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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO

PROCESSO nº 0000937-73.2021.5.12.0047 (RORSum)


RECORRENTE: FLORA PRODUTOS DE HIGIENE E LIMPEZA S.A
RECORRIDO: HILDA IRIANI LACERDA
RELATOR: ROBERTO BASILONE LEITE

Ementa dispensada (processo sumaríssimo)

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO


ORDINÁRIO nº 0000937-73.2021.5.12.0047, provenientes da 3ª Vara do Trabalho de Itajaí, SC, sendo
recorrente FLORA PRODUTOS DE HIGIENE E LIMPEZA S.A e recorrido HILDA IRIANI
LACERDA.

Relatório dispensado (processo sumaríssimo).

ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso interposto pela ré, bem como das contrarrazões


ofertadas pela autora, por satisfeitos os pressupostos legais de admissibilidade.

MÉRITO

1.REVOGAÇÃO DA JUSTIÇA GRATUITA CONCEDIDA AO


AUTOR

O Juízo de origem concedeu o benefício em tela à autora nos seguintes


termos:

A parte autora postula a concessão dos benefícios da justiça gratuita sob argumento de
que não possui condições financeiras para arcar com as despesas processuais.

A partir da vigência da Lei n. 13.467/2017, "O benefício da justiça gratuita será


concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas
do processo"(§ 4º do art. 790 da CLT), não servindo para tanto simples declaração de
hipossuficiência. Neste sentido, é a Tese Jurídica nº 13 do E. TRT da 12ª Região.

Prejudicada a consulta CNIS-remunerações do autor (indisponibilidade do sistema), o


Juízo utilizará como parâmetro as remunerações pagas ao empregado pela empregadora,
razão pela qual tenho por presumida a insuficiência de recursos e concedo à autora os
benefícios da justiça gratuita (art. 790, § 3º, da CLT).

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Número do documento: 23121114210502800000025338303
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Contrapõe-se a ré a tal decisão alegando que, após a entrada em vigor da


Lei 13.467/17, a mera apresentação de declaração de hipossuficiência, de per si, não é capaz de fazer
prova da insuficiência financeira da parte. Sustenta que deve ser observado o prescrito no art. 790, §§ 3º
e 4º, da CLT, bem como o entendimento sedimentado na Tese Jurídica 13 deste TRT12.

Pretende, assim, seja revogado o benefício da justiça gratuita deferido à


trabalhadora.

Pois bem.

Na sessão do dia 17/10/2022, o Tribunal Pleno desta Egrégia Corte


aprovou a seguinte tese jurídica nos autos do IRDR 0000435-47.2022.5.12.0000:

A partir do início da vigência da Lei nº 13.467/2017 - que alterou a redação do § 3º e


acrescentou o § 4º, ambos do art. 790 da CLT -, a mera declaração de hipossuficiência
econômica não é bastante para a concessão do benefício da justiça gratuita, cabendo ao
requerente demonstrar a percepção de remuneração inferior ao patamar estabelecido no §
3º do art. 790 da CLT ou comprovar a insuficiência de recursos para arcar com as
despesas processuais (§ 4º do art. 790 da CLT).

Pelo que, resguardado o posicionamento pessoal deste Relator em sentido


contrário, aplica-se a diretriz definida na citada Tese Jurídica.

No caso concreto, todavia, além da declaração pessoal de hipossuficiência


coligida pela parte postulante (fl. 20), há outro elemento a ser considerado, o qual oferece substrato à
concessão da gratuidade judiciária.

A autora afirmou na exordial se encontrar desempregada e coligiu cópia


de sua CTPS (fl. 26), da qual exsurge que não obteve novo emprego após a saída da empresa ré (não
havendo notícia nos autos em sentido contrário).

Ademais, há considerar que ela exercia atividades de ajudante de serviços


gerais, profissão cujo patamar salarial, é sabido, não costuma ultrapassar o limite estabelecido no art.
790, § 3º, da CLT.

