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ACÓRDÃO
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 2 de 12
Superior Tribunal de Justiça
MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
Relator
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
Apelação. Ação declaratória de ilegalidade de retenção de salário. Falta de
interesse de agir. Preliminar rejeitada. Aplicabilidade do CDC. Desconto em
conta corrente superior a 30% dos vencimentos líquidos do autor.
Inadmissibilidade. Observância ao princípio da razoabilidade e do caráter
alimentar dos vencimentos. Não aplicação do Decreto Estadual
51.314/2006. Lei nº 10.820/03 regulamentou as autorizações para
descontos de prestações originadas de contratos de empréstimos bancários
em folha de pagamentos dos empregados da iniciativa privada e também
dos servidores públicos, ao limite máximo de trinta por cento da
remuneração disponível. Sentença de parcial procedência mantida.
Recursos improvidos.
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burla à vedação do art. 649 do CPC/1973 à penhora de salário; m) a partir do dissentimento
do correntista, passou a ser indevida a cobrança das prestações em conta-corrente.
No recurso especial interposto por Isac Gonçalves, com fundamento no artigo
105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, alega o recorrente que: a) a relação
contratual é de consumo, e que o desequilíbrio contratual está caracterizado, pois aderiu a
um contrato de adesão, pré-elaborado; b) o art. 7º, X, da CF prevê a proteção ao salário na
forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa, e o art. 5º, LIV estabelece que ninguém
será privado de seus bens sem o devido processo legal; c) o art. 649, IV, do CPC/1973
estabelece ser absolutamente impenhoráveis os vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações e proventos de aposentadoria; d) o fato de ter autorizado os descontos não
tem o condão de elidir a necessidade de ser vedado ao banco o desconto de qualquer
percentual, para o pagamento das prestações contratuais; e) conforme precedente de outro
Tribunal estadual, é necessária a autorização do titular para desconto de contrato de mútuo
em folha de pagamento.
Em contrarrazões, afirma o recorrido que: a) não houve prequestionamento; b)
o recorrente pretende o reexame de provas; c) não pode o recorrente celebrar empréstimos,
beneficiar-se dos valores disponibilizados e buscar o Judiciário para não pagar o que deve.
Os recursos especiais foram admitidos.
É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
- em vista dos artigos 1º e 2º, § 2º, I, da Lei 10.820/2003 e 45, parágrafo único, da Lei
8.112/1990, que versam acerca dos descontos consignados em folha de pagamento -,
tem-se limitado o desconto a 30% da remuneração ou proventos do devedor:
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e prazos mais vantajosos, em decorrência da maior segurança propiciada ao financiador:
CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE DA
COBRANÇA. SÚMULA N. 294 DO STJ. DESCONTO EM FOLHA DE
PAGAMENTO. SUPRESSÃO UNILATERAL. IMPOSSIBILIDADE. LIMITE DE
30% DOS VENCIMENTOS.
1. É admitida a cobrança da comissão de permanência durante o período
de inadimplemento contratual, calculada pela taxa média de mercado
apurada pelo Bacen (Súmula n. 294 do STJ).
2. Cláusula contratual que autoriza desconto em folha de pagamento
de prestação de empréstimo contratado não pode ser suprimida por
vontade unilateral do devedor, uma vez que é circunstância
facilitadora para obtenção de crédito em condições de juros e
prazos mais vantajosos para o mutuário; todavia, deve ser limitada a
30% dos vencimentos.
3. Agravo regimental parcialmente provido.
(AgRg no REsp 959.612/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
QUARTA TURMA, julgado em 15/04/2010, DJe 03/05/2010)
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foi no valor de R$ 114.480,55, a ser pago em 85 parcelas mensais de R$ 2.543,56,
vencendo-se a primeira em 5/1/2014 e a última em 5/1/2021. E esclarece que a prestação
contratual - limitada pelas instâncias ordinárias a 30% dos proventos líquidos - corresponde a
praticamente 50% dos seus proventos.
Ademais, uma vinculação perene do devedor à obrigação, como a que, na
verdade, conduz as decisões das instâncias ordinárias, não se compadece com o sistema
do direito obrigacional, que tende a ter termo (PELUSO, Cezar (coord.). Código civil
comentado. 4 ed. Barueri: Manole, 2010, p. 850 e 851).
Outrossim, significa, a meu juízo, restrição à autonomia privada, pois, não
sendo desconto forçoso em folha, não é recomendável estabelecer, estendendo
indevidamente regra legal que não se subsume ao caso, limitação percentual às prestações
contratuais, sob pena de dificultar o tráfego negocial e resultar em imposição de restrição a
bens e serviços, justamente em prejuízo dos que têm menor renda.
Sem mencionar ainda a possível elevação das taxas para aqueles que não
conseguem demonstrar renda compatível com o empréstimo pretendido.
Com efeito, também como máxima de experiência, a título ilustrativo, é usual
que, em prestações contratuais a envolver bens de maior vulto, como mútuo para aquisição
de imóvel ou automóvel, ascendentes prestem auxílio financeiro ao mutuário, para o
pagamento das prestações.
Outrossim, a restrição do valor das prestações é medida de difícil
operacionalização, pois o credor pode ter outras rendas lícitas de difícil comprovação, ou
mesmo estar a receber pagamentos mensais de empréstimos feitos a parentes ou amigos.
Igualmente, não se pode impedir que pessoa solteira que resida com os pais,
viúvo sem filho dependente, ou, mesmo no caso de casal, um dos cônjuges se valha de
crédito para, v.g, pagamento de material de construção, conserto ou lanternagem de veículo
utilizado para o trabalho, pagamento de consultas ou cirurgias, que envolva prestações acima
de 30% da remuneração (atualmente, até 35%).
Por fim, como invoca o recorrente, o art. 6º, parágrafo 1º, da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro confere proteção ao ato jurídico perfeito - as instâncias
ordinárias reconhecem a higidez do contrato -, e, consoante os arts. 313 e 314 do CC, o
credor não pode ser obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que
mais valiosa.
