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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE , ESTADO

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
QUALIFICAÇÃO DO AUTOR (A), brasileira, casada, RG, CPF, residente e domiciliada na
Rua, Bairro, Cidade, Estado. CEP, doravante denominada AUTORA, vem, perante Vossa
Excelência, por intermédio de seu advogado e bastante procurador, que a esta subscreve,
propor:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS, C/C DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E REPETIÇÃO DE INDÉBITO, COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA,
contra BANCO DO BRASIL S.A (CAIXA ECONOMICA FEDERAL É NA JUSTIÇA FEDERAL,
CONFIRA O MODELO ESPECÍFICO), pessoa jurídica de direito privado, sociedade de
economia mista, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas sob o CNPJ nº
00.000.000/0001-91, com sede na Avenida Gonçalves Dias, nº 1052 – CENTRO, Sã o José
de Ribamar - Maranhã o, CEP: 65110-000, doravante denominado RÉU, fazendo com base
nos argumentos de fato e de direito a seguir aduzidos:
I - DA JUSTIÇA GRATUITA:
A Constituiçã o da Republica, em seu art. 5º, inciso LXXIV, garante aos cidadã os a prestaçã o
de assistência jurídica integral à queles que comprovarem a insuficiência de recursos.
Conformando a referida garantia, o artigo 99, § 3º, do Có digo de Processo Civil trouxe
inovaçã o que já se manifestava nos tribunais superiores: “Presume – se verdadeira a
alegação de hipossuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.”.
Nesse viés, a Autora declara - se necessitada na forma da lei, nã o podendo arcar com as
custas do processo, daí porque merecer o reconhecimento do seu direito à prestaçã o de
assistência judiciá ria gratuita e integral.
A Autora pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita assegurados pela Constituiçã o Federal,
artigo 5º, LXXIV e artigo 99, § 3º do Có digo de Processo Civil tendo em vista que nã o pode
arcar com as despesas processuais, sem prejuízo de seu sustento.
II – DOS FATOS:
A Autora é cliente do Réu e titular da conta corrente nº........, na Agência ........., na Cidade,
Estado. Para realizaçõ es financeiras utiliza o cartã o magnético de débito, fornecido pelo
Réu.
Ocorre, Excelência que no dia 15/08/2019, a Autora foi surpreendida ao verificar a
existência de um débito no valor de .......... (valor por extenso) correspondente à compra de
uma passagem aérea na companhia Azul, na cidade de Jundiaí - SP. No entanto, a Autora
jamais esteve na supracitada cidade onde ocorreu o fato, e nega ter efetuado a compra.
Imediatamente apó s saber da compra, a Autora se dirigiu à sua agência, onde foi informada
pela gerência que se tratava de CARTÃO CLONADO, já que o có digo nº ............., da operaçã o
no extrato, (Doc. em anexo), indicava que a compra da referida passagem havia ocorrido na
cidade de Jundiaí – SP, enquanto a titular da conta se encontrava em Sã o José de Ribamar –
MA, e que o dinheiro seria devolvido no prazo de até 15 dias:
Neste ínterim, Autora ainda entrou em contato com o Serviço de Atendimento ao Cliente
(SAC) do Réu através dos protocolos de atendimento nº .......... e ............., onde foi atendida
pelas funcioná rias CAROLINE e APARECIDA, respectivamente, que deram a mesma
informaçã o: que o Banco verificou se tratar de cartão clonado, e que o dinheiro seria
devolvido no prazo de 15 dias, o que nunca aconteceu. No entanto, já se passaram mais
de dois meses do fato que gerou o dano e o Réu ainda nã o providenciou o ressarcimento
do valor retirado da conta, fato que ocorreu mediante cartã o clonado, segundo o pró prio
Réu.
Daí, o que se confirmou foi o defeito (falha) na prestaçã o do serviço, já que é evidente ô nus
da atividade empresarial, enquanto instituiçã o bancá ria, o dever de tomar medidas de
segurança necessárias a fim de evitar que terceiro tenha acesso aos registros da
Autora e realize operações indevidas em sua conta, sendo diligente na guarda das
informações, registros pessoais e financeiros da correntista, o que nã o ocorreu.
