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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO
01ª Turma

PROCESSO nº 0010517-31.2017.5.03.0173 (RO)


RECORRENTE: PATRICK FURTADO DA SILVA
RECORRIDOS: CALLINK SERVIÇOS DE CALL CENTER LTDA (1)
CIELO S/A (2)
RELATOR(A): JOSÉ EDUARDO DE RESENDE CHAVES JÚNIOR

EMENTA
TRABALHADORES DA CIELO. ARRANJO DE PAGAMENTO.
ENQUADRAMENTO SINDICAL. BANCÁRIO. CONEXIDADE E
SIMILARIDADE. 1. O arranjo de pagamento, instituído pela Lei
12.865/2013, que se apresenta como alternativa ao meio circulante
tradicional, é uma atividade de intermediação e custódia de valores,
regulada e fiscalizada pelo Banco Central do Brasil, atividade essa
enquadrada, como tal, pelo artigo 17 da Lei 4.595/1964, como própria de
instituição financeira lato sensu. Além disso, as instituições de pagamento,
operadoras do sistema de arranjo de pagamento, concedem também
empréstimos a seus clientes, por meio do sistema de antecipação de
recebíveis. 2. O artigo 6°, § 2o da Lei 12.865/2013 não se apresenta
como óbice a tal enquadramento, porquanto a distinção entre valores ou
recursos que circulam no arranjo de pagamento e aqueles operados pelos
bancos e cartões de crédito, sem a intermediação da instituição de
pagamento, é um artificialismo técnico interno que se restringe à esfera do
sistema financeiro nacional, não atingindo o sistema jurídico do
contrato-realidade de trabalho, porquanto sua dispositividade opera apenas
sobre a atividade financeira ou monetária do empreendimento, mas não
alcança a sua atividade patronal. Em síntese, tal dispositivo legal aplica-se
apenas no âmbito de regulação do Direito Econômico, não abrangendo o
campo científico, jurídico e legal do Direito do Trabalho. 3. Até que as
categorias, econômica ou profissional, das instituições de pagamento
sejam desmembradas, a tutela normativa autônoma deve se operar pela
norma coletiva dos bancários e não pela dos financiários, porquanto as
atividades funcionais dos bancos têm maior grau de conexidade com o
leque de atividades desempenhadas no arranjo de pagamento, do que com
aquelas praticadas pelas empresas financeiras em sentido estrito, que têm
sua atuação mais específica no campo do financiamento. Além disso, o
arranjo de pagamento envolve a gerência da chamada conta de pagamento
e também a conversão de moeda física ou escritural em moeda eletrônica,
ou vice-versa, o que atende também o critério da maior similaridade com
os bancos. Inteligência dos artigos 511 e 581 da CLT.

RELATÓRIO

O MM. Juiz Fernando Sollero Caiaffa, pela decisão de Id d347894 - Pág.


Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: José Eduardo de Resende Chaves Júnior
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1-6 (cujo relatório adoto e a este incorporo), julgou a Ação IMPROCEDENTE.

Inconformado, o reclamante insurge-se. Requer, em síntese, que seja


declarada a ilicitude da terceirização havida e reconhecido o vínculo de emprego diretamente com o
tomador de serviços (CIELO S/A), deferindo-se ao autor todas as parcelas pleiteadas inicialmente,
previstas nos ACT´s dos bancários.

Contrarrazões, pelas razões de Id 0a3aa24 e Id 0f64187, respectivamente


pelas reclamadas CIELO e CALLINK, pugnando pela manutenção da r. decisão recorrida.

É o relatório.

ADMISSIBILIDADE

Próprio, tempestivo, e preenchidos os demais pressupostos de


admissibilidade, conheço do recurso. Custas pelo recorrente, isento.

MÉRITO

DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM O TOMADOR DOS


SERVIÇOS

1.O d. Juízo sentenciante, entendeu não se tratar de intermediação ilícita


de mão de obra, mas sim de terceirização de serviços passíveis de serem executados por empresas
especializadas, não se aplicando ao presente caso a Súmula 331, do TST e Súmula 49, deste TRT3. Desta
feita, DECLAROU LÍCITA a terceirização havida, uma vez que as atividades narradas na inicial não
revelam o desvio de finalidade do contrato, estando em consonância com o objeto social da empregadora.

O reclamante insurge-se. Afirma que sempre trabalhou em proveito da


segunda recorrida (CIELO), tomadora dos serviços, em atividades tipicamente relacionadas à
atividade-fim desta, tais como vendas de financiamentos, crédito direto, vendas de crédito
preventivo-CPP, de crédito parcelado, vendas de crédito consignado para pessoas físicas, vendas de
créditos/empréstimos de capital de giro para pessoas jurídicas, vendas de seguro vinculado ao
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financiamento, faz negociação de taxa de juros, venda de cartão de crédito, adicional de cartão de crédito,
modificação de limites de cartão de créditos, etc. (Id 8c660c7 - Pág. 5). Requer, depois de tudo exposto,
que seja declarada a ilicitude da terceirização havida e reconhecido o vínculo de emprego diretamente
com a tomadora de serviços (CIELO S/A), que deve ser equiparada a estabelecimento de crédito, com
aplicação das normas coletivas dos bancários juntada aos autos, deferindo-se ao autor todas as parcelas
pleiteadas inicialmente, previstas nos ACT´s dos bancários, tais como o auxílio refeição, auxilio
cesta-alimentação, 13º. Cesta alimentação, PLR e a PLR adicional.

Ao exame.

