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onários e a promover a interação com clien- cisa se esforçar para competir nos mercados
tes estão transformando, da noite para o dia, globais, sem perder de vista as mudanças que
antigas empresas em modernos empreendi- ocorrem em outros setores e que terão im-
mentos e criando novos líderes de mercado. pacto decisivo na próxima década. É na con-
A queda das barreiras comerciais, o ali- corrência com os melhores que a habilida-
nhamento dos sistemas produtivos em gran- des, talentos, produtos e serviços de qualquer
des blocos econômicos e o fenômeno da glo- empresa podem-se tornar, de fato, competiti-
balização da produção e dos mercados vêm, vos.
paulativamente, mudando as estratégias de Estamos na Era da Informação, um mo-
ação das empresas. Maturada a partir de me- mento onde a comunicação e troca de expe-
ados da década de 80,-"na esteira do desen- riência também ganharam seu lugar e passa-
volvimento do comércio internacional e dos ram a ser o diferencial dos negócios. Hoje
avanços tecnológicos, a globalização econô- se aprende errando, ou melhor, se aprende
mica é uma realidade já suficientemente pal- com os erros dos outros. A mídia promoveu
pável para obrigar organizações a, gerir seus isso, ela entrou nas fábricas, trouxe a noti-
negócios balizadas pelos parâmetros da com- cia ao consumidor, apresentou aqueles que
petitividade, qualidade, produtividade e ex- fabricam a nossa pasta de dente preferida e
celência de gestão. hoje ela pode ser melhor, se assim quiser-
Independente do porte ou setor de ativi- mos.
dade da empresa, sua estratégia de opera-
ção deverá sempre levar em conta o obje- O segredo não é mais a alma do negócio,
tivo maior da chamada "vantagem competi- afinal, nós, consumidores de pastas de den-
tiva". Quanto mais valor agregado ao pro- tes, lasanha congelada e pizza semipronta
duto ou serviço oferecido ao mercado, mais queremos saber o que acontece lá no chão da
essa vantagem será convenientemente alcan- fábrica, queremos ver o que a empresa X ou
çada. E a comunicação joga nesse campo um Y promovem aos seus funcionários e à co-
papel fundamental: seja no sentido de pro- munidade de seu entorno. A concorrência
mover a coesão interna em torno da quali- quer saber o que está sendo feito na melho-
dade do produto, dos valores e da missão da ria da comunicação interna, pois bons resul-
empresa, seja no trabalho de aumentar a vi- tados devem ser copiados, devem ser com-
sibilidade pública da organização e na divul- partilhados. Esta é a mentalidade que vem
gação de seus produtos e serviços. Num ce- crescendo no mercado.
nário globalizado, a informação - e as formas A comunicação empresarial tem se mos-
de comunicar produtivamente essa informa- trado imprescindível no sentido de melho-
ção - revela-se uma arma poderosa de gestão rar a relação com seus públicos. A cultura
empresarial. Isso, se aplica tanto à comuni- do uso da informação como forma de gestão
cação interna e corporativa como às ações de traz resultados aparentes nas empresas que
fortalecimento da imagem institucional, re- já utilizam o processo. Exemplos como a
lações com a imprensa e governos, marke- Xerox do Brasil e a Rhodia, pioneira no as-
ting, propaganda e promoção. sunto, prova que desfiar o que há de melhor
A comunidade empresarial brasileira pre- no mercado mundial é o cantinho para aper-
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O segredo não é mais a alma do negócio 3
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4 Adriana Moreira
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O segredo não é mais a alma do negócio 5
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6 Adriana Moreira
identificar algumas das tendências no com- ber que alguns enunciados possuem a tessi-
portamento de fenômenos como o consumo, tura de uma tese, significando posturas mais
por exemplo. ou menos aceitas. Outros são apenas hipóte-
Embora contando com informações de vá- ses, ou suposições aceitáveis, no sentido de
rios tipos e com análises e relatos de múlti- poderem ser argumentadas. Mas há também
plas fontes, não pretendo discutir as teorias pontos de partida sem maiores rigores com-
existentes sobre o pós-industrialismo ou as probatórios, e mesmo gratuitos já que não
sociedades. Mas tentei construir um discurso posso arcar com o compromisso de elucidar
o mais autônomo e não redundante possível, definitivamente toda e qualquer afirmação.
integrando materiais e observações de várias
fontes, sempre citadas entre si.
Além disso, os dados, observações e refe- 3 Comunicação Empresarial
rências apresentados neste trabalho, na ver- Dois personagens são lembrados quando se
dade, não visam demonstrar, mas sugerir hi- tenta delimitar o período em que o consumi-
póteses, comprimindo idéias em um corpus dor passou a ser o centro das atenções. Afi-
de observação selecionado segundo as ques- nal, é ou não ele quem compra aquilo que
tões surgidas durante minha pesquisa e, sem produzimos? O término da época caracteri-
dúvida, não organizado em função de respos- zada pelo descaso e pela esperteza no trato
tas preconcebidas. com a clientela, foi capitaneada por empre-
A metodologia seguida neste trabalho, cu- sários como William Vanderbilt, o famoso
jas conseqüências específicas serão apresen- autor da frase “o público que se dane”, pro-
tadas no decorrer de seus capítulos, está a ferida ao ser inquirido por um repórter so-
serviço do objetivo abrangente de seu es- bre o que dizer às pessoas envolvidas num
forço intelectual: propor alguns elementos grave acidente com uma composição de sua
de teorias exploratórias da economia e da so- estrada de ferro. Ou ainda Phineas Barnum,
ciedade da Era da Informação, no que se re- proprietário do Circo Barnum, considerado o
fere, especificamente, ao empresariado e à príncipe da mistificação e o símbolo de uma
utilização das tecnologias de comunicação época ao afirmar: “A cada minuto nasce um
dentro dos propósitos da comunicação em- tolo e eu me aproveitarei dele”3
presarial. Globalização, público mais exigente, pre-
Apesar do capítulo 3 ser mais diretamente ocupação com o meio-ambiente, sindicatos
relacionado a processos específicos de trans- trabalhistas, esses são alguns dos fatores que
formação histórica nos vários contextos, ao fizeram com que as empresas atentassem
longo de todo o estudo, esforcei-me por al- para maiores investimentos em comunica-
cançar dois objetivos: 1 - fundamentar a aná- ção. Em tempos difíceis da economia, as
lise na observação, sem reduzir a teoriza- empresas precisam de saídas criativas para
ção ao comentário; 2 - diversificar o máximo resolver seus problemas, e a comunicação
possível as minhas fontes culturais de obser- toma uma importância muito grande, apare-
vação e idéias. cendo como alternativa para essa situação.
Visto que na produção científica nem tudo
3
ou se faz tem a mesma solidez, pude perce- Histórias sempre citadas sem referência física
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A empresa busca atingir a ideal performance Dentre os autores que discutem o assunto,
da comunicação provendo as pessoas de in- Roger Cahen (1 990) tem uma das mais cla-
formações corretas, no lugar certo, no tempo ras definições.
exato e na forma apropriada em todos os ní-
veis, áreas o setores. Teoricamente, aquela “Comunicação Empresarial é uma ativi-
que não desenvolve estas funções de forma dade sistêmica, de caráter estralégico, li-
adequada tende a perder visibilidade, trans- gada aos mais altos escalões da empresa
parência, oportunidades, novos canais de co- e que tem por objetivos: criar - onde
municação, negócios e, principalmente, cli- ainda não existir ou for neutra - manter
entes em potencial. - onde já existir - ou ainda, mudar para
Kunch (2000)4 sob o ponto de vista acadê- favorável - onde for negativa a imagem
mico, afirma que o uso da informação como da empresa junto a seus públicos priori-
ferramenta de gestão eficaz defendido pela tários”(1990 : 32)
Comunicação Empresarial possui, no Brasil, O ponto comum entre os diversos auto-
um agravante: além da dificuldade de imple- res é o fato de empregar o termo Comunica-
mentação de política de comunicação dentro ção Empresarial como sendo o conjunto das
das empresas, a produção nacional de Comu- práticas da construção da imagem de uma
nicação Empresarial ainda é escassa se com- empresa frente ao seu público interno e ex-
parada à americana. Marilene Lopes (2000) terno. Hoje esta preocupação apresenta-se
atribui tal escassez aos períodos de ditadura mais segmentada, o que deu surgimento a
e mercado fechado por quais o país passou técnicas específicas preocupadas com cada
nas décadas de 60 e 70. O mesmo não acon- público e seu papel na comunicação.
teceu com os países considerados de "Pri- O pioneirismo acadêmico coube a Gau-
meiro Mundo", onde há muito a comunica- dêncio Torquato que, em 1972, defendeu a
ção é utilizada pelas empresas de vanguarda tese de doutorado "Comunicação na empresa
como instrumento estratégico para atingir re- e o jornalismo empresarial". Uma outra im-
sultados de negócios. portante iniciativa deve ser ressaltada: a cria-
Aliás, o nosso país não tem a cultura ção da ABERJE - Associação Brasileira dos
de produzir "gurus"de gestão administrativa. Editores de Revistas e Jornais de Empresa,
Como afirmado por Kunsch: em outubro de 1967 durante o 1 Congresso
Nacional de Editores de Revistas e Jornais
“Pode-se dizer que não há no contexto de Empresa, realizado em São Paulo.
da realidade brasileira e até por que não O fruto das pesquisas que efetuou na área
dizer ibero-americana uma tradição e de comunicação empresarial foi o livro "Jor-
mesmo volume de conhecimentos acumu- nalismo Empresarial"(1985) que já na sua in-
lados capazes de formar um corpus teó- trodução sentencia:
rico de Comunicação Organizacional”.