Com efeito, é desarrazoado que apenas o banco não possa lançar mão de
procedimentos legítimos para satisfação de seu crédito e que, eventualmente, em casos de
inadimplência, seja privado, em contraposição aos demais credores, do acesso à justiça,
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para arresto ou penhora de bens do devedor.
2.5. No caso, como reconhece o acórdão recorrido - que explicitamente se vale
de analogia -, não há previsão legal para a medida adotada, e o ordenamento jurídico, de
modo um tanto assemelhado ao modelo americano, já prevê a medida específica do instituto
da insolvência civil, de que pode lançar mão o devedor, em caso de sobreendividamento.
Assim também o precedente da Terceira Turma assenta que se vale da
analogia para, em consonância com o princípio da dignidade humana, estender a limitação
legal, referente a empréstimos em folha, para a relação contratual diversa.
Contudo, penso que a analogia não pode ser invocada. Konrad Hesse observa
que, ordinariamente, é o legislador democrático que está devidamente aparelhado para a
apreciação das limitações necessárias à autonomia privada em face dos outros valores e
direitos constitucionais. (HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República
Federal da Alemanha. Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998, p.
285).
Na mesma toada, Claus-Wihelm Canaris observa que, pelo fato de os direitos
fundamentais, enquanto integrantes da Constituição, terem um grau mais elevado na
hierarquia das normas que o direito privado, na verdade o influenciam. No entanto, a
Constituição não é, em princípio, o lugar correto, tampouco habitual, para regulamentar as
relações entre cidadãos individuais e entre pessoas jurídicas. (SARLET, Ingo Wolfgang
(Org.). Constituição, Direitos Fundamentais e Direito Privado. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2003, p. 225).
Ademais, como visto, no caso, há direitos constitucionais que socorrem o
recorrente, como, ao que parece, o próprio art. 5º, II, da Lei Maior, que dispõe que ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Mutatis mutandis, cumpre trazer à baila o entendimento sufragado pela
Segunda Turma do STF, por ocasião do julgamento do multicitado RE 201.819, em que se
alerta ser necessária cautela por parte do magistrado, já que, em linha de princípio, "a
vinculação direta dos entes privados aos direitos fundamentais não poderia jamais ser tão
profunda, pois, ao contrário da relação Estado-cidadão, os direitos fundamentais operariam a
favor e contra os dois partícipes da relação de Direito Privado". Por isso, "compete, em
primeira linha, ao legislador a tarefa de realizar ou concretizar os direitos fundamentais no
âmbito das relações privadas. Cabe a este garantir as diversas posições fundamentais
relevantes mediante fixação de limitações diversas".
Nesse passo, Ingo Wolfgang Sarlet afirma, com propriedade, que, no sistema
constitucional atual, a segurança jurídica passa a ter o status de "subprincípio concretizador
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do princípio fundamental e estruturante do Estado de Direito. Assim, para além de assumir a
condição de direito fundamental da pessoa humana, a segurança jurídica constitui
simultaneamente princípio fundamental da ordem jurídica estatal" (SARLET, Ingo Wolfgang. A
eficácia do direito fundamental à segurança jurídica: dignidade da pessoa humana, direitos
fundamentais e proibição de retrocesso social no direito constitucional brasileiro. In. Revista
de Direito Constitucional e Internacional, ano 14, n. 57, out.-dez. de 2006. São Paulo: Instituto
Brasileiro de Direito Constitucional – IBDC, p. 10-11).
Na mesma direção, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Gilmar
Mendes asseverou que "em verdade, a segurança jurídica, como subprincípio do Estado de
Direito, assume valor ímpar no sistema jurídico, cabendo-lhe papel diferenciado na realização
da própria idéia de justiça material" (Pet 2.900 Q.O. – RS. Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 27.11.2003).
Canotilho, na mesma linha que, de resto, é a da maciça doutrina, também
noticia que o Estado de Direito possui, como princípios constitutivos, a segurança jurídica e o
princípio da confiança do cidadão, ambos instrumentos de condução, planificação e
conformação autônoma e responsável da vida (CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito
constitucional. Coimbra: Livraria Almedina, 1991, p. 375-376).
Diante dessa força irradiante para todo o sistema jurídico, parece claro que,
para além do respeito à coisa julgada, ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido - aos quais
se pode somar a necessidade de leis de aplicação prospectiva, claras e relativamente
estáveis -, há mais a se descortinar.
A postura do Poder Judiciário é de elevada importância para a concretização da
segurança jurídica, notadamente pela entrega de uma prestação jurisdicional previsível que
não atente contra a confiança legítima do jurisdicionado (NUNES, Jorge Amaury Maia.
Segurança jurídica e súmula vinculante. São Paulo: Saraiva, 2010 [Série IDP], passim).
3. Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial interposto pelo Banco
do Brasil, para julgar improcedente o pedido formulado na inicial, estabelecendo custas e
honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados em R$ 3.000,00 (três mil reais), que serão
integralmente arcados pelo autor, observada eventual gratuidade de justiça. Assinalo que,
com o acolhimento do recurso do banco, fica prejudicado o recurso especial interposto por
Isac Gonçalves.
É como voto.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUMBERTO JACQUES DE MEDEIROS
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARIA MERCEDES OLIVEIRA FERNANDES DE LIMA E OUTRO(S) -
SP082402
SOLANGE APARECIDA DA SILVA - SP315774
RECORRIDO : OS MESMOS
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do relator dando provimento ao recurso especial interposto pelo Banco do
Brasil e julgando prejudicado o recurso especial interposto por Isac Gonçalves, PEDIU VISTA
antecipada o Ministro Marco Buzzi.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MARCELO ANTONIO MOSCOGLIATO
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARIA MERCEDES OLIVEIRA FERNANDES DE LIMA E OUTRO(S) -
SP082402
SOLANGE APARECIDA DA SILVA - SP315774
RECORRIDO : OS MESMOS
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação do Sr. Ministro Raul Araújo
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO-VOGAL
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 24 de 12
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 25 de 12
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO-VENCIDO
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Superior Tribunal de Justiça
Federal para amparar a ideia de que inviável a utilização da analogia para, em
consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana, estender a limitação legal
referente a empréstimos em folha de pagamento para relação contratual diversa, em
razão da autonomia privada que rege as relações e da postura do Poder Judiciário para
a concretização da segurança jurídica, mediante uma prestação jurisdicional previsível
que não atente contra a confiança legítima do jurisdicionado.