A CTPS demonstra que o reclamante foi admitido pela CALLINK


SERVIÇOS DE CALL CENTER LTDA., em 13/07/2015, para exercer a função de "Atendente
Televendas", continuando o contrato de trabalho em vigor até a data da propositura da presente demanda.

Embora tenha sido o autor contratado pela referida reclamada, laborou,


com exclusividade, para a CIELO S/A, beneficiária única dos serviços prestados por ele, como restou
demonstrado pelo conjunto probatório produzido nestes autos, e é o que se infere dos pontos declarados
incontroversos pelas partes, em audiência (Id 617b02f - Pág. 1-2); os destaques não são do original):

"a) Os cartões de ponto refletem a real jornada de trabalho;

b) O superior hierárquico do(a) reclamante era funcionário(a) da Callink;

c) O(a) reclamante realizava oferta de antecipação de recebíveis de POS de clientes


pessoa jurídica da CIELO;

d) O(a) reclamante não tem acesso a conta corrente;

e) O(a) reclamante não tinha acesso a câmara de compensação de cheque;

f) A reclamante não exercia atividades como operação de CDC, leasing;

g) A reclamante não trabalhava nas dependências de Agência Bancária;

h) A Callink possui outras empresas clientes;

i) a recte recebia ticket alimentação da Callink conforme os extratos juntados,


reconhecendo os valores dos comprovantes do cartão Policard juntado;

j) Nunca aconteceu da autora ser transferida para outros projetos da Callink


embora tal situação pudesse ocorrer;

l) os atendimentos eram via telefone e computador;

m) o recte tinha duas pausas de 10 min e um intervalo 01:18h, conforme espelhos de


pontos juntados aos autos;

n) o recte recebia vale transporte da Callink conforme demonstrativos;

o) as atividades desempenhadas pelo autor (a) estavam pré-determinadas no sistema.".

A par disso, em face das funções exercidas, totalmente voltadas para


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atividades relacionadas com cartões de crédito, é indubitável que o trabalho do autor achava-se inserido
na atividade principal, habitual, necessária, ou seja, atividade laboral permanente do processo produtivo
da CIELO.

Dispõe o inciso I, da Súmula 331 do C. TST que a contratação de


trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos
serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n. 6.019/74).

A mesma cristalização de Jurisprudência, em seu inciso III dispõe, in fine,


que o vínculo não se forma com o tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

Mas a análise fática dos autos demonstra justamente o contrário, ou seja,


que o trabalhador, no desempenho de suas tarefas, estava jungido a subordinação estrutural, integrativa ou
reticular.

No Magistério de Maurício Delgado, a subordinação estrutural é a que se


manifesta pela inserção do trabalhador na dinâmica do tomador de seus serviços, independentemente de
receber (ou não) suas ordens diretas, mas acolhendo, estruturalmente, sua dinâmica de organização e
funcionamento.

E segue Delgado precisando esse novo conceito de relação de emprego,


sublinhando que a "subordinação estrutural supera as dificuldades de enquadramento de situações fáticas
que o conceito clássico de subordinação tem demonstrado, dificuldades que se exacerbam em face,
especialmente, do fenômeno contemporâneo da terceirização trabalhista. Nesta medida ela viabiliza não
apenas alargar o campo de incidência do Direito do Trabalho, como também conferir resposta normativa
eficaz a alguns de seus mais recentes instrumentos desestabilizadores em especial a terceirização".

Na função de oferta de antecipação de recebíveis de POS de clientes


pessoa jurídica da CIELO, o autor exercia função perfeita e essencialmente inserida nas atividades
empresariais da CIELO.

E uma vez inserido neste contexto essencial da atividade produtiva do


empreendimento financeiro, não há mais necessidade de ordem direta do empreendimento empregador,
que passa a ordenar apenas a alta estratégia da produção, não mais as tarefas operacionais diuturnas, que
são delegadas a empresas prepostas.

É oportuno ressaltar que da prova dos autos resta claro, como se viu na
descrição das atividades do trabalhador, que ele cumpria a rotina produtiva traçada pela Cielo, muito
embora não se utilizasse do espaço físico de suas instalações físicas.
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Vale anotar que, além do desenho da realização produtiva pela Cielo, seus
próprios empregados comandavam diretamente a prestação do trabalho.

Nessa ordem de ideias, é irrelevante a discussão acerca da ilicitude ou não


da terceirização, como também o disposto nas Resoluções e Circulares do Banco Central, que dispõem
sobre a contratação por parte dos bancos e assemelhados de empresas para o desempenho de arranjos de
pagamento, pois no contexto fático em que se examina o presente caso, ressume da prova a subordinação
do reclamante-trabalhador ao empreendimento, que tem como beneficiário final do trabalho humano a
reclamada CIELO.

Vale lembrar que na feliz e contemporânea conceituação da CLT - artigo


2º, caput- o empregador típico é a empresa, entendida como empreendimento e não como um ente
determinado dotado de personalidade jurídica. A relação de emprego exsurge da realidade econômica da
empresa e do empreendimento, mas se aperfeiçoa em função da entidade final beneficiária das atividades
empresariais.

2. Teoria do Joint Employment. Diante do cenário de que a


externalização das atividades empresariais tem se revelado como tendência do capitalismo
contemporâneo, é importante, também, examinar a matéria por este ângulo.

Independentemente do debate sobre a licitude ou não da terceirização


levada a cabo pela tomadora dos serviços, parece útil trazer para ordenamento trabalhista brasileiro o
instituto do joint employment, sacramentado na jurisprudência norte-americana deste a década de 40 do
século passado, como vem divulgando o Professor Cassio Casagrande. Como se sabe, a integração
analógica do sistema brasileiro de regulação do trabalho pelo direito comparado está expressamente
autorizada pelo artigo 8° da CLT.

