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AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA _ VARA COMARCA DE RIBEIRÃO

PRETO- SP

Processo nº

Autor, nacionalidade, estado civil, profissional, portador do RG e


CPF, e-mail, residente e domiciliado vem, respeitosamente perante vossa Excelência, por intermédio
de seu procurador adiante assinado (com procuração anexa), propor:

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES COM PEDIDO DE


TUTELA ANTECIPADA c/c INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

em face de REU pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

I. DOS FATOS

No dia xxxxx, às xxxxx horas, o autor da reclamação recebeu a


ligação de xxxxx no qual este requeria o valor de R$ xxxxx a título de empréstimo para a finalização
da compra de um automóvel.

Ao se conectar ao sistema eletrônico, via aplicativo de smartphone, de


sua conta poupança que possui com a instituição financeira para a realização do PIX, instrumento de
pagamento instantâneo do Banco Central no valor solicitado, ele notou que sua conta estava
praticamente zerada, restando apenas R$ xxxxx , a despeito do saldo anterior ser de R$ xxxxx.

Logo, foi notado por ele que fora vítima de furto qualificado,
especificadamente fraude bancária por falha na segurança da prestação de serviços bancários
realizados pela ré, uma vez que houve a retirada de todo o valor de sua conta por meio do PIX, além
da realização de crédito consignado em seu nome no valor de R$ xxxxx, também com saque deste
valor no dia xxxxx.
No mesmo dia, a vítima compareceu à Delegacia para a realização de
um Boletim de Ocorrência para o registro do crime, sendo ele emitido as xxxx horas.

Ainda, na mesma data, por volta das xxxxx horas, o requerente entrou
em contato com o saque da instituição bancária para se informar dos procedimentos a serem seguidos
para a restituição dos valores. Foi a ele informado a necessidade de contato com o gerente que cuidava
de suas finanças no endereço da instituição financeira que ele havia aberto conta, mas que, de
antemão, a empresa não responsabilizava por tais atos fraudulentos.

No dia xxxxx, o peticionário compareceu a agência bancária xxxxx da


ré sendo realizada uma contestação de movimentação em conta. O técnico bancário o informou que o
tempo médio de resposta para tal requisição é de 2 (duas) semanas, e que o dinheiro furtado, nesse
meio tempo, não era reposto pela instituição financeira, tratando-se esse de tempo excessivamente
prolongado.

Considerando a gravidade da questão, a necessidade de urgência de


sua solução, a demora para a resposta da ré e o costume das instituições bancárias de alegarem isenção
de responsabilidade quanto a fraudes bancárias, se faz necessária a presente demanda judicial.

II. DO DIREITO

1. DA TUTELA ANTECIPADA e DA RESPONSABILIDADE


CIVIL DOS BANCOS POR FRAUDES E DELITOS PRATICADOS POR TERCEIROS EM
OPERAÇÕES BANCÁRIAS

Conforme Humberto Theodoro Júnior,

As tutelas provisórias têm em comum a meta de combater os riscos de


injustiça ou de dano, derivados da espera, sempre longa, pelo desate final do conflito submetido à
solução judicial. Representam provimentos imediatos voltados para combater o perigo de dano, que
possa advir do tempo necessário para cumprimento de todas as etapas do devido processo legal.

A tutela antecipada de urgência é um procedimento judicial que visa


antecipar e assegurar o direito de uma parte, garantindo que ele possa ser adquirido por meio de uma
cognição sumária antes do final do processo, fundada em uma urgência de preservação, de forma a
minimizar os prejuízos sofridos pela parte na ocorrência de um ilícito.
Conforme art. 300 do CPC, a tutela de urgência poderá ser deferida
pelo juiz a partir da demonstração da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo.

O fumus boni iuris ou probabilidade de direito se evidencia a partir de


uma ideia de probabilidade lógica capaz de convencer o juiz da existência do direito que, conforme
Fredie Didier Jr., [...] surge da confrontação das alegações e das provas com os elementos
disponíveis nos autos.

Trata-se de uma análise da verossimilhança das alegações, ou seja, dos


indícios da existência do direito pelo autor pleiteado, a partir de uma análise do valor do bem jurídico
violado, da credibilidade da alegação a partir das regras de experiência do magistrado, e a própria ideia
de urgência alegada pelo autor.