Ante a tormentosa problemática trazida a exame e dos fundamentos
elencados pelo e. relator para embasar seu voto, formulei pedido de vista para melhor
exame da controvérsia.
Voto
Com todas as vênias do relator, dele divirjo para negar provimento a ambos
os recursos especiais.
1. Julga-se conjuntamente os recursos especiais, pois dizem respeito à
mesma controvérsia, qual seja, a possibilidade, ou não, de a instituição financeira
proceder diretamente à retenção de uma fração dos provimentos salariais do devedor
junto à conta-corrente bancária, assim agindo para buscar o pagamento de mútuo -
contratação absolutamente diversa do conhecido cheque especial -, bem ainda, se há
de se observar alguma limitação para o referido desconto.
Inicialmente, é cabido destacar que, muito embora relevantes os
ensinamentos que possam ser obtidos acerca da temática ora em evidência junto ao
direito comparado, todavia, no caso em julgamento, o tratamento jurídico dispensado ao
assunto é de tal forma peculiar, no Brasil, que exatamente a intensidade dessa
discrepância frente ao direito de outros países inviabiliza, na prática, a utilização de
parâmetros alienígenas.
Nessa excepcionalidade se insere, por exemplo, a prática financeira
brasileira quanto às taxas dos juros de remuneração do capital, cujos índices estão
entre os mais altos do mundo, bem como a efetividade do direito encarregado da tutela
dos interesses dos credores, que nem mesmo com o advento do Código de Defesa do
Consumidor restou atenuado como almejado pela sociedade, motivos pelos quais,
dentre outros, reitere-se, as soluções empregadas nos estados estrangeiros para a
resolução de conflitos bancários onde as partes muitas vezes estão em situação de
igualdade não servem como paradigmas para solucionar os conflitos aqui existentes,
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ante a disparidade das relações e efeitos jurídicos.
Em que pese a divergência que ora se pretende inaugurar, é oportuno desde
logo frisar que, muito embora a discrepância na adoção de critérios para a solução do
caso sub judice, não se está aqui propondo uma deliberação que negue o crédito da
instituição financeira ou vede o seu inegável direito de cobrar as cifras
confessadamente devidas pelo mutuário.
De outra banda, é igualmente relevante destacar que não é acolhida, nesse
voto, a pretensão almejada pelo devedor, qual seja, a de se ver desobrigado do ônus
que livremente assumiu por ocasião da repactuação e consolidação de seus
compromissos junto à casa bancária.
Dito isso, tem-se que diversamente do referido pelo e. relator, afigura-se
razoável como também isonômico, ante a existência de efetivo supedâneo legal
afirmando a impenhorabilidade de vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações, proventos de aposentadoria, entre outros (art. 649, inciso IV, do CPC/73,
atual art. 833, inciso IV, do NCPC), fazer uso da ampliação analógica da limitação legal
prevista para empréstimo consignado em folha de pagamento frente ao presente
contrato de mútuo com cláusula de desconto em conta-corrente, destacadamente
porque tal procedimento não gera a eternização da obrigação ou amortização negativa
do débito como compreendeu o e. relator, pois se estará fazendo o uso constitucional
da salvaguarda do direito à subsistência digna do devedor e de sua família, sem deixar
desguarnecido o direito do credor.
Sempre é prudente e oportuno recordar que no âmbito de um processo de
endividamento de um mesmo devedor ante um mesmo credor, ambos os interessados
têm plenas condições, liberdade e até mesmo o dever de boa-fé de averiguar e avaliar
se o próprio sujeito e também a outra parte contratante reúne reais condições de honrar
o ajuste em vias de celebração, sem que para tanto sejam obrigados a situações em
que se despeçam da própria dignidade, sendo esse o viés atualmente norteador das
contratações, uma vez que o equilíbrio nas relações materiais, nos ajustes em geral, é
a tônica de mensuração da própria validade e higidez da celebração dos contratos.
No caso, a hipótese ora em julgamento diz respeito a contrato de mútuo com
cláusula de desconto da parcela em conta-corrente e não de cheque especial,
modalidade absolutamente distinta e com características muito próprias, que
oportunamente será objeto de análise. Neste momento apenas está em análise a
questão da alegada impenhorabilidade de verbas salariais frente a ajuste de mútuo com
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cláusula de desconto em conta-corrente na qual o devedor recebe seus proventos.
Pois bem, considerando o princípio da dignidade da pessoa humana e o
risco de comprometimento da subsistência do devedor, a jurisprudência pátria,
principalmente a do STJ, inviabilizava os descontos efetuados na conta-corrente do
devedor para a salvaguarda dos interesses da instituição financeira.
Isso porque, eventuais cláusulas contratuais que permitissem o desconto
diretamente na conta-corrente do devedor, constantes em contrato de adesão, além
de serem consideradas iníquas e abusivas (artigo 51, IV, do CDC), revelavam também
vício, consubstanciado em fraude, como tentativa de burlar a determinação
constante do artigo 649, inciso IV, do CPC/73, atual artigo 833, inciso IV, do NCPC
(impenhorabilidade dos salários), não sendo viável admitir que o particular, notadamente
as instituições financeiras ou a ela equiparadas, obrigassem o consumidor a abrir mão
da proteção legal e constitucional.
Neste sentido, era o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
BANCO. Cobrança. Apropriação de depósitos do devedor. O banco não
pode apropriar-se da integralidade dos depósitos feitos a título de
salários na conta do seu cliente, para cobrar débito decorrente de
contrato bancário, ainda que para isso haja cláusula permissiva no
contrato de adesão. Recurso conhecido e provido. (STJ. REsp
492.777/RS, Relator o Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, DJ de
1º/9/2003)
Ainda:
RECURSO ESPECIAL. CONTA CORRENTE. SALDO DEVEDOR.
