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Tribunal

PJe - Processo Judicial Eletrônico

09/03/2020

Número: 8002933-12.2018.8.05.0243
Classe: RECURSO INOMINADO
Órgão julgador colegiado: 6ª Turma Recursal
Órgão julgador: 2º Julgador da 6ª Turma Recursal
Última distribuição : 12/11/2019
Valor da causa: R$ 10.000,00
Processo referência: 8002933-12.2018.8.05.0243
Assuntos: Produto Impróprio
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA DENNER DE BARROS E MASCARENHAS BARBOSA
COELBA (RECORRENTE) (ADVOGADO)
LUCILENE SANTOS SOUZA DA SILVA (RECORRIDO) ANTONIO GILDEMAR AZEVEDO PEREIRA FILHO
(ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
52506 02/03/2020 15:30 Voto do Magistrado Voto
64
PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

6ª Turma Recursal

Processo: RECURSO INOMINADO n. 8002933-12.2018.8.05.0243


Órgão Julgador: 6ª Turma Recursal
RECORRENTE: COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA COELBA
Advogado(s): RAFAEL MARTINEZ VEIGA, MARCELO SALLES DE MENDONCA
RECORRIDO: LUCILENE SANTOS SOUZA DA SILVA
Advogado(s): ANTONIO GILDEMAR AZEVEDO PEREIRA FILHO

VOTO

Conheço do recurso interposto, porquanto preenchidos os seus pressupostos de admissibilidade.

Inicialmente, analiso a preliminar de complexidade da causa suscitada pela recorrente.

Com efeito, verifico que o Autor trouxe aos autos fatura individualizada do período no qual houve a
suposta falha na prestação do serviço. Da sua simples leitura, constata-se a efetiva ocorrência de
interrupção de energia no lapso narrado.

Outrossim, ressalta-se que a análise da complexidade da causa é realizada pelo objeto da prova. A
propósito, destaco o Enunciado nº 54 do Fórum Nacional de Juizados Especiais (FONAJE) sobre o tema.
In verbis:

Enunciado 54, FONAJE: “A menor complexidade da causa para a fixação da competência é aferida pelo
objeto da prova e não em face do direito material”.

Logo, revela-se dispensável a produção de prova complexa ao caso em tela, já que o fato em si –
interrupção do serviço de energia elétrica – encontra-se devidamente elucidado pela fatura do período
acostada, que reforça a ocorrência e duração do evento.

Por tais razões, rejeito a preliminar ventilada pela defesa.

De igual modo, afasto a preliminar de intempestividade suscitado em contrarrazões, porquanto não restou
devidamente demonstrado o pagamento extemporâneo do preparo do presente recurso. Passo ao mérito.

Assinado eletronicamente por: ANA CONCEICAO BARBUDA SANCHES GUIMARAES FERREIRA - 02/03/2020 15:30:05 Num. 5250664 - Pág. 1
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Com efeito, tem-se que a relação travada entre as partes é de natureza consumerista, aplicando-se,
portanto, as regras do CDC. O art. 22 do citado diploma assim assevera:

Art. 22: “Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos”.

No caso em tela, aduz a parte autora que o serviço de energia elétrica foi descontinuado sem qualquer
aviso prévio. A fim de corroborar suas alegações, conforme os ditames do ônus da prova previstos no art.
373 do CPC, o autor juntou fatura de consumo do período relatado. Da sua detida análise, é possível
verificar não só a existência, mas também a duração e a frequência da interrupção relatada.

Por outro lado, a ré não se desincumbiu do seu ônus de provar a inexistência da interrupção, limitando-se
a, genericamente, negar a ocorrência do fato.

Nesse sentido, a suspensão, ainda que temporária, de serviço essencial – como o de energia elétrica –
causa grave dissabor a qualquer pessoa ou família no atual estágio de desenvolvimento social.