Já o periculum in mora ou perigo de dano/perigo de demora se


consubstancia no fato de que “A tutela provisória é necessária simplesmente porque não é possível
esperar sob pena do ilícito ocorrer, continuar ocorrendo, ocorrer novamente, não ser removido ou de o
dano não ser reparado ou reparável no futuro.”, conforme leciona Luiz Guilherme Marinoni.

Tudo isso garante que, de acordo com o § 2º do art. 300, a tutela seja
deferida liminarmente inaudita altera pars, ou seja, a partir de um contraditório postergado “[...]
quando a demora inerente à formação do contraditório implicar concretização da ameaça que se
pretende inibir reiteração de ilícito ou a sua continuação, ocorrência de dano irreparável ou de difícil
reparação ou agravamento injusto do dano.”, de acordo com Marinoni.

Feita tal digressão conceitual, cabe demonstrar a existência de tais


requisitos na demanda em questão para a procedência da tutela de urgência.

a) Probabilidade de direito: para a realização de transações bancárias,


seja nos caixas eletrônicos de instituições, seja via internet por smartphones ou computadores, é
necessário a utilização de uma senha, uma medida de segurança para garantia de se evitar fraudes
bancárias.

Em data, às horas, fora realizada uma transferência bancária por


intermédio do PIX da conta bancária de autor para fraudadora no valor de R$xxxxx e mais R$ xxxxx
às hora, dinheiro esse proveniente de um crédito consignado ( CDC tour) feito no nome do autor da
ação, conforme consta no PRINT tirado do aplicativo da caixa, mas não feitas por ele mesmo, a
despeito de ninguém, além do próprio, ter conhecimento de sua senha (trata-se de etapa necessária
para a realização da transferência por PIX a colocação de senha).
É importante mencionar que, por volta de 2 (dois) meses atrás, a
vítima dessa fraude bancária havia se dirigido a agência bancária da ré para alteração da assinatura
eletrônica, pois houve, de repente, bloqueio das transações financeiras e a única forma de desbloqueio
é modificando a senha com o gerente.

Esse bloqueio é a primeira demonstração de falha no sistema da


instituição, que já apresentava outros como o não envio de notificação de movimentações bancárias, a
despeito de ser procedimento padrão de vários outros bancos, como banco1, banco2, entre outros. Tão
verdadeira tal fato que, conforme descrito no DOS FATOS, o litigante só teve conhecimento das
movimentações fraudulentas 2 dias após elas terem ocorrido.

Ainda, importa mencionar que existe um limite diário que é possível


fazer transferências pelo método PIX. Conforme previsto no site da instituição bancária ré, PRINT
aqui anexado, existe limites diários de transferência com o PIX por faixa de horário e canais de
atendimento, apenas sendo possível transferir o valor máximo de R$ xxxxx entre hora e hora.

Contudo, foi feito um envio PIX no valor de R$ xxxxx no período


vespertino, o que corrobora a tese de erro tecnológico. A únicas outras formas de se aumentar o limite
de transação PIX é através da validação do celular em caixa eletrônico para o plano xxxxx, coisa que
não foi feita, ou a permissão do gerente, através de um pedido do titular da conta, com o aumento de
limite em dia específico, o que demonstraria um erro ou má-fé humana.

Por se tratar de uma relação consumerista, o Código de Defesa do


Consumidor é aplicável às instituições financeiras, conforme artigo 3º, § 2º do CDC e a Súmula 297
do STJ.

Assim, a probabilidade do direito encontra-se presente, uma vez que


as instituições financeiras respondem objetivamente, ou seja, independentemente de culpa, por
teleologia do art. 14 do CDC, por ser tratados como fornecedores de serviços pelos danos gerados por
fortuito interno (aqueles que se relacionam aos riscos da atividade econômica dos bancos) relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias, conforme preleciona a
Súmula 479 do STJ.

