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Sumário
1 – CONSTITUCIONAL .................................................................................................................................... 8
• ADVOCACIA PÚBLICA ................................................................................................................. 8
• DIVERSOS .................................................................................................................................. 29
2- ADMINISTRATIVO .................................................................................................................................... 31
• PRINCÍPIOS ................................................................................................................................ 31
• LICITAÇÃO ................................................................................................................................. 41
• SERVIDORES PÚBLICOS............................................................................................................. 45
• DIVERSOS .................................................................................................................................. 51
3- PENAL ...................................................................................................................................................... 52
• PRINCÍPIOS ................................................................................................................................ 53
• DOSIMETRIA DA PENA.............................................................................................................. 54
• PRESCRIÇÃO .............................................................................................................................. 55
• ECA ............................................................................................................................................ 64
• ESTATUTO DO DESARMAMENTO............................................................................................. 65
• DIVERSOS .................................................................................................................................. 69
• COMPETÊNCIA .......................................................................................................................... 75
4
• PROCEDIMENTO ....................................................................................................................... 81
• PROVAS ..................................................................................................................................... 81
• TRIBUNAL DO JÚRI.................................................................................................................... 84
• NULIDADES ............................................................................................................................... 85
• RECURSOS ................................................................................................................................. 87
• DIVERSOS .................................................................................................................................. 91
5 – CIVIL ...................................................................................................................................................... 95
• DIREITOS DA PERSONALIDADE ................................................................................................ 95
• OBRIGAÇÕES ............................................................................................................................. 98
Querido(a)s aluno(a)s da família Ciclos, mais um ano chegou ao fim. E, juntos, conseguimos dar grandes
passos rumo a tão sonhada aprovação.
Vivemos um 2020 muito diferente do planejado. E isso para todos! O mundo enfrenta ainda um inimigo
comum, oculto, mortal, e que tem nos amedrontado. Muitos se perguntam o que podemos esperar de 2021.
Aqui na Família Ciclos acreditamos que a vida não acontece em condições perfeitas de temperatura e pressão,
mas cada momento pode ser enfrentado e superado com uma perspectiva diferente, um olhar de ESPERANÇA.
E é isso que nós esperamos de 2021!
E, claro, que, mais um ano, estamos disponibilizando para vocês a “Retrospectiva de Jurisprudência” (já
sabemos que vocês estavam esperando, né?), compilando os julgados do STJ e do STF comentados pelo
professor e Juiz Federal (ou seria, nosso amigo, ídolo, queridíssimo? #COMCERTEZA) Márcio André Lopes
Cavalcante (para os mais íntimos, o Marcinho do Dizer o Direito).
Aproveitamos essa oportunidade para agradecer o trabalho de qualidade impecável do Marcinho, que,
com tanto zelo e responsabilidade, transforma o estudo da jurisprudência em algo de fácil compreensão e
entendimento (quem aí concorda que ler informativo é a parte mais agradável do cronograma?).
Desejamos um feliz 2021 a todos! Nossos votos é de que seja mais um ano de recomeços, lutas,
alegrias, sonhos realizados e muita gratidão!
1
Obs1. Todas as informações foram extraídas do site Dizer o Direito (#SomosTodosMarcinho #AjudaMarcinho). Obs2.
Todos os julgados foram devidamente adicionados nas FUCs (para achar no material as novas inserções basta procurar o *
asterisco e data).
8
1 – CONSTITUCIONAL
• ADVOCACIA PÚBLICA
Para que o Procurador do Estado possa propor ação civil pública (ex: ação civil pública de improbidade
administrativa), não é necessária autorização do Govenador do Estado. No entanto, é indispensável a anuência
do Procurador-Geral do Estado. STF. 1ª Turma. ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico Superior do
DETRAN) será responsável por: • representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse
9
da autarquia”. • praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer
as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”,
insculpido no art. 132 da CF/88. A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela,
atribuiu ao cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de
advogado. Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas
aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. O STF decidiu modular
os efeitos da decisão para: • manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às
procuradorias; • declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato. ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores
façam a atuação jurídica no âmbito interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como
conceber e formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e
instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades da entidade,
elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições podem sim ser exercidas* pelos Técnicos
Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio da unicidade da representação judicial. O STF entendeu
que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para a PGE, porque esta não conseguirá
fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades inviabilizadas. STF. Plenário. ADI 5109/ES,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927). No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração
opostos neste processo e fez os seguintes acréscimos: • também são inconstitucionais os dispositivos da lei que
preveem que o Técnico Superior do DETRAN possa “apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer
às audiências e outros atos para defender os direitos do órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais
para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”; • a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato
normativo abrange as atribuições jurídicas consultivas do cargo de Técnico Superior que sejam privativas de
Procurador do Estado. Assim, as atribuições de “elaborar estudos de pareceres sobre questões jurídicas que
envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela
autarquia, com a emissão de parecer” devem ser exercidas sob supervisão de Procurador do Estado do Espírito
Santo. * Com base no que foi completado no julgamento dos embargos, conclui-se que as atribuições jurídicas
consultivas dos ocupantes do cargo de Técnico Superior devem ser obrigatoriamente exercidas sob a supervisão
de Procurador do Estado, por ser esta a interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência
do STF. STF. Plenário. ADI 5109 ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980).
criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição
Federal. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.
A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do
Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (artigos 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo
único) não pode ser estendida aos procuradores de estado. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em
15/04/2020.
• DEFENSORIA PÚBLICA
O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de
cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive quanto às parcelas já vencidas, assim
também em relação a eventuais créditos adicionais destinados à instituição. STF. Plenário. ADPF 384 Ref-
MC/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2020 (Info 985). É dever constitucional do Poder Executivo o
repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos
recursos orçamentários destinados a outros Poderes e órgãos constitucionalmente autônomos, como o
Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme previsão da respectiva Lei Orçamentária Anual. STF.
Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826).
O art. 15 do ADCT da CE/SE ampliou o limite temporal de excepcionalidade previsto pelo art. 22 do
ADCT da CF/88 e, por essa razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). O art. 22
do ADCT criou, de modo excepcional, uma forma derivada de investidura em cargo público. Trata-se de uma
exceção à regra geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo constituinte estadual. STF.
Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020 (Info 984).
Caso concreto: advogado atuou como defensor dativo em ação de alimentos. Esse advogado atuou
porque na localidade não há Defensoria Pública e existe um convênio com a OAB para que esse serviço seja
realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo Estado. Na sentença, o magistrado arbitrou a
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verba honorária conforme disposto na tabela do convênio. Porém, o Estado pagou só uma parte. Neste caso, o
STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários do Estado, nos próprios autos, mesmo o
Estado não tendo participado da ação de conhecimento. Se for exigido que os advogados promovam uma ação
específica contra a Fazenda Pública para poderem receber seus honorários, isso fará com que eles sejam muito
resistentes em aceitar a função de advogado dativo, porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram
designados, mas também em outra ação que terão de propor contra a Fazenda Pública. O fato de o Estado não
ter participado da lide na ação de conhecimento não impede que ele seja intimado a pagar os honorários, que
são de sua responsabilidade em razão de convênio celebrado entre a Defensoria Pública e a Ordem dos
Advogados do Brasil, em cumprimento de sentença. STJ. Corte Especial. EREsp 1698526-SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Rel. Acd. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 05/02/2020 (Info 673).
• PODER JUDICIÁRIO
A promoção na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção. STF. Plenário. RE 1037926,
Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 964) (Info 994).
O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos possíveis candidatos aos
órgãos de cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque desrespeitou a
autonomia administrativa dos tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN
(LC 35/79) não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível com a Constituição Federal a
regra segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos
tribunais. Essa matéria, em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser
remetida à disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgados em 25/6/2020 (Info 983).
O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais
desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B, § 4º,
V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o
procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para
propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício.
As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê
que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura
para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao
texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se
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a infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
17/3/2020 (Info 970).
Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro da Comarca de Sete Quedas que
restringiu o ingresso de pessoas portando arma de fogo nas dependências do Fórum. STJ. 1ª Turma. RMS 38090-
MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/03/2020 (Info 667).
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não possui o direito de
reingresso no cargo. Isso porque o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso
público como condição para o provimento em cargo efetivo da Administração Pública. O STF já declarou a
inconstitucionalidade de lei estadual que previa a possibilidade de o magistrado exonerado reingressar nos
quadros da magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 23/02/2005. O CNJ também já expediu
orientação normativa vinculante afirmando que não são possíveis formas de provimentos dos cargos
relacionados à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas na Constituição Federal nem
na LOMAN. Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de readmissão no cargo mesmo que essa
possibilidade esteja prevista em lei estadual. STJ. 2ª Turma. RMS 61880-MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 03/03/2020 (Info 666).
• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa
para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade. Por esse motivo, a Federação
Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem legitimidade para a propositura de ADI na medida
em que constitui entidade representativa de apenas parte de categoria profissional, já que não abrange os
auditores fiscais federais e municipais. STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 19/10/2020 (Info 995).
Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle concentrado,
exceto se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação. STF. Plenário. ADI
6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).
É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. É possível a impugnação
recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade de amicus curiae. STF. Plenário.
ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985). Vale ressaltar que existem decisões
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em sentido contrário e que o tema não está pacificado. Nesse sentido: Tanto a decisão do Relator que ADMITE
como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível (STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018. Info 920).
A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em
ação direta. STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).
A CF/88 e a lei preveem que a “entidade de classe de âmbito nacional” possui legitimidade para propor
ADI, ADC e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que apenas as entidades de classe com associados
ou membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação de
controle abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato
constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9
(nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo
construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei
nº 9.096/95). STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski, julgado em
05/08/2020 (Info 988 – clipping).
Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra
acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em que o
legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. STF. Plenário. RE 1068600 AgR-
ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980).
Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial em
desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação
UDEs e que recaiam sobre verbas destinadas à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 4/6/2020 (Info 980).
O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos
dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação: a) dispense a
requisição de novas informações e manifestações; e b) não prejudique o cerne da ação. Assim, por exemplo, se
o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de novos dispositivos legais
que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso exigiria que novos pedidos de
informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas manifestações da Advocacia-
Geral da União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os princípios da economia e da celeridade
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processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta, na medida em que
ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020.
Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui
natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado. STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 15/04/2020 (Info 978).
O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração
com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o
ato contra o qual se insurge. Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar,
contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja
reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.
O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade
para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem
legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário.
ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
18/3/2020 (Info 970).
A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas
Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger os presos do Covid-19 amplia
indevidamente o objeto da ação. É certo que no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de pedir é
aberta. No entanto, o pedido é específico. Nenhum dos pedidos da ADPF 347 está relacionado com as questões
inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível, portanto, a ampliação do pedido cautelar já
apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido. Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem
observar a legitimidade constitucional para propositura da ação. Ademais, em que pese a preocupação de todos
em relação ao Covid-19 nas penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina,
fora do objeto da ADPF, a realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento,
todas essas possibilidades e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça. O STF entendeu
que, neste momento, o Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho
Nacional de Justiça CNJ e por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Para evitar a disseminação
do novo coronavírus nas prisões, o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso. A Recomendação
62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas preventivas
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contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. STF. Plenário. ADPF
347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020
(Info 970).
O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do
preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula Vinculante. Caso
concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação, permitiu
que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às regras do
Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª
Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88.
Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da livre iniciativa,
o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido feito respeitando-se
a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10: Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de
reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo
ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info
965).
Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a
interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias ou permissionárias façam
o corte do fornecimento de água, energia elétrica e dos serviços de telefonia, por falta de pagamento, em
determinados dias (ex: sextas-feiras, vésperas de feriados etc.). STF. Plenário. ADI 3824/MS, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 02/10/2020. NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº 14.015/2020 Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei
nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é possível a interrupção do serviço público em caso de
inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado. Confira os dispositivos inseridos na Lei nº
13.460/2017: Art. 5º O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os
agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes: (...) XVI – comunicação
prévia ao consumidor de que o serviço será desligado em virtude de inadimplemento, bem como do dia a partir
do qual será realizado o desligamento, necessariamente durante horário comercial. Parágrafo único. A taxa de
religação de serviços não será devida se houver descumprimento da exigência de notificação prévia ao
consumidor prevista no inciso XVI do caput deste artigo, o que ensejará a aplicação de multa à concessionária,
conforme regulamentação. Art. 6º São direitos básicos do usuário: (...) VII – comunicação prévia da suspensão
da prestação de serviço. Parágrafo único. É vedada a suspensão da prestação de serviço em virtude de
inadimplemento por parte do usuário que se inicie na sexta-feira, no sábado ou no domingo, bem como em
feriado ou no dia anterior a feriado. O entendimento acima foi positivado em nível nacional. A Lei nº
14.015/2020 inseriu o § 4º ao art. 6º da Lei nº 8.987/95 com a seguinte redação: Art. 6º (...) § 4º A interrupção
do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado
ou no domingo, nem em feriado ou no dia anterior a feriado.
A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos entes
estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração. Os arts. 1º e 32, caput e § 1º, do
Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 492/RJ,
ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020 (Info 993).
O art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020 autoriza que os gestores locais de saúde
(secretarias estaduais e municipais, p. ex.), mesmo sem autorização do Ministério da Saúde, façam a requisição
de bens e serviços. O STF afirmou que esses dispositivos são constitucionais. Não se exige autorização do
Ministério da Saúde para que os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios decretem a requisição
administrativa prevista no art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020, no exercício de suas competências
constitucionais. STF. Plenário. ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).