SALÁRIO. RETENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Não é lícito ao banco valer-se
do salário do correntista, que lhe é confiado em depósito, pelo
empregador, para cobrir saldo devedor de conta corrente. Cabe-lhe
obter o pagamento da dívida em ação judicial.
Se nem mesmo ao Judiciário é lícito penhorar salários, não será
instituição privada autorizada a fazê-lo. (STJ. REsp 831774/RS, Rel.
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado
em 09/08/2007, DJ 29/10/2007, p. 221)
Por fim:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. BANCÁRIO.
CONTA-CORRENTE. DEPÓSITO PROVENIENTE DE SALÁRIO.
RETENÇÃO PARA SATISFAÇÃO DE DÉBITO COM A INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. DESCABIMENTO. PRECEDENTES.
1. Não é cabível a quitação de dívidas contraídas com a instituição
financeira por meio da retenção de salários ou proventos depositados em
conta-corrente, ainda que haja cláusula contratual autorizando a
retenção.
2. Decisão agravada mantida pelos seus próprios fundamentos.
3. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
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Superior Tribunal de Justiça
(AgRg no REsp 1201030/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/12/2012, DJe
11/12/2012).
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sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
ficando ressalvado o disposto no 2º, qual seja, o pagamento de prestação alimentícia,
independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50
(cinquenta) salários mínimos mensais, sendo que a constrição deve observar o ditame
disposto no art. 528, § 8º e 529, § 3º no novel diploma processual civil.
Por oportuno, a despeito de tratar especificamente sobre a execução de
verba alimentar, transcreve-se o teor do último dispositivo referido, pois a interpretação
elastecida do instituto pode ser utilizada para a amparar a validade da cláusula de
desconto do salário em conta-corrente para a satisfação do mútuo, porém, com
limitação:
Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou
gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o
exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da
importância da prestação alimentícia. (...)
§ 3º Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito
objeto de execução pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do
executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste artigo,
contanto que somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta
por cento de seus ganhos líquidos.
Aliás, o Código Penal tipifica como crime o exercício arbitrário das próprias
razões:
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão,
embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena
correspondente à violência.
Por essa razão, consoante o artigo 45, parágrafo único, da Lei 8.112/90 e
dos artigos 1º e 2º, § 2º, inciso I, da Lei 10.820/2003, que permitem o desconto em folha
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de pagamento para saldar contratos de mútuo, é legítima a retenção do salário nos
moldes especificados na legislação (30%), sendo abusiva a retenção em percentual
maior, salvo se salvaguardado por lei específica.
O novo diploma processual civil, como já referido no art. 833, § 3º, cumulado
com o artigo 529, § 3º, já admite, também, que a penhora do numerário de rendimentos
ou rendas do executado/devedor, possa ser realizado de forma parcelada, contanto que
somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta por cento de seus rendimentos
líquidos.
Portanto, ainda que se trate de uma penhora para pagamento de verba
alimentar, mesmo assim deve ficar salvaguardado o direito à subsistência digna do
devedor, não podendo haver a expropriação integral dos proventos ou, ainda, em
montante que leve o executado à uma vida indigna.
Munido desse espírito, mais recentemente, a jurisprudência, como forma de
equacionar e harmonizar os interesses em litígio, valendo-se do princípio da
razoabilidade, passou a mitigar o entendimento acerca da viabilidade de retenção
salarial apenas nos moldes realizados em folha de pagamento, admitindo, mediante
uma aplicação analógica e ante a prevalência do princípio da autonomia da vontade das
partes, a limitação dos descontos diretamente na conta-corrente, por parte da
instituição bancária, em até 30% (trinta por cento) dos proventos do devedor, o que evita
a completa expropriação do salário pelo banco, bem ainda, permite a subsistência da
autonomia da vontade das partes, porém não de forma absoluta, pois o próprio Código
Civil de 2002, em seu art. 421, estabelece textualmente que "a liberdade de contratar
será exercida em razão e nos limites da função social do contrato".
Desta forma, o princípio da autonomia privada deve se coadunar com outros
fundamentos do sistema jurídico, tais como função social do contrato, boa-fé objetiva,
dignidade da pessoa humana, esse último, inclusive, positivado no art. 1º, III, da
Constituição Federal, esta que, como já referido, tem por objetivos erradicar a pobreza e
a marginalização e promover o bem de todos.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados:
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razoabilidade, a retenção de parte expressiva e considerável do salário obsta a
satisfação das necessidades básicas do devedor.
Por isso, em respeito à dignidade da pessoa humana, a limitação da
totalidade dos descontos do salário/proventos do devedor, efetuados em
conta-corrente, no percentual de 30% (trinta por cento), para saldar contrato de
mútuo no qual há cláusula expressa no ajuste firmado entre as partes autorizando a
dedução das parcelas do financiamento diretamente na conta bancária do devedor,
assegura que o devedor reorganize as suas finanças, sem comprometer seu sustento
e o de sua família.
Esse procedimento não retira a possibilidade da instituição, caso queira,
cobrar os valores devidos pelas vias ordinárias mediante uma ação condenatória.
2. Do exposto, com a devida vênia do relator, divirjo para negar provimento a
ambos os recursos especiais, mantendo o entendimento do Tribunal a quo no que
limitou os descontos do mútuo em conta-corrente a 30% dos
rendimentos/salário/proventos do autor.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. CARLOS FREDERICO SANTOS
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A
ADVOGADO : FERNANDO ALVES DE PINHO E OUTRO(S) - RJ097492
RECORRIDO : OS MESMOS
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Ministro Marco Buzzi negando
provimento a ambos os recursos especiais, divergindo do relator, no que foi acompanhado pelo
Ministro Raul Araújo, e o voto da Ministra Maria Isabel Gallotti acompanhando o relator, PEDIU
VISTA dos autos o Ministro Antonio Carlos Ferreira.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
VOTO-VISTA
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O banco réu contestou, afirmando que o negócio representa ato jurídico
perfeito e acabado, e que ademais os débitos lançados na conta bancária do autor nada
têm de abusivos, tão só representando aquilo que fora contratado (e-STJ, fls. 46/62).
