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Sumário

Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 5

Ação de Procedimento Comum ......................................................................................................................... 6

1 - O que é? .................................................................................................................................................... 6

2 - Qual o Fundamento? ................................................................................................................................ 9

3 - Qual o roteiro ideal? ................................................................................................................................. 9

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 10

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 11

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 11

Mandado de Segurança Individual .................................................................................................................. 14

1 - O que é? .................................................................................................................................................. 14

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 17

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 17

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 18

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 19

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 20

Mandado de Segurança Coletivo ..................................................................................................................... 23

1 - O que é? .................................................................................................................................................. 23

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 26

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 27

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 27

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 29

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 29

Mandado de Injunção ...................................................................................................................................... 32

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1 - O que é? .................................................................................................................................................. 32

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 36

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 36

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 37

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 37

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 38

Habeas data ..................................................................................................................................................... 40

1 - O que é? .................................................................................................................................................. 40

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 46

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 46

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 47

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 48

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 48

Ação Popular .................................................................................................................................................... 50

1 - O que é? .................................................................................................................................................. 50

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 54

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 54

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 55

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 56

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 56

Ação Civil Pública ............................................................................................................................................. 59

1 - O que é? .................................................................................................................................................. 59

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 62

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 62

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4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 63

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 64

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 65

Ação de Desapropriação Indireta .................................................................................................................... 68

1 - O que é? .................................................................................................................................................. 68

2 - Qual o Fundamento? .............................................................................................................................. 73

3 - Qual o roteiro ideal? ............................................................................................................................... 74

4 - Como identificar a peça? ........................................................................................................................ 74

5 - Modelo .................................................................................................................................................... 75

5.1 - Modelo de Resolução ...................................................................................................................... 75

Considerações Finais ........................................................................................................................................ 77

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Olá meus amigos, tudo bom? Estão gostando do curso?

Nesta aula vamos estudar as diferentes espécies de petição inicial.

Estou à disposição dos senhores.

Grande abraço,

Igor Maciel

profigormaciel@gmail.com

Convido-os a seguir minhas redes sociais. Basta clicar no ícone desejado:

@ProfIgorMaciel2

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AÇÃO DE PROCEDIMENTO COMUM

1 - O que é?

Para a elaboração de uma ação de procedimento comum o aluno deverá seguir o disposto no artigo 319 do
Código de Processo Civil.

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

As ações de procedimento comum podem ser de diferentes espécies, dentre elas:

I. Ação anulatória.

II. Ação indenizatória.

III. Ação de obrigação de fazer ou não fazer.

IV. Ação condenatória.

V. Ação declaratória.

Apesar de todas essas espécies de ação serem ações de procedimento comum, é essencial
que o aluno nomeie a peça de acordo com o direito material pretendido. Ou seja, não basta

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nomear a peça como "ação de procedimento comum", sendo indispensável a indicação da
espécie daquela ação.

Para que fique mais claro, vamos ilustrar com exemplos:

Objeto Nome da peça


Anulação de um ato ilegal do poder público Ação anulatória
Ressarcimento de um dano Ação de indenizatória
Cumprimento de uma obrigação de fazer/não fazer Ação de obrigação de fazer ou não fazer

Repare que, apesar das diferentes nomenclaturas, todas essas peças seguirão o mesmo procedimento: o
procedimento comum. Então vamos entender melhor.

Nas ações de procedimento comum as partes são autor e réu. O autor será a pessoa que está pedindo o
objeto da ação e o réu será aquele contra quem é pedido. Ambos estarão indicados expressamente no
enunciado da questão e devem ser qualificados na petição inicial.

Art. 319. A petição inicial indicará:


II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;

IMPORTANTE!! Não invente dados que não constem no enunciado. Isso pode ser visto
como uma tentativa de identificar a peça e te eliminar.

A competência para a propositura da ação será definida de acordo com as regras previstas nos artigos 46 a
53, do CPC/15.

No que tange o pedido de tutela provisória, é necessário se atentar para os requisitos previstos no artigo
300 e seguintes do Código de Processo Civil:

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Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

No que tange os pedidos, o aluno deverá elaborar:

I. Citação do réu para contestar ou comparecer à audiência de conciliação;

Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo
termo inicial será a data:

II. A procedência da ação para anular/condenar...;

III. A concessão de tutela provisória (quando for o caso);

IV. A designação de audiência prévia de conciliação;

Art. 319. A petição inicial indicará:


VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

V. Protesto por provas; e

Art. 319. A petição inicial indicará:


VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VI. Condenação ao pagamento das custas, despesas judiciais e honorários advocatícios.

Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça, incumbe às partes


prover as despesas dos atos que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes
o pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do
direito reconhecido no título.
§ 2º A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou.
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

Por fim, o aluno deverá indicar o valor da causa, nos termos nos termos do artigo 292, do CPC/15.

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Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:
I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros
de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura da ação;
II - na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a modificação, a
resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte
controvertida;
III - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor;
IV - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação da área ou
do bem objeto do pedido;
V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;
VI - na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos
valores de todos eles;
VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor;
VIII - na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal.

2 - Qual o Fundamento?

O artigo que fundamenta as ações de procedimento comum é o artigo 319 do Código de processo Civil.

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

3 - Qual o roteiro ideal?

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Endereçamento Regras de competência previstas no artigo 46 a 53, do CPC/15
Partes - Autor.
- Réu.
Cabimento Dependerá do objeto da prestação pretendida.
Fundamento Artigo 319 do CPC/15.
Liminar Nos termos do artigo 300 e seguintes do CPC/15 (quando for o
caso).
Pedido I. Citação do réu;
II. A procedência da ação para anular/condenar...;
III. A concessão de tutela provisória;
IV. A designação de audiência prévia de conciliação;
V. Protesto por provas; e
VI. Condenação ao pagamento das custas, despesas judiciais e
honorários advocatícios.
Valor da Causa Nos termos nos termos do artigo 292, do CPC/15.

4 - Como identificar a peça?

Inexistência de ação em curso:

As ações de procedimento comum são espécie de petição inicial. Ou seja, somente serão cabíveis caso ainda
não haja processo em curso. Essa informação será facilmente extraída do enunciado.

Necessidade de dilação probatória:

Uma excelente forma de identificar se é o caso de uma ação de procedimento comum é verificar se o
enunciado traz elementos que indiquem a necessidade de dilação probatória. Nesse caso, o aluno já pode
excluir a possibilidade de um mandado de segurança, por exemplo.

O objeto da ação não se confunde com o de nenhuma outra ação de procedimento especial:

Tendo em vista o caráter especial de algumas ações, como é o caso da ação civil pública ou da ação popular,
é interessante que o aluno verifique se o objeto da ação não se confunde com o objeto nenhuma ação de
procedimento especial.

Por exemplo, caso o enunciado trate da anulação de um ato lesivo ou patrimônio público, o candidato deverá
redigir uma ação popular, não uma ação de procedimento comum. Perceba que uma coisa é o autor discutir
um direito próprio e outra coisa é o autor discutir um ato lesivo a toda a coletividade (ação popular).

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5 - Modelo

(Exame de Ordem – FGV/OAB – XI Exame) Caio, Tício e Mévio são servidores públicos federais exemplares,
concursados do Ministério dos Transportes há quase dez anos. Certo dia, eles pediram a três colegas de
repartição que cobrissem suas ausências, uma vez que sairiam mais cedo do expediente para assistir a uma
apresentação de balé. No dia seguinte, eles foram severamente repreendidos pelo superior imediato, o
chefe da seção em que trabalhavam.
Nada obstante, nenhuma consequência adveio a Caio e Tício, ao passo que Mévio, que não mantinha boa
relação com seu chefe, foi demitido do serviço público, por meio de ato administrativo que apresentou,
como fundamentos, reiterada ausência injustificada do servidor, incapacidade para o regular exercício de
suas funções e o episódio da ida ao balé. Seis meses após a decisão punitiva, Mévio o procura para, como
advogado, ingressar com medida judicial capaz de demonstrar que, em verdade, nunca faltou ao serviço e
que o ato de demissão foi injusto.
Seu cliente lhe informou, ainda, que testemunhas podem comprovar que o seu chefe o perseguia há
tempos, que a obtenção da folha de frequência demonstrará que nunca faltou ao serviço e que sua avaliação
funcional sempre foi excelente.
Como advogado, considerando o uso de todas as provas mencionadas pelo cliente, elabore a peça
processual adequada para amparar a pretensão de seu cliente. A simples menção ou transcrição do
dispositivo legal não pontua.

5.1 - Modelo de Resolução

Perceba que o enunciado prevê claramente a existência de prova testemunhal e a


necessidade de utilizá-la. Dessa forma, o aluno pode excluir a possibilidade de manejo do
mandado de segurança, restando apenas a ação de procedimento comum.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ FEDERAL DA VARA__ DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO __

MÉVIO, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no CPF sob o número__, portador do RG de número
___, residente e domiciliado à Rua ____, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por

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intermédio de seu advogado ao final assinado, constituído nos termos do instrumento de procuração em
anexo, com fundamento no artigo 319, do CPC/15, propor a presente,

AÇÃO ANULATÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

Perceba que, apesar de ser uma ação de procedimento comum, a peça deve ser nomeada
como ação anulatória, tendo em vista que a pretensão é anular um ato administrativo
eivado de vícios.

Em face da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, com sede no endereço ___, que
poderá ser citada por meio do Advogado Geral da União, nos termos do artigo 75, I, do CPC, consoante os
fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

DOS FATOS

Usualmente não pontuam no espelho, portanto, o aluno deverá ser objetivo e preciso
quando relatar os fatos.

DO DIREITO

DA POSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO DO ATO PELO PODER JUDICIÁRIO

O servidor foi demitido pelo chefe da seção em que trabalhava sem a abertura de processo administrativo
para apuração de falta grave, violando, assim, o artigo 41, §1º e incisos da Constituição Federal.

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo
de provimento efetivo em virtude de concurso público. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
complementar, assegurada ampla defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)

De início, não houve qualquer decisão judicial transitada em julgado condenando o autor à perda do cargo,
mas unicamente um ato administrativo, situação que mais se assemelha a uma demissão de ofício.

Não houve sequer, processo administrativo para apurar o ato que levou à demissão do autor. Nesse ponto,
é importante ressaltar que não foram respeitados os princípios do contraditório e da ampla defesa, sequer
tendo sido possibilitado ao Sr. Mévio, servidor estável, qualquer defesa.

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Dessa forma, a demissão por meio de ato administrativo em questão é inconstitucional, portanto, é
perfeitamente possível que o judiciário exerça o controle de legalidade sobre o ato administrativo, não se
tratando de incursão indevida no mérito administrativo, tendo em vista que o motivo alegado no momento
da demissão é falso, acarretando a nulidade do ato, de acordo com a teoria dos motivos determinantes.

DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA E IMPESSOALIDADE

Ademais, há de ser observado também que o autor foi o único dos três servidores a ser penalizado pela ida
ao balé, sendo tratado, portanto, de forma desigual quando comparado aos outros colegas de trabalho.

Ressalte-se que o princípio da impessoalidade possui previsão constitucional e deve ser observado por toda
a administração pública.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...)

Assim, flagrante é a violação ao princípio da isonomia e também da impessoalidade, reforçando a certeza de


que o servidor foi alvo de perseguição pelo chefe do setor em que trabalhava.

DA LESÃO PATRIMONIAL

A demissão processada de ofício, sem qualquer possibilidade de defesa, além de inconstitucional, também
foi um golpe ao planejamento financeiro e familiar do autor.

Este servidor público estável, que sempre cumpriu com suas obrigações corretamente há muito tempo
vivendo com base no vencimento percebido de seu cargo público, sofreu abalo incalculável ao não mais
poder custear quaisquer de suas necessidades mínimas.

Considerando ter sido a demissão do Sr. Mévio inconstitucional, deve ser condenada a União Federal a
ressarcir todos os valores devidos a título de vencimentos por todo o período em que o autor restou
prejudicado, visto que não pode retornar ao seu trabalho.

DA TUTELA ANTECIPADA

Os requisitos autorizadores para a concessão de tutela de urgência estão devidamente comprovados nos
autos, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano, nos termos do artigo 300, do CPC.

A probabilidade do direito é demonstrada tanto pela violação dos princípios constitucionais quais sejam eles,
o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, presentes no artigo 5º parágrafos LIV e LV, como
pela violação ao artigo 41 da Constituição Federal.

Já o perigo de dano pode ser considerado pelo não recebimento pelo autor dos seus vencimentos, verba de
caráter alimentar, sem a qual o Sr. Mévio não poderá custear as necessidades básicas suas e de sua família.