Não há que se falar em culpa exclusiva de terceiro, uma vez que é


dever do banco zelar pela segurança de suas operações e das informações de seu cliente, tendo o
tratamento de dados ganho uma grande relevância jurídica com o advento da Lei 13.709/2018,
ganhando um capítulo própria nesta petição.
TJ-MG – APELAÇÃO CÍVEL AC Nº 10000190676684001

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS - TRANSAÇÃO BANCÁRIA VIA INTERNET - BANKLINE -
FRAUDE - NEGATIVA DE RECONHECIMENTO DO DÉBITO PELO AUTOR - FALHA NA
SEGURANÇA DE PROTEÇÃO DOS DADOS CADASTRAIS DE CLIENTES -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO BANCO - RESTITUIÇÃO DO VALOR
COBRADO/DEBITADO - DANO MORAL - AUSÊNCIA DE CONFIGURAÇÃO. I- Quando o
Banco disponibiliza ao consumidor seus serviços através da internet/web, tem o dever de tomar todos
os cuidados para que as informações sigilosas de seus clientes não sejam acessadas por terceiros, sob
pena de serem responsabilizados pelos danos decorrentes da insegurança das operações financeiras. II-
Mostra-se correta a sentença primeira que declarou inexistentes os débitos bancários questionados,
realizado por terceiro fraudador, determinando ao réu que estorne os valores descontados
indevidamente e todos os encargos decorrentes das operações consideradas fraudulentas, a fim de
deixar a conta com saldo zero.

Cabe salientar que, por força do art. 6º, VIII, do CDC, é possível ao
juiz inverter o ônus da prova quando for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências. Frente o poder de controle sobre as transações bancárias
realizadas em seus sistemas e da utilização dos dados de seus clientes, apesar da culpa ser objetiva
frente a instituição, é plenamente capaz a demonstração de quem é o culpado, conforme jurisprudência
colacionada.

TJDFT – APELAÇÃO CÍVEL DO JUIZADO ESPECIAL – AC Nº


2014071039158

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. DIREITO DO CONSUMIDOR.


AÇÃO DECLARATÓRIA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. AQUISIÇÃO DE EMPRÉSTIMO VIA INTERNET. FRAUDE
EVIDENCIADA SEM CONCORRÊNCIA DA AUTORA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO. BANCO NÃO IMPEDIU A REALIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMO POR TERCEIRO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DEVOLUÇÃO DOS VALORES DEBITADOS EM CONTA
CORRENTE DA AUTORA EM DOBRO. POSSIBILIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. OBSERVÂNCIA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Em razão da sistemática adotada pelo Código de Defesa
do Consumidor, mormente na norma contida em seu artigo 14, a responsabilidade por vício na
prestação de serviço é objetiva, devendo a prestadora de serviços responder pelos danos que causar ao
consumidor. 2. A fraude perpetrada por terceiro não configura a culpa exclusiva de terceiro para fins
da exclusão da responsabilidade da prestadora de serviço, nos termos do que dispõe o § 3.º do artigo
14 da Lei n.º 8.078 /90, já que o prestador descuidou do seu dever de zelar pela segurança de suas
operações, propiciando a terceiros fraudar o seu sistema. 3. Ficou demonstrado nos autos que a autora
não concorreu para a ocorrência de fraude em sua conta corrente, muito embora o banco recorrente
afirme que tal fato foi de inteira responsabilidade da recorrida, pois ela detinha senha e chave de
segurança para efetuar o referido empréstimo, que, segundo o banco, só seria possível a realização da
transação com esses dados. 4. Assim, embora o banco afirme a culpa da recorrida, não impediu a
realização de uma transação que não era comum por parte da recorrida. Aliás, o banco poderia rastrear
o computador e o local em que foi realizado referida transação por meio do IP de internet, que é único
para cada máquina, e não o fez. Restringindo-se a afirmações infundadas. 5. Ademais, a Súmula 479
do STJ já estabelece que As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por
fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
6. Cuidando-se de relação de consumo, o fundamento para o pedido de repetição do indébito repousa
na regra estabelecida pelo artigo 42, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor, segundo o
qual não se mostra imprescindível, para o reconhecimento do direito à dobra, a existência do dolo ou
má-fé, sendo bastante, para a incidência da sanção, a constatação de erro injustificável.

b) Perigo de demora: o furto qualificado sofrido pelo autor da


demanda praticamente o levou ao seu esvaziamento financeiro, sobrando apenas R$ xxxxx , o que o
tornou insolvente para cumprir com suas despesas mais básicas como alimentação, higiene,
locomoção, água e luz, entre outras.

