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SENTENÇA

Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei nº 9.099/95, passo a


decidir.

Trata-se de ação indenizatória proposta por ADRIANA CONCEICAO DA


HORA em face de COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA
aduzindo em suma, que em 25/01/2015 faltou energia elétrica por volta das 10h, apesar
das inúmeras ligações para que a energia fosse restabelecida, os serviços somente foram
normalizados em 26/01/2015 às 12h, ficando sem o fornecimento de energia por mais de
24h (Vinte e quatro horas).

1. Das Preliminares
1.1DA CONEXÃO E LITISPENDÊNCIA

Alega a promovida a existência de conexão entre as ações autuadas sob


os números: 0001766-46.2017.8.05.0271; 0001767-31.2017.8.05.0271; 0001768-
16.2017.8.05.0271; 0001769-98.2017.8.05.0271; . Contudo, não se mostra necessária tal
medida, vez que todas as ações mencionadas tramitam perante o mesmo juízo, não
havendo que se falar em prejudicialidade ante a inexistência de risco de provimentos
jurisdicionais contraditórios. Ademais, as ações em apreço possuem causas de pedir
distintas.

Do mesmo modo, não há que se falar em litispendência da ação. Os


autos declinados, apesar de possuírem mesmas partes e pedidos, diferentes são suas
causas de pedir próximas (fundamento fático). Uma vez que a parte ajuizou ações
idênticas contra o mesmo Réu, visando indenização por danos morais, mas concernentes
a fatos ocorridos em datas diversas, inexiste a alegada litispendência e o uso da máquina
judiciária de modo temerário, ainda que pudesse ter ingressado com uma única ação. Na
hipótese é possível a verificação que as supostas interrupções de energia elétrica se
deram em datas distintas, impedindo, portanto, o reconhecimento da tríplice identidade
necessária à caracterização da litispendência.

1.2 DA INÉPCIA DA INICIAL E FALTA DE INTERESSE DE AGIR


Não se revela inepta a petição inicial, tampouco ausente o interesse de
agir, já que os documentos colacionados aos autos mostram-se suficientes para o
deslinde da matéria. Insuficiência probatória não se confunde com inépcia da exordial, vez
que as partes possuem até o momento da audiência instrutória ou momento equivalente
para produção de provas, além de ainda ser possível a inversão do ônus probatório.

DA COMPLEXIDADE DE CAUSA

Afasta-se a preliminar de complexidade de causa, haja vista que os fatos


alegados pelas partes podem ser comprovados por documentos e laudos técnicos
emitidos por órgão/empresa imparcial e idôneo, sendo, portanto, competente o Juizado
Especial Cível. Preliminar rejeitada.

Superadas as preliminares, passo a analisar o mérito.

DO MÉRITO

Verifica-se, inegavelmente, que existe uma relação de consumo e, por


isso, resta patente a incidência do Código de Defesa do Consumidor visto que o(a)
requerente se utilizou de serviço prestado pela requerida como destinatário(a) final. Por
seu turno, o artigo 3º, parágrafo segundo, afirma que fornecedor é toda pessoa que presta
serviço mediante remuneração.

Cuidando-se de consumidor(a) que sucumbe à vulnerabilidade técnica,


jurídica, econômica e social, temos como razoável a presunção de que figura como
verossímil a sua alegação, sobretudo em razão de competir à fornecedora a prova de
efetiva regularidade do serviço.

Milita a favor do(a) consumidor(a) a presunção de veracidade. Porquanto,


declaro invertido o ônus da prova, em função da hipossuficiência do(a) Consumidor(a) na
presente relação, do aparato técnico que possui a Ré e pela verossimilhança contida no
termo de apresentação de queixa, isto nos termos do art. 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor, vez que o consumidor não teria como provar a origem do defeito pelo fato do
serviço.
Considerando a inversão do ônus da prova, a contestante não conseguiu,
na peça apresentada, elidir os fatos alegados pelo(a) Autor(a) na inicial no tocante à má
prestação do serviço entre os dias 25/01/2015 a 26/01/2015. As telas acostadas ao
evento 7.3, também, em nada, corroboram essa tese, mostrando-se imprestáveis à
resolução do feito, visto que não demonstram ter havido ou não a interrupção de energia
questionada.