Por meio de sentença juntada às fls. 150/154 (e-STJ), o juiz de primeiro
grau concluiu pela legalidade da cláusula que previu o débito do valor das parcelas
diretamente na conta bancária, todavia limitando-o em valores não superiores a 30%
(trinta por cento) dos vencimentos do autor.
Ambas as partes apelaram. O recurso do autor está juntado às fls. 160/170
(e-STJ) e o do réu às fls. 171/178 (e-STJ).
O TJSP negou provimento aos recursos (e-STJ, fls. 220/227). A ementa do
acórdão proferido pela Corte estadual está vazada nos seguintes termos (e-STJ, fl. 221):
Apelação. Ação declaratória de ilegalidade de retenção de salário. Falta de
interesse de agir. Preliminar rejeitada. Aplicabilidade do CDC. Desconto em conta
corrente superior a 30% dos vencimentos líquidos do autor. Inadmissibilidade.
Observância ao princípio da razoabilidade e do caráter alimentar dos vencimentos.
Não aplicação do Decreto Estadual 51.314/2006. Lei nº 10.820/03 regulamentou as
autorizações para descontos de prestações originadas de contratos de
empréstimos bancários em folha de pagamentos dos empregados da iniciativa
privada e também dos servidores públicos, ao limite máximo de trinta por cento da
remuneração disponível. Sentença de parcial procedência mantida. Recursos
improvidos.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 39 de 12
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finalidade de instituir normas para a "Prevenção e o Tratamento do Superendividamento",
qual seja o PLS n. 283/2012, de autoria do então Senador José Sarney, autuado na
Câmara dos Deputados sob o n. 3.515/2015. O texto aprovado no Senado Federal
objetiva incluir no CDC, dentre outros, o art. 54-E com o seguinte teor:
Art. 54-E. Nos contratos em que o modo de pagamento da dívida envolva
autorização prévia do consumidor pessoa natural para consignação em
folha de pagamento, a soma das parcelas reservadas para pagamento de dívidas
não poderá ser superior a 30% (trinta por cento) de sua remuneração
mensal líquida.
§ 1º O descumprimento do disposto neste artigo dá causa imediata à revisão do
contrato ou à sua renegociação, hipótese em que o juiz poderá adotar, entre
outras, de forma cumulada ou alternada, as seguintes medidas:
I - dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original, de modo a
adequá-lo ao disposto no caput deste artigo, sem acréscimo nas obrigações do
consumidor;
II - redução dos encargos da dívida e da remuneração do fornecedor;
III - constituição, consolidação ou substituição de garantias.
(...)
§ 7º O limite previsto no caput não se refere a dívidas do consumidor com
cada credor isoladamente considerado, mas abrange o somatório das
dívidas com todos os credores.
O mesmo diploma prevê a inclusão dos arts. 104-A, 104-B e 104-C, também
no CDC, para disciplinar o rito de "conciliação no superendividamento" da seguinte forma:
Art. 104-A. A requerimento do consumidor superendividado pessoa natural, o juiz
poderá instaurar processo de repactuação de dívidas, visando à realização de
audiência conciliatória, presidida por ele ou por conciliador credenciado no juízo,
com a presença de todos os credores, em que o consumidor apresentará proposta
de plano de pagamento com prazo máximo de 5 (cinco) anos, preservados o
mínimo existencial, nos termos da regulamentação, e as garantias e as formas de
pagamento originalmente pactuadas.
§ 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas de caráter alimentar, as
fiscais, as parafiscais e as oriundas de contratos celebrados dolosamente sem o
propósito de realizar o pagamento, bem como as dívidas oriundas dos contratos de
crédito com garantia real, dos financiamentos imobiliários e dos contratos de
crédito rural.
§ 2º O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu procurador
com poderes especiais e plenos para transigir, à audiência de conciliação de que
trata o caput deste artigo acarretará a suspensão da exigibilidade do débito e a
interrupção dos encargos da mora.
§ 3º No caso de conciliação, com qualquer credor, a sentença judicial que
homologar o acordo descreverá o plano de pagamento da dívida, tendo eficácia de
título executivo e força de coisa julgada.
§ 4º Constarão do plano de pagamento:
I - medidas de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da
dívida ou da remuneração do fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o
pagamento das dívidas;
II - referência à suspensão ou extinção das ações judiciais em curso;
III - data a partir da qual será providenciada a exclusão do consumidor de bancos
de dados e cadastros de inadimplentes;
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IV - condicionamento de seus efeitos à abstenção, pelo consumidor, de condutas
que importem o agravamento de sua situação de superendividamento.
§ 5º O pedido do consumidor a que se refere o caput deste artigo não importa
declaração de insolvência civil e poderá ser repetido somente após decorrido o
prazo de 2 (dois) anos, contado da liquidação das obrigações previstas no plano de
pagamento homologado, sem prejuízo de eventual repactuação.
Art. 104-B. Inexitosa a conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a
pedido do consumidor, instaurará processo por superendividamento para revisão e
integração dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes mediante
plano judicial compulsório, procedendo à citação de todos os credores cujos
créditos não tenham integrado o acordo porventura celebrado.
§ 1º Serão considerados, se for o caso, os documentos e as informações
prestadas em audiência.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão documentos e as
razões da negativa de aceder ao plano voluntário ou de renegociar.
§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que isso não onere as partes, o
qual, no prazo de até 30 (trinta) dias, após cumpridas as diligências eventualmente
necessárias, apresentará plano de pagamento contemplando medidas de
temporização ou atenuação dos encargos.
§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no mínimo, o valor do
principal devido, corrigido monetariamente por índices oficiais de preço, e preverá a
liquidação total da dívida em, no máximo, 5 (cinco) anos, sendo a primeira parcela
devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado de sua
homologação judicial, e o restante do saldo devido em parcelas mensais iguais e
sucessivas.
