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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

JUDICIAL CIVIL DA COMARCA DE PIRAJUÍ - SP

Processo nº 1002266-73.2022.8.26.0453

LIGIA ROSA FANALI DOS SANTOS, já qualificada nos autos do


processo supra, vem respeitosamente na presença de Vossa Excelência, interpor
tempestivamente o presente RECURSO DE APELAÇÃO conforme razões anexas,
requerendo ainda, sejam as mesmas remetidas ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, observando para tanto, o benefício da Justiça Gratuita.

Nesses Termos,
Pede e Espera Deferimento.
Pirajuí, 25 de abril de 2023.

DIEGO CARNEIRO GIRALDI


OAB/SP 258.105
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

APELANTE: LIGIA ROSA FANALI DOS SANTOS


APELADO: PAGSEGURO INTERNET S/A
PROCESSO N.: 1002266-73.2022.8.26.0453
VARA DE ORIGEM: 2ª VARA JUDICIAL CIVIL DA COMARCA DE PIRAJUÍ – SP

EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA CÂMARA
DOUTOS JULGADORES

1. BREVE SÍNTESE

A apelante ajuizou ação declaratória c/c indenização por danos materiais e morais c/c
tutela provisória de urgência em face ao PAGSEGURO Internet LTDA, em razão do bloqueio
realizado em sua conta na data de 31/05/2022.

Em sentença de fls. 152/154, os pedidos da inicial foram julgados parcialmente


procedentes especificamente para rescindir a contratação da máquina de cartão de crédito
ajustada entre as partes, com devolução da quantia por ela paga, corrigida pela Tabela Prática
do Tribunal de Justiça desde o desembolso e acrescida de juros de mora de 1% ao mês
contados da citação; determinar à ré a liberação e devolução do valor retido em conta da
autora, no importe de R$ 21.424,00 (vinte e um mil e quatrocentos e vinte e quatro reais),
correspondente ao saldo em dinheiro na data da suspensão da conta em 31/05/2022, corrigida
pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça desde o bloqueio e acrescida de juros de mora de
1% ao mês contados da citação; c) condenar a ré a indenizar a autora, a título de danos
morais, em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), corrigidos pela Tabela Prática do Tribunal de
Justiça e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês desde a prolação desta sentença.
Com o mais elevado respeito devido ao MM. Sentenciador, a recorrente não
concorda com o valor atribuído aos danos morais estabelecidos na r. sentença recorrida, estes
fixados no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), bem como não concorda com os honorários
advocatícios fixados em R$ 1.000,00 (mil reais), pelos fundamentos a seguir expostos.

2. MÉRITO

2.1. NECESSIDADE DE MAJORAÇÃO DOS DANOS MORAIS:

A sentença do Digno Juiz “a quo” condenou a Instituição Financeira a pagar a


apelante o montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) à título de danos morais, contudo, a
apelante entende que o “quantum” indenizatório não atingiu o nível para reparar o abalo
sofrido à sua honra moral e econômica.

A indenização por danos morais visa reparar os danos sofridos a honra, bem como,
ensinar o agente causador do dano, para que este não cometa novamente o mesmo erro;

No presente caso, por falha no serviço prestado pelo apelado, a parte apelante teve
sua conta suspensa e bloqueada na data de 31/05/2022, há quase um ano, sem motivo
justificável. E somente na data de 28/03/2023 o réu efetuou o depósito judicial do valor
bloqueado nos autos.

É evidente, pois, a falha na prestação de serviços da empresa apelada, bem como sua
ineficiência em resolver o imbróglio, demonstrando assim seu descaso para com a apelante.
Explica-se.

Na petição de fls. 73-75 o réu informou o integral cumprimento da tutela deferida


neste processo, informando que “a conta da parte autora encontra-se desbloqueada antes
mesmo da autora entrar com a ação e que a conta teve desbloqueio na data 23/08/2022
depois da análise contratual, não tendo no momento nenhum saldo bloqueado em sua conta,
uma vez que os valores já foram levantados por ela”.

No mesmo sentido, em fls. 109 da contestação apresentada, o requerido alega


novamente que não há falha na prestação de serviço e que “...conforme demonstrado abaixo,
o saldo da conta da parte Autora foi desbloqueado em 23/08/2022, sendo o valor
disponibilizado e já utilizado pela Autora”.

Como se não bastasse, na petição de fls. 114-119 o requerido traz à tona novas
informações, as quais de modo proposital e de má fé não foram trazidas na contestação
apresentada, inclusive somente após juntada do áudio entre as partes em fls. 99/100.

Alega que o valor já foi desbloqueado, contudo, informa que a impossibilidade de


acesso a conta e saque do valor relatada na inicial da autora refere-se ao fato do CNPJ da
empresa ter sido baixado na Receita Federal, o que impossibilita a manutenção de conta
digital em nome de pessoa jurídica inativa. Informa ainda que os valores da conta digital
inativada em razão da baixa do CNPJ foram encaminhados para uma conta transitória para
aguardar a regularização cadastral daquela.

