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Sumário

1 – CONSTITUCIONAL .................................................................................................................................... 8
• ADVOCACIA PÚBLICA ................................................................................................................. 8

• DEFENSORIA PÚBLICA .............................................................................................................. 10

• PODER JUDICIÁRIO ................................................................................................................... 11

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .................................................................................. 12

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ................................................................................................ 15

• DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ................................................................................ 19

• MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................................................................... 24

• PODER LEGISLATIVO ................................................................................................................. 26

• PROCESSO LEGISLATIVO ........................................................................................................... 26

• TRIBUNAL DE CONTAS .............................................................................................................. 27

• ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ..................................................................................................... 28

• DIVERSOS .................................................................................................................................. 29

2- ADMINISTRATIVO .................................................................................................................................... 31
• PRINCÍPIOS ................................................................................................................................ 31

• ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ........................................................................................... 34

• BENS PÚBLICOS ......................................................................................................................... 38

• RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................................................................................ 39

• ATOS ADMINISTRATIVOS ......................................................................................................... 40

• INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE........................................................................ 40

• LICITAÇÃO ................................................................................................................................. 41

• CONCURSO PÚBLICO ................................................................................................................ 42

• PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ............................................................................. 44

• SERVIDORES PÚBLICOS............................................................................................................. 45

• IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............................................................................................ 49

• PODERES ADMINISTRATIVOS ................................................................................................... 49


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• CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ............................................................................................. 50

• SERVIÇOS PÚBLICOS ................................................................................................................. 51

• DIVERSOS .................................................................................................................................. 51

3- PENAL ...................................................................................................................................................... 52
• PRINCÍPIOS ................................................................................................................................ 53

• DOSIMETRIA DA PENA.............................................................................................................. 54

• EFEITOS DA CONDENAÇÃO ...................................................................................................... 55

• PRESCRIÇÃO .............................................................................................................................. 55

• CRIMES CONTRA A PESSOA ...................................................................................................... 56

• CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ............................................................................................ 56

• CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL .................................................................................. 58

• CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA ................................................................................................ 59

• CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................................................... 60

• CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ............................................................ 61

• CRIMES CONTRA A HONRA ...................................................................................................... 61

• CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ................................................................................. 62

• LEI MARIA DA PENHA ............................................................................................................... 64

• ECA ............................................................................................................................................ 64

• ESTATUTO DO DESARMAMENTO............................................................................................. 65

• CRIMES AMBIENTAIS ................................................................................................................ 65

• LEI DE DROGAS ......................................................................................................................... 66

• CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO.......................................................................................... 68

• DIVERSOS .................................................................................................................................. 69

4 – PROCESSO PENAL ................................................................................................................................... 72


• INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ........................................................................................................ 72

• AÇÃO PENAL ............................................................................................................................. 74

• COMPETÊNCIA .......................................................................................................................... 75
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• PRISÃO E LIBERDADE ................................................................................................................ 77

• PROCEDIMENTO ....................................................................................................................... 81

• PROVAS ..................................................................................................................................... 81

• INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA .................................................................................................. 83

• TRIBUNAL DO JÚRI.................................................................................................................... 84

• NULIDADES ............................................................................................................................... 85

• SENTENÇAS E OUTRAS DECISÕES ............................................................................................. 87

• RECURSOS ................................................................................................................................. 87

• HABEAS CORPUS E REVISÃO CRIMINAL ................................................................................... 88

• EXECUÇÃO PENAL ..................................................................................................................... 89

• DIVERSOS .................................................................................................................................. 91

5 – CIVIL ...................................................................................................................................................... 95
• DIREITOS DA PERSONALIDADE ................................................................................................ 95

• PESSOAS JURÍDICAS .................................................................................................................. 97

• BEM DE FAMÍLIA ....................................................................................................................... 97

• OBRIGAÇÕES ............................................................................................................................. 98

• RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................................................................................ 98

• CONTRATOS ............................................................................................................................ 100

• ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA ................................................................................ 103

• CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL ............................................................................................. 104

• PARENTESCO ........................................................................................................................... 104

• ALIMENTOS ............................................................................................................................. 105

• SUCESSÕES .............................................................................................................................. 108

• DIREITOS REAIS ....................................................................................................................... 110

6 – PROCESSO CIVIL ................................................................................................................................... 112


• COMPETÊNCIA ........................................................................................................................ 112

• PROCEDIMENTO ..................................................................................................................... 113


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• PROVAS ................................................................................................................................... 113

• JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA .......................................................................................... 114

• AÇÃO RESCISÓRIA................................................................................................................... 114

• RECURSOS ............................................................................................................................... 116

• EXECUÇÃO ............................................................................................................................... 120

• EXECUÇÃO FISCAL ................................................................................................................... 127

• MANDADO DE SEGURANÇA ................................................................................................... 128

• PROCESSO COLETIVO .............................................................................................................. 128

• PROCEDIMENTOS ESPECIAIS .................................................................................................. 129

• DIVERSOS ................................................................................................................................ 129

7 – TRIBUTÁRIO ......................................................................................................................................... 130


• IMUNIDADE ............................................................................................................................ 130

• PRINCÍPIOS .............................................................................................................................. 131

• TAXAS ...................................................................................................................................... 131

• IMPOSTOS FEDERAIS .............................................................................................................. 132

• IMPOSTOS ESTADUAIS ........................................................................................................... 134

• IMPOSTOS MUNICIPAIS.......................................................................................................... 136

• CONTRIBUIÇÕES ..................................................................................................................... 137

• DIVERSOS ................................................................................................................................ 138

8 – EMPRESARIAL ...................................................................................................................................... 139


• PROPRIEDADE INDUSTRIAL .................................................................................................... 140

• TÍTULOS DE CRÉDITO .............................................................................................................. 140

• SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ................................................................................................... 141

• FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL .................................................................................... 141

• CONTRATOS EMPRESARIAIS .................................................................................................. 146

9- ECA ........................................................................................................................................................ 146


• ADOÇÃO .................................................................................................................................. 146

• ASPECTOS PROCESSUAIS ........................................................................................................ 147


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• MEDIDAS PROTETIVAS E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ....................................................... 148

• CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ................................................................ 148

10- CONSUMIDOR ..................................................................................................................................... 149


• CONCEITO DE CONSUMIDOR ................................................................................................. 149

• FATO DO PRODUTO/SERVIÇO ................................................................................................ 150

• PRÁTICAS COMERCIAIS........................................................................................................... 151

• BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES....................................................... 155

• DIVERSOS ................................................................................................................................ 155

11 – PREVIDENCIÁRIO ................................................................................................................................ 156


• APOSENTADORIA .................................................................................................................... 156

• PREVIDÊNCIA PRIVADA .......................................................................................................... 158

• CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA .......................................................................................... 159

• PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL PREVIDENCIÁRIO ................................................. 159

• DIVERSOS ................................................................................................................................ 160

12 – AMBIENTAL ........................................................................................................................................ 160


• COMPETÊNCIA ........................................................................................................................ 160

• RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL .............................................................. 161

• DIVERSOS ................................................................................................................................ 161

13- FINANCEIRO......................................................................................................................................... 161


14 – INTERNACIONAL ................................................................................................................................ 164
• EXPULSÃO ............................................................................................................................... 164

15 – DIREITO ELEITORAL ............................................................................................................................ 164


• INELEGIBILIDADES .................................................................................................................. 165

• PARTIDOS POLÍTICOS.............................................................................................................. 165

• DIVERSOS ................................................................................................................................ 165

16 – DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL ........................................................................................................ 167


17 – DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO .......................................................................... 167
18 – PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR ............................................................................................... 171
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RETROSPECTIVA DE JURISPRUDÊNCIA – 20201

Querido(a)s aluno(a)s da família Ciclos, mais um ano chegou ao fim. E, juntos, conseguimos dar grandes
passos rumo a tão sonhada aprovação.

Vivemos um 2020 muito diferente do planejado. E isso para todos! O mundo enfrenta ainda um inimigo
comum, oculto, mortal, e que tem nos amedrontado. Muitos se perguntam o que podemos esperar de 2021.
Aqui na Família Ciclos acreditamos que a vida não acontece em condições perfeitas de temperatura e pressão,
mas cada momento pode ser enfrentado e superado com uma perspectiva diferente, um olhar de ESPERANÇA.
E é isso que nós esperamos de 2021!

E, claro, que, mais um ano, estamos disponibilizando para vocês a “Retrospectiva de Jurisprudência” (já
sabemos que vocês estavam esperando, né?), compilando os julgados do STJ e do STF comentados pelo
professor e Juiz Federal (ou seria, nosso amigo, ídolo, queridíssimo? #COMCERTEZA) Márcio André Lopes
Cavalcante (para os mais íntimos, o Marcinho do Dizer o Direito).

Aproveitamos essa oportunidade para agradecer o trabalho de qualidade impecável do Marcinho, que,
com tanto zelo e responsabilidade, transforma o estudo da jurisprudência em algo de fácil compreensão e
entendimento (quem aí concorda que ler informativo é a parte mais agradável do cronograma?).

Desejamos um feliz 2021 a todos! Nossos votos é de que seja mais um ano de recomeços, lutas,
alegrias, sonhos realizados e muita gratidão!

Um abraço carinhoso de toda a equipe do Setor de Materiais.

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Obs1. Todas as informações foram extraídas do site Dizer o Direito (#SomosTodosMarcinho #AjudaMarcinho). Obs2.
Todos os julgados foram devidamente adicionados nas FUCs (para achar no material as novas inserções basta procurar o *
asterisco e data).
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1 – CONSTITUCIONAL

• ADVOCACIA PÚBLICA

É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se,


porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020. É constitucional a percepção de honorários de sucumbência por
procuradores de estados-membros, observado o teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no
somatório total às demais verbas remuneratórias recebidas mensalmente. STF. Plenário. ADI 6135/GO, ADI
6160/AP, ADI 6161/AC, ADI 6169/MS, ADI 6177/PR e ADI 6182/RO, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
19/10/2020 (Info 995).

Para que o Procurador do Estado possa propor ação civil pública (ex: ação civil pública de improbidade
administrativa), não é necessária autorização do Govenador do Estado. No entanto, é indispensável a anuência
do Procurador-Geral do Estado. STF. 1ª Turma. ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).

A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos não representa ofensa à


determinação constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88). O art.
39, § 4º, da Constituição Federal, não constitui vedação absoluta de pagamento de outras verbas além do
subsídio. Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem os valores
em função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de direito público. Por
essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de subsídio, sobretudo quando estruturado como um
modelo de remuneração por performance, com vistas à eficiência do serviço público, a possibilidade de
advogados públicos perceberem verbas honorárias sucumbenciais não afasta a incidência do teto remuneratório
estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6053, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/
Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping). O entendimento acima vale tanto
para os advogados públicos federais como também para os Procuradores do Estado, do DF e do Município. Nesse
sentido: É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se,
porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico Superior do
DETRAN) será responsável por: • representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse
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da autarquia”. • praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer
as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”,
insculpido no art. 132 da CF/88. A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela,
atribuiu ao cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de
advogado. Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas
aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. O STF decidiu modular
os efeitos da decisão para: • manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às
procuradorias; • declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato. ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores
façam a atuação jurídica no âmbito interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como
conceber e formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e
instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades da entidade,
elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições podem sim ser exercidas* pelos Técnicos
Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio da unicidade da representação judicial. O STF entendeu
que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para a PGE, porque esta não conseguirá
fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades inviabilizadas. STF. Plenário. ADI 5109/ES,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927). No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração
opostos neste processo e fez os seguintes acréscimos: • também são inconstitucionais os dispositivos da lei que
preveem que o Técnico Superior do DETRAN possa “apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer
às audiências e outros atos para defender os direitos do órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais
para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”; • a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato
normativo abrange as atribuições jurídicas consultivas do cargo de Técnico Superior que sejam privativas de
Procurador do Estado. Assim, as atribuições de “elaborar estudos de pareceres sobre questões jurídicas que
envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela
autarquia, com a emissão de parecer” devem ser exercidas sob supervisão de Procurador do Estado do Espírito
Santo. * Com base no que foi completado no julgamento dos embargos, conclui-se que as atribuições jurídicas
consultivas dos ocupantes do cargo de Técnico Superior devem ser obrigatoriamente exercidas sob a supervisão
de Procurador do Estado, por ser esta a interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência
do STF. STF. Plenário. ADI 5109 ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de


autonomia funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a
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criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição
Federal. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública


não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado –
sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos
membros daquelas outras instituições. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do
Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (artigos 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo
único) não pode ser estendida aos procuradores de estado. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em
15/04/2020.

• DEFENSORIA PÚBLICA

O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de
cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive quanto às parcelas já vencidas, assim
também em relação a eventuais créditos adicionais destinados à instituição. STF. Plenário. ADPF 384 Ref-
MC/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2020 (Info 985). É dever constitucional do Poder Executivo o
repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos
recursos orçamentários destinados a outros Poderes e órgãos constitucionalmente autônomos, como o
Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme previsão da respectiva Lei Orçamentária Anual. STF.
Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826).

O art. 15 do ADCT da CE/SE ampliou o limite temporal de excepcionalidade previsto pelo art. 22 do
ADCT da CF/88 e, por essa razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). O art. 22
do ADCT criou, de modo excepcional, uma forma derivada de investidura em cargo público. Trata-se de uma
exceção à regra geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo constituinte estadual. STF.
Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020 (Info 984).

Caso concreto: advogado atuou como defensor dativo em ação de alimentos. Esse advogado atuou
porque na localidade não há Defensoria Pública e existe um convênio com a OAB para que esse serviço seja
realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo Estado. Na sentença, o magistrado arbitrou a
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verba honorária conforme disposto na tabela do convênio. Porém, o Estado pagou só uma parte. Neste caso, o
STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários do Estado, nos próprios autos, mesmo o
Estado não tendo participado da ação de conhecimento. Se for exigido que os advogados promovam uma ação
específica contra a Fazenda Pública para poderem receber seus honorários, isso fará com que eles sejam muito
resistentes em aceitar a função de advogado dativo, porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram
designados, mas também em outra ação que terão de propor contra a Fazenda Pública. O fato de o Estado não
ter participado da lide na ação de conhecimento não impede que ele seja intimado a pagar os honorários, que
são de sua responsabilidade em razão de convênio celebrado entre a Defensoria Pública e a Ordem dos
Advogados do Brasil, em cumprimento de sentença. STJ. Corte Especial. EREsp 1698526-SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Rel. Acd. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 05/02/2020 (Info 673).

• PODER JUDICIÁRIO

A promoção na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção. STF. Plenário. RE 1037926,
Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 964) (Info 994).

O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos possíveis candidatos aos
órgãos de cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque desrespeitou a
autonomia administrativa dos tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN
(LC 35/79) não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível com a Constituição Federal a
regra segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos
tribunais. Essa matéria, em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser
remetida à disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgados em 25/6/2020 (Info 983).

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais
desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B, § 4º,
V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o
procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para
propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício.
As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê
que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura
para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao
texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se
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a infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
17/3/2020 (Info 970).

Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro da Comarca de Sete Quedas que
restringiu o ingresso de pessoas portando arma de fogo nas dependências do Fórum. STJ. 1ª Turma. RMS 38090-
MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não possui o direito de
reingresso no cargo. Isso porque o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso
público como condição para o provimento em cargo efetivo da Administração Pública. O STF já declarou a
inconstitucionalidade de lei estadual que previa a possibilidade de o magistrado exonerado reingressar nos
quadros da magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 23/02/2005. O CNJ também já expediu
orientação normativa vinculante afirmando que não são possíveis formas de provimentos dos cargos
relacionados à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas na Constituição Federal nem
na LOMAN. Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de readmissão no cargo mesmo que essa
possibilidade esteja prevista em lei estadual. STJ. 2ª Turma. RMS 61880-MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 03/03/2020 (Info 666).

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa
para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade. Por esse motivo, a Federação
Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem legitimidade para a propositura de ADI na medida
em que constitui entidade representativa de apenas parte de categoria profissional, já que não abrange os
auditores fiscais federais e municipais. STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 19/10/2020 (Info 995).

Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle concentrado,
exceto se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação. STF. Plenário. ADI
6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).

É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. É possível a impugnação
recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade de amicus curiae. STF. Plenário.
ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985). Vale ressaltar que existem decisões
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em sentido contrário e que o tema não está pacificado. Nesse sentido: Tanto a decisão do Relator que ADMITE
como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível (STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018. Info 920).

A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em
ação direta. STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

A CF/88 e a lei preveem que a “entidade de classe de âmbito nacional” possui legitimidade para propor
ADI, ADC e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que apenas as entidades de classe com associados
ou membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação de
controle abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato
constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9
(nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo
construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei
nº 9.096/95). STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski, julgado em
05/08/2020 (Info 988 – clipping).

Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra
acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em que o
legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. STF. Plenário. RE 1068600 AgR-
ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial em
desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação
UDEs e que recaiam sobre verbas destinadas à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 4/6/2020 (Info 980).

O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos
dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação: a) dispense a
requisição de novas informações e manifestações; e b) não prejudique o cerne da ação. Assim, por exemplo, se
o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de novos dispositivos legais
que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso exigiria que novos pedidos de
informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas manifestações da Advocacia-
Geral da União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os princípios da economia e da celeridade
14

processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta, na medida em que
ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020.

Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui
natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado. STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 15/04/2020 (Info 978).

O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração
com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o
ato contra o qual se insurge. Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar,
contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja
reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.

O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade
para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem
legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário.
ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
18/3/2020 (Info 970).

A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas
Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger os presos do Covid-19 amplia
indevidamente o objeto da ação. É certo que no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de pedir é
aberta. No entanto, o pedido é específico. Nenhum dos pedidos da ADPF 347 está relacionado com as questões
inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível, portanto, a ampliação do pedido cautelar já
apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido. Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem
observar a legitimidade constitucional para propositura da ação. Ademais, em que pese a preocupação de todos
em relação ao Covid-19 nas penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina,
fora do objeto da ADPF, a realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento,
todas essas possibilidades e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça. O STF entendeu
que, neste momento, o Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho
Nacional de Justiça CNJ e por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Para evitar a disseminação
do novo coronavírus nas prisões, o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso. A Recomendação
62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas preventivas
15

contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. STF. Plenário. ADPF
347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020
(Info 970).

O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do
preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula Vinculante. Caso
concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação, permitiu
que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às regras do
Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª
Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88.
Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da livre iniciativa,
o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido feito respeitando-se
a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10: Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de
reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo
ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info
965).

Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a
interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre a implantação de instalações industriais


destinadas à produção de energia nuclear no âmbito espacial do território estadual. STF. Plenário. ADI 330/RS,
Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

É constitucional norma estadual que dispõe sobre a obrigatoriedade de rotulagem em produtos de


gêneros alimentícios destinados ao consumo humano e animal, que sejam constituídos ou produzidos a partir
de organismos geneticamente modificados, no percentual igual ou superior a 1%, no âmbito do Estado federado.
É o caso, por exemplo, da Lei nº 14.274/2010, do Estado de São Paulo. STF. Plenário. ADI 4619/SP, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 9/10/2020 (Info 994).
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É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias ou permissionárias façam
o corte do fornecimento de água, energia elétrica e dos serviços de telefonia, por falta de pagamento, em
determinados dias (ex: sextas-feiras, vésperas de feriados etc.). STF. Plenário. ADI 3824/MS, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 02/10/2020. NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº 14.015/2020 Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei
nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é possível a interrupção do serviço público em caso de
inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado. Confira os dispositivos inseridos na Lei nº
13.460/2017: Art. 5º O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os
agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes: (...) XVI – comunicação
prévia ao consumidor de que o serviço será desligado em virtude de inadimplemento, bem como do dia a partir
do qual será realizado o desligamento, necessariamente durante horário comercial. Parágrafo único. A taxa de
religação de serviços não será devida se houver descumprimento da exigência de notificação prévia ao
consumidor prevista no inciso XVI do caput deste artigo, o que ensejará a aplicação de multa à concessionária,
conforme regulamentação. Art. 6º São direitos básicos do usuário: (...) VII – comunicação prévia da suspensão
da prestação de serviço. Parágrafo único. É vedada a suspensão da prestação de serviço em virtude de
inadimplemento por parte do usuário que se inicie na sexta-feira, no sábado ou no domingo, bem como em
feriado ou no dia anterior a feriado. O entendimento acima foi positivado em nível nacional. A Lei nº
14.015/2020 inseriu o § 4º ao art. 6º da Lei nº 8.987/95 com a seguinte redação: Art. 6º (...) § 4º A interrupção
do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado
ou no domingo, nem em feriado ou no dia anterior a feriado.

A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos entes
estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração. Os arts. 1º e 32, caput e § 1º, do
Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 492/RJ,
ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020 (Info 993).

O art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020 autoriza que os gestores locais de saúde
(secretarias estaduais e municipais, p. ex.), mesmo sem autorização do Ministério da Saúde, façam a requisição
de bens e serviços. O STF afirmou que esses dispositivos são constitucionais. Não se exige autorização do
Ministério da Saúde para que os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios decretem a requisição
administrativa prevista no art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020, no exercício de suas competências
constitucionais. STF. Plenário. ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).
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A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o vice-governador do


Estado ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-se incompatível com os postulados
da simetria e da separação dos Poderes. A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é
da competência do Congresso Nacional autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se ausentarem
do País quando a ausência for por período superior a 15 dias. Logo, afronta os princípios da separação dos
Poderes e da simetria a norma da Constituição estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para
que o Governador e o Vice-governador se ausentem do País por qualquer prazo. Os Estados-membros não
podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro que não derivem explícita ou implicitamente de
regra ou princípio previsto na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5373, Rel. Min. Celso de Mello, julgado
em 24/08/2020.

A segurança pública é de competência comum dos Estados-membros (art. 144 da CF/88), sendo
também sua competência remanescente a prerrogativa de legislar sobre transporte intermunicipal (art. 25, §
1º). A concessão de dois assentos a policiais militares devidamente fardados nos transportes coletivos
intermunicipais vai ao encontro da melhoria das condições de segurança pública nesse meio de locomoção, em
benefício de toda a Sociedade, questão flagrantemente de competência dos Estados-membros (art. 144 da
CF/88) e afasta qualquer alegação de desrespeito ao princípio da igualdade, uma vez que o discrímen adotado
é legítimo e razoável, pois destinado àqueles que exercem atividade de polícia ostensiva e visam à preservação
da ordem pública. Essa lei estadual não representa indevida interferência no contrato de concessão firmado
com a concessionária, uma vez que não há alteração na equação do equilíbrio financeiro-econômico do contrato
administrativo. STF. Plenário.ADI 1052, Rel. Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em
24/08/2020 (Info 991).

É constitucional lei estadual que proíba, no âmbito estadual, a inserção de cláusulas que exijam a
fidelização nos contratos prestação de serviços. A fidelização contratual consiste em contrapartida exigida do
consumidor, em razão de benefícios oferecidos pela prestadora na formação do contrato de prestação de
serviços, todavia, não se confunde com esse. A cláusula de fidelidade contratual é autônoma e agregativa ao
contrato de prestação de serviço, inserindo-se no espaço comercial das prestadoras, e não no campo regulatório
das atividades de caráter público. O objeto da norma estadual impugnada em nada interfere no regime de
exploração ou na estrutura remuneratória da prestação do serviço. Essa lei busca apenas a proteção do
consumidor, ainda que realizada paralelamente a contrato de prestação de serviço. STF. Plenário. ADI 5963, Rel.
Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Info 992 – clipping).
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É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são
obrigadas a devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno, antes
do início das aulas, desista do curso ou solicite transferência. STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado
em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).

É inconstitucional Lei estadual que, a pretexto de proteger a saúde da população, estabelece limites
de radiação para a instalação de antenas transmissoras de telefonia celular. Essa lei adentra na esfera de
competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. A União, no exercício de suas
competências (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, que, de forma nítida, atribui à ANATEL
a definição de limites para a tolerância da radiação emitida por antenas transmissoras. A União, por meio da Lei
nº 11.934/2009, fixou limites proporcionalmente adequados à exposição humana a campos elétricos,
magnéticos e eletromagnéticos. Dessa forma, a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos
de interesse comum e concorrente, legislarem sobre seus respectivos interesses (presumption against
preemption) foi nitidamente afastada por norma federal expressa (clear statement rule). STF. Plenário. ADI
2902, Rel. Edson Fachin, julgado em 04/05/2020 (Info 981 – clipping).

Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar que disponha sobre atribuições
de órgãos da Administração Pública (art. 61, § 1º, II, "e" e art. 84, VI, da Constituição Federal). STF. Plenário. ADI
3981, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. A MP 926/2020 alterou
o caput e o inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020.
Foi ajuizada uma ADI contra esta MP. O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu: • confirmar a medida
acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no campo pedagógico e na
dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em outras palavras, as providências adotadas pelo Governo
Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o Distrito Federal e Município considerada a
competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.” • dar interpretação conforme à
Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o Presidente da República pode
dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais, no entanto, esse decreto deverá
preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
15/4/2020 (Info 973).
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É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de
seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info
975).

É inconstitucional lei estadual que afasta as exigências de revalidação de diploma obtido em


instituições de ensino superior de outros países para a concessão de benefícios e progressões a servidores
públicos. Essa lei invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação
nacional (art. 22, XXIV, CF/88). STF. Plenário. ADI 6073, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/03/2020.

É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas
desportivas e nos estádios. Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24,
V, da CF/88). O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso e
permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas ou substâncias
proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. Não há, contudo, uma vedação
geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo que o legislador estadual, no exercício de sua
competência concorrente complementar, observadas as especificidades locais, pode regulamentar a matéria,
autorizando, por exemplo, a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor alcóolico) nos estádios. Vale
lembrar que isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa
do mundo organizada pela FIFA e nas Olimpíadas. STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 27/03/2020.

Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem de


documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e
responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do
art. 22, XXV, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

• DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


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As disposições da Lei nº 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem
sobre os contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados
anteriormente, foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos beneficiários
que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos inalterados. STF. Plenário. RE
948634, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 123) (Info 995).

É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da
CF/88), a exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-
servidores públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da
CF/88). STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema
457) (Info 994).

Os arts. 6º a 8º do Decreto nº 21.981/1932 exigem que o indivíduo que quiser exercer a profissão de
leiloeiro preste uma garantia (caução). A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro, prevista
nos arts. 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII, da Constituição Federal de 1988. Isso
porque o leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como
condição para o exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que reforça o
interesse social da norma protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. STF. Plenário.
RE 1263641/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020
(Repercussão Geral – Tema 455) (Info 994).

A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe deu a Emenda
Constitucional 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que previsto ser do
farmacêutico a responsabilidade técnica por drogaria. STF. Plenário.RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em
24/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).

A imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos
contra um grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os
principais alvos da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”. Determinado
21

partido político ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da
liberdade de expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. O STF deferiu
medida cautelar para suspender todo e qualquer ato do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de
produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, as práticas
cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de
movimento político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da
legalidade, exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF. Plenário. ADPF 722
MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19 e 20/8/2020 (Info 987).

A Constituição prevê o dever de aplicação de percentual mínimo para investimentos na manutenção


e desenvolvimento do ensino. A definição de quais despesas podem ou não ser consideradas como manutenção
e desenvolvimento de ensino é feita por meio de lei editada pela União. A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional), em seus arts. 70 e 71, definiu quais despesas podem ser consideradas como sendo
destinadas à manutenção e desenvolvimento do ensino. As despesas com encargos previdenciários de
servidores inativos e os repasses efetuados pelo Estado para cobrir o déficit no regime próprio de previdência
não podem ser computados como aplicação de recursos na manutenção e desenvolvimento de ensino, para os
fins do art. 212 da CF/88. Logo, é inconstitucional lei estadual que faça essa previsão. STF. Plenário. ADI 5719,
Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Info 990 – clipping).

É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Públicacontrateempresa cujo diretor,
gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos
discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal e do
devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se cometerem
falta grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim
que a CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não
teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º da Constituição prevê que a
liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não
concordaram com essa tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto.
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia a
liberdade sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade
sindical, mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a
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finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo, o art. 522 da CLT foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.

A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as


empresas de telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes,
números de telefone e endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das
estatísticas oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As
informações disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas
cláusulas constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre
desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses
direitos e os limites estabelecidos pela Constituição. A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela
Constituição porque diz que os dados serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas
não delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude. A MP
954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou administrativo para proteger os dados pessoais de
acessos não autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso, constata-se que a MP
violou a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva (princípio da
proporcionalidade). STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, julgados em 6 e 7/5/2020 (Info 976).

No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da
República e os Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo
em favor dos mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa
humana. Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício
semelhante ao que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício
financeiro no valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores
individuais (MEI), autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo
prazo de 3 meses, às pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus. Diante
disso, o STF decidiu: a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de
inconstitucionalidade por omissão para discutir o tema); b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado
uma vez que foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o
objeto da ADO. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/4/2020 (Info 975)
23

Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV,
da CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de material com
referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há também
inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação viola: • a liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e • o pluralismo de
ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III). Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil, que é a promoção do bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). Por
fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo
para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF. Plenário. ADPF
457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair
Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa
decisão não configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as
investigações e evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado.
Além disso, a decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja
sanidade mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de
“transtorno delirante persistente”. STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/4/2020 (Info 973).

É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas
do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal. Essa
lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III, da
CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a
inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas
sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes
de outros Estados da Federação. STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à
Constituição da Tabela IV da Lei nº 9.289/96, para: Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas
ao Poder Judiciário que forem voltadas para a defesa de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse
pessoal, presumindo essas finalidades quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente,
sendo desnecessária, nessa hipótese, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido.
24

Por outro lado, para a concessão da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse
indireto ou de terceiros, mostra-se imprescindível a demonstração da finalidade. STF. Plenário. ADI 2259, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.

• MINISTÉRIO PÚBLICO

Cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como


tempo de atividade jurídica para fins de concurso público? • Para os concursos da Magistratura: NÃO. Isso
porque a Resolução nº 75/2009-CNJ não prevê. • Para os concursos do Ministério Público: SIM. Existe previsão
nesse sentido na Resolução nº 40/2009-CNMP. É constitucional a previsão contida na Resolução nº 40/2009, do
CNMP, no sentido de que os cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser
considerados como tempo de atividade jurídica para fins de concurso público no âmbito do Ministério Público.
Se o bacharel em Direito concluir uma especialização, mestrado ou doutorado, ele terá adquirido um
conhecimento que extrapola os limites curriculares da graduação em Direito. Em sua atividade
regulamentadora, o Conselho Nacional do Ministério Público está, portanto, autorizado a densificar o comando
constitucional de exigência de “atividade jurídica” com cursos de pós-graduação. STF. Plenário. ADI 4219, Rel.
Cármen Lúcia, Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 05/08/2020 (Info 993 – clipping).

A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca
de concurso público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma atribuição
compatível com as finalidades constitucionais do Ministério Público. Assim, não pode o ato impugnado exigir a
participação do Ministério Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos do Estado. STF.
Plenário. ADI 3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. STF.
Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info
985 – clipping).

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020.

É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público
exerçam advocacia. O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos autônomos (art. 130-A, §
25

2º, I, da CF/88), desde que o conteúdo disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições
constitucionais. A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a observância dos princípios
constitucionais da isonomia, da moralidade e da eficiência no Ministério Público, estando, portanto, abrangida
pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II). A liberdade de exercício profissional não é um direito
absoluto, devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um todo. STF. Plenário. ADI 5454,
Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de


Justiça a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ. Não há inconstitucionalidade formal nessa
previsão. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não
pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e,
por expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é
exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais
atribuições. Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional dos
membros do Parquet, uma vez que: • se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público
estadual, veiculada por meio de lei; • e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores
de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício de seus misteres legais. STF. Plenário. ADI 5505, Rel.
Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na condição de partes, perante os
Tribunais Superiores, em razão da não existência de vinculação ou subordinação entre o Parquet Estadual e o
Ministério Público da União. Tal conclusão, entretanto, não pode ser aplicada ao Ministério Público do Trabalho,
considerando que o MPT é sim órgão vinculado ao Ministério Público da União, conforme dispõe o art. 128, I,
“b”, da Constituição Federal. O MPT integra a estrutura do MPU, atuando perante o Tribunal Superior do
Trabalho, não tendo legitimidade para funcionar no âmbito do STJ, tendo em vista que esta atribuição é
reservada aos Subprocuradores-gerais da República integrantes do quadro do Ministério Público Federal. STJ.
1ª Seção. AgRg no CC 122940-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).

O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão direito ao pagamento de auxílio-
moradia, desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa. Esse dispositivo
legal autoriza que ato do PGR imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de
prazo máximo de duração do benefício. Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do
auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em parcela
única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. A fixação de restrição temporal para o
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recebimento do auxílio-moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem
caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido
benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória. STF. 2ª Turma. MS 26415/DF,
rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

• PODER LEGISLATIVO

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja a possibilidade de a Assembleia


Legislativa convocar o Presidente do Tribunal de Justiça ou o Procurador-Geral de Justiça para prestar
informações na Casa, afirmando que a sua ausência configura crime de responsabilidade. O art. 50 da CF/88,
norma de reprodução obrigatória, somente autoriza que o Poder Legislativo convoque autoridades do Poder
Executivo, e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público. Não podem os Estados-membros ampliar o rol de
autoridades sujeitas à convocação pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade, por violação
ao princípio da simetria e à competência privativa da União para legislar sobre o tema. STF. Plenário. ADI 2911,
Rel. Carlos Britto, julgado em 10/08/2006. STF. Plenário. ADI 5416, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 03/04/2020
(Info 977).

O então Deputado Federal Wladimir Costa (SD-PA) proferiu discurso no Plenário da Câmara dos
Deputados no qual afirmou que determinados artistas seriam “bandidos”, “membros de quadrilha”,
“verdadeiros ladrões”, “verdadeiros vagabundos da Lei Rouanet”. Esses artistas ingressaram com queixa-crime
contra o então Deputado afirmando que ele teria cometido os crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140
do Código Penal). O STF recebeu esta queixa-crime. O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no
momento em que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra,
porque ele depois divulgou essas ofensas na Internet. Outro argumento está no fato de que a inviolabilidade
material somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e evidente com o exercício das funções
parlamentares. No caso concreto, embora tenha feito alusão à Lei Rouanet, o parlamentar nada acrescentou ao
debate público sobre a melhor forma de distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir
palavras ofensivas à dignidade dos querelantes. A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que
vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. STF. 1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,
red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).

• PROCESSO LEGISLATIVO
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Surge constitucional lei de iniciativa parlamentar a criar conselho de representantes da sociedade civil,
integrante da estrutura do Poder Legislativo, com atribuição de acompanhar ações do Executivo. STF. Plenário.
RE 626946/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 1040) (Info 994).

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trate sobre isenção de custas judiciais.
Isso porque, os órgãos superiores do Poder Judiciário possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para
apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre redução das custas judiciais (artigos 98, § 2º,
e 99, caput e § 1º da CF). STF. Plenário. ADI 3629, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/03/2020.

• TRIBUNAL DE CONTAS

O TCU, por força do art. 71, VI, da CF/88, tem competência para fiscalizar o uso dos recursos federais
repassados a outros entes federados, como no caso de verbas federais repassadas ao Distrito Federal. Vale
ressaltar, contudo, que, diante da autonomia própria dos entes federados, a fiscalização, pelo TCU, dos recursos
federais repassados ao Distrito Federal não impede que o TCDF também faça a fiscalização da aplicação desses
mesmos recursos, até porque ele tem pleno e legítimo interesse na regular prestação dos serviços de saúde no
seu território. Assim, por força dos arts. 71 e 75 da Constituição Federal e do art. 78 da Lei Orgânica do Distrito
Federal, o Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar a aplicação de recursos federais
repassados ao Distrito Federal. STJ. 1ª Turma. RMS 61997-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
16/06/2020 (Info 674).

A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra: Art. 151. O Tribunal de Contas do
Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e obedecerá, no que couber, aos princípios da
Constituição Federal e desta Constituição. Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas
do Município de São Paulo as normas pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Para o STF,
essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. Se a Constituição Federal
prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição dos tribunais de contas dos estados,
é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior de conselheiros. Desse modo, não se
vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria. Vale ressaltar que essa norma da Constituição Estadual não
equipara os vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Município aos dos conselheiros do Tribunal
de Contas do Estado. A fixação da remuneração dos conselheiros cabe ao Município (mesmo que em valor
diverso do fixado para os conselheiros estaduais). STF. Plenário. ADI 346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980)
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É inconstitucional lei estadual, de origem (iniciativa) parlamentar, que discipline a organização e o


funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE). Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de
iniciativa (competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua
organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88). Os Tribunais de Contas, conforme
reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que inclui,
essencialmente, a iniciativa privativa para instaurar processo legislativo que pretenda alterar sua organização e
funcionamento. STF. Plenário. ADI 4191, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/05/2020 (Info 986 – clipping).

• ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Compete ao Ministro da Justiça determinar a ida da Força Nacional de Segurança Pública para atuar
em determinado Estado-membro ou Distrito Federal. Segundo a redação do art. 4º do Decreto nº 5.289/2004 a
determinação do emprego da Força Nacional pode ocorrer de duas formas: 1) mediante solicitação expressa do
Governador formulada ao Ministro da Justiça; 2) mediante iniciativa do próprio Ministro da Justiça, mesmo sem
solicitação do Governador. Se o próprio Governador solicita o auxílio, não há qualquer problema ou
questionamento. No entanto, e se o Ministro da Justiça determina o envio da Força Nacional mesmo sem pedido
do Governador? Essa atuação seria constitucionalmente válida? NÃO. Isso viola o princípio da autonomia
estadual. Foi o que decidiu o STF, em juízo de delibação, ao apreciar medida liminar em ação cível originária.
Afirmou a Corte: É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º do Decreto 5.289/2004, naquilo em
que dispensa a anuência do governador de estado no emprego da Força Nacional de Segurança Pública, viole o
princípio da autonomia estadual. STF. Plenário. ACO 3427 Ref-MC/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
24/9/2020 (Info 992).

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja que os serviços públicos de


saneamento e de abastecimento de água serão prestados por pessoas jurídicas de direito público ou por
sociedade de economia mista sob controle acionário e administrativo, do Poder Público Estadual ou Municipal.
Compete aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico. Assim, a eles cabe escolher
a forma da prestação desses serviços, se diretamente ou por delegação à iniciativa privada mediante prévia
licitação. Isso é garantido pelo art. 30, I e IV, da CF/88. Além disso, essa previsão da Constituição Estadual
também viola o art. 175 da Constituição Federal, que atribui ao poder público a escolha da prestação de serviços
públicos de forma direta ou sob regime de concessão ou permissão mediante prévia licitação. STF. Plenário. ADI
4454, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 988 – clipping).
29

A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo de oito medidas que podem ser
adotadas pelo poder público para o combate ao coronavírus. O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº
13.979/2020 estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar algumas medidas se houvesse
autorização da União. O STF, ao apreciar ADI contra a Lei, decidiu: a) suspender parcialmente, sem redução de
texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios
da necessidade de autorização ou de observância ao ente federal; e b) conferir interpretação conforme aos
referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles previstas devem ser precedidas de recomendação
técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais
definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito da
competência constitucional de cada ente federativo. Assim, os Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem
autorização da União, adotar medidas como isolamento, quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo
de cadáver e restrição à locomoção interestadual e intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos. Vale
ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar fronteiras, pois sairiam de suas competências
constitucionais. A adoção de medidas restritivas relativas à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes
federativos, deve estar embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e
tem de preservar o transporte de produtos e serviços essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade
federativa competente. STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).

A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que
são previstas no art. 35 da Constituição Federal. As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da
CF/88 são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo da Constituição de Pernambuco que
previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de corrupção e
improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. Viola a
Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a
competência para requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não encontra amparo nos arts.
34 e 36 da CF/88. STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

• DIVERSOS

Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte ajuizaram
ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de recursos
do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar
determinando que: a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do
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Programa Bolsa Família na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento
isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da Federação. b) não haja cortes no Programa
enquanto perdurar o estado de calamidade pública; c) a liberação de recursos para novas inscrições seja
uniforme considerados os Estados da Federação. O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida.
STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info 985).

A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos ajuizaram
arguição de descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na
proteção dos povos indígenas com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos
comissivos e omissivos do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de
extermínio dos povos indígenas. Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88), o direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais
povos a viverem em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem
a realização de diversas medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso
(relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que a União implemente, em resumo, as seguintes
providências: Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 1. Criação de
barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 2. Criação de Sala de Situação,
para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato Recente.
Quanto aos povos indígenas em geral: 1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos
invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato. 2. Imediata
extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de um Plano de
Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União. O Plenário do STF referendou a
medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e
5/8/2020 (Info 985).

Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança pública diverso daqueles que estão
previstos no art. 144 da CF/88. Os Estados-membros e o Distrito Federal devem seguir o modelo federal. O art.
144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública, sendo esse rol taxativo.
Assim, a Constituição Estadual não pode prever a criação de Polícia Científica como órgão integrante da
segurança pública. Vale ressaltar que nada impede que a Polícia Científica, criada pelo Estado-membro para ser
o órgão responsável pelas perícias, continue a existir e a desempenhar suas funções, sem estar,
necessariamente, vinculada à Polícia Civil. No entanto, deve-se afastar qualquer interpretação que lhe outorgue
caráter de órgão de segurança pública. STF. Plenário. ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/6/2020
(Info 983).
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É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma
série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais
e concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade
e transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações
a toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info 975).

A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública.
Esse rol é taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os
Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos daqueles
previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito exercem
atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol taxativo dos
órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. Compete aos órgãos e agentes de
trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a educação,
engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o
direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não se
confundem com “segurança pública”. Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a
definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito,
inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da
regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional.Desse
modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não
previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).

2- ADMINISTRATIVO

• PRINCÍPIOS

A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de pendências de órgãos dotados de


autonomia institucional e orgânico-administrativa, tais como o Ministério Público estadual, constitui violação
do princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não tem competência para intervir
na esfera orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de contratar
operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais de despesa com pessoal por outros
32

poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072,
Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias
federais. Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de
inadimplência mantidos pela União. Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os
débitos e o Estado expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do
Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros restritivos.
Legitimidade da União para figurar no polo passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das
ações em que Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de
crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração
direta). Isso porque os Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis
de regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola
o princípio da razoabilidade. É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em
decorrência de pendências administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso
porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade
de intervenção federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar
duplamente o Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em
cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991
– clipping).

Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias
federais.Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de
inadimplência mantidos pela União. Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os
débitos e o Estado expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do
Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros restritivos.
Legitimidade da União para figurar no polo passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das
ações em que Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de
crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração
direta). Isso porque os Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis
de regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola
o princípio da razoabilidade É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em
decorrência de pendências administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso
porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade
33

de intervenção federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar
duplamente o Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em
cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991
– clipping).

A Administração Pública promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da
Lei n. 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).

O exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza


efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia intimação e oportunidade de
contraditório aos beneficiários do ato.

É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara
Municipal do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções financeiras. STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator
p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).

A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo das
irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao
crédito organizados e mantidos pela União. O processo de contas é essencial para a apuração de
responsabilidades. Não se pode impor sanção sem anterior identificação de responsáveis. STF. Plenário. ACO
2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão
de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência
de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo,
o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica,
recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota
técnica fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias
políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas
as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo
para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se
passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99,
seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
34

diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019
(repercussão geral – Tema 839) (Info 956). É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública,
evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei
nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes,
julgado em 12/02/2020 (Info 668).

• ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Caso concreto: a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender
8 refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e, em
seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização
legislativa. Desse modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias. O STF afirmou que
essa prática é legítima. A específica autorização legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do
controle acionário de sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e
específica anuência para a criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um
elaborado plano de gestão de desinvestimento, voltado para garantir maiores investimentos e,
consequentemente, maior eficiência e eficácia da empresa-mãe. Isso porque a inexistência de expressa
proibição ou limitação de alienação societária em relação à autorização legislativa genérica para a criação de
subsidiárias corresponde à concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder Executivo, de um importante
instrumento de gestão empresarial, para garantir a eficiência e a eficácia da sociedade de economia mista no
cumprimento de suas finalidades societárias. Portanto, na criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior
de gestão empresarial que deve ser seguido é garantir a melhor atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe.
STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
30/9 e 1º/10/2020 (Info 993).

Ao técnico em contabilidade que tenha concluído o curso após a edição da Lei nº 12.249/2010 é
assegurado o direito de se registrar no Conselho de Classe até 1º de junho de 2015, sem que lhe seja exigido o
Exame de Suficiência, sendo-lhe, dessa data em diante, vedado o registro. STJ. 1ª Turma. REsp 1659767-RS, Rel.
Min. Sérgio Kukina, julgado em 18/08/2020 (Info 677). Obs: a 2ª Turma entende de forma diversa e decide que
o exame de suficiência, criado pela Lei nº 12.249/2010, será exigido dos técnicos em contabilidade que
completarem o curso após sua vigência. Tais profissionais não estão sujeitos à regra de transição prevista no art.
12, § 2º do referido diploma (STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1631350/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado
em 19/10/2020).
35

O conceito de dirigentes de organização da sociedade civil estabelecido no artigo 2º, inciso IV, da Lei
Federal n. 13.019/2014 contempla profissionais com a atuação efetiva na gestão executiva da entidade, por
meio do exercício de funções de administração, gestão, controle e representação da pessoa jurídica, e, por isso,
não se estende aos membros de órgãos colegiados não executivos, independentemente da nomenclatura
adotada pelo estatuto social.

O exercício da função social das empresas estatais é condicionado ao atendimento da sua finalidade
pública específica e deve levar em conta os padrões de eficiência exigidos das sociedades empresárias atuantes
no mercado, conforme delimitações e orientações dos §§ 1º a 3º do art. 27 da Lei 13.303/2016.

Em respeito ao princípio da autonomia federativa (art. 18 da CF), a vedação ao acúmulo dos títulos de
OSCIP e OS prevista no art. 2º, inc. IX, c/c art. 18, §§ 1º e 2º, da Lei n. 9.790/1999 apenas se refere à esfera
federal, não abrangendo a qualificação como OS nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios.

O contrato de desempenho previsto na Lei 13.934/2019, quando celebrado entre órgãos que mantêm
entre si relação hierárquica, significa a suspensão da hierarquia administrativa, por autovinculação do órgão
superior, em relação ao objeto acordado, para substituí-la por uma regulação contratual, nos termos do art. 3º
da referida Lei.

As empresas estatais são organizações públicas pela sua finalidade, portanto, submetem-se à
aplicabilidade da Lei 12.527/2011 “Lei de Acesso à Informação “, de acordo com o art. 1º, parágrafo único, inc.
II, não cabendo a decretos e outras normas infralegais estabelecer outras restrições de acesso a informações
não previstas na Lei.

A demonstração da existência de relevante interesse coletivo ou de imperativo de segurança nacional,


descrita no § 1º do art. 2º da Lei 13.303/2016, será atendida por meio do envio ao órgão legislativo competente
de estudos/documentos (anexos à exposição de motivos) com dados objetivos que justifiquem a decisão pela
criação de empresa pública ou de sociedade de economia mista cujo objeto é a exploração de atividade
econômica.

A participação de empresa estatal no capital de empresa privada que não integra a Administração
Pública enquadra-se dentre as hipóteses de “oportunidades de negócio” prevista no art. 28, § 4º, da Lei
13.303/2016, devendo a decisão pela referida participação observar os ditames legais e os regulamentos
editados pela empresa estatal a respeito desta possibilidade.
36

Viola a legalidade o regulamento interno de licitações e contratos editado por empresa estatal de
qualquer ente da federação que estabelece prazo inferior ao previsto no art. 83, § 2º, da Lei n. 13.303/2016,
referente à apresentação de defesa prévia no âmbito de processo administrativo sancionador.

A ausência de tutela a que se refere o art. 3º, caput, da Lei 13.848/2019 impede a interposição de
recurso hierárquico impróprio contra decisões finais proferidas pela diretoria colegiada das agências
reguladoras, ressalvados os casos de previsão legal expressa e assegurada, em todo caso, a apreciação judicial,
em atenção ao disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.

A contratação para celebração de oportunidade de negócios, conforme prevista pelo art. 28, § 3º, II, e
§ 4º da Lei n. 13.303/2016 deverá ser avaliada de acordo com as práticas do setor de atuação da empresa estatal.
A menção à inviabilidade de competição para concretização da oportunidade de negócios deve ser entendida
como impossibilidade de comparação objetiva, no caso das propostas de parceria e de reestruturação societária
e como desnecessidade de procedimento competitivo, quando a oportunidade puder ser ofertada a todos os
interessados.

A "inviabilidade de procedimento competitivo" prevista no art. 28, § 3º, inc. II, da Lei n. 13.303/2016
não significa que, para a configuração de uma oportunidade de negócio, somente poderá haver um interessado
em estabelecer uma parceria com a empresa estatal. É possível que, mesmo diante de mais de um interessado,
esteja configurada a inviabilidade de procedimento competitivo

A realização de Análise de Impacto Regulatório (AIR) por órgãos e entidades da Administração Pública
federal deve contemplar a alternativa de não regulação estatal ou desregulação, conforme o caso.

O Metrô-DF é empresa pública, regida pelo direito privado. Embora preste serviço de utilidade pública,
a empresa não desempenha serviço público essencial em sentido típico ou de caráter monopolístico. O Metrô-
DF desenvolve atividade econômica com a exploração comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços
técnicos especializados, com a distribuição de dividendos, o que permite a penhora de seus bens. Vale ressaltar
ainda que há distribuição de lucros entre os acionistas da empresa. Diante desse contexto, não há como se
aplicar o regime de precatório para o Metrô-DF. STF. 1ª Turma. Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
37

O exercício da atividade de treinador ou de instrutor de tênis não exige o registro no Conselho Regional
de Educação Física. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1767702-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
29/06/2020 (Info 677).

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da Assembleia
Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os
presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os
titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min.
Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980).

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições
devidas à OAB (anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº 8.906/94) e pode ser suspenso do
exercício, ficando proibido de exercer a advocacia enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção
monetária (art. 37, § 2º). O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque representam
medida desproporcional que caracteriza sanção política, além de ofender a livre iniciativa e a liberdade
profissional. É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização profissional do exercício
laboral de seus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria
tributária. STF. Plenário. RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema
732) (Info 978).

A anuidade cobrada pela OAB possui natureza tributária? Os Tribunais Superiores divergem sobre o
tema: STJ: NÃO Os créditos decorrentes da relação jurídica travada entre a OAB e os advogados não compõem
o erário e, consequentemente, não têm natureza tributária. STJ. 1ª Turma. REsp 1574642/SC, Rel. Min. Sérgio
Kukina, julgado em 16/02/2016. STF: SIM As anuidades cobradas pelos conselhos profissionais caracterizam-se
como tributos da espécie contribuições de interesse das categorias profissionais, nos termos do art. 149 da
Constituição da República. STF. Plenário. RE 647885, Rel. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020.

As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais. A isenção das
custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de direito público. Dessa forma, para
as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da Administração Direta é
necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire no momento de sua criação,
decorrente da própria lei. STJ. 4ª Turma. REsp 1409199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020
(Info 676).
38

É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um
representante da Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor
a presença de representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local. STF.
Plenário. ADI 4579/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

• BENS PÚBLICOS

O administrador público está autorizado por lei a valer-se do desforço imediato sem necessidade de
autorização judicial, solicitando, se necessário, força policial, contanto que o faça preventivamente ou logo após
a invasão ou ocupação de imóvel público de uso especial, comum ou dominical, e não vá além do indispensável
à manutenção ou restituição da posse (art. 37 da Constituição Federal; art. 1.210, § 1º, do Código Civil; art. 79,
§ 2º, do Decreto-Lei n. 9.760/1946; e art. 11 da Lei n. 9.636/1998).

A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as condições mercadológicas existentes à época
da efetiva perda da posse do bem.

As terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas indispensáveis
à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à
preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20, II, da CF/88). As terras devolutas pertencem
aos Estados-membros desde a Constituição de 1891, que delas excetuava apenas a porção do território
indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais. Esse
mesmo tratamento jurídico foi mantido, com pequenas variações, nas Constituições de 1934, 1937, 1946, 1967,
EC 1 de 1969 e, finalmente, na Constituição Federal de 1988. Caso concreto: no Estado de São Paulo havia uma
grande área que era considerada como terra devoluta. Diante disso, em 1939, o Estado ajuizou ação
discriminatória para regularizar essa área, tendo o pedido sido julgado procedente, com a expedição de títulos
de domínio das terras em favor do autor. A União, posteriormente, propôs ação anulatória alegando que as
referidas terras seriam de sua propriedade desde 1872, por anexação. O Estado de São Paulo, por sua vez, alegou
que eram terras devolutas, e, por isso, passíveis de alienação a particulares. Apesar de inexistente, à época,
qualquer registro imobiliário no sentido de se cuidar de terras devolutas, não se exigiria prova nesse sentido,
pois a regra então vigente era no sentido da presunção da natureza devoluta dessas terras. Assim, havia
presunção de que eram terras devolutas e cabia à União o ônus de provar que adquiriu as terras por meio de
compra ou anexação; que as terras lhe eram úteis; e a exata individuação para fins de saber se elas coincidem
com as áreas em relação às quais o estado de São Paulo expediu os títulos que se pretende anular. É possível
concluir que a União adquiriu terras na região, mediante compra ou anexação. Entretanto, não há provas de que
39

essas terras tenham sido efetivamente úteis para o suposto fim original a que se prestariam. Além disso, não há
qualquer precisão na individuação dessas terras à época da aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus
probatório. STF. Plenário. ACO 158/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/3/2020 (Info 969).

• RESPONSABILIDADE CIVIL

Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil
objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando
não demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880,
Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão Geral
– Tema 362) (Info 993).

É imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado em decorrência da fixação


de preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica em
cada caso concreto. STF. Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral -
Tema 826).

Nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública aplica-se o prazo prescricional quinquenal
previsto no Decreto nº 20.910/1932 (art. 1º), em detrimento do prazo trienal estabelecido no Código Civil de
2002 (art. 206, § 3º, V), por se tratar de norma especial que prevalece sobre a geral.

Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, relativo à
responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser
comissiva ou omissiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1869046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020
(Info 674).

A MP 966/2020, que dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos por ação e omissão em atos
relacionados com a pandemia da covid-19. O STF decidiu que a MP é, em princípio, constitucional, mas deverá
ser feita uma interpretação conforme à Constituição. Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a
medida cautelar para: 1) conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 2º da MP 966/2020, no sentido
de estabelecer que, na caracterização de erro grosseiro, deve-se levar em consideração a observância, pelas
autoridades: a) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações
e entidades internacional e nacionalmente conhecidas; bem como b) dos princípios constitucionais da precaução
e da prevenção; e 2) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art. 1º da MP 966/2020, para
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explicitar que, para os fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião
técnica trate expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como
estabelecidos por organizações e entidades reconhecidas nacional e internacionalmente; (ii) da observância dos
princípios constitucionais da precaução e da prevenção. Foram fixadas as seguintes teses: 1. Configura erro
grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente equilibrado ou
impactos adversos à economia, por inobservância: i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou ii) dos
princípios constitucionais da precaução e da prevenção. 2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que
as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente: i) das normas e critérios científicos e
técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente reconhecidas; e ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção,
sob pena de se tornarem corresponsáveis por eventuais violações a direitos. Vale ressaltar que a MP não trata
de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto impugnado que dê imunidade a agentes
públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída. STF. Plenário. ADI 6421 MC/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 20 e 21/5/2020 (Info 978).

Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de
fogos de artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando
for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do poder
público eventuais irregularidades praticadas pelo particular. STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/3/2020 (repercussão geral – Tema 366) (Info
969).

• ATOS ADMINISTRATIVOS

A decisão administrativa robótica deve ser suficientemente motivada, sendo a sua opacidade motivo
de invalidação.

• INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

Não constitui ofensa ao artigo 9º do Decreto-Lei n. 3.365/1941 o exame por parte do Poder Judiciário,
no curso do processo de desapropriação, da regularidade do processo administrativo de desapropriação e da
presença dos elementos de validade do ato de declaração de utilidade pública.
41

O ato declaratório da desapropriação, por utilidade ou necessidade pública, ou por interesse social,
deve ser motivado de maneira explícita, clara e congruente, não sendo suficiente a mera referência à hipótese
legal.

Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta? Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do
CC/2002). Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no
local. Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10
anos porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local.
Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta e
devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal. STJ. 1ª Seção. EREsp
1575846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658). O prazo prescricional aplicável à
desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído
natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art.
1.238 do CC. STJ. 1ª Seção. REsp 1757352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1109) (Info 671). Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação de
desapropriação indireta prescreve em vinte anos).

As restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o
conteúdo econômico, não configuram desapropriação indireta. A desapropriação indireta só ocorre quando
existe o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público. Logo, as restrições ao direito de propriedade
impostas por normas ambientais configuram limitações administrativas. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp
1443672/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 11/02/2020. O prazo prescricional para exercer a pretensão de
ser indenizado por limitações administrativas é de 5 anos, nos termos do art. 10 do Decreto-Lei 3.365/1941,
disposição de regência específica da matéria. STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1784226/RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 06/06/2019.

• LICITAÇÃO

A conduta de apresentação de documentos falsos ou adulterados por pessoa jurídica em processo


licitatório configura o ato lesivo previsto no art. 5º, IV, “d”, da Lei n. 12.846/2013, independentemente de essa
sagrar-se vencedora no certame ou ter a continuidade da sua participação obstada nesse.
42

A Lei n. 10.520/2002 define o bem ou serviço comum com base em critérios eminentemente
mercadológicos, de modo que a complexidade técnica ou a natureza intelectual do bem ou serviço não impedem
a aplicação do pregão se o mercado possui definições usualmente praticadas em relação ao objeto da licitação.

Na fase interna da licitação para concessões e parcerias público-privadas, o Poder Concedente deverá
indicar as razões que o levaram a alocar o risco no concessionário ou no Poder Concedente, tendo como diretriz
a melhor capacidade da parte para gerenciá-lo.

Cabe mandado de segurança para pleitear que seja obedecida a ordem cronológica para pagamentos
em relação a crédito já reconhecido e atestado pela Administração, de acordo com o art. 5º, caput, da Lei n.
8.666/1993.

A responsabilidade solidária das empresas consorciadas pelos atos praticados na licitação e na


execução do contrato, de que trata o inc. V do art. 33 da Lei n. 8.666/1993, refere-se à responsabilidade civil,
não se estendendo às penalidades administrativas.

As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de concessão
não violam os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da moralidade e da
competitividade. As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime de
concessão de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a fixação
de tarifas em valores razoáveis (modicidade). A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização
da agência reguladora. Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo
ainda a necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final. STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/2/2020 (Info 967).

• CONCURSO PÚBLICO

É inconstitucional lei estadual que afirma que “o servidor público estadual à disposição do Tribunal de
Contas em 30 de novembro de 1994 poderá requerer sua integração ao Quadro Especial de Pessoal do referido
Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da publicação desta lei.” Essa lei viola o princípio do
concurso público, previsto no art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 1251/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/8/2020 (Info 985).
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O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são cancelados
por indícios de fraude. STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral –
Tema 512) (Info 986 – clipping).

No edital de concurso público não é necessária a previsão exaustiva de subtemas pertencentes ao


tema principal de que poderão ser referidos nas questões do certame. STJ. Corte Esepcial. MS 24.453/DF, Rel.
Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020 Sobre o tema, assim já se posicionou o Ministro Luiz Fux:
"Havendo previsão de um determinado tema, cumpre ao candidato estudar e procurar conhecer, de forma
global, todos os elementos que possam eventualmente ser exigidos nas provas, o que decerto envolverá o
conhecimento dos atos normativos e casos julgados paradigmáticos que sejam pertinentes, mas a isto não se
resumirá. Portanto, não é necessária a previsão exaustiva, no edital, das normas e dos casos julgados que
poderão ser referidos nas questões do certame." (MS 30860, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
28/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 05-11-2012 PUBLIC 06-11-2012)

Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de


seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE
960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo
prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1643048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é inaplicável a teoria do fato
consumado aos concursos públicos, não sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo
servidor que tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade. Contudo, em alguns
casos, o STJ afirma que há a solidificação de situações fáticas ocasionada em razão do excessivo decurso de
tempo entre a liminar concedida e os dias atuais, de maneira que, a reversão desse quadro implicaria
inexoravelmente em danos desnecessários e irreparáveis ao servidor. Em outras palavras, o STJ entende que
existem situações excepcionais nas quais a solução padronizada ocasionaria mais danos sociais do que a
manutenção da situação consolidada, impondo-se o distinguishing, e possibilitando a contagem do tempo de
serviço prestado por força de decisão liminar, em necessária flexibilização da regra. Caso concreto: determinado
indivíduo prestou concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal e foi aprovado nas provas teóricas, tendo
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sido, contudo, reprovado em um dos testes práticos. O candidato propôs mandado de segurança questionando
esse teste. O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse, o que ocorreu em 1999. Em sentença,
o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. Anos mais tarde, o TRF, ao julgar a
apelação, entendeu que a exigência do teste prático realizado não continha nenhum vício. Em virtude disso,
reformou a sentença. O servidor, contudo, continuou cautelarmente no cargo até 2020, quando houve o trânsito
em julgado da decisão contrária ao seu pleito. O STJ assegurou a manutenção definitiva do impetrante no cargo.
STJ. 1ª Turma. AREsp 883574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666). STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 08/10/2019.

Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a ação
penal. STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral –
Tema 22) (Info 965).

• PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

O prazo processual, no âmbito do processo administrativo, deverá ser contado em dias corridos
mesmo com a vigência dos arts. 15 e 219 do CPC, salvo se existir norma específica estabelecendo essa forma de
contagem.

A participação de membro da comissão processante em mais de um processo administrativo disciplinar


envolvendo o mesmo investigado não macula a imparcialidade quando a apuração tratar de fatos distintos. STJ.
1ª Seção. MS 22.019/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ acórdão Min. Og Fernandes, julgado em
27/05/2020.

Não há inconstitucionalidade na previsão da penalidade de cassação de aposentadoria de servidores


públicos, disposta nos arts. 127, IV, e 134 da Lei nº 8.112/90. A aplicação da penalidade de cassação de
aposentadoria ou disponibilidade é compatível com o caráter contributivo e solidário do regime próprio de
previdência dos servidores públicos. A perda do cargo público foi prevista no texto constitucional como uma
sanção que integra o poder disciplinar da Administração. É medida extrema aplicável ao servidor que apresentar
conduta contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que fundamentam a atuação da Administração
Pública. A impossibilidade de aplicação de sanção administrativa a servidor aposentado, a quem a penalidade
de cassação de aposentadoria se mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria em
tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo
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do princípio isonômico e da moralidade administrativa, e representaria indevida restrição ao poder disciplinar


da Administração em relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade,
favorecendo a impunidade. STF. Plenário. ADPF 418, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020.

O art. 149 da Lei nº 8.112/90 determina que a comissão condutora do processo administrativo
disciplinar seja composta por servidores estáveis e se exige que, no momento da designação, estes já tenham
atingido a estabilidade no desempenho do cargo que exercem e que os legitima participar da comissão. Não
haverá, contudo, nulidade do PAD se, no caso concreto, a Administração Pública, ao perceber o vício formal,
substituiu o servidor em estágio probatório por outro estável, sem aproveitar qualquer ato decisório do servidor
substituído. Isso porque, nesta hipótese, não terá havido qualquer prejuízo concreto à defesa. STF. 2ª Turma.
RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando


reconhecida: a) a inexistência material do fato; ou b) a negativa de sua autoria. Assim, se a absolvição ocorreu
por ausência de provas, a administração pública não está vinculada à decisão proferida na esfera penal. STF. 2ª
Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Súmula 641-STJ: A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar prescinde da


exposição detalhada dos fatos a serem apurados. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

• SERVIDORES PÚBLICOS

No julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis


que criam cargos em comissão, ao fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e
assessoramento, o Tribunal deve analisar as atribuições previstas para os cargos. Na fundamentação do
julgamento, o Tribunal não está obrigado a se pronunciar sobre a constitucionalidade de cada cargo criado,
individualmente. STF. Plenário. RE 719870/MG, rel. orig. Min. Marco, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 670) (Info 994).

Até a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, o direito à conversão, em tempo comum, do


prestado sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física de servidor público decorre
da previsão de adoção de requisitos e critérios diferenciados para a jubilação daquele enquadrado na hipótese
prevista no então vigente inciso III do § 4º do art. 40 da Constituição da República, devendo ser aplicadas as
normas do regime geral de previdência social relativas à aposentadoria especial contidas na Lei nº 8.213/91 para
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viabilizar sua concretização enquanto não sobrevier lei complementar disciplinadora da matéria. Após a vigência
da EC nº 103/2019, o direito à conversão em tempo comum, do prestado sob condições especiais pelos
servidores obedecerá à legislação complementar dos entes federados, nos termos da competência conferida
pelo art. 40, § 4º-C, da Constituição da República. STF. Plenário.RE 1014286, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão
Edson Fachin, julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 942) (Info 992 – clipping).

A Constituição Federal não prevê adicional noturno aos Militares Estaduais ou Distritais. Mandado de
Injunção será cabível para que se apliquem, aos militares estaduais, as normas que regulamentam o adicional
noturno dos servidores públicos civis, desde que o direito a tal parcela remuneratória esteja expressamente
previsto na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do Distrito Federal. STF. Plenário. RE 970823, Rel. Marco
Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 1038).

As hipóteses de remoção de servidor público a pedido, independentemente do interesse da


Administração, fixadas no art. 36, parágrafo único, III, da Lei n. 8.112/1990 são taxativas. Por esse motivo, a
autoridade que indefere a remoção, quando não presentes os requisitos da lei, não pratica ato ilegal ou abusivo.

O art. 9º, II, c/c art. 10 da Lei 8.112 estabelece a nomeação de servidor em comissão para cargos de
confiança vagos. A existência de processo seletivo por competências para escolha de servidor para cargos de
confiança vagos não equipara as regras deste processo seletivo às de concurso público, e nem o regime jurídico
de servidor em comissão ao de servidor em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de provimento
efetivo ou de carreira.

A estabilidade do servidor titular de cargo público efetivo depende da reunião de dois requisitos
cumulativos: (i) o efetivo desempenho das atribuições do cargo pelo período de 3 (três) anos; e (ii) a confirmação
do servidor no serviço mediante aprovação pela comissão de avaliação responsável (art. 41, caput e § 4º, da CF
c/c arts. 20 a 22 da Lei n. 8.112/1990). Assim, não há estabilização automática em virtude do tempo, sendo o
resultado positivo em avaliação especial de desempenho uma condição indispensável para a aquisição da
estabilidade.

Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional


19/1998, o teto constitucional previsto no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal incide sobre o somatório
de remuneração ou provento e pensão percebida por servidor. STF. Plenário. RE 602584/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 6/8/2020 (Repercussão Geral – Tema 359) (Info 985). Cuidado para não confundir com esse
outro entendimento: Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto
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Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do art.
37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a
observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público. STF. Plenário. RE
612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e 27/4/2017 (Repercussão Geral – Temas
337 e 384) (Info 862).

É constitucional o art. 40, § 18, da CF/88, incluído pela EC 41/2003: Art. 40 (...) § 18. Incidirá
contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo
que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata
o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. Também é
constitucional o art. 9º da EC 41/2003: Art. 9º Aplica-se o disposto no art. 17 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias aos vencimentos, remunerações e subsídios dos ocupantes de cargos, funções e
empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória percebidos cumulativamente ou não,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza. STF. Plenário. ADI 3133/DF, ADI 3143/DF e ADI
3184/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2020 (Info 983).

Os servidores efetivados pelo Estado de Minas Gerais submetidos ao regime estatutário, por meio de
dispositivo da LCE nº 100/2007, declarado posteriormente inconstitucional pelo STF na ADI 4.876/DF, têm
direito aos depósitos no FGTS referentes ao período irregular de serviço prestado. STJ. 1ª Seção. REsp 1806086-
MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1020) (Info 676).

Servidor público municipal (geralmente, de pequenas cidades do interior do Brasil) apresenta


requerimento de aposentadoria. O Município não dispõe de regime próprio de previdência social. Logo a
aposentadoria é solicitada perante o INSS. O Estatuto dos Servidores do Município prevê que a aposentadoria
constitui hipótese de vacância do cargo público. Afastado do cargo, o servidor ajuíza ação buscando voltar aos
quadros do Município, acumulando os vencimentos do cargo público com os proventos do RGPS. Esse pedido
deve ser acolhido? NÃO. A legislação dispõe que a aposentadoria é causa de vacância do cargo público, o que
determina o afastamento do servidor dos quadros da Administração. O acesso a cargos públicos rege-se pela
Constituição Federal e pela legislação de cada unidade federativa. Se o legislador estabeleceu que a
aposentadoria é causa de vacância, o servidor não pode, sem prestar novo concurso público, ser reintegrado ao
mesmo cargo depois de se aposentar. Além disso, a acumulação de proventos e vencimentos somente é
permitida quando se tratar de cargos, funções ou empregos acumuláveis na atividade, na forma permitida pela
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Constituição. STF. 1ª Turma. ARE 1234192 AgR/PR e ARE 1250903 AgR/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 16/6/2020 (Info 982).

Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do
terço constitucional, salvo: I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou II) comprovado
desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas
renovações e/ou prorrogações. STF. Plenário. RE 1066677, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de
Moraes, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 551) (Info 984 – clipping).

A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada
pelo art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 977).

A regra que estabelece a necessidade de residência do servidor no município em que exerce suas
funções é compatível com a Constituição de 1988, a qual já prevê obrigação semelhante para magistrados, nos
termos do seu art. 93, VII. Por outro lado, viola a Constituição a lei estadual que proíba a saída do servidor do
Município sede da unidade em que atua sem autorização do superior hierárquico. Essa previsão configura grave
violação da liberdade fundamental de locomoção (art. 5º, XV, da CF/88) e do devido processo legal (art. 5º, LIV).
STF. Plenário. ADPF 90, Rel. Luiz Fux, julgado em 03/04/2020 (Info 977).

Escrevente notarial do Estado de São Paulo que se aposentou segundo as regras da Lei estadual nº
10.393/70 pode ser atingido pelas regras da Lei estadual 14.016/2010, que alterou a forma de reajuste das
aposentadorias e aumentou as alíquotas da contribuição previdenciária. A Lei estadual nº 14.016/2010 previu
novos critérios para os reajustes futuros da aposentadoria e, conforme jurisprudência do STF, não existe direito
adquirido à manutenção de regime jurídico anterior. A Lei estadual 10.393/70 indexava a aposentadoria ao valor
do salário-mínimo, o que é expressamente vedado pelo art. 7º, IV, da Constituição Federal. Nesse sentido
também é a Súmula Vinculante 4. A alíquota da contribuição previdenciária também é perfeitamente possível
considerando que não existe direito adquirido a regime jurídico e, a contribuição previdenciária possui natureza
jurídica tributária, não havendo norma jurídica válida que confira o direito ao não recolhimento de tributo. Vale
ressaltar que, na ADI 4420, o STF garantiu a situação jurídica de quem já tinha se aposentado ou preenchido os
requisitos para a obtenção do benefício. Não houve, contudo, a intenção de se assegurar o direito à manutenção
da indexação de benefício de aposentadoria ao salário mínimo ou impedir a majoração das alíquotas da
contribuição previdenciária. Esses assuntos não foram discutidos na ADI 4420. STF. 1ª Turma. Rcl 37892 AgR/SP,
rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2020 (Info 969).
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Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão
sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. STF. Plenário. RE 636553/RS,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967).

• IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Configura ato de improbidade administrativa a conduta do agente público que, em atuação legislativa
lato sensu, recebe vantagem econômica indevida.

Os benefícios de colaboração premiada previstos na nº Lei 9.807/99 - que instituiu o Programa Federal
de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas -, bem como na antiga Lei Antitruste (Lei nº 8.884/94),
não são aplicáveis para os casos em que não se discute a prática de crimes contra a ordem econômica, nem
estão demonstradas as hipóteses de proteção previstas na Lei nº 9.807/99. STJ. 2ª Turma. REsp 1464287-DF,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/03/2020 (Info 674). Observação: os fatos julgados pelo STJ
ocorreram antes da Lei nº 12.850/2013 e da Lei nº 13.964/2019. O § 1º do art. 17 da Lei nº 8.492/92 proibia a
realização de transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade administrativa. A Lei nº 13.964/2019
alterou esse dispositivo para admitir a celebração de acordo de não persecução cível. Veja a redação atual: Art.
17. (...) § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não persecução cível, nos
termos desta Lei.

• PODERES ADMINISTRATIVOS

Existem dois tipos de instituições que podem emitir cartões de crédito: 1) instituições financeiras, que
emitem e administram cartões próprios ou de terceiros e concedem financiamento direto aos portadores; 2)
operadoras de cartão de crédito em sentido estrito, que são empresas não financeiras que emitem e
administram cartões próprios ou de terceiros, que não financiam os seus clientes. As instituições financeiras que
emitem e administram cartões próprios ou de terceiros (primeiro tipo acima) já eram fiscalizadas pelo Bacen,
nos termos do art. 10, IX, da Lei nº 4.595/64. Por outro lado, as operadoras de cartão de crédito em sentido
estrito só passaram a ser reguladas e fiscalizadas pelo CMN e pelo Bacen após a edição da MP 615/2013. Antes
da edição da MP 615/2013, não havia dispositivo legal que obrigasse o CMN a regular e o Bacen a fiscalizar as
atividades das operadoras de cartão de crédito em sentido estrito. Isso porque a intermediação que essas fazem
não tem natureza financeira para os fins do art. 17 da Lei nº 4.595/64. Atualmente, existe previsão legal de
normatização e fiscalização das operadoras em sentido estrito por parte do CMN e do Bacen, quadro que se
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formou com a edição da MP 615/2013. STJ. 2ª Turma. REsp 1359624-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 10/03/2020 (Info 674).

Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada,
calçadas integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população. No Estado
Social de Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança e com conforto, qualifica-se como direito de todos,
com atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, crianças e pessoas com
deficiência. Vale ressaltar que as calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum do povo
(art. 99, I, do Código Civil). A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se estritamente
conforme a legislação e após regular procedimento administrativo. Se o apossamento do espaço urbano público
ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de improbidade e infração disciplinar,
fazer a imediata demolição de eventuais construções irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1846075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).

• CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

O atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração Pública autoriza o
contratado a suspender o cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a situação, mesmo sem
provimento jurisdicional.

Em contratos administrativos decorrentes de licitações regidas pela Lei n. 8.666/1993, é facultado à


Administração Pública propor aditivo para alterar a cláusula de resolução de conflitos entre as partes, incluindo
métodos alternativos ao Poder Judiciário como Mediação, Arbitragem e Dispute Board.

Os contratos celebrados pelas empresas estatais, regidos pela Lei n. 13.303/2016, não possuem
aplicação subsidiária da Lei n. 8.666/1993. Em casos de lacuna contratual, aplicam-se as disposições daquela Lei
e as regras e os princípios de direito privado.

A ausência de previsão editalícia não afasta a possibilidade de celebração de compromisso arbitral em


conflitos oriundos de contratos administrativos.

As controvérsias acerca de equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos integram a


categoria das relativas a direitos patrimoniais disponíveis, para cuja solução se admitem meios extrajudiciais
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adequados de prevenção e resolução de controvérsias, notadamente a conciliação, a mediação, o comitê de


resolução de disputas (Dispute Board) e a arbitragem.

A Administração Pública pode promover comunicações formais com potenciais interessados durante
a fase de planejamento das contratações públicas para a obtenção de informações técnicas e comerciais
relevantes à definição do objeto e elaboração do projeto básico ou termo de referência, sendo que este diálogo
público-privado deve ser registrado no processo administrativo e não impede o particular colaborador de
participar em eventual licitação pública, ou mesmo de celebrar o respectivo contrato, tampouco lhe confere a
autoria do projeto básico ou termo de referência.

É possível a contratação de seguro de responsabilidade civil aos administradores de empresas estatais,


na forma do artigo 17, §1º, da Lei Federal n. 13.303/2016, a qual não abrangerá a prática de atos fraudulentos
de favorecimento pessoal ou práticas dolosas lesivas à companhia e ao mercado de capitais.

Nos contratos de concessão e PPP, o reajuste contratual para reposição do valor da moeda no tempo
é automático e deve ser aplicado independentemente de alegações do Poder Público sobre descumprimentos
contratuais ou desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, os quais devem ser apurados em processos
administrativos próprios para este fim, nos quais serão garantidos ao parceiro privado os direitos ao
contraditório e à ampla defesa.

• SERVIÇOS PÚBLICOS

Salvo situações excepcionais, devidamente comprovadas, o implemento de transporte público coletivo


pressupõe prévia licitação. STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em 15/05/2020 (Repercussão
Geral – Tema 854) (Info 982 – clipping).

• DIVERSOS

A composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das Unidades de Suporte
Básico de Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU sem a presença de
enfermeiro não ofende, mas sim concretiza, o que dispõem os artigos 11, 12, 13 e 15 da Lei n.º 7.498/86, que
regulamenta o exercício da enfermagem. STJ. 1ª Seção. REsp 1828993-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1024) (Info 677).
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A autorização para apresentação de projetos, levantamentos, investigações ou estudos no âmbito do


Procedimento de Manifestação de Interesse, quando concedida mediante restrição ao número de participantes,
deve dar-se por meio de seleção imparcial dos interessados, com ampla publicidade e critérios objetivos.

A indicação e a aceitação de árbitros pela Administração Pública não dependem de seleção pública
formal, como concurso ou licitação, mas devem ser objeto de fundamentação prévia e por escrito, considerando
os elementos relevantes.

É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas. STF.


Plenário. RE 636886/AL, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 899)
(Info 983 – clipping).

O cadastro e o peticionamento no Sistema Eletrônico de Informações denotam a ciência de que o


processo administrativo tramitará de forma eletrônica. Caso concreto: determinada interessada estava
participando de processo administrativo no âmbito da administração pública federal; o processo “físico” foi
migrado para “eletrônico”; a interessada fez cadastro neste sistema eletrônico, aceitou as condições e chegou
a peticionar eletronicamente; ela foi, então, intimada eletronicamente para apresentar documentos e não o fez;
diante disso, perdeu o direito de contratar com o Poder Público; em seguida, alegou, em mandado de segurança,
que não foi oficialmente informada de que a comunicação dos atos administrativos do seu processo seria
realizada exclusivamente por meio eletrônico; o STJ não aceitou a argumentação. STJ. 1ª Seção. MS 24567-DF,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da


autuação e da aplicação da pena decorrente da infração. Tais notificações, se feitas por remessa postal, não
precisam ser acompanhadas de aviso de recebimento (AR). Não há essa exigência no Código de Trânsito
Brasileiro nem nas Resoluções do CONTRAN. STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
11/03/2020 (Info 668).

A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a viúva de militar que passa a conviver
em união estável, após a óbito do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já constituída
instituição familiar equiparável ao casamento. STJ. 1ª Turma. REsp 1386713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 10/03/2020 (Info 668).

3- PENAL
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• PRINCÍPIOS

O princípio da legalidade impõe que se observe, quando da soma das penas, o cálculo diferenciado
para fins de progressão de regime.

Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários
estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo
ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 549.428-
PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

É possível utilizar o parâmetro mínimo de 20 mil reais (criado para a execução fiscal) como critério para
aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários? NÃO. Não é possível a aplicação do princípio da
insignificância aos crimes tributários de acordo com o montante definido em parâmetro estabelecido para a
propositura judicial de execução fiscal. STF. 1ª Turma. HC-AgR 144.193-SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 15/04/2020. SIM. É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários e de
descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a
teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130,
ambas do Ministério da Fazenda. STF. 2ª Turma. HC-AgR 160.239-SP, Rel. Min. Gilmar Mendes; Julg. 22/05/2020.
STF. 2ª Turma. HC-AgR 174.329-SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski; Julg. 05/11/2019; DJE 18/11/2019. STJ. 3ª
Seção. HC 535.063-SP. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; Julg. 10/06/2020; DJE 25/08/2020

É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 29,15,


mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o agente seja
reincidente. Vale ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo
após o agente foi preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa
de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª
Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho
de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes criminais por crimes
patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966). Em outro precedente mais recente: É possível a aplicação do princípio
da insignificância em face de réu reincidente e realizado no período noturno. Na espécie, trata-se de furto de
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R$ 4,15 em moedas, uma garrafa pequena de refrigerante, duas garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro
de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/04/2020 (Info 973)

A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o


reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a
ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª
Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

• DOSIMETRIA DA PENA

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção da
pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? Após o período depurador, ainda será possível
considerar a condenação como maus antecedentes? SIM. As condenações atingidas pelo período depurador
quinquenal do art. 64, inciso I, do CP, embora afastem os efeitos da reincidência, não impedem a configuração
de maus antecedentes, na primeira etapa da dosimetria da pena. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 558.745/SP, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/09/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 471.346/MS, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/05/2019. Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o
prazo quinquenal de prescrição da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal. STF. Plenário. RE
593818/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/8/2020 (Repercussão Geral - Tema 150).

Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o


cometimento de novo crime depois de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas
não se exige, contudo, forma específica para a comprovação. Desse modo, é possível que a reincidência do réu
seja demonstrada com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos tribunais. STJ. 5ª Turma.
AgRg no HC 448972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/08/2018. STF. 1ª Turma. HC
162548 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/6/2020 (Info 982).