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Demonstrados, pois, os requisitos autorizadores, requer-se, a concessão de TUTELA DE URGÊNCIA
ANTECIPADA para permitir ao autor que retorne ao seu cargo público e, consequentemente, volte a receber
seus vencimentos devidos

DOS PEDIDOS FINAIS

Ante o exposto, requer-se:

a) No mérito, requer-se a confirmação da liminar anteriormente concedida, a fim de invalidar a


demissão inconstitucional por parte do chefe do gabinete do Sr. Mévio e a reintegração do autor no
cargo em que ocupava, condenando a ré também a ressarcir todos os valores que deveriam ter sido
recebidos pelo servidor durante o período em que esteve afastado por ato administrativo
inconstitucional.
b) A citação da União, para querendo, contestar a presente ação.
c) A produção de todas as provas em direito admitidas, em especial a prova testemunhal.
d) A condenação da ré ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios sucumbenciais.
e) A opção/não do Autor pela realização da audiência de conciliação.

Dá-se à causa o valor de ____.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local/DATA.

Advogado - OAB/ N.

MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL

1 - O que é?

O mandado de segurança individual é um remédio constitucional, de natureza mandamental, com previsão


no artigo 5º, LXIX, da Constituição Federal.

Trata-se de ação que visa proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data.

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ATENÇÃO: o direito líquido e certo é aquele comprovado de plano por prova documental
pré-constituída.

Em razão das especificidades desse remédio constitucional, seu procedimento se encontra disciplinado pela
Lei nº 12.016/09. Dessa forma, a petição inicial do mandado de segurança deve seguir, não só os requisitos
genéricos do Código de Processo Civil, mas também seus requisitos próprios.

O endereçamento da peça dependerá da autoridade apontada como coatora, sendo essencial a sua correta
identificação. Vejamos:

Autoridade coatora Competência Fundamento legal


- Presidente da república STF Artigo 102, I, d, da CF/88
- Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal
- Tribunal de contas da União
- Procurador-geral da república
- Supremo Tribunal Federal
- Ministro de Estado STJ Artigo 105, I, b, da CF/88
- Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica
- Superior Tribunal de Justiça
- Próprio Tribunal TRF Artigo 108, I, c, da CF/88
- Juiz Federal
- Juiz Estadual TJ
- Autoridade federal, excetuados os casos de Justiça federal de Artigo 109, VIII, da CF/88
competência dos tribunais federais 1º grau
- Ato envolver matéria sujeita à jurisdição Justiça do trabalho Artigo 114, IV, da CF/88
trabalhista
- Autoridades previstas na Constituição TJ Artigo 125, §1º, CF
Estadual (normalmente o Governador e seus
secretários)
- Residual Justiça estadual de
1º grau

Importante que o aluno fique atento para o prazo decadencial de 120 dias, previsto no artigo 23 da Lei nº
12.016/09. Passado esse prazo, a peça cabível não será o mandado de segurança.

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento
e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Outro tópico de extrema importância é o pedido liminar, regulado pelo artigo 7º da Lei nº 12.016/09. São
requisitos para a concessão da medida liminar: (i) fundamento relevante e (ii) possibilidade do ato
impugnado resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida.

No que tange os pedidos, deve ser pedido:

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I. A concessão da medida liminar (art. 7º, III);

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente
deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo
de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

II. Notificação da autoridade coatora para prestar informações (art. 7º, I);

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via
apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste
as informações;

III. Ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada (art.
7º, II);

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica
interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse
no feito;

IV. Oitiva do Ministério Público (art. 12);

Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7o desta Lei, o juiz ouvirá
o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10
(dez) dias.

V. Procedência da demanda e concessão da segurança;

VI. Condenação ao pagamento de custas e despesas processuais.

Lembre-se que no mandado de segurança não há pedido de condenação em honorários advocatícios, nem
protesto por provas.

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Por fim, o aluno deverá indicar o valor da causa, que deve corresponder ao valor do ato impugnado.

2 - Qual o Fundamento?

Conforme dito, o mandado de segurança possui fundamento constitucional no artigo 5º, inciso LXIX.

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;

Além disso, encontra previsão infraconstitucional na Lei nº 12.016/09.

Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de
poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la
por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que
exerça.

3 - Qual o roteiro ideal?

Endereçamento Dependerá da autoridade coatora


Partes Impetrante: qualquer pessoa física ou jurídica
Impetrada: autoridade coatora
Cabimento Proteger direito líquido e certo
Fundamento Art. 5º, LXIX, da CF/88 e Lei nº 12.016/09
Liminar Art. 7º, III, Lei nº 12.016/09
Pedido I. A concessão da medida liminar (art. 7º, III);
II. Notificação da autoridade coatora para prestar informações
(art. 7º, I);
III. Ciência do feito ao órgão de representação judicial da
pessoa jurídica interessada (art. 7º, II);
IV. Oitiva do Ministério Público (art. 12);
V. Procedência da demanda e concessão da segurança;
VI. Condenação ao pagamento de custas e despesas
processuais.
Valor da Causa Valor do ato impugnado

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ATENÇÃO: não há protesto por provas, tendo em vista a necessidade de prova pré-
constituída.

4 - Como identificar a peça?

Para identificar a peça do mandado de segurança basta que o aluno se atente às seguintes dicas que serão
extraídas do enunciado:

Direito líquido e certo:

Atente-se para o direito tratado no enunciado. Caso não se trate de direito líquido e certo, a peça cabível
não será o mandado de segurança.

Prova pré-constituída:

Outro requisito indispensável para a impetração do mandado de segurança é a existência de prova pré-
constituída do direito alegado pela parte. Ou seja, caso o enunciado diga que será necessária dilação
probatória (perícia, testemunha, audiência...) não será cabível o mandado de segurança.

Prazo decadencial de 120 dias:

Trata-se de prazo específico previsto na lei nº 12.016/09. Desta forma, o aluno deve verificar se do ato
impugnado até a data da impetração já se passaram mais de 120 dias.

Pagamento de valores retroativos:

Conforme entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, o mandado de segurança não é o
instrumento adequado para postular o pagamento de valores anteriores à sua impetração. Desta forma, é
indispensável que o aluno identifique se o pedido do cliente é relativo a valores retroativos.

Súmula 269, STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

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Súmula 271, STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais
em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou
pela via judicial própria.

Celeridade:

Uma das principais características do mandado de segurança é justamente a celeridade desse rito
procedimental. Nesse sentido, caso o aluno identifique que o enunciado pede pela adoção do procedimento
mais célere, deve ser impetrado o mandado de segurança.

5 - Modelo

(Exame de Ordem – FGV/OAB – XVIII Exame) O Ministério da Cultura publicou, na imprensa oficial, edital
de licitação que veio assinado pelo próprio Ministro da Cultura, na modalidade de tomada de preços, para a
elaboração do projeto básico, do projeto executivo e da execução de obras de reforma de uma biblioteca
localizada em Brasília. O custo da obra está estimado em R$ 3.700.000,00 (três milhões e setecentos mil
reais).
O prazo de execução é de 16 (dezesseis) meses, e, de acordo com o cronograma divulgado, a abertura dos
envelopes se dará em 45 (quarenta e cinco) dias e a assinatura do contrato está prevista para 90 (noventa)
dias.
Do edital constam duas cláusulas que, em tese, afastariam do certame a empresa ABCD Engenharia. A
primeira diz respeito a um dos requisitos de habilitação, pois se exige dos licitantes, para demonstração de
qualificação técnica, experiência anterior em contratos de obra pública com a União (requisito não atendido
pela empresa, que já realizou obras públicas do mesmo porte que a apontada no edital para diversos entes
da Federação, mas não para a União).
A segunda diz respeito à exigência de os licitantes estarem sediados em Brasília, sede do Ministério da
Cultura, local onde se dará a execução das obras (requisito não atendido pela empresa, sediada no Município
de Bugalhadas). Na mesma semana em que foi publicado o edital, a empresa o procura para que, na
qualidade de advogado, ajuíze a medida cabível para evitar o prosseguimento da licitação, reconhecendo os
vícios do edital e os retirando, tudo a permitir que possa concorrer sem ser considerada não habilitada, e
sem que haja vício que comprometa o contrato. Pede, ainda, que se opte pela via, em tese, mais célere.
Elabore a peça adequada, considerando não ser necessária a dilação probatória, haja vista ser preciso
apenas a juntada dos documentos próprios (edital, cópia dos contratos com outros entes federativos, etc.)
para se comprovar os vícios alegados. Observe o examinando que o interessado quer o procedimento que,
em tese, seja o mais célere.

19
78
Obs.: o examinando deve apresentar os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal
pertinente ao caso.

5.1 - Modelo de Resolução

EXCELENTISSÍMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA.

Perceba que, nesse caso, a competência é do STJ, tendo em vista tratar-se de mandado de
segurança contra ato de Ministro de Estado.

ABCD ENGENHARIA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o número ____, com sede à Rua
____, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado ao final
assinado, constituído nos termos do instrumento de procuração em anexo, com fulcro no artigo 5º, inciso
LXIX, da Constituição Federal e no artigo 1º, da Lei nº 12.016/2009, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

Não se esqueça de já indicar o pedido liminar.

Em face de ato abusivo perpetrado pelo Sr. MINISTRO DE ESTADO DA CULTURA, autoridade impetrada que
poderá ser notificada no endereço _____, integrante da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público
interno, com sede no endereço ___, que poderá ser citada por meio do Advogado Geral da União, nos termos
do artigo 75, I, do CPC, consoante os fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

DOS FATOS

Usualmente não pontuam no espelho, portanto, o aluno deverá ser objetivo e preciso
quando relatar os fatos.

DO DIREITO

DA IMPOSSIBILIDADE DE SE LICITAR OBRAS SEM O PRÉVIO PROJETO BÁSICO

Em primeiro lugar, o procedimento licitatório em epígrafe deve ser considerado nulo por ferir
expressamente o disposto no artigo 7º, §2º, I, da Lei nº 8.666/93. É que sem ter elaborado qualquer projeto
básico, pretende a Autoridade Impetrada realizar a licitação de obras em total desacordo com a legislação
pátria.

Art. 7o As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços obedecerão


ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência:
§ 2o As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:
I - houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível para exame
dos interessados em participar do processo licitatório;

20
78
Ou seja, é nulo o procedimento licitatório, uma vez que as obras e os serviços somente poderão ser licitados
quando houver prévio projeto básico aprovado pela autoridade competente para exame dos interessados
no procedimento.

DA IMPOSSIBILIDADE DE ELABORAÇÃO DE PROJETO BÁSICO E DE EXECUÇÃO DA OBRA PELA MESMA


PESSOA

Nulo também o procedimento por desrespeitar o disposto no artigo 9º, I, da Lei nº 8.666/93. Segundo consta
no Edital, a mesma pessoa deverá tanto elaborar o projeto básico como realizar a obra, hipótese vedada
pela legislação.

Art. 9o Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de


obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários:
I - o autor do projeto, básico ou executivo, pessoa física ou jurídica;

Assim por não ser permitida a participação direta ou indireta da licitação ou da execução da obra da pessoa
que fora autora do projeto básico ou executivo, deve ser reconhecida a nulidade do presente procedimento.

DA INEXIGÊNCIA DE EXPERIÊNCIA DE CONTRATAÇÃO ANTERIOR COM A UNIÃO

Outra irregularidade que deve ser reconhecida é a previsão, como requisito de qualificação técnica, a
participação do licitante em anteriores obras de pavimentação e drenagem. Contudo, o objeto da licitação
é completamente diverso: a contenção de encosta.

Assim, em razão de se exigir qualificação técnica completamente diversa do objeto licitado, deve-se
reconhecer a nulidade do edital, dada a possibilidade de a Administração Pública contratar companhia sem
qualquer experiência prática no objeto licitado.

Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:


II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em
características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações
e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do
objeto da licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica
que se responsabilizará pelos trabalhos;

Inexiste, portanto, a qualificação pertinente e compatível com o objeto licitado exigida pelo art. 30, inciso II
da Lei nº 8.666/93.

DA VIOLAÇÃO DO LIMITE DE VALOR PARA TOMADA DE PREÇOS

É certo que o artigo 23, I, b, da Lei 8.666/93 estabelece como valor limite para contratação de obras e
serviços de engenharia pela modalidade tomada de preços o valor de até R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais).

21
78
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior
serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da
contratação:
I - para obras e serviços de engenharia:
b) tomada de preços - até R$ 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais);

Ora, se a contratação objeto da presente demanda tem valor de R$ 3.700.000,00 (três milhões e setecentos
mil reais), resta claro que a modalidade eleita é inadequada, uma vez que deveria ter sido adotada a
modalidade concorrência.

DA VEDAÇÃO DA CLÁUSULA QUE ESTABELECE PREFERÊNCIA EM RAZÃO DA SEDE DA EMPRESA

Importante notar também que o contrato se torna irregular devido à cláusula que exige que os licitantes
estejam sediados em Brasília. Há violação ao art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993, que veda que
seja utilizada a sede como impedimento à participação em licitação:

Art. 20. As licitações serão efetuadas no local onde se situar a repartição interessada, salvo
por motivo de interesse público, devidamente justificado.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não impedirá a habilitação de interessados
residentes ou sediados em outros locais.

