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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO

EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR RELATOR A QUEM COUBER O PRESENTE

Ref.: Processo nº 5003694-84.2023.4.02.5110

COMPANHIA DE CANETAS COMPACTOR, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ sob o nº 30.742.555/0001-70 (doc. 01), com sede na Rodovia Presidente Dutra, 17501, KM 181,
Jardim Iguaçu, Nova Iguaçu/RJ, vem, por seus advogados, na forma do art. 1.015 e seguintes do CPC,
interpor o presente

AGRAVO DE INSTRUMENTO
com pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal
em face da decisão que indeferiu a liminar (Evento 3), pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

Para os fins previstos no art. 1.016, IV, do CPC, informa a Agravante que seus patronos
são os Drs. SANDRO MACHADO DOS REIS, inscrito na OAB/RJ sob o nº 93.732 e LUIZ GUSTAVO A. S.
BICHARA, inscrito na OAB/RJ sob o nº 112.310, ambos com escritório na Av. General Justo, 365 – 9º andar,
Centro, Rio de Janeiro/RJ.

O patrono da Agravada é a PROCURADORIA REGIONAL DA FAZENDA NACIONAL DA 2ª


REGIÃO, localizada na Avenida Presidente Antônio Carlos, 375 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, CEP 20020-
010.

Por fim, informa a Agravante que, em atendimento ao disposto no art. 1.017 do Código
de Processo Civil, instruiu o presente Agravo de Instrumento com cópia (i) da decisão agravada (doc. 02),
(ii) da petição que ensejou a decisão agravada (doc. 03); e (iii) da procuração outorgada (doc. 04), cuja
autenticidade é desde já assegurada pelos subscritores do presente arrazoado.

Nesses termos,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 18 de abril de 2023.

LUIZ GUSTAVO A. S. BICHARA SANDRO MACHADO DOS REIS


OAB/RJ Nº 112.310 OAB/RJ Nº 93.732

RODRIGO FERNANDES DE MELLO CLEMENTE DOUGLAS VIEIRA E SILVA JUNIOR


OAB/RJ Nº 201.299 OAB/RJ Nº 198.849

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RAZÕES DA AGRAVANTE

AGRAVANTE: COMPANHIA DE CANETAS COMPACTOR


AGRAVADA: UNIÃO FEDERAL/FAZENDA NACIONAL

I – A TEMPESTIVIDADE

1. É tempestivo o Agravo de Instrumento, tendo em vista que a intimação acerca da decisão


agravada ocorreu em 29 de março de 2023 (quarta-feira), termo a quo do prazo de 15 (quinze) dias de
que trata o artigo 1.003, §5º do Código de Processo Civil, começando a correr o prazo recursal no primeiro
dia útil, qual seja, 30 de março de 2023 (quinta-feira) tendo seu término no dia 24 de abril de 2023
(segunda-feira), em razão da suspensão de prazos nos dias 05 a 07 de abril de 2023 (Semana Santa),
prevista na Lei nº 6.802/80 e na Portaria TRF2-PTP-2022/ 00573 (doc. 05).

II - OS FATOS E A DECISÃO AGRAVADA

1. Trata-se, na origem, de Mandado de Segurança objetivando o reconhecimento do direito


líquido e certo da Agravante de ver respeitada a sistemática da não cumulatividade do PIS/COFINS,
especialmente quanto ao “Método Subtrativo Indireto”, permitindo incluir os valores recolhidos a título
de ICMS na base de cálculo das referidas contribuições, nos moldes previstos pelas Leis nºs 10.637/02 e
10.833/03 e validado pela EC nº 42/03, que incluiu o § 12, no art. 195, da CF.

2. Isso porque, com o advento da Medida Provisória nº 1.159/23, houve a exclusão, de forma
ilegítima, do valor do ICMS da base de crédito do PIS/COFINS1, com o claro objetivo de limitar e reduzir o
crédito das empresas adquirentes de bens e mercadorias tributados pelo referido imposto.

3. Em sede de cognição sumária, o Juízo a quo proferiu decisão indeferindo o pedido liminar
por entender que não restou configurado o periculum in mora, pois além de a Agravante não ter
comprovado a impossibilidade de arcar com a exação, o rito célere do Mandado de Segurança afasta o
perigo na demora. Veja-se:

“Destarte, em matéria tributária, o perigo da demora da prestação


jurisdicional somente ocorreria quando a Impetrante alegasse (e
provasse) que não poderia arcar com a cobrança que se lhe impõe

1Medida Provisória nº 1.159/23. Art. 3º (...) § 2º Não dará direito a crédito o valor: (...) III - do ICMS que tenha incidido sobre a
operação de aquisição”

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enquanto não proferido o provimento final, de modo que, se reconhecido
seu direito quando da concessão da segurança, a medida seria realmente
ineficaz, ante as consequências porventura advindas de seu
inadimplemento.
Desta forma, penso que o perigo da demora guarda intrínseca relação
com a capacidade contributiva e somente se configura, repita-se, quando
o contribuinte não tem condições econômicas de efetuar o recolhimento
impugnado. (...)
Além disso, não se pode desconsiderar a celeridade inerente ao rito do
mandado de segurança, que propiciará a prolação da sentença em curto
interregno.
Do exposto, ausente o periculum in mora, INDEFIRO A LIMINAR.”

4. Todavia, a decisão agravada merece ser reformada por esse Eg. Tribunal, consoante se
demonstrará a seguir.

III – AS RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO AGRAVADA


O PERICULUM IN MORA

5. Como visto, o Juízo a quo indeferiu o pedido liminar por considerar que não houve o
preenchimento do requisito de periculum in mora, que entende estar atrelado à insuficiência de recursos
financeiros do contribuinte em promover o recolhimento do tributo.

6. Em que pese a conclusão alcançada pelo Magistrado, destaca-se, de plano, que em


matéria tributária o periculum in mora encontra-se sempre presente, tendo em vista a disparidade de
forças característica da relação jurídica entre o Estado e o contribuinte.