O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da
Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens, prestação
social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável em retribuição e em
prevenção à prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal. Diante da eficácia erga omnes
e do vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral
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da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1850903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

Demonstrada mera falta de técnica na sentença, o habeas corpus pode ser deferido para nominar de
forma correta os registros pretéritos da paciente, doravante chamados de maus antecedentes, e não de conduta
social, sem afastar, todavia, o dado desabonador que, concretamente, existe nos autos e justifica diferenciada
individualização da pena. O juiz mencionou cinco condenações definitivas do réu como justificativa para o
aumento da pena na primeira fase da dosimetria. O magistrado deveria ter denominado os registros como
“maus antecedentes”, mas, em vez disso, os enquadrou como “conduta social” negativa. O erro do
pronunciamento está relacionado somente à atecnia na nomeação da circunstância legal. Assim, em habeas
corpus, deve ser corrigida a palavra imprópria, para que o dado concreto levado em conta pelo juiz seja chamado
de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC 501144/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/03/2020
(Info 669).

As hipóteses de reincidência específica ou multirreincidência podem justificar a exasperação da pena,


na segunda fase da dosimetria, acima do patamar de 1/6, para a agravante de reincidência. STJ. 6ª Turma. AgRg
no HC 548.769/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro Aurélio, em 10/03/2020. STJ. 5ª Turma. HC 462.137/SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 02/04/2019.

• EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Para fins de aplicação do art. 91-A do Código Penal, cabe ao Ministério Público, e não à Defesa, a
comprovação de incompatibilidade entre o patrimônio e os rendimentos lícitos do réu.

• PRESCRIÇÃO

Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando
a pena anteriormente imposta. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da
pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal, que deve ser interpretado de
forma sistemática, todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não
está inerte. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão
condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa
para tratamentos díspares. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1668298-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
56

12/05/2020 (Info 672). STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.
STF. 1ª Turma. RE 1195122 AgR-segundo, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 30/11/2020.

Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando
a pena anteriormente imposta. STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/04/2020. STF. 1ª Turma. RE 1195122 AgR-segundo, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 30/11/2020.

De acordo com o parágrafo único do art. 116 do Código Penal, “depois de passada em julgado a
sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro
motivo”. Ao interpretar o referido dispositivo legal, o STJ pacificou o entendimento de que o cumprimento de
pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da
prescrição executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, o que impede o
reconhecimento da extinção de sua punibilidade. O fato de o prazo prescricional não correr durante o tempo
em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das penas. STJ. 5ª Turma. AgRg no
RHC 123523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).

• CRIMES CONTRA A PESSOA

Não há incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio cruel, na medida em que
o dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o emprego de meio
mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2º,
III, do CP). Caso concreto: réu atropelou o pedestre e não parou o veículo, arrastando a vítima por 500 metros,
assumindo, portanto, o risco de produzir o resultado morte; mesmo tendo havido dolo eventual, deve-se
reconhecer também a qualificadora do meio cruel prevista no art. 121, § 2º, III, do CP. STJ. 5ª Turma. AgRg no
REsp 1573829/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019. STJ. 6ª Turma. REsp 1829601-
PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/02/2020 (Info 665).

• CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a
conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a
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defesa do patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada
criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que
tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do
crime. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020. STJ. 6ª Turma.
AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020.

A escusa absolutória do art. 181, inc. II, do Código Penal abrange também a paternidade e filiação
socioafetivas.

A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019, retroage para
alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será
necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo? 1ª corrente: NÃO. A
retroatividade da representação prevista no § 5º do art. 171 do CP deve se restringir à fase policial. A exigência
de representação no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta os processos que já estavam
em curso quando entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019. Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou
em vigor a nova Lei, não será necessária representação do ofendido. STJ. 5ª Turma. HC 573093-SC, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2020 (Info 674). 2ª corrente: SIM. A retroatividade da
representação prevista § 5º do art. 171 alcança todos os processos em curso. A exigência de representação no
crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, afeta não apenas os inquéritos, mas também os processos
em curso, desde que ainda não tenham transitado em julgado. Assim, mesmo que já houvesse denúncia
oferecida quando a Lei entrou em vigor, o juiz deverá intimar a vítima para manifestar interesse na continuidade
da persecução penal, no prazo de 30 dias, sob pena de decadência. STJ. 6ª Turma. HC 583837/SC, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 04/08/2020.

Qual é a ação penal no caso do crime de estelionato? O tema deve ser analisado antes e depois do
Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019): • ANTES: ação penal pública incondicionada. • DEPOIS: em regra, é crime
de ação penal pública condicionada à representação. Exceções: Será de ação penal incondicionada quando a
vítima for: a) a Administração Pública, direta ou indireta; b) criança ou adolescente; c) pessoa com deficiência
mental; ou d) maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Vale ressaltar que a exigência de representação
no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta os processos que já estavam em curso quando
entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019. Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou em vigor a nova Lei,
não será necessária representação do ofendido. STJ. 5ª Turma. HC 573.093/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 09/06/2020.
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João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber pagamentos em dinheiro e levá-los
para depósito no banco. João combinou com Pedro um plano criminoso. No dia do pagamento, Pedro entraria
na empresa e, supostamente ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele entregaria o dinheiro. Depois, os
dois dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo que havia entrado uma grande
soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu que João e Ricardo (outro
funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem o dinheiro, o que foi feito. Posteriormente, a
polícia conseguiu prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro praticaram roubo
majorado, e não estelionato. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info
980).

Caso concreto: o réu foi denunciado pelo MPF pela prática de estelionato qualificado, porque, na
qualidade médico de hospital universitário federal, teria registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir
sua carga horária durante quase dois anos. A jurisprudência do STJ não tem admitido, nos casos de prática de
estelionato “qualificado”, a incidência do princípio da insignificância (princípio inspirado na fragmentariedade
do Direito Penal). Isso porque se identifica, neste caso, uma maior reprovabilidade da conduta delitiva. No caso
concreto, o STJ afirmou que não era possível o trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência
de prejuízo expressivo para a vítima, considerando que, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos
aos médicos são provenientes de verbas federais. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 548869-RS, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24/04/2018. Antes dessa Lei, o emprego de arma branca
era considerado causa e aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou de prever a arma branca como
majorante. Suponhamos que, no dia 25/04/2018, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela
o telefone celular. O juiz, ao condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da dosimetria da pena, utilizar a “arma
branca” como causa de aumento de pena. Diante disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato
(emprego de arma branca) como uma circunstância judicial negativa, aumentando a pena-base na 1ª fase da
dosimetria da pena. Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está proibido de utilizar essa
circunstância (emprego de arma branca) como causa de aumento de pena, mas nada impede que considere isso
como circunstância judicial negativa, na fase do art. 59 do CP. STJ. 5ª Turma. HC 556629-RJ, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668).

• CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


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Não há nenhuma nulidade quando o Juiz refuta o exame pericial não esclarecedor nos crimes de
estupro de vulnerável sem conjunção carnal, para, acolhendo as demais provas, principalmente o depoimento
da vítima e das testemunhas, concluir pela condenação do réu, porque no sistema jurídico penal brasileiro vigora
o princípio do “livre convencimento motivado” do julgador. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 127.089/MG,
Rel. Ministro Nefi Cordeiro, julgado em 24/11/2020.

O art. 225 do CP, na época da Lei 12.015/2009, tinha a seguinte redação: Art. 225. Nos crimes definidos
nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. Segundo tese defensiva, o estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do
CP somente é de ação penal pública incondicionada quando a vulnerabilidade for permanente (ex: doente
mental). Se a vulnerabilidade for temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria condicionada à
representação. Assim, quando o art. 225, parágrafo único do CP (com redação dada pela Lei nº 12.015/2009)
fala em “pessoa vulnerável”, ele está se referindo à pessoa que é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não
à pessoa que está vulnerável (vulnerabilidade temporária). Essa tese defensiva acima exposta é acolhida pelo
STJ? 5ª Turma do STJ: NÃO Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal é pública incondicionada, nos
moldes do parágrafo único do art. 225 do CP. Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a vulnerabilidade
temporária ou permanente, haja vista que a condição de vulnerável é aferível no momento do cometimento do
crime, ocasião em que há a prática dos atos executórios com vistas à consumação do delito. Em outras palavras,
seja a vulnerabilidade permanente ou temporária, no caso de estupro de vulnerável a ação penal é sempre
incondicionada. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1103678/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/02/2019.
6ª Turma do STJ: SIM A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único do art. 225 do CP é somente aquela
que possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos. Se a pessoa é
incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não pode ser
considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225, de forma que a ação penal permanece sendo
condicionada à representação da vítima. No crime sexual cometido durante vulnerabilidade temporária da
vítima, sob a égide do art. 225 do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009, a ação penal pública
é condicionada à representação. STJ. 6ª Turma. REsp 1814770-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado
em 05/05/2020 (Info 675). ATENÇÃO: A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018.
Atualmente não interessa mais, salvo para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a
redação do art. 225 do CP e passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública
incondicionada (sempre). Não há exceções!

• CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA


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A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem se protrair no tempo. A
despeito dos efeitos que possam, ou não, gerar, a falsidade ideológica se consuma no momento em que é
praticada a conduta. Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão
punitiva é o momento da consumação do delito (e não o da eventual reiteração de seus efeitos). Caso concreto:
em 2010, foi incluído um sócio “laranja” no contrato social da empresa. Ele não iria ser sócio realmente, sendo
isso uma falsidade ideológica. Logo, considera-se que aí foi praticado o crime. Não se pode afirmar que esse
crime (essa conduta) teria sido reiterado quando, por ocasião da alteração contratual ocorrida em 2019, deixou-
se de regularizar o nome do sócio verdadeiramente titular da empresa, mantendo-se o nome do “laranja”. Isso
porque não há como se entender que constitui novo crime a omissão em corrigir informação falsa por ele
inserida em documento público, quando teve oportunidade para tanto. Logo, o termo inicial da contagem da
prescrição foi 2010. STJ. 3ª Seção. RvCr 5233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/05/2020
(Info 672).

• CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela
Constituição de 1988. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona
a conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção pela Constituição de
1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. De acordo com a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito
absoluto e, em casos de grave abuso, é legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros interesses
e direitos relevantes. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e
particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas não
somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas. A
criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas proteção da função
pública por ele exercida. Vale ressaltar, no entanto, que, considerando que os agentes públicos em geral estão
mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à reprovação e à insatisfação,
limitando-se o crime de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à função pública. STF. Plenário.
ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992 – clipping).

Uma determinada empresa havia prestado serviços para a Petrobrás e não tinha recebido todo o valor
que entendia devido. Essa empresa entrou em contato com determinado Deputado Federal para que ele
resolvesse a situação. Este Deputado comprometeu-se a falar com o diretor de abastecimento da Petrobrás,
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mas exigiu o pagamento de vantagem indevida. O Deputado conseguiu que a Petrobrás pagasse, por meio de
um acordo extrajudicial, R$ 69 milhões para a empresa e, em troca, recebeu R$ 3 milhões de propina. O STF
entendeu que esta conduta se enquadra no crime de corrupção passiva (art. 317 do CP). STF. 2ª Turma. AP
1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).

Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial
de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido no juízo cível. O indivíduo,
depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa conduta configura ato
atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa processual (art. 77, §
2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo de responsabilização
na esfera penal. STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).

Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos de empresas estatais, utilizando
esse dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio. As empresas estatais
gozam de autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o Governador tem a posse
do dinheiro neste caso? É possível. Isso porque a posse necessária para configuração do crime de peculato deve
ser compreendida não só como a disponibilidade direta, mas também como disponibilidade jurídica, exercida
por meio de ordens. STJ. 5ª Turma. REsp 1776680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

• CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O crime de gestão temerária de instituição financeira exige a demonstração da violação das regras e
parâmetros objetivos de gerenciamento de riscos e limites operacionais na administração, intermediação e
aplicação de recursos de terceiros, instituídos pelas autoridades de regulação do sistema financeiro nacional.

Se a denúncia imputa a oferta pública de contrato de investimento coletivo (sem prévio registro), não
há dúvida de que incide as disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro),
especialmente porque essa espécie de contrato caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76. Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com essa conduta. Compete à Justiça
Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de investimento coletivo em criptomoedas. STJ.
6ª Turma. HC 530563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

• CRIMES CONTRA A HONRA


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Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa
do orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. A edição de
um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de
uma pessoa, configura dolo da prática criminosa. Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que praticada
por Deputado Federal, não estará protegida pela imunidade parlamentar. Caso concreto: durante a reunião de
uma CPI, o então Deputado Federal Jean Wyllys proferiu a seguinte frase: “tem um imaginário impregnado,
sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa.
É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que está impregnado na
gente”. O Deputado Federal Eder Mauro publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no qual o discurso de
Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e ouve-se apenas: “Uma
pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média”.
Para o STF, essa conduta configurou o crime de difamação agravada. STF. 1ª Turma. AP 1021/DF, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 18/8/2020 (Info 987).

Exemplo: Rita e Adriana trabalhavam em um órgão público. Rita ligou para o ramal telefônico de
Adriana para falar sobre um requerimento de abono de faltas que ela havia solicitado. Adriana avisou, então,
que Reginaldo (chefe do setor) havia indeferido o pedido. Ao saber de tal fato, Rita passou a proferir ofensas
contra ele, afirmando para Adriana: “este macaco, preto sem vergonha está indeferindo a minha falta”. Vale
ressaltar, contudo, que, momentos antes, Reginaldo, que estava no mesmo setor que Adriana, havia retirado o
telefone do gancho para fazer uma ligação e acabou por ouvir as palavras injuriosas proferidas por Rita. O
Ministério Público ofereceu denúncia contra Rita pela prática do crime de injúria racial (art. 140, § 3º do CP):
Art. 140 (...) § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. Para o
STJ, não houve crime. Isso porque o delito de injúria se consuma quando a ofensa chega ao conhecimento da
vítima, sendo necessário dolo específico de ofender a honra subjetiva da vítima. A acusada não tinha como saber
que a vítima estava ouvindo o teor da conversa pela extensão telefônica. Como a injúria se consuma com a
ofensa à honra subjetiva de alguém, não há que se falar em dolo específico no caso em que a vítima não era seu
interlocutor na conversa telefônica e, acidentalmente, tomou conhecimento do teor da conversa. O tipo penal
em questão exige que a ofensa seja dirigida ao ofendido com a intenção de menosprezá-lo, ofendendo-lhe a
honra subjetiva. STJ. 6ª Turma. REsp 1765673-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/05/2020 (Info
672).

• CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


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Excepcionalmente, a jurisprudência admite a mitigação da SV 24-STF em duas situações: • nos casos


de embaraço à fiscalização tributária; ou • diante de indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal:
Os crimes contra a ordem tributária pressupõem a prévia constituição definitiva do crédito na via administrativa
para fins de tipificação da conduta. A jurisprudência desta Corte deu origem à Súmula Vinculante 24 (...) Não
obstante a jurisprudência pacífica quanto ao termo inicial dos crimes contra a ordem tributária, o Supremo
Tribunal Federal tem decidido que a regra contida na Súmula Vinculante 24 pode ser mitigada de acordo com
as peculiaridades do caso concreto, sendo possível dar início à persecução penal antes de encerrado o
procedimento administrativo, nos casos de embaraço à fiscalização tributária ou diante de indícios da prática
de outros delitos, de natureza não fiscal. STF. 1ª Turma. ARE 936653 AgR, Rel. Min Roberto Barroso, julgado em
24/05/2016. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que se admite a mitigação da Súmula
Vinculante n. 24/STF nos casos em que houver embaraço à fiscalização tributária ou diante de indícios da prática
de outras infrações de natureza não tributária. Precedentes. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 551422/PI, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 09/06/2020.

O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº
8.137/90) deverá ser aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano à coletividade”. A jurisprudência
entende que se configura a referida causa de aumento quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos
uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor sonegado foi alto, incide a causa de aumento do art. 12, I.
Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa: Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90
(grave dano à coletividade), o dano tributário deve ser valorado considerando seu valor atual e integral,
incluindo os acréscimos legais de juros e multa. A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional, prevê que os contribuintes que estão devendo acima de R$ 1 milhão são considerados “grandes
devedores” e devem receber tratamento prioritário na atuação dos Procuradores. O STJ utiliza, então, essa
Portaria como parâmetro para analisar a incidência ou não da causa de aumento do art. 12, I: A majorante do
grave dano à coletividade, trazida pelo art. 12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a situações especiais de
relevante dano. Desse modo, é possível, para os tributos federais, utilizar, analogamente, o critério previsto no
art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do qual se definiu administrativamente os créditos prioritários como
sendo aqueles de valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). E se a sonegação fiscal envolver
tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos? Em se tratando de tributos
estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido como prioritário ou de destacados
créditos (grandes devedores) para a fazenda local. Dito de outro modo, em caso de tributos estaduais ou
municipais, não se de deve utilizar a Portaria 320/PGFN, mas sim os eventuais atos normativos estaduais e
municipais que definam o que sejam “grandes devedores” para o Fisco local. STJ. 3ª Seção. REsp 1849120-SC,
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Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info 668). O STF comunga do mesmo entendimento e utiliza
como parâmetro esses atos infralegais que definem “grandes devedores”? Não. Existe julgado do STF no qual
foi afastado esse critério: “Quanto à Portaria 320/2008 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, anoto que
essa norma infralegal apenas dispõe sobre o Projeto Grandes Devedores no âmbito da PGFN, conceituando,
para os seus fins, os “grandes devedores”, com o objetivo de estabelecer, na Secretaria da Receita Federal do
Brasil, método de cobrança prioritário a esses sujeitos passivos de vultosas obrigações tributárias, sem limitar
ou definir, no entanto, o grave dano à coletividade, ao contrário do que afirma o impetrante.” (STF. 2ª Turma.
HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/10/2017. Info 882).

• LEI MARIA DA PENHA

A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no
âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito
de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou
amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente
que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1626825-GO, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

• ECA

Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena de sexo explícito e pornográfica
envolvendo crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para outra
pessoa, esse indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá consunção e ele responderá por apenas um dos
delitos? Em regra, não há automática consunção quando ocorrem armazenamento e compartilhamento de
material pornográfico infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de um dos crimes não perpassa,
necessariamente, pela prática do outro. No entanto, é possível a absorção a depender das peculiaridades de
cada caso, quando as duas condutas guardem, entre si, uma relação de meio e fim estreitamente vinculadas. O
princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de fatos. Se evidenciado pelo caderno
probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de subordinação com o outro, o réu
deverá responder por ambos, em concurso material. A distinção se dá em cada caso, de acordo com suas
especificidades. STJ. 6ª Turma. REsp 1579578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info
666).
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O grande interesse por material que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente é ínsito ao crime descrito no art. 241-A da Lei nº 8.069/90, não sendo justificável a
exasperação da pena-base a título de conduta social ou personalidade. Caso concreto: na 1ª fase da dosimetria
da pena (art. 59 do CP), o juiz aumentou a pena-base de 3 para 4 anos afirmando que a conduta social e a
personalidade do agente eram desfavoráveis: “Com base nos elementos constantes dos autos, percebo que a
conduta social e a personalidade do acusado demonstram certa periculosidade pelo grande interesse em
pornografia infantil. Fixo a pena-base privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de reclusão nesta fase.” STJ. 6ª
Turma. REsp 1579578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info 666).

• ESTATUTO DO DESARMAMENTO

A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização
não caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e
aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). Tal
entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº
10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito de
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade mais
intensa. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020
(Info 671).

• CRIMES AMBIENTAIS

É possível o concurso formal entre o crime do art. 2º da Lei n. 8.176/91 (que tutela o patrimônio da
União, proibindo a usurpação de suas matérias-primas), e o crime do art. 55 da Lei n. 9.605/98 (que protege o
meio ambiente, proibindo a extração de recursos minerais), não havendo conflito aparente de normas já que
protegem bens jurídicos distintos. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1856109/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti, julgado
em 16/06/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1678419/SE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 20/09/2018.

Os delitos previstos no: - art. 54, § 2º, I, II, III e IV e § 3º e - art. 56, § 1º, I e II, - cumulados com a causa
de aumento de pena do art. 58, I, da Lei nº 9.605/98, ... que se resumem na ação de causar poluição ambiental
que provoque danos à população e ao próprio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas na
legislação de proteção, e na omissão em adotar medidas de precaução nos casos de risco de dano grave ou
irreversível ao ecossistema, ... são crimes de natureza permanente, para fins de aferição da prescrição. Caso
concreto: a empresa ré armazenou inadequadamente causando grave poluição da área degradada, sendo que,
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até o momento de prolação do julgado, não havia tomado providências para reparar o dano, caracterizando a
continuidade da prática infracional. Desse modo, constata-se que o crime de poluição qualificada é permanente,
ainda que por omissão da ré, que foi prontamente notificada a reparar o dano causado, mas não o fez. STJ. 5ª
Turma. AgRg no REsp 1847097-PA, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

• LEI DE DROGAS

Para a aplicação do art. 40, inc. VI, da Lei n. 11.343/2006, é necessária a prova de que a criança ou
adolescente atua ou é utilizada, de qualquer forma, para a prática do crime, ou figura como vítima, não sendo a
mera presença da criança ou adolescente no contexto delitivo causa suficiente para a incidência da majorante.

Não fica caracterizado o crime do inc. IV do § 1º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, incluído pela Lei
Anticrime, quando o policial disfarçado provoca, induz, estimula ou incita alguém a vender ou a entregar drogas
ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à sua preparação (flagrante preparado), sob pena de
violação do art. 17 do Código Penal e da Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal.

O STF, interpretando os §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006, afirmou que o autor do crime


previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio magistrado
irá lavrar o termo circunstanciado e requisitar os exames e perícias necessários. Se não houver disponibilidade
do juízo competente, deve o autor ser encaminhado à autoridade policial, que então adotará essas providências
(termo circunstanciado e requisição). Não há qualquer inconstitucionalidade nessa previsão. Isso porque a
lavratura de termo circunstanciado e a requisição de exames e perícias não são atividades de investigação.
Considerando-se que o termo circunstanciado não é procedimento investigativo, mas sim uma mera peça
informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor do fato, deve-
se reconhecer que a possibilidade de sua lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende os §§ 1º e
4º do art. 144 da Constituição, nem interfere na imparcialidade do julgador. As normas dos §§ 2º e 3º do art. 48
da Lei nº 11.343/2006 foram editadas em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do ambiente policial,
quando possível, e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial. STF. Plenário. ADI 3807, Rel.
Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2020 (Info 986 – clipping).

A conduta de transportar folhas de coca melhor se amolda, em tese e para a definição de competência,
ao tipo descrito no § 1º, I, do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, que criminaliza o transporte de matéria-prima
destinada à preparação de drogas. Caso concreto: o agente foi preso com 4,4 kg de folhas de coca, adquiridas
na Bolívia, tendo a substância sido encontrada no estepe do veículo. As folhas seriam transportadas até
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Uberlândia/MG para rituais de mascar, fazer infusão de chá e até mesmo bolo, rituais esses associados à prática
religiosa indígena de Instituto ao qual pertenceria o acusado. A folha de coca não é considerada droga; porém
pode ser classificada como matéria-prima ou insumo para sua fabricação. STJ. 3ª Seção. CC 172464-MS, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das
majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com
esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. Art. 40.
As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: III - a infração tiver
sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de
sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho
coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento
de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
STJ. 6ª Turma. HC 528851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o
acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em
julgado? • STJ: SIM. É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da
convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art.
33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
14/12/2016 (Info 596). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020.
• STF: NÃO. Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33,
§ 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou processos
criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio
da presunção de não culpabilidade). Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada).
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967). STF. 1ª Turma. HC
166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018.

A suspensão será obrigatoriamente revogada se, no curso do prazo o beneficiário vier a ser processado
por outro crime (art. 89, § 3º da Lei nº 9.099/95). Trata-se de causa de revogação obrigatória. Por outro lado, a
suspensão poderá ser revogada pelo juiz se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção
(art. 89, § 4º). Trata-se de causa de revogação facultativa. O processamento do réu pela prática da conduta
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descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser considerado como causa de revogação
FACULTATIVA da suspensão condicional do processo. A contravenção penal tem efeitos primários mais
deletérios que o crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, mostra-se desproporcional que o mero processamento
do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 torne obrigatória a revogação da
suspensão condicional do processo, enquanto o processamento por contravenção penal ocasione a revogação
facultativa. STJ. 5ª Turma. REsp 1795962-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 tem como fundamento
distinguir o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se aventura
na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua
família. Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada em
elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da individualização
da pena e de fundamentação das decisões judiciais. Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a
organizações criminosas deverão ser comprovados, não valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse
sentido, o condenado fará jus à redução de pena. Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de
que é primário e de bons antecedentes e de que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização
criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério Público. Assim, o STF considerou preenchidas as
condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante de ré primária, com bons antecedentes e sem
indicação de pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é constitucional, posto
não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de
exclusão da tipicidade e da antijuridicidade. STF. Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
14/11/2018 (Repercussão Geral – Tema 907) (Info 923). É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga
do local do acidente (art. 305 do CTB). STF. Plenário. ADC 35/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver conduzindo o seu
veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a vítima,
como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de sua desatenção,
acabar por atingir e matar o pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na hipótese em
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que o condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle do carro, subindo
na calçada e atropelando a vítima. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1499912-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 05/03/2020 (Info 668).

O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 do CTB, prevê,
como uma das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.” Se o réu que praticou este crime é motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber
essa sanção ou isso violaria o direito constitucional ao trabalho? Não viola. O condenado pode sim receber essa
sanção, ainda que se trate de motorista profissional. É constitucional a imposição da pena de suspensão de
habilitação para dirigir veículo automotor ao motorista profissional condenado por homicídio culposo no
trânsito. O direito ao exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo
legislador se mostra razoável. STF. Plenário. RE 607107/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12/2/2020
(repercussão geral – Tema 486) (Info 966).

• DIVERSOS

A configuração do crime de associação criminosa (art. 288 do Código Penal) não ocorre pela inclusão
de um número mínimo de pessoas no polo passivo da ação penal, mas sim pelo intuito do agente de tomar parte
em grupo criminoso formado por um quantitativo mínimo legal de integrantes. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1789273/P, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 25/08/2020.

A ausência de falta grave nos últimos 12 (doze) meses como requisito à obtenção do livramento
condicional (art. 83, III, "b", do CP) aplica-se apenas às infrações penais praticadas a partir de 23/01/2020,
quando entrou em vigor a Lei n. 13.964/2019.

É prescindível a decisão final sobre a prática de falta grave para obstar o livramento condicional com
base no art. 83, III, "b", do CP.

O requisito previsto no art. 83, III, b, do Código Penal, consistente em o agente não ter cometido falta
grave nos últimos 12 (doze) meses, poderá ser valorado, com base no caso concreto, para fins de concessão de
livramento condicional quanto a fatos ocorridos antes da entrada em vigor da Lei 13.964/2019, sendo
interpretado como comportamento insatisfatório durante a execução da pena.
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São imprescritíveis e insuscetíveis de anistia, graça ou indulto crimes que caracterizem graves violações
de direitos humanos, praticados por agentes públicos ou particulares, diante da Convenção Americana de
Direitos Humanos e da pacífica jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de observância
obrigatória por todos os órgãos e poderes do Estado brasileiro.

A responsabilidade a título de omissão imprópria deve observar a assunção fática e real de


competências que fundamentam a posição de garantidor.

O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla
hipótese de prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais
processuais penais que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de
insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim, que o magistrado
poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1802845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não
tiver ficado suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se
prestar contas, não haverá crime por falta de elemento subjetivo (dolo). Art. 1º São crimes de responsabilidade
dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento
da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da
aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer título;
STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/06/2020 (Info 676).

Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não
tiver ficado suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se
prestar contas, não haverá crime por falta de elemento subjetivo (dolo). Art. 1º São crimes de responsabilidade
dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento
da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da
aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer título;
STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/06/2020 (Infos 676 e 677).

Não há se falar em irretroatividade de interpretação jurisprudencial, uma vez que o ordenamento


jurídico proíbe apenas a retroatividade da lei penal mais gravosa. Os preceitos constitucionais relativos à
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aplicação retroativa da norma penal benéfica, bem como à irretroatividade da norma mais grave ao acusado
(art. 5º, XL, da Constituição Federal), são inaplicáveis aos precedentes jurisprudenciais. STF. 1ª Turma. HC
161452 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 1361814/RJ, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 19/05/2020.

O delito do art.19 da lei 7.492/86, "obter mediante fraude financiamento em instituição financeira não
exige, para a sua configuração, efetivo ou potencial abalo ao Sistema Financeiro Nacional. STJ. 5ª Turma. gRg no
AgRg no AREsp 1642491/SP, Rel Min. Joel Ilan, julgado em 19/05/2020. STJ. 3ª Seção. CC 161.707/MA, Rel Min.
Joel Ilan, julgado em 12/12/2018

É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal


(arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal (efetuou a
reparação da parte principal do dano) antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou os valores
referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal. Nas exatas palavras do STF: “É
suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte principal do dano, até o recebimento da inicial
acusatória, sendo inviável potencializar a amplitude da restituição.” STF. 1ª Turma. HC 165312/SP, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

A previsão do art. 19 da Lei das Contravenções Penais continua válida ainda hoje? • Em relação à arma
de fogo: NÃO. O porte ilegal de arma de fogo caracteriza, atualmente, o crime previsto nos arts. 14 ou 16 do
Estatuto do Desarmamento. • Em relação à branca: SIM. O art. 19 do Decreto-lei nº 3.688/41 permanece vigente
quanto ao porte de outros artefatos letais, como as armas brancas. A jurisprudência do STJ é firme no sentido
da possibilidade de tipificação da conduta de porte de arma branca como contravenção prevista no art. 19 do
DL 3.688/41, não havendo que se falar em violação ao princípio da intervenção mínima ou da legalidade. STJ. 5ª
Turma. RHC 56128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

O pagamento de remuneração a funcionários fantasmas não configura apropriação ou desvio de verba


pública, previstos pelo art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/67. O pagamento de salário não configura
apropriação ou desvio de verba pública, previstos pelo art. 1º, I, do Decreto-Lei nº 201/67, pois a remuneração
é devida, ainda que questionável a contratação de parentes do Prefeito. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1162086-
SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

A materialidade do delito de incêndio (art. 250, § 1º, I, do CP), cuja prática deixa vestígios, deve ser
comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP. Existe até uma
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previsão específica para o caso do crime de incêndio: Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa
e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a
extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato. Vale ressaltar,
no entanto, que a substituição do exame pericial por outros meios de prova é possível em hipóteses excepcionais
quando desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não permitirem a realização do laudo, conforme autoriza o
art. 167 do CPP. Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é necessário que se demonstre que
houve uma justificativa para a não realização do laudo pericial. Em um caso concreto, o STF entendeu que essa
utilização estava justificada. Isso porque o réu, mesmo após ser orientado pelo Corpo de Bombeiros a registrar,
imediatamente, ocorrência policial e solicitar perícia técnica ao Instituto de Criminalística, permaneceu inerte
durante sete dias. A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do desaparecimento dos
vestígios do crime, considerada a demora em registrar a ocorrência e a falta de preservação do local. Por essa
razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova testemunhal, corroborada por cópias da apólice do
seguro, aviso de sinistro, ocorrência policial, relatório de regulação de sinistros, fotografias, laudos de
averiguação e pelo laudo elaborado pela seguradora. Levando em conta a justificada inviabilidade da elaboração
do exame de corpo de delito e a demonstração da materialidade do crime por outros meios de prova, foi correta
a aplicação do art. 167 do CPP no presente caso. STF. 1ª Turma. HC 136964/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 18/2/2020 (Info 967).

4 – PROCESSO PENAL

• INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem o condão de
nulificar o recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando existam elementos autônomos que
sustentam a decisão impugnada. Ademais, cabe ressaltar que eventuais vícios na fase extrajudicial não
contaminam o processo penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial. STJ. 5ª Turma.
AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/09/2020. Eventuais irregularidades ocorridas no
inquérito policial não contaminam a ação penal. STJ. 6ª Turma. RHC n. 112.336/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 07/11/2019. O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter informativo, cuja
finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela qual
irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de processo-crime. STF. 1ª Turma.HC 169.348/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2019.
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Não haverá infiltração policial se o agente apenas representa a vítima nas negociações de extorsão
Não há infiltração policial quando agente lotado em agência de inteligência, sob identidade falsa, apenas
representa o ofendido nas negociações da extorsão, sem se introduzir ou se infiltrar na organização criminosa
com o propósito de identificar e angariar a confiança de seus membros ou obter provas sobre a estrutura e o
funcionamento do bando. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020
(Info 677).

É lícita a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro As
inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é lícita a prova
consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro. STJ. 6ª
Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Ação controlada do art. 8º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 exige apenas comunicação prévia (e não
autorização judicial) A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013 independe de
autorização, bastando sua comunicação prévia à autoridade judicial. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Possibilidade de auxílio da agência de inteligência ao MP estadual É legal o auxílio da agência de


inteligência ao Ministério Público Estadual durante procedimento criminal instaurado para apurar graves crimes
em contexto de organização criminosa. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
18/08/2020 (Info 677).

É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF determinou a instauração
do Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações
caluniosas, ameaças e atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a segurança
do STF, de seus membros e familiares. Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do STF, que foi
recepcionado pela CF/88 como lei ordinária. O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para ser
constitucional, deve cumprir as seguintes condicionantes: a) o procedimento deve ser acompanhado pelo
Ministério Público; b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante. c) o objeto do
inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem risco efetivo à independência do Poder
Judiciário (art. 2º da CF/88). Isso pode ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou
por atos que atentem contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a democracia; e, por
fim, d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de expressão e de imprensa, excluindo do escopo
do inquérito matérias jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais)
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na internet, feitas anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em
massa nas redes sociais. O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou
dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua
jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados
ocorram na “sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da internet
permite estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território
nacional. Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente
virtual, podem ser considerados como cometidos na sede ou dependência do STF. STF. Plenário. ADPF 572
MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17 e 18/6/2020 (Info 982).

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020.

Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações
telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. Se há
notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela
expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar
outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos
de informação o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a
expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão expedido
exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

• AÇÃO PENAL

É possível aditar a denúncia para requerer a perda de bens cujo conhecimento se der após iniciada a
ação penal, caso em que, recebido o aditamento, deverão ser ouvidos os interessados e propiciada a dilação
probatória.

O pronunciamento jurisdicional do art. 396 do CPP, que recebe a denúncia, tem natureza jurídica de
decisão interlocutória, portanto necessita de fundamentação, conforme art. 93, IX, da CF.
75

A proposta de acordo de não persecução penal representa um poder-dever do Ministério Público, com
exclusividade, desde que cumpridos os requisitos do art. 28-A do CPP, cuja recusa deve ser fundamentada, para
propiciar o controle previsto no § 14 do mesmo artigo.

• COMPETÊNCIA

Caso concreto (com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas de que ele teria
cometido dois crimes conexos: um crime eleitoral e um crime federal “comum”. Considerando que ele possuía
foro por prerrogativa de função, foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que
houvesse denúncia, Marcos foi exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu o foro privativo. Diante
disso, o STF determinou a remessa da investigação para a 1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância
da Justiça Eleitoral porque segundo o entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência
da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça
Eleitoral. O processo foi distribuído para o 1ª Zona Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu
sumariamente o arquivamento da investigação no que tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido
do Ministério Público Eleitoral e arquivou a investigação quanto ao crime eleitoral. Restava, no entanto, um
outro delito, qual seja, o crime federal. Diante disso, o Juiz Eleitoral declinou da competência para processar o
feito para a Seção Judiciária de São Paulo (SP), local onde supostamente o crime teria sido praticado.
Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou reclamação alegando que a decisão declinatória do Juiz Eleitoral teria
afrontado a decisão do STF. Houve um empate na votação e prevaleceu a decisão mais favorável ao investigado.
Para o Ministro Gilmar Mendes, houve sim violação à autoridade da decisão proferida pelo STF, uma vez que as
instâncias inferiores não observaram as diretrizes que resultaram na definição da competência da Justiça
Eleitoral para apuração e processamento dos fatos. O MPE promoveu o arquivamento do crime eleitoral
imediatamente após o recebimento dos autos, não tendo sequer empreendido qualquer diligência investigativa
para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o Juízo Eleitoral arquivou o inquérito e remeteu os autos à
Justiça Federal, mesmo diante da expressa decisão dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos
fatos. As instâncias inferiores, portanto, ignoraram os termos da decisão reclamada, que assentou a
competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos fatos em questão. STF. 2ª Turma. Rcl
34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).

Redação anterior da tese do Tema 393: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241,
241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede mundial de computadores. STF.
Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e
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29/10/2015 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 805). Redação atual, modificada em embargos de declaração:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico, acessível transnacionalmente, envolvendo criança ou adolescente, quando praticados por meio
da rede mundial de computadores (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990). STF. Plenário. RE 628624 ED,
Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 990 – clipping).

Nos casos de Estelionato (art. 171, CP) cometido por meio virtual, a competência para processo e
julgamento da ação será do local da agência bancária da conta depositária, se a vítima realizou depósito bancário
em dinheiro, ou o local da agência bancária da vítima, se ela realizou transferência bancária (TED).

Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais,
o cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da
federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção. CC 171206-SP, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em
detrimento de interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide
financeira em investimento de grupo em criptomoeda. A captação de recursos decorrente de “pirâmide
financeira” não se enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para
a Justiça Federal se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou de lavagem de dinheiro
em detrimento de bens e serviços ou interesse da União. STJ. 3ª Seção. CC 170392-SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI
3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping).

Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra
outro quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime. Caso concreto: Francisco era
soldado da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia Militar do Estado do Piauí.
Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava em Teresina (PI). Samuel percebeu que
Francisco estava armado e, mesmo estando de folga, abordou o soldado indagando sobre a arma. Iniciou-se
uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel, que faleceu em razão dos disparos. A vítima e o réu
- ambos policiais militares à época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a discussão. Logo, não
77

se pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela Justiça Comum estadual
(Tribunal do Júri). STJ. 3ª Seção. CC 170201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como
argumento jurídico válido para prorrogar a competência do STF. Apesar da efetiva evolução das investigações,
sob a supervisão do STF, não houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem encerramento da
instrução processual penal. Logo, o marco temporal relativo à data de apresentação das razões finais não foi
alcançado. Além disso, quanto ao segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata
remessa dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou do trânsito em
julgado, quando constatado o risco de prescrição. STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).

• PRISÃO E LIBERDADE

Não é possível a decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no
curso de investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese
da conversão a que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério
Público ou da autoridade policial. A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art.
282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o
prévio ‘requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade
policial ou mediante requerimento do Ministério Público’, não mais sendo lícito, portanto, com base no
ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da
liberdade. A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282, § 2º, e 311, significando
que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em
flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior
e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do
assistente do MP. STJ. 5ª Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020. STF. 2ª
Turma. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/10/2020.

A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica automática
revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade
de seus fundamentos. STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info
995).
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A audiência de custódia (ou de apresentação) constitui direito público subjetivo, de caráter


fundamental, assegurado por convenções internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu,
já incorporadas ao direito positivo interno (Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer pessoa. Sua
imprescindibilidade tem o beneplácito do magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do ordenamento positivo
doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução 213/2015 do CNJ). STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 6/10/2020 (Info 994).

A ausência da realização da audiência de custódia qualifica-se como causa geradora da ilegalidade da


própria prisão em flagrante, com o consequente relaxamento da privação cautelar da liberdade. Se o magistrado
deixar de realizar a audiência de custódia e não apresentar uma motivação idônea para essa conduta, ele estará
sujeito à tríplice responsabilidade, nos termos do art. 310, § 3º do CPP. STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

Não é possível a decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no
curso de investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese
da conversão a que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério
Público ou da autoridade policial. A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art.
282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o
prévio requerimento das partes ou representação da autoridade policial. Logo, não é mais possível, com base
no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da
liberdade. A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311,
significando que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da
prisão em flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito,
anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante
ou do assistente do MP. STJ. 5ª Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020. STF.
HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

ENUNCIADO 15 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Para a decretação da


Prisão Temporária (Lei n. 7.960/1989) é necessária a aplicação cumulativa do inc. III com o inc. I do art. 1º da Lei
n. 7.960/1989.

ENUNCIADO 18 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: A decretação ou a


manutenção da prisão preventiva, para a garantia da ordem pública, pode ser fundamentada com base no risco
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de reiteração delitiva do agente em crimes com gravidade concreta, justificada por meio da existência de
processos criminais em andamento.

ENUNCIADO 20 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Em caso de


hipossuficiência, o não pagamento da fiança não pode ser motivo legítimo a impedir a concessão da liberdade
provisória.

ENUNCIADO 6 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Na observância dos


pressupostos e requisitos à segregação cautelar, é incabível a decretação da prisão preventiva pelo crime de
receptação exclusivamente em razão da suposta conduta ter ocorrido em área de fronteira.

ENUNCIADO 21 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Cabe ao Tribunal no


qual se encontra tramitando o feito em grau de recurso a reavaliação periódica da situação prisional do acusado,
em atenção ao parágrafo único do art. 316 do CPP, mesmo que a ordem de prisão tenha sido decretada pelo
magistrado de primeiro grau.