“Um dos fenômenos mais característicos
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Palestra proferida durante o II Congresso Interna- das modernas sociedades industriais é o
cional ABERJE de Comunicação Empreasarial e Cor- crescente uso das funções de comunica-
porativa. São Paulo, março de 2000. ção para sobrevivência, desenvolvimento
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de uma das grandes invenções das telecomu- indica pontos de melhoria, opiniões e suges-
nicações. Possibilita o contato entre pessoas, tões de novos produtos e serviços.
empresas, universidades e todo o tipo de ins- Uma pesquisa realizada pelo IBOPE le-
tituições nos vários pontos do globo, jun- vantou dados que apontam 4,7 milhões de
tando diferentes culturas, permitindo a cri- consumidores pretendem acessar a Internet
ação de novos conhecimentos, trocas de in- ainda nos próximos seis meses. Levando em
formação, diálogos, entrevistas, conferência, conta que, também baseado nos números da
debates e encontros dos mais diversos tipos, pesquisa, a maior parte dos potenciais inte-
enfim, é a "mão na roda"para todo e qualquer mautas estão na classe A e B, ou seja, pes-
setor da sociedade. Acesso irrestrito a infor- soas com alto poder de compra. Mas um
mações, em tempo real e ao preço de uma dado alarmante deve ser levado em conta:
chamada local. daqueles que estão trabalhando, apenas 7%
Para as empresas, traz muitas vantagens, eram empresários, seguidos de 14% identifi-
já que reduz os custos de comunicação, per- cados como diretor e/ou gerente.6
mite estar contatável 24 horas por dia, as Apesar da pesquisa não tratar direta-
trocas e pedidos de informações são maio- mente da relação empresário/comunicação,
res e mais rápidos, e melhor ainda, possibi- ela aponta um número quase insignificante
lita a promoção de seus produtos sem gastos de representantes dos altos escalões das em-
como impressão de catálogos, envelopes, se- presas familiarizados ao meio digital. Seja
los. Permite ainda, assim que a empresa de- qual for o canal de comunicação escolhido,
sejar, fazer vendas através da rede. o importante é que envolva toda a organiza-
Visto por este prisma, realmente a Inter- ção, seja direto, regular e, sobretudo, perso-
net só traz beneficies e, com a sua chegada, nalizado.
a voracidade por estar "plugado"com as no- Em um programa estruturado de Comuni-
vas tecnologias fez surgir uma avalanche de cação Empresarial é seguido um modelo ade-
home-pages institucionais. Ter um site che- quado às necessidades próprias do cliente, o
gou ou a ser ponto de honra entre as empre- que assegura fluxos regulares de informação
sas, porém ainda falta, para algumas, atenção entre a organização e seus públicos, de forma
com o conteúdo destas novas portas abertas a a manter o equilíbrio do sistema/empresa.
seus públicos. Muitas delas não deixam a de- Sistêmico implica o fato de que a Comunica-
sejar e já oferecem serviços on-line - a exem- ção Empresarial preocupa-se com o conjunto
plo dos bancos, lojas de departamentos, su- visando um objetivo único, e não ações iso-
permercados e livrarias - mas a grande mai- ladas.
oria peca na objetividade e falta de informa- Para tanto, nos Departamentos de Comu-
ções sobre a própria história, seus produtos, nicação foram acrescidos profissionais de
seus empregados e serviços. marketing e relações públicas, hoje respon-
Deve ser ressaltado que, da mesma forma
6
que a empresa utiliza a Internet para ofere- A pesquisa foi realizada entre os dias 24 de
agosto e 6 de setembro de 2000 nos nove principais
cer informações sobre os seus produtos, ela mercados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
necessita estar preparada para extrair desse Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba,
convívio virtual, o feedback do cliente que Fortaleza e Distrito Federal.
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sáveis por atender às demandas internas e ex- vida e morte sobre a vitalidade econômica de
ternas não se prendendo apenas aos releases muitas comunidades e, negligenciando seu
e contato com a imprensa. A chegada das envolvimento, a empresa é forçada a enfren-
tecnologias de informação (as quais veremos tar as consequências.
mais detalhadamente no capítulo 3) trouxe A abertura das fronteiras econômicas e re-
consigo novas ferramentas e ’mais trabalho. tomo à liberdade de expressão nos anos 80
Ainda na lista de prioridades da comunica- aproximou jornalistas e empresários. Am-
ção são necessários profissionais especiali- bos descobriram interesses em comum: jor-
zados em "endomarketing”7 , assessoria de nalistas vislumbraram um mundo fascinante
imprensa, relações públicas, recursos huma- e rico em notícias e os empresários, desa-
nos, além de áreas adjacentes focadas na po- costumados com a presença dos repórteres
lítica da empresa em que atuam. foram, pouco a pouco, se abrindo ao diá-
As pequenas e médias empresas, despro- logo. Porém, como apontado por Carlos Au-
vidas de departamentos de comunicação e gusto Salles, presidente da Xerox do Brasil,
mesmo de planos de comunicação defini- para a maioria das empresas que operam no
dos, ainda encontram nas Assessorias de Im- país, até mesmo para algumas subsidiárias
prensa privadas, o meio mais conveniente e das multinacionais, persistia o medo de falar
cômodo de passar adiante suas filosofias e mais abertamente dos seus negócios. Preva-
manter contato com tendências e perspecti- lecia o receio de ser mal interpretado, de for-
vas do seu setor. Mas não é só isso. necer munição aos concorrentes e até mesmo
O cuidado e formação positiva da imagem de abrir flancos para uma muito temida inter-
empresarial devem ser permanentes visando venção governamental.8
o respeito tanto de seu consumidor, como de Paulo Nassar (1997) coloca as empresas
seus empregados. Como afirmado este pro- modernas como veículos de comunicação
cesso depende do constante apoio em estra- em si mesmas. A ver:
tégias de ações conjuntas, contínuas e disci-
plinadas. E cabe, ainda, ao grau de envolvi- “Na década de 80, era comum presiden-
mento do próprio executivo em tais ações. tes e diretores de empresas passarem por
Corrado (1994) prevê novos horizontes. media trainings. Atualmente, essa neces-
Segundo ele, as coisas mudaram e a ad- sidade continua presente, só que ampli-
ministração deve estar disposta a assumir ada para toda a organização”. (pg. 12)
o "risco"de comunicar informações. “Uma
das razões é a necessidade de reagir aos de- 3.1 Media training
safios do mercado público”. Realmente, tro-
Apontado como o primeiro passo em um
cas de executivos, fechamento de fábricas e
plano de comunicação, o media training in-
produtos fracassados não ficam mais entre
sere a primeira célula de conscientização da
as quatro paredes do escritório central. Os
importância que a comunicação exerce na
executivos e suas equipes exercem poder de
8
Carlos Augusto Salles em prefácio ao livro
7
Marketing interno desenvolvido por Relações “Quem tem medo de ser notícia’?” de Marilene Lopes
Públicas e Jornalistas (2000)
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provocar maior repercussão frente à Opinião tendimento do mercado em que cada em-
Pública. presa atua.
Villela (1998) aponta dois exemplos clás- Como citado por Mauro Salles no prefácio
sicos, onde a resposta não satisfez o con- do livro de Nemércio Nogueira:
texto. O primeiro é o do ex-prefeito de
São Paulo, Paulo Maluf, quando questionado “Se já não existe o ’no profile’ e se a
sobre a violência contra mulheres: “Estu- comunicação com os vários públicos -
pra, mas não mata!”. Isso vai ser sempre internos e externos - é cada vez- mais
usado contra ele. O seguinte é o do ex- essencial e valiosa no mundo empresa-
presidente da FIESP - Federação das Indus- rial, temos que entender que o gestor mo-
trias do Estado de São Paulo, Mário Amato, derno, o novo empresário, o novo execu-
quando teceu o seguinte comentário sobre a tivo, precisa ser um comunicador. Não
ex-ministra Dorothéa Werneck: “Apesar de dá mais para ser apenas um profissional
mulher, ela é muito inteligente” (ou um herdeiro ... ) treinado em finan-
Nogueira (1999) apresenta em seu livro ças, em tecnologia, em processos indus-
“Media Training - Melhorando as relações triais e comerciais. Se não entender o
da empresa com os jornalistas... de olho papel da comunicação no seu negócio e
no fim da Comunicação Social”, um com- se não fizer de seu posto ou de sua mis-
plexo diagnóstico sobre esta delicada rela- são uma plataforma de comunicação, ele
ção existente entre a imprensa e a empresa. certamente vai ter dificuldades. E estas
Em seu estudo, baseado em seu próprio tra- não poderão ser corrigidas por exces-
balho frente à empresa R.P. Consult, ele dis- sos de delegação ou pela velha prática
cute desde as expectativas dos jornalistas e que acredita que a boa comunicação de-
sua função social, até os novos paradigmas pendia apenas de sorrisos e tapinhas nas
da comunicação e seu impacto sobre a ima- costas” (Nogueira, 1999: 15)
gem empresarial.
Partiremos aqui da compreensão do au- A procura por este tipo de "capacita-
tor sobre a comunicação empresarial como ção"tem se dado também devido à crescente
sendo o “conjunto de técnicas através das sofisticação organizacional, além do surgi-
quais a empresa ou entidade se relaciona mento de grandes companhias fruto de fu-
institucionalmente com os diversos ’públi- sões, onde a figura do porta-voz perde a sua
cos’, ou setores da opinião pública, que lhe importância. A interface com a imprensa au-
são relevantes “ (Nogueira, 1999: 27) menta, o fluxo de informação exige o pronto
O grande alerta é, sem dúvida, com re- atendimento e entendimento com a mídia.
lação à atualização e acúmulo de conheci- Uma das questões que em muito preocu-
mento em sua área de atuação. Informações pam os profissionais de Comunicação Em-
sobre tecnologia, finanças, mercado, pesqui- presarial e, inclusive, uma das mais coloca-
sas de consumidor e internas, aceitação de das pelos responsáveis por cursos de media
produto e, principalmente, comunicação são training é a existência das "demandas positi-
as mais apontadas na literatura administra- vas"e as "demandas negativas"de notícias na
tiva como sendo alicerce para o devido en- imprensa sobre determinada empresa, esta
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Continuando com Brum (1998), vale lem- reconstrução da imagem do veículo que, por
brar que a informação oficial, dentro da em- pouco, não foi destruído. Uma maior aten-
presa, é de domínio da direção. Cabe à di- ção ao trabalho preventivo de comunicação
reção o envio, ou não, de determinada deci- interna teria poupado muitos destes gastos.
são que, mais tarde, transformada em infor- Duas estratégias básicas são relacionadas
mação para a base da pirâmide. A demora ao endomarketing segundo o trabalho de
no envio desta informação pode ocasionar o Analisa Brum (1998). A primeira foca a vi-
que a autora denomina “entropia da informa- são da direção com os propósitos e objeti-
ção”, um dos fatores que em muito desmo- vos da Organização. Um exemplo comum
tiva o funcionário. são os programas de mudança de cultura in-
terna visando modificar a atitude de seus fun-
“A realidade e o alcance da entropia
cionários buscando compromisso e lealdade
da informação, como é chamado este
com os princípios da empresa. A segunda
processo, foram estudados pela moderna
estratégia diz respeito à tarefa, focando a co-
psicologia experimental. Uma informa-
municação de questões específicas quanto ao
ção que é transmitida de boca-em-boca,
trabalho em si. Inclui ainda a coleta de opi-
por um certo número de pessoas, sofre
nião dos funcionários sobre maneiras de me-
alterações cumulativas ao longo do ca-
lhorar desempenho e novas formas de traba-
minho. A falta de canais e instrumentos
lho. Neste caso, os objetivos estão direta-
oficiais de comunicação interna deter-
mente relacionados à eficiência dos métodos
mina o cenário adequado para que a en-
de produção.