Veja bem, Excelência, a conta corrente em questã o é utilizada pela Autora para movimentar
valores de natureza alimentar, uma vez que a sua economia familiar é de natureza
autônoma, advinda da prestação de serviços de............(Doc. em anexo, MEI, recibos,
extratos, mensagens, email). O valor gasto com a compra nã o autorizada pela Autora,
R$ .................... (valor por extenso), correspondeu quase ao valor total do saldo disponível
na época: R$ ................................ (valor por extenso), o que causou um transtorno de
enormes proporçõ es, pois a Autora ficou sem a renda que estava destinada ao sustento
alimentar de sua família.
Como se não bastasse o dano causado pela falha na prestação do serviço, o Réu
bloqueou o aplicativo para consultas de extrato, assim, como a função de saque no
cartão, que está liberado apenas para compras no débito, mas continua cobrando
pelo pacote de manutenção da conta corrente em questão, o que está gerando um
saldo negativo, e por consequência dano material.
É importante frisar que a Autora nã o consegue mais movimentar sua conta com total
liberdade, pois o cartão que lhe dá acesso à mesma está bloqueado para saques, assim
como também estão bloqueadas as funções do aplicativo do banco para celular, de
forma que a Autora nã o consegue sequer ter acesso ao extrato, apenas visualizar o saldo
negativo gerado pela cobrança do pacote de manutençã o de serviços, que a Autora nã o
consegue usufruir (documento em anexo), prints do aplicativo:
Tal débito, no valor de R$ ..........., advindo da cobrança do pacote de manutenção é
INEXISTENTE, porque resulta da falha ou defeito na prestaçã o do serviço bancá rio. Ora,
nã o é razoá vel esperar que a Autora continue autorizando a permanência de relevantes
valores que seriam pagos por clientes na conta em questã o enquanto o Réu nã o resolver o
problema que concerne à compra nã o autorizada no cartã o de sua conta, porque,
obviamente, nã o é seguro, o que é um absurdo contrassenso, pois a função essencial que
se espera de uma instituição bancária é que sejam protegidos os dados e
informações de seus clientes, e que o dinheiro ali guardado esteja SEGURO, mas nã o foi o
que aconteceu no caso em tela. O Réu falhou em sua funçã o essencial, causando dano moral
e material.
Diante da responsabilidade objetiva do Réu como fornecedora, o que se configura aqui é
sólido dano moral e material. A Autora teve atacada sua honra objetiva quando foi
usurpada do valor de R$........ (valor por extenso) fruto de seu trabalho, destinado ao
sustento de sua família.
Há de se convir que tal situação causada pelo Réu causa vergonha e humilhação à
Autora, tendo em vista que ficou sem a renda destinada para o sustento de sua
família, e ultrapassa, à longa distância, a barreira do mero dissabor, causando
indubitá vel dano moral e material, que resultou da falha (defeito) na prestaçã o do serviço.
Portanto, Excelência, diante de tudo o que foi narrado, e da inércia do Réu em resolver o
problema da Autora, nã o restou alternativa senã o se dirigir ao Poder Judiciá rio para que
possa receber a tutela jurisdicional pretendida (reparaçã o material e moral e a declaraçã o
da inexistência do débito), como medida da mais lídima Justiça!
III – DO DIREITO:
1. Do dano moral e material:
O direito à indenizaçã o surge do dano moral ou material causado pelo comportamento
eivado de CULPA, DOLO ou IMPERÍCIA de uma pessoa sobre a outra. Os direitos da
personalidade compreendem os direitos da integridade da pessoa jurídica e os direitos à
integridade moral. Estes abrangem o direito à honra, à intimidade, liberdade de mercado, o
direito a imagem e o direito a justiça.
No caso em deslinde, o direito constitucional da garantia do direito à honra, intimidade,
dignidade e liberdade de consumo da Autora, consumidora, no caso em tela, do produto
ofertado pelo Réu foi suprimido em decorrência de falha na prestaçã o do serviço, o que
acabou por causar enorme constrangimento, resultando em ato ilícito, passível de ser
indenizado.
Sob esta ó tica, preceitua o artigo 186, do Có digo Civil:
“Aquele que, por açã o ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Neste sentido, institui o pará grafo ú nico do artigo 927, do Có digo Civil:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará -lo.