ENUNCIADO 30 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Excepcionalmente e


de forma fundamentada, nos casos em que se faça inviável a realização presencial do ato, é possível a realização
de audiência de custódia por sistema de videoconferência.

ENUNCIADO 19 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: A decisão de revisão


periódica da prisão preventiva deve analisar de modo motivado, ainda que objetivo, se os motivos que a
fundamentaram se mantêm e se não há excesso de prazo, sendo vedada a mera alusão genérica à não alteração
do quadro fático.

Caso concreto: a justiça brasileira decretou a prisão preventiva do réu brasileiro que mora
regularmente nos EUA. O Governo norte-americano negou o pedido de extradição. A defesa desse réu impetrou
habeas corpus no Brasil pedindo a revogação da prisão decretada considerando que ele é idoso, fumante e está
com H1N1, de forma que pertence ao grupo de risco da Covid-19. O STJ indeferiu o pedido considerando que o
réu está no exterior há anos e não corre mais o risco de ser extraditado. Na Recomendação 62/2020, o CNJ
afirma que os juízes e Tribunais deverão adotar medidas para prevenir a propagação da Covid-19 no âmbito do
sistema de justiça penal, fazendo a revisão das prisões temporárias. Vale ressaltar, contudo, que essa
Recomendação não se aplica ao acusado porque ele não está inserido no sistema penal brasileiro. A adoção de
cautelas quanto à prisão por conta da pandemia da Covid-19 tem o objetivo de reduzir os riscos epidemiológicos
80

em unidades prisionais e não o de blindar pessoas que residem no exterior. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 575112-
RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 02/06/2020 (Info 673).

A alegação de desproporcionalidade da prisão preventiva somente poderá ser aferível após a prolação
de sentença, não cabendo, durante o curso do processo, a antecipação da análise quanto a possibilidade de
cumprimento de pena em regime menos gravoso, caso seja prolatada sentença condenatória, sob pena de
exercício de adivinhação e futurologia, sem qualquer previsão legal. Assim, não há que se falar em ofensa ao
princípio da homogeneidade das medidas cautelares porque não cabe ao STJ, em um exercício de futurologia,
antecipar a provável colocação da paciente em regime aberto/semiaberto ou a substituição da sua pena de
prisão por restritiva de direitos. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 559.434/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 19/05/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.502/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/05/2020.

Qualquer prisão processual deve ser detraída da pena final imposta, não importa o local de seu
cumprimento - cadeia, domicílio ou hospital -, devendo, portanto, a decisão ser mantida por seus próprios
fundamentos. Assim, mesmo o tempo em que o indivíduo ficou em prisão domiciliar também deve ser detraído
do tempo total de pena. STJ. 6ª Turma. AgRg no AgRg nos EDcl no HC 442.538/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 05/03/2020. O cumprimento de prisão domiciliar, por comprometer o status libertatis da pessoa humana,
deve ser reconhecido como pena efetivamente cumprida para fins de detração da pena, em homenagem ao
princípio da proporcionalidade e em apreço ao princípio do non bis in idem. STJ. 5ª Turma. HC 459.377/RS, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/09/2018.

A reforma legislativa operada pelo chamado “Pacote Anticrime” (Lei nº 13.964/2019) introduziu a
revisão periódica dos fundamentos da prisão preventiva, por meio da inclusão do parágrafo único ao art. 316
do CPP. A redação atual prevê que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de sua manutenção
a cada noventa dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar ilegal a prisão preventiva:
Art. 316 (...) Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a
necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena
de tornar a prisão ilegal. Assim, a prisão preventiva é decretada sem prazo determinado. Contudo, o CPP agora
prevê que o juízo que decretou a prisão preventiva deverá, a cada 90 dias, proferir uma nova decisão analisando
se ainda está presente a necessidade da medida. Isso significa que a manutenção da prisão preventiva exige a
demonstração de fatos concretos e atuais que a justifiquem. A existência desse substrato empírico mínimo, apto
a lastrear a medida extrema, deverá ser regularmente apreciado por meio de decisão fundamentada. A esse
respeito, importante mencionar também o § 2º do art. 312 do CPP, inserido pelo Pacote Anticrime: “A decisão
que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
81

de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.” STF. 2ª Turma. HC 179859
AgR/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968).

Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em julgado
e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).

• PROCEDIMENTO

Promotor de Justiça condenado criminalmente pelo Tribunal de Justiça impetrou habeas corpus
alegando que o julgamento seria nulo por não ter observado o art. 400 do CPP, já que o interrogatório do
acusado não foi o último ato da instrução. O Min. Relator Marco Aurélio indeferiu a ordem manifestando sua
posição no sentido de que não se deve aplicar a regra geral do art. 400 do CPP (interrogatório como último ato)
considerando que, por se tratar de Promotor de Justiça, julgado perante o Tribunal de Justiça, a norma aplicável
seria a do art. 7º da Lei nº 8.038/90, segundo a qual a audição do acusado é o primeiro ato do procedimento. O
Min. Alexandre de Moraes votou por indeferir a ordem com base em outro fundamento, alegando que a defesa
não demonstrou prejuízo, afirmando, portanto, que não haverá declaração de nulidade quando não
demonstrado o efetivo prejuízo causado à parte (pas de nullité sans grief). Obs: penso que o STF continue com
o entendimento de que o interrogatório deve ser o último ato da instrução, mesmo nos processos regidos pela
Lei nº 8.038/90. STF. 1ª Turma. HC 178252/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).

• PROVAS

O direito à produção de provas não é absoluto, haja vista que a própria lei processual penal, em seu
artigo 400, § 1º, faculta ao julgador, desde que de forma fundamentada, indeferir as provas consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. STF. 2ª Turma. HC 191858, 628075, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 30/11/2020.

Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de
carta, telegrama, pacote ou meio análogo. STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão
Min. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).
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A inexistência de confissão do investigado antes da formação da opinio delicti do Ministério Público


não pode ser interpretada como desinteresse em entabular eventual acordo de não persecução penal.

A ausência de exame de corpo de delito não inviabiliza, por si só, a pronúncia do réu quando presentes
outros elementos de prova. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1861493/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
09/06/2020.

A defesa alegou nulidade processual por desrespeito ao art. 212 do CPP, por ter o juízo inquerido
diretamente as testemunhas. A magistrada que presidia a audiência reputou observados o contraditório e a
ampla defesa, porque depois de perguntar, ela permitiu que os defensores e o MP fizessem questionamentos.
A 1ª Turma do STF discutiu se houve nulidade. Dois Ministros (Marco Aurélio e Rosa Weber) consideraram que
não foi respeitada a aludida norma processual. Assim, votaram por conceder a ordem de habeas corpus para
declarar a nulidade processual a partir da audiência de instrução e julgamento. Os outros dois Ministros
(Alexandre de Moraes e Luiz Fux) entenderam que não deveria ser declarada a nulidade do processo porque a
alteração efetuada no art. 212 do CPP, ao permitir que as partes façam diretamente perguntas às testemunhas,
não retirou do juiz, como instrutor do processo, a possibilidade de inquiri-las diretamente. Diante do empate na
votação, prevaleceu a decisão mais favorável ao paciente. STF. 1ª Turma. HC 161658/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980). Obs: prevalece no STF e no STJ que a inobservância do procedimento
previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando muito, nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da
demonstração do prejuízo para a parte que a suscita (STF. 1ª Turma. HC 177530 AgR, Rel. Alexandre de Moraes,
julgado em 20/12/2019).

Caso concreto: o Tribunal de Paris solicitou cooperação jurídica em matéria penal, na modalidade
auxílio direto, a fim de que fossem realizadas diversas diligências no Brasil, dentre as quais a oitiva de investigado
e busca e apreensão no seu endereço, para subsidiar apuração criminal que ocorre na Justiça da França. O
pedido da autoridade francesa foi embasado em Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal, na
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção e na Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
Organizada Transnacional. O pleito foi encaminhado ao Ministério da Justiça do Brasil, que o remeteu ao
Procurador-Geral da República o qual, por sua vez, designou Procurador da República atuante no Rio de Janeiro
para a execução das diligências. O Membro do Ministério Público Federal requereu o deferimento das medidas
assecuratórias ao Juízo da 9ª Vara Federal do Rio de Janeiro, no que foi atendido. O investigado impetrou habeas
corpus sustentando a nulidade de sua oitiva porque todas as perguntas foram formuladas direta e
exclusivamente pela Autoridade Judiciária francesa que acompanhava o Membro do Ministério Público Federal
nomeado para realizar as diligências. O STJ concordou com o pedido da defesa. O ato de delegação da condução
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e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que esta proceda diretamente à
inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de respaldo constitucional, legal ou
jurisprudencial. Trata-se de ato eivado de nulidade absoluta, por ofensa à soberania nacional, o qual não pode
produzir efeitos dentro de investigações penais que estejam dentro das atribuições das autoridades brasileiras.
STJ. 6ª Turma. RHC 102322-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no processo criminal. Sucede que,
logo no início do processo, ela e o advogado se desentenderam e a vítima revogou expressamente os poderes
que havia conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no caso. Além disso, requereu que ele devolvesse
qualquer documento que estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado. Ao saber disso,
o réu pediu a oitiva do advogado como testemunha no processo penal. Esse advogado não poderá ser ouvido
como testemunha. Para que o advogado possa prestar seu testemunho é indispensável que haja o
consentimento válido do interessado direto na manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte
interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que o profissional revele os fatos resguardados pelo sigilo,
ainda assim ele é quem irá decidir se irá dar ou não seu testemunho. No caso concreto, o advogado que foi
arrolado como testemunha teve seus poderes como patrono da interessada expressamente revogados,
vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-se que devolvesse qualquer documento relacionado ao
fato que a ele tivesse sido entregue. Isso significa que a cliente não liberou o advogado do dever de manter o
segredo profissional sobre as informações e documentos de que teve conhecimento em razão da atuação como
defensor técnico. Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou conhecimento em
razão de seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração apresentada pelo
cliente e eventuais documentos por ele entregues. STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).

• INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

O prazo de 15 dias das interceptações telefônicas deve ser contado a partir da efetiva implementação
da medida, e não da respectiva decisão. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114.973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 19/05/2020. STJ. 6ª Turma. HC 113477-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/3/2012.

Se a autoridade policial, em decorrência de interceptações telefônicas legalmente autorizadas, tem


notícia do cometimento de novos ilícitos por parte daqueles cujas conversas foram monitoradas ou mesmo de
terceiros, é sua obrigação e dever funcional apurá-los, ainda que não possuam liame algum com os delitos cuja
suspeita originariamente ensejou a quebra do sigilo telefônico. Tal entendimento é aplicável ainda que as
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infrações descobertas fortuitamente sejam punidas com detenção, pois o que a Lei nº 9.296/96 veda é o
deferimento da quebra do sigilo telefônico para apurar delito que não seja apenado com reclusão, não
proibindo, todavia, que o referido meio de prova seja utilizado quando há, durante a implementação da medida,
a descoberta fortuita de eventuais ilícitos que não atendem a tal requisito. No caso dos autos, as interceptações
telefônicas foram inicialmente autorizadas para apurar os crimes de corrupção ativa e passiva e organização
criminosa, sendo que, no curso da medida, logrou-se descobrir que os investigados também eram responsáveis
por fraudes à licitações em diversos Municípios, não havendo que se falar, assim, em nulidade das provas obtidas
com a quebra de sigilo telefônico. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
19/05/2020.

• TRIBUNAL DO JÚRI

Cabe apelação com fundamento no art. 593, III, “d”, do CPP (decisão manifestamente contrária à prova
dos autos) se o júri absolver o réu? STJ: SIM (posição pacífica). STF: NÃO (posição majoritária). A 3ª Seção do STJ
firmou o entendimento de que a anulação da decisão absolutória do Conselho de Sentença (ainda que por
clemência), manifestamente contrária à prova dos autos, segundo o Tribunal de Justiça, por ocasião do exame
do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público (art. 593, III, “d”, do CPP), não viola a soberania dos
veredictos. STJ. 5ª Turma. HC 560.668/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/08/2020. STJ.
6ª Turma. AgRg no REsp 1.875.705, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julagdo em 06/10/2020. A absolvição do réu, ante
resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º, do CPP, não depende de elementos
probatórios ou de teses veiculadas pela defesa. Isso porque vigora a livre convicção dos jurados. Em razão da
norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença absolutória de Tribunal do Júri,
fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da decisão a ensejar apelação da acusação. Os
jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e independentemente das teses veiculadas,
considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais. STF. 1ª Turma. HC 178777/MG, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 29/9/2020 (Info 993). Na reforma legislativa de 2008, alterou-se substancialmente o
procedimento do júri, inclusive a sistemática de quesitação aos jurados. Inseriu-se um quesito genérico e
obrigatório, em que se pergunta ao julgador leigo: “O jurado absolve o acusado?” (art. 483, III e §2º, CPP). Ou
seja, o Júri pode absolver o réu sem qualquer especificação e sem necessidade de motivação. Considerando o
quesito genérico e a desnecessidade de motivação na decisão dos jurados, configura-se a possibilidade de
absolvição por clemência, ou seja, mesmo em contrariedade manifesta à prova dos autos. Se ao responder o
quesito genérico o jurado pode absolver o réu sem especificar os motivos, e, assim, por qualquer fundamento,
não há absolvição com tal embasamento que possa ser considerada “manifestamente contrária à prova dos
autos”. Limitação ao recurso da acusação com base no art. 593, III, “d”, CPP, se a absolvição tiver como
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fundamento o quesito genérico (art. 483, III e §2º, CPP). Inexistência de violação à paridade de armas. Presunção
de inocência como orientação da estrutura do processo penal. Inexistência de violação ao direito ao recurso
(art. 8.2.h, CADH). Possibilidade de restrição do recurso acusatório. STF. 2ª Turma. HC 185068, Rel. Celso de
Mello, Relator p/ Acórdão Gilmar Mendes, julgado em 20/10/2020.

A ausência de exame de corpo de delito não inviabiliza, por si só, a pronúncia do réu quando presentes
outros elementos de prova. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1861493/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
09/06/2020.

Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante
1h e 30min e, ao final de sua exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez
sustentação oral apenas concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A
manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP pedindo a absolvição, os
jurados decidiram condenar o réu. O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de defesa e
mantiveram a condenação. O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo Tribunal do
Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio
paciente não se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para
fins de apelação criminal. Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se pode falar
em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de
efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que
apenas a absoluta falta de defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a defesa
foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e ficar demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a defesa
insuficiente é hipótese de nulidade relativa. Nesse sentido é a Súmula 523 do STF. Não se pode classificar como
insatisfatória a atuação do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia que considerou melhor
no caso. STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

O desaforamento é medida excepcional, cabível apenas quando comprovada por fatos objetivos e
concretos a parcialidade do Conselho de Sentença. A simples presunção de que os jurados poderiam ter sido
influenciados por ampla divulgação do caso pela mídia e a mera suspeita acerca da parcialidade dos jurados não
justificam a adoção dessa medida excepcional. STJ. 5ª Turma. HC 492964-MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 03/03/2020 (Info 668).

• NULIDADES
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Paulo foi condenado pelo então Juiz Federal Sérgio Moro por crimes contra o sistema financeiro
nacional, no âmbito da operação que ficou conhecida como “Caso Banestado”. A defesa pediu que o STF
reconhecesse que o referido magistrado quebrou a imparcialidade e, portanto, a sentença seria nula. Houve um
empate na 2ª Turma do STF e, diante disso, prevaleceu a posição mais favorável ao réu. Assim, foi declarada a
nulidade da sentença condenatória proferida nos autos do processo penal, por violação à imparcialidade do
julgador. O simples fato de o juiz ter feito a homologação dos acordos de colaboração ou mesmo ter realizado
as oitivas dos colaboradores não tem o condão de configurar, por si só, a quebra de sua imparcialidade para o
julgamento do réu ao qual imputados ilícitos no âmbito dos respectivos acordos. Todavia, as circunstâncias
particulares do caso concreto demonstram que o juiz se investiu na função persecutória ainda na fase pré-
processual, violando o sistema acusatório. Ao se analisar as atas de depoimentos, percebe-se uma proeminência
(um destaque) para a realização de perguntas feitas pelo juiz ao interrogado. O papel do magistrado era apenas
o de fazer o controle da legalidade e voluntariedade do acordo de colaboração premiada. No entanto, o que se
percebe pelas perguntas realizadas é que o juiz ultrapassou a mera realização dessa função e atuou diretamente
reforçando a acusação. Logo, não houve mera supervisão dos atos de produção de prova, mas o direcionamento
e a contribuição do magistrado para o estabelecimento e para o fortalecimento da tese acusatória. Além disso,
ao final da instrução, depois das alegações finais, o magistrado ordenou a juntada de documentos diretamente
relacionados com os fatos criminosos imputados aos réus, sem pedido do Ministério Público ou da defesa.
Depois, ao sentenciar, ele utilizou expressamente tais elementos para fundamentar a condenação. Mesmo que
se pudesse invocar, em tese, a possibilidade jurídica da produção de prova de ofício pelo julgador com base no
art. 156 do CPP, na situação dos autos, sequer é possível falar verdadeiramente em produção probatória. Os
documentos juntados não poderiam ter sido utilizados para a formação do juízo de autoria e materialidade das
imputações, uma vez encerrada a instrução processual. STF. 2ª Turma. RHC 144615 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2020 (Info 988).

A defesa do ex-Presidente Lula impetrou habeas corpus no STF pedindo o desentranhamento do


“Termo de Colaboração de Antônio Palocci Filho”, cuja juntada aos autos foi promovida de ofício, pelo então
Juiz Federal Sérgio Moro. O STF entendeu que essa juntada foi ilícita e determinou o seu desentranhamento. Os
Ministros apontaram três circunstâncias envolvendo essa conduta que revelariam a parcialidade do magistrado
na condução do processo: Em primeiro lugar, o termo de colaboração foi juntado quando a fase de instrução
processual havia sido encerrada, de forma que as declarações sequer estariam aptas a fundamentar a prolação
da sentença. Em segundo, aconteceu cerca de três meses após a decisão judicial que o homologara. Para os
Ministros, essa demora parece ter sido cuidadosamente planejada para gerar verdadeiro fato político na semana
que antecedia o primeiro turno das eleições presidenciais. Ato contínuo à juntada, foi determinado o imediato
levantamento do sigilo, com clara finalidade de que fosse dada publicidade às imputações dirigidas ao réu, sem
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que as circunstâncias narradas no ajuste fossem relevantes para a ação penal em andamento. Em terceiro, o
fato de a juntada e o levantamento do sigilo terem ocorrido por iniciativa do próprio juiz, isto é, sem qualquer
provocação do órgão acusatório. A determinação da juntada desse termo de delação, nesses moldes,
consubstancia inequívoca quebra da imparcialidade. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

A falta de abertura de prazo, após o encerramento da instrução, para manifestação das partes acerca
do interesse na feitura de diligências complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento
pressupõe que o inconformismo seja veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de
alegações finais. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).

• SENTENÇAS E OUTRAS DECISÕES

ENUNCIADO 27 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: As obrigações


pecuniárias (pena de multa, custas processuais e obrigação de reparar os danos) advindas da sentença penal
condenatória recorrível, não podem ser executadas antes do trânsito em julgado.

O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do próprio processo penal, a
pagar danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela, no âmbito da responsabilidade, o dano moral não
apenas na esfera individual como também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição
Federal e no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do art. 1º da Lei nº 7.347/85
(Lei de Ação Civil Pública). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).

• RECURSOS

O prazo para a interposição de recurso flui a partir da última publicação da decisão a ser impugnada,
de modo que a republicação, mesmo que desnecessária ou feita por equívoco, acarreta a reabertura do prazo
recursal. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1691009/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, julgado em
19/10/2020. STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1106102/SE, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, julgado em
19/02/2020. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1832858/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, julgado em 04/05/2020.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 736.208/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, julgado em 23/02/2016. STJ. 5ª
Turma. HC 238698-SP, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora-convocada do TJ-SE), julgado em
20/11/2012. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 906.989/RN, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, julgado
em 17/03/2011. Isto porque, os princípios do moderno direito processual civil nitidamente privilegiam o
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conteúdo sobre a forma, as normas substantivas sobre as adjetivas, conferindo normatividade expressa ao novo
Princípio da Prioridade da Decisão de Mérito. Nessa linha, consolidou-se interpretar as normas sobre prazos a
benefício da tempestividade, inclusive para considerar haver publicidade na segunda publicação em caso de sua
duplicidade

Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato jurisdicional que defere o
desbloqueio de bens e valores. Isso porque se trata de decisão definitiva que, apesar de não julgar o mérito da
ação, coloca fim ao procedimento incidente. O procedimento adequado para a restituição de bens é o incidente
legalmente previsto para este fim. O instrumento processual para impugnar a decisão que resolve esse incidente
é a apelação, sendo incabível a utilização de mandado de segurança como sucedâneo do recurso legalmente
previsto. STJ. 6ª Turma. REsp 1787449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

• HABEAS CORPUS E REVISÃO CRIMINAL

Não cabe habeas corpus de ofício no bojo de embargos de divergência. STJ. Corte Especial. AgRg nos
EREsp 1697156/PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 07/04/2020. STJ. 3 Seção. AgRg nos EAREsp
693.298/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 28/10/2020. A concessão de habeas corpus de ofício, no bojo
de embargos de divergência, encontra óbice tanto no fato de que o Relator não tem autoridade para conceder
a ordem por meio de decisão monocrática, desconstituindo, na prática, o resultado de acórdão proferido por
outra Turma julgadora, como, tampouco a Seção detém competência constitucional para conceder Habeas
Corpus contra acórdão de Turma do próprio Tribunal.

Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe habeas corpus ainda
que para solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas
da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia,
alcançando-se o direito de ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de Ministro ou outro
órgão fracionário fracionário da Corte. STF. Plenário. HC 170263/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
22/06/2020.
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Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de Ministro ou outro
órgão fracionário da Corte. Ex: não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a prisão
preventiva de investigado ou réu. Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento exposto no enunciado 606 da
Súmula do STF. Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma,
ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964) STF. Plenário. HC 170263, Rel. Edson Fachin,
julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping)

O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato
impugnado, será admissível apenas se: a) for destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou b) se
traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do paciente. Nas
demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve ser reservado
ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa, na liberdade
individual. STJ. 3ª Seção. HC 482549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/03/2020 (Info 669).

• EXECUÇÃO PENAL

O indulto humanitário requer, para sua concessão, a necessária comprovação, por meio de laudo
médico oficial ou por médico designado pelo juízo da execução, de que a enfermidade que acomete o
sentenciado é grave, permanente e exige cuidados que não podem ser prestados no estabelecimento prisional.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.952/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 27/10/2020 O Decreto n.
7.873/2012 estabeleceu como requisitos do chamado indulto humanitário: (a) o acometimento pelo apenado
de doença grave e permanente que imponha importante limitação de atividade; (b) exigência de cuidados
contínuos que não possam ser prestados em estabelecimento prisional; (c) comprovação por laudo médico; (d)
não oposição do condenado.

O direito de visita pode sofrer limitações, diante das peculiaridades do caso concreto. O direito do
preso de receber visitas, assegurado pelo art. 41, X, da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1.984), não é
absoluto e deve ser sopesado, de acordo com a situação específica vivenciada no caso concreto, em conjunto
com outros princípios, dentre os quais o que visa a garantir a disciplina e a segurança dentro dos
estabelecimentos prisionais. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1602725/DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 20/10/2020.
90

ENUNCIADO 28 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: O rol trazido pelo art.
50 da Lei de Execução Penal é taxativo, não comportando interpretação extensiva ou equiparação analógica.

ENUNCIADO 31 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Na execução penal,


o não pagamento da multa pecuniária ou a ausência do seu parcelamento não impedem a progressão de regime,
desde que os demais requisitos a tanto estejam preenchidos e que se demonstre a impossibilidade econômica
do apenado em arcá-la.

ENUNCIADO 26 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: É possível, em


situações excepcionais, a aplicação da prisão domiciliar humanitária, prevista no art. 117 da Lei n. 7.210/1984,
também aos condenados em cumprimento de regime fechado e semiaberto.

O art. 126 da Lei de Execuções Penais prevê duas hipóteses de remição da pena: por trabalho ou por
estudo. Para fins de remição da pena pelo trabalho, a jornada não pode ser superior a 8 horas. O STJ, contudo,
entende que eventuais horas extras devem ser computadas quando excederem a oitava hora diária, hipótese
em que se admite o cômputo do excedente para fins de remição de pena. No caso da remição pelo estudo, o
reeducando poderá remir 1 dia de pena a cada 12 horas de atividade, divididas, no mínimo, em 3 dias. O STJ
entende que, se o reeducando estudar mais que 12 horas, isso deverá ser considerado para fins de remição da
pena. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1720688/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020.
STJ. 6ª Turma. HC 461047-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 677).

Imagine a seguinte situação: o juízo das execuções penais proibiu o trabalho externo do apenado
durante as medidas restritivas impostas pelo Governo para combate à Covid-19. Diante disso, foi impetrado
habeas corpus afirmando que essa decisão seria ilegal e que deveria ser concedida, então, prisão domiciliar ao
apenado, nos termos da Recomendação nº 62 do CNJ. Indaga-se: durante a pandemia da Covid-19, os apenados
que tiveram suspenso o exercício do trabalho externo, possuem direito à prisão domiciliar? O STJ está dividido
sobre o tema: • 5ª Turma do STJ: como regra, NÃO A suspensão temporária do trabalho externo no regime
semiaberto em razão da pandemia atende à Resolução nº 62 do CNJ, cuja recomendação não implica automática
substituição da prisão decorrente da sentença condenatória pela domiciliar. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 580495-
SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2020 (Info 673). • 6ª Turma do STJ: como regra,
SIM Os reeducandos que cumprem pena em regime semiaberto e aberto e que tiveram suspenso o exercício do
trabalho externo como medida preventiva de combate à Covid-19, possuem direito ao regime domiciliar, desde
que não ostentem procedimento de apuração de falta grave. STJ. 6ª Turma. HC 575495/MG, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 02/06/2020 (Info 673).
91

A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença
do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar
(PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a
prática de falta grave durante o cumprimento da pena. STF. Plenário. RE 972598, Rel. Roberto Barroso, julgado
em 04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 941) (Info 985 – clipping).

O descumprimento das condições do livramento condicional não pode servir para obstaculizar a
concessão do indulto. Para a análise do pedido de indulto ou comutação de penas, o magistrado deve restringir-
se ao exame do preenchimento dos requisitos previstos no decreto presidencial, uma vez que os pressupostos
para a concessão da benesse são da competência privativa do Presidente da República. Dessa forma, qualquer
outra exigência caracteriza constrangimento ilegal. O Decreto nº 7.873/2012 prevê que apenas falta disciplinar
de natureza grave prevista na Lei de Execução Penal, cometida nos 12 meses anteriores à data de publicação do
decreto, pode obstar a concessão do indulto. O descumprimento das condições do livramento condicional não
encontra previsão no art. 50 da Lei de Execuções Penais, o qual elenca de forma taxativa quais são as faltas
graves. Assim, eventual descumprimento de condições impostas não pode ser invocado a título de infração
disciplinar grave a fim de impedir a concessão do indulto. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 537982-DF, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).

• DIVERSOS

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Luiz, auditor da receita estadual, estava sendo
investigado por supostamente estar recebendo vantagem indevida (“propina”) para reduzir tributos. Ele não
sabia que estava sendo investigado.Determinado dia, Luiz foi preso em flagrante por suposto crime sexual
(estupro de vulnerável). Depois de preso, o Ministério Público ofereceu a Luiz e sua irmã a possibilidade de fazer
um acordo de colaboração premiada. Eles aceitaram. No acordo, Luiz confessou crimes e delatou infrações
penais que teriam sido praticadas por outros colegas auditores da receita estadual.Com base nessas declarações
prestadas por Luiz e sua irmã, foi deflagrada a “Operação Publicano IV”, no final de 2015, tendo sido decretada
a prisão preventiva de diversos auditores da receita estadual.Em maio de 2016, o Ministério Público constatou
que Luiz descumpriu os termos do acordo de colaboração premiada. Isso porque, segundo o Parquet, ele teria
mentido e omitido fatos e cometido novos crimes após a celebração do acordo.Assim, o acordo foi
rescindido.Em fevereiro de 2017, foi realizado o interrogatório judicial de Luiz. Ele declarou que a rescisão do
acordo teria sido arbitrária. Acusou os Promotores “de manipular suas declarações e ocultar todos os vídeos dos
depoimentos que havia prestado extrajudicialmente”.Posteriormente, o Ministério Público firmou com Luiz
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novo acordo de delação premiada, sob a condição de que ele se retratasse das mencionadas acusações e
ratificasse as declarações que fizeram parte do acordo rescindido. O segundo acordo foi homologado pelo juiz
sob o argumento de que seria apenas um “termo aditivo” do primeiro.A defesa de Gilberto, um dos auditores
delatados por Luiz, impetrou habeas corpus alegando, dentre outros argumentos: a) a impossibilidade de se
aditar acordo de colaboração premiada rescindido;b) a relevância de o delator Luiz, na audiência realizada em
fevereiro de 2017, ter exposto supostas ilegalidades que teriam sido cometidas durante o primeiro acordo de
colaboração premiada. A 2ª Turma do STF, por empate na votação, concedeu a ordem de habeas corpus para
declarar a nulidade da utilização, como meio de prova, do segundo acordo de colaboração premiada firmado. O
colegiado reconheceu a ilicitude das declarações incriminatórias prestadas por Luiz e sua irmã. O relator
ressaltou que o estabelecimento de balizas legais para o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para
garantir a isonomia e evitar a corrupção dos imputados, mediante incentivos desmesurados à colaboração, e
dos próprios agentes públicos, aos quais se daria um poder sem limite sobre a vida e a liberdade dos imputados.
É preciso respeitar a legalidade, visto que as previsões normativas caracterizam limitação ao poder negocial no
processo penal. No caso de ilegalidade manifesta (evidente) em acordo de colaboração premiada, o Poder
Judiciário deve agir para a efetiva proteção de direitos fundamentais. O acordo de colaboração premiada é meio
de obtenção de prova. Portanto, trata-se de instituto de natureza semelhante, por exemplo, à interceptação
telefônica. O STF reconheceu, várias vezes, a ilegalidade de atos relacionados a interceptações telefônicas. Logo,
não há motivo para afastar essa possibilidade em ilegalidades que permeiam acordos de colaboração premiada.
STF. 2ª Turma. HC 142205, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 25/08/2020 (Info 988).

ENUNCIADO 29 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: efeitos dos atos já
praticados. Entende-se por norma puramente processual aquela que regulamente procedimento sem interferir
na pretensão punitiva do Estado. A norma procedimental que modifica a pretensão punitiva do Estado deve ser
considerada norma de direito material, que pode retroagir se for mais benéfica ao acusado.

ENUNCIADO 14 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: As restrições previstas


no § 16 do art. 4º da Lei n. 12.850/2013, com a redação dada pela Lei n. 13.964/2019, aplicam-se também aos
processos penais para os quais a colaboração premiada foi trasladada como prova emprestada.

ENUNCIADO 11 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Nos crimes


submetidos à jurisdição brasileira, os provedores de conexão e de aplicações de internet que prestam serviços
no Brasil devem fornecer o conteúdo de comunicações armazenadas em seu poder, não lhe sendo lícito, sob
pena de sanções processuais, invocar legislação estrangeira para eximir-se do dever de cumprir a decisão
judicial.
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ENUNCIADO 10 DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL CJF/STJ: Recomenda-se a


realização de práticas restaurativas nos acordos de não persecução penal, observada a principiologia das
Resoluções n. 225 do CNJ e 118/2014 do CNMP.

É constitucional a multa imposta ao defensor por abandono do processo, prevista no art. 265 do CPP:
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente
o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. A
previsão da multa afigura-se compatível com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. A multa não
se mostra inadequada nem desnecessária. Ao contrário, mostra-se razoável como meio prévio para evitar o
comportamento prejudicial à administração da justiça e ao direito de defesa do réu, tendo em vista a
imprescindibilidade da atuação do profissional da advocacia para o regular andamento do processo penal. A
multa do art. 265 do CPP não ofende o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal ou a presunção
de não culpabilidade. Não há necessidade de instauração de processo autônomo e de manifestação prévia do
defensor, no entanto, é possível que ele, posteriormente, se justifique por meio de pedido de reconsideração.
Outra alternativa é a impetração de mandado de segurança. STF. Plenário. ADI 4398, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 05/08/2020 (Info 993).

A defesa do ex-Presidente Lula formulou reclamação ao Comitê de Direitos Humanos da Organização


das Nações Unidas alegando que o processo penal que tramita contra ele no Brasil teria violado disposições do
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. Ainda não há decisão final de mérito do Comitê. A defesa
impetrou habeas corpus no STF pedindo que a ação penal proposta contra ele fique sobrestada até que haja um
pronunciamento final do Comitê da ONU. A 2ª Turma do STF, contudo, indeferiu o pedido de suspensão do
julgamento da ação penal até pronunciamento final do Comitê de Direitos Humanos da ONU. Segundo explicou
o STF, a decisão do Comitê negou a concessão de “medidas provisionais” em favor de Lula. Isso significa que o
referido órgão não determinou a suspensão de ações penais instauradas em desfavor do paciente. O comitê,
em princípio, não reconheceu a prática de ato imputável ao Estado brasileiro que pudesse vulnerar a ordem
internacional. O Ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a deliberação final de mérito do Comitê da ONU, a
depender do resultado proclamado, poderá impedir, frustrar ou anular o os processos criminais que tramitam
contra Lula. No entanto, por ora, não há uma decisão impedindo o prosseguimento das ações penais. STF. 2ª
Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
4/8/2020 (Info 985).
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É possível a fixação de astreintes em desfavor de terceiros, não participantes do processo, pela demora
ou não cumprimento de ordem emanada do Juízo Criminal As normas do processo civil aplicam-se de forma
subsidiária ao processo penal (art. 3º do CPP). O poder geral de cautela do processo civil também pode ser
aplicado, em regra, ao processo penal. O emprego de cautelares inominadas só é proibido no processo penal se
atingir a liberdade de ir e vir do indivíduo. Diante da finalidade da multa cominatória, que é conferir efetividade
à decisão judicial, é possível sua aplicação em demandas penais. Assim, o terceiro pode perfeitamente figurar
como destinatário da multa. Vale ressaltar que essa multa não se confunde com a multa por litigância de má-fé.
A multa por litigância de má-fé não é admitida no processo penal. STJ. 3ª Seção. REsp 1568445-PR, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/06/2020 (Info 677).

É possível ao juízo criminal efetivar o bloqueio via Bacen-Jud ou a inscrição em dívida ativa dos valores
arbitrados a título de astreintes Por derivar do poder geral de cautela, cabe ao magistrado, diante do caso
concreto, avaliar qual a melhor medida coativa ao cumprimento da determinação judicial, não havendo
impedimento ao emprego do sistema Bacen-Jud. STJ. 3ª Seção. REsp 1568445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/06/2020 (Info 677).

A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de
advogado réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da acusação, não existindo
a figura do assistente de defesa. STJ. 5ª Turma. RMS 63393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 23/06/2020 (Info 675). STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.
Não há, no processo penal, a figura do assistente de defesa, pois a assistência é apenas da acusação. STJ. Corte
Especial. AgRg no Inq 1.191/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2020.

O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla
hipótese de prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais
processuais penais que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de
insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim, que o magistrado
poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1802845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

A SV 14 prevê: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Terceiros que tenham sido mencionados pelos
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colaboradores podem obter acesso integral aos termos dos colaboradores para viabilizar, de forma plena e
adequada, sua defesa, invocando a SV 14? SIM, desde que estejam presentes os requisitos positivo e negativo.
a) Requisito positivo: o acesso deve abranger somente documentos em que o requerente é de fato mencionado
como tendo praticado crime (o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade criminal do requerente); e
b) Requisito negativo: o ato de colaboração não se deve referir a diligência em andamento (devem ser excluídos
os atos investigativos e diligências que ainda se encontram em andamento e não foram consubstanciados e
relatados no inquérito ou na ação penal em tramitação). STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/5/2020 (Info 978).

A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao avistar
a polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem
o seu consentimento ou sem determinação judicial. STJ. 5ª Turma. RHC 89853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 18/02/2020 (Info 666). STJ. 6ª Turma. RHC 83501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018
(Info 623).

O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o
incriminem, desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa ser
prejudicada. STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

5 – CIVIL

• DIREITOS DA PERSONALIDADE

Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a depender das
circunstâncias, especialmente quando se trata de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo
público, há julgados do STJ em que se admite o consentimento presumível, o qual deve ser analisado com
extrema cautela e interpretado de forma restrita e excepcional. De um lado, o uso da imagem da torcida - em
que aparecem vários dos seus integrantes - associada à partida de futebol, é ato plenamente esperado pelos
torcedores, porque costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado, quem comparece a um jogo esportivo não
tem a expectativa de que sua imagem seja explorada comercialmente, associada à propaganda de um produto
ou serviço, porque, nesse caso, o uso não decorre diretamente da existência do espetáculo. A imagem é a
emanação de uma pessoa, a forma com a qual ela se projeta, se identifica e se individualiza no meio social. Não
há violação ao direito à imagem se a divulgação ocorrida não configura projeção, identificação e individualização
da pessoa nela representada. No caso concreto, o autor não autorizou ainda que tacitamente a divulgação de
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sua imagem em campanha publicitária de automóvel. Ocorre que, pelas circunstâncias, não há que se falar em
utilização abusiva da imagem, tampouco em dano moral porque o vídeo divulgado não destaca a sua imagem,
mostrando o autor durante poucos segundos inserido na torcida, juntamente com vários outros torcedores. STJ.
3ª Turma. REsp 1772593-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2020 (Info 674).

Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de Letícia em que ela aparece
de biquini, em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto. Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma
de vingança, publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as publicações por meio
dos canais disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando
que não são fotografias pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo
exposto de forma evidente. O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e o condenou a pagar
indenização por danos morais em favor da autora. A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a
“pornografia de vingança” é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa
exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de
forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis. Não há como descaracterizar um material pornográfico
apenas pela ausência de nudez total. Neste caso concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em
posições com forte apelo sexual. O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira
flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da
pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição
não autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade. STJ. 3ª Turma. REsp
1735712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Existindo evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, incabível
o acolhimento da tese do direito ao esquecimento para proibir qualquer veiculação futura de matérias
jornalísticas relacionadas ao fato criminoso cuja pena já se encontra cumprida. O chamado direito ao
esquecimento, apesar de ser reconhecido pela jurisprudência, não possui caráter absoluto. Em caso de evidente
interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, não se pode proibir a veiculação de
matérias jornalísticas relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de censura prévia, vedada
pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp
1736803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a intimidade do atual marido
e dos filhos da condenada, pessoas que não têm relação direta com o fato, ofende o princípio da
intranscendência ou da pessoalidade da pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal.
97

Isso porque, ao expor publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime ocorrido, a
reportagem compartilhou dimensões evitáveis e indesejáveis dos efeitos da condenação então estendidas à
atual família da ex-condenada. Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião
Consultiva n. 17, de 28 de agosto de 2002 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que entende que o
melhor interesse das crianças e dos adolescentes é reconhecido como critério regente na aplicação de normas
em todos os aspectos da vida dos denominados “sujeitos em desenvolvimento”. Ademais, a exposição
jornalística da vida cotidiana dos infantes, relacionando-os, assim, ao ato criminoso, representa ofensa ao direito
ao pleno desenvolvimento de forma sadia e integral, nos termos do art. 3º do ECA e do art. 16 da Convenção
sobre os Direitos da Criança, promulgada pelo Decreto nº 99.710/90. STJ. 3ª Turma. REsp 1736803-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

• PESSOAS JURÍDICAS

Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente processual,


ressalvados os casos excepcionais. Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, não
cabe a condenação nos ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é irrelevante apurar
quem deu causa ou foi sucumbente no julgamento final do incidente. STJ. 3ª Turma. REsp 1845536-SC, Rel. Min.
Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

• BEM DE FAMÍLIA

Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº
8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se pretende
penhorar. Exemplo: João celebrou com Pedro contrato de “permuta de imóveis urbanos”. Ficou acertado que
João transmitiria a propriedade de sua casa para Pedro e, em troca, Pedro faria a transferência de seu
apartamento a João. Ficou consignado que cada parte iria transmitir o imóvel sem quaisquer dívidas tributárias.
Depois da permuta e da transferência da posse, Pedro constatou que a casa cedida por João possuía débitos de
IPTU. Para regularizar a situação, Pedro quitou essas dívidas. Em seguida, Pedro ajuizou ação contra João
pedindo o ressarcimento desses valores considerando que houve um descumprimento do contrato neste ponto.
O pedido foi julgado procedente. No cumprimento de sentença, Pedro pediu a penhora do apartamento que,
depois da permuta, passou a pertencer a João e que é seu bem de família. Essa penhora não pode ser deferida
porque não se enquadra no inciso IV do art. 3º da Lei: Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer
processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: IV - para
cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; Pode-
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se apontar três argumentos principais: • A dívida era referente a outro imóvel (e não ao que se pretende
penhorar). • Não se está cobrando um imposto devido em função do imóvel; o que se está pleiteando é o
ressarcimento decorrente de inadimplemento contratual. • As hipóteses de exceção à regra da
impenhorabilidade do bem de família são taxativas, não comportando interpretação extensiva. STJ. 3ª Turma.
REsp 1332071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

• OBRIGAÇÕES

A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil é
excepcional e deve ser interpretada restritivamente. Apenas às instituições financeiras, submetidas à regulação,
controle e fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal. A previsão
do art. 2º da Lei nº 6.463/77 faz referência a um sistema obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a
prestação dependia da atuação do varejista como instituição financeira e no qual o controle dos juros estava
sujeito ao escrutínio dos próprios consumidores e à regulação e fiscalização do Ministério da Fazenda. O art. 2º
da Lei 6.463/77 não possui mais suporte fático apto a sua incidência, sendo, portanto, ineficaz, não podendo ser
interpretado extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e não
autorizando a cobrança de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita. STJ. 3ª Turma. REsp 1720656-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os
contratos em que o pagamento é diferido em parcelas. O objetivo de fazer isso é o de diminuir a oneração do
devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o
valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp
1843073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020 (Info 669).