tropia da informação atue, provocando
A autora relaciona estes dois pontos a am-
uma opinião interna negativa e contrária
bientes saudáveis de entrosamento entre di-
aos objetivos da empresa “(1998:31)
reção e funcionários: “Vivemos o fim da
Quando as denúncias de irregularidades - revolução e a era da reinvenção da mu-
um dos maiores fantasmas dos departamen- dança pacífica. Isso significa que somente
tos de comunicação - parte dos próprios em- num clima favorável é possível gerar novas
pregados, se instaura o caos, pois, fundamen- idéias, fomentando novas descobertas, es-
tadas ou não, seu poder de influência é muito truturas e dimensões sociais”(1998:7)
maior se partisse de outros setores da opinião Um exemplo desta política é notada na Pa-
pública. Mas mesmo que este tipo de atitude namco, maior engarrafadora da Coca-Cola
não saia dos muros das empresas, ainda em no país. Seu diretor, Marcos Povoa, não só
forma de boatos podem levar instituições e se interessa genuinamente pela opinião dos
produtos à ruína. clientes, como se tornou pró-ativo ao atacar
Há poucos anos um caso foi constatado no o cerne dos problemas através do apoio de
Brasil com uma grande montadora de veícu- seus funcionários. Em experiência recente,
los, quando, por falta de informação e diá- convocou os funcionários através de comu-
logo, funcionários comentaram com amigos nicado geral a lhe enviar um e-mail caso ve-
e parentes a suposta saída de um modelo das rificassem algo de errado com os produtos
linhas de montagem. À empresa restou ape- da companhia nos supermercados que cos-
nas investir em intensas campanhas para a tumam freqüentar. Povoa completa: “O fato
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era que muitas pessoas notavam coisas erra- o número de empregados é bem maior e as
das, como por exemplo, a má disposição ou negociações sindicais a levaram à modifica-
a falta de um produto na prateleira. Muitas ção da mentalidade interna.
queriam contar o que viam, mas não sabiam A informação deste tipo de campanha
a quem recorrer”. também pode vir alicerçada no treinamento,
A iniciativa encontrou eco na empresa e a quando os funcionários crescem junto com
participação de pessoas mostrou-se maior do a empresa que lhes proporciona o cenário
que a esperada. Os comentários têm ajudado adequado para que possam entender a padro-
na identificação de todo o tipo de problema nização dos serviços como uma decorrência
em um tempo bem menor.13 de fatos reais, comum àquelas que desejam
A criação deste espírito de "inteligência voltar-se para o mercado. São criados no-
grupal"depende da iniciativa da própria em- vos canais de disseminação dos novos pa-
presa em descobrir, num primeiro instante, drões, trabalhada a imagem da empresa in-
aquilo que motiva o funcionário. Reconhe- ternamente e recolhidas sugestões e contri-
cer publicamente um trabalho bem feito, ve- buições dos funcionários para melhorias in-
rificar se o funcionário possui as melhores ternas relacionadas com o cumprimento dos
ferramentas para realizar a função que lhe foi novos padrões de serviços e da nova cultura
atribuída, enfatizar o compromisso da em- de atendimentos propostos. Este tipo de si-
presa com a manutenção do emprego e, até tuação é muito comum quando as empresas
mesmo remunerar as pessoas de forma com- procuram a Certificação ISO 9002.
petitiva, são fatores que contam muito na
motivação do empregado. Da mesma forma,
3.3 Exomarketing
atitudes desatentas, como oferecer a mesma
recompensa, todos os anos, independente do Agregar valor ao negócio também é isso,
desempenho individual, usar de ameaças e pessoas felizes produzindo, pessoas felizes
coações para que a tarefa seja realizada, tra- lucrando e pessoas felizes consumindo.
tar os funcionários de forma burocrática, pre-
judica qualquer programa de gestão. “Exomarketing é, portanto, uma estraté-
Discussões sobre o assunto nas publica- gia de comunicação externa que se uti-
ções empresariais evidenciam que profissio- liza das ações e instrumentos de endo-
nais especializados em endomarketing ainda marketing como conteúdo”14
são poucos, o trabalho, hoje, cabe aos depar-
tamentos de comunicação e de recursos hu- Este novo conceito nasceu dos excelentes
manos que, juntos, já desenvolvem campa- resultados obtidos com a comunicação in-
nhas na área. terna. Se antes ver funcionários trabalhando
A indústria é o segmento da economia bra- felizes e ter a produção garantida era motivo
sileira que mais desenvolve trabalhos em ní- de alívio aos executivos, por que não apro-
vel de comunicação interna, mesmo porque veitar do sucesso e mostrar ao público ex-
terno quão boa é a sua empresa?
13
Matéria intitulada “Ouça o que ele diz” - Você
14
S/A edição 21 - março de 2000 pg. 32-41 (Brum, 1998:175)
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Em outras palavras, mais este recurso vem A receita do exomarketing é simples e foi
para reforçar as estratégias de marketing ex- concebida no próprio dia-a-dia das empre-
terno, tão perfeitas e eficazes foram as ações sas que quiseram expor o que possuem de
de endomarketing. melhor em sua estrutura interna. “O exo-
A autora cita a Azaléia, uma empresa gaú- marketing serve exatamente para que os em-
cha de calçados, que publicou na Veja - re- presários possam mostrar a evolução das
vista de maior circulação do país - um anún- suas relações com o público interno” (Brum,
cio de página inteira para falar da creche que 1998:177)
mantém para os filhos de seus funcionários.
“Essa empresa pratica há muitos anos o 3.4 “Portas Abertas”
exomarketing. Além de desenvolver um O primeiro modelo prático que uniu todas as
trabalho vitorioso junto ao público in- técnicas e os aplicou à empresa foi o Portas
terno, faz com que toda a sociedade em- Abertas, hoje um livro homônimo ao case
presarial e a comunidade na qual está in- que revolucionou a multinacional Rhodia,
serida acompanhem o seu esforço e sin- além da própria comunicação empresarial no
tam orgulho de suas ações” (1998 : 153) Brasil, implantando a cultura de que a em-
Ações em endomarketing podem ser sim- presa possui o direito de escrever artigos para
ples, como apresentar painéis frente às pró- jornais, defender pontos de vista que possam
prias empresas com resultados obtidos pelos vir a interessar não apenas a empresa, mas
funcionários, resultados de jogos internos, a opinião pública, abordando assuntos como
vídeos institucionais exibidos nas recepções, educação e meio ambiente.
locais por onde passam fornecedores, clien- “A Rhodia abandona o low-profile que
tes e outros visitantes. caracterizou, no passado, as suas rela-
Esse modelo pode ser encontrado também ções com o público, para adotar uma
em um grande número de anúncios gráfi- postura de portas abertas, receptiva ao
cos, publicados em jornais e revistas com debate, por considerar o risco de omis-
chamadas de abordagem interna, mas que são mais grave do que o representado
vem causando muita simpatia do público ex- pela defesa de pontos de vista “ (Nori,
terno. Como exemplo podem ser citados 1991:63)
o do BankBoston “Para conquistar clien-
tes, primeiro conquistamos nossos funcioná- Façamos uso de um dos pontos defen-
rios”, o da Nestlè “Poucas empresas são didos no plano de comunicação da Rhodia
sinônimos daquilo que fazem” ou ainda o da para exemplificar que, há muito o empresário
Brasmotor “Uma organização formada por deve estar apto a responder às mais variadas
pessoas jurídicas, pessoas físicas e, sobre- questões, mesmo fora de sua empresa: “Se
tudo, pessoas felizes”. Cada qual com seu um empresário que se fazer ouvir na defesa
apelo gráfico, estes anúncios geralmente se de interesses de sua empresa é imprescindí-
apresentam com a figura de um funcionário vel que ele tenha autoridade e prestígio junto
devidamente fardado, sorridente e cheio de à opinião pública, o que só é alcançado por
disposição. meio da comunicação” (1991:68)
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Um empresário bem informado tem com- tão sendo redefinidos. Agora, o mundo
petência para defender os seus interesses e inteiro sabe de um acontecimento logo
os da empresa. Deixar de compartilhar a depois (ou mesmo, enquanto) ele acon-
sua posição com a mídia/público é falho à tece. E, como as más noticias imigram
imagem que, no final das contas, agrega va- tão depressa quanto as boas, as empre-
lor ao seu negócio. “Uma boa imagem pro- sas e organizações precisam planejar a
voca reflexos positivos sobre os negócios de maneira de lidar com a mídia nas situa-
uma empresa à medida que fortalece o mar- ções difíceis. Não usufruem mais da an-
keting„ melhora o relacionamento com os tiga defasagem do tempo de informação
clientes, fornecedores, funcionários e auto- “ (1990:159)
ridades” (1991:21)
A comunicação deve ser permanente, in- Neném Prancha, criatura imortal citada
dependente do comportamento do mercado pelo jornalista João Saldanha, dizia que o pê-
ou, na teoria do "Portas Abertas", o empresá- nalti é tão importante que deveria ser batido
rio, embasado na Comunicação Empresarial, pelo presidente do clube. A comparação é
deve estar apto a motivar equipes, difundir fi- valida: a comunicação empresarial é, hoje,
losofias empresariais e transmitir valores nos tão fundamental que deveria envolver direta-
quais acredita. Para tanto, precisa estar mu- mente os presidentes das empresas. (Nassar,
nido de informações sempre. 1995 : 19)
Tais informações eram, no caso da Rho-
dia, fornecidas e filtradas pelo “Núcleo de “Estudo recente da revista Fortune mos-
Pesquisa de Mercado", vinculado ao Depar- tra que os principais executivos das 500
tamento de Marketing. O núcleo era respon- maiores empresas norte-americanas já
sável pela coleta sistemática de informações investem, aproximadamente, 80% de seu
junto aos públicos interno e externo da em- tempo em Comunicação. Esse percen-
presa. Estas informações eram então corre- tual envolve atividades que vão da leitura
lacionadas a fatos direta ou indiretamente li- de correspondências e clippings, atendi-
gados à condução dos negócios da empresa. mento de telefonemas, a encontro com
Sua função era analisar e transformar estes acionistas, jornalistas, autoridades e cli-
dados em informações que auxiliassem na entes. O mais interessante desse es-
análise e tomadas de decisão. tudo é a percepção de que a comunica-
No caso da Rhodia, à comunicação cabia a ção empresarial deixa de ser responsa-
função de exercer vigilância sobre o contexto bilidade de uma área de especialistas -
de seus públicos - interno e externo - para jornalistas, relações publicas e publicitá-
só então agir de forma eficaz. E isso levava rios - para se tornar uma atribuição es-
tempo, o que hoje é falta grave, como explica tratégica permanente e administrada por
Cohen (1990): quem tem o leme de uma organização”15
15
Paulo Nassar em artigo intitulado “Management
“O mundo está ligado às comunicações na Comunicação Empresarial”. disponível no site da
como nunca esteve antes. Com isso, Associação Brasileira de Comunicação Corporativa
nossos conceitos de tempo e espaço es- (Aberje): http://www.aberje.com.br
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O segredo não é mais a alma do negócio 19
Nori lembra que a comunicação, desde deias, colônias, terra cultivada e um novo
que funcionando como um canal estruturado modo de vida.