Diante desse contexto, considero demonstrada a hipossuficiência


financeira legitimadora do direito, máxime diante da inexistência de qualquer elemento de prova em
sentido contrário nos autos.

Sendo assim, faz jus a autora ao benefício da justiça gratuita que lhe foi
deferido em sentença.

Nego provimento.

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2.COISA JULGADA. AÇÃO COLETIVA

Quanto à matéria, assim consta da sentença:

A ré alega a ocorrência de coisa julgada em virtude da homologação de acordo judicial


nos autos da ação coletiva movida pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do
Estado de Santa Catarina em face da ré, na qual foram postulados os adicionais de
insalubridade e de periculosidade. Argumenta que a autora foi beneficiada com o acordo,
no qual havia previsão de quitação dos pedidos. Juntou documentos.

Intimada, a autora afirma "total desconhecimento (...) quanto os termos do referido


acordo pactuado entre a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado de
Santa Catarina e a Reclamada" e "manifesta total discordância com os termos do
referido acordo contradito". Assevera que "o contrato da Reclamante teve duração de
06-05-2019 a 15-03-2020 e o acordo foi homologado em 06-09-2022" e que "é surreal o
acordo reconhecer o direito de percebimento de adicional de insalubridade em GRAU
MÁXIMO para a Reclamante e para esta restar tão somente o recebimento de R$
401,05!!!". Argumenta que "a sistemática de pagamento compactuada entre o sindicato
e a Reclamada viola os direitos indisponíveis da presente trabalhadora, que despendeu
sua mão de obra e esforço pela Reclamada sem receber em nenhum momento tais
remunerações referentes a atividades insalubres e agora vê seu direito violado" e requer
"seja intimado o Representante do Ministério Público do Trabalho para manifestação
quanto a nulidade da cláusula terceira do referido acordo".

A ré, intimada, aduz que a autora "foi beneficiada no acordo homologado em ação
coletiva, não podendo atacar a coisa julgada em ação individual" e que "não há
necessidade de intimação do representante do Ministério Público do Trabalho, tendo em
vista que o órgão ministerial acompanhou a pactuação realizada nos autos de n.º
0001719-22.2017.5.12.0047, opinando pelo prosseguimento do feito". Juntou parecer do
MPT.

A autora, por fim, afirma que, segundo jurisprudência do TST, não há coisa julgada ou
litispendência entre a ação individual e a ação coletiva proposta por sindicato.

Consultando os autos da ação coletiva, verifico que a ação foi proposta em 09-11-2017 e
o acordo, apresentado em 31-08-2022, foi homologado em 06-09-2022. Conforme
ajustado, foi "estabelecido (...) o pagamento do adicional de insalubridade em grau
máximo, para as funções de (...) ajudante de serviços gerais (limpeza e higienização de
banheiros)". No rol de empregados beneficiados, consta o nome da autora, com o valor
de R$ 401,50.

Embora a autora tenha se beneficiado com o acordo homologado na ação coletiva, com o
importe de R$ 401,50, isso não é suficiente para reconhecer a coisa julgada, uma vez que
a autora ingressou com a ação individual após o ajuizamento da ação coletiva e não
requereu a suspensão processual, na forma do art. 104 da Lei nº 8.078, de 1990. Outra
possibilidade para extensão dos efeitos da coisa julgada à ação individual seria se a
empregada tivesse outorgado poderes específicos à Federação para a transação, o que
não é o caso.

Destaco, a respeito, a Tese Jurídica nº 14 em IRDR do E. TRT da 12ª Região:

TESE JURÍDICA Nº 14. Os acordos realizados e homologados na Ação Coletiva n.º


000007-35.2018.5.12.0023, entre a SPDM e o Sindicato, não produzem efeitos na ação
individual promovida por substituído nominado que não tenha outorgado poderes
específicos para aquela transação, não implicando, portanto, para eles, litispendência
ou coisa julgada. Disponibilizada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho DEJT
/TRT12-CADERNO JUDICIÁRIO no dia 16-06-2023, considerando-se publicada no dia
19-06-2023.