• RESPONSABILIDADE CIVIL

Caso concreto: houve uma explosão elétrica no vagão de trem durante o transporte, o que gerou
tumulto e pânico entre os passageiros. Essa explosão decorreu de ato de vandalismo. Mesmo que o dano tenha
sido decorrente de uma conduta de terceiro, persiste a responsabilidade da concessionária. Isso porque a
conduta do terceiro, neste caso, está inserida no risco do transportador, relacionando-se com a sua atividade.
Logo, configura o chamado fortuito interno, que não é capaz de excluir a responsabilidade. O contrato de
transporte de passageiros envolve a chamada cláusula de incolumidade, segundo a qual o transportador deve
empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para preservar a integridade física do passageiro,
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contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem. Assim, o ato de
vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui a responsabilidade da
concessionária/transportadora, pois cabe a ela cumprir protocolos de atuação para evitar tumulto, pânico e
submissão dos passageiros a mais situações de perigo. STJ. 3ª Turma. REsp 1786722-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

A cobertura do seguro obrigatório do DPVAT não está condicionada à caracterização de acidente de


trânsito, mas sim, à ocorrência de dano pessoal causado por veículo automotor de via terrestre, ou por sua
carga, a pessoas transportadas ou não, nos exatos termos do art. 2º da Lei 6.194/74. Assim, a caracterização do
infortúnio como acidente de trabalho não impede, necessariamente, que esse também seja considerado como
um acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo seguro DPVAT. STJ. 3ª Turma. AgInt no
REsp 1844330/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2020.

Em regra, a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo extrajudicial deve ser presumida
válida e eficaz, não se autorizando o ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias anteriormente
aceitas e recebidas. Existem, contudo, exceções a essa regra. O curto espaço de tempo entre o acidente e a
assinatura do acordo e desconhecimento da integralidade dos danos constitui exceção à regra de que a quitação
plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida. Caso
concreto: o acidente de trânsito foi em 20/04/2015; o acordo foi celebrado em 08/05/2015, ou seja, em data
muito próxima à do sinistro; nessa época, a autora ainda não tinha conhecimento da integralidade do prejuízo
que havia sofrido; após a assinatura do termo, a parte tomou ciência de que necessitaria de amplo tratamento
dentário, razão pela qual ajuizou ação cobrando o custo disso e que não estava coberto pelo acordo. STJ. 4ª
Turma. AgInt no REsp 1833847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal,
sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de
trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza,
apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao trabalhador ônus maior
do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação penal não fulmina o interesse
processual no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato. STJ. 3ª Turma.
REsp 1802170-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).
100

• CONTRATOS

O art. 26 da Lei nº 8.177/91 é inconstitucional porque permite a incidência da TR em substituição ao


IPC nos contratos celebrados antes do início de sua vigência, o que se afigura incompatível com a garantia
fundamental de proteção ao ato jurídico perfeito, previsto no inciso XXXVI do art. 5º da Constituição Federal.
Art. 5º (...) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. STF. Plenário.
ADI 3005/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1/7/2020 (Info 984).

Os vícios estruturais de construção estão cobertos pelo seguro habitacional obrigatório vinculado ao
crédito imobiliário concedido pelo Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ainda que só se revelem depois da
extinção do contrato. No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que
integra a política nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas
classes de menor renda da população. Trata-se, portanto, de contrato obrigatório que visa à proteção da família
e à salvaguarda do imóvel que garante o respectivo financiamento imobiliário, resguardando, assim, os recursos
públicos direcionados à manutenção do sistema. A partir dessa perspectiva, infere-se que uma das justas
expectativas do segurado, ao aderir ao seguro habitacional obrigatório para aquisição da casa própria pelo SFH,
é a de receber o bem imóvel próprio e adequado ao uso a que se destina. E a essa expectativa legítima de
garantia corresponde a de ser devidamente indenizado pelos prejuízos suportados em decorrência de danos
originados na vigência do contrato e geradores dos riscos cobertos pela seguradora, segundo o previsto na
apólice, como razoavelmente se pressupõe ocorrer com os vícios estruturais de construção. STJ. 2ª Seção. REsp
1804965-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/05/2020 (Info 672).

Antes que o locador ajuíze ação de despejo por denúncia vazia em caso de locação por prazo
indeterminado, é obrigatório que ele faça comunicação dirigida ao locatário manifestando sua intenção na
retomada do imóvel, nos termos do art. 46, § 2º, da Lei nº 8.245/91: Art. 46 (...) § 2º Ocorrendo a prorrogação,
o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupação.
Isso é chamado de notificação premonitória. A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o
locatário seja surpreendido pelo ajuizamento da ação de despejo, o que ainda lhe poderá acarretar o pagamento
dos ônus sucumbenciais. Ao ser comunicado, ele poderá procurar outro imóvel onde possa se instalar. Caso a
ação de despejo seja ajuizada sem essa prévia notificação, o processo deverá ser extinto sem a resolução do
mérito, por falta de condição essencial ao seu normal desenvolvimento. Exceção: é permitido ao locador ajuizar
diretamente a ação de despejo, dispensando a notificação prévia, desde que o ajuizamento ocorra nos 30 dias
101

seguintes ao termo final do contrato. STJ. 3ª Turma. REsp 1812465/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
12/05/2020 (Info 672).

O STJ possui enunciado afirmando que: “é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados
em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro”
(Súmula 84-STJ). Esse entendimento se aplica mesmo que o imóvel, adquirido na planta, ainda esteja em fase
de construção. Assim, a Súmula 84 do STJ pode ser aplicada mesmo quando ainda não houve a entrega das
chaves ao promitente comprador. STJ. 3ª Turma. REsp 1861025/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
12/05/2020 (Info 672).

Exemplo hipotético: Jasmim Ltda. ajuizou ação de adjudicação compulsória contra Dimensão Ltda.
alegando em síntese que celebrou contrato de promessa de compra e venda de um lote que se encontrava em
fase de desmembramento perante a “Prefeitura” (Município). Afirma que, apesar de celebrado o negócio, a ré
ainda não outorgou a escritura definitiva do imóvel. A requerida defendeu-se afirmando que não outorgou a
escritura pública porque ainda não houve o desdobro do imóvel prometido à venda e que isso seria obstáculo à
procedência da adjudicação compulsória. Em um caso semelhante a esse, o STJ decidiu que não é possível a
procedência da ação de adjudicação compulsória. O art. 37 da Lei nº 6.766/79 (Lei de parcelamento do solo
urbano) afirma que “é vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento ou desmembramento não
registrado”. Além disso, segundo o regramento previsto no Decreto-Lei nº 58/1937, julgada procedente a ação
de adjudicação compulsória, a sentença valerá como título para transcrição no cartório de registro de imóveis
respectivo. Assim, se o imóvel de cuja escritura se exige a outorga não tem matrícula própria, individualizada no
registro de imóveis, eventual sentença que substitua a declaração de vontade do promitente vendedor torna-
se inócua, considerando que não será possível a sua transcrição. A existência de imóvel registrável (imóvel que
pode ser levado a registro) é condição específica da ação de adjudicação compulsória, de modo que a averbação
do desmembramento de imóvel urbano, devidamente aprovado pelo Município, é formalidade que antecede
necessariamente o registro de área fracionada. STJ. 3ª Turma. REsp 1851104-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Nos contratos de prestação de serviços advocatícios com cláusula de remuneração exclusivamente por
verbas sucumbenciais, a revogação unilateral do mandato pelo mandante acarreta a remuneração do advogado
pelo trabalho desempenhado até o momento da rescisão contratual. Nessas hipóteses, o risco assumido pelo
advogado é calculado com base na probabilidade de êxito da pretensão de seu cliente, sendo esse o limite do
consentimento das partes no momento da contratação. Não é possível que o risco assumido pelo causídico
venha a abarcar a hipótese de o contratante, por ato próprio e sem uma justa causa, anular o seu direito à
102

remuneração, rescindindo o contrato. O cliente pode, sem dúvida, exercer o direito de não mais ser
representado pelo advogado antes contratado, mas deve, por outro lado, assumir o ônus de remunerá-lo pelo
trabalho desempenhado até aquele momento, sob pena de ser desconsiderado todo o trabalho desempenhado.
Desse modo, é cabível o arbitramento judicial da verba honorária, levando em consideração as atividades
desenvolvidas pelo causídico. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1560257-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 20/04/2020 (Info 670).

É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do


alienante expressamente houverem consentido (art. 496 do CC). O prazo para anular a venda direta entre
ascendente e descendente é de 2 anos, a contar da conclusão do ato (art. 179 do CC). A venda de bem entre
ascendente e descendente, por meio de interposta pessoa, também é ato jurídico anulável, devendo ser
aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos previsto no art. 179 do CC. Isso porque a venda por interposta
pessoa não é outra coisa que não a tentativa reprovável de contornar-se a exigência da concordância dos demais
descendentes e também do cônjuge. Em outras palavras, é apenas uma tentativa de se eximir da regra do art.
496 do CC, razão pela qual deverá ser aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos. STJ. 3ª Turma. REsp
1679501-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

O arrendante é responsável pelo pagamento das despesas de remoção e estadia de veículo em pátio
de propriedade privada quando a apreensão do bem ocorreu por ordem judicial no bojo de ação de reintegração
de posse por ele ajuizada em desfavor do arrendatário que se tornou inadimplente. Enquanto perdurar o
arrendamento mercantil, o arrendante é o seu proprietário. As despesas decorrentes do depósito do veículo em
pátio privado referem-se ao próprio bem, ou seja, constituem obrigações propter rem. Isso significa dizer que
as despesas com a remoção e a guarda dos veículos objeto de contrato de arrendamento mercantil estão
vinculadas ao bem e a seu proprietário, isto é, ao arrendante. Assim, o arrendante é o responsável final pelo
pagamento das despesas com a estadia do automóvel junto a pátio privado, pois permanece na propriedade do
bem alienado enquanto perdurar o pacto de arrendamento mercantil. STJ. 3ª Turma. REsp 1828147-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 665). Quem deverá pagar as despesas com a remoção e estadia
do carro apreendido? ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: 1) Veículo apreendido em ação de busca e apreensão por
inadimplemento contratual: o credor-fiduciário (ex: banco) (REsp 1657752/SP) 2) Veículo apreendido por
infração de trânsito: o credor-fiduciário (AgInt no AREsp 1.210.496/SP). ARRENDAMENTO MERCANTIL: 1)
Veículo apreendido em ação de reintegração de posse por inadimplemento contratual: o arrendante (ex: banco)
(REsp 1.828.147/SP) 2) Veículo apreendido por infração de trânsito: o arrendatário. Fundamento: art. 4º da
Resolução nº 149/2003 do Contran (REsp 1.114.406/SP)
103

É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão universal de bens, na medida em
que a hipotética doação resultaria no retorno do bem doado ao patrimônio comum amealhado pelo casal diante
da comunicabilidade de bens no regime e do exercício comum da copropriedade e da composse. STJ. 3ª Turma.
REsp 1787027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 670).

O Código Civil de 1916 previa que “o reconhecimento da letra e firma no instrumento particular é
condição essencial à sua validade, em relação a terceiros” (art. 1.289, §4º). Embora o respeito à forma prescrita
em lei tenha relevância, a jurisprudência do STJ admite, ainda que excepcionalmente, a relativização de vícios
formais, especialmente aqueles que se podem reputar como menos graves e que sejam insuficientes para
comprometer a substância do ato negocial. Assim, em um caso ocorrido na vigência do CC/1916, o STJ afirmou
que, embora não tenha havido o reconhecimento de firma da assinatura do mandante do contrato de mandato,
não deveria ser reconhecida a nulidade do mandato considerando que qualquer dúvida acerca da autenticidade
do documento foi dirimida pela prova pericial grafotécnica. Vale ressaltar que o Código Civil de 2002 não traz
uma regra tão rígida quanto a do diploma passado e prevê apenas que “o terceiro com quem o mandatário
tratar poderá exigir que a procuração traga a firma reconhecida” (art. 654, § 2º, do CC/2002). STJ. 3ª Turma.
REsp 1787027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 670).

A ação de despejo não exige a formação de litisconsórcio ativo necessário. STJ. 3ª Turma. REsp
1737476-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

O art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69 foi recepcionado pela Constituição Federal, sendo igualmente
válidas as sucessivas alterações efetuadas no dispositivo. STF. Plenário. RE 382928, Rel. Min. Marco Aurélio,
Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/09/2020 (Info 995 – clipping).

O prazo de cinco dias para pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do Decreto-
Lei nº 911/1969, deve ser considerado de direito material, não se sujeitando, assim, à contagem em dias úteis,
prevista no art. 219, caput, do CPC/2015. STJ. 3ª Turma. REsp 1770863-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
09/06/2020 (Info 673).

Em caso de mora do mutuário, o credor mutuante poderá: 1) ingressar com ação de busca e apreensão
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69); ou 2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º e
5º do DL 911/69). Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no cumprimento das obrigações
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contratuais pelo devedor, o credor pode optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução. Vale
ressaltar que o credor fiduciário, na hipótese de inadimplemento do contrato, não é obrigado a promover a
venda do bem alienado fiduciariamente, antes de proceder à inscrição dos nomes dos devedores em cadastros
de proteção ao crédito. Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação de seu crédito,
não há ilicitude na inscrição do nome do devedor e seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito, ante o
incontroverso inadimplemento da obrigação. STJ. 3ª Turma. REsp 1833824-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).

Nos contratos de financiamento com cláusula de alienação fiduciária, quando houver a conversão da
ação de busca e apreensão em ação de execução nos moldes do art. 4º do Decreto-Lei nº 911/1969, o débito
exequendo deve representar o valor da integralidade da dívida (soma das parcelas vencidas e vincendas do
contrato). STJ. 3ª Turma. REsp 1814200-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

• CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL

Exemplo: João e Regina eram casados. João era sócio de uma sociedade empresária. Houve separação
de fato. João continuou administrando a sociedade empresária por mais algum tempo, até que houve o
encerramento das atividades da empresa. No momento do divórcio, foi reconhecido que Regina tinha direito à
metade do valor integralizado das cotas empresariais que pertenciam a João. Considerando que houve o
encerramento das atividades da empresa após a separação do então casal o objeto partilhado consiste, em
última instância, no próprio capital investido na sociedade à época do relacionamento, devidamente atualizado.
Considerando que a empresa encerrou suas atividades e que ela ficou sendo administrada exclusivamente por
João, não se pode impor a Regina o ônus de arcar com os prejuízos decorrentes dessa administração exclusiva.
Logo, Regina tem direito de receber o valor que as cotas tinham acrescido de juros e correção monetária. Aplica-
se ao caso o art. 389 do Código Civil: Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado. STJ. 3ª Turma. REsp 1689220-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info
672).

• PARENTESCO

Exemplo hipotético: João tinha três filhos registrados em seu nome (Antônio, Bento e Carlos). João
ajuizou ação negatória de filiação contra Carlos. A sentença julgou o pedido procedente declarando que João
não era pai de Carlos. Ocorre que essa sentença não foi averbada no registro civil de Carlos. Não se tomou essa
105

providência. Assim, em todos os assentos civis de Carlos continuou constando que João seria seu pai. Mais de
30 anos depois do trânsito em julgado, João faleceu. Carlos habilitou-se no processo de inventário utilizando sua
certidão de nascimento, na qual ainda consta que João seria seu pai. Os herdeiros de João não concordaram e
pediram ao juízo onde tramitou a ação negatória que expedisse o mandado de averbação. O juízo acatou o
pedido e, contra esta decisão, Carlos impetrou mandado de segurança alegando que com o falecimento de João
a averbação da sentença não mais poderia ser feita, porque seria um direito personalíssimo do falecido. Além
disso, afirmou que houve decadência do direito de fazer a averbação. Em um caso semelhante a esse, o STJ não
concordou com os argumentos do impetrante. A averbação da sentença, neste caso, constitui consequência
legal obrigatória, destinada a conferir publicidade e segurança jurídica ao desfecho que restou declarado e
reconhecido judicialmente. Isso se dá, inclusive, normalmente, de ofício. Não existe nenhuma faculdade
conferida às partes envolvidas a respeito de proceder ou não à referida averbação, como se tal providência
constituísse, em si, um direito personalíssimo. Não se pode confundir o exercício do direito subjetivo de ação de
caráter personalíssimo, como o é a pretensão de desconstituir estado de filiação, cuja prerrogativa é exclusiva
das pessoas insertas nesse vínculo jurídico (pai/mãe e filho), com o ato acessório da averbação da sentença de
procedência transitada em julgado, que se afigura como mera consequência legal obrigatória. Mesmo que essa
providência (averbação) não tenha sido feita na época oportuna, ela poderá ser realizada depois, não se
submetendo a prazo decadencial ou prescricional. STJ. 3ª Turma. RMS 56941/DF, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o art. 139,
IV, do CPC, com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para exame de DNA,
especialmente quando a presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar insuficiente para resolver a
controvérsia. STJ. 2ª Seção. Rcl 37521-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/05/2020 (Info 673).

A representação legal do filho menor é uma das vertentes do poder familiar e deverá ser exercida, em
regra, pelos pais, conforme prevê o art. 1.634, VII, do Código Civil. Assim, somente em algumas hipóteses é que
o menor poderá deixar de ser representado pelos seus pais. O fato de ter sido concedida a guarda do menor
para uma outra pessoa que não compõe o núcleo familiar não significa que tenha havido a destituição
automática do poder familiar. Logo, mesmo em tais casos, a competência para representar este menor em juízo
é do pai ou da mãe (e não da guardiã). STJ. 3ª Turma. REsp 1761274-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
04/02/2020 (Info 664).

• ALIMENTOS
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A redução de pensão alimentícia a filho que alcançou a maioridade não é automática, dependendo da
prova da redução das suas necessidades ou da diminuição das possibilidades do seu genitor. STJ. 4ª Turma. AgInt
no REsp 1852422/MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/06/2020. A obrigação alimentar do pai em relação
aos filhos não cessa automaticamente com o advento da maioridade, a partir da qual subsiste o dever de
assistência fundada no parentesco sanguíneo, devendo ser dada a oportunidade ao alimentando de comprovar
a impossibilidade de prover a própria subsistência ou a necessidade da pensão por frequentar curso técnico ou
universitário. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp n. 970461/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
27/2/2018. Súmula 358-STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito
à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

É irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do Código Civil). O credor pode,
contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso porque a irrenunciabilidade atinge o
direito, e não o seu exercício. STJ. 3ª Turma. REsp 1529532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
09/06/2020 (Info 673).

O alimentante não-guardião tem o direito de averiguar se os valores que paga a título de pensão
alimentícia estão sendo realmente dirigidos ao beneficiário e voltados ao pagamento de suas despesas e ao
atendimento dos seus interesses básicos fundamentais. Essa possibilidade decorre do exercício pleno do poder
familiar e tem previsão expressa no § 5º do art. 1.583 do CC: § 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que
não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores
sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em
assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus
filhos. Vale ressaltar, no entanto, que o legítimo interesse processual em ação dessa natureza é exclusivamente
a finalidade protetiva da criança ou do adolescente beneficiário dos alimentos, diante da sua possível
malversação. Esta ação não pode buscar eventual acertamento de contas, perseguições ou picuinhas com a(o)
guardiã(ao), ficando vedada a possibilidade de apuração de créditos ou preparação de revisional pois os
alimentos são irrepetíveis. STJ. 3ª Turma. REsp 1814639-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min.
Moura Ribeiro, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19? 4ª Turma do STJ e
CNJ: prisão domiciliar Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em
decorrência de dívidas alimentícias. O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus
desaconselha a manutenção do devedor em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso. Assim,
diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas
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autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida
alimentar em prisão domiciliar. STJ. 4ª Turma. HC 561257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info
671). 3ª Turma do STJ: suspensa Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos
devedores (e não assegurar a prisão domiciliar). Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19),
admite-se, excepcionalmente, a suspensão da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado.
Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o
mandamento legal e que fere, por vias transversas, a própria dignidade do alimentando. Por esse motivo, não é
plausível substituir o encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade da maioria da
população, isolada em prol do bem-estar de toda a coletividade. A excepcionalidade da situação emergencial de
saúde pública permite o diferimento provisório da execução da obrigação cível enquanto pendente a pandemia.
A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar
remanesce íntegra, pois não se olvida que, afinal, também está em jogo a dignidade do alimentando, em regra,
vulnerável. STJ. 3ª Turma. HC 574495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).
Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica
da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra: Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por
dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade
das respectivas obrigações. Diante disso, a 3ª Turma do STJ também teve que se curvar ao entendimento: STJ.
3ª Turma. HC 578.282/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/08/2020. Logo, depois da Lei nº
14.010/2020, não há mais dúvidas: o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar, até 30/10/2020, é feito
exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

O dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório, devendo ser assegurado alimentos
apenas durante certo tempo, até que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com meios próprios. Assim,
ao se analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar recebendo os alimentos, deve-se examinar não apenas o
binômio necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras circunstâncias, tais como a capacidade
potencial para o trabalho e o tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido de desoneração. STJ. 3ª
Turma. REsp 1829295-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 669).

Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas denominadas diárias de viagem e tempo
de espera indenizado. STJ. 3ª Turma. REsp 1747540-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
10/03/2020 (Info 667).
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Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito do seu termo inicial, deve
prevalecer o disposto no § 2º do art. 13 da Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), segundo o qual, em qualquer
caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. Art. 13 (...) § 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados
retroagem à data da citação. Se a lei diz expressamente que “em qualquer caso” os alimentos retroagem, não
cabe ao intérprete fazer restrições onde o legislador não o fez, de modo que não há justificativa para que os
alimentos fixados em acordo celebrado em ação investigatória de paternidade não receba o mesmo tratamento,
sob o singelo argumento de que ajuste foi omisso a respeito do seu termo inicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1821107-
ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por menor, não é admissível que a concessão da
gratuidade de justiça esteja condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu representante
legal. Caso concreto: uma criança, representada por sua mãe, ingressou com execução de alimentos contra o
pai; o juiz indeferiu o pedido de gratuidade de justiça porque a mãe do autor (representante do menor) não
provou a sua insuficiência de recursos. O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual
e personalíssima. Assim, os requisitos para a concessão ou não do direito à gratuidade deverão ser preenchidos,
em regra, pela própria parte, e não pelo seu representante legal. É evidente que, em se tratando de menores
representados pelos seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos
de direitos e obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio menor. Isso não
significa, contudo, que se deva automaticamente examinar o direito à gratuidade a que poderia fazer jus o
menor à luz da situação financeira de seus pais. Assim, em se tratando de direito à gratuidade de justiça
pleiteado por menor de 18 anos, deve o juiz, inicialmente, aplicar a regra do §3º do art. 99, deferindo o benefício
em razão da presunção de sua insuficiência de recursos. Existe, todavia, a possibilidade de a outra parte
demonstrar, com base no § 2º, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, pleiteando, em
razão disso, a revogação do benefício concedido. STJ. 3ª Turma. REsp 1807216-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• SUCESSÕES

A preterição de herdeiro ou a inclusão de terceiro estranho à sucessão merecem tratamento igual,


considerando que são situações antagonicamente idênticas, submetendo-se à mesma regra prescricional
prevista no art. 177 do Código Civil de 1916, qual seja, o prazo vintenário, vigente à época da abertura da
sucessão para hipóteses de nulidade absoluta, que não convalescem. STJ. 2ª Seção. EAREsp 226991-SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info 675).
109

A cessão de direitos hereditários sobre bem singular, desde que celebrada por escritura pública e não
envolva o direito de incapazes, não é negócio jurídico nulo, tampouco inválido, ficando apenas a sua eficácia
condicionada a evento futuro e incerto, consubstanciado na efetiva atribuição do bem ao herdeiro cedente por
ocasião da partilha. Assim, aberta a sucessão, o coerdeiro pode ceder os seus direitos hereditários, bem como
o quinhão de que disponha, por escritura pública, conforme prevê o caput do art. 1.793 do Código Civil. Como
esse negócio não é nulo (tem apenas a sua eficácia suspensa), conclui-se que a cessão de direitos hereditários
sobre bem singular tem força para transmitir a posse desse bem ao cessionário. Logo, o cessionário pode tutelar
a posse sobre o bem, inclusive por meio de embargos de terceiro. Admite-se a oposição de embargos de terceiro
fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, mesmo que desprovido
do registro. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado na hipótese em que a posse é defendida com base em
instrumento público de cessão de direitos hereditários. STJ. 3ª Turma. REsp 1809548-SP, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele seja
assinado pelo testador. Vale ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que: É válido o testamento particular que, a
despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. Caso
concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico; o testamento foi lido na
presença de três testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto, que esse testamento não foi
assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física
que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a testadora colocou a sua impressão digital no
testamento; as testemunhas, ouvidas em juízo, confirmaram o cumprimento das demais formalidades e,
sobretudo, que aquela era mesmo a manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou válido o
testamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1633254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

A restituição de quantia recebida indevidamente é um dever de quem se enriqueceu sem causa


(art.884 do CC). De acordo com as alegações do ente público, a vantagem econômica foi auferida pelos herdeiros
do ex-servidor. O ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o Distrito Federal depositou
a quantia ora pleiteada considerando que estava morto (art. 6º do CC). Se o saque indevido da quantia
disponibilizada pelo Poder Público não pode ser imputado ao falecido (não foi decorrente de qualquer ato do
falecido), o espólio não pode ser obrigado a restituir. Isso porque o espólio é obrigado a cumprir as dívidas do
autor da herança por força do art. 796 do CPC/2015. Logo, se o espólio não pode ser vinculado, nem mesmo
abstratamente, ao dever de restituir, ele não pode ser considerado parte legítima nesta ação nos termos do art.
17 do CPC/2015. O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de ressarcimento de remuneração
110

indevidamente paga após a morte de ex-servidor e recebida por seus herdeiros. STJ. 2ª Turma. REsp 1805473-
DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 03/03/2020 (Info 667).

• DIREITOS REAIS

O arrendamento residencial não tem natureza jurídica de compra e venda nem de promessa de
compra e venda, não se aplicando ao arrendatário, que tem conceito definido na Lei nº 10.188/2001, as
disposições do art. 1.333 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1576651-SE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 09/06/2020 (Info 674).

O arrendamento residencial não tem natureza jurídica de compra e venda nem de promessa de
compra e venda, não se aplicando ao arrendatário, que tem conceito definido na Lei nº 10.188/2001, as
disposições do art. 1.333 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1576651-SE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 09/06/2020 (Info 674).

O art. 197, I, do Código Civil prevê que não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da
sociedade conjugal. Essa causa impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC,
embora esteja topologicamente inserida no capítulo da prescrição extintiva, também se aplica às prescrições
aquisitivas, ou seja, à usucapião. Assim, em regra, um cônjuge não poderia adquirir por meio de usucapião um
bem do outro cônjuge enquanto não houvesse a separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da
sociedade conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de usucapião (prescrição aquisitiva) por
força do art. 197, I. Ocorre que, para o STJ, a separação de fato de um casal é suficiente para cessar a causa
impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC. Logo, estando o casal separado de
fato, é possível iniciar a contagem do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel (usucapião). Desse modo, a
constância da sociedade conjugal, exigida para a incidência da causa impeditiva da prescrição extintiva ou
aquisitiva (art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas hipóteses de divórcio ou de separação judicial, mas
também na hipótese de separação de fato por longo período, tendo em vista que igualmente não subsistem,
nessa hipótese, as razões de ordem moral que justificam a existência da referida norma. STJ. 3ª Turma. REsp
1693732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

A usucapião especial urbana apresenta como requisitos a posse ininterrupta e pacífica, exercida como
dono, o decurso do prazo de cinco anos, a dimensão da área (250 m² para a modalidade individual e área
superior a esta, na forma coletiva), a moradia e o fato de não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
O uso misto da área a ser adquirida por meio de usucapião especial urbana não impede seu reconhecimento
111

judicial, se a porção utilizada comercialmente é destinada à obtenção do sustento do usucapiente e de sua


família. É necessário que a área pleiteada seja utilizada para a moradia do requerente ou de sua família, mas a
lei não proíbe que o autor a utilize também para seu sustento. Assim, o fato de o autor da ação de usucapião
utilizar uma parte do imóvel para uma atividade comercial que serve ao sustento da família domiciliada no
imóvel não inviabiliza a prescrição aquisitiva buscada. STJ. 3ª Turma. REsp 1777404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).

O imóvel gerador dos débitos condominiais pode ser objeto de penhora em cumprimento de sentença,
ainda que somente o ex-companheiro tenha figurado no polo passivo da ação de conhecimento. STJ. 3ª Turma.
REsp 1683419-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

Os condomínios são entes despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas,
tampouco das partes comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a
ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo o vínculo entre
eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à administração da propriedade comum.
Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio dotado
de honra objetiva. Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a comunidade representa, em
verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem goza de reputação são os
condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado. Diferentemente do que ocorre
com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa será suportada, ao fim e ao cabo, pelos
próprios condôminos, a quem incumbe contribuir para todas as despesas condominiais, e/ou pelos respectivos
proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado imobiliário. Assim, o condomínio, por
ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode sofrer dano moral. STJ. 3ª Turma. REsp
1736593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável para o ajuizamento da ação de


usucapião. Mesmo que estejam preenchidos os requisitos para a usucapião extrajudicial, o interessado pode
livremente optar pela propositura de ação judicial. O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei de
Registros Públicos, que a existência da possibilidade de usucapião extrajudicial não traz prejuízo à busca da
usucapião na via jurisdicional: Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1824133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
112

Caso concreto: a convenção de condomínio previu que a construtora – proprietária das unidades
imobiliárias ainda não comercializadas – precisaria pagar apenas 30% do valor da taxa condominial por unidade.
Assim, enquanto os demais condôminos pagariam 100% da quota condominial, a construtora teria que pagar
apenas 30% por unidade. O STJ considerou que essa cláusula é nula. A convenção outorgada pela
construtora/incorporadora não pode estabelecer benefício de caráter subjetivo a seu favor com a finalidade de
reduzir ou isentar do pagamento da taxa condominial. A taxa condominial é fixada de acordo com a previsão
orçamentária de receitas e de despesas, bem como para constituir o fundo de reserva com a finalidade de cobrir
eventuais gastos de emergência. A redução ou isenção da quota condominial a favor de um ou vários
condôminos implica oneração aos demais, com evidente violação da regra da proporcionalidade prevista no
inciso I do art. 1.334 do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1816039-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 04/02/2020 (Info 664).

6 – PROCESSO CIVIL

• COMPETÊNCIA

O STF conferia interpretação restritiva ao art. 102, I, “r”, da CF/88 e afirmava que ele (STF) somente
seria competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP figurassem no polo passivo. Seria o caso
de mandados de segurança, habeas corpus e habeas data contra os Conselhos. No caso de serem propostas
ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, a competência seria da Justiça Federal de 1ª instância, com
base no art. 109, I, da CF/88. Houve, no entanto, mudança de entendimento. O que prevalece agora é o seguinte:
Nos termos do artigo 102, inciso I, alínea ‘r’, da Constituição Federal, é competência exclusiva do Su-premo
Tribunal Federal processar e julgar originariamente todas as decisões do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público proferidas nos exercício de suas competências constitucionais
respectivamente previstas nos artigos 103-B, parágrafo 4º, e 130-A, parágrafo 2º, da Constituição Federal. STF.
Plenário. ADI 4412, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020.

Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que envolvam a
interpretação de normas relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do potencial abalo ao pacto
federativo. STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping).

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88,
ainda que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a
absorção de pessoal pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas
113

devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI,
rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de


seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE
960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

• PROCEDIMENTO

É assegurada a quem foi concedido os benefícios da gratuidade de justiça a suspensão da exigibilidade


dos honorários e custas processuais, conforme o art. 98, § 3º, do CPC/2015. STJ.1ª Turma. AgInt no REsp
1835957/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 15/06/2020. STJ.4ª Turma. AgInt no AREsp 1310070/MS,
Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 04/05/2020. STJ.2ª Turma. REsp 1738136/PE, Rel. Ministro Herman
Benjamin, julgado em 21/06/2018

• PROVAS

Do juízo deprecante. Compete ao juízo deprecante a degravação de depoimento colhido nos autos de
carta precatória por sistema audiovisual na vigência do CPC/2015. Na vigência do CPC/2015, a colheita de prova
testemunhal por gravação passou a ser um método convencional (comum; regra geral), ficando a degravação
prevista apenas para hipóteses excepcionais em que, em autos físicos, for interposto recurso, sendo impossível
o envio da documentação eletrônica. Em caso de precatória inquiritória, a gravação dos depoimentos colhidos
em audiência pelo método audiovisual é suficiente para a devolução da carta adequadamente cumprida. Na
hipótese excepcional de se mostrar necessária a degravação, deverá ser realizada pelo juízo deprecante ou pela
parte interessada. STJ. 2ª Seção. CC 150252/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info
974).

Caso a testemunha tenha sido ouvida no juízo deprecado, pelo método audiovisual, de quem é a
responsabilidade pela degravação do depoimento? Do juízo deprecante. Compete ao juízo deprecante a
degravação de depoimento colhido nos autos de carta precatória por sistema audiovisual na vigência do
CPC/2015. O cumprimento de carta precatória é composto por diversos atos, os quais possuem suficiente
autonomia para não serem considerados um ato único, mas sim como vários procedimentos isolados, aos quais
é possível a aplicação de norma processual superveniente. Na vigência do CPC/2015, a colheita de prova
114

testemunhal por gravação passou a ser um método convencional, ficando a degravação prevista apenas para
hipóteses excepcionais em que, em autos físicos, for interposto recurso, sendo impossível o envio da
documentação eletrônica. Em caso de precatória inquiritória, a gravação dos depoimentos colhidos em
audiência pelo método audiovisual é suficiente para a devolução da carta adequadamente cumprida. Na
hipótese excepcional de se mostrar necessária a degravação, deverá ser realizada pelo juízo deprecante ou pela
parte interessada. STJ. 1ª Seção. CC 126.770-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 8/5/2013. STJ. 2ª Seção. CC
150.252/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020.

• JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA

Nos casos em que o acolhimento da pretensão não tenha correlação com o valor da causa ou não se
observe proveito econômico com a extinção sem resolução do mérito da execução fiscal, os honorários de
sucumbência devem ser arbitrados por apreciação equitativa, com observância dos critérios dos §§ 2º e 8º do
art. 85 do CPC/2015. Caso concreto: o Município ajuizou execução fiscal contra a empresa; a executada informou
que o débito cobrado está sendo discutido em ação declaratória em tramitação, na qual foi proferida sentença
e acórdão suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, estando aguardando apenas o julgamento de
recurso extraordinário; diante disso, o Município pediu a desistência da execução, com a extinção do processo
sem julgamento do mérito. Nessa situação, os honorários advocatícios deverão ser fixados, não com base no §
3º do art. 85, mas sim com fundamento no § 8º. Isso porque a extinção da execução fiscal não acarreta impacto
direto na questão de fundo, vez que o crédito tributário é ainda objeto de controvérsia judicial na outra ação.
Art. 85 (...) § 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor
da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto
nos incisos do § 2º. STJ. 1ª Turma. REsp 1776512-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info
672).

• AÇÃO RESCISÓRIA

A ação rescisória não é sucedânea (“substituta”) de embargos de declaração. Assim, não deve ser
julgada procedente ação rescisória na qual a parte alega que a decisão transitada em julgado incidiu em suposto
“erro de fato” e que não apreciou petição de renúncia constante dos autos. Se a decisão incidiu em “erro de
fato” porque não apreciou a renúncia, significa que houve omissão e isso deveria ter sido questionado pela parte
por meio de embargos de declaração. Se foi verificada a ocorrência de omissão, não é possível que a parte deixe
de embargar para, após o trânsito em julgado, pleitear a desconstituição do julgado por meio de ação rescisória.
Admitir o contrário poderia constituir precedente no sentido de que toda omissão poderia ser caracterizada
115

como erro de fato. Vale ressaltar, ainda, que não havia nos autos procuração com poderes específicos para a
desistência do recurso ou a renúncia ao direito em que se funda a ação. STF. Plenário. AR 2107/SP, rel. orig. Min.
Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16/9/2020 (Info 991).

A jurisprudência do STJ tem entendido ser desnecessária a inclusão dos causídicos no polo passivo de
demandas rescisórias, quando os próprios honorários de sucumbência não são o objeto do pedido rescindendo,
pois os advogados não teriam vínculo jurídico com o objeto litigioso, mas apenas interesse reflexo na
manutenção do julgado. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1645421/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
22/10/2019. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1845303/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
29/06/2020. O advogado em favor de quem foram arbitrados honorários sucumbenciais na ação rescindenda é
parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação rescisória. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1759374/RS,
Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/10/2019. O advogado não é parte legítima para figurar no polo
passivo de ação rescisória ajuizada sob fundamentos que só alcançam a relação jurídica formada entre as partes
da demanda originária. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1717140/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
18/03/2019.

Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal constituem ato unilateral de


vontade do recorrente que independe da aquiescência da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando
o trânsito em julgado. Desse modo, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal determinam, em
regra, o trânsito em julgado da decisão impugnada, se não houver recurso pendente de julgamento da outra
parte. Contudo, se ainda não houve homologação judicial, o princípio do contraditório impede que o trânsito
em julgado seja reconhecido antes da ciência da parte contrária. Não se pode permitir a abertura do prazo
decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte interessada no
fato processual que lhe dá origem. Nesse contexto, deve ser contado o prazo decadencial da data da intimação
da parte contrária, após o pedido de renúncia. STJ. 1ª Turma. REsp 1344716-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).

Na ação rescisória fundada em literal violação de lei, não cabe o reexame de toda a decisão
rescindenda, para verificar se nela haveria outras violações à lei não alegadas pelo demandante, mesmo que se
trate de questão de ordem pública. Quando o autor da rescisória propõe a ação com fundamento na hipótese
de violação literal à disposição de lei - art. 485, V, CPC/1973 (art. 966, V, CPC/2015) – ele tem o ônus de indicar
o(s) dispositivo(s) que foi(foram) violado(s). O Tribunal que julgará a rescisória só irá examinar se houve violação
aos dispositivos indicados, não podendo reexaminar toda a decisão rescindenda, para verificar se nela haveria
outras violações a literal disposição de lei não alegadas pelo demandante, nem mesmo ao argumento de se
116

tratar de matéria da ordem pública.” (YARSHELL, Flávio. Ação rescisória: juízos rescindente e rescisório. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 151). Desse modo, na ação rescisória fundada no art. 485, V, CPC/1973 (art. 966, V,
CPC/2015), o juízo rescisdente do Tribunal se encontra vinculado aos dispositivos de lei apontados pelo autor
como literalmente violados, não podendo haver exame de matéria estranha à apontada na inicial, mesmo que
o tema possua a natureza de questão de ordem pública, sob pena de transformar a ação rescisória em um
recurso, natureza jurídica que ela não possui. STJ. 3ª Turma. REsp 1663326-RN, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 11/02/2020 (Info 665).

• RECURSOS

Inviabiliza o recurso extraordinário a necessidade de análise de normas infraconstitucionais para


chegar-se à conclusão contrária à adotada pelo tribunal de origem. No caso concreto, o juiz e o Tribunal de
Justiça negaram à empresa (revendedora de combustíveis) o direito de obter o aproveitamento do ICMS
recolhido a mais. A empresa interpôs recurso extraordinário alegando violação ao art. 150, § 7º da CF/88 (que
trata sobre substituição tributária): § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição
de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente,
assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.
Ocorre que a decisão do Tribunal de origem (TJ) foi baseada em lei estadual que exige que o contribuinte
substituído apresente requerimento administrativo ao Fisco e cumpra determinado procedimento para obter o
aproveitamento do ICMS recolhido a mais, em razão da venda de mercadoria por preço inferior ao presumido,
ou seja, no regime de substituição tributária para frente. Desse modo, o STF entendeu que não cabia recurso
extraordinário porque a decisão do Tribunal de origem foi baseada na inobservância da norma infralegal. Logo,
incide a Súmula 280 do STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário. STF. 2ª Turma.ARE
1184956 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/9/2020 (Info 992).