Sobre o tema, confiram-se os seguintes precedentes:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. INTERRUPÇÃO INDEVIDA DE FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE NÃO
MERECE ALTERAÇÃO. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 343 DESTA CORTE. O código consumerista
consagra a responsabilidade civil objetiva dos fornecedores de serviços. Laudo pericial concluindo que
houve "irregularidade no serviço prestado pela Concessionária Ré ao Autor, havendo evidências da
existência de graves deficiências na prestação do serviço contratado, contrariando diretamente o
disposto no artigo 140 da Resolução 414/2010 da ANEEL." A interrupção indevida no fornecimento de
energia elétrica caracteriza dano moral, ensejando a respectiva reparação. Arbitrada a indenização em
patamar razoável, à luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Sentença mantida.
DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJ-RJ - APL: 04214864620158190001, Relator: Des(a).
ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT, Data de Julgamento: 07/08/2019, 27ª CÂMARA
CÍVEL)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. INTERRUPÇÃO INDEVIDA NO FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA. DANOS MORAIS. SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE TJRJ Nº
192. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. CONDENAÇÃO EM R$ 4.000,00. APELAÇÃO. ALEGAÇÃO DE
BREVE INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO. SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE
TJRJ Nº 193. INAPLICABILIDADE. INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA POR 48
HORAS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. AUSÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO, MODIFICATIVO
OU EXTINTIVO DO DIREITO DOS AUTORES. ARTIGO 333, II. CPC. SENTENÇA QUE DEVE SER
MANTIDA. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO, COM ESPEQUE NO ARTIGO 557, CPC.
1. Sendo a ré uma pessoa jurídica enquadrada como fornecedora de serviços, deve responder
independentemente da existência de culpa pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, consoante preconiza o artigo 14, CDC. 2. Revela-se
descabida a argumentação expendida pela apelante no sentido de que seria aplicável ao caso concreto o
teor da Súmula de Jurisprudência Predominante do TJRJ nº 193, que assevera não haver dano moral
indenizável pela breve interrupção na prestação dos serviços essenciais de água, energia elétrica,
telefone e gás por deficiência operacional. 3. Não se pode considerar como “breve interrupção” o lapso
temporal de 48 horas, não havendo nenhuma escusa de cunho técnico-operacional capaz de justificar
tamanho espaço de tempo sem que houvesse o fornecimento de um serviço público essencial e
contínuo. 4. Para fins de aplicação da Súmula nº 193 desta Corte, deve reputar-se "breve" a interrupção
do serviço essencial energia elétrica quando não ultrapassar a marca de 4 (quatro) horas, prazo
conferido pelas normas da agência reguladora para a religação do fornecimento indevidamente suspenso
(art. 176, § 1º, da Resolução Aneel nº. 414/2010). Transpassado esse limite máximo, é de se reputar

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excessiva a indisponibilidade do serviço e, por conseguinte, indevida a sua suspensão, de modo a atrair a
incidência da Súmula nº 192 desta Corte estadual: "A indevida interrupção na prestação de serviços
essenciais de água, energia elétrica, telefone e gás configura dano moral”. 5. Com a inversão ope legis
do ônus da prova no caso concreto (artigo 14, § 3º, CDC), cabia à ré o ônus de provar fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito dos autores-apelados (artigo 333, II, CPC). No
entanto, constata-se que a ré não se desincumbiu do referido ônus de provar a inexistência da
interrupção do fornecimento de energia elétrica ou a culpa exclusiva dos autores-apelados. Consta dos
autos, inclusive, a própria confissão da ré no sentido de que realmente houve a interrupção do
fornecimento da energia (e-fls. 34 e 67). 6. Conclusão no sentido de que houve falha na prestação do
serviço oferecido pela ré, consubstanciada na indevida interrupção do fornecimento de energia elétrica
para a unidade consumidora dos autores-apelados, impondo-se a manutenção da condenação daquela
ao pagamento de uma compensação extrapatrimonial, nos termos da Súmula de Jurisprudência
Predominante TJRJ nº 192. 7. Sentença que deve ser mantida. 8. Recurso ao qual se NEGA
SEGUIMENTO. (TJ-RJ - APL: 00185476520138190087. Relator: JDS. DES. TULA CORRÊA DE
MELLO BARBOSA, DJ: 29/05/2015, 25ª Câmara Cível/Consumidor).