Invertido o ônus da prova, não basta somente a Ré dizer que não houve o
nexo de causalidade entre a suspensão de energia e os danos apontados pelo(a)
acionante. Para afastar a pretensão autoral, caberia à Promovida, tendo em vista o seu
aparato técnico, comprovar, de forma inequívoca, que houve efetivo fornecimento de
energia elétrica, sem interrupção, no período impugnado, mas quedou-se inerte.

Ademais, a testemunha ouvida nos autos de nº 0002582-


96.2015.8.05.0271, em audiência de instrução, afirmou ter havido a suspensão do serviço
na localidade de Barra de Serinhaém em janeiro de 2015, ficando toda a comunidade sem
energia.

Deve-se atentar que, no campo da responsabilidade, encontra-se o


fornecedor de serviços sob o crivo do risco objetivo, de maneira que não cabe a
discussão em torno do elemento subjetivo para aferição da imputação do ilícito. A
responsabilidade objetiva é de rigor, só podendo ser afastada por culpa exclusiva do
usuário do serviço ou de terceiro, o que não restou provado nos autos.

A ré é concessionária de serviço público de fornecimento de energia


elétrica e como tal deve obediência estrita à Lei Federal nº 8.987/95 (Lei de concessão
dos serviços públicos) e demais normas expedidas pela ANEEL. Esse diploma, não
obstante priorizar a busca pela adequação e continuidade da prestação do serviço,
possibilita sua interrupção por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações
ou quando o usuário encontra-se inadimplente.

Diante disto, considerando que a suspensão do serviço prestado pela


acionada à parte autora/consumidora decorreu de forma ilegal, insta concluir que houve
na espécie falha na execução do serviço da ré a configurar a existência de dano moral
indenizável, sobretudo porque não restou provado nos autos, de forma suficiente e
extreme de dúvidas, que a acionada cumpriu todos os requisitos formais e cuidados
necessários no procedimento de suspensão de energia elétrica da residência do
consumidor, abstendo-se, inclusive, de comprovar razões de ordem técnica, inadimplência
ou de segurança que permitissem a suspensão do serviço.

O conflito existente nos autos revela que, de fato, a honra da parte autora
fora sobremodo afetada pelo comportamento ilícito da ré. A narrativa dos fatos, constante
na peça vestibular, traz de forma clara e evidente o dissabor e o transtorno suportados
pelo requerente, em virtude da atuação da demandada. Desse modo é que o transtorno, o
aborrecimento, enfim, o dano experimentado pelo autor, ante a conduta ilegal da
demandada, enseja reparação a título de dano moral. O quantum indenizatório será fixado
em valor que assegura o caráter repressivo e pedagógico da indenização, sem constituir-
se elevado bastante ao enriquecimento indevido da parte autora, levando-se em
consideração, ainda, a duração da interrupção do fornecimento de energia elétrica, bem
como o comportamento da ré que, além de nenhuma justificativa ter apresentado como
causa para o defeito do seu serviço, em nenhum momento demonstrou ânimo de
minimizar ou compor os danos causados ao promovente.

Quanto às despesas com o advogado contratado, no valor de R$2.000,00


(dois mil reais), a pretensão não pode ser acolhida. Em se tratando de juizado especial,
não se pode impor tais despesas à demandada.

Face ao exposto, com fulcro no art. 487, I, do NCPC, declaro extinto o


processo com apreciação do mérito e julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o
pedido para:
1. Condenar a Ré a pagar ao Autor a quantia de R$3.000,00 (três mil
reais) por danos morais, com incidência de juros moratórios à razão de 1% (um por cento)
ao mês a partir do evento danoso (25/01/2015), bem como correção monetária a partir da
presente data;

Incabíveis custas e honorários advocatícios (art. 55 da Lei 9099/95).

Após o trânsito em julgado, ao arquivo com a devida baixa na distribuição.


Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Valença, 12 de julho de 2017.

Valéria Anselmo dos Santos

Juíza Leiga

HOMOLOGAÇÃO

Obedecidas as formalidades legais aplicáveis ao caso, estando fundamentada de acordo


com entendimento deste Magistrado, decidindo bem as questões postas em julgamento,
HOMOLOGO a minuta de sentença elaborada pelo Juiz Leigo, em todos os seus termos,
a fim de que produza os jurídicos e legais efeitos.

Valença, 12 de julho de 2017.

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