de informações, tem o poder de chamar a Utilizando analogia para exemplificar as
atenção do público. Apresentando os pontos mudanças causadas pela comunicação e o
de vista da empresa sobre economia, política uso adequado da informação, voltamos à Re-
e ecologia, por exemplo, a visibilidade pre- volução Industrial, que criou deslocamentos
tendida é atingida. “Uma empresa não faz e transformações sem precedentes à socie-
um bom trabalho e não colhe resultados ape- dade da época, há cerca de 150 anos atrás. O
nas com uma rotina honesta dentro de suas exemplo é comum entre pesquisadores que
próprias fronteiras” (Nori, 1991:17) vêem nestas duas "revoluções- a Industrial e
Especificamente no caso da Rhodia, vale a da Comunicação - aspectos comuns e ins-
lembrar que este histórico plano de comu- trutivos. Assim como ainda não temos idéia
nicação social era adequado à época e con- do que o futuro nos reserva com a Internet,
dições sociais e empresariais do Brasil em não se imaginava que a industrialização trou-
1985, com o fim do governo militar e o cres- xesse consigo tantas mudanças adjacentes,
cimento da liberdade de expressão. como o aumento populacional nos centros
urbanos, por exemplo. A agricultura perdeu
a força, mas nem por isso desapareceu.
4 Sociedade da Razão Eletricidade, máquina a vapor e organiza-
Os revolucionários da Antiguidade preconi- ção científica, estes são os principais pontos
zavam a reforma agrária e a partilha de ter- que o sociólogo Domenico de Masi acres-
ras. Os da era industrial visavam a prosperi- centa à razão no advento da industrialização.
dade dos meios de produção. Hoje, é sobre Aliás, a versão da Revolução Industrial nos
o conhecimento que repousam a riqueza das livros escolares é uma narrativa de invento-
nações e a força das empresas.16 res e invenções: James Watt, Eli Whitney,
Mais do que chaminés e linhas de monta- Tomas Edison. Mas a idéia mais importante
gem, a Revolução Industrial apareceu como foi o acúmulo de capital. Essas primeiras fá-
um sistema social rico e multifacetado mu- bricas prosperaram não por serem superiores
dando aspectos sociais e substituindo anti- às oficinas dos artesãos em termos do que
gos paradigmas da "Era Rural", ponto deci- produziam ou da eficiência com que traba-
sivo para o desenvolvimento social humano. lhavam - ou seja, produção por hora - mas
Antes da "Primeira Onda"de mudança, onde porque os obstinados proprietários das fá-
a maioria dos seres humana vivia em pe- bricas pagavam menos pelo trabalho do que
quenos grupos, freqüentemente migradores, os artesãos-proprietários teriam pagado a si
e alimentavam-se pilhando, pescando, ca- mesmos e embolsavam a diferença. Assim,
çando ou pastoreando. Em algum ponto, eles acumulavam capital para investir em ex-
aproximadamente há dez milênios, come- pansão, ao mesmo tempo em que as melho-
çou a revolução agrícola, que avançou len- rias em transporte - estradas pavimentadas,
tamente através do planeta, espalhando al- ferrovias, barcos a vapor - tornaram factível
a produção de bens que seriam consumidos
16
(15 - Levy, 1995 : 24 cit Laruccia. 2000 :3) por clientes distantes, não apenas pelos vizi-
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O segredo não é mais a alma do negócio 21
e a menor custo. Um ciclo contínuo: méto- cial é atribuída, primeiramente, aos estudi-
dos estandardizados para fazer produtos es- osos, os quais partem da observação de as-
tandardizados, vendidos a preços estandardi- pectos singulares de transformação. Dois
zados. marcos são observados tendo a indústria
A racionalização imposta pela indústria como referência: o surgimento da "socie-
consistia na programação da produção atra- dade industrial", por volta de 1850, e em
vés da criação de linhas de montagem e, se- 1950, o nascimento da "sociedade pós- in-
gundo as leis ditadas por ela, grande parte dustrial"quando Bell e Touraine baseiam te-
escritas e aperfeiçoadas por Taylor17 , defen- orias desse que seria um novo sistema global.
dem que a fabricação do produto em série é Sobre as formas grotescas de racionaliza-
mais lucrativo. A economia é então comple- ção da produção, Taylor é categórico quando
tamente reestruturada, da planificação à pro- afirma que cada trabalhador "deve"repetir
dução e às vendas. por várias (milhares) de vezes por dia, um
Uma das características da sociedade in- só gesto nas linhas de montagem.
dustrial “clássica” era o seu mercado. Nele Em 1936, Charles Chaplin ironiza tal for-
a oferta era muito inferior à procura. O mo- mato no filme “Tempos Modernos”, onde é
delo industrial era orientado para o produto, engolido por engrenagens gigantes devido ao
ou seja, a empresa produz bens e valores de- fato de não ter tido a “capacidade” de manter
pois os impunha à sociedade. a velocidade ao apertar os parafusos que lhe
O consumidor desta sociedade, até então cabiam.
deslumbrado com a personalização dos pro- A imagem símbolo do capitalismo, apon-
dutos, adquire, como denominado por Mais tado por Marcos Dantas (1996) como uma
(2000), um gosto “standard”. Ford em muito fábrica esfumaçada onde o trabalho parecia
contribuiu para isso quando, em 1908 lança o indissociável daquela do operário chaplini-
seu Modelo T, um automóvel preto, sucesso ano de macacão azul parecia, para o autor,
de vendas entre os aristocratas, graças ao slo- uma forte confirmação do “rigoroso traba-
gan: “Os americanos podem escolher carros lho de Marx”, o qual parecia ter ficado sem
de qualquer cor. Desde que sejam pretos". seqüência na análise do processo de produ-
Nasce a massificação do gosto sem contesta- ção:
ção.
As teorias sociais possuem posições dife- “Como as questões teóricas tinham sido
rentes frente ao conflito, a transição de sis- brilhantemente desenvolvidas e o movi-
temas de trabalho, produção, além de fato- mento geral da produção confirmava al-
res propriamente sociais, como o comporta- gumas das previsões [de Marx], pare-
mento e a divisão (ou ascensão) de classes cia desnecessário retomar estudos empí-
levam à defesa sob prismas diferentes. ricos. No máximo, vigorou a assertiva de
A percepção de mudanças na estrutura so- que o capitalismo analisado por Marx,
17
continuava praticamente o mesmo. Os
Frederick Winslow Tavior era engenheiro indus-
trial a fundou a chamada “Administração Científica” . desdobramentos materiais na sua evolu-
Para Taylor, concepção e execução não podiam ser de- ção histórica não teriam alterado uma li-
sempenhados pela mesma pessoa dentro da empresa. nha do que tinha sido descrito na Seção
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22 Adriana Moreira
4 de O capital. A matriz constitutiva era afirma que Marx em seu livro “O Capital”,
tomada como imutável e a análise crítica não faz citação ou sequer tece explicações
foi dirigida para outras dimensões do detalhadas sobre o que seria a função social
sistema (...). A esquerda clássica tinha das comunicações e seu papel social como
como horizonte próximo o colapso ma- força produtiva. Como explica:
croestrutural do capitalismo, ignorando
a criatividade e a capacidade empresa- “ O fato Marx ter baseado sua análise
rial de agenciar a produção sob formas da acumulação capitalista na apropria-
mutantes”. (Cattani, 1995 : 18 cit Dan- ção da mais-valia da força de trabalho
tas : 29) simples obscureceu a importância, ou o
valor, que o capital sempre deu à infor-
Dantas (1996) arrisca acrescentar que o mação. Já no século XIII, os banquei-
"pouco caso"da esquerda clássica também ros e grandes comerciantes sustentavam
tenha sido alheio às dimensões produtivas redatores profissionais nas diferentes ca-
gerais da indústria da informação que cres- pitais e mediterrâneas para que, perio-
cia paralelamente aos complexos metalúrgi- dicamente, lhes enviassem relatórios so-
cos tayloristas e fordistas. bre fatos políticos, bélicos ou comerciais
Tido as tecnologias de informação da que pudessem afetar os negócios. Nesses
época (telégrafo, rádio, cinema, entre ou- relatórios encontra-se a origem remota
tros) foi desconsiderada a hipótese que es- deste moderno jornalismo” (1996:34)
tas podiam, não só gerar empregos cada vez
mais qualificados, como fomentar uma in- Mattelart (1999) reafirma e insinua o em-
dústria de bens de capital tecnologicamente brião da comunicação empresarial como pre-
sofisticada. Acrescido às técnicas encontra- sente na Era Industrial, pois com os no-
se ainda o fato de funcionar como formado- vos paradigmas de trabalho e organização
res de hábitos de consumo necessários à ex- social trazidos pela industrialização, nascia
pansão de uma produção capitalista material a necessidade de gestão da multidão hu-
crescentemente mediatizada. mana. Atrelado a isso, a Revolução Indus-
Quem estuda a história da comunicação trial funde-se com o desenvolvimento das
para entender a sua utilização como forma- primeiras concepções de uma ciência da co-
dora de imagem nas organizações institucio- municação. Como citado pelo autor: “A
nais chega ao século passado e vê o quanto comunicação contribuiu para a organização
foram escassas as formulações e interven- do trabalho coletivo no interior da fábrica
ções dos socialistas e dos movimentos demo- e na estruturação dos espaços econômicos”
cráticos nessas questões. Salvo estudos fei- (1999 :12)
tos pela Escola de Frankfurt, desde a década Dantas (1996) atenta, ainda, ao desinte-
de ’30. Porém, conforme afirmado por Dan- resse notado pelas principais correntes da
tas (1996), não passavam de estudos acadê- economia e da sociologia do século XX
micos ineficazes na prática política coerente quanto ao assunto. Realmente, os poucos es-
e eficaz. tudos não influenciaram as proposições polí-
Continuando com Dantas (1996), este ticas de então, em especial as de cunho revo-
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O segredo não é mais a alma do negócio 23
lucionário que, calcadas na crença da "que- Ainda usando de Marx, onde “a produção
bra do capitalismo", nunca chegaram a as- é imediatamente consumo e consumo é ime-
sistir a tal "revolução do proletariado fabril". diatamente produção”18 , sua idéia de “ofi-
Tudo foi remetido para a superestrutura" cina” - esta compartilhada com Smith - cai
A lógica apresentada pelo autor para por terra quando a sociedade passa a se orga-
demonstrar a introdução da informação nizar, tanto para produzir quanto para con-
(ou mérito) dentro da indústria capitalista sumir bens materiais mais distantes das ne-
fundamenta-se na saída do homem da fábrica cessidades humanas básicas (comer, dormir,
não pelo merecimento, mas expulso pela me- vestir-se).
