Você está na página 1de 9

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA

Registro: 2018.0000603097

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


1082870-86.2017.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
SOCRAM COMUNICACAO VISUAL LTDA, é apelado DIRECTNET
PRESTAÇÃO DE SERVICOS LTDA..

ACORDAM, em 26ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao
recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


FELIPE FERREIRA (Presidente) e VIANNA COTRIM.

São Paulo, 9 de agosto de 2018.

RENATO SARTORELLI
RELATOR
Assinatura Eletrônica
2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

APELANTE: SOCRAM COMUNICACAO VISUAL LTDA


APELADA: DIRECTNET PRESTAÇÃO DE SERVICOS LTDA.
MAGISTRADA DE PRIMEIRO GRAU: ANDRÉA GALHARDO PALMA

EMENTA:

"PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
RESCISÃO CONTRATUAL
ANTECIPADA IMPOSIÇÃO DE MULTA
CABIMENTO PRINCÍPIO DO PACTA
SUNT SERVANDA - RECURSO
IMPROVIDO.

Se livremente negociado e aceito, o


contrato faz lei entre as partes,
devendo, por isso, prevalecer sob pena
de violação ao princípio do pacta sunt
servanda. Entendimento contrário só
serviria para provocar insegurança aos
contratantes, acarretando inegável
desequilíbrio à relação jurídica”.

VOTO Nº 30.501

TNLT
3
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

Ação declaratória de inexigibilidade


de débito cumulada com repetição de indébito, fundada em
contrato de prestação de serviços, julgada improcedente pela r.
sentença de fls. 116/118, cujo relatório adoto.

Inconformada, apela a autora. Após


estoriar os fatos relativos à lide, sustenta, em apertada síntese,
ser indevida a multa cobrada pela ré ante a rescisão
antecipada do contrato, porquanto prevista em documento
diverso daquele assinado pelas partes, alegando, em
acréscimo, que as normas de fidelização não estão fixadas de
forma clara, o que viola os artigos 46 e 54 do Código de Defesa
do Consumidor. Aduz, ainda, que o encerramento de suas
atividades no endereço indicado traduziu motivo de força maior
que a isenta da penalidade contratualmente estipulada. Busca,
por isso, a inversão do resultado do julgamento.

Houve resposta com pedido de


majoração dos honorários advocatícios (art. 85, § 11, do CPC).
O preparo está anotado (fl. 124).

É o relatório.

O inconformismo, a meu ver, não

TNLT
4
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

merece prosperar.

As partes firmaram contrato de


prestação de serviços de distribuição de dados (internet) por 36
(trinta e seis) meses, conforme Termo de Aceite (fls. 34/35),
Anexo I do Contrato de Prestação de Serviços de
Comunicação Multimídia SCM Serviço Corporativo (fls.
87/96), estabelecendo as condições gerais do acordo,
acessível à autora no endereço eletrônico da prestadora de
serviços (www.neovia.com.br), bem como no Cartório do 10º
Ofício de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo/SP
(fls. 35 e 87/104).

Após 21 (vinte e um) meses de


vigência, a autora solicitou o cancelamento do ajuste em razão
da alteração do seu endereço, motivando a cobrança, pela ré,
da multa pela rescisão antecipada, no valor de R$ 5.752,50
(cinco mil setecentos e cinquenta e dois reais e cinquenta
centavos - cf. fl. 33), contra a qual se insurge a recorrente (fl.
122).

Na verdade, não merece acolhida a


assertiva de violação às normas consumeristas porquanto
inexistem cláusulas que dificultem a compreensão da empresa-
apelante.

TNLT
5
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

A cláusula 10.3. do Contrato (fl. 93),


ainda que inserida em documento diverso daquele assinado
pelas partes, estabelece de maneira clara e inteligível a
cobrança de multa em virtude do cancelamento dos serviços
por solicitação do cliente durante o prazo pactuado, cujo
cálculo encontra-se discriminado na Cláusula 12.5. (fl. 94),
apontada, inclusive, de forma expressa no Termo de Aceite
(item 7 do tópico “condições” fl. 35).

Com efeito, não se observa


qualquer ilegalidade na conduta da ré, uma vez que o
documento assinado pelo representante legal da autora (fl. 35)
integra o Contrato de Prestação de Serviços de Comunicação
Multimídia SCM Serviço Corporativo (fls. 87/96).