Admite-se a conversão do embargos de declaração em agravo interno quando houver nítido pleito de
reforma do julgamento, em atenção aos princípios da fungibilidade recursal e da instrumentalidade das formas,
com base no artigo 1024, §3º, do CPC. STJ. Corte Especial. EDcl no RE nos EDcl no AgInt no AREsp 926.632-PB,
Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/05/2020. STF. 1ª Turma. Rcl-ED-ED 39.695-MA, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 24/08/2020.

Consideram-se prequestionados os fundamentos adotados nas razões de apelação e desprezados no


julgamento do respectivo recurso, desde que, interposto recurso especial, sejam reiterados nas contrarrazões
117

da parte vencedora. STJ. Corte Especial. EAREsp 227767-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020
(Info 674).

São cabíveis embargos de declaração, com efeitos infringentes, para que a decisão embargada seja
reajustada de acordo com a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o Superior
Tribunal de Justiça adotarem. STF. 1ª Turma. Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

A existência de feriado, de recesso forense ou ponto facultativo local que ocasione a suspensão do
prazo processual necessita de comprovação por documento idôneo, ou seja, cópia da lei, ato normativo ou
certidão exarada por servidor habilitado. A simples juntada de ato emanado pelo Poder Executivo Estadual, lei
e decreto estaduais, determinando ponto facultativo nas repartições públicas estaduais, por si só, não comprova
a inexistência de expediente forense para aferição da tempestividade do recurso, em razão da desvinculação
administrativa e da separação entre os Poderes. Desse modo, caberia à recorrente, no momento da interposição
recursal, fazer a juntada de documento idôneo, o qual, no caso, consistia no inteiro teor do Aviso do tribunal
estadual, a fim de vincular a decretação do feriado nas repartições públicas estaduais com a suspensão dos
prazos pela Corte de Justiça. STJ. 3ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1510568-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 23/03/2020 (Info 669).

A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de
conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de instrumento, não se
inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II, do CPC. Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso de
apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1762957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

A tempestividade recursal pode ser aferida, excepcionalmente, por meio de informação constante em
andamento processual disponibilizado no sítio eletrônico, quando informação equivocadamente disponibilizada
pelo Tribunal de origem induz a parte em erro. Caso concreto: o TJ/MS negou provimento a uma apelação que
havia sido interposta pela parte; na movimentação processual existente no site do TJ/MS, constou a informação
de que o vencimento do prazo recursal para a interposição de recurso ao STJ contra o acórdão do TJ se daria no
dia 10/12; assim, no dia 10/12, a parte apresentou recurso especial contra o acórdão do TJ; ocorre que essa
informação estava errada; o termo final do prazo era dia 09/12; isso significa que parte interpôs o recurso
especial intempestivamente; vale ressaltar, contudo, que a parte foi induzida em erro pela informação constante
no sítio oficial do TJ; o STJ, excepcionalmente, considerou tempestivo o recurso. STJ. Corte Especial. EAREsp
118

688615-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 04/03/2020 (Info 666). Obs: os fatos que foram
analisados pelo STJ ocorreram antes do CPC/2015. Vale ressaltar que o novo diploma reforça a conclusão a que
chegou o STJ porque o art. 197 previu o seguinte: Art. 197. Os tribunais divulgarão as informações constantes
de seu sistema de automação em página própria na rede mundial de computadores, gozando a divulgação de
presunção de veracidade e confiabilidade. Parágrafo único. Nos casos de problema técnico do sistema e de erro
ou omissão do auxiliar da justiça responsável pelo registro dos andamentos, poderá ser configurada a justa causa
prevista no art. 223, caput e § 1º.

A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário, tem o ônus de explicar e comprovar
que, na instância de origem, era feriado local ou dia sem expediente forense? SIM. O art. 1.003, § 6º, do
CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do feriado local deverá ser feita,
obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local
no ato de interposição do recurso.” Assim, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no ato
da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual civil.
Imagine que em um recurso especial interposto, a parte mencionou que havia um feriado local, mas não juntou
qualquer documento comprovando esse fato. Ao adotar essa prática, a parte comprovou validamente a
existência do feriado local? A mera referência (menção) às normas estaduais é suficiente para comprovar a
ocorrência de feriado local? NÃO. A comprovação da existência de feriado local que dilate o prazo para
interposição de recursos dirigidos ao STJ deverá ser realizada por meio de documentação idônea, não sendo
suficiente a simples menção ou referência nas razões recursais. A ocorrência de feriado local, recesso,
paralisação ou interrupção do expediente forense deve ser demonstrada, no ato da interposição do recurso que
pretende seja conhecido por este Tribunal, por documento oficial ou certidão expedida pelo Tribunal de origem,
não bastando a mera menção ao feriado local nas razões recursais, tampouco a apresentação de documento
não dotado de fé pública. STJ. 3ª Turma. REsp 1763167-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

Cabe agravo de instrumento contra o pronunciamento judicial que, na fase de cumprimento de


sentença, determinou a intimação do executado, na pessoa do advogado, para cumprir obrigação de fazer, sob
pena de multa. STJ. 3ª Turma. REsp 1758800-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 666).

A discussão envolvendo a possibilidade ou não de retenção de honorários advocatícios contratuais


sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF possui natureza infraconstitucional, de forma que não cabe
recurso extraordinário para apreciá-la considerando que não há matéria constitucional a ser analisada. STF. 1ª
119

Turma. ARE 1066359 AgR/AL, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961). STF. 1ª Turma. ARE
1107296 AgR/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2020 (Info 966).

A multa do art. 1.021, § 4º, do CPC/2015 tem como destinatário a parte contrária e não o Fundo de
Aparelhamento do Poder Judiciário. Art. 1.021 (...) § 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente
inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará
o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. STJ. 2ª
Turma. REsp 1846734-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

O Min. Alexandre de Moraes era relator de uma ação direta de inconstitucionalidade. Ele incluiu esse
processo para ser julgado pelo Plenário Virtual. O relator apresentou seu voto e os Ministros começaram a votar.
Ocorre que o Min. Marco Aurélio formulou pedido de destaque, requerendo que a referida ADI fosse julgada
presencialmente pelo Plenário físico. Diante disso, o Min. Alexandre de Moraes retirou o processo da pauta de
julgamentos eletrônicos e o encaminhou ao Plenário físico para julgamento presencial, tendo havido nova
publicação de pauta. O advogado da parte, quando viu a publicação da pauta, pediu para fazer sustentação oral
no Plenário físico. O Min. Alexandre de Moraes negou o pedido sob o argumento de que já havia apresentado
seu voto no Plenário Virtual e a sustentação oral ocorre sempre antes de o relator votar. Depois que o relator
vota, não cabe mais sustentação oral. A maioria dos Ministros, contudo, concordou com o pedido de sustentação
oral da parte. Quando há o deslocamento do Plenário Virtual para o Plenário físico, o julgamento se reinicia,
havendo, portanto, direito de ser formulado pedido de sustentação oral. Além disso, os advogados somente
têm acesso ao que foi deliberado na sessão virtual depois de prolatados todos os votos. Logo, o advogado da
parte não teve acesso ao voto do relator que foi liberado no Plenário Virtual. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020 (Info 965).

A reclamação constitucional não trata de instrumento adequado para o controle da aplicação dos
entendimentos firmados pelo STJ em recursos especiais repetitivos. As hipóteses de cabimento da reclamação
foram elencadas nos incisos do caput do art. 988. O § 5º do art. 988 trata sobre situações nas quais não se
admite reclamação. O § 5º do art. 988 foi introduzido no CPC pela Lei nº 13.256/2016 com o objetivo justamente
de proibir reclamações dirigidas ao STJ e STF para o controle da aplicação dos acórdãos sobre questões
repetitivas. Essa parte final do § 5º é fruto de má técnica legislativa. Se for admitida reclamação nessa hipótese
isso irá em sentido contrário à finalidade do regime dos recursos especiais repetitivos, que surgiu como
mecanismo de racionalização da prestação jurisdicional do STJ, diante dos litígios de massa. O meio adequado
e eficaz para forçar a observância da norma jurídica oriunda de um precedente, ou para corrigir a sua aplicação
120

concreta, é o recurso, instrumento que, por excelência, destina-se ao controle e revisão das decisões judiciais.
STJ. Corte Especial. Rcl 36476-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2020 (Info 669).

A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário, tem o ônus de explicar e comprovar
que, na instância de origem, era feriado local ou dia sem expediente forense? SIM. O art. 1.003, § 6º, do
CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do feriado local deverá ser feita,
obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local
no ato de interposição do recurso.” Assim, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no ato
da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual civil.
Esse entendimento acima explicado está sujeito a alguma modulação de efeitos? Em regra: não. Depois da
entrada em vigor do CPC/2015, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no ato da
interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual civil.
Esse entendimento está em vigor desde o início da vigência do CPC/2015 e não se submete a modulação de
efeitos. Exceção: no caso do feriado de segunda-feira de carnaval, há uma modulação dos efeitos. Segunda-feira
de carnaval não é um feriado nacional. No entanto, em diversos Estados, trata-se de feriado local. • Se o recurso
especial foi interposto antes de 18/11/2019 (data de publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte não comprovou
que segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: é possível a abertura de vista para que a parte
comprove isso mesmo após a interposição do recurso, sanando o vício. • Se o recurso especial foi interposto
depois de 18/11/2019 (data de publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte não comprovou que segunda-feira
de carnaval era feriado no Tribunal de origem: não é possível a abertura de vista para que a parte comprove
esse feriado, ou seja, o vício não pode mais ser sanado. STJ. Corte Especial. QO no REsp 1813684/SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 03/02/2020 (Info 666).

• EXECUÇÃO

Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial,
já que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota. STJ. 3ª Turma. REsp 1803250-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

1ª corrente: SIM É imprescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova Requisição de


Pequeno Valor - RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei n. 13.463/2017. STJ. 1ª Turma. REsp
1.856.498-PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 06/10/2020. 2ª corrente: NÃO O art. 2º da Lei
nº 13.463/2017 previu que “ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos valores não
tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição financeira
121

oficial.” O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da Lei:
“cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a requerimento do credor.” A
Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido. Isso significa que essa
pretensão é imprescritível? Não. A pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o
cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017 prescreve em 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto
20.910/32. STJ. 2ª Turma. REsp 1859409-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/06/2020 (Info
675).

Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos
estabelecidos na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do STF firmado em
repercussão geral. Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao
juízo da fase de cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial, ainda que no
intuito de adequá-los à decisão vinculante do STF. STJ. 2ª Turma. REsp 1861550-DF, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 16/06/2020 (Info 676).

Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os
precatórios que nele sejam pagos. Não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da
expedição do precatório e seu efetivo pagamento, desde que realizado no prazo estipulado
constitucionalmente. Trata-se de entendimento sumulado do STF: SV 17-STF: Durante o período previsto no
parágrafo 1º (obs: atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que
nele sejam pagos. STF. Plenário. RE 594892 AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1/7/2020 (Info 984).
Em 10/11/2009, o STF editou a SV 17 afirmando que “durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100
da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos”. Pouco tempo depois,
em 09/12/2009, foi promulgada a Emenda Constitucional 62, que promoveu ampla reformulação no art. 100 da
Constituição. Não obstante a norma à qual se refere a SV 17 tenha sido deslocada do § 1º para o § 5º do art.
100, tal modificação não altera o sentido do enunciado sumular - que, aliás, não foi afetado por qualquer
disposição da Emenda 62. O período previsto no art. 100, § 5º, da Constituição (precatórios apresentados até
1º de julho, devendo ser pagos até o final do exercício seguinte) costuma ser chamado de “período de graça
constitucional”. Nesse interregno, não cabe a imposição de juros de mora, pois o ente público não está
inadimplente. Caso não haja o pagamento integral dentro deste prazo, os juros de mora passam a correr apenas
a partir do término do “período de graça”. Tese fixada para fins de repercussão geral: “O enunciado da Súmula
Vinculante 17 não foi afetado pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de modo que não incidem
juros de mora no período de que trata o § 5º do art. 100 da Constituição. Havendo o inadimplemento pelo ente
público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o ‘período de graça’”. STF. Plenário. RE 1169289, Rel. Marco
122

Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 1037)
(Info 984 – clipping).

O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento voluntário dentro do prazo de 15 dias, o
débito será acrescido em 10% a título de honorários, além da multa de 10%. Esse percentual de 10% não admite
mitigação (relativização, diminuição) pelo juiz por três razões: 1) a própria lei tarifou expressamente esse
percentual fixo; 2) a fixação equitativa da verba honorária só tem lugar nas hipóteses em que constatado que o
proveito econômico é inestimável ou irrisório, ou o valor da causa é muito baixo (art. 85, § 8º); e 3) os próprios
critérios de fixação da verba honorária previstos no art. 85, § 2º, já estabelecem que o valor mínimo será de
10%. STJ. 3ª Turma. REsp 1701824-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

O § 3º do art. 100 da CF/88 prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece
que, se a condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será realizado sem a
necessidade de expedição de precatório. Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União,
Estado, DF, Município) por meio de leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100. E se o ente federado não
editar a lei prevendo o quantum do “pequeno valor”? Nesse caso, segundo o art. 87 do ADCT da CF/88, para os
entes que não editarem suas leis, serão adotados, como “pequeno valor” os seguintes montantes: I - 40 salários
mínimos para Estados e para o Distrito Federal; II - 30 salários mínimos para Municípios. Os entes federados
podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para fins de RPV, prevista no art. 87
do ADCT da CF/88. Vale ressaltar, no entanto, que a lei que reduz o teto do art. 87 do ADCT não pode retroagir
para incidir sobre as execuções em curso. Lei disciplinadora da submissão de crédito ao sistema de execução via
precatório possui natureza material e processual, sendo inaplicável a situação jurídica constituída em data que
a anteceda. STF. Plenário.RE 729107, Rel. Marco Aurélio, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema
792) (Info 991 – clipping).

Surge constitucional expedição de precatório ou requisição de pequeno valor para pagamento da parte
incontroversa e autônoma do pronunciamento judicial transitada em julgado observada a importância total
executada para efeitos de dimensionamento como obrigação de pequeno valor. STF. Plenário. RE 1205530, Rel.
Marco Aurélio, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 28) (Info 984).

As Unidades Executoras Próprias (UEx), como, por exemplo, Caixas Escolares, podem receber recursos
públicos destinados à educação, via transferência, para a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o
reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica, por meio da gestão
descentralizada. A Justiça do Trabalho, em processos de execução, não pode decretar medidas de constrição
123

judicial que recaiam sobre essas verbas recebidas pelas Caixas Escolares destinadas à educação. Esses valores
são impenhoráveis porque estão afetados a finalidades públicas e à realização das atividades e serviços públicos
decorrentes do exercício obrigatório da função administrativa. Vale ressaltar, no entanto, que não se aplica o
regime de precatório para as Caixas Escolares ou Unidades Descentralizadas de Educação (UDEs). Isso porque
tais entes possuem natureza jurídica de direito privado, não integram a Administração Pública e não compõem
o orçamento público. As Caixas Escolares recebem doações particulares, e assumem outras obrigações não
necessariamente vinculadas com a educação pública. Em relação a essas obrigações, calcadas em patrimônio
decorrente de doações privadas, não é razoável que devam ser pagas por precatório. STF. Plenário. ADPF
484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

Em regra, a intimação para cumprimento da sentença é feita na pessoa do advogado do devedor (art.
513, § 2º, I, do CPC/2015). O devedor revel que tenha sido pessoalmente intimado na fase de conhecimento e,
mesmo assim ficou inerte, deverá ser intimado para o cumprimento de sentença por meio de carta com aviso
de recebimento. Isso porque, neste caso, o devedor não terá procurador (advogado) constituído nos autos: Art.
513 (...) § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: II - por carta com aviso de recebimento, (...)
quando não tiver procurador constituído nos autos; STJ. 3ª Turma. REsp 1760914-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 02/06/2020 (Info 673).

Caso concreto: a empresa Italpa Ltda. estava sendo executada em processo que tramita na comarca
de Belo Horizonte (MG). O juízo determinou a penhora de um imóvel da empresa situado em São Carlos (SP). O
CPC/2015 determina que, se não for realizada a adjudicação ou a alienação por iniciativa particular, deverá ser
feita a alienação por meio de leilão judicial (art. 881). O leilão judicial deverá ser feito por meio eletrônico, salvo
se isso não for possível (art. 882). Essa alienação judicial eletrônica será feita pelo juízo de Belo Horizonte (onde
tramita a execução) ou por meio de carta precatória pelo juízo de São Carlos (onde está situado o bem)? Pelo
juízo de Belo Horizonte. Considerando que a alienação eletrônica permite ao interessado participar do
procedimento mediante um acesso simples à internet, sem necessidade de sua presença física no local do leilão,
não há motivos para que a realização do ato de alienação judicial eletrônica seja praticado em comarca diversa
do juízo da execução. STJ. 1ª Seção. CC 147746-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/05/2020
(Info 673).

A arma de fogo pode ser penhorada e expropriada, desde que assegurada pelo Juízo da execução a
observância das mesmas restrições impostas pela legislação de regência para a sua comercialização e aquisição.
STJ. 2ª Turma. REsp 1866148-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/05/2020 (Info 677).
124

A cessão de crédito não implica alteração da natureza. Desse modo, a cessão não altera a natureza do
precatório, podendo o cessionário gozar da preferência de que trata o § 1º do art. 100 da Constituição Federal,
quando a origem do débito assim permitir, mantida a posição na ordem cronológica originária. STF. Plenário. RE
631537, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 361) (Info 980 – clipping).

Os valores oriundos de empréstimo consignado em folha de pagamento, depositados em conta


bancária do devedor, não gozam de proteção da impenhorabilidade atribuída aos salários, proventos e pensões.
Não se aplica, neste caso, o art. 833, IV, do CPC/2015: Art. 833. São impenhoráveis: IV - os vencimentos, os
subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os
montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor
e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;
Assim, a quantia decorrente de empréstimo consignado, embora seja descontada diretamente da folha de
pagamento do mutuário, não tem caráter salarial, sendo, em regra, passível de penhora. A proteção da
impenhorabilidade ocorre somente se o mutuário (devedor) comprovar que os recursos oriundos do
empréstimo consignado são necessários à sua manutenção e à da sua família. STJ. 3ª Turma. REsp 1820477-DF,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

O art. 475-J do CPC/1973 previa que o prazo para impugnação ao cumprimento de sentença somente
era contado a partir da intimação do auto de penhora e avaliação. O art. 525 do CPC/2015, por sua vez, afirma
que, transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que
o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua
impugnação. Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar
impugnação ao cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da
obrigação na vigência do CPC/1973. Ex: a parte foi intimada, em 02/03/2016 (ainda na vigência do CPC/1973)
para pagar uma condenação judicial no prazo de 15 dias, nos termos do art. 475-J do CPC/1973; o prazo de 15
dias começou a ser computado no dia seguinte (03/03/2016), terminando em 17/03/2016, sem que tenha
havido pagamento; no dia 18/03/2016, entrou em vigor o CPC/2015; nesse exemplo, deve o juiz intimar o
executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença no prazo de 15 dias. Enunciado 530/FPPC:
Após a entrada em vigor do CPC-2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar impugnação ao
cumprimento de sentença, em quinze dias, ainda que sem depósito, penhora ou caução, caso tenha transcorrido
o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC-1973 e não tenha àquele tempo
garantido o juízo. STJ. 3ª Turma. REsp 1833935-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 05/05/2020
(Info 671).
125

Os Estados-membros podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para
fins de RPV, prevista no art. 87 do ADCT da CF/88. É lícito aos entes federados fixar o valor máximo para essa
especial modalidade de pagamento, desde que se obedeça ao princípio constitucional da proporcionalidade. Ex:
Rondônia editou lei estadual prevendo que, naquele Estado, as obrigações consideradas como de pequeno valor
para fins de RPV seriam aquelas de até 10 salários-mínimos. Assim, a referida Lei reduziu de 40 para 10 salários-
mínimos o crédito decorrente de sentença judicial transitada em julgado a ser pago por meio de RPV. O STF
entendeu que essa redução foi constitucional. STF. Plenário. ADI 4332/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 7/2/2018 (Info 890). Os entes federados são competentes para estabelecer, por meio de leis próprias
e segundo a sua capacidade econômica, o valor máximo das respectivas obrigações de pequeno valor, não
podendo tal valor ser inferior àquele do maior benefício do regime geral de previdência social (artigo 100, §§ 3º
e 4º, da Constituição Federal, na redação da Emenda Constitucional 62/2009). As unidades federadas podem
fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares inferiores aos previstos no artigo 87
do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade econômica. A aferição da capacidade
econômica do ente federado, para fins de delimitação do teto para o pagamento de seus débitos por meio de
requisição de pequeno valor, não se esgota na verificação do quantum da receita do Estado, mercê de esta
quantia não refletir, por si só, os graus de endividamento e de litigiosidade do ente federado. STF. Plenário. ADI
5100, Rel. Luiz Fux, julgado em 27/04/2020.

O § 2º do art. 100 da CF/88 prevê preferência no pagamento do precatório para o titular que se
enquadre em uma das situações ali previstas: Art. 100 (...) § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares,
originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença
grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os
demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo,
admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de
apresentação do precatório. A preferência autorizada pela Constituição não pode ser reconhecida duas vezes
em um mesmo precatório porque isso implicaria, por via oblíqua, a extrapolação do limite previsto na norma
constitucional. Aliás, o próprio § 2º do art. 100 da CF/88 revela que, após o fracionamento para preferência,
eventual saldo remanescente deverá ser pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. Portanto,
as hipóteses autorizadoras da preferência (idade, doença grave ou deficiência) devem ser consideradas,
isoladamente, em cada precatório, ainda que tenha como destinatário um mesmo credor. STJ. 1ª Turma. AgInt
no RMS 61014-RO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/04/2020 (Info 670).

No cálculo dos honorários advocatícios devidos na fase de cumprimento de sentença, após escoado o
prazo legal para o pagamento voluntário da obrigação, não devem ser incluídas as parcelas vincendas da dívida.
126

Ex: em ação de indenização, a empresa ré foi condenada a pagar 60 prestações mensais de 1 salário mínimo
para o autor ofendido; transitou em julgado e a empresa não pagou nada; iniciou-se o cumprimento de
sentença; a empresa está devendo 1 ano de pensão mensal (12 prestações); o valor a ser pago irá, portanto,
aumentar; isso porque incidirá 10% de multa e 10% de honorários advocatícios, nos termos do § 1º do art. 523
do CPC; esses 10% dos honorários advocatícios incidirão apenas sobre as 12 prestações atualmente em atraso
(parcelas vencidas) ou sobre o total das 60 prestações (parcelas vencidas e também vincendas)? Apenas sobre
as parcelas vencidas (no caso, 12 prestações). O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento
voluntário dentro do prazo de 15 dias, o débito será acrescido em 10% a título de honorários, além da multa de
10%. A expressão “débito”, para fins de honorários, engloba apenas as parcelas vencidas da pensão mensal,
visto que, em cumprimento de sentença, o devedor/executado é intimado para quitar os valores exigíveis
naquele momento. Não faz sentido condenar a parte executada ao pagamento de honorários de sucumbência
sobre prestações que ainda não venceram e, portanto, não são exigíveis. Não confundir. Cálculo dos honorários
advocatícios na ação de indenização com o objetivo de obter o pagamento de pensão mensal: • Na fase de
conhecimento: o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir todas as parcelas vencidas e mais 12
parcelas vincendas, ou seja, parcelas vencidas + 1 ano de parcelas vincendas (art. 85, § 9º, do CPC/2015). • Na
fase de cumprimento de sentença: o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir apenas sobre as
parcelas vencidas. STJ. 3ª Turma. REsp 1837146-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/02/2020
(Info 665).

O § 3º do art. 782 do CPC/2015 prevê que o juiz, a requerimento da parte, pode determinar a inclusão
do nome do executado nos cadastros de inadimplentes (exs: SPC/SERASA). Embora o magistrado não esteja
obrigado a deferir o pedido de inclusão do nome do executado no cadastro de inadimplentes, visto que a norma
do art. 782, § 3º, do CPC/2015 não trata de uma imposição legal, mas mera faculdade atribuída ao juiz da causa,
não se revela idôneo condicionar a referida medida à prévia recusa administrativa das entidades mantenedoras
do respectivo cadastro. Assim, o credor pode requerer essa providência diretamente ao juízo, não sendo
necessário comprovar que este pedido foi feito antes, extrajudicialmente, para as entidades mantenedoras do
cadastro e que elas recusaram. STJ. 3ª Turma. REsp 1835778-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
04/02/2020 (Info 664).

Havendo penhora de bem indivisível (ex: um apartamento), a meação do cônjuge alheio à execução
deve recair sobre o produto da alienação do bem. Para impedir que a penhora recaia sobre a sua meação, o
cônjuge meeiro deve comprovar que a dívida executada não foi contraída em benefício da família. Precedentes.
No entanto, tratando-se de dívida proveniente da condenação ao pagamento de honorários sucumbenciais em
demanda da qual o cônjuge meeiro não participou, é inegável o direito deste à reserva de sua meação. Os
127

honorários advocatícios consagram direito do advogado contra a parte que deu causa ao processo, não se
podendo exigir do cônjuge meeiro, que não integrou a relação processual da lide originária, a comprovação de
que a dívida executada não foi contraída em benefício do casal ou da família. Exemplo: João ajuizou ação
ordinária contra Pedro, tendo o pedido sido julgado improcedente. O autor foi condenado a pagar R$ 200 mil
de honorários advocatícios em favor de Pedro. Marcos (advogado de Pedro) ingressou com execução contra
João cobrando os R$ 200 mil. O juiz determinou a penhora de uma sala comercial que está em nome de João.
Raquel, esposa de João, apresentou embargos de terceiro contra essa penhora. Sua quota-parte deverá ser
preservada, não sendo necessário que ela comprove que essa dívida contraída foi exclusiva do marido. STJ. 3ª
Turma. REsp 1670338-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• EXECUÇÃO FISCAL

A ausência da notificação administrativa implica o reconhecimento da irregularidade na constituição


do crédito, afastando, portanto, a presunção de certeza e de exigibilidade de que goza a Certidão de Dívida
Ativa, cabendo ao Conselho a prova de que efetuou a devida notificação ao executado. STJ. 2ª Turma. AgInt no
AREsp 1718316/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, julgado em 16/11/2020. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp
1.628.478/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes, julgado em 8/6/2020. As anuidades devidas aos conselhos
profissionais constituem contribuições de interesse das categorias profissionais e estão sujeitas a lançamento
de ofício, que apenas se aperfeiçoa com a notificação do contribuinte para efetuar o pagamento do tributo e o
esgotamento das instâncias administrativas, em caso de recurso. Essa notificação, pode, inclusive, realizar-se
por meio do envio de carnê. De todo modo, é necessária a comprovação da remessa da comunicação, do
contrário, considera-se irregularmente constituído o título executivo, e elididas a certeza e a liquidez
presumidamente conferidas à certidão de dívida ativa.

A questão decidida na ação cautelar de caução prévia tem natureza jurídica de incidente processual
inerente à execução fiscal, não guardando autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios em
desfavor de qualquer das partes. STJ. 1ª Turma. AREsp 1521312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
09/06/2020 (Info 675).

Ainda que perfectibilizada a arrematação do bem objeto de penhora na execução civil, os valores
levantados devem ser restituídos ao juízo, quando, coexistindo execução fiscal, ausente a prévia intimação da
Fazenda Pública. Caso concreto: banco ajuizou execução contra devedor e conseguiu a penhora de um imóvel;
algum tempo depois, a União ajuizou execução fiscal contra esse mesmo devedor e conseguiu a penhora desse
mesmo imóvel; no primeiro processo (o do banco), o juiz autorizou a alienação judicial do bem (hasta pública);
128

o dinheiro obtido foi depositado e o juiz, sem ouvir a Fazenda Nacional (União) autorizou que o banco fizesse o
levantamento da quantia; em uma situação como essa, o banco terá que devolver o dinheiro; isso porque
coexistindo execução fiscal e execução civil, contra o mesmo devedor, com pluralidade de penhoras recaindo
sobre o mesmo bem, o produto da venda judicial, por força de lei, deve satisfazer o crédito fiscal em primeiro
lugar. STJ. 3ª Turma. REsp 1661481-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

• MANDADO DE SEGURANÇA

O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros,


conforme se extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na modalidade de assistência litisconsorcial. STJ. 1ª
Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 28/04/2020. STF. 2ª Turma.
RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE 06/11/2020.

O incidente da suspensão de liminar e de sentença, por não ser sucedâneo recursal, é inadequado para
a apreciação do mérito da controvérsia. STJ. Corte Especial. AgInt na SLS 2.564/SP, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 27/10/2020. Tal instituto não tem natureza jurídica de recurso, razão pela qual não propicia a
devolução do conhecimento da matéria para eventual reforma. Sua análise deve restringir-se à verificação de
possível lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas, nos termos da legislação de regência, sem
adentrar o mérito da causa principal.

• PROCESSO COLETIVO

Ao julgar o Tema 499, o STF fixou a seguinte tese: A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir
de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente
alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior
ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de
conhecimento (STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017). Essa tese do STF
se aplica exclusivamente para ações coletivas ajuizadas sob o rito ordinário por associação quando atua como
representante processual dos associados. Isso significa que tal entendimento não se aplica para mandado de
segurança coletivo impetrado por associação. O mandado de segurança coletivo configura hipótese de
substituição processual, por meio da qual o impetrante, no caso a associação, atua em nome próprio
defendendo direito alheio, pertencente aos associados ou parte deles, sendo desnecessária, para a impetração
do mandamus, apresentação de autorização dos substituídos ou mesmo lista nominal. Por tal razão, os efeitos
da decisão proferida em mandado de segurança coletivo beneficiam todos os associados, ou parte deles cuja
129

situação jurídica seja idêntica àquela tratada no decisum, sendo irrelevante se a filiação ocorreu após a
impetração do writ. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1841604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/04/2020 (Info 670).

• PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

O protesto contra a alienação de bens é uma medida judicial por meio da qual o promovente comunica
a terceiros interessados que ele entende possuir direitos sobre o imóvel. Mesmo que o protesto tenha sido
registrado na matrícula do imóvel, o único efeito produzido é o de comunicar aos interessados na aquisição do
bem, que alguém alega possuir direitos sobre este bem. O protesto não acrescenta nem diminui direitos do
promovente. Ele é unilateral e apenas dá ciência sobre a manifestação do promovente. Se essa manifestação
tem relevância ou não, isso somente será decidido no processo competente, se houver. Os embargos de terceiro
são remédio processual a disposição do terceiro prejudicado por um esbulho judicial, o qual se configura quando
a atuação jurisdicional alcança bens que excedam os limites patrimoniais da obrigação exigida. Em palavras mais
simples, os embargos de terceiro têm por objetivo desfazer o ato constritivo judicial que recai sobre
determinado bem. Assim, é pressuposto dos embargos de terceiro a existência de um ato de constrição judicial
sobre o bem que o terceiro alega ser possuidor ou proprietário. A averbação do protesto na matrícula do imóvel
não afeta a posse ou a propriedade de terceiro alheio ao procedimento e não configura apreensão judicial. Logo,
não são cabíveis embargos de terceiro contra essa determinação. STJ. 3ª Turma. REsp 1758858-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

• DIVERSOS

A prolação da decisão de acolhimento da impugnação do valor da causa em momento posterior à


decisão que julgara o mérito da causa principal constitui mera irregularidade, não gerando prejuízo suficiente
para decretação da nulidade do processo. Considerando o princípio da instrumentalidade, o recolhimento
posterior das custas atinge seu objetivo, sem que para tanto seja necessária a decretação da nulidade do ato.
Não se vislumbra prejuízo suficiente para a parte atingida pela irregularidade, pois o recolhimento das custas
pode se dar de forma posterior, tendo por norte o fato de que o princípio da instrumentalidade das formas anda
sempre de mãos dadas com o princípio da primazia da resolução de mérito. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp
1667308-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 30/03/2020 (Info 669).

A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de resultado de julgamento que


havia sido adiado não gera suspeição do relator. Essa falha não se enquadra em nenhuma das hipóteses taxativas
130

de suspeição previstas no art. 145 do CPC. As hipóteses taxativas de cabimento da exceção devem ser
interpretadas de forma restritiva, sob pena de comprometimento da independência funcional assegurada ao
magistrado no desempenho de suas funções. STJ. 2ª Seção. AgInt na ExSusp 198-PE, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 17/03/2020 (Info 668).

STF determinou a devolução do recurso extraordinário para o tribunal de origem a fim de que ficasse
aguardando o julgamento do tema afetado como recurso extraordinário repetitivo. Após o julgamento pelo STF,
o Presidente do Tribunal de origem julgou prejudicado o referido recurso extraordinário. Contra esta decisão do
Presidente do Tribunal de origem, a parte prejudicada interpôs recurso inadequado, que não foi admitido.
Houve trânsito em julgado. Diante disso, a parte prejudicada ingressou com reclamação afirmando que a decisão
do Presidente do Tribunal de origem descumpriu a decisão do STF que determinou o retorno dos autos ao
Tribunal para aguardar o julgamento do tema afetado. Deve ser negado seguimento a esta reclamação. Isso
porque é inadmissível a reclamação proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada (art. 988, § 5º, I,
do CPC/2015). Súmula 734-STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que
se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal. Além disso, o ato do STF que determina a
devolução do recurso extraordinário para que aguarde o julgamento do tema afetado não tem cunho decisório.
STF. 1ª Turma. Rcl 24810 AgR/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 11/2/2020 (Info 966).

7 – TRIBUTÁRIO

• IMUNIDADE

Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,
inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está
abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição, unicamente em razão
das atividades desempenhadas. STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux,
julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 508) (Info 993 – clipping).

Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica
de direito público. STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral –
Tema 685) (Info 985).

A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição) impede que os entes públicos criem
uns para os outros obrigações relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de obrigações
131

acessórias. As obrigações acessórias sejam instituídas por meio de atos infralegais. STF. Plenário. ACO 1098, Rel.
Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping).

Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à
importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades
acessórias. STF. Plenário. Aprovada em 15/04/2020.

De acordo com o art. 149, § 2º, I, da CF/88, as contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação. Trata-se de imunidade tributária criada
com o objetivo de incentivar as exportações. Se o fabricante ou produtor brasileiro faz a exportação por
intermédio de uma empresa exportadora intermediária (ex: trading company), incide igualmente a imunidade
tributária? Incide a imunidade tributária no caso de operações indiretas de exportação? SIM. A norma
imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal alcança as receitas decorrentes de
operações indiretas de exportação caracterizadas por haver participação negocial de sociedade exportadora
intermediária. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/2/2020 (Info 966). STF.
Plenário. RE 759244/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/2/2020 (repercussão geral – Tema 674).

• PRINCÍPIOS

Aplica-se o princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de


supressão de benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta de
tributos (STF. Plenário. RE 564225 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2019).
Reintegra é um programa econômico instituído pelo governo federal com o objetivo de incentivar as
exportações. A redução ou supressão das vantagens decorrentes do REINTEGRA precisam respeitar o princípio
da anterioridade? SIM. A redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais decorrentes do Regime
Especial de Reintegração de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à incidência
dos princípios da anterioridade tributária geral e da anterioridade nonagesimal, previstos no art. 150, III, “b” e
“c”, da Constituição Federal. A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a
majoração de tributos, deve respeitar o princípio da anterioridade. STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 19/5/2020 (Info 978). STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em
31/08/2018.

• TAXAS
132

A atividade desenvolvida pelo Estado no âmbito da segurança pública é mantida ante impostos, sendo
imprópria a substituição, para tal fim, de taxa. STF. Plenário. ADI 4411, Rel. Marco Aurélio, julgado em
18/08/2020 (Info 992 – clipping).

• IMPOSTOS FEDERAIS

O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 prevê que as pessoas portadoras de neoplasia maligna ou outras
doenças graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a
título de aposentadoria, pensão ou reforma. Essa isenção é devida apenas às pessoas que recebem
aposentadoria, pensão ou reforma e não é possível que o Poder Judiciário estenda o benefício aos trabalhadores
que estão em atividade. Os juízes e Tribunais não podem, mesmo a pretexto de estabelecer tratamento
isonômico, conceder isenção tributária em favor daqueles não contemplados pelo favor legal, porque isso
equivaleria, em última análise, a converter o Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo. A legislação
optou por critérios cumulativos absolutamente razoáveis à concessão do benefício tributário, quais sejam,
inatividade e enfermidade grave, ainda que contraída após a aposentadoria ou reforma. STF. Plenário. ADI 6025,
Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Info 983 – clipping). Não se aplica a isenção do imposto de
renda prevista no inciso XIV do artigo 6º da Lei nº 7.713/88 (seja na redação da Lei nº 11.052/2004 ou nas
versões anteriores) aos rendimentos de portador de moléstia grave que se encontre no exercício de atividade
laboral. STJ. 1ª Seção. REsp 1814919-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo –
Tema 1037) (Info 676).

Encontra-se superado o entendimento exposto na Súmula 584 do STF: Súmula 584-STF: Ao imposto de
renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve
ser apresentada a declaração. Esse enunciado é incompatível com os princípios da irretroatividade e da
anterioridade. Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete. STF. Plenário. RE 159180, Rel. Marco
Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

O art. 46, II, do CTN prevê o seguinte: Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos
industrializados tem como fato gerador: II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único
do artigo 51; A saída do estabelecimento a que refere o art. 46, II, do CTN, que caracteriza o aspecto temporal
da hipótese de incidência, pressupõe, logicamente, a mudança de titularidade do produto industrializado.
Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto
133

sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI. STJ. 1ª Turma. REsp 1402138-RS, Rel. Min. Gurgel
de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Súmula vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos
isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade. STF.
Plenário. Aprovada em 24/04/2020.

O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 prevê que as pessoas portadoras de neoplasia maligna ou outras
doenças graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a
título de aposentadoria, pensão ou reforma. Essa isenção é devida apenas às pessoas que recebem
aposentadoria, pensão ou reforma e não é possível que o Poder Judiciário estenda o benefício aos trabalhadores
que estão em atividade. Os juízes e Tribunais não podem, mesmo a pretexto de estabelecer tratamento
isonômico, conceder isenção tributária em favor daqueles não contemplados pelo favor legal, porque isso
equivaleria, em última análise, a converter o Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo. A legislação
optou por critérios cumulativos absolutamente razoáveis à concessão do benefício tributário, quais sejam,
inatividade e enfermidade grave, ainda que contraída após a aposentadoria ou reforma. STF. Plenário. ADI 6025,
Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Info 983 – clipping).

Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor aduaneiro e integram a base de cálculo
do imposto de importação. Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que
tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do território
aduaneiro. STJ. 1ª Seção. REsp 1799306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão, julgado
em 11/03/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1014) (Info 671).

O Regulamento das Telecomunicações Internacionais - RTI só alcança os tributos incidentes sobre


serviços importados, não determinando a exclusão de outros tributos sobre a remessa do pagamento, como o
IRPJ e a CIDE. STJ. 1ª Turma. REsp 1772678-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

É ilegal o art. 4º, I, da IN SRF nº 139/1989, que, ao suprimir a comunicação entre exercícios diferentes,
traz inovação limitadora não prevista no Decreto-lei nº 1.790/1980. O Decreto-lei nº 1.790/1980, que foi
recepcionado com força de lei ordinária, não estabeleceu restrição à compensação entre períodos diversos, isto
é, não impôs nenhuma limitação temporal ao exercício de tal direito. Assim, era perfeitamente possível a
compensação do imposto de renda retido na fonte mesmo que em calendários (exercícios) diferentes. STJ. 1ª
134

Turma. REsp 1628374-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 04/02/2020
(Info 665).

• IMPOSTOS ESTADUAIS

Não viola o princípio da não cumulatividade (art. 155, §2º, incisos I e XII, alínea c, da CF/88) lei
complementar que prorroga a compensação de créditos de ICMS relativos a bens adquiridos para uso e consumo
no próprio estabelecimento do contribuinte. Conforme o art. 150, III, "c", da CF/88, o princípio da anterioridade
nonagesimal aplica-se somente para leis que instituem ou majoram tributos, não incidindo relativamente às
normas que prorrogam a data de início da compensação de crédito tributário. STF. Plenário. RE 601967, Rel.
Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema
346).

O estorno proporcional de crédito de ICMS efetuado pelo Estado de destino, em razão de crédito fiscal
presumido concedido pelo Estado de origem sem autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária
(CONFAZ), não viola o princípio constitucional da não cumulatividade. STF. Plenário. RE 628075, Rel. Min. Edson
Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 490) (Info
993 – clipping).

Segundo o artigo 155, § 2º, X, b, da CF/1988, cabe ao Estado de destino, em sua totalidade, o ICMS
sobre a operação interestadual de fornecimento de energia elétrica a consumidor final, para emprego em
processo de industrialização, não podendo o Estado de origem cobrar o referido imposto. STF. Plenário. RE
748543, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 05/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 689) (Info 990 – clipping).

É constitucional a incidência do ICMS sobre a operação de venda, realizada por locadora de veículos,
de automóvel com menos de 12 (doze) meses de aquisição da montadora. STF. Plenário. RE 1025986, Rel. Marco
Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1012)
(Info 990 – clipping).

Incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação
sob encomenda. Incide ICMS sobre as operações de venda de medicamentos por elas ofertados aos
consumidores em prateleira. STF. Plenário. RE 605552, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 379) (Info 994 – clipping).
135

A imunidade a que se refere o art. 155, § 2º, X, a, da CF não alcança operações ou prestações anteriores
à operação de exportação. STF. Plenário. RE 754917, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 475) (Info 994).

Não incide a imunidade tributária prevista no art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88 se houve apenas a
aquisição interna de óleo, não tendo havido, portanto, operação interestadual de venda de lubrificantes. Não
incidirá ICMS “sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis
líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica” (art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88). STF. 1ª Turma. RE 642564
AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

I - Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre operações de


importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à
prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal. II - As leis estaduais
editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o propósito de
impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir da vigência da LC
114/2002. STF. Plenário. RE 1221330, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em
16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 1094) (Info 987 – clipping).

O sujeito ativo da obrigação tributária de ICMS incidente sobre mercadoria importada é o Estado-
membro no qual está domiciliado ou estabelecido o destinatário legal da operação que deu causa à circulação
da mercadoria, com a transferência de domínio. STF. Plenário. ARE 665134, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 520) (Info 978).

É indevida a incidência do ICMS sobre o valor correspondente à demanda de potência elétrica


contratada, mas não utilizada. STJ. 1ª Seção. REsp 960476/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em
11/03/2009 (recurso repetitivo). Súmula 391-STJ: O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica
correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada. A demanda de potência elétrica não é passível,
por si só, de tributação via ICMS, porquanto somente integram a base de cálculo desse imposto os valores
referentes àquelas operações em que haja efetivo consumo de energia elétrica pelo consumidor. STF. Plenário.
RE 593824, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 176) (Info 978).

Os insumos que geram direito ao creditamento são aqueles que, extrapolando a condição de mera
facilidade, se incorporam ao produto final, de forma a modificar a maneira como esse se apresenta e configurar
136

parte essencial do processo produtivo. Sacos e filmes plásticos utilizados exclusivamente para o fornecimento
de produtos de natureza perecível são insumos indispensáveis à atividade desenvolvida pelos supermercados,
de modo que a sua aquisição gera direito ao creditamento do ICMS. Sacolas plásticas fornecidas aos clientes
para o transporte ou acondicionamento de produtos, bem como bandejas, não são insumos essenciais à
atividade dos supermercados, de modo que não geram creditamento de ICMS. STJ. 1ª Turma. REsp 1830894-RS,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 03/03/2020 (Info 666).

• IMPOSTOS MUNICIPAIS

Incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação
sob encomenda. Incide ICMS sobre as operações de venda de medicamentos por elas ofertados aos
consumidores em prateleira. STF. Plenário. RE 605552, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 379) (Info 994 – clipping).

É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal,
admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em lei em
razão da interpretação extensiva. STF. Plenário.RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020
(Repercussão Geral – Tema 296) (Info 991 – clipping).

É constitucional a incidência de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais


produtos de loteria, bingos, cartões, pules ou cupons de apostas, sorteios e prêmios (item 19 da Lista de Serviços
Anexa à Lei Complementar 116/2003). Nesta situação, a base de cálculo do ISS é o valor a ser remunerado pela
prestação do serviço, independentemente da cobrança de ingresso, não podendo corresponder ao valor total
da aposta. STF. Plenário. RE 634764, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema
700) (Info 984).

Em 30/11/2016, o STF julgou procedente a ADO 25 e declarou haver mora, por parte do Congresso
Nacional, em editar a aludida lei complementar de que trata o art. 91 do ADCT. Diante disso, o STF fixou um
prazo de 12 meses para que o Legislativo fizesse a lei. Depois de a decisão transitar em julgado, a União requereu
o desarquivamento da ADO e a prorrogação do prazo por mais 24 meses. O Ministro Relator, monocraticamente,
deferiu, em parte, o pleito da União e prorrogou o prazo. Posteriormente, alguns Estados-membros
manifestaram interesse em buscarem a composição amigável do litígio. A União concordou com o pleito e
iniciaram-se audiências, até que foi conseguido um acordo. Em 20/05/2020, o Plenário do STF se reuniu e
referendou as decisões monocráticas do Ministro que prorrogaram o prazo fixado no julgamento do mérito da
137

ADO. Os Ministros entenderam que fatos supervenientes justificaram o abrandamento do termo fixado no
julgamento de mérito. Além disso, o STF homologou o acordo firmado entre a União e os Estados/DF, com o seu
encaminhamento ao Congresso Nacional para as providências cabíveis. STF. Plenário. ADO 25 QO/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 20/5/2020 (Info 978).

São constitucionais as leis municipais anteriores à Emenda Constitucional n° 29/2000, que instituíram
alíquotas diferenciadas de IPTU para imóveis edificados e não edificados, residenciais e não residenciais. STF.
Plenário. RE 666156, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 523) (Info 982 –
clipping).

• CONTRIBUIÇÕES

As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com fundamento na Lei nº 8.029/90 foram
recepcionadas pela Emenda Constitucional 33/2001. STF. Plenário.RE 603624/SC, rel. orig. Min. Rosa Weber,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 325) (Info 992).

É constitucional a previsão em lei ordinária que introduz a sistemática da não-cumulatividade a COFINS


dado que observa os princípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva global e não-confisco. STF.
Plenário. RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 2/9/2020
(Repercussão Geral – Tema 34) (Info 989).

É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da
iluminação pública na expansão e aprimoramento da rede. STF. Plenário. RE 666404, Rel. Marco Aurélio,
Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moras, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 696).

É constitucional a contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar nº 110, de 29 de junho


de 2001, tendo em vista a persistência do objeto para a qual foi instituída. STF. Plenário. RE 878313, Rel. Marco
Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 696).

O benefício fiscal consistente em permitir a manutenção de créditos de PIS e Cofins, ainda que as
vendas e revendas realizadas pela empresa não tenham sido oneradas pela incidência dessas contribuições no
sistema monofásico, é extensível às pessoas jurídicas não vinculadas ao REPORTO. STJ. 1ª Turma. REsp 1861190-
RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/05/2020 (Info 672).
138

É constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do segurado especial prevista no art.


25 da Lei nº 8.212/91. STF. Plenário. RE 761263, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Repercussão
Geral – Tema 723) (Info 983 – clipping)

É cabível o creditamento de PIS e Cofins decorrentes da aquisição de bens e serviços provenientes de


empresas localizadas fora da Zona Franca de Manaus (ZFM), quando tais bens e serviços não são revendidos ou
utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos a alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela
contribuição. STJ. 1ª Turma. REsp 1259343-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa,
julgado em 03/03/2020 (Info 670).

• DIVERSOS

É constitucional vincular o despacho aduaneiro ao recolhimento de diferença tributária apurada


mediante arbitramento da autoridade fiscal. STF. Plenário. RE 1090591, Rel. Marco Aurélio, julgado em
16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 1042) (Info 994 – clipping).

A autoridade coatora desempenha duas funções no mandado de segurança: a) uma, internamente, de


natureza processual, consistente em defender o ato impugnado pela impetração; trata-se de hipótese
excepcional de legitimidade ad processum, em que o órgão da pessoa jurídica, não o representante judicial
desta, responde ao pedido inicial; b) outra, externamente, de natureza executiva, vinculada à sua competência
administrativa; ela é quem cumpre a ordem judicial. A legitimação da autoridade coatora deve ser aferida à base
das duas funções acima descritas; só o órgão capaz de as cumprir pode ser a autoridade coatora. Por essa razão,
o Secretário de Estado da Fazenda não possui legitimidade para figurar, como autoridade coatora, em mandado
de segurança que visa afastar exigência fiscal supostamente ilegítima considerando que ele não competência
para a prática de lançamento fiscal. STJ. 2ª Turma. RMS 54823-PB, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
26/05/2020 (Info 673).

O art. 5º da Lei nº 8.032/90 concede o regime de drawback do art. 78, II, do DL 37/66 para as empresas
que forem participar de “licitação internacional”. A definição de licitação internacional para fins de concessão
do regime aduaneiro do drawback é aquela prevista no art. 3º da Lei nº 11.732/2008 (não se utilizando a Lei nº
8.666/93). Veja o que diz o art. 3º da Lei nº 11.732/2008: Art. 3º Para efeito de interpretação do art. 5º da Lei
nº 8.032, de 12 de abril de 1990, licitação internacional é aquela promovida tanto por pessoas jurídicas de direito
público como por pessoas jurídicas de direito privado do setor público e do setor privado. Esse conceito
abrangente de licitação internacional previsto no art. 3º da Lei nº 11.732/2008 possui indiscutível caráter
139

interpretativo e, por isso, retroage para alcançar situações ocorridas antes de sua entrada em vigor. Aplica-se o
raciocínio contido no art. 106, I, do CTN: a lei aplica-se a ato ou fato pretérito em qualquer caso, quando seja
expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados. STJ.
1ª Turma. REsp 1715820-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Súmula 640-STJ: O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários
para as Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações de venda de mercadorias de origem nacional
para a Zona Franca de Manaus, para consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro. STJ. 1ª
Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

É inconstitucional lei estadual que disciplina a responsabilidade de terceiros por infrações de forma
diversa da matriz geral estabelecida pelo Código Tributário Nacional (CTN). Há, neste caso, uma
inconstitucionalidade formal. Ao ampliar as hipóteses de responsabilidade de terceiros por infrações, prevista
pelos arts. 134 e 135 do CTN, ou tratar sobre o tema de maneira diferente, a lei estadual invade competência
do legislador complementar federal para estabelecer as normas gerais na matéria (art. 146, III, “b”, da CF/88).
Caso concreto: é inconstitucional lei estadual que atribui responsabilidade tributária solidária por infrações a
toda pessoa que concorra ou intervenha, ativa ou passivamente, no cumprimento da obrigação tributária,
especialmente a advogado, economista e correspondente fiscal. STF. Plenário. ADI 4845/MT, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

O termo inicial da correção monetária de ressarcimento de crédito escritural excedente de tributo


sujeito ao regime não cumulativo ocorre somente após escoado o prazo de 360 dias para a análise do pedido
administrativo pelo Fisco (art. 24 da Lei nº 11.457/2007). STJ. 1ª Seção. REsp 1767945-PR, Rel. Min. Sérgio
Kukina, julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1.003) (Info 670).

É incabível a exclusão do pagamento de honorários de sucumbência, quando o pedido de


parcelamento tributário tiver sido após o trânsito em julgado da condenação, por respeito à coisa julgada. STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1819693/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/02/2020. Isto é, se a adesão
ao parcelamento ocorreu apenas posteriormente ao trânsito em julgado da decisão que reconheceu a
improcedência dos embargos à execução e fixou a verba sucumbencial, são devidos os honorários advocatícios
fixados na sentença, porquanto acobertados pelo manto da coisa julgada.

8 – EMPRESARIAL
140

• PROPRIEDADE INDUSTRIAL

A renúncia ao registro não enseja a perda do objeto da ação que veicula pretensão de declaração de
nulidade da marca. Caso concreto: a empresa Goiás Refrigerantes S/A registro, no INPI a marca JOCA COLA. Ao
tomar conhecimento disso, a “The Coca Cola Company” ajuizou ação contra a empresa Goiás Refrigerantes S/A
e contra o INPI pedindo a nulidade desse registro. Na contestação apresentada, a Goiás Refrigerantes pediu a
extinção do processo sem resolução do mérito por perda do objeto considerando que, logo após o ajuizamento
da ação, ela (ré) renunciou ao registro da marca JOCA COLA e isso já foi homologado administrativamente pelo
INPI. Mesmo com essa renúncia, o processo deverá prosseguir considerando que a renúncia opera efeitos ex
nunc e não implica reconhecimento de que o registro continha vícios. A declaração de nulidade, por outro lado,
produz efeitos ex tunc e significa o reconhecimento de que o registro foi concedido em desacordo com as
disposições da Lei. Logo, mesmo tendo havido renúncia à marca impugnada, a continuidade da ação é necessária
para proteção dos direitos da autora relativos ao período em que a marca esteve em vigor. STJ. 3ª Turma. REsp
1832148-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

Não compete à Justiça estadual, em sede de reconvenção proposta na ação de abstenção de uso de
marca, afastar o pedido da proprietária da marca, declarando a nulidade do registro ou irregularidade da marca.
A Justiça Estadual não pode, ao julgar uma ação de abstenção de uso de marca, negar o pedido da proprietária
da marca utilizando como argumento que o registro dessa marca conteria uma nulidade ou irregularidade. A
competência para examinar eventual nulidade do registro de uma marca é da Justiça Federal. Isso porque, nessa
situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi essa autarquia federal que
concedeu o registro, incidindo, portanto, na hipótese do art. 109, I, da CF/88. Caso concreto: uma escola propôs
ação pedindo para que outra empresa de educação não utilizasse o termo “Poliedro” como marca; o TJ julgou o
pedido improcedente afirmando que essa palavra não poderia ter sido registrada como marca; logo, o registro
seria nulo. STJ. 4ª Turma. REsp 1393123-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 18/02/2020 (Info 667).

A empresa que comercializa responde solidariamente com o fabricante de produtos contrafeitos pelos
danos causados pelo uso indevido da marca. Ainda que a solidariedade não seja expressamente prevista na Lei
nº 9.279/96, a responsabilidade civil é solidária para todos os autores e coautores que adotem condutas danosas
ao direito protegido de outrem, conforme sistema geral de responsabilidade estabelecido no art. 942 do Código
Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1719131-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

• TÍTULOS DE CRÉDITO
141

O aceite é o ato por meio do qual o sacado se vincula à ordem de pagamento emitida pelo sacador,
tornando-se o responsável principal pela dívida inscrita na letra de câmbio. Se não houve aceite, não há
responsável e a letra de câmbio deixa de ter natureza de título de crédito, consistindo em um mero documento,
produzido unilateralmente pelo sacador. Assim, na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que
vincule o sacado. Nesse caso, o sacador somente tem ação extracambial contra esse sacado não aceitante. O
prazo prescricional dessa pretensão não sofre as interferências do protesto do título de crédito. A prescrição
interrompida pelo protesto cambial se refere única e exclusivamente à ação cambiária, sendo endereçada
unicamente ao responsável principal e, eventualmente, aos devedores indiretos do título, entre os quais não se
enquadra o sacado não aceitante. STJ. 3ª Turma. REsp 1748779-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
19/05/2020 (Info 672).

Caso concreto: na nota promissória constaram duas informações diferentes sobre a data de
vencimento do título: “cinco de fevereiro de dois mil e oito” e “05 de julho de 2008”. Vale ressaltar que a nota
promissória foi emitida em 05.02.2008 (data de emissão). Assim, a nota promissória contém duas datas de
vencimento igualmente expressas por extenso quanto ao mês (“fevereiro” e “julho”), sendo a primeira delas
coincidente com a data de emissão da cártula, aposta numericamente (05.02.2008). Qual delas deverá
prevalecer? Deve prevalecer a data de 05 de julho. Diante da divergência entre as expressões numérica e por
extenso da data de vencimento de nota promissória, deve-se presumir que a efetiva vontade do emitente da
nota era a de que o vencimento se desse após a emissão, prevalecendo, assim, a segunda e mais futura data de
vencimento. A nota promissória é um título de crédito próprio, e, como tal, se propõe à concessão de um prazo
para o pagamento, distinto da data da emissão da cártula, de forma que não faz sentido a emissão de uma nota
promissória com data de vencimento coincidente com a data de emissão. STJ. 3ª Turma. REsp 1730682-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

• SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial,
já que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota. STJ. 3ª Turma. REsp 1803250-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

• FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL


142

Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros órgãos
judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do trabalho. STJ. 2ª Seção. CC
162769-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2020 (Info 675).

A realidade econômica do País revela que as sociedades empresárias em crise usualmente possuem
débitos fiscais em aberto, podendo-se afirmar que as obrigações dessa natureza são as que em primeiro lugar
deixam de ser adimplidas, sobretudo quando se considera a elevada carga tributária e a complexidade do
sistema atual. Diante desse contexto, a apresentação de certidões negativa de débitos tributários pelo devedor
que busca, no Judiciário, o soerguimento de sua empresa representa exigência de difícil cumprimento. Dada a
existência de aparente antinomia entre a norma do art. 57 da LFRE e o princípio insculpido em seu art. 47
(preservação da empresa), a exigência de comprovação da regularidade fiscal do devedor para concessão da
recuperação judicial mostra-se contrária ao princípio da proporcionalidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1864625-SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/06/2020 (Info 674). Obs: o Min. Luiz Fux, em decisão monocrática,
deferiu medida liminar para suspender os efeitos dessa decisão do STJ, exigindo novamente a Certidão de
Regularidade Fiscal da empresa devedora nos termos dos arts. 57 da Lei nº 11.101/2005 e 191-A do CTN.
Segundo argumentou o Ministro, a 3ª Turma do STJ, ao afastar a aplicação do art. 57, da Lei nº 11.101/2005 e
do art. 191-A, do CTN, com fundamento no princípio da proporcionalidade, realizou verdadeiro controle difuso
de constitucionalidade, atividade que somente poderia ser feita pela Corte Especial do STJ, conforme exige o
art. 97 da CF/88 (cláusula de reserva de plenário): Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus
membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo do Poder Público. STF. Decisão monocrática. Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 08/09/2020.

Não é permitido à concordatária que descumpriu as obrigações assumidas na concordata efetuar o


pedido de recuperação judicial, nos termos do § 2º do art. 192 da Lei nº 11.101/2005. STJ. 4ª Turma. REsp
1267282-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/06/2020 (Info 677).

Na recuperação judicial, os créditos decorrentes de condenação por danos morais imposta à


recuperanda na Justiça do Trabalho são classificados como trabalhistas. Ex: João ingressou com ação de
indenização por danos morais contra a empresa em que trabalhou pelo fato de ter sofrido intoxicação alimentar
em decorrência da ingestão de alimentos contaminados no refeitório. A empresa foi condenada e, logo em
seguida, ingressou com pedido de recuperação judicial. Esse crédito será habilitado na recuperação como
crédito trabalhista (art. 41, I, da LFRE). STJ. 3ª Turma. REsp 1869964-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
16/06/2020 (Info 676).
143

O inciso III do art. 104 da Lei nº 11.101/2005 prevê que a decretação da falência impõe ao falido o
dever de não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz,
e sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei. Vale ressaltar que a antiga Lei de Falências
(DL 7.661/1945) trazia regra mais restritiva e exigia que o falido obtivesse autorização judicial expressa para que
pudesse se ausentar do lugar da falência. A norma mais benéfica do art. 104, III, da Lei nº 11.101/2005, que não
exige mais autorização judicial, mas apenas a comunicação justificada sobre mudança de residência do sócio,
inclusive para o exterior, pode ser aplicada às quebras anteriores à sua vigência. STJ. 4ª Turma. RHC 80124-RJ,
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

1ª corrente: SIM. Se o ente estatal optar por habilitar o crédito na falência, deverá renunciar o rito da
execução fiscal, na medida em que não se pode admitir bis in idem. Se a Fazenda Pública habilita o crédito na
falência e mantém a execução fiscal, isso significaria uma “garantia dúplice”, que não é permitida. STJ. 4ª Turma.
REsp 1466200/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/12/2018. 2ª corrente: NÃO. A tramitação da
ação executiva fiscal não representa, por si só, uma garantia para o credor. Diante do pedido de habilitação do
crédito na falência, não haverá obrigatoriedade de a Fazenda Pública renunciar a execução fiscal se, no processo
executivo, não há constrição de bens. Logo, é cabível a coexistência da habilitação de crédito na falência com a
execução fiscal desprovida de garantia, desde que a Fazenda Pública se abstenha de requerer a constrição de
bens em relação ao executado que também figure no polo passivo da ação falimentar. STJ. 1ª Turma. REsp
1831186-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/05/2020
(Info 674). Obs: para a 2ª Turma do STJ, a necessidade de aguardar o término da ação de falência para eventual
satisfação do seu crédito não retira da credora/exequente a faculdade de optar por ambas as vias de cobrança:
habilitação no processo falimentar e ajuizamento da execução fiscal. Isto porque, a tentativa de resguardar o
interesse público subjacente à cobrança de tal espécie de crédito, através do ajuizamento da execução fiscal e
de habilitação no processo falimentar, não possui proibição legal. STJ. 2ª Turma REsp 1866843-SP, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado 22/09/2020.

A legislação prevê que a cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores
ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento (art. 187 do CTN e o art.
29 da Lei nº 6.830/80). Isso, contudo, não representa óbice à habilitação de créditos tributários no concurso de
credores da falência. Esses dispositivos trazem, na verdade, a previsão de uma prerrogativa do ente público que
pode optar entre receber o pagamento de seu crédito pelo rito da execução fiscal, ou mediante habilitação nos
autos da falência. Assim, a despeito de existir a prerrogativa de cobrança do crédito tributário via execução
fiscal, não existe óbice para que o Fisco (no exercício de juízo de conveniência e oportunidade) venha a requerer
a habilitação de seus créditos nos autos do procedimento falimentar, submetendo-se à ordem de pagamento
144

prevista na Lei nº 11.101/2005. Vale ressaltar, no entanto, que isso implicará renúncia do rito previsto na Lei nº
6.830/80, considerando que não cabe uma garantia dúplice. Desse modo, tendo o ente público escolhido um
dos ritos à sua disposição (habilitar o crédito na falência), não pode o juízo falimentar afirmar que não existe
interesse de agir do poder público. Importante mencionar, contudo, que haverá a paralisação da tramitação da
ação de execução fiscal, que foi ajuizada antes da falência. STJ. 3ª Turma. REsp 1857055-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

A alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado deve,
em regra, se dar na forma de alienação por hasta pública, conforme o disposto nos arts. 60 e 142 da Lei nº
11.101/2005. A adoção de outras modalidades de alienação, na forma do art. 145 da Lei nº 11.101/2005, só
pode ser admitida em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta
apresentada aos credores. Nessas hipóteses, as condições do negócio devem estar minuciosamente descritas
no plano de recuperação judicial que deve ter votação destacada deste ponto, ser aprovado por maioria
substancial dos credores e homologado pelo juiz. Em suma: a alienação de unidades produtivas isoladas prevista
em plano de recuperação judicial aprovado somente poderá adotar outras modalidades de alienação em
situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentadas aos credores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1689187-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

De acordo com o art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005, não se submetem aos efeitos do processo de
soerguimento do devedor aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em que o devedor
ingressou com o pedido de recuperação judicial. O crédito passível de ser perseguido pelo fiador em face do
afiançado somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal pelo garante. Antes disso, não
existe dever jurídico de caráter patrimonial em favor deste. STJ. 3ª Turma. REsp 1860368-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

O art. 61 da Lei nº 11.101/2005 estabeleceu o prazo de 2 anos para o devedor permanecer em


recuperação judicial. Esse prazo se inicia com a concessão da recuperação judicial e se encerra com o
cumprimento de todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 anos do termo inicial: Art. 61.
Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se
cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da
recuperação judicial. Se houver o aditamento do plano de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal
de que trata o art. 61, da Lei nº 11.101/2005 continuará sendo a data da concessão da recuperação judicial ou
passará para a data em que foi homologado o aditivo ao plano? Continuará a ser a data da concessão da
recuperação judicial. A apresentação de aditivos ao plano de recuperação judicial pressupõe que o plano estava
145

sendo cumprido e, por situações que somente se mostraram depois, teve que ser modificado, o que foi admitido
pelos credores. Não há, assim, propriamente uma ruptura da fase de execução, motivo pelo qual inexiste
justificativa para a modificação do termo inicial da contagem do prazo bienal para o encerramento da
recuperação judicial. Assim, decorridos 2 anos da concessão da recuperação judicial, ela deve ser encerrada,
seja pelo cumprimento das obrigações estabelecidas para esse período, seja pela eventual decretação da
falência. STJ. 3ª Turma. REsp 1853347-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 672).

O art. 66 da Lei nº 11.101/2005 afirma que é possível a alienação de bens integrantes do ativo
permanente da empresa em recuperação judicial, desde que o juiz responsável pela condução do processo
reconheça a existência de evidente utilidade na adoção de tal medida. O art. 66 da LFRE não exige qualquer
formalidade específica para fins de se alcançar o valor dos bens a serem alienados, tampouco explicita de que
modo deverá ser procedida a venda, deixando, portanto, a critério do juiz aceitar ou não o preço enunciado e a
forma como será feita a alienação. Assim, para a alienação tratada no art. 66 não se exige o cumprimento das
formalidades previstas no art. 142 da Lei nº 11.101/2005. STJ. 3ª Turma. REsp 1819057-RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Os créditos decorrentes da prestação de serviços contábeis e afins, mesmo que titularizados por
sociedade simples, são equiparados aos créditos trabalhistas para efeitos de sujeição ao processo de
recuperação judicial. O tratamento dispensado aos honorários devidos a profissionais liberais - no que se refere
à sujeição ao plano de recuperação judicial - deve ser o mesmo conferido aos créditos de origem trabalhista, em
virtude de ambos ostentarem natureza alimentar. Esse entendimento não é obstado pelo fato de o titular do
crédito ser uma sociedade de contadores, considerando que, mesmo nessa hipótese, a natureza alimentar da
verba não é modificada. STJ. 3ª Turma. REsp 1851770-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info
665).

Os créditos constituídos depois de ter o devedor ingressado com o pedido de recuperação judicial
estão excluídos do plano e de seus efeitos (art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005). A sentença (ou o ato
jurisdicional equivalente, na competência originária dos tribunais) é o ato processual por meio do qual nasce o
direito à percepção dos honorários advocatícios sucumbenciais. Se a sentença que arbitrou os honorários
sucumbenciais se deu posteriormente ao pedido de recuperação judicial, o crédito que dali emana,
necessariamente, nascerá com natureza extraconcursal, já que, nos termos do art. 49, caput da Lei nº 11.101/05,
sujeitam-se ao plano de soerguimento os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda
que não vencidos, e não os posteriores. Por outro lado, se a sentença que arbitrou os honorários advocatícios
for anterior ao pedido recuperacional, o crédito dali decorrente deverá ser tido como concursal, devendo ser
146

habilitado e pago nos termos do plano de recuperação judicial. STJ. 2ª Seção. REsp 1841960-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/02/2020 (Info 669).

• CONTRATOS EMPRESARIAIS

Preenchidos os requisitos dispostos na Lei nº 4.886/65, compete à Justiça Comum o julgamento de


processos envolvendo relação jurídica entre representante e representada comerciais, uma vez que não há
relação de trabalho entre as partes. STF. Plenário. RE 606003, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 28/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 550) (Info 995 – clipping).

É admissível a estipulação dos encargos financeiros de contrato de abertura de crédito em percentual


sobre a taxa média aplicável aos Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs). Nos depósitos interbancários,
como em qualquer outro tipo de empréstimo, a instituição tomadora paga juros à instituição emitente. A
denominada Taxa CDI, ou simplesmente DI, é calculada com base nas taxas aplicadas em tais operações,
refletindo, portanto, o custo de captação de moeda suportado pelos bancos. STJ. 3ª Turma. REsp 1781959-SC,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

9- ECA

• ADOÇÃO

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) adota a chamada doutrina da proteção integral (art. 1º
da Lei nº 8.069/90), segundo a qual deve-se observar o melhor interesse da criança. Ressalvado o risco evidente
à integridade física e psíquica, que não é a hipótese dos autos, o acolhimento institucional não representa o
melhor interesse da criança. A observância do cadastro de adotantes não é absoluta porque deve ser sopesada
com o princípio do melhor interesse da criança, fundamento de todo o sistema de proteção ao menor. O risco
de contaminação pela Covid-19 em casa de acolhimento justifica a manutenção da criança com a família
substituta. STJ. 3ª Turma. HC 572854-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/08/2020 (Info 676).

A ordem cronológica de preferência das pessoas previamente cadastradas para adoção não tem um
caráter absoluto, devendo ceder ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, razão de ser de
todo o sistema de defesa erigido pelo ECA, que tem na doutrina da proteção integral sua pedra basilar. STJ. 3ª
Turma. HC 505730/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/05/2020.
147

O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código Civil/1916 não pode ser
alterado para a inclusão dos nomes dos ascendentes dos pais adotivos. O ordenamento jurídico vigente ao
tempo em que realizada a adoção simples da peticionante por meio de escritura pública (natureza contratual),
previa que o parentesco resultante da adoção era meramente civil e limitava-se ao adotante e ao adotado, não
se estendendo aos familiares do adotante visto que mantidos os vínculos do adotado com a sua família biológica.
Não se aplica o regime jurídico de adoção do ECA para este caso. STJ. 3ª Turma. REsp 1232387-MG, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

• ASPECTOS PROCESSUAIS

Caso concreto: o MP/CE ajuizou contra o Município de Fortaleza 10 ações civis públicas nas quais alega
que 10 diferentes crianças estão há mais tempo em acolhimento institucional do que prevê a lei. Diante disso,
o MP pediu que elas sejam encaminhadas à programa de acolhimento familiar e que sejam indenizadas por
danos morais. O juiz, invocando o art. 332, III, do CPC, julgou improcedente liminarmente o pedido (rectius:
julgou antecipadamente o pedido), ao fundamento de que se trataria de controvérsia repetitiva justamente por
se tratar de 10 ações civis públicas versando sobre o mesmo objeto. No mérito, a sentença afirmou que: i) o
acolhimento por prazo superior a 2 anos, conquanto ilegal, algumas vezes indispensável porque, em muitas
hipóteses, não há família adequada para recebê-lo; ii) não há prova de que o Município teria agido de modo
doloso, intencional ou negligente; iii) o problema do acolhimento institucional por período superior a 2 anos é
de natureza estrutural, eis que envolve a falta de recursos do Poder Público. O STJ afirmou que não era
admissível o julgamento de improcedência liminar ou o julgamento antecipado do pedido. Diferentemente do
tratamento dado à matéria no revogado CPC/73, não mais se admite, no CPC/2015, o julgamento de
improcedência liminar do pedido com base no entendimento firmado pelo juízo em que tramita o processo
sobre a questão repetitiva, exigindo-se, ao revés, que tenha havido a prévia pacificação da questão jurídica
controvertida no âmbito dos Tribunais, materializada em determinadas espécies de precedentes vinculantes, a
saber: súmula do STF ou do STJ; súmula do TJ sobre direito local; tese firmada em recursos repetitivos, em
incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção de competência. Por se tratar de
regra que limita o pleno exercício de direitos fundamentais de índole processual, em especial o contraditório e
a ampla defesa, as hipóteses autorizadoras do julgamento de improcedência liminar do pedido devem ser
interpretadas restritivamente, não se podendo dar a elas amplitude maior do que aquela textualmente indicada
pelo legislador no art. 332 do novo CPC. De igual modo, para que possa o juiz resolver o mérito liminarmente e
em favor do réu, ou até mesmo para que haja o julgamento antecipado do mérito imediatamente após a citação
do réu, é indispensável que a causa não demande ampla dilação probatória. STJ. 3ª Turma. REsp 1854842/CE,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/06/2020 (Info 673).
148

O juízo especializado da Justiça da Infância e da Juventude é competente para o cumprimento e a


efetivação do montante sucumbencial por ele arbitrado. A partir da leitura dos arts. 148 e 152 do ECA, art. 24,
§ 1º, do Estatuto da Advocacia e art. 516, II, do CPC/2015, conclui-se que, como regra, o cumprimento da
sentença (o que inclui a imposição sucumbencial), deve ocorrer nos mesmos autos em que se formou o
correspondente título exequendo e, por conseguinte, perante o juízo prolator do título. STJ. 1ª Turma. REsp
1859295-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

O art. 78 do ECA prevê o seguinte: Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou
inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência
de seu conteúdo. Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens
pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca. Esse dever de zelar pela correta
comercialização de revistas pornográficas, em embalagens opacas, lacradas e com advertência de conteúdo,
não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende a todos os integrantes da cadeia de consumo, inclusive
aos transportadores e distribuidores. STJ. 1ª Turma. REsp 1584134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 20/02/2020 (Info 666).

• MEDIDAS PROTETIVAS E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Tratando-se de medida socioeducativa aplicada sem termo, o prazo prescricional deve ter como
parâmetro a duração máxima da internação (3 anos), e não o tempo da medida, que poderá efetivamente ser
cumprida até que o socioeducando complete 21 anos de idade. Assim, deve-se considerar o lapso prescricional
de 8 anos previsto no art. 109, IV, do Código Penal, posteriormente reduzido pela metade em razão do disposto
no art. 115 do mesmo diploma legal, de maneira a restar fixado em 4 anos. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1856028-
SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação,
desde que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições
necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade
permaneça com o seu filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº 12.594/12 - SINASE).
STJ. 5ª Turma. HC 543279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

• CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS


149

Exemplo: Adriano, de 20 anos, foi sentenciado a cumprir medida socioeducativa de internação em


virtude de ato infracional praticado quando ele era adolescente. A sentença transitou em julgado. Ocorre que o
juízo da vara de infância e juventude constatou que Adriano encontra-se preso em razão de crime de roubo
cometido quando ele já era adulto. Diante disso, o juízo da vara infracional extinguiu a execução da medida
socioeducativa afirmando que, tendo em vista a sua idade e o seu perfil pessoal agravado, não restam objetivos
pedagógicos no cumprimento da internação. O STJ afirmou que a decisão foi acertada. O art. 46, § 1º da Lei nº
12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê a seguinte faculdade para o julgador: Art. 46 (...) § 1º No caso de o maior de
18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá à autoridade
judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da decisão o juízo criminal competente.
STJ. 6ª Turma. HC 551319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

10- CONSUMIDOR

• CONCEITO DE CONSUMIDOR

O art. 39, IV, do CDC é inaplicável às instituições financeiras quando do encerramento unilateral de
conta bancária, afastando-se a obrigatoriedade de manutenção do contrato de conta-corrente. Isto porque, o
encerramento do contrato de conta corrente consiste em um direito subjetivo exercitável por qualquer das
partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp
1473795/RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/06/2020

No contrato de compra e venda de insumos agrícolas, o produtor rural não pode ser considerado
destinatário final, razão pela qual, nesses casos, não incide o Código de Defesa do Consumidor. STJ. 4ª Turma.
AgInt no AREsp 363.209/RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/06/2020. STJ. 3ª Turma. AgInt no AgInt no
AREsp 1509325/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, julgado em 20/04/2020.

Caso concreto: João ajuizou ação contra o Itaú Unibanco alegando que é acionista investidor da
instituição financeira e que deveria ter recebido dividendos correspondentes às suas ações preferenciais e que
eles não foram pagos pelo banco. Afirmou que se trata de relação de consumo e que, portanto, deveria ser
aplicado o CDC. O STJ não concordou com a tese. De acordo com a teoria finalista ou subjetiva, adotada pelo
STJ, o conceito de consumidor, para efeito de incidência das normas protetivas do CDC, leva em consideração a
condição de destinatário final do produto ou serviço, nos termos do art. 2º do código. Assim, segundo a teoria
subjetiva ou finalista, destinatário final é aquele que ultima a atividade econômica, isto é, que retira de
circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria. O
150

investidor, ao adquirir ações no mercado imobiliário visando o recebimento de lucros e dividendos, não está
abrangido pela proteção do CDC. Na atividade de aquisição de ações não é possível identificar nenhuma
prestação de serviço por parte da instituição financeira, havendo sim uma relação de cunho puramente
societário e empresarial. Situação diferente ocorreria se a ação envolvesse o serviço de corretagem de valores
e título mobiliários. STJ. 3ª Turma. REsp 1685098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info 671).

• FATO DO PRODUTO/SERVIÇO

Exemplo hipotético: uma criança foi atendida na emergência de um hospital particular conveniado ao
SUS. Em razão de erro médico, ela acabou falecendo. Os pais da criança pretendem ajuizar ação de indenização
por danos morais contra os médicos e o hospital. Qual é o prazo prescricional neste caso? 5 anos, com base no
art. 1º-C, da Lei nº 9.494/97: Art. 1º-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos
causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos. A participação complementar da iniciativa privada na execução de ações e
serviços de saúde se formaliza mediante contrato ou convênio com a administração pública (art. 24, parágrafo
único, da Lei nº 8.080/90). Assim, o hospital privado que, mediante convênio, se credencia para exercer essa
atividade de saúde pública, recebendo, em contrapartida, remuneração dos cofres públicos, passa a
desempenhar o múnus público. O mesmo acontecendo com o profissional da medicina que, diretamente, se
obriga com o SUS. A participação complementar da iniciativa privada - seja das pessoas jurídicas, seja dos
respectivos profissionais - na execução de atividades de saúde caracteriza-se como serviço público indivisível e
universal (uti universi), o que afasta, por conseguinte, a incidência das regras do CDC. Logo, não se aplica o prazo
prescricional do art. 27 do CDC, mas sim o do art. 1º-C da Lei nº 9.494/97. Obs: na prática, não muda nada
quanto ao prazo porque tanto o art. 27 como o art. 1º-C preveem o prazo de 5 anos. STJ. 3ª Turma. REsp
1771169-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/05/2020 (Info 672).

O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de informar qualificado (art. 9º do


CDC), cuja violação está prevista no § 1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese de defeito do produto, que enseja
a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento danoso dele decorrente. O ordenamento jurídico não
exige que os medicamentos sejam fabricados com garantia de segurança absoluta, até porque se trata de uma
atividade de risco permitido, mas exige que garantam a segurança legitimamente esperável, tolerando os riscos
considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, desde que o consumidor receba
as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC). O fato de o uso de um medicamento
causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura defeito do produto se o usuário foi prévia
151

e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes, de modo a poder decidir, de forma livre,
refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de ter a possibilidade de mitigar eventuais
danos que venham a ocorrer em função dele. O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não
podia ser conhecido ou evitado no momento em que o medicamento foi colocado em circulação, constitui
defeito existente desde o momento da concepção do produto, embora não perceptível a priori, caracterizando,
pois, hipótese de fortuito interno. STJ. 3ª Turma. REsp 1774372-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
05/05/2020 (Info 671).

• PRÁTICAS COMERCIAIS

O reembolso das despesas médico-hospitalares efetuadas por beneficiário de plano de saúde fora da
rede credenciada é obrigatório somente em hipóteses excepcionais, como por exemplo: • inexistência ou
insuficiência de estabelecimento ou profissional credenciado no local; e • urgência ou emergência do
procedimento. STJ. 2ª Seção. EAREsp 1459849/ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/10/2020.

Os beneficiários de plano de saúde coletivo, após a resilição unilateral do contrato pela operadora,
têm direito à portabilidade de carências ao contratar novo plano observado o prazo de permanência no anterior,
sem o cumprimento de novos períodos de carência ou de cobertura parcial temporária e sem custo adicional
pelo exercício do direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1732511-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/08/2020
(Info 677).

Caso concreto: mulher, que estava fazendo quimioterapia, corria o risco de se tornar infértil em razão
do tratamento que gera falência ovariana. A forma de preservar a capacidade reprodutiva, nestes casos, é o
congelamento dos óvulos (criopreservação). Diante disso, ela pleiteou junto ao plano de saúde que custeasse
esse procedimento, o que foi negado. Para o STJ, é devida a cobertura, ou seja, o plano de saúde tem que arcar
com esse tratamento. O objetivo de todo tratamento médico, além de curar a doença, é não causar mal. Esse é
um dos princípios milenares da medicina conhecido pela locução “primum, non nocere” (primeiro, não
prejudicar). Esse princípio está consagrado no art. 35-F da Lei nº 9.656/98, segundo o qual a cobertura dos
planos de saúde abrange também a prevenção de doenças, no caso, a infertilidade. Vale ressaltar que, depois
de obter alta do tratamento quimioterápico, caberá à mulher custear o tratamento de reprodução assistida,
considerando que isso se encontra fora da cobertura do plano. STJ. 3ª Turma. REsp 1815796-RJ, Rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2020 (Info 673). Cuidado para não confundir: • usuária é infértil e busca
tratamento para a infertilidade (ex: inseminação artificial): plano de saúde não é obrigado a custear. • usuária é
fértil e busca a criopreservação como forma de prevenir a infertilidade: plano de saúde é obrigado a custear.
152

Na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública, aplica-se, por analogia, o prazo de
prescrição da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei nº 4.717/65), adotando-se também tal lapso na
respectiva execução, a teor da Súmula 150 do STF. A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação
de outra legislação também integrante do microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os
coletivos e difusos, a afastar os prazos do Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais homogêneos.
Assim, a despeito da existência de recurso especial julgado sob o rito dos recursos repetitivos sobre a prescrição
trienal para ações de cobrança contra plano de saúde, nota-se que esse versou sobre as ações ordinárias
individuais, de modo que o entendimento referente à aplicação do prazo quinquenal às tutelas coletivas é
específico e, consequentemente, prevalece no caso. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1807990-SP, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

É decenal o prazo prescricional aplicável ao exercício da pretensão de reembolso de despesas médico-


hospitalares alegadamente cobertas pelo contrato de plano de saúde (ou de seguro saúde), mas que não foram
adimplidas pela operadora. STJ. 2ª Seção. REsp 1756283-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
11/03/2020 (Info 673).

