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APRESENTAÇÃO

Olá! E aí, tudo bem com você? Eu me chamo Victor, e se você chegou até esse E-
book é porque tem interesse em prestar concursos públicos. De início, quero te dizer que
não sou nenhum gênio ou especialista em concurso público, muito menos revelo
qualquer truque para passar. Eu construí esse material gratuito para que você possa
entender como funciona o estudo para concurso e como eu fiz para conseguir algumas
aprovações. No entanto, isso não quer dizer que a forma como estudei seja a correta.
Não é isso. Muito humildemente eu vou contar para você o caminho que enfrentei até
aqui. Eu insisto em dizer que não há, nesse livro, nenhuma fórmula mágica ou estratégia
milagrosa para obter êxito no mundo dos concursos senão o estudo e a força de vontade,
aliados, claro, a alguns detalhes importantes nessa caminhada.

Olha, eu também quero que você saiba que para passar não precisa ser gênio ou
dotado de inteligência extraordinária, pode acreditar em mim. Sabe aquela pessoa que
passa no seu Instagram falando que passou no concurso para Juiz Federal aos 24 anos no
primeiro concurso? Pois é. Essa pessoa existe? Existe, mas faz parte de uma absurda
minoria, bemmmm minoria mesmo. E esse tipo de propaganda infelizmente faz com que
as pessoas comprem a ideia de que para passar precisa ser esse tipo de gênio, que
estudava 12 horas sem parar ao menos para tomar um copo d’água.

Eu fui aprovado em alguns concursos, entre eles para técnicos de Tribunal, MP,
analista, oficial de justiça e por fim, para Defensor Público Estadual do Estado do Amapá
e do Estado do Maranhão. Durante esse percurso, passei por muitos momentos difíceis,
mas nada comparado à dor da solidão que os estudos causam. Essa talvez seja a mais
complicada tarefa de quem quer passar: o isolamento.

Estudar pode até ser prazeroso, mas estudar para concurso não é. Eu até assumo
que gosto de ler, de conhecer, de sentir que estou crescendo. Mas o estudo para
concurso é uma cobrança muito maior que o simples “estudar”. Há, sem dúvidas, pressão
por todos os lados: família, vizinhos, amigos, e ainda a cobrança pessoal. Você nunca
ouviu alguém falar que o seu primo já passou e você não? Esse tipo de comportamento,

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por muitas vezes até inocente, causa uma sensação de fracasso muito grande. Eu já ouvi,
você já ouviu (ou vai ouvir), mas precisamos respirar fundo, porque a nossa hora chegará.

Minha amiga ou meu amigo, saiba que quando o dia chega as coisas parecem se
encaixar, é como se no quebra-cabeça estivesse faltando uma única peça: sua
aprovação/nomeação/posse. Como é bom olhar para trás e dizer: eu venci.

Sem medo de errar, trazer orgulho a quem tanto acreditou em nós, abraçar
nossos familiares, gritar, chorar, não tem preço! Esse momento é lindo e eu sei que você
vai passar por ele.

Eu espero, do fundo do meu coração, que esse pequeno manual prático possa te
ajudar. Continue firme na sua luta, há inúmeras pessoas que acreditam em você!

Boa leitura!

Victor Linhares

@victorhlinhares

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SUMÁRIO
A FALÁCIA DO ALUNO EXTRAORDINÁRIO ......................................................................................................................... 5

A REPROVAÇÃO NO VESTIBULAR ...................................................................................................................................... 9

FACULDADE PÚBLICA X FACULDADE PARTICULAR ......................................................................................................... 12

RECLAMAR NÃO ADIANTA .............................................................................................................................................. 15

OTIMIZAÇÃO DE TEMPO: TRABALHAR E ESTUDAR ......................................................................................................... 18

A IMPORTÂNCIA DOS ESTÁGIOS ..................................................................................................................................... 22

O INÍCIO DOS CONCURSOS ............................................................................................................................................. 25

POR QUE REPROVAMOS? ............................................................................................................................................... 27

REPROVAÇÃO POR AUSÊNCIA DE CONHECIMENTO ....................................................................................................... 27

REPROVAÇÃO POR QUERER SABER MAIS QUE A PROVA................................................................................................ 28

REPROVAÇÃO PELO NERVOSISMO ................................................................................................................................. 28

TENHA UM CRONOGRAMA E FUJA DE MÉTODOS LOUCOS ........................................................................................... 31

COMO ESTUDAR: VIDEOAULAS OU PDF’S/LIVROS?........................................................................................................ 35

UM POUCO SOBRE ACREDITAR ...................................................................................................................................... 38

APROVADO NA OAB DUAS VEZES: MAS COMO ASSIM? ................................................................................................. 42

ESTUDAR O QUE NÃO GOSTA É UMA EXCELENTE ESTRATÉGIA ..................................................................................... 46

MEU PRIMEIRO CONCURSO: A REPROVAÇÃO ................................................................................................................ 48

A IMPORTÂNCIA DE COMEÇAR DO ZERO ....................................................................................................................... 50

A HUMILDADE EM RECONHECER QUE NÃO SABE .......................................................................................................... 50

A PRIMEIRA APROVAÇÃO ............................................................................................................................................... 51

A REPROVAÇÃO NO INSS E A FRUSTRAÇÃO.................................................................................................................... 52

A APROVAÇÃO PARA ANALISTA E OFICIAL DE JUSTIÇA................................................................................................... 53

A CRIAÇÃO DOS CADERNOS............................................................................................................................................ 54

LENDO A LEI DE TRÁS PARA FRENTE ............................................................................................................................... 58

A IMPORTÂNCIA E O MITO DAS REVISÕES ..................................................................................................................... 64

A PROVA OBJETIVA ......................................................................................................................................................... 67

A PROVA SUBJETIVA ....................................................................................................................................................... 69

A PROVA ORAL ................................................................................................................................................................ 71

A SUA VIDA VALE MAIS QUE A PROVA............................................................................................................................ 74

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A FALÁCIA DO ALUNO EXTRAORDINÁRIO

Durante minha preparação, eu ouvi muito que para passar em concurso o


candidato deveria ser muito inteligente. De tanto ouvir essa ideia sendo repetida, eu
comecei a achar verdadeiramente que eu, classe média baixa, péssimo em matemática,
estudante durante muitos anos em escola pública, nunca passaria em um concurso, afinal
de contas eu não tinha conseguido sequer ser aprovado no vestibular.

Isso tudo porque os relatos de sucesso no mundo dos concursos que eu tinha
conhecimento, eram daqueles alunos brilhantes, nota 10 em tudo. Isso me levou a
acreditar que apenas esse perfil de aluno estaria apto a ser aprovado nos concursos. Mas
a gente precisa entender que uma mentira repetida várias vezes não se torna uma
verdade!

Passar em concurso e ter inteligência extraordinária são coisas diferentes. Podem


até caminhar juntos em algum momento, mas são coisas distintas.

A inteligência, por si só, não aprova ninguém. Eu conheço muita gente inteligente
e que não consegue passar em um concurso e tenho certeza que você também conhece.
Por quê? Olha, os casos que conheço, essas pessoas são inteligentes, mas não são
esforçadas. Não sentam a bunda na cadeira para estudar de verdade, porque acabam se
confiando na inteligência. Isso é um erro fatal.

O ponto nodal é que as bancas de concursos não querem selecionar o candidato


mais inteligente. Elas selecionam as pessoas que mais estudaram, as que mais se
esforçaram, e as que mais conseguiram decorar detalhes. Infelizmente as bancas hoje
têm tido um amor muito grande pelo famoso “decoreba”, isso é um fato. Vamos
reclamar? Até podemos, mas precisamos dançar conforme a música. Se eles querem um
bom decorador de leis, vamos nessa!

As coisas começaram a se encaixar desde o dia que eu parei de querer entender


as bancas de concurso. A FCC tem um perfil, a CESPE/CEBRASPE tem outro, e isso precisa

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estar claro na nossa cabeça. Não adianta enlouquecermos querendo entendê-las. Ela
gosta de cobrar detalhes sobre a Constituição? Eu quero ser aprovado? Sim, então vamos
atrás da aprovação.

Não passa em concurso o aluno extraordinário, passa o aluno dedicado. Eu, por
exemplo, em nenhum momento da minha vida fui um aluno extraordinário. Nem na
escola e muito menos na faculdade. Mas me entenda. Eu não quero dizer que apenas os
alunos medianos passarão em concurso, não é isso, rs. Eu estou dizendo que os
candidatos aprovados em concursos seguem uma mesma linha: esforçados, dedicados,
persistentes, perseverantes, insistentes, etc, e isso não guarda nenhuma relação com o
aluno extraordinário que você conheceu na escola.

Vamos fazer um rápido exercício mental. Os melhores alunos da sua escola hoje
são servidores públicos? Os melhores alunos da minha escola, por exemplo, não são. Hoje
são engenheiros ou médicos autônomos.

Isso tudo para te dizer que nem sempre as pessoas inteligentes querem ser
servidores públicos. Aliás, nem todo mundo quer ser servidor público. Alguns querem
empreender, outros querem ser engenheiros, outros médicos, etc. Servir ao público não
é algo para todo mundo. Temos que gostar do que fazemos e lembrar que o dinheiro e a
estabilidade financeira deve ser algo em segundo plano. Se você quer entrar no serviço
público com o pensamento em enriquecer, você está completamente equivocado.

Além disso, você já pensou em trabalhar todos os dias fazendo o que não gosta,
apenas por dinheiro? Deve ser algo muito difícil, pode acreditar.

Voltando para a questão do aluno extraordinário, você precisa saber que para
passar é preciso ter muita dedicação, e isso não é novidade para ninguém. Olha, eu diria
que o mais difícil de toda essa caminhada é o início. Em tudo que fazemos, o início é muito
mais difícil, porque você rompe com uma nova barreira e precisa de tempo para
adaptação. A primeira semana na academia, por exemplo, é horrível (as demais também,
mas a primeira é a pior, rs). Estudar para concurso não poderia ser diferente. No início é
muito difícil, você se senta, começa a ler, se perde, volta ao início, o telefone toca, você

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abre o Instagram, quando olha o relógio passaram-se 40 minutos, e você não rendeu
nada. O seu amigo chega na sua casa, você fecha o livro e vai conversar, sob o argumento
de que “mais tarde compensa”.

Chega o final de semana, você promete que vai ser o final de semana de muito
estudo, na teoria, claro. No sábado, você é convidado para sair à noite com os seus
amigos ou amigas, e acaba indo. O domingo, que seria de estudo, acaba sendo o domingo
de descanso, afinal de contas, no sábado você dormiu muito tarde. E esse ciclo se repete
durante um mês, dois meses, um ano, três anos, até mesmo uma vida toda. Esse é o
chamado procrastinador de carteirinha!

Você não precisa ser um aluno extraordinário, mas você precisa saber dizer não
quando for preciso. Você precisa tratar o estudo como um trabalho, com hora de entrar
e hora de sair. Enquanto você não tomar essa atitude, dificilmente algum resultado
positivo virá.

Esqueça o mito do aluno extraordinário e acredite racionalmente que você pode,


mas para isso precisará de tempo e de esforço. É natural olharmos para quem chegou lá
e dizermos: “parabéns, você é foda! Se garante demais!!”.