canização das linhas de montagem. Traduzindo o pensamento de Dantas
(1996), a palavra “consumo” está subtendida
e passa a fazer parte do cotidiano do “indi-
“a medida em que a produção material
víduo social”, o qual é adestrado para se in-
imediata se mecanizava e se automati-
corporar a uma rotina produtiva qualquer e,
zava, o trabalho vivo se distanciava da
ao mesmo tempo, ser construido para dese-
produção direta; o conhecimento objeti-
jar usar o produto que, socialmente, ajudou a
vado por aquele trabalho incorporava-
fabricar.
se na produção direta como ’trabalho
morto’, congelado nas formas e mo- “Em seu desenvolvimento recente, o ca-
vimentos dos sistemas de maquinaria. pitalismo transformou o processo de pro-
Desde então, o que a grande maioria das dução cultural. A produção cultural
pessoas vem produzindo em seu traba- tornou-se crescentemente indistinguível
lho é ’informação social’. Registrada em da produção industrial, e as indústrias
patentes de produtos ou processos; co- culturais tornaram-se locus de grande
municada em relatórios, protótipos, de- expansão e alta lucratividade” 19
senhos, painéis de controle de máqui-
nas(...) posta nas muitas formas através Daniel Bell (1973) apresenta a tese afir-
das quais possa ser socialmente gerada, mativa de que “no decorrer dos próximos
registrada e comunicada, a informação ’30 ou 50 anos” surgiria a chamada “Soci-
tornou-se objeto imediato de trabalho na edade Pós-industrial” com nuances a depen-
maioria dos indivíduos” (1996:30) der das diferentes configurações políticas e
culturais. Dessa forma, todas as tese/autores
Seguindo o seu raciocínio, a evolução aqui apresentados são unânimes na prerroga-
do uso do conhecimento empresarial, por tiva de que o Estado, como também a cultura,
exemplo, traduz-se no executivo que passa a em muito influenciaram, junto à indústria, na
basear-se em cálculos financeiros para men- mudança das estruturas sociais que, acres-
suração dos resultados de seus planos de pro- cida à importância da economia em transfor-
dução material, por exemplo. É a racionali- mação e o papel do conhecimento teórico de-
zação dos meios de produção, e o meio en- terminaram a mudança e seu ritmo.
contrado para o processamento da informa- 18
(Marx, 1974 : 115)
19
ção dos meios produtivos. (Schiller, 1996: 77 cit. Dantas, 1996: 31)
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24 Adriana Moreira
Masi (2000) defende o surgimento da so- das matérias primas da natureza. Em seu
ciedade pós-industrial em sua teoria do ócio ritmo de vida e organização do trabalho,
criativo, onde o futuro pertence a quem dei- a sociedade industrial é a característica
xar de pensar no trabalho como obrigação, que define a estrutura social - isto é, a
vislumbrando a necessidade de se “aprender economia, o sistema ocupacional e sis-
trabalhando” ou, em outras palavras, apos- tema de estratificação - da moderna so-
tar na congruência entre trabalho, tempo li- ciedade ocidental. A estrutura social, tal
vre e estudo, este contínuo. O conceito de como eu a defino, distingue-se analitica-
ócio no trabalho do autor deve ser enten- mente das duas outras dimensões da so-
dido de acordo com o real sentido da pala- ciedade: a forma de governo e a cultura”
vra, e Masi (2000) faz uma alusão ao sen- (1973:10)
tido empregado quando volta à Grécia e cita
os estudiosos, responsáveis pelas expressões Cabe citar que Bell (1973) identificou
mentais a exemplo da política e da filosofia, cinco “princípios axiais” desta nova socie-
como ociosos, já que a tarefa de “suar” cabia dade. Em primeiro lugar, a passagem de bens
às classes menos favorecidas, responsáveis à produção de serviços. Em segundo, a cres-
pelo trabalho braçal. ócio aqui não possui o cente importância da classe de profissionais
mesmo sentido negativo que comumente em- liberais e técnicos, em relação à classe ope-
pregamos. A ver: rária. Em terceiro, o papel central do saber
teórico. Em quarto lugar, o problema relativo
“... o ócio criativo não é ficar parado à gestão do desenvolvimento técnico (a tec-
com o corpo, ou uma ação corporal não nologia tomou-se tão poderosa e importante,
obrigatória. O ócio criativo é aquela tra- que não pode mais ser administrada por in-
balheira mental que acontece até quando divíduos isolados e, em alguns casos-limite,
estamos fisicamente parados, ou mesmo nem mesmo um só Estado). Em quinto, a
quando dormimos à noite. Ociar não sig- criação de uma nova tecnologia intelectual,
nifica não pensar. Significa não pensar ou seja, o advento das máquinas inteligentes,
regras obrigatórias, não ser assediado que são capazes de substituir o homem não
pelo cronômetro, não obedecer aos per- só nas funções que requerem esforço fisico,
cursos da racionalidade e todas aquelas mas também nas que exigem um esforço in-
coisas que Ford e Taylor tinham inven- telectual.
tado para bitolar o trabalho executivo e Baseado nas observações empíricas de
torná-lo eficiente” (2000:223) Bell (1973), para o qual, já em 1956 o nú-
mero de trabalhadores do setor terciário, isto
Bell (1973) reafirma: é, o setor que oferece serviços, superou a
soma do número de trabalhadores do setor
“A sociedade industrial organiza-se em industrial e agrícola, Mais (2000) profetiza a
torno do eixo da produção e da maqui- decadência contínua do trabalho (aqui visto
naria, para a fabricação de bens; a soci- sob a ótica industrial, ou seja, mecanizada)
edade pré-industrial fica na dependência e no aumento da dedicação ao que ele deno-
da força bruta de trabalho e da extração mina “ócio criativo”. Assim sendo, foca seu
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mostra a grande quantidade de dúvidas so- desde que relacionadas com suas atividades,
bre termos como “Gestão do Conhecimento” desenvolvem-se novos tipos de estruturas,
e “Capital Intelectual”. Da mesma forma, muito mais ágeis, graças à eficiência do fluxo
o que caracteriza o atraso de muitas empre- de informações dentro da empresa. Tal es-
sas na implantação de políticas de comuni- trutura, mais democrática e dignificante, por
cação interna através das tecnologias de in- valorizar o cérebro e não os músculos dos
formação é justamente a confusão que as di- trabalhadores, torna-se possível com a utili-
retorias fazem com os dois termos dando- zação da TI para automatizar processos de
lhes o mesmo significado. O que deve ser produção, manipulando e gerenciando infor-
entendido é que os termos são dependen- mações.
tes: um proporciona ganho, o outro viabiliza, Justamente por muitas dessas atividades
nesta ordem. Em conseqüência, seu esforço não estarem intrinsecamente ligadas ao pro-
para aumentar a lucratividade da informação duto ou serviço, normalmente o gerencia-
concentra-se em cortar custos da tecnologia mento de informação é considerado como
da informação. despesa e não como custo pelas empresas,
o que torna sua justificativa muito mais di-
“Seria muito mais eficaz focar-se em fícil, por parecer, à primeira vista, um gasto
aumentar a produtividade do gerencia- improdutivo.
mento da informação, que é algo bas- Graeml (2000) afirma:
tante amplo, envolvendo todas as ativi-
dades de alocação, simplificação ou re-
“ informática já não é apenas um cen-
dução de custos de processos de informa-
tro de dados para processar transações,
ção, ou atividades que aumentam a efi-
manter o registro dos estoques e emitir
cácia e qualidade, independentemente de
folha de pagamento. A TI passou a ser o
os processos envolverem TI.” (2000 : 36)
quarto principal recurso disponível para
Isso inclui a coordenação de fornecedores, os executivos, depois das pessoas, do ca-
funcionários e clientes em tarefas de geren- pital e das máquinas” (2000:20)
ciamento, treinamento, aconselhamento, co-
ordenação, registro e relatórios tarefas essas Baseado nas teorias de Hammel (1995),
que não estão diretamente relacionadas com o qual prega a idéia de que os esforços de-
a produção ou entrega de produtos ou servi- vem ser concentrados nas competências cen-
ços ao consumidor. trais, “vivemos em um mundo descontínuo-
Com o banimento definitivo dos precei- um mundo no qual a digitalização, a des-
tos tayloristas21 e com o estímulo para que regulamentação e a globalização estão mu-
todos participem da tomada de decisões, dando profundamente o cenário industrial”.
21
Stewart faz uma ressalva quanto ao taylorismo: complexo e encontrar formas de melhor executá-lo de
“A essência do taylorismo não é apenas o trabalho forma mais simples, mais fácil e melhor. Hoje está na
duro, a repetição constante e descrições de cargos moda desprezar Taylor, mas é importante lembrar que
limitadas. O talento de Taylor foi estimular a apli- a Administração Científica foi um grande avanço, não
cação do conhecimento e não só do chicote pela ge- apenas em termos de produtividade, mas também em
rência: aplicar capacidade intelectual ao trabalho termos de dignidade do trabalho” (1998 : 45)
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Tratando o assunto de forma mais obje- de crescimento, que gera uma forte expecta-
tiva, o que realmente importa é como este tiva de lucro.
conhecimento é adquirido e como pode ser Sob uma ótica diferenciada, esta situação
utilizado de maneira que venham a agregar poderia ser atribuída a ativos invisíveis, ou
valor suprindo as necessidades da empresa. intangíveis. Em muitas companhias, a im-
Para tanto é preciso visualizar a empresa portância de seus ativos intangíveis supera a
apenas em termos de conhecimento e fluxos de seus ativos contábeis. Mas ainda, a rela-
de conhecimento, uma concepção bem dife- ção de valor entre ativos intangíveis e os ati-
rente dos paradigmas da era industrial, pois vos contábeis tem se tornado cada vez maior.
a fábrica criava valor a partir de bens materi- A dimensão do problema é entendida com
ais, movimentando-os dos fornecedores para facilidade se observarmos que a informa-
a fábrica, e dela para os consumidores. A ção detida por uma empresa, ou melhor, co-
agregação de valor se dava pela adição de re- locado, o conjunto de seus conhecimentos,
cursos como energia e mão de obra. vem crescendo exponencialmente.
