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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 03ª REGIÃO

Gabinete de Desembargador n. 47
PROCESSO nº 0010119-64.2021.5.03.0102 (RORSum)
RECORRENTE: LUCIANA CRISTINA FRANCISCO CÂNDIDO
RECORRIDO: HOTEL OLIVEIRA MONLEVADE LTDA.
RELATOR: JUIZ CONVOCADO MÁRCIO JOSÉ ZEBENDE
MJZ/AP 0

ACÓRDÃO

O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, em sessão


ordinária da Décima Turma, hoje realizada, julgou o presente processo e, por unanimidade,
conheceu do recurso, pois estão preenchidos os pressupostos exigidos para a sua
admissibilidade. No mérito, por maioria de votos, deu-lhe provimento parcial para: a) rejeitar a
contradita da testemunha Sueli das Graças Santos; b) condenar o reclamado a pagar à autora
adicional de insalubridade em grau máximo (40%), a ser calculado sobre o salário mínimo, durante
todo o período do vínculo empregatício, com reflexos em 13º salário, férias acrescidas de 1/3,
FGTS; c) excluir a condenação da autora ao pagamento de honorários periciais, os quais devem
ser suportados exclusivamente pelo réu; d) condenar o reclamado a pagar à autora, durante todo o
seu vínculo empregatício, as estimativas de gorjetas conforme CCT juntada aos autos, com
reflexos em 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS; e) determinar que a autora só responderá
pelo pagamento de honorários sucumbenciais aos procuradores do reclamado se o crédito que
eventualmente receber, neste ou em outro processo, for de montante que altere a sua condição de
miserabilidade jurídica, considerando-se, para esses fins, o limite de 50 salários mínimos, vencido
o Exmo. Juiz Convocado Relator.Manteve íntegra, quanto ao mais, a r. sentença recorrida (id.
48b6a55), adotando, como razões de decidir, a motivação nela expendida e confirmando-a por
seus próprios e jurídicos fundamentos, nos termos do que dispõe o artigo 895, parágrafo 1º, IV, da
CLT. Elevou o valor da condenação de R$2.800,00 (dois mil e oitocentos reais) para R$7.000,00
(sete mil reais), com custas elevadas de R$56,00 (cinquenta e seis reais) para R$140,00 (cento e
quarenta reais), pelo réu, ficando o reclamado intimado, desde já, para a sua complementação,
nos termos do item III da Súmula 25 do C. TST. FUNDAMENTOS DE MÉRITO: Contradita da
testemunha - Insurge-se a reclamante contra o acolhimento da contradita, alegando que o fato ter
sido arrolada como testemunha da testemunha por ela convidada, em processo contra a mesma
reclamada, não enseja, por si só, a presunção de suspeição. Com razão. De acordo com a Súmula
nº 357 do c. TST, o simples fato de a testemunha demandar em juízo em face da mesma
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empregadora não a torna suspeita. Questão já superada por esta instância especializada. Este
posicionamento se mantém, ainda que seja idêntico o objeto da demanda, mesmo que haja pedido
de danos morais, e até que se comprove, de forma robusta, a sua falta de isenção para depor, o
que não se verificou nestes autos. Ademais, não se verifica nos autos qualquer troca de favores ou
mesmo amizade íntima entre a testemunha e a reclamante, ônus que competia ao reclamado, nos
termos do art. 818, II, da CLT. Todavia, não há qualquer nulidade a ser declarada no feito, haja
vista que a testemunha foi ouvida em 1ª instância, embora na condição de informante. Assim, dou
provimento ao recurso para rejeitar a contradita da testemunha Sueli das Graças Santos, sendo
que seu depoimento será valorado em cotejo com as demais provas dos autos. Adicional de
insalubridade - Renova a reclamante seu pedido de adicional de insalubridade, pela limpeza de
banheiro de uso coletivo de grande circulação. Pois bem. No caso em análise, o perito constatou
que a reclamante realizava a limpeza de banheiros, incluindo vasos sanitários e recolhimento de
lixo, sendo que o hotel reclamado "conta com onze quartos no 1º e no 2º andar e sete quartos no
3o e 4o andar, assim como no andar da garagem totalizando assim, 43 (quarenta e três)
apartamentos. Esses quartos podem ser individuais, duplos e/ou triplos, sendo a circulação
aproximada nos banheiros variável de acordo com a movimentação do local" (id.d3bbdcf - pág.
14).Ora, pois.Tal declaração, por si só, demonstra que a reclamante realizava a limpeza de
instalações sanitárias de grande circulação, haja vista o porte do hotel reclamado. Não é crível que
um hotel com tantos leitos se mantenha em funcionamento com uma baixa circulação de pessoas.
Ademais, ainda que o hotel se localize no interior de Minas Gerais, é sabido que João Monlevade
não é uma cidade pequena, tendo em vista sua localização, às margens da rodovia BR 262/381
(art. 374, I, do CPC). Data máxima vênia, entendo que a situação se enquadra na hipótese de uso
coletivo de grande circulação, prevista na Súmula 448, II, do col. TST, sendo devido o adicional de
insalubridade e respectivos reflexos. Assim, há que se afastar parcialmente o laudo pericial, pois o
expert não levou em conta em sua análise o entendimento pacificado na Súmula 448, II, do TST
(id. d3bbdcf - pág. 19). Ressalto que eventual utilização de EPI não é capaz de neutralizar a
exposição aos agentes insalubres biológicos em casos como o destes autos. E nem se argumente
que o tempo de exposição era reduzido, pois neste sentido a Súmula 364 do C. TST consolidou o
posicionamento de que na exposição habitual ou mesmo intermitente ao risco, o empregado faz jus
ao adicional correspondente, a não ser que a exposição se dê por tempo extremamente reduzido.
No caso em questão, a exposição da autora era diária, já que a limpeza e higienização de
sanitários era uma de suas atribuições como "camareira" (id. d3bbdcf - pág. 6). Ante ao exposto,
dou provimento parcial ao recurso para condenar o reclamado a pagar à autora adicional de
insalubridade em grau máximo (40%), a ser calculado sobre o salário mínimo, durante todo o
período do vínculo empregatício, com reflexos em 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS. É
indevida a incidência do adicional de insalubridade ora deferido sobre o RSR, pois tal verba tem
como base de cálculo o salário mensal, no qual se encontram incluídos os DSR (inteligência da OJ