Morando atualmente com xxxxx, este se tornou o responsável por


bancar todas as despesas domésticas frente a este infortúnio.

Esse delito veio para precarizar ainda mais a situação financeira


complexa que o impetrante vem vivenciando desde março de 2020, com o início da pandemia do
coronavírus SARS-CoV 2. Ele é profissão, trabalhando com xxxxx, sendo essa a principal forma de
faturamento até a epidemia.

Com o lockdown imediato em 03/2020, houve vários meses sem


recebimento de nenhum dinheiro a título de salário, mesmo tendo que sustentar sua família.

De notório conhecimento, a crise instaurada pela doença é grande e se


alastra ainda mais, o que fez que ao longo desse 1 ano e 2 meses o serviço diminuísse drasticamente
pela impossibilidade de reuniões de pessoas, fator básico e comum do setor de festas.

Em data, sua esposa faleceu devido a covid-19, conforme atesta a


CERTIDÃO DE ÓBITO aqui juntada. A despeito da profunda dor ocasionada pela perda, ela era, logo
atrás dele, a maior responsável pela manutenção financeira do lar.
Em data, o postulante começou a sentir sintomas típicos de covid:
gripe, febre, dor no corpo, falta de ar. Realizou exame em data e teve o teste positivado em data,
conforme observado no resultado do EXAME MÉDICO aqui anexado. Logo, foram duas semanas de
afastamento dos serviços.

E, por fim, chegasse à fraude bancária. Mesmo com esse histórico, o


vultoso valor que foi lhe furtado por si demonstram o perigo de dano por ferirem o princípio da
dignidade humana, pois não pode ele arcar com coisas básicas a sua sobrevivência, sendo o valor
furtado a única segurança de garantia de subsistência ao longo desses tempos de crise.

A demora da resposta para a contestação por ele feita junto a


instituição bancária, conforme documento CONTESTAÇÃO anexo, de por volta de 2 (duas) semanas,
como lhe foi informado pelo técnico bancário já supramencionado, e a demora da cognição exauriente,
frente as medidas restritivas atuais e as novas análises de probabilidade de medidas mais restritivas
para combater o covid-19, poderia levar a geração de ainda mais danos ao declarante.

Frente ao exposto, requer-se a concessão de medida liminar para


garantia da tutela satisfativa ressarcitória, obrigando a ré a ressarcir R$ xxxxx indevidamente sacados
diretamente na conta da ocorrência do delito, sob pena de cominação de multa diária [1], aplicada pelo
juiz por força do art. 139, IV do CPC, a ser arbitrada em favor do exequente, conforme art. 537, § 2º
do CPC.

2. DA NULIDADE DO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO

É nulo de pleno direito o negócio jurídico quando for ilícito, conforme


o art. 166, II do Código Civil. Tal nulidade ataca a própria existência do fato, o que faz com que ele
não exista no plano jurídico.

Trata-se exatamente da contratação de empréstimo consignado


realizada em nome do autor da causa, com o título de CDC Turismo, limite pré-aprovado para a
realização de viagens que é descontado diretamente da conta do adquirente a juros de 3,96% de taxa
ao mês, conforme consta no documento PRINT.

Fato é que essa contratação foi feita em nome do demandante por


terceiro sem seu conhecimento ou autorização mediante fraude bancária seguida de furto dos valores
presentes em conta.
Importante colacionar jurisprudência no sentido da responsabilização
da instituição financeira no caso de gerar cobranças e descontos em seu benefício previdenciário e/ou
na conta bancária da vítima de fraude:

TJ-RS – RECURSO CÍVEL RI Nº 71002702694

CONSUMIDOR. CONTA CORRENTE. CONTRATAÇÃO DE


EMPRÉSTIMOS. SAQUES. FRAUDE. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DANO MORAL
CONFIGURADO. MULTA MANTIDA. I. Os empréstimos e saques efetuados através da conta da
autora, mediante fraude, configuram prática ilícita, sendo devida a repetição do valor descontado, em
dobro, e indenização por danos morais em virtude não só do abalo de crédito, mas também da violação
à segurança patrimonial do cliente.