É inegável que as empresas de hoje Um modelo bastante difundido são as
vem experimentando mudanças evolucioná- reuniões produzidas informalmente entre os
rias com mais rapidez e revolucionárias com funcionários de uma empresa, ou mesmo en-
mais freqüência. A proliferação de SAC’s25 tre aqueles que trabalham num mesmo ramo.
auxilia a empresa a traçar o perfil de seu con- Em visita às instalações do UOL26 pode ser
sumidor, adequando-se às suas necessidades constatado o clima de descontração e inte-
com o intuito de melhor atendê-lo. Isto to- ratividade entre os funcionários. Apesar da
mou imperativo que as empresas gerenciem montanha de computadores, o modelo "cubí-
ativamente seu conhecimento. Num ambi- culo", onde cada profissional faz o seu traba-
ente comercial relativamente estável, as pes- lho em separado, há muito foi abolido. Man-
soas tendem a tomar-se naturalmente mais chetes e legendas são feitas em conjunto e
proficientes, com o passar do tempo. De cabe a cada jornalista a decisão de veicula-
forma implícita, o conhecimento é absolvido ção.
e socializado dentro da companhia. Num Cafés da manhã e happy-hours também
ambiente deste, é seguro afirmar que há ca- são comumente organizados para melhor
pacidade e conhecimento suficientes na em- “entrosar"os profissionais e, por que não, ge-
presa, ou que o aprendizado incremental rir negócios entre empresas de áreas distin-
acontece na velocidade certa para lidar com tas. O portal Yahoo! reúne em um bar, sem-
as contingências. O tempo, a lógica e a ex- pre as quartas-feiras, seus empregados vi-
periência resolvem a maioria dos problemas. sando esta troca de experiências, soluções
Algumas companhias chegam a negociar e idéias sobre os rumos e objetivos da em-
suas ações com valores até 900% acima de presa. Tudo muito descontraído.
seu valor contábil. Por certo, analistas de Numa empresa tradicionalmente ameri-
mercado atribuirão esta nova realidade à lu-
cratividade ou a um impressionante recorde 26
Universo OnLine, portal de conteúdo do Grupo
Folha, sediado em São Paulo. Visita realizada em
25
Serviços de Atendimento ao Consumidor abril de 2000
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34 Adriana Moreira
cana as cafeteiras eram o lugar mais pro- "organização que aprende"e outras aborda-
penso à troca de conhecimento “útil”. O que gens que reforçam a internalização da infor-
seria este conceito se aplicado virtualmente? mação - pela experiência e pela ação - além
As comunicações informais podem ser real- da criação de novos conhecimentos através
çadas pelo uso das tecnologias de multimí- da interação.
dia, como as telereuniões ou, chats e fóruns
realizados aos montes na Internet. 5.2 O que vem a ser
Dentro do ambiente corporativista, isso é
aplicado através das intranets, uma maneira
conhecimento?
de usar a tecnologia de forma criativa ge- A hierarquia de valores que leva ao conhe-
rando a mais ampla e ágil “mídia para co- cimento, como lógica colocada por Xavier
municação” (2000) segue o seguinte raciocínio:
Gestão do conhecimento contém um im-
portante ingrediente de gerenciamento, mas Dados -> Informação -> Conhecimento
não leva a crer que é uma atividade ou dis-
ciplina que pertença exclusivamente aos ge- Desta forma, tendo o conhecimento no
rentes. Sob este ponto de vista, seria pos- topo da escala, está caracterizada a necessi-
sível definir gestão do conhecimento como dade do processamento de dados obtidos re-
o trabalho de gerenciar documentos e outros sultando em suporte para determinada ação.
veículos de informação e de conhecimento, O conceito de conhecimento que adotamos é
como o objetivo de facilitar a aprendizagem o de Jamil (2000), ou seja, uma informação
da organização. processada de forma estratégica:
Em uma primeira tentativa de definição
“informação mais valiosa e, consequen-
prática, utilizamos o senso comum e adapta-
temente, mais difícil de gerenciar. É va-
mos as definições de Xavier (2000) dizendo
liosa precisamente porque alguém deu à
que o conhecimento um significado duplo.
informação um contexto, um significado,
Em um primeiro instante associado ao con-
uma interpretação. Conhecimento en-
ceito de um corpo de informações e que se
volve a percepção sistematizada do que
constitui de fatos, opiniões, modelos e prin-
existe, o aprendizado do passado e de ex-
cípios, bem como pode estar baseado em es-
periências semelhantes às nossas, a com-
tados de ignorância, entendimento e habili-
preensão de funcionamento e aplicação
dade. Tal definição é, de alguma maneira,
de sistemas associados aos nossos ob-
similar às distinções entre os conhecimen-
jetivos e, finalmente, a criatividade pró-
tos explícitos e tácitos. O primeiro, carac-
ativa”. (Jamil:20)27
terizado de forma codificada ou formal, po-
dendo ser articulado através da linguagem e Na prática, a Gestão do Conhecimento in-
transmitido a indivíduos, e o segundo signi- clui a identificação e o mapeamento de ati-
ficando conhecimento pessoal enraizado na 27
O material de estudo de George Jamil foi for-
experiência individual, o que inclui crenças necido através de e-mail pelo próprio autor. Alguns
pessoais, perspectivas e valores. Assim, nós de seus artigos podem ser consultados no endereço:
frequentemente encontramos uma ênfase na http://www.bhnet.com.br/∼gljamil/artigos.html
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vos intelectuais (intangíveis) ligados à orga- maneira isolada aos ativos (propriedade, fá-
nização, a geração de novos conhecimentos brica, equipamentos, capital), mesmo porque
para oferecer vantagens na competição pelo o conhecimento é intangível, “Capital Inte-
mercado e tornar acessível grandes quanti- lectual constitui a matéria intelectual - co-
dades de informações corporativas, compar- nhecimento, informação, propriedade inte-
tilhando as melhores práticas e a tecnolo- lectual, experiência - que pode ser utilizado
gia que torna possível isso tudo, as deno- para gerar riqueza” (1998 : 13)
minadas ferramentas para gestão do conhe- A economia baseada no capital intelectual,
cimento. Sendo assim, projetar resultados onde as pessoas é que fazem a diferença nos
baseados em experiências passadas torna-se negócios, o dinheiro real será feito pelas em-
cada vez menos eficaz, tendo em vista as presas que investirem nas pessoas, em educa-
transformações e ritmo frenético com que as ção e alta tecnologia. O investimento inicial
mudanças vêm acontecendo. vem, sem dúvida, através de melhores salá-
rios esse é o primeiro diferencial dos operá-
“Prever, lançando mão da experiência rios do conhecimento.
acululada, mas consciente de que o fu- Relacionando números vemos que, nos
turo repete cada vez menos o passado, Estados Unidos, desde 1969, quando a de-
passa a ser uma condição de sobrevivên- cadência da Era Industrial começou a ficar
cia das empresas. Quem fechar os olhos aparente, o diferencial de salário para pes-
para as grandes transformações a sua soas instruídas aumentou em todos os seto-
volta, acreditando que o sucessp do pas- res, tanto para homens quanto para mulhe-
sado vai assegurar posição confortável res. Desde 1979, somente um grupo de ho-
para sempre, ficará para trás” (Graeml, mens norte-americanos conseguiu ganhos re-
2000:57) ais na remuneração salarial: os homens com
formação universitária. Naquele ano, os ho-
mens com formação universitária consegui-
5.3 Capital Intelectual
ram salários 49% acima dos homens que ti-
Se antigamente o trabalho na lavoura e tam- nham apenas o segundo grau; 14 anos de-
bém na manufatura era composto de tarefas pois, em 1993, esse diferencial chegava a
repetitivas e pouco qualificadas, se um bom 80%. O fato de esse diferencial ter aumen-
par de braços era suficiente para os melhores tado, apesar da oferta também ter aumen-
resultados, hoje a história é bem diferente. tado, à medida que o percentual da força de
Hoje esse trabalhador precisa preencher al- trabalho que freqüenta faculdade aumenta, é
guns pré-requisitos intelectuais: de experi- bastante significativo.28
ência e percepção da realidade à projeção de No Brasil a teoria está sendo implantada
oportunidades futuras. É o capital intelec- de forma tímida, seguindo o modelo ameri-
tual. cano, mas estudos já foram feitos no assunto.
Stewart (1998) defende o Capital Intelec- Os programas brasileiros de Treinamento e
tual como sendo a “nova vantagem competi- Desenvolvimento ainda deixam a desejar no
tiva das empresas”. O termo não está ligado
28
à idéia de um grupo de cientistas atuando de Dados fornecidos por Stewart (1998:43)
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36 Adriana Moreira
que se refere à criação de uma mentalidade uma empresa pode gerenciar e lucrar com es-
efetivamente empresarial, que chegue ao dia- ses ativos.
a-dia do executivo. XAVIER (2000) explica:
“Vivemos agora um momento de valori- “Para criar capital humano que possa
zação do capital intelectual porque pro- utilizar, uma empresa precisa estimular o
fissionais e organizações começam a re- trabalho em equipe, comunidades e prá-
conhecer que, acima da tecnologia e das tica e outras formas sociais de aprendi-
máquinas, está o potencial criativo, de zado. O talento individual é ótimo, mas
inteligência do ser humano. Essa é a ala- vai embora depois do expediente; as ’es-
vanca de tudo o que está acontecendo e trelas’ da empresa, assim como as estre-
do que ainda está por vir na área de Re- las de cinema, precisam sere gerenciadas
cursos Humanos e Gestão Empresarial” como negócios de risco que são”29
Aplicando as tecnologias de informação e
seu uso no gerenciamento do capital intelec- Capital intelectual bem administrado é
tual dentro das empresas, podemos notar que aquele bem distribuído e acessível a todos
a interação é fundamental visto que oferece da empresa. Esta necessidade nasce com o
as ferramentas que permitem o armazena- nome (nada glorioso) de “banco de dados de
mento e a reutilização do conhecimento co- conhecimento” que muito além de manuais
letivo da corporação, além de facilitar a to- e e-mails: são grandes iniciativas estratégi-
mada de decisões mais rápidas e de melhor cas, lideradas por executivos seniores, que
qualidade e contribuir para a redução de acú- esperam mudar a forma de operação de suas
mulo e distribuição de papel. empresas. A análise desses bancos de dados
Ao contrário do que se pensa, o capi- mostra o que está em jogo e o que é possí-
tal intelectual não está contido apenas na vel, além de algumas formas pelas quais a
“cabeça"dos funcionários ( habilidades, cul- tecnologia de rede pode apoiar planos muito
tura e história compartilhadas). Tal capital práticos para o desenvolvimento de estoques
encontra-se também nas mentes de fornece- de conhecimento compartilháveis.