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A segurança pública é de competência comum dos Estados-membros (art. 144 da CF/88), sendo
também sua competência remanescente a prerrogativa de legislar sobre transporte intermunicipal (art. 25, §
1º). A concessão de dois assentos a policiais militares devidamente fardados nos transportes coletivos
intermunicipais vai ao encontro da melhoria das condições de segurança pública nesse meio de locomoção, em
benefício de toda a Sociedade, questão flagrantemente de competência dos Estados-membros (art. 144 da
CF/88) e afasta qualquer alegação de desrespeito ao princípio da igualdade, uma vez que o discrímen adotado
é legítimo e razoável, pois destinado àqueles que exercem atividade de polícia ostensiva e visam à preservação
da ordem pública. Essa lei estadual não representa indevida interferência no contrato de concessão firmado
com a concessionária, uma vez que não há alteração na equação do equilíbrio financeiro-econômico do contrato
administrativo. STF. Plenário.ADI 1052, Rel. Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em
24/08/2020 (Info 991).
É constitucional lei estadual que proíba, no âmbito estadual, a inserção de cláusulas que exijam a
fidelização nos contratos prestação de serviços. A fidelização contratual consiste em contrapartida exigida do
consumidor, em razão de benefícios oferecidos pela prestadora na formação do contrato de prestação de
serviços, todavia, não se confunde com esse. A cláusula de fidelidade contratual é autônoma e agregativa ao
contrato de prestação de serviço, inserindo-se no espaço comercial das prestadoras, e não no campo regulatório
das atividades de caráter público. O objeto da norma estadual impugnada em nada interfere no regime de
exploração ou na estrutura remuneratória da prestação do serviço. Essa lei busca apenas a proteção do
consumidor, ainda que realizada paralelamente a contrato de prestação de serviço. STF. Plenário. ADI 5963, Rel.
Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Info 992 – clipping).
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É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são
obrigadas a devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno, antes
do início das aulas, desista do curso ou solicite transferência. STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado
em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).
É inconstitucional Lei estadual que, a pretexto de proteger a saúde da população, estabelece limites
de radiação para a instalação de antenas transmissoras de telefonia celular. Essa lei adentra na esfera de
competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. A União, no exercício de suas
competências (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, que, de forma nítida, atribui à ANATEL
a definição de limites para a tolerância da radiação emitida por antenas transmissoras. A União, por meio da Lei
nº 11.934/2009, fixou limites proporcionalmente adequados à exposição humana a campos elétricos,
magnéticos e eletromagnéticos. Dessa forma, a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos
de interesse comum e concorrente, legislarem sobre seus respectivos interesses (presumption against
preemption) foi nitidamente afastada por norma federal expressa (clear statement rule). STF. Plenário. ADI
2902, Rel. Edson Fachin, julgado em 04/05/2020 (Info 981 – clipping).
Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar que disponha sobre atribuições
de órgãos da Administração Pública (art. 61, § 1º, II, "e" e art. 84, VI, da Constituição Federal). STF. Plenário. ADI
3981, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 15/04/2020 (Info 978).
A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. A MP 926/2020 alterou
o caput e o inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020.
Foi ajuizada uma ADI contra esta MP. O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu: • confirmar a medida
acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no campo pedagógico e na
dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em outras palavras, as providências adotadas pelo Governo
Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o Distrito Federal e Município considerada a
competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.” • dar interpretação conforme à
Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o Presidente da República pode
dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais, no entanto, esse decreto deverá
preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
15/4/2020 (Info 973).
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É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de
seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info
975).
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas
desportivas e nos estádios. Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24,
V, da CF/88). O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso e
permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas ou substâncias
proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. Não há, contudo, uma vedação
geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo que o legislador estadual, no exercício de sua
competência concorrente complementar, observadas as especificidades locais, pode regulamentar a matéria,
autorizando, por exemplo, a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor alcóolico) nos estádios. Vale
lembrar que isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa
do mundo organizada pela FIFA e nas Olimpíadas. STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 27/03/2020.
As disposições da Lei nº 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem
sobre os contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados
anteriormente, foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos beneficiários
que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos inalterados. STF. Plenário. RE
948634, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 123) (Info 995).
É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da
CF/88), a exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-
servidores públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da
CF/88). STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema
457) (Info 994).
Os arts. 6º a 8º do Decreto nº 21.981/1932 exigem que o indivíduo que quiser exercer a profissão de
leiloeiro preste uma garantia (caução). A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro, prevista
nos arts. 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII, da Constituição Federal de 1988. Isso
porque o leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como
condição para o exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que reforça o
interesse social da norma protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. STF. Plenário.
RE 1263641/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020
(Repercussão Geral – Tema 455) (Info 994).
A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe deu a Emenda
Constitucional 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).
Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que previsto ser do
farmacêutico a responsabilidade técnica por drogaria. STF. Plenário.RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em
24/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).
A imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos
contra um grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os
principais alvos da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”. Determinado
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partido político ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da
liberdade de expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. O STF deferiu
medida cautelar para suspender todo e qualquer ato do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de
produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, as práticas
cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de
movimento político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da
legalidade, exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF. Plenário. ADPF 722
MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19 e 20/8/2020 (Info 987).
É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Públicacontrateempresa cujo diretor,
gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos
discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal e do
devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se cometerem
falta grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim
que a CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não
teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º da Constituição prevê que a
liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não
concordaram com essa tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto.
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia a
liberdade sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade
sindical, mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a
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finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo, o art. 522 da CLT foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.
No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da
República e os Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo
em favor dos mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa
humana. Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício
semelhante ao que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício
financeiro no valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores
individuais (MEI), autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo
prazo de 3 meses, às pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus. Diante
disso, o STF decidiu: a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de
inconstitucionalidade por omissão para discutir o tema); b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado
uma vez que foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o
objeto da ADO. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/4/2020 (Info 975)
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Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV,
da CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de material com
referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há também
inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação viola: • a liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e • o pluralismo de
ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III). Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil, que é a promoção do bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). Por
fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo
para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF. Plenário. ADPF
457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair
Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa
decisão não configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as
investigações e evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado.
Além disso, a decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja
sanidade mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de
“transtorno delirante persistente”. STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/4/2020 (Info 973).
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas
do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal. Essa
lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III, da
CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a
inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas
sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes
de outros Estados da Federação. STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à
Constituição da Tabela IV da Lei nº 9.289/96, para: Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas
ao Poder Judiciário que forem voltadas para a defesa de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse
pessoal, presumindo essas finalidades quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente,
sendo desnecessária, nessa hipótese, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido.
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Por outro lado, para a concessão da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse
indireto ou de terceiros, mostra-se imprescindível a demonstração da finalidade. STF. Plenário. ADI 2259, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.
• MINISTÉRIO PÚBLICO
A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca
de concurso público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma atribuição
compatível com as finalidades constitucionais do Ministério Público. Assim, não pode o ato impugnado exigir a
participação do Ministério Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos do Estado. STF.
Plenário. ADI 3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).
Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. STF.
Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info
985 – clipping).
Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020.
É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público
exerçam advocacia. O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos autônomos (art. 130-A, §
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2º, I, da CF/88), desde que o conteúdo disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições
constitucionais. A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a observância dos princípios
constitucionais da isonomia, da moralidade e da eficiência no Ministério Público, estando, portanto, abrangida
pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II). A liberdade de exercício profissional não é um direito
absoluto, devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um todo. STF. Plenário. ADI 5454,
Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 978).
Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na condição de partes, perante os
Tribunais Superiores, em razão da não existência de vinculação ou subordinação entre o Parquet Estadual e o
Ministério Público da União. Tal conclusão, entretanto, não pode ser aplicada ao Ministério Público do Trabalho,
considerando que o MPT é sim órgão vinculado ao Ministério Público da União, conforme dispõe o art. 128, I,
“b”, da Constituição Federal. O MPT integra a estrutura do MPU, atuando perante o Tribunal Superior do
Trabalho, não tendo legitimidade para funcionar no âmbito do STJ, tendo em vista que esta atribuição é
reservada aos Subprocuradores-gerais da República integrantes do quadro do Ministério Público Federal. STJ.
1ª Seção. AgRg no CC 122940-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).
O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão direito ao pagamento de auxílio-
moradia, desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa. Esse dispositivo
legal autoriza que ato do PGR imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de
prazo máximo de duração do benefício. Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do
auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em parcela
única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. A fixação de restrição temporal para o
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recebimento do auxílio-moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem
caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido
benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória. STF. 2ª Turma. MS 26415/DF,
rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970).
• PODER LEGISLATIVO
O então Deputado Federal Wladimir Costa (SD-PA) proferiu discurso no Plenário da Câmara dos
Deputados no qual afirmou que determinados artistas seriam “bandidos”, “membros de quadrilha”,
“verdadeiros ladrões”, “verdadeiros vagabundos da Lei Rouanet”. Esses artistas ingressaram com queixa-crime
contra o então Deputado afirmando que ele teria cometido os crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140
do Código Penal). O STF recebeu esta queixa-crime. O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no
momento em que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra,
porque ele depois divulgou essas ofensas na Internet. Outro argumento está no fato de que a inviolabilidade
material somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e evidente com o exercício das funções
parlamentares. No caso concreto, embora tenha feito alusão à Lei Rouanet, o parlamentar nada acrescentou ao
debate público sobre a melhor forma de distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir
palavras ofensivas à dignidade dos querelantes. A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que
vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. STF. 1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,
red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).
• PROCESSO LEGISLATIVO
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Surge constitucional lei de iniciativa parlamentar a criar conselho de representantes da sociedade civil,
integrante da estrutura do Poder Legislativo, com atribuição de acompanhar ações do Executivo. STF. Plenário.
RE 626946/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 1040) (Info 994).
É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trate sobre isenção de custas judiciais.
Isso porque, os órgãos superiores do Poder Judiciário possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para
apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre redução das custas judiciais (artigos 98, § 2º,
e 99, caput e § 1º da CF). STF. Plenário. ADI 3629, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/03/2020.
• TRIBUNAL DE CONTAS
O TCU, por força do art. 71, VI, da CF/88, tem competência para fiscalizar o uso dos recursos federais
repassados a outros entes federados, como no caso de verbas federais repassadas ao Distrito Federal. Vale
ressaltar, contudo, que, diante da autonomia própria dos entes federados, a fiscalização, pelo TCU, dos recursos
federais repassados ao Distrito Federal não impede que o TCDF também faça a fiscalização da aplicação desses
mesmos recursos, até porque ele tem pleno e legítimo interesse na regular prestação dos serviços de saúde no
seu território. Assim, por força dos arts. 71 e 75 da Constituição Federal e do art. 78 da Lei Orgânica do Distrito
Federal, o Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar a aplicação de recursos federais
repassados ao Distrito Federal. STJ. 1ª Turma. RMS 61997-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
16/06/2020 (Info 674).
A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra: Art. 151. O Tribunal de Contas do
Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e obedecerá, no que couber, aos princípios da
Constituição Federal e desta Constituição. Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas
do Município de São Paulo as normas pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Para o STF,
essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. Se a Constituição Federal
prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição dos tribunais de contas dos estados,
é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior de conselheiros. Desse modo, não se
vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria. Vale ressaltar que essa norma da Constituição Estadual não
equipara os vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Município aos dos conselheiros do Tribunal
de Contas do Estado. A fixação da remuneração dos conselheiros cabe ao Município (mesmo que em valor
diverso do fixado para os conselheiros estaduais). STF. Plenário. ADI 346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980)
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• ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
Compete ao Ministro da Justiça determinar a ida da Força Nacional de Segurança Pública para atuar
em determinado Estado-membro ou Distrito Federal. Segundo a redação do art. 4º do Decreto nº 5.289/2004 a
determinação do emprego da Força Nacional pode ocorrer de duas formas: 1) mediante solicitação expressa do
Governador formulada ao Ministro da Justiça; 2) mediante iniciativa do próprio Ministro da Justiça, mesmo sem
solicitação do Governador. Se o próprio Governador solicita o auxílio, não há qualquer problema ou
questionamento. No entanto, e se o Ministro da Justiça determina o envio da Força Nacional mesmo sem pedido
do Governador? Essa atuação seria constitucionalmente válida? NÃO. Isso viola o princípio da autonomia
estadual. Foi o que decidiu o STF, em juízo de delibação, ao apreciar medida liminar em ação cível originária.
Afirmou a Corte: É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º do Decreto 5.289/2004, naquilo em
que dispensa a anuência do governador de estado no emprego da Força Nacional de Segurança Pública, viole o
princípio da autonomia estadual. STF. Plenário. ACO 3427 Ref-MC/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
24/9/2020 (Info 992).
A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo de oito medidas que podem ser
adotadas pelo poder público para o combate ao coronavírus. O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº
13.979/2020 estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar algumas medidas se houvesse
autorização da União. O STF, ao apreciar ADI contra a Lei, decidiu: a) suspender parcialmente, sem redução de
texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios
da necessidade de autorização ou de observância ao ente federal; e b) conferir interpretação conforme aos
referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles previstas devem ser precedidas de recomendação
técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais
definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito da
competência constitucional de cada ente federativo. Assim, os Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem
autorização da União, adotar medidas como isolamento, quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo
de cadáver e restrição à locomoção interestadual e intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos. Vale
ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar fronteiras, pois sairiam de suas competências
constitucionais. A adoção de medidas restritivas relativas à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes
federativos, deve estar embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e
tem de preservar o transporte de produtos e serviços essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade
federativa competente. STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).
A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que
são previstas no art. 35 da Constituição Federal. As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da
CF/88 são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo da Constituição de Pernambuco que
previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de corrupção e
improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. Viola a
Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a
competência para requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não encontra amparo nos arts.
34 e 36 da CF/88. STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
• DIVERSOS
Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte ajuizaram
ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de recursos
do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar
determinando que: a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do
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Programa Bolsa Família na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento
isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da Federação. b) não haja cortes no Programa
enquanto perdurar o estado de calamidade pública; c) a liberação de recursos para novas inscrições seja
uniforme considerados os Estados da Federação. O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida.
STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info 985).