Ademais, a cláusula não é legal, pois é vedado estabelecer preferência ou distinção em razão da sede da
empresa, na forma do Art. 3º, §1º, I, da Lei nº 8.666/1993:

Art. 3º (...)
§ 1º É vedado aos agentes públicos:
I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que
comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de
sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da
naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância
impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado o disposto
nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991;

DO PEDIDO LIMINAR

O fundamento relevante do direito restou demonstrado pelas inúmeras agressões do edital a Lei nº
8.666/93. Já o risco da ineficácia da medida decorre do fato de que se o edital não for suspenso desde logo,
há risco de contratação flagrantemente viciada e de difícil reversibilidade.

Assim, presentes os requisitos autorizadores, requer-se, nos termos do artigo 7º, III, da Lei nº 12.016/2009,
seja concedida MEDIDA LIMINAR para SUSPENDER a licitação até o julgamento final do presente mandado
de segurança.

DOS PEDIDOS

22
78
Deferida e cumprida a liminar pleiteada, requer-se:

a) A notificação da Autoridade impetrada para prestar informações (art. 7º, I, Lei nº 12.016/2009).
b) Seja cientificada a UNIÃO FEDERAL, através da Advocacia Geral da União, para que, querendo,
ingresse no presente feito (art. 7º, II, Lei nº 12.016/2009).
c) A concessão da segurança para, confirmando a liminar deferida, anular o procedimento licitatório,
ante os vícios constatados no edital.
d) A intimação do membro do Ministério Público para que traga aos autos o seu parecer (art. 12, Lei nº
12.016/2009).
e) Requer-se, sejam acostados os seguintes documentos hábeis a provar os fatos alegados: edital, cópia
dos contratos com outros entes federativos, etc.

ATENÇÃO: não há protesto por provas, tendo em vista a necessidade de prova pré-
constituída.

Dá-se à causa o valor de ____.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local/DATA.

Advogado - OAB/ N.

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

1 - O que é?

Em geral, tudo que vimos até agora sobre o Mandado de Segurança Individual aplica-se ao Mandado de
Segurança Coletivo, salvo algumas nuances específicas que veremos a seguir.

Trata-se de ação relativamente simples, até porque prevista em apenas dois artigos da Lei 12.016/2009 (21
e 22) e no artigo 5º, inciso LXX, da Constituição Federal.

A primeira especificidade do mandado de segurança coletivo diz respeito à legitimidade para sua
impetração.

De acordo com o artigo 5º, inciso LXX, da CF/88, o mandado de segurança coletivo poderá ser impetrado por
partido político com representação no Congresso Nacional ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída há pelo menos um ano em defesa dos interesses de seus membros ou
associados.

Esse dispositivo constitucional foi regulamentado pelo artigo 21 da lei nº 12.016/09:

23
78
Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a
seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em
defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial.

Desta forma, podem impetrar mandado de segurança coletivo:

i. Partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses


legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária;

ii. Organização sindical ou entidade de classe;

iii. Associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano;

No caso da associação, atente-se para o fato de ser desnecessária autorização específica dos seus membros.
Vejamos:

Súmula 629, STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe
em favor dos associados independe da autorização destes.
Súmula 630, STF: A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança
ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

Outro ponto importante diz respeito aos direitos que podem discutidos em sede de mandado de segurança
coletivo. São eles (i) direitos coletivos e (ii) direitos individuais homogêneos.

Art. 21, Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de
origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos
associados ou membros do impetrante.

24
78
No que tange à medida liminar no Mandado de Segurança coletivo, o aluno precisa dobrar a atenção, pois
até recentemente, a concessão somente poderia ser deferida após a oitiva do representante judicial da
pessoa jurídica de direito público no prazo de 72 (setenta e duas) horas, nos termos do parágrafo segundo,
do artigo 22, da Lei 12.016/2009:

§ 2º No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a


audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se
pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

Todavia, essa norma foi declarada inconstitucional no julgamento da ADI 4296/DF, em 09/06/2021, de
modo que não é mais imprescindível a oitiva da pessoa jurídica de direito público para concessão de liminar
em mandado de segurança coletivo.

Nas palavras do Relator, Ministro Alexandre de Moraes:

“O preceito contraria o sistema judicial alusivo à tutela de urgência. Se esta surge cabível no caso concreto,
é impertinente, sob pena de risco do perecimento do direito, estabelecer contraditório ouvindo-se, antes de
qualquer providência, o patrono da pessoa jurídica. Conflita com o acesso ao Judiciário para afastar lesão ou
ameaça de lesão a direito.”

Não é mais imprescindível a oitiva da pessoa jurídica de direito público para concessão
de liminar em mandado de segurança coletivo.

Por fim, é necessário que o aluno se atente para o fato de a coisa julgada ser estendida limitadamente aos
membros do grupo ou categoria substituídos pelo Sindicato Impetrante, não gerando litispendência entre o
Mandado de Segurança Individual e o Coletivo, independente da ordem de impetração.

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente
aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.
§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais,
mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não
requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar
da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.

Assim, os efeitos da coisa julgada do Mandado de Segurança Coletivo apenas serão estendidos ao Impetrante
individual, acaso este desista da sua demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias, contados da ciência
comprovada da impetração do mandado de segurança coletivo.

25
78
2 - Qual o Fundamento?

O fundamento constitucional do mandado de segurança coletivo é o artigo 5º, LXX, da CF/88.

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

Por sua vez, seu fundamento legal é a lei nº 12.016/09, mais especificamente os artigos 21 e 22 da lei.

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a
seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em
defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial.
Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de
origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos
associados ou membros do impetrante.
Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente
aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.
§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais,
mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não
requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar
da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.
§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência
do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar
no prazo de 72 (setenta e duas) horas. (parágrafo declarado inconstitucional pela ADI
4296/DF)

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78
3 - Qual o roteiro ideal?

Endereçamento Dependerá da autoridade coatora


Partes - Impetrante: partido político com representação no Congresso
Nacional ou organização sindical, entidade de classe ou
associação legalmente constituída há pelo menos um ano.
- Impetrada: autoridade coatora
Cabimento Proteger direitos líquidos e certos coletivos e direitos individuais
homogêneos
Fundamento Art. 5º, LXX, da CF/88 e arts. 21 e 22, da Lei nº 12.016/09
Liminar Art. 22, § 2º, Lei nº 12.016/09
Pedido I. Notificação da autoridade coatora para prestar informações
(art. 7º, I);
II. Ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa
jurídica interessada (art. 7º, II);
III. Oitiva do Ministério Público (art. 12);
IV. Procedência da demanda e concessão da segurança;
V. Condenação ao pagamento de custas e despesas processuais.
Valor da Causa Valor do ato impugnado

ATENÇÃO: não há protesto por provas, tendo em vista a necessidade de prova pré-
constituída.

4 - Como identificar a peça?

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78
A identificação do mandado de segurança coletivo passa por alguns dos critérios utilizados na identificação
do mandado de segurança individual. Vejamos:

Direito líquido e certo:

No caso do mandado de segurança coletivo, o direito líquido e certo deve ser coletivo ou individual
homogêneo.

Prova pré-constituída:

Assim como no mandado de segurança individual, é obrigatória a existência de prova pré-constituída, sendo
vedada a dilação probatória.

Prazo decadencial de 120 dias:

O prazo decadencial de 120 dias também se aplica ao mandado de segurança coletivo. Desta forma, o aluno
deve verificar se do ato impugnado até a data da impetração já se passaram mais de 120 dias.

Pagamento de valores retroativos:

Conforme entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, o mandado de segurança não é o
instrumento adequado para postular o pagamento de valores anteriores à sua impetração. Desta forma, é
indispensável que o aluno identifique se o pedido do cliente é relativo a valores retroativos.

Súmula 269, STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.


Súmula 271, STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais
em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou
pela via judicial própria.

Celeridade:

Uma das principais características do mandado de segurança, seja ele individual ou coletivo, é a celeridade.
Nesse sentido, caso o aluno identifique que o enunciado pede pela adoção do procedimento mais célere,
deve ser impetrado o mandado de segurança.

Legitimidade:

No que tange a legitimidade, trata-se de elemento essencial para a identificação do mandado de segurança
coletivo.

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78
Apenas será cabível o mandado de segurança coletivo caso o enunciado traga a informação de que seu
cliente é partido político com representação no Congresso Nacional ou organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída há pelo menos um ano.

5 - Modelo

(Exame de Ordem – FGV/OAB – XXIV Exame) Após anos de defasagem salarial, milhares de trabalhadores
que integravam o mesmo segmento profissional reuniram-se na sede do Sindicato W, legalmente constituído
e em funcionamento há vinte anos, que representava os interesses da categoria, em assembleia geral
convocada especialmente para deliberar a respeito das medidas a serem adotadas pelos sindicalizados. Ao
fim de ampla discussão, decidiram que, em vez da greve, que causaria grande prejuízo à população e à
economia do país, iriam se encontrar nas praças da capital do Estado Alfa, com o objetivo de debater
publicamente os interesses da categoria de forma organizada e ordeira, e ainda fariam passeatas semanais
pelas principais ruas da capital. Em situações dessa natureza, a lei dispõe que seria necessária a prévia
comunicação ao comandante da Polícia Militar.
No mesmo dia em que recebeu a comunicação dos encontros e das passeatas semanais, que teriam início
em dez dias, o comandante da Polícia Militar, em decisão formalmente comunicada ao Sindicato W,
decidiu indeferi-los, sob o argumento de que atrapalhariam o direito ao lazer nas praças e a tranquilidade
das pessoas, os quais são protegidos pela ordem jurídica. Inconformado com a decisão do comandante da
Polícia Militar, o Sindicato W procurou um advogado e solicitou o manejo da ação judicial cabível, que
dispensasse instrução probatória, considerando a farta prova documental existente, para que os
trabalhadores pudessem cumprir o que foi deliberado na assembleia da categoria, no prazo inicialmente
fixado, sob pena de esvaziamento da força do movimento. (Valor: 5,00). Obs.: a peça deve abranger todos
os fundamentos de direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou
transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.

5.1 - Modelo de Resolução

EXCELENTISSÍMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CIVEL DA COMARCA X

Perceba que, nesse caso, a competência é do juízo cível de 1º grau, tendo em vista que a
autoridade coatora (Comandante da Polícia Militar) não possui foro por prerrogativa de
função.

SINDICATO W, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o número ____, com sede à Rua ____,
vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado ao final assinado,

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constituído nos termos do instrumento de procuração em anexo, com fulcro no artigo 5º, inciso LXIX, da
Constituição Federal e no artigo 1º, da Lei nº 12.016/2009, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

Não se esqueça de já indicar o pedido liminar.

Em face de ato abusivo perpetrado pelo COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR, autoridade impetrada que
poderá ser notificada no endereço _____, consoante os fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

DOS FATOS

Usualmente não pontuam no espelho, portanto, o aluno deverá ser objetivo e preciso
quando relatar os fatos.

DA LEGITIMIDADE

Neste tópico é essencial que o aluno aponte que o sindicato possui legitimidade para
representar seus associados, nos termos do artigo 21 da Lei n. 12.016/2009.

Conforme disposto no artigo 21 da Lei 12.016/09, o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por
entidade sindical, na defesa dos direitos líquidos e certos dos seus membros.

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a
seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em
defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial.

Desta forma, tem-se que o Sindicato W é parte legítima para a impetração da presente ação constitucional.

DO DIREITO

DO DIREITO À REUNIÃO PACÍFICA

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XVI, prevê o direito fundamental dos indivíduos de se
reunirem pacificamente em locais abertos ao público, independente de autorização.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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78
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente;

Conforme se depreende do referido dispositivo constitucional, os únicos requisitos ao exercício desse direito
são que a reunião seja pacífica, sem armas e que não frustre outra reunião anteriormente convocada.

Além disso, a Constituição exige apenas comunicação prévia à autoridade competente.

Desta forma, tem-se que o ato do Comandante da Polícia Militar que indefere o pedido realizado pelos
indivíduos é ilegal e inconstitucional, por restringir um direito fundamental, devendo, portanto, ser anulado.

DO PEDIDO LIMINAR

O fundamento relevante do direito restou demonstrado pela agressão ao direito fundamental de reunião
dos representados. Já o perigo da demora consiste no fato de que a impossibilidade de realizar as
manifestações impede a realização das passeatas, o que pode acarretar na deflagração de movimento
grevista.

Assim, presentes os requisitos autorizadores, requer-se, nos termos do artigo 7º, III, da Lei nº 12.016/2009,
seja concedida MEDIDA LIMINAR para SUSPENDER a licitação até o julgamento final do presente mandado
de segurança.

