a maior na fatura supramencionada,
também é certo que a parte autora usufruiu do bem
essencial durante o período, razão pela qual deverá ser
recalculado de acordo com a média aritmética do
consumo registrado nos doze meses posteriores a
outubro de 2019. (...).(Apelação Cível, Nº
50000643920208210138, Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Fátima
Cerveira, Julgado em: 23-02-2022) (grifei)

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR.


ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
ALEGAÇÃO DE COBRANÇA EXORBITANTE NOS
MESES DE NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2019.
AUSÊNCIA DE PROVA DA REGULARIDADE DA
COBRANÇA EFETUADA PELA RÉ. REGISTRO DE
CONSUMO MUITO SUPERIOR AO COMUMENTE
UTILIZADO PELA PARTE AUTORA.
REGULARIDADE DA AFERIÇÃO QUE NÃO FOI
DEMONSTRADA. DESCONSTITUIÇÃO DO
DÉBITO. RECÁLCULO DAS FATURAS
DESCONSTITUÍDAS COM BASE NA MÉDIA DOS
ÚLTIMOS TRÊS MESES DE EFETIVO CONSUMO,
ANTERIORES AO PERÍODO IMPUGNADO.
PEDIDO CONTRAPOSTO IMPROCEDENTE.
RECURSO DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº
71010263580, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe,
Julgado em: 15-12-2021) (grifei)
Requer-se, portanto, a reforma da decisão no ponto, para declarar inexistente e
desconstituir a dívida referente ao consumo de 1554 Kwh no mês de abril/2021, de modo
que seja recalculado o consumo mensal por média dos três meses anteriores a abril/2021 e
seja repetido em dobro o valor a maior pago pelo autor.

De igual forma, merece reforma a decisão no ponto com relação ao pedido de


indenização por danos morais.

No caso, é devida a condenação da Recorrida ao pagamento de indenização por


danos morais em razão da ausência de prévia notificação ao corte da energia elétrica em sua
residência, bem como por ter efetuado o corte com base em fatura abusiva e exorbitante.

A interrupção do fornecimento da energia elétrica deve ser antecedida de aviso


prévio ao consumidor de, pelo menos, 15 dias, nos termos da resolução nº 456 da ANEEL.

Sobre o ponto, o TJRS e suas Turmas Recursais possuem o entendimento de


que a interrupção do fornecimento de energia elétrica sem aviso prévio configura dano
moral in re ipsa, a saber:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO


ESPECIFICADO. ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. (...)
Relativamente ao período em que a autora ficou sem o
serviço de energia elétrica, tendo o corte ocorrido sem
prévio aviso, há incidência do chamado dano moral “in
re ipsa”, decorrente do próprio fato e sua natural
repercussão na esfera do lesado, presumível, isto é, sem
necessidade de prova quanto ao efetivo prejuízo sofrido
pela parte em razão do evento danoso. A indenização,
todavia, deve ser fixada considerando a necessidade de
punir o ofensor e evitar que repita o seu
comportamento, devendo-se levar em conta o caráter
punitivo da medida, a condição social e econômica do
lesado e a repercussão do dano. Quantum indenizatório
mantido no caso concreto. Apelação desprovida.
(Apelação Cível, Nº 70083792978, Vigésima Primeira
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Marco Aurélio Heinz, Julgado em: 23-09-2020) (grifei)

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR.


OBRIGACIONAL E RESPONSABILIDADE CIVIL.
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA
COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE ENERGIA
ELÉTRICA. SUSPENSÃO NO FORNECIMENTO,
SEM AVISO PRÉVIO. NOTIFICAÇÃO
ADMINISTRATIVA DE ADEQUAÇÃO TÉCNICA.
DANO MORAL CARACTERIZADO PELA FALTA
DE PRÉVIA NOTIFICAÇÃO DE SUSPENSÃO DO
SERVIÇO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(Recurso Cível, Nº 71009239153, Terceira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Fabio Vieira
Heerdt, Julgado em: 13-04-2020) (grifei)

Verifica-se, portanto, que a cobrança exorbitante é


indevida e que houve a indevida interrupção do
abastecimento de energia elétrica na residência do autor
sem aviso prévio, o que configura dano moral in re ipsa.

Requer, portanto, o provimento do presente recurso, para fins de reformar


integralmente a sentença prolatada e se julgar integralmente procedentes os pedidos
formulados na inicial.

IV - DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer-se:
a) A aplicação dos benefícios da assistência judiciária gratuita ao Recorrente;

b) O conhecimento e provimento do presente recurso para fins de reformar integralmente a


sentença recorrida e julgar integralmente procedentes os pedidos formulados na inicial, nos
termos da fundamentação;

c) A condenação da Recorrida ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais.

Nesses termos, pede deferimento.

LOCAL, DATA.

ADVOGADO
OAB/RS XXXX

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