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. SUSPENSÃO NO


FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA EM VIRTUDE DE TEMPORAIS. DEMORA NA
RELIGAÇÃO CARACTERIZANDO FALHA DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NÃO
DEMONSTRADO PELA RÉ NENHUMA EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. - Responsabilidade
objetiva. Art. 37, § 6º, da CF/88. Relação de consumo. Inteligência do art. 14, § 1º, do CDC, em face da
prestação defeituosa do serviço, e do art. 22 do CDC, frisando que as concessionárias de serviço público
são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e a manter a continuidade quanto aos
essenciais, que é o caso do fornecimento de energia elétrica. Caso concreto no qual suficientemente
demonstrada a ocorrência do evento, do dano e do nexo causal. Temporal que atingiu a capital e região
metropolitana em dezembro/2012, atingindo milhares de clientes da CEEE e sendo notória a falha de
enormes proporções do serviço, inclusive com atuação, na época, do PROCON e do Ministério Público
Estadual, devido à demora nos reparos e religações, o que não pode ser imputado ao fenômeno
climático. - Ré que não se desincumbiu do ônus de demonstrar excludente de responsabilidade. - Danos
morais "in re ipsa". Abalo presumível daquele que fica cerca de três dias sem abastecimento de luz.
Quantitativo indenizatório fixado em R$ 5.000,00, de acordo com os parâmetros da Câmara em situações
análogas. APELO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70064798598, 9ª Câmara Cível, TJ/RS Relator: Carlos
Eduardo Richinitti, DJ: 26/08/2015). (TJ-RS - AC: 70064798598 RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti,
DJ: 26/08/2015, 9ª Câmara Cível, DJ 28/08/2015).

Portanto, resta configurada a responsabilidade civil da empresa acionada pela má prestação do serviço,
que deu ensejo à violação a direitos da personalidade do Recorrido e de sua família, privada de utilizar
serviço de natureza essencial.

Dessa forma, por se tratar de empresa prestadora de serviço público e demonstrados os elementos fáticos
ensejadores da responsabilidade civil, a saber, a conduta, omissiva ou comissiva, o dano (nesse caso
imaterial), bem como o nexo causal, resta patente o dever de indenizar.

Destarte, demonstrado que o recorrente se eximiu de prestar devidamente serviço de natureza essencial, é
aplicável ao caso sub judice a regra insculpida no art. 14 da Lei 8078/90, segunda a qual “o fornecedor de
serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos”.

Assim, correta a decisão que condenou a empresa Ré ao pagamento de indenização por danos morais,
uma vez evidenciado que o Autor suportou ônus indevido, passando por transtornos e aborrecimentos aos
quais não contribuiu.

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Para a fixação da quantia reparatória, o Juiz deve obedecer aos princípios da equidade e moderação,
considerando-se a capacidade econômica das partes, a intensidade do sofrimento do ofendido, a
gravidade, natureza e repercussão da ofensa, o grau do dolo ou da culpa do responsável, enfim, deve
objetivar uma compensação do mal injusto experimentado pelo ofendido e punir o causador do dano,
desestimulando-o à repetição do ato.

Desse modo, entendo que a indenização fixada pelo Juízo a quo atende aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, reparando com coerência os danos efetivamente sofridos, por defeito relativo na
prestação de serviço sem, contudo, propiciar enriquecimento sem causa, razão pela qual merece ser
mantida.

Ante o exposto, por vislumbrar não merecer reforma a decisão vergastada, voto no sentido de
CONHECER E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO interposto, para manter a sentença nos seus
próprios fundamentos. Custas e honorários pela Recorrente, estes de 20% (vinte por cento) sobre o valor
da condenação.

É como voto.

Bela. Ana Conceição Barbuda Ferreira

Juíza Relatora

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