Art. 104-C. Compete concorrentemente aos órgãos públicos integrantes do
Sistema Nacional de Defesa do Consumidor a fase conciliatória e preventiva do
processo de repactuação de dívidas, nos moldes do art. 104-A, no que couber.
§ 1º Em caso de conciliação administrativa para prevenir o superendividamento do
consumidor pessoa natural, os órgãos públicos poderão promover, nas
reclamações individuais, audiência global de conciliação com todos os credores e,
em todos os casos, facilitar a elaboração de plano de pagamento, preservando o
mínimo existencial, nos termos da regulamentação, sob a supervisão desses
órgãos, sem prejuízo das demais atividades de reeducação financeira cabíveis.
§ 2º O acordo firmado perante os órgãos públicos de defesa do consumidor, em
caso de superendividamento do consumidor pessoa natural, deverá incluir a data a
partir da qual será providenciada a exclusão do consumidor de bancos de dados e
cadastros de inadimplentes, assim como o condicionamento de seus efeitos à
abstenção, pelo consumidor, de condutas que importem o agravamento de sua
situação de superendividamento, especialmente a de contrair novas dívidas.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 41 de 12
Superior Tribunal de Justiça
(LINDB, art. 4º).
Retomando o exame sobre o caso concreto, cumpre-me destacar que a
hipótese não versa sobre crédito concedido mediante autorização para desconto
diretamente em folha de pagamento, na forma prevista pela Lei n. 10.820/2003, que
dispõe sobre a irrevogabilidade e irretratabilidade do ato.
Com efeito, por meio das informações extraídas das alegações das partes e
das decisões proferidas pelas instâncias ordinárias, tem-se por incontroverso que se trata
de empréstimo pessoal no qual foi autorizado, apenas, o débito das correspondentes
prestações na conta bancária do recorrente.
Essa distinção é importante para que, uma vez compreendido o espírito que
motivou a previsão de limites para o valor do empréstimo e da prestação nas hipóteses do
chamado "crédito consignado", seja possível demonstrar que não se afigura razoável
aplicá-los em todas e quaisquer espécies de contratos de mútuo com pagamento em
parcelas, com ou sem desconto por meio de débito em conta bancária do devedor.
Isso porque, no crédito concedido mediante autorização para desconto em
folha de pagamento ("crédito consignado"), o devedor não tem qualquer mecanismo para
evitar a dedução da parcela, que é debitada diretamente de seus vencimentos, em
procedimento que envolve o próprio empregador.
Nessa modalidade de pagamento, se acaso o devedor deparar-se com
eventual adversidade premente e imprevisível, da qual resulte a necessidade de fazer uso
da totalidade de seus vencimentos, não terá acesso aos recursos. Em outras palavras,
não poderá optar por – evidentemente assumindo os ônus de seus atos – deixar de
honrar a obrigação contratada, ainda que com isso incorra em situação de inadimplência.
Evidentemente, não se está aqui a placitar o deliberado descumprimento
contratual. Entretanto, é consabido que podem ocorrer situações nas quais ao devedor
não resta alternativa senão selecionar parte de suas obrigações para cumprimento,
deixando de adimplir com as demais. No caso do empréstimo consignado, todavia, essa
possibilidade não está ao alcance do mutuário. Trata-se de circunstância que, em meu
sentir, justifica a restrição legal dos valores do crédito concedido e da prestação
consignada, que hoje não pode ultrapassar o equivalente a 30% (trinta por cento) dos
vencimentos do devedor.
A limitação prevista na Lei n. 10.820/2003, portanto, somente se justifica
nas hipóteses que ela expressamente delimita (art. 1º), não se podendo afastar da máxima
segundo a qual a lei não contém palavras inúteis ou desnecessárias. A aplicação da
analogia, na espécie, importa em restrição do direito do credor, sendo certo que "em se
tratando de dispositivos que limitam a liberdade, ou restringem quaisquer outros direitos,
não se admite o uso da analogia" (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do
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direito. Rio de Janeiro: Forense, 2006. Nota n. 246, pág. 174).
Essa restrição, todavia, não se faz necessária, nem mesmo razoável, para
outras espécies de contratação, nas quais deve, em princípio, vigorar o princípio da
autonomia privada, com cada um dos contratantes avaliando, por si, suas necessidades e
possibilidades, bem assim os riscos do negócio que objetiva formalizar.
Deveras, uma determinada pessoa pode comprometer 50% (cinquenta por
cento) de seus vencimentos sem qualquer prejuízo de sua subsistência. Para uma outra, a
prestação equivalente a 20% (vinte por cento) pode ser substancialmente relevante, e até
mesmo de cumprimento inviável.
No caso em apreço, em que pese envolver a renegociação de dívidas
anteriores, não há controvérsia sobre o fato de que quando o autor da ação contratou o
empréstimo pessoal objeto da demanda tinha, de antemão, o valor da parcela mensal, que
naquele momento já deveria corresponder à metade de seus vencimentos mensais.
Assentiu aos critérios da contratação para, logo depois, sem oferecer maiores argumentos
no sentido da ocorrência de onerosidade excessiva ou mesmo abuso nas condições
contratuais – limitando-se a alegar ilegalidade do método para a liquidação das parcelas
–, pretender impor revés à sua contraparte a fim de constrangê-la a repactuar os termos
do contrato, ou mesmo obter a repactuação, por via transversa, a partir de uma decisão
judicial baseada exclusivamente na abusividade do método de pagamento (e não das
condições do negócio, repise-se).
O acórdão recorrido, dessarte, ao modificar o valor da parcela do mútuo,
teria obrigado a instituição financeira a receber valores inferiores àqueles contratados,
contrariando o comando do art. 314 do CC/2002, que fundamenta as razões do recurso
especial da entidade.
Faço de antemão a ressalva sobre a possibilidade de o Magistrado,
examinando a hipótese concreta e sob fundamentos diversos dos que foram invocados na
petição inicial deste feito (como, p. ex., a onerosidade excessiva superveniente da
prestação, examinada à luz da legislação consumerista) rever as condições contratuais
para adequar a relação obrigacional em termos que visem a restabelecer o equilíbrio
entre as partes.
