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AO DOUTO JUÍZO DO __ JUIZADO ESPECIAL DE CEILÂNDIA/DF.

QUALIFICAÇÃO DAS PARTES


AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS

Em face de BRADESCO S/A. inscrito no CNPJ sob o nº


60.746.948/0001-12, com sede na Cidade de Deus, 4º Andar do Prédio Novo, CEP
06.029-900, Vila Yara, Osasco/SP, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

I – DOS FATOS:

II- DO DIREITO:

a) DA APLICAÇÃO DO CDC (DA RESPONSABILIDADE


OBJETIVA E DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA):

É indiscutível a caracterização da relação de consumo entre as partes,


sendo o Requerido prestadora de serviço e, portanto, fornecedora nos termos do artigo
3º do Código de Defesa do Consumidor. O Autor é parte consumidora de acordo com o
conceito previsto no artigo 2º do mesmo diploma.

Em se tratando do Código de Defesa do Consumidor, este adota como


regra a responsabilidade objetiva, dispensando qualquer comprovação de culpa,
restando presente a ação ou omissão cominada com o dano e o nexo de causalidade. O §
2º do artigo 3º diz que:

serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.

Levando em consideração a regra de que a prova incumbe a quem alega,


o Requerente é pessoa hipossuficiente conforme aduz o artigo 4º, inciso I, do CDC. O
encargo de provar deve ser revertido a Ré, por sere menos vulneráveis na relação
consumerista conforme ressalta o artigo 6°, incisos VI e VIII, do CDC, in verbis:
“Art.6º “São direitos básicos do consumidor:
(...) VI. a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos;
(...) VIII. a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com
a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências; (...)”

Nos termos do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor, a


transferência de valores a terceiro desconhecido sem o consentimento e/ou
autorização do Requerente é de responsabilidade civil objetiva, sem a necessidade
de comprovação de dolo ou culpa, bastando tão somente a demonstração de:

• Ofensa ao direito da parte demandante (ato ilícito);


• Prejuízo, consubstanciado nos danos sofridos (dano);
• Nexo de causalidade entre o ilícito praticado pelo demandado e o sofrido pela
suplicante (nexo causal).

Ou seja, houve latente falha na prestação de serviço da casa bancária,


fato que, em decorrência do ato, ocasionou diversos danos ao Requerente. Em razão da
inversão do ônus da prova, da impossibilidade de produzir prova negativa, bem como
pela improbabilidade lógica de o consumidor provar a inexistência da realização da
operação financeira questionada na exordial, deve a parte Requerida demonstrar o
alegado caso fundamente sobre a regularidade das operações.

Ademais, há de se considerar que nos casos de falha de


prestação nos serviços a responsabilidade do prestador de serviços é objetiva,
nos termos do art. 14, do CDC.

Por fim, por se tratar de relação de consumo, cabe ao demandante


escolher o local de ajuizamento da ação e, portanto, decidiu por acionar a casa
bancária no fórum de seu domicílio.

B) DO RISCO DA ATIVIDADE:

Os bancos devem valer-se de medidas de segurança mais eficazes


para impedir fraudes corriqueiras no mercado financeiro. O Requerido deveria
possuir mecanismos de prevenção em caso de suspeita de crime, como bloquear
as quantias transacionadas sem a possibilidade de levantamento pelo recebedor
até a colheita de informações diretas com o pagador.

Ainda mais, por se considerar que o vínculo existente entre o


requerente e o requerido é diferenciado, tendo em vista que faz o pagamento
mensal de quantia superior para ter um tendimento diferenciado do requerido, o
que não ocorreu no presente caso.
A responsabilidade pela ocorrência de eventual fraude é da parte
Ré, pois o risco advém de sua própria atividade lucrativa, cabendo a ela
desenvolver mecanismos para evitá-la.

