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128 2º Trimestre de 2021

Gratuita

Confederações
unem forças
em defesa das
empresas
PROJETO PROMOVA
45% das mulheres
tiveram uma promoção
de carreira

FUNDOS EUROPEUS
Análise do Eurodeputado
ENTREVISTA José Manuel Fernandes
Jorge de Melo
CEO da Sovena

ECONOMIA CIRCULAR
CIP junta mais de 1.600
empresas para discutir
desafios
Editorial

Uma voz coesa


na defesa
das empresas
No programa da CIP para o triénio 2020-2022 reafirmámos a necessidade de a
representação empresarial em Portugal convergir para a união das Confederações
de Empregadores, dando assim mais força à defesa das empresas e da iniciativa
privada. Acrescentávamos, a este propósito, que nunca deixaríamos de trabalhar
nesse sentido.

De facto, nunca deixámos de trabalhar nesse sentido.

A nossa determinação, conjugada com as vontades da CAP, da CCP, da CPCI e da


CTP, teve, finalmente, sucesso e resultou num quadro de cooperação formalizado,
no passado dia 18 de maio, com a criação do Conselho Nacional das Confederações
Patronais.

Foi dado, assim, um passo fundamental para que as cinco Confederações que integram
este Conselho possam intervir de forma coesa, procurando, simultaneamente e em
António Saraiva
cada circunstância, as formas mais adequadas para a expressão e defesa dos interesses
PRESIDENTE DA CIP
comuns em matérias transversais às empresas no seu conjunto.

Sem que esgote ou substitua as cinco entidades que integra – este Conselho reúne-as,
“Tivemos já no seu papel mobilizador do universo empresarial, fazendo ouvir uma voz coesa na
defesa dos seus interesses comuns.
oportunidade de
assumir uma posição As causas comuns que nos unem são claras:

fundamentada e • O primado da iniciativa privada e da economia de mercado;

frontal na rejeição • A defesa das empresas e a promoção do empreendedorismo;

do injustificado • A dignificação dos empresários e a valorização dos seus colaboradores;


prolongamento da • O crescimento da economia e a partilha da riqueza criada.
obrigatoriedade do Unem-nos, também, os desafios transversais que as empresas têm pela frente.
teletrabalho.
Une-nos, sobretudo, o compromisso, que assumimos, de defender as empresas, face
Fomos ouvidos” à adversidade que as ameaça e à urgência de colocá-las no centro da recuperação,
que deverá assentar numa nova geração de políticas públicas e na utilização eficiente,
rigorosa e transparente dos recursos públicos, nacionais e europeus.

Propusemo-nos, desde logo, a trabalhar em estreita ligação com o Governo no sentido


de assegurar a reorientação do nosso modelo de crescimento e de desenvolvimento
económico e social com vista à recuperação nacional.

Tivemos já oportunidade de assumir uma posição fundamentada e frontal na rejeição


do injustificado prolongamento da obrigatoriedade do teletrabalho. Fomos ouvidos.

Move-nos a certeza do valor das empresas e a convicção de que a iniciativa privada


é o motor da economia.

Juntos iremos mais longe.

2º Trimestre 2021 indústria 3


Editorial 3
indústria
Diretor Edição e Publicidade
Em destaque 6 António Saraiva Bleed - Sociedade Editorial
Confederações patronais
unem-se para acelerar e Organização de Eventos
recuperação das empresas Conselho Editorial Av. das Forças Armadas 4 – 8 B
e da economia Carla Sequeira 1600-082 Lisboa
Catarina Melo Tel.: 217 957 045
Gregório Rocha Novo
Atualidade 12 www.bleed.pt
Análise Fundos Europeus Inês Vaz Pinto info@bleed.pt
Eurodeputado Maria de Nazaré
José Manuel Fernandes
Marta Silva Conteúdos, Edição, Design
CIP junta mais de 1.600 empresas 14 Miguel Boavida e Paginação
para discutir os desafios Nuno Manalvo F5C – First Five Consulting
da Economia Circular Pedro Capucho Av. da Liberdade, n.º 230 - 3.º

Projeto Promova 16 1250-148 Lisboa | Portugal


45% das mulheres tiveram uma Secretariado T +351 210 322 500
promoção de carreira Filomena Mendes F +351 210 322 539
www.f5c.pt

Opinião 19 Administração e Propriedade geral@f5c.pt


Armindo Monteiro e Sede da Redação
CIP - Confederação Empresarial Impressão
de Portugal Grafisol
Associados 22
Mercadona Praça das Indústrias Núcleo Empresarial da Abrunheira
1300-307 Lisboa Zona Poente - Pav.11 - Abrunheira
Tel.: 213 164 700 2710-089 Sintra
Entrevista 26
Fax.: 213 579 986
Jorge de Melo
CEO da Sovena E-mail: revista@cip.org.pt Periodicidade
NIF: 500 835 934 Trimestral

Economia 31
Livro Verde sobre N.º de registo na ERCS - 108372 Tiragem
o Futuro do Trabalho Depósito Legal 0870-9602 10.000 exemplares

Conjuntura Económica 33
Estatuto Editorial
https://cip.org.pt/revista-cip/
Internacional 37
Presiência Portuguesa do Conselho
da União Europeia: um balanço

Empresas europeias e indianas 42


discutem caminhos da cooperação

Homenagem 45
Francisco Mantero
1948-2021

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Em destaque

CONFEDERAÇÕES
PATRONAIS
UNEM-SE PARA
ACELERAR
RECUPERAÇÃO
DAS EMPRESAS
E DA ECONOMIA

O Conselho Nacional As cinco principais confederações o CNCP integra a Confederação


patronais de Portugal decidiram dos Agricultores de Portugal (CAP),
de Confederações unir esforços e falar a “uma só a Confederação do Comércio
Patronais junta a CAP, voz” em defesa de interesses e Serviços de Portugal (CCP),
transversais aos setores que a Confederação Portuguesa
a CCP, a CIP, a CPCI e a CTP
representam. Para tal criaram da Construção e do Imobiliário
e foi criado com o objetivo o Conselho Nacional das (CPCI) e a Confederação
de assumir uma voz comum Confederações Patronais (CNCP), do Turismo de Portugal (CTP).
uma plataforma agregadora, Na apresentação oficial desta
na defesa de temas focada em “reforçar e acelerar a nova plataforma de entendimento
que reúnam consenso recuperação do tecido empresarial que aconteceu no passado dia 18
e da economia nacional”. de maio, os representantes das
entre as cinco confederações Para além da Confederação cinco confederações patronais
empresariais. Empresarial de Portugal (CIP), esclareceram que esta união

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Em destaque

de esforços tem por base duas grandes conjunto do setor empresarial do país”,
preocupações: a preservação A união de esforços no contextualizou a este propósito Eduardo
do tecido produtivo existente Oliveira e Sousa, presidente da CAP
e a reorientação do modelo de CNCP tem por base duas e porta-voz do CNCP, durante
crescimento e de desenvolvimento grandes preocupações: a apresentação da iniciativa.
económico e social do país. a preservação do tecido Na agenda deste novo Conselho Nacional
O plano será pronunciarem-se sob está o objetivo de trabalhar no sentido
o “chapéu” do CNCP relativamente produtivo existente de obter um enquadramento favorável
a questões que, “de forma horizontal” e a reorientação do que permita às empresas vencer cinco
e transversal, e em termos empresariais, modelo de crescimento grandes desafios transversais com que
digam respeito ao desenvolvimento da se defrontam. Nomeadamente,
economia. “Procuraremos encontrar e de desenvolvimento a recuperação de clientes e mercados
consenso para que as respostas económico e social e a adoção de novas estratégias
sejam fortalecidas pela união do do país comerciais, a manutenção da

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Em destaque

“Há um grande consenso


sobre a bondade
das medidas a propor”
JOÃO VIEIRA LOPES
PRESIDENTE DA CCP

Para o presidente da CCP, a importância


das posições conjuntas do CNCP vai
para além da crise económica ou da
necessidade de acelerar a recuperação,
defendendo o respetivo papel nos
períodos de crescimento. “É nestes
contextos que se devem implementar
as reformas necessárias ao aumento
da resiliência das empresas”, salienta
João Vieira Lopes, acrescentando que
nas posições conjuntas “há um grande
consenso sobre a bondade das medidas
a propor”, fator que diz ser decisivo
para a sua aceitação.
Crítico para o setor do comércio
e serviços, João Vieira Lopes considera
ser “um enquadramento favorável ao
exercício da atividade”, apontando para
a redução de custos de contextos ao nível
dos licenciamentos, questões ambientais
ou dos fundos de compensação
do Trabalho e Fundo de Garantia
Aplicação dos fundos europeus em foco
de Compensação do trabalho. “Todos
estes domínios, porque transversais, Para o pós-pandemia, o CNCP destacou
são passíveis de uma resposta única, a necessidade de “ter empresas capazes “Pensamos que sozinhos
podendo o Conselho ser o porta-voz de cumprir o papel a que são chamadas
das preocupações das empresas para a reconstrução europeia”. Nesse vamos mais depressa.
nestas matérias”, diz.
contexto foi recordado o “crescimento Esquecemo-nos que juntos
dececionante” que marcou a economia vamos, invariavelmente,
portuguesa nos últimos anos, em que
o valor médio anual de crescimento mais longe. É para isso
competitividade à escala internacional, do PIB se situou em 0,7%, “muito à custa que aqui estamos. É para
a captação e retenção de recursos do aumento da dívida ao estrangeiro”, juntos irmos mais longe”
humanos com as competências adequadas, e salientada a necessidade de serem
o alcance de estruturas financeiras sólidas delineadas estratégias de médio ANTÓNIO SARAIVA
e a adequação dos investimentos a novos e longo prazo “para reforçar e acelerar PRESIDENTE DA CIP
desafios, como a transição digital a recuperação” rumo a “um novo ciclo
e a Economia Circular. e desenvolvimento, sólido e sustentado”.
Tudo isso, visando ir ao encontro das No quadro da recuperação, o CNCP
causas matriciais partilhadas pelas cinco defende a urgência de uma nova geração
Confederações: o primado da iniciativa de políticas públicas e a utilização este Conselho assume-se como tendo
privada e da economia de mercado, bem eficiente, rigorosa e transparente uma importante palavra a dizer no
como a defesa das empresas, a promoção dos recursos públicos, nacionais que respeita aos recursos financeiros
do empreendedorismo, a dignificação e europeus. Eduardo Oliveira de Sousa disponibilizados pela União Europeia,
dos empresários e a valorização dos seus referiu a não existência de “objetivos seja através do Plano de Recuperação
colaboradores. políticos individualizados”, contudo, e Resiliência (PRR) ou do próximo

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Em destaque

“O crescimento
só se faz através
da iniciativa privada”
EDUARDO OLIVEIRA E SOUSA
PRESIDENTE DA CAP

O presidente da CAP destaca


o importante papel que o CNCP poderá
ter no contexto da crise económica
resultante da pandemia, mas frisa
que a união de esforços das cinco
Confederações não se assume como
“uma união reivindicativa no aspeto
sindicalista”. Diz que reflete sim
“uma vontade de trabalhar em prol
de um crescimento cujas necessidades
estão identificadas e que é necessário
promover”, lembrando que esse
“crescimento só se faz através
da iniciativa privada”.
Neste âmbito, remete em concreto
para os fundos europeus e para o
Plano de Recuperação e Resiliência
que vão apoiar a economia portuguesa
na recuperação, mas onde considera
que o tecido empresarial não está
suficientemente abrangido. “O pendente
está para o lado das instituições públicas
e nós gostaríamos que estivesse para o
lado das empresas”, contrapõe Eduardo
Oliveira e Sousa.