Em suma, o apelado agiu com má fé, entrou em contradição em suas próprias


petições e alegações, inicialmente alegando que a autora realizou o saque do valor total em
conta e, somente após juntada do áudio entre as partes em fls. 99/100, modificou
completamente a narrativa trazida nas petições anteriores.

Toda a situação narrada fomenta ainda mais a necessidade de majoração dos


danos morais fixados, uma vez que o apelado em todo o decorrer desta lide, além de
falhar na sua prestação de serviços, não tentou sanar a falha em tempo hábil, fazendo a
apelante passar por diversas dificuldades financeiras em razão do bloqueio indevido
realizado.

Nesse sentido, para quantificar o dano moral, necessário observar a gravidade do


dano, nesse sentido bem nos ensina Antonio Jeová Santos:

“A indenização do dano moral, além do caráter


ressarcitório serve também como sanção exemplar. A
determinação do montante indenizatório deve ser fixado
tendo em vista a gravidade objetiva do dano causado e a
repercussão que o dano teve na vida do prejudicado, o
valor que faça com que o ofensor se evada de novas
indenizações, evitando outras infrações danosas.” (Grifo
Nosso)

O abalo moral decorrente da falha na prestação de serviços pela consumidora é


evidente.

Nobres desembargadores, notório que o ato ilícito cometido pelo apelado gerou
enorme transtorno na vida da apelante, eis que, o valor de R$ 21.424,00 (vinte e um mil,
quatrocentos reais e vinte e quatro centavos) permaneceu bloqueado por um lapso temporal
muito grande – desde a data de 31/05/2022. Tal fato impediu a apelante de realizar o
pagamento do salário de seus funcionários, fornecedores, etc.

Portanto, aufere razão o nobre juiz “a quo” em condenar o apelado a título de


danos morais, mas não agiu com máxima assertiva ao arbitrar o “quantum”
indenizatório, já que, a gravidade do dano e a condição da apelante conotam na
majoração do montante indenizatório.

Ademais, o Tribunal de Justiça de São Paulo, com base nos critérios de prudência e
razoabilidade, sem que os danos morais se tornem fonte de enriquecimento, manifestou- se
em casos semelhantes que o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) atende aos anseios
reparatório e punitivo e ao caráter profilático e pedagógico da medida, segundo entendimento
já sedimentado desta Câmara para hipóteses semelhantes, veja-se:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM


INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL.
PAGSEGURO. BLOQUEIO DE CONTA DIGITAL. Sentença de
parcial procedência, com a condenação da ré no pagamento de R$
2.000,00 (dois mil reais). Apelo da autora. Pretensão a majoração do
montante indenizatório para 100 vezes o valor fixado na sentença.
DANO MORAL. Ocorrência. Bloqueio de conta que privou a
recorrente de importância indispensável ao desempenho de suas
atividades comerciais. "QUANTUM" INDENIZATÓRIO.
Acolhimento neste ponto. Majoração do montante fixado na sentença,
qual seja, R$ 2.000,00 (dois mil reais) para R$ 10.000,00 (dez mil
reais), em atenção às circunstâncias do caso, o caráter punitivo da
medida, o poderio econômico da apelada e em obediência aos
princípios da equidade, razoabilidade e proporcionalidade. Quantia
suficiente para reparar o abalo sofrido. Ação parcialmente procedente.
Recurso parcialmente provido. (TJ-SP - AC: 10202641720208260100
SP 1020264-17.2020.8.26.0100, Relator: JAIRO BRAZIL FONTES
OLIVEIRA, Data de Julgamento: 15/02/2021, 15ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 15/02/2021)

RESPONSABILIDADE CIVIL – Retenção indevida de valor relativo


ao pagamento de serviços prestados pelo autor - Transação
intermediada pelo réu, gestor de pagamento ("PagSeguro") - Alegação
de "chargeback" ou possibilidade de fraude não comprovada pelo
demandado que, ademais, é responsável pelos riscos inerentes ao
próprio negócio – Comprovação da efetiva prestação dos serviços pelo
demandante – Dever de indenizar configurado - Dano moral
caracterizado – Hipótese em que o réu, além de ter bloqueado a
integralidade da quantia, rescindiu de forma unilateral o contrato,
obrigado o autor a contratar advogado e ajuizar demanda judicial para
reaver o valor indevidamente retido - Ausência injustificada do
repasse ao demandante da aludida quantia relativa que redundou em
transtornos que fogem à normalidade e abalo de crédito, uma vez que
ficou privado por meses do numerário, repercutindo no direito de
personalidade – Valor – Fixação em R$10.000,00 – Observância das
circunstâncias do caso concreto e dos parâmetros da jurisprudência,
bem ainda da finalidade de desestimular condutas como as dos autos e
oferecer certo conforto ao lesado, sem favorecer seu enriquecimento
sem causa – Dano material consubstanciado no valor pago pelo
demandante com a aquisição do leitor de cartões fornecido pelo réu –
APELO DO RÉU NÃO PROVIDO E RECURSO DO AUTOR
PROVIDO. (TJ-SP - AC: 10033569220198260010 SP 1003356-
92.2019.8.26.0010, Relator: Heraldo de Oliveira, Data de Julgamento:
01/04/2020, 13ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
01/04/2020)

REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS -


INTERMEDIAÇÃO DE PAGAMENTO PAGSEGURO -
RETENÇÃO DE VALORES -SUPOSTAS RECLAMAÇÕES -
ÔNUS DA PROVA - OFENSA MORAL -Prestadora do serviço de
intermediação de pagamento que descumpriu o ônus imposto pelo art.
373, II, NCPC, deixando de fazer prova de fato extintivo, impeditivo
ou modificativo do direito do autor. Por mais que a PagSeguro
efetivamente tenha recebido reclamações dos consumidores o que não
foi suficientemente demonstrado, não bastando a simples apresentação
de telas do sistema referidas “reclamações”, caso tivessem seus
valores somados, não atingiriam o montante total objeto da retenção
realizada. A apelante, além de ter bloqueado a integralidade das
quantias, rescindiu de forma unilateral o contrato, obrigado o cliente a
contratar advogado e ajuizar demanda judicial para reaver as quantias
indevidamente retidas. Diante desse fato o i. Magistrado de origem
corretamente RECONHECEU a ofensa moral, fixando indenização
em quantia equivalente a R$ 10.000,00 que deve ser mantida, pois
suficiente a reparar os danos causados e impingir ao fornecedor o
dever de aprimorar a prestação de seus serviços. RECURSO
IMPROVIDO (TJSP, Apel. 1005029-69.2018.8.26.0006, Rel. Des.
MARIA LÚCIA PIZZOTTI, 30ª Câmara de Direito Privado, j.
11/12/2019).

No presente caso, a condenação da Instituição Financeira em R$ 5.000,00 (cinco mil


reais) à título de danos morais não se aproxima do que a jurisprudência majoritária entende
como razoável e a hipótese concreta.
Diante disso, imperiosa é a procedência do presente recurso, para majorar o quantum
indenizatório, aplicando-se as variadas características do instituto do dano moral, para de uma
forma pedagógica e punitiva, coíba as falhas nos serviços prestados pela Instituição
Financeira apelada e os decorrentes danos causados aos novos consumidores, que ficam à
mercê destas.

2.2. ARBITRAMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


SUCUMBENCIAIS:

No que tange a honorários advocatícios, o MM. Magistrado assim prolatou na


sentença recorrida:

A apelante entende não ser razoável que os honorários advocatícios sejam fixados no
montante de R$ 1.000,00 (mil reais), pelos fundamentos a seguir delineados.

O artigo 85 do Código de Processo Civil previu as formas de remuneração de


honorários advocatícios de sucumbência, compreendendo as três formas possíveis:

i) Arbitramento pelo valor do proveito econômico ou da condenação -


respeitando-se o limite mínimo de 10% (dez por cento) e o limite
máximo de 20% (vinte por cento);

ii) Arbitramento pelo valor da causa, quando não for possível


mensurar os indicadores acima referidos - respeitando-se o limite
mínimo de 10% (dez por cento) e o limite máximo de 20% (vinte por
cento);

iii) Arbitramento por equidade, quando não for possível mensurar o


valor da condenação/proveito econômico e quando o valor da causa
for muito baixo.

No caso em apreço, o ilustre Juízo de piso considerou, ao arbitrar os honorários


sucumbenciais em R$ 1.000,00 (um mil reais) é adequado ao trabalho realizado pelo
Procurador da apelante.

Indubitável que no caso em apreço a fórmula de arbitramento deverá ser com


base no valor da causa (R$ 41.770,80), mostrando-se irrisório e em desacordo com o §4º,
artigo 20 do Código de Processo Civil a quantia fixada. Ora, não parece razoável, pelo esforço
intelectual desenvolvido e as peças processuais protocoladas, que a verba remuneratória
sucumbencial do Advogado seja arbitrada em R$ 1.000,00 (um mil reais).

Tais previsões não foram observadas na r. sentença pelo Magistrado, sendo que o
arbitramento dos honorários sucumbenciais ocorreu sem qualquer fundamento.

Ante o exposto, verifica-se que o valor arbitrado pelo Juízo se mostra muito aquém
do devido, gerando o aviltamento do trabalho exercido pelo Advogado subscritor e da
Advocacia em si - labor essencial à administração da justiça.

Assim, pugna-se pelo arbitramento da verba honorária sucumbencial com base no


valor da causa.
3. DO PEDIDO DE REFORMA PARCIAL DA DECISÃO

Diante de todo exposto requer que o presente recurso seja recebido e provido, para
reformar parcialmente a respeitável sentença do Juiz “a quo”, a fim de:

a) Majorar o quantum indenizatório, com a consequente condenação do Banco


apelado ao pagamento do valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) à título de
danos morais.

b) Seja realizado o arbitramento da verba honorária sucumbencial em 20%


(vinte por cento) sobre o valor da causa;

Nesses Termos,
Pede e Espera Deferimento.
De Pirajuí para São Paulo, 25 de abril de 2023.

DIEGO CARNEIRO GIRALDI


OAB/SP 258.105

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