7. Pois bem, como destacado na inicial, mediante o auferimento de receita/faturamento no


desenvolvimento de suas atividades empresariais, a Agravante está obrigada a recolher as Contribuições
para a Seguridade Social de PIS e COFINS, ambas sujeitas à sistemática não cumulativa de apuração,
incluída no texto constitucional por meio da Emenda Constitucional nº 42/03, conforme §12, do art. 195,
da CF.2

2“Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais: (...)
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do
caput, serão não-cumulativas”.

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8. A Medida Provisória nº 1.159/23 incluiu o inciso III no §2º, art. 3º, das Leis nºs 10.637/02
e 10.833/03, para estabelecer, de forma ilegítima, a necessidade de excluir o valor do ICMS da base de
crédito do PIS/COFINS, com o claro objetivo de limitar e reduzir o crédito das empresas adquirentes de
bens e mercadorias tributados pelo referido imposto.

9. Entretanto, a sistemática definida pelo art. 195, § 12, da CF, não permite a alteração do
modelo de creditamento do PIS/COFINS, como pretende a MP nº 1.159/23, sendo necessária uma nova
Emenda Constitucional para que ocorra qualquer alteração no regime da não-cumulatividade do
PIS/COFINS, ou seja, essa alteração não pode ser feita por meio de Medida Provisória.

10. O que se tem, em verdade, é que a vedação imposta pela Medida Provisória nº 1.159/23,
que incluiu o inciso III, no §2º, do art. 3º, das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, com o objetivo de determinar
a exclusão do ICMS da base de crédito do PIS/COFINS, viola a sistemática da não cumulatividade das
contribuições, na medida que o imposto incidente na operação de aquisição compõe o custo do
bem/mercadoria e não pode ser segregado.

11. O periculum in mora, que o MM. Juízo a quo entendeu inexistir em razão da capacidade
contribuitiva da Agravante, se torna nítido quando se leva em conta que a Empresa será tolhida de uma
parte do direito creditório a que faz jus em decorrência de uma norma notoriamente ilegítima, eivada de
vícios desde a sua formalização.

12. Logo, é evidente a situação adversa imposta à Agravante, já que a não concessão da
liminar torna inviável a apropriação dos créditos apurados mediante aplicação das alíquotas de 1,65%
(PIS) e 7,65% (COFINS), sobre custos, encargos e despesas incorridos no desenvolvimento de sua atividade
econômica, conforme o art. 3º, § 1º, das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03 o, que, por consequência, implica
no recolhimento a maior de tributo indevido.

13. Independentemente do rito célere do Mandado de Segurança, fato é que há periculum in


mora reside no fato de que já a partir de 01.05.2023 a Agravante se encontrará obrigada a excluir o ICMS
da base de crédito do PIS/COFINS e, provavelmente, a sentença não será proferida até essa data, visto
que a Autoridade Coatora sequer apresentou as informações até a presente data, restando pendente
também a intimação do Ministério Público. Ou seja, indubitavelmente, na hipótese de não ser
determinada a suspensão dos efeitos da MP nº 1.159/23, a carga tributária da Agravante será
indevidamente majorada.

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14. Alterações como a instaurada pela MP nº 1.159/23, notadamente inconstitucional,
proporcionam um cenário de tamanha insegurança jurídica e interferem em todo o planejamento
financeiros dos contribuintes.

15. Nesse contexto, caso esse Tribunal Regional Federal não suspenda a exigibilidade destes
tributos, a Agravante terá que “escolher” entre (i) desembolsar valores para pagamento ou garantia de
um crédito manifestamente indevido, para que, só ao final, possa pleitear sua repetição; ou (ii) conviver
com o eminente e injusto risco de (a) lançamento com aplicação de multas de ofício (de, no mínimo, 75%
sobre o valor alegadamente “devido”) e cobrança de juros de mora, (b) impossibilidade de renovação de
suas certidões de regularidade fiscal; (c) inscrições de seu nome em cadastros restritivos de crédito e em
tabelionatos de protesto de títulos; e (d) ajuizamento de Execução Fiscal destinada a constringir seu
patrimônio para satisfação deste mencionado crédito.

16. Esse último ponto, aliás, já caracteriza o evidente periculum in mora, como já decidido
pelo Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL - MEDIDA CAUTELAR - RECURSO ESPECIAL CONTRA


ACÓRDÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO - TUTELA ANTECIPADA
CONTRA A FAZENDA PÚBLICA - ARTIGO 273 DO CPC E LEI Nº 9.494/97 -
SENTENÇA DEFINITIVA PROLATADA - PLAUSIBILIDADE DO BOM DIREITO E
PERIGO DA DEMORA PREENCHIDOS - CAUTELAR PROCEDENTE COM
PROCESSAMENTO IMEDIATO DO RECURSO ESPECIAL.
[...]
- A probabilidade de as autuações e as execuções fiscais levadas a efeito
pelo Fisco ocasionar prejuízo de difícil ou penosa reparação configuram
a presença do periculum in mora.
- Em sendo a tutela antecipada convolada em definitiva nada resultaria
em desconstituir tal tutela, posto que seus efeitos persistiriam por força
da sentença.
- Medida cautelar procedente, com imediato processamento do recurso
especial interposto. Decisão unânime.3

17. Vale lembrar ainda que, se eventualmente não for concedida a liminar neste momento e
na eventualidade de a Agravante, visando à continuidade de suas atividades empresariais, recolher o
tributo indevidamente, será validada a nefasta sistemática do solve et repete, já rechaçada em uníssono
pela jurisprudência do STF em inúmeras ocasiões.

3 STJ. MC 1.794/PE, Rel. Ministro Franciulli Netto, DJ 27/03/2000, p.82.

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18. Por outro lado, não há que se questionar a completa reversibilidade da medida liminar
pleiteada, uma vez que, se ao final do julgamento da presente demanda a ora Agravante não se sagrar
vitoriosa – o que se admite apenas em respeito ao princípio da eventualidade –, caberá apenas à
Procuradoria da Fazenda Nacional dar seguimento aos atos de cobrança, sem qualquer prejuízo ao Erário.