dores, distribuidores e clientes, na forma de
reconhecimento e confiança na marca da em-
presa, nas características incorporadas aos
6 Sociedade em Rede
produtos ou serviços para facilitar o processo Todos os esforços por compartilhar (e disse-
de decisão de compra, entre outros. Por tudo minar) informação e conhecimento na em-
isso, as empresas começam a planejar e exe- presa, ou mesmo sobre a empresa, como
cutar ações que fomentam o acumulo de ca- visto nos capítulos anteriores, levam à idéia
pital intelectual, ou capital do conhecimento, de rede. Partindo do seu conceito, visto que
para melhorar sua vantagem competitiva. ela desempenha papel central na caracteriza-
Empresas não possuem capital intelectual, ção da sociedade na era da informação, ve-
elas apenas compartilham desta propriedade mos na definição de Castells (1999):
com seus funcionários. Somente reconhe-
29
cendo essa propriedade compartilhada é que (Stewart, 1998:145)
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tado julgamento de valores ligado a essa dos (embora, com certeza, não determina-
característica tecnológica. Isso porque a dos) pelo novo meio tecnológico. O terceiro
flexibilidade tanto pode ser uma força li- ponto faz referência à “lógica de redes” em
bertadora como também uma tendência qualquer sistema ou conjunto de relações,
regressiva, se os redefinidores das regras usando essas novas tecnologias da informa-
sempre forem os poderes constituídos.” ção. “A morfologia da rede parece estar bem
(1999: 78) adaptada à crescente complexidade de inte-
ração e aos modelos imprevisíveis do desen-
À nova economia, surgida em escala glo- volvimento derivado do poder criativo dessa
bal nas duas últimas décadas Castells (1999) interação” (1999:78)
dá o nome de “informacional e global” para Em quarto lugar, referente aos sistemas
identificar suas características fundamentais de rede, mas sendo um aspecto claramente
e diferenciadas e enfatizar sua interligação. distinto, o autor afirma que o paradigma da
“É informacional porque a produtividade tecnologia da informação é baseado na fle-
e a competitividade de unidades e agente xibilidade. “O que distingue a configura-
nessa economia (sejam empresas, regiões ou ção do novo paradigma tecnológico é sua
nações) dependem basicamente de sua ca- capacidade de reconfiguração, um aspecto
pacidade de gerar, processar e aplicar de decisivo em uma sociedade caracterizada
forma eficiente a informação baseada em co- por constante mudança e fluidez organizaci-
nhecimentos. É global porque as principais onal” (1999:79)
atividades produtivas, o consumo e a circu- E, finalmente, uma quinta característica de
lação, assim como seus componentes (capi- revolução é a crescente convergência de tec-
tal, trabalho, matéria-prima, administração, nologias específicas para um sistema alta-
informação, tecnologia e mercados) estão mente integrado, no qual as trajetórias tecno-
organizados em escala global, diretamente lógicas antigas ficam dificeis de se distinguir
ou mediante uma rede de conexões e agentes em separado. Dessa forma, a microeletrô-
econômicos” (1999:87) nica, as telecomunicações, a optoeletrônica
O autor apresenta o ’paradigma da tecno- e os computadores são todos integrados nos
logia da informação"através de suas 5 prin- sistemas de informação.
cipais características. A primeira ela aponta Além disso, em termos de sistemas tec-
a informação como sendo sua principal ma- nológicos, um elemento não pode ser ima-
téria prima onde as tecnologias agem sobre a ginado sem o outro: os microcomputadores
informação, e não apenas informação agindo são em grande parte determinados pela capa-
sobre tecnologia, como foi o caso das revo- cidade dos chips as telecomunicações agora
luções anteriores. são apenas uma forma de processamento da
Um segundo aspecto refere-se à “penetra- informação as tecnologias de transmissão e
bilidade dos efeitos das novas tecnologias”, conexão estão, simultaneamente, cada vez
onde afirma que informação é parte integral mais diversificadas e integradas na mesma
de toda a atividade humana, logo, conclui rede operada por computadores.
que todos os processos de nossa existência
individual e coletiva são diretamente molda- “Essa configuração topológica, a rede,
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42 Adriana Moreira
agora pode ser implementada materi- verdadeiro desafio para as empresas era en-
almente em todos os tipos de proces- contrar novos mercados capazes de absor-
sos e organizações graças a recentes ver uma crescente capacidade de produção
tecnologias de informação. Sem elas, de bens e serviços.
tal implementação seria bastante com-
“Para abrir novos mercados, conectando
plicada. E essa lógica de redes, con-
valiosos segmentos de mercado de cada
tudo, é necessária para estruturar o não-
país a uma rede global, o capital neces-
estruturado, porém preservando a flexi-
sitou de extrema mobilidade, e as em-
bilidade , pois o não-estruturado é a
presas precisaram de uma capacidade de
força motriz da inovação na atividade
informação extremamente maior. A es-
humana” (1999:79)
treita interação entre a desregulamenta-
ção dos mercados e as novas tecnologias
Os anos 70 foram, ao mesmo tempo,
da informação proporcionou essas con-
época provável do nascimento da Revolução
dições” (1999: 104)
da Tecnologia da Informação e uma linha
divisória na evolução do capitalismo, con- Sob este ponto de vista, a busca da lucra-
forme afirmado por Manuel Castells (1999). tividade pelas empresas e a mobilização das
As empresas de todos os países reagiam ao nações a favor da competitividade induziram
declínio real da lucratividade ou o temiam, arranjos variáveis na nova equação histórica
por isso, adotavam novas estratégias. Algu- entre a tecnologia e a produtividade. No pro-
mas delas, como a inovação tecnológica e a cesso, foi criada uma nova economia global
descentralização organizacional, embora es- que pode ser considerada o traço mais típico
senciais em seu impacto potencial, tinham e importante daquilo que Castells (1999) de-
um horizonte de prazo relativamente longo. nomina “capitalismo informacional”
O autor aponta quatro caminhos para o au- O capital é gerenciado vinte e quatro ho-
mento do lucro: reduzir custos de produção ras por dia em mercados globalmente inte-
(começado com custos de mão-de-obra)- au- grados, funcionando em tempo real pela pri-
mentar a produtividade, ampliar o mercado, meira vez na história e transações no valor
e acelerar o giro do capital. de bilhões de dólares são feitas em questão
Com ênfases diferentes, dependendo das de segundos, através de circuitos eletrônicos
empresas ou países, todos estes caminhos fo- por todo o planeta
ram utilizados e, em todos os casos, as tec- A economia informacional é global. Uma
nologias de informação tiveram papel funda- economia global é uma nova realidade his-
mental. tórica, diferente de uma economia mundial.
Usando da lógica do autor, o qual propõe Segundo Fernand Braudel e Immanuel Wal-
a hipótese de que a ampliação dos mercados lerstein, economia mundial, ou seja, uma
e a luta por fatias maiores dele foram imple- economia em que a acumulação de capital
mentadas anteriormente na busca de resulta- avança por todo o mundo, existe no ocidente,
dos mais imediatos. Visto sob este prisma no mínimo, desde o século XVI. “Uma eco-
a produtividade estaria diretamente relacio- nomia global é algo diferente: uma econo-
nada à expansão da demanda, visto que o mia com capacidade de funcionar como uma
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44 Adriana Moreira
vou uma reestruturação drástica do sistema capacidade de gerar sinergia com base
capitalista em escala global e, sem dúvida, em conhecimentos e informação, dire-
induziu um novo modelo de acumulação em tamente relacionados à produção indus-
descontinuidade histórica com o capitalismo trial e aplicações comerciais” (Castells,
pós-Segunda Guerra Mundial. 1999:75)
Assim, o microprocessador, o principal
dispositivo de difusão da microeletrônica, foi À semelhança da escrita, a informática
inventado em 1971 e começou a ser difun- nasceu do cálculo e da vontade de tratar ra-
dido em meados dos anos 70. O niicrocom- cionalmente um certo número de informa-
putador foi inventado em 1975, e o primeiro ções sociais. Inventos como o telefone, o
produto comercial de sucesso, o Apple 11, rádio e a televisão usaram padrões de sinais
foi introduzido em abril de 1977, por volta da luminosos para representar palavras, sons e
mesma época em que a Microsoft começava imagens. Os cientistas pensavam que, se es-
a produzir sistemas operacionais para micro- tes sinais representassem números, poderiam
computadores. A fibra ótica foi produzida ser processados numa máquina elétrica se-
em escala industrial pela primeira vez pela melhante a uma calculadora super-rápida.
Corning Glass, no início da década de 70. E, Os computadores também têm uma lin-
finalmente, foi em 1969 que a ARPA (Agên- guagem. É um código formado por dois nú-
cia de Projetos de Pesquisa Avançada do De- meros ou dígitos - O e 1 - que se designa có-
partamento de Defesa norte-americano) ins- digo binário. Cada O ou 1 é um dígito biná-
talou uma nova e revolucionária rede eletrô- rio, ou abreviando, bit. Estes dois números,
nica de comunicação que se desenvolveu du- combinados em seqüências diferentes, trans-
rante os anos 70 e veio a se tornar a Internet. portam toda a informação de que um compu-
Em outras palavras, a Revolução em Tec- tador precisa - números decimais, letras e até
nologia da Informação concentrou-se nos imagens coloridas.
Estados Unidos e, até certo ponto, na Cali- Negroponte (1995)37 é didático e simplista
fórnia nos anos 70, baseando-se nos progres- quando refere-se aos bits, dirigindo-se a es-
sos alcançados nas duas décadas anteriores pecialista e leigos, traduz as questões cen-
e sob influência de vários fatores instituci- trais da Era da Informação sem visões este-
onais, econômicos e culturais. A tal revo- reotipadas ou tecnicistas: “Um bit não tem
lução o autor acrescenta o importante papel cor, tamanho ou peso e é capaz de viajar à
que exerceu, durante a década de 80, na rees- velocidade da luz. Ele é o menor elemento
truturação organizacional e econômica pela atômico do DNA da informação” (1995:19)
qual o capitalismo passou à época.
“Muitas das pessoas que já deram um
“O caráter metropolitano da maioria dos pequeno passo rumo à vida digital pen-
locais da Revolução da Tecnologia da In-
37
formação em todo o mundo parece indi- Nicholas Negroponte é o fundador do Media Lab
do Massachusetts Institute of Technology, o MIT. É
car que o ingrediente crucial em seu de- autor do livro “A Vida Digital”, uma das mais im-
senvolvimento não é a novidade do ce- portantes obras sobre a computação e seus aspectos
nário cultural e institucional, mas sua práticos.