Acordo de Parceria e respetivos


“Os programas de apoio são áreas programas. Defende que “deverão ser
alocados coerentemente com essa
onde a nossa intervenção pode
estratégia económica” e “propõe-se
revelar-se fundamental” a trabalhar em estreita ligação
ANTÓNIO SARAIVA com o Governo”.
PRESIDENTE DA CIP “O investimento privado é fundamental,
neste momento, e naturalmente, nós
A intervenção do CNCP não terá como objetivo “sentar-se à mesa das negociações”
temos uma palavra sobre aquilo que é
com o Governo, mas sim “consolidar pontos de vista”, salienta o presidente da CIP.
António Saraiva considera que “uma voz comum reduz o ruído, aumenta a pressão política o PRR e todo o dinheiro que vai ser inserido
sobre o Governo e permite que sejam definidos grandes temas que possam, a certa até 2030. Esse é o motivo essencial e
altura, ser conduzidos pela CNCP”, acrescentando que, para cada assunto, será escolhida que é urgente neste momento”, frisou
uma forma de comunicação, o que poderá passar por posições escritas coassinadas Manuel Reis Campos, presidente da CPCI.
ou outras iniciativas.
Uma posição reforçada pelo presidente
Face ao quadro atual em que a crise económica já está a ser sentida pelas empresas
e trabalhadores, o responsável diz que “não há tempo a perder”, destacando o papel da CCP. “O facto de haver um PRR e um
que o CNCP poderá desempenhar neste âmbito. “Os programas de apoio, designadamente novo programa de fundos europeus, de
o PRR, são áreas onde a nossa intervenção pode revelar-se fundamental para evitar estarmos a sair da pandemia e de haver
políticas públicas erradas que seriam desastrosas para Portugal”. uma perspetiva de recuperação é um

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Em destaque

“É fundamental que haja


um esforço total perante
os poderes públicos”
MANUEL REIS CAMPOS
PRESIDENTE DA CPCI

O presidente da CPCI lembra que


Da esquerda para a direita: Eduardo Oliveira e Sousa a criação do CNCP “era já uma vontade
presidente da CAP; Manuel Reis Campos, presidente da CPCI; e uma necessidade” que ganhou maior
Francisco Calheiros, presidente da CTP; António Saraiva,
presidente da CIP, e João Vieira Lopes, presidente da CCP
urgência face à pandemia e à crise
económica. “Hoje, torna-se mais urgente
mobilizar as empresas, a sociedade
e o Governo de modo a aplicar
e concretizar todo o dinheiro que aí vem
da Europa e de que as empresas tanto
precisam”, afirma Manuel Reis Campos,
acrescentando que tal é essencial para
que estas “voltem a ter confiança
e a apostar no futuro”.
dos motivos que nos junta”, justificou
Relativamente às questões mais críticas
João Vieira Lopes, acrescentando que
“Esta união dar-nos-á “vão ser precisas respostas globais”.
para o setor que representa, Manuel
Reis Campos não detalha, preferindo
mais força na defesa Também António Saraiva, presidente abordar os pontos que unem o CNCP.
da iniciativa privada” da CIP, lembrou que ao PRR se soma “São fundamentais as especificidades
da confederação a que estou ligado,
o que ainda falta do Portugal 2020
FRANCISCO CALHEIROS mas há questões que são transversais
PRESIDENTE DA CTP (10 mil milhões de euros) e o quadro ao resto das confederações. Segundo o
financeiro plurianual que se segue presidente da CPCI, “é fundamental que
Francisco Calheiros, presidente
(cerca de 32 mil milhões). Neste sentido, haja um esforço total perante os poderes
da CTP, destaca o cariz mobilizador
o responsável da CIP defende que a ideia públicos no sentido de as empresas se
que o CNCP poderá ter em prol das
preservarem, quer em termos
empresas e da economia nacional. é encontrar “respostas coesas e por isso
do desemprego, quer em termos
“Acredito que esta união dar-nos-á mais potencialmente vencedoras”, lembrando sociais, quer em termos do próprio
força na defesa da iniciativa privada e a máxima: “Pensamos que sozinhos tecido empresarial”.
da economia de mercado, da promoção
vamos mais depressa. Esquecemo-nos
do empreendedorismo, da dignificação
dos empresários e da valorização dos que juntos vamos, invariavelmente, mais
trabalhadores, fatores essenciais longe”, para enquadrar o espírito que
à recuperação económica”, acredita está por detrás da criação do CNCP.
o representante das empresas do setor Eduardo Oliveira e Sousa, acrescentando
do turismo, salientando a ambição do
Uma liderança rotativa que o objetivo é ser “a voz do setor
CNCP de “fazer parte dos processos de
decisão” que permitam às empresas Em termos orgânicos, e apesar de juntar empresarial de todo o país”.
retomar a linha de crescimento e vencer várias confederações patronais, o CNCP Em termos funcionais, foi delineado
o atual contexto adverso. não tem como objetivo sobrepor-se que a posição de porta-voz deste CNCP
“A regeneração, a capitalização e o ou retirar a autonomia a nenhuma será exercida de forma rotativa entre
aumento da competitividade das nossas
individualmente, nem terá uma as cinco confederações patronais, com
empresas bem como o investimento na
formação e qualificação dos recursos”, constituição formal. “A relação base numa ordem alfabética, e renovada
são, segundo Francisco Calheiros, interconfederações manter-se-á trimestralmente. Após a CAP, caberá
“os temas críticos para a economia completamente independente. Ou seja, assim à CCP ser a segunda porta-voz da
e também para o turismo” e que são este organismo é apenas um unir plataforma, dando-se seguimento à CIP,
transversais a todos os setores.
de vozes” esclareceu a este propósito CPCI e CTP. n

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Atualidade

“É UM ERRO TOTAL
DISCUTIR O PRR
SEM SE DISCUTIR
O PORTUGAL 2030”
O Eurodeputado José Manuel Fernandes analisou as diferentes opções
de financiamento disponibilizadas pela União Europeia e debruçou-se
em particular sobre o programa InvestEU que poderá ser utilizado para
responder às necessidades de financiamento e de capitalização das PME.

As oportunidades para o tecido no Plano de Recuperação e Resiliência comunitário, acima dos 13,9 mil milhões
empresarial associadas aos fundos (PRR), e chamou a atenção para outros de euros acessíveis em subvenções
europeus que chegam a Portugal instrumentos financeiros também através do PRR.
estiveram em debate na última reunião acessíveis às empresas.
da Direção da CIP que contou com a “O PRR não devia ser para fazer mais
participação do Eurodeputado José “Temos estado a discutir o PRR e sou do mesmo ou até para fazer o que o
Manuel Fernandes. Na ocasião, o muito crítico num ponto: é um erro Portugal 2030 vai fazer. Devia ser para
Eurodeputado que tem acompanhado total discutir o PRR sem se discutir o executar aquilo de que precisamos e
as negociações destes apoios da União Portugal 2030”, começou por dizer José que o Portugal 2030 não vai financiar”,
Europeia (UE) – tendo sido relator do Manuel Fernandes, lembrando que são explicou, acrescentando que “essa
programa InvestEU – defendeu uma cerca de 30 mil milhões de euros os complementaridade se exigia” na
discussão agregadora e não tão centrada apoios associados ao próximo quadro discussão desses apoios.

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Atualidade

Neste sentido, o Eurodeputado defendeu de 400 mil milhões de euros para apoiar à exceção daquela dirigida às PME. No
que primeiro deveriam ter sido definidos investimentos públicos e privados que InvestEU existem dois compartimentos:
os objetivos a atingir em 2030, e só estejam em linha com as políticas da UE um europeu e um nacional.
depois então avaliado o que cada via empréstimos, podendo este ainda ser O compartimento europeu é uma
instrumento financeiro permite fazer. utilizado para capitalizar as PME. garantia de 26,2 mil milhões de
“Em vez de se fazer a pergunta do euros, sendo que o Banco Europeu
costume – o que é que há a fundo de Investimento (BEI) gere 75% desta
perdido? – deveríamos perguntar: O garantia e os restantes 25% destinam-se
que queremos? De que financiamento aos bancos de promoção nacional.
necessitamos? E depois olharmos então "Um mesmo projeto pode Já no compartimento nacional um
para as oportunidades”, afirmou. Estado-membro pode colocar recursos
ter uma parte financiada financeiros para constituir uma
InvestEU: uma ferramenta para apoiar com empréstimos do garantia e assegurar o financiamento
pequenos projetos e PME InvestEU, outra que seja dos projetos pretendidos. Há ainda a
Na sua intervenção, José Manuel possibilidade de um Estado-membro
Fernandes salientou ainda a existência financiada por subvenções colocar neste compartimento 4% do
de um conjunto de importantes fontes de e ainda uma outra parte envelope do PRR e 5% do envelope da
financiamento da UE para as empresas financiada pela banca" política de coesão.
nacionais que vão para além do PRR
e do Portugal 2030. Mais concretamente, “Portanto, um Estado-membro não tem
o InvestEU, programa aprovado no a desculpa de que não tem recursos
Parlamento Europeu a 9 de março, que Os empréstimos podem ter um prazo financeiros para constituir a garantia.
resulta da fusão de 14 instrumentos de até 30 anos, sendo as taxas de juro Depois, com esse compartimento
financeiros, e dá continuidade ao “plano adequadas a permitir a viabilidade faz aquilo que entender em termos
Juncker” que apoiou mais de um milhão dos projetos em causa. Em termos nacionais”, clarificou o Eurodeputado
de Pequenas e Médias Empresas (PME). concretos, “o InvestEU financia tudo co-relator do InvestEU. Uma das
Este mecanismo pretende a mobilização o que o PRR e o Portugal 2030 não características deste mecanismo é o
financiam”, explicou José Manuel facto de, através do compartimento
Fernandes, destacando ainda o nacional, ser possível apoiar pequenos
caráter “adicional” como seu princípio projetos e, em concreto, as PME.
fundamental e a “mescla de fundos”
que permite. O Eurodeputado chamou ainda a atenção
"Em vez de se fazer a para a possibilidade de serem criadas
“Um mesmo projeto pode ter uma plataformas de investimento – de âmbito
pergunta do costume
parte financiada com empréstimos regional, nacional ou temáticas, por
– o que é que há a do InvestEU, ter outra que seja exemplo – com vista a apoiar projetos
fundo perdido? – financiada por subvenções e ainda empresariais mais pequenos. “Não vão
uma outra parte financiada pela ser financiados diretamente pelo BEI ou
deveríamos perguntar:
banca”, adianta o Eurodeputado. São pelo implementing partner. É o Banco
O que queremos? De quatro as janelas de investimento do de Fomento ou um banco nacional que
que financiamento InvestEU – infraestruturas sustentáveis; se candidata à garantia através de uma
investigação, inovação e digitalização; parceria com o BEI e depois é o banco
necessitamos? E depois
PME; investimento social e competências que seleciona os projetos nacionais”,
olharmos então para as – sendo que todo o tipo de empresas pode explica o Eurodeputado relativamente
oportunidades" ser incluído em qualquer destas janelas, a este tipo de apoio. n

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Atualidade

CIP junta mais


de 1.600 empresas
para discutir os desafios
da Economia Circular
A CIP – Confederação Empresarial de Portugal juntou mais
de 1.600 empresas para discutir os desafios e obstáculos
que se colocam à transição para uma Economia Circular.
Um ciclo de sete debates, realizados ao longo do mês de
junho, que permitiu ainda conhecer as melhores práticas
já adotadas pelas empresas portuguesas em diferentes
setores de atividade.

A iniciativa insere-se no projeto da CIP Economia + Circular, Quadro legislativo e regulatório é entrave à circularidade
que conta com o apoio da EY-Parthenon, e que, além A legislação e o enquadramento regulamentar são uma
de fazer o levantamento do estado da arte da Economia das principais barreiras apontadas pelas empresas à adoção
Circular em Portugal, pretende ainda estimular a adoção de processos mais sustentáveis e circulares. “É um tema
de uma metodologia de medição da circularidade nas com o qual nos deparamos no nosso dia a dia. Entendemos
empresas portuguesas, amplamente testada a nível que devia haver mais confiança nas empresas, que são
internacional, e desenvolvida pela Fundação Ellen MacArthur. estranguladas com legislação normalmente extensa, difícil
de interpretar, com processos extremamente burocráticos
A urgência da transição de uma Economia Linear para uma e com custos associados à sua análise e à emissão
Economia Circular está bem patente no quadro das políticas de licenças. Atualmente, até para reutilizarmos água tratada,
nacionais e europeias, e é condição essencial ao crescimento necessitamos de ter uma licença. A simplificação seria
sustentável, bem como a uma economia competitiva e neutra um contributo muito positivo para a circularidade”, afirmava
em carbono. Rita Tovim, responsável pela área de Ambiente e Qualidade
da Pavigrés. Críticas que foram transversais nos vários setores
No encerramento deste ciclo de webinars, Carla Sequeira, de atividade que participaram nestes encontros - têxtil,
Secretária-Geral da CIP, deixou uma nota aos responsáveis indústrias de base florestal, distribuição, química, cerâmica,
políticos e aos representantes da sociedade civil: “Que não metal e embalagens.
haja dúvidas que as empresas querem fazer a transição para
uma economia verde. Mas essa transição tem de assegurar
que as empresas europeias não perdem competitividade
ao nível global, pois de outra forma será o emprego “A transição tem de assegurar
e a sustentabilidade social que estarão em causa”.
que as empresas europeias
Também Inês dos Santos Costa, Secretária de Estado não perdem competitividade
do Ambiente, destacou o desafio da regulação e legislação ao nível global"
europeia no sentido de equilibrar as condições competitivas
e de sustentabilidade das empresas europeias face CARLA SEQUEIRA,
às empresas de países terceiros. SECRETÁRIA-GERAL DA CIP

14 indústria 2º Trimestre 2021


Atualidade
Não é mais barato. E por isso muitas coisas têm que mudar
também do lado de quem aqui está, havendo uma política
“Atualmente, até para reutilizarmos fiscal que possa ser diferente daquilo que é ainda hoje”.

água tratada, necessitamos de ter Apesar das dificuldades, são muitas as empresas
uma licença. A simplificação seria que já começaram a trilhar este caminho, embora a maioria
um contributo muito positivo dos cidadãos não estejam ainda sensibilizados para o tema.
Por isso mesmo, as empresas defendem a necessidade
para a circularidade" de informar e sensibilizar os consumidores, não só sobre
a emergência do desafio, mas também sobre questões
RITA TOVIM
práticas como a qualidade e performance das matérias-
PAVIGRÉS
primas secundárias ou sobre a correta separação de resíduos,
cuja quantidade de fluxos terá tendência a aumentar.
“O consumidor tem de ter apetência e interesse nestas
Entre os entraves legislativos, as empresas destacam, propostas. Não pode ser unilateral porque, caso contrário,
sobretudo, as dificuldades no processo de desclassificação não haverá implementação no mercado nem mudança
dos resíduos e a sua classificação em subprodutos, de hábitos”, lembrava Ana Moreira, da Unilever.
além dos custos associados ao licenciamento e a sua elevada
carga burocrática, que os torna demorados O que se faz de melhor em Portugal
e complexos. Os responsáveis identificaram ainda São muitos os exemplos de empresas que procuram diminuir
os baixos preços das matérias-primas virgens como a pegada carbónica, seja pela utilização e produção
outra importante barreira à circularidade, sem que de materiais reciclados ou pela reutilização e valorização
exista em Portugal um sistema fiscal que permita dos desperdícios. Na Valerius Hub, reciclam-se fibras têxteis
mitigar este efeito. Sobre o tema, o Ministro e estuda-se o desenvolvimento de novas fibras a partir
do Ambiente e da Ação Climática reconhece que de papel, banana ou ananás. A Grestel apostou numa nova
“não temos um sistema orientado” pasta de cerâmica composta em 97% por resíduos
para o reaproveitamento de materiais. e subprodutos e que, no espaço de apenas um ano,
João Pedro Matos Fernandes adianta que: permitiu à empresa reduzir os custos com a compra
“Não temos sequer um sistema fiscal de matéria-prima em 6%, enquanto a produção cresceu 5%.
que o beneficie. Eu gostava de poder Na HyChem procuram-se soluções viáveis para a produção
dizer que é mais barato desconstruir de biocombustíveis para a aviação, quer a partir de biomassa
um edifício e aproveitar o que ele lá de microalgas autotróficas, quer por via da fermentação
tem para construir outro, do que utilizando resíduos florestais. Já na Silampos, empresa
encomendar ferro ou ir ao rio que lançou a primeira panela de pressão em Portugal
buscar areia para fazer em 1961, o produto é hoje modular, o que permite a sua
as argamassas. reparabilidade, e é 100% reciclável. n

Webinar Co-organizado por Show case de boas práticas


O exemplo dos têxteis Valerius, Sasia
ATP
e vestuário e JF Almeida

O contributo das indústrias AIMMP, APCOR The Navigator Company, Sonae Arauco,
de base florestal e CELPA Amorim Cork Composites e SusDesign

Grupo Pavigrés,
Desafios no setor cerâmico APICER
Grestel e Roca

Desafios e oportunidades
APED Silvex
dos bioplásticos na distribuição

Contributo da química de base Eco-oil, A4F/HyChem


APQuímica
para a circularidade e Dow Portugal

Desafios e oportunidades
AIMMAP e APF Silampos e Aapico
no setor do metal

Estratégias adotadas Unilever, Auchan


SPV
nas embalagens e Nestlé

2º Trimestre 2021 indústria 15


Atualidade

PROJETO PROMOVA

45% das mulheres


tiveram uma
promoção
de carreira
Primeira edição do Promova chegou ao fim e o balanço é positivo. Quase
metade das participantes progrediram na carreira no último ano e 20%
chegaram ao Board.

16 indústria 2º Trimestre 2021


Atualidade

A primeira edição do Projeto Promova,


uma iniciativa da CIP – Confederação
Empresarial de Portugal, com o objetivo
de fomentar a promoção de talentos
femininos com potencial de liderança a
funções de gestão de topo nas empresas,
chegou ao fim e o balanço é positivo:
45% das participantes foram promovidas
no último ano e 20% ascenderam
mesmo a cargos de liderança nos
Conselhos de Administração das
empresas.
A iniciativa, financiada pelos EEAGrants
através do Programa Conciliação e
Igualdade de Género, gerido pela
Comissão para a Cidadania e a Igualdade
de Género, procurou reunir no mesmo
plano curricular diferentes valências. › Susana Ramos, Head of National Focal Point EEA Grants

› Evódia Graça, Leadership Coach & Image Manager

› Daniel Traça, Dean da NOVA SBE, e António Saraiva, Presidente da CIP › Ana Rita Gomes da Fidelidade, Sandra Ferreira da EDP
e Luisa Santos do Millennium BCP
Em parceria com a NOVA SBE, foi
desenvolvido um programa de um
ano, que incluiu módulos de formação
executiva, sessões de coaching, onde é
realizado um plano de desenvolvimento
individual, e sessões de mentoria
cruzada. No total, foram 96 horas de
formação executiva, complementadas
com coaching, mentoria e um vasto
leque de eventos de networking, entre as
participantes e com líderes de topo.

› Sandra Ribeiro, Presidente da CIG


e Ellen Aabo, Encarregada de
Negócios da Embaixada da Noruega
2º Trimestre 2021 indústria 17
Atualidade

› Pioneiras do Promova concluem primeira edição do Projeto

› António Saraiva, Presidente da CIP › Paula Vieira da Silva e Marta Azevedo da Sonae MC

António Saraiva, Presidente da CIP, são os principais fatores de empresas e candidatas. Participam
reforça a importância da promoção competitividade das empresas e, logo, nesta edição a Whitestar Asset
das mulheres a cargos de liderança: da economia”. António Saraiva felicitou Solutions, Deloitte, EDP Inovação, EDP
“A sociedade, e as empresas em ainda as 32 participantes que, apesar Global Solutions, Medtronic, L´Oréal
particular, não podem desperdiçar 50% de um contexto totalmente adverso, Portugal, Mautomotive, Norfin, Faurecia,
do talento disponível. É já reconhecido concluíram este projeto. ActivoBank, Microsoft, Randstad,
por todos que a diversidade A segunda edição do Projeto Promova Worten, Toyota, EDP, Sonae, Zippy, Leroy
das equipas de gestão, a par do já arrancou. As candidaturas são Merlin, SONAE MC, Introsys, Fidelidade
conhecimento e das competências, realizadas de forma conjunta, por e Nova SBE. n

18 indústria 2º Trimestre 2021


Opinião

Desafios
e oportunidades
do Teletrabalho
Muito se tem falado de teletrabalho e avulsa, impregnada apenas pelo actual
em Portugal mas, na realidade, apenas momento pandémico.
assistimos a uma forma excepcional O teletrabalho cria novas obrigações –
e transitória de uma reorganização obrigações de parte a parte – mas não
do trabalho, imposta pelos sucessivos deverá ser prémio nem castigo para
estados de emergência. A pandemia nenhuma delas.
de COVID-19 obrigou as Empresas, dos
mais diversos sectores de actividade, Para os empregadores e para
a recorrer ao teletrabalho para evitar os trabalhadores, a distância traduz-se
Armindo Monteiro uma disrupção ainda mais vincada na no estabelecimento de uma cultura de
Vice-Presidente da CIP actividade económica nacional. Por confiança e responsabilidade mútuas.
esta razão, é necessário distinguir A organização hierárquica mantém-se,
as limitações do trabalho à distância naturalmente, e pede novas formas de
enquanto medida sanitária, no presente, concretização e acompanhamento. Não
e as potencialidades do teletrabalho mudam os vínculos e obrigações
"Para os empregadores desenvolvido fora da era do coronavírus. de parte a parte. As estruturas de apoio
e para os trabalhadores, ao colaborador e os seus direitos estão
a distância traduz-se Parece-me evidente que o teletrabalho salvaguardados. O trabalho realizado
não é uma revolução! É, seguramente, à distância não os enfraquece em
no estabelecimento uma evolução que ganhou impulso absolutamente nada.
de uma cultura em consequência da situação
epidemiológica e, na minha opinião, O teletrabalho é fonte de oportunidades,
de confiança e seria um retrocesso preocupante se mas suscita também algumas questões
responsabilidade fosse elaborada legislação precipitada como por exemplo, a protecção dos
mútuas"

1º Trimestre 2021 indústria 19


Opinião

dados pessoais dos trabalhadores • Teletrabalho pendular: esta forma de Por outro lado, não obstante a faculdade
bem como dos dados que os mesmos trabalho permite alternar a prestação de acompanhamento conferida ao
processam, o respeito pela sua vida de trabalho, alguns dias por semana, empregador ser uma contrapartida
privada e a imperativa necessidade de dentro e fora da Empresa. normal e inerente ao contrato da
conciliação entre a vida profissional prestação de trabalho, essa permissão
e a vida familiar. • Teletrabalho colaborativo: não pode ser exercida de forma
o teletrabalhador desenvolve a sua excessiva, violando o respeito pelos
O teletrabalho permite que o trabalhador actividade com outros intervenientes, direitos e liberdades dos trabalhadores.
exerça as suas funções fora das geograficamente distantes, através de Em termos concretos, um sistema que
instalações da Empresa. O trabalhador aplicativos, groupwares, etc… coloque os trabalhadores sob vigilância
pode, portanto, desenvolver a sua remota permanente, ainda que tenha
actividade em casa ou num telecentro como objectivo o controlo do tempo de
(por exemplo, se morar longe da trabalho, poderá ser excessivo, pelo
Empresa ou for nómada digital). que não deverá ser implementado, na
“As novas formas de premissa de existirem, seguramente,
O teletrabalho pode assumir liderança implicam meios alternativos menos intrusivos
configurações distintas: que permitam o acompanhamento
que os processos hierárquico da actividade do trabalhador.
• Teletrabalho nómada: internos sejam mais
o teletrabalhador exerce a sua Aliás, as novas formas de liderança
actividade fora das instalações da colaborativos e menos implicam que os processos internos
Empresa, mas nem sempre a partir do hierárquicos” sejam mais colaborativos e menos
mesmo local. Exemplo: Consultores hierárquicos. Neste contexto, enquanto
e Comerciais. nova organização do trabalho,
À semelhança do que sucede no o teletrabalho implica também
trabalho desenvolvido nas instalações a adopção de novos métodos de
da Empresa, também no teletrabalho, supervisão e avaliação do trabalho,
é fundamental garantir a segurança devendo a sua implementação ser
dos dados pessoais do utilizador e da precedida de uma profunda reflexão
Organização, através de procedimentos da Organização sobre estas questões.
e protocolos de segurança, sendo Acredito que o acompanhamento
necessário avaliar o nível de segurança hierárquico e funcional do trabalho
dos dados pessoais e da organização; prestado pelos colaboradores pode ser
gerir os riscos de perda de privacidade; realizado através da definição
criptografar e garantir a integridade de mapas e respectivos cronogramas
da informação e das assinaturas que estabeleçam objectivos e metas
digitais; autenticar os utilizadores a cumprir num determinado período.
e gerir as autorizações; rastrear os Naturalmente, esses objectivos deverão
acessos e gerir os incidentes; gerir ser razoáveis, passíveis de quantificação
a subcontratação de serviços; tornar objectiva e verificáveis a intervalos
seguras as comunicações/partilhas com regulares.
outras entidades; etc…
Assumo a ousadia de considerar que,
frequentemente, a mera implementação
de um relatório regular do funcionário
poderia ser um meio, não intrusivo,
de controlar a sua actividade
em teletrabalho. n

* O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico

20 indústria 2º Trimestre 2021


1º Trimestre 2021 indústria 21
Associados

MERCADONA

Plano de
crescimento
reforça aposta
em Portugal
Atualmente com 21 lojas em Portugal, a Mercadona investirá
um total de 150 milhões de euros nos 9 supermercados
projetados para este ano, o primeiro dos quais abriu no dia
9 de junho, em Guimarães. A nível ibérico, a cadeia possui
1.641 supermercados e emprega 95.000 pessoas. Juan Roig,
presidente da Mercadona, salienta os desafios decorrentes
da Pandemia e assegura o reforço da aposta em Portugal,
num modelo de negócio assente na transformação digital
e na sustentabilidade.

22 indústria 2º Trimestre 2021


Associados

Presente em Portugal a saúde e segurança.


desde 2016, a Mercadona Disponibilizou artigos de
abriu a primeira loja em higiene e prevenção, como gel
2019 e, atualmente, conta desinfetante, papel e luvas,
já com 21 no nosso país. No e aumentou os processos
ano passado, faturou 186 de desinfeção e limpeza,
milhões de euros, realizou além de proporcionar aos
um investimento de 113 colaboradores máscaras e
milhões de euros e criou A Mercadona abrirá um total óculos de proteção e instalar
mais de 800 novos empregos, de 9 lojas este ano, o que representa barreiras de proteção de
tendo atualmente um total acrílico nas caixas. Decidiu
de 1.700 colaboradores em um investimento de 150 milhões também redesenhar alguns
Portugal. A nível global, e no de euros e prevê o recrutamento negócios, como a Padaria e
âmbito do plano estratégico de mais 600 pessoas com contrato a Pastelaria, Pronto a Comer
2018-2023, a insígnia realizou e a comercialização de
um investimento de mais de efetivo desde o primeiro dia presunto à faca ou de sumo
1.500 milhões de euros em de laranja recém-espremido.
JUAN ROIG
2020 e finalizou o ano com PRESIDENTE DA MERCADONA Para a garantia da segurança
1.641 supermercados, dos sanitária das equipas, os
quais 70 (10 em Portugal) departamentos de recursos
abriram no ano passado. humanos e de informática
Em comunicado, a empresa desenvolveram o projeto
refere que aumentou em de gerar riqueza e atividade, do Estado de Emergência 3C - Call Center COVID, um
2020 as vendas consolidadas materializou-se na criação declarado em Portugal serviço telefónico adicional
em superfície constante em de 5.000 postos de trabalho, e Espanha, a Mercadona feito por profissionais de
5,5 %, até aos 26.932 milhões estáveis e de qualidade, adaptou rapidamente mais saúde que presta assistência
de euros, e obteve um lucro 4.200 em Espanha e 800 em de 1.600 supermercados 24 horas por dia, 7 dias por
líquido de 727 milhões de Portugal, resultando numa e restantes instalações semana a toda a equipa,
euros, mais 17%, após ter equipa de 95.000 pessoas, logísticas, bem como para esclarecer as dúvidas
partilhado com a equipa 409 93.300 em Espanha e 1.700 as Colmeias (armazéns dos colaboradores e fazer o
milhões de euros a título de em Portugal”. exclusivos para venda acompanhamento dos casos.
prémios por objetivos, e 364 Dando continuidade ao online) e os escritórios. O Graças ao envolvimento da
milhões de euros, mais 29%, seu plano de expansão em objetivo foi proteger a saúde equipa, a empresa superou
com a Sociedade, a título de Portugal, a previsão da cadeia e a segurança dos “Chefes” os diferentes cenários
impostos. aponta para a abertura de (como internamente designa que enfrentou “e para
Estes resultados são mais 9 lojas este ano, o que os clientes) e dos 95.000 reconhecer” este esforço
um claro indicador da representa um investimento colaboradores, de modo a extraordinário foi distribuído,
determinação com que a de 150 milhões de euros, e garantir o abastecimento em abril de 2020, um
Mercadona está a levar a prevê o recrutamento de mais de bens essenciais aos prémio extraordinário de 43
cabo a brutal transformação 600 pessoas com contrato portugueses, depois do milhões de euros a todos os
em que se encontra efetivo desde o primeiro dia. setor da distribuição ter 95.000 colaboradores. Com
imersa, para impulsionar sido considerado serviço o objetivo de proporcionar
um modelo mais digital, Solidariedade na Pandemia essencial. maior liquidez aos
produtivo e sustentável. A gestão da situação A empresa investiu 200 fornecedores, ampliaram-se
Juan Roig, presidente pandémica que atravessamos milhões de euros para as linhas de confirming no
da Mercadona, sublinha constituiu um enorme desafio implementar mais de 100 valor de 2.100 milhões de
ainda, que “o esforço de à empresa. Para enfrentar medidas e tornar efetivo o euros com várias entidades
investimento realizado, além as exigências decorrentes compromisso de garantir bancárias. Anteciparam-se

2º Trimestre 2021 indústria 23


Associados

pagamentos a fornecedores Mercadona até à data: 17.000


e facilitou-se o acesso a toneladas de produtos
financiamento, contribuindo Reconhecendo distribuídos a cantinas
para garantir a estabilidade sociais, bancos alimentares
o esforço
financeira de um universo de e outras instituições de
mais de 600.000 pessoas. extraordinário da solidariedade, das quais
O presidente da Mercadona sua equipa durante 15.800 em Espanha e 1.200
realça o contributo dos em Portugal”. Além disso,
a pandemia,
3.000 fornecedores e dos a empresa prestou outras
seus colaboradores, os a empresa ajudas relevantes, como
quais classifica como distribuiu, em abril as entregas de alimentos
“uma referência e um e produtos de limpeza nos
de 2020, um prémio
exemplo para a sociedade”, Centros de Acolhimento
enaltecendo “o seu esforço extraordinário de Temporário para doentes
constante para continuar 43 milhões de euros COVID-19 no norte de
a atividade e ajudar a que Portugal.
a roda da economia não
parasse”. Refere ainda a Criação de Riqueza
consciência do impacto em Portugal
social que a COVID-19 2020 para oferecer uma Com a abertura de mais 10
está a gerar e das suas resposta ágil e decidida às lojas em 2020, atingindo
consequências sociais e necessidades das pessoas as 20 lojas no país, a
económicas. Por isso, a mais desfavorecidas. “E Mercadona alcançou um
empresa reforçou o seu fê-lo com a maior doação volume de vendas de 186
compromisso solidário em de alimentos realizada pela milhões de euros. Com
o objetivo de contribuir
para a criação de riqueza,
a Mercadona pagou
Alguns dados Mercadona (Ano 2020) 32 milhões de euros
em impostos através
da empresa Irmãdona
Supermercados, sediada
em Vila Nova de Gaia,
onde se situam os novos
escritórios inaugurados
em junho de 2020. Durante
o mesmo período, criou
800 empregos – todos
sem termo – finalizando
o ano com uma equipa de
1.700 colaboradores e um
investimento de 113 milhões
de euros.
A previsão para 2021 é
de abrir mais 9 lojas no
país, a primeira das quais
abriu no passado mês de
junho, em Guimarães.
Com a finalidade de dar
continuidade ao seu projeto
de expansão em Portugal,
a empresa investirá 150
milhões de euros e recrutará
600 pessoas, sempre com
contrato efetivo desde o
primeiro dia.
A Mercadona, consciente
do papel estratégico

24 indústria 2º Trimestre 2021


Associados

e fundamental que todos os elos. Em 2020, com a máxima qualidade


desempenha no a Mercadona comprou a preços imbatíveis,
desenvolvimento da Em 2020, produtos no valor de 208 estabelecendo uma relação
economia, considera o milhões de euros a 300 de ganhar-ganhar com os
a Mercadona
Setor Primário nacional fornecedores comerciais seus fornecedores, de forma
como um motor de comprou produtos nacionais, representando que esta seja duradoura e de
crescimento, quer para a no valor de 208 um aumento superior a 65%, longo prazo. Esta interação,
empresa quer para o país. relativamente a 2019. permite aos fornecedores da
milhões de euros 
Comprando atualmente Desde 2016, ano em que a Mercadona focarem-se no
a 300 fornecedores a 300 fornecedores empresa chegou a Portugal, crescimento, investimento,
comerciais nacionais, a comerciais o volume de compras teve produtividade, inovação
empresa continua a apostar um aumento de 400%, e planificação conjunta,
nacionais,
em manter relações de sendo que muitos destes conseguindo que os produtos
compromisso a longo representando produtos são exportados, sejam desenvolvidos com
prazo, conseguindo ao um aumento ajudando os fornecedores o foco na satisfação das
longo destes anos gerar a crescer juntamente necessidades do “Chefe”,
superior a 65%,
sinergias e construir com a Mercadona. Trata- num trabalho conjunto de
uma cadeia agroalimentar relativamente se de uma procura troca de informações entre o
sustentável, eficiente, a 2019 constante de fornecedores Retalho – em contacto com o
moderna e diferenciadora, especialistas para oferecer cliente – e o Setor Primário –
que seja benéfica para ao “Chefe” (cliente) produtos na produção. n

2º Trimestre 2021 indústria 25


Entrevista

"Não existe no
País a convicção
de que é
fundamental
o Estado
colaborar com
os empresários"
Jorge de Melo assumiu a
liderança da Sovena em
2018. Em entrevista à revista
Indústria, o empresário destaca
o papel das grandes empresas,
enquanto criadoras de emprego
e geradoras de riqueza para o
país, e defende o aumento do
seu peso no acesso direto aos
fundos europeus. Do Estado,
diz que deveria ser um
facilitador de processos de
inovação, enquanto legislador
e pela via fiscal, mas também
através da Educação,
estimulando, desde os
primeiros anos de vida,
a pensar de forma diferente
e criativa.

Jorge de Melo
CEO da Sovena

26 indústria 2º Trimestre 2021


Entrevista

A transição digital e a sustentabilidade Quais as principais dificuldades que Contudo, a meu ver, cabe ainda ao Estado,
ambiental são dois grandes desafios sentem no desenvolvimento destes numa ótica de facilitador/legislador criar
que se colocam atualmente às empresas processos? alguns incentivos diretos mais relevantes
portuguesas e que foram já assumidos São processos que nem sempre são do que os que atualmente existem, de
pelo grupo Sovena. Que projetos estão a rápidos de implementar, pelo menos o forma a terem um impacto real a curto
desenvolver nestas áreas? quanto gostaríamos. Estamos a falar prazo. Este aspeto poderá, no dia-a-dia das
Na Sovena procuramos permanentemente de adaptações que implicam não só empresas, ajudar a promover processos de
identificar e adotar as melhores práticas investimentos, mas adequação de inovação.
em toda a nossa cadeia de produção de processos, pelo que a rapidez é inimiga da
forma a garantir o alinhamento da cadeia qualidade de implementação. Mas, numa Sabemos que os empregos do futuro
de abastecimento dos nossos produtos. empresa como a Sovena, é preciso esta serão diferentes, mais digitais, mais
Aliás, o posicionamento recentemente ambição e perseverança de não desistir flexíveis, mais globais. Qual é o papel das
assumido pela marca corporativa Sovena perante as adversidades. Foram estas empresas nesta transição? E que papel
pretende refletir a sua capacidade de características que nos trouxeram até aqui cabe ao Estado?
reinvenção constante e a sua visão perante e ser hoje uma empresa que atua em todas As empresas precisam de estar atentas
o futuro da alimentação global. Este novo as fases da cadeia de valor. aos sinais que os colaboradores vão dando
posicionamento refletido na assinatura e estar abertas a aceitar essas mudanças.
‘Feeding Futures’, tem na inovação – com Na Sovena já estávamos a alinhavar
as melhores práticas e uma procura “O legislador não tem algumas políticas nesse sentido, em que a
contínua de inovação ao nível do produto, noção das necessidades pandemia veio ter um efeito acelerador. O
packaging e negócio – o principal drive de Estado tem de criar as condições legais e
crescimento. dos empresários e gestores, regulamentares para que isso aconteça.
Ao nível da produção a nossa aposta passa nem dos constrangimentos
pela transformação digital. As áreas
em que nos estamos a concentrar são a
que estes têm no seu Quais os principais constrangimentos
que se colocam atualmente ao
digitalização das operações das unidades dia a dia” desenvolvimento da atividade
industriais para processos de compras, empresarial em Portugal?
gestão de laboratório, qualidade, produção Importa, em primeiro lugar ter noção
e controlo de stocks e otimização dos que, em termos genéricos, Portugal é
processos de planeamento de produção e Qual a avaliação que faz do papel do um mercado periférico com um tecido
da cadeia de abastecimento. Estado, enquanto obstáculo ou facilitador empresarial subdimensionado e presente
No que respeita à área da de processos de inovação? Sobram sobretudo em atividades de baixo valor
sustentabilidade, estamos a finalizar o barreiras e faltam incentivos? Quais? acrescentado. A este cenário acrescem os
Plano e a Estratégia de Sustentabilidade Não acredito numa sociedade em que cabe constrangimentos naturais e já conhecidos,
para os próximos três anos revisitando ao Estado o papel central na inovação. A como são a falta de escala e a ausência de
todos os temas de uma forma transversal inovação deverá estar em tudo o que se faz um mercado interno relevante.
a todas as áreas de negócio. Pretendemos e deverá ser transversal numa sociedade Perante este cenário, resta-nos como
alinhar os novos objetivos numa lógica moderna. Nessa medida, ao Estado cabe alternativa trabalhar mais e melhor
que privilegie a valorização do impacto a função de facilitador dessa mesma o desenvolvimento de competências,
da nossa atividade nos ecossistemas, inovação. Caberá ao Estado, por exemplo, sobretudo de novas tecnologias; tirar
nas pessoas e nas comunidades e, a função de estimular, desde os primeiros melhor partido da estabilidade política
naturalmente, no nosso negócio. Estamos anos de ensino, a pensar de forma e social; melhorar a agilidade do
a definir compromissos, objetivos e diferente e criativa, não criando barreiras e enquadramento jurídico e simplificar
metas claros e partilhados por todos, pré-conceitos. Só assim as Instituições de a carga burocrática. Adicionalmente,
para as áreas de sustentabilidade que Ensino funcionarão como alimentadores um enquadramento fiscal que promova
identificámos como prioritárias. Para de recursos humanos criativos, resilientes, o investimento e ajude a influenciar
lhe dar um exemplo, desde 2019, que o com capacidades de adaptação perante a escolha de Portugal para sedear
PET reciclado foi assumido como uma grandes desafios. Só assim teremos perfis investimento poderia ter um impacto
prioridade para a Sovena: fizemos a qualificados em áreas mais técnicas/ positivo, pelo menos não desincentivando o
incorporação de 28% de plástico reciclado tecnológicas e que, a prazo, se constituam investimento corporativo e individual face a
que nos permite substituir, até 2025, mais como incubadoras naturais de startups, outras geografias.
de três mil toneladas de plástico virgem. por exemplo. Sendo certo que parecemos poder estar

2º Trimestre 2021 indústria 27


Entrevista

“Quando se tentou
reduzir o papel
do Estado tivemos
algumas dificuldades
em estabelecer
reguladores fortes
e independentes,
o que se reflete
num Estado pouco
exigente”

a caminhar no sentido da uniformização financiamentos na intermediação bancária


fiscal ao nível europeu, existem ainda configura outro constrangimento sério ao
algumas assimetrias mesmo dentro das investimento e à atividade empresarial
geografias “não agressivas”. Não existe “Estou mais convencido no País. Ao que se alia a ausência de
no País a convicção que é fundamental o dos méritos do incentivo cultura empresarial e a aversão ao risco.
Estado colaborar com os empresários, e Características que poderiam e deveriam
ajudá-los na libertação das amarras da à atividade económica ser contrariadas desde muito cedo nos
burocracia. O legislador não tem noção das através da baixa de bancos das escolas, por exemplo.
necessidades dos empresários e gestores,
nem dos constrangimentos que estes têm
impostos e/ou criação É difícil ser empresário em Portugal?
no seu dia a dia. Se tivessem essa noção de deduções diretas de Porquê?
diminuiriam o nível de burocracia com as impostos ao investimento” Eu dira que não é fácil até pelas razões
necessidades intermináveis de licenças acima elencadas. Só com muita resiliência
que levam muitas vezes os empresários a e perseverança se aposta e se investe em
desistirem. Portugal. Nesta medida, estou convicto de
A ausência de um verdadeiro mercado que há espaço para melhorar e estou nesta
de capitais e a concentração de atividade para criar valor para o meu País.

28 indústria 2º Trimestre 2021


Entrevista

aqueles que desempenham funções nos Preocupa-o a aplicação destes fundos em


escritórios. Portugal?
Esta pandemia veio demonstrar que é Creio que ainda há bastantes detalhes por
necessário ter retaguardas logísticas esclarecer sendo que a aplicação destes
asseguradas. No nosso caso, o facto fundos no dia-a-dia deverá ser mais clara.
de termos três unidades industriais Contudo, estou mais convencido dos
em Espanha e duas em Portugal foi a méritos do incentivo à atividade económica
vantagem que permitiu à Sovena responder através da baixa de impostos e/ou criação
aos desafios imediatos que resultaram de deduções diretas de impostos ao
desta situação. A Sovena procurou também investimento. Se é um desígnio estratégico
apoiar os profissionais de primeira linha, e do País dinamizar determinadas áreas,
todas as pessoas que, por se encontrarem nomeadamente a transição energética
em situação de fragilidade, estão também e sustentabilidade, faria mais sentido
mais expostas às consequências do vírus. fazer uma discriminação positiva em
Elaborámos um plano de apoio à Rede termos de impostos/deduções. Mas houve
de Emergência Alimentar, uma iniciativa entendimento diferente e, infelizmente,
estruturada a partir do Banco Alimentar de podemos estar a criar um monstro
Portugal que visa levar alimentos a quem burocrático com impactos duvidosos na
deles mais carece. dinamização da atividade económica com
custos que teremos de pagar seguramente
mais tarde.
“Só com muita resiliência Acredito que as empresas estão no centro
e perseverança se aposta do círculo virtuoso da criação de riqueza.
No entanto, a quase totalidade dos fundos
e se investe em Portugal” de acesso direto destinados às empresas
são exclusivos para as PMEs que,
Como projeta o “novo normal” para as embora componham a maioria do tecido
empresas portuguesas? empresarial, não têm a escala necessária
O mundo mudou. E o futuro será de para, por si só, fomentar um crescimento
adaptação, mas, espero, que seja também económico como o que se ambiciona. Por
uma oportunidade para colocar em outro lado, importa salientar que, mesmo
práticas as muitas lições que retirámos as empresas de maior dimensão ao nível
do último ano. Acredito que as empresas nacional, quando vistas à escala global,
vão ter de ser mais flexíveis em todo o são de reduzida dimensão, dificultando
seu modo de funcionamento, relação com a competitividade do País à escala
clientes e fornecedores, mais agressivas internacional.
na procura de mercados internacionais, e
sobretudo na procura de ganhar dimensão
que lhes permita ultrapassar os tempos “As grandes empresas em
mais turbulentos que possam viver no
futuro.
Portugal, ao contrário
do senso comum, são
O contexto pandémico veio somar novos Perante a atual crise económica, a responsáveis por grande
desafios aos já existentes. De que forma a União Europeia assumiu um pacote
Sovena de adaptou a esta nova realidade? financeiro no valor de 1,8 biliões de euros parte da criação de postos
O último ano e meio ensinou-nos que até 2027. Qual a avaliação que faz da de trabalho [e da criação
eventos que nos poem à prova acontecem
em todo o lado, até à escala global. Isto
resposta europeia e das prioridades de
investimento assumidas?
de riqueza]”
deve-se à inevitabilidade do risco, que Foi uma reação rápida e bastante adequada
qualquer empresário tem de enfrentar, e à natureza da crise atual. Contudo, há dois As grandes empresas em Portugal,
à responsabilidade de estar lado a lado aspetos muito importantes a considerar: ao contrário do senso comum, são
com dezenas, ou centenas, de outros em primeiro lugar as consequências responsáveis por grande parte da criação
colaboradores que dele dependem. que terá no futuro o endividamento das de postos de trabalho, geram riqueza em
Nesta medida, aquando do alerta de economias, nomeadamente o rating e o si e nas economias em que estão inseridas
pandemia por parte da Organização custo de capital e, em segundo lugar o pelo seu efeito multiplicador e, são uma
Mundial de Saúde foram imediatamente grau de liberdade dado aos governos para importante fonte de receita fiscal. Por isso
implementados planos de contingência, definirem o peso do Estado nos diferentes mesmo defendo iniciativas que fomentem
de segurança para as equipas das fábricas planos. No caso português, o Estado terá o crescimento de todas as empresas,
e de preparação para o teletrabalho para um peso de 66%. A meu ver é um excesso. independentemente da sua dimensão, pois

2º Trimestre 2021 indústria 29


Entrevista

“Defendo iniciativas que de ferramentas e tecnologias inovadoras. e fiscais e no apoio direto ao investimento.
Estas, aliadas a medidas que continuem Por exemplo, o controlo das despesas
fomentem o crescimento a promover o investimento em ciência e públicas com reformas estruturais e
de todas as empresas, tecnologia digital, vão permitir ao setor redução da taxa normal de IRC, traria

independentemente agrícola e às indústrias alimentares


continuar a crescer e atrair novos
um incentivo muito mais sustentado ao
investidor.
da sua dimensão” profissionais.  
 
Acha que há demasiado Estado na “O futuro será de
não só reforça a capacidade competitiva economia portuguesa?
do País ao nível internacional, como gera Sim, sempre tivemos Estado a mais. adaptação, mas, espero,
oportunidades para todos, incluindo para Quando se tentou reduzir o papel do que seja também uma
as PME’s nacionais, criando um verdadeiro
ambiente de crescimento sustentado e
Estado tivemos algumas dificuldades
em estabelecer reguladores fortes e
oportunidade para colocar
profícuo para todos, criando um verdadeiro independentes, o que se reflete num em práticas as muitas
círculo virtuoso. São importantes por isso Estado pouco exigente. lições que retirámos
iniciativas direcionadas às empresas e O papel do Estado na esfera económica
que incentivem a colaboração e criação de tem sido negativo sempre que se assume do último ano”
escala, fomentando também movimentos como empresário (nacionalizações,
de fusões e aquisições, para que Portugal defesa de empresas caducas, etc.).
consiga prosperar internacionalmente. Numa perspetiva económica, podia ser O verdadeiro incentivo traduz-se em
A agricultura e as indústrias alimentares muito melhor se concentrasse os seus redução do custo de capital para a
têm um peso muito significativo na recursos exclusivamente na criação de análise de investimento das empresas
economia nacional e têm demonstrado infraestruturas físicas ou outras; no seu que queiram investir em Portugal (neste
uma resiliência extraordinária aos desafios papel de regulador verdadeiramente aspeto, importante é também a atenção
do último ano. Contudo, e para que isto eficiente e na educação.  ao rating da república). Mas, obviamente,
continue a ser possível, precisamos de Os incentivos devem continuar a que precisamos também de reduzir alguns
medidas mais concretas que reforcem a acontecer, mas não através da insistência obstáculos, como a corrupção e o excesso
capacitação de profissionais na utilização permanentemente nos apoios financeiros de burocracia. n

30 indústria 2º Trimestre 2021


Economia

Livro Verde sobre


o Futuro do Trabalho
No que ao desenvolvimento das relações laborais diz respeito,
as matérias que lhe estão diretamente conexas têm de ser discutidas
na CPCS, com vista ao alcance de um acordo sobre as mesmas, devendo
o Governo desenvolver todos os esforços nesse sentido, através de uma
negociação aprofundada, antes de remeter ao Parlamento quaisquer
propostas legislativas nos domínios em causa.
Por Departamento dos Assuntos Jurídicos e Sócio-Laborais da CIP

A elaboração de um Livro Verde e a vida familiar e direito à desconexão, económicas e sociais que, na altura,
do Futuro do Trabalho consta a Proteção social nas novas formas se anteviam para o nosso País
do Programa do XXII Governo, que foi de prestar trabalho, as Competências, e para o Mundo.
apresentado e debatido na Assembleia Formação profissional e aprendizagem
da República em finais de outubro ao longo da vida, entre outros e só Ou seja, a definição dos temas e objetivos
de 2019. Em 09 de julho de 2020, para salientar os mais relevantes, sobre que o Livro deveria prosseguir foram
o Governo deu início à discussão os quais a CIP elaborou Contributo tomados num contexto e com perspetivas
em torno dos aspetos-chave que remetido à CPCS em 10 de maio de 2021. muito diferentes das atuais.
haveriam de integrar o Livro Verde, Daí que o Livro aponte, claramente,
com a realização do webinar “Futuro para um caráter rigidificador do mercado
do Trabalho”, onde a CIP participou. de trabalho, ao invés de procurar
exponenciar ou dar espaço
Entretanto, a discussão em torno para o desenvolvimento e aproveitamento
do Livro Verde foi-se desdobrando “Discutir o futuro dos efeitos positivos que decorrem
em apresentações na Concertação
Social e troca de documentos,
do trabalho da digitalização, mormente em matérias
cuja definição poderia ser mais eficiente
que culminou, em 31 de março p.p., sem Empresas no âmbito da negociação entre as partes,
com a apresentação, por parte ao nível coletivo ou individual.
do Governo, na Comissão Permanente é o mesmo que
de Concertação Social (CPCS), da versão
completa do “Livro Verde sobre o Futuro
discutir o futuro Por outro lado – e o próprio Livro
reconhece-o – há falta de informação,
do Trabalho (Versão Trabalho/Discussão do trabalho sem pelo que a CIP não entende como pode
CPCS)”. o mesmo precipitar-se, projetando
trabalho” a necessidade de regular tudo o que se
O documento reflete 150 “Linhas lhe aparenta ser mais favorável a uma
de reflexão das políticas públicas Desde logo, sobressai que o compromisso das partes da relação, mormente aquela
a desenvolver em Portugal”, divididas em elaborar o Livro Verde, previsto que, intuitivamente ou com base em meras
por 11 temas, que vão desde o Trabalho no citado Programa do Governo, foi perceções ou estimativas, lhe parece ser
à distância e teletrabalho, o Trabalho formulado meses antes de a infeção a do trabalhador, ainda que o próprio possa
em plataformas digitais, a Diversidade COVID-19, declarada pandemia pela não querer assumir esse estatuto.
tecnológica, Inteligência artificial Organização Mundial de Saúde
e algoritmos, os Tempos de trabalho, em março de 2020, ter alterado, Com este pano de fundo, a CIP tem
Conciliação entre a vida profissional por completo, as perspetivas ressaltado a dificuldade associada

2º Trimestre 2021 indústria 31


a exercícios prospetivos, nomeadamente Ou seja, no que ao desenvolvimento regulatório favorável às empresas
num contexto COVID e pós-COVID – o que das relações laborais diz respeito, e a forma como vamos enfrentar
implica uma estabilização e posterior as matérias que lhe estão diretamente o desafio da natalidade.
recuperação económica e social –, conexas têm de ser discutidas na CPCS,
e o carácter multidisciplinar das matérias com vista ao alcance de um acordo Verifica-se, porém, que, no Livro Verde,
impactantes no tema “O Futuro sobre as mesmas, devendo o Governo se persistiu em evitar abordar
do Trabalho”. desenvolver todos os esforços nesse os dois últimos citados aspetos, que são
sentido, através de uma negociação incontornáveis ao Futuro do Trabalho:
Repare-se que, como consequência disto aprofundada, antes de remeter as empresas, que dependem de uma
mesmo, temos, presentemente, ao Parlamento quaisquer propostas política e de um ambiente regulatório
em discussão no Parlamento, assuntos, legislativas nos domínios em causa. que seja favorável ao seu surgimento
como o teletrabalho, cuja evolução, e desenvolvimento, e as pessoas,
em função da situação pandémica, bem dependentes de uma estratégia
precipitou a publicação de medidas avulsas para natalidade.
(vg. Resoluções do Conselho de Ministros, “O Governo persiste
o DL 10-A/2020, os sucessivos Decretos E discutir o Futuro do Trabalho sem
de regulamentação do Estado de em evitar abordar Empresas é o mesmo que discutir
Emergência e o DL 79-A/2021) e um debate
manifestamente descoordenado.
temas que são o futuro do trabalho sem trabalho.

incontornáveis Por outro lado, como é possível conceber


Uma situação que não contribui o Futuro do Trabalho, em toda a sua
para a necessária credibilização para o Futuro plenitude, aqui incluída a sustentabilidade
da Concertação Social, até porque
foi o próprio Programa de Governo
do Trabalho, da produção e da Segurança Social, sem
pessoas para trabalhar, investir, gerar
a enunciar que é a partir do Livro Verde como o ambiente rendimento e descontar para os sistemas
“e do debate público nele baseado, fiscais e parafiscais?
incluindo na concertação social,” que se regulatório
vai “avançar com propostas concretas
e regulação da prestação de trabalho
para as empresas Finalmente, a CIP vem constatando
que o Governo se mostra insensível
no quadro da economia digital”. e uma estratégia à necessidade de realizar um Livro Branco
sobre o Futuro do Trabalho,
A discussão sobre o teletrabalho para a natalidade” o qual, partindo das reflexões obtidas
e outros assuntos do Livro Verde, do Livro Verde, contivesse possíveis
como sejam o trabalho em plataformas Para além deste aspeto nuclear, medidas materializadoras de orientações
digitais, a desconexão, a conciliação no domínio das discussões em torno neste domínio.
ou as novas formas de proteção social, do Livro Verde em apreço, como, aliás,
devem, assim, manter-se, numa no âmbito de toda a temática do Futuro Depois de todo este exercício, tal
primeira fase, no âmbito da CPCS do Trabalho, a CIP considera determinante insensibilidade consubstancia
e, só posteriormente, serem objeto a Educação e Formação Profissional – oportunidade perdida de contribuir
de eventual intervenção legislativa, aspeto amplamente considerado no Livro decisivamente para encarar,
caso esta venha a ser tida como Verde –, mas, também, a existência com sucesso, o Futuro do Trabalho
necessária. de uma política e de um ambiente que se nos coloca a todos. n

32 indústria 2º Trimestre 2021


Economia

CONJUNTURA ECONÓMICA

Em Portugal e no mundo,
as expectativas melhoram,
à medida que a pandemia
é controlada
2º Trimestre 2021 indústria 33
Economia

ENVOLVENTE INTERNACIONAL Espanha e França registaram taxas de crescimento


negativas, em cadeia (-1,8%, -0,5% e -0,1%,
Perspetivas melhoram, mas divergências entre países e respetivamente), e a Itália um crescimento de apenas 0,1%.
setores persistem Noutros países, como a Grécia, a Croácia e, sobretudo, a
Irlanda, a recuperação mostrou-se já bastante robusta.
Em abril, o FMI voltou a rever em alta as suas estimativas Em termos homólogos, a atividade económica caiu
e previsões, depois de apurados os resultados do segundo significativamente menos (-1,3% na área do euro e -1,2% na
semestre de 2020 (melhores do que era esperado para União Europeia), mas relativamente a um trimestre em que
a maioria das regiões), e refletindo o apoio orçamental o impacto da pandemia já se começava a fazer sentir.
adicional em algumas grandes economias, bem como as Nas suas previsões da primavera, a Comissão Europeia
expectativas de recuperação antecipada, graças à vacina. projeta que as taxas de crescimento continuarão a divergir
O FMI enfatiza o impacto dos apoios públicos entre os diferentes Estados-membros, mas todos devem ver
extraordinários (sem os quais a contração económica as suas economias regressar aos níveis anteriores à crise
poderia ter sido três vezes mais profunda), mas alerta para até o final de 2022.
as divergências registadas entre países e setores. As projeções do crescimento do PIB na União Europeia
Os indicadores coincidentes sugerem que a indústria foram revistas em alta, tanto para 2021 (para 4,2%) como
e o comércio estão a regressar aos níveis anteriores à para 2022 (para 4,4%).
pandemia, mas ainda há caminho a percorrer no setor de
serviços.
COTAÇÕES INTERNACIONAIS
GRÁFICO 1
Euro novamente mais forte
PIB no mundo, economias avançadas Em março, o euro depreciou face ao dólar dos Estados
e em desenvolvimento Unidos, chegando a cotação a cair abaixo de 1,18 dólares
(variação real em %) 2020 a 2022 (P=Previsão) por euro, mas a tendência de apreciação regressou em abril
e maio, com a cotação a rondar 1,22 dólares por euro no
6,0 5,1 6,6 final do mês.
6,00
4,4 5,0
4,00 3,6
2,00 GRÁFICO 2
,00
-2,00 Taxa de Câmbio EUR/USD (média mensal)
-4,00 Maio 2020 a maio 2021
-3,3 -2,2
-6,00
-4,7
2020 2021 (P)2 022 (P) 1.300
1. 210

1. 210

1. 210

1. 210
1. 200
1.190
1.180

1.250
1.180

1.180

1.180

Mundo
1.140

Economias avançadas 1.200


1. 130
1.090

Economias emergentes e em desenvolvimento 1.150


Fonte: FMI
1.100
1.050
De acordo com as estimativas do Eurostat, a evolução
1.000
do PIB no primeiro trimestre de 2021 divergiu
900
significativamente entre os Estados-membros.
Em média, o PIB voltou a recuar em comparação com o
mar/2020
mai/2020

ago/2020

nov/2020

mai/2021
out/2020

dez/2020
jun/2020

fev/2020
set/2020

jan/2020

anr/2021
jul/2020

trimestre anterior (0,3% na área do euro e 0,1% na União


Europeia), sendo Portugal o Estado-membro em que a
contração foi mais profunda (-3,3%). Fonte: Banco de Portugal

Entre as economias de maior dimensão, a Alemanha,

34 indústria 2º Trimestre 2021


Economia

PORTUGAL Pela positiva, há a assinalar o facto de o investimento


ter resistido bem ao quadro adverso vivido no primeiro
Atividade económica regressa ao caminho da recuperação trimestre e ter consolidado a sua recuperação,
após início do ano negativo ultrapassando já o nível registado antes da eclosão da crise.
Outro desenvolvimento favorável foi a continuação da
Atividade económica retoma das exportações de mercadorias, que contrariou
Os dados do primeiro trimestre refletem uma nítida (embora apenas parcialmente) o efeito no total das
degradação da atividade económica sob o impacto do exportações de bens e serviços da contração da rubrica de
confinamento geral no início deste ano – ver gráfico 4. turismo e viagens.
Na ótica da produção, registou-se um agravamento
GRÁFICO 4 da evolução do comércio e serviços, com exceção das
atividades financeiras, de seguros e imobiliárias, que
PIB – variação homóloga e em cadeia regressaram a taxas de crescimento homólogas positivas.
(em volume, %) 1T 2020 – 1T 2021 Para além deste setor, apenas a construção registou um
aumento homólogo do VAB (4,5%), continuando a resistir à
15.00 13,4 crise.
10.00

5.00
Os indicadores mensais mostram o regresso, em março e
0,2 abril, da dinâmica de recuperação económica, embora com
0.00
situações claramente diferenciadas segundo os setores –
-5.00 -2,2 -3,3
-4,0 -5,4
ver gráfico 5.
-10.00
-5,6 -6,1

-15.00 GRÁFICO 5
-14,0
-16,4
1º Tr. 20 2º Tr. 20 3º Tr. 20 4º Tr. 20 1º Tr. 21 Índices de volume de negócios
(Variações homólogas em %*) Fev. 2020 a abril 2021
Variação homóloga
Variação em cadeia 20%
Fonte: INE
10%

EVOLUÇÃO DO PIB NA ÓTICA DA PROCURA 0%


Taxas de variação homóloga
-10%
1º 2º 3º 4º 1º
Tr. 20 Tr. 20 Tr. 20 Tr. 20 Tr. 21
-20%
PIB -2,2 -16,4 -5,6 -6,1 -5,4
-30%
Consumo privado -0,4 -14,4 -4,0 -4,6 -6,9
-40%
Consumo público 0,2 -3,9 2,7 2,6 2,8

FBCF -0,3 -8,6 0,7 1,0 3,7 -50%


fev/2020

mar/2020

abr/2020

mai/2020

jun/2020

jul/2020

ago/2020

set/2020

out/2020

nov/2020

dez/2020

jan/2021

fev/2021

mar/2021

abr/2021

Exportações -5,3 -39,2 -16,0 -14,3 -9,4

Importações -1,8 -29,1 -11,1 -6,1 -5,4


Comércio a retalho
Fonte: INE Serviços
O retrocesso na dinâmica de recuperação deveu-se Indústria

sobretudo à evolução negativa do consumo privado (com Fonte: INE


exceção dos bens alimentares), mas também à redução
Nota: Para evitar os fortes efeitos de base, os valores de março e abril
muito significativa do turismo de não residentes, que se correspondem à variação face ao mês homólogo de 2019 (situação
refletiu na contração das exportações, mais intensa que a pré-crise)

observada nas importações.

2º Trimestre 2021 indústria 35


Economia

Na indústria, o volume de negócios atingiu já, em março, Já em meados de junho, o Banco de Portugal reviu em alta
níveis superiores aos observados antes da crise, embora as suas projeções, para um crescimento do PIB de 4,8%
com algum retrocesso em abril. A situação continua, no em 2021 e de 5,6% em 2022, baseando-se na melhoria da
entanto, a mostrar-se muito heterogénea do ponto de vista confiança dos agentes económicos e em hipóteses mais
setorial. Entre as indústrias que ainda permanecem longe favoráveis para a procura externa e para o investimento,
dos níveis pré-pandemia destaca-se o vestuário, com um em particular o público.
volume de vendas 20% abaixo do observado há 24 meses. De acordo com estas projeções mais recentes, o
No comércio a retalho, o setor de produtos não alimentares crescimento do PIB em 2021-23 será superior ao da área
retomou a recuperação, mas o volume de negócios ficou do euro, compensando a maior quebra registada em 2020.
ainda 7,2% aquém do registado em abril de 2019, impedindo O regresso do PIB aos níveis do final de 2019 antecipar-se-
o índice global de regressar aos níveis pré-crise. ia para o início de 2022. No entanto, o choque deverá ter
Nos serviços, a situação tende também a desagravar-se, efeitos duradouros em alguns segmentos da economia mais
embora mais lentamente. O alojamento e restauração afetados pela pandemia.
continua a ser o setor mais afetado, com um volume de
negócios 53,4% abaixo do nível observado em abril de 2019. Emprego e desemprego
A dinâmica de recuperação no mercado de trabalho
PROJEÇÕES PARA A EVOLUÇÃO ressurgiu em fevereiro e março (com a criação líquida de
DO PIB EM PORTUGAL (%) 46,4 mil postos de trabalho), mais que compensando as
perdas de dezembro e janeiro. Terá, depois, esmorecido
Fonte 2021 2022 em abril, mês em que o emprego parece ter estabilizado –
segundo as estimativas provisórias do INE.
Banco de Portugal | março 3,9 5,1 A taxa de desemprego terá regressado em abril ao mesmo
FMI | abril 3,9 4,8 nível registado de novembro a janeiro (6,9%), depois de ter
diminuído em fevereiro e março para valores um pouco
Governo (Programa de Estabilidade) abril 4,0 4,9
inferiores – ver gráfico 6.
Comissão Europeia | maio 3,9 5,1
GRÁFICO 6
OCDE | maio 3,7 4,9

Banco de Portugal | junho 4,8 5,6


Taxa de desemprego
(%, com correção de sazonalidade) Abril de 2020 a abril de 2021

As projeções macroeconómicas divulgadas em abril e maio 10


pelas instituições de referência internacionais convergiram
com as avançadas em março pelo Banco de Portugal, no
8
sentido de um crescimento do PIB em 2021 um pouco
inferior a 4%, acelerando em 2022 para valores a rondar os
5%. 6

Estes valores apontavam para algum atraso na


recuperação face à média da União Europeia, devido à 4
severidade do impacto do segundo confinamento. Assim,
mai/2020

mar/2021
dez/2020
ago/2020

out/2020

nov/2020
jun/2020
abr/2020

set/2020

abr/2021
jan/2021
jul/2020

fev/2021

após um crescimento abaixo da generalidade dos seus


parceiros europeus no cômputo de 2021, a economia
portuguesa recuperaria parcialmente esse atraso em Fonte: INE
2022, com um desempenho acima do previsto para a União
Europeia.

CIP – Departamento de Assuntos Económicos | Análise elaborada com informação até 11/06/2021

36 indústria 2º Trimestre 2021


Internacional

Presidência Portuguesa
do Conselho da União
Europeia: um balanço
Podemos afirmar que a Europa avançou positivamente, embora
não tanto como desejaríamos, para vencer os desafios, imediatos
e futuros, com que se confronta. Podemos orgulhar-nos
do contributo da PPUE para esse avanço, na construção
de consensos, no seio do Conselho, nas negociações
com o Parlamento Europeu e no trabalho com
a Comissão Europeia.

Por António Saraiva, Presidente da CIP

No final do semestre em que coube ao economia real, sem mais atrasos.


nosso país a Presidência do Conselho da O objetivo crucial da PPUE era, pois, o de
União Europeia (PPUE), podemos dizer acelerar processos, evitando percalços,
que, globalmente, Portugal soube exercer para que os fundos europeus, tanto os do
eficazmente a sua missão. Plano de Recuperação para a Europa como
os do Quadro Financeiro Plurianual (QFP),
Em novembro, tive a honra de ser o pudessem chegar à economia real com a
anfitrião do Conselho de Presidentes maior brevidade possível.
da BusinessEurope, que acolhendo
consensualmente as prioridades da PPUE, Tanto no que respeita ao Instrumento de
deixou duas importantes mensagens: a Recuperação e Resiliência, como aos fundos
primeira, programática, alertou que só com relacionados com a política de coesão,
empresas competitivas seria possível alcançar podemos afirmar que a PPUE cumpriu o
os objetivos inerentes a essas prioridades; seu papel. Contribuiu para que o processo
a segunda, espelho das preocupações mais legislativo tenha sido concluído com
imediatas dos líderes das 40 confederações de sucesso e abriu, assim, o caminho para as
empregadores de toda a Europa, afirmou não negociações dos Planos de Recuperação e
ser hora de jogos políticos – antes de cumprir Resiliência (PRR) e dos Acordos de Parceria
os compromissos encontrados e garantir que entre cada Estado-membro e a Comissão
os fundos europeus seriam canalizados para a Europeia.

1º Trimestre 2021 indústria 37


Internacional

"Tanto no que respeita


ao Instrumento
de Recuperação e
Resiliência, como aos
fundos relacionados
com a política de coesão,
podemos afirmar que a
PPUE cumpriu o seu papel"

Noutras frentes, também se registaram 28 de junho, numa cimeira de


progressos, com o lançamento de muitas alto nível em Lisboa.
das iniciativas europeias prevista no No âmbito da Europa Social,
QFP para 2021/2027, com particular a principal prioridade da PPUE
destaque para o Horizonte Europa, centrou-se na Cimeira Social do
com um orçamento de cerca de 95 mil Porto, nos dias 7 e 8 de maio: uma
milhões de euros para atividades de iniciativa com elevado simbolismo,
investigação e inovação, e para o InvestEU, mas arriscada, dada a dificuldade
que junta 14 instrumentos financeiros de consensos. A Cimeira revelou-se Direitos Sociais e em trabalhar em conjunto
até agora existentes e sucede ao Fundo bem-sucedida, tendo sido adotado o para promover uma recuperação inclusiva,
criado pelo Plano Juncker. De destacar, Compromisso Social, subscrito por sustentável, justa e geradora de emprego,
ainda, o facto da PPUE ter antecipado instituições europeias, parceiros sociais assente numa economia competitiva
o início da reflexão sobre o futuro da e organizações da sociedade civil. Este que não deixe ninguém para trás. O seu
governação económica europeia, reunindo compromisso reflete o empenho de todos conteúdo revelou-se equilibrado, não
responsáveis e especialistas europeus, em na implementação do Pilar Europeu dos surpreendendo, por isso, as críticas que
mereceu de forças mais extremistas, pouco
amigas de entendimentos que contribuam
para a paz social.
Participação na Cimeira Social No que respeita à transição digital,
avançaram, sob o impulso da PPUE, as
discussões entre Conselho e Parlamento
 Quatro anos após a assinatura qualificação da população constitui Europeu da Lei dos Serviços Digitais
de um acordo sobre o Pilar Europeu um pilar essencial para o crescimento (DSA) – garantir ambiente online
dos Direitos Sociais, a presidência económico e para a promoção da seguro e responsável – e da Lei dos
portuguesa do Conselho da União coesão social, uma vez que potencia Mercados Digitais (DMA) – garantir
Europeia deu, a 7 de maio, no Porto, o aumento da competitividade, mercados digitais equitativos e abertos.
um segundo impulso para reforçar a modernização das empresas, a Ainda no domínio legislativo, a PPUE
este objetivo. A CIP participou na produtividade, a empregabilidade ultrapassou um impasse de quatro
preparação, nas conclusões e nos e a melhoria das condições de vida anos, iniciando as negociações com o
compromissos que saíram deste e de trabalho”, considerou António Parlamento Europeu, em articulação com
encontro. O Presidente da CIP fez o Saraiva, salientando ainda que a Comissão, para a revisão das regras
balanço da participação na Cimeira “a chave do sucesso coletivo está em matéria de proteção da privacidade
Social e identificou os desafios das na capacidade de adaptação das e da confidencialidade na utilização dos
empresas e dos trabalhadores. “A organizações e das pessoas”. serviços de comunicações eletrónicas.
Destaque, ainda, para os eventos Digital

38 indústria 2º Trimestre 2021


Internacional

Seminário Empresarial
Portugal – África
 Os desafios das alterações climáticas e a consciência da necessidade de caminhar para a
sustentabilidade económica, social e ambiental têm ganho peso na agenda internacional. As exportações
e o investimento proporcionam uma plataforma para galvanizar a ação conjunta no desenvolvimento
sustentável, facilitando uma ponte de convergência de atuação para o relacionamento Portugal – África.
Foi este o mote do Seminário Empresarial Portugal-África – "Exportar 'Verde': A internacionalização
das empresas na era da sustentabilidade", realizado pela CIP e pela AICEP Portugal Global no âmbito da
Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia. O evento decorreu a 22 de abril no CCB e visou
apoiar o desenvolvimento de uma estratégia conjunta para a sustentabilidade. Contou, entre outros, com
as intervenções de João Pedro Matos Fernandes, Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Ernesto Max
Tonela, Ministro dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, António Saraiva, Presidente da CIP, e
Luís Castro Henriques, Presidente da AICEP Portugal Global.

Day 2021 e Digital Assembly, ambos limpas. O segundo, apresentou o


organizados pela PPUE e a Comissão Programa Europa Digital e debateu
Europeia. O primeiro culminou com a o futuro da transformação digital na
assinatura de três declarações pelos União Europeia, bem como os objetivos
Estados-membros, com compromissos para a década de 2030.
em domínios fundamentais como a
conectividade digital entre a Europa, De salientar, também, a inauguração,
África, Ásia e América Latina, as em 1 de junho, da primeira ligação
startups e as tecnologias digitais de alta velocidade, por cabo ótico

2º Trimestre 2021 indústria 39


Internacional

submarino “EllaLink”, entre a Europa e a


América do Sul, ligando Sines a Fortaleza.
Quanto à tributação digital, registaram-
"A PPUE ultrapassou se avanços que nos aproximam de uma
um impasse de quatro solução global no plano da OCDE, em
anos para a revisão das alternativa à introdução de soluções
unilaterais ao nível europeu ou nacional,
regras em matéria de que poderiam, em última análise, ter
proteção da privacidade um impacto negativo nas PMEs e nos
e da confidencialidade na consumidores europeus. Merece, ainda,
ser referida a organização conjunta da
utilização dos serviços PPUE e da Comissão Europeia, em março,
de comunicações da Cimeira Europeia dos Consumidores,
eletrónicas" onde foi dado um impulso à realização da
Nova Agenda do Consumidor.

Na área das relações internacionais,


as conclusões da Cimeira com a Índia
foram promissoras, apontando para o
relançamento das negociações para
um acordo de comércio livre, o início
das negociações sobre um acordo de
proteção do investimento e a adoção
da nova Parceria de Conectividade. São
de destacar os três eventos em que a
CIP esteve envolvida, em parceria com "Os três eventos em que
a PPUE: com África, Mercosul e Índia,
os dois últimos coorganizados com a
a CIP esteve envolvida
BusinessEurope. Foram encontros que permitiram envolver
permitiram envolver as comunidades as comunidades
empresariais em debates muito ricos
sobre o relacionamento da Europa com
empresariais em debates
economias emergentes onde é possível muito ricos sobre o
potenciar oportunidades de negócio. relacionamento da
Transita para a Presidência Eslovena o
acordo com o Mercosul, onde, apesar dos
Europa com economias
significativos esforços desenvolvidos, a emergentes onde é
PPUE não conseguiu reunir condições possível potenciar
para um desfecho positivo.Transitam
também as preocupações quanto
oportunidades de
à necessidade de relançamento da negócio"

Evento sobre o Acordo UE-Mercosul


 A CIP organizou a 30 de abril, em conjunto com a benefícios estratégicos do acordo no atual contexto
BusinessEurope e a Confederação Nacional da Indústria mundial e o potencial económico da abertura comercial,
do Brasil (CNI), e com o apoio da Presidência Portuguesa de especial importância no pós-pandemia. Valdis
do Conselho da União Europeia, o evento empresarial Dombrovskis, Vice-Presidente Executivo da Comissão
“O Acordo UE-Mercosul: Empresas brasileiras e da UE Europeia e Comissário para o Comércio internacional,
comprometidas com a sustentabilidade”. No evento, referiu os grandes benefícios económicos que podem
as empresas participantes relevaram a importância advir do acordo UE-Mercosul, mas também a necessidade
económica do acordo UE-Mercosul, dando especial de garantir, antes da sua ratificação, que as contrapartes
realce à contribuição deste para a promoção da do Mercosul estão empenhadas em contribuir para a
sustentabilidade. O presidente da CIP relembrou os sustentabilidade.

40 indústria 2º Trimestre 2021


Internacional

"Transita para a
Presidência Eslovena
o acordo com o Mercosul,
onde, apesar dos
significativos esforços
desenvolvidos, a PPUE
não conseguiu reunir
condições para um
desfecho positivo"

agenda para o mercado interno, no


Mesa redonda de negócios sentido de eliminar barreiras e travar
o crescimento de ameaças ou mesmo
entre UE e Índia retrocessos ao nível da legislação
europeia e de diferenças significativas na
 À margem da Cimeira UE- “Estabelecemos uma agenda implementação de atos legislativos entre
Índia realizou-se no dia 8 de maio ambiciosa. Queremos não apenas
os Estados-membros. Transitam, ainda,
uma mesa redonda de negócios aproximar os nossos empresários,
as preocupações pela proliferação de
entre a União Europeia e a Índia, mas também definir a agenda
organizada em parceria entre a em múltiplas áreas, para que as
novas exigências e obrigações legais, que
CIP, a Confederação da Indústria empresas se tornem veículos de implicam mais custos para as empresas
Indiana (CII) e a BusinessEurope. aproximação entre os dois blocos ou mesmo ingerências injustificadas na
O evento online contou com o económicos”, salientou na ocasião sua autonomia.
apoio da Presidência Portuguesa António Saraiva. O presidente da CIP
do Conselho da União Europeia referiu ainda que o memorando de Em jeito de balanço, podemos afirmar que
e visou fortalecer a cooperação entendimento assinado com a CII a Europa avançou positivamente, embora
bilateral nas áreas do clima, “estabelece as bases para promover não tanto como desejaríamos, para vencer
digital e saúde. A oportunidade uma maior cooperação empresarial os desafios, imediatos e futuros, com que
da iniciativa foi elogiada pelas entre Portugal e a Índia, através
se confronta. Podemos orgulhar-nos do
empresas, que apontaram um da promoção do comércio e
contributo da PPUE para esse avanço,
caminho: a assinatura de um acordo investimento bilaterais e da
de comércio com capacidade para aproximação das duas entidades,
na construção de consensos, no seio
aprofundar as relações bilaterais representantes do setor privado” do Conselho, nas negociações com o
e investimentos recíprocos. (Ver pp 42/44). Parlamento Europeu e no trabalho com
a Comissão Europeia. n

1º Trimestre 2021 indústria 41


Internacional

Empresas europeias
e indianas discutem
caminhos da cooperação
Mesa-redonda de negócios, que decorreu à margem da 16.ª Cimeira
UE-Índia, juntou altos responsáveis políticos e empresariais para
discutir os caminhos da cooperação entre as duas economias em
três áreas fundamentais: digitalização, clima e saúde.

A União Europeia (UE) e a Índia Europeia serviu de mote para uma digitalização e saúde. O diálogo procurou
partilham uma longa ligação histórica, mesa-redonda de negócios entre a UE explorar ideias concretas sobre o papel
que pretendem reforçar, através do e a Índia, onde foram debatidos caminhos das empresas para o aprofundamento
fortalecimento das suas relações para a cooperação entre as empresas das diversas parcerias entre a UE e a
comerciais e de investimento. Foi com europeias e indianas. Índia e no contexto do relançamento
esse propósito que se realizou a 8 de Organizada pela CIP – Confederação das negociações para o ACL UE-Índia,
maio, no Porto, a 16ª Cimeira UE-Índia, Empresarial de Portugal, em parceria considerado um “game changer” nas
de onde saíram importantes conclusões com a BusinessEurope e a Confederação relações bilaterais.
com destaque para o relançamento da Indústria Indiana, o encontro centrou- “Estabelecemos uma agenda ambiciosa.
das negociações para um acordo de se na discussão de propostas com vista ao Queremos, não apenas aproximar os
comércio livre (ACL) (ver caixa). O evento fortalecimento da cooperação económica nossos empresários, mas também
que decorreu no âmbito da Presidência bilateral e à construção de uma agenda definir a agenda em múltiplas áreas,
Portuguesa do Conselho da União positiva comum, nas áreas do clima, para que as empresas se tornem veículos

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Internacional

de aproximação entre os dois blocos fábricas inteligentes, Inteligência Artificial,


económicos”, antecipava António Saraiva, Blockchain, Internet das coisas, fluxos de
Presidente da CIP, na sessão de abertura dados e proteção e segurança cibernética.
da mesa-redonda. “Queremos não apenas
Objetivos que ficariam mais próximos com
Digitalizar para transformar
aproximar os nossos a criação de um ambiente empresarial
processos e negócios empresários, mas também transparente, aberto, não discriminatório
O avanço das tecnologias digitais está definir a agenda em e previsível. Os responsáveis de ambos os
a transformar processos e negócios e blocos salientam a importância da adesão
desempenhará um papel crítico no mundo
múltiplas áreas, para que às normas internacionais e da eliminação
pós-COVID. A conjugação de forças entre as empresas se tornem de barreiras ao comércio, o que ajudaria
a UE e a Índia, em inovação e tecnologia, veículos de aproximação a criar uma abordagem comercial “sem
oferece importantes oportunidade no surpresas”, promovendo o comércio
desenvolvimento de parcerias de co-
entre os dois blocos e o investimento.
desenvolvimento e testagem de novas económicos”
tecnologias, capazes de fortalecer a No mesmo sentido, as empresas
competitividade e sustentabilidade das António Saraiva defendem a concretização de um
empresas e da sociedade em geral. Uma Presidente da CIP acordo comercial abrangente, com três
parceria estratégica e sustentada pode áreas de cooperação em destaque:
promover o comércio e o investimento, cibersegurança, proteção de dados e as
mutuamente benéficos, e pode ajudar competências digitais, essenciais num
a estimular inovações, crescimento mundo onde mil milhões de empregos
económico e soluções sustentáveis em serão transformados devido às novas
áreas como infraestruturas digitais, 5G, tecnologias, durante a próxima década.

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Internacional

O compromisso deve ainda materializar atuação mais coordenada e integrada em associadas à mitigação e adaptação
soluções que permitam uma maior matéria de regulamentação, tecnologia às alterações climáticas, tais como, a
flexibilidade de vistos e autorizações e investimento, e promover uma lógica mobilidade urbana, nomeadamente, os
de trabalho, sinergias na educação e um de atuação em coligações ou alianças. veículos elétricos; a construção de uma
reforço da colaboração industrial entre Mas não só. Na lista de pedidos dos economia sustentável e comercialmente
os dois lados. empresários, para a agenda UE-Índia no viável, baseada no hidrogénio verde;
domínio da energia e clima, constavam na descarbonização das indústrias de
De destacar o potencial de simbiose ainda temas como a mitigação do risco energia intensiva, como o aço, cimento,
UE-Índia, entre o poder de investigação, e promoção do investimento em energias papel e químicos; na restauração da
desenvolvimento e design da UE, e a renováveis e tecnologia verde, incentivos biodiversidade e gestão das águas;
capacidade indiana de trazer o elemento para infraestruturas verdes, cooperação na economia circular; e no combate
da funcionalidade. B2B em áreas como a troca de talento, ao desperdício e às ineficiências
a facilitação de vistos de trabalho, regras na agricultura.
Tirar partido no acesso recíproco aos mercados,
do crescimento verde iniciativas conjuntas no domínio da Os participantes foram unânimes quanto
A Índia e a UE estão empenhadas no inovação e financiamento para projetos à necessidade de estabelecer com maior
movimento de esforços globais para de investigação conjuntos. clareza objetivos de desenvolvimento
combater as alterações climáticas sustentável para o curto prazo, para além
e a conservação da biodiversidade, daqueles estabelecidos a 30 anos,
nomeadamente através do reforço para 2050.
da sua própria parceria em Energia
Limpa e Clima. Um aprofundamento de Cooperação global é vital na Saúde
As empresas defendem
relações que deverá incluir o aumento O recente contexto pandémico demonstrou
dos investimentos em infraestruturas a concretização de a importância da cooperação global em
relacionadas com a mitigação um acordo comercial saúde, visando garantir o seu acesso
e adaptação às alterações climáticas, a preços acessíveis. Neste quadro,
abrangente, com três
desde logo no setor da energia. Como a cooperação entre os dois blocos
signatários do Acordo de Paris, ambos áreas de cooperação em económicos apresenta oportunidades
os lados reconhecem a necessidade de destaque: cibersegurança, para ambas as partes, nomeadamente
definir metas ambiciosas, bem como através do desenvolvimento de “uma
proteção de dados e as
o importante papel das empresas na nova abordagem ao comércio de produtos
abordagem aos riscos das mudanças competências digitais farmacêuticos” em que a Índia se pode
climáticas. tornar no parceiro de negócio da UE no
setor. Foi enfatizada, nomeadamente, a
A este propósito, as opiniões foram no As empresas encorajaram ainda a Índia necessidade de “pontos comuns”, na área
sentido de que a UE e a Índia deveriam e a UE a aumentarem os investimentos da regulamentação e da aprovação pelas
aprofundar a cooperação através de uma e a cooperação conjunta em áreas autoridades reguladoras do comércio de
produtos farmacêuticos entre as duas
regiões.

Os representantes do setor destacaram


Principais conclusões da as oportunidades para a colaboração
Cimeira de Líderes UE-Índia Índia-UE, em áreas como a telemedicina,
telerradiologia, tele-diagnóstico e
telepatologia, além da produção de
 No passado dia 8 de maio negociações para um Acordo de Proteção
produtos farmacêuticos e vacinas,
realizou-se a 16.ª Cimeira UE-Índia de Investimentos e para um acordo
pesquisa e desenvolvimento em
com o propósito de reforçar a parceria sobre indicações geográficas e lançar
estratégica entre as duas maiores uma parceria para a conectividade. saúde, diagnóstico e tratamento. Uma
democracias do mundo. No encontro Na véspera do encontro, e no quadro cooperação que poderia ser reforçada
que aconteceu por videoconferência, os dessa aproximação, o Banco Europeu através de parcerias entre universidades,
dirigentes da UE e da Índia decidiram de Investimento anunciou três novas centros de investigação e hospitais, bem
relançar as negociações para um acordo medidas para apoiar a recuperação da como através da criação de incentivos
comercial, paradas desde 2013, iniciar as Índia na sequência da COVID-19. e condições adequadas para inovação
e investimento. n

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Homenagem

Francisco
Mantero
(1948-2021)

Francisco Mantero era um profundo aprofundamento das suas relações.


conhecedor de África. Com mais de Desde logo, notava, África constitui a
40 anos de experiência em gestão fronteira Sul da União Europeia e a sua
de empresas nos PALOP e uma vida população irá duplicar dos atuais 1,5
dedicada a promover o relacionamento mil milhões de pessoas para os 3 mil
entre a Europa e África, tinha a milhões em 2100.
firme convicção de que o futuro Era por um maior envolvimento das
dos dois continentes passava pelo empresas nacionais em África, que

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Homenagem

se batia no seu trabalho na CIP. No A sua vida de trabalho ao serviço das serviço de ambas as organizações e que,
Conselho Estratégico para a Cooperação, relações empresariais com África aliadas à sua vasta experiência de vida,
Desenvolvimento e Lusofonia incluiu passagens pela CCIP – Câmara pessoal, social, académica e profissional,
Económica, presidia com grande de Comércio e Indústria Portuguesa, contribuíram decisivamente para a
dedicação e entusiasmo às reuniões pela Comissão Nacional da UNESCO, aproximação das empresas portuguesas
que serviam o propósito de concertar as pelo Banco Mundial, pelo EBCAM – e europeias às novas realidades em
estratégias do setor privado nacional nos European Business Council for Africa África, tendo sempre desempenhado as
mercados em desenvolvimento. and the Mediterranean, pelo Forum suas funções com enorme sentido de
Afrique-Europe, entre outros. Presidiu Serviço e Independência.
Alertava para que não devêssemos a ELO – Associação Portuguesa para
esperar que a nossa ligação histórica a o Desenvolvimento Económico e a
África desse às empresas portuguesas Cooperação e foi Secretário-Geral da
uma vantagem competitiva, do mesmo Confederação Empresarial da CPLP Acérrimo defensor do
modo que as antigas relações históricas – Comunidade dos Países de Língua
de Portugal com o Brasil, China, Japão Portuguesa. Recentemente, foi consultor investimento na educação
ou com alguns países do Médio Oriente, da OCDE – Organização para a Cooperação dos jovens africanos,
não lhes trouxeram nenhuma. e Desenvolvimento Económico, acreditava que África
nomeadamente, membro do Advisory
Preferia destacar a grande riqueza Business Council do MENA (Middle East é um continente cheio
que defendia ser a língua portuguesa, & North Africa) e do Development Policy de talento à espera de
partilhada com outros oito países, os Group do BIAC – Business at OECD. oportunidades
países da CPLP, seis em África, Brasil
e Timor-Leste, sendo também língua Para além de exercer funções de
oficial em Macau até 2049. Por isso, Presidente da Mesa da Assembleia Geral Pelo mérito que foi demonstrando ao
advogava que a nossa ambição comum da SEMAPA e da The Navigator Company, longo da sua vida, foi condecorado
deveria ser a de acrescentar valor Francisco Mantero presidia, por pelo Presidente da República do Brasil
económico e empresarial à partilha da indicação da CIP, ao Africa Network da com o grau de Comendador da Ordem
língua portuguesa – o que, segundo BusinessEurope. Durante o seu mandato do Cruzeiro do Sul, pelo Presidente
Francisco Mantero, deveria ir para além à frente deste grupo de trabalho, da República de São Tomé e Príncipe
dos países lusófonos – em benefício assumiu o papel fundamental de motivar com a Medalha da Independência
das nossas empresas em África, e as empresas europeias com interesse Nacional e pelo Presidente da República
nunca esquecendo que Portugal é em África no sentido de uma atuação Portuguesa com o grau de Comendador
o único Estado lusófono na União incisiva, na defesa dos seus interesses da Ordem do Mérito.
Europeia (UE). junto dos decisores europeus, em
áreas-chave como a construção da nova Francisco Mantero deixou-nos
A outra grande riqueza de Portugal, arquitetura de financiamento europeia precocemente aos 72 anos de idade,
afirmava, é o seu extraordinário povo, e o apoio a iniciativas de integração vítima de morte súbita, na sua casa
destacando a conhecida capacidade de económica, como a Zona de Comércio de Cascais, no passado dia 11 de
adaptação, de humildade, de engenho Livre do Continente Africano. Acérrimo junho. O seu inspirador percurso de
e de resiliência dos portugueses. defensor do investimento na educação vida constituirá sempre um exemplo
Ser português no além-mar, dizia, é dos jovens africanos, acreditava que para a atuação de todos aqueles que
cada vez mais sinónimo de qualidade África é um continente cheio de talento à pretendam, na vida, servir as causas em
nos mais diversos domínios. Para espera de oportunidades. que verdadeiramente acreditam.
Francisco Mantero, estas duas riquezas
de Portugal deveriam constituir os Durante o seu trabalho na CIP e na À família e amigos prestamos as nossas
pilares da nossa política económica BusinessEurope, as pessoas que lhe mais sinceras condolências.
externa, numa articulação aberta e eram mais próximas destacavam a sua
descomplexada entre as empresas e o liderança, simpatia e amizade enquanto Que descanse em paz.
Estado. qualidades inatas que colocava ao Nunca o esqueceremos. n

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