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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000548739

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1060500-56.2022.8.26.0224, da Comarca de Guarulhos, em que é apelante MAGALI
DA CRUZ DOS SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado NU PAGAMENTOS
S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 21ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores PAULO ALCIDES


(Presidente sem voto), FÁBIO PODESTÁ E RÉGIS RODRIGUES BONVICINO.

São Paulo, 30 de junho de 2023.

DÉCIO RODRIGUES
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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VOTO Nº: 18277


APELAÇÃO Nº: 1060500-56.2022.8.26.0224
COMARCA: GUARULHOS
APELANTE: MAGALI DA CRUZ DOS SANTOS
APELADO: NU PAGAMENTOS S/A

APELAÇÃO. Ação de restituição de


valor cumulada com reparação de
dano moral. Golpe no Whatsapp.
Operação via Pix. Pedido de bloqueio
cautelar, nos termos da Resolução BCB
n° 147, de 28 de setembro de 2021, que
alterou o regulamento anexo à
Resolução BCB nº 1, de 12 de agosto de
2020, que disciplina o funcionamento do
arranjo de pagamentos Pix, em seu
artigo 39-B. Suspeita de fraude. Inércia
da instituição financeira.
Responsabilidade objetiva. Falha na
prestação de serviços. Dano moral
indenizável cabível. Quantum que deve
ser fixado dentro do princípio da

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razoabilidade. Reforma da r. sentença.


Recurso provido.

Cuida-se de apelação respondida e bem


processada por meio da qual quer ver, a parte autora, reformada
a r. sentença de fls. 162/165, cujo relatório se adota, que julgou
improcedente a presente ação e a condenou ao pagamento de
custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados
em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, respeitada a
gratuidade.

Sustenta, a parte autora, em apertada


síntese, existência de ato ilícito a ensejar em responsabilidade
civil, pelo o que pleiteia indenização por danos materiais e
morais.

É o relatório.

O recurso merece prosperar.

Para bem situar os contornos da lide, insta


consignar que a autora Magali Da Cruz Dos Santos ajuizou
presente ação de indenização por danos materiais e morais em
face de NU Pagamentos S.A. alegando, em síntese, que verificou

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uma possibilidade de aquisição de veículo para seu filho e, após


vistoriar o bem, transferiu de sua conta mantida com a parte
requerida o valor de R$ 3.500,00 para a conta indicada pelo
vendedor via PIX. Logo depois verificou que se tratava de golpe.
Tentou recuperar o dinheiro, mas não obteve êxito. Pleiteia a
restituição dos valores e indenização por dano moral.

As questões de direito relevantes para o


deslinde do feito consistem: verificar falha na prestação de
serviço a cargo do Banco réu, a produção de dano e sua extensão
à autora e o nexo de causalidade que os relacione, com vistas ao
reconhecimento da responsabilidade civil, à luz do ordenamento e
da jurisprudência.

Assiste razão à parte autora.

A parte autora, em suas razões iniciais,


imputa ao banco réu falha na prestação de serviço ao argumento
de que lhe cabia o dever de evitar o dissabor por ela vivido, visto
que, tendo ciência do ocorrido, teria tempo hábil para estornar o
valor.

Pois bem.

Como é cediço, para configuração da


responsabilidade do prestador de serviço, no âmbito da relação
consumerista, mister estejam presentes os elementos contidos no
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art. 14, § 1° do Código de Defesa do Consumidor, segundo o


qual: “O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança
que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o
modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que
razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi
fornecido.”

Partindo-se da referida premissa, para que


se possa aferir a propalada responsabilidade imputada ao réu,
necessário se perquirir acerca da exigibilidade de conduta diversa
daquela tomada pela instituição financeira demandada.

Nesse contexto, tem-se que a forma de


pagamento PIX é “o meio de pagamento criado pelo Banco
Central (BC) em que os recursos são transferidos entre contas
em poucos segundos, a qualquer hora ou dia.” (1 O que é Pix?
Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/pix
acesso em 14/03/2022.)

A partir de então, a facilidade do referido


meio de pagamento atraiu a atenção de fraudadores que, pela via
de aplicativos de mensagens, têm se utilizado do malicioso
expediente de se passar por pessoas do ciclo de convívio das
vítimas visando à captação indevida de recursos, com suporte na

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confiança interpessoal depositada.