No entanto, não se engane. Não existe isso de “ser foda ou se garantir”. O que
ninguém conta é o que está por trás disso tudo. Entre eles, os dias sem dormir direito, os
incontáveis dias de solidão sob uma luz amarela lendo leis e respondendo questões, as
diversas reprovações na conta, sem falar de todo o abalo emocional e dispêndio
financeiro durante vários anos. Isso não está no Gibi.

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“SE QUISER, VOCÊ PODE MUDAR A SUA
HISTÓRIA E A DE SUA FAMÍLIA.”

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A REPROVAÇÃO NO VESTIBULAR

Minhas frustrações no mundo dos concursos começaram cedo. Fiz o Vestibular


para o curso de Direito em uma Universidade Federal, e por motivos óbvios não passei.
Isso porque eu não estudava, não tinha disciplina, além de achar que a vida era apenas
tocar violão e jogar bola. O resultado, portanto, não poderia ser outro. O pior é que,
mesmo não sendo estudioso, fiquei com raiva por não ter passado no Vestibular. Veja
que ousadia!

Nesse mesmo Vestibular, coloquei como segunda opção o curso de Licenciatura


em Geografia. Tive a glória de conseguir a aprovação, mesmo em último lugar (por pouco
não consegui). Fiquei feliz e resolvi cursar.

Apesar do encanto pelo Direito, fui cursar Geografia na esperança de me


apaixonar e desistir do Direito.

Acabou não dando certo, pois no primeiro semestre fui reprovado em


absolutamente todas as matérias do curso, umas por falta, outras por nota. Fui, sem
dúvidas, o pior aluno da sala, o que me fez perceber que provavelmente eu estava
fazendo algo que eu não gostava.

Conversei com meus pais, e disse que não queria mais continuar. Eu queria muito
cursar Direito em alguma faculdade particular, pois não queria voltar a fazer vestibular.
Olha, o que eu posso dizer é que boa vontade eles tinham, mas dinheiro era pouco. E
ainda tinha outro detalhe, que era o fato de eu não ter sido um bom aluno na escola e
nem muito menos na faculdade de Geografia. Eles tinham medo, afinal, não podiam
investir em algo incerto.

Eu passei cerca de um ano convencendo meus pais que eu daria o melhor de mim,
e que eles poderiam ficar tranquilos, pois logo eu conseguiria um trabalho e iria ajudar
nas despesas. Meu pai e minha mãe chegaram à conclusão de que iriam tentar pagar a
minha faculdade. Isso me deixou muito feliz e ao mesmo tempo apreensivo, pois eu iria

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sair do meu interior para estudar na capital, local em que eu tinha ido pouquíssimas
vezes.

Meus pais me deram uma nova chance. Sou eternamente grato por eles terem
acreditado que eu, o pior aluno da sala, teria direito de mudar.

Mas antes mesmo de entrar na faculdade de Direito eu consegui uma


Constituição, onde permaneci lendo antes do início das aulas. Nossa!! Me deu uma
vontade tão grande de aprender aquilo!

Lia e não entendia quase nada, mas lia, rs. Eu tinha muita vontade de aprender, e
acho que isso é fundamental para quem quer passar em concurso.

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“SABER O QUE QUER É 70% DO
CAMINHO ANDADO. OS 30% É SÓ
COLOCAR A MÃO NA MASSA!”

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FACULDADE PÚBLICA X FACULDADE PARTICULAR

Como disse, ingressei na faculdade privada. No meio do curso, fui para outra
faculdade, também privada, pois as mensalidades da primeira subiam assustadoramente,
e meus pais não iam conseguir pagar.

Durante esses cinco anos em duas faculdades privadas, confesso que ouvi
inúmeros comentários sobre a formação dos estudantes dessas instituições. Eu mesmo,
antes de entrar na Universidade, cheguei a me questionar se as faculdades privadas
poderiam me “atrasar”, tendo em vista que, em minha percepção, as universidades
públicas seriam infinitamente superiores.

De fato, as universidades públicas têm, geralmente, um corpo docente muito mais


qualificado, além de fomentar o ensino, a pesquisa e a extensão, pilares que ainda deixam
a desejar em algumas faculdades privadas do Brasil.

No entanto, eu percebi que aquele ditado “quem faz a faculdade é o aluno” é uma
frase empiricamente comprovada. Tá aí um ditado certo!

Ao ingressar na faculdade, tive acesso a diversos livros excelentes e professores


bons. Mas sabe o que mais me ajudava? A internet. Pois é, uma coisa que a gente tem
acesso diariamente e não sabe o poder que ela tem. Eu todos os dias lia artigos, assistia
vídeos no Youtube, resolvia questões, tudo pela internet, e “de graça”. Eu não tinha
condições de pagar por cursos ou coach, então eu ia lendo e assistindo o conteúdo
disponível na internet.

É bem verdade que o conhecimento existente na internet está desorganizado, no


sentido de que não segue uma sequência lógica. Então se você está assistindo um vídeo
sobre Licitações, de 30 minutos, você terá que procurar outro que fale outras
informações que aquele não falou. Perceba, portanto, que conteúdo existe, porém de
maneira desorganizada, o que dificulta muito na hora de estudar. E foi justamente em
razão disso que eu decidi, um dia, criar um curso em que eu pudesse condensar todas as

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informações sobre um determinado concurso, e pudesse ajudar o máximo de pessoas. É
aí que surge, em 2018, o CURSO RDP, especializado em ajudar, em todas as fases, os
candidatos que desejem ingressar na Defensoria Pública.

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“NÃO ACEITE QUE SUAS
DERROTAS DIGAM MUITO SOBRE
VOCÊ. VOCÊ É IMPARÁVEL.”

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RECLAMAR NÃO ADIANTA

Infelizmente, nem todas as pessoas nascem com oportunidades iguais. Há, sem
dúvidas, um abismo enorme de oportunidades nesse país. As coisas estão cada vez mais
difíceis.

No entanto, nós precisamos perceber que o ato de reclamar, muitas vezes nos
colocando sempre em posições inferiores, sem fazer absolutamente nada para mudar, é
inócuo.

É muito mais fácil passar em um concurso quando se tem amparo financeiro da


família, quando “só estuda”, ou quando tem condições de comprar os melhores livros e
cursos do Brasil, não é? Sem dúvidas. Mas nem todos têm essas oportunidades. E se você,
assim como eu, não tem essas condições anteriores, o que fazer?

Inicialmente, saiba que reclamar da vida, por si só, não vai te trazer nada além de
estresse. Quanto mais tempo você reclama, menos tempo te sobra. E olha, nessa
caminhada dos concursos o tempo vale mais que dinheiro.

Precisamos utilizar bem nosso tempo, e isso só será possível se você souber
otimizá-lo. Reclamar não é uma boa saída para otimização de tempo. Precisamos saber
enxergar coisa boa, mesmo aonde não tem. É assim que as coisas surgem. Sabe aquele
ditado, “enquanto uns choram, outros vendem lenços”? É exatamente isso.

Se a gente pudesse escolher, certamente escolheria ter uma vida tranquila, sem
estresse, e com uma situação financeira agradável. Mas isso não é tão simples.

É possível que você consiga uma vida dessas, mas isso pode demorar algum tempo
e vai demandar um esforço pessoal grande. O momento agora é de criar as
oportunidades. Por exemplo, durante a faculdade, eu precisava sempre ir ao banco, ou
comprar comida em supermercado. Como eu andava de ônibus, isso me consumia algo
entre 3h a 3h30 min por dia. É um tempo razoável para se perder, não é? Por isso,
comecei a utilizar esse tempo a meu favor.

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Comprei um fone de ouvido (R$ 10,00), baixei uns áudios da Constituição (R$ 0,00)
e coloquei para ouvir todos os dias que eu saísse de ônibus, rezando para não ser
assaltado, rs. E dava certo. Sempre ouvia esses artigos da Constituição em áudio, e as três
horas que antes eram “perdidas”, no fim das contas acabei ganhando.

Agora aproveitando o gancho, vamos falar sobre a otimização do tempo.

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“VOCÊ CERTAMENTE SÓ SERÁ CRITICADO
POR QUEM ESTÁ FAZENDO MENOS QUE
VOCÊ!”

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OTIMIZAÇÃO DE TEMPO: TRABALHAR E ESTUDAR

Quem nunca ouviu aquela frase “você só estuda?”. Pois é, isso é muito comum.
“Só estudar” já é muita coisa. Mas estudar e trabalhar é algo muito difícil, isso porque eu,
você e seu primo temos as mesmas 24h por dia, só que temos vidas diferentes.

A questão é que nem todas as pessoas otimizam o seu tempo. Eu, por exemplo,
contraditoriamente, rendo muito mais nos estudos se eu trabalhar. Se eu “só estudar”
parece que não rendo o suficiente. É estranho falar isso, mas é real.

Não sou especialista em tempo, mas acho que a explicação para isso é porque
quando você sabe que tem menos tempo, você tende a otimizá-lo. Assim, você busca
estratégias para tentar ver o máximo de conteúdo no menor período de tempo. É o
famoso Plano JK, 50 anos em 5.

Antes mesmo de me formar, eu tomei posse como servidor do Tribunal de Justiça,


ainda faltando um ano para a colação de grau. Trabalhava 7h por dia, e estudava umas
4/6h por dia no máximo. Nunca fui daqueles de estudar 12 horas. É claro que às vésperas
da prova eu ficava muito preocupado, e acabava ficando mais tempo vidrado ali na leitura
da lei seca, mas às vezes nem rendia muito.

O fato é que quando você estuda e trabalha, as coisas mudam. Alguns têm filhos,
namorado, namorada, esposo, esposa, e essas pessoas precisam de atenção, cuidado,
amor e carinho. É por isso que eu digo que estudar para concurso acaba sendo um ato
de solidão.

Mas na prática, o que devemos fazer para otimizar o tempo?

Olha, há diversas formas de tentar ganhar um tempo que, na prática, você não
utilizaria para estudar. É claro que cada pessoa sabe de si, mas eu posso falar o que eu
fiz, e você então pode ponderar sobre a viabilidade ou não dela em sua rotina de estudos.

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Por exemplo, como eu andava de ônibus, sempre busquei usar esse tempo
(geralmente um tempo considerável de 2h/2:30) para estudar, estando com edital
aberto.

Outra forma de ganhar tempo era quando eu ia caminhar. Como eu passava 1h


caminhando, era o suficiente para ouvir um Podcast sobre alguma coisa que poderia me
ajudar. Mas veja, eu gostava disso e queria muito ser aprovado em um concurso.

Para algumas pessoas, isso pode ser loucura. Mas o meu desejo de mudar de vida
era tão grande, que eu tentava ganhar tempo de todas as formas.

Aos finais de semana, por exemplo, geralmente eu não estudava. Mas se eu


estivesse sem fazer absolutamente nada, eu estudava. Não era algo rígido como “nossa,
eu tenho que estudar”. Não. Eu pensava assim: se eu tiver algo para fazer, não estudo. Se
eu não tiver nada para fazer, eu estudo.