TJ-RS – APELAÇÃO CÍVEL AC Nº 70040250102

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO


MEDIANTE FRAUDE. INDEVIDO DESCONTO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DANO
MORAL IN RE IPSA CARACTERIZADO. Aquele que tem descontado indevidamente de seu
benefício previdenciário valores referentes a empréstimo consignado que não contratou, sendo objeto
de fraude, sofre danos morais in re ipsa. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. Sendo ilegal a cobrança dos
valores, porque o contrato de empréstimo não foi firmado pela parte autora, a apelante faz jus à
restituição em dobro dos valores indevidamente descontados, razão por que incide na espécie o art. 42,
parágrafo único, do CDC.

Sendo indevida quaisquer cobranças sobre tais valores, requer-se a


declaração de nulidade da contratação do empréstimo consignado, ordenando que a ré que não faça
nenhum desconto na conta bancária do requerente sob pena de condenação por danos morais e
restituição em dobro do valor descontado indevidamente, conforme art. 42, parágrafo único, do
Código de Defesa do Consumidor.

3. DO DESRESPEITO À LEI GERAL DE PROTEÇÂO DE DADOS


PESSOAIS ( LGPD) e DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS.

A Lei nº 13.709/18, que entrou em vigor em agosto de 2020, adentrou


ao ordenamento jurídico brasileiro como forma de proteção aos dados pessoais dos titulares que
sofrem tratamento, inclusive dos meios digitais.

Dado pessoal é toda informação relação a pessoa natural identificada


ou identificável (art. 5º, I); titular é a pessoa natural a quem se referem os dados pessoais objetos de
tratamento (art. 5º, II); e tratamento é toda operação realizada com dados pessoais, como as que se
referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão,
distribuição, processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da
informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração (art. 5º, X).

Um dos princípios que regem as atividades do tratamento de dados


pessoais é o princípio da segurança, que prevê, conforme art. 6º, VII, “ utilização de medidas técnicas
e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações
acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou difusão.”

Frente a isso, de acordo com art. 46, “Os agentes de tratamento devem
adotar medidas de segurança, técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos
não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou
qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito.”

Na falha desse tratamento, como dita o art. 42 “O controlador ou o


operador que, em razão do exercício de atividade de tratamento de dados pessoais, causar a outrem
dano patrimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados
pessoais, é obrigado a repará-lo.”

No caso em tela, controlador, pessoa natural ou jurídica, de direito


público ou privado, a quem competem as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais, é a ré,
ao passo que o titular é o autor da ação.

Como visualizado, o tratamento de dados realizado pela ré, por ter


sido defeituoso, possibilitou a realização de contratação de serviço e furtos na conta bancária do
impetrante, ao passo que gerou a ele dano patrimonial e moral. Logo, ela é responsável a indenizá-lo.

Dispõe o art. 927 do CC: "Aquele que, por ato ilícito, causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei [...]”

Trata-se da obrigação de ressarcir o lesado ao status quo ante à


ocorrência do evento danoso. Conforme Paulo Nader, busca-se por colocar o patrimônio do lesado
“[...] nas condições em que haveria de estar se a obrigação fosse cumprida na forma convencionada e
de acordo com a lei”.
Dentro da sistemática do dano patrimonial, a indenização é devida
pelos danos emergentes, dano que ocasionou a efetiva diminuição patrimonial da vítima, no caso o
furto qualificado, e os lucros cessantes, se tratando daquilo que se deixou de ganhar.

No caso em tela, encontra-se configurado o dano emergente. E, por se


tratar de relação consumerista, conforme o art. 42, parágrafo único, é passível o pedido de repetição de
indébito pelos saques e empréstimo efetuados através da conta do autor mediante fraude.

TJ-RS – RECURSO CÍVEL RC 71002702694

CONSUMIDOR. CONTA CORRENTE. CONTRATAÇÃO DE


EMPRÉSTIMOS. SAQUES. FRAUDE. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DANO MORAL
CONFIGURADO. MULTA MANTIDA. I. Os empréstimos e saques efetuados através da conta da
autora, mediante fraude, configuram prática ilícita, sendo devida a repetição do valor descontado, em
dobro, e indenização por danos morais em virtude não só do abalo de crédito, mas também da violação
à segurança patrimonial do cliente.