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46 Adriana Moreira
novas oportunidades de negócio, quer entre também na revista, coloca a educação e a ca-
consumidores, quer entre usuários da rede. pacidade humana de adaptação como princi-
Dessa forma, os benefícios tangíveis são pais limitadores à aceitação desta nova cul-
as diminuições de custos e aumento de re- tura empresarial. Seria algo como a evolu-
ceita através da criação de um ambiente de ção de “macaco digital” a “homo digitalis”.
gestão eficaz. Isso traz a renovação do agir e E completa:
decidir, transformando a informação em um
importante aliado, estabelecendo-se, efetiva- “Estou absolutamente convencido do pa-
mente, um diferencial competitivo em rela- pel vital da Internet em uma sociedade do
ção aos concorrentes. conhecimento e da informação. Trata-se,
Hélio Gurovitz, editor digital da revista realmente, de uma revolução. Mas, se
EXAME afirma que, desde a primeira men- o povo não vier junto, não haverá am-
ção da palavra “Internet” nas páginas da re- biente para que todos esses empreendi-
vista, em 1994, o país multiplicou em mais mentos possam florescer. Estou otimista
de 100 o número de internautas conectados à pois temos hoje a dinâmica de uma soci-
rede. edade aberta. A sociedade de informa-
ção é isso, é essas interação que pega o
“O número de usuários da Internet passa que cada um tem de melhor e põe junto
de 3,6 milhões e cresce a um ritmo esti- em seu processador (...) Há uma enorme
mado em 50% ao ano. O Brasil já ocupa janela de oportunidades. As revoluções
a 14ł posição mundial no registro de en- tecnológicas acontecem uma vez a cada
dereços na web, à frente de países como 100 anos. Temos que entender isso e
Coréia, Espanha e China. A Internet agarrar a nossa chance”(pg. 30)
abandonou a academia há tempos e mais Jack London, criador da livraria virtual
de 90% desses endereços pertencem a Booknet citou o seguinte exemplo sobre a
empresas. E as vendas pela web a brasi- adequação das empresas/empresários às exi-
leiros correspondem a 88% do comércio gências do mercado:
eletrônico na América Latina, avaliado
em 160 milhões de dólares em 1998”39 “Jack Welch, presidente da General Ele-
tric, uma das maiores empresas do
Ivan Moura Santos, consultor e doutor em mundo, afirmou que a Internet será o
ciência da computação, também em entre- centro da administração da GE. Em 18
vista à publicação, atenta para os frutos que a meses, quem não estiver inteiramente
reserva de mercado de informática por qual o dentro da Internet com processos, produ-
Brasil passou fez com que a cultura do risco tos e métodos de comunicação não será
permanecesse muito acanhada, fazendo com um fornecedor da empresa. Quando essa
que o país não se aproveitasse dos nichos po- atitude for incorporada pelas demais em-
tenciais em informática. Já Paulo Guedes, presas, haverá uma mudança cultural
39
Editorial da 23ł edição de BRASIL EM EXAME, muito importante. Eu acho que é preciso
parte integrante da Revista EXAME edição 694, apenas apostar nele com um pouco mais
pg.10. de entusiasmo”
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48 Adriana Moreira
cesso organizacional, contudo, requer a par- mizando cada elemento de sua estrutura in-
ticipação intensa de todos os trabalhadores terna e absorvendo os benefícios desta flexi-
no processo de inovação, de forma que não bilidade é inegável.
guardem seus conhecimentos tácitos apenas O professor C. K. Prahalad, da Univer-
para benefício próprio. sidade de Michigan, nos Estados Unidos,
Os métodos restantes são os modelos de alerta que, daqui para a frente, deve haver
redes multidirecionais posto em prática por a escolha: mudanças profundas ou morte
empresas de pequeno e médio porte, o mo- lenta. Algo como no Velho Oeste: o mais
delo de licenciamento e subcontratação de lento sempre morre no final dos duelos.
produção sob controle de uma grande em- O problema é que tais mudanças devem
presa, e a interligação de empresas de grande partir do próprio empresário. Deve haver
porte no que passou a ser conhecido como comprometimento. Prahalad ainda:
alianças estratégicas.
“A própria empresa mudou seu modelo “Os novos executivos precisam entender
organizacional para adaptar-se às con- o cenário global e, ao mesmo tempo, agir
dições de imprevisibilidade introduzidas nos detalhes. Eles precisam ser forte-
pela rápida transformação econômica e mente orientados para resultados. Num
tecnológica. A principal mudança pode ambiente de globalização, as mudanças
ser caracterizada como a mudança de são rápidas e, aliado à pressão pela ino-
burocracias verticais para a empresa ho- vação, as empresas perdem, gradativa-
rizontal” mente, seu caráter local”40
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“Ainda acrescentaria uma segunda ca- às constantes mudanças trazidas com a glo-
racterística analítica, adaptada da teo- balização dos mercados e a velocidade com
ria de Alain Touraine. Sob uma pers- que a informação chega ao seu destino.
pectiva evolucionária dinâmica, há uma
diferença fundamental entre dois tipos
7 Conclusão
de organizações: organizações para as
quais a reprodução de seus sistemas de A pesquisa documental, baseada nos princi-
meios transforma-se em seu objetivo or- pais autores da atual discussão sobre a comu-
ganizacional fundamental; e organiza- nicação empresarial e o uso das tecnologias
ções nas quais os objetivos e as mudan- de informação me conduzem a afirmar que
ças de objetivos modelam e remodelam os meios de inovação tem um papel decisivo
de forma infinita a estrutura dos meios. no desenvolvimento da chamada Revolução
O primeiro tipo de organizações chamo da tecnologia da Informação. Revela, tam-
de burocracias; o segundo de empresas” bém, que a concentração de conhecimentos
(1999:191) e mão de obra qualificada contribuem para
o desenvolvimento da gestão desse conheci-
Prahalad afirma que, em cinco anos, 50% mento.
de tudo o que sabemos hoje será “tóxico”. A revisão da operação dos processos
Líderes são pessoas que criam seu próprio econômicos atuais nos leva a crer que a nova
futuro e aprendem com o passado. economia informacional funciona em escala
global. Como indico em Sociedade em rede
“Só planeja o futuro, porém, quem con- e Empresa em rede, o conceito de globaliza-
segue ser flexível. Eu comparo o presente ção sofre ataques constantes. Parte das crí-
a uma orquestra sinfônica e o futuro a ticas baseia-se em uma observação sensata,
uma orquestra de jazz. A orquestra de frequentemente esquecida: a economia in-
jazz improvisa. Há um entendimento mú- ternacional ainda não é global. Os merca-
tuo de cada um dos músicos, sem neces- dos, mesmo para os setores estratégicos e as
sidade de partitura. A administração do maiores empresas, ainda estão bem longe de
futuro vai sair do estilo do maestro de ser totalmente integrados, os fluxos de capi-
uma sinfônica para o do maestro de uma tal são limitados pelos regulamentos mone-
banda de jazz. O executivo da nova era tários e bancários (embora o estabelecimento
terá de ter mais flexibilidade para mudar de centros financeiros no exterior e o predo-
e mais tolerância com as diferenças.”41 mínio de transações por computadores apre-
sentem crescente tendência a driblar estes re-
gulamentos); e cada empresa multinacional
Acrescentando às palavras do professor
ainda mantém a maior parte de seus ativos e
Prahalad tudo aquilo que foi dito no decor-
dentro de comando estratégico no país his-
rer deste trabalho monográfico, ao execu-
toricamente definido como sua “terra natal”.
tivo cabe a flexibilidade e a adaptabilidade
Contudo, essa objeção só é muito importante
41
Parte integrante da mesma entrevista à Você S/A, no tratamento de questões referentes a polí-
agosto de 2000. ticas econômicas, preocupação marginal ao
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objetivo intelectual deste trabalho. Se o ar- reintegrada no resultado através de uma nova
gumento for de tendência para a globaliza- divisão de trabalho mais baseada nas capaci-
ção, ainda não se concretizaram por com- dades de cada trabalhador que na organiza-
pleto, seria apenas uma questão de tempo na ção da tarefa.
sequência histórica para a clara observação Mesmo que nos tornemos insensíveis aos
do perfil da nova economia global. modismos do mundo corporativo e da litera-
A gestão do conhecimento supõe a esta- tura de negócios, é fácil constatar que chega-
bilidade da força de trabalho na empresa, mos a um momento da história em que esse
porque apenas dessa forma é racional que tal de capital intelectual - junção de conheci-
um indivíduo transfira seus conhecimentos mento, experiência, percepção da realidade e
para a empresa, e a empresa difunda conhe- projeção das possibilidades futuras - de um
cimentos explícitos entre seus trabalhadores. indivíduo ou grupo, tem o poder de gerar
Assim, esse mecanismo aparentemente sim- mais riqueza do que mera posse de meios de
ples, cujo grandes efeitos no aumento da pro- produção.
dutividade e qualidade é mostrados em vá- A grande maioria das empresas brasilei-
rios estudos de caso publicados em revistas ras se preocupa em inventariar mesas, cadei-
especializadas, realmente envolve uma trans- ras, prédios. Ainda não perceberam que a
formação profunda nas relações entre empre- sua carteira de relacionamentos e a sua capa-
sários e trabalhadores. cidade de criar e inovar entram e saem pelo
Comunicação on-line e a capacidade de portão todos os dias - muitas vezes insatis-
armazenamento computadorizado tornaram- feitos e desmotivados.
se ferramentas poderosas no desenvolvi- Quando comecei a estudar a Comunica-
mento da complexidade dos elos organizaci- ção Empresarial, em 1996, não tinha sequer
onais entre conhecimentos tácitos e explíci- ouvido falar do termo nas teorias descritas
tos. durante as aulas de História da Comunica-
Portanto, as observações e análises apre- ção. Onde estava a comunicação na Revolu-
sentadas neste trabalho levam a crer que ção Industrial? Espelhada nas experiências
a nova economia está organizada em redes de Taylor, Touraine, Ford, Bell, pude consta-
globais de capital, gerenciamento e informa- tar que a Era da Informação está se tornando
ção, cujo acesso ao conhecimento é de suma uma realidade, algo que pode ser colocado
importância para a produtividade e compe- em prática por gerentes, empresários e pro-
titividade. Empresas comerciais e, cada vez fissionais de comunicação.
mais, organizações e instituições são estabe- Baseado naquilo que os teóricos têm a di-
lecidos em redes de geometria variáveis cujo zer sobre a Revolução da Informação e tan-
entrelaçamento suplanta a distinção tradici- tos outros termos aqui colocados, este traba-
onal entre empresas e pequenos negócios, lho teórico servirá como base para, num se-
atravessando setores e espalhando-se por di- gundo instante, reiterar minhas intenções de
ferentes agrupamentos geográficos de unida- pesquisa empírica na área junto ao empresa-
des econômicas. Assim, o processo de traba- riado e comunidade acadêmica.
lho é cada vez mais individualizado, e a mão- Portanto, tudo leva a crer que a fantasia
de-obra está desagregada no desempenho e do “jovem empreendedor produzindo home-
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52 Adriana Moreira
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Paulo: Summus, 1986 ação Brasileira de Comunicação Corporativa
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O segredo não é mais a alma do negócio 53
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