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13 de Maio de 2022

1º Grau

TJMG • 9075853-25.2015.8.13.0024 • Tribunal


de Justiça de Minas Gerais - Inteiro Teor

Publicado por Tribunal de Justiça de Minas Gerais há 6 anos

Processo
9075853-25.2015.8.13.0024

Juiz
ANA KELLY AMARAL ARANTES

Documentos anexos

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS


PODER JUDICIÁRIO
BELO HORIZONTE
02ª UNIDADE JURISDICIONAL CÍVEL

RUAPADRE ROLIM, 424, SANTA EFIGÊNIA, BELO HORIZONTE -


MG, FONE: (31) 3289-9300

SENTENÇA

PROCESSO: 9075853.25.2015.813.0024 - Procedimento do Juizado


Especial Cível

PROMOVENTE (S):

CAMILA MACEDO JORGE

PROMOVIDO (S):

BANCO DO BRASIL S.A.


Vistos, etc.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório, conforme expressa autorização conferida pelo


artigo 38, da Lei nº 9.099/95, destaco apenas que se trata de ação
promovida por CAMILA MACEDO JORGE em face de BANCO DO
BRASIL S.A, sob o argumento de que possui conta corrente na
instituição bancária (agência 3610-2, c/c 923.878-6), sendo que no dia
14/06/2015 efetuou depósito da quantia de R$500,00 (quinhentos
reais) no caixa automático do Banco Réu (envelope n. 2.464.977.749,
acolhido em 16/06/2015 na agência 4826-7), entretanto, sem qualquer
justificativa, o Banco Requerido creditou em sua conta corrente a
quantia de R$400,00 (quatrocentos reais), valor a menor do
efetivamente depositado (R$500,00). A constatar o depósito a menor,
dirigiu-se a sua agência, tendo sido informada pelo seu gerente que o
Banco Requerido não creditou o valor integral do depósito por que
haveria, dentre as cédulas depositadas pela Autora, uma cédula
supostamente falsa no valor de R$100,00 (cem reais). Esclarece que,
inobstante as suas solicitações, o Banco Réu se recusou a exibir a
suposta cédula falsa, tendo ainda, se negado a exibir as imagens
captadas no setor de compensação do banco que poderiam
eventualmente comprovar que a suposta cédula falsa estava no
envelope utilizado para depósito pela Autora, inexistindo, portanto, a
mínima demonstração do depósito de cédula falsa por parte da Autora.
Alega que após
muita insistência, o Banco Réu apresentou a declaração de apreensão
da cédula supostamente falsa, a saber: apreensão n.
20150616001462555, n. de série A5085063131A, valor R$100,00.
Indignada com a postura do Banco registrou a reclamação de n.
37434251 no canal de comunicação do Banco do Brasil, que, por sua
vez, limitou-se a afirmar que o Banco procedeu corretamente ao deixar
de creditar o valor e ao apreender a cédula supostamente falsa.
Ante o exposto, aduz a autora fazer jus: aos benefícios da justiça
gratuita; inversão do ônus da prova; restituição, em dobro, do valor
compensado a menor e, indenização por danos morais.

Na audiência conciliatória realizada (Termo juntado no evento 20),


buscou-se a composição entre as partes, no entanto, não houve êxito,
embora o réu tenha proposto a autora o pagamento de R$ 200,00
(duzentos reais). Ainda nesta audiência, as partes não mostraram
interesse na produção de provas orais, motivo pelo qual foi o feito
posto a julgamento.

Contestação juntada aos autos no evento 17.

Impugnação à contestação apresentada de forma oral na audiência de


conciliação.

São, em síntese, os fatos.

FUNDAMENTOS

- Do pedido de justiça gratuita


sua família, pois exerce atividade profissional e está representada por
advogado particular. Ademais, nos termos da Lei 9099/95 não há
pagamento de custas em primeira instância. Conforme clara
interpretação do artigo 5º, LXXIV, da Constituição da Republica, o
Estado somente prestará assistência judiciária gratuita aos que
comprovarem a insuficiência de recursos, dispositivo este que deve ser
interpretado sistematicamente com as normas da Lei 1.060/50.