Relator(a): Melo Colombi Comarca: Santo André Órgão


julgador: 6ª Câmara Extraordinária de Direito Privado Data do
julgamento: 04/09/2014 Data de registro: 04/09/2014 Ementa:
*FATO DO SERVIÇO. OPERAÇOES FRAUDULENTAS EM
CONTA CORRENTE. RESPONSABILIDADE DO
FORNECEDOR. DANO MATERIAL E MORAL. PROVA.
ARBITRAMENTO.
1. Negando o cliente a realização das operações impugnadas,
caberia ao banco demonstrar a sua lisura. Ônus do qual não se
desincumbiu. Não se poderia exigir do ciente a demonstração de
fato negativo (que não foi ele ou alguém sob seu comando,
quem promoveu as movimentações questionadas). A omissão
do banco fez prevalecer a tese de fraude.
2. Apesar de não ter havido abalo ao crédito, a subtração
fraudulenta de recursos financeiros de conta bancária causa
preocupações, nervosismos e outros sintomas causadores de
abalo psíquico indenizável.
3. No arbitramento do dano moral devem ser observadas as
circunstâncias da causa, a capacidade econômica das partes e o
duplo propósito da condenação: reparatório e pedagógico. 3.
Recursos parcialmente providos. [Grifo nosso].
A insituição bancária não forneceu elementos de quem seja o
terceiro que se beneficiou dos valores; apesar de requisitado
junto ao protoloco.

C) Dos deveres das instituições aderidas ao Pix (Resolução BCB nº 1, de 12 de


agosto de 2020.

A Resolução BCB 1, instituiu o arranjo de pagamentos Pix e por


meio dela a Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil, em sessão realizada
em 6 de agosto de 2020, com base no art. 10, inciso IV, da lei 4.595, de 31 de
dezembro de 1964, no art. 10 da lei 10.214, de 27 de março de 2001, nos arts.
6º, 7º, 9º, 10, 14 e 15 da lei 12.865, de 9 de outubro de 2013, na Resolução nº
4.282, de 4 de novembro de 2013, no Comunicado 32.927, de 21 de dezembro
de 2018, e no Comunicado 34.085, de 28 de agosto de 2019, resolveram:

Art. 32. Os participantes do Pix devem:


II - zelar pela imagem, a integridade e a segurança do Pix;

V - responsabilizar-se por fraudes no âmbito do Pix decorrentes de falhas nos


seus mecanismos de gerenciamento de riscos, compreendendo a
inobservância de medidas de gestão de risco definidas neste Regulamento e
em dispositivos normativos complementares; (Redação dada, a partir de
28/9/2021, pela Resolução BCB 147, de 28/9/21, produzindo efeitos a partir
de 16/11/2021.)
VII - utilizar as informações vinculadas às chaves Pix para fins de segurança
do Pix, de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 59, como um dos fatores a serem
considerados para fins de autorização e de rejeição de transações no âmbito
do Pix. (Incluído, a partir de 28/9/21, pela Resolução BCB 147, de 28/9/21,
produzindo efeitos a partir de 16/11/2021.)

VII - Dos procedimentos das instituições aderidas ao Pix, quanto a


Autorização de iniciação e rejeição das transações (Resolução BCB nº 1, de
12 de agosto de 2020.

Nos termos do art. 36 da Resolução BCB 1, "uma transação no âmbito


do Pix é considerada autorizada, para fins de iniciação, quando o participante
prestador de serviço de pagamento do usuário pagador, após realizar as devidas
verificações de segurança (...)".

Veja que a questão de segurança é tratada de forma


muito afirmativa, inclusive, a normativa citada impõe expressamente
às instituições financeiras o dever de rejeitar o pagamento quando
houver situações de fundada suspeita de fraude (art. 38, II, art. 38-A4
e art. 39, I, Resolução BACEN 1/20).

Assim, os recursos originados do Pix, devem ser cautelarmente


bloqueados pela instituição financeira do usuário recebedor quando houver
suspeita de fraude. (Art. 39 B da BCB nº 1/2020).

Veja que o sistema Pix deve operar como um sistema antifraude,


e a ocorrência de fraude é motivada pelo negligenciamento por parte das
instituições financeiras em ofertar ao consumidor a segurança do sistema.
Assim, as instituições financeiras no afã de aumentarem seu volume de lucro,
ignoram de forma omissiva os motores antifraudes que permitiriam identificar e
bloquear as transações atípicas, gerando insegurança e fragilizando o sistema,
facilitando a ação de marginais estelionatários e vitimando o consumidor.