DOS PEDIDOS

Deferida e cumprida a liminar pleiteada, requer-se:

a) A notificação da Autoridade impetrada para prestar informações (art. 7º, I, Lei nº 12.016/2009).
b) Seja cientificada ao ESTADO, através do seu órgão de representação judicial, para que, querendo, ingresse
no presente feito (art. 7º, II, Lei nº 12.016/2009).
c) A concessão da segurança para, confirmando a liminar deferida.
d) A intimação do membro do Ministério Público para que traga aos autos o seu parecer (art. 12, Lei nº
12.016/2009).
e) Requer-se, sejam acostados os documentos hábeis a provar os fatos alegados.

ATENÇÃO: não há protesto por provas, tendo em vista a necessidade de prova pré-
constituída.

Dá-se à causa o valor de ____.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local/DATA.

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78
Advogado - OAB/ N.

MANDADO DE INJUNÇÃO

1 - O que é?

O mandado de injunção é a ação constitucional prevista no artigo 5º, inciso LXXI, da CF/88, cuja finalidade é
garantir o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas constitucionais que dependem de norma
regulamentadora ainda não criada.

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora


torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

Segundo Hely Lopes Meirelles (2013, pg. 321):

Mandado de Injunção é o meio constitucional posto à disposição de quem se considera


prejudicado pela falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania.

ATENÇÃO: os DIREITOS, LIBERDADES ou PRERROGATIVAS que dependem de norma


regulamentadora para produção de efeitos são aqueles previstos em normas
constitucionais de EFICÁCIA LIMITADA.

O Mandado de Injunção é útil, portanto, para viabilizar o exercício desses direitos diante de uma norma
constitucional de eficácia limitada, ainda pendente de norma regulamentadora face à omissão do Poder
Público.

Além disso, a norma regulamentadora em questão pode ser de natureza administrativa, quando o
responsável pela sua edição for um órgão administrativo, ou de natureza legislativa, quando o exercício do
direito depender de lei em sentido estrito, elaborada pelo Poder Legislativo.

Durante muito tempo, o mandado de injunção careceu de lei que regulamentasse seu procedimento.
Todavia, foi editada a Lei 13.300/2016, a qual disciplinou o processo e o julgamento dos mandados de
injunção individual e coletivo.

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O artigo 2º da Lei 13.300/16 estabelece que:

Art. 2º. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as
normas editadas pelo órgão legislador competente.

A falta de norma regulamentadora apta a permitir o manejo do mandado de injunção poderá ser, portanto,
total (quando não houver qualquer norma tratando sobre a matéria) ou parcial (quando em que pese
existente a norma regulamentadora, esta o faça de forma insuficiente).

ATENÇÃO: não confunda a ação constitucional de Mandado de Injunção (MI) com a ação
de controle abstrato de constitucionalidade denominada Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão (ADI).

O mandado de injunção se destina a garantir o exercício de direito, liberdade ou prerrogativa constitucional


ainda não regulamentado em um determinado caso concreto, com partes individualizadas. Por sua vez, a
ação direta de inconstitucionalidade por omissão é uma ação de controle concentrado de
constitucionalidade, cujo objeto regulamentar situações gerais e abstratas.

Qualquer pessoa poderá impetrar mandado de injunção, quando a falta de norma regulamentadora estiver
inviabilizando o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania. Vejamos:

Lei Federal 13.300/16


Art. 3º São legitimados para o mandado de injunção, como impetrantes, as pessoas
naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das
prerrogativas referidos no art. 2º e, como impetrado, o Poder, o órgão ou a autoridade
com atribuição para editar a norma regulamentadora.

O endereçamento da peça inicial do mandado de injunção dependerá de quem for o Poder, órgão ou
autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora. Vejamos:

Órgão ou autoridade Competência Fundamento legal


- Presidente da república STF Artigo 102, I, "q", da CF/88
- Congresso Nacional
- Câmara dos Deputados

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78
- Senado Federal
- Mesas das Casas Legislativas do Congresso
Nacional
- Tribunal de Contas da União
- Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE e STM)
- Supremo Tribunal Federal
- órgão, entidade ou autoridade federal da STJ Artigo 105, I, h, da CF/88
administração direta e indireta, excetuados os
casos de competência do STF e dos órgãos da
Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça
do Trabalho e da Justiça Federal

No que tange os pedidos, deve ser pedido:

I. Notificação da autoridade coatora para prestar informações no prazo de dez dias;

Art. 5º Recebida a petição inicial, será ordenada:


I - a notificação do impetrado sobre o conteúdo da petição inicial, devendo-lhe ser enviada
a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10
(dez) dias, preste informações;

II. Ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica


interessada;

Art. 5º Recebida a petição inicial, será ordenada:


II - a ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica
interessada, devendo-lhe ser enviada cópia da petição inicial, para que, querendo, ingresse
no feito.

III. Intimação do Representante do Ministério Público para que opine dentro do prazo
improrrogável de 10 dias;

Art. 7º Findo o prazo para apresentação das informações, será ouvido o Ministério Público,
que opinará em 10 (dez) dias, após o que, com ou sem parecer, os autos serão conclusos
para decisão.

IV. A procedência da ação, para fixação de prazo razoável para que a omissão normativa
seja sanada mediante a viabilização do direito;

Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para:


I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora;

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78
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das
prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado
promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no
prazo determinado.

V. A condenação ao pagamento de honorários advocatícios, custas e despesas processuais;

VI. Protesto por provas.

Por fim, o aluno deverá indicar o valor da causa, que deve corresponder ao valor do ato impugnado.

Importante ressaltar que a lei nº 13.300/16 também prevê o Mandado de Injunção Coletivo. Em geral, aplica-
se tudo que vimos até agora sobre o Mandado de Injunção Individual.

Uma distinção em relação ao Mandado de Injunção Individual diz respeito à legitimidade ativa. Enquanto no
remédio individual possui legitimidade ativa qualquer pessoa titular do direito reclamado, no Mandado de
Injunção Coletivo, o artigo 12 da lei 13.300/06 prevê legitimados específicos. Vejamos:

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:


I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais
indisponíveis;
II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o
exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com
a finalidade partidária;
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos,
liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou
associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial;
IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal .

Por fim, o Mandado de Injunção Coletivo deverá ser impetrado para proteger direitos pertencentes a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou categoria.

Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por mandado de


injunção coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada
de pessoas ou determinada por grupo, classe ou categoria.

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78
2 - Qual o Fundamento?

Conforme dito, o mandado de injunção possui fundamento constitucional no artigo 5º, inciso LXXI.

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora


torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

Além disso, encontra previsão infraconstitucional na Lei nº 13.300/16.

Art. 2º. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as
normas editadas pelo órgão legislador competente.

3 - Qual o roteiro ideal?

Endereçamento Dependerá do Poder, órgão ou autoridade com


atribuição para editar a norma regulamentadora
Partes - Impetrante: qualquer pessoa natural ou jurídica
que se afirme titular do direito, liberdade ou
prerrogativa constitucional
- Impetrado: Poder, órgão ou autoridade com
atribuição para editar a norma regulamentadora
Cabimento Garantir o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania, em razão
da falta de norma regulamentadora.
Fundamento jurídico Art. 5º, LXXI, da CF/88 e art. 2º da Lei nº 13.300/16
Liminar Não há previsão legal.
Pedido I. Notificação da autoridade coatora;
II. Ciência do ajuizamento da ação ao órgão de
representação judicial da pessoa jurídica
interessada;
III. Intimação do Representante do Ministério
Público;

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78
IV. A procedência da ação, para fixação de prazo
razoável para que a omissão normativa seja sanada
V. A condenação ao pagamento de honorários
advocatícios, custas e despesas processuais;
VI. Protesto por provas.
Valor da Causa Critérios estabelecidos no art. 292 do CPC/15,
quando cabíveis.

4 - Como identificar a peça?

Para identificar a peça do mandado de injunção o aluno precisa extrair do enunciado duas principais
informações:

Necessidade de garantir o exercício de direito, liberdades ou garantias constitucionais:

O enunciado deve conter situação em que o cliente precise exercer direito, liberdade ou prerrogativa
constitucional, em especial aquelas ligadas à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

Impossibilidade de exercício do direito em razão da ausência de norma regulamentadora:

Além da informação anterior, o enunciado deve indicar que não é possível o exercício do direito, liberdade
ou prerrogativa, em virtude da inexistência de norma regulamentadora.

Mandado de Injunção Coletivo:

No que tange a identificação do mandado de injunção coletivo, é necessário que o aluno identifique um
direito pertencente a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria, bem como a representação por um dos legitimados do artigo 12, da Lei nº 13.300/16.

5 - Modelo

Importante lembrar que esta peça jamais caiu no exame de Direito Administrativo,
portanto, tomaremos como base a peça cobrada no XXII exame de ordem em Direito
CONSTITUCIONAL.

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(Exame de Ordem – FGV/OAB – XXII – Direito Constitucional) Servidores públicos do Estado Beta, que
trabalham no período da noite, procuram o Sindicato ao qual são filiados, inconformados por não receberem
adicional noturno do Estado, que se recusa a pagar o referido benefício em razão da inexistência de lei
estadual que regulamente as normas constitucionais que asseguram o seu pagamento.
O Sindicato resolve, então, contratar escritório de advocacia para ingressar com o adequado remédio
judicial, a fim de viabilizar o exercício em concreto, por seus filiados, da supramencionada prerrogativa
constitucional, sabendo que há a previsão do valor de vinte por cento, a título de adicional noturno, no Art.
73 da Consolidação das Leis do Trabalho.
Considerando os dados acima, na condição de advogado(a) contratado(a) pelo Sindicato, utilizando o
instrumento constitucional adequado, elabore a medida judicial cabível.

5.1 - Modelo de Resolução

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO BETA

No caso do enunciado, a competência é do Tribunal de Justiça, uma vez que:


Presidente da República -> Competência STF
Governador do Estado -> Competência TJ local

O Sindicato, entidade sindical dos servidores públicos do Estado Beta, com sede na…, por meio de seu
advogado constituído, conforme procuração anexa, vem, perante V.Exa, com fundamento no art. 5º, LXXI da
Constituição Federal, e nos termos da Lei. 13.300/2016, impetrar

MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO

No caso do MI coletivo, escrever MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO + abrir tópico 2.


“LEGITIMIDADE ATIVA” e fundamentar com base art. 12 da Lei. 13.300/16

em virtude da omissão do Governador do Estado Beta, que poderá ser encontrado na sede funcional, que
está impedindo o exercício de direito previsto no art. art. 7º, IX, e no art. 39, § 3º, ambos da CRFB/88, nos
termos que seguem:

I – DOS FATOS

Descrever objetivamente os fatos narrados na questão, deixando claro qual a autoridade


cometeu a omissão legislativa. Cuidado para não inventar matéria de fato não fornecida
pela banca. Isso pode caracterizar identificação de peça, ok?

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78
II - DA LEGITIMIDADE

Conforme disposto no artigo 12 da Lei 13.300/16, o mandado de injunção coletivo pode ser impetrado por
entidade sindical, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade
ou de parte de seus membros.

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:


III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos,
liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou
associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial;.

Desta forma, tem-se que o Sindicato é parte legítima para a impetração da presente ação constitucional.

III - DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

A omissão do Governado do Estado Beta em elaborar proposta de lei instituindo o adicional noturno aos
Servidores Públicos do Estado Beta está inviabilizando o exercício de direito previsto no art. 7º, IX, da CF/88,
sendo necessária a intervenção do Poder Judiciário para sanar essa inconstitucionalidade.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

É certo que o dispositivo acima tem como destinatários os trabalhadores da iniciativa privada. Ocorre que o
artigo 39, §3º, da CF/88 estende aos servidores públicos referido direito social.

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de


sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas:
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII,
IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos
diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.

O preceito constitucional é uma norma de eficácia limitada, não autoaplicável, sendo assim para que possa
ter a sua aplicabilidade integral é necessária a edição de norma infraconstitucional.

Aqui fica evidente a necessidade da aplicação da lei 13.300/16, para fixar prazo razoável para que seja sanada
a referida omissão inconstitucional, para que seja viabilizado o exercício do direito constitucional
pretendido.

Por fim, caso não seja sanada a obrigação, é de rigor que sejam fixadas as condições para o exercício do
direito ao adicional noturno.

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Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para:
I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das
prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado
promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no
prazo determinado.

IV - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer a V.Exa:

I. Notificação da autoridade coatora para apresentar informações, nos termos do artigo 5º, I, da lei
13.300/16;

II. Ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada;

III. Intimação do Representante do Ministério Público, para opinar em 10 dias;

IV. A procedência da ação, para fixação de prazo razoável para que a omissão normativa seja sanada
e, em não sendo sanada, a fixação das condições para o exercício do direito;

V. A condenação ao pagamento de honorários advocatícios, custas e despesas processuais;

VI. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas.

Dá-se à causa o valor de R$…

Nestes termos, pede deferimento.

Local e data

Advogado - OAB N.

HABEAS DATA

1 - O que é?