Acontece que eu não tinha dinheiro para sair, e acabava ficando em casa. Como
eu sempre gostei de música, eu ficava entre o violão e alguns resumos que fazia na
faculdade. Ficava por ali tocando violão, quando abusava ia estudar rapidinho, mas sem
muita cobrança.

O tempo é a moeda mais cara do mundo. O dinheiro, por melhor que seja, não
compra o tempo perdido.

Uma vez um colega me disse assim: toda vida que eu não consigo estudar algo eu
não estudo, mas no outro dia compenso. E essa frase, aparentemente, faz sentido. Mas
se você parar para pensar, quem deixa de estudar algo hoje para estudar amanhã,
poderia estar estudando algo novo amanhã. Em tese, quem deixa o tempo passar, está,
digamos, atrasado em algum momento.

É claro que isso não deve ser levado ao pé da letra. Isso porque há dias que
estamos mal e estudar só piorariam as coisas.

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Digo isso com conhecimento de causa. Nos dias que eu estava mal, triste, com
saudade da família, não conseguia estudar. E eu não insistia. Abria o Youtube (não tinha
Netflix) e ia assistir vídeos de Stand-up, clipes, ou algo do gênero.

Eu só acho que a gente não pode usar o mantra “amanhã eu compenso” sempre,
porque isso pode levar à falsa percepção de que teremos o tempo do mundo, o que
poderia causar um ciclo de procrastinação infinita.

A minha dica é: não conseguiu cumprir o cronograma hoje? Tudo bem, mas agora
descubra o porquê de não ter conseguido. Precisamos saber o porquê, para que
possamos evitá-lo da próxima vez. É claro que há fatos imprevisíveis absolutamente
inevitáveis, e isso está dentro da álea de risco de todos os seres humanos.

Mas no final das contas, o importante é avançar. A busca pela melhora deve ser
constante. E é por isso que gostaria de falar com você sobre a importância da nossa
melhora a partir do conhecimento prático, sobretudo com estágios, seja de graduação
ou de pós-graduação.

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“SE FALTA DE TEMPO REALMENTE FOSSE
UMA JUSTIFICATIVA PARA NÃO ESTUDAR,
SOMENTE OS DESOCUPADOS ESTARIAM
NOMEADOS.”

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A IMPORTÂNCIA DOS ESTÁGIOS

No início da faculdade eu até tentei trabalhar, mas não consegui emprego. Olha,
mais à frente eu vou contar uma história um pouco triste, mas que me motivou muito a
seguir estudando.

Pois bem.

Como não consegui emprego, foquei nos estudos para concurso desde o
comecinho do curso de Direito. Naquela época eu não sabia qual cargo eu queria, mas
eu sabia que queria fazer concurso.

Como ainda era muito no início do curso, por razões óbvias, ninguém estava
disposto a me contratar como estagiário. Eu tentei, mas não deu certo. Até que tive uma
ideia: vou estagiar de graça, com o objetivo de aprender o máximo que conseguir. Eu só
tinha esquecido de um detalhe: o gasto com o deslocamento.

Eu não tinha carro e nem moto. Andava de transporte público, e isso tem um
custo, embora não tão alto. Mas eu estava disposto a aprender. Tinha muita vontade de
manusear um processo, de entender como era o andamento de um. Então fui até o
Fórum da minha cidade e perguntei ao segurança se eles estavam recebendo estagiário
voluntário. Ele olhou para mim sem entender direito, e disse: vá até o RH. E eu respondi:
“tá bom, obrigado”. A questão era que eu sequer sabia o que era RH, rs.

Mas isso não era um problema.

Entrei no elevador do Fórum, acompanhado de várias pessoas aparentemente


importantes, todas trajando vestes formais, e disse: em qual andar ficar o RH mesmo?
Uma mulher me respondeu: no 4º andar. Eu agradeci e fui lá, pedir por um estágio. Não
é que deu certo? Eu acabei começando no outro dia. A minha função era basicamente
fazer “juntada de petição”. Ou seja, carimbar papel, numerar folhas e rubricá-las.
Aparentemente algo burocrático, e em tese, uma atividade difícil de se aprender algo

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novo. Mas eu, no primeiro período do curso de Direito, o que poderia fazer senão buscar
conhecimento?

Coloquei na cabeça que iria ler todas as petições que eu juntasse, para entender
melhor os casos, etc. Fiz isso durante 6 meses, e confesso que foi essencial. Me ajudou
muito a entender diversas situações.

Acabei saindo do estágio voluntária porque vi que tinha aprendido o suficiente


para aquela função. Pouco tempo depois acabei passando em algumas provas de estágio
remunerado (Tribunal de Justiça, Justiça Federal, TRE, AGU, MP e Defensoria Estadual).
Toda prova de estágio que aparecia eu estava lá, rs.

Mas de todos os estágios que fiz, o na Defensoria Pública foi o mais gratificante.
Foi aí que comecei a pensar sobre a carreira. Eu fazia alguns atendimentos, participava
mesmo da vida dos assistidos, e todos os dias eu voltava para casa feliz. É muito bom
poder ajudar às pessoas, sobretudo aquelas que mais precisam.

Foi no 7º período que eu decidi que seria defensor. A partir daí comecei a ver os
institutos jurídicos em uma perspectiva crítica, mesmo que a prova estivesse bem longe
ainda.

O estágio é uma fase muito importante para a construção de nossa carreira. Foi
nela que decidi o que eu queria para minha vida.

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“CARNAVAL E SOLIDÃO ANDAM
LADO A LADO”

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O INÍCIO DOS CONCURSOS

Eu acho que muito provavelmente, em algum momento de sua vida, você já


pensou em desistir de estudar para concurso. Eu, por exemplo, pensei em desistir antes
mesmo de começar.

Quando me inscrevi para a minha primeira prova de concurso, paguei o boleto de


inscrição, mas um dia antes da prova desisti de ir. Me passou aquela imagem na cabeça:
o que eu vou fazer ali no meio de tanta gente melhor que eu?

Isso tudo porque nós colocamos na cabeça que não estudamos o suficiente, que
não estamos preparados o suficiente, que bons mesmos são eles, os concorrentes. E isso
é engraçado, porque sabe o que os concorrentes pensam? Exatamente a mesma coisa
que você.

Mas em suma, concorrência é uma ilusão. Você precisa esquecer isso de


quantidade de inscritos. Eu lembro muito bem que sempre que saía o número de inscritos
eu fazia um alarde! Meu Deus, como assim 20 mil inscritos? Como eu vou passar na
imensidão de vinte mil pessoas? Eu, que vim do interior, pensava: é praticamente uma
cidade inteira fazendo uma prova! Uma cidade inteira!!!!

Comecei a perceber que desse total de inscritos, poucos levam o concurso a sério.
Acredite! O percentual de pessoas que estão realmente “concorrendo” é muito baixo. No
entanto, é inegável que quanto mais fácil for a prova, mais a nota de corte será alta. De
certo modo, portanto, a concorrência faz sim diferença, desde que qualificada. Mas você
não pode pensar nisso.

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“MUITA LUZ ATRAI INSETOS.
CUIDADO COM OS INVEJOSOS!”

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POR QUE REPROVAMOS?

Durante meu percurso, eu tive contato (e ainda tenho diariamente) com


estudantes. E em minha percepção, as pessoas reprovam em concurso (e aqui também
me incluo) por três motivos.

Primeiro, por ausência de conhecimento, decorrência lógica da falta da rotina de


estudo.

Segundo, porque quer saber mais que a prova. Acredite, há pessoas que querem
aprofundar cada detalhe de maneira tão exagerada, que não conseguem avançar em
outras matérias, e isso é um erro grave.

Terceiro, porque deixou o nervosismo tomar conta de si durante a prova.

Agora vou comentar brevemente cada uma dessas situações.

REPROVAÇÃO POR AUSÊNCIA DE CONHECIMENTO

Talvez, seja essa a responsável pela reprovação de muitos estudantes. Acredite,


muitas pessoas vão à prova sem nunca ter estudado, na vã tentativa de um milagre. Ainda
há aquelas que decidem fazer prova para outras carreiras, e só estudam metade das
matérias. Naturalmente, é muito normal que você esbarre no ponto de corte.

Mais à frente eu vou falar sobre a autossabotagem, que é algo muito corriqueiro
e seus efeitos são drásticos. Por exemplo, você sabe que não gosta de raciocínio lógico
ou direito empresarial, e coloca no seu cronograma que vai estudar uma dessas duas
matérias na sexta-feira à noite. E é claro que você não vai conseguir render bem! Sexta-
feira é um dia em que as pessoas, na maioria das vezes, querem sair para um barzinho,
tomar uma cerveja, comer um hambúrguer artesanal, etc. Mas você não. Você vai
estudar raciocínio lógico ou direito empresarial? É muito difícil dar certo!

É por isso que é importante saber montar um cronograma (veremos isso já já).

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REPROVAÇÃO POR QUERER SABER MAIS QUE A PROVA

É muito comum que o aluno queira ser mais esperto que a prova. Tudo que ele
olha já vê pegadinha. Fica incrédulo quando observa que a questão é fácil, pois na cabeça
dele todas as questões devem ser difíceis.

Muitas vezes não consegue avançar de um conteúdo para o outro, porque precisa
aprender TUDO sobre aquela matéria (origem histórica, todas as espécies de
Constituição, tudo sobre as nomenclaturas esquisitas que vê no Instagram dos
professores de cursinho), e isso é uma falha. Quer descobrir como saber o que estudar?
Resolva questão. Pronto, é a partir daí que você vai ver o que merece ser estudado. Como
eu falei no início, o tempo é a moeda mais cara do mundo, e se você perde estudando
coisas que não caem, a sua aprovação está sendo adiada dia após dia.

Para passar você não precisa saber tudo. Absolutamente ninguém consegue
“bater” um edital. E se você já ouviu seu colega de estudo dizer que “bateu” o edital de
trás para frente, sorria e diga que ele é gênio, para deixá-lo acreditando na própria
mentira, pois essa conversa de “bater” edital é absurdamente sem sentido.

Mas voltando...

Você não precisa saber mais que a prova. Estude, resolva muita questão objetiva,
e saiba sentir quando realmente houver pegadinhas. Tem questão fácil? Tem, e é a regra.
A sua prova não é constituída 100% de questões difíceis. Pelo contrário, há muito mais
questões fáceis que difíceis.

REPROVAÇÃO PELO NERVOSISMO

Eu tenho certeza que você já se deparou com a seguinte situação: “como é que
eu errei essa questão tão fácil?”.

Pois é. Todo mundo já errou uma questão ridiculamente fácil. A razão disso é
simples: desatenção causada pelo descontrole emocional. Muitas pessoas ficam muito

28
nervosas em provas. Isso faz com que não leia direito, e queira logo marcar a questão
antes de analisar com calma o que está certo e o que está errado.

Todo mundo conhece alguém que estuda muito, que é inteligente, que tem
conhecimento, mas simplesmente a aprovação não vem. Muitas vezes isso é resultado
de um descontrole emocional, sendo certo que o estudo por um profissional é bem
recomendado.

Digo isso com conhecimento de causa.

