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PROCESSO PENAL – RENATO BRASILEIRO

Aula 01

Roteiro:

1. Investigação Criminal -4 aulas


2. Ação Penal – 5 aulas
3. Competência Criminal – 4 aulas
4. Provas – 4 aulas
5. Medidas cautelares de Natureza Pessoal – 5 aulas – 22 aulas no total

11 novas leis em 2012, dentre elas: Crimes informático, de milícia privada,


detração sentença condenatória, interrupção comunicação pela internet,
juizados criminais itinerantes, lei joana maranhão, lei de lavagem de capitais,
conceito de organização criminosa.

Bibliografia:
1 – Norberto Avena (Método) mais voltado para o MP.
2 – Nestor Távora e Rosmar Anoni (Juspodivm) mais voltado para a defensoria
4 – Curso de Processo Penal – Vol. Único. Renato Brasileiro de Lima.

INQUÉRITO POLICIAL

1) Conceito: inquérito é o procedimento administrativo inquisitório e


preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de colher
elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração
penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

2) Natureza Jurídica: é um mero procedimento administrativo pois dele não


resulta a imposição direta de nenhuma sanção.

Inquérito não é processo, pois do processo resulta uma sanção.


 Se houver alguma ilegalidade no inquérito essa ilegalidade contamina o
processo?
R. Como o inquérito é um procedimento, eventuais vícios constantes do inquérito
não contaminam de nulidade o processo a que der origem, salvo em se
tratando de provas ilícitas.

Ex interceptação telefônica sem autorização judicial. Será uma prova ilícita e


todas as que decorrerem dela serão ilícitas também.

Ex. defensoria não foi comunicada de prisão em flagrante, isso não contamina o
processo.

Persecução penal é uma atividade desempenhada pelo Estado visando a


imposição de pena ao autor de um crime.

Possui 2 fases:

1ª fase 2ª fase
Investigatória Processual Penal
Procediemento administrativo

3) Finalidade do Inquérito Policial:

* Colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da


infração penal.

Elementos de informação não é prova: Art.155 CPP.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008)

Termo “Exclusivamente” e o STF: elementos informativos, isoladamente


considerados não podem fundamentar uma sentença, porém tais elementos não
devem ser desprezados durante a fase judicial, podendo se somar a prova
produzida em juízo para auxiliar (são subsidiários) na formação da convicção
do magistrado. Juiz pode subsidiariamente utilizar estes elementos. (STF,
HC83.348).

Elementos Informativos Provas

É aquele colhido na fase Em regra, é produzida na fase


investigatória (não necessariamente judicial.
no inquérito). O Estado possui outros Há exceções (são termos diferentes):
instrumentos investigatórios. Ex. 1) Provas cautelares
investigação pelo MP. 2) Provas não repetíveis
3) Provas Antecipadas
Não é obrigatória a observância do É obrigatória a observância do
contraditório e da ampla defesa. contraditório (real/diferido) e da ampla
defesa.
Papel do Juiz é sua imparcialidade. Papel do Juiz: prova deve ser
Só deve intervir quando necessário produzida na presença do juiz. Pode
(ex. interceptação telefônica) e desde ser uma
que seja provocado nesse sentido.  presença direta (fisicamente
Na fase investigatória o juiz não presente no local em que a
pode agir de ofício. prova esta sendo produzida)
 Presença remota
(videoconferência)
Vigora o Princípios da Identidade
Física do Juiz (CPP, art.399 §2º).

§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá


proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).

Durante o curso do Processo o juiz é


dotado de iniciativa probatória, a
ser exercida de maneira residual.
Art.212 CP
Art. 212. As perguntas serão formuladas
pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com a causa ou
importarem na repetição de outra já
respondida. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008)
Parágrafo único. Sobre os pontos não
esclarecidos, o juiz poderá complementar a
inquirição. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Finalidade: Finalidade:
 São úteis para a decretação Auxiliar na formação da convicção do
de medidas cautelares. juiz.
 Servem para a formação da
convicção do titular da ação
penal. (Opinio delicti) – ex,
oferecer denúncia, requisitar
diligência, etc.

2ª fase magistratura MG. Diferencie provas cautelares, não repetíveis e


antecipadas:

1) Provas cautelares:
são aquelas em que há um risco (urgência) do desaparecimento do objeto
da prova em razão do decurso do tempo. Essas provas podem ser produzidas
na fase investigatória e judicial. Dependem de autorização judicial, sendo
que o contraditório será diferido (postergado). Ex. interceptação telefônica.
2) Provas não repetíveis:
é aquela que uma vez produzida não tem como ser novamente coletada em
virtude do desaparecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na
fase investigatória e judicial. Não dependem de autorização judicial, sendo o
contraditório diferido (contraditório sobre a prova). Ex. exame de corpo de
delito em infrações penais cujos vestígios desapareceram posteriormente. –
mulher que apanhou do marido e tem hematomas.

3) Provas Antecipadas:
são aquelas produzidas com a observância do contraditório real em momento
processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início
do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. Podem ser
produzidos na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização
judicial, sendo que o contraditório real (contraditório para a prova).

Ex1. art.225 (depoimento ad perpetum memorium); pessoa a beira da morte.


Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar
receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de
qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

Ex2: art.366

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada
das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no
art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Ex.3 Lei 9807/99


Art.19-A, com redação dada pela Lei 12.483/11.
Ex. oitiva antecipada de pessoas no serviço de proteção a testemunha

Provas cautelares: Provas não repetíveis: Provas Antecipadas:

são aquelas em que há é aquela que uma vez


são aquelas produzidas
um risco (urgência) do produzida não tem com a observância do
desaparecimento do como ser novamente contraditório real em
objeto da prova em coletada em virtude do
momento processual
razão do decurso do desaparecimento da
distinto daquele
tempo fonte probatória. legalmente previsto, ou
até mesmo antes do
início do processo, em
virtude de situação de
urgência e relevância.
Investigatória ou judicial Investigatória ou judicial Investigatória ou judicial
Com autorização judicial Sem a autorização Com autorização judicial
judicial
Contraditório Diferido Contraditório Diferido Contraditório Real

4) Termo Circunstanciado:
É um procedimento investigatório de infrações de menor potencial ofensivo.

O que é uma infração de menor potencial ofensivo?


R: São as contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a
2 anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a procedimento
especial, ressalvadas as hipóteses de violência doméstica e familiar contra
a mulher.

 Contravenções penais
 Crimes com pena máxima até 2 anos
 Cumulado ou não com multa
Termo Circunstanciado  Submetidos ou não a procedimento
especial, exceto violência doméstica
contra mulher.

Ex. abuso de autoridade é uma infração de menor potencial ofensivo.

5) Atribuição para o inquérito policial:

Depende do crime praticado.

1ª possibilidade: crime militar da competência da justiça militar da União –


são as próprias forças armadas como oficial encarregado de IPM (inquérito
policial militar).

2ª possibilidade: crime militar da competência da Justiça Militar Estadual.


Própria polícia militar/bombeiros que ficará encarregado.

3ª possibilidade: Crime eleitoral. Devem ser investigados pela polícia federal.


O TSE entende que nas localidades em que não há polícia federal crimes
eleitorais podem ser investigados pela polícia civil.

4ª possibilidade: Crime “federal” (da competência da justiça federal). A polícia


federal é competente.

5ª possibilidade: Crime Comum da Competência da Justiça Estadual. É a


polícia civil e a polícia federal. A polícia federal pode investigar crimes civis de
natureza comum, desde que o crime tenha repercussão interestadual ou
internacional. Ambos podem agir ao mesmo tempo, ou seja, um não exclui o
outro.

Art.144 §1º,I CF:


I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

Lei10446/2002 regulamenta a atuação da polícia.