TJ-SP PROCESSO: 1005132-96.2018.8.26.0161

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALOR C.C INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL. CONSUMIDOR. FRAUDE BANCÁRIA. Transação desconhecida na conta-
corrente por parte do autor. Fato incontroverso. Fortuito interno. Súmula 479 do STJ.
Responsabilidade civil do banco réu configurada. Falha no serviço bancário por insuficiência na
segurança do sistema, que permitiu a realização de transação sem anuência do consumidor. Ausência
de qualquer indício de participação do consumidor em fornecimento do cartão ou da senha para
realização da operação. Restituição do valor subtraído da conta-corrente do consumidor em dobro –
danos materiais comprovados.

Dado moral é a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física


ou jurídica provocada por ato lesivo. Por danos não patrimoniais podemos entender aqueles que
ofendem direitos de personalidade como a segurança e a tranquilidade.

O dano moral, no sentido jurídico não é a dor, a angústia, ou qualquer


outro sentimento negativo experimentado por uma pessoa, mas sim uma lesão que legitima a vítima e
os interessados reclamarem uma indenização pecuniária, no sentido de atenuar, em parte, as
consequências da lesão jurídica por eles sofrido. (MARIA HELENA DINIZ)

No caso em tela, houve dano moral pela insegurança da prestação dos


serviços bancários que ainda gerou a angústia do peticionante de ver todo o dinheiro adquirido de seu
árduo trabalho desaparecer de repente, além da preocupação de não saber se haveria dinheiro para
cumprir com suas responsabilidades.

Todas essas informações constatam a presença dos requisitos para a


configuração do dano imaterial: a omissão ou negligência do banco com seu cliente, ou seja, a falta de
segurança de seus sistemas que o levou a ser furtado, a causa do ato ilícito que é a falha dos sistemas
de segurança da instituição financeira, e o abalo psíquico/emocional gerado por conta do furto, que é
agravada frente a condição de saúde que o autor da ação se apresenta e a necessidade de garantir sua
subsistência e de sua família.

TJ-SP – APELAÇÃO CÍVEL AC 10027044920188260127 SP


1002704-49.2018.8.26.0127 (TJ-SP) AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E
MORAIS. CONSUMIDOR. FRAUDE BANCÁRIA. RECONHECIMENTO DE DANOS MORAIS
PASSÍVEIS DE INDENIZAÇÃO. O consumidor teve a quantia de R$ 800,00 debitada de sua conta
corrente mantida com o banco apelado sem sua anuência. Incidência da Súmula 479 do STJ. Oportuno
mencionar que o banco apelado não recorreu da sentença, o que tornou impertinente qualquer
cogitação de participação do consumidor no evento danoso. O consumidor teve um valor retirado
indevidamente de sua conta e, a partir disso, experimentou dissabores, transtornos e aborrecimentos
advindos não somente da falta de segurança do sistema bancário, mas também do atendimento
inadequado recebido para sua reclamação. Mesmo em Juízo, não houve atendimento pelo banco à
demanda do consumidor, insistindo-se numa versão (sem qualquer indício) de sua participação no
evento danoso. Além disso, deve ser considerado no caso concreto, como ressaltado nas razões de
recurso, que o autor apresentava uma situação financeira precária – pessoa humilde e trabalhadora. O
valor desviado de sua conta corrente comprometia sua existência – pagamento de contas (gás, por
exemplo). Em suma, a situação vivenciada pelo autor ultrapassou os meros transtornos do cotidiano,
qualificando-se como danos morais passíveis de reparação como concretização do direito básico do
consumidor. Indenização dos danos morais fixada de acordo com parâmetros aceitos pela Turma
julgadora (R$ 5.000,00). Ação procedente. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO.

Assim, é importante analisar e visualizar a função tríplice do dano


moral: compensar alguém em razão de lesão (função compensatória ou indenizatória) cometida por
outrem à sua esfera personalíssima, punir o agente causador do dano (função punitiva ou
indenizatória), e, por último, dissuadir e/ou prevenir nova prática do mesmo tipo de evento danoso
(função dissuadora ou preventiva).

