Dispensado o relatório na forma do artigo 38 da Lei 9.099/95.
Trata-se de demanda pelo procedimento especial previsto na Lei 9.099/95,
por meio da qual a parte autora narra que é cliente da ré através do fornecimento de energia elétrica e que em 03.02.2023, por volta das 15:30 horas, ocorreu uma interrupção no fornecimento de energia e relata que resultou na ausência do devido fornecimento de energia elétrica pelo período de 48 horas e 30 minutos. Por essas razões, requer compensação por danos morais no valor de R$ 10.000,00.
Em contestação, a parte ré arguiu preliminares e, no mérito, sustenta
ausência de falha de prestação de serviço e inocorrência de danos morais.
Em sede de Audiência de Instrução e Julgamento, compareceram ambas as
partes, não sendo possível ter obtido acordo, tendo as partes se manifestado pela ausência de provas a produzir e, por fim, se reportaram as suas respectivas peças.
Passo a decidir.
REJEITO a preliminar de incompetência do juízo, eis que a presente demanda
não é complexa e dispensa a realização da prova pericial, salientando-se que a ré não comprovou ser este o único meio de provar o alegado. Presentes os pressupostos processuais de constituição e validade do processo, não havendo quaisquer nulidades ou irregularidades que devam ser declaradas ou sanadas, bem como outras preliminares que pendam de apreciação, passo ao exame do mérito. A relação jurídica entre as partes é de consumo, já que estão presentes os requisitos subjetivos (consumidor e fornecedor - artigos 2º e 3º) e objetivos (produto e serviço - §§ 1º e 2º do artigo 3º) dispostos no CDC.
A controvérsia da presente demanda se encontra na existência de falha na
prestação de serviços, consistente na interrupção e no restabelecimento do fornecimento de energia elétrica na residência do consumidor, bem como no consequente dever de indenizar.
Constato que a autora realizou a juntada de provas mínimas
fundamentadoras dos fatos constitutivos de seu direito, apresentando números de protocolo e na esfera administrativa, atendendo assim ao disposto no art. 373, I do CPC e Súmula 330 do TJRJ.
Em exame à contestação, verifico que a ré não apresentou um único
documento capaz de corroborar com suas alegações, sendo certo que, à luz da regra de distribuição do ônus da prova do art. 373, II, do CPC, incumbia à ré trazer aos autos elementos que comprovassem os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito autoral.
Saliento que a produção de prova pela parte ré a fim de se comprovar
inexistência de interrupção seria de fácil produção pela ré, bastando que apresentasse conteúdo probatório valorativo acerca do regular fornecimento de energia elétrica no período narrado pela autora, sendo certo que a ré não honrou com seu ônus probatório.
Dessa forma, resta caracterizada a falha na prestação de serviço do
fornecimento de energia elétrica, sem prova de excludentes.
O pedido de compensação por dano moral é procedente, visto que se trata
de um serviço essencial e configura a ocorrência de danos morais in re ipsa, nos termos do Enunciado 192 das Súmulas do TJRJ. Além disso, o serviço prestado pela parte ré é considerado essencial e deve ser prestado de forma contínua, nos termos do artigo 22 do CDC.
Nesse sentido, diante do tempo em que a autora permaneceu sem o devido
fornecimento de energia elétrica, qual seja, de 48 horas e 30 minutos, afasta-se a possibilidade de incidência verbete sumular 193 do TJRJ, eis que o presente caso não se trata de breve interrupção de serviço essencial.
Diante da situação fática apresentada, verifico que a extrapolação da
barreira do mero aborrecimento. Com isso, o quanto ao quantum indenizatório, na busca em fixar um valor que seja suficiente para reparar o dano de forma mais completa possível, sem importar em enriquecimento sem causa por parte do ofendido, deve o valor ser fixado de forma proporcional, moderada, razoável e compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, bem como com a intensidade e duração do sofrimento experimentado, a capacidade econômica do causador do dano e as condições sociais dentre outras circunstancias relevantes.
Sendo assim, atento as diretrizes acima expostas, considerando o tempo de
48 horas e 30 minutos em que a autora permaneceu sem a devida prestação do serviço de energia elétrica, fixo o valor da indenização por danos morais em R$ 2.500,00.
Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos,
com resolução de o mérito na forma do artigo 487, inciso I, do CPC para: CONDENAR a parte ré a pagar à parte autora a quantia de R$ 2.500,00, a título de compensação por danos morais, com correção monetária desde a publicação da sentença e juros de 1% ao mês a partir da citação. Sem custas e honorários de sucumbência, nos termos do art. 55 da Lei 9.099/95.
Nos termos do Enunciado 13.9.1 do Aviso Conjunto TJ/COJES 15/2016,
cientifico as partes que caso não seja realizado o pagamento da condenação judicial no prazo de 15 dias após o trânsito em julgado da Sentença, o débito deverá ser acrescido da multa de 10% prevista no artigo 523, §1º, do CPC, deflagrando-se a execução mediante requerimento da parte interessada.
Certificado e trânsito em julgado e nada sendo requerido pela parte
interessada, dê-se baixa e arquivem-se.
P.R.I
Submeto o projeto de sentença à homologação pelo MM. Juiz de Direito,