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Tribunal de Justiça do Estado da Bahia


PODER JUDICIÁRIO
PRIMEIRA TURMA RECURSAL - PROJUDI

PADRE CASIMIRO QUIROGA, LT. RIO DAS PEDRAS, QD 01, SALVADOR - BA


ssa-turmasrecursais@tjba.jus.br - Tel.: 71 3372-7460

Ação: Procedimento do Juizado Especial Cível


Recurso nº 0002451-31.2021.8.05.0039
Processo nº 0002451-31.2021.8.05.0039
Recorrente(s):
COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA

Recorrido(s):
EDILEUZA PUREZA DIAS

RECURSO INOMINADO.  JUIZADOS ESPECIAIS. DECISÃO


MONOCRÁTICA (ART. 15, XI, DO REGIMENTO INTERNO DAS
TURMAS RECURSAIS E ART. 932 DO CPC). COELBA.
ALEGAÇÃO DE FATURA COM ATRIBUIÇÃO DE CONSUMO
EM VALOR SUPERIOR AOS MESES ANTERIORES.
COBRANÇA ACIMA DA MÉDIA DE GASTOS DA
CONSUMIDORA. VALORES QUE DIFEREM
SUBSTANCIALMENTE DO CONSUMO NORMAL. DESVIO
ANTES DO MEDIDOR. SENTENÇA QUE JULGOU
PROCEDENTE EM PARTE OS PEDIDOS DA AUTORA.
SUSPENSÃO DE ENERGIA. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS, PORÉM, REDUZIDOS. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E EM PARTE
PROVIDO.  

DECISÃO MONOCRÁTICA

Inicialmente, destaque-se que esta magistrada, no exercício da cooperação que


foi designada para atuação nesta Primeira Turma Recursal, em prestígio à segurança jurídica,
estabilidade da jurisprudência, bem como, diante da inexistência de aplicabilidade da técnica
de julgamento do art. 942 CPC em sede de julgamento de Recurso Inominado, curvo-me ao
entendimento consolidado desta Turma sobre a matéria discutida nestes autos, pelo que passo
ao julgamento nos seguintes termos:

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Trata-se de recurso inominado interposto pela parte RÉ em face da r. sentença


prolatada nos autos do processo em epígrafe. 

Em síntese, a parte autora insurge-se contra fatura referente ao mês de novembro


de 2020, a qual registra consumo considerado exorbitante em relação a sua média que é de
100 kwh.

O Juízo a quo, em sentença, julgou parcialmente procedentes os pedidos da


exordial nos seguintes termos: a) Declarar a abusividade da fatura reclamada (novembro de
2020), devendo a mesma ser refaturada para o valor referente ao consumo de 100 kwh,
correspondente a média histórica de consumo da autora. b) Condeno, ainda, a acionada a
pagar à parte Autora indenização no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de dano
moral, com juros e correção monetária a contar da sentença.

Irresignada, a parte acionada interpôs recurso inominado (evento 37).

Contrarrazões foram apresentadas (ev. 40). 

É o breve relatório.

DECIDO

O artigo 15 do novo Regimento Interno das Turmas Recursais (Resolução nº


02/2021 do TJBA), em seu inciso XI, estabelece a competência do relator para julgar
monocraticamente as matérias em que já estiver sedimentado entendimento pelo colegiado ou
já com uniformização de jurisprudência, em consonância com o permissivo do artigo 932 do
Código de Processo Civil.

Conheço do recurso interposto, porquanto preenchidos os seus pressupostos de


admissibilidade. Defiro a gratuidade da justiça. 

Cumpre esclarecer que demanda não apresenta complexidade que desborde a


alçada cognitiva do Sistema dos Juizados Especiais, porquanto não demanda prova
complexa. Igualmente, a argumentação posta na exordial não reclama a resolução de
questões factuais complexas, não necessitando de produção de prova pericial. A lide tem,
pois, plena condição de ser conhecida e julgada em acordo com o procedimento
sumariíssimo. Com isso, afasto a complexidade da causa.

Passemos ao mérito.