Antes da minha primeira prova oral para Defensor Público do Estado eu não
conseguia dormir. E quando dormia, sonhava com os examinadores. Isso não é
brincadeira. Aquilo toma conta da gente de uma forma tão absurda, que sua vida parece
perder o sentido, e tudo que parece importar é a aprovação. Nessa hora eu vi que
precisava de ajuda.

É claro que naturalmente ficamos ansiosos no dia da prova, sobretudo aqueles


que estudaram e investiram tempo e dinheiro. Por outro lado, você não pode ir fazer
aquela prova como se fosse a última da sua vida. Mas Victor, é a prova do meu estado, é
o meu sonho, eu venho estudando há anos e você diz que não é a prova da minha vida?
Exatamente.

Enquanto você achar que aquela prova é a sua única chance, a cobrança será
extremamente grande, e a probabilidade de você ficar ansioso pela cobrança é
redobrada. Acredite, isso é muito desgastante. Absolutamente ninguém consegue
trabalhar sob pressão.

Em suma, confie em você e no seu tempo. As coisas vão dar certo!

29
"TODO MUNDO QUER O FRUTO DO
CRESCIMENTO, MAS NEM TODOS SE
DISPÕEM AO DESCONFORTO DO
PLANTIO."

30
TENHA UM CRONOGRAMA E FUJA DE MÉTODOS LOUCOS

Ter um cronograma é, sem dúvidas, o pontapé inicial. Eu vou explicar melhor


isso.

Imagine que você decide estudar para o cargo Analista Judidicário, e o edital está
próximo de ser publicado. Ok. Você vai se sentar para estudar de 08h às 12h. Certo. Mas
vai estudar o quê? Como? Por intermédio de quê? PDF? Videoaula? Vai fazer cadernos
próprios?

Se você não tem cronograma, é indiscutível que ficará decidindo o que vai fazer
apenas quando sentar-se. E a verdade é que você vai sentar e não vai fazer
absolutamente nada. Isso tudo porque não teve estratégia, não teve o rumo certo.
Primeiro, certamente não leu o edital anterior ou o edital publicado. Não viu quais
matérias eram as mais importantes. Não fez um cronograma de estudos, etc. Assim é
muito difícil de conseguir mesmo!

Você não pode começar a estudar sem saber o que estudar.

E para montar um cronograma, você não precisa necessariamente de um


professor. Na verdade, você conhece sua rotina melhor que ninguém.

Então vamos lá. Como eu faço um cronograma de estudos?

É a tarefa mais fácil, e você vai precisar sentar com calma para fazer isso. Primeira
abra o Word e faça uma tabela com os dias da semana. Veja sua disponibilidade de tempo
em cada dia e tente organizar o seu tempo de estudo todos os dias, de segunda a sexta
ou de segunda a sábado.

Eu geralmente colocava de segunda a sexta. Na segunda, sempre matérias leves,


disciplinas que me motivassem a estudar, isso porque o primeiro dia de estudo da
semana a gente precisa de um estímulo.

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Eu tenho certeza que você deve estar pensando: Victor, mas quantas horas para
cada matéria?

Aí que está.

Você não deve NUNCA estudar por horas. Não faça um cronograma computando
horas. Mesmo que você tenha apenas 2h por dia, não fique pensando em horas. Você vai
estudar pensando em rendimento.

E como é que estuda pensando em rendimento?

Por exemplo, eu sempre estudei por pontos. É um método que eu encontrei que
funcionava para mim. Imagine que meu cronograma fosse o seguinte:

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

Criminologia Administrativo Processo Penal Difusos ECA

Penal Constitucional Execução Processo Civil Consumidor


Penal

Pronto. Veja que há duas matérias por dia, mas se você tem menos de 3h
disponíveis, recomendo estudar apenas UMA por dia.

Mas voltando…

Na segunda feira, estudando pelo método de estudo por pontos, eu sentava na


cadeira, olhava o meu cronograma na parede e via: CRIMINOLOGIA/PENAL. Eu começava
com Criminologia.

Pegava o meu edital (edital que eu havia impresso do concurso que eu queria) e
começava a estudar um dos pontos daquela matéria. Por exemplo, em criminologia,
segunda feira eu começaria a estudar o ponto “escolas criminológicas”. Não quero saber

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quantas horas eu vou gastar, eu vou estudar o ponto. Se demorar 2h, ótimo. Se demorar
5h, ótimo. Se for muito grande, divido em dois blocos: um hoje, outro depois. Mas não
vou marcar no relógio quanto tempo vou estudar. O estudo não é uma corrida e você
precisa entender isso.

Você também não pode ficar dois dias em um único ponto. Isso porque há pontos
enormes (ex: direito das coisas, em Civil), em que você poderá dividir normalmente, como
por exemplo: hoje vou estudar até condomínio edilício, no próximo dia eu retomo.

Só que você precisa ter o controle para saber aonde parou. Para isso eu usava
post-it.

Veja, portanto, que o cronograma serve para te orientar, ou seja, o que você irá
estudar naquele dia. Mas o ponto exato que você vai estudar não está no cronograma.
Neste caso você deverá ter maturidade de saber o que é mais importante e ir estudando,
inclusive fora da ordem do edital.

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“SEGUNDA FEIRA NÃO É O PRIMEIRO DIA
DA SEMANA. COMECE HOJE!”

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COMO ESTUDAR: VIDEOAULAS OU PDF’S/LIVROS?

Certamente você já fez essa pergunta: por onde estudar? Livro, pdf, videoaula, o
quê?

Olha, é clichê o que eu vou falar, mas é a verdade: só você pode dizer o que é
melhor. No entanto, vou fazer minhas ponderações e você faz uma análise crítica do que
eu vou falar.

Primeiro, eu já estudei por todos os jeitos que você possa imaginar. Fiz muitos
cursos em vídeo, li livros, li pdf, etc. Tudo. E de verdade, o que posso dizer é que dentro
das suas possibilidades, cada um teve sua importância, e eu vou explicar.

Por exemplo, quando estudei para a primeira fase da OAB eu assisti muitos vídeos
de Ética Profissional, que é uma matéria chave para a prova da primeira fase. Quando
comecei a estudar para Tribunais Estaduais também assisti vídeos de português e
informática.

No entanto, quando comecei a estudar para a Defensoria, esqueci os vídeos.


Simplesmente não me adaptei mais, pois sentia que estava perdendo tempo. Primeiro,
porque naturalmente vídeos são mais longos e exigem mais tempo livre. Segundo, é difícil
encontrar um professor que não fique perdendo tempo na hora da aula, e como eu falei,
temo é a moeda mais cara do mundo.

Eu acho que assistir videoaula é uma boa saída em algumas situações, entre elas:
1) se você está começando e quer pegar gosto pela matéria; 2) se você odeia a matéria;
3) se você não consegue aprender a matéria (empresarial, informática, tributário,
português). Em todos esses casos eu aconselho videoaula.

Sobre estudar por livros doutrinários eu preciso fazer alguns apontamentos.

Primeiro, dá para passar em concurso de alto nível sem precisar ler os ditos
“clássicos”. Isso porque muitos cursinhos trazem excelentes resumos (em pdf’s muito

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mais curtos) sobre tudo o que os livros doutrinários falam. Então se a doutrina clássica
fala 280 páginas sobre a teoria do crime, em uma linguagem muitas vezes cansativa, em
20 folhas o cursinho consegue trazer toda a matéria e de forma bem objetiva. Estou
dizendo isso porque fui aluno e tive acesso a inúmeros materiais excelentes.

Dá para passar sem fazer cursinho? Com certeza! Há muita informação gratuita
na internet, você só precisa saber filtrar bem.

Eu, por exemplo, estudei minha vida inteira por sinopses, resumos, pdf’s, e
cadernos. Era muito difícil eu abrir uma doutrina clássica. É exatamente por isso que o
estudo para concurso é diferente do estudo para mestrado e doutorado.

Não tem nenhum problema você estudar por resumos, sinopses, pdf’s, desde que
esteja aprendendo. O seu objetivo é apenas um: aprende para passar no concurso. Se
isso está acontecendo, o que você quer mais?

Em resumo, a minha dica é: matérias consideradas horríveis por você, videoaula


é indicada. Matérias que você ama: sinopse/resumo cai bem!

ESTUDE O SUFICIENTE. SAIA QUANDO PRECISAR. AME SUA FAMÍLIA. SUA


REMUNERAÇÃO NÃO CONSEGUIRÁ TRAZER O TEMPO DE VOLTA.

36
“ESTUDE O SUFICIENTE. SAIA QUANDO
PRECISAR. APROVEITE COM SUA FAMÍLIA.
LEMBRE-SE QUE SUA REMUNERAÇÃO NÃO
CONSEGUIRÁ TRAZER O TEMPO DE VOLTA”.

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UM POUCO SOBRE ACREDITAR

Como você se imagina daqui a 5 anos?

Há cinco anos atrás minha vida era bem diferente da que tenho hoje. Mas não
vou ficar aqui contando todos os detalhes. É importante que você saiba que as coisas na
minha vida nem sempre deram certo.

Durante muito tempo eu ouvi a palavra sorte, sempre que conseguia algo. Você
teve sorte de ser convocado! Você teve sorte de ficar lotado em uma cidade boa. Você
teve sorte de ter passado em um concurso antes de se formar (...)

Até onde eu saiba, sorte é o contrário de azar. Por exemplo, jogos de azar são
aqueles em que não se pode mudar o resultado, nem mesmo por algum talento especial
do jogador. Deixar de ganhar na Mega Sena por causa de 1 dígito, por exemplo, é azar,
porque esse resultado é impossível de ser alterado, mesmo que o jogador possua
inúmeras habilidades com jogo.

Mas se eu passo em um concurso, isso é sorte? Por razões óbvias, não.

Sorte é algo aleatório. A aprovação não vem do nada. Você vai passar em um
concurso e ser nomeado porque você se esforçou, batalhou, foi lá e fez!

Eu dosto muito de uma frase, não sei quem é o autor, que diz o seguinte: “eu
descobri que quanto mais estudo, mais sorte eu tenho”. E é exatamente isso.

Fiz essa digressão toda para falar sobre uma situação que aconteceu enquanto eu
procurava emprego na cidade em que morava, no primeiro semestre do curso de direito.

As coisas não estavam boas, porque a mensalidade da faculdade estava


aumentando e meus pais não estavam conseguindo pagar. E mesmo contra a vontade
deles, decidi procurar emprego.

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Eles não queriam que eu trabalhasse, sob o argumento de que eu estava na capital
para estudar. Mas eu não podia deixar a situação daquela forma.

Me lembro como hoje, fui em uma Lan House (sim, na época existia) imprimir
cerca de 20 currículos, para distribuir pelo centro e Shopping.

Coloquei em todos os tipos de loja que você possa imaginar, sendo que apenas
uma entrou em contato comigo, uma grande empresa de produz roupas em escala
industrial.

- Gostaria de falar com Victor.


- Sou eu, pois não?
- Você tem interesse em trabalhar em nosso setor de telemarketing?
- Tenho!!!!

Por razões óbvias, a resposta foi positiva. Eu não tinha noção de nada de
telemarketing, mas também não tinha medo de aprender. A gente precisa arriscar!