Pará grafo ú nico. Haverá obrigaçã o de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
Sob outro prisma, o artigo 14 do Có digo de Defesa do Consumidor estabelece a
responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços (independente de culpa), diante
da falha (defeito) na prestação do serviço, para que haja o dever de indenizar:
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparaçã o dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestaçã o
dos serviços, bem como por informaçõ es insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiçã o e
riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele
pode esperar, levando-se em consideraçã o as circunstâ ncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
(...).”
Assim, o que consubstanciou o dano moral e material foi o fato de que a Autora teve sua
liberdade de mercado, bem como sua intimidade e honra preteridos pela falha na
prestação do serviço do Réu, que notadamente nã o forneceu a segurança que a
consumidora esperava, deixando de ser diligente na guarda das informaçõ es e dados de sua
conta, o que acarretou na compra nã o autorizada, gerando inquestioná vel dano moral e
material, conforme amplamente demonstrado acima.
Neste sentido, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Maranhã o já decidiu, em caso
aná logo, que a falha na prestaçã o do serviço como resultado de compra no cartã o nã o
autorizada pelo titular da conta gera a obrigação de indenizar, conforme se pode
verificar adiante:
“EMENTA APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O. CARTÃO CLONADO. VALORES
DEBITADOS INDEVIDAMENTE DA CONTA CORRENTE DA AUTORA. CONFIGURAÇÃO DO
DANO DE ORDEM MORAL. I - Nos casos de clonagem de cartã o e saques indevidos o dano
é presumido, pois demonstrada a conduta e nexo de causalidade, ensejando o dever de
indenizar, especialmente no caso dos autos em que comprovado que os saques
indevidos deixaram a conta corrente sem saldo. (ApCiv 0159502018, Rel.
Desembargador (a) JORGE RACHID MUBÁ RACK MALUF, PRIMEIRA CÂ MARA CÍVEL,
julgado em 25/10/2018 , DJe 05/11/2018)”
No mesmo diapasã o, inclusive com majoraçã o de danos:
“EMENTA DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O
POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CARTÃO MAGNÉTICO CLONADO. SAQUES
REALIZADOS NO EXTERIOR. INCIDÊ NCIA DO CÓ DIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO BANCÁRIO. DANO MORAL CONFIGURADO.
MAJORAÇÃ O DO QUANTUM INDENIZATORIO. APELO CONHECIDO E PROVIDO. I. O
inconformismo da apelante diz respeito tã o somente ao quantum fixado a título de
indenizaçã o por danos morais, restando incontroverso nos autos, a falha na prestação
do serviço por parte do Banco apelado, visto que deixou de tomar as medidas de
segurança necessárias a fim de evitar que terceiro tivesse acesso aos registros da
recorrente e realizasse operações indevidas em sua conta corrente. II. No caso em
exame, incidem as regras do Código de Defesa do Consumidor, vez que o recorrido
enquadra-se como fornecedor de serviços, enquanto a recorrente figura como destinatá rio
final, portanto, consumidor, nos termos dos artigos 2º e 3º da Lei n.º 8.078/90. III. Restou
reconhecida a falha na prestação do serviço pelo banco apelado, o qual não foi
diligente na guarda das informações, registros pessoais e financeiros da correntista,
o que ensejou à clonagem do cartão magnético da apelante, bem como a realizaçã o de
vá rios saques no exterior. IV. Relativamente à mensuraçã o dos danos morais, deve-se
ressaltar que a reparaçã o moral tem funçã o compensató ria e punitiva. A primeira,
compensató ria, deve ser analisada sob os prismas da extensã o do dano e das condiçõ es
pessoais da vítima. O exame da extensã o do dano leva em conta o bem jurídico lesado,
como por exemplo, a honra, a intimidade, lesã o corporal, etc. Já as condiçõ es pessoais da
vítima é o critério que pesquisa a situaçã o do ofendido antes e depois da lesã o. V. No
presente caso, valorando-se as peculiaridades da hipó tese concreta, entendo que o
quantum fixado pela sentença a título de indenizaçã o por danos morais se mostra aquém