Joint Employment é uma doutrina construída pela jurisprudência


trabalhista dos Estados Unidos, que prevê a existência de um contrato de trabalho compartilhado, quando
o trabalhador desempenha uma função que, simultaneamente, beneficia duas ou mais empresas.

Em geral, a teoria do joint employment é concebida em três situações:

(i)quando existe um acordo entre empresas para compartilhar os serviços


do empregado (Slover v. Wathen, 140 F. 2d 258 - C.A. 4; Mitchell v. Bowman, 131 F. Supp.);

(ii)quando uma empresa atua direta ou indiretamente no interesse de outra


ou outras empresas em relação ao trabalhador (Greenberg versus Arsenal Building Corp., et al., 144 F. 2d
292 - C.A. 2).
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(iii)quando as empresas não estão completamente desassociadas em
relação ao emprego de um empregado em particular e podem ser consideradas como compartilhando o
controle do empregado, direta ou indiretamente (Dolan v. Day & Zimmerman, Inc., et al.,65 F. Supp. 923
- D. Mass. 1946).

(Cfr. US Code of Federal Regulation, 29 - Labor: §791.2 Disponível em


https://www.law.cornell.edu/cfr/text/29/791.2 com acesso em 12 dec 2017)

Essa teoria parece perfeitamente compatível com a dogmática brasileira. O


trabalhador que exerce habitualmente função inserida nas atividades essenciais do tomador final de seus
serviços e, nessa condição, sujeito a supervisão, direção ou regramento operacionais estabelecidos pela
res productiva, para além das ordens executivas emanadas do empregador putativo, tem direito ao status
jurídico do vínculo empregatício compartilhado entre as empresas que se beneficiam conjuntamente de
seu trabalho, independentemente da ilicitude ou não da terceirização.

Por um lado, o princípio constitucional da isonomia impõe o tratamento


igualitário a todos aqueles que se encontrem num mesmo arranjo produtivo de trabalho, o que nos conduz
à extensão das condições jurídicas de trabalho dos empregados da tomadora aos empregados da empresa
prestadora de serviços.

Por outro, o princípio da norma mais favorável ao empregado, induz, da


mesma forma, a extensão, por conglobamento, dos direitos trabalhistas aos terceirizados.

Nesse sentido, o outsourcing é concebido e observado juridicamente,


como mero conceito de gestão. A nova organização produtiva irradia-se por meio de um processo
aparentemente paradoxal, de concomitante expansão e fragmentação, ou seja, com incorporação de
campos econômicos adjacentes, mas com incremento da especialização operativa.

Tal prática induz, na esfera do direito, uma forma especial de


contrato-realidade, de maneira a suscitar a vinculação jurídica empregatícia compartilhada, que congloba
o status jurídico mais benéfico ao trabalhador.

Nesse novo ambiente de produção, mais estendida e especializada, cabe ao


trabalhador, ali inserido habitualmente, apenas colaborar para não embaraçar o fluxo produtivo. Essa nova
organização do trabalho imprime uma espécie de cooperação competitiva entre os trabalhadores, que
prescinde, em muitos casos, do sistema clássico de disciplina (FOUCAULT) individualizada,
privilegiando o controle (DELEUZE) coletivizado e estatístico dos trabalhadores. Perde espaço a
singularização hierárquica. Em certa medida, desloca-se a concorrência da esfera do capital para o

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ambiente de trabalho, porquanto a própria equipe se encarrega de cobrar, uns dos outros, o aumento da
produtividade do grupo. Processa-se uma espécie de sub-rogação do comando empregatício, que passa a
ter um viés muito mais horizontal e reticular, constituindo uma forma latente de subordinação, que se
projeta muito mais como potência do que ato.

A doutrina do joint employment é um concerto jurídico que, a par de


garantir o (i)exercício da livre iniciativa, a (ii)flexibilidade de gestão e o (iii)foco empresarial nas
atividades mais estratégicas, não se descura dos preceitos constitucionais de proteção ao trabalho humano
e de progressividade social.

A ideia do vínculo de emprego compartilhado aperfeiçoa-se


independentemente da declaração de desconstituição formal do contrato de trabalho e incide apenas no
campo trabalhista, sem afetação necessária nas esferas civil, empresarial, administrativa ou mesmo
previdenciária. Similar e correlato à figura do grupo econômico trabalhista, o instituto do joint
employment tem inflexões restritas e internas ao âmbito da autonomia científica e jurídica do Direito do
Trabalho.

No caso dos autos, tanto a CIELO, como a empresa de prestação de


serviço, esta última atuando fornecendo trabalhadores para execução exclusiva da atividade principal do
tomador de serviços, foram beneficiadas diretamente pela prestação de trabalho do reclamante, razão pela
qual tem incidência a referida teoria do co-emprego, que abarca e envolve a situação jurídico-trabalhista
de todos os beneficiários do trabalho, comunicando, dessa forma, o status jurídico laboral mais benéfico
ao empregado.

A abrangência e o limite dessa comunicabilidade do estatuto jurídico,


sindical e trabalhista, do trabalhador será aferido a seguir, na análise dos direitos reclamados pela parte
autora.

3. Conclui-se, portanto, que a existência de empresa interposta, no caso


dos autos, haja vista o contexto fático-produtivo comprovado apenas dissimula a subordinação em relação
ao beneficiário final dos serviços prestados, no presente caso, a CIELO.