No caso presente, todavia, ressalto que o provimento jurisdicional
reivindicado pelo autor – apenas a suspensão dos débitos realizados em sua conta
bancária, "para posteriormente propor ação para que seja revisto e repactuado todo o seu
relacionamento negocial com o requerido" (e-STJ, fl. 4) – não afasta sua condição de
inadimplente, sobretudo porque não há requerimento, tampouco fundamentos, que
amparem a revisão do valor da parcela mensal do financiamento, senão apenas dos
lançamentos em débito das parcelas do mútuo que lhe fora concedido.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 43 de 12
Superior Tribunal de Justiça
Esse provimento, portanto, não impede que a instituição financeira ré lance
mão dos mecanismos jurídicos à sua disposição para a satisfação do crédito, tais como o
ajuizamento de execução e a inscrição de seu nome em bancos de dados de
inadimplentes.
Por outro lado, conquanto inexistam, nestes autos, maiores detalhes sobre
a operação de crédito e a espécie de conta bancária da qual se utiliza o correntista, as
máximas da experiência sugerem-me que o autor da ação carece de interesse para
formular pedido nos moldes do que foi apresentado com a petição inicial, na medida em
que o resultado pretendido, penso eu, pode ser atingido por meio de simples pedido
formulado perante a entidade previdenciária que lhe paga os proventos de aposentadoria,
a fim de que o crédito de seu benefício seja realizado em outra instituição financeira.
Isso porque, como antes destacado, a autorização para desconto não foi
formalizada perante o órgão pagador dos proventos de aposentadoria, na forma da Lei n.
10.820/2003. Tem-se aqui, exclusivamente, uma autorização do correntista para que a
instituição financeira efetive os débitos correspondentes à parcela do mútuo diretamente
do saldo existente em conta corrente. Logo, não se há de cogitar, especificamente, de
retenção ou penhora de salário, afastando a tese de violação dos arts. art. 7º, X, da
CF/1988 e 649, IV, do CPC/1973 (correspondente ao art. 833, IV, do CPC/2015),
suscitada na inicial.
Ante o exposto, mais uma vez rogando vênia à divergência, acompanho o
voto do em. Ministro Relator para DAR PROVIMENTO ao recurso especial interposto pelo
BANCO DO BRASIL, julgando improcedentes os pedidos iniciais. Declaro prejudicado o
recurso especial interposto por ISAC GONÇALVES.
É como voto.
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 44 de 12
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.586.910 - SP (2016/0047238-7)
RATIFICAÇÃO DE VOTO
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 45 de 12
Superior Tribunal de Justiça
insolvência civil;
h) o projeto de lei acerca do superendividamento, como transcrito do
precedente da Terceira Turma do STJ, se propõe a disciplinar "os contratos em que o
modo de pagamento da dívida envolva autorização prévia do consumidor pessoa
natural para consignação em folha de pagamento";
i) não parece razoável e isonômico, a par de não ter nenhum supedâneo legal,
aplicar a limitação prevista para empréstimo consignado a desconto de empréstimos em
folha de pagamento, de maneira arbitrária, a contrato específico de mútuo livremente
pactuado;
j) em que pese haver precedentes a perfilhar o entendimento de que a limitação
é adotada como medida para solucionar o superendividamento, a bem da verdade, opera no
sentido oposto, tendo o condão de eternizar a obrigação, visto que leva à denominada
amortização negativa do débito, resultando em aumento mês a mês do saldo devedor;
k) a restrição do valor das prestações é medida de difícil operacionalização,
pois o credor pode ter rendas lícitas de árdua comprovação;
l) não há previsão legal para a medida adotada, e o ordenamento jurídico, de
modo um tanto assemelhado ao modelo americano, já prevê a medida específica do instituto
da insolvência civil, de que pode lançar mão o devedor;
m) os arts. 313 e 314 do CC dispõem que o credor não pode ser obrigado a
receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa; e, mesmo que a
obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem
o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.
2. Em reforço a esses fundamentos, correndo o risco de repetição, relembro
que o contrato de conta-corrente é contabilidade em que se registram lançamentos de
créditos e débitos referentes às operações bancárias, conforme os recursos depositados,
sacados ou transferidos, pelo próprio correntista ou por terceiros, de modo que parece
mesmo incompatível com a relação contratual/contábil vedar os descontos - ainda assim,
apenas para as obrigações para com o banco -, visto que na conta-corrente também são
lançados descontos de terceiros, inclusive instituição financeira (cooperativa de crédito), que
ficam à margem do que fora decidido sem isonomia, atingindo apenas um credor.
Com efeito, não se justifica, à míngua de disposição legal, estabelecer limitação
apenas aos empréstimos a envolver o banco e seu correntista, visto que, por coerência e
isonomia, a mesma solução teria que ser adotada para pagamentos com cheques
pós-datados, carnês, boletos, entre outras conhecidas formas de mútuo e pagamento.
Essa solução parece inadequada e totalmente dissociada da lei - que limita o
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 46 de 12
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desconto em folha, denominado empréstimo consignado, e não de dinheiro mantido
voluntariamente na conta-corrente - e dos modelos que se extrai do direito comparado.
Confira-se:
"O modelo estrangeiro, preocupando-se com o superendividamento,
baseou-se num relatório e no estabelecimento de um planejamento, uma
espécie de plano, levado ao conhecimento do juízo da execução, criando
um título próprio na hipótese do seu descumprimento". (ABRÃO, Nelson.
