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BV FINANCEIRA S/A., pessoa jurídica de direito privado, com sede social localizada na
Avenida das Nações Unidas, nº 14.171, Torre A, 8º andar, conjunto 82, inscrita no CNPJ/MF sob o nº
01.149.953/0001-89, na Capital do Estado de São Paulo, por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Senhoria, apresentar o competente
RECURSO ADMINISTRATIVO
face à multa aplicada no processo em epígrafe, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.
Termos em que,
Pede deferimento.
Londrina, 31 de março de 2021.
I. DA DEMANDA ADMINISTRATIVA.
Trata-se de demanda administrativa ajuizada por JOAO FERREIRA DE SOUZA, em face
de BV FINANCEIRA S/A, na qual alega ter realizado a quitação de seu contrato de financiamento junto a
RECORRENTE.
Contudo, aduz que a RECORRENTE realizou descontos posteriores relativos a esta mesma
operação.
Em decisão administrativa proferida, este D. Órgão decidiu por aplicar sanção administrativa
de multa a RECORRENTE no valor de R$ 21.875,00 (vinte e um mil e oitocentos e setenta e cinco reais).
Assim, conforme se passará a demonstrar, não deve ser mantida a multa aplicada por este D.
Órgão à RECORRENTE.
II. DA TEMPESTIVIDADE
A RECORRENTE foi intimada da r. decisão que lhe arbitrou multa 25 de março de 2021
(quinta-feira).
Verifica-se que a presente reclamação versa sobre contrato de empréstimo realizado pelo
RECORRIDO junto a RECORRENTE, sobre o qual alega já ter quitado.
Aduz ainda que o RECORRENTE inseriu seu nome nos órgãos de proteção ao crédito
indevidamente referente a parcela com vencimento em 07 de dezembro de 2015.
Desta forma, esclarece a RECORRENTE que se trata de uma operação de consignado, no qual
os descontos são efetuados em folha de pagamento.
Salienta-se ainda informar que esse tipo de situação ocorre quando há alguma pendência do
beneficiário junto à previdência social, como por exemplo, o cadastramento anual. Assim a BV não tem como
intervir na ação tomada pelo INSS, uma vez que o mesmo retém o valor e apenas informa quais clientes e
parcelas sofreram glosa, cabendo unicamente à regularização por parte do RECORRIDO.
Assim, cumpre esclarecer que mediante a ação do INSS, restou uma parcela pendente de
pagamento, a qual permanece aberta em sistema.
Importante ainda destacar, que de acordo com o contrato anexo, no qual consta a assinatura do
RECORRDO, onde ambos convencionaram e concordaram com a formalização do contrato e regras neles
incertas.
Pois bem. Tem-se que a boa-fé nas relações contratuais exige que as partes ajam de forma a
possibilitar umas às outras o cumprimento de suas obrigações, trata-se do dever de cooperação mútua.
V. DA BOA-FÉ CONTRATUAL.
Com efeito, o dever de informar, inerente à função criadora do princípio da boa-fé objetiva,
consiste na obrigação das empresas de prestarem aos consumidores todas as informações sobre o contrato a ser
celebrado, bem como sobre os encargos, produtos e serviços oferecidos.
Nos exatos termos do já mencionado, a RECORRENTE somente poderá ser responsabilizada
por aquilo que contratualmente lhe couber.
É a chamada autonomia da vontade das partes, princípio norteador das relações civis, a qual,
restando presentes os requisitos legais, faz do contrato um ato jurídico perfeito.
Verifica-se, portanto, tratar-se do princípio da pacta sunt servanda, o qual estabelece a força
dos contratos entre as partes que o firmaram.
Note que o contrato celebrado foi firmado nos moldes da legislação pátria, a teor do citado
artigo 104 do Código Civil, in verbis:
Ademais, fica evidente que não se infringiu qualquer artigo do Código de Defesa do
Consumidor – Lei 8.078/90, como a contrário sensu, se pode depreender:
Verifica-se, assim, que as responsabilidades assumidas são oriundas de contrato com cláusulas
embasadas na boa-fé contratual e na probidade, preservadas pela Legislação sobre o assunto e contidas nos
artigos 421 e 422 do Código Civil, in verbis:
Em sua festejada obra, “Contratos”, Ed. Forense, 1987, 12ª ed., pág. 38, Orlando Gomes,
sobre o princípio da força obrigatória dos contratos, ensina:
Por outro lado, ao agir desta forma, o RECORRIDO incide em verdadeiro venire contra
factum proprio, pois assumiu a obrigação contratual, beneficiou-se dos serviços prestados pela RECORRENTE
e, em momento posterior a isso, vem tentar afastar as disposições do contrato, em atitude evidentemente
contraditória e desleal.
Devem ser considerados tais fatos para extrair-se o verdadeiro quadro fático do caso e evitar-
se qualquer prejuízo desmedido a RECORRENTE, devendo, portanto, o presente recurso administrativo ser
provido, anulando a multa aplicada por este D. Órgão.
Desta forma, mister se faz a análise de penalidade impugnada, bem como de sua
fundamentação valoração e finalidade, com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Desta feita, verifica-se que para aplicação da sanção administrativa ao caso em questão, não
foram considerados os referidos princípios, haja vista que conforme já elucidado, a RECORRENTE foi multada
no valor de R$ 21.875,00 (vinte e um mil e oitocentos e setenta e cinco reais).
Ora, resta evidente que a sanção imposta se mostra desarrazoada, perdendo, desta forma, a
própria legitimidade, já que não atende à finalidade pública da norma de competência administrativa.
Neste sentido é o entendimento de HELY LOPES MEIRELLES, em sua clássica obra "Direito
Municipal Brasileiro”:
Com efeito, o valor referente à sanção imposta não pode, data máxima vênia, servir como
caminho mais curto para o enriquecimento sem causa do ente público. Verifica-se a ocorrência de
locupletamento indevido por parte do Órgão administrativo em face do particular, sem que ao menos a
finalidade principal do ato administrativo seja consumada.
Desta feita, ainda que se pudesse entender pela aplicação da pena de multa – o que não se
acredita – tal penalidade jamais poderia ter sido arbitrada como foi, o que demonstra a total afronta ao princípio
da razoabilidade e o esvaziamento de qualquer função da qual o ato administrativo poderia estar revestido.
VIII. CONCLUSÃO.
Diante de tudo o quanto acima exposto, resta claro que não há qualquer sentido na aplicação
da referida penalidade. Portanto, seja qual for o ângulo de análise tomado para a solução do presente processo,
emerge claro o equívoco cometido por esta Administração e os motivos pelos quais a RECORRENTE requer:
Outrossim, requer que todas as publicações e demais intimações sejam feitas diretamente à
empresa BV FINANCEIRA S/A., pessoa jurídica de direito privado, com sede social localizada na Avenida das
Nações Unidas, nº 14.171, Torre A, 8º andar, conjunto 82, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 01.149.953/0001-89,
na Capital do Estado de São Paulo, e, se possível, que todas as comunicações sejam feitas via Correio.
Termos em que,
Pede deferimento.
Londrina, 31 de março de 2021.