A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos ajuizaram
arguição de descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na
proteção dos povos indígenas com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos
comissivos e omissivos do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de
extermínio dos povos indígenas. Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88), o direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais
povos a viverem em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem
a realização de diversas medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso
(relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que a União implemente, em resumo, as seguintes
providências: Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 1. Criação de
barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 2. Criação de Sala de Situação,
para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato Recente.
Quanto aos povos indígenas em geral: 1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos
invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato. 2. Imediata
extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de um Plano de
Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União. O Plenário do STF referendou a
medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e
5/8/2020 (Info 985).
Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança pública diverso daqueles que estão
previstos no art. 144 da CF/88. Os Estados-membros e o Distrito Federal devem seguir o modelo federal. O art.
144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública, sendo esse rol taxativo.
Assim, a Constituição Estadual não pode prever a criação de Polícia Científica como órgão integrante da
segurança pública. Vale ressaltar que nada impede que a Polícia Científica, criada pelo Estado-membro para ser
o órgão responsável pelas perícias, continue a existir e a desempenhar suas funções, sem estar,
necessariamente, vinculada à Polícia Civil. No entanto, deve-se afastar qualquer interpretação que lhe outorgue
caráter de órgão de segurança pública. STF. Plenário. ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/6/2020
(Info 983).
31
É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma
série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais
e concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade
e transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações
a toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info 975).
A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública.
Esse rol é taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os
Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos daqueles
previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito exercem
atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol taxativo dos
órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. Compete aos órgãos e agentes de
trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a educação,
engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o
direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não se
confundem com “segurança pública”. Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a
definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito,
inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da
regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional.Desse
modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não
previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).
2- ADMINISTRATIVO
• PRINCÍPIOS
poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072,
Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).
Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias
federais. Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de
inadimplência mantidos pela União. Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os
débitos e o Estado expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do
Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros restritivos.
Legitimidade da União para figurar no polo passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das
ações em que Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de
crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração
direta). Isso porque os Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis
de regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola
o princípio da razoabilidade. É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em
decorrência de pendências administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso
porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade
de intervenção federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar
duplamente o Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em
cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991
– clipping).
Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias
federais.Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de
inadimplência mantidos pela União. Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os
débitos e o Estado expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do
Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros restritivos.
Legitimidade da União para figurar no polo passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das
ações em que Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de
crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração
direta). Isso porque os Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis
de regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola
o princípio da razoabilidade É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em
decorrência de pendências administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso
porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade
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de intervenção federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar
duplamente o Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em
cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991
– clipping).
A Administração Pública promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da
Lei n. 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara
Municipal do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções financeiras. STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator
p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).
A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo das
irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao
crédito organizados e mantidos pela União. O processo de contas é essencial para a apuração de
responsabilidades. Não se pode impor sanção sem anterior identificação de responsáveis. STF. Plenário. ACO
2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão
de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência
de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo,
o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica,
recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota
técnica fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias
políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas
as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo
para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se
passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99,
seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
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diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019
(repercussão geral – Tema 839) (Info 956). É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública,
evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei
nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes,
julgado em 12/02/2020 (Info 668).
• ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Caso concreto: a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender
8 refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e, em
seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização
legislativa. Desse modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias. O STF afirmou que
essa prática é legítima. A específica autorização legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do
controle acionário de sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e
específica anuência para a criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um
elaborado plano de gestão de desinvestimento, voltado para garantir maiores investimentos e,
consequentemente, maior eficiência e eficácia da empresa-mãe. Isso porque a inexistência de expressa
proibição ou limitação de alienação societária em relação à autorização legislativa genérica para a criação de
subsidiárias corresponde à concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder Executivo, de um importante
instrumento de gestão empresarial, para garantir a eficiência e a eficácia da sociedade de economia mista no
cumprimento de suas finalidades societárias. Portanto, na criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior
de gestão empresarial que deve ser seguido é garantir a melhor atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe.
STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
30/9 e 1º/10/2020 (Info 993).
Ao técnico em contabilidade que tenha concluído o curso após a edição da Lei nº 12.249/2010 é
assegurado o direito de se registrar no Conselho de Classe até 1º de junho de 2015, sem que lhe seja exigido o
Exame de Suficiência, sendo-lhe, dessa data em diante, vedado o registro. STJ. 1ª Turma. REsp 1659767-RS, Rel.
Min. Sérgio Kukina, julgado em 18/08/2020 (Info 677). Obs: a 2ª Turma entende de forma diversa e decide que
o exame de suficiência, criado pela Lei nº 12.249/2010, será exigido dos técnicos em contabilidade que
completarem o curso após sua vigência. Tais profissionais não estão sujeitos à regra de transição prevista no art.
12, § 2º do referido diploma (STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1631350/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado
em 19/10/2020).
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O conceito de dirigentes de organização da sociedade civil estabelecido no artigo 2º, inciso IV, da Lei
Federal n. 13.019/2014 contempla profissionais com a atuação efetiva na gestão executiva da entidade, por
meio do exercício de funções de administração, gestão, controle e representação da pessoa jurídica, e, por isso,
não se estende aos membros de órgãos colegiados não executivos, independentemente da nomenclatura
adotada pelo estatuto social.
O exercício da função social das empresas estatais é condicionado ao atendimento da sua finalidade
pública específica e deve levar em conta os padrões de eficiência exigidos das sociedades empresárias atuantes
no mercado, conforme delimitações e orientações dos §§ 1º a 3º do art. 27 da Lei 13.303/2016.
Em respeito ao princípio da autonomia federativa (art. 18 da CF), a vedação ao acúmulo dos títulos de
OSCIP e OS prevista no art. 2º, inc. IX, c/c art. 18, §§ 1º e 2º, da Lei n. 9.790/1999 apenas se refere à esfera
federal, não abrangendo a qualificação como OS nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios.
O contrato de desempenho previsto na Lei 13.934/2019, quando celebrado entre órgãos que mantêm
entre si relação hierárquica, significa a suspensão da hierarquia administrativa, por autovinculação do órgão
superior, em relação ao objeto acordado, para substituí-la por uma regulação contratual, nos termos do art. 3º
da referida Lei.
As empresas estatais são organizações públicas pela sua finalidade, portanto, submetem-se à
aplicabilidade da Lei 12.527/2011 “Lei de Acesso à Informação “, de acordo com o art. 1º, parágrafo único, inc.
II, não cabendo a decretos e outras normas infralegais estabelecer outras restrições de acesso a informações
não previstas na Lei.
A participação de empresa estatal no capital de empresa privada que não integra a Administração
Pública enquadra-se dentre as hipóteses de “oportunidades de negócio” prevista no art. 28, § 4º, da Lei
13.303/2016, devendo a decisão pela referida participação observar os ditames legais e os regulamentos
editados pela empresa estatal a respeito desta possibilidade.
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Viola a legalidade o regulamento interno de licitações e contratos editado por empresa estatal de
qualquer ente da federação que estabelece prazo inferior ao previsto no art. 83, § 2º, da Lei n. 13.303/2016,
referente à apresentação de defesa prévia no âmbito de processo administrativo sancionador.
A ausência de tutela a que se refere o art. 3º, caput, da Lei 13.848/2019 impede a interposição de
recurso hierárquico impróprio contra decisões finais proferidas pela diretoria colegiada das agências
reguladoras, ressalvados os casos de previsão legal expressa e assegurada, em todo caso, a apreciação judicial,
em atenção ao disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.
A contratação para celebração de oportunidade de negócios, conforme prevista pelo art. 28, § 3º, II, e
§ 4º da Lei n. 13.303/2016 deverá ser avaliada de acordo com as práticas do setor de atuação da empresa estatal.
A menção à inviabilidade de competição para concretização da oportunidade de negócios deve ser entendida
como impossibilidade de comparação objetiva, no caso das propostas de parceria e de reestruturação societária
e como desnecessidade de procedimento competitivo, quando a oportunidade puder ser ofertada a todos os
interessados.
A "inviabilidade de procedimento competitivo" prevista no art. 28, § 3º, inc. II, da Lei n. 13.303/2016
não significa que, para a configuração de uma oportunidade de negócio, somente poderá haver um interessado
em estabelecer uma parceria com a empresa estatal. É possível que, mesmo diante de mais de um interessado,
esteja configurada a inviabilidade de procedimento competitivo
A realização de Análise de Impacto Regulatório (AIR) por órgãos e entidades da Administração Pública
federal deve contemplar a alternativa de não regulação estatal ou desregulação, conforme o caso.
O Metrô-DF é empresa pública, regida pelo direito privado. Embora preste serviço de utilidade pública,
a empresa não desempenha serviço público essencial em sentido típico ou de caráter monopolístico. O Metrô-
DF desenvolve atividade econômica com a exploração comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços
técnicos especializados, com a distribuição de dividendos, o que permite a penhora de seus bens. Vale ressaltar
ainda que há distribuição de lucros entre os acionistas da empresa. Diante desse contexto, não há como se
aplicar o regime de precatório para o Metrô-DF. STF. 1ª Turma. Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
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O exercício da atividade de treinador ou de instrutor de tênis não exige o registro no Conselho Regional
de Educação Física. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1767702-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
29/06/2020 (Info 677).
É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da Assembleia
Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os
presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os
titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min.
Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980).
O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições
devidas à OAB (anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº 8.906/94) e pode ser suspenso do
exercício, ficando proibido de exercer a advocacia enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção
monetária (art. 37, § 2º). O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque representam
medida desproporcional que caracteriza sanção política, além de ofender a livre iniciativa e a liberdade
profissional. É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização profissional do exercício
laboral de seus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria
tributária. STF. Plenário. RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema
732) (Info 978).
A anuidade cobrada pela OAB possui natureza tributária? Os Tribunais Superiores divergem sobre o
tema: STJ: NÃO Os créditos decorrentes da relação jurídica travada entre a OAB e os advogados não compõem
o erário e, consequentemente, não têm natureza tributária. STJ. 1ª Turma. REsp 1574642/SC, Rel. Min. Sérgio
Kukina, julgado em 16/02/2016. STF: SIM As anuidades cobradas pelos conselhos profissionais caracterizam-se
como tributos da espécie contribuições de interesse das categorias profissionais, nos termos do art. 149 da
Constituição da República. STF. Plenário. RE 647885, Rel. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020.
As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais. A isenção das
custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de direito público. Dessa forma, para
as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da Administração Direta é
necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire no momento de sua criação,
decorrente da própria lei. STJ. 4ª Turma. REsp 1409199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020
(Info 676).
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É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um
representante da Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor
a presença de representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local. STF.
Plenário. ADI 4579/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020 (Info 966).
• BENS PÚBLICOS
O administrador público está autorizado por lei a valer-se do desforço imediato sem necessidade de
autorização judicial, solicitando, se necessário, força policial, contanto que o faça preventivamente ou logo após
a invasão ou ocupação de imóvel público de uso especial, comum ou dominical, e não vá além do indispensável
à manutenção ou restituição da posse (art. 37 da Constituição Federal; art. 1.210, § 1º, do Código Civil; art. 79,
§ 2º, do Decreto-Lei n. 9.760/1946; e art. 11 da Lei n. 9.636/1998).
A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as condições mercadológicas existentes à época
da efetiva perda da posse do bem.
As terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas indispensáveis
à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à
preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20, II, da CF/88). As terras devolutas pertencem
aos Estados-membros desde a Constituição de 1891, que delas excetuava apenas a porção do território
indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais. Esse
mesmo tratamento jurídico foi mantido, com pequenas variações, nas Constituições de 1934, 1937, 1946, 1967,
EC 1 de 1969 e, finalmente, na Constituição Federal de 1988. Caso concreto: no Estado de São Paulo havia uma
grande área que era considerada como terra devoluta. Diante disso, em 1939, o Estado ajuizou ação
discriminatória para regularizar essa área, tendo o pedido sido julgado procedente, com a expedição de títulos
de domínio das terras em favor do autor. A União, posteriormente, propôs ação anulatória alegando que as
referidas terras seriam de sua propriedade desde 1872, por anexação. O Estado de São Paulo, por sua vez, alegou
que eram terras devolutas, e, por isso, passíveis de alienação a particulares. Apesar de inexistente, à época,
qualquer registro imobiliário no sentido de se cuidar de terras devolutas, não se exigiria prova nesse sentido,
pois a regra então vigente era no sentido da presunção da natureza devoluta dessas terras. Assim, havia
presunção de que eram terras devolutas e cabia à União o ônus de provar que adquiriu as terras por meio de
compra ou anexação; que as terras lhe eram úteis; e a exata individuação para fins de saber se elas coincidem
com as áreas em relação às quais o estado de São Paulo expediu os títulos que se pretende anular. É possível
concluir que a União adquiriu terras na região, mediante compra ou anexação. Entretanto, não há provas de que
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essas terras tenham sido efetivamente úteis para o suposto fim original a que se prestariam. Além disso, não há
qualquer precisão na individuação dessas terras à época da aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus
probatório. STF. Plenário. ACO 158/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/3/2020 (Info 969).
• RESPONSABILIDADE CIVIL
Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil
objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando
não demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880,
Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão Geral
– Tema 362) (Info 993).
Nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública aplica-se o prazo prescricional quinquenal
previsto no Decreto nº 20.910/1932 (art. 1º), em detrimento do prazo trienal estabelecido no Código Civil de
2002 (art. 206, § 3º, V), por se tratar de norma especial que prevalece sobre a geral.
Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, relativo à
responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser
comissiva ou omissiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1869046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020
(Info 674).
