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Acórdão Nº 1155699
EMENTA
EMENTA
2. Por expressa determinação legal cabe ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, os
requisitos de validade e eficácia da cláusula compromissória, ainda mais quando se tratar de contrato
paritário, pois a previsão contratual de convenção de arbitragem enseja o reconhecimento da competência
do Juízo arbitral para decidir com primazia sobre Poder Judiciário.
3. Conforme a inteligência do artigo 80, incisos II e V, do Código de Processo Civil, considera-se litigante
de má-fé aquele que altera a verdade dos fatos e/ou procede de modo temerário em qualquer incidente ou
ato do processo.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios, MARIA DE LOURDES ABREU - Relatora, ALVARO CIARLINI - 1º Vogal e
GILBERTO DE OLIVEIRA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador GILBERTO DE
OLIVEIRA, em proferir a seguinte decisão: CONHECER E NEGAR PROVIMENTO, UNÂNIME , de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
(...)
11.10. Submissão a Arbitragem. Esgotado o prazo estabelecido acima sem que se tenha chegado a uma
solução consensual, a controvérsia estabelecida será submetida à arbitragem, nos termos da Lei n.
9.307/1996, de acordo com o Regulamento da Câmara de Mediação e Arbitragem de São Paulo do CIESP
– Centro de Indústrias do Estado de São Paulo (“Regulamento” e “Centro de Arbitragem”,
respectivamente), que é, neste ato, eleito para conduzir o procedimento arbitral. A arbitragem será
conduzida em São Paulo-SP e seguirá as regras do Centro de Arbitragem.
11.14. Remédio Exclusivo e Exceção para Liminar. O procedimento de resolução de disputas previsto
nesta Cláusula é o único e exclusivo procedimento para resolução de quaisquer disputas existentes entre
as Partes em decorrência deste Acordo. (id 11481396 - Pág. 24)
10.1. Aplica-se a esse Aditivo a metodologia de solução de conflitos descrita no Contrato. (id 11482647 -
Pág. 22)
A parte autora alega que a cláusula compromissória constante do contrato é nula e deve ser afastada por
este Juízo, com o normal processamento e julgamento da ação. Todavia, por expressa disposição da Lei
n° 9.307/1996, a competência para apreciação dos requisitos de validade e eficácia da convenção de
arbitragem é exclusiva do árbitro. In verbis:
Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte
que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.
Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca
da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula
compromissória.
Cabe, pois, ao árbitro escolhido para o processamento e julgamento da causa nascida de contrato no
qual se estipulou convenção de arbitragem apreciar a regularidade da cláusula compromissória,
declinando de sua competência, caso reconheça existência de vício em sua estipulação.
(...)
Dessa forma, não cabe a este Juízo apreciar eventual nulidade da cláusula compromissória para afastar
a competência do Juízo arbitral. Cabe exclusivamente a este decidir sobre a validade da cláusula e, em
conseqüência, sobre sua competência.
A parte autora alega que a jurisprudência tem mitigado a regra legal para admitir a análise da validade
da cláusula compromissória no Juízo estatal nos casos que envolvam direito do consumidor e contratos
de adesão.
De fato, há entendimento jurisprudencial de que o Juízo estatal pode avançar na competência do Juízo
arbitral nos casos da presença de parte hipossuficiente, tanto nas relações consumeristas, quanto nos
contratos de adesão.
Nesse sentido:
(...)
Contrato de adesão, como é cediço, é aquele previamente estipulado por uma das partes, em relação ao
qual a parte hipossuficiente não tem condições de igualdade para discutir as cláusulas estipuladas,
cabendo-lhe, tão somente, aceitar as condições tais quais lhe foram propostas ou declinar do ajuste.
Os contratos de adesão são fruto de uma sociedade marcada pela massificação das relações econômicas,
sendo esse o cenário ideal para o estabelecimento das relações negociais pautadas pela desigualdade do
poder negocial das partes. A essência desse modo de contratar repousa na disparidade do poder negocial
entre o predisponente e o aderente.
(...)
Em sucinta formulação, infere-se que contrato de adesão é aquele cujo conteúdo é unilateralmente
definido pelos contraentes que o apresentam à contraparte, não podendo esta discutir qualquer das suas
cláusulas: ou aceita em bloco a proposta contratual que lhe é feita, ou a rejeita e prescinde da
celebração do contrato.