daquele que confere justa reparaçã o do prejuízo, motivo porque deve ser majorado para
R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por entender como suficiente para ressarcir à apelante
pelos problemas que lhe foram trazidos pela má prestaçã o do serviço contratado. VI. Apelo
conhecido e provido. (ApCiv 0401022014, Rel. Desembargador (a) RAIMUNDO JOSÉ
BARROS DE SOUSA, QUINTA CÂ MARA CÍVEL, julgado em 15/12/2014 , DJe 19/12/2014)
É uníssono o entendimento deste Egrégio Tribunal:
APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. CARTÃO
DE CRÉDITO CLONADO. INSCRIÇÃ O NOS Ó RGÃ OS DE PROTEÇÃ O AO CRÉ DITO. DANOS
MORAIS. CARACTERIZAÇÃO. QUANTUM. RESPEITO À PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE. 1. Nã o há dú vidas de que a relaçã o havida entre os demandantes é regida
pelas disposiçõ es do Có digo de Defesa do Consumidor, uma vez que as partes enquadram-
se nos conceitos de fornecedor e consumidor. 2. É sabido que a fixaçã o do quantum
indenizató rio deve levar em consideraçã o nã o apenas o cará ter compensató rio do dano
sofrido pela vítima, mas também punitivo e preventivo, a fim de se evitar a reincidência.
Assim, a verba indenizató ria deverá ser fixada com observâ ncia da situaçã o econô mica das
partes, da gravidade do dano, dos incô modos experimentados pela vítima e do aspecto
educativo da sançã o, observando-se a proporcionalidade e a razoabilidade da condenaçã o.
3. Estando a indenizaçã o a título de danos morais aquém dos termos acima, mostra-se
necessá ria a elevaçã o do quantum fixado. 4. Recurso provido. (ApCiv 0053942011, Rel.
Desembargador (a) LOURIVAL DE JESUS SEREJO SOUSA, TERCEIRA CÂ MARA CÍVEL,
julgado em 12/05/2011 , DJe 18/05/2011)
Por fim, a conduta do Réu, eivada de ilicitude, dolo, culpa, negligência, imperícia e má – fé,
como exaustivamente descrita em linhas pretéritas, causou à Autora vergonha e
humilhaçã o ao ter sua economia familiar devastada e quando o saldo destinado ao sustento
de sua família foi usurpado de sua conta corrente, por culpa exclusiva do Réu, que nã o foi
diligente na guarda das informaçõ es, registros pessoais e financeiros da Autora, o que
ensejou a clonagem do cartã o magnético, fato que maculou sua honra objetiva, sua
intimidade e sua imagem, o que configura indubitá vel prá tica de ato ilícito (falha na
prestaçã o do serviço), motivo pelo qual o réu deve ser condenado por danos morais no
valor a ser arbitrado por vossa excelência.
Quanto ao DANO MATERIAL, este restou mais do que configurado no momento em que foi
realizada a compra, sem a autorizaçã o da Autora, no valor de R$ ............................. (................),
fruto de seu trabalho, destinado ao sustento de sua família.
Portanto, nã o carece de maiores discussõ es acerca da ocorrência do dano material, tendo
em vista que a argumentaçã o até aqui expendida e o conjunto probató rio acostado aos
autos sã o suficientes para verificar sua ocorrência.
Deste modo, a Autora apresenta a Vossa Excelência a planilha com o valor atualizado até a
presente data, referente à compra nã o autorizada no cartã o magnético, para fins de fixaçã o
do quantum indenizató rio em relaçã o aos danos materiais:
(Cá lculo realizado no site do TJDFT https://www.tjdft.jus.br/servicos/atualizacao-
monetá ria-1/calculo, documento em anexo).
Assim, o valor a ser indenizado a título de DANOS MATERIAIS é de R$......................................
(..................................................), a serem atualizados, DESDE O EVENTO DANOSO, até a data
da sentença condenató ria.
1. Da inexistência do débito – repetição do indébito:
Excelência, a questã o acerca da inexistência do débito é simples e, portanto, nã o carece de
maiores debates, senã o vejamos:
O fato que deu origem ao débito em questã o de R$.......... (...........................), ocorreu por culpa
exclusiva do Réu que, além de nã o resguardar as informaçõ es pessoais da Autora,
resultando em compra nã o autorizada no seu cartã o magnético, jamais providenciando o
ressarcimento do valor retirado indevidamente em sua conta, ainda bloqueou funçõ es do
aplicativo e o cartã o para saques, restringindo apenas seu uso para compras no débito.