O habeas data é um remédio constitucional previsto para tutelar o direito de informação das pessoas,
encontrando razão de existir original no autoritarismo do regime militar. Sua previsão constitucional
encontra-se no inciso IXXII, do artigo 5º:

LXXII - conceder-se-á habeas data:

40
78
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;

O habeas data é regulamentado pela Lei 9.507/97 e não se confunde com o direito de obter certidões ou
com o direito de obter informações de seu interesse particular, previstos também no artigo 5º, da
Constituição Federal:

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;

É que (LENZA, 2015, pg. 1258):

Havendo recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou


esclarecimento de situações de interesse pessoal, próprio ou de terceiros), ou informações
de terceiros, o remédio próprio é o mandado de segurança, e não o habeas data. Se o
pedido for para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, aí sim o remédio será o habeas data.

Neste sentido, é trilhada a jurisprudência do STJ:

HABEAS DATA - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE QUALQUER DOS VÍCIOS


PREVISTOS NO ART. 535, CPC - EFEITOS INFRINGENTES - IMPOSSIBILIDADE. 2. A natureza
do Habeas Data não se confunde com o direito constitucional de se obter certidões. A
pretensão de cada impetrante é sempre obter todas as informações, objetivas ou
subjetivas, que constem, a seu respeito, em registros ou banco de dados
governamentais. (EDcl no HD 67/DF, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/06/2004, DJ 02/08/2004, p. 273)

Assim, de acordo com o artigo 7º, da Lei 9.507/97, caberá habeas data nas seguintes hipóteses:

41
78
Art. 7° Conceder-se-á habeas data:
I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação
sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

Note-se que além de ser cabível o remédio processual para assegurar o conhecimento de informações
relativa à pessoa do impetrante e para a retificação de dados, o disposto no inciso III estabelece uma
hipótese de se impetrar habeas data para anotar explicação sobre fato verdadeiro mas justificável nos
assentamentos do interessado.

Importante que o aluno se atente para as situações nas quais não será cabível o habeas data:

I. Para se obter cópia de processos administrativos;

II. Para discutir correção de provas de concurso público;

III. Para se quebrar o sigilo de Inquérito Policial.

Em junho de 2015, o STF fixou a tese de Repercussão Geral no sentido de que:

O Habeas Data é garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados


concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas
informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes
estatais.

Qualquer pessoa, física ou jurídica, poderá ajuizar a ação constitucional de habeas data para ter acesso às
informações a seu respeito. Trata-se de direito personalíssimo que apenas pode ser exercido por seu titular.

42
78
Contudo, excepcionalmente, decidiu o STJ que os herdeiros legítimos ou o cônjuge supérstite poderão
impetrar habeas data em nome do de cujus para obter informações a seu respeito.

Quanto ao polo passivo, este deve ser ocupado pela entidade que mantém as informações a respeito do
impetrante, conforme lição de Pedro Lenza (2015, pg. 1259):

Em se tratando de registro ou banco de dados de entidade governamental, o sujeito


passivo será a pessoa jurídica componente da administração direta e indireta do Estado.
Na hipótese de registro ou banco de dados de entidade de caráter público, a entidade não
é governamental, mas, de fato, figurará no polo passivo da ação.

O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que poderá ser impetrado habeas data em face de entidades
particulares mas que possuam registros ou bancos de dados de caráter público, a exemplo do SPC e SERASA.

Isto porque o artigo 1º, parágrafo único da Lei 9.507/97 considera de caráter público:

Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados


contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não
sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações.

Assim, perfeitamente possível enquadrarmos as empresas privadas de serviço de proteção ao crédito (SPC)
no polo passivo na ação de habeas data.

O artigo 8º, da Lei 9.507/97 exige o prévio esgotamento da via administrativa para viabilizar a propositura
de habeas data ou o decurso de prazo razoável sem qualquer decisão:

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código
de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a
primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;

43
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II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão;
ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de
mais de quinze dias sem decisão.

Assim, a Súmula 02 do STJ estabelece que não cabe habeas data se não houve recusa de informações por
parte da autoridade administrativa:

Súmula 02 – STJ - Não cabe o habeas data se não houve recusa de informações por parte
da autoridade administrativa.

As regras sobre competência são similares ao Mandado de Segurança e estão previstas no artigo 20 da Lei
9.507/97:

Art. 20. O julgamento do habeas data compete:


I - originariamente:
a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio
Tribunal;
c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz federal;
d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos
tribunais federais;
e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado;
f) a juiz estadual, nos demais casos;

Quanto aos pedidos, devem constar:

I. Notificação da autoridade para apresentar as informações;

Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o coator do conteúdo da


petição, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo impetrante, com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de dez dias, preste as informações que julgar
necessárias.

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78
II. Intimação do ministério público;

Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do Ministério
Público dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser proferida
em cinco dias.

III. Procedência da ação para determinar que a autoridade apresente as informações ou


proceda retificação/anotação nos assentamentos do impetrante;

Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário para que
o coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros ou
bancos de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamentos do
impetrante.

IV. Juntada dos documentos.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código
de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a
primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão;
ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de
mais de quinze dias sem decisão.

Perceba que não há pedido de condenação ao pagamento de custas e despesas processuais, tendo em vista
a gratuidade da ação de habeas data.

Art. 21. São gratuitos o procedimento administrativo para acesso a informações e


retificação de dados e para anotação de justificação, bem como a ação de habeas data.

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78
Por fim, deve ser indicado o valor da causa.

2 - Qual o Fundamento?

Conforme dito, o mandado de injunção possui fundamento constitucional no artigo 5º, inciso LXXII.

LXXII - conceder-se-á habeas data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;

Por sua vez, o fundamento legal do habeas data é a Lei 9.507/97.

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:


I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação
sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

3 - Qual o roteiro ideal?

Dependerá da autoridade que praticou o ato (art. 20,


Endereçamento
da lei 9.507/97)
Partes - Impetrante: qualquer pessoa, física ou jurídica.
- Impetrado: entidade que mantém as informações.
Cabimento - Assegurar o conhecimento de informações relativas à
pessoa do impetrante, constantes de registros ou
bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público; e
- Retificação de dados.

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Fundamento Artigo 5º, inciso LXXII, da CF/88 e Lei 9.507/97.
Liminar Não há previsão legal.
Pedido I. Notificação da autoridade para apresentar as
informações;
II. Intimação do ministério público;
III. Procedência da ação para determinar que a
autoridade apresente as informações ou proceda
retificação/anotação nos assentamentos do impetrante;
IV. Juntada dos documentos.
V. Condenação ao pagamento de honorários
advocatícios.
Valor da Causa Critérios estabelecidos no art. 292 do CPC/15, quando
cabíveis.

4 - Como identificar a peça?

Para identificar a peça do habeas data o aluno precisa extrair do enunciado duas principais informações:

Prévio esgotamento da via administrativa:

Conforme falado, o artigo 8º, da Lei 9.507/97 exige o prévio esgotamento da via administrativa para viabilizar
a propositura de habeas data ou o decurso de prazo razoável sem qualquer decisão.

Caso essa informação não conste do enunciado, não será cabível a impetração do habeas data.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código
de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a
primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão;
ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de
mais de quinze dias sem decisão.

Necessidade de acesso ou retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de


registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público:

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78
O aluno deve se atentar para a pretensão do cliente. É necessário que seja objeto do enunciado a obtenção
de informações que constem, a respeito do seu cliente, em registros ou banco de dados governamentais ou
a retificação dessas informações.

5 - Modelo

Importante lembrar que esta peça jamais caiu no exame de Direito Administrativo,
portanto, tomaremos como base a peça cobrada no 2010.3 exame de ordem em Direito
CONSTITUCIONAL.

(Exame de Ordem – FGV/OAB – Exame 2010.3 – Direito Constitucional) Tício, brasileiro, casado,
engenheiro, na década de setenta, participou de movimentos políticos que faziam oposição ao Governo
então instituído. Por força de tais atividades, foi vigiado pelos agentes estatais e, em diversas ocasiões, preso
para averiguações.
Seus movimentos foram monitorados pelos órgãos de inteligência vinculados aos órgãos de Segurança do
Estado, organizados por agentes federais. Após longos anos, no ano de 2010, Tício requereu acesso à sua
ficha de informações pessoais, tendo o seu pedido indeferido, em todas as instâncias administrativas.
Esse foi o último ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, que lastreou seu ato decisório, na
necessidade de preservação do sigilo das atividades do Estado, uma vez que os arquivos públicos do período
desejado estão indisponíveis para todos os cidadãos.
Tício, inconformado, procura aconselhamentos com seu sobrinho Caio, advogado, que propõe apresentar
ação judicial para acessar os dados do seu tio.
Na qualidade de advogado contratado por Tício, redija a peça cabível ao tema, observando: a) competência
do Juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito constitucionais e legais vinculados; d) os
requisitos formais da peça inaugural.

5.1 - Modelo de Resolução

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Perceba que o enunciado deixa claro que o último ato praticado foi do Ministro de Estado
da Defesa, desta forma, a competência é do STJ, nos termos do artigo 105, I, b, da CF/88.

Tício, nacionalidade..., estado civil (ou existência de união estável) ..., profissão..., portador do RG nº... e do
CPF nº..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado..., nesta cidade, por meio de seu advogado

48
78
constituído, conforme procuração anexa, perante V.Exa, de acordo com o art. 5º, LVXXII da CRFB/88 e na Lei
nº 9.507/97 impetrar

HABEAS DATA

contra ato do Ministro de Estado da Defesa, autoridade coatora..., com sede funcional…, nos termos que
segue:

I – DOS FATOS

Descrever objetivamente os fatos narrados na questão, deixando claro qual a autoridade


cometeu a omissão legislativa. Cuidado para não inventar matéria de fato não fornecida
pela banca. Isso pode caracterizar identificação de peça, ok?

II – DA RECUSA ADMINISTRATIVA

O art. 8º da Lei n° 9507/97 exige a comprovação da prévia recusa administrativa para que seja impetrado o
Habeas data.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código
de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a
primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão;
ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de
mais de quinze dias sem decisão.

Como apresentado, ao impetrante foi negado o direito de retificar informação pessoal administrativamente,
de acordo com documento comprobatório em anexo. Desta forma, resta devidamente preenchido o
requisito da prévia recusa administrativa.

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

No caso em exame, a autoridade coatora negou o acesso de Tício à sua ficha de informações pessoais,
constante de banco de dados público, em flagrante violação à ordem constitucional.

Nesse sentido, a Constituição em seu art. 5º, LXXII, alínea a, estabeleceu o presente remédio constitucional
e o seu cabimento.

LXXII - conceder-se-á habeas data:

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78
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;

Isto posto, cumpre destacar que no caso há de ser julgado procedente o Habeas data, promovendo a tutela
jurisdicional e a satisfação do direito do impetrante ao acesso às suas informações pessoais.

IV – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a V.Exa:

a) a procedência para que seja assegurado ao impetrante o acesso à informação, nos termos do art.
5º, LXXII, c/c o art. 7º, I, da Lei n. 9.507/97);

b) a notificação da autoridade coatora para prestar informações, nos termos do art. 9, Lei. 9.507/97;

c) a intimação do representante do Ministério Público (art. 12, Lei. 9.507/97);

d) a juntada dos documentos em anexo, conforme art. 8º, Lei. 9.507/97;

e) condenação da autora ao pagamento de honorários advocatícios,.

Atribui-se à causa o valor de R$ …

Termos em que, pede deferimento.

Local... e Data…

Advogado

OAB/N.

AÇÃO POPULAR

1 - O que é?

A Ação Popular é um procedimento previsto na Constituição Federal que visa anular condutas lesivas ao
patrimônio público, nos termos do inciso LXXIII, do artigo 5º, da Constituição Federal:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

50
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Da análise do dispositivo constitucional, percebe-se que o autor da demanda, salvo comprovada má-fé, será
“isento” de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Contudo, por se tratar de expressa disposição
constitucional, em essência, tem-se não uma hipótese de isenção, mas de imunidade tributária.

Além do dispositivo constitucional, a lei que rege o instituto é a 4.717/65.

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos
Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art.
141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com
mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual de empresas incorporadas
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

Conforme o dispositivo legal, qualquer cidadão poderá propor Ação Popular, desde que esteja em pleno
gozo de seus direitos políticos e fazendo-se representar por um advogado.

Isto porque a prova da cidadania para justificar o ingresso em juízo é exatamente o título de eleitor do
indivíduo ou certidão a ele equivalente.

§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com
documento que a ele corresponda.

O Supremo Tribunal Federal já decidiu que as pessoas jurídicas não podem ser consideradas cidadão, de
forma que não possuem legitimidade para ajuizar ação popular.

Súmula 365 – STF – Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

Além disso, também não poderão ajuizar ação popular o estrangeiro, salvo portugueses equiparados, bem
como o Ministério Público. Por isso, o aluno deve ficar atento para quem o enunciado aponta como cliente,
tendo em vista que se for alguma dessas pessoas, a peça não será a ação popular.