Assim, evidenciam-se quais são os três atributos dos contratos de adesão: predisposição das cláusulas,
unilateralmente e rigidez. (Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência: Lei n. 10.406, de
10.01.2002: contém o Código Civil de 1916/ Coordenador Cezar Peluso.- 8 ed. rev. e atual.- Barueri, SP:
Manole, 2014. Pág. 436)
Ao contrário do que, retoricamente, pretende fazer crer a parte autora, em nenhum momento das
tratativas e da celebração do negócio jurídico, colocou-se a contratante em situação de inferioridade na
discussão das cláusulas contratuais.
Conforme constou da peça exordial, e o que é de notório conhecimento, Torre Palace Hotel Ltda. é
empresa com vários anos de atuação no mercado hoteleiro de Brasília e detentora de patrimônio vultoso,
sempre contando com excelente administração e assessoria técnico-jurídica.
Os valores envolvidos no negócio, mais de cem milhões de reais, demonstram o poder de negociação de
que dispunha a parte autora, a qual poderia perfeitamente fazer exigências na elaboração do contrato
em defesa de seus interesses. A autora, é de se ressaltar, é proprietária do imóvel onde se pretende
instalar o empreendimento imobiliário.
Dissipa qualquer dúvida quanto à posição privilegiada em que se encontrava na celebração do ajuste,
posto que proprietária de imóvel localizado em área nobre da capital, objeto de interesse de várias
empresas do ramo de construção, o fato de ter podido escolher a melhor entre várias propostas que lhe
foram feitas por diversas empresas do segmento.
Apresentaram propostas as empresas mais conceituadas de Brasília do ramo imobiliário: João Fortes
Engenharia, Cyrela, Brookfield, Villela e Carvalho – 2 propostas, Attos – 2 propostas, Faenge/Tecnisa,
Arearealty e Espaço Y Engenharia.
Além disso, a licitação privada e a celebração do contrato com a ré foi objeto de apreciação e
autorização do Juízo da Vara de Falências, Recuperações Judiciais, Insolvência Civil e Litígios
Empresariais do Distrito Federal, no qual tramitava o processo n° 2010.01.1.035500-2. Não foi a autora
submetida a estipulações draconianas, nem sequer se encontrava em situação de hipossuficiência.
Deste modo, os elementos dos autos afastam por completo a alegação de ter a autora aderido a contrato
com cláusulas previamente estipuladas pela parte ré. Há, ao contrário, prova robusta de que possuía
condição favorável perante a contratada, podendo influir decisivamente na elaboração do contrato de
permuta. Havendo alguma exigência potencialmente desfavorável a seus interesses, bastava exigir da ré
sua alteração. Caso esta se negasse, poderia escolher um das outras nove propostas de exploração do
espaço. Como se vê, ao contrário do que defende, era a parte autora que se encontrava em posição de
ascendência.
Nos termos do CPC, o Juízo poderá, de ofício, condenar o litigante de má-fé ao pagamento de multa
quando restar configurado que a parte tenta alterar a verdade dos fatos ou venha a proceder de modo
temerário em qualquer ato processual – art. 81 c/c art. 80, incisos II e IV, CPC.
Verifica-se nos autos que a parte autora altera a verdade dos fatos e age de modo temerário, objetivando
manter este Juízo em erro, defendendo tese diametralmente oposta aos elementos que instruem o feito.
Como acima demonstrado, não há qualquer lacuna para que se entenda a parte autora como parte
hipossuficiente em relação à ré, desprovida de qualquer capacidade de influência na elaboração do
contrato de permuta e demais ajustes livremente pactuado.
Na defesa da tese de que a cláusula compromissória pode ser anulada pelo Judiciário, traz à colação
julgados que tratam de relações jurídicas havidas entre consumidores e fornecedores e entre franqueados
e franqueadores, conforme consta de sua réplica. Nas relações constantes dos julgados que colaciona, as
partes aderem a contratos nascidos das massificações das relações econômicas, os quais são oferecidos a
qualquer um que a ele pretenda aderir.
Totalmente diferente é a relação havida entre as partes deste processo, em que a autora buscou no
mercado a melhor destinação econômica para seu imóvel, podendo escolher entre dez propostas com as
mais variadas formas de ajustes oferecidas por conceituadas empresas da área de construção e
incorporação.
Não há qualquer relação entre as alegações feitas na inicial e em réplica, no que toca à defesa de
tratar-se de contrato de adesão, com os elementos dos autos nem há qualquer enquadramento à
A parte autora elaborou extensa peça exordial, assim como o fez em sua réplica, na clara tentativa de
alterar os fatos, colocando-se em posição contratual que não é calcada em nenhum dos elementos que
instruem o processo.
Assim agindo, incorreu na regra processual acima referida, devendo-lhe ser aplicada multa por
litigância de má-fé.