A MP 966/2020, que dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos por ação e omissão em atos
relacionados com a pandemia da covid-19. O STF decidiu que a MP é, em princípio, constitucional, mas deverá
ser feita uma interpretação conforme à Constituição. Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a
medida cautelar para: 1) conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 2º da MP 966/2020, no sentido
de estabelecer que, na caracterização de erro grosseiro, deve-se levar em consideração a observância, pelas
autoridades: a) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações
e entidades internacional e nacionalmente conhecidas; bem como b) dos princípios constitucionais da precaução
e da prevenção; e 2) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art. 1º da MP 966/2020, para
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explicitar que, para os fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião
técnica trate expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como
estabelecidos por organizações e entidades reconhecidas nacional e internacionalmente; (ii) da observância dos
princípios constitucionais da precaução e da prevenção. Foram fixadas as seguintes teses: 1. Configura erro
grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente equilibrado ou
impactos adversos à economia, por inobservância: i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou ii) dos
princípios constitucionais da precaução e da prevenção. 2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que
as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente: i) das normas e critérios científicos e
técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente reconhecidas; e ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção,
sob pena de se tornarem corresponsáveis por eventuais violações a direitos. Vale ressaltar que a MP não trata
de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto impugnado que dê imunidade a agentes
públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída. STF. Plenário. ADI 6421 MC/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 20 e 21/5/2020 (Info 978).
Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de
fogos de artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando
for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do poder
público eventuais irregularidades praticadas pelo particular. STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/3/2020 (repercussão geral – Tema 366) (Info
969).
• ATOS ADMINISTRATIVOS
A decisão administrativa robótica deve ser suficientemente motivada, sendo a sua opacidade motivo
de invalidação.
Não constitui ofensa ao artigo 9º do Decreto-Lei n. 3.365/1941 o exame por parte do Poder Judiciário,
no curso do processo de desapropriação, da regularidade do processo administrativo de desapropriação e da
presença dos elementos de validade do ato de declaração de utilidade pública.
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O ato declaratório da desapropriação, por utilidade ou necessidade pública, ou por interesse social,
deve ser motivado de maneira explícita, clara e congruente, não sendo suficiente a mera referência à hipótese
legal.
Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta? Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do
CC/2002). Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no
local. Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10
anos porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local.
Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta e
devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal. STJ. 1ª Seção. EREsp
1575846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658). O prazo prescricional aplicável à
desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído
natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art.
1.238 do CC. STJ. 1ª Seção. REsp 1757352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1109) (Info 671). Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação de
desapropriação indireta prescreve em vinte anos).
As restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o
conteúdo econômico, não configuram desapropriação indireta. A desapropriação indireta só ocorre quando
existe o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público. Logo, as restrições ao direito de propriedade
impostas por normas ambientais configuram limitações administrativas. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp
1443672/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 11/02/2020. O prazo prescricional para exercer a pretensão de
ser indenizado por limitações administrativas é de 5 anos, nos termos do art. 10 do Decreto-Lei 3.365/1941,
disposição de regência específica da matéria. STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1784226/RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 06/06/2019.
• LICITAÇÃO
A Lei n. 10.520/2002 define o bem ou serviço comum com base em critérios eminentemente
mercadológicos, de modo que a complexidade técnica ou a natureza intelectual do bem ou serviço não impedem
a aplicação do pregão se o mercado possui definições usualmente praticadas em relação ao objeto da licitação.
Na fase interna da licitação para concessões e parcerias público-privadas, o Poder Concedente deverá
indicar as razões que o levaram a alocar o risco no concessionário ou no Poder Concedente, tendo como diretriz
a melhor capacidade da parte para gerenciá-lo.
Cabe mandado de segurança para pleitear que seja obedecida a ordem cronológica para pagamentos
em relação a crédito já reconhecido e atestado pela Administração, de acordo com o art. 5º, caput, da Lei n.
8.666/1993.
As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de concessão
não violam os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da moralidade e da
competitividade. As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime de
concessão de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a fixação
de tarifas em valores razoáveis (modicidade). A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização
da agência reguladora. Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo
ainda a necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final. STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/2/2020 (Info 967).
• CONCURSO PÚBLICO
É inconstitucional lei estadual que afirma que “o servidor público estadual à disposição do Tribunal de
Contas em 30 de novembro de 1994 poderá requerer sua integração ao Quadro Especial de Pessoal do referido
Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da publicação desta lei.” Essa lei viola o princípio do
concurso público, previsto no art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 1251/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/8/2020 (Info 985).
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O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são cancelados
por indícios de fraude. STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral –
Tema 512) (Info 986 – clipping).
Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo
prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1643048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info 668).
Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é inaplicável a teoria do fato
consumado aos concursos públicos, não sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo
servidor que tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade. Contudo, em alguns
casos, o STJ afirma que há a solidificação de situações fáticas ocasionada em razão do excessivo decurso de
tempo entre a liminar concedida e os dias atuais, de maneira que, a reversão desse quadro implicaria
inexoravelmente em danos desnecessários e irreparáveis ao servidor. Em outras palavras, o STJ entende que
existem situações excepcionais nas quais a solução padronizada ocasionaria mais danos sociais do que a
manutenção da situação consolidada, impondo-se o distinguishing, e possibilitando a contagem do tempo de
serviço prestado por força de decisão liminar, em necessária flexibilização da regra. Caso concreto: determinado
indivíduo prestou concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal e foi aprovado nas provas teóricas, tendo
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sido, contudo, reprovado em um dos testes práticos. O candidato propôs mandado de segurança questionando
esse teste. O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse, o que ocorreu em 1999. Em sentença,
o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. Anos mais tarde, o TRF, ao julgar a
apelação, entendeu que a exigência do teste prático realizado não continha nenhum vício. Em virtude disso,
reformou a sentença. O servidor, contudo, continuou cautelarmente no cargo até 2020, quando houve o trânsito
em julgado da decisão contrária ao seu pleito. O STJ assegurou a manutenção definitiva do impetrante no cargo.
STJ. 1ª Turma. AREsp 883574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666). STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 08/10/2019.
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a ação
penal. STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral –
Tema 22) (Info 965).
O prazo processual, no âmbito do processo administrativo, deverá ser contado em dias corridos
mesmo com a vigência dos arts. 15 e 219 do CPC, salvo se existir norma específica estabelecendo essa forma de
contagem.
O art. 149 da Lei nº 8.112/90 determina que a comissão condutora do processo administrativo
disciplinar seja composta por servidores estáveis e se exige que, no momento da designação, estes já tenham
atingido a estabilidade no desempenho do cargo que exercem e que os legitima participar da comissão. Não
haverá, contudo, nulidade do PAD se, no caso concreto, a Administração Pública, ao perceber o vício formal,
substituiu o servidor em estágio probatório por outro estável, sem aproveitar qualquer ato decisório do servidor
substituído. Isso porque, nesta hipótese, não terá havido qualquer prejuízo concreto à defesa. STF. 2ª Turma.
RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).
• SERVIDORES PÚBLICOS
viabilizar sua concretização enquanto não sobrevier lei complementar disciplinadora da matéria. Após a vigência
da EC nº 103/2019, o direito à conversão em tempo comum, do prestado sob condições especiais pelos
servidores obedecerá à legislação complementar dos entes federados, nos termos da competência conferida
pelo art. 40, § 4º-C, da Constituição da República. STF. Plenário.RE 1014286, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão
Edson Fachin, julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 942) (Info 992 – clipping).
A Constituição Federal não prevê adicional noturno aos Militares Estaduais ou Distritais. Mandado de
Injunção será cabível para que se apliquem, aos militares estaduais, as normas que regulamentam o adicional
noturno dos servidores públicos civis, desde que o direito a tal parcela remuneratória esteja expressamente
previsto na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do Distrito Federal. STF. Plenário. RE 970823, Rel. Marco
Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 1038).
O art. 9º, II, c/c art. 10 da Lei 8.112 estabelece a nomeação de servidor em comissão para cargos de
confiança vagos. A existência de processo seletivo por competências para escolha de servidor para cargos de
confiança vagos não equipara as regras deste processo seletivo às de concurso público, e nem o regime jurídico
de servidor em comissão ao de servidor em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de provimento
efetivo ou de carreira.
A estabilidade do servidor titular de cargo público efetivo depende da reunião de dois requisitos
cumulativos: (i) o efetivo desempenho das atribuições do cargo pelo período de 3 (três) anos; e (ii) a confirmação
do servidor no serviço mediante aprovação pela comissão de avaliação responsável (art. 41, caput e § 4º, da CF
c/c arts. 20 a 22 da Lei n. 8.112/1990). Assim, não há estabilização automática em virtude do tempo, sendo o
resultado positivo em avaliação especial de desempenho uma condição indispensável para a aquisição da
estabilidade.
Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do art.
37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a
observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público. STF. Plenário. RE
612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e 27/4/2017 (Repercussão Geral – Temas
337 e 384) (Info 862).
É constitucional o art. 40, § 18, da CF/88, incluído pela EC 41/2003: Art. 40 (...) § 18. Incidirá
contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo
que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata
o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. Também é
constitucional o art. 9º da EC 41/2003: Art. 9º Aplica-se o disposto no art. 17 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias aos vencimentos, remunerações e subsídios dos ocupantes de cargos, funções e
empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória percebidos cumulativamente ou não,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza. STF. Plenário. ADI 3133/DF, ADI 3143/DF e ADI
3184/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2020 (Info 983).
Os servidores efetivados pelo Estado de Minas Gerais submetidos ao regime estatutário, por meio de
dispositivo da LCE nº 100/2007, declarado posteriormente inconstitucional pelo STF na ADI 4.876/DF, têm
direito aos depósitos no FGTS referentes ao período irregular de serviço prestado. STJ. 1ª Seção. REsp 1806086-
MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1020) (Info 676).
Constituição. STF. 1ª Turma. ARE 1234192 AgR/PR e ARE 1250903 AgR/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 16/6/2020 (Info 982).
Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do
terço constitucional, salvo: I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou II) comprovado
desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas
renovações e/ou prorrogações. STF. Plenário. RE 1066677, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de
Moraes, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 551) (Info 984 – clipping).
A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada
pelo art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 977).
A regra que estabelece a necessidade de residência do servidor no município em que exerce suas
funções é compatível com a Constituição de 1988, a qual já prevê obrigação semelhante para magistrados, nos
termos do seu art. 93, VII. Por outro lado, viola a Constituição a lei estadual que proíba a saída do servidor do
Município sede da unidade em que atua sem autorização do superior hierárquico. Essa previsão configura grave
violação da liberdade fundamental de locomoção (art. 5º, XV, da CF/88) e do devido processo legal (art. 5º, LIV).
STF. Plenário. ADPF 90, Rel. Luiz Fux, julgado em 03/04/2020 (Info 977).
Escrevente notarial do Estado de São Paulo que se aposentou segundo as regras da Lei estadual nº
10.393/70 pode ser atingido pelas regras da Lei estadual 14.016/2010, que alterou a forma de reajuste das
aposentadorias e aumentou as alíquotas da contribuição previdenciária. A Lei estadual nº 14.016/2010 previu
novos critérios para os reajustes futuros da aposentadoria e, conforme jurisprudência do STF, não existe direito
adquirido à manutenção de regime jurídico anterior. A Lei estadual 10.393/70 indexava a aposentadoria ao valor
do salário-mínimo, o que é expressamente vedado pelo art. 7º, IV, da Constituição Federal. Nesse sentido
também é a Súmula Vinculante 4. A alíquota da contribuição previdenciária também é perfeitamente possível
considerando que não existe direito adquirido a regime jurídico e, a contribuição previdenciária possui natureza
jurídica tributária, não havendo norma jurídica válida que confira o direito ao não recolhimento de tributo. Vale
ressaltar que, na ADI 4420, o STF garantiu a situação jurídica de quem já tinha se aposentado ou preenchido os
requisitos para a obtenção do benefício. Não houve, contudo, a intenção de se assegurar o direito à manutenção
da indexação de benefício de aposentadoria ao salário mínimo ou impedir a majoração das alíquotas da
contribuição previdenciária. Esses assuntos não foram discutidos na ADI 4420. STF. 1ª Turma. Rcl 37892 AgR/SP,
rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2020 (Info 969).
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Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão
sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. STF. Plenário. RE 636553/RS,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967).
• IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Configura ato de improbidade administrativa a conduta do agente público que, em atuação legislativa
lato sensu, recebe vantagem econômica indevida.
Os benefícios de colaboração premiada previstos na nº Lei 9.807/99 - que instituiu o Programa Federal
de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas -, bem como na antiga Lei Antitruste (Lei nº 8.884/94),
não são aplicáveis para os casos em que não se discute a prática de crimes contra a ordem econômica, nem
estão demonstradas as hipóteses de proteção previstas na Lei nº 9.807/99. STJ. 2ª Turma. REsp 1464287-DF,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/03/2020 (Info 674). Observação: os fatos julgados pelo STJ
ocorreram antes da Lei nº 12.850/2013 e da Lei nº 13.964/2019. O § 1º do art. 17 da Lei nº 8.492/92 proibia a
realização de transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade administrativa. A Lei nº 13.964/2019
alterou esse dispositivo para admitir a celebração de acordo de não persecução cível. Veja a redação atual: Art.
17. (...) § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não persecução cível, nos
termos desta Lei.
• PODERES ADMINISTRATIVOS
Existem dois tipos de instituições que podem emitir cartões de crédito: 1) instituições financeiras, que
emitem e administram cartões próprios ou de terceiros e concedem financiamento direto aos portadores; 2)
operadoras de cartão de crédito em sentido estrito, que são empresas não financeiras que emitem e
administram cartões próprios ou de terceiros, que não financiam os seus clientes. As instituições financeiras que
emitem e administram cartões próprios ou de terceiros (primeiro tipo acima) já eram fiscalizadas pelo Bacen,
nos termos do art. 10, IX, da Lei nº 4.595/64. Por outro lado, as operadoras de cartão de crédito em sentido
estrito só passaram a ser reguladas e fiscalizadas pelo CMN e pelo Bacen após a edição da MP 615/2013. Antes
da edição da MP 615/2013, não havia dispositivo legal que obrigasse o CMN a regular e o Bacen a fiscalizar as
atividades das operadoras de cartão de crédito em sentido estrito. Isso porque a intermediação que essas fazem
não tem natureza financeira para os fins do art. 17 da Lei nº 4.595/64. Atualmente, existe previsão legal de
normatização e fiscalização das operadoras em sentido estrito por parte do CMN e do Bacen, quadro que se
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formou com a edição da MP 615/2013. STJ. 2ª Turma. REsp 1359624-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 10/03/2020 (Info 674).
Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada,
calçadas integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população. No Estado
Social de Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança e com conforto, qualifica-se como direito de todos,
com atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, crianças e pessoas com
deficiência. Vale ressaltar que as calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum do povo
(art. 99, I, do Código Civil). A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se estritamente
conforme a legislação e após regular procedimento administrativo. Se o apossamento do espaço urbano público
ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de improbidade e infração disciplinar,
fazer a imediata demolição de eventuais construções irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1846075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).
• CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
O atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração Pública autoriza o
contratado a suspender o cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a situação, mesmo sem
provimento jurisdicional.
Os contratos celebrados pelas empresas estatais, regidos pela Lei n. 13.303/2016, não possuem
aplicação subsidiária da Lei n. 8.666/1993. Em casos de lacuna contratual, aplicam-se as disposições daquela Lei
e as regras e os princípios de direito privado.
A Administração Pública pode promover comunicações formais com potenciais interessados durante
a fase de planejamento das contratações públicas para a obtenção de informações técnicas e comerciais
relevantes à definição do objeto e elaboração do projeto básico ou termo de referência, sendo que este diálogo
público-privado deve ser registrado no processo administrativo e não impede o particular colaborador de
participar em eventual licitação pública, ou mesmo de celebrar o respectivo contrato, tampouco lhe confere a
autoria do projeto básico ou termo de referência.
Nos contratos de concessão e PPP, o reajuste contratual para reposição do valor da moeda no tempo
é automático e deve ser aplicado independentemente de alegações do Poder Público sobre descumprimentos
contratuais ou desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, os quais devem ser apurados em processos
administrativos próprios para este fim, nos quais serão garantidos ao parceiro privado os direitos ao
contraditório e à ampla defesa.
• SERVIÇOS PÚBLICOS
• DIVERSOS
A composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das Unidades de Suporte
Básico de Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU sem a presença de
enfermeiro não ofende, mas sim concretiza, o que dispõem os artigos 11, 12, 13 e 15 da Lei n.º 7.498/86, que
regulamenta o exercício da enfermagem. STJ. 1ª Seção. REsp 1828993-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1024) (Info 677).
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A indicação e a aceitação de árbitros pela Administração Pública não dependem de seleção pública
formal, como concurso ou licitação, mas devem ser objeto de fundamentação prévia e por escrito, considerando
os elementos relevantes.
A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a viúva de militar que passa a conviver
em união estável, após a óbito do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já constituída
instituição familiar equiparável ao casamento. STJ. 1ª Turma. REsp 1386713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 10/03/2020 (Info 668).
3- PENAL
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• PRINCÍPIOS
O princípio da legalidade impõe que se observe, quando da soma das penas, o cálculo diferenciado
para fins de progressão de regime.
Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários
estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo
ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 549.428-
PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.
É possível utilizar o parâmetro mínimo de 20 mil reais (criado para a execução fiscal) como critério para
aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários? NÃO. Não é possível a aplicação do princípio da
insignificância aos crimes tributários de acordo com o montante definido em parâmetro estabelecido para a
propositura judicial de execução fiscal. STF. 1ª Turma. HC-AgR 144.193-SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 15/04/2020. SIM. É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários e de
descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a
teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130,
ambas do Ministério da Fazenda. STF. 2ª Turma. HC-AgR 160.239-SP, Rel. Min. Gilmar Mendes; Julg. 22/05/2020.
STF. 2ª Turma. HC-AgR 174.329-SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski; Julg. 05/11/2019; DJE 18/11/2019. STJ. 3ª
Seção. HC 535.063-SP. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; Julg. 10/06/2020; DJE 25/08/2020
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho
de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes criminais por crimes
patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966). Em outro precedente mais recente: É possível a aplicação do princípio
da insignificância em face de réu reincidente e realizado no período noturno. Na espécie, trata-se de furto de
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R$ 4,15 em moedas, uma garrafa pequena de refrigerante, duas garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro
de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/04/2020 (Info 973)
• DOSIMETRIA DA PENA
A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção da
pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? Após o período depurador, ainda será possível
considerar a condenação como maus antecedentes? SIM. As condenações atingidas pelo período depurador
quinquenal do art. 64, inciso I, do CP, embora afastem os efeitos da reincidência, não impedem a configuração
de maus antecedentes, na primeira etapa da dosimetria da pena. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 558.745/SP, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/09/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 471.346/MS, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/05/2019. Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o
prazo quinquenal de prescrição da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal. STF. Plenário. RE
593818/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/8/2020 (Repercussão Geral - Tema 150).
O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da
Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens, prestação
social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável em retribuição e em
prevenção à prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal. Diante da eficácia erga omnes
e do vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral
55
da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1850903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).
Demonstrada mera falta de técnica na sentença, o habeas corpus pode ser deferido para nominar de
forma correta os registros pretéritos da paciente, doravante chamados de maus antecedentes, e não de conduta
social, sem afastar, todavia, o dado desabonador que, concretamente, existe nos autos e justifica diferenciada
individualização da pena. O juiz mencionou cinco condenações definitivas do réu como justificativa para o
aumento da pena na primeira fase da dosimetria. O magistrado deveria ter denominado os registros como
“maus antecedentes”, mas, em vez disso, os enquadrou como “conduta social” negativa. O erro do
pronunciamento está relacionado somente à atecnia na nomeação da circunstância legal. Assim, em habeas
corpus, deve ser corrigida a palavra imprópria, para que o dado concreto levado em conta pelo juiz seja chamado
de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC 501144/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/03/2020
(Info 669).
• EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Para fins de aplicação do art. 91-A do Código Penal, cabe ao Ministério Público, e não à Defesa, a
comprovação de incompatibilidade entre o patrimônio e os rendimentos lícitos do réu.
• PRESCRIÇÃO
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando
a pena anteriormente imposta. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da
pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal, que deve ser interpretado de
forma sistemática, todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não
está inerte. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão
condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa
para tratamentos díspares. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1668298-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
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12/05/2020 (Info 672). STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.
STF. 1ª Turma. RE 1195122 AgR-segundo, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 30/11/2020.
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando
a pena anteriormente imposta. STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/04/2020. STF. 1ª Turma. RE 1195122 AgR-segundo, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 30/11/2020.
De acordo com o parágrafo único do art. 116 do Código Penal, “depois de passada em julgado a
sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro
motivo”. Ao interpretar o referido dispositivo legal, o STJ pacificou o entendimento de que o cumprimento de
pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da
prescrição executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, o que impede o
reconhecimento da extinção de sua punibilidade. O fato de o prazo prescricional não correr durante o tempo
em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das penas. STJ. 5ª Turma. AgRg no
RHC 123523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).
Não há incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio cruel, na medida em que
o dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o emprego de meio
mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2º,
III, do CP). Caso concreto: réu atropelou o pedestre e não parou o veículo, arrastando a vítima por 500 metros,
assumindo, portanto, o risco de produzir o resultado morte; mesmo tendo havido dolo eventual, deve-se
reconhecer também a qualificadora do meio cruel prevista no art. 121, § 2º, III, do CP. STJ. 5ª Turma. AgRg no
REsp 1573829/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019. STJ. 6ª Turma. REsp 1829601-
PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/02/2020 (Info 665).
Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a
conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a
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defesa do patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada
criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que
tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do
crime. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020. STJ. 6ª Turma.
AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020.
A escusa absolutória do art. 181, inc. II, do Código Penal abrange também a paternidade e filiação
socioafetivas.
A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019, retroage para
alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será
necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo? 1ª corrente: NÃO. A
retroatividade da representação prevista no § 5º do art. 171 do CP deve se restringir à fase policial. A exigência
de representação no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta os processos que já estavam
em curso quando entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019. Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou
em vigor a nova Lei, não será necessária representação do ofendido. STJ. 5ª Turma. HC 573093-SC, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2020 (Info 674). 2ª corrente: SIM. A retroatividade da
representação prevista § 5º do art. 171 alcança todos os processos em curso. A exigência de representação no
crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, afeta não apenas os inquéritos, mas também os processos
em curso, desde que ainda não tenham transitado em julgado. Assim, mesmo que já houvesse denúncia
oferecida quando a Lei entrou em vigor, o juiz deverá intimar a vítima para manifestar interesse na continuidade
da persecução penal, no prazo de 30 dias, sob pena de decadência. STJ. 6ª Turma. HC 583837/SC, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 04/08/2020.
Qual é a ação penal no caso do crime de estelionato? O tema deve ser analisado antes e depois do
Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019): • ANTES: ação penal pública incondicionada. • DEPOIS: em regra, é crime
de ação penal pública condicionada à representação. Exceções: Será de ação penal incondicionada quando a
vítima for: a) a Administração Pública, direta ou indireta; b) criança ou adolescente; c) pessoa com deficiência
mental; ou d) maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Vale ressaltar que a exigência de representação
no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta os processos que já estavam em curso quando
entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019. Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou em vigor a nova Lei,
não será necessária representação do ofendido. STJ. 5ª Turma. HC 573.093/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 09/06/2020.
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João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber pagamentos em dinheiro e levá-los
para depósito no banco. João combinou com Pedro um plano criminoso. No dia do pagamento, Pedro entraria
na empresa e, supostamente ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele entregaria o dinheiro. Depois, os
dois dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo que havia entrado uma grande
soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu que João e Ricardo (outro
funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem o dinheiro, o que foi feito. Posteriormente, a
polícia conseguiu prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro praticaram roubo
majorado, e não estelionato. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info
980).
Caso concreto: o réu foi denunciado pelo MPF pela prática de estelionato qualificado, porque, na
qualidade médico de hospital universitário federal, teria registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir
sua carga horária durante quase dois anos. A jurisprudência do STJ não tem admitido, nos casos de prática de
estelionato “qualificado”, a incidência do princípio da insignificância (princípio inspirado na fragmentariedade
do Direito Penal). Isso porque se identifica, neste caso, uma maior reprovabilidade da conduta delitiva. No caso
concreto, o STJ afirmou que não era possível o trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência
de prejuízo expressivo para a vítima, considerando que, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos
aos médicos são provenientes de verbas federais. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 548869-RS, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24/04/2018. Antes dessa Lei, o emprego de arma branca
era considerado causa e aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou de prever a arma branca como
majorante. Suponhamos que, no dia 25/04/2018, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela
o telefone celular. O juiz, ao condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da dosimetria da pena, utilizar a “arma
branca” como causa de aumento de pena. Diante disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato
(emprego de arma branca) como uma circunstância judicial negativa, aumentando a pena-base na 1ª fase da
dosimetria da pena. Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está proibido de utilizar essa
circunstância (emprego de arma branca) como causa de aumento de pena, mas nada impede que considere isso
como circunstância judicial negativa, na fase do art. 59 do CP. STJ. 5ª Turma. HC 556629-RJ, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668).
Não há nenhuma nulidade quando o Juiz refuta o exame pericial não esclarecedor nos crimes de
estupro de vulnerável sem conjunção carnal, para, acolhendo as demais provas, principalmente o depoimento
da vítima e das testemunhas, concluir pela condenação do réu, porque no sistema jurídico penal brasileiro vigora
o princípio do “livre convencimento motivado” do julgador. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 127.089/MG,
Rel. Ministro Nefi Cordeiro, julgado em 24/11/2020.
O art. 225 do CP, na época da Lei 12.015/2009, tinha a seguinte redação: Art. 225. Nos crimes definidos
nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. Segundo tese defensiva, o estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do
CP somente é de ação penal pública incondicionada quando a vulnerabilidade for permanente (ex: doente
mental). Se a vulnerabilidade for temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria condicionada à
representação. Assim, quando o art. 225, parágrafo único do CP (com redação dada pela Lei nº 12.015/2009)
fala em “pessoa vulnerável”, ele está se referindo à pessoa que é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não
à pessoa que está vulnerável (vulnerabilidade temporária). Essa tese defensiva acima exposta é acolhida pelo
STJ? 5ª Turma do STJ: NÃO Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal é pública incondicionada, nos
moldes do parágrafo único do art. 225 do CP. Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a vulnerabilidade
temporária ou permanente, haja vista que a condição de vulnerável é aferível no momento do cometimento do
crime, ocasião em que há a prática dos atos executórios com vistas à consumação do delito. Em outras palavras,
seja a vulnerabilidade permanente ou temporária, no caso de estupro de vulnerável a ação penal é sempre
incondicionada. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1103678/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/02/2019.
6ª Turma do STJ: SIM A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único do art. 225 do CP é somente aquela
que possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos. Se a pessoa é
incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não pode ser
considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225, de forma que a ação penal permanece sendo
condicionada à representação da vítima. No crime sexual cometido durante vulnerabilidade temporária da
vítima, sob a égide do art. 225 do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009, a ação penal pública
é condicionada à representação. STJ. 6ª Turma. REsp 1814770-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado
em 05/05/2020 (Info 675). ATENÇÃO: A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018.
Atualmente não interessa mais, salvo para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a
redação do art. 225 do CP e passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública
incondicionada (sempre). Não há exceções!