Mérito
- Da inversão do ônus da prova

Em relação à inversão do ônus da prova nas relações consumeristas, a


regra, ou a falta de regra específica, fez com que a maioria absoluta da
doutrina concluísse por ser até a sentença, inclusive na própria
sentença, o momento adequado para que o juiz decida sobre a fixação
do ônus da prova.

Assim, cabe ao fornecedor adotar uma postura mais ativa no tocante a


produção da prova nas relações de consumo, sob pena de sua inércia
ter como corolário uma indenização pelo simples fato de que poderia
ter produzido prova em contrário, mas não o fez.

Dessa forma, em que pese a impugnação do promovido, perfeitamente


cabível a inversão do ônus da prova na presente fase decisória, por
estarem presentes os requisitos do art. 6º, VIII do CDC.

- Da falha na prestação do serviço


A Lei n. 8.078, de 1990, reunindo normas de proteção e defesa do
consumidor, de ordem pública e interesse social, traçou, em seu art. 4º,
as diretrizes na Política Nacional de Relações de Consumo que
objetivam atender às necessidades dos consumidores, com a proteção
de seus interesses econômicos, promovendo transparência e harmonia
das relações consumeristas, observado, entre outros, o princípio da
vulnerabilidade do consumidor, a boa-fé objetiva e o equilíbrio entre
consumidores e fornecedores.

Em análise dos autos, verifica-se que a autora é cliente da instituição


financeira ora promovida, por meio da conta corrente agência 3610-2,
c/c 923.878-6. Observa-se também que no dia 14/06/2015 efetuou
depósito da quantia de R$500,00 (quinhentos reais) no caixa
automático do Banco Réu (envelope n. 2.464.977.749). Acontece,
porém, que do valor depositado houve compensação em sua conta
apenas da quantia de R$ 400,00 (quatrocentos reais), sendo que
quando da diligência a fim de esclarecer o ocorrido foi lhe informado
acerca da existência de uma cédula supostamente falsa de R$ 100,00
(cem reais), motivo pelo qual a compensação do valor a menor.

Eis o conjunto probatório carreado pelas partes (eventos 01 e 17):


comprovante de depósito emitido através de caixa eletrônico no dia
14.06.2015; ocorrência junto ao Banco do Brasil (BB atende);
documento intitulado consulta itens de uma apreensão.

Dispõe o artigo 14 do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
Era ônus da parte ré, nos termos do art. 333, II do CPC, provar os fatos
desconstitutivos do direito da parte autora, ônus do qual não se
desincumbiu. A parte ré não comprovou efetivamente os motivos para
proceder a compensação do valor a menor, qual seja, não comprovou
que a nota era falsa, vez que poderia disponibilizar a nota, bem como a
filmagem do momento em que seu funcionário abriu o envelope do
depósito efetuado pela autora, porém, não o fez . Ademais, depreende-
se da análise da ocorrência juntada pela própria promovida que a
pericia seria realizada pelo Banco Central, mais uma possibilidade de
prova a ser carreada aos autos (laudo do Banco Central acerca da
falsidade da nota). Contudo, deteve-se a juntar documento emitido
pelo seu sistema interno com a informação de que o resultado da
pericia teria sido a falsidade da cédula.
Patente, no presente caso, a ausência de efetividade do serviço
contratado.

Portanto, deve ser recepcionado o pleito da autora, no que diz respeito


à restituição do valor compensado a menor, qual seja, R$ 100,00 (cem
reais). Não há que se falar, porém, em restituição em dobro, tendo em
vista, inexistir prova de má-fé (art. 42, parágrafo único do CDC) para
justificar a penalidade civil imposta de recebimento em dobro de
qualquer quantia paga de forma indevida.