Nessa ordem de ideias, comporta reforma a decisão de primeiro grau. De


fato, a relação jurídica de prestação de serviços existiu entre o reclamante e a segunda reclamada
(CIELO), independentemente até da declaração de nulidade do contrato de emprego havido com a
primeira ré (CALLINK).

SOLIDARIEDADE. Acresça-se, ainda, que a Lei n. 9.472/97, em


especial seus artigos 60, caput e parágrafo 1º, 94, II e 154, não obsta o reconhecimento da contratação
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compartilhada, mesmo porque a doutrina do joint employment não pressupõe qualquer ilicitude na
terceirização.

A responsabilidade solidária das reclamadas pelo pagamento das parcelas


pleiteadas é medida que se impõe, tanto (i) ante a circunstância de ter havido ofensa aos direitos
trabalhistas, que foram sonegados, com a participação conjunta em tal lesão por ambos os
empreendimentos reclamados. Simples aplicação do artigo 942, caput, segunda parte do Código Civil:
"e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação." ou até mesmo
do artigo 932, III do mesmo Código Civil que dispõe que os empregadores ou comitentes, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele,
respondem de forma solidária.

Quanto à alegação de suposta insegurança jurídica gerada pelas decisões


como a que se profere, data venia, não cabe tal argumento. Pedimos licença para recordar excerto de
artigo publicado na revista deste Egrégio Tribunal:

"É interessante, a respeito, chamar à colação o debate que se trava no constitucionalismo


contemporâneo acerca da mudança paradigmática dos princípios liberais - igualdade,
liberdade e fraternidade - cristalizados a partir dos ideais kant-rousseaunianos da
Revolução Francesa, para a chamada tríade de Denninger - segurança jurídica, diferença e
solidariedade. Nesse debate, travado à luz da Lei Fundamental Alemã, e das novas
constituições do leste alemão - dos Bundesländer - a segurança suplementa a ideia de
liberdade negativa e clássica, em permanente articulação com a ideia de solidariedade, a
fim de reconstruir o Estado e a Constituição como garantes do cidadão contra as esferas
da noção de risco e sobretudo contra os riscos sociais, que são mais iminentes que os
riscos bélicos, por exemplo. Flagra-se aqui uma relação dinâmica entre direito, economia
e, sobretudo, o caráter expectacional da segurança jurídica, que pode e deve ser um
compromisso do sistema jurídico, mas num contexto espraiado e universal, onde a
mutabilidade da vida social não se traduza em simples refúgio da irresponsabilidade
jurídica e social dos agentes sociais, mormente os agentes econômicos". (CHAVES
JÚNIOR & BARBERINO MENDES inRev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte,
v.46, n.76, p.197-218, jul./dez.2007, p. 211 - disponível em
http://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_76/Marcus_Jose.pdf acesso em 24 fev
2018).

Por fim, apenas para que não pairem dúvidas, ressalta-se que o contrato de
trabalho do reclamante vigorou de 13/07/2015 a 05/04/2017 (TRCT, Id 8911fdf - Pág. 1).

A Lei n. 13.429/2017, não altera o entendimento aqui esposado, pois


absolutamente compatível com a teoria do joint employment.

DIREITO INTERTEMPORAL. Ademais, em relação aos poucos dias


de vigência da lei em relação ao presente contrato de trabalho, a referida lei não retroage para alcançar os
direitos adquiridos do trabalhador.

No que concerne à intertemporalidade da lei material trabalhista, creio que


é importante destacar três faróis constitucionais, que devem iluminar qualquer interpretação da matéria:
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os artigos (i)5°, XXXVI e Art. 7º, (ii)caput e (iii)inciso VI.

A Constituição da República adota a teoria de Francesco Gabba, que


impõe o respeito da lei nova ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e àcoisa coisa julgada. Muito se
debate sobre a incompatibilidade jurídica do conceito de direito adquiridoao contrato de trabalho, por se
tratar de contrato sujeito a trato sucessivo. Sem adentrar nesse debate, é importante reconhecer que a
aplicação da teoria subjetiva de Gabba no contrato de trabalho está dogmática e expressamente prevista na
própria CLT, em vários dispositivos, sobretudo em seu art. 10.

Prevaleceu, portanto, na lei a visão de que em se tratando de contrato de


trabalho, a pactuação inicial é que é o marco que deve referenciar futuras alterações do contrato e não a
livre dispositividade negocial no termpo, como, aliás, está claro no art. 468 da CLT, salvo a negociação
que envolva normas mais favoráveis ao empregado.

A Constituição consagra também, especificamente quanto às relações de


trabalho, mais duas normas fundamentais de intertemporalidade: o princípio da progressividade e o
princípio da irredutibilidade do salário.

O princípio da progressividade é um preceito que informa tanto o conflito


de normas autônomas, como também de normas heterônomas, ou seja, é dirigido tanto aos atores sociais,
aos contratantes individuais, como também ao legislador.

Da mesma forma, o princípio da irredutibilidade salarial direciona-se aos


contratantes e ao legislador heterônomo. Ele é mitigado em relação à autonomia privada coletiva, mas
evidentemente, a não observância a tal princípio no âmbito da negociação sindical não é absoluta, pois
está, naturalmente, sujeita a hipóteses objetivas, tais como método de recuperação de empresa, para
preservação de empregos.

INTERTEMPORALIDADE NA CLT. No plano infraconstitucional, a


norma referência da intertemporalidade da CLT é o art. 912, que impõe a aplicação imediata da norma
consolidada aos contratos de trabalho em curso. Sem dúvida, a reforma irá apanhar os contratos em curso.