A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem se protrair no tempo. A
despeito dos efeitos que possam, ou não, gerar, a falsidade ideológica se consuma no momento em que é
praticada a conduta. Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão
punitiva é o momento da consumação do delito (e não o da eventual reiteração de seus efeitos). Caso concreto:
em 2010, foi incluído um sócio “laranja” no contrato social da empresa. Ele não iria ser sócio realmente, sendo
isso uma falsidade ideológica. Logo, considera-se que aí foi praticado o crime. Não se pode afirmar que esse
crime (essa conduta) teria sido reiterado quando, por ocasião da alteração contratual ocorrida em 2019, deixou-
se de regularizar o nome do sócio verdadeiramente titular da empresa, mantendo-se o nome do “laranja”. Isso
porque não há como se entender que constitui novo crime a omissão em corrigir informação falsa por ele
inserida em documento público, quando teve oportunidade para tanto. Logo, o termo inicial da contagem da
prescrição foi 2010. STJ. 3ª Seção. RvCr 5233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/05/2020
(Info 672).
A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela
Constituição de 1988. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona
a conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção pela Constituição de
1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. De acordo com a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito
absoluto e, em casos de grave abuso, é legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros interesses
e direitos relevantes. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e
particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas não
somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas. A
criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas proteção da função
pública por ele exercida. Vale ressaltar, no entanto, que, considerando que os agentes públicos em geral estão
mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à reprovação e à insatisfação,
limitando-se o crime de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à função pública. STF. Plenário.
ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992 – clipping).
Uma determinada empresa havia prestado serviços para a Petrobrás e não tinha recebido todo o valor
que entendia devido. Essa empresa entrou em contato com determinado Deputado Federal para que ele
resolvesse a situação. Este Deputado comprometeu-se a falar com o diretor de abastecimento da Petrobrás,
61
mas exigiu o pagamento de vantagem indevida. O Deputado conseguiu que a Petrobrás pagasse, por meio de
um acordo extrajudicial, R$ 69 milhões para a empresa e, em troca, recebeu R$ 3 milhões de propina. O STF
entendeu que esta conduta se enquadra no crime de corrupção passiva (art. 317 do CP). STF. 2ª Turma. AP
1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).
Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial
de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido no juízo cível. O indivíduo,
depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa conduta configura ato
atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa processual (art. 77, §
2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo de responsabilização
na esfera penal. STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).
Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos de empresas estatais, utilizando
esse dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio. As empresas estatais
gozam de autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o Governador tem a posse
do dinheiro neste caso? É possível. Isso porque a posse necessária para configuração do crime de peculato deve
ser compreendida não só como a disponibilidade direta, mas também como disponibilidade jurídica, exercida
por meio de ordens. STJ. 5ª Turma. REsp 1776680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11/02/2020 (Info 666).
O crime de gestão temerária de instituição financeira exige a demonstração da violação das regras e
parâmetros objetivos de gerenciamento de riscos e limites operacionais na administração, intermediação e
aplicação de recursos de terceiros, instituídos pelas autoridades de regulação do sistema financeiro nacional.
Se a denúncia imputa a oferta pública de contrato de investimento coletivo (sem prévio registro), não
há dúvida de que incide as disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro),
especialmente porque essa espécie de contrato caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76. Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com essa conduta. Compete à Justiça
Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de investimento coletivo em criptomoedas. STJ.
6ª Turma. HC 530563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/03/2020 (Info 667).
Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa
do orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. A edição de
um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de
uma pessoa, configura dolo da prática criminosa. Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que praticada
por Deputado Federal, não estará protegida pela imunidade parlamentar. Caso concreto: durante a reunião de
uma CPI, o então Deputado Federal Jean Wyllys proferiu a seguinte frase: “tem um imaginário impregnado,
sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa.
É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que está impregnado na
gente”. O Deputado Federal Eder Mauro publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no qual o discurso de
Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e ouve-se apenas: “Uma
pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média”.
Para o STF, essa conduta configurou o crime de difamação agravada. STF. 1ª Turma. AP 1021/DF, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 18/8/2020 (Info 987).
Exemplo: Rita e Adriana trabalhavam em um órgão público. Rita ligou para o ramal telefônico de
Adriana para falar sobre um requerimento de abono de faltas que ela havia solicitado. Adriana avisou, então,
que Reginaldo (chefe do setor) havia indeferido o pedido. Ao saber de tal fato, Rita passou a proferir ofensas
contra ele, afirmando para Adriana: “este macaco, preto sem vergonha está indeferindo a minha falta”. Vale
ressaltar, contudo, que, momentos antes, Reginaldo, que estava no mesmo setor que Adriana, havia retirado o
telefone do gancho para fazer uma ligação e acabou por ouvir as palavras injuriosas proferidas por Rita. O
Ministério Público ofereceu denúncia contra Rita pela prática do crime de injúria racial (art. 140, § 3º do CP):
Art. 140 (...) § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. Para o
STJ, não houve crime. Isso porque o delito de injúria se consuma quando a ofensa chega ao conhecimento da
vítima, sendo necessário dolo específico de ofender a honra subjetiva da vítima. A acusada não tinha como saber
que a vítima estava ouvindo o teor da conversa pela extensão telefônica. Como a injúria se consuma com a
ofensa à honra subjetiva de alguém, não há que se falar em dolo específico no caso em que a vítima não era seu
interlocutor na conversa telefônica e, acidentalmente, tomou conhecimento do teor da conversa. O tipo penal
em questão exige que a ofensa seja dirigida ao ofendido com a intenção de menosprezá-lo, ofendendo-lhe a
honra subjetiva. STJ. 6ª Turma. REsp 1765673-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/05/2020 (Info
672).
O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº
8.137/90) deverá ser aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano à coletividade”. A jurisprudência
entende que se configura a referida causa de aumento quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos
uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor sonegado foi alto, incide a causa de aumento do art. 12, I.
Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa: Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90
(grave dano à coletividade), o dano tributário deve ser valorado considerando seu valor atual e integral,
incluindo os acréscimos legais de juros e multa. A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional, prevê que os contribuintes que estão devendo acima de R$ 1 milhão são considerados “grandes
devedores” e devem receber tratamento prioritário na atuação dos Procuradores. O STJ utiliza, então, essa
Portaria como parâmetro para analisar a incidência ou não da causa de aumento do art. 12, I: A majorante do
grave dano à coletividade, trazida pelo art. 12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a situações especiais de
relevante dano. Desse modo, é possível, para os tributos federais, utilizar, analogamente, o critério previsto no
art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do qual se definiu administrativamente os créditos prioritários como
sendo aqueles de valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). E se a sonegação fiscal envolver
tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos? Em se tratando de tributos
estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido como prioritário ou de destacados
créditos (grandes devedores) para a fazenda local. Dito de outro modo, em caso de tributos estaduais ou
municipais, não se de deve utilizar a Portaria 320/PGFN, mas sim os eventuais atos normativos estaduais e
municipais que definam o que sejam “grandes devedores” para o Fisco local. STJ. 3ª Seção. REsp 1849120-SC,
64
Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info 668). O STF comunga do mesmo entendimento e utiliza
como parâmetro esses atos infralegais que definem “grandes devedores”? Não. Existe julgado do STF no qual
foi afastado esse critério: “Quanto à Portaria 320/2008 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, anoto que
essa norma infralegal apenas dispõe sobre o Projeto Grandes Devedores no âmbito da PGFN, conceituando,
para os seus fins, os “grandes devedores”, com o objetivo de estabelecer, na Secretaria da Receita Federal do
Brasil, método de cobrança prioritário a esses sujeitos passivos de vultosas obrigações tributárias, sem limitar
ou definir, no entanto, o grave dano à coletividade, ao contrário do que afirma o impetrante.” (STF. 2ª Turma.
HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/10/2017. Info 882).
A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no
âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito
de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou
amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente
que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1626825-GO, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
• ECA
Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena de sexo explícito e pornográfica
envolvendo crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para outra
pessoa, esse indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá consunção e ele responderá por apenas um dos
delitos? Em regra, não há automática consunção quando ocorrem armazenamento e compartilhamento de
material pornográfico infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de um dos crimes não perpassa,
necessariamente, pela prática do outro. No entanto, é possível a absorção a depender das peculiaridades de
cada caso, quando as duas condutas guardem, entre si, uma relação de meio e fim estreitamente vinculadas. O
princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de fatos. Se evidenciado pelo caderno
probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de subordinação com o outro, o réu
deverá responder por ambos, em concurso material. A distinção se dá em cada caso, de acordo com suas
especificidades. STJ. 6ª Turma. REsp 1579578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info
666).
65
O grande interesse por material que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente é ínsito ao crime descrito no art. 241-A da Lei nº 8.069/90, não sendo justificável a
exasperação da pena-base a título de conduta social ou personalidade. Caso concreto: na 1ª fase da dosimetria
da pena (art. 59 do CP), o juiz aumentou a pena-base de 3 para 4 anos afirmando que a conduta social e a
personalidade do agente eram desfavoráveis: “Com base nos elementos constantes dos autos, percebo que a
conduta social e a personalidade do acusado demonstram certa periculosidade pelo grande interesse em
pornografia infantil. Fixo a pena-base privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de reclusão nesta fase.” STJ. 6ª
Turma. REsp 1579578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info 666).
• ESTATUTO DO DESARMAMENTO
A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização
não caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e
aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). Tal
entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº
10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito de
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade mais
intensa. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020
(Info 671).
• CRIMES AMBIENTAIS
É possível o concurso formal entre o crime do art. 2º da Lei n. 8.176/91 (que tutela o patrimônio da
União, proibindo a usurpação de suas matérias-primas), e o crime do art. 55 da Lei n. 9.605/98 (que protege o
meio ambiente, proibindo a extração de recursos minerais), não havendo conflito aparente de normas já que
protegem bens jurídicos distintos. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1856109/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti, julgado
em 16/06/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1678419/SE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 20/09/2018.
Os delitos previstos no: - art. 54, § 2º, I, II, III e IV e § 3º e - art. 56, § 1º, I e II, - cumulados com a causa
de aumento de pena do art. 58, I, da Lei nº 9.605/98, ... que se resumem na ação de causar poluição ambiental
que provoque danos à população e ao próprio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas na
legislação de proteção, e na omissão em adotar medidas de precaução nos casos de risco de dano grave ou
irreversível ao ecossistema, ... são crimes de natureza permanente, para fins de aferição da prescrição. Caso
concreto: a empresa ré armazenou inadequadamente causando grave poluição da área degradada, sendo que,
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até o momento de prolação do julgado, não havia tomado providências para reparar o dano, caracterizando a
continuidade da prática infracional. Desse modo, constata-se que o crime de poluição qualificada é permanente,
ainda que por omissão da ré, que foi prontamente notificada a reparar o dano causado, mas não o fez. STJ. 5ª
Turma. AgRg no REsp 1847097-PA, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 05/03/2020 (Info 667).
• LEI DE DROGAS
Para a aplicação do art. 40, inc. VI, da Lei n. 11.343/2006, é necessária a prova de que a criança ou
adolescente atua ou é utilizada, de qualquer forma, para a prática do crime, ou figura como vítima, não sendo a
mera presença da criança ou adolescente no contexto delitivo causa suficiente para a incidência da majorante.
Não fica caracterizado o crime do inc. IV do § 1º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, incluído pela Lei
Anticrime, quando o policial disfarçado provoca, induz, estimula ou incita alguém a vender ou a entregar drogas
ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à sua preparação (flagrante preparado), sob pena de
violação do art. 17 do Código Penal e da Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal.
A conduta de transportar folhas de coca melhor se amolda, em tese e para a definição de competência,
ao tipo descrito no § 1º, I, do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, que criminaliza o transporte de matéria-prima
destinada à preparação de drogas. Caso concreto: o agente foi preso com 4,4 kg de folhas de coca, adquiridas
na Bolívia, tendo a substância sido encontrada no estepe do veículo. As folhas seriam transportadas até
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Uberlândia/MG para rituais de mascar, fazer infusão de chá e até mesmo bolo, rituais esses associados à prática
religiosa indígena de Instituto ao qual pertenceria o acusado. A folha de coca não é considerada droga; porém
pode ser classificada como matéria-prima ou insumo para sua fabricação. STJ. 3ª Seção. CC 172464-MS, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/06/2020 (Info 673).
O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das
majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com
esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. Art. 40.
As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: III - a infração tiver
sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de
sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho
coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento
de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
STJ. 6ª Turma. HC 528851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o
acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em
julgado? • STJ: SIM. É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da
convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art.
33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
14/12/2016 (Info 596). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020.
• STF: NÃO. Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33,
§ 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou processos
criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio
da presunção de não culpabilidade). Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada).
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967). STF. 1ª Turma. HC
166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018.
A suspensão será obrigatoriamente revogada se, no curso do prazo o beneficiário vier a ser processado
por outro crime (art. 89, § 3º da Lei nº 9.099/95). Trata-se de causa de revogação obrigatória. Por outro lado, a
suspensão poderá ser revogada pelo juiz se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção
(art. 89, § 4º). Trata-se de causa de revogação facultativa. O processamento do réu pela prática da conduta
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descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser considerado como causa de revogação
FACULTATIVA da suspensão condicional do processo. A contravenção penal tem efeitos primários mais
deletérios que o crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, mostra-se desproporcional que o mero processamento
do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 torne obrigatória a revogação da
suspensão condicional do processo, enquanto o processamento por contravenção penal ocasione a revogação
facultativa. STJ. 5ª Turma. REsp 1795962-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 tem como fundamento
distinguir o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se aventura
na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua
família. Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada em
elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da individualização
da pena e de fundamentação das decisões judiciais. Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a
organizações criminosas deverão ser comprovados, não valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse
sentido, o condenado fará jus à redução de pena. Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de
que é primário e de bons antecedentes e de que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização
criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério Público. Assim, o STF considerou preenchidas as
condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante de ré primária, com bons antecedentes e sem
indicação de pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é constitucional, posto
não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de
exclusão da tipicidade e da antijuridicidade. STF. Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
14/11/2018 (Repercussão Geral – Tema 907) (Info 923). É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga
do local do acidente (art. 305 do CTB). STF. Plenário. ADC 35/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, julgado em 9/10/2020 (Info 994).