Os valores de Pix, que forem bloqueados cautelarmente pela


instituição financeira do usuário recebedor, quando houver suspeita de fraude,
deve ser devolvido ao usuário pagador nos termos do Mecanismo Especial de
Devolução - MED de que trata a Seção II do Capítulo XI da referida BCB 1/20.

Assim, nos termos do art. 41 B, o MED se configura como um


conjunto de regras, procedimentos operacionais com objetivo de viabilizar a
devolução de um Pix nos casos de fundada suspeita de fraude, ou mesmo
quando se verifique falha operacional do sistema.

A inoperância desses sistemas de controle é de


responsabilidade das instituições financeiras que causarem prejuízo aos
consumidores, gerando o dever por meio da responsabilidade objetiva em
indenizar o consumidor por falha na prestação do serviço.
D) DO PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS -
EXPOSIÇÃO DO CONSUMIDOR A VEXATÓRIA PEREGRINAÇÃO A
FIM DE SOLUCIONAR A CONTROVÉRSIA:

Excelência, os atos praticados pelo Requerido trouxeram e ainda


trazem latente prejuízo ao Requerente; primeiramente, por terem sido
despendidas quantias de sua conta bancária, via pix, para destinatário não
conhecido e sem a devida autorização.

Segundo, por não estar no poder de valores que são de sua


propriedade e que seriam utilizados para o pagamento de dívidas pessoais que,
geraram multas, juros e demais encargos pelo descumprimento de quitação
dentro do vencimento estabelecido.

Sem contar nos encargos pagos por estar sem dinheiro que lhe
pertence o requerente suportou juros em razão do valor que foi retirado se
tratar de empréstimo do banco, ou seja, o valor retirado nem de propriedade
do requerente era, e sim da instituição bancária, mas ainda assim o
requerente suportou o ônus que cabia ao requerido.

Valores constitucionais foram violados, tais como a Dignidade da


Pessoa Humana previsto no artigo 1°, Inciso III, da constituição da Republica
Federativa do Brasil, e ainda o direito previsto no mesmo diploma legal, artigo
5°, inciso X.

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana”;
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
X- São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.

Vejamos artigos do Código Civil:

“Artigo 186 Aquele que por ação ou omissão voluntaria, negligencia ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem ainda que exclusivamente
moral comete ato ilícito”.

"Art. 187 - Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes."

"Artigo 927: Aquele que por ato ilícito (arts 186 187), causar dano a outrem
fica obrigado a repará-los.
Parágrafo único: havendo obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os
direitos de outrem."
Pires de Lima e Antunes Varela, em seu Código Civil Comentado, diz:

"A concepção adotada de abuso de direito é a objetiva. Não é necessária a


consciência de se excederem, com o seu exercício, os limites impostos pela
boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou econômico do direito; basta
que excedam os limites."

E como se não bastassem, tais diplomas legais, temos ainda o


artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor, que assim preceitua:

"Art. 14, da Lei no 8.078/90 - "O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos a prestação de serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos".

Vejamos o que dizem as Súmulas nº 479 e 297 do Superior Tribunal de


Justiça:

"As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados


por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias".

"SÚMULA N. 297. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras. Referência: CDC, art. 3º, § 2º. Precedentes: REsp.
57.974-RS."

O Autor demonstra que registrou boletim de ocorrência do fato,


além de ter protocolizado reclamação na agência em que é correntista, tendo seu
pedido indeferido, sabendo que a institução tenta livrar-se de eventual
responsabilidade de devolução. Ao apurar o ocorrido, a parte Requerida deveria
prestar-se a sanar sua falha com rapidez, vez que o consumidor não pode arcar
com os prejuízos advindos da má prestação de serviço do banco.

O Autor ficou e está sendo privado de dispor de seu dinheiro, o


que tem lhe causado extremo aborrecimento, indignação, dor subjetiva, além de
outros prejuízos financeiros evidentes, já que eram destinados ao pagamento de
dívidas que hoje estão gerando encargos moratórios. O Requerente se sujeitou a
esperar atendimento em uma central deficitária, sem contudo, obter qualquer
tipo de resposta satisfatória. Apenas argumentos genéricos, automatizado, que
joga a culpa ao Autor, sem conteúdo esclarecedor.