(...)
Em suas razões recursais (Id 5180357), a apelante sustenta que o contrato firmado entre as partes é de
adesão e a sua condição financeira não interfere nisso. Ademais, após a morte do fundador da empresa e a
consequente dissolução societária, surgiram entraves capazes de dificultar o gerenciamento dos negócios,
razão pela qual não haveria liberdade de negociação ou de barganha, conforme afirmado na sentença
originária.
Assevera que não estaria submissa às condições gerais contratuais, já que não houve exteriorização
consciente da sua vontade, mas sujeição às condições preestabelecidas. Por isso, ante a sua
vulnerabilidade jurídica frente aos apelados, o contrato deveria ser qualificado como de adesão e serem
aplicados os artigos 423 e 424 do Código Civil.
Defende que há presunção legal absoluta acerca da vulnerabilidade contratual, não dependendo de
aferição real ou prova.
Alega que é necessária a intervenção do Judiciário para o controle da licitude e dos abusos das condições
gerais contratuais postas no contrato de adesão com suposta violação da lei ou abusividade, de forma a
ensejar a nulidade ou ineficácia das referidas condições gerais.
Aduz que não foram cumpridos os requisitos exigidos para cláusula compromissória (artigo 4º, §2º, da
Lei 9307/96), visto que, por se tratar de contrato de adesão a referida cláusula só teria eficácia quando o
aderente tivesse a iniciativa de instituí-la de forma expressa, desde que por escrito em documento anexo
ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para a cláusula em comento.
Destaca que não houve má-fé processual, e que, apenas, os cotejos analíticos foram divergentes.
Requer a declaração de que o contrato firmado entre as parte é de adesão às condições gerais contratuais,
com a consequente cassação da sentença e retorno dos autos à 1ª instância para enfrentamento do mérito,
a reforma da sentença para afastar a multa aplicada por violação à boa-fé processual e o
prequestionamento dos artigos 423 e 424 do Código Civil, 341 e 373, I, do Código de Processo Civil e
artigo 4º, §2º, da Lei nº 9.307/96.
É o relatório.
Desembargadora
VOTOS
VOTO
Em suas razões recursais (Id 5180357), a apelante sustenta que o contrato firmado entre as partes é de
adesão e a sua condição financeira não interfere nisso. Ademais, após a morte do fundador da empresa e
a consequente dissolução societária, surgiram entraves capazes de dificultar o gerenciamento dos
negócios, razão pela qual não haveria liberdade de negociação ou de barganha, conforme afirmado na
sentença originária.
Assevera que não estaria submissa às condições gerais contratuais, já que não houve exteriorização
consciente da sua vontade, mas sujeição às condições preestabelecidas. Por isso, ante a sua
vulnerabilidade jurídica frente aos apelados, o contrato deveria ser qualificado como de adesão e serem
aplicados os artigos 423 e 424 do Código Civil.
Defende que há presunção legal absoluta acerca da vulnerabilidade contratual, não dependendo de
aferição real ou prova.
Alega que é necessária a intervenção do Judiciário para o controle da licitude e dos abusos das condições
gerais contratuais postas no contrato de adesão com suposta violação da lei ou abusividade, de forma a
ensejar a nulidade ou ineficácia das referidas condições gerais.
Aduz que não foram cumpridos os requisitos exigidos para cláusula compromissória (artigo 4º, §2º, da
Lei 9307/96), visto que, por se tratar de contrato de adesão a referida cláusula só teria eficácia quando o
aderente tivesse a iniciativa de instituí-la de forma expressa, desde que por escrito em documento anexo
ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para a cláusula em comento.
Destaca que não houve má-fé processual, e que, apenas, os cotejos analíticos foram divergentes.
Requer a declaração de que o contrato firmado entre as parte é de adesão às condições gerais contratuais,
com a consequente cassação da sentença e retorno dos autos à 1ª instância para enfrentamento do mérito,
a reforma da sentença para afastar a multa aplicada por violação à boa-fé processual e o
prequestionamento dos artigos 423 e 424 do Código Civil, 341 e 373, I, do Código de Processo Civil e
artigo 4º, §2º, da Lei nº 9.307/96.
O objetivo dessa forma de contratação foi dar celeridade às negociações, pois com a Revolução
Industrial as empresas dependiam de agilidade para contratar e deveriam em um curto período de tempo
realizar os acordos para que os negócios pudessem fluir. Por esse motivo são utilizados tipicamente nas
relações de consumo.
Entretanto, o Código Civil de 2002, também regulou o contrato de adesão nos artigos 423 e 424.
Vejamos:
“Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.”