Da regência normativa do referido


instrumento de pagamento, cuja observância se faz cogente às
instituições financeiras do Sistema Financeiro Nacional (SFN), se
destaca, para análise do caso em testilha, a Resolução BCB n°
147, de 28 de setembro de 2021, que alterou o regulamento anexo
à Resolução BCB nº 1, de 12 de agosto de 2020, que disciplina o
funcionamento do arranjo de pagamentos Pix.

Dispõe em seu art. 39-B que:

“Os recursos oriundos de uma transação


no âmbito do Pix deverão ser bloqueados
cautelarmente pelo participante prestador
de serviço de pagamento do usuário
recebedor quando houver suspeita de
fraude.

§ 1º A avaliação de suspeita de fraude


deve incluir:

I - a quantidade de notificações de
infração vinculadas ao usuário recebedor,
à sua chave Pix e ao número da sua conta
transacional;

II - o tempo decorrido desde a abertura da


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conta transacional pelo usuário


recebedor;

III - o horário e o dia da realização da


transação;

IV - o perfil do usuário pagador, inclusive


em relação à recorrência de transações
entre os usuários;

§ 2º O bloqueio cautelar deve ser efetivado


simultaneamente ao crédito na conta
transacional do usuário recebedor.

§ 3º O participante prestador de serviço de


pagamento deverá comunicar
imediatamente ao usuário recebedor a
efetivação do bloqueio cautelar.

§ 4º O bloqueio cautelar durará no


máximo 72 horas. [...]”

No caso dos autos, não restou


demonstrada, pela instituição financeira, que tivesse tomado as
condutas que lhe são normativamente impostas, conforme prevê a
disposição contida no § 9º do citado art. 39-A da norma em
comento, a qual expressamente prevê que: “O usuário recebedor

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poderá solicitar a devolução do Pix em montante correspondente


ao valor da transação original enquanto os recursos estiverem
cautelarmente bloqueados.”

Assim, tem-se que a falha na prestação do


serviço do banco réu não se encontra obviamente lastreada no
ilícito do qual sequer participou, mas por não ter comprovado o
bloqueio cautelar normativamente previsto diante da pronta
notícia da fraude levada a efeito pela parte autora, tampouco
comprovou nos autos o resultado da análise acerca do ocorrido,
de modo que a prestação de serviço mostrou-se, de fato, eivada de
falhas.

Da situação exposta, pois, deflagrando a


evidente fraude levada a efeito, incumbe-lhe o dever de restituir o
valor integral da operação realizada no importe de R$ 3.500,00.

No tocante ao dano moral postulado,


assiste razão, em parte, à autora.

Isso porque a aflição por ela vivida


decorreu, em grande parte, da iniludível prática de conduta
fraudulenta de terceiros, especialmente agravada pela falha na
prestação de serviço do banco réu, ladeada da ausência de cautela
por parte da própria parte autora ao não se cercar de elementos
minimamente seguros a proceder ao pagamento/transferência

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solicitados.

Ora, como é de conhecimento da


instituição financeira, bem assim de toda a sociedade, a reiterada
prática de fraudes mediante o artifício utilizado no caso dos autos
demanda acautelamento no uso da ferramenta em voga por todos,
de modo a evitar que situações análogas se concretizem em
prejuízo de todos.

No contexto dos autos, ademais, se de um


lado o banco réu deixou de tomar as providências que lhe cabiam
para atenuar o dissabor vivido pela parte autora, ela mesma, a
despeito da solicitação de bloqueio cautelar feita junto ao réu,
bem como à autoridade policial, poderia ter se utilizado de
ferramenta posta à sua disposição no próprio ambiente de
pagamento em que acessou o serviço, lançando mão da
ferramenta conhecida como (MED), ou seja, Mecanismo Especial
de Devolução, através de link próprio.

Assim, se de um lado não pode o réu furtar-


se de sua responsabilidade por não ter tomado eficazmente as
medidas internas para evitar o êxito da fraude cometida por
terceiros, sobreleva tomar em consideração a ausência de
acautelamento por parte da autora, de cuja postura germinou, nos
fraudadores, a expectativa de sucesso concretizado no golpe

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aplicado.