Importante esclarecer que não apenas o prejuízo do Requerente


enseja a reparação aqui pretendida. A forma lânguida, desleixada com a qual foi
tratado o Requerente também enseja o pedido de indenização por danos
extrapatrimoniais. A falha na prestação de serviços foi flagrante, mesmo após
todas as tentativas da Requerente em tentar sanar o problema, sem sucesso.

A atitude do Banco ora Requerido acaba por submeter o


Requerente a uma verdadeira e vexatória peregrinação, o que é inaceitável
tanto pela legislação quanto pela melhor jurisprudência pátria. O e. TJDFT
já se manifestou em casos semelhantes, punindo exemplarmente atitudes
como a dos Bancos na presente hipótese. Por ilustrativas, colacionam-se as
ementas abaixo:

CÍVEL. RECURSO INOMINADO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO E


INDENIZATÓRIA. FRAUDE. CARTÃO DE CRÉDITO CLONADO.
FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. DANO MORAL
CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA
POR SEUS PRÓPRIOS Lazenir Dourado de Carvalho Advogada OAB/DF
47.983 QMSW 05, Lote 2, Bloco A, Apto 105, Sudoeste, Brasília/DF CEP:
70.680-500 Tel: (61) 99388-7480, e-mail: lazenir@gmail.com
FUNDAMENTOS. 1. O dano moral restou demonstrado, uma vez que o
cartão da recorrente foi clonado e utilizado por terceiros, utilização esta que
implicou pagamentos indevidos e que a autora não deu causa, configurando
falha na prestação dos serviços. 2. Conforme consta dos autos, a recorrida fez
Boletim de Ocorrências (evento 1.5), procurou solucionar o problema junto
ao Banco do Brasil (evento 1.7) e efetuou diversos contatos com o
recorrente, sem êxito, de modo que o descaso e o desrespeito à consumidora
restaram evidentes, configurando assim o dano moral. 3. O valor fixado na
sentença a título de indenização por danos morais (R$ 4.000,00) deve ser
mantido, posto que fixado segundo o prudente arbítrio do Juiz, que observou
as circunstâncias do caso em concreto, em especial, os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade. RECURSO DESPROVIDO. , esta Turma
Recursal resolve, por unanimidade de votos, CONHECER E NEGAR
PROVIMENTO ao recurso, nos exatos termos do vot (TJPR - 2ª Turma
Recursal - 0033456-68.2014.8.16.0182/0 - Curitiba - Rel.: GIANI MARIA
MORESCHI - - J. 26.06.2015) (TJ-PR - RI: 003345668201481601820 PR
0033456-68.2014.8.16.0182/0 (Acórdão), Relator: GIANI MARIA
MORESCHI, Data de Julgamento: 26/06/2015, 2ª Turma Recursal, Data de
Publicação: 30/06/2015)

O dever indenizatório que emerge do ilícito cometido – falha na


prestação de serviço – resta evidenciado, de forma que o transtorno
psicológico que passou o Requerente deve ser devidamente reparado.

Assim, tende-se como valor razoável a fixação da quantia de


danos morais no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais), levando em
consideração que o valor não pode ser irrisório.

De acordo com o Parágrafo Único do Artigo 42 do CDC, é direito


do consumidor o ressarcimento por quantia cobrada e paga indevidamente,
sendo devido o indébito:

"Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será


exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento
ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável."

Conforme demonstrado pelo extrato bancário do Requerente


anexo, houve descontos/transferências indevidas pelo envio de PIX. Assim,
tem-se como direito do Requerente a repetição do indébito por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, ou seja, a devolução da quantia de R$
5.024,68, atualizado monetariamente e com juros de mora.