Dessa maneira alguns doutrinadores passaram a defender que com a elaboração desses artigos ficou
chancelada a existência de contratos de adesão fora da relação de consumo. Para isso elencam 4
hipóteses: a) a fiança, quando o fiador simplesmente adere a um contrato com cláusula previamente
estabelecidas ou se vê obrigado a renovar o pacto fidejussório em face da cláusula de estar obrigado até a
entrega das chaves; b) um contrato de franquia, no qual o comerciante, que não é destinatário final do
produto, não possuindo assim a condição de consumidor (CDC, art. 2º), se obriga a receber toda e
qualquer mercadoria do franqueador; c) o condômino que adere à convenção condominial ao tornar-se
proprietário do imóvel e d) o contrato administrativo ao qual aderiria, em tese, o vencedor de uma
licitação.
Sem adentrar profundamente na discussão e sem adotar uma ou outra corrente, no caso concreto, não há
como qualificar o contrato sob estudo como sendo de adesão, visto que não se trata de relação de
consumo, fiança, franquia, condômino quando adere a convenção condominial ou contrato
administrativo derivado de uma licitação.
Ademais, o argumento de que a situação de necessidade em razão do litígio entre os sócios tornaria a
apelante hipossuficiente juridicamente e vulnerável perante as apeladas não tem amparo fático, legal nem
jurisprudencial suficientemente capaz de tornar o contrato tipicamente paritário em contrato de adesão.
A Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam
que a solução da sua lide seja decida por uma terceira pessoa, de sua confiança.
Na hipótese a cláusula compromissória foi estabelecida nas cláusulas 11.10, 11.11, 11.12, 11.13 e 11.14
(Id 5180135). Transcrevo-as:
11.10. Submissão a Arbitragem. Esgotado o prazo estabelecido acima sem que se tenha chagado a uma
solução consensual, ou caso qualquer das Partes envie antes de tal prazo notificação informando o
encerramento das negociações para a obtenção de uma solução consensual, a controvérsia estabelecida
será submetida à arbitragem, nos termos da Lei nº 9.307/1996, de acordo com o Regulamento a Câmara
de Mediação e Arbitragem de São Paulo do CIESP – Centro de Indústrias do Estado de São Paulo
(“Regulamento” e “Centro de Arbitragem”, respectivamente) que é, neste ato, eleito para conduzir o
procedimento arbitral. A arbitragem será conduzida em São Paulo –SP e seguirá as regras do Centro de
Arbitragem.
11.11. Procedimento Arbitral Sumário. Caso o valor total da demanda não exceda R$100.000,00 (cem
mil reais), a arbitragem será conduzida por um único árbitro nomeado de comum acordo pelas Partes
no prazo de 7 (sete) dias da notificação do Centro de Arbitragem. Caso as Partes não nomeiem o árbitro
dentro do prazo acima estabelecido, a nomeação caberá ao Presidente do Centro de Arbitragem.
11.12. Procedimento Arbitral Ordinário. Caso o valor total da demanda exceda R$ 100.000,00 (cem mil
reais) a arbitragem será conduzida por 3 (três) árbitros, cabendo a cada uma das Partes nomear um
árbitro; os 2 (dois) árbitros assim nomeados nomearão o terceiro árbitro, que atuará como Presidente
do tribunal arbitral. Tais nomeações deverão ocorrer nos prazos previstos nas regras do Centro de
Arbitragem. Caso qualquer nomeação de árbitro não seja realizada nos referidos prazos, tal nomeação
caberá ao Presidente do Centro de Arbitragem.
11.13. Custos da Arbitragem. Serão suportados pelas Partes conforme definido pelo laudo arbitral.
11.14. Remédio Exclusivo e Exceção para Liminar. O procedimento de resolução de disputas previsto
nesta Cláusula é o único e exclusivo procedimento para a resolução de quaisquer disputas existentes
entre as Partes em decorrência deste Acordo; entretanto, exclusivamente com relação a medidas
liminares que sejam necessárias em matérias de notória urgência, bem como para a instauração
compulsória do juízo arbitral, fica eleito o Foro da Comarca de Brasília-DF, com exclusão de qualquer
outro, por mais privilegiado que seja ou venha a ser. Ainda que tenha sido obtida decisão judicial, o
mérito da lide será sempre decido pelo juízo arbitral.
9.1. Permanecem em vigor todas as demais cláusulas e condições do Contrato não alteradas
expressamente pelas disposições deste Aditivo, especialmente as condições para efetivação deste
negócio as declarações em geral, as quais são ratificadas nesta data.
(...)
Percebe-se, portanto, que as partes firmaram convenção de arbitragem tanto no instrumento particular de
promessa de permuta de imóvel para desenvolvimento de empreendimento imobiliário (Id. 5180135)
como no primeiro termo aditivo ao instrumento particular de promessa de permuta de imóvel para
desenvolvimento de empreendimento imobiliário (Id. 5180139).
Para melhor entendimento trago o artigo 8º da Lei nº 9.307/1996, que dispõe sobre a arbitragem:
“Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal
sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.
Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca
da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula
compromissória”.(grifo nosso)
Por expressa determinação legal cabe ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes,
requisitos de validade e eficácia da cláusula compromissória, ainda mais quando se tratar de contrato
paritário, pois a previsão contratual de convenção de arbitragem enseja o reconhecimento da
competência do Juízo arbitral para decidir com primazia sobre Poder Judiciário as questões referentes à
existência validade e eficácia da convenção de arbitragem.
2. O propósito recursal é definir se a presente ação de obrigação de fazer pode ser processada e julgada
perante a justiça estatal, a despeito de cláusula compromissória arbitral firmada contratualmente entre
as partes.
4. Como regra, diz-se, então, que a celebração de cláusula compromissória implica a derrogação da
jurisdição estatal, impondo ao árbitro o poder-dever de decidir as questões decorrentes do contrato e,
inclusive, decidir acerca da própria existência, validade e eficácia da cláusula compromissória
(princípio da Kompetenz-Kompetenz).
5. O juízo arbitral prevalece até mesmo para análise de medidas cautelares ou urgentes, sendo instado
o Judiciário apenas em situações excepcionais que possam representar o próprio esvaimento do
direito ou mesmo prejuízo às partes, a exemplo da ausência de instauração do juízo arbitral, que se
sabe não ser procedimento imediato.
7. Pela cláusula compromissória entabulada, as partes expressamente elegeram Juízo Arbitral para
dirimir qualquer pendência decorrente do instrumento contratual, motivo pela qual inviável que o
presente processo prossiga sob a jurisdição estatal.
(REsp 1694826/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/11/2017,
DJe 13/11/2017)(grifei)
3. O julgado que reconhece a competência do tribunal de origem para declarar a nulidade da cláusula
de utilização compulsória da arbitragem, ainda que aposta em contrato de adesão, viola os artigos 20 e
8º, parágrafo único, da Lei nº 9.307/1996.
(AgInt nos EDcl no AREsp 975.050/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/10/2017, DJe 24/10/2017)(grifo nosso)
1. ALei n. 9.307/96 disciplinou a arbitragem em nosso ordenamento jurídico. Como forma alternativa à
Jurisdição, a arbitragem surge, na resolução dos conflitos versando sobre direitos disponíveis, por
liberalidade das partes (art. Art.1º).
2. Existindo convenção de arbitragem, há que se reconhecer a atuação do juízo arbitral para solucionar
o litígio, com precedência em relação ao Poder Judiciário.
3. Assim, tanto a alegação de que o contrato de franquia foi formalizado com a adesão da outra parte,
bem como quanto à questão da inexistência, invalidade e ineficácia da convenção e da cláusula
compromissória, deverão obrigatoriamente ser avaliadas pelo árbitro, consoante a regra contida no art.
8º, parágrafo único, da Lei nº 9.307/1996.
4. Os honorários de advogado devem ser fixados de acordo com o artigo 20 do Código de Processo
Civil de 1973, em atenção aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, o que ocorreu no
presente caso.
Acerca da imposição da multa por litigância de má-fé, o Código de Processo Civil dispõe o seguinte:
Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá
ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte
contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as
despesas que efetuou.
§ 1o Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de
seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte
contrária.
§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez)
vezes o valor do salário-mínimo.
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por
arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.
No caso, conforme bem observado pelo magistrado a quo, a apelante/autora alterou a verdade dos fatos
com o objetivo de levar o Juízo a erro, ao defender tese oposta aos elementos que instruem o feito, visto
que não há lacuna para que entenda a parte autora como hipossuficiente em relação às rés. Ademais,
juntou julgados com relações jurídicas distintas na defesa da tese de que a cláusula compromissória
poderia ser anulada pelo judiciário.
Dessa forma, atenta aos limites dispostos na legislação pertinente e às peculiaridades do caso, entendo
que a sentença também deve ser mantida neste ponto.
Portanto, concluo que o direito foi aplicado de forma correta na sentença objeto de irresignação, razão
pela qual entendo que não há reparos a serem feitos.
Ante o exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao recurso, para manter incólume a sentença.
É como voto.
DECISÃO