A partir de então, cumpre adentrar à


apreciação do pedido de indenização por danos morais acerca do
qual é forçoso admitir que, na espécie, incide a postulação de que
trata a Teoria da Causalidade, atenuante lógica do nexo que a
estabelece, pela presença de concausas nas quais contribuíram os
envolvidos na deflagração do evento danoso, francamente
adotada pelo Código Civil que, em seu art. 945, assim estabelece:
se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a
sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua
culpa em confronto com a do autor do dano.

A propósito, bem ensina Flávio Tartuce


que: “Existem várias teorias justificadoras do nexo de
causalidade, muitas já discutidas no âmbito penal. A partir da
doutrina de Gustavo Tepedino (27) e Gisela Sampaio da Cruz,
(28) três delas merecem destaque e aprofundamentos: (...) b)
Teoria da causalidade adequada teoria desenvolvida por Von
Kries, pela qual se deve identificar, na presença de uma possível
causa, aquela que, de forma potencial, gerou o evento dano. Por
esta teoria, somente o fato relevante ao evento danoso gera a
responsabilidade civil, devendo a indenização ser adequada aos
fatos que a envolvem, mormente nas hipóteses de concorrência
de causas. Essa teoria consta dos arts. 944 e 945 do atual Código

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Civil, sendo a prevalecente na opinião deste autor. Nesse sentido,


o Enunciado n. 47 CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil (...)”
(Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. 4. ed.
rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2014).

Assim, no caso dos autos, a ausência de


cautela da parte autora contribuiu para o dissabor por ela vivido, o
que deve ser considerado na gradação do dano produzido.

Feitas tais ponderações, cabe dimensionar


a reparação do dano.

Convém ressaltar, a priori, o quanto


preleciona o ilustre jurista Orlando Gomes, retratando a dupla
função da reparação ínsita aos danos morais, de expiação, em
relação ao culpado, e de satisfação, em relação à culpa,
ressalvando serem tão somente compensáveis:

“Dano moral é, portanto, o


constrangimento que alguém experimenta
em consequência de lesão em direito
personalíssimo, ilicitamente produzida por
outrem. (...) Observe-se, porém, que esse
dano não é propriamente indenizável,
visto como indenização significa

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eliminação do prejuízo e das


consequências, o que não é possível
quando se trata de dano extrapatrimonial.
Prefere-se dizer que é compensável. Trata-
se de compensação, e não de
ressarcimento. Entendida nestes termos a
obrigação de quem o produziu, afasta-se a
objeção de que o dinheiro não pode ser o
equivalente da dor, porque se reconhece
que, no caso, exerce outra função dupla, a
de expiação, em relação ao culpado, e a
de satisfação, em relação à culpa”. (in
“Obrigações”, 11ª ed. Forense, pp.
271/272).

Quanto à necessidade de comprovação,


importante notar que a caracterização do dano moral decorre da
própria conduta lesiva, sendo aferido segundo o senso comum do
homem médio (“in re ipsa”), conforme leciona Carlos Alberto
Bittar:

“(...) na concepção moderna da teoria da


reparação dos danos morais prevalece, de
início, a orientação de que a
responsabilização do agente se opera por

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força do simples fato da violação (...) o


dano existe no próprio fato violador,
impondo a necessidade de resposta, que
na reparação se efetiva. Surge “ex facto”
ao atingir a esfera do lesado, provocando-
lhe as reações negativas já apontadas.
Nesse sentido é que se fala em “damnum
in re ipsa”. Ora, trata-se de presunção
absoluta ou “iure et de iure”, como a
qualifica a doutrina. Dispensa, portanto,
prova em contrário. Com efeito corolário
da orientação traçada é o entendimento de
que não há que se cogitar de prova de
dano moral.” (in “Reparação Civil por
Danos Morais”, Editora Revista dos
Tribunais, 2ª Ed., pp. 202/204).

O dano simplesmente moral, sem


repercussão no patrimônio, não há como ser provado. Ele existe
tão-somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo o bastante
para justificar a indenização. (RT 681/163).