É decenal o prazo prescricional aplicável ao exercício da pretensão de reembolso de despesas médico-


hospitalares alegadamente cobertas pelo contrato de plano de saúde (ou de seguro saúde), mas que não foram
adimplidas pela operadora. STJ. 2ª Seção. REsp 1.756.283-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
11/03/2020 (Info 673).

Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial,
exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese em
que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou
dependente do trabalhador. STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668). Vale ressaltar, contudo, que temos aqui
uma “polêmica”. No mesmo dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª Seção apreciou o CC 165.863-SP no qual
foram redigidas teses aparentemente contraditórias com as do REsp 1.799.343-SP. Compare: Compete à Justiça
comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, sendo irrelevante a existência
de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo ou convenção coletiva. Para a definição
da competência do julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, é irrelevante a
distinção entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do trabalhador. STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 667). Foram opostos embargos de
153

declaração nos dois processos, de forma que o tema deverá ser esclarecido em breve. Penso, contudo, que irá
prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque reflete o entendimento presentes em outros
julgados do STJ.

Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial,
exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese em
que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou
dependente do trabalhador. STJ. 2ª Seção. REsp 1799343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668). Vale ressaltar, contudo, que temos aqui
uma “polêmica”. No mesmo dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª Seção apreciou o CC 165.863-SP no qual
foram redigidas teses aparentemente contraditórias com as do REsp 1.799.343-SP. Compare: Compete à Justiça
comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, sendo irrelevante a existência
de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo ou convenção coletiva. Para a definição
da competência do julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde, é irrelevante a
distinção entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do trabalhador. STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 667). Foram opostos embargos de
declaração nos dois processos, de forma que o tema deverá ser esclarecido em breve. Penso, contudo, que irá
prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque reflete o entendimento presentes em outros
julgados do STJ.

Não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de fertilização
in vitro, quando não houver previsão contratual expressa. O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98 estabelce que a
“inseminação artificial” não é um procedimento de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Em outras
palavras, o contrato pode ou não prever a cobertura desse tratamento. Se o contrato não cobrir expressamente
e o plano de saúde, em virtude disso, se recusar a custear, essa negativa não será abusiva. Vale ressaltar que a
fertilização in vitro não é mesmo que inseminação artificial. Mesmo assim, a partir de uma interpretação
sistemática e teleológica, que garanta o equilíbrio atuarial do sistema, deve-se entender que o mesmo raciocínio
se aplica para a fertilização in vitro e que este tratamento também não é de cobertura obrigatória. Nesse
sentido, a Resolução Normativa nº 428/2017, da ANS permite que o plano de saúde não ofereça inseminação
artificial e outras técnicas de reprodução humana assistida. Assim, ao falar em outras técnicas, pode-se incluir
aí a fertilização in vitro. STJ. 3ª Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy
Andrighi, julgado em 18/02/2020. STJ. 4ª Turma. REsp 1823077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
20/02/2020 (Info 666).
154

O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98, ao excluir a inseminação artificial do plano-referência de assistência à
saúde, também excluiu a técnica de fertilização in vitro. A inseminação artificial compreende a fertilização in
vitro, bem como todas as técnicas médico-científicas de reprodução assistida, sejam elas realizadas dentro ou
fora do corpo feminino. Isso significa que não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde,
do tratamento de fertilização in vitro, quando não houver previsão contratual expressa. STJ. 3ª Turma. REsp
1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 667).
STJ. 4ª Turma. REsp 1823077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

É possível o redirecionamento da condenação de veicular contrapropaganda imposta a posto de


gasolina matriz à sua filial. Ainda que possuam CNPJ diversos e autonomia administrativa e operacional, as filiais
são um desdobramento da matriz por integrar a pessoa jurídica como um todo. Eventual decisão contrária à
matriz por atos prejudiciais a consumidores é extensível às filiais. Obs: a contrapropaganda é uma medida
imposta nos casos de veiculação de publicidade inverídica ou abusiva, que busca anular ou compensar os efeitos
nocivos da publicidade ilícita. A finalidade, portanto, é corrigir o desvio cometido na publicidade antijurídica
veiculada pelo fornecedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1655796-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
11/02/2020 (Info 665).

A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do hospital próprio
ou credenciado, sem justificativa plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do plano
de saúde, resultando na sua responsabilização. A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária
por defeito na prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1414776-SP, Rel.
Min. Raul Araújo, julgado em 11/02/2020 (Info 666). O plano de saúde é solidariamente responsável pelos danos
causados aos associados pela sua rede credenciada de médicos e hospitais. Assim, no caso de erro médico
cometido por profissional credenciado, a operadora responderá, solidariamente, com o médico, pelos danos
causados ao paciente. O plano de saúde possui responsabilidade objetiva perante o consumidor, podendo, em
ação regressiva, averiguar a culpa do médico ou do hospital. STJ. 4ª Turma. REsp 866371-RS, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 27/3/2012 (Info 494).

Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção prevista no art. 940 do Código Civil
mesmo sendo uma relação de consumo. O art. 940 do CC e o art. 42 do CDC incidem em hipóteses diferentes,
tutelando, cada um deles, uma situação específica envolvendo a cobrança de dívidas pelos credores. Mesmo
diante de uma relação de consumo, se inexistentes os pressupostos de aplicação do art. 42, parágrafo único, do
CDC, deve ser aplicado o sistema geral do Código Civil, no que couber. O art. 940 do CC é norma complementar
155

ao art. 42, parágrafo único, do CDC e, no caso, sua aplicação está alinhada ao cumprimento do mandamento
constitucional de proteção do consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1645589-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES

Admite-se a flexibilização da orientação contida na súmula 385/STJ para reconhecer o dano moral
decorrente da inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro restritivo, ainda que não tenha havido o
trânsito em julgado das outras demandas em que se apontava a irregularidade das anotações preexistentes,
desde que haja nos autos elementos aptos a demonstrar a verossimilhança das alegações. STJ. 3ª Turma. REsp
1704002-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

• DIVERSOS

Em caso de danos MATERIAIS: SIM. Em caso de danos MORAIS: NÃO. As indenizações por danos morais
decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional não estão submetidas à tarifação prevista
na Convenção de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a efetiva reparação do consumidor preceituada
pelo CDC. A tese fixada pelo STF no RE 636331/RJ (Tema 210) tem aplicação apenas aos pedidos de reparação
por danos materiais. STJ. 3ª Turma. REsp 1842066-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2020 (Info
673).

Caso concreto: em decorrência de uma falha no site da empresa de turismo Decolar.com, constou que
duas passagens aéreas, ida e volta, de Brasília para Amsterdã (Holanda) custariam cerca de R$ 1 mil. Um casal
tentou efetuar a compra, fazendo uma reserva no site. Dois dias depois, contudo, eles receberam um e-mail da
empresa explicando que houve uma falha, cancelando a reserva. Não houve necessidade de estorno no cartão
de crédito, pois a cobrança não foi feita no momento da reserva. Os consumidores ajuizaram ação pedindo a
emissão dos bilhetes no valor que havia sido ofertado. O STJ, entretanto, não acolheu o pedido. Para o Tribunal,
o erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a
falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta. O Código de Defesa do Consumidor não é
somente um conjunto de artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de tudo, ele é um
instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e consumidores, sempre com base
nos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual. No caso, os consumidores promoveram a reserva de bilhetes
aéreos com destino internacional a preço muito aquém do praticado por outras empresas aéreas, não tendo
sequer havido a emissão dos bilhetes eletrônicos (e-tickets) que pudessem formalizar a compra. Agrega-se o
156

fato de que os valores sequer foram debitados do cartão de crédito e, em curto período, os consumidores
receberam e-mail informando a não conclusão da operação. Nesse contexto, é inadmissível que, diante de
inegável erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços, possa se reconhecer a falha da prestação dos
serviços das empresas, que prontamente impediram o lançamento de valores na fatura do cartão de crédito
utilizado, informando, ainda, com antecedência necessária ao voo, o cancelamento da operação. Por
conseguinte, não há que se falar em violação do princípio da vinculação da oferta (art. 30 do CDC). STJ. 3ª Turma.
REsp 1794991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

11 – PREVIDENCIÁRIO

• APOSENTADORIA

O mero exercício de atividade urbana, por si só, não afasta a condição de segurado especial, que
poderá fazer jus à aposentadoria rural por idade se demonstrar exercer a atividade rurícola, ainda que
descontínua, nos moldes definidos no art. 143 da Lei 8.213/1991. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1372614/SP,
Rel. Min. Napoleão Nunes, julgado em 26/10/2020. STJ. 2ª Turma. REsp 1845070/RS, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 26/11/2019.

Caso concreto: o segurado teve indeferido pelo INSS benefício por incapacidade (auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez) na via administrativa. Para conseguir se sustentar, teve que trabalhar após o
indeferimento e entrou com ação judicial para a concessão do benefício. O pedido foi julgado procedente para
conceder o benefício desde o requerimento administrativo, o que acabou por abranger o período em que o
segurado trabalhou. O INSS alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não poderia ser
pago no período em que o segurado estava trabalhando. Isso porque o benefício por incapacidade não pode ser
cumulado com salário. O STJ não concordou com a tese da autarquia. O segurado foi obrigado a trabalhar,
mesmo estando incapacitado, por culpa do INSS, que indeferiu o benefício indevidamente. Esse trabalho
realizado para o sustento, mesmo diante de uma situação de incapacidade é chamado de “sobre-esforço”. Tese
fixada pelo STJ: No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou
de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do respectivo
benefício previdenciário pago retroativamente. STJ. 1ª Seção. REsp 1788700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1013) (Info 675).
157

É aplicável o art. 187 do Decreto nº 3.048/99 quando a aposentadoria foi deferida com base no direito
adquirido anterior à vigência da Emenda Constitucional n. 20/1998, devendo a atualização dos salários de
contribuição integrantes do período básico de cálculo observar como marco final a data ficta de dezembro de
1998 e, a partir de então, a renda mensal inicial deverá ser reajustada até a data da entrada do requerimento
administrativo pelos índices de reajustamento dos benefícios. STJ. 1ª Seção. PUIL 810-SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 10/06/2020 (Info 676).

I – É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o


beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela
que ensejou a aposentação precoce ou não. II – Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e
continuar a exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento,
remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros. Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja
na judicial, a implantação do benefício, uma vez verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará
o benefício previdenciário em questão. STF. Plenário. RE 791961, Rel. Dias Toffoli, julgado em 08/06/2020
(Repercussão Geral – Tema 709) (Info 987 – clipping).

Apesar da proibição do trabalho infantil, o tempo de labor rural prestado por menor de 12 anos deve
ser computado para fins previdenciários. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 956558-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, julgado em 02/06/2020 (Info 674).

Em 2016, o STF decidiu que não há previsão legal do direito à “desaposentação”. Depois da decisão do
STF começaram a ser propostas ações alegando que o Supremo havia decidido apenas sobre a desaposentação,
mas não sobre a reaposentação. • Desaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar, continua
trabalhando e pagando contribuições previdenciárias. Depois de algum tempo nessa situação, ele renuncia à
aposentadoria que recebe e pede para somar o tempo que contribuiu antes e depois da aposentadoria com o
objetivo de requerer uma nova aposentadoria, desta vez mais vantajosa. • Reaposentação: o segurado, mesmo
depois de se aposentar, continua trabalhando e pagando contribuições previdenciárias. Depois de algum tempo
nessa situação, ele renuncia à aposentadoria que recebe e pede para que seja concedida uma nova
aposentadoria utilizando unicamente o tempo de contribuição posterior à primeira aposentadoria. Os Ministros
entenderam que o STF já rejeitou a hipótese de reaposentação no primeiro julgamento ocorrido em 2016. No
entanto, para evitar dúvidas, o STF resolveu alterar a tese anterior para deixar isso mais claro: Tese original: No
âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à “desaposentação”, sendo constitucional a
regra do art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991. Tese modificada: No âmbito do Regime Geral de Previdência Social -
158

RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do
direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº
8.213/1991. Por outro lado, o STF deu parcial provimento aos embargos declaratórios para: • dizer que são
irrepetíveis os valores alimentares recebidos de boa-fé por segurados beneficiados com desaposentação ou
reaposentação, até a proclamação do resultado. • garantir o direito daqueles que usufruem de
“desaposentação” ou de “reaposentação” em decorrência de decisão transitada em julgado, até a proclamação
do resultado do julgamento dos embargos de declaração (06/02/2020). STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE
827833 ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020
(repercussão geral) (Info 965).

• PREVIDÊNCIA PRIVADA

Qual é o prazo prescricional para que o beneficiário de plano de previdência complementar requeira
a devolução de valores que foram descontados indevidamente? 1ª corrente: 3 anos. Fundamento: art. 206, §
3º, IV, do Código Civil (enriquecimento sem causa). A prescrição da pretensão de devolução de parcelas
descontadas indevidamente dos vencimentos dos beneficiários de contrato de previdência privada é de 3 anos,
estabelecida no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil, por se tratar de ressarcimento de enriquecimento sem causa.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1763228/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/06/2020. 2ª corrente:
10 anos. Fundamento: art. 205 do Código Civil (prazo geral pela ausência de prazo específico). O prazo
prescricional aplicável à pretensão de restituição de contribuições descontadas indevidamente dos beneficiários
de contrato de previdência complementar é de 10 anos. STJ. 3ª Turma. REsp 1803627-SP, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Caso concreto: ação proposta na Justiça do Trabalho em face da CEF e da FUNCEF na qual o autor
pretende a inclusão da verba denominada CTVA - Complemento Temporário Variável Ajuste de Mercado na
composição de salário de participação, com os devidos reflexos no cálculo de benefício de complementação de
aposentadoria. Essa demanda cumula pretensões de natureza distintas, havendo um pedido antecedente de
reconhecimento da natureza salarial da verba CTVA, com a condenação da empregadora (CEF) em aportar
contribuições previdenciárias, e um pedido consequente de recálculo do valor do benefício de suplementação
de aposentadoria a cargo da entidade de previdência privada (FUNCEF). Em hipóteses como essa, em se tratando
de cumulação de pedidos envolvendo matérias de diferentes competências, deve a ação prosseguir
primeiramente na Justiça Especializada (Justiça do Trabalho), para o exame das pretensões derivadas da relação
de trabalho. Em seguida, o autor poderá ajuizar nova ação perante a Justiça Comum com vistas ao deslinde da
controvérsia relativa ao reajuste do benefício de suplementação de aposentadoria. Aplica-se, com as adaptações
159

necessárias, o disposto na Súmula 170/STJ: Compete ao juízo onde primeiro for intentada a ação envolvendo
acumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites da sua jurisdição, sem prejuízo de nova
causa, com pedido remanescente, no juízo próprio. STJ. 2ª Seção. CC 158327-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

• CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

É legítima a incidência de contribuição social, a cargo do empregador, sobre os valores pagos ao


empregado a título de terço constitucional de férias gozadas. STF. Plenário. RE 1072485, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 985) (Info 993 – clipping).

• PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL PREVIDENCIÁRIO

No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de


aposentadoria por invalidez mediante decisão judicial, o segurado do RGPS tem direito ao recebimento conjunto
das rendas do trabalho exercido – ainda que incompatível com a sua incapacidade laboral – e do benefício
previdenciário pago retroativamente. É possível o recebimento de benefício por incapacidade do RGPS (auxílio-
doença ou aposentadoria por invalidez), concedido judicialmente, em período de abrangência concomitante
àquele em que o segurado estava trabalhando e aguardava o deferimento do benefício Caso concreto: o
segurado teve indeferido benefício por incapacidade (auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez) na via
administrativa. Para prover seu sustento, trabalhou após o indeferimento e entrou com ação judicial para a
concessão de benefício por incapacidade. O pedido foi julgado procedente para conceder o benefício desde o
requerimento administrativo, o que acabou por abranger o período em que o segurado trabalhou. O INSS
alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não poderia ser pago no período em que o
segurado estava trabalhando. O STJ não concordou com a tese da autarquia. Por culpa do INSS, resultado do
equivocado indeferimento do benefício, o segurado teve de trabalhar, incapacitado, para o provimento de suas
necessidades básicas. Isso é chamado de “sobre-esforço”. A remuneração por esse trabalho deve ser mantida
por representar justa contraprestação pecuniária. O princípio da vedação do enriquecimento sem causa atua
contra a autarquia previdenciária, pois, por culpa sua - indeferimento equivocado do benefício por incapacidade
-, o segurado foi privado do benefício que era devido e que, se ele tivesse recebido, não precisaria trabalhar. O
segurado, ao trabalhar enquanto espera a concessão de benefício por incapacidade, está atuando de boa-fé,
cláusula geral hodiernamente fortalecida na regência das relações de direito. Tese fixada pelo STJ: “No período
entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de aposentadoria por
invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento conjunto das rendas do
160

trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do respectivo benefício
previdenciário pago retroativamente.” STJ. 1ª Seção. REsp 1786590/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
24/06/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1.013).

• DIVERSOS

É inconstitucional a nova redação ao art. 103 da Lei nº 8.213/91 dada pela Lei nº 13.846/2019. A Lei
nº 13.846/2019 impôs prazo decadencial para a revisão dos atos de indeferimento, cancelamento, cessação do
benefício e deferimento, indeferimento e não concessão de revisão de benefício. Ocorre que, ao fazer isso, a Lei
incide em inconstitucionalidade porque não preserva o fundo de direito considerando que, na hipótese em que
negado o benefício, caso inviabilizada pelo decurso do tempo a rediscussão da negativa, é comprometido o
exercício do direito material à sua obtenção. Isso significa que a decadência irá gerar a negativa do próprio
benefício em si considerado. STF. Plenário. ADI 6096, Rel. Edson Fachin, julgado em 13/10/2020.

É constitucional a previsão legal de presunção de vínculo entre a incapacidade do segurado e suas


atividades profissionais quando constatada pela Previdência Social a presença do nexo técnico epidemiológico
entre o trabalho e o agravo, podendo ser elidida pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social se
demonstrada a inexistência. STF. Plenário. ADI 3931, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 20/04/2020 (Info 977).

12 – AMBIENTAL

• COMPETÊNCIA

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo o que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de
seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info
975).
161

• RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade
econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável
pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo
de terceiro ou força maior. No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área
ambiental protegida. Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada –
isso não é causa excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento. Mesmo que se considere
que a instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença
ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco concretizado
no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1612887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental. STF. Plenário. RE 654833, Rel.
Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 999) (Info 983 – clipping).

• DIVERSOS

O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no cálculo
do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes
de sua vigência. Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se
admitir a aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso
ambiental. STJ. 1ª Turma. REsp 1646193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 12/05/2020 (Info 673).

13- FINANCEIRO

A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101/2000) é formalmente constitucional,


não houve qualquer vício na tramitação do projeto, tendo sido respeitado o devido processo legislativo. No que
tange ao aspecto material, o STF declarou a constitucionalidade dos arts. 4º, § 2º, II, e § 4º; 7º, caput e § 1º; 11,
parágrafo único; 14, II; 17, §§ 1º a 7º; 18, § 1º; 20; 24; 26, § 1º; 28, § 2º; 29, I, e § 2º; 39; 59, § 1º, IV; 60; e 68,
caput, da LRF. Por outro lado, o STF julgou inconstitucionais o art. 9º, § 3º, o caput dos arts. 56 e 57 e o § 2º do
art. 23. Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto,
de modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver
162

provido. Art. 9º, § 3º Veja o que diz o § 3º do art. 9º: Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a
realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal
estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos
montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira,
segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (...) § 3º No caso de os Poderes Legislativo e
Judiciário e o Ministério Público não promoverem a limitação no prazo estabelecido no caput, é o Poder
Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes
orçamentárias. Com relação ao § 3º do art. 9º, o STF entendeu que a norma prevista não guarda pertinência
com o modelo de freios e contrapesos estabelecido constitucionalmente para assegurar o exercício responsável
da autonomia financeira por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público. Isso porque o
dispositivo estabelece inconstitucional hierarquização subserviente em relação ao Executivo, permitindo que,
unilateralmente, limite os valores financeiros segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias
no caso daqueles outros dois Poderes e instituição não promoverem a limitação no prazo fixado no caput. A
defesa de um Estado Democrático de Direito exige o afastamento de normas legais que repudiam o sistema de
organização liberal, em especial, na presente hipótese, o desrespeito à separação das funções do Poder e suas
autonomias constitucionais. Caput dos arts. 56 e 57 Esses dispositivos preveem o seguinte: Art. 56. As contas
prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos Presidentes dos órgãos dos
Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referidos no art. 20, as quais receberão parecer
prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas. Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer
prévio conclusivo sobre as contas no prazo de sessenta dias do recebimento, se outro não estiver estabelecido
nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas municipais. O STF considerou que houve um desvirtuamento
do modelo previsto nos arts. 71 e seguintes da CF/88. A Constituição determina que as contas do Poder
Executivo englobarão todas as contas, receberão um parecer conjunto do Tribunal de Contas, e serão julgadas
pelo Congresso. No caso do Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo, o Tribunal de Contas julga as
contas, e não apenas dá um parecer prévio. Art. 23, § 1º e art. 23, § 2º Veja a redação dos dispositivos: Art. 23.
Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos no mesmo
artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois
quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências
previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição. § 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição,
o objetivo poderá ser alcançado tanto pela extinção de cargos e funções quanto pela redução dos valores a eles
atribuídos. § 2º É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à
nova carga horária. Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem
redução de texto, de modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo
que estiver provido. Quanto ao § 2º do art. 23, declarou a sua inconstitucionalidade. É inconstitucional qualquer
163

interpretação de dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal que permita a redução de vencimentos de


servidores públicos para a adequação de despesas com pessoal. É inconstitucional o § 2º do art. 23 da LRF, que
faculta a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária,
caso sejam ultrapassados os limites definidos na lei para despesas com pessoal nas diversas esferas do poder
público. Essa possibilidade de redução fere o princípio constitucional da irredutibilidade de vencimentos (art.
37, XV, da CF/88). STF. Plenário. ADI 2238/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/6/2020 (Info 983).

Os arts. 14, 16, 17 e 24 da LRF exigem, para o aumento de gastos tributários indiretos e despesas
obrigatórias de caráter continuado, as estimativas de impacto orçamentário-financeiro e a compatibilidade com
a LDO, além da demonstração da origem dos recursos e a compensação de seus efeitos financeiros nos exercícios
seguintes. O art. 114 da LDO/2020 também traz restrições nesse sentido. Durante a pandemia do coronavírus,
o Governo precisava tomar uma série de medidas que implicariam renúncia de receita ou então criação ou
aumento de despesas e isso ofenderia as regras acima listadas. Diante disso, o Presidente da República ajuizou
ADI pedindo que o STF afastasse essas exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF 101/2000) e da
LDO/2020 em relação à criação e à expansão de programas de prevenção ao novo coronavírus e de proteção da
população vulnerável à pandemia. O Min. Alexandre de Moraes, monocraticamente, deferiu medida cautelar
concordando com o pedido. Depois da liminar foi editada a Lei nº Lei nº 13.983/2020 e a EC 106/2020, que
excepcionaram a aplicação dessas regras durante o período de calamidade pública decorrente do coronavírus.
Diante disso, o STF decidiu: • referendar a medida cautelar deferida, ou seja, dizer que foi uma decisão
juridicamente correta e que seus efeitos deveriam ser confirmados, por questões de segurança jurídica; • mas,
ao mesmo tempo, o STF decidiu extinguir a ADI por perda superveniente de objeto. Vale ressaltar que o art. 3º
da EC 106/2020 é aplicável não apenas à União, mas também Estados, DF e Municípios. STF. Plenário. ADI 6357
MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/5/2020 (Info 977).

A Lei estadual, ao permitir a utilização dos recursos de depósitos judiciais em percentual superior ao
previsto na legislação nacional, e ainda para finalidades discricionárias, bem como ao estabelecer o repasse de
rendimentos dos depósitos judiciais ao Fundo de Reaparelhamento do Poder Judiciário, contraria o art. 101, §§
2º, I e II, e 3º, do ADCT e a Lei Complementar federal 151/2015, além de invadir a competência da União para
legislar sobre direito processual (art. 22, I, da CF/88) e sobre normas gerais de direito financeiro (art. 24, I, da
CF/88). STF. Plenário. ADI 5353 MC-Ref/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/09/2016 (Info 841). STF.
Plenário. ADI 5080, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

O art. 82, § 1º do ADCT permite que os Estados aumentem em até 2% a alíquota do ICMS que é cobrado
sobre produtos e serviços considerados supérfluos. O valor arrecadado com esses 2% a mais deverão ser
164

destinados exclusivamente ao Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza: Art. 82. Os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios devem instituir Fundos de Combate à Pobreza, com os recursos de que trata
este artigo e outros que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser geridos por entidades que contem
com a participação da sociedade civil. § 1º Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital, poderá ser
criado adicional de até dois pontos percentuais na alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços - ICMS, sobre os produtos e serviços supérfluos e nas condições definidas na lei complementar de que
trata o art. 155, § 2º, XII, da Constituição, não se aplicando, sobre este percentual, o disposto no art. 158, IV, da
Constituição. (...) As receitas provenientes do adicional previsto pelo § 1º do art. 82 do ADCT não podem ser
consideradas para efeito de cálculo da amortização da dívida do Estado (não podem ser incluídas no cálculo da
dívida pública do Estado com a União). Por outro lado, tais recursos devem sim ser considerados para efeito de
cálculo do montante mínimo destinado à saúde e à educação. STF. Plenário. ACO 727/BA, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

14 – INTERNACIONAL

• EXPULSÃO

O § 1º do art. 75 da Lei nº 6.815/80 não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, sendo
vedada a expulsão de estrangeiro cujo filho brasileiro foi reconhecido ou adotado posteriormente ao fato
ensejador do ato expulsório, uma vez comprovado estar a criança sob a guarda do estrangeiro e deste depender
economicamente. STF. Plenário. RE 608898/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/6/2020 (Repercussão
Geral – Tema 373) (Info 983).

Para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade não é exigível a contemporaneidade


dessas mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato expulsório. Caso concreto: portaria de
expulsão do estrangeiro foi publicada em 2017; enquanto aguardava a efetivação da expulsão, esse estrangeiro
teve um filho brasileiro, nascido em 2019; a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), em seu art. 55, II, “a”, proíbe
a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou dependência econômica ou
socioafetiva; muito embora a portaria de expulsão tenha sido editada antes do nascimento do filho brasileiro, o
certo é que não se pode exigir para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade a
contemporaneidade dessas mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato expulsório. STJ. 1ª
Seção. HC 452975-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 667).

15 – DIREITO ELEITORAL
165

• INELEGIBILIDADES

O art. 1º, I, “g”, da LC 64/90 prevê que são inelegíveis para qualquer cargo os que tiverem suas contas
rejeitadas pelo Tribunal de Contas “por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade
administrativa”. Assim, a rejeição de contas só gera a inelegibilidade se a irregularidade insanável que for
detectada configurar ato doloso de improbidade administrativa. Não é possível fazer uma interpretação
extensiva desse dispositivo para dizer que a simples violação da Lei de Licitações configura ato doloso de
improbidade administrativa e que, portanto, caracteriza essa hipótese de inelegibilidade. É necessário fazer uma
distinção entre “ato meramente ilegal” e “ato ímprobo”, exigindo para este último uma qualificação especial:
lesar o erário ou, ainda, promover enriquecimento ilícito ou favorecimento contra legem de terceiro. STF. 2ª
Turma. ARE 1197808 AgR-segundo e terceiro/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968).

• PARTIDOS POLÍTICOS

Mesmo com a situação de calamidade pública decorrente da covid-19, são constitucionais e devem ser
mantidos os prazos para filiação partidária e desincompatibilização previstos na legislação para a as eleições
municipais de 2020. STF. Plenário. ADI 6359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2020 (Info 977).

São constitucionais as modificações realizadas pela Lei nº 13.107/2015 nos arts. 7º e 29 da Lei nº
9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos). A Constituição Federal garante a liberdade para a criação, fusão,
incorporação e extinção de partidos políticos, a eles assegurando a autonomia (art. 17). Ocorre que não há
liberdade absoluta. Também não se tem autonomia sem limitação. Logo, é possível que sejam estabelecidos
requisitos e condições para a criação, fusão e incorporação de partidos políticos. As normas legais impugnadas
não afetam, reduzem ou condicionam a autonomia partidária, porque o espaço de atuação livre dos partidos
políticos deve estar de acordo com as a normas jurídicas que estabelecem condições pelas quais se pode dar a
criação, ou recriação por fusão ou incorporação de partido sem intervir no seu funcionamento interno. STF.
Plenário. ADI 5311/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/3/2020 (Info 968).

• DIVERSOS

A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao exercício do
sufrágio. STF. Plenário. ADI 4467/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2020 (Info 995).
166

É constitucional o art. 4º da Lei nº 13.165/2015, que deu nova redação ao art. 108 do Código Eleitoral,
para dizer que só será eleito o candidato que obtiver votos em número igual ou superior a 10% do quociente
eleitoral. Essa alteração não viola o princípio democrático ou o sistema proporcional, consistindo, antes, em
valorização da representatividade e do voto nominal, em consonância com o sistema de listas abertas e com o
comportamento cultural do eleitor brasileiro. A pessoa que está sendo eleita pelo partido tem que ter o mínimo
de representatividade popular e, por isso, se estabeleceu esses 10%. O objetivo do legislador foi o de acabar
com a figura do “puxador de votos”, excluindo da participação, no parlamento, candidatos que pessoalmente
tenham obtido votação inexpressiva e, por isso, tenham representatividade popular ínfima. STF. Plenário. ADI
5920/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2020 (Info 968).

É inconstitucional a expressão “número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente
partidário do art. 107”, prevista no inciso I do art. 109 do Código Eleitoral, com redação dada pela Lei nº
13.165/2015. Com a declaração de inconstitucionalidade dessa expressão, deve-se adotar o critério de cálculo
anterior, ou seja, o que vigorava antes da Lei nº 13.165/2015. STF. Plenário. ADI 5420/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 4/3/2020 (Info 968).

É constitucional o art. 3º da Lei nº 13.488/2017 que deu nova redação do art. 109, § 2º, do Código
Eleitoral e estabeleceu que todos os partidos e coligações que participaram do pleito podem concorrer às
denominadas “sobras eleitorais”. • Antes da Lei nº 13.488/2017: somente poderia concorrer à distribuição das
sobras eleitorais os partidos ou as coligações que tivessem obtido quociente eleitoral. • Depois da Lei nº
13.488/2017: podem concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos e coligações que participaram do
pleito. Trata-se de uma opção legislativa legítima, que não viola diretamente qualquer dispositivo da
Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5947/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/3/2020 (Info 968).

A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu o § 3º ao art. 224 do Código Eleitoral. O
§ 3º prevê que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma
ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a
realização de novas eleições, independentemente do número de votos anulados.” O STF declarou a
inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu que basta a exigência de decisão final
da Justiça Eleitoral. Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está pendente apenas recurso
extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem trânsito em julgado. STF. Plenário. ADI 5525/DF,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893). Tirando esse trecho, o restante do § 3º do art.
224 do CE é constitucional. Veja a tese fixada pelo STF: É constitucional, à luz dos arts. 1º, I e parágrafo único,
5º, LIV, e 14, caput e § 9º, da Constituição da República, o § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, com a redação
167

dada pela Lei nº 13.165/2015, no que determina a realização automática de novas eleições, independentemente
do número de votos anulados, sempre que o candidato eleito, em pleito majoritário, for desclassificado, por
indeferimento do registro de sua candidatura, ou em virtude de cassação do diploma ou mandato. STF. Plenário.
RE 1096029/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/3/2020 (repercussão geral – Tema 986) (Info 968).

16 – DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a apresentação ao Congresso


Nacional de projeto de lei sobre organização, funcionamento e provimento de serventias extrajudiciais no
Distrito Federal por se cuidar de matéria afeta à organização judiciária. STF. Plenário. ADI 3498, Rel. Cármen
Lúcia, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping).

O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras
jurídicas. Assim, é constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado
como título em concursos para cartório (serventias notariais e de registro). STF. Plenário. ADI 3760, Rel. Gilmar
Mendes, julgado em 15/04/2020.

Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem de


documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e
responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do
art. 22, XXV, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

17 – DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

A Fazenda Pública é condenada a pagar encargos trabalhistas de um empregado terceirizado que


prestava serviços ao Poder Público. Em outras palavras, o magistrado transferiu ao Poder Público contratante a
responsabilidade pelos encargos trabalhistas dos empregados da empresa contratada pelo Estado. Essa decisão
foi baseada no art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93. Após sucessivos recursos, o Ministro do TST negou seguimento
ao agravo de instrumento em recurso de revista (AIRR) alegando ausência de transcendência da controvérsia e
determinou a baixa imediata dos autos. A União ingressou com reclamação dirigida ao STF alegando que houve
afronta às decisões da Suprema Corte proferidas na ADC nº 16 e no RE nº 760.931-RG (Tema 246). O STF acolheu
o pedido formulado na reclamação? SIM. A 1ª Turma do STF, por maioria, cassou a decisão reclamada e afastou
a responsabilidade subsidiária da União. A matéria tratada nos autos teve sua repercussão geral reconhecida e
decidida pelo STF. De forma contrária a isso, o TST tem afirmado que essa questão não tem “transcendência”
168

(art. 896-A da CLT) e, como consequência, tem determinado o imediato trânsito em julgado. Isso impede que a
controvérsia chegue ao STF e possa ser analisado pela Corte. A análise da transcendência deve ser feita no
campo jurídico e o TST, ao barrar a transcendência, está a impedir que o STF aprecie a mesma questão jurídica,
já analisada anteriormente, sobre a qual foi editada uma tese da necessidade de exame detalhado de haver ou
não culpa. A Justiça do Trabalho resiste em aceitar a interpretação dada pelo STF e tem considerado, de forma
automática, que houve culpa in vigilando. Além disso, ao negar a transcendência e a subida do feito, no fundo,
o que se faz é impedir que a posição pacificada do STF prevaleça nos casos. STF. 1ª Turma. Rcl 36958 AgR/SP e
Rcl 40652 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 8/9/2020
(Info 990).

A Justiça do Trabalho é competente para executar, de ofício, as contribuições previstas no art. 195,
incisos I, alínea “a”, e II, da Carta da República, relativamente a títulos executivos judiciais por si formalizados
em data anterior à promulgação da Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário.RE 595326, Rel. Marco
Aurélio, julgado em 24/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).

A alteração de regência constitucional do salário-família não repercute nas relações jurídicas


existentes na data em que promulgada a Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário. RE 657989, Rel.
Marco Aurélio, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 543) (Info 987 – clipping).

Deve ser julgada prejudicada, por perda superveniente de objeto, a ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada em face do art. 19 da MP 1.950-62/2000, convertida no art. 18 da Lei nº
10.192/2001, na parte em que revogou os §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 8.542/92. Os §§ 1º e 2º do art. 1º da
Lei nº 8.542/92 previam a ultratividade das convenções e acordos coletivos. A Lei nº 10.192/2001 revogou esses
parágrafos e acabou com a ultratividade. Mesmo que a Lei nº 10.192/2001 fosse julgada inconstitucional, isso
seria inócuo porque agora a ultratividade é proibida expressamente por outra norma, qual seja, o § 3º do art.
614 da CLT, com redação dada pela Lei nº 13.467/2017. STF. Plenário. ADI 2200/DF e ADI 2288/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgados em 4/6/2020 (Info 980).

Sempre que for pago ao trabalhador com vínculo permanente, o adicional de riscos é devido, nos
mesmos termos, ao trabalhador portuário avulso. O art. 7º, XXXIV, da CF/88 tem nítido caráter protetivo da
igualdade material. Se há o pagamento do adicional de riscos como direito do trabalhador portuário com vínculo
permanente que labora em condições adversas, essa previsão também deve ser reconhecida aos trabalhadores
portuários avulsos submetidos às mesmas condições. STF. Plenário. RE 597124/PR, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 3/6/2020 (Repercussão Geral – Tema 222) (Info 980).
169

A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto. A previsão legal de
número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical.
Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical, mas não serve
para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a finalidade da norma
constitucional garantidora do direito. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020 (Info
980 – clipping)

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI
3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020.

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88,
ainda que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a
absorção de pessoal pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas
devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI,
rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de


garantir a permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-
19), bem como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos
contratos de trabalho. No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia apenas dos arts.
29 e 31 da MP 927/2020, mantendo os demais dispositivos. Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus
(covid-19) não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. Esse dispositivo
não se mostra razoável ao afirmar, de forma tão ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença
ocupacional, excluindo da proteção inclusive de trabalhadores de atividades essenciais que continuam expostos
aos riscos. Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida
Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora, exceto
quanto às seguintes irregularidades: (...) Não existe razão para suspender, durante o período de 180 dias,
contados da data de entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do Trabalho. O
estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria saúde do empregado e em nada auxilia na
pandemia. STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346 Ref-MC/DF, ADI 6348 Ref-MC/DF,
ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 29/4/2020 (Info 975).
170

A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de


garantir a permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-
19), bem como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos
contratos de trabalho. No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia apenas dos arts.
29 e 31 da MP 927/2020, mantendo os demais dispositivos. Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus
(covid-19) não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. Esse dispositivo
não se mostra razoável ao afirmar, de forma tão ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença
ocupacional, excluindo da proteção inclusive de trabalhadores de atividades essenciais que continuam expostos
aos riscos. Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida
Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora, exceto
quanto às seguintes irregularidades: (...) Não existe razão para suspender, durante o período de 180 dias,
contados da data de entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do Trabalho. O
estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria saúde do empregado e em nada auxilia na
pandemia. STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346 Ref-MC/DF, ADI 6348 Ref-MC/DF,
ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 29/4/2020 (Info 975).

A MP 936/2020 instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda para


enfrentamento do estado de calamidade pública decorrente do covid-19. Com o objetivo de ajudar os
empresários e evitar que muitos trabalhadores percam seus empregados durante a pandemia, a MP permitiu:
• a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e • a suspensão temporária do contrato de
trabalho. A MP prevê que existe a possibilidade de essas medidas serem implementadas por meio de acordo
individual ou de negociação coletiva aos empregados. O § 4º do art. 11 da MP afirma que “Os acordos individuais
de redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão temporária do contrato de trabalho, pactuados
nos termos desta Medida Provisória, deverão ser comunicados pelos empregadores ao respectivo sindicato
laboral, no prazo de até dez dias corridos, contado da data de sua celebração.” Esse acordo escrito individual
firmado entre o empregado e o empregador é um ato jurídico perfeito e acabado e não está sujeito ao referendo
(aprovação) do sindicato. O STF, ao analisar o pedido de medida cautelar na ADI proposta contra a Medida
Provisória, decidiu manter a eficácia da MP 936/2020, que autoriza a redução da jornada de trabalho e do salário
ou a suspensão temporária do contrato de trabalho por meio de acordos individuais em razão da pandemia do
novo coronavírus, independentemente de anuência sindical. STF. Plenário. ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min.
Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16 e 17/4/2020 (Info 973).
171

A interpretação adequadamente constitucional da expressão “relação do trabalho” deve excluir os


vínculos de natureza jurídico-estatutária, em razão de que a competência da Justiça do Trabalho não alcança as
ações judiciais entre o Poder Público e seus servidores. Vale ressaltar também que o processo legislativo para
edição da Emenda Constitucional 45/2004, que deu nova redação ao inciso I do art. 114 da Constituição Federal,
é, do ponto de vista formal, constitucionalmente hígido (não houve qualquer inconstitucionalidade formal). STF.
Plenário. ADI 3395, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 984 – clipping). No mesmo
sentido: Compete à Justiça comum processar e julgar demandas em que se discute o recolhimento e o repasse
de contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo regime estatutário. STF. Plenário. RE 1089282, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 994).

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal,
sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de
trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza,
apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao trabalhador ônus maior
do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de


seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE
960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

18 – PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR

Em atenção ao princípio da especialidade, não se aplica o art. 70 do Código Penal nos casos de concurso
de crimes militares, devendo ser aplicada a regra prevista no art. 79 do Código Penal Militar. STJ. 6ª Turma.
AgRg-HC 595.556, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/11/2020. Art. 79. Quando o agente, mediante uma só
ou mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas de liberdade
devem ser unificadas. Se as penas são da mesma espécie, a pena única é a soma de tôdas; se, de espécies
diferentes, a pena única e a mais grave, mas com aumento correspondente à metade do tempo das menos
graves, ressalvado o disposto no art. 58. Crime continuado

Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do: • critério
subjetivo (delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não), • aliado ao critério objetivo (vulneração
172

de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisada no caso concreto). Ex: policial militar estava
em sua casa, de folga. Ele e a esposa começaram a discutir por ciúmes. Embriagado, ele ameaçou matar a esposa.
Com medo, a mulher se trancou no banheiro e ligou para a polícia. Foi deslocada uma viatura com dois policiais
militares para atender a ocorrência. Quando os policiais chegaram, o agressor fugiu, mas antes atirou contra
eles e contra a viatura. A fuga e a resistência do policial militar, contextualizada com disparos de arma de fogo
contra colegas e contra viatura da corporação, são suficientes para configurar a vulneração da regularidade da
Polícia Militar, cujo primado se pauta pela hierarquia e disciplina. STJ. 5ª Turma. HC 550998-MG, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

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