Cabe destacar, inclusive, que o


conteúdo do Contrato sempre esteve disponível à autora, não
havendo que se falar em desconhecimento do que fora
avençado. Aliás, nesse particular, ponderou a digna magistrada
sentenciante, verbis:

“(...) a autora tinha plena ciência de que as condições


gerais do serviço fornecido pela ré estavam disponíveis
no sítio eletrônico da prestadora de serviços, bem como
no 10º Ofício de Registro de Títulos e Documentos de
São Paulo (registro nº 2073823), motivo pelo qual

TNLT
6
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

assinou o documento declarando conhecer e concordar


com a totalidade das condições do Contrato de
prestação (fls. 34/35 e 85/86).
E, inexistentes nos autos quaisquer indícios de vício de
vontade das partes quando da celebração do contrato e
o evidente o usufruto dos serviços da ré pela autora,
não pode ela se furtar de suas obrigações
expressamente previstas no contrato acordado e
assinado por ela.
O Contrato de Prestação de Serviços de Comunicação
Multimídia SCM Serviço Corporativo é clara quando
a multa contratual em caso de cancelamento do serviço
pela contratante, ora autora, conforme prevê em sua
Cláusula 12, Item 12.5” (fl. 117).

Por fim, em que pese a tentativa da


autora de se eximir da penalidade sob a justificativa de que o
encerramento de suas atividades no endereço contratado
traduziu motivo de força maior que a isentaria do pagamento, a
exculpa não lhe aproveita.

Entende-se por caso fortuito ou


força maior acontecimentos inevitáveis, absolutamente acima
das forças humanas, o que não se verifica no caso de simples
alteração de endereço da empresa contratante, porquanto
coberto de previsibilidade, inexistindo, aliás, disposição
contratual a afastar a penalidade em casos tais.

TNLT
7
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

Portanto, uma vez que a apelante


submeteu-se ao pactuado em suas boas ou más
consequências, aderindo voluntariamente à contratação, refoge
à lógica, agora, insurgir-se contra os termos do ajuste.
Entendimento contrário só serviria para provocar instabilidade e
insegurança às relações negociais.

Vale dizer, a existência de cláusulas


contratuais porventura reputadas abusivas deveria ser
analisada pela apelante antes de aderir ao pacto, e não
posteriormente em juízo. O princípio do pacta sunt servanda
merece ser respeitado.

Neste sentido, destaco precedentes


desta E. Câmara, verbis:

“APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE


COBRANÇA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS. Contrato de prestação de
serviços. Resilição. Incidência da
multa pactuada para a hipótese de
término antecipado do contrato.
Sentença mantida. Abusividade de
cláusula penal. Inocorrência.
Procedência mantida. RECURSO
DESPROVIDO” (Apelação nº
1012190-19.2015.8.26.0562; 26ª Câmara

TNLT
8
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

de Direito Privado; Relator Des. Antonio


Nascimento).

“PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.
COBRANÇA. 1. Não há cerceamento de
defesa no julgamento antecipado da
lide se as questões versadas nos
autos, não exigem dilação probatória
(CPC, art. 330, I). 2. Se o contrato foi
firmado livremente entre as partes
prevalece a regra do pacta sunt
servanda, devendo a ré arcar com a
responsabilidade assumida no acordo
de vontades. 3. Cabe à ré demonstrar a
ocorrência de fatos modificativos,
impeditivos ou extintivos do direito da
autora. Aplicação do artigo 333, II do
Código de Processo Civil. Sentença
mantida. Recurso desprovido”
(Apelação nº
4011235-88.2013.8.26.0114; 26ª Câmara
de Direito Privado; Relator Des. Felipe
Ferreira).

Diante do improvimento do apelo,


afigura-se razoável a elevação dos honorários advocatícios ao
patamar de 12% (doze por cento) sobre o valor atualizado da
causa, a teor do disposto no art. 85, § 11, do CPC, de modo a

TNLT
9
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1082870-86.2017.8.26.0100

prestigiar a atuação profissional, sem onerar a parte vencida.

Ante o exposto, nego provimento ao


recurso.

RENATO SARTORELLI
Relator
Assinatura Eletrônica

TNLT

Você também pode gostar