De acordo com o artigo 6º, da Lei 4.7147/65 o polo passivo da demanda será composto por:

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas
no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem

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autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissão,
tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

A Ação Popular terá cabimento para anular atos lesivos ao patrimônio público, de entidade que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

Além disso, o artigo 11 estabelece a possibilidade de se requerer a invalidade do ato impugnado, bem como
a condenação do agente causador do dano ao pagamento de perdas e danos:

Art. 11. A sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a invalidade do ato
impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática
e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de
dano, quando incorrerem em culpa.

Não obstante, embora não explicitado pelo diploma legal, também será possível postular uma tutela
mandamental (fazer ou não fazer) ou executiva lato sensu (entregar coisa).

Mas professor, como eu faço para diferenciar a ação popular da ação civil pública?

O objeto da Ação Civil Pública é mais amplo que o da Ação Popular, albergando não apenas as lesões ao
patrimônio público à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. É
aquela ação instrumento hábil para discutir também lesões causadas aos consumidores, à ordem econômica
e urbanística, bem como a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

Assim, uma mesma situação fática, poderá ser protegida tanto por uma ação popular, cuja legitimidade ativa
caberá ao cidadão, como por uma ação civil pública, cujos legitimados estão dispostos no artigo 5º, da Lei
7.347/85.

Desta forma, o aluno poderá identificar a peça a partir do cliente trazido no enunciado.
Caso o seu cliente seja CIDADÃO, será o caso de ajuizar uma ação popular. Por outro lado,

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78
caso seu cliente seja um dos legitimados do artigo 5º, da Lei 7.347/85, será cabível a ação
civil pública.

Independentemente de quem seja o Réu na Ação Popular, se detentor ou não de foro privilegiado por
prerrogativa de função, a competência para processar e julgar a demanda será, regra geral, do juiz de
primeiro grau de jurisdição, podendo ser um juiz de direito ou de um juiz federal.

A competência do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar a Ação Popular pode ocorrer, não em
função do tipo de ação, mas das circunstâncias fáticas ou da matéria envolvida, a exemplo de hipóteses de
conflito federativo (alínea “f”, inciso I, artigo 102, CF) ou de impedimento de mais da metade dos
desembargadores do Tribunal local (alínea “n”, inciso I, artigo 102, CF)

Quanto ao procedimento, este seguirá o rito ordinário, previsto no Código de Processo Civil, com algumas
peculiaridades. Cabe-nos, contudo, destacar alguns pontos:

I. Admite-se a citação de qualquer beneficiário do ato impugnado cuja existência se torne


conhecida no curso do processo a qualquer tempo, desde que antes de proferida a
sentença:

Lei 4.717/65. Artigo 7º.


III - Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado, cuja existência ou
identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final
de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe
restituído o prazo para contestação e produção de provas. Salvo quanto a beneficiário, se
a citação se houver feito na forma do inciso anterior.

II. O prazo para defesa será de 20 (vinte) dias, podendo ser prorrogado, a requerimento do
interessado.

Lei 4.717/65. Artigo 7º.


IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias prorrogáveis por mais 20 (vinte), a
requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova documental,
e será comum a todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado
cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital.

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III. Será possível a concessão de tutela de urgência na Ação Popular, desde que presentes
os requisitos autorizadores, sendo certo que esta poderá ser intentada tanto de forma
preventiva como repressiva, em relação aos atos lesivos.

Lei 4.717/65. Artigo 5º.


§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo
impugnado.

2 - Qual o Fundamento?

Conforme vimos, o fundamento da ação popular está previsto no artigo 5º, LXXIII, da CF/88.

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Além disso,, há previsão infraconstitucional na Lei nº 4.717/65.

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos
Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art.
141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com
mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual de empresas incorporadas
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

3 - Qual o roteiro ideal?

Endereçamento Juiz de 1ª instância federal ou estadual


Partes - Autor: cidadão.
- Réu: qualquer das pessoas previstas no artigo 6º, da Lei
4.7147/65.

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Cabimento Anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural
Fundamento Artigo 5º, LXXIII, da CF/88 e Lei nº 4.7147/65
Liminar Artigo 5º, Lei nº 4.7147/65
Pedido I. A concessão da liminar;
II. A citação dos réus para integrar a relação processual;
III. A intimação do Ministério Público para intervir no
processo;
IV. A procedência da pretensão para decretar a invalidade do
ato lesivo;
V. A condenação dos responsáveis ao ressarcimento dos
danos causados;
VI. Condenação da ré ao pagamento de honorários
advocatícios;
VI. Produção de provas.
Valor da Causa O valor da causa deve refletir o valor do danos objeto da
pretensão.

4 - Como identificar a peça?

Para identificar a ação popular o aluno precisa extrair do enunciado duas principais informações:

O cliente deve ser CIDADÃO:

Conforme tratado, o único legitimado para a propositura da ação popular é o cidadão. De forma que, caso
seu cliente não seja pessoa física em pleno gozo dos direitos políticos não será cabível a ação popular.

A pretensão deve ser a anulação de ato do Poder Público:

O cabimento da ação popular está relacionado à anulação de ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural. Desta forma, o aluno deve identificar no enunciado uma dessas situações. ;

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5 - Modelo

(Exame de Ordem – FGV/OAB – VII Exame) O Município Y, representado pelo Prefeito João da Silva, celebrou
contrato administrativo com a empresa W – cujo sócio majoritário é Antonio Precioso, filho da companheira
do Prefeito –, tendo por objeto o fornecimento de material escolar para toda a rede pública municipal de
ensino, pelo prazo de sessenta meses. O contrato foi celebrado sem a realização de prévio procedimento
licitatório e apresentou valor de cinco milhões de reais anuais.
José Rico, cidadão consciente e eleitor no Município Y, inconformado com a contratação que favorece o
filho da companheira do Prefeito, o procura para, na qualidade de advogado(a), identificar e minutar a
medida judicial que, em nome dele, pode ser proposta para questionar o contrato administrativo.
A medida judicial deve conter a argumentação jurídica apropriada e o desenvolvimento dos fundamentos
legais da matéria versada no problema, abordando, necessariamente:
(i) competência do órgão julgador;
(ii) a natureza da pretensão deduzida por José Rico; e
(iii) os fundamentos jurídicos aplicáveis ao caso.

5.1 - Modelo de Resolução

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA__ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE
Y

JOSÉ RICO, cidadão, eleitor do Município Y, conforme título de eleitor ora acostado (§3º, do artigo 1º, da Lei
4.717/65), portador do RG de número ___, inscrito no CPF sob o número ____, residente e domiciliado no
endereço ____, por seu advogado ao final assinado, constituído nos termos do instrumento de procuração
em anexo, vem, tempestiva e respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º,
inciso LXXIII, da CF/88 c/c artigo 1º, da Lei 4.717/65, propor a presente

AÇÃO POPULAR

Em face do MUNICÍPIO Y, pessoa jurídica de direito público interno, com sede à Rua ____, de João da Silva,
do PREFEITO MUNICIPAL DE Y, portador do RG de número, inscrito no CPF sob o número ___, residente e
domiciliado à Rua _____, e da EMPRESA W, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o
número _____, com sede à Rua _____, consoante os fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

DOS FATOS

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Descrever objetivamente os fatos narrados na questão, deixando claro qual a autoridade
cometeu a omissão legislativa. Cuidado para não inventar matéria de fato não fornecida
pela banca. Isso pode caracterizar identificação de peça, ok?

DO DIREITO

DA COMPETÊNCIA DESTE MM. JUÍZO

Antes de discutirmos o mérito da questão, cabe-nos pontuar a competência da Justiça Comum de 1º Grau
da Comarca de Y para processar e julgar a presente demanda.

É que, nos termos do artigo 5º, da Lei 4.717/65, sendo a demanda proposta em face de ato lesivo ao
Município Y no qual inexiste interesse da União Federal, esta vara será competente, ainda que manejada a
demanda em face de agente detentor de foro privilegiado.

DA AUSÊNCIA DE PROCESSO LICITATÓRIO

A ausência de processo licitatório previsto na Lei nº 8.666/93 para aquisição de material escolar, caracteriza
ofensa grave ao artigo 37, XXI, da CRFB/88 e ao artigo 2º, da Lei nº 8.666/93.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei,
o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis
à garantia do cumprimento das obrigações. (Regulamento)

Isso porque, o objeto ou o valor da contratação efetuada pelo Município não se enquadram nas hipóteses
de dispensa ou de inexigibilidade do procedimento licitatório previstos na Lei 8.666/93.

Incontestável é que R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) é muito superior ao limite da dispensa de
licitação de R$ 17.600,00 (dezessete mil e seiscentos reais) prevista no art. 24, inciso II da Lei nº 8.666/93.

Diante da ausência de processo licitatório, a declaração de nulidade contratual é medida que se impõe.

DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE E DA MORALIDADE

Cabe-nos pontuar que a conduta perpetrada pelo Prefeito João da Silva em contratar a empresa W, cujo
sócio titular é filho de sua companheira, atenta contra os princípios da moralidade e da impessoalidade que
devem nortear a conduta do administrador público, conforme caput do artigo 37, da Constituição Federal.

O administrador não pode efetivar contratações visando a beneficiar pessoas determinadas, em detrimento
do interesse público que circunda a sua atuação. Trata-se de flagrante agressão ao princípio da

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impessoalidade que norteia a Administração, utilizar dinheiro público em benefício de interesses
particulares.

A conduta do Prefeito, portanto, também feriu o princípio da moralidade administrativa ao não seguir as
regras para contratações de entes públicos previstas no artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal e no
artigo 2º, da Lei 8.666/93.

DA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 57, DA LEI Nº 8.666/93

Por fim, a contratação efetuada no prazo de sessenta meses viola o disposto no artigo 57, da Lei 8.666/93
que limita a duração dos contratos à vigência dos respectivos créditos orçamentários, salvo raras exceções.
No caso, observa-se também que o objeto do contrato está diretamente relacionado a um bem material (a
ser comprado) e não exatamente a um serviço, reforçando a aplicação do mencionado art. 57.

Necessária, portanto, a imediata interferência do Poder Judiciário para se evitar a grave lesão ao patrimônio
público municipal, anulando-se o contrato com efeitos retroativos, bem como procedendo ao devido
ressarcimento aos cofres públicos dos valores eventualmente já pagos à empresa contratada.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Os requisitos autorizadores para a concessão de tutela de urgência estão devidamente comprovados nos
autos, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano, nos termos do artigo 300, do CPC.

A probabilidade do direito é demonstrada tanto pela violação aos princípios da impessoalidade e da


moralidade, como também pelo flagrante descompasso do valor do contrato com a lei 8.666/93, visto que
o valor de cinco milhões de reais é muito superior à possibilidade de dispensa de licitação.

Já o perigo de dano demonstra-se pelo justo receio de desfalcar os cofres públicos, em prejuízo à
coletividade, de forma que atinja diretamente outros setores, tais como: educação, saúde, segurança
pública; problema esse agravado por se tratar de pagamento de contrato flagrantemente irregular.

Assim, demonstrados os requisitos autorizadores, requer-se, desde já, com fulcro nos artigos 300, do CPC e
5º, parágrafo 4º, da Lei 4.717/65 a CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA a fim de liminarmente suspender
os efeitos do contrato objeto da presente ação popular.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se:

I. A citação do réu, para, querendo, contestar a presente ação, no prazo de 20 dias, sob pena de
aplicação dos efeitos da revelia, nos termos do art. 7º da Lei n. 4.717/65;

II. A intimação do representante do Ministério Público nos termos do art. 7º da Lei n. 4.717/65;

III. A procedência de pretensão para decretar a invalidade do ato lesivo ao patrimônio público;

IV. A condenação dos responsáveis ao ressarcimento dos danos causados;

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V. A juntada de documentos anexos;

VI. A condenação da ré ao pagamento de honorários advocatícios.

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, em especial a juntada
de título de eleitor.

Dá-se à causa o valor de ____.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local/DATA.

Advogado

OAB/ N.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

1 - O que é?

A Ação Civil Pública corresponde a uma espécie de processo coletivo previsto na Lei 7.347/85. Trata-se de
procedimento destinado à tutela da coletividade e que poderá ser manejado independente da propositura
de Ação Popular.

De acordo com o artigo 1º da referida Lei, caberá Ação Civil Pública para discutir as ações de responsabilidade
por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor a patrimônio artístico ou
histórico, à ordem econômica ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I - ao meio-ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística.
VII - à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.

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Já o parágrafo único do referido dispositivo estabelece que não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, FGTS ou outros fundos de natureza
institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.

Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS
ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.

Desta forma, não poderá ser ajuizada ACP para veicular pretensões relativas a:

I. Tributos;

II. Contribuições previdenciárias;

III. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS;

IV. Outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.

Ainda, após grande debate, fixou-se o entendimento no Supremo Tribunal Federal de que é possível o
manejo de Ação Civil Pública para discutir de forma difusa o controle de constitucionalidade de norma.