- Então vou agendar o dia de sua prova, certo?


- Certo.
- Vai cair matemática e português, mas bem básico.
- Beleza!

Tudo bem até aí. Eu e meu amigo fomos fazer a prova. Fizemos, eu, ele e mais
umas 100 pessoas. Fiz a prova um pouco molhado, tinha enfrentado uma chuva forte na
parada do ônibus. Mas enfim, fiz a prova e agora é só aguardar, pois a nossa recrutadora
falou que os aprovados receberiam um telefone em até dez dias.

Os 10 dias se passaram, e nada de telefone! O meu amigo que fez a prova comigo
recebeu o telefone, começou a trabalhar e as coisas deram certo para ele. Fiquei feliz
porque ele também estava precisando muito! Ele Começou a trabalhar, inclusive
comprou uma moto. Mas eu não fui aprovado, e aquela era minha esperança de ajudar
meus pais.

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Nossa! Fiquei arrasado!

A sensação que eu tive naquele momento foi a de que eu nunca ia conseguir um


emprego. O que fiz de errado? Ninguém me dava uma oportunidade. Deixei currículos
em grandes supermercados, também sem sucesso.

Confesso que esse momento me deixou muito mal durante certo tempo. Eu
chorei em casa por não conseguir ajudar minha família, mas logo tomei uma decisão: eu
vou estudar de verdade para concurso.

Para mim, só existia essa forma de mudar a minha vida e a da minha família.
Através dos estudos, eu poderia chegar mais longe, já que oportunidade de emprego,
naquele momento, não havia para mim.

A partir daí eu disse para mim mesmo que iria mudar de vida!

Foi necessário que o Victor ali de 2011 enfrentasse tudo aquilo. Se eu tivesse
conseguido o emprego naquela época, o rumo da minha vida certamente teria sido outro.
É por isso que eu acredito muito no destino.

40
“AS COISAS PRECISAM DAR
ERRADO PARA DAREM CERTO”.

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APROVADO NA OAB DUAS VEZES: MAS COMO ASSIM?

Durante a faculdade, uma coisa que eu fazia bastante era dar aula particular a
alguns alunos na véspera da prova. Era uma espécie de revisão! Para isso, eu cobrava um
valor “X”, pois precisava (e eles podiam pagar).

Certa vez, por volta do meio do curso (quinto a sexto período) dei uma aula para
um casal de alunos e estes ficaram de me pagar em um determinado dia. No entanto,
antes do pagamento eu resolvi entregar a eles um boleto para que eles pagassem, em
vez de me pagarem o valor da aula, já que o valor do débito do boleto era equivalente ao
valor que eu havia cobrado das aulas prestadas.

Esse boleto era referente à inscrição no Exame da Ordem, que eu resolvi prestar
para conhecer a prova, considerando o alto índice de reprovação. O boleto foi pago, e eu
agora teria que ir fazer a prova, no meio do curso, sem ter visto a grande maioria das
disciplinas.

Inicialmente fiquei apreensivo e pensei em desistir, afinal de contas eu jamais


estava preparada para aquela prova. Mas aquilo para mim era um novo desafio, e eu
resolvi ir fazer. Sentei, montei um cronograma baseado na alta incidência de
determinados assuntos, foquei no que mais caía, resolvi muita prova anterior, vi aonde
estavam meus erros, e fui fazer a prova.

Após a primeira fase, fui conferir o gabarito. Para minha surpresa, passei. No
entanto, apesar da felicidade, eu me assegurava de que tinha sido “sorte”, porque não
era possível que eu, no meio do curso, tenha conseguido passar em uma prova tão difícil,
com um alto índice de reprovação no Brasil inteiro.

Mas agora tinha a segunda fase, e eu nunca tinha feito uma petição na minha vida.
Foi aí que decidi, humildemente, desistir de ir fazer a segunda fase, considerando que
meu conhecimento prático era zero.

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Segui minha vida, estudando normalmente para faculdade. Acontece que poucas
semanas depois comecei a pensar. Eu estava com medo de falhar. E o que aconteceria se
eu falhasse? Absolutamente nada. Eu não tinha obrigação nenhuma de passar. Foi aí que
decidi ir, mesmo sem ter conhecimento prático.

Como eu coloquei Direito Administrativo na segunda fase, decidi comprar um livro


de peças processuais sobre a matéria, e comecei a estudar. Além disso, assisti muitos
vídeos no Youtube sobre o direito material propriamente dito. Todos os dias eu lia alguma
lei do edital sobre minha matéria, grifando as partes principais. Também resolvi as provas
anteriores.

Fiz a prova.

O resultado, graças a Deus, foi positivo. Minha nota não foi muito boa, mas passei.
É aquele ditado: “quem quase morre, ainda vive”. Eu quase reprovei, mas passei!

O pior é que, como eu estava ainda praticamente no meio do curso, essa


aprovação não serviu de nada. Tudo bem, toquei a vida.

Chegando próximo ao término do curso, tive que prestar novamente, mas agora
valendo! Acontece que, não sei por que, agora eu estava muito mais nervoso. Medo de
dar errado agora.

Mas mais uma vez tive que enfrentar. E eu acho que a vida é assim mesmo, não
podemos nos amesquinhar frente aos nossos medos. Se reprovar, o que é que tem?
Nada. E foi assim que comecei do zero de novo, mais uma vez.

No fim das contas, tudo deu certo novamente, e dessa vez com uma nota melhor.

Essa história é interessante, porque sempre que conto a alguém, as pessoas têm
a equivocada impressão que sou um expert, um aluno extraordinário. Quem constrói a
ponte não conhece o lado de lá, como disse uma vez o poeta. Só nós sabemos das lutas,
ansiedades, frustrações e medos que passamos. Eu sou absolutamente igual a você. O

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que acredito ter feito uma diferença foi a humildade em saber que eu não sabia. Eu tinha
plena convicção que eu precisava aprender, e foi por isso que fui atrás, montei
cronograma, assisti vídeos, imprimi as principais leis, resolvi muitas questões, conversei
com pessoas mais experientes, etc.

É curioso isso, mas muitas pessoas decidem fazer prova e não sentam para saber
quais são suas dificuldades. Algumas decidem estudar apenas aquilo que gosta.

Hoje como professor tenho contato com muitos alunos espalhados pelo Brasil, e
percebo muito que a tendência deles é estudar aquilo que mais gosta, mas aos poucos
vamos mudando! =)

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“UM DIA VAI SER VOCÊ. VÃO TE MANDAR
CENTENAS DE MENSAGENS COM A FOTO
DE SEU NOME NO DIÁRIO OFICIAL. SUA
FAMÍLIA SE ENCARREGARÁ DE CONTAR
AO MUNDO QUE VOCÊ VENCEU! SERÁ
INCRÍVEL!”

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ESTUDAR O QUE NÃO GOSTA É UMA EXCELENTE ESTRATÉGIA

A matéria que eu mais gosto, racionalmente é a matéria que eu mais sei, ou vice-
versa (a matéria que eu mais sei é a matéria que mais gosto). Por outro lado, a matéria
que menos gosto é a matéria que eu menos sei. Pode ser que isso não se aplique a você?
Pode, mas a regra é essa. Qual será o sentido de estudar apenas as matérias que você
gosta, se são justamente as que você menos sabe? Quando eu entendi e aceitei essa
lógica, comecei a aumentar minha pontuação.

A questão é que há uma grande resistência em fazer o que não se gosta. Mas olha,
deixa eu te dizer uma coisa rapidinho: é passageiro. Você vai estudar o que não gosta?
Vai. Mas não é para sempre. Já já você estará fazendo o que ama, mas antes precisa
entender que na vida nem tudo são flores.

Quando eu estudava para Tribunais, tive que reconhecer que não sabia nada de
raciocínio lógico, absolutamente nada. Por exemplo, quem nunca tinha visto nada sobre a
matéria ainda assim sabia mais que eu, de tão ruim que eu era. Eu poderia me enganar e
tentar a sorte nessa matéria, não poderia? Poderia. Mas eu não quis deixar ao sabor da
sorte. Eu queria ir para a prova com confiança. Depender de sorte é muito complicado,
sobretudo para quem estuda de verdade.

Foi aí que sentei e comecei a assistir videoaulas. Respondia inúmeras questões,


errando todas, claro, rs. Mas é assim mesmo. Eu tenho uma teoria de que quanto mais
você erra, melhor está o seu estudo. Aparentemente, algo absurdo, mas é verdade.
Quanto mais você erra, mais você aprende. Isso porque o erro marca! É algo que se aplica
em tudo. Imagine duas situações: a) alguém te presenteia com algum bem material no
seu aniversário; b) Um dia você descobre que essa pessoa mentiu para sobre um assunto
muito importante. Qual dos dois fatos vai ser lembrado por mais tempo? Muito
provavelmente a mentira. Porque o erro marca. Nós temos uma grande capacidade de
lembrar de nossos erros, na busca de tentar evitá-los, e é por isso que quando você erra
uma questão resolvendo-a em casa, acredite, é menos uma errada na sua prova.

46
"INVENTE DESCULPAS PARA
CONTINUAR, NÃO PARA DESISTIR.”

47
MEU PRIMEIRO CONCURSO: A REPROVAÇÃO

O meu primeiro concurso não poderia dar certo, claro. Eu simplesmente me


inscrevi, sem ler direito o edital, e fui. Já comecei errado, pois a tarefa mais básica de
todo concurseiro é ler pelo menos o edital.

Estava logo no início do curso de Direito, e por mais sem noção que possa parecer,
me inscrevi para Analista em Direito, rs. O mais engraçado é que no dia da prova cheguei
bem cedo e acabei conversando com algumas pessoas, e elas sempre me perguntavam
quanto tempo eu já estava formado. Eu, com muita vergonha, só falava que ainda não
tinha concluído ainda a faculdade (faltava apenas 5 anos, mas essa parte eu não dizia, rs).

Esse concurso, por razões óbvias, eu sequer cheguei a ter minha redação
corrigida, mas foi a partir dele que repensei meus estudos. Uma coisa que me ajudou foi
conversar com aprovados, ouvi-los, assisti-los, e seguir algumas coisas básicas que eles
contavam. É claro que nesse mundo dos concursos tem muita gente que falta com a
verdade, mas a gente precisa saber filtrar.

Além do mais, é preciso entender que muitas das coisas que funcionaram para o
seu amigo pode não funcionar para você. É como uma dieta. O seu melhor amigo segue
um plano alimentar X, e muitas vezes se você for segui-lo não dará certo. Por quê? É que
ela foi feita para o seu amigo e não para você. Assim é o estudo para concurso. Não existe
uma fórmula universal, você precisa achar o que funciona com você.

Já que estamos falando do meu primeiro concurso, quero te contar sobre a


importância de começar do zero.

48
“NA MAIORIA DAS VEZES,
COMEÇAR DO ZERO É PRECISO”.

49
A IMPORTÂNCIA DE COMEÇAR DO ZERO

Após a minha primeira reprovação eu repensei melhor minha forma de estudar.