Leitura atenta do art. 912, contudo, permite ver que o efeito imediato nas
relações em curso não é indiscriminado, pois se restringe às normas de caráter imperativo. O decisivo,
pois, passa a se saber o que se deve entender por norma de caráter imperativo.

A resposta a essa questão está na própria CLT, em seu art. 444, que
consagra o caráter contratual e de livre dispositividade das normas trabalhistas, excetuando "tudo quanto
não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam
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aplicáveis e às decisões das autoridades competentes".

Nesse passo, deflui do art. 444 da CLT, que as normas de caráter


imperativo na CLT são aquelas que induzem proteção ao empregado, quer seja no plano da coação
econômica, quer no plano da saúde e segurança do trabalho.

Essa interpretação parece inexóravel, não só diante dos preceitos


constitucionais de intertemporalidade da lei, em geral e, em especial, sobre as relações de trabalho, como
também da positividade da própria CLT, que possui uma norma, um pouco esquecida, quase em branco,
mas que, nos termos do art. 2° da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro, ainda continua em
vigor, pois o desuetudo não é causa de revogação da lei. Trata-se do art. 919 da CLT.

O mencionado dispositivo legal foi além da própria teoria do direito


adquirido, explicitando que o efeito imediato das normas imperativas não poderiam afetar para pior o
estatuto jurídico dos empregados cujos contratos de trabalho estivessem em curso. Na oportunidade,
assegurou-se aos bancários o direito à estabilidade bienal, prevista no Decreto 24.615/1934, ainda que não
tivessem completado o biênio na data de promulgação da CLT. Em outras palavras, o que se conclui é que
a CLT protege mais do que o direito adquirido do trabalhador, tutela até mesmo o seu o statusjurídico.

Nesse mesmo sentido é a jurisprudência do TST, cristalizada na Súmula


191, que somente autoriza a redução da base de cálculo do adicional de periculosidade para os novos
contratos de trabalho.

Por fim, nesse sentido decidiu a Colenda Subseção 1 Especializada em


Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, no processo
ED-E-ED-RR-1144-53.2013.5.06.0004, em sessão realizada em 03/08/2017.

Assim, dá-se provimento ao recurso do reclamante para reconhecer o


vínculo de emprego com a segunda reclamada (CIELO), que deverá anotar a CTPS obreira.

DO ENQUADRAMENTO SINDICAL - ARRANJO DE


PAGAMENTO

Não obstante, o reclamante insiste em pleitear, desde a petição inicial, o


enquadramento sindical como bancário.

O objeto social da 2ª reclamada (CIELO), segundo consta do art. 2º do seu


Estatuto Social, é o seguinte

"A Companhia tem por objeto social: (a) a prestação de serviços de credenciamento de
estabelecimentos comerciais e de estabelecimentos prestadores de serviços para a
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aceitação de cartões de crédito e de débito, bem como de outros meios de pagamento
ou meios eletrônicos necessários para registro e aprovação de transações não financeiras;
(b) o aluguel, o fornecimento e a prestação de serviços de instalação e manutenção de
soluções e meios eletrônicos ou manuais para a captura e processamento de dados
relativos às transações decorrentes de uso de cartões de crédito e de débito, bem como
com outros meios de pagamento ou meios eletrônicos necessários para registro e
aprovação de transações não financeiras e dados eletrônicos de qualquer natureza que
possam transitar em rede eletrônica; (c) prestação de serviços de instalação e manutenção
de soluções e meios eletrônicos para automação comercial; (d) a administração dos
pagamentos e recebimentos à rede de estabelecimentos credenciados, mediante
captura, transmissão, processamento dos dados e liquidação das transações
eletrônicas e manuais com cartões de crédito e de débito, bem como outros meios de
pagamento e meios eletrônicos ou manuais destinados a transações não financeiras, bem
como a manutenção dos agendamentos de tais valores em sistemas informáticos; (e) a
representação de franquias nacionais e internacionais de meios manuais e eletrônicos de
pagamento; (f) a participação em outras sociedades como sócia ou acionista, direta ou
indiretamente, no Brasil ou no exterior; (g) a prestação de serviços de distribuição de
produtos financeiros, securitários, seguro-saúde e previdência privada; e (h)
desenvolvimento de outras atividades correlatas, de interesse da Companhia." (Id
4d25d1c - Pág. 1, sendo que os grifos não estão no original).

Como se vê trata-se de nova modalidade de atividade econômica, criada


pela Lei 12.865/2013, uma verdadeira colcha de retalhos legislativa, que contraria todos os preceitos de
legística, pois trata de um amontoado de matérias, tais como "autoriza o pagamento de subvenção
econômica aos produtores da safra 2011/2012 de cana-de-açúcar e de etanol que especifica e o
financiamento da renovação e implantação de canaviais com equalização da taxa de juros; dispõe sobre
os arranjos de pagamento e as instituições de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos
Brasileiro (SPB); autoriza a União a emitir, sob a forma de colocação direta, em favor da Conta de
Desenvolvimento Energético (CDE), títulos da dívida pública mobiliária federal; estabelece novas
condições para as operações de crédito rural oriundas de, ou contratadas com, recursos do Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE); altera os prazos previstos nas Leis no 11.941, de
27 de maio de 2009, e no 12.249, de 11 de junho de 2010; autoriza a União a contratar o Banco do
Brasil S.A. ou suas subsidiárias para atuar na gestão de recursos, obras e serviços de engenharia
relacionados ao desenvolvimento de projetos, modernização, ampliação, construção ou reforma da rede
integrada e especializada para atendimento da mulher em situação de violência; disciplina o documento
digital no Sistema Financeiro Nacional; disciplina a transferência, no caso de falecimento, do direito de
utilização privada de área pública por equipamentos urbanos do tipo quiosque, trailer, feira e banca de
venda de jornais e de revistas; altera a incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins na
cadeia de produção e comercialização da soja e de seus subprodutos" (ementa da lei, grifos nossos).