A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver conduzindo o seu
veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a vítima,
como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de sua desatenção,
acabar por atingir e matar o pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na hipótese em
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que o condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle do carro, subindo
na calçada e atropelando a vítima. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1499912-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 05/03/2020 (Info 668).
O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 do CTB, prevê,
como uma das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.” Se o réu que praticou este crime é motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber
essa sanção ou isso violaria o direito constitucional ao trabalho? Não viola. O condenado pode sim receber essa
sanção, ainda que se trate de motorista profissional. É constitucional a imposição da pena de suspensão de
habilitação para dirigir veículo automotor ao motorista profissional condenado por homicídio culposo no
trânsito. O direito ao exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo
legislador se mostra razoável. STF. Plenário. RE 607107/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12/2/2020
(repercussão geral – Tema 486) (Info 966).
• DIVERSOS
A configuração do crime de associação criminosa (art. 288 do Código Penal) não ocorre pela inclusão
de um número mínimo de pessoas no polo passivo da ação penal, mas sim pelo intuito do agente de tomar parte
em grupo criminoso formado por um quantitativo mínimo legal de integrantes. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1789273/P, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 25/08/2020.
A ausência de falta grave nos últimos 12 (doze) meses como requisito à obtenção do livramento
condicional (art. 83, III, "b", do CP) aplica-se apenas às infrações penais praticadas a partir de 23/01/2020,
quando entrou em vigor a Lei n. 13.964/2019.
É prescindível a decisão final sobre a prática de falta grave para obstar o livramento condicional com
base no art. 83, III, "b", do CP.
O requisito previsto no art. 83, III, b, do Código Penal, consistente em o agente não ter cometido falta
grave nos últimos 12 (doze) meses, poderá ser valorado, com base no caso concreto, para fins de concessão de
livramento condicional quanto a fatos ocorridos antes da entrada em vigor da Lei 13.964/2019, sendo
interpretado como comportamento insatisfatório durante a execução da pena.
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São imprescritíveis e insuscetíveis de anistia, graça ou indulto crimes que caracterizem graves violações
de direitos humanos, praticados por agentes públicos ou particulares, diante da Convenção Americana de
Direitos Humanos e da pacífica jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de observância
obrigatória por todos os órgãos e poderes do Estado brasileiro.
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla
hipótese de prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais
processuais penais que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de
insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim, que o magistrado
poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1802845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não
tiver ficado suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se
prestar contas, não haverá crime por falta de elemento subjetivo (dolo). Art. 1º São crimes de responsabilidade
dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento
da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da
aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer título;
STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/06/2020 (Info 676).
Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não
tiver ficado suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se
prestar contas, não haverá crime por falta de elemento subjetivo (dolo). Art. 1º São crimes de responsabilidade
dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento
da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da
aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer título;
STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/06/2020 (Infos 676 e 677).
aplicação retroativa da norma penal benéfica, bem como à irretroatividade da norma mais grave ao acusado
(art. 5º, XL, da Constituição Federal), são inaplicáveis aos precedentes jurisprudenciais. STF. 1ª Turma. HC
161452 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 1361814/RJ, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 19/05/2020.
O delito do art.19 da lei 7.492/86, "obter mediante fraude financiamento em instituição financeira não
exige, para a sua configuração, efetivo ou potencial abalo ao Sistema Financeiro Nacional. STJ. 5ª Turma. gRg no
AgRg no AREsp 1642491/SP, Rel Min. Joel Ilan, julgado em 19/05/2020. STJ. 3ª Seção. CC 161.707/MA, Rel Min.
Joel Ilan, julgado em 12/12/2018
A previsão do art. 19 da Lei das Contravenções Penais continua válida ainda hoje? • Em relação à arma
de fogo: NÃO. O porte ilegal de arma de fogo caracteriza, atualmente, o crime previsto nos arts. 14 ou 16 do
Estatuto do Desarmamento. • Em relação à branca: SIM. O art. 19 do Decreto-lei nº 3.688/41 permanece vigente
quanto ao porte de outros artefatos letais, como as armas brancas. A jurisprudência do STJ é firme no sentido
da possibilidade de tipificação da conduta de porte de arma branca como contravenção prevista no art. 19 do
DL 3.688/41, não havendo que se falar em violação ao princípio da intervenção mínima ou da legalidade. STJ. 5ª
Turma. RHC 56128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).
A materialidade do delito de incêndio (art. 250, § 1º, I, do CP), cuja prática deixa vestígios, deve ser
comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP. Existe até uma
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previsão específica para o caso do crime de incêndio: Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa
e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a
extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato. Vale ressaltar,
no entanto, que a substituição do exame pericial por outros meios de prova é possível em hipóteses excepcionais
quando desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não permitirem a realização do laudo, conforme autoriza o
art. 167 do CPP. Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é necessário que se demonstre que
houve uma justificativa para a não realização do laudo pericial. Em um caso concreto, o STF entendeu que essa
utilização estava justificada. Isso porque o réu, mesmo após ser orientado pelo Corpo de Bombeiros a registrar,
imediatamente, ocorrência policial e solicitar perícia técnica ao Instituto de Criminalística, permaneceu inerte
durante sete dias. A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do desaparecimento dos
vestígios do crime, considerada a demora em registrar a ocorrência e a falta de preservação do local. Por essa
razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova testemunhal, corroborada por cópias da apólice do
seguro, aviso de sinistro, ocorrência policial, relatório de regulação de sinistros, fotografias, laudos de
averiguação e pelo laudo elaborado pela seguradora. Levando em conta a justificada inviabilidade da elaboração
do exame de corpo de delito e a demonstração da materialidade do crime por outros meios de prova, foi correta
a aplicação do art. 167 do CPP no presente caso. STF. 1ª Turma. HC 136964/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 18/2/2020 (Info 967).
4 – PROCESSO PENAL
• INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem o condão de
nulificar o recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando existam elementos autônomos que
sustentam a decisão impugnada. Ademais, cabe ressaltar que eventuais vícios na fase extrajudicial não
contaminam o processo penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial. STJ. 5ª Turma.
AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/09/2020. Eventuais irregularidades ocorridas no
inquérito policial não contaminam a ação penal. STJ. 6ª Turma. RHC n. 112.336/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 07/11/2019. O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter informativo, cuja
finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela qual
irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de processo-crime. STF. 1ª Turma.HC 169.348/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2019.
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Não haverá infiltração policial se o agente apenas representa a vítima nas negociações de extorsão
Não há infiltração policial quando agente lotado em agência de inteligência, sob identidade falsa, apenas
representa o ofendido nas negociações da extorsão, sem se introduzir ou se infiltrar na organização criminosa
com o propósito de identificar e angariar a confiança de seus membros ou obter provas sobre a estrutura e o
funcionamento do bando. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020
(Info 677).
É lícita a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro As
inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é lícita a prova
consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro. STJ. 6ª
Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
Ação controlada do art. 8º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 exige apenas comunicação prévia (e não
autorização judicial) A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013 independe de
autorização, bastando sua comunicação prévia à autoridade judicial. STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF determinou a instauração
do Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações
caluniosas, ameaças e atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a segurança
do STF, de seus membros e familiares. Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do STF, que foi
recepcionado pela CF/88 como lei ordinária. O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para ser
constitucional, deve cumprir as seguintes condicionantes: a) o procedimento deve ser acompanhado pelo
Ministério Público; b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante. c) o objeto do
inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem risco efetivo à independência do Poder
Judiciário (art. 2º da CF/88). Isso pode ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou
por atos que atentem contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a democracia; e, por
fim, d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de expressão e de imprensa, excluindo do escopo
do inquérito matérias jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais)
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na internet, feitas anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em
massa nas redes sociais. O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou
dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua
jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados
ocorram na “sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da internet
permite estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território
nacional. Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente
virtual, podem ser considerados como cometidos na sede ou dependência do STF. STF. Plenário. ADPF 572
MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17 e 18/6/2020 (Info 982).
Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020.
Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações
telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. Se há
notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela
expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar
outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos
de informação o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a
expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão expedido
exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
• AÇÃO PENAL
É possível aditar a denúncia para requerer a perda de bens cujo conhecimento se der após iniciada a
ação penal, caso em que, recebido o aditamento, deverão ser ouvidos os interessados e propiciada a dilação
probatória.
O pronunciamento jurisdicional do art. 396 do CPP, que recebe a denúncia, tem natureza jurídica de
decisão interlocutória, portanto necessita de fundamentação, conforme art. 93, IX, da CF.
75
A proposta de acordo de não persecução penal representa um poder-dever do Ministério Público, com
exclusividade, desde que cumpridos os requisitos do art. 28-A do CPP, cuja recusa deve ser fundamentada, para
propiciar o controle previsto no § 14 do mesmo artigo.
• COMPETÊNCIA
Caso concreto (com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas de que ele teria
cometido dois crimes conexos: um crime eleitoral e um crime federal “comum”. Considerando que ele possuía
foro por prerrogativa de função, foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que
houvesse denúncia, Marcos foi exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu o foro privativo. Diante
disso, o STF determinou a remessa da investigação para a 1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância
da Justiça Eleitoral porque segundo o entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência
da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça
Eleitoral. O processo foi distribuído para o 1ª Zona Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu
sumariamente o arquivamento da investigação no que tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido
do Ministério Público Eleitoral e arquivou a investigação quanto ao crime eleitoral. Restava, no entanto, um
outro delito, qual seja, o crime federal. Diante disso, o Juiz Eleitoral declinou da competência para processar o
feito para a Seção Judiciária de São Paulo (SP), local onde supostamente o crime teria sido praticado.
Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou reclamação alegando que a decisão declinatória do Juiz Eleitoral teria
afrontado a decisão do STF. Houve um empate na votação e prevaleceu a decisão mais favorável ao investigado.
Para o Ministro Gilmar Mendes, houve sim violação à autoridade da decisão proferida pelo STF, uma vez que as
instâncias inferiores não observaram as diretrizes que resultaram na definição da competência da Justiça
Eleitoral para apuração e processamento dos fatos. O MPE promoveu o arquivamento do crime eleitoral
imediatamente após o recebimento dos autos, não tendo sequer empreendido qualquer diligência investigativa
para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o Juízo Eleitoral arquivou o inquérito e remeteu os autos à
Justiça Federal, mesmo diante da expressa decisão dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos
fatos. As instâncias inferiores, portanto, ignoraram os termos da decisão reclamada, que assentou a
competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos fatos em questão. STF. 2ª Turma. Rcl
34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).
Redação anterior da tese do Tema 393: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241,
241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede mundial de computadores. STF.
Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e
76
29/10/2015 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 805). Redação atual, modificada em embargos de declaração:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico, acessível transnacionalmente, envolvendo criança ou adolescente, quando praticados por meio
da rede mundial de computadores (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990). STF. Plenário. RE 628624 ED,
Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 990 – clipping).
Nos casos de Estelionato (art. 171, CP) cometido por meio virtual, a competência para processo e
julgamento da ação será do local da agência bancária da conta depositária, se a vítima realizou depósito bancário
em dinheiro, ou o local da agência bancária da vítima, se ela realizou transferência bancária (TED).
Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais,
o cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da
federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção. CC 171206-SP, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).
Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em
detrimento de interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide
financeira em investimento de grupo em criptomoeda. A captação de recursos decorrente de “pirâmide
financeira” não se enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para
a Justiça Federal se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou de lavagem de dinheiro
em detrimento de bens e serviços ou interesse da União. STJ. 3ª Seção. CC 170392-SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).
A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI
3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping).
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra
outro quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime. Caso concreto: Francisco era
soldado da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia Militar do Estado do Piauí.
Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava em Teresina (PI). Samuel percebeu que
Francisco estava armado e, mesmo estando de folga, abordou o soldado indagando sobre a arma. Iniciou-se
uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel, que faleceu em razão dos disparos. A vítima e o réu
- ambos policiais militares à época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a discussão. Logo, não
77
se pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela Justiça Comum estadual
(Tribunal do Júri). STJ. 3ª Seção. CC 170201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).
O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como
argumento jurídico válido para prorrogar a competência do STF. Apesar da efetiva evolução das investigações,
sob a supervisão do STF, não houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem encerramento da
instrução processual penal. Logo, o marco temporal relativo à data de apresentação das razões finais não foi
alcançado. Além disso, quanto ao segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata
remessa dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou do trânsito em
julgado, quando constatado o risco de prescrição. STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).
• PRISÃO E LIBERDADE
Não é possível a decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no
curso de investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese
da conversão a que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério
Público ou da autoridade policial. A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art.
282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o
prévio ‘requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade
policial ou mediante requerimento do Ministério Público’, não mais sendo lícito, portanto, com base no
ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da
liberdade. A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282, § 2º, e 311, significando
que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em
flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior
e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do
assistente do MP. STJ. 5ª Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020. STF. 2ª
Turma. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/10/2020.
A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica automática
revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade
de seus fundamentos. STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info
995).
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Não é possível a decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no
curso de investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese
da conversão a que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério
Público ou da autoridade policial. A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art.
282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o
prévio requerimento das partes ou representação da autoridade policial. Logo, não é mais possível, com base
no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da
liberdade. A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311,
significando que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da
prisão em flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito,
anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante
ou do assistente do MP. STJ. 5ª Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020. STF.
HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).
de reiteração delitiva do agente em crimes com gravidade concreta, justificada por meio da existência de
processos criminais em andamento.