Rejeito a preliminar.

Inconformada, pretende a ré a reforma do julgado.

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Reitera a alegação de que a autora, exercente da função de "ajudante de


serviços gerais", foi beneficiária do ajuste entabulado no acordo homologado na ação coletiva interposta
contra si pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado de SC - FETIESC (nº 0001719-
22.2017.5.12.0047) em relação à verba adicional de insalubridade em grau máximo e que, naquele
acordo, foi prevista a quitação plena de direitos e obrigações entre a empresa e os substituídos pela
Federação.

Assere, assim, que "A homologação do acordo em ação coletiva,


devidamente homologado pelo Juízo a quo, em que a Recorrida constou do rol de substituídos, e quitado
pela empresa Ré faz coisa julgada em relação à presente Reclamatória Trabalhista", fato que impede a
autora de discutir a matéria em demanda individual.

Pleiteia, nesses termos, seja reconhecida a ocorrência de coisa julgada e,


consequentemente, seja julgada improcedente a presente ação.

Pois bem.

Consoante a documentação coligida aos autos, verifica-se que a ação


coletiva foi proposta pela FETIESC em face da empresa ré em 9-11-2017 e o acordo nela firmado foi
homologado em 6-9-2022 (fls. 300/322). Restou estabelecido no referido acordo "o pagamento do
adicional de insalubridade em grau máximo para as funções de enfermeira do trabalho e ajudante de
serviços gerais" (fl. 311), tendo a autora sido beneficiária desse pagamento (R$ 401,05, fl. 320).

Todavia, aplicável à hipótese vertente, por analogia, o entendimento


fixado por este Tribunal em sua Tese Jurídica 14 (proveniente do IRDR 0002644-57.2020.5.12.0000 -
tema 12), in verbis:

Os acordos realizados e homologados na Ação Coletiva n.º 000007-35.2018.5.12.0023,


entre a SPDM e o Sindicato, não produzem efeitos na ação individual promovida por
substituído nominado que não tenha outorgado poderes específicos para aquela
transação, não implicando, portanto, para eles, litispendência ou coisa julgada.

No caso, conforme pontuado pelo Juízo de origem, não se constata tenha a


autora outorgado poderes específicos para a realização de acordo nos autos da ação coletiva 0001719-
22.2017.5.12.0047, não tendo sido a trabalhadora alcançada, pois, pelos efeitos da litispendência ou coisa
julgada.

Mantenho o julgado por seus próprios e jurídicos fundamentos.

3.ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

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O adicional de insalubridade postulado na inicial foi deferido em sentença


sob os seguintes fundamentos, in litteris:

A autora alega que trabalhava em condições insalubres em razão do contato com fezes
humanas e utilização de produtos químicos, sem receber o adicional de insalubridade.
Postula pagamento do respectivo adicional, com reflexos.

A ré nega o labor nas condições alegadas. Aduz que o ajudante de serviços gerais "deve
realizar a limpeza do piso, banheiros e recolher o lixo da empresa" e que a autora recebia
EPIs. Nega que a autora fizesse limpeza de caixa de esgoto.

Analiso.

Após verificar o local e as condições de trabalho da autora, o perito concluiu que "as
atividades executadas pela reclamante, na função de 'Ajudante de serviços gerais', junto
a empresa reclamada supracitada, não foram insalubres em grau máximo, tendo em
vista a existência de medidas de ordem técnica e/ou administrativas e/ou individuais,
conforme preveem as Normas Regulamentadoras (NRs), do Ministério do Trabalho e
Previdência Social, em especial a NR-15 (Atividades e operações insalubres) e a NR-06
(Equipamentos de Proteção Individual) que descendem da Portaria 3.214/78".