De fato, não só reparatória, mas ainda preventiva é a missão da sanção


civil, que ora frisamos. Possibilita, de um lado, a desestimulação de ações lesivas, diante da
perspectiva desfavorável com que se depara o possível agente, obrigando-o, ou a retrair-se, ou, no
mínimo, a meditar sobre os ônus que terá de suportar. Pode, no entanto em concreto, deixar de tomar
as cautelas de uso: nesses casos, sobrevindo o resultado e à luz das medidas tomadas na prática, terá
que atuar para a reposição patrimonial, quando materiais os danos, ou a compensação, quando morais,
como vimos salientando. (CARLOS ALBERTO BITAR)

Logo, em razão do abalo psíquico sofrido pelo autor e, conforme a


prática do magistrado, a frequente falha de segurança das instituições bancárias, especialmente a ré,
em cuidar do patrimônio e dos dados de seus clientes, é cabível os danos morais como forma de
ressarcir a vítima e condenar a ré, evitando que ela continua a agir de forma desidiosa.

Apesar da demonstração das razões que deve haver a condenação da


ré por danos morais, é importante colacionar que a jurisprudência entende que, nos casos de fraude
bancárias, o dano é in re ipsa, ou seja, independe da demonstração efetiva da existência de lesão aos
direitos de personalidade.

TJDFT – APELAÇÃO CÍVEL DO JUIZADO ESPECIAL – AC Nº


2014071039158

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. DIREITO DO CONSUMIDOR.


AÇÃO DECLARATÓRIA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. AQUISIÇÃO DE EMPRÉSTIMO VIA INTERNET. FRAUDE
EVIDENCIADA SEM CONCORRÊNCIA DA AUTORA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO. BANCO NÃO IMPEDIU A REALIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMO POR TERCEIRO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DEVOLUÇÃO DOS VALORES DEBITADOS EM CONTA
CORRENTE DA AUTORA EM DOBRO. POSSIBILIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. OBSERVÂNCIA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 8. Na hipótese, é cabível a condenação por danos morais,
já que a honra subjetiva da parte autora/recorrida foi atacada, caracterizando, portanto, o referido dano,
sendo desnecessária, no caso, a comprovação concreta da ocorrência de abalos profundos, capazes de
alterar a paz de espírito e psíquica do consumidor, já que seria quase impossível para a vítima
comprovar a sua dor, tristeza e humilhação através de documentos e depoimentos. Destarte, tem-se
aqui que o dano moral se caracteriza pela própria ofensa e pela gravidade do ilícito em si, possuindo
natureza in re ipsa.

Diante tais fatos, requer a condenação da ré ao pagamento do quantum


indenizatório de R$ xxxxx a título de danos materiais e R$ xxxxx ( a título de danos morais,
atentando-se as suas três funções básicas de compensação, punição e prevenção.

4. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
O requerente, com fulcro nos artigos 319, inciso VII, e 334 do CPC,
manifesta-se favorável a audiência de conciliação, requerendo desde já a designação de data para ato
conciliatório.

5. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Considerando a redução patrimonial total do autor com o furto


sofrido, a questão pandêmica que reduziu consideravelmente a possibilidade de prestação de seus
serviços e a própria prestação, pois as normas de combate a pandemia as impossibilitam, a morte
recente de sua esposa, que tinha papel relevante no auxílio do sustento financeiro da casa, e a recente
contração do coronavírus, que impossibilitou o contato com outras pessoas durante 2 semanas,
agravando ainda mais sua renda, já que a única fonte estava sendo a prestação de serviço, o autor não
possui condições de arcar com custas processuais.

Comprova-se, então, sua hipossuficiência financeira e miserabilidade


econômica, garantindo a concessão de gratuidade de justiça, com a isenção do pagamento de custas e
emolumentos judiciais conforme o art. 5º, LXXIV da Constituição Federal, além dos artigos 98 e
seguintes do Código de Processo Civil.

Cabe lembrar que, conforme art. 99 § 4º do CPC “A assistência do


requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça.”

Sendo assim, nestes termos, requer o autor que seja julgado


procedente o pedido de gratuidade da justiça, abstendo-o de toda e qualquer despesa advinda desta
lide.

6. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

Conforme o art. 85 do CPC, a sentença condenatória deverá arbitrar


honorários advocatícios a serem pagos ao advogado da parte vencedora pela parte vencida.

