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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Autos nº. 0002522-94.2022.8.16.0167

Recurso: 0002522-94.2022.8.16.0167 RecIno


Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Fornecimento de Energia Elétrica
Recorrente(s): COPEL DISTRIBUIÇÃO S.A.
Recorrido(s): ESDRAS DA SILVA NASCIMENTO

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. INTERRUPÇÃO NO SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA POR
CONSIDERÁVEL LAPSO DE TEMPO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS. SERVIÇO ESSENCIAL. DEMORA EXCESSIVA PARA
RESTABELECIMENTO DO SERVIÇO. DANO MORAL CONFIGURADO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO ADEQUADO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. RELATÓRIO

Relatório dispensado conforme art. 38 da Lei 9099/95.

2. VOTO

Presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, o recurso


em apreço deve ser conhecido.

Trata-se de recurso inominado interposto em desfavor da sentença que condenou


a ré ao pagamento de R$ 2.000,00 a título de danos morais em razão da interrupção e demora
no restabelecimento do serviço de energia. Em suas razões recursais, a reclamada sustentou
a inexistência de danos morais e, subsidiariamente, requereu a minoração da condenação.

A relação entre as partes é de consumo, uma vez que se amoldam aos conceitos
de consumidor e fornecedor de serviços e produtos dos arts. 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor. Em razão disso e em sendo a parte autora hipossuficiente (tanto técnica quanto
economicamente) perante a ré, é devida a inversão do ônus da prova nos termos do art. 6º,
Vlll, do CDC.
De acordo com o reclamante, em 15/10/2021, a energia elétrica foi interrompida
de forma abrupta em sua residência, serviço que só foi restabelecido no dia seguinte,
passadas 24 horas. Posteriormente, na data de 22/10/2021 o serviço foi novamente
interrompido, com retorno somente no dia 25/10/2021.

As telas sistêmicas acostadas pela ré em sede de contestação corroboram com a


narrativa autoral, especialmente no que concerne à interrupção do serviço de energia elétrica
nas datas em questão. O relatório de seq. 20.2, cujo conteúdo detalha as informações da
unidade consumidora do reclamante, demonstra que houve interrupção do serviço nas datas
aludidas.

Ressalta-se que, diante da inversão do ônus da prova, incumbia à reclamada


comprovar a ausência de interrupção do fornecimento de energia elétrica na residência da
parte reclamante, todavia, as provas produzidas pela ré confirmam a alegação autoral de que
houve interrupção do serviço.

Portanto, imperiosa a conclusão de que a parte autora ficou tempo considerável


sem o serviço de energia elétrica.

Do relatório mencionado, extrai-se que a unidade consumidora permaneceu sem


energia por pouco mais de dois dias, totalizando em torno de 62 horas de interrupção (seq.
20.2).

Diferentemente do que sustenta a ré em sua tese defensiva, reiterada em


recurso, a ocorrência de eventos climáticos não configura força maior capaz de excluir sua
responsabilidade, por consistir em fortuito interno à atividade desempenhada, o que afasta a
excludente de ilicitude prevista no art. 14, §3º do Código de Defesa do Consumidor.

Enquanto prestadora de serviço público essencial, é dever da reclamada prestar


seus serviços de forma eficiente e contínua, conforme determina o art. 37 da Constituição
Federal e o art. 6º, §1º da Lei 8.987/95, sendo possível afirmar que o serviço prestado não foi
adequado, em razão da descontinuidade e demora no restabelecimento do serviço, que
superou o prazo de 24 horas previsto no art. 362, inciso IV, da Resolução nº 1000/2021 da
Anatel.

A responsabilidade da ré é objetiva, bastando que se demonstre o nexo de


causalidade entre sua conduta e o dano suportado pelo usuário, o que restou claramente
comprovado nos autos, tendo em vista a essencialidade do serviço para o desempenho de
atividades diárias, bem como para que o usuário possa viver com dignidade.

Certo é que a privação indevida da utilização de serviço tido como essencial, sem
que a reclamada tenha comprovado minimamente as providências necessárias quanto ao
restabelecimento da energia elétrica em lapso de tempo razoável, ofende a dignidade humana
e enseja compensação por dano moral.
Em relação ao quantum indenizatório, resta consolidado, tanto na doutrina, como
na jurisprudência pátria, o entendimento de que a fixação do valor da indenização por dano
moral deve ser feita com razoabilidade, levando-se em conta determinados critérios, como a
situação econômica da parte autora, o porte econômico da parte ré, o grau de culpa, visando
sempre à atenuação da ofensa, a atribuição do efeito sancionatório e a estimulação de maior
zelo na condução das relações.

E nesta linha de raciocínio, ponderando-se o tempo de interrupção do serviço,


reputa-se razoável a manutenção do valor da indenização por dano moral em R$ 2.000,00
(dois mil reais), por adequar-se às finalidades do instituto, às peculiaridades do caso concreto,
bem como aos padrões estabelecidos por esta Turma Recursal em casos semelhantes.

Com tais considerações, voto pelo desprovimento do recurso apresentado,


mantendo-se hígida a sentença.

Não logrando êxito no recurso, a parte recorrente deve arcar com as despesas do
processo, nos termos da Lei Estadual 18.413/14, e verba honorária, arbitrada em 15% sobre o
valor da condenação, com fulcro no art. 55 da Lei 9099/95.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, esta 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por
unanimidade dos votos, em relação ao recurso de COPEL DISTRIBUIÇÃO S.A., julgar pelo(a)
Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Maria Fernanda Scheidemantel Nogara
Ferreira Da Costa, sem voto, e dele participaram os Juízes Vanessa Bassani (relator), Nestario
Da Silva Queiroz e Melissa De Azevedo Olivas.

Curitiba, 15 de dezembro de 2023

VANESSA BASSANI

Juíza Relatora

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