Nesse sentido, tem sido o entendimento do Vosso Tribunaldo do


TJDFT, a seguir:

"JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. CONSUMIDOR. TRANSFERENCIA


ELETRÔNICA NÃO RECONHECIDA PELA CORRENTISTA. CARTÃO
COM SENHA. COMUNICAÇÃO AO AGENTE FINANCEIRO. FRAUDE.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. RISCO DA ATIVIDADE
ECONÔMICA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE FATO
IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. I. Trata-se de recurso
inominado interposto pela parte ré em face de sentença que julgou
procedente em parte os pedidos formulados na inicial para condená-la à
restituir à autora o valor de R$ 14.380,00 (quatorze mil trezentos e oitenta
reais). Em seu recurso a parte recorrente sustenta que o envio de
transferência eletrônica para terceiro beneficiário é imprescindível a inserção
de senha de autorização enviado por e-mail ou a do cartão de crédito. Afirma
que a responsabilidade pelas transações efetuadas é do titular da conta
bancária, tendo em vista os requisitos de segurança (senha), afastando, dessa
forma, a sua responsabilidade pela ocorrência do dano pleiteado. Requer a
reforma da sentença e a improcedência dos pedidos deduzidos na inicial. II.
Recurso próprio, tempestivo e com preparo regular (ID 23658763 e
23658766). Contrarrazões apresentadas (ID 23658773). III. Tratando-se de
relação de consumo, há a inversão do ônus da prova, conforme art. 6º, VIII,
do CDC, quando for verossímil a alegação da parte autora, segundo as regras
ordinárias de experiência, o que se vê presente no caso concreto. Destaca-se
que as provas que se submetem à inversão do ônus da prova são aquelas cuja
produção não é possível ao consumidor ou sua produção lhe seja
extremamente penosa. Desse modo, no presente caso a parte autora
colacionou as provas que poderia produzir, sendo que não se pode requerer
que o demandante comprove que não entregou a senha para outra pessoa, sob
pena de se exigir a denominada ?prova diabólica?. Assim, caberia à
requerida apresentar as provas dos fatos impeditivos do direito alegado pelo
autor. IV. Convém destacar que as relações comerciais entre as instituições
financeiras e seus clientes são regidas pelo Código de Defesa do Consumidor
e a falha de segurança na prestação do serviço bancário, ao permitir a
realização de saques fraudulentos na conta corrente da parte autora,
caracteriza fato do serviço e, evidenciado o dano, atrai o dever de reparação
(art. 14, CDC e STJ/Súmula 479/STJ). V. No caso, a parte autora juntou aos
autos os extratos com transferência eletrônica destinada a terceiro que alega
desconhecer, bem como esclarece que após identificar a transação entrou em
contato com o banco recorrente, ocasião em que foi informado que seria
promovido uma investigação interna para análise da demanda, concluindo,
posteriormente, que a transferência contestada foi realizada de forma regular.
Igualmente, ressalta que o fato foi devidamente comunicado as autoridades
policiais. VI. Do relato dos fatos é possível identificar a verossimilhança
das alegações, corroborada pela existência da transferência da conta
bancária do autor até o momento em que ele identificou os
levantamentos indevidos, ocasião em que adotou as medidas pertinentes
para minimizar os possíveis danos. VII. Ainda, destaca-se que o §3º do art.
14 do CDC prevê em suas alíneas que o fornecedor de serviços só não será
responsabilizado quando provar que, tendo prestado o serviço, o defeito
inexiste ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. VIII. Contudo,
era ônus da instituição financeira comprovar a regularidade da
transferência, o que não ficou demonstrado. Para tanto, o banco alega
que a existência de senha e procedimentos de segurança são suficientes
para inviabilizar qualquer transferência de valores para terceiros sem a
anuência do correntista. Entretanto, as regras de experiência comum
demonstram que a assertiva do Banco réu em relação à segurança nos
procedimentos de transações bancárias está equivocada.
Constantemente, situações de fraude nas operações bancárias são
trazidas à baila, revelando que o sistema construído com tal finalidade
possui vulnerabilidades, demonstrando que a suposta segurança não é
absoluta, existindo instrumentos instalados por terceiros capazes de
clonar os dados do cartão e identificar a senha do cliente. Portanto, a
falha na segurança por parte da ré afasta a possibilidade de culpa
exclusiva de terceiro. IX. Ademais, a parte recorrente não se
desincumbiu de comprovar a efetiva utilização do cartão e senha
realização da transferência não reconhecida pela parte recorrida com a
regularidade do uso da senha, bem como deixou de demonstrar que a
transação foi autenticada via I-safe e o acesso feito através da senha, que
é pessoal e intransferível para comprovar o fato extintivo do direito do
autor que alega, ônus que lhe competia (art. 373, II, CPC), pois dispõe
de meios adequados para demonstrar se foi o próprio cliente, ou não,
que efetuou tal transferência, de sorte que deve responder pela sua
omissão. Desse modo, é cabível a condenação da parte recorrente em
restituir a parte recorrida a importância de R$ 14.380,00 (quatorze mil
trezentos e oitenta reais). X. Recurso conhecido e não provido. Sentença
mantida. Custas recolhidas. Condeno a parte recorrente vencida ao
pagamento de honorários advocatícios em favor do patrono da parte
autora, que fixo em 10% sobre o valor da condenação. XI. A súmula de
julgamento servirá de acórdão, consoante disposto no artigo 46 da Lei nº
9.099/95"(07104616020208070020 - (0710461-60.2020.8.07.0020 - Res. 65
CNJ), Segunda Turma Recursal, 26/04/2021, GEILZA FATIMA
CAVALCANTI DINIZ