No que tange à repetiçã o do indébito, estabelece o pará grafo ú nico do artigo 42, do Có digo
de Defesa do Consumidor:
“O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetiçã o do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correçã o monetá ria e juros legais,
salvo hipó tese de engano justificá vel.”
No mesmo sentido é a regra do artigo 940, do Có digo Civil:
“Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias
recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no
primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele
exigir, salvo se houver prescriçã o.”
Portanto, o Réu nã o pode cobrar pelo pacote de serviços que a Autora nã o está usufruindo,
motivo pelo qual desde já requer a declaraçã o da inexistência do débito de R$............................
(..................), bem como de valores futuramente debitados durante o trâ mite desta açã o, com
a consequente devoluçã o da quantia no final do processo, com as devidas correçõ es,
conforme determina o artigo 42, pará grafo ú nico do CDC.
c) Da inversão do ônus da prova:
A questã o do ô nus da prova é de relevante importâ ncia, visto que a sua inobservâ ncia pode
vir a acarretar prejuízos aos que dela se sujeitam, mormente à aplicaçã o do Có digo de
Defesa do Consumidor.
Feitas estas consideraçõ es, reportemo-nos ao Có digo de Defesa do Consumidor, que traz
uma inovaçã o inserida no inciso VIII, artigo 6º, onde visa facilitar a defesa do consumidor
lesado, com a inversã o do ô nus da prova, a favor do mesmo. No processo civil, ocorre a
inversã o quando, a critério do juiz, for verossímil a alegaçã o, ou quando for ele
hipossuficiente, constatando-se a inversã o do onusprobandi.
Da exegese do supracitado artigo vislumbra-se que para a inversã o do ô nus da prova se faz
necessá ria a verossimilhança da alegaçã o, e a hipossuficiência do RECLAMANTE. Portanto,
sã o 02 (duas) as situaçõ es, presentes no artigo em tela, para a concessã o da inversã o do
ô nus da prova, quais sejam: a verossimilhança e a hipossuficiência.
A verossimilhança, mais que um indício de prova tem uma aparência de verdade, o que no
caso em tela, se constata através dos documentos em anexo, ou seja, o extrato bancário da
Autora, comprovando a compra não autorizada com seu cartão magnético e as telas
do aplicativo, onde se pode atestar o saldo negativo resultante da cobrança indevida
do pacote de serviços, que deram origem ao dano ora pleiteado.
Por outro lado, a hipossuficiência é a diminuiçã o de capacidade do consumidor, diante da
situaçã o de vantagem econô mica da empresa fornecedora, que por sua vez facilmente se
verifica. Daí, a relevâ ncia da inversã o do ô nus da prova está em fazer com que o
consumidor de boa-fé torne-se mais consciente de seus direitos e o fornecedor mais
responsá vel e garantidor dos bens que põ e no comércio.
Assim, demonstrada a existência da relaçã o de consumo entre as partes litigantes, mister se
faz a aplicaçã o das normas específicas previstas no Có digo de Defesa do Consumidor,
notadamente aquela insculpida no artigo 6º, inciso VI e VII, que estabelecem ser direito
bá sico do consumidor a efetiva reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos.
Portanto, à luz dos argumentos até aqui expendidos, a inversã o do ô nus da prova é medida
que se impõ e no caso em concreto fazendo jus a Autora, pelo que merece deferimento.
IV – DA TUTELA DE URGÊNCIA:
Estabelece o artigo 300 do Có digo de Processo Civil:
“A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo”
(original sem grifo)
Desta forma, o referido dispositivo visa resguardar o direito da Autora, quando houver
risco ao resultado do processo ou, seja prová vel o direito e evidente o perigo de dano, de
modo que este já foi causado como resultado de uma falha na prestaçã o do serviço, que lhe
causou ofensa no meio social em que vive, por CULPA EXCLUSIVA DO RÉ U, situaçã o que
nã o se pode prolongar.