Ressalte-se que o artigo 3º, da Lei 7.347/85 determina ser possível que a ação civil pública tenha por objeto
a condenação em dinheiro ou o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer:

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.

No que tange a concessão de medida liminar, é possível o seu deferimento com ou sem justificação prévia.

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.

A ação civil pública deverá ser proposta na 1ª instância da Justiça Estadual ou Federal e sua competência
será definida de acordo com o local onde ocorrer o dano.

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Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Assim como no mandado de segurança coletivo, a ação civil pública apenas pode ser ajuizada pelos
legitimados específicos previstos no artigo 5º, da Lei 7.347/85. São eles:

I - o Ministério Público;

II - a Defensoria Pública;

III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;

V - a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,


ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.

Dessa forma, o aluno deve se atentar para quem é o cliente descrito no enunciado.

Uma peculiaridade em relação a ação civil pública é a possibilidade de inversão do ônus da prova, com
fundamento no artigo 6º, inciso VIII, do CDC. Trata-se de aplicação do microssistema da tutela coletiva.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Essa inversão já foi reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça em demandas relativas aos direitos do
consumidor, bem como em matéria de direito ambiental.

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Ainda, de acordo com o artigo 4º, da Lei 7.347/85 caberá a propositura de ação cautelar para evitar dano ao
patrimônio público e social:

Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive,
evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à
dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

2 - Qual o Fundamento?

O fundamento legal da ação civil pública é a lei nº 7.347/85.

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I - ao meio-ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística.
VII - à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS
ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.

3 - Qual o roteiro ideal?

Endereçamento Juiz de 1ª instância do local onde ocorrer o dano


Partes - Autor: Ministério Público, Defensoria Pública, União,
Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquia, empresa
pública, fundação, sociedade de economia mista ou

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associação que preencha os requisitos da lei.
- Réu: qualquer pessoa física ou jurídica
Cabimento Proteção ao meio-ambiente, consumidor, bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico ou
qualquer outro interesse difuso ou coletivo, infração da
ordem econômica, ordem urbanística, honra e dignidade de
grupos raciais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio público
e social.
Fundamento Lei nº 7.347/85
Liminar Artigo 12, Lei nº 7.347/85
Pedido I. A concessão da liminar;
II. A citação dos réus para integrar a relação processual;
III. A intimação do Ministério Público para intervir no
processo (Art. 5º, § 1º, da Lei nº 7.347/81);
IV. A procedência do pedido;
V. A condenação do réu ao pagamento de custas e
honorários;
VI. Produção de provas.
Valor da Causa O valor da causa deve refletir o valor do danos objeto da
pretensão.

4 - Como identificar a peça?

Para identificar a peça do mandado de segurança basta que o aluno se atente às seguintes dicas que serão
extraídas do enunciado:

Objeto da ação:

A ação civil pública possui objeto específico previsto em lei. Ou seja, apenas será o caso de seu ajuizamento
caso o enunciado traga como objeto da demanda uma das matérias previstas no artigo 1º da lei nº 7.347/85.

Legitimidade:

Importante que o aluno se atente para o cliente previsto no enunciado.

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Apenas será cabível a ação civil pública caso o enunciado traga a informação de que seu cliente é uma das
pessoas elencado no artigo 5º da lei.

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.

5 - Modelo

(Exame de Ordem – FGV/OAB – XXVI Exame) A sociedade empresária Leva e Traz explora, via concessão, o
serviço público de transporte de passageiros no município Sigma, conhecido pelos altos índices de
criminalidade; por isso, a referida concessionária encontra grande dificuldade em contratar motoristas para
seus veículos. A solução, para não interromper a prestação dos serviços, foi contratar profissionais sem
habilitação para a direção de ônibus.
Em paralelo, a empresa, que utiliza ônibus antigos (mais poluentes) e em péssimo estado de conservação,
acertou informalmente com todos os funcionários que os veículos não deveriam circular após as 18 horas,
dado que, estatisticamente, a partir desse horário, os índices de criminalidade são maiores. Antes, por
exigência do poder concedente, os ônibus circulavam até meia-noite.
Os jornais da cidade noticiaram amplamente a precária condição dos ônibus, a redução do horário de
circulação e a utilização de motoristas não habilitados para a condução dos veículos. Seis meses após a

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78
concretização da mencionada situação e da divulgação das respectivas notícias, a associação municipal de
moradores, entidade constituída e em funcionamento há dois anos e que tem por finalidade institucional,
dentre outras, a proteção dos usuários de transporte público, contrata você, jovem advogado(a), para
adotar as providências cabíveis perante o Poder Judiciário para compelir o poder concedente e a
concessionária a regularizarem a atividade em questão.
Há certa urgência, pois no último semestre a qualidade do serviço público caiu drasticamente e será
necessária a produção de provas no curso do processo.
Considerando essas informações, redija a peça cabível para a defesa dos interesses dos usuários do referido
serviço público.

5.1 - Modelo de Resolução

Perceba que o enunciado prevê que é necessária a produção de provas no curso do processo. Dessa
forma, o aluno pode excluir a possibilidade de manejo do mandado de segurança, restando apenas
a ação de procedimento comum.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA DA COMARCA DE SIGMA, ESTADO __

ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE MORADORES DO MUNICÍPIO SIGMA, pessoa jurídica de direito privado, com
sede à Rua ____, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado ao
final assinado, constituído nos termos do instrumento de procuração em anexo, com fulcro no artigo 1º, II,
da Lei nº 7.347/85, propor a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Em face da SOCIEDADE EMPRESÁRIA LEVA E TRAZ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ___,
com sede no endereço ___, e do MUNICÍPIO SIGMA, pessoa jurídica de direito público interno, com sede no
endereço ___, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

DOS FATOS

Descrever objetivamente os fatos narrados na questão, deixando claro qual a autoridade


cometeu a omissão legislativa. Cuidado para não inventar matéria de fato não fornecida
pela banca. Isso pode caracterizar identificação de peça, ok?

DO DIREITO

DA LEGITIMIDADE ATIVA:

No que diz respeito à legitimidade ativa da demanda, o art. 5º, V, ‘a’ e ‘b’, da Lei nº 7.347/85, disciplina que
as associações públicas são legitimadas para propor Ação Civil Pública desde que estejam constituídas há
pelo menos um ano e que inclua entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, entre outros.

Art. 5° Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

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78
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.

Conforme dispositivo mencionado, a Associação de Moradores do município Sigma atente ao requisito do


art. 5º, V, ‘a’, da Lei nº 7.347/85, e tem pertinência temática conforme 5º, V, ‘b’, da Lei nº 7.347/85, visto
que tem uma de suas finalidades é a proteção dos usuários de transporte público, portanto, possui
legitimidade ativa para a propositura da presente Ação Civil Pública.

DA IRREGULARIDADE NA CONTRATAÇÃO DOS MOTORISTAS INABILITADOS E DA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO


DA SEGURANÇA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS:

A condição irregular do serviço prestado pela concessionária responsável pelo transporte público do
município Sigma é clara, vez que, contratou motoristas que não possuem autorização para dirigir ônibus.

Assim, a conduta da requerida coloca em perigo toda a coletividade que transita pelo município Sigma, sejam
eles usuários ou não. Ferindo assim a segurança exigida do serviço público conforme dispõe o art. 4º, da Lei
nº 13.460/17 c/c art. 6º, § 1º, da Lei nº 8.987/95.

Lei 8.987/95
Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno
atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no
respectivo contrato.
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade
das tarifas.

Desta forma, flagrante a necessidade de regularização da prestação do serviço público.

DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ATUALIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO:

Ainda, não bastasse a contratação de profissionais inabilitados, a concessionária utiliza ônibus antigos e
altamente poluentes ao meio ambiente. Novamente colocando a coletividade em risco.

Importante frisar que é dever das concessionárias de serviço público resguardarem a prestação de serviço
adequado, conforme disciplina o art. 6º, §1º, da Lei nº 8987/95, satisfazendo as condições de segurança e
atualidade, entre outras.

Sendo assim, ao fazer uso de frota de ônibus antiga a concessionária fere os princípios da segurança e da
atualidade previstos no art. 6º, §1º, da Lei nº 8987/95.

DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA REGULARIDADE E DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO:

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Por fim, a concessionária ré violou o contrato de concessão firmado com o município Sigma, ao pactuar com
seus empregados a redução nos horários de circulação do transporte público, deixando de cumprir condição
imposta pelo poder concedente, qual seja, a circulação dos ônibus até a meia-noite.

Ressalte-se que a lei apenas permite a suspensão dos serviços nas hipóteses previstas na lei 8.987/95.

Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno


atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no
respectivo contrato.
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação
de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
§ 4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não
poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou no dia
anterior a feriado.

Diante da inexecução parcial do serviço de transporte, a requerida violou os princípios da regularidade e da


continuidade do serviço público, previstos no art. 6º, §1º, da Lei nº 8987/95 e no art. 4º, da Lei nº 13.460/17.

DO PEDIDO LIMINAR:

Os requisitos autorizadores da concessão de medida liminar estão devidamente comprovados nos autos,
quais sejam a probabilidade do direito e o perigo da demora, previstos no art. 300 e seguintes do CPC.

A probabilidade do direito está fundamentada na prestação de serviço público inadequado, que não satisfaz
as condições de segurança, atualidade, regularidade e continuidade.

Já o perigo da demora decorre do fato de que o serviço de transporte público é interrompido antes do
horário previsto, causando prejuízos à população, além de ser prestado em condições que colocam em risco
toda a coletividade.

Assim, presentes os requisitos autorizadores, requer-se, seja concedida MEDIDA LIMINAR para impedir a
utilização de motoristas sem habilitação, obrigar os réus à renovação da frota de ônibus e obrigar os réus à
circulação dos ônibus novos até meia-noite.

DOS PEDIDOS FINAIS

Ante o exposto, requer-se:

a) A concessão da liminar pleiteada para impedir a utilização de motoristas sem habilitação, obrigar
os réus à renovação da frota de ônibus e obrigar os réus à circulação dos ônibus novos até meia-
noite.

b) A citação dos réus para integrar a relação processual.

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c) A intimação do Ministério Público para intervir no processo (Art. 5º, § 1º, da Lei nº 7.347/81).

d) A procedência do pedido, obrigando-se o réu ao cumprimento das obrigações de fazer e de não


fazer indicadas na alínea ‘a’.

e) A condenação do réu ao pagamento de custas e honorários;

Protesta e requer provar o alegado por meio de todas as provas em direito admitidas.

Dá-se à causa o valor de ____.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local/DATA.

Advogado

OAB/ N.

AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA

1 - O que é?

A ação de desapropriação indireta é uma ação de procedimento comum. Contudo, em razão de algumas
peculiaridades e da elevada incidência nas provas, é necessário que seja mais bem estudada.

De acordo com Alexandrino (2015, pg. 1082):

Desapropriação indireta é o fato administrativo por meio do qual o Estado se apropria de


bem particular, sem observância dos requisitos da declaração e indenização prévia.

Trata-se, pois, de desapropriação sem o atendimento das formalidades legais, correspondendo a um esbulho
estatal e ocorre quando o Poder Público interfere na propriedade do particular e lá pratica atos de domínio,
sem prévia ação ou título.

68
78
Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública, poderá o particular
propor ação possessória visando a manter ou retomar a posse do bem.

Acaso o bem expropriado já esteja afetado em alguma finalidade pública, considera-se que houve fato
consumado e somente restará ao particular ajuizar “ação de desapropriação indireta”, visando receber
indenização, nos termos do artigo 35, do Decreto 3.365/41:

Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser
objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação.
Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

Segundo decidiu o STJ, a ação de desapropriação indireta possui natureza real e pode ser proposta pelo
particular prejudicado enquanto não tiver transcorrido o prazo para que o Poder Público adquira a
propriedade do bem por meio da usucapião, aplicando-se por analogia o prazo da usucapião extraordinária.

O artigo 1.238, do Código Civil estabelece que o prazo prescricional da usucapião é de 15 anos, podendo ser
reduzido para 10 anos se o possuidor tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo no local
(parágrafo único do artigo 1.238).

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu
um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro
no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor
houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços
de caráter produtivo.

Como na desapropriação indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha realizado obras
no local ou tenha dado ao imóvel uma utilidade pública ou de interesse social, entende-se
que a situação se enquadraria no parágrafo único do artigo 1.238 do Código Civil, de sorte
que o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de desapropriação indireta será de
10 anos.

Em recente julgado, o STJ estabeleceu que se o ente público não fizer nenhuma obra de caráter produtivo
no imóvel, o prazo da desapropriação indireta será o do caput do artigo 1.238, do Código Civil (15 anos).

Vigora na desapropriação o princípio da justa indenização e exatamente por isso inexiste vinculação entre
o valor estimado pelo autor na ação de desapropriação direta ou indireta e a fixação da justa indenização

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78
pelo magistrado acatando laudo pericial imparcial. Isto porque o valor fixado pelo autor na ação de
desapropriação é meramente estimativo.