Tampouco podendo-se alcançar uma


conclusão em sentido contrário pela via interpretativa (com base
e.g. na vedação ao “dano punitivo” cuja distinção relativamente

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ao dano moral é patente na doutrina e jurisprudência pátrias), data


venia, eventual entendimento diverso.

Pois bem.

De fato, é inconteste que houve falha da


parte apelante na medida em que se quedou inerte à solicitação
da parte autora de bloqueio cautelar de Pix em razão da suspeita
de fraude, de modo que se aplica o Código de Defesa do
Consumidor e conclui-se pela responsabilidade objetiva da
instituição financeira.

O artigo 14 do Código de Defesa do


Consumidor dispõe expressamente que “o fornecedor de
serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos”.

Responde, assim, o réu pela falha na


prestação de seus serviços, de modo que a autora tem direito à
indenização pelos danos morais e materiais suportados.

No tocante ao “quantum” indenizatório,


cabe ao juiz o arbitramento do valor da indenização, e os
parâmetros a serem observados, na lição de MARIA CELINA
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BODIN DE MORAES, são: o grau de culpa do ofensor; a


extensão do prejuízo ou a intensidade do sofrimento da vítima;
a situação econômico-financeira das partes (“Danos à Pessoa
Humana”, Ed. Renovar, 2003, pp. 275-310). Acrescente-se
ainda, como balizamento geral, a observância dos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.

A propósito, ensina SERGIO


CAVALIERI FILHO que “após a Constituição de 1988 não
há mais nenhum valor legal prefixado, nenhuma tabela ou
tarifa a ser observada pelo juiz na tarefa de fixar o valor da
indenização pelo dano moral, embora deva seguir, em face do
caso concreto, a trilha do bom senso, da moderação e da
prudência, tendo sempre em mente que se, por um lado, a
indenização deve ser a mais completa possível, por outro, não
pode tornar-se fonte de lucro indevido (...) o juiz não pode se
afastar dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, hoje tidos como princípios constitucionais”
(“Programa de Responsabilidade Civil”, Ed. Malheiros, 5ª
ed., 2003, p. 109).

Porém, como bem observa ANTONIO


JEOVÁ SANTOS, no arbitramento da indenização “O limite a
ser observado é que o montante jamais seja excessivo a tal
ponto de parecer que houve indevido enriquecimento em

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detrimento do patrimônio do ofensor” (“Dano Moral


Indenizável”, Ed. Forense, 4ª ed., 2003, pp. 161-162),
lembrando MARIA CELINA BODIN DE MORAIS que “a
satisfação pecuniária não pode produzir enriquecimento à
custa do empobrecimento alheio” (ob. cit., pp. 276-277).

Consideradas as circunstâncias do caso


concreto e os parâmetros acima referidos, entende-se,
pretorianamente, que o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) é
razoável para reparação a título de danos morais, pois “a
reparação pecuniária do dano moral tem duplo caráter:
compensatório para a vítima e punitivo para o ofensor. Ao
mesmo tempo que serve de lenitivo, de consolo, de uma espécie
de compensação para atenuação do sofrimento havido, atua
como sanção ao lesante, como fator de desestímulo, a fim de
que não volte a praticar atos lesivos à personalidade de
outrem” (CARLOS ROBERTO GONÇALVES.
RESPONSABILIDADE CIVIL. 7ª edição. Ed. Saraiva.2002.
pág. 566.)

De rigor, portanto, a reforma da r.


sentença para condenar a parte ré a restituir o valor do PIX de
R$ 3.500,00, com atualização monetária contada da data do
desembolso, calculada pela Tabela Prática desta Corte até a
citação, quando passarão a incidir juros de mora de 1% (um por

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cento) ao mês; e em indenização por danos morais no valor de R$


10.000,00 (dez mil reais), acrescido de correção monetária fixada
pela tabela prática do Tribunal de Justiça de São Paulo a partir
desta data e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês contados
desde o evento danoso (Súmula 54 do STJ).

Com o resultado do presente recurso, a


sucumbência será de responsabilidade da parte ré, que arcará
com o pagamento de custas e despesas processuais, bem como
com o pagamento de verba honorária fixada na r. sentença.

Pelo exposto, pelo meu voto, é dado


provimento ao recurso, com a imposição acima.

DÉCIO RODRIGUES
Relator

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