Por tal razão, legitimando a atuação advocatícia na causa, requer-se a


condenação da reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no importe de 20% sobre o valor
atualizado da causa, conforme § 2º do artigo supramencionado, a ser revertido em favor do advogado
da parte autora, Alan Churchil D’Oliveira.

III. DOS PEDIDOS


Diante o exposto, requer a Vossa Excelência, de modo urgente:

a) Deferimento da Liminar, inaudita altera pars, ordenando a ré o


depósito do valor integral furtado da conta do autor de R$12.940,71 (doze mil, novecentos e quarenta
reais, e setenta e um centavos) furtados de sua conta, sob pena de aplicação das astreintes, conforme
art. 139, IV e 537, § 2º do CPC;

Ainda, requer a condenação da ré:

b) Ao pagamento de indenização, o valor de R$ xxxxx a título de


danos materiais, conforme disposto no art. 42, parágrafo único do CDC, e o valor de R$ xxxxx a título
de danos morais, passíveis de pagamento conforme jurisprudência selecionada;

Requer, também:

c) A declaração de nulidade do empréstimo consignado feito em nome


do autor por se tratar de ato ilícito, sendo assim negócio jurídico nulo, conforme art. 166, II do Código
Civil, ordenando, ainda, que a ré não faça nenhum desconto na conta bancária do requerente sob pena
de condenação por danos morais e restituição em dobro do valor descontado indevidamente, conforme
art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor.

d) REQUERIMENTOS FINAIS

Além dos pedidos já aqui expostos, requer-se a Vossa Excelência:

a) a citação da ré para o comparecimento para apresentação de defesa,


caso lhe convenha, sob pena de revelia e confissão das matérias de fato aqui expostas, presumindo ser
verdadeiros todos os fatos aqui alegados;

b) a concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, por


tratar-se o Reclamante de pessoa pobre nos termos da lei, conforme art. 5º, LXXIV da Constituição
Federal, dos artigos 98 e 99 do NCPC, e da lei 1.060/50, não possuindo condições financeiras alguma
de arcar com os custos da presente ação;

c) A condenação da ré ao pagamento das custas, e dos honorários


advocatícios em favor do advogado da parte autora, à base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da
condenação, nos termos do art. 85 do CPC;
d) a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente
documental, considerando os documentos aqui anexados, e a inversão do ônus probante, conforme art.
6º VIII do CDC para que demonstrem que não houve falha na segurança do sistema eletrônico do
banco que possibilitou o furto;

e) Que sejam julgados PROCEDENTES os presentes pedidos em


todos os seus termos e que seja a ré condenada ao pagamento dos valores ora pleiteados a serem
apurados em regular liquidação de sentença, acrescidas de juros e correção monetária até a data do
efetivo pagamento, no caso de indeferimento do pedido liminar.

Atribui-se à causa o valor de R$ xxxxx , correspondente à somatória


aproximada dos valores dos pedidos.

Nestes termos,

Pede-se deferimento.

Local, data.

Advogado Alan Churchil D’Oliveira

OAB/SP nº 451.486

[1] Para se comprovar a legalidade e a oportunidade da aplicação da


multa o Demandante junta a Ementa de um decisório sobre a matéria:

Agravo de Instrumento Nº 70059652776 (Nº CNJ: 0157840-


78.2014.8.21.7000)

Agravante: Aymoré Crédito, Financiamento e Investimentos S.A.

Agravado: Flavio Barbosa

Décima Terceira Câmara Cível

Comarca de Santa Maria/RS


Relatora: Desa. Ângela Terezinha de Oliveira Brito

Agravo de Instrumento. Ação de Busca e Apreensão. Decisão


Monocrática. Multa Cominatória. A multa com caráter inibitório é medida consagrada no direito
processual moderno, tendo em vista os arts. 461 e 461-a do CPC e 84 do CDC. Sua finalidade
instrumental, de coagir o devedor a cumprir sua obrigação, justifica a possibilidade de sua fixação
mesmo de ofício, tanto nos provimentos finais quanto nos antecipatórios. Quanto ao valor da multa
diária, deve ser significativo, a fim de atingir a sua finalidade.

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