A fixação do valor da justa indenização a ser paga pelo expropriante, deve considerar a incidência de juros e
correção monetária.

Os juros compensatórios são devidos para compensar a perda da posse do imóvel pelo particular. É dizer: os
juros compensatórios são devidos a partir do apossamento administrativo pelo ente público, pois este é o
momento em que o particular perde a possibilidade de usufruir do bem (BARROS, 2015, pg. 453).

Súmula 69 – STJ - Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a


antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do
imóvel.

Ademais, os juros compensatórios são devidos ainda que o imóvel seja improdutivo, eis que eventual
improdutividade do imóvel não afastaria o direito a tais, pois estes compensam não só o que o expropriado
deixou de ganhar com a perda antecipada, mas também o óbice do uso e gozo econômico do bem.

Segundo Guilherme Barros (2015, pg. 456):

Na visão do STJ, os juros compensatórios somente não serão pagos se o imóvel for
impassível de qualquer exploração econômica.

Quanto aos juros moratórios, estes são devidos em razão da mora do ente público em pagar o valor da
indenização constante na sentença judicial. Tal mora, em razão do regime de precatório, apenas dá-se com
o não pagamento do precatório no prazo constitucional.

Dispõe, pois, o artigo 15-B do Decreto 3.365/41:

Art. 15-B Nas ações a que se refere o art. 15-A, os juros moratórios destinam-se a recompor
a perda decorrente do atraso no efetivo pagamento da indenização fixada na decisão final
de mérito, e somente serão devidos à razão de até seis por cento ao ano, a partir de 1º de
janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do
art. 100 da Constituição.

Assim, se o precatório for pago dentro do prazo previsto no artigo 100, da Constituição Federal, não há que
se falar em pagamento de juros moratórios. Este o entendimento consubstanciado na Súmula Vinculante 17
do Supremo Tribunal Federal:

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78
Súmula Vinculante 17 – STF - Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da
Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

Assim, os juros compensatórios incidem até a data de expedição do precatório original, enquanto os juros
moratórios somente incidirão acaso o precatório expedido não seja pago no prazo constitucional.

Conforme o entendimento do STJ, é possível a incidência de juros moratórios sobre juros compensatórios,
eis que em desapropriação são cumuláveis juros compensatórios e moratórios.

Súmulas 12, STJ: Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios.


Súmula 102, STJ: A incidência dos juros moratórios sobre compensatórios, nas ações
expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei.

Para uma melhor fixação, vamos esquematizar:

JUROS MORATÓRIOS JUROS COMPESATÓRIOS


Termo inicial: 1º de janeiro do exercício seguinte
Termo inicial: apossamento administrativo
àquele em que o pagamento deveria ser feito
Termo final: efetivo pagamento Termo final: expedição do precatório

Em relação à correção monetária, cujo objetivo é a recomposição do valor real da dívida, esta é sempre
devida:

Súmula 561 – STF - Em desapropriação, é devida a correção monetária até a data do efetivo
pagamento da indenização, devendo proceder-se à atualização do cálculo, ainda que por
mais de uma vez.

Por fim, consoante entendimento firmado pelo STJ, “os limites percentuais estabelecidos no artigo 27,
parágrafos 1º e 2º, do DL 3.365/41, relativos a honorários advocatícios (percentuais entre 0,5 e 5%), aplicam-
se às desapropriações indiretas”.

Art. 27. O juiz indicará na sentença os fatos que motivaram o seu convencimento e deverá
atender, especialmente, à estimação dos bens para efeitos fiscais; ao preço de aquisição e
interesse que deles aufere o proprietário; à sua situação, estado de conservação e
segurança; ao valor venal dos da mesma espécie, nos últimos cinco anos, e à valorização
ou depreciação de área remanescente, pertencente ao réu.
§ 1o A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço
oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados

71
78
entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4o do art.
20 do Código de Processo Civil.
§ 3º O disposto no § 1o deste artigo se aplica:
II - às ações de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta.

A competência para o ajuizamento da ação de desapropriação indireta será do juiz de 1º grau e está prevista
do artigo 11, do CL 3.365/41.

Art. 11. A ação, quando a União for autora, será proposta no Distrito Federal ou no foro
da Capital do Estado onde for domiciliado o réu, perante o juízo privativo, se houver; sendo
outro o autor, no foro da situação dos bens.

No que tange os pedidos, o aluno deverá elaborar:

I. Citação do réu para contestar;

II. Procedência do pedido para condenar o réu a indenizar o autor pela perda da
propriedade, acrescido de juros;

Art. 27. O juiz indicará na sentença os fatos que motivaram o seu convencimento e deverá
atender, especialmente, à estimação dos bens para efeitos fiscais; ao preço de aquisição e
interesse que deles aufere o proprietário; à sua situação, estado de conservação e
segurança; ao valor venal dos da mesma espécie, nos últimos cinco anos, e à valorização
ou depreciação de área remanescente, pertencente ao réu.

III. A concessão de tutela provisória (quando for o caso);

IV. A designação de audiência prévia de conciliação;

Art. 319. A petição inicial indicará:


VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

V. Protesto por provas; e

Art. 319. A petição inicial indicará:

72
78
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VI. Condenação ao pagamento das custas, despesas judiciais e honorários advocatícios.

Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça, incumbe às partes


prover as despesas dos atos que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes
o pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do
direito reconhecido no título.
§ 2º A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou.
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

Por fim, o aluno deverá indicar o valor da causa, que corresponderá ao valor do bem que foi objeto do
apossamento.

2 - Qual o Fundamento?

O artigo que fundamenta as ações de procedimento comum é o artigo 319 do Código de Processo Civil.

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

No que tange às especificidades da ação de desapropriação indireta, o fundamento é o artigo 35, do DL


3.365:

Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de
reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer
ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

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3 - Qual o roteiro ideal?

Endereçamento Regras de competência previstas no artigo 11, do DL 3.365/41


Partes - Autor: proprietário do bem.
- Réu: ente responsável pelo apossamento.
Cabimento Apossamento administrativo de bem de propriedade do Autor.
Fundamento Artigo 319 do CPC/15 e DL 3.365/41
Liminar Artigo 300 e seguintes do CPC/15
Pedido I. Citação do réu;
II. A procedência da ação para condenar ao pagamento da
indenização, acrescida de juros;
III. A designação de audiência prévia de conciliação;
IV. Protesto por provas; e
V. Condenação ao pagamento das custas, despesas judiciais e
honorários advocatícios.
Valor da Causa Nos termos nos termos do artigo 292, do CPC/15.

4 - Como identificar a peça?

Existência de uma propriedade privada que foi apossada pelo Poder Público:

Apenas será cabível a ação de desapropriação indireta caso o aluno consiga identificar no enunciado a
existência de uma propriedade privada que sofreu o apossamento administrativo.

Ou seja, é necessário que o candidato extraia do enunciado que o seu cliente foi privado o uso de sua
propriedade em razão da ocupação pelo Poder Público.

Ausência de indenização:

O fundamento da ação de desapropriação indireta é justamente a perda da propriedade sem a prévia e justa
indenização. Dessa forma, caso o aluno perceba que ouve pagamento de indenização ao proprietário do
imóvel, não será cabível a desapropriação indireta.

Bem expropriado já está sendo utilizado pelo Poder Público:

Como vimos, uma vez afetado ao uso público, não será possível a reivindicação do bem. Logo, o aluno deverá
ficar atento para o fato de o imóvel já estar sendo utilizado pelo Poder Público.

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Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de
reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada
procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

5 - Modelo

(Exame de Ordem – FGV/OAB – VI Exame) Francisco de Tal é proprietário de uma área de 2.000m2 situada
bem ao lado da sede da Prefeitura do Município de Bugalhadas.
Ao se aposentar, no ano de 2003, cansado da agitada vida da cidade de São Paulo, onde reside, Francisco
resolveu viajar pelo mundo por ininterruptos três anos.
Ao retornar, Francisco descobre que o Município de Bugalhadas iniciou em 2004, sem sua autorização, obra
em seu terreno para a construção de um prédio que servirá de apoio às atividades da Prefeitura. A obra já
se encontra em fase bem adiantada, com inauguração prevista para o início do próximo mês.
Francisco procura-o, na qualidade de advogado(a), para identificar e minutar a medida judicial que pode ser
adotada para tutelar seus direitos.
A medida judicial deve conter argumentação jurídica apropriada e desenvolvimento dos fundamentos legais
do instituto jurídico contido no problema, abordando necessariamente: (i) competência do órgão julgador;
(ii) a natureza da pretensão a ser deduzida por Francisco; (iii) a observância do prazo prescricional; e (iv)
incidência de juros.

5.1 - Modelo de Resolução

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE


BUGALHADAS, ESTADO __

FRANCISCO DE TAL, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no CPF sob o número__, portador do RG
de número ___, residente e domiciliado à Rua ____, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
por intermédio de seu advogado ao final assinado, constituído nos termos do instrumento de procuração
em anexo, com fulcro no artigo 319 e 320 do Código de Processo Civil c/c art. 1º do Decreto-Lei 3.365/41,
propor:

AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA

em face do MUNICÍPIO DE BUGALHADAS, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ___,
que poderá ser cientificada, através da sua procuradoria geral, pelas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas.

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DOS FATOS

Descrever objetivamente os fatos narrados na questão, deixando claro qual a autoridade


cometeu a omissão legislativa. Cuidado para não inventar matéria de fato não fornecida
pela banca. Isso pode caracterizar identificação de peça, ok?

DO DIREITO

DA NÃO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO:

No caso em concreto, a prescrição não ocorre, visto que segundo a jurisprudência do STJ, elencada no
verbete da súmula 119, interpretado à luz do disposto no art. 1.238 do Código Civil, o prazo prescricional da
ação de desapropriação indireta é o mesmo que o da usucapião extraordinária, ou seja, de 10 (dez) anos.

Tema 1019, STJ: O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em


que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade
pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art.
1.238 do CC.

Lembrando que não se aplica o prazo prescricional do art. 10, do Decreto-Lei 3.365/41 pelos fatos acima
elucidados.

APOSSAMENTO SEM A OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E A CARACTERIZAÇÃO DA


DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA:

O devido processo legal é uma garantia fundamental da pessoa humana, devendo ser respeitado inclusive
no âmbito administrativo, devendo, por decorrência lógica, ser garantido o contraditório e a ampla defesa,
conforme o art. 5º, inc. LV, da CF/88.

Acontece que a prefeitura, fere o devido processo legal quando se apossa do imóvel do autor sem o prévio
procedimento elencado no decreto-lei 3.365/41 para efetuar a desapropriação.

Portanto, cabível a presente ação, já que fora afastado qualquer ação possessória ou reivindicatória, em
decorrência do bem imóvel estar afetado à utilização pública, conforme art. 35, do Decreto-Lei 3.365/41.
Daí porque a pretensão do autor ser indenizatória.

DO DIREITO À INDENIZAÇÃO PELA PERDA DA PROPRIEDADE:

Conforme o art. 5º, inc. XXIV, da CF, cabe o direito de indenização em dinheiro, de forma justa e prévia, no
mesmo sentido do art. 32 do Decreto-Lei 3.365/41 nos casos de desapropriação.

Portanto, após ser afastada qualquer ação possessória ou reivindicatória, visto que o bem imóvel do autor
se incorporou ao patrimônio da prefeitura, conforme o artigo 35, do Decreto-Lei 3.365/41, cabe apenas,
pleitear as perdas e danos em decorrência dessa situação fática.

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78
Desta forma, deverá ser julgada procedente a ação, devendo o autor ser indenizado para recompor seu
patrimônio.

DA INCIDÊNCIA DE JUROS COMPENSATÓRIOS E MORATÓRIOS:

Cabe também a incidência de juros compensatórios e moratórios, visto que atendidos os preceitos do art.
15-A, §3º do Decreto-Lei 3.365/41, os quais garantem tais juros nos casos de desapropriação indireta.

Portanto, requer-se a aplicação do citado artigo para atribuir-lhe o valor correto da indenização.

Súmula 114, STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da


ocupação, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se:

a) A citação do Município, na pessoa do Procurador-Geral, para se quiser, responder a demanda.

b) A procedência do pedido para condenar o município ao pagamento da indenização ao autor, pela


perda da sua propriedade, de acordo com os parâmetros do art. 27, do Decreto-Lei 3.365/41.

c) A condenação da parte Ré em custas e honorários sucumbenciais.

d) Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em
especial__.

Dá-se à causa o valor de ____.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local/DATA.

Advogado

OAB/ N.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Amigos,

77
78
Chegamos ao final de mais uma aula. Espero que vocês tenham gostado.

Quaisquer dúvidas, sugestões ou críticas entrem em contato conosco. Estou disponível no fórum no Curso,
por e-mail, Instagram e Facebook, nos contatos abaixo.

Grande abraço,

Igor Maciel

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