Cumpre destacar, que nos caso dos autos, a falha na prestação do


serviço superou o razoável, havendo ofensa aos deveres de bo -fé,
lealdade, informação e transparência que regem as relações de
consumo.

O dano moral, com assento constitucional no art. 5º, V e X, pode ser


compreendido como aquele que ofende direito da personalidade do
indivíduo, a bem imaterial, tal como honra, integridade da esfera
íntima, causando sofrimento físico e psíquico.

Presentes os três elementos caracterizadores da responsabilidade civil:


a conduta antijurídica ou ilícita (falha na prestação do serviço), o nexo
de causalidade e o dano experimentado, impõe-se o dever de indenizar,
de acordo com os arts. 186 e 927 do CC/2002.
No caso em tela, inegável a falha na prestação do serviço e,
consequentemente, os transtornos e constrangimentos vivenciados
pela autora com a condutado Banco.

Nesse contexto, examina-se que os transtornos em questão


ultrapassam o conceito de mero desconforto e aborrecimento. Assim,
provada diante à conduta da parte promovida (falha na prestação do
serviço), sem conseguir sanar os problemas em tempo suficiente,
notadamente pela espera do provimento final, sem mencionar a
expectativa de direito frustrada e a necessidade de ajuizamento de
demanda judicial para receber aquilo que lhe era devido, resta
caracterizada violação ao direito da personalidade consubstanciado na
real dignidade da pessoa humana, havendo dano moral a ser reparado.

Contudo, na fixação do valor do dano moral há que se considerar a


lesão na esfera íntima valorativa da vítima, a gravidade da repercussão,
bem como o grau de culpa, a potencialidade econômica do lesante e o
caráter de advertência, sem acarretar enriquecimento sem causa.

A conduta da parte requerida demonstra sua culpabilidade no evento,


portanto, há a necessidade da penalidade ter um caráter de
advertência, sem que a indenização seja fonte de enriquecimento para
a parte requerente. Após apreciação de tais requisitos, cabível a
quantificação do dano moral por arbitramento, nos termos do art. 944,
do Código Civil/2002, em R$880,00 (OITOCENTOS E OITENTA
REAIS).

CONCLUSÃO

Ante o exposto e por tudo que consta nos autos, JULGO


PROCEDENTES EM PARTE os pedidos iniciais e
consequentemente extinto o feito, com resolução de mérito, com fulcro
no art. 269, I do CPC para:
monetariamente pelos índices divulgados pela Tabela da Corregedoria
Geral de Justiça de Minas Gerais, acrescida de juros moratórios de 1%
(um por cento) ao mês, a partir da citação;

2- condenar o réu, BANCO DO BRASIL S/A., a pagar à autora,


CAMILA MACEDO JORGE, a importância de R$880,00
(OITOCENTOS E OITENTA REAIS) a título de indenização por danos
morais, valor este que deverá ser corrigido monetariamente pelos
índices divulgados pela Tabela da Corregedoria Geral de Justiça de
Minas Gerais, acrescida de juros moratórios de 1% (um por cento) ao
mês, a partir da publicação desta decisão.

Nesta fase, não há condenação em custas e honorários de advogado,


nos termos do disposto nos artigos 54 e 55 da Lei 9.099/95.

Indefiro os benefícios da Justiça Gratuita.

Caso a parte devedora condenada ao pagamento da quantia certa ou já


fixada em liquidação, não o efetue no prazo de 15 (quinze) dias, após o
trânsito em julgado, o montante da condenação será acrescido de
multa no percentual de 10%(dez) por cento e, a requerimento da parte
credora, observando-se o disposto no art. 614, II do CPC, será expedido
o mandado de penhora e avaliação, conforme disposto no art. 475-J do
CPC.

P.R.I.

BELO HORIZONTE, 29 de Fevereiro de 2016


ANA KELLY AMARAL ARANTES

Documento assinado eletronicamente pelo (a) juiz (íza)

Disponível em: https://tj-


mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1105626842/90758532520158130024-mg/inteiro-teor-
1105626870

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