19. Assim, uma vez cumprido o requisito da plausabilidade do direito invocado e o periculum
in mora, a decisão agravada merece ser reformada, de modo que seja concedida a tutela de urgência em
favor da Agravante.

IV - A EXISTÊNCIA DO FUMUS BONI IURIS


IV. “a” – O CONTEXTO LEGISLATIVO E A SISTEMÁTICA DA NÃO CUMULATIVIDADE DO PIS/COFINS

20. A Constituição Federal, em seu art. 149, outorga à União competência para instituir
Contribuições para a Seguridade Social, bem as condições para sua instituição por meio do art. 195, onde
estabelece as bases da sua incidência, tais como a receita/faturamento.

21. Assim, uma vez que a Agravante aufere receita/faturamento no desenvolvimento de suas
atividades empresariais, está obrigada a recolher as Contribuições para a Seguridade Social, nos termos
do art. 195, inciso I, alínea “b”, da CF (doc. 04 da Inicial).

22. Dito isso, com o objetivo de garantir o custeio da Seguridade Social, a Lei nº 10.637/02
instituiu o PIS e a Lei nº 10.833/03 a COFINS, sendo relevante mencionar que tais normas adotam a
sistemática não cumulativa de apuração para tais contribuições.

23. Após a edição das referidas Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, a sistemática do regime não
cumulativo do PIS/COFINS foi incluída no texto constitucional por meio da Emenda Constitucional nº
42/03, conforme §12, do art. 195, da CF4.

24. Cumpre esclarecer que a não cumulatividade visa evitar o efeito cascata da tributação,
neutralizando, total ou parcialmente, a incidência dos tributos nas fases subsequentes àquelas em que a

4 “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais: (...)
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do
caput, serão não-cumulativas”.

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operação já foi tributada, assegurando o direito de compensar o que for devido em cada operação com o
montante cobrado na operação anterior.

25. Com efeito, vale desde já mencionar que a sistemática definida pelo art. 195, § 12, da CF,
não permite a alteração do modelo de creditamento do PIS/COFINS, como pretende a MP nº 1.159/23,
sendo necessária uma nova Emenda Constitucional para que ocorra qualquer alteração no regime da não-
cumulatividade do PIS/COFINS, ou seja, essa alteração não pode ser feita por meio de Medida Provisória.

26. Além disso, nos termos do art. 3º, § 1º, das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, a Agravante
tem direito à apropriação de créditos apurados mediante aplicação das alíquotas de 1,65% (PIS) e 7,65%
(COFINS), sobre custos, encargos e despesas incorridos no desenvolvimento de sua atividade econômica,
a saber:

“Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá


descontar créditos calculados em relação a: (...)
§ 1o O crédito será determinado mediante a aplicação da alíquota
prevista no caput do art. 2o desta Lei sobre o valor:
I - dos itens mencionados nos incisos I e II do caput, adquiridos no mês;
II - dos itens mencionados nos incisos IV, V e IX do caput, incorridos no
mês;
III - dos encargos de depreciação e amortização dos bens mencionados
nos incisos VI, VII e XI do caput, incorridos no mês;
IV - dos bens mencionados no inciso VIII do caput, devolvidos no mês”.

27. Da leitura dos dispositivos nota-se que, quando da apuração do PIS/COFINS não
cumulativo, os créditos a serem abatidos do valor mensal devido devem ser apurados sobre todos os
custos e despesas decorrentes de aquisições de bens e serviços que concorreram para a geração das
receitas sujeitas às referidas contribuições.

28. Dessa forma, o princípio da não cumulatividade deve ser interpretado e aplicado de
acordo com a materialidade do tributo a que se refere, ou seja, considerando que o PIS/COFINS incide
sobre a totalidade das receitas auferidas pelo contribuinte, o direito aos créditos se baseia na totalidade
dos gastos (custos + despesas), essenciais para a formação da receita tributável auferida pelos
contribuintes.

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29. Vale mencionar que, por previsão constitucional, o ICMS integra a sua própria base de
cálculo, motivo pelo qual o valor do imposto integra o custo de aquisição e, consequentemente, o preço
do bem/mercadoria, sendo obrigatória a sua inclusão no cálculo do crédito de PIS/COFINS.

30. Sendo assim, a vedação imposta pela Medida Provisória nº 1.159/23, ao incluir o inciso
III, no §2º, do art. 3º, das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, com o objetivo de determinar a exclusão do
ICMS da base de crédito do PIS/COFINS, viola a sistemática da não cumulatividade das contribuições, na
medida que o imposto incidente na operação de aquisição compõe o custo do bem/mercadoria e não
pode ser segregado, conforme a Agravante passa a demonstrar.

IV. “b” – MÉTODO SUBTRATIVO INDIRETO PARA APURAÇÃO DOS CRÉDITOS DE PIS/COFINS

31. Em primeiro lugar, importante esclarecer que a Medida Provisória nº 1.159/23 pretende
inserir na sistemática não cumulativa de apuração do PIS/COFINS elementos típicos da não
cumulatividade que rege o ICMS e o IPI, mais especificamente o confronto entre o montante tributado na
operação realizada pela empresa fornecedora e o crédito que será apropriado pela empresa adquirente.

32. No entanto, a sistemática da não cumulatividade do PIS/COFINS se afasta do regime não


cumulativo do IPI e do ICMS, tendo em vista que a não cumulatividade do PIS/COFINS tem como
característica a “base sobre base” e o regime do ICMS e do IPI tem como característica o “imposto sobre
imposto”. Isso significa que os créditos de PIS/COFINS são apurados a partir dos valores das entradas, não
a partir do montante efetivamente pago dos tributos nas etapas anteriores.

33. Convém esclarecer que, não obstante apresentem a mesma nomenclatura em face de sua
essência, o regime não cumulativo do PIS e da COFINS difere substancialmente da não cumulatividade do
IPI e do ICMS.