Cuida-se, pois, de atividade denominada arranjo de pagamento, que se


caracteriza, em modo operacional, por oferecer sua infraestrutura de rede, equipamento para conexão dos
cartões magnéticos e carteira de clientes cadastrados, para efetivar os pagamentos no mercado. A
agregação desses clientes que oferecem produtos e serviços no mercado é denominada adquirência. Em
síntese, o arranjo de pagamento envolve o movimento de ativos monetários numa rede financeira e
bancária de pagamentos interligados por meios eletrônicos, a partir de cartões de crédito e de débito. Essa
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atividade implica, também, o transporte de dados financeiros e bancários, sigilo e segurança digital nos
terminais chamados POS e a gerência de uma conta de pagamento.

Nos termos do inciso III, do Art. 6° da Lei 12.865/2013, incumbe à


instituidora de pagamento, executar os seguintes serviços:

a) disponibilizar serviço de aporte ou saque de recursos mantidos em conta de


pagamento;

b) executar ou facilitar a instrução de pagamento relacionada a determinado serviço de


pagamento, inclusive transferência originada de ou destinada a conta de pagamento;

c) gerir conta de pagamento;

d) emitir instrumento de pagamento;

e) credenciar a aceitação de instrumento de pagamento;

f) executar remessa de fundos;

g) converter moeda física ou escritural em moeda eletrônica, ou vice-versa, credenciar a


aceitação ou gerir o uso de moeda eletrônica; e

h) outras atividades relacionadas à prestação de serviço de pagamento, designadas pelo


Banco Central do Brasil.

Percebe-se, assim, que a finalidade do arranjo de pagamento é


apresentar-se como alternativa ao meio circulante tradicional, pois funciona como (i)meio de troca e (ii)
reserva de valor (v. g. recursos da conta de pagamento previstos no Artigo 12 da Lei 12.865/2013). A
instituição de pagamento é integrante, nos termos da referida norma, do Sistema de Pagamento Brasileiro
- SPB, regulado pelo Banco Central (Artigo 9° da Lei 12.865/2013).

É verdade que nem todas instituições de pagamento integram o SPB,


como, por exemplo aquelas que a critério do Banco Central do Brasil, não ofereçam risco ao normal
funcionamento das transações de pagamentos de varejo (Lei 12.865/2013, art. 6º, caput e § 4º; Res.
4.282/2013, art. 6º, caput e parágrafo único).

Não são regulados pelo Banco Central os arranjos de pagamento, por


exemplo, conhecidos como private label, que são os cartões de grandes lojas varejistas e que só podem
ser usadas em seu âmbito interno. Também não estão sujeitos à regulação e supervisão do Banco Central
os arranjos que servirem só para pagamento de serviços públicos, como água, luz e transporte público.

No caso concreto dos autos, contudo, a CIELO presta o serviço de arranjo


de pagamento para empresas do sistema financeiro, ou seja, tanto para empresas de cartão de crédito,
como para os bancos e, além disso, é integrante do SPB.

O critério clássico de identificação das categorias econômicas e

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profissionais da dogmática trabalhista brasileira é operado a partir do binômio similaridade ou
conexidade.

No caso dos autos, tanto do ponto de vista da categoria econômica, como


da categoria de trabalhadores, melhor que afirmar que há identidade de atividade econômica ou de classe
de trabalhadores, é concluir que há patente conexão de propósitos e interesses - isso do ponto de vista
empresarial, bem assim conexão de vínculos de solidariedade social da categoria profissional, nos termos
do artigo 511 da CLT, caput e seus parágrafos,entre as empresas e trabalhadores de arranjo de
pagamento e as empresas e trabalhadores do setor financeiro e bancário.

Nesse sentido, do ponto de vista trabalhista, pode-se perceber que as


atividades de arranjo de pagamento, quando atuam para bancos e empresas financeiras de cartão de
crédito e são integrante do SPB, regulado pelo Banco Central do Brasil, assemelham-se, e alguns aspectos
são até essenciais, às atividades dos bancários para efeitos da relação de emprego.

Nessa ordem de ideias, o enquadramento sindical, nos moldes do quadro


anexo de atividades econômicas e profissões, previsto pelo artigo 577 da CLT, seria, respectivamente, na
categoria econômica abrangida pela Confederação Nacional das Empresas de Crédito, 1° Grupo -
Estabelecimentos bancários, para bancos e casas bancárias e, na categoria profissional, na Confederação
Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito, 1° Grupo, Empregados em estabelecimentos
bancários.

A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho caminhou nesse


entendimento, ao equiparar as empresas financeiras aos estabelecimentos bancários, cristalizando que elas
estariam compreendidas na locução casas bancárias do artigo 224 da CLT. Vejam-se a respeito os
precedentes que culminaram com a adoção da Súmula 55do Colendo Tribunal Superior do Trabalho (RR
2931/1973, Ac. 1ªT 379/1974 - Min. Coqueijo Costa, DJ 15.05.1974 - RR 1007/1971., Ac. 1ªT 1031/1971
- Min. Mozart Victor Russomano, DJ 22.09.19; RR 1220/1973., Ac. 2ªT 1193/1973 - Min. Thélio da
Costa Monteiro, DJ 13.09.1973; RR 943/1971., Ac. 2ªT 1047/1971 - Min. Luiz Roberto de Rezende
Puech, DJ 25.10.1971).