Direito bancário. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 584)
Aliás, Claudia Lima Marques leciona acerca do anteprojeto de lei concebido pela
doutrina consumerista, pretendendo conferir tratamento legal ao superendividamento, por
meio de soluções de cooperação - e não impostas -, a envolver todos os credores e o total
das dívidas, sem possibilidade de escolha pelo consumidor a quem pagar, deixando nítido
que nem ao menos se aventou a inusitada solução conferida ao caso pelas instâncias
ordinárias:
Prevê, após, uma primeira fase conciliatória, onde de boa-fé (com base na
exceção da ruína) o consumidor renegociará com todos os seus
credores os débitos, sem exame maior dos detalhes e eventuais
abusividades de cada contrato. Essa fase concliatória visa justamente
"cooperar" de boa-fé para que o consumidor pessoa física de boa-fé possa
pagar, com mais tempo (e quem sabe alguns descontos) o total de suas
dívidas.
[...]
Assim, o acordo com os credores que cooperarem participando da
audiência será um título judicial. [...] e, para o consumidor de boa-fé,
permite - já no primeiro pagamento a qualquer dos credores - a retirada do
seu nome do SPC (e outros bancos de dados negativos) e mantém sua
plena dignidade (e de sua família), ao reservar o mínimo existencial
(impedindo o consignado, portanto, que impede poder escolher a
quem pagar). (MARQUES, Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno (Orgs.).
Doutrinas essenciais, Direito do consumidor: vulnerabilidade do
consumidor e modelos de proteção. Vol. II. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011, p. 585 e 586)
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 47 de 12
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São Paulo: Saraiva, 2016, p. 581)
Ora, ao concederem empréstimos para atender sua finalidade de lucro, as
instituições financeiras tomam em conta que mais empréstimos promovem retornos maiores
e também maiores riscos, e o volume conciliatório em termos de risco e retorno das reservas
bancárias depende do comportamento de inúmeros fatores, "podendo-se citar a preferência
dos órgãos decisoriais com relação ao risco, nível de demanda dos empréstimos bancários,
inadimplência, maturidade dos empréstimos". Modificações no nível de risco aceito pelas
instituições financeiras promovem variações na expansão de recursos que são
disponibilizados mediante operações de empréstimos. (ASSAF NETO, Alexandre. Mercado
financeiro. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 44)
Consoante a "Síntese de Indicadores Sociais de 2013", divulgada pelo IBGE,
43,1% da massa de trabalhadores do Brasil labora na informalidade. No Norte, apenas 38,7%
dos trabalhadores estavam em situação trabalhista regular, e, no Estado do Maranhão, a
informalidade abrangia 74,5% dos obreiros.
Nessa toada, ao se impor critério novo, em, data venia, verdadeira usurpação
da competência do Poder Legislativo, parece evidente que resultará em restrição e
encarecimento do crédito para aqueles que não conseguem comprovar renda, pois "é por
meio de rigoroso modelo científico, visando assegurar a integridade de seus ativos, que as
instituições financeiras efetuam a concessão do crédito". (TEPEDINO, Gustavo; FACHIN,
Luiz Edson (orgs.). Coleção doutrinas essenciais: obrigações e contratos. Vol. V. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011, p. 1.155-1.164)
A relevância do crédito, para todos os agentes da atividade econômica e para o
consumidor final, é fácil de ser percebida. Em regra, o início de qualquer atividade econômica
depende da obtenção de crédito. De outro lado, muitos consumidores só podem adquirir uma
grande variedade de bens e serviços essenciais a uma existência digna em razão do
parcelamento do preço ou de seu pagamento futuro. (BENJAMIN, Antônio Herman V.;
MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 2 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 243-247)
É dizer, a concessão de crédito cria condições de acesso ao consumo e
frequentemente se apresenta como único meio para aquisição de produtos e serviços. Cada
vez mais utilizado pela sociedade, em especial nas classes menos favorecidas, o crédito
para o consumo se apresenta como motor do processo capitalista, financiando a atividade
econômica. (MARQUES, Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno (Orgs.). Doutrinas essenciais,
Direito do consumidor: vulnerabilidade do consumidor e modelos de proteção. Vol. II. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 687)
Ademais, a concessão de crédito baseia-se na confiança que o fornecedor
Documento: 1590158 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/10/2017 Página 48 de 12
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possa depositar no consumidor acerca do cumprimento das obrigações, e o risco de
inadimplência (denominado, pela doutrina, risco de crédito), ainda que parcial, tem reflexo
imediato sobre as taxas remuneratórias praticadas no comércio bancário e nas operações de
vendas a prazo. (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do consumidor: a busca de um
ponto de equilíbrio entre as garantias do Código de Defesa do Consumidor e os princípios
gerais do Direito Civil e do Direito Processual Civil. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p.
315-318)
O risco de crédito consiste na possibilidade de o devedor deixar de cumprir
suas obrigações financeiras, pela inadimplência no pagamento do principal da dívida e/ou na
remuneração dos juros, sendo medida pela divisão do saldo devedor e dos juros dos créditos
em que há atrasos de quitação pelo total da carteira de crédito não amortizada. Aliás, a
regulação e a supervisão bancárias "orientam-se claramente pela prevenção de
comportamentos" que possam aumentar o nível de exposição de risco das instituições
financeiras na contratação de operações de crédito. (MIRAGEM, Bruno. MARQUES, Claudia
Lima; MIRAGEM, Bruno (orgs.). Doutrinas essenciais: contratos de consumo. Vol. IV. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 613 e 661)
4. Diante do exposto, ratifico o voto anteriormente proferido.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS SIMÕES MARTINS SOARES
Secretário
Bel. ROMILDO LUIZ LANGAMER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ISAC GONCALVES
ADVOGADO : ANA C M V DELPHINO - SP161420
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A
ADVOGADO : FERNANDO ALVES DE PINHO E OUTRO(S) - RJ097492
RECORRIDO : OS MESMOS
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Ministro Antonio Carlos Ferreira,
acompanhando o relator, a Quarta Turma, por maioria, deu provimento ao recurso especial do
BANCO DO BRASIL S/A para julgar improcedente o pedido inicial, e declarou prejudicado o
recurso especial de ISAC GONÇALVES, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Vencidos os Srs. Ministros Raul Araujo e Marco Buzzi, que negavam provimento a
ambos os recursos especiais.
A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti e o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira (Presidente)
(voto-vista) votaram com o Sr. Ministro Relator.
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