Eu estudava, revisava, mas quando ia para simulados sentia que não avançava. Era como
se existisse um buraco em algumas matérias, tanto nos concursos e nível médio, como
nos concursos.
Será que você não parou para pensar que o que pode estar impedindo sua
aprovação é a formação de uma base? Muitas pessoas saem fazendo cursos de Reta Final,
um após outro, emendando vários editais, e se dá conta que não consegue avançar na
fase objetiva.

É que muito provavelmente está faltando estudo consolidado.

Sabe aquela frase que a gente houve que “quando você começar a passar em um
vai passar em vários”? Na verdade, essa frase guarda relação direta com aquela pessoa
que formou uma excelente base e está conseguindo passar em vários concursos, mas ela
antes reprovou. Em quase 100% das vezes o candidato que é aprovado em um concurso
público hoje, certamente teve a humildade de reconhecer que não sabe. Sentou-se,
aceitou que precisava aprender, e refez o seu caminho.

A HUMILDADE EM RECONHECER QUE NÃO SABE

Um passo determinante para quem quer realmente estudar para concursos é


reconhecer que não sabe de nada. Mas você deve estar se perguntando: “Victor, eu sei
muita coisa, afinal de contas fiz 5 anos de faculdade, além de muito estudo em casa”.

Certo, eu até entendo sua irresignação, mas você precisa aceitar que não sabe
para poder começar do zero. Se eu acho que sou ótimo em português, por exemplo, eu
vou preferir estudar Direito Constitucional, pois “português eu desenrolo”. Esse é um erro
absurdamente comum.

Em provas de Tribunais, por exemplo, o que tira bons candidatos do certame não
são as questões envolvendo Direito, mas português e informática. A pergunta é: por quê?
A resposta é bem simples: desorganização e falta de humildade em aceitar que não sabe.

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Isso não serve apenas para concursos de Tribunais, mas outros tantos concursos
como Defensoria Pública, Ministério Público, Delegado de Polícia, Magistratura, etc. É
preciso ter organização e aceitar que não sabe tudo.

A PRIMEIRA APROVAÇÃO

A minha primeira aprovação foi para Técnico Judiciário do Tribunal de Justiça do


Estado do Ceará, em 2014. No entanto, só fui nomeado dois anos depois, pois não fiquei
nas vagas. Geralmente concursos de Tribunais são bem disputados, e eu realmente
achava que não conseguiria ficar sequer entre os 800, pois apenas estes teriam a redação
corrigida.

Lembro bem que durante dois meses eu me dediquei muito ao certamente. Era
um momento decisivo, e bem perto de casa, motivo pelo qual eu tive que aproveitar a
oportunidade. Mas eu estava no meio da faculdade. Na verdade resolvi arriscar.

Eu fui na contramão de todos, pois foquei mais em português, informática e


legislação estadual (o que englobava regimentos do Tribunal e as Leis Estaduais dos
Servidores Públicos). Eu fiz isso porque já estava estudando Direito há um bom tempo, e
como eu sabia que a maioria dos candidatos ignorava essas matérias de conhecimentos
gerais, resolvi focar nelas (mas é claro, sem esquecer das demais).

Além da prova objetiva teve uma dissertação sobre Licitações, que eliminou muita
gente. Se não me falha a memória, a dissertação exigia que você diferenciasse “tipos” de
“modalidades” de licitação.

Houve também prova de título, mas não pontuei absolutamente nada, pois
realmente estava começando. Eu sei que ao final do certamente eu fiquei na posição 135,
e eram cerca 72 vagas (tenho quase certeza). Com as vacâncias durante o concurso
(aposentadorias, exonerações, etc) me chamaram após 2 anos.

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Mesmo tendo tomado posse, senti que era possível continuar estudando, afinal
de contas eu meio que fiquei viciado em fazer provas. Gostava daquele frio na barriga
que a gente sente quando está com o edital aberto, isso era um desafio legal e eu não
encarava nunca uma prova como sendo a última. Era aquele ditado: se der certo deu se
não der ok, outros vêm aí!

Mas nem só de aprovações vivem os estudantes, não é?

A REPROVAÇÃO NO INSS E A FRUSTRAÇÃO

Antes da posse do Tribunal de Justiça eu permaneci estudando para outros


concursos, afinal de contas eu nem sabia se me chamariam. Acontece que surgiu a
oportunidade de realizar o concurso do INSS para lotação inicial no meu próprio Estado,
e apesar de não gostar muito de Previdenciário, como era exatamente no meu Estado,
além de a instituição pagar bem, eu resolvi prestar.

É importante dizer à época, por eu já ter tido a aprovação no Tribunal, estava um


pouco confiante para a prova do INSS. No entanto, as coisas foram bem como imaginava!

Infelizmente não consegui ser aprovado (nem mesmo classificado) nesse


concurso, o que me deixou muito desmotivado. Mas enfim, essas coisas acontecem e
precisamos ter muita sabedoria para enxergar que em tudo há um propósito. Apesar da
angústia e dos dias que passei desmotivado, voltei aos estudos.

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A APROVAÇÃO PARA ANALISTA E OFICIAL DE JUSTIÇA

Após tomar posse no meu primeiro cargo, permaneci estudando para outros
concursos. No fundo eu sabia que queria Defensoria Pública, mas ainda estava com um
certo receio, pois me sentia um pouco perdido.

No entanto, montei um cronograma com os horários livres que eu tinha, e


continuei estudando. É claro que há dias que a gente não cumpre a meta, mas não
importa. De verdade, no fim das contas o que importa é não desistir. Ninguém cumpre
100% do que planeja. Às vezes a gente fica com umas ideias loucas de que “isso só
acontece comigo”. Esqueça isso. Todo ser humano tem problemas e dificuldades.

Então eu permanecia estudando para Defensoria. Só que havia saído o edital para
o TJ-PE, um concurso que não tinha muito sentido eu fazer, pois a remuneração era
praticamente idêntica ao cargo que eu já ocupava.

Olhei o edital e decidi fazer para dois cargos: analista e oficial de justiça.

A minha decepção era que o edital tinha raciocínio lógico. Eu reconheço minha
deficiência eterna em matéria com número, como falei em outra oportunidade.

Então, o que eu fiz? Isso mesmo, enfrentei. Comprei um curso de Raciocínio


Lógico do Zero, com um conhecido professor. Era a minha esperança. Infelizmente eu
assistia às aulas e ficava absurdamente perdido (lembra da base que falei anteriormente?
Pois é, eu não tinha).

Mas não desisti.

Assistia às aulas (em vídeo, pois com o PDF disponibilizado eu sequer conseguia
entender o que ele estava falando), e logo após comecei a responder questões. Juro por
tudo que você possa acreditar, que para resolver uma questão de Lógica Proposicional eu
demorava 20 minutos e minha resposta não batia com nenhuma alternativa. É nesse

53
momento que as lágrimas escorrem pela caneta Bic. É triste de verdade, meus amigos!
=(

Mas eu não desisti.

Respondi (mesmo errando muito) cerca de 400 questões de Lógica antes da


prova.

Apesar de toda dificuldade, e mesmo sem esperança de sobreviver após duas


provas no mesmo dia em escolas bem distantes, consegui ser aprovado em ambos os
concursos, e de quebra acertei 70% nas questões de Lógica em uma das provas. Eu fiquei
sem reação quando conferi o gabarito com minha esposa, ainda no hotel. Foi muito
engraçado! Como é possível, meu Deus? Na hora eu achei que fosse milagre, mas lembrei
de como eu persisti.

Em suma, antes de desistir, lembre-se que a vida é essa aqui. No fim das contas
você tem o agora para conquistar tudo o que deseja. Aliás, o que tem de errado em
“perder” alguns anos de estudo? Acredite, é melhor “perder” alguns anos e ganhar uma
vida inteira de felicidade fazendo o que gosta, ajudando sua família e tendo uma
qualidade de vida melhor, sem contar em todo o conhecimento adquirido.

A CRIAÇÃO DOS CADERNOS

Eu tenho certeza que você já ouviu alguém falar que a construção do seu próprio
material é uma coisa de suma importância. Eu, por exemplo, ouvi isso muitas vezes, mas
confesso que não dava muita importância, afinal de contas já havia conseguido passar
em alguns concursos sem ter nenhum caderno próprio.

No entanto, quando decidi prestar concursos para Defensoria decidi montar meus
cadernos físicos. Tentei fazer cadernos digitais em Word mas foi uma negação. Eu sentia
a necessidade de ter o caderno físico em minhas mãos.

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Foi aí que comprei mais de mil folhas de papel ofício e dividi em algumas matérias,
encadernando-as em cadernos separados (constitucional, tributário, etc).

Então todos os dias ao estudar determinada matéria a partir de resumos de cursos


ou de livros, eu iria fazendo minhas observações. Foi cerca de 1 ano construindo esse
material, que jamais me arrependo de tê-lo feito, pois notei um ganho de conhecimento
exponencial.

Em outro capítulo vou contar para você como eu os revisava. Mas adianto que
não tinha nada muito certinho. Eu simplesmente ia lendo à medida que aquelas matérias
iam fugindo da minha cabeça. De toda forma, todos os meses eu lia meus cadernos pelo
menos uma vez.

Pois bem.

Eu julgo muito importante ter materiais próprios. Alguns preferem grifar livros e
depois voltar e ler apenas o que grifou. Eu tentei, mas não consegui.

É muito difícil você conseguir ler apenas os grifos de um livro, apesar dessa opção
ser naturalmente mais célere. Pode dar certo? Pode, mas comigo não funcionou. É por
isso que acho muito importante o lance da tentativa e erro. Não há como a gente dizer
que há um método universal. É impossível! A gente tem que ir testando, individualmente,
qual situação se aplica para a gente.

Eu já conversei com alguns alunos que tentaram aceitar alguns métodos de


estudo “goela abaixo”, mas acabaram desistindo de estudar para concurso de uma vez
por todas, sem contar nos problemas psicológicos contraídos em razão de achar que o
problema estava neles e não no método.

Às vezes algumas pessoas me procuram no Instagram me pedindo dicas, e eu


sempre tento ser o mais objetivo possível, porque tenho muito receio de querer impor o

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que deu certo para mim, mas que pode ser uma grande frustração para ela. Não sou e
nem quero ser o dono da verdade, e tudo que deu certo comigo foi por algum motivo.

Um dia fiz uma live no Instagram do CURSO RDP com um colega aprovado na
Defensoria Pública, e perguntei por onde ele resolvia questões objetivas. A resposta dele
foi a seguinte: respondo pelas provas anteriores. Daí eu perguntei se ele utilizava o site
qconcursos.com, e ele disse que já tinha ouvido falar mas nunca usou.

Veja que é quase impossível alguém hoje ser aprovado em um concurso de alto
nível sem responder milhares de questões, sobretudo no qconcursos, que é a plataforma
mais conhecida de todas.

Perceba, portanto, que cada um é cada um. Ele também respondeu que não tem
cadernos próprios.

Tem alguma coisa de errado nisso? Não tem. Ele conseguiu passar em mais de um
concurso para Defensor Público e bem classificado. O problema é que muitas pessoas
escutam esses relatos e querem pegar para si sem fazer nenhum experimento.

Certo Victor, mas então qual a solução?