"EMENTA CIVIL. TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA REALIZADA PELA


INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SEM AUTORIZAÇÃO DO
CONSUMIDOR OU FUNDAMENTAÇÃO LEGAL. ILICITUDE.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO CABÍVEL. DANO MORAL
CONFIGURADO, ANTE A AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO (DESCASO).
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I. Ação ajuizada pelo ora
recorrente, em que pretende a reparação por danos materiais e morais.
Insurgência de ambas as partes contra a sentença de parcial procedência dos
pedidos. II. O recorrente/requerente sustenta, em síntese, que: (i) do valor
total bloqueado de sua conta bancária pela instituição financeira (R$
8.105,07), “apenas houve o ressarcimento de R$ 2.250,07”; (ii) as
transferências eletrônicas realizadas pelo banco, nos valores de R$ 5.400,00
e 500,00, não constam “identificação da conta destinatária”, nem são de
conhecimento do requerente; (iii) “a transferência de tais valores não foi
autorizada pelo Requerente, tampouco esclarecida pelo Requerido quanto à
destinação desses valores, ao que se considera como descontos indevidos”,
razão pela qual pleiteia pela restituição em dobro do valor“descontdo”. III. O
recorrente/requerido, por sua vez, aduz que: (i) o bloqueio da quantia
reclamada teria sido em razão da existência de vícios capazes de
comprometer a legitimidade da transação bancária; (ii) “não houve qualquer
conduta ilícita por parte do Banco Recorrente”. IV. No presente caso, em que
pese a legalidade do unilateral cancelamento da conta corrente do requerente
(cláusula 14.1 – ID. 12908852, pág. 6), a instituição financeira/requerida não
demonstrou, de forma contundente, a legitimidade da realização das
transferências eletrônicas realizadas no dia 28.5.2019, nos valores de R$
5.400,00 e 500,00 (ID. 12908857, pág. 11), tampouco que a respectiva
quantia teria sido resgatada pelo requerente ou quem de direito (CPC, Art.
373, II). Frise-se que, em sede contestação, o banco se limitou em comprovar
o seu direito ao cancelamento unilateral do contrato. V. Por conseguinte, à
míngua de engano justificável, torna-se impositiva a restituição em dobro dos
valores indevidamente descontados da conta corrente do requerente (CDC,
Art. 42, parágrafo único), até porque não há indicativos de que o consumidor
teria resgatado tais quantias. No ponto, a sentença merece reforma. VI. No
mais, não merece ser conhecida a superveniente alegação de que o bloqueio
da quantia reclamada teria sido em razão da “existência de vícios capazes de
comprometer a legitimidade da transação”, por se tratar de inovação recursal,
pois caberia ao recorrente apresentar todas as alegações hábeis em momento
oportuno; não o fazendo, tem-se operada a preclusão. VII. Lado outro, os
danos morais decorrem do abalo aos atributos da personalidade, em especial
à dignidade da vítima desencadeada pelo evento (CF, Art. 5º, V e X). VIII. A
situação vivenciada pela parte autora (retirada de valores de sua conta
bancária sem qualquer explicação prestada pela instituição financeira, apesar
de insistentemente buscar informações perante o banco, por meio de
correspondências eletrônicas – ID. 12908859 e ss.) supera os limites do mero
dissabor decorrente do inadimplemento contratual e caracteriza dano moral
passível de compensação, haja vista o patente descaso. IX. E em relação ao
quantum, devese manter a estimativa razoavelmente fixada (R$ 2.500,00),
uma vez que guardou correspondência com o gravame sofrido (CC, Art.
944), além de sopesar as circunstâncias do fato, a capacidade econômica das
partes, a extensão e gravidade do dano, bem como o caráter
punitivopedagógico da medida, tudo, com esteio no princípio da
proporcionalidade. Não evidenciada, pois, ofensa à proibição de excesso,
apta a subsidiar a pretendida redução. X. Recursos, de ambas as partes,
conhecidos. Improvido o do requerido. E parcialmente provido o do
requerente para CONDENAR o requerido a pagar ao autor a quantia de R$
11.800,00 (onze mil e oitocentos reais), referente à dobra legal, acrescido de
correção monetária a partir da data do desembolso e de juros legais ao mês a
partir da citação. No mais, sentença confirmada por seus próprios
fundamentos (Lei 9.099/95, Art. 46). Condenado o recorrente vencido ao
pagamento das custas processuais. Sem condenação em honorários
advocatícios, ante ausência de contrarrazões."

"APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
TRANSFERÊNCIA DE QUANTIAS ATRAVÉS DA INTERNET.
OPERAÇÕES NÃO REALIZADAS PELO CORRENTISTA. FALHA DO
SISTEMA DE SEGURANÇA. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO. OCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. 1. Não tendo a instituição financeira
demandada se desincumbido do ônus probatório, tanto acerca da
autoria das transferências, como da alegada culpa exclusiva ou
concorrente do demandante para a hipótese aventada de ocorrência de
fraude, tem-se configurada a sua responsabilidade objetiva da nos
termos art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, cumprindo-lhe
reparar os danos patrimoniais que ocasionou. 2. O dano moral, na
situação posta nos autos, configura-se in re ipsa, configurando também
quanto ao mesmo o dever de indenização do banco. 3. Quantum
indenizatório arbitrado na sentença que se mostra adequado a recompensar o
sofrimento da vítima e, ao mesmo tempo, não implica em enriquecimento
sem causa, devendo ser mantido o valor da condenação. 4.Quantum atribuído
aos honorários advocatícios, de 15% sobre o valor da condenação, que
respeitou os critérios objetivos previstos no artigo 20, §§ 3° e 4º, do CPC,
sendo avaliada a complexidade da causa, o tempo despendido pelo
profissional até o término da ação e o valor da causa, razão pela qual vai
mantido. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70054414719,
Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz
Renato Alves da Silva, Julgado em 17/07/2014). “Responsabilidade civil
Dano moral Valor da indenização. O valor do dano moral tem sido
enfrentado no STJ com escopo de atender a sua dupla função: reparar o dano
buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor, para que não volte a
reincidir. Fixação de valor que não observa regra fixa, oscilando de acordo
com os contornos fáticos e circunstanciais. 4. Recurso especial parcialmente
provido(STJ, REsp 604801/RS, Relatora Ministra Eliana Calmon, DJ
07.03.2005, p.214). Nos termos dos fatos narrados e comprovados, resta
evidenciada a prática de descontos indevidos na conta corrente da
Requerente e, portanto, devido o indébito em dobro por serem
incontroversos, já que houve a cobrança/pagamento indevido e engano
insjustificável. O dano moral configura-se in re ipsa. Analógicamente:
"Súmula 322 do STJ: “Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura
de crédito em contacorrente, não se exige a prova do erro.”