Analisados os autos observa-se que a matéria já se encontra sedimentada no âmbito


da 1ª Turma Recursal. Precedentes desta turma: 0002975-34.2020.8.05.0113; 0093181-
42.2020.8.05.0001. 0138935-07.2020.8.05.0001; 0158955-19.2020.8.05.0001; 0002690-

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19.2020.8.05.0088; 0008060-98.2020.8.05.0113. 0001067-97.2020.8.05.0223; 0024922-


20.2018.8.05.0080 0033273-20.2021.8.05.0001; 0005428-58.2020.8.05.0256;

Fazendo uma análise do histórico das faturas trazidas, verifica-se que o consumo
da fatura contestada na inicial mostra-se destoante da média apurada, (ev. 1 - cobrança
abusiva.pdf)

No caso em testilha, que versa sobre cobrança excessiva, deve ser esclarecido
inicialmente que não gozam de presunção de absoluta verdade os débitos imputados aos
consumidores pelas concessionárias de serviço público, cabendo a estas a efetiva
demonstração de utilização dos serviços ou produtos ofertados.

Ora, apesar da presunção de legitimidade do ato administrativo, tendo o


consumidor alegado o excesso do faturamento, caberia ao Réu demonstrar a exatidão da
medição bem como apresentar a causa justificadora do aumento do consumo de energia
elétrica, a exemplo de um desvio intencional sob pena de responder objetivamente pelos
danos ocasionados ao consumidor.

No caso em tela, não há nenhuma dúvida quanto à vulnerabilidade e


hipossuficiência do consumidor, considerando que é a Ré quem possui conhecimentos do
serviço fornecido, não dispondo o consumidor dos meios para comprovar que efetivamente
não consumiu a energia elétrica cobrada.

Portanto, caberia à parte acionada provar a regularidade das cobranças, o que não
ocorreu. 

À propósito, trazemos à baila jurisprudência neste sentido:

A presunção de legitimidade dos atos praticados por concessionárias de


serviço público cessa no momento em que o suposto tomador, vulnerável
e hipossuficiente, insurge-se contra a obrigação que lhe é dirigida, pois
tal quadro transfere à fornecedora a obrigação de proceder a minucioso
levantamento sobre a mencionada irregularidade, de modo a não
colocar em dúvida o espírito do consumidor (TJSP ¿ AC
0071780.95.2009.8.26.0224. Rel Des. Ferreira da Cruz, j. 9/11/2011).
(TJSC ¿ AC 0300138-47.2015.8.24.0090, Relator: Álvaro Luiz Pereira
de Andrade, Data de Julgamento: 29/08/2019, Sétima Câmara de Direito
Civil)

A conduta do fornecedor afronta claramente as normas estabelecidas nos incisos V


e X, do art. 39, do Código de Defesa do Consumidor, abaixo transcritos, encontrando-se
também em rota de colisão com os princípios basilares da confiança e boa-fé contratual,
merecendo ser rechaçada pelo Poder Judiciário.

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

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Assim, correto o julgamento juiz de primeiro grau quanto a declaração e
abusividade da fatura questionada. 
Em relação aos danos morais, restou configurado, uma vez que a parte autora teve
o serviço essencial suspenso pela fatura impugnada.
No tocante ao quantum a ser fixado este não deve gerar enriquecimento sem causa.
Deve buscar a efetividade da decisão que, ao constatar o ato ilícito e o abuso de direito, sirva
à mudança de conduta do infrator, atentando para as circunstâncias específicas do evento,
para a situação patrimonial das partes (condição econômico-financeira), para a gravidade da
repercussão da ofensa, atendendo ao caráter compensatório, pedagógico e punitivo da
condenação em sintonia com os Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade.
 Assim, no tocante ao valor, diante das circunstâncias do caso sob exame, tenho
como razoável o valor de R $4.000,00 (quatro mil reais), para a reparação do dano moral e
desestimulante a eventuais ações da parte ré. 
Diante do exposto, CONHEÇO E DOU PROVIMENTO PARCIAL AO
RECURSO interposto, para reduzir os danos morais para R$ 4.000,00 (quatro mil reais). 

Sem custas e honorários ante o resultado.

Salvador, data registrada no sistema.

Ana Conceição Barbuda Ferreira

Juíza Relatora

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