Olha, é como estou dizendo. Eu sinceramente acho que você deve tentar os dois,
e ver o que te faz render mais. Não vá com o pré-conceito de que criar os seus próprios
materiais vai te fazer perder tempo, etc. Não pense assim. Estudo não se perde.

Lembra que eu reprovei no concurso do INSS para o cargo de técnico? Pois é. À


época eu tinha certeza que Direito Previdenciário não serviria para absolutamente nada
na minha vida, afinal de contas não iria mais prestar nenhum concurso na esfera federal.
No entanto, estudo não se perde. Isso porque depois de muitos anos, ao estudar a
Seguridade Social lá na Constituição, vi que tinha muita facilidade para decorar algumas
coisas, mesmo se tratando de um assunto bem chatinho. A minha facilidade sobre esse
ponto era justamente porque eu havia estudado lá atrás, em 2015. Portanto, o estudo
não se perde, pode acreditar.

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“SE FOSSE FÁCIL ACHAR O CAMINHO
DAS PEDRAS, TANTAS PEDRAS NO
CAMINHO NÃO SERIA RUIM”

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LENDO A LEI DE TRÁS PARA FRENTE

Você deve estar pensando “leitura de trás para frente vai servir de quê, além de
atrapalhar a ordem das coisas”?

Eu vou te explicar!

De tanto fazer prova, percebi que eu sempre iniciava o cronograma do zero. E do


zero, em minha percepção, significava do início mesmo. Portanto, eu começava a ler a
Constituição do art. 1, depois art. 2, depois art. 3, e por aí em diante.

O problema é que tudo no início é fogo de palha! Os dias vão passando e você vai
morrendo aos poucos, com aquela leitura enfadonha. Eu chegava no art.5 da CF/88 e me
deparava com aqueles 77 incisos. Sem dúvidas, aquilo me dava uma preguiça muito
grande, porque eu tinha certeza que já tinha lido aqueles incisos no mínimo 30 vezes.

No dia da prova, a primeira pergunta vem sobre os seguintes pontos: “Índios,


Quilombolas, Cultura e Desporto”. É nesse momento que você pensa: por que eu não li
aquela parte final da Constituição?

Lembre-se que o examinador sabe que quase ninguém lê os assuntos finais de


qualquer Lei, e isso é um prato cheio. Quer outro exemplo? Vamos lá!

Em Direito Civil, quais são os assuntos que você mais estuda? Eu tenho certeza
que você já estudou Parte Geral umas mil vezes, e quase não erra mais questões sobre
Direitos da Personalidade, Domicílio, Emancipação e Decadência.

Agora vou fazer a pergunta ao contrário: quais são os assuntos que você menos
estuda?

Em Direito Civil, eu tenho certeza que sucessões e família. Não ache que isso é
incomum, pois é muito natural.

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Pensando nisso eu comecei a inverter a ordem das coisas, aplicando aquela lógica
matemática de que a ordem dos fatores não altera o produto. E deu certo.

Em Direito Civil, comecei lendo sucessões. Depois voltei com Família, e vim
voltando até Parte Geral. Veja que louco, pois quase nunca chegava em Direito da
Personalidade e no estudo da incapacidade, mas como eu já havia lido esse assunto em
outras tantas oportunidades, acabou compensando.

A DEFENSORIA PÚBLICA

Como falei em outro capítulo, foi a partir do estágio na Defensoria que eu


realmente decidi qual carreira queria seguir. Mas à época eu sentia que a maioria dos
estudantes sentem: a incapacidade de passar em um concurso de alto nível.

Por ser um concurso muito difícil, com diversas fases (objetiva, subjetiva, oral,
títulos) eu acreditava que a aprovação era algo realmente muito distante. Um colega meu
de estágio, hoje Defensor Público, também queria fazer concurso para Defensoria.
Lembro muito das manhãs de estágios, em que às vezes eu fazia o papel de examinador
e fazia várias perguntas para ele, simulando uma prova oral. Era muito engraçado!

É interessante porque naquela época a gente via isso como um sonho muito
distante, na verdade quase inatingível. Na sala de aula da minha faculdade, por exemplo,
eu era o único que queria ser Defensor, pelo menos até onde lembro. Eu via muita gente
falando em prestar concurso para o cargo de Delegado de Polícia e Juiz de
Direito/Federal.

A vida é realmente incrível.

Quem poderia imaginar que hoje, alguns anos depois, eu poderia estar
escrevendo um manual prático para tentar ajudar pessoas a perseguirem no sonho dos
concursos públicos?

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Pois bem.

O estudo para Defensoria Pública conta com algumas disciplinas que não
costumamos estudar na faculdade, a exemplo de Criminologia, Execução Penal, Direitos
Humanos, Jurisprudência Internacional, Difusos e Coletivos, Direito Institucional, entre
outras. E é interessante dizer que essas matérias são cobradas de maneira aprofundada,
exigindo do candidato um determinado nível de conhecimento.

É muito comum que alguns alunos, até mesmo por uma questão de “não ficar
parado sem edital”, façam concursos para outras carreiras. Por exemplo, João estuda
para magistratura estadual (Juiz de Direito), mas saiu o edital da Defensoria Pública, e
para não ficar parado (pois não havia edital da magistratura publicado), ele decide fazer
o da magistratura.

Você pode estar se perguntando: Isso é errado? Eu não costumo dizer que é
errado, pois em uma análise geral não dá para afirmar absolutamente nada. Tudo
depende do seu caso.

Imagine que eu estude apenas para Defensoria Pública de Sergipe, e estou


atualmente “apenas” estudando. Anote-se que a minha família não tem muitas condições
financeiras. Ocorre que foi publicado o edital para Analista do TJ-SE. Sabemos que os
concursos de Tribunais não cobram Direitos Humanos, Criminologia, Direito Institucional,
etc. Ou seja, automaticamente, caso eu me inscreva no concurso do TJ-SE para Analista,
teria que deixar de estudar essas matérias por algum tempo.

O outro detalhe é que em concurso de Tribunais há algumas matérias que não são
cobradas nos concursos de Defensoria, como português, informática, raciocínio lógico,
arquivologia, entre outras.

Isto é, além de ter que não estudar as matérias específica da Defensoria Pública,
teria que estudar outras disciplinas que não guardam relação com o meu concurso fim
(ou seja, a Defensoria).

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Por outro lado, na situação narrada eu certamente faria o concurso por dois
motivos: a) necessidade financeira; b) pelo fato de ser em meu estado.

Acho absolutamente viável prestar outros concursos em alguns casos. A gente


não pode esquecer que nem tudo que nos tira do alvo principal é ruim. Eu digo isso
porque prestei uma prova oral para Defensor Público no mesmo período em que me
casei. Muitas pessoas achavam que eu poderia ter alterado a data, mas eu resolvi
enfrentar. A existência do meu casamento naquele período poderia ter atrapalhado o
meu foco, até porque a prova oral mexe muito com nosso psicológico. Mas eu tinha
certeza que o meu casamento era algo bom e não poderia me atrapalhar. Graças a Deus,
tudo deu certo.

Some-se a isso o fato de que muitas vezes achamos que aquele determinado
concurso é o que você mais deseja em sua vida, quando na verdade não é. Não é você
quem escolhe aonde e quando as coisas darão certo, a própria vida se encarrega disso.

Por exemplo, quando fiz a prova para Defensor Público do Amapá eu encarei
todas as fases com muita seriedade, apesar de todas as dificuldades que tive na época.
Sonhei muito com a aprovação. Deu tudo certo, fui aprovado em todas as fases.

A partir daí passei a sonhar com a posse, pois é sempre assim, os sonhos se
renovam.

Pouco tempo depois a tão sonhada nomeação veio, e foi uma alegria de arrepiar.
Comprei a beca da posse, foi um momento bem feliz. No entanto, por motivos pessoais,
sobretudo familiares, infelizmente não tomei posse, mas permaneci feliz com a minha
escolha.

Apesar de naquele momento muitas pessoas não terem entendido minha decisão,
tudo estava absolutamente claro na minha cabeça e na da minha família. Nesse momento
é preciso que você lembre de quem esteve com você durante a caminhada, pois apenas
essas pessoas precisam de uma resposta de suas escolhas.

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Mais uma vez, lembre-se que a vida se encarrega de tudo.

Cerca de um mês depois eu consegui ser aprovado na Defensoria Pública do


Estado do Maranhão, um concurso muito difícil e que eu tanto queria. Apesar de não ter
ficado em uma boa classificação, foi aprovado em todas as fases e aquilo foi uma resposta
de que tudo tinha que dar certo no momento certo.

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“NÃO É VOCÊ QUE ESCOLHE QUANDO E
ONDE AS COISAS DARÃO CERTO. DÊ O
SEU MELHOR E DEIXE QUE A VIDA SE
ENCARREGUE!”

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A IMPORTÂNCIA E O MITO DAS REVISÕES

Antes falarmos sobre as provas objetivas, subjetivas e orais, eu quero muito


conversar com você sobre a importância e o mito das revisões.

Primeira pergunta: como é que se revisa?

Veja, eu poderia te responder inventando várias coisas, citando a teoria da curva


de esquecimento de Ebbinghaus, que hipotetiza o declínio da retenção de memória no
tempo, ou poderia sair inventando outras tantas situações. Acontece que você iria aplicar
na prática essas formas de revisar e a experiência poderia ser trágica.

Eu digo isso porque eu testei todos esses ciclos de revisão e em todos não obtive
êxito. E sabe de quem é a culpa? Minha. E isso fez com que eu me sentisse frustrado por
não conseguir sequer revisar, me levando a não mais acreditar na minha aprovação.

Perceba que o que eu estou falando não é ciência, é uma experiência minha, e
que certamente já aconteceu com milhares de estudantes.

Certo, então você acha que revisar não é importante? Eu não disse isso.

Revisar é importantíssimo, mas o problema é que há um mito por trás das revisões
para concurso que precisa ser superado. Não é possível que alguém, com 16 disciplinas
para estudar, consiga cumprir um método de revisão linear. Simplesmente não dá.

Eu entendi que não conseguiria revisar com nenhum método, e inventei o meu
próprio método, que vou contar agora para vocês (não é nada demais, vocês vão ver).

Olha, lembra que te falei da construção dos cadernos? Pois é.

Pelo menos uma vez por mês eu lia todos os meus cadernos, mas isso geralmente
acontecia quando sentia que estava esquecendo. Pronto. Esse era meu método de
revisão.

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Mentira. Não é possível!

É claro que é verdade, por que eu iria mentir?

Sendo objetivo, minhas revisões eram feitas assim, e não havia qualquer método
louco. Deu certo comigo? Deu. Vai dar com você? Não sei, mas você pode tentar.

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“O ESTUDO PARA CONCURSO, ASSIM COMO
DIVERSAS COISAS NA VIDA, É FEITO A PARTIR DE
TENTATIVA E ERRO. SE VOCÊ TEM MEDO DE
FALHAR É MELHOR NÃO COMEÇAR”.

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A PROVA OBJETIVA

A prova objetiva dos concursos de carreira jurídica (Promotor, Delegado,


Defensor, Juiz, Procuradores) é geralmente no mesmo nível de dificuldade. Em minha
percepção, não existe isso de “é mais fácil passar em prova para Delegado do que para
Juiz”. Hoje em dia o nível de dificuldade está muito parecido em todos os certames das
carreiras jurídicas.