Ao analisar à exposição a agentes químicos e biológicos, o perito afirmou que:

[...]

Na análise das medidas de proteção, o perito apontou as seguintes medidas técnicas e


administrativas:

[...]

O perito respondeu quesitos complementares, sem alterar o resultado do laudo.

A conclusão pericial no tocante aos agentes biológicos não merece acolhimento.

Explico.

O Anexo XIV da NR 15, que trata dos agentes biológicos, estabelece ser devido
adicional de insalubridade em grau máximo no caso de trabalho em contato permanente
com lixo urbano.

A Súmula nº 448 do TST, por sua vez, dispõe:

ATIVIDADE INSALUBRE. CARACTERIZAÇÃO. PREVISÃO NA NORMA


REGULAMENTADORA Nº 15 DA PORTARIA DO MINISTÉRIO DO TRABALHO Nº
3.214/78. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 4
da SBDI-1 com nova redação do item II ) - Res. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e
23.05.2014.

I - Não basta a constatação da insalubridade por meio de laudo pericial para que o
empregado tenha direito ao respectivo adicional, sendo necessária a classificação da
atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho.

II - A higienização de instalações sanitárias de uso público ou coletivo de grande


circulação, e a respectiva coleta de lixo, por não se equiparar à limpeza em residências
e escritórios, enseja o pagamento de adicional de insalubridade em grau máximo,
incidindo o disposto no Anexo 14 da NR-15 da Portaria do MTE nº 3.214/78 quanto à
coleta e industrialização de lixo urbano.(original não grifado)

No mesmo sentido, é o teor da Súmula nº 46 deste Eg. Regional.

Em audiência, a preposta admitiu que a autora fazia a limpeza dos banheiros (fato
incontroverso, em verdade, porque também admitido na contestação), mas negou a
limpeza na caixa de esgoto. Disse que na ré havia cerca de 140 a 150 colaboradores, em
dois turnos de trabalho, e que também havia um banheiro exclusivo para o pessoal de

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fora, na parte da recepção. Afirmou que a autora fazia a dosagem de produtos na caixa de
estação de tratamento, cerca de uma vez por dia, mas isso não era limpeza.

A testemunha Jean (convidada pela ré) foi dispensada pelo Juízo porque declarou ter sido
apenas em julho de 2022 e confirmou que na época a autora não trabalhava mais no local.

A testemunha Cleiton (convidada pela ré), por sua vez, declarou que trabalha como
operador de empilhadeira e que a autora trabalhava na parte de serviços gerais, limpeza;
que via a autora varrendo, limpando o banheiro, limpando as salinhas; que nunca viu a
autora limpando a caixa de esgoto.

Não há controvérsia quanto à atividade da autora de higienização dos banheiros, o que


engloba a limpeza dos vasos sanitários e a coleta de lixo. Os banheiros eram utilizados
pelos funcionários (cerca de 140 a 150 pessoas, segundo a preposta) e também por
terceiros, o que caracteriza grande circulação e impõe o pagamento de adicional de
insalubridade em grau máximo.

Destaco que o fato de a autora não permanecer durante toda a jornada apenas na limpeza
dos banheiros não afasta a conclusão, visto que a análise da insalubridade por agente
biológico é qualitativa e não quantitativa.

Importante destacar que no caso de agente biológico os equipamentos de proteção


individual servem apenas para minimizar o risco, contudo, não o elidem, porquanto são
inerentes à atividade.

Pelas razões acima expostas e diante do enquadramento na NR-15, reconheço a


exposição da autora a agentes biológicos.

Por todo o exposto e por amparo legal, condeno a réa pagar à autora o adicional de
insalubridade em grau máximo em razão do contato com lixo urbano, calculado sobre o
salário-mínimo (nacionalmente unificado).