É importante mencionar que o conjunto probató rio acostado aos autos é mais que
suficiente para concessã o da tutela pretendida, sendo: o extrato bancá rio da Autora e as
telas do aplicativo, onde se comprova o bloqueio de funçõ es essenciais como a visualizaçã o
de extratos e demais funcionalidades do aplicativo, provas irrefutá veis do fato do serviço.
Tal medida de urgência se faz necessá ria uma vez que além do vasto conjunto de provas, há
grande e fundado perigo de dano e risco ao resultado ú til do processo, uma vez que a
Autora ainda nã o recebeu a restituiçã o correspondente à compra nã o autorizada, teve seu
acesso à conta restrito e está sendo cobrada por serviços que é impedida de utilizar,
reduzindo, sobremaneira, seu poder de consumo e sua liberdade de mercado.
Adicionalmente, o artigo 537 do Có digo de Processo Civil, prevê a possibilidade de
aplicaçã o de multa, desde que seja suficiente com a obrigaçã o:
“A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de
conhecimento, em tutela provisó ria ou na sentença, ou na fase de execuçã o, desde que seja
suficiente e compatível com a obrigaçã o para cumprimento do preceito.”
No presente caso resta demonstrado que a aplicaçã o da multa em caso de desobediência é
essencial para impedir novas cobranças pelo pacote de serviços enquanto a Autora nã o
tiver pleno acesso a todas as funcionalidades que sua conta lhe dá direito, motivo pelo qual,
em sendo compatível com a mesma, deverá ser aplicada, nos termos da legislaçã o
supramencionada.
Assim, presentes os requisitos legais, à luz da ordem jurídica vigente, resta evidenciado que
a Autora faz jus à concessã o da Tutela de Urgência no sentido de desbloquear todas as
funçõ es do aplicativo, impedindo que o RÉ U COBRE VALORES REFERENTES À
MANUTENÇÃ O DA CONTA DA AUTORA, durante o curso do processo, enquanto a mesma
nã o obtiver acesso irrestrito a todas as funcionalidades a que tem direito, tendo em vista
que o bloqueio das funçõ es e a cobrança nã o se justificam no caso em concreto.
V – DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer:
1. A concessão da tutela de urgência, para DESBLOQUEAR TODAS AS FUNÇÕ ES DO
APLICATIVO E IMPEDIR O RÉ U DE COBRAR VALORES REFERENTES À MANUTENÇÃ O
DA CONTA DA AUTORA, durante o curso do processo, no prazo que Vossa Excelência
determinar, sob pena de multa diá ria, nos termos do artigo 300, do Có digo de Processo
Civil;
2. A concessão dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita, por nã o ter a Autora
condiçõ es de arcar com as custas processuais sem prejuízo de seu sustento;
3. A citação do Réu, no endereço fornecido no preâ mbulo desta exordial, para que
apresente defesa e compareça à audiência de conciliaçã o, sob pena de revelia,
confissão e multa, nos termos do artigo 334, parágrafo 8º, do Código de Processo
Civil;
4. A condenação do Réu ao pagamento de danos morais, decorrente da falha na
prestação do serviço, pelos motivos já expostos em linhas pretéritas, no valor a ser
arbitrado por Vossa Excelência;
5. A condenação do Réu ao pagamento de danos materiais no valor de R$ ...........
(......................), a serem atualizados, DESDE O EVENTO DANOSO, até a data da sentença
condenató ria;
6. A declaração da inexistência do débito de R$ ..................... (..................................)
debitados a título de cobrança do pacote de serviços, durante o trâmite desta
ação, com a consequente repetição do indébito no final do processo, com as
devidas correções, conforme determina o artigo422,pará grafo ú nicoo doC.D.C..;
7. A inversão do ônus da prova, com a aplicaçã o das normas estabelecidas peloCó digo
de Defesa do Consumidorr, nos moldes do artigo6ºº, inciso VIII, do aludido
diploma legal;
8. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em Direito,
especialmente a prova documental.
Dá – se à causa o valor de R$ ..................(teto do Juizado, vigente na data do protocolo).
Nestes termos, pede deferimento.
Local, data.
ADVOGADO
OAB....

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