Em se considerando, pois, a dicotomia legal entre bancos e casas


bancárias, prevista pelo artigo 224 da CLT, bem como a atuação da instituição de pagamento em
intermediação e conexão contábil e eletrônica dos valores geridos tanto pelos bancos, como pelas
operadoras de cartão de crédito, parece-nos mais razoável, pelo menos até que a categoria econômica
seja desmembrada do ponto de vista sindical, que tais empresas sejam concebidas, para efeitos
trabalhistas, como empresas financeiras lato sensu.

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Não se objete em se acenando com o óbice contido no artigo 6°, § 2o da
Lei 12.865/2013, que veda "às instituições de pagamento a realização de atividades privativas de
instituições financeiras".

Isso porque a Lei 4595/64, em seu artigo 17, é literal no sentido de


considerar instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou
privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta ou intermediação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e também a custódia de valor de
propriedade de terceiros. No caso, a conta de pagamento, previsto pelo artigo 12 da Lei 12.865/2013
parece enquadrar-se perfeitamente como custódia de valores.

Não bastasse, o parágrafo único do referido dispositivo legal cria também


a figura da instituição financeira por equiparação, compreendendo até mesmo as "pessoas físicas que
exerçam qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma permanente ou eventual."

Além disso, as instituições de pagamento, operadoras do sistema de


arranjo de pagamento, concedem também empréstimos, regulados pelo Banco Central (v. g. a Circular nº
3.721, de 25/9/2014), a seus clientes, por meio do sistema de antecipação de recursos recebíveis. O
reclamante, aliás, atuava também justamente nessa função de oferecer tais empréstimos aos clientes da
CIELO.

A distinção entre valores ou recursos que circulam no arranjo de


pagamento e aqueles operados pelos bancos e cartões de crédito, sem a intermediação da instituição de
pagamento, ambos integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro - SPB, é um artificialismo interno
que se restringe à esfera do sistema financeiro nacional, não atingindo o sistema jurídico do
contrato-realidade de trabalho.

Em outras palavras, a vedação contida no artigo 6°, § 2 oda Lei


12.865/2013 tem eficácia apenas em relação ao âmbito de regulação do Direito Econômico, mas não
atinge o campo científico, jurídico e legal do Direito do Trabalho. Em síntese, tal dispositivo legal incide
apenas sobre a atividade financeira ou monetária do empreendimento, mas não alcança a sua atividade
patronal.

Em consequência da atuação da instituição de pagamento CIELO na esfera


da intermediação e custódia de valores em conexão eletrônica e contábil imbricada com os bancos e
empresas de cartão de crédito, bem assim, em face do disposto no artigo 581, § 1º da CLT- que
viabiliza recorrer-se a um critério mais fluido e flexível de enquadramento sindical quando não haja a
preponderância de uma atividade econômica - a incidência das normas autônomas de ambas as categorias

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torna-se factível, até mesmo porque elas próprias estão implicadas entre si, nos termos do artigo 224 da
CLT.

É importante ressaltar aqui, novamente, a ideia de conexão, em detrimento


do regime de identidade pura. Ela aparece novamente na definição de atividade preponderante da CLT. O
Artigo 581, § 2º da CLT é explícito: "Entende-se por atividade preponderante a que caracterizar a
unidade de produto, operação ou objetivo final, para cuja obtenção todas as demais atividades
convirjam, exclusivamente em regime de conexão funcional."(grifo nosso).

Nesse sentido a conexão funcional, além de subsidiar a eleição de um


regime de enquadramento da categoria para definição da preponderância, abre ensejo, por outro lado, a
um tratamento intersecional da solidariedade sindical. Em outras palavras, quando exista tal conexão
funcional, erigindo-se a dúvida do enquadramento - e, isso, apenas quando se verifique promiscuidade e
imbricação de atividades - é lícito recorrer-se, sobretudo em face do princípio da progressividade social, a
tal norteamento.

Por outro lado, embora as sociedades democráticas e a própria OIT


defendam a plena liberdade sindical, nosso ordenamento constitucional optou pelo sistema da unicidade,
refutando o pluralismo.

Para acomodar, pois, a complexidade e a alta diversificação da realidade


produtiva contemporânea, o jurista do trabalho deve encontrar o caminho que melhor atenda ao preceito
constitucional. Nesse sentido, esse caminho parece ser o de buscar aquela atividade em que exista maior
quantidade de conexões com a da atividade de arranjo de pagamento, isso, sem prejuízo, de recorrer-se
supletivamente ao critério da similaridade.

Nessa linha de pensamento, é lícito concluir-se que a atividade bancária


tem maior grau de conexidade e similaridade com a atividade de arranjo de pagamento do que a atividade
das financeiras, em sentido estrito, porquanto a operação dessas empresas é mais restrita e específica ao
campo do financiamento.

Além disso, o arranjo de pagamento envolve a gerência da chamada conta


de pagamentoe também a conversão de moeda física ou escritural em moeda eletrônica, ou vice-versa, o
que atende também ao critério da similaridade.

Apenas como argumento obiter dictum, é interessante notar que na


hipótese da CIELO, muito embora a pessoa jurídica da sociedade não se confunda com a de seus
acionistas, trata-se de uma empresa controlada por bancos, quais sejam, BRADESCO e BANCO DO
BRASIL. O Banco do Brasil, por exemplo, na qualidade de sociedade de economia mista, não pode de
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maneira indiscriminada participar da composição acionária de empresas privadas, mormente como
controlador, senão para cumprir algumas finalidades, dentre as quais, como ressalta SANTOS DE
ARAGÃO, Professor Titular de Direito Administrativo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro -
UERJ, a de realizar de forma mais eficiente as suas próprias atividades-fim (Enciclopédia Jurídica da
P U C S P d i s p o n í v e l e m
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/79/edicao-1/empresas-publico-privadas acesso em 25
fevereiro 2018).