O adicional de insalubridade, enquanto percebido, integra a remuneração para todos os


efeitos legais (Súmula nº 139 do E. TST). Condeno a réa pagar os reflexos postulados
em aviso-prévio indenizado, horas extras (pagas), férias + 1/3, 13º salários, FGTS e
indenização compensatória de 40%.

Reflexos em repouso semanal remunerado são indevidos, posto que a fixação mensal do
adicional de insalubridade (calculado sobre o salário-mínimo mensal) já inclui os dias de
repouso remunerado (OJ nº 103 da SDI-I do E. TST). (grifos no original)

Insurge-se a ré contra tal condenação defendendo que a autora não


preencheu os requisitos para percepção do adicional de insalubridade em grau máximo, porquanto não
laborou em esgotos (galerias e tanques), não efetuou a coleta de lixo urbano, assim como não realizou a
limpeza de banheiros utilizados por grande fluxo de pessoas.

Alega que "em se tratando de limpeza em banheiro utilizado por número


restrito de pessoas (apenas funcionários), cuja função era exercida por sete funcionárias, verifica-se que
o presente caso, na verdade, equipara-se à higienização de residência e escritórios, sendo indevido o
adicional de insalubridade, na forma da Súmula 448 do TST, ante à inexistência de classificação da
atividade no Anexo 14 da NR-15".

Destaca que a conclusão exarada no laudo pericial - de que as atividades


laborais da autora não eram insalubres - deve ser observada; que a autora recebia os EPIs apropriados à
eliminação/neutralização dos agentes insalutíferos; e, por fim, que não há provas da exposição da autora

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a agentes insalubres de forma permanente ou intermitente, requisito essencial para o deferimento do


adicional postulado.

Nesses termos, pleiteia ser eximido do pagamento da verba em exame.

À análise.

A autora foi contratada para o exercício da função de "ajudante de


serviços gerais" e prestou serviços de 6-5-2019 a 15-2-2020 (TRCT - fl. 135). Era responsável por
realizar as atividades de limpeza dos diversos ambientes da fábrica, limpar áreas administrativas, pátio,
áreas sociais, banheiros e vestiários, bem como zelar pela conservação dos diversos ambientes da
empresa (fl. 230).

Determinada a realização de prova técnica, o expert designado pelo Juízo,


após análise das atividades e do local de prestação dos serviços da autora, bem como da documentação
pertinente à matéria, à luz das normas legais e da NR-15, apresentou laudo pericial conclusivo nos
seguintes termos:

Pelo exposto neste laudo, conclui-se que as atividades executadas pela reclamante na
condição de "Ajudante de serviços gerais", junto a empresa reclamada supracitada, não
foram insalubres, tendo em vista a existência de medidas de ordem técnica e/ou
administrativa e/ou individuais, conforme preveem as Normas Regulamentadoras (NRs),
do Ministério do Trabalho e Previdência, em especial a NR-15 (Atividades e operações
insalubres) e a NR-06 (Equipamentos de Proteção Individual) que descendem da Portaria
3.214/78. (grifos no original)

Em relação especificamente à alegada exposição a agentes biológicos,


decorrente da limpeza de banheiros, esclareceu o expert que "Não obstante, a atividade de recolhimento
de lixo no ambiente de trabalho, no qual, mesmo existindo a possibilidade de agentes biológicos, não se
permite o enquadramento como atividade insalubre, a menos que se trate de trabalho realizado em
estabelecimentos destinados ao tratamento de pacientes ou animais em isolamento por doença
infectocontagiosa, ou equivalente. Dizer que o recolhimento de lixo no âmbito restrito de banheiros de
funcionários de um estabelecimento industrial, se enquadrariam como lixo urbano é esquecer a
amplitude desse conceito dado pela norma quando especifica que se refere à coleta e industrialização.
[...]. A limpeza de sanitários em instalações industriais ainda que possa causar certa repulsa, não pode
ser considerada como insalubre, por absoluta falta de previsão nas normas de medicina e saúde do
trabalho"(fl. 233).