Caso concreto: a justiça brasileira decretou a prisão preventiva do réu brasileiro que mora
regularmente nos EUA. O Governo norte-americano negou o pedido de extradição. A defesa desse réu impetrou
habeas corpus no Brasil pedindo a revogação da prisão decretada considerando que ele é idoso, fumante e está
com H1N1, de forma que pertence ao grupo de risco da Covid-19. O STJ indeferiu o pedido considerando que o
réu está no exterior há anos e não corre mais o risco de ser extraditado. Na Recomendação 62/2020, o CNJ
afirma que os juízes e Tribunais deverão adotar medidas para prevenir a propagação da Covid-19 no âmbito do
sistema de justiça penal, fazendo a revisão das prisões temporárias. Vale ressaltar, contudo, que essa
Recomendação não se aplica ao acusado porque ele não está inserido no sistema penal brasileiro. A adoção de
cautelas quanto à prisão por conta da pandemia da Covid-19 tem o objetivo de reduzir os riscos epidemiológicos
80
em unidades prisionais e não o de blindar pessoas que residem no exterior. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 575112-
RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 02/06/2020 (Info 673).
A alegação de desproporcionalidade da prisão preventiva somente poderá ser aferível após a prolação
de sentença, não cabendo, durante o curso do processo, a antecipação da análise quanto a possibilidade de
cumprimento de pena em regime menos gravoso, caso seja prolatada sentença condenatória, sob pena de
exercício de adivinhação e futurologia, sem qualquer previsão legal. Assim, não há que se falar em ofensa ao
princípio da homogeneidade das medidas cautelares porque não cabe ao STJ, em um exercício de futurologia,
antecipar a provável colocação da paciente em regime aberto/semiaberto ou a substituição da sua pena de
prisão por restritiva de direitos. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 559.434/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 19/05/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.502/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/05/2020.
Qualquer prisão processual deve ser detraída da pena final imposta, não importa o local de seu
cumprimento - cadeia, domicílio ou hospital -, devendo, portanto, a decisão ser mantida por seus próprios
fundamentos. Assim, mesmo o tempo em que o indivíduo ficou em prisão domiciliar também deve ser detraído
do tempo total de pena. STJ. 6ª Turma. AgRg no AgRg nos EDcl no HC 442.538/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 05/03/2020. O cumprimento de prisão domiciliar, por comprometer o status libertatis da pessoa humana,
deve ser reconhecido como pena efetivamente cumprida para fins de detração da pena, em homenagem ao
princípio da proporcionalidade e em apreço ao princípio do non bis in idem. STJ. 5ª Turma. HC 459.377/RS, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/09/2018.
A reforma legislativa operada pelo chamado “Pacote Anticrime” (Lei nº 13.964/2019) introduziu a
revisão periódica dos fundamentos da prisão preventiva, por meio da inclusão do parágrafo único ao art. 316
do CPP. A redação atual prevê que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de sua manutenção
a cada noventa dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar ilegal a prisão preventiva:
Art. 316 (...) Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a
necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena
de tornar a prisão ilegal. Assim, a prisão preventiva é decretada sem prazo determinado. Contudo, o CPP agora
prevê que o juízo que decretou a prisão preventiva deverá, a cada 90 dias, proferir uma nova decisão analisando
se ainda está presente a necessidade da medida. Isso significa que a manutenção da prisão preventiva exige a
demonstração de fatos concretos e atuais que a justifiquem. A existência desse substrato empírico mínimo, apto
a lastrear a medida extrema, deverá ser regularmente apreciado por meio de decisão fundamentada. A esse
respeito, importante mencionar também o § 2º do art. 312 do CPP, inserido pelo Pacote Anticrime: “A decisão
que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
81
de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.” STF. 2ª Turma. HC 179859
AgR/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968).
Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em julgado
e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).
• PROCEDIMENTO
Promotor de Justiça condenado criminalmente pelo Tribunal de Justiça impetrou habeas corpus
alegando que o julgamento seria nulo por não ter observado o art. 400 do CPP, já que o interrogatório do
acusado não foi o último ato da instrução. O Min. Relator Marco Aurélio indeferiu a ordem manifestando sua
posição no sentido de que não se deve aplicar a regra geral do art. 400 do CPP (interrogatório como último ato)
considerando que, por se tratar de Promotor de Justiça, julgado perante o Tribunal de Justiça, a norma aplicável
seria a do art. 7º da Lei nº 8.038/90, segundo a qual a audição do acusado é o primeiro ato do procedimento. O
Min. Alexandre de Moraes votou por indeferir a ordem com base em outro fundamento, alegando que a defesa
não demonstrou prejuízo, afirmando, portanto, que não haverá declaração de nulidade quando não
demonstrado o efetivo prejuízo causado à parte (pas de nullité sans grief). Obs: penso que o STF continue com
o entendimento de que o interrogatório deve ser o último ato da instrução, mesmo nos processos regidos pela
Lei nº 8.038/90. STF. 1ª Turma. HC 178252/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).
• PROVAS
O direito à produção de provas não é absoluto, haja vista que a própria lei processual penal, em seu
artigo 400, § 1º, faculta ao julgador, desde que de forma fundamentada, indeferir as provas consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. STF. 2ª Turma. HC 191858, 628075, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 30/11/2020.
Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de
carta, telegrama, pacote ou meio análogo. STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão
Min. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).
82
A ausência de exame de corpo de delito não inviabiliza, por si só, a pronúncia do réu quando presentes
outros elementos de prova. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1861493/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
09/06/2020.
A defesa alegou nulidade processual por desrespeito ao art. 212 do CPP, por ter o juízo inquerido
diretamente as testemunhas. A magistrada que presidia a audiência reputou observados o contraditório e a
ampla defesa, porque depois de perguntar, ela permitiu que os defensores e o MP fizessem questionamentos.
A 1ª Turma do STF discutiu se houve nulidade. Dois Ministros (Marco Aurélio e Rosa Weber) consideraram que
não foi respeitada a aludida norma processual. Assim, votaram por conceder a ordem de habeas corpus para
declarar a nulidade processual a partir da audiência de instrução e julgamento. Os outros dois Ministros
(Alexandre de Moraes e Luiz Fux) entenderam que não deveria ser declarada a nulidade do processo porque a
alteração efetuada no art. 212 do CPP, ao permitir que as partes façam diretamente perguntas às testemunhas,
não retirou do juiz, como instrutor do processo, a possibilidade de inquiri-las diretamente. Diante do empate na
votação, prevaleceu a decisão mais favorável ao paciente. STF. 1ª Turma. HC 161658/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980). Obs: prevalece no STF e no STJ que a inobservância do procedimento
previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando muito, nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da
demonstração do prejuízo para a parte que a suscita (STF. 1ª Turma. HC 177530 AgR, Rel. Alexandre de Moraes,
julgado em 20/12/2019).
Caso concreto: o Tribunal de Paris solicitou cooperação jurídica em matéria penal, na modalidade
auxílio direto, a fim de que fossem realizadas diversas diligências no Brasil, dentre as quais a oitiva de investigado
e busca e apreensão no seu endereço, para subsidiar apuração criminal que ocorre na Justiça da França. O
pedido da autoridade francesa foi embasado em Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal, na
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção e na Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade
Organizada Transnacional. O pleito foi encaminhado ao Ministério da Justiça do Brasil, que o remeteu ao
Procurador-Geral da República o qual, por sua vez, designou Procurador da República atuante no Rio de Janeiro
para a execução das diligências. O Membro do Ministério Público Federal requereu o deferimento das medidas
assecuratórias ao Juízo da 9ª Vara Federal do Rio de Janeiro, no que foi atendido. O investigado impetrou habeas
corpus sustentando a nulidade de sua oitiva porque todas as perguntas foram formuladas direta e
exclusivamente pela Autoridade Judiciária francesa que acompanhava o Membro do Ministério Público Federal
nomeado para realizar as diligências. O STJ concordou com o pedido da defesa. O ato de delegação da condução
83
e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que esta proceda diretamente à
inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de respaldo constitucional, legal ou
jurisprudencial. Trata-se de ato eivado de nulidade absoluta, por ofensa à soberania nacional, o qual não pode
produzir efeitos dentro de investigações penais que estejam dentro das atribuições das autoridades brasileiras.
STJ. 6ª Turma. RHC 102322-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no processo criminal. Sucede que,
logo no início do processo, ela e o advogado se desentenderam e a vítima revogou expressamente os poderes
que havia conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no caso. Além disso, requereu que ele devolvesse
qualquer documento que estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado. Ao saber disso,
o réu pediu a oitiva do advogado como testemunha no processo penal. Esse advogado não poderá ser ouvido
como testemunha. Para que o advogado possa prestar seu testemunho é indispensável que haja o
consentimento válido do interessado direto na manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte
interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que o profissional revele os fatos resguardados pelo sigilo,
ainda assim ele é quem irá decidir se irá dar ou não seu testemunho. No caso concreto, o advogado que foi
arrolado como testemunha teve seus poderes como patrono da interessada expressamente revogados,
vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-se que devolvesse qualquer documento relacionado ao
fato que a ele tivesse sido entregue. Isso significa que a cliente não liberou o advogado do dever de manter o
segredo profissional sobre as informações e documentos de que teve conhecimento em razão da atuação como
defensor técnico. Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou conhecimento em
razão de seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração apresentada pelo
cliente e eventuais documentos por ele entregues. STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).
• INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
O prazo de 15 dias das interceptações telefônicas deve ser contado a partir da efetiva implementação
da medida, e não da respectiva decisão. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114.973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 19/05/2020. STJ. 6ª Turma. HC 113477-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/3/2012.
infrações descobertas fortuitamente sejam punidas com detenção, pois o que a Lei nº 9.296/96 veda é o
deferimento da quebra do sigilo telefônico para apurar delito que não seja apenado com reclusão, não
proibindo, todavia, que o referido meio de prova seja utilizado quando há, durante a implementação da medida,
a descoberta fortuita de eventuais ilícitos que não atendem a tal requisito. No caso dos autos, as interceptações
telefônicas foram inicialmente autorizadas para apurar os crimes de corrupção ativa e passiva e organização
criminosa, sendo que, no curso da medida, logrou-se descobrir que os investigados também eram responsáveis
por fraudes à licitações em diversos Municípios, não havendo que se falar, assim, em nulidade das provas obtidas
com a quebra de sigilo telefônico. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
19/05/2020.
• TRIBUNAL DO JÚRI
Cabe apelação com fundamento no art. 593, III, “d”, do CPP (decisão manifestamente contrária à prova
dos autos) se o júri absolver o réu? STJ: SIM (posição pacífica). STF: NÃO (posição majoritária). A 3ª Seção do STJ
firmou o entendimento de que a anulação da decisão absolutória do Conselho de Sentença (ainda que por
clemência), manifestamente contrária à prova dos autos, segundo o Tribunal de Justiça, por ocasião do exame
do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público (art. 593, III, “d”, do CPP), não viola a soberania dos
veredictos. STJ. 5ª Turma. HC 560.668/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/08/2020. STJ.
6ª Turma. AgRg no REsp 1.875.705, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julagdo em 06/10/2020. A absolvição do réu, ante
resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º, do CPP, não depende de elementos
probatórios ou de teses veiculadas pela defesa. Isso porque vigora a livre convicção dos jurados. Em razão da
norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença absolutória de Tribunal do Júri,
fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da decisão a ensejar apelação da acusação. Os
jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e independentemente das teses veiculadas,
considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais. STF. 1ª Turma. HC 178777/MG, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 29/9/2020 (Info 993). Na reforma legislativa de 2008, alterou-se substancialmente o
procedimento do júri, inclusive a sistemática de quesitação aos jurados. Inseriu-se um quesito genérico e
obrigatório, em que se pergunta ao julgador leigo: “O jurado absolve o acusado?” (art. 483, III e §2º, CPP). Ou
seja, o Júri pode absolver o réu sem qualquer especificação e sem necessidade de motivação. Considerando o
quesito genérico e a desnecessidade de motivação na decisão dos jurados, configura-se a possibilidade de
absolvição por clemência, ou seja, mesmo em contrariedade manifesta à prova dos autos. Se ao responder o
quesito genérico o jurado pode absolver o réu sem especificar os motivos, e, assim, por qualquer fundamento,
não há absolvição com tal embasamento que possa ser considerada “manifestamente contrária à prova dos
autos”. Limitação ao recurso da acusação com base no art. 593, III, “d”, CPP, se a absolvição tiver como
85
fundamento o quesito genérico (art. 483, III e §2º, CPP). Inexistência de violação à paridade de armas. Presunção
de inocência como orientação da estrutura do processo penal. Inexistência de violação ao direito ao recurso
(art. 8.2.h, CADH). Possibilidade de restrição do recurso acusatório. STF. 2ª Turma. HC 185068, Rel. Celso de
Mello, Relator p/ Acórdão Gilmar Mendes, julgado em 20/10/2020.
A ausência de exame de corpo de delito não inviabiliza, por si só, a pronúncia do réu quando presentes
outros elementos de prova. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1861493/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
09/06/2020.
Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante
1h e 30min e, ao final de sua exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez
sustentação oral apenas concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A
manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP pedindo a absolvição, os
jurados decidiram condenar o réu. O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de defesa e
mantiveram a condenação. O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo Tribunal do
Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio
paciente não se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para
fins de apelação criminal. Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se pode falar
em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de
efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que
apenas a absoluta falta de defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a defesa
foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e ficar demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a defesa
insuficiente é hipótese de nulidade relativa. Nesse sentido é a Súmula 523 do STF. Não se pode classificar como
insatisfatória a atuação do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia que considerou melhor
no caso. STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).
O desaforamento é medida excepcional, cabível apenas quando comprovada por fatos objetivos e
concretos a parcialidade do Conselho de Sentença. A simples presunção de que os jurados poderiam ter sido
influenciados por ampla divulgação do caso pela mídia e a mera suspeita acerca da parcialidade dos jurados não
justificam a adoção dessa medida excepcional. STJ. 5ª Turma. HC 492964-MS, Rel. Min. Ribeiro