No estudo para provas objetivas, sobretudo antes do edital, é muito importante


que você saiba o que quer. Como falei em outro capítulo, é possível que você estude para
Defensoria Pública e em razão de uma necessidade, faça outro concurso. Isso não é o
mesmo que não saber o que quer e sair atirando para todos os concursos no Brasil.

Eu, por exemplo, embora estudasse para Defensoria Estadual, fazia outros
concursos para Analista da Justiça Estadual, mas jamais realizei concurso para Justiça do
Trabalho, por exemplo. Primeiro porque não sei absolutamente nada de Direito do
Trabalho, segundo porque nunca tive aptidão com as outras matérias que esse concurso
exigia.

Pois bem. Sabendo o concurso que você quer, você precisa imprimir o edital
passado e entender como foi a prova, as disciplinas, o tempo de prática jurídica exigido,
etc. Não dá para querer começar a estudar para concurso X sem ler os editais passados.

A resolução das provas anteriores à exaustão é talvez a dica mais importante. Se


você estuda para Defensoria, tente responder as provas anteriores, inclusive mesmo
antes de ter estudado aquele determinado assunto. Por exemplo, se você for estudar
hoje a Lei de Falência e Recuperação de Empresas, você vai achá-la completamente chata
e enfadonha, sem dar atenção ao que precisa ser estudado efetivamente.

Por outro lado, se você, antes de ler a Lei de Falência, responder cerca de 15
questões sobre o tema (mesmo que erre todas), sem dúvidas você vai perceber o que

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cai, e ao ler a lei (depois, portanto), conseguirá focar no que é importante. Portanto,
responder questões antes de estudar o assunto é uma dica excelente.

Outra coisa, não deixe para fazer questões apenas um dia. Faça questões todos
os dias. Mesmo no dia que você não estudou nada, se puder responder questões isso já
vai te ajudar bastante.

Em resumo, o estudo para primeira fase deve ser sustentando pelas seguintes
bases: a) sinopse; b) seus cadernos; c) olho atento no edital publicado ou no antigo; d)
leitura dos Códigos, inclusive de trás para frente; e) Leitura das leis especiais (alimentos
gravídicos, drogas, locações, etc); f) resolução de muitas questões;.

Você pode fazer construir o seu material com base em metas ou materiais de
cursinhos, não há nenhum problema. Na verdade, quanto mais objetivo melhor. Não é
preciso perder tempo lendo grandes doutrinas, salvo em situações extremas.

Portanto, esses são os pilares do estudo para primeira fase, lembrando que a
prova preambular da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, não
é objetiva, mas sim discursiva. Entretanto, a regra é a de que as provas preambulares
sejam objetivas.

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A PROVA SUBJETIVA

As provas subjetivas (segunda fase), apesar de difíceis, costumam reprovar bem


menos que a prova objetiva. Vou falar um pouco sobre a segunda fase da Defensoria
Pública, pois não tive experiência com outras segundas fases.

Geralmente as provas subjetivas da Defensoria Pública acontecem em um final de


semana, utilizando-se o sábado e o domingo, mas isso depende de cada Estado. O
candidato precisa fazer, como regra, pelo menos 4 (quatro) questões dissertativas
(Direito Penal, Humanos, Constitucional, Civil, Processos, Difusos, etc) além de uma peça
prática cível e outra peça prática crime, direcionadas à carreira, tudo isso em um pouco
espaço de tempo.

Para ser aprovado para a próxima fase, geralmente o candidato tirar a média
aritmética de pelo menos 5 ou 6 pontos, não podendo zerar ou tirar menos do que X em
algumas disciplinas. Mas alguns estados permitem que o candidato possa zerar
determinada questão, desde que a média total não seja inferior à nota 5 ou 6,
geralmente.

A regra é de que todos os aprovados na segunda fase fiquem classificados para a


prova oral (ou inscrição definitiva). Mas há alguns estados que trazem a chamada cláusula
de barreira, isto é, dos 300 que fizeram a prova discursiva, apenas os 150 primeiros irão
para a oral. Portanto, mesmo que você consiga ser aprovado, se a sua classificação estiver
em um número fora da cláusula de barreira, você não irá para a prova oral.

Agora vou falar sobre como é o estudo para essa fase.

O estudo para segunda fase da Defensoria Pública é baseado em muito treino. É


comum que o candidato, ao chegar nessa fase, fique desesperado sem saber por onde
estudar. Primeira coisa: todo o conhecimento jurídico da primeira fase você aproveitará
para a segunda. Isso quer dizer que não existe um estudo voltado para cada fase, mas
apenas algumas adaptações.

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Por exemplo, na segunda fase você precisa saber estruturar bem uma peça
processual, sobretudo aquelas mais afetas à prática, como é o caso da ação civil pública
em direito civil e resposta à acusação em direito penal. Então o treino fará com que você
perceba inúmeros detalhes sobre cada peça, como preliminares, teses de mérito e
estruturação formal de cada peça.

Já no que se refere ao conhecimento jurídico, você estudará para segunda fase


com o mesmo material da primeira. É aqui que muitos alunos percebem a importância
que tem os cadernos feitos por eles mesmos.

O intervalo entre a primeira e a segunda fase é em média de 1 a 2 meses, portanto


completamente inviável que você estude por doutrina, livros ou videoaula durante esse
tempo. É humanamente impossível.

Costumo dizer que seus cadernos valem para todas as fases do certame, por isso
que a sua construção não é “perda de tempo”.

Outro detalhe é o tempo de prova.

Quase sempre a banca dá o tempo de 4 a 5 horas para se fazer 4 questões e as


peças processuais. É muito pouco tempo, sobretudo porque você precisa consultar o
Vade Mecum para encontrar o fundamento legal das suas teses.1

1Na prova para Defensor Público do Estado do Maranhão, em 2018, não foi permitida a utilização de
consulta. A regra, no entanto, é que a segunda fase seja feita com a utilização apenas do Vade Mecum.

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A PROVA ORAL

A prova oral, sem dúvidas, é a mais temida por todos os candidatos. Inclusive há
pessoas que deixam de fazer um concurso em razão da existência da prova oral, pois
acreditam que jamais seria aprovado.

É realmente um momento tenso, pelo menos aparentemente, isso porque é a


primeira vez que o examinador te olhará nos olhos. Perceba que nas duas fases anteriores
(prova objetiva e prova subjetiva) ele verificou se você tinha ou não conhecimento
jurídico. Na prova oral, apesar de o conhecimento contar, ele não é o mais importante.

Isso mesmo.

É que além do conhecimento jurídico, outros quesitos são pontuados, como


postura, vernáculo, desenvolvimento do raciocínio, etc. Isso quer dizer que mesmo que
você não acerte a pergunta feita, você poderá pontuar. É claro que se você ficar
absolutamente calado, ou disser que “não se recorda”, será impossível que ele
(examinador) atribua qualquer ponto à sua arguição, por mais que ele queira ajudar.

Em contrapartida, a boa notícia é que embora a prova oral seja muito temida, de
acordo com as estatísticas, ela é a que menos reprova. O percentual de pessoas que
reprovam na prova oral é muito baixo.

A duração das provas orais para Defensor Público é em média de 8 a 12 minutos


para cada examinador, sendo geralmente 4 examinadores (às vezes um mesmo
examinador fica responsável por 3 ou 4 disciplinas).

Importante lembrar que diferente das provas orais para magistratura, a prova oral
para Defensor Público não tem sorteio do ponto com 24h de antecedência, ou seja, o
ponto é sorteado na hora, e você não tem ideia do que pode ser, indo desde Direito Penal
Militar a Filosofia do Direito, como foi na minha última prova oral.

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Alguns certames enxugam bastante a quantidade de disciplinas na prova oral,
deixando apenas 6 ou 7. No entanto, tanto na oral da DPE-AP como na DPE-MA, as minhas
duas provas orais foram com base em todas as matérias do Edital, não havendo limitação
prévia de determinadas matérias.

Sobre o funcionamento da prova, é importante dizer que ela acontece geralmente


nos finais de semana, a depender da quantidade de inscritos, mas cada pessoa é arguida
em apenas um dia. A divisão dos dias de cada candidato é geralmente feita em ordem
alfabética. Como meu nome inicia na letra “V”, eu sempre ficava nos últimos dias.

A abordagem das provas orais feitas pela CESPE/CEBRASPE é bem diferente das
provas feitas pela FCC. Primeiro, nas provas orais CESPE são as mesmas perguntas para
os mesmos candidatos que estiverem no mesmo turno, diferente da FCC. Segundo, na
banca CESPE as perguntas podem ser lidas por você em voz alta ou em silêncio, pois são
entregues em uma folha, e você inicia a resposta enquanto o cronômetro marca o tempo.
Na FCC o examinador pergunta o número do seu ponto sorteado, e você diz, por exemplo,
o ponto 18. Ele abre um caderno com o ponto 18 em Direito Civil (por exemplo), e diz:
“seu ponto é direito de superfície, fale sobre o direito de superfície por cisão”. Ou seja, a
pergunta ele faz na hora e sobre o que ele achar pertinente.

Saiba que quando você souber que está na prova oral, é crucial que treine
diariamente com seus colegas, um arguindo o outro, simulando uma prova oral. Você
precisa acreditar estar diante daquela situação, simulando inclusive perguntas que você
não tem nenhuma ideia de como responderia.

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““VOCÊ VAI CHEGAR À PROVA ORAL, É SÓ UMA
QUESTÃO DE TEMPO. NÃO SE PREOCUPE COM
ELA AGORA. CONTINUE FIRME NOS ESTUDOS!”

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A SUA VIDA VALE MAIS QUE A PROVA

Chegamos ao último capítulo desse pequeno manual. Se você chegou até aqui,
espero que tenha sido de grande valia, pois aposto que o seu tempo é bem precioso.

Antes de finalizar, não poderia deixar de falar sobre isso. É preciso deixar claro que
concurso nenhum vale mais que sua vida ou sua saúde mental. Eu consegui meus
objetivos sem deixar de viver. Mesmo que em algum momento eu tenha tido uma fase
de isolamento, isso não me impedia de tocar violão, de tomar uma cerveja, de conversar
com amigos, ou de sair aos finais de semana.

Tudo na vida é equilíbrio.

Uma premissa básica para conseguir uma dieta com êxito, por exemplo, é não beirar
o radicalismo. Imagine que você tem o hábito de comer pão todos os dias, mas de uma
hora para outra você decide comer apenas vegetais. Salvo raríssimos casos, é muito
improvável que você consiga manter essa alimentação por muito tempo.

Assim são os estudos para concurso, você precisa ter equilíbrio. Faz muito bem ter
um momento de lazer. Não adianta estudar para concurso e quando assumir ter apenas
um salário, sem amigos e sem saúde. Valorize quem está com você!

Espero que esse pequeno manual possa te ajudar, pois fiz com muito carinho,
abdicando de momentos com família e amigos, na tentativa de ajudar cada um de vocês.

Um abraço,

Victor Linhares.

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