34. Nesse sentido, o cálculo dos créditos de ICMS e do IPI utiliza o “Método Crédito de
Imposto”, por meio do qual o imposto que incide em cada etapa da cadeia é compensado com o imposto
apurado na etapa anterior. Ou seja, a tomada do crédito corresponde ao montante pago nas operações
anteriores.

35. Essa metodologia de cálculo difere do “Método Subtrativo Indireto” de apuração,


utilizado no cálculo dos créditos de PIS/COFINS, não havendo vinculação entre débitos e créditos, ou seja,

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as Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03 não exigem a vinculação da entrada da mercadoria ou serviço
diretamente à saída do produto final fornecido pela empresa.

36. Em outras palavras, o “Método Subtrativo Indireto” é alcançado por meio da concessão
de crédito fiscal sobre as compras (custos e despesas) definidas em lei, na mesma proporção da alíquota
que grava as vendas (receitas).

37. É preciso recordar que a exposição de motivos da Medida Provisória 135/03 –


posteriormente convertida na Lei nº 10.833/03 – deixou claro que, por escolha do legislador, a não
cumulatividade do PIS/COFINS é pautada na indicação de determinadas “situações” que quando
verificadas, permitem a apropriação de créditos das contribuições.

38. Esse método, chamado na exposição de motivos da MP nº 135/03 de “Método Subtrativo


Indireto”, é “indireto” justamente porque não considera diretamente o valor dos tributos destacados ou
recolhidos na etapa anterior de circulação econômica. Além disso, é “subtrativo” porque permite subtrair
o valor do crédito apropriado do valor inicialmente apurado mediante aplicação das alíquotas das
contribuições sobre suas receitas.

39. Dessa forma, pelo “Método Subtrativo Indireto” não se exige qualquer vinculação com o
montante recolhido na etapa anterior para a concessão do crédito fiscal, a ponto de ser indiferente se o
fornecedor é optante pelo lucro presumido, pelo SIMPLES ou tem suas vendas submetidas à alíquota
reduzida.

40. A metodologia fica clara no §1º, art. 3º, das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, já transcrito
acima, na medida que foca sempre (e exclusivamente) no valor dos bens, mercadorias, insumos etc.,
sendo indiferente o quantum recolhido pelo fornecedor, interessando apenas o valor da respectiva
aquisição.

41. Em suma, estando o crédito dessas contribuições vinculado às receitas auferidas na


atividade do contribuinte, há o direito aos créditos, desde que os custos e/ou despesas estejam
relacionados à geração da receita. Assim, se houve auferimento de receita, deverá haver o
correspondente creditamento do PIS/COFINS.

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IV. “c” – O ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL SOBRE O MATÉRIA

42. Feitos tais esclarecimentos, a Agravante passa a demonstrar o entendimento do STF


quanto à diferença entre a sistemática da não cumulatividade do PIS/COFINS e do ICMS e do IPI, de modo
a demonstrar a impropriedade da MP nº 1.159/23.

43. Nesse sentido, importante salientar que, em meados de junho de 2020, no julgamento do
RE 587.108 (Tema 179), o Min. Gilmar Mendes expressamente consignou essa diferença em seu Voto, a
saber:

“Tendo em vista que a contribuição do PIS e da COFINS incide sobre a


receita, e não sobre operações com mercadorias ou produtos, a
metodologia de creditamento e a própria sistemática da não
cumulatividade adquirem contornos deveras diferente daquele previsto
para o IPI e ICMS”5.

44. Além disso, recentemente, ao analisar a chamada “não cumulatividade plena do


PIS/COFINS”, no julgamento do RE 841.979 (Tema 756), o STF reconhece a liberdade do legislador definir
os parâmetros da não cumulatividade do PIS/COFINS, sem vincular essa sistemática ao modelo
constitucional de não cumulatividade do ICMS e do IPI. Confira-se:

“O legislador ordinário possui autonomia para disciplinar a não


cumulatividade a que se refere o art. 195, § 12, da Constituição,
respeitados os demais preceitos constitucionais, como a matriz
constitucional das contribuições ao PIS e COFINS e os princípios da
razoabilidade, da isonomia, da livre concorrência e da proteção à
confiança”6.

45. O STF consigna que o legislador possui liberdade para a definição dos contornos da
disciplina não cumulativa do PIS/COFINS, mas essa liberdade não é absoluta, de modo que deve ser
observada a razoabilidade e a coerência interna da sistemática eleita para a não cumulatividade das
contribuições, conforme se verifica do entendimento proferido no julgamento do RE 607.642:

“Com a edição da Emenda Constitucional nº 42/03, a não cumulatividade


das contribuições incidentes sobre o faturamento ou a receita não pôde
mais ser interpretada exclusivamente pelas prescrições das leis

5 Supremo Tribunal Federal, RE 587.108, Tribunal Pleno, Rel. Min. Edson Fachin, Julgado em 26.06.2020.
6 Supremo Tribunal Federal, RE 841.979, Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli, Julgado em 28.11.2022.

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ordinárias. É de se extrair um conteúdo semântico mínimo da expressão
‘não cumulatividade’, o qual deve pautar o legislador ordinário, na esteira
da jurisprudência da Corte” 7.

46. Dessa forma, mais de 20 anos após criação do regime não cumulativo do PIS/COFINS, o
legislador não pode modificar sua sistemática – que adota o “Método Subtrativo Indireto” –, se
aproximando da não cumulatividade do ICMS e do IPI – que utiliza o “Método Crédito de Imposto” – sob
o pretexto de se aplicar o entendimento do STF proferido no julgamento do RE 574.706 (Tema 69), mas
que na verdade visa meramente impor uma tributação mais onerosa aos contribuintes.