Assim, concluímos que, enquanto não houver o desmembramento das


categorias, econômica ou profissional, os trabalhadores da CIELO têm direito aos benefícios previstos nas
CCT´s dos BANCÁRIOS, tais como diferença salarial para o piso da categoria e os respectivos reflexos
pleiteados na inicial.

Defere-se, ainda, nos termos previstos nas convenções coletivas dos


bancários, o "auxílio refeição", o "auxílio cesta-alimentação", "13ª cesta-alimentação", e "participação nos
lucros ou resultados", além da "parcela adicional de participação nos lucros ou resultados.

JORNADA DE TRABALHO

Da mesma forma, fica acolhido direito à jornada de trabalho prevista pelo


artigo 224 da CLT.

No caso do autos, deve ser considerada aquela efetivamente registrada nos


cartões de ponto de Id 91e70e6 - Pág. 1 e seguintes.

Assim, dá-se provimento parcial ao recurso do reclamante para deferir,


como extras, as horas excedentes da 6ª., diária e/ou 30ª. semanal, conforme apurar-se pelos cartões de
ponto carreados aos autos, com reflexos em RSR´s (inclusive sábados e feriados, por força das CCT´s dos
bancários), aviso prévio, férias mais 1/3, 13º. salários e nos depósitos do FGTS mais 40%. Deverá ser
observado o adicional convencional e o divisor 180.

Juros e correção monetária na forma da lei.

Em síntese conheço do recurso.

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No mérito dou-lhe provimento parcial para reconhecer o vínculo de
emprego diretamente com a segunda reclamada (CIELO), que deverá anotar a CTPS obreira, integrando o
autor a categoria dos bancários, bem como para condenar ambas as reclamadas, de forma solidária,a
pagarem ao reclamante, no prazo legal:

a) horas excedentes da 6ª, diária e/ou 30ª. semanal, conforme apurar-se


pelos cartões de ponto carreados aos autos, com reflexos em RSR´s (inclusive sábados e feriados, por
força das CCT´s dos bancários), aviso prévio, férias mais 1/3, 13º. salários e nos depósitos do FGTS mais
40%;

b) diferença salarial para o piso da categoria dos bancários, bem assim dos
respectivos reflexos pleiteados na inicial e

c) o pagamento de "auxílio refeição", "auxílio cesta-alimentação", "13ª


cesta-alimentação", "participação nos lucros ou resultados", além da "parcela adicional de participação
nos lucros ou resultados, de acordo com as convenções coletivas dos bancários.

Deverá ser observado o adicional convencional e o divisor 180. Juros e


correção monetária na forma da lei.

Arbitra-se à condenação o valor de R$30.000,00 (vinte mil reais), com


custas de R$600,00 (seiscentos reais), pelas reclamadas, uma vez que ora se invertem os ônus da
sucumbência.

Ficam as reclamadas intimadas para os fins da Súmula 25, III, do C. TST.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, em sessão ordinária


da Primeira Turma, hoje realizada, julgou o presente processo e, preliminarmente, à unanimidade,
conheceu do recurso; no mérito, sem divergência, deu-lhe provimento parcial para reconhecer o vínculo
de emprego diretamente com a segunda reclamada (CIELO), que deverá anotar a CTPS obreira,
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integrando o autor a categoria dos bancários, bem como para condenar ambas as reclamadas, de
forma solidária, a pagarem ao reclamante, no prazo legal: a) horas excedentes da 6ª, diária e/ou 30ª
semanal, conforme apurar-se pelos cartões de ponto carreados aos autos, com reflexos em RSRs
(inclusive sábados e feriados, por força das CCTs dos bancários), aviso prévio, férias mais 1/3, 13os
salários e nos depósitos do FGTS mais 40%; b) diferença salarial para o piso da categoria dos bancários,
bem assim dos respectivos reflexos pleiteados na inicial e c) o pagamento de "auxílio refeição", "auxílio
cesta-alimentação", "13ª cesta-alimentação", "participação nos lucros ou resultados", além da "parcela
adicional de participação nos lucros ou resultados, de acordo com as convenções coletivas dos bancários.
Deverá ser observado o adicional convencional e o divisor 180. Juros e correção monetária na forma da
lei. Arbitrou à condenação o valor de R$30.000,00 (trinta mil reais), com custas de R$600,00 (seiscentos
reais), pelas reclamadas, uma vez que ora se invertem os ônus da sucumbência. Ficam as reclamadas
intimadas para os fins da Súmula 25, III, do C. TST.

Tomaram parte no julgamento os Exmos. Desembargadores: José Eduardo


de Resende Chaves Júnior (Relator), Maria Cecília Alves Pinto (Presidente) e Luiz Otávio Linhares
Renault.

Presente ao julgamento, o il. representante do Ministério Público do


Trabalho, Dr. Eduardo Maia Botelho.

Julgamento adiado em 19 de fevereiro de 2018.

Sustentação oral: Advogado Gabriel Frauche Addas, pela reclamada


CIELO.

Belo Horizonte, 26 de fevereiro de 2018.

JOSÉ EDUARDO DE RESENDE CHAVES JÚNIOR


Relator
JE-9

VOTOS

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