Deste modo, considerando que a instituição foi devidamente


notificada a respeito da transação fraudulenta, possuía como dever de cumprir
com a resolução do Banco Central, que permite que seja bloqueado por até 72
horas o dinheiro do PIX no caso de suspeita de fraude.

No presente caso o requerente contestou a compra em menos


de 2h após a fralde, sendo que foi a única orientação dada pela central
telefônica do bradesco, ou seja, havia tempo hábil suficiente para estornar o
valor transferido.

Isto porque, as instituições financeiras como diferencial para


atrair clientes também tem um efeito colateral que não deve ser ignorado: a
facilidade que muitas pessoas encontram para abrir uma conta bancária, no
intuito de aplicar golpes de toda ordem e cometer toda espécie de atos
fraudulentos.

Tal efeito colateral não pode ser ignorado. Assim, imperioso


exigir cuidado na análise de cadastro de quem solicita abertura de conta em tais
instituições. Nos termos da súmula do STJ, in verbis:

"As instituições financeiras respondem objetivamente pelos


danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias".

Sendo assim, cabe a instituição financeira o dever de checar a


regularidade das operações efetivadas, sobre tudo aquelas que fogem ao padrão
de gasto do consumidor.

Ademais, mesmo que se considere a responsabilidade subjetiva,


há configurados todos os seus requisitos, tendo em vista que o requerido é
culpado, por não prestar serviço adequado ao requerente, que lhe solicitou
esclarecimentos, mas não teve retorno.

O consumidor possui hipossuficiência técnica relativamente ao


sistema de segurança dos bancos, em um processo fica impossível provar que a
compra ou lançamentos em conta corrente não foram feitos pelo cliente.
É possível concluir pela verossimilhança das alegações, corroborada pela
existência da transferência da conta bancária do Autor até o momento em que
ele identificou os levantamentos indevidos e adotou todas as medidas
pertinentes a minimizar os danos e reaver o prejuízo de forma extrajudicial.
Ainda assim, se não for do entendimento de Vossa Excelência a devolução em
dobro, pugna pela indenização material de forma simples, qual seja, de R$
6.067,79 (seis mil, sessenta e sete reais e setenta e nove centavos), atualizado até
14.06.2021

III - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer:

a) Que seja, concedido os benefícios da gratuidade de justiça, com base na Lei


nº 1.060/50;

b) Que a presente demanda seja recebida e devidamente julgada para os fins


pleiteados.

c) Que seja reconhecida a hipossuficiência fática, técnica e econômica do autor


e a verossimilhança dos fatos alegados, determinando V.Exa. a inversão do
ônus da prova em favor do consumidor (inciso VIII, do art. 6º do CDC);

d) Reconhecer a responsabilidade objetiva e solidária, caso houver, da empresa


Requerida sobre os fatos narrados nesta exordial.

e) A citação do Requerido no endereço apontado no preâmbulo desta inicial;

f) No mérito, seja julgado procedente o pedido para condenar o Requerido,


com fulcro no art. 42, § único, do Código de Defesa do Consumidor, a pagar
por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, totalizando um valor de
R$ 5.024,68 (cinco mil e vinte e quatro reais e sessenta e oito centavos),
acrescido de correção monetária e juros legais; e ainda no mérito,
CUMULATIVAMENTE, a.2) condenar o Requerido a pagar ao Requerente,
a título de indenização por dano moral, a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), mas que deixa a critério do Juízo, levando-se em conta as condições
pessoais das partes principalmente, o potencial econômico-social da lesante,
a gravidade da lesão, sua repercussão e as circunstâncias fáticas.

g) a condenação do Requerido nos ônus sucumbenciais, inclusive honorários


advocatícios, em caso de eventual interposição de recurso;

Por oportuno, requer também a produção de todos os meios de prova admitidos em


direito, em especial a juntada dos documentos em anexo e a produção de prova oral,
abaixo as testemunhas que pretende ouvir:
Atribui à causa o valor de R$ 15.024,68 (quinze mil e vinte e quatro reais e
sessenta e oito centavos.).

Nesses Termos, Espera Deferimento.

Termos em que,
Pede deferimento,
Brasília, 14 de setembro de 2023.

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