47. Importante mencionar que o STJ já analisou e definiu que a sistemática da não
cumulatividade do PIS/COFINS não se confunde com o regime não cumulativo aplicado para o ICMS e o
IPI. Ou seja, a pretensão da MP nº 1.159/23, de criar um “regime híbrido” de não cumulatividade,
mesclando características dos regimes existentes, não se mostra possível, conforme entendimento
consignado no julgamento do REsp nº 1.875.701:

“(...) Note-se que a não cumulatividade dessas contribuições é distinta


daquela observada no IPI e no ICMS, em que a possibilidade de
creditamento vincula-se ao quantum recolhido nas operações
anteriores. No caso do PIS/COFINS, o legislador ordinário adotou a
técnica consistente na enumeração de diversos tipos de créditos que
poderão ser descontados do montante do tributo a ser recolhido, de
modo que não há relação entre os créditos concedidos e a incidência
dessas contribuições nas operações anteriores, o que evidencia não
haver incompatibilidade entre a incidência monofásica e o creditamento
- na verdade, desconto - diversamente do quanto fincado nos
precedentes desta Corte”8.

48. Em suma, o entendimento do STJ expressamente reconhece (i) a validade do


distanciamento entre a sistemática não cumulativa do PIS/COFINS e o modelo constitucional de não
cumulatividade definido para o ICMS e o IPI; e (ii) que não existe relação entre o montante do crédito de
PIS/COFINS apropriado e o valor do tributo exigido na operação anterior.

49. Especificamente sobre a influência da decisão do STF na base de créditos do PIS/COFINS,


proferida no julgamento do RE 574.706 (Tema 69), importante demonstrar que a questão já foi analisada
pelo TRF da 3ª Região, nos termos a seguir em destaque:

7 Supremo Tribunal Federal, RE 607.642, Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli. Julgado em 29.06.2020.
8 Superior Tribunal de Justiça, AgInt no REsp 1.875.701, 1ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Julgado em 01.12.2020.

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“TRIBUTÁRIO. APELAÇÃO. REMESSA OFICIAL. ICMS. BASE DE CÁLCULO.
PIS. COFINS. INCONSTITUCIONALIDADE. TESE FIRMADA PELO STF EM
SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL (RE Nº 574.706) (...) AJUSTE NA BASE DE
CÁLCULO DOS CRÉDITOS DE PIS E COFINS. INEXISTÊNCIA DE
CONTRAPARTIDA (...)
7. Aplicado o entendimento firmado pelo C. STF, o ICMS a ser abatido da
base de cálculo das contribuições é aquele destacado em nota fiscal.
Sobre a questão, a e. Ministra Relatora Carmen Lúcia, no mencionado RE
nº 574.706/PR, consignou que o ICMS a ser abatido não é o pago ou
recolhido, mas o ICMS destacado na nota fiscal de saída.
8. Não há qualquer vínculo jurídico entre a forma de apuração de débito
de PIS/COFINS com a eventual pretensão de incluir na sua base de cálculo
o ICMS computado no cálculo dos créditos dessas contribuições. A relação
jurídica do crédito é segregada da relação jurídica do débito. A discussão
travada na presente ação diz respeito à formação da base de cálculo com
as operações de saída.
9. A decisão proferida no RE nº 574.706/PR em nenhum momento trata
da base de cálculo dos créditos do PIS/COFINS, muito menos em relação
à inclusão do ICMS em tal base de cálculo. O julgamento pela Suprema
Corte em nada alterou a forma de apuração dos créditos, permanecendo
incólume a legislação que trata do tema. A tese definida no tema nº 69
foi de que o conceito constitucional de receita não comporta a parcela
atinente ao ICMS e, por isso, não incidem as contribuições ao PIS e COFINS
sobre aquela parcela. A conclusão, evidentemente, não tem o condão de
modificar a base de cálculo dos créditos das contribuições em questão,
que decorre de interpretação do princípio da não-cumulatividade e do
custo de aquisição, definidos em lei. A discussão no RE nº 574.706/PR
cingiu-se em torno do conceito de faturamento, como grandeza de
natureza tributável pelo PIS/COFINS (...)” 9.

50. Inconformada com o entendimento adotado pelo TRF da 3ª Região, a Fazenda Nacional
opôs Embargos de Declaração, tendo sido reafirmado o entendimento, que por sua clareza e pertinência,
a Agravante transcreve parcialmente a seguir:

“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


OPOSTOS PELA UNIÃO FEDERAL. INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE
CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES AO PIS E COFINS. RE Nº 574.706/PR (...)
2. O v. aresto embargado expressamente consignou que ‘não existe
contrapartida entre a exclusão do ICMS da base de cálculo de incidência
do PIS/COFINS e a exclusão do ICMS na base de cálculo dos créditos do
PIS/COFINS’.
3. Enquanto a base de cálculo dos créditos de PIS/COFINS é o preço da
aquisição, definido por lei, a incidência do PIS/COFINS nas saídas leva em

9Tribunal Regional Federal da 3 Região, ApelRemNec 5000412-65.2017.4.03.6130, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. Antonio Carlos
Cedenho, Julgado em 17.06.2021.

13
consideração o conceito de faturamento, também definido legalmente.
As relações não se confundem e não se comunicam.
4. A decisão proferida no RE nº 574.706 em nada alterou a forma de
apuração dos créditos, permanecendo incólume a legislação que trata do
tema (...)
6. Embargos de declaração rejeitados”10.

51. Com efeito, nota-se que a justificativa indicada na Exposição de Motivos 00010/2023 MF,
que acompanha a referida MP nº 1.159/23, não se mostra coerente com a sistemática da não
cumulatividade do PIS/COFINS, na medida que possui como característica o demonstrado “Método
Subtrativo Indireto”, que também pode ser entendido como sendo de “base sobre base”.

52. Importante demonstrar que esse entendimento não é isolado, o TRF da 5ª Região já
reconheceu a diferença entre as sistemáticas da não cumulatividade do PIS/COFINS, quando comprado
com o regime aplicável ao ICMS e ao IPI, conforme se verifica dos trechos transcritos do seguinte julgado:

“MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. PIS (...)


7. Reforça o entendimento retro exposto o reconhecimento da existência
de relevantes diferenças entre os regimes tributários da não
cumulatividade quando se analisa comparativamente aqueles referentes
aos denominados ‘impostos sobre a produção e a circulação’ (IPI e ICMS)
e o vinculado às contribuições PIS e COFINS.
8. Isso porque, conforme cediço, os primeiros se utilizam da técnica
‘crédito do tributo’, ou seja, pelo creditamento das incidências ocorridas
nas fases anteriores desenvolvidas no ciclo econômico próprio de
produção/circulação, de modo que são em regra físicos, reais e
condicionados. Por sua vez, a técnica apropriada para as contribuições
(PIS e COFINS) se utiliza de um sistema ‘subtrativo indireto’, de modo que
os créditos são obtidos pela aplicação da alíquota definida para a não
cumulatividade sobre a despesa (base contra base).
9. Desse modo, enquanto na sistemática adotada para os ‘impostos sobre
a produção e a circulação’ (IPI e ICMS) compensa-se o montante devido
na saída (vendas) com o valor efetivamente recolhido na etapa anterior
(compras), no caso das contribuições (PIS e COFINS) a não cumulatividade
é alcançada sem qualquer espécie de vinculação com o montante
recolhido na etapa anterior (não há dedução de PIS/COFINS incidente
sobre a receita do vendedor, locador, prestador de serviços etc.), eis que
se configura por meio de concessão de crédito fiscal sobre as compras
(custos e despesas) estabelecidas pela lei.
11. Como se observa, o método utilizado para apuração de créditos das
contribuições para o PIS e para a COFINS não é diretamente vinculado aos
montantes já pagos a título desses tributos em operações anteriores
dentro da mesma cadeia produtiva. Os créditos derivam das despesas

10Tribunal Regional Federal da 3 Região, ApelRemNec 5000412-65.2017.4.03.6130, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. Antonio Carlos
Cedenho, Julgado em 16.09.2021.

14
consideradas relevantes ou essenciais para a geração da receita a ser
tributada (...) 18. Apelação não provida”11.

53. Sendo assim, a jurisprudência dos Tribunais Pátrios amplamente reconhece a diferença
entre a sistemática da não cumulatividade do PIS/COFINS, quando comparada com o regime do ICMS e
do IPI, motivo pelo qual a pretensão da MP nº 1.159/23, de aproximar as duas modalidades mediante a
exclusão do ICMS da base de crédito do PIS/COFINS, em razão do entendiemnto do STF no RE 574.706
(Tema 69), não merece prosperar.

IV. “d” – O ENTENDIMENTO DA PGFN E DA RFB SOBRE O TEMA

54. Além da posição jurisprudencial contrária ao que estabelece a MP nº 1.159/23, a


Agravante passa a demonstrar que a própria PGFN e até mesmo a RFB entendem pela impossibilidade de
se excluir o ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS.

55. Nesse sentido, em 27.08.2021, a PGFN emitiu o Parecer SEI 12.943/2021/ME (doc. 05 da
Inicial), por meio do qual opinou sobre o Parecer COSIT 10/2021, onde a RFB pretendia excluir o ICMS da
base de crédito do PIS/COFINS, tendo em vista uma interpretação equivocada dos efeitos da mencionada
decisão do STF, proferida no RE 574.706 (Tema 69).

56. Dessa forma, a PGFN expressamente corroborou a diferenciação entre o regime da não
cumulatividade do PIS/COFINS e a sistemática para o ICMS e do IPI, bem como consignou que a decisão
do STF no RE 574.706 (Tema 69), não pode ser interpretada no sentido de possibilitar a exclusão do ICMS
da base de crédito do PIS/COFINS, a saber:

“Ao que tudo indica, a decisão da Suprema Corte apenas analisou a


questão sob a perspectiva da base de incidência do tributo, nos termos
do art. 2º das Leis n. 10.637/2002 e n. 10.833/2003, não tratando do
aspecto relativo ao crédito (art. 3º da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n.
10.833/2003) a ser utilizado para abatimento do montante da base de
cálculo.
38. Ao depois, soma-se a essa compreensão a própria norma de regência
descrita no parágrafo 1º do art. 3º das Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003,
ao prever que o crédito será apurado mediante a aplicação da alíquota
sobre o valor dos bens e serviços que dão direito a crédito, conforme as
hipóteses descritas nos incisos do art. 3º das Leis n. 10.637/2002 e n.

11Tribunal Regional Federal da 5 Região, Apelação Cível 08027421520184058000, Rel. Des. Fed. Isabelle Marne Cavalcanti de
Oliveira Lima (convocada), 3ª Turma, Julgado em 28.03.2019.

15
10.833/2003, não havendo referência, ao menos direta, à base de cálculo
efetiva a que se sujeitou aquele bem, que propicia, de
forma juridicamente autônoma, a apuração do crédito.
39. Entende-se que a referência adotada legalmente para a tomada de
créditos compreende uma categoria não exatamente idêntica àquela
examinada pelos Ministros da Suprema Corte no exame do Tema n. 69.
As Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003, ao regulamentarem a apuração de
créditos de PIS e COFINS, partem do conceito de ‘valor dos itens’, isso é,
dos bens adquiridos e demais despesas incorridas (...)
41. O fundamento da decisão proferida pelo STF no Tema n. 69 passa pela
desconsideração do imposto estadual como receita do contribuinte, pois
se entendeu que o ICMS representa grandeza pertencente, em última
instância, à fazenda pública estadual. Não haveria, de acordo com este
entendimento, riqueza percebida e tributável. Entretanto, esse
entendimento, ao dispor sobre o alcance do termo ‘faturamento’, parece
não ter alterado a referência legal relacionada à tomada de créditos de
PIS e COFINS, que leva em consideração o valor despendido na aquisição
dos bens e serviços, neste compreendido o ICMS.
42. O ICMS, nesse contexto, carrega em si o atributo de estar
intrinsecamente integrado ao bem ou serviço transacionado, não
havendo, portanto, a partir de sua incidência um valor de bem/serviço
apartado do ICMS. Em outras palavras, não há que se falar em duas
referências distintas de ‘valor de bens/serviços’, uma com o ICMS, outra
sem o ICMS”.

57. Reforçando tudo isso, em 29.09.2021, a PGFN emitiu o Parecer SEI 14.483/2021/ME (doc.
06 da Inicial), dessa vez para tratar especificamente sobre o julgamento do STF (RE 574.706/PR), tendo
reiterado o entendimento no sentido de que não se mostra correto interpretar que a decisão possibilita
a exclusão do ICMS da base de crédito do PIS/COFINS:

“21. Ocorre que a jurisprudência da Suprema Corte inclina-se no sentido


de que a inconstitucionalidade por arrastamento só tem lugar no controle
concentrado. E, ainda que fosse possível argui-la no controle difuso, dois
obstáculos ainda subsistiriam: não há relação de dependência ou
interdependência entre a tomada de créditos e débitos de PIS/COFINS,
vale dizer, o paralelismo é desejável, mas não é constitucionalmente
obrigatório; e, eventual reconhecimento da inconstitucionalidade dos
arts. 2º e 3º das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003 não tornaria possível
a apuração de créditos sem a inclusão do ICMS que compõe o preço de
aquisição. Tal medida exigiria inolvidável modificação dos diplomas legais
ora discutidos, como já apontado no Parecer SEI Nº 12943/2021/ME.
22. Em arremate, não se vislumbra, com base apenas no conteúdo do
acórdão, a possibilidade de se proceder ao recálculo de créditos de
PIS/COFINS apurados nas operações de entrada, porque a questão não
foi, nem poderia ter sido discutida no julgamento do Tema 69”.

16
58. Diante desse cenário, em 15.12.2022, a RFB publicou a Instrução Normativa 2.121/22,
com o objetivo de consolidar as normas sobre a apuração, a cobrança, a fiscalização, a arrecadação e a
administração do PIS/COFINS.

59. Nesse sentido, relevante demonstrar que a referida IN RFB nº 2.121/22, expressamente
estabelece a possibilidade da inclusão do ICMS na base de créditos do PIS/COFINS, conforme se verifica
da transcrição do art. 171, inciso II, a saber:

“Art. 171. No cálculo do crédito de que trata esta Seção, poderão ser
incluídos: (...)
II - o ICMS incidente na venda pelo fornecedor, ressalvado aquele referido
no inciso I do art. 170 (Lei nº 10.637, de 2002, art. 3º, caput, com redação
dada pela Lei nº 12.973, de 2014, art. 54; e Lei nº 10.833, de 2003, art. 3º,
caput, com redação dada pela Lei nº 12.973, de 2014, art. 55; e Parecer
SEI nº 14.483/2021/ME, de 28 de setembro de 2021, item 60, alínea ‘c’)”.

60. Resta, portanto, demonstrado que a alteração promovida pela Medida Provisória nº
1.159/23, viola a sistemática da não cumulatividade do PIS/COFINS, prevista no art. 195, § 12, da CF, bem
como nas Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, além de não respeitar o entendimento jurisprudencial e, ainda,
o entendimento da PGFN e da RFB sobre o tema, motivo pelo qual seus efeitos merecem ser afastados,
mediante a concessão da segurança ora pleiteada.

IV. ‘e’ – A MATÉRIA RESERVADA À LEI COMPLEMENTAR

61. Por outro lado, ainda que não acolhidos os argumentos de mérito apresentados até aqui,
o que se admite apenas para argumentar, a Agravante passa a demonstrar que técnica e formalmente a
Medida Provisória não se sustenta, com os fins pretendidos, tendo em vista as impropriedades da sua
publicação.

62. Em primeiro lugar, importante mencionar que a matéria tratada por meio da Medida
Provisória nº 1.159/23 é reservada à Lei Complementar, nos termos do disposto no art. 146, inciso III,
alínea “c”, da CF12.

12 “Art. 146. Cabe à lei complementar: (...)


III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: (...)
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários”.

17
63. Além disso, o art. 62, § 1º, inciso III, da CF, expressamente veda a edição de Medida
Provisória sobre matéria reservada à Lei Complementar, a saber:

“Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República


poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-
las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
(...) III - reservada a lei complementar”

64. Dessa forma, evidente que a MP nº 1.159/23, editada para tratar sobre a exclusão do
ICMS da base de cálculo dos créditos PIS/COFINS, viola regramento constitucional expresso, na medida
que invade a competência legislativa reservada ao Congresso Nacional, por meio da edição de Lei
Complementar, situação que compromete a harmonia e o equilíbrio entre os Poderes da República.

65. Inclusive, cumpre demonstrar que a questão já foi analisada pelo STF, tendo sido
declarada a inconstitucionalidade da Medida Provisória que tratava de matéria reservada à lei
complementar, conforme se verifica exemplificativamente do julgado abaixo:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA N.


1.135/2022. ALTERAÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR N. 195/2022 (DIREITO
FINANCEIRO) E DAS LEIS N. 14.399/2022 E 14.148/2021 (...) AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS CONSTITUCIONAIS DE RELEVÂNCIA E
URGÊNCIA. EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA REGULAMENTANDO
MATÉRIA RESERVADA A LEI COMPLEMENTAR: IMPOSSIBILIDADE.
INCONSTITUCIONA-LIDADE FORMAL. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA
PARA SUSTAR OS EFEITOS DA MEDIDA PROVISÓRIA ATÉ DELIBERAÇÃO DO
CONGRESSO NACIONAL. EFEITOS EX TUNC DO DEFERIMENTO.
1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal admite o controle de
constitucionalidade de medida provisória quando se comprove desvio de
finalidade ou abuso da competência normativa do Chefe do Executivo,
pela ausência dos requisitos constitucionais de relevância e urgência. Na
espécie, o Presidente da República valeu-se de medida provisória para
desconstituir o que deliberado pelo Congresso Nacional e reafirmado na
derrubada dos vetos presidenciais às normas alteradas pela Medida
Provisória n. 1.135/2022.
2. Nos termos do inc. III do § 1° do art. 62 da Constituição da República,
é vedado ao Poder Executivo editar medida provisória que disponha
sobre matéria reservada a lei complementar (...)
4. Deferimento de cautelar submetida ao referendum do Plenário do
Supremo Tribunal Federal”13.

13 Supremo Tribunal Federal, ADI 7232, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, Julgado em 09.11.2022.

18
66. Consequentemente, demonstrada o que a MP nº 1.159/23 viola os arts. 62, § 1º, inciso III
e 146, inciso III, alínea “c”, ambos da CF, de modo que a segurança pleiteada no presente writ merece ser
integralmente concedida, para viabilizar a manutenção da parcela do ICMS na base de crédito do
PIS/COFINS.

IV. ‘f’ – A INEXISTÊNCIA DE URGÊNCIA E RELEVÂNCIA QUE JUSTIFICASSE A EDIÇÃO DA MP

67. Além disso, cumpre esclarecer que para a edição de uma Medida Provisória, se mostra
necessária a existência de elementos concretos de urgência e relevância, conforme estabelece o
regramento constitucional previsto no art. 62:

“Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República


poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-
las de imediato ao Congresso Nacional”.

68. Inexistindo urgência e relevância, cabe ao Poder Judiciário a função de promover o


resgate ao Estado Democrático de Direito e a preservação do equilíbrio entre os Poderes, sendo vedada
a pretendida função legislativa adotada pelo Poder Executivo, de modo a preservar o disposto no art. 2º
da CF14.

69. Nesses termos, vale demonstrar que a Exposição de Motivos 10/2023 MF, referente a
Medida Provisória nº 1.159/23, não trata de maneira fundamentada e suficiente o preenchimento dos
requisitos constitucionais de relevância e urgência, tendo indicado, de forma limitada e precária, o que se
segue:

“8. Ficam caracterizadas a urgência e relevância da medida ora proposta


frente à importância que as Contribuições Sociais têm para o
financiamento da Seguridade Social e ao iminente dano aos cofres
públicos causado pelo desvirtuamento da não cumulatividade da
Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins”.

70. Contudo, o Poder Executivo deveria ter explicitado de maneira fundamentada a suposta
presença dos requisitos constitucionais da urgência e da relevância, de modo a viabilizar a edição da
Medida Provisória, porém isso não foi feito.

14 “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

19
71. Também por essa impropriedade técnica e formal, a MP 1.159/23 não se sustenta, motivo
pelo qual se mostra necessária a concessão da segurança pleiteada, para que a Agravante possa manter
a parcela do ICMS na base de crédito do PIS/COFINS.

VI – A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA RECURSAL

72. O inciso II do art. 932 e o inciso I do art. 1.019 do Código de Processo Civil estabelecem a
possibilidade de o relator conceder a antecipação dos efeitos da tutela recursal em Agravos de
Instrumento, caso atendidos aos requisitos de relevante fundamento jurídico do recurso (fumus boni
iuris) e a ineficácia da medida caso não seja de logo concedida (periculum in mora).

73. O fumus boni juris decorre de todos os argumentos formulados acima, uma vez que a
alteração promovida pela MP nº 1.159/23, viola o “Método Subtrativo Indireto”, na medida que não
respeita a característica de “base sobre base”, referente a sistemática da não cumulatividade do
PIS/COFINS.

74. Quanto ao perigo de dano, a fim de evitar que a leitura da presente peça se torne
enfadonha, a Agravante se reporta às razões trazidas no tópico III. “a” supra.

75. Finalmente, deve ser salientado a inexistência de periculum in mora reverso, na medida
em que, na hipótese de decisão final desfavorável à Agravante neste recurso, terá sido formada coisa
julgada material quanto à discussão de mérito da cobrança pretendida, de forma que a Agravante será
forçada ao pagamento ou se sujeitar, nesta hipótese de maneira devida, à constrição de seu patrimônio,
sendo, portanto, plenamente viável o retorno ao status quo.

76. Daí ser evidente concluir que, acaso não deferida a tutela antecipada pleiteada, será a
Agravante a maior prejudicada, e não o Agravado.

VII - O PEDIDO

77. Diante do exposto, a Agravante requer:

(i) seja concedida, nos termos do art. 1.019, I, do CPC, a antecipação


dos efeitos da tutela recursal inaudita altera parte, para garantir o direito
de não se sujeitar aos ditames da recente Medida Provisória nº 1.159/23,
de modo que, a partir de 01.05.2023, possa continuar apurando seus

20
créditos de PIS/COFINS considerando o ICMS incidente nas operações de
aquisição, nos termos do art. 3º, § 1º, das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03;

(i) após, seja realizada a intimação do Agravado para, querendo,


apresentar contrarrazões ao presente recurso;

(ii) que, após tomadas as providências discriminadas nos incisos do


artigo 1.019, do Código de Processo Civil, seja conhecido e provido o
presente agravo de instrumento, para reformar a decisão agravada, de
modo que haja a autorização para apurar créditos de PIS/COFINS
considerando o ICMS incidente nas operações de aquisição.

78. Por fim, requer que todas as publicações pertinentes ao presente processo sejam feitas,
exclusivamente, em nome dos advogados LUIZ GUSTAVO A. S. BICHARA, inscrito na OAB/RJ sob o nº
112.310 e SANDRO MACHADO DOS REIS, inscrito na OAB/RJ sob o nº 96.732, sob pena de nulidade.

Termos em que,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 18 de abril de 2023.

LUIZ GUSTAVO A. S. BICHARA SANDRO MACHADO DOS REIS


OAB/RJ Nº 112.310 OAB/RJ Nº 93.732

RODRIGO FERNANDES DE MELLO CLEMENTE DOUGLAS VIEIRA E SILVA JUNIOR


OAB/RJ Nº 201.299 OAB/RJ Nº 198.849

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