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AÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face de XXXXXXXXX, inscrito no CNPJ sob o nº, com sede à XXXXXX, na pessoa de seu
representante legal ou quem as vezes faça, pelas razões de fato e direito a seguir delineadas:

I - DOS FATOS
O Requerente possui o cartão de crédito de nº XXXXXXXXXXXXXX junto ao Requerido.

No mês de XXXXX de XXXX, conforme sempre procedeu desde que firmou o seu contrato, o (a)
Requerente entrou no aplicativo do Requerido e retirou o boleto no valor de R$ XXXXXX
(XXXXXXXXXXXXXXXX) e realizou o pagamento da fatura do referido mês, conforme
documento XX em anexo.

Ocorre Nobre Julgador que no mês seguinte, o (a) Requerente foi surpreendido (a) com a cobrança
do Requerido referente a supracitada fatura paga, conforme doc. XX.

Visando esclarecer a situação, o (a) Requerente compareceu pessoalmente a sede da instituição


financeira, na qual foi orientado por um funcionário do local a ligar para a central do Requerido.

Seguindo as orientações, o (a) Requerente, com o auxilio do referido servidor, ligou para a central de
atendimento do Requerido, sendo atendido pela Sr.(a) XXXXX – Protocolo n. XXXXXXXXXXXX
– doc. XX.

Em resposta, o Requerido informou que o boleto correto não foi pago, e que possivelmente o (a)
Requerente teria sido vítima do golpe do boleto fraudado.

Inconformado (a), o (a) Requerente entrou várias vezes em contato com o Requerido, justificando
que não poderia ser falso o boleto, haja vista que foi retirado do aplicativo eletrônico do Requerido,
bem como que os dados constantes nele são idênticos com aos dos boletos fornecidos mensalmente e
que essas informações somente o Réu possuía (Protocolo n. XXXXXXXXX – doc. XX).

Outra vez o Requerido respondeu que nada poderia ser feito, justificando que não foi realizado o
pagamento da fatura.

Nobre Julgador, para facilitar os fatos que justificam o presente petitório, junto print dos dois
boletos, vejamos:

Boleto verdadeiro (doc. XX) – JUNTAR PRINT:


Boleto falso (doc. XX) - JUNTAR PRINT:
Verifica-se Excelência que o boleto falso possui todos os dados idênticos ao verdadeiro, tendo como
único diferencial o código de pagamento, o que não poderia ser observado por um homem médio
como o (a) Requerente, motivo pelo qual não há que se falar em culpa exclusiva do (a) Autor (a).

A respeito do fato, o (a) Requerente abriu boletim de ocorrência, em anexo doc. XX.

Por tudo isso, faz-se necessária a propositura da presente ação, com vistas ao ressarcimento do
prejuízo experimentado pelo (a) Autor (a), vítima de golpe decorrente de falha no sistema de
proteção de dados do (a) Requerido (a), a qual propiciou o vazamento de dados sigilosos daquele,
conforme demonstrado.

Insta salientar que para evitar a negativação de seu nome e a gradação dos danos de difícil reparação,
o (a) Requerente realizou, no dia XXXXX, novamente o pagamento da contestada fatura, com
incidência de juros e mora, arcando com o importe de R$ XXXXX (XXXXXXXXXXXXXXXX) –
doc. XX.

Nobre Julgador, o (a) Requerente não foi, de qualquer forma, reembolsado pelos transtornos
ocasionados, o que serviu para aumentar ainda mais os prejuízos.

Desta forma, não restou outra alternativa ao (à) Autor (a), senão galgar as vias do judiciário para a
reparação dos danos sofridos.

II. DO DIREITO
II.a. Da responsabilidade da Requerida por insegurança de seu sistema de proteção de dados e
patente vazamento de informações sigilosas do Autor.

Inicialmente cabe salientar que o Requerido tem operacionalizado a oportunidade de seus clientes
retirarem virtualmente seus boletos via sítio eletrônico, e-mail e WhatsApp.

Inequívoca, portanto, a insegurança do sistema de proteção de dados mantidos pelo Requerido, o


qual propiciou o acesso do golpista a informações confidenciais do (a) Autor (a), dados que só
ambas as partes tinham conhecimento.

Nessa esteira, não há como atribuir culpa exclusiva ao (à) Requerente, tendo em conta que houve
inconteste falha do sistema de segurança do Requerido, a quem cabe assumir o risco da atividade
bancária.

O caso em tela, portanto, enquadra-se na hipótese normativa embutida no artigo 14 do Código de


Defesa do Consumidor.

De fato, o serviço do Requerido não forneceu a segurança necessária que o (a) Autor (a) dele espera,
porquanto a fraude se realizou mediante o acesso a informações que deveriam ser conhecidas apenas
pelo (a) consumidor (a) e pelo próprio banco (credor, devedor, valor do crédito e/ou débito etc.), e
não por terceiros.

Trata-se, enfim, de fortuito interno, a ensejar a responsabilização objetiva da instituição financeira


pela fraude do boleto bancário, expediente previsível e comum à atividade desenvolvida, a teor dos
artigos 186 e 927, parágrafo único, do Código Civil e, ainda, dos artigos 14 e 17 do Código de
Defesa do Consumidor. Vejamos o teor dos referidos dispositivos, in verbis:

Código Civil. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
(...)
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.
CDC. Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de
culpa.
(...)
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Deveras, o Requerido mostrou fragilidade técnica, descumprindo seu dever de segurança e eficiência
para com o (a) Requerente, cuja fragilidade socioeconômica configura a hipossuficiência do (a)
consumidor (a) diante de instituições sólidas, cuja força econômica e lucros exorbitantes não
combinam com fraquezas técnicas intoleráveis, como a que propicia a devassa de dados para
terceiros.

Ora, se é fácil dar golpes em consumidores, uma instituição bancária não pode sê-lo, notadamente
uma instituição do porte do Requerido

A esse respeito, oportuno destacar o verbete da Súmula 479 do C. Superior Tribunal de Justiça,
perfeitamente aplicável ao caso em tela, ipsis litteris:

SÚMULA 479.As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
Ademais, não se pode perder de vista a altíssima capacidade econômica do Requerido.

Nesse sentido, os altos rendimentos do Requerido sinalizam não só a sua tranquila capacidade para
arcar com a indenização destinada a compensar os incontestes danos produzidos contra o (a) Autor
(a), mas sobretudo a acentuada responsabilidade do banco no mercado interno, que integra o
patrimônio nacional e deve ser incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e
socioeconômico e o bem-estar da população, segundo o que determina o artigo 219, caput, da
Constituição da Republica, vide:

Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o
desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do
País, nos termos de lei federal.
Insta ainda acrescentar o golpe aplicado ao Requerente deixou cristalino que o Requerido não está
cumprindo a Lei Geral de Proteçâo de Dados Pessoais ( LGPD)- Lei Federal nº 13.709, de 14 de
agosto de 2018, haja vista que os golpista tiveram acesso a dados sensíveis da tratativa formalizada
pelas partes, motivo pelo qual o Autor acreditou que fosse realmente o Réu, contribuindo
diretamente para a concretização o acontecimento.

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