Art. 1o Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual
ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério
da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da
Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação,
dentre outras, das seguintes infrações penais:

I – seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o
agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela
vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a
reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação
interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um
Estado da Federação.
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à
apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de
Estado da Justiça.

Atenção!! Como o inquérito é um mero procedimento administrativo, ainda que


presidido pela autoridade desprovida de atribuições, isso não impede o
oferecimento da peça acusatória. Ex. o promotor militar pode propor denúncia
com um inquérito civil.

6) Características do Inquérito Policial:

6.1) O Inquérito policial é um inquérito escrito.


Art.9º CPP –
Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Entretanto, há a possibilidade, ainda, de gravar atos do inquérito. Ex. delegado


quer evitar acusação de tortura do investigado. Isso está previsto no art. 405
CPP, que apesar de previsto no procedimento judicial, é aplicável ao inquérito.

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas
partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
2008).
§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e
testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica
similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

6.2) Procedimento dispensável.


Se o titular da ação penal contar com elementos informativos obtidos a partir
de procedimento investigatório diverso do inquérito (chamado de peça de
informação), este poderá ser dispensado. Ex. o inquérito da CPI pode fazer com
que seja dispensado o inquérito policial. Art.28 CPP.

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento
do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes
as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este
oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido
de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

6.3) Procedimento Sigiloso.


Em regra o sigilo e a conseqüente surpresa são indispensáveis para se
assegurar a eficácia das investigações.

Entretanto, tem algumas situações que a publicidade no procedimento é


importante. Ex. divulgar o retrato falado de um suspeito ajuda a encontrá-lo mais
rápido.

Não se opõe do sigilo/ tem acesso aos autos do Inquérito:


 Juiz/MP
 Advogado

A Constituição é muito clara (art.5,LXIII CF) ao dispor sobre o acesso do


advogado.

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

Art.7º Estatuto da OAB

Art. 7º São direitos do advogado:


XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito,
findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos;

O advogado precisa de procuração? Não há necessidade, salvo se houver


informações relativas à vida privada do investigado.
Ex. Sigilo Bancário, telefônico precisa de ter procuração, porque senão alguns
advogados poderiam abusivamente se utilizar dessa prerrogativa, como ver a
conta bancária do Marcos Valério.

Como é o acesso do advogado?


Acesso do advogado é limitado às informações já documentadas, pois o
advogado não terá acesso às diligências em andamento.

Súmula Vinculante de nº14

STF Súmula Vinculante nº 14 –


Acesso a Provas Documentadas em Procedimento Investigatório por Órgão com Competência de Polícia
Judiciária - Direito de Defesa
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Instrumentos a serem utilizados diante da negativa de acesso aos autos:


 Impetrar uma reclamação perante o STF. Art.103-A §3º CF. (entretanto
ela não é muito rápida).

 Impetrar Mandado de Segurança com Pedido de Medida Liminar – Juiz


de 1º grau, em nome do advogado, porque teve o direito de acesso
negado/ foi violado uma prerrogativa deste prevista na OAB.

 Impetrar Habeas Corpus com Medida Liminar perante o juiz de 1ª


instância em nome do investigado, desde que haja risco à liberdade de
locomoção.

Ex. se houver uma contravenção com previsão de pena de multa não posso
impetrar HC.

STF Súmula nº 693 -.


Cabimento - Habeas Corpus Contra Pena de Multa ou Pecuniária
Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso
por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

Aula 02

6.4) Procedimento Inquisitorial:

a) Corrente majoritária: não é obrigatória a observância do contraditório e


da ampla defesa. (prova de delegado, MP, juiz).

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia
integral para a Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art.306 §1º CPP – Nesse caso, entende-se que não é necessária a presença
física do defensor.

b) Corrente Minoritária: No Inquérito Policial é obrigatória a observância da


ampla defesa. (defensoria)

Exercício Exógeno do Direito de Defesa: aquele efetivado fora dos autos do


Inquérito Policial (ex. habeas corpus, requerimentos ao juiz/MP para que corrijam
a ilegalidade).
Exercício Endógeno do Direito de Defesa: é aquele efetivado dentro do
Inquérito. (ex. a oitiva do investigado; diligências solicitadas à autoridade
policial).

Art.5º, LXIII CF.


LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

Há quem diga que este direito de permanecer calado se estende, pois além
disso, o investigado possui o direito de ser ouvido.

Inquérito para a expulsão do estrangeiro: (Lei 6.815/80) – é obrigatória a


observância do contraditório e da ampla defesa. - caiu prova delegado federal)

6.5) Procedimento Discricionário.


Art.6º e 7º CPP

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até
a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) (Vide Lei nº 5.970, de
1973)
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
(Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll,
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a
leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos
autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a
moralidade ou a ordem pública.

A idéia quando se diz que o inquérito é discricionário é porque há um rol


exemplificativo de diligências que podem ser realizadas. Sendo assim, nem
todas são obrigatórias ou devem ser obedecidas nessa ordem. O delegado deve
observar as mais relevantes e dispensar as não necessárias.

Discricionariedade: liberdade de atuação nos limites da lei. Não se confunde


com arbitrariedade (atuação contrária à Lei).

Art.14CPP
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que
será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
A leitura e interpretação gramatical deste artigo dá o entendimento de que o
delegado possui liberdade absoluta para realizar diligências.
Entretanto, essa discricionariedade não tem natureza absoluta, pois há
diligências cuja realização é obrigatória.

Ex. caráter obrigatório do exame de corpo de delito. (art.158 CPP – nos crimes
que deixam vestígios)

6.6 Procedimento Indisponível


A autoridade policial não pode arquivar autos de Inquérito Policial. O delegado
pode até não querer iniciar o inquérito, mas não pode arquivá-lo.
Art.17CPP

Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

6.7 Procedimento Temporário


Em se tratando de investigado solto, o prazo para a conclusão do inquérito pode
ser prorrogado.
Em regra possui prazo de 30 dias (art.10, §3º CPP), mas em razão da
superlotação das delegacias ele vai se arrastando ao longo do tempo:
30+30+30+30.

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer
ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz

Apesar da possibilidade de sucessivas prorrogações, a jurisprudência passou a


reconhecer no inquérito a “Garantia Da Razoável Duração Do Processo”
também é aplicável ao Inquérito Policial.
Ex. STJ HC96.666 – O STJ determinou o trancamento do Inquérito policial em
um caso pouco complexo que durava 07 anos.

7) Formas de Instauração do Inquérito Policial

7.1 Crimes de Ação Penal Privada ou de Ação Penal Pública Condicionada.


Ex. Crimes contra a honra; estupro.
O Inquérito não pode ser instaurado de ofício. Nesse caso depende de
requerimento da vítima ou de requisição do Ministro da Justiça.

Não há necessidade de formalismo para iniciar o Inquérito.


Ex. (questão CESPE) Mulher, logo depois que foi estuprada, foi à delegacia fazer
retrato falado e foi ao IML fazer exame. A polícia sai para procurá-lo e o encontra.
Poderá haver prisão em flagrante, mesmo sem a representação formal da
mulher?

Obs. Nesta questão, a Unb colocou que não houve representação e portanto,
não poderia haver prisão em flagrante do sujeito.
Para Renato, este gabarito está errado, pois por mais que a vítima não tenha
feito a representação escrita, restou claro que ela tem interesse na persecução
penal.
A peça inaugural do Inquérito é a Portaria.

7.2 Crimes de Ação Penal Pública Incondicionada.


a) de ofício: a autoridade policial pode instaurar IP de ofício quando tomar
conhecimento do crime por meio de suas atividades rotineiras. Neste caso a
peça inaugural é também a portaria.

Art.5,I CPP

Art. 5o Nos crimes de ação pública (INCONDICIONADA) o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;

B. Requisição do Juiz/do MP

Art.5,II CPP
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Para a doutrina esta requisição do juiz viola a garantia da imparcialidade e o


próprio Sistema Acusatório. Sendo assim, ele não teria sido recepcionado pela
CF.
Juiz não deve entrar na fase investigatória de ofício. O ideal é que o juiz, quando
se deparar com um crime, ao invés de requisitar o inquérito, remeta ao MP.Art.40
CPP

Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a
existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos
necessários ao oferecimento da denúncia

 O delegado é obrigado a instaurar o inquérito requerido pelo MP?


R. A requisição do MP está prevista no Art.129, VIII CF.
Não há hierarquia entre o MP e a polícia. O delegado de Polícia instaura o
Inquérito por força do Princípio da Obrigatoriedade, salvo se tratando de
requisição ilegal.
Ex. investigação de crime já prescrito.
Este Princípio é aplicado a todos os agentes que estão envolvidos na persecução
penal.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais;

Obs. A doutrina entende que a própria requisição seria a peça inaugural.


C. Requerimento da Vítima/ Representante Legal:
Se há o indeferimento pela autoridade policial, a vítima poderá fazer:
 Requerimento ao MP (é o mais rápido)
 Recurso Inominado ao Chefe de Polícia que pode ser:
- Delegado-Geral
- Secretário de Segurança Pública

No caso da PF é encaminhado ao Superintendente da Polícia Federal.


A peça inaugural é uma portaria.

D) Notícia Oferecida por Qualquer do Povo:


Lavrado por Portaria.

E) Auto de Prisão em Flagrante:


A peça inaugural do Inquérito é o próprio APF (auto de prisão em flagrante).

Art. 27 CPPM - se o APF já trouxer todos os atos de autoria e materialidade ele


próprio constituirá o inquérito.

8) Notitia Criminis:

Conceito: é o conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da


autoridade policial acerca do fato delituoso.

São 03 espécies:
a) De cognição imediata (espontânea)
A autoridade policial toma conhecimento do crime através de suas atividades
rotineiras.
Ex. Interceptação telefônica.
Ex. Encontra um cadáver durante a investigação de outro crime.

b) De cognição mediata (provocada)


A autoridade toma conhecimento do crime através de um expediente escrito.

c) De cognição coercitiva:
A autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso através da
apresentação de indivíduo preso em flagrante.

Ex. plantão de delegado de 24h. Chega um flagrante de descaminho de um


caminhão de maço de cigarros.

Atenção! Noticia Criminis Inqualificada (Denúncia anônima):


Apesar da denúncia anônima ser extremamente importante, ela pode dar ensejo
a absurdos.
Diante desta insegurança, por si só não serve para fundamentar a
instauração de um inquérito policial. Porém, a partir dela pode a polícia
realizar diligências preliminares para verificar a procedência das
informações e, então, instaurar o inquérito policial propriamente dito (STF,
HC95.244).

9) Identificação Criminal

 Identificação Fotográfica
Abrange  Identificação Datiloscópica (impressões digitais; o feto tem a
partir do 3º mês).
 Identificação do Perfil Genético (12.654/12)

Antes da CRFB/88: a identificação criminal era obrigatória, ainda que houvesse


a identificação civil.

Súmula nº568 STF (antes da CRFB/88)


A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO JÁ
TENHA SIDO IDENTIFICADO CIVILMENTE

Depois da Constituição Federal de 88.


Art.5º, LVIII CF
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas
em lei; (Regulamento).

02 conclusões possíveis:
 Se o individuo não se identificar civilmente, poderá ser submetido à
identificação criminal.
 O civilmente identificado não será submetido à identificação criminal,
salvo nas hipóteses previstas em lei.
Diante do teor do inciso LVIII, a súmula 568 STF não é mais aplicada

Resumo:
Antes CF/88 Depois CF/88
a identificação criminal era 02 conclusões possíveis:
obrigatória, ainda que houvesse a  Se o individuo não se identificar
identificação civil. civilmente, poderá ser
submetido à identificação
criminal.
 O civilmente identificado não
será submetido à identificação
criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei.
Diante do teor do inciso LVIII, a
súmula 568 STF não é mais aplicada
9.1) Leis que tratam da Identificação Criminal:

Ordem cronológica:

 Lei 8.068/90 – ECA art.109 – se houver alguma dúvida sobre a identidade


do adolescente, poderá ser feita a sua identificação criminal.

 Lei 9.034 Art.5º – Lei das Organizações Criminosas – pessoas envolvidas


com organização criminosa terão a sua identificação criminal,
independente da identificação civil.

 Lei 10.054/00 – como seu art.3º,I não ressalvou a ação praticada por
organizações criminosas, teria havido a revogação tácita do art.5º da
Lei 9.034/95. STJ RHC12.965.

 Lei12.037/09 Art.9º– trata apenas sobre identificação criminal.


Ela revogou expressamente a Lei 10.054/00.
A doutrina defende que apenas esta lei que prevê as hipóteses dos casos
de identificação criminal do civilmente identificado em seu art.3º.
Traz a hipótese de identificação criminal, a autoridade judicial.

 Lei 12.654/12 – Trata da identificação do perfil genético (DNA). Ela


alterou:
- a lei 12.037/09, mas continua em vigor.
- a LEP.

Quando a identificação for essencial às investigações policiais, poderá abranger


a identificação do perfil genético, mediante prévia autorização judicial.

Compatibilidade da identificação do perfil genético com o Princípio que


veda a auto-incriminação: é possível a identificação do perfil genético, desde
que a coleta do material biológico seja feita de maneira não invasiva.
 O que é maneira não invasiva?
R. Não posso amarrar, colocar um revolver na cabeça. Posso ir a casa do sujeito
pegar escova de cabelo, escova de dentes.
Há quem diga que esta coleta só pode ser feita apenas para fins de identificação.
Professor defende que deve ser usado para identificação e fins probatórios. STF
tende a esses entendimento. STF, RCL-QO 2.040- Glória Trevi teve filho na
carceragem da PF. Ela se negou a fazer exame de DNA. O STF liberou a coleta
da placenta. (descobriu que os policiais não eram pais).

10) Incomunicabilidade do indiciado preso:

Art.21 CPP
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será
permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho
fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público,
respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Redação dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966)

A doutrina majoritária entende que não foi recepcionado pela CRFB/88, pois esta
não autoriza a incomunicabilidade sequer no Estado De Defesa (art.136 §3º,IV
CF)

§ 3º - Na vigência do estado de defesa:


IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.

Obs. No RDD (regime disciplinar diferenciado) não há incomunicabilidade, mas


sim maiores restrições ao direito de visitas. Portanto o RDD é constitucional.

11) Indiciamento

11.1) Conceito:
Atribuir a alguém a autoria de determinada infração penal.
Não é cabível em termo circunstanciado.

11.2) Momento:
Desde o início das investigações até o início do processo, inclusive do próprio
APF.
Para o STJ, após o início do processo não é possível o indiciamento. STJ
HC182.455

11.3) Espécies:
 Indiciamento Direto: (regra) aquele que é feito na presença do
investigado.
 Indiciamento Indireto: feito na ausência do investigado.

11.4) Pressupostos Necessários:


Elementos informativos quanto à autoria e materialidade da infração penal.
O indiciamento deve ser fundamentado. Ex. Instrução Normativa 11 de 2011 da
PF.

11.5) Desindiciamento:
É a desconstituição de anterior indiciamento. Ele pode ser feito pela própria
polícia ou pelo poder judiciário.

11.6) Atribuição do Indiciamento:


É um ato privativo da autoridade policial.

O MP não pode fazer a requisição do indiciamento ou obrigar o


delegado a fazê-lo.
11.7) Sujeito Passivo do indiciamento:
Em regra qualquer pessoa pode ser indiciada. Exceto:
 Magistrados
 Membros do MP

STF: INQ 2411 QO/MT – O STF entendeu que titulares de foro por prerrogativa
de função (ex. senador, deputado, governador) não podem ser investigados nem
indiciados sem prévia autorização do tribunal competente. (ex. recorrer ao
STF através do PGR e autorização do relator)

11.8) Afastamento do Servidor Público como conseqüência do


indiciamento nos crimes de lavagem de capitais
Lei 9613/98 art. 17-D (acrescentado pela Lei 12.683/12):
Lei prevê que o simples indiciamento causa o afastamento do servidor público.
Luiz Godin, Paulo Badarot defendem que este dispositivo é inconstitucional. No
entanto, nada impede que o juiz determine a suspensão do exercício da função
pública (art.319, VI CPP).

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).

Aula 03

12.) Conclusão do Inquérito Policial


12.1) Prazo
(tabela para revisão)
Preso Solto
CPP 10 dias 30 dias
Inquérito Policial 15+15 30 dias (não tem na lei-
Federal segue CPP)
IP Militar 20 dias 40 dias + 20
Lei de Drogas (por ser
uma lei mais recente, 30 + 30 dias 90+ 90 dias
é mais compatível
com a realidade das
delegacias)
Economia popular 10 dias 10 dias (não tem na lei)
Prisão temporária/ 30+ 30 dias Não se aplica
Crimes Hediondos e
equiparados
Organização 120 + 120 dias Prazo Razoável
criminosa

Em se tratando de investigado solto, é possível a prorrogação de prazo. (prazo


impróprio) art. 10,§3º CPP.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer
ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Se a pessoa está presa a doutrina entende que já tem elementos para oferecer
denúncia.

 Qual a natureza desse prazo para a conclusão do IP?


Investigado solto: prazo processual – neste não conta o dia do início.
Investigado preso:
1ª corrente: prazo de direito material art.10 CP. Dia de início do cômputo do
prazo de natureza processual. Além disso, prazos materiais são fatais e
improrrogáveis (G. S. Nucci). Essa corrente é compatível com a defensoria.

2ª corrente: na doutrina prevalece o entendimento de que mesmo quando o


investigado está preso ele continua sendo prazo processual (Denilson
Feitosa, J. F. Mirabete). Não se pode confundir o prazo da prisão cautelar, que
tem natureza material, com o prazo do inquérito que tem natureza processual.

(Questão Prova delegado) Prisão temporária decretada por 5 dias hoje (quarta-
feira, 27/02). O sujeito será liberado no dia 03/03 à 0h.

12.2) Relatório da autoridade policial.

Trata-se de uma peça de caráter descritivo. O delegado deve se abster de


fazer um juízo de valor, pois não é ele o titular da ação penal pública, salvo no
caso de drogas.
Art. 52,I Lei 11343/06 - A própria lei de drogas prevê que o delegado deve
fundamentar por que é tráfico ou apenas porte para consumo pessoal. Essa
valoração do delegado é provisória, sendo que o juiz é quem dará a última
palavra.

Atenção! Relatório ≠ indiciamento

Art. 52 Lei 11343/06. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária,
remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação
do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as
condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação
e os antecedentes do agente; ou

A elaboração do relatório é dever funcional da autoridade policial, mas esta peça


não é indispensável para o oferecimento da denúncia.

12.3) Destinatário do Inquérito Policial


Art. 10, §1º CPP

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
Auto do Inquérito Policial são encaminhados ao Poder Judiciário e este dá vista
ao MP.

Em regra,

Auto do Art10§1º
Inquérito Poder Judiciário
Policial

Vista ao MP

É cada vez mais comum a expedição de Portarias e Resoluções dos tribunais


determinando a tramitação direta entre polícia e MP, salvo se houver medidas
urgentes que dependam de autorização judicial. Isso auxilia a celeridade do
processo penal.
Ex. prisão em flagrante.
Ex. Resolução nº63 art.1 Conselho da Justiça Federal.

12.4) Providências a serem adotadas pelo MP após ter vista dos autos do
Inquérito.

A. Ação Penal Privada:


O MP deve requerer a permanência dos autos em cartório aguardando-se a
iniciativa do ofendido.

B. Ação Penal Pública:


Possibilidades do Promotor de Justiça:
B.1.Oferecimento de Denúncia
B.2. Promoção de Arquivamento
B.3. Requisição de Diligências
Essa requisição de diligências pode ser feita desde que indispensável à
formação da opinio delicti. (convicção do titular da ação penal)

Lembre-se! Essas requisições devem ser feitas diretamente à autoridade


policial, salvo se houver necessidade de autorização judicial. (MP possui
prerrogativa de requisição).

B.4. Pedir a Declinação de Competência:


Deve ser feita se o MP entender que o juiz perante o qual atua não tem
competência para o julgamento do crime.
Ex. Rogério (Promotor Estadual) pega um inquérito de Crime de Moeda falsa.
Ele pede a declinação de competência para a justiça federal, pois é de
competência da União.

B.5. Conflito de Competência e Conflito de Atribuições:


Conflito de competência é a mesma coisa que a declinação de competência.

No pedido de declinação de competência nenhum outro juízo havia se


manifestado quanto a competênci. (é o 1º a se manifestar).
No conflito de competência já houve prévia manifestação de outro juízo acerca
da competência/incompetência.
Ex. O juiz estadual se declara incompetente e manda para a justiça federal que
entende que a competência é da justiça estadual (ao invés de crime de moeda
falsa é estelionato). Ao invés de remeter novamente para a justiça estadual, o
juiz federal deve suscitar conflito de competência perante o Tribunal competente.

 Conflito de Competência:
*Conceito: trata-se de um instrumento que visa dirimir eventual controvérsia
entre duas ou mais autoridades judiciárias acerca da (in)competência para o
processo e julgamento de determinada demanda. É perfeitamente possível que,
ao julgar o conflito de competência, o tribunal entenda que a competência é de
órgão jurisdicional diverso daqueles que estavam em conflito.

*Espécies:
a) Conflito positivo: duas ou mais autoridades jurisdicionais consideram-
se competentes para o julgamento.
b) Conflito negativo: dois ou mais juízes consideram-se incompetentes
para o julgamento. (98%dos conflitos).

*Limite temporal: Súmula 59 STJ


Súmula 59
NÃO HA CONFLITO DE COMPETENCIA SE JA EXISTE SENTENÇA COM TRANSITO EM JULGADO, PROFERIDA
POR UM DOS JUIZOS CONFLITANTES. (trata-se do conflito positivo)

*Regras básicas para a definição do tribunal competente para o julgamento de


um conflito de competência. São 02:
1 – Onde houver hierarquia jurisdicional, não haverá conflito de competência.
Ex. não poderá haver conflito entre STF e juiz de 1ª instância.
2 – deve-se buscar um órgão jurisdicional hierarquicamente superior e comum
aos juízes em conflito. (É o que mais ocorre).

Ex.1. Juiz Estadual Cabo Frio/RJ X TJ/RJ– não há conflito, o TJ que manda.

Ex.2. Juiz Federal Ceará (TRF5ª Região) X Juiz Federal da Bahia


(TRF1ªRegião) – STJ, por terem regiões diferentes.

Ex.3.
Juiz JECRIM X Juiz Estadual Vara - TJMG
Estadual BH Criminal de BH

O STJ na Súmula 348 chegou a entender que seria do STJ, já que a Turma
recursal e o TJRJ
Súmula 348
Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal
e juízo federal, ainda que da mesma seção judiciária.(*)
. (*) julgando o CC 107.635-PR, na sessão de 17/03/2010, a Corte Especial deliberou pelo CANCELAMENTO
da súmula n. 348.

RE590.409 STF – entendeu que se são juízes subordinados ao mesmo tribunal,


cabe a este julgar o conflito de competência.
O próprio STJ cancelou a Súmula 348 e expediu a Súmula 428 (aplica-se a nível
estadual também):

Súmula 428
Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e
juízo federal da mesma seção judiciária.

Ex.4.

Juiz Estadual vara X Juiz de Direito Juízo - STJ


Criminal RS Militar (RS, MG e SP)

Pegadinha! Existe apenas no RS, MG e SP a justiça militar estadual. Neste


caso, o TJ/RS e o TJM são subordinados ao STJ.

Ex.5.

Juiz Estadual vara X Juiz de Direito Juízo - TJSC


Criminal SC Militar

Competência do TJ/SC, porque não há o TJM (só no RS, MG e SP).

Justiça Militar da Justiça Militar dos


União Estados
2ª Instância STM TJM (RS/MG/SP)
TJ (demais estados)
Conselho de Justiça
1ª Instância Conselhos de Justiça ou Juiz de Direito do
Juízo Militar

 Conflito de atribuições no âmbito do MP.


Consiste na divergência estabelecida entre órgãos do MP acerca da
responsabilidade ativa para a persecução penal.
Promotor não tem competências, mas atribuições.

Ex.1. MP/PA X MP/PA


Aqui quem decide é o Procurador Geral de Justiça do Estado do PA.

Ex. MPF/ES X MPF/RJ


Quem decide é a Câmara de Coordenação e Revisão do MPF. Só existe na
estrutura do MP da União.
Ex.MPF/SP X MPM/SP
Quem decide é o PGR – Procurador Geral da República. Ambos estão dentro do
Ministério Público da União.
MPU é composto pelo:

 MPF – atua na Justiça Federal


MPU  MPM – atua na Justiça Militar da União
 MPT – Atua na Justiça do Trabalho
 MPDF – Atua na Justiça Comum

Ex.4. MP/MG X MP/GO


Há um Conflito de atribuições.

1ª c) (Pacceli) STJ - conflito virtual de competência: ele ainda não é concreto


(há um conflito de atribuições), uma vez que não se estabeleceu entre os juízes.
O promotor de MG atua perante o Juiz Criminal Estadual de MG. O promotor de
Goiás atua perante o juiz Estadual de GO, então ambos os juízos estariam
subordinados ao STJ.

2ª c) (majoritária) STF – art.102,I,f CF


É como se houvesse um conflito entre o Estado de Minas Gerais e de Goiás.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta;

Ex.5. MPF/MS X MP/MG


Quem decide é o STF - art.102,I,f CF
É como se houvesse um conflito entre União e MG.
ACO853 e ACO889

13) Arquivamento dos autos do Inquérito Policial:

Natureza jurídica: é uma decisão judicial que resulta do consenso entre o


Ministério Público e a autoridade judiciária. Juiz não pode arquivar de ofício,
pois ele não é o titular da ação, ou seja, ele deve ser provocado.

É possível o arquivamento do Termo Circunstanciado.

13.1) Fundamentos do Arquivamento do Inquérito Policial:

a) Ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação.


(CJF) – pode reabrir o inquérito.
Ex. representação da vítima em crimes sexuais. Se a vítima se retratar, tirando
a representação, o promotor deve pedir o arquivamento do inquérito por
ausência de condição da ação.
Caso ela volte atrás (dentro do prazo decadencial de 06 meses), como é CJF o
promotor pode denunciar.

b) Ausência de lastro probatório (justa causa) para o oferecimento da


denúncia (mais comum)
(CJF) – essa decisão é baseada na cláusula Rebus Sic Standibus (significa
dizer que essa decisão se mantém enquanto mantidos os seus pressupostos).
Mantidos os pressupostos a decisão será mantida; alterados os seus
pressupostos, a decisão poderá ser alterada).
Ex. homicídios – não é possível identificar a autoria.

c) Manifesta Atipicidade Formal/Material:


(CJFM) - há análise do mérito. STF, HC 84156
Ex. Princípio da Insignificância na subtração de uma lata de leite.

d) Causa Excludente da Ilicitude.


(CJFM) – há análise do mérito.
Ex. legítima defesa.
Dificilmente MP pede arquivamento por legítima defesa.

Cuidado 01! A 1ª turma do STF (não é majoritária) no HC 95.211, decidiu que


se tratando de legítima defesa, a decisão só faria CJF.
Neste caso o delegado de polícia teria matado uma pessoa e o inquérito foi feito
em legítima defesa. Depois descobriu-se que foi queima de arquivo – assim
houve CJF e foi reaberto o processo.

Cuidado 02! Está em andamento no STF (pleno) HC 87.395 – 03 ministros já


decidiram que faz CJFM, mas professor não acha que esse pensamento vai
prevalecer.

e) Causa Excludente da Culpabilidade, salvo na hipótese de


inimputabilidade do art.26 caput, CP.
(CJFM) – decide o mérito.
Ex. é obrigatória a denúncia de um inimputável, porém com o pedido de
absolvição imprópria. (aplicação de medida de segurança).

f) Causa Extintiva da Punibilidade:


CJFM Ex. morte.

Cuidado 03! Há muita certidão de óbito falsa. Às vezes o juiz extingue o


processo em razão dessa certidão. Os tribunais decidem que a extinção da
punibilidade em razão de certidão de óbito falso é um ato inexistente, sendo
assim possível a reabertura das investigações.

13.2) Coisa Julgada no Arquivamento:


 Coisa Julgada Formal: (CJF) é a imutabilidade da decisão dentro do
processo em que foi proferida.
 Coisa Julgada Material: (CJFM) pressupõe a coisa julgada formal.
Imutabilidade da decisão fora do processo em que foi proferida.
13.3) Desarquivamento e Oferecimento de Denúncia:

Veja as hipóteses em que é possível o DESARQUIVAMENTO do IP:

É POSSÍVEL
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO
DESARQUIVAR?
1) Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação SIM
penal
2) Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria
ou prova da materialidade) SIM

3) Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO


4) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude STJ: NÃO STF: SIM

5) Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade NÃO


6) Existência manifesta de causa extintiva da punibilidade NÃO
Exceção:
certidão de óbito
falsa

STJ: NÃO STF: SIM


Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em
com base na existência de causa excludente da razão do reconhecimento de excludente de
ilicitude faz coisa julgada material e impede a ilicitude não faz coisa julgada material. Logo,
rediscussão do caso penal. surgindo novas provas seria possível reabrir o
O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF inquérito policial, com base no art. 18 do CPP e na
realmente permitem o desarquivamento do Súmula 524 do STF.
inquérito caso surjam provas novas. No entanto,
essa possibilidade só existe na hipótese em que o STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel. Min. Cármen Lúcia,
arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, julgado em 10/03/2009.
por falta de suporte probatório mínimo STF. 2ª Turma. HC 125101/SP, rel. orig. Min. Teori
(inexistência de indícios de autoria e certeza de Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
materialidade). STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014
(Info 554).

São conceitos diferentes:

a) Desarquivamento: é a reabertura das investigações de um Inquérito que


estava arquivado.
Pressuposto: notícia de provas novas.

Ex. tentativa de homicídio em moto; desconhecida a autoria. Foi arquivado por


ausência de lastro probatório. Uma sra. vai à polícia e dá o nº da placa e
desarquiva. Mas a moto era roubada e arquiva novamente.
Atribuição (de quem vai pedir o arquivamento):
1ª corrente: polícia art.18 CP
2ª corrente: MP

b) Oferecimento da Denúncia:
Após o arquivamento se surgirem provas novas, o MP deve oferecer denúncia.
Ex. no inquérito foram ouvidas 10 testemunhas. Surgiu a 11ª testemunha, ela é
considerada prova nova? Depende da relevância da informação que ela trouxer.

Provas novas: são aquelas provas capazes de alterar o contexto probatório


dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento.
A doutrina costuma citar 02 espécies de prova nova:
- prova formalmente nova: é aquela que já era conhecida, mas ganhou nova
versão. Ex. testemunha ameaçada em um primeiro momento decide falar depois.
- prova substancialmente nova: é uma prova inédita, ou seja, desconhecida a
época do arquivamento. Ex. desarquivou IP quando descobriu o cadáver/arma
do inquérito.

Tabela para revisão


OFERECIMENTO da denúncia RECEBIMENTO da denúncia
Representação será irretratável.  Maria da Penha – desistência
da representação.
 Pagamento/suspensão
tributária (8.137).
 Interrupção da prescrição.
 Estelionato do cheque sem
fundos
 Arrependimento posterior

Aula 04

13.4) Procedimento do Arquivamento do Inquérito Policial:

A) Juiz Estadual

MP
Promoção de Concorda
Juiz Homologa e
Arquivamento
arquiva
Não Concorda

PGJ – Art.28 CPP

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento
do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este
oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido
de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

O art.28 CPP consagra o Princípio da Devolução.


O juiz nesse caso exerce uma função anômala de fiscal do Princípio da
Obrigatoriedade.

Outras aplicações do art.28:

 Recusa injustificada de oferecimento pelo MP e transação


penal/suspensão do processo (o juiz X pode aplicar de ofício – Vide
Súmula 696 do STF).

Súmula 696
REUNIDOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, MAS
SE RECUSANDO O PROMOTOR DE JUSTIÇA A PROPÔ-LA, O JUIZ, DISSENTINDO, REMETERÁ A QUESTÃO AO
PROCURADOR-GERAL, APLICANDO-SE POR ANALOGIA O ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

 Da mesma forma aplica-se o art.28 quando da recusa do MP em aditar a


peça acusatória, (art.384,§1º)

§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste


Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Providências a serem adotadas pelo PGJ:


 Oferecer denúncia
 Requisição de diligências
 Insistir no arquivamento. Nesta hipótese o magistrado é obrigado a
atendê-lo. Conhecido como Promotor do 28
 Designar outro órgão do MP para atuar no caso.

Obs.1: a designação para atuar não pode recair sobre o mesmo promotor que
requereu o arquivamento para defender a independência funcional do MP.
Obs.2: prevalece o entendimento de que age por delegação (longa manus).

STF HC92.885: Supremo entendeu que essa designação não ofende o


Princípio do Promotor Natural.

b) Justiça Federal/ Justiça Comum do DF:


MP:MPF MP:MPDFT

MPF e MPDFT compõe o MPU.

 MPF – atua na Justiça Federal


MPU  MPM – atua na Justiça Militar da União
 MPT – Atua na Justiça do Trabalho
 MPDF – Atua na Justiça Comum

LC 75/93

MPF
Concorda
Promoção de Juiz Homologa
Arquivamento Federal e arquiva
Não Concorda

Há uma delegação do PGR para CCR.


2ª Câmara de Ela nem chega a ser analisada pelo PGR.
PGR coordenação e
Decisão Final revisão do MPF

Art.6 da LC75/93:

Na Justiça Federal, é diferenciado, pois há uma Manifestação da 2ª Câmara de


Coordenação (possui competência penal) de caráter opinativo.
Tendo em vista que há uma delegação do PGR para a CCR, a decisão final do
arquivamento é feita pelo próprio CCR.
Vide Enunciados 07 e 09 da 2ª câmara de Coordenação e revisão.

c) Justiça Eleitoral:

Promotor de Justiça Estadual


“atuando como Promotor Eleitoral”

MP

Promoção de Juiz Estadual


Arquivamento “juiz eleitoral”

Não concorda

Art.357,§1º do Código Eleitoral –


Procurador Regional Eleitoral
2ª CCR – Enunciado nº29
CCR MPF
O Código Eleitoral manda que os autos sejam encaminhados ao Procurador
Regional Eleitoral (Lei 4.737/65 art.357§1º). A jurisprudência entende que este
dispositivo teria sido tacitamente revogado pela LC75/93.
Sendo assim, deveria mandar para a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do
MPF.

d) Atribuição originária do PGR/PGJ:

PGR/PGJ
Arquivamento STF

Em regra, o arquivamento é uma decisão judicial. Porém nos casos de atribuição


originária do PGR e do PGJ, ou mesmo quando se tratar de insistência de
arquivamento nos casos do Art.28 CPP, trata-se de decisão de caráter
administrativo, que sequer precisa ser submetida à avaliação do tribunal
competente (STF, Inq 2.054).
No entanto, quando o arquivamento for capaz de produzir coisa julgada formal e
material, é obrigatório que o requerimento ministerial seja analisado pelo tribunal
competente. (STF, Inq. 1.443) Uma decisão administrativa de arquivamento não
pode produzir coisa julgada formal.

13.5) Arquivamento Implícito do Inquérito Policial:

Inq. Policial Denúncia


2 sujeitos: Tício
Tício e Mévio

2 crimes:
Tráfico e Tráfico
Homicídio

Conceito: ocorre quando o titular da ação penal deixa de incluir na denúncia


algum fato () investigado ou algum indiciado, sem se manifestar
expressamente no sentido do arquivamento. Caso o juiz não se pronuncie na
forma do art.28 CPP, dar-se-ia o arquivamento implícito ao que foi omitido da
peça acusatória.

Doutrina e jurisprudência não admitem o arquivamento implícito. STF:


RHC 95.141.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Não se aplica o princípio da indivisibilidade à ação penal pública
Na ação penal pública não vigora o princípio da indivisibilidade. Assim, o MP não
está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato tido por delituoso,
não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi
denunciado. Isso porque o Parquet é livre para formar sua convicção, incluindo
na denúncia as pessoas que ele entenda terem praticado o crime, mediante a
constatação de indícios de autoria e materialidade.
STJ. 6ª Turma. RHC 34.233-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 6/5/2014. Informativo 540 STJ

13.6) Arquivamento Indireto do Inquérito Policial:

Conceito: Ocorre quando o juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia


pelo MP fundado em razões de incompetência, recebe tal manifestação como
se tratasse de um pedido de arquivamento. Como juiz não pode obrigar o
promotor a oferecer denúncia sob pena de violação de sua independência
funcional, deve aplicar por analogia o art.28 do CPP, remetendo os autos ao
Procurador Geral de Justiça.

13.7) Recorribilidade no Arquivamento do Inquérito Policial: (cai em prova


objetiva)

O arquivamento é uma decisão irrecorrível, não sendo cabível ação penal


privada subsidiária da pública. Significa que se o promotor pediu o
arquivamento, ele não é inerte.

Exceções (é possível o recurso):

1) Nos casos de arquivamento nos crimes contra a economia popular/


saúde pública: recurso de ofício. Art.7º, Lei 1.521/51.

Art.7º Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a
economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do
respectivo inquérito policial.

Este art.7º aplica-se ao tráfico de drogas (tráfico é crime contra a saúde


pública)?
R. Não, porque drogas tem lei especial que não prevê esse recurso de ofício
(Princípio da Especialidade).

Tabela para revisão.

Recurso de Ofício:
Concede HC
Concede reabilitação art. 716 CPP
Arquiva Inquérito policial no crime de economia popular
Absolve nos crimes contra a saúde pública e não recebe revisão criminal
(art.625, §3º).

Juízo de Retratação (efeito regressivo/ iterativo ou diferido):


RESE
Carta testemunhável
Correição parcial
Agravo em execução (art. 197 LEP).

Defesa preliminar:
Lei 9.099
Crimes Funcionais
Crimes de competência originária dos tribunais (8.038)
Lei de Drogas.

2) Jogo do Bicho/Corrida de Cavalos: Cabe RESE.


3) Arquivamento de Inquérito pelo PGJ: pedido de revisão ao Colégio
de Procuradores.

13.8) Arquivamento por juízo absolutamente incompetente:


Ex. juiz da justiça militar arquivou um crime da justiça eleitoral.

Faz coisa julgada ou não?


R. De acordo com o STF, o arquivamento por juízo incompetente é capaz de
fazer coisa julgada formal e material, desde que devidamente fundamentado.
STF, HC94.982 (Pacelli não concorda com esse entendimento).

14) Trancamento do Inquérito Policial:

Arquivamento do IP: resultado do consenso entre MP e o juiz.


Trancamento do IP: medida de força que acarreta a extinção prematura das
investigações quando a mera tramitação do inquérito configurar
constrangimento ilegal.

Motivos (possuem caráter excepcional - bom para a defensoria pública):


1) Manifesta atipicidade no plano formal/material.
2) Causa extintiva da punibilidade.
3) Instauração do Inquérito em crimes de ação penal privada ou crimes de
ação penal pública condicionada à representação sem prévio
requerimento do ofendido.

Instrumento:
Habeas corpus, desde que haja risco a liberdade de locomoção. Deve haver
risco de pena privativa de liberdade.
Caso não haja risco a liberdade de locomoção cabe MS.

Ex.1 Porte de drogas não cabe HC, pois é punido com multa. A multa não pode
ser convertida em prisão, sendo assim, não cabe HC. Vide Súmula 693 STF.

Súmula 693
NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO CONDENATÓRIA A PENA DE MULTA, OU RELATIVO A
PROCESSO EM CURSO POR INFRAÇÃO PENAL A QUE A PENA PECUNIÁRIA SEJA A ÚNICA COMINADA.
Competência do HC:
Depende da autoridade coatora. Se quem determinou a instauração do
inquérito policial for:
 Autoridade Policial: Juiz de 1ª instância.
 Requisição do MP: Tribunal de Justiça (este promotor originariamente é
julgado pelo TJ, o HC tem que julgar no TJ, pois pode haver abuso de
autoridade por parte do Promotor).
 Requisição do MPDFT: TRF da 1ª região.

15) Investigação Criminal pelo MP:


Depende de qual prova será feita (delegado ou promotor).

Argumentos contrários (prova Argumentos a favor (prova MP)


delegado)
1- Atenta contra o sistema A – Não há violação ao sistema acusatório,
acusatório, pois cria um pois os elementos informativos produzidos
desequilíbrio na paridade de unilateralmente pelo MP serão submetidos
armas. (a defesa não pode ao contraditório judicial.
investigar).
2- A Constituição Federal dotou o B – Teoria dos Poderes Implícitos: se a
MP de requisitar diligências e a CF outorga a uma instituição
instauração de inquéritos, mas determinada finalidade, também concede
não o de presidi-los. a ela, implicita e simultaneamente, os
meios para atingir tal objetivo. Logo, se
o MP é o titular da Ação Penal Pública,
também dispõe da possibilidade de realizar
investigações criminais, em caráter
subsidiário e residual. (STF, Inq 1.968;
HC91661).
3 – Não há previsão legal de C – Procedimento Investigatório
instrumento para as Criminal:
investigações. Apesar da outra corrente defender que não
há previsão legal, este instrumento pode
ser utilizado pelo MP. Resolução 13
CNMP.
4 – Tramita no Congresso
Nacional a Proposta de
Emenda à Constituição 37/11
que pretende conferir às polícias
a exclusividade para as
investigações.

Posições dos Tribunais Superiores:


 No STJ: STJ HC 47.752 – Prevalece o entendimento favorável à
investigação do MP. Vide Súmula 234 STJ.

Súmula 234
A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
 No STF: está em andamento o julgamento no STF RE 593.727.

16) Controle externo da atividade policial pelo MP:


Art.129,VII CF.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;

Conceito: consiste no conjunto de normas que regulamentam a fiscalização


exercida pelo MP em relação à polícia, na pretensão e investigação de crimes,
na preservação dos direitos de presos sob responsabilidade policial e na
fiscalização do cumprimento de decisões judiciais.
Ex. “suicídio” na cadeia por traumatismo craniano; mandado de prisão que não
foi cumprido.

Esse controle externo decorre do sistema de freios e contrapesos inerente ao


regime democrático, e por conta dele não há qualquer hierarquia nem
subordinação dos organismos policiais.

Formas de controle externo do MP:


1 - CNMP (é órgão externo do MP)
2 - Poder Judiciário
3 - Ação Penal Privada Subsidiária da Pública

Espécies de controle externo da polícia pelo MP:


 Controle Difuso
 Controle Concentrado

Controle Difuso: é aquele exercido por todos os órgãos do MP com


atribuição criminal por ocasião da análise dos procedimentos que lhes são
distribuídos. Medidas que podem ser adotadas:
1 – Controle de ocorrências policiais.
2 – Controle de prazos de Inquéritos Policiais.
3 – Controle da destinação de bens apreendidos.
4 – Propositura de Medidas Cautelares. (ex. pedido de suspensão do exercício
da função pública do policial perante o juiz).

Controle Concentrado: É aquele exercido por órgãos do MP com atribuição


específica para o controle externo da atividade policial.
Medidas que podem ser adotadas:
1 – Ação de improbidade administrativa.
2 – Ação Civil Pública na defesa de interesses difusos e coletivos.
3 – Termo de Ajustamento de Conduta.
4 – Visitas às delegacias de Polícia e unidades prisionais.
5 – Verificação de comunicações de prisão em flagrante.
Resolução 20 CNMP: foi objeto de ADI 4.220 STF, mas não foi conhecida pelo
STF, pois esta resolução é um ato de natureza regulamentar. Sendo assim, ela
está em pleno vigor.

Obs. Em regra a decisão de arquivamento é irrecorrível, não cabendo ação penal


privada subsidiária da pública (não houve inércia do MP).
São exceções onde caberá recurso contra a decisão de
arquivamento:
A- Crimes: contra a economia popular e saúde pública (exceto trafico) (Lei
1.521/51);
B- Contravenção: de jogo do bicho e corridas de cavalo fora do hipódromo.
Caberá RESE de acordo com a lei 1.508/51;
C – Arquivamento pelo PGJ (é só por ele). Isso, pois, ele está submetido à lei
8.525/93. Segundo o texto dessa lei, caberá pedido de revisão ao colégio de
procuradores de justiça (art. 12, XI).
D – Arquivamento de oficio: Ocorre no caso de o juiz determinar o arquivamento
de ofício. Isso não pode ocorrer, e se ocorrer, caberá uma correição parcial.

Aula 05

AÇÃO PENAL

1. Conceito: Ação Penal é o Direito Público subjetivo de se pedir do


Estado Juiz à aplicação do direito objetivo a determinado caso
concreto.

Previsão Constitucional art.5º, XXXVCF.

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

2. Condições da Ação Penal: São condições necessárias para o exercício


regular do direito de ação.
Para exercer o direito de ação de forma regular é necessário as condições da
ação chamadas de condições de procedibilidade.
Espécies de condições da ação:
a) Condição Genérica: essas condições devem estar presentes em toda e
qualquer ação penal.
b) Condição Específica: essa condição será necessária em apenas
algumas situações a depender da infração penal ou da pessoa do
acusado.
Ex.1: representação da vítima em crimes informáticos (lei 12.737/2012- art.154-
B); crimes sexuais.
Ex.2: requisição do Ministro da Justiça.
Ex.3: condição de militar no crime de deserção.
Conseqüência da ausência de uma das condições: por ocasião do juízo de
admissibilidade da peça acusatória: rejeição da peça acusatória, art.395,II
CPP.

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

Se durante o curso do processo o juiz verifica a falta de condição do processo,


o ideal é que ele realize a:

1ªc) declaração da nulidade absoluta do processo, desde a inicial. (art.564,II,


CPP). - majoritária

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


II - por ilegitimidade de parte;

2ªc) extinção do processo sem a apreciação do mérito. art.267,VI CPC; art.3º


CPP.
Art. 3o CPP A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.
Art. 267. CPC entingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de
2005).
VI- quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade
das partes e o interesse processual.

A rejeição, nulidade absoluta, extinção do processo sem apreciação do mérito


só fazem coisa julgada formal.
Significa que posteriormente, quando este vício for sanado uma nova peça
acusatória pode ser oferecida.

3. Condições Genéricas da Ação Penal: PIL

3.1. Possibilidade Jurídica do Pedido:


O pedido deve se referir a uma providência admitida pelo direito objetivo, pelo
menos em tese.
Ex. Cobrança de Dívidas de Jogo. Art.814CC.

Art. 814 CC. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a
quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.

No processo penal, o pedido não tem tamanha importância, pois o acusado


defende-se dos fatos que lhe são imputados.
A imputação deve se referir à prática de fato típico, ilícito e culpável (crime),
aparentemente punível.
Ex. (questão MPMG, 2ª fase) houve a instauração de processo penal contra
menor de 18 anos objetivando sua condenação pela prática de um crime e a
aplicação de pena privativa de liberdade. Art.228CF
Art. 228 CF. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação
especial.

Por ser inimputável falta ao menor a capacidade de culpabilidade. Não havendo


culpabilidade, não há crime e o pedido seria juridicamente impossível. Como o
processo já estava em andamento, ou pediria a nulidade total do processo ou a
extinção do processo (conforme as 02 correntes acima). O juiz iria posteriomente
remeter para o juizado de menores.

3.2. Legitimidade para Agir (Legitimidade Ad Causam)


É a pertinência subjetiva da ação. Quem pode ajuizar e contra quem se pode
ajuizar.

A. Legitimidade ativa no processo penal.


Depende da ação penal. Se for:
Ação Penal Pública: MP (CF, Art.129,I)
Ação Penal Privada: ofendido/representante legal nos crimes de ação penal
privada.
Ex.1. Tício e Mévio trocam ofensas para a propaganda eleitoral. Tício ajuíza
queixa crime em face de Mévio pela prática do crime de calúnia (CP, art.138).
Como promotora de justiça, vista ao MP para emitir parecer.
R. As ofensas foram trocadas durante o período da propaganda eleitoral. Foi
cometido, na verdade, o crime previsto no Art.324 do Código Eleitoral.
É um crime de natureza eleitoral, que segundo o Art.355 do CE, são ações penal
pública.
Art. 324. Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda, imputando-lhe
falsamente fato definido como crime.
Art. 355. As infrações penais definidas neste Código são de ação pública

Deve ser reconhecida e ilegitimidade do Tício, com a conseqüente rejeição da


queixa-crime.

Ex.2. Em data de 30/08/09, Tício foi vítima de injúria racial. Em data de


30/10/2009, um advogado é procurado por Tício, manifestando o seu interesse
na persecução penal. De quem é a legitimidade ativa?

R. Em 30/09/2009 entrou em vigor a lei 12.033/09. Ela alterou o art.145 do CP.


(injúria racial) que passou a ser ação penal pública condicionada.

30/08/09 30/09/09 30/10/09


Injúria racial era punido Lei 12.033/09 virou De quem é a
por ação penal privada. ação penal pública Legitimidade ativa ?
Causas extintivas da condicionada à
punibilidade da ação penal representação. Nesse exemplo, o
privada: Causas Extintivas da ofendido que é parte
 decadência Punibilidade da ação legítima, devendo
 renúncia penal pública: passar uma procuração
 perdão * decadência para o seu advogado.
 perempção
A primeira vista, a mudança produzida pela Lei 12.033/09 parece ter natureza
genuinamente processual, logo de aplicação imediata (CPP, art.2º), pois houve
alteração quanto ao legitimado ativo quanto ao crime de injúria racial.
Porém, não se pode perder de vista que quando um crime é de ação penal
privada, é possível a incidência de 4 causas extintivas da punibilidade
(decadência, renúncia, perdão e perempção). Logo, como a Lei 12.033/09
transformou um crime de ação penal privada em crime de ação penal pública
condicionada a representação no qual é cabível apenas a decadência do direito
à representação, é evidente que se trata de norma processual mista de
natureza mais gravosa e, portanto, irretroativa.

B. Legitimidade Passiva:
Recai sobre o provável autor do fato delituoso com mais de 18 anos (menor de
18 são penalmente inimputáveis).

 Quando a negativa de autoria (acusado se declara inocente) depender


de dilação probatória, trata-se de matéria afeta ao mérito há a
possibilidade de ilegitimidade passiva no processo penal?
R. Sim, é possível. Exemplos de ilegitimidade passiva:
Ex.1. Homônimo; documentos furtados e utilizados na identificação de um crime
Ex.2. qualificar erroneamente a testemunha como réu.
STF HC 72451

3.2.1. Legitimidade da Pessoa Jurídica no Processo Penal:

Legitimidade Ativa: é possível.


Ex. Difamação (art.139 CP)
Legitimidade Passiva: é possível. Restrito aos crimes ambientais.

Teoria da Dupla Imputação: admite-se o oferecimento de denúncia em face da


pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais, desde que haja a
imputação simultânea à pessoa física que atua em seu nome ou benefício
(STF, HC 92.921).

3.2.2. Legitimação Extraordinária no Processo Penal:

Legitimidade Ordinária: Alguém age em nome próprio na defesa de interesse


próprio. Ex. ação penal pública, por mais que o MP esteja protegendo
interesse da sociedade, mesmo assim ele age em interesse próprio (art.129,I,
CF).

Legitimidade Extraordinária: alguém age em nome próprio em defesa de


interesse alheio art.7 e seguintes do CPC.
Ex.1. Ação Penal Privada (se refere a todas as modalidades –
personalíssima/exclusiva/subsidiária). Aqui o querelante age em nome próprio,
porém na defesa de interesse do Estado, a quem pertence o direito de punir.
Ex.2. Ação Civil Ex Delicto proposta pelo MP em favor de vítima pobre. Art.68
CPP.
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da
sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo
Ministério Público.

 Pergunta: o MP pode entrar com ação em fase de direitos disponíveis?


R. Este artigo deveria não ter sido recepcionado pela CF, pois não é da
competência deste defender direitos disponíveis. Entretanto, não há Defensoria
em todas as Comarcas. Para o Supremo, o art.68 CPP seria dotado de
inconstitucionalidade progressiva (ou temporária): enquanto não houver
Defensoria Pública na Comarca subsiste a legitimidade do MP para promover
a ação civil ex delicto em favor de vítima pobre (RE 135.328)

3.3. Interesse de Agir:

 Necessidade
Subdivide-se em 3 trinômios:  Adequação
 Utilidade

Necessidade: no processo penal, a necessidade é presumida, pois não há


pena sem processo.
Preciso processar um réu confesso? Sim.

Adequação: não tem importância no Processo Penal Condenatório, pois não


há diferentes espécies de ações penais condenatórias.

Em Ações Penais Não Condenatórias a adequação é relevante. Ex. Habeas


Corpus é um instrumento de natureza constitucional que tutela apenas a
liberdade de locomoção. Vide Súmula 693 STF.

Súmula 693
NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO CONDENATÓRIA A PENA DE MULTA,
OU RELATIVO A PROCESSO EM CURSO POR INFRAÇÃO PENAL A QUE A PENA
PECUNIÁRIA SEJA A ÚNICA COMINADA.

Sendo assim, não cabe HC no caso do art.28 da Lei de Drogas, pois não