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103 da SDI-I do TST). Também não faz jus a autora aos reflexos em horas extras, pois não há
registro de quitação de horas extras nos contracheques (id. 0b4fb56). Invertidos os ônus da
sucumbência na pretensão objeto da perícia (art. 790-B da CLT), há que se excluir a condenação
da reclamante ao pagamento de honorários periciais, os quais deverão ser suportados
exclusivamente pelo reclamado, no valor fixado na sentença. Gorjetas - Reitera a autora seu
pedido de pagamento das gorjetas, conforme previsão na CCT da categoria. Com razão. A CCT
2019/2019 sob id. eb33281 prevê, em sua cláusula oitava, o pagamento de estimativa de gorjetas
ao "arrumador(a)", que é sinônimo de "arrumadeira" na Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO 5133-15). Deste modo, sendo incontroversa a ausência de quitação da parcela, dou
provimento ao recurso da autora para condenar o reclamado a pagar-lhe as estimativas de gorjetas
conforme CCT juntada aos autos, durante todo o seu vínculo empregatício, com reflexos em 13º
salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS (Súmula 354 do TST). Honorários advocatícios - Requer
a reclamante a exclusão de sua condenação ao pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais, por ser beneficiária da justiça gratuita. Possui parcial razão. Tratando-se de ação
ajuizada após a entrada em vigor da Lei 13.467/2017, e considerando a sua procedência parcial, a
reclamante deve arcar com os honorários advocatícios devidos à parte contrária em relação aos
pedidos nos quais sucumbiu. Inteligência do art. 791-A, §3º, da CLT. Por outro lado, sendo a
reclamante beneficiária da justiça gratuita, a condenação a título de honorários advocatícios
encontra restrições na própria situação de miserabilidade que ensejou a concessão da gratuidade.
Inicialmente, registra-se que este Relator adota posicionamento no sentido de que o art. 791-A,
§4º da CLT permite que a cobrança se dê de forma irrestrita sobre os créditos havidos pelo
beneficiário da justiça gratuita, independentemente do montante e ainda que disso resulte o
direcionamento da integralidade do valor da condenação em proveito dos procuradores da parte
contrária, motivo pelo qual manteria a sentença no particular. Contudo, vencido o Relator, a D.
maioria dos votantes adota o entendimento que prevalece neste Colegiado, no sentido de que,
sendo deferidos à autora os benefícios da justiça gratuita, assim como no caso concreto (id.
48b6a55 - pág. 7/8, fls. 373/374 do PDF), diante da falta de critérios legais objetivos, deve ser
estabelecido o limite de 50 salários mínimos, a partir do qual o ordenamento jurídico deixa de
reconhecer a essencialidade alimentar da verba, que passa, assim, a ser suficiente a uma
constrição para efeito de pagamento de dívidas judiciais, ensejando, pois, a presunção de
"suficiência de recursos" (art. 5º, LXXIV, da Constituição) e da existência de "créditos capazes de
suportar a despesa"(art. 791-A, §4º, da CLT). Logo, deve ser dado parcial provimento ao recurso
para determinar que a autora só responderá pelo pagamento de honorários sucumbenciais aos
procuradores do reclamado se o crédito que eventualmente receber, neste ou em outro processo,
for de montante que altere a sua condição de miserabilidade jurídica, considerando-se, para esses
fins, o limite de 50 salários mínimos, vencido o Relator. FUNDAMENTOS ACRESCIDOS:
Destaco que, ainda que a testemunha ouvida a rogo da reclamante, Sueli das Graças Santos,

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tenha confirmado, em seu depoimento, que a reclamante era agredida verbalmente pela "Sra.
Andreia", sua superiora hierárquica, as duas testemunhas ouvidas a rogo da reclamada negaram
veementemente tal fato. Assim, restou configurada a prova dividida, que prejudica a reclamante,
que é quem detinha o ônus probatório na situação em análise (art. 818, I, da CLT). Deste modo,
não provado o ato ilícito do empregador, não há que se falar em indenização por danos morais (art.
186 do Código Civil). Ressalto que os depoimentos das testemunhas ouvidas a rogo da
reclamada foram mais convincentes quanto à questão dos feriados, pois elas confirmaram o labor
em tais dias, mas disseram que havia folga compensatória, explicando inclusive como acontecia a
referida folga. Acrescento que a ausência dos cartões de ponto gera presunção apenas relativa
das alegações iniciais quanto à jornada de trabalho (Súmula 338, I, da CLT), presunção esta que
pode ser ilidida por prova em contrário, como aconteceu no caso em análise.

Tomaram parte no julgamento os Exmos.: Juiz Convocado Márcio José


Zebende (Relator, substituindo o Exmo. Desembargador Cléber José de Freitas, por motivo de
férias regimentais), Desembargador Marcus Moura Ferreira (Presidente, em exercício) e Juiz
Convocado Vitor Salino de Moura Eça (substituindo a Exma. Desembargadora Taísa Maria Macena
de Lima, por motivo de férias regimentais).

Presente ao julgamento a il. representante do Ministério Público do


Trabalho: Dra. Florença Dumont Oliveira.

Belo Horizonte, 10 de agosto de 2021.

MÁRCIO JOSÉ ZEBENDE


Juiz Convocado Relator

Assinado eletronicamente por: [Márcio José Zebende] - 8780bf2


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