No tópico 5.2.4, relativo à "Análise da exposição ao agente", assim expôs:

Ao se analisar criteriosamente o texto da norma e as atividades desenvolvidas pela


reclamante, percebe-se que não se caracteriza o enquadramento que justifique a
atribuição de adicional de insalubridade em razão de/da:

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a) Ausência de previsão da classificação como atividade insalubre na relação oficial


elaborada pelo atual Ministério do Trabalho e Previdência;

b) Não haver no rol das atividades da reclamante, mesmo que por similaridade, o
desempenho permanente (constante ou intermitente) de coleta e industrializaçãode lixo
urbano;

c) Não haver no rol das atividades da reclamante, mesmo que por similaridade, o
desempenho permanente (constante ou intermitente) com galerias ou fossas de esgoto. Se
ocorreu, foi de forma muito pontual;

d) Não haver no rol das atividades da reclamante, mesmo que por similaridade, o
desempenho de atividades equiparadas com qualquer outra condição citada no anexo nº
14 da NR-15;

e) Não haver os elementos essenciais previstos no artigo 189 a CLT, para se estabelecer
condição insalubre.

Art. 189. Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua
natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes
nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da
intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos.

f) Limpeza das instalações sanitárias e a coleta de seus resíduos (lixo), por parte da
reclamante, em termos de eventuais riscos à saúde dos trabalhadores, não ser equiparada
com aqueles previstas no rol do anexo nº 14 da NR-15;

g) Haver monitoramento médico, via PCMSO, da saúde de todos os trabalhadores da


empresa e que fazem uso das instalações sanitárias (banheiros e vestiários);

h) Uso de EPIs na forma complementar de proteção. (grifos no original, fls. 233/234)

Em resposta ao quesito complementar nº 1 formulado pela autora,


consignou que:

R - Do limitado tempo diário destinado para efetuar a limpeza dos banheiros (limpeza do
piso, paredes, pias, armários, espelhos, box sanitário, coleta de lixo sanitário, reposição
de papel, sacos plásticos, detergentes líquidos, entre outros), por parte da reclamante
junto a reclamada, informa-se que tais atividades ocorriam de maneira semelhante à
realizada numa residência ou em qualquer outro estabelecimento comercial. O
diferencial está apenas no volume de instalações.

Conforme exposto no subitem 5.2.3 do laudo pericial, das instalações sanitárias


higienizadas pela reclamante, há de se destacar o tempo limitado destinado a
higienização das mesmas. A higienização das diversas áreas da empresa, incluindo as
instalações sanitárias e vestiários era realizada por uma equipe de 7 (sete) pessoas.

Há na empresa periciada aproximadamente 165 funcionários distribuídos em diversos


setores e turnos de trabalho.

[...] (fl. 257, grifos no original)

Pois bem.

De acordo com o consagrado da Súmula 448, II, do TST, "A higienização


de instalações sanitárias de uso público ou coletivo de grande circulação, e a respectiva coleta de lixo,

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por não se equiparar à limpeza em residências e escritórios, enseja o pagamento de adicional de


insalubridade em grau máximo, incidindo o disposto no Anexo 14 da NR-15 da Portaria do MTE nº 3.214
/78 quanto à coleta e industrialização de lixo urbano".

Quanto à matéria, o entendimento deste Regional, estampado na Súmula


46 é "A atividade de limpeza de banheiros públicos, utilizados por grande fluxo de pessoas, equipara-se
à coleta de lixo urbano, sendo insalubre em grau máximo, nos termos da NR-15, Anexo 14, da Portaria
nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho".

No caso, contudo, o expert, em análise técnica, como acima exposto,


equiparou as atividades de limpeza em banheiros realizadas pela autora àquelas realizadas "numa
residência ou em qualquer outro estabelecimento comercial".

Os banheiros higienizados pela autora não foram categorizados no laudo


pericial, portanto, como sendo de uso público ou de grande circulação.

Nesse passo, embora o magistrado não esteja adstrito ao laudo pericial,


não é possível, no caso dos autos, deixar de considerá-lo, já que o afastamento das conclusões técnicas
apontadas por profissional designado pelo Juízo depende de prova de mesma qualidade, ou seja, técnica,
inexistente nos autos.

Sendo assim, não restando caracterizada a hipótese elencada nas Súmulas


448 do TST e 46 deste Tribunal, não faz jus a autora ao adicional de insalubridade em grau máximo
deferido em sentença.

Em face do exposto, dou provimento para excluir da condenação o


pagamento do adicional de insalubridade e reflexos deferido à trabalhadora.

4.HONORÁRIOS PERICIAIS

Em sentença, restou fixado "Honorários periciais [...] em R$ 1.400,00,


pela ré, sucumbente na pretensão objeto de perícia".

Caso absolvida da condenação ao pagamento do adicional de


insalubridade, postula a ré ser eximida também dos honorários periciais que lhe foram atribuídos.

Requer o "provimento do Recurso Ordinário, a fim de reformar a


sentença para excluir a sua obrigação, no que tange ao pagamento dos honorários periciais, devendo
estes serem suportados pela União (no caso de manutenção do benefício da justiça gratuita), sob pena
de violação do previsto pelo art. 790-B, caput da CLT".

Assinado eletronicamente por: ROBERTO BASILONE LEITE - 21/02/2024 15:26:43 - c41ede0


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Número do processo: 0000937-73.2021.5.12.0047 ID. c41ede0 - Pág. 9
Número do documento: 23121114210502800000025338303
Fls.: 10

Sucessivamente, pretende a minoração dos referidos honorários para R$


1.000,00, com base no princípio da razoabilidade, o tempo despendido e a complexidade envolvida na
sua elaboração.

Prospera a insurgência.

Considerando que a ré foi absolvida do pagamento do adicional de


insalubridade postulado na inicial, consequentemente fica desincumbida do ônus decorrente dos
honorários periciais ante a reversão da sucumbência, cabendo à autora o seu pagamento, por força do
disposto no art. 790-B, caput e §4º, da CLT, aplicável ao caso diante do ajuizamento da ação em 16-7-
2021.

Dada a condição de beneficiária da justiça gratuita e a declaração de


inconstitucionalidade parcial do caput do art. 790-B da CLT e integral do §4º do mesmo dispositivo, o
encargo deverá ser suportado pela União.

Sendo assim, quanto à matéria, dou provimento para absolver a ré do


pagamento dos honorários periciais e, por ser a autora beneficiária da justiça gratuita, determinar que tal
verba seja atribuída à União, nos termos e limites da Portaria SEAP 166/2021.

5.HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

Consta da sentença em relação ao tema em epígrafe:

Os honorários de sucumbência são aplicáveis no processo trabalhista (art. 791-A da


CLT), observando-se, contudo, a condição suspensiva de exigibilidade na hipótese de
concessão dos benefícios da justiça gratuita em razão da decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal na ADI nº 5766 acerca da inconstitucionalidade da expressão "desde
que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de
suportar a despesa"constante no §4º do art. 791-A da CLT.

Esclareço que apenas há sucumbência no caso de rejeição total do pedido específico,


conforme tese nº 5 firmada por este Egrégio Tribunal no julgamento do IRDR nº
0000112-13.2020.5.12.0000 e que não há incidência de honorários no caso de rejeição da
multa do art. 467 da CLT, por se tratar de penalidade de cunho processual.

Ainda, considerando que os honorários sucumbenciais possuem natureza alimentar,


entendo pela possibilidade de retenção das parcelas dos créditos da parte autora, exceto
quando houver condição suspensiva de exigibilidade, o que é o caso dos autos.

Pelo exposto, com fundamento no caput do art. 791-A da CLT:

a) condeno a ré a pagar honorários de sucumbência ao advogado da parte autora, no


percentual de 10% (arbitrado com observância do disposto no § 2º do art. 791-A da CLT)
sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, apurado conforme entendimento
contido na Súmula nº 31 do E. TRT da 12ª Região;

b) condeno a autora a pagar honorários de sucumbência ao advogado da parte ré, no


percentual de 10% (arbitrado com observância do disposto no § 2º do art. 791-A da CLT)

Assinado eletronicamente por: ROBERTO BASILONE LEITE - 21/02/2024 15:26:43 - c41ede0


https://pje.trt12.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=23121114210502800000025338303
Número do processo: 0000937-73.2021.5.12.0047 ID. c41ede0 - Pág. 10
Número do documento: 23121114210502800000025338303
Fls.: 11

sobre a soma dos valores atualizados dos pedidos integralmente rejeitados (letra "b").
Aplicável, contudo, a condição suspensiva de exigibilidadena forma prevista no § 4º do
art. 791-A. (grifos no original)

Em suas razões recursais, caso absolvida do pagamento do adicional de


insalubridade, pretende a ré ser eximida dos honorários advocatícios sucumbenciais à parte contrária.
Sucessivamente, com amparo nos critérios estabelecidos no art. 791-A, §2º, da CLT, pugna pela
minoração do percentual arbitrado a tal título.

Requer a ré, também, seja a autora condenada ao "pagamento dos


honorários advocatícios sucumbenciais sobre os pedidos julgados improcedentes e ainda que
beneficiária da justiça gratuita".

Pois bem.

Porquanto absolvida da condenação que lhe foi imposta e,


consequentemente, não remanescendo sucumbente no objeto da presente ação, impõe-se absolver a ré do
pagamento de honorários advocatícios à autora.

Destaca-se que a autora, mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, já


restou condenada ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais à ré no percentual de 10%
sobre os pedidos julgados integralmente improcedentes (no caso, pedidos "a" e "b" da inicial), devendo
ser observada a condição de exigibilidade estabelecida em sentença, a teor do art. 791-A, §4º, da CLT.

Sendo assim, dou provimento parcial para absolver a ré do pagamento de


honorários advocatícios à autora.

Pelo que,

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Número do processo: 0000937-73.2021.5.12.0047 ID. c41ede0 - Pág. 11
Número do documento: 23121114210502800000025338303
Fls.: 12

ACORDAM os membros da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho


da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO DE RITO SUMARÍSSIMO. No
mérito, por igual votação, DAR-LHE PROVIMENTO PARCIAL para: (a) excluir da condenação o
pagamento do adicional de insalubridade e reflexos; (b) absolver a ré do pagamento dos honorários
periciais e, por ser a autora beneficiária da justiça gratuita, determinar que tal verba seja atribuída à
União, nos termos e limites da Portaria SEAP 166/2021; (c) absolver a ré do pagamento de honorários
advocatícios à autora. O Ministério Público do Trabalho manifestou-se pelo regular prosseguimento do
feito, sendo desnecessária a sua intervenção. Custas, pela autora, no importe de R$ 265,72 (2% sobre o
valor atualizado da causa), dispensadas, por ser a autora beneficiária da justiça gratuita.

Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 06 de fevereiro de


2024, sob a Presidência da Desembargadora do Trabalho Mirna Uliano Bertoldi, o Desembargador do
Trabalho Roberto Basilone Leite e o Juiz do Trabalho Convocado Carlos Alberto Pereira de Castro (Ato
SEAP Nº 58/2023). Presente o Procurador do Trabalho Fábio Massahiro Kosaka.

ROBERTO BASILONE LEITE


Relator

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Número do processo: 0000937-73.2021.5.12.0047 ID. c41ede0 - Pág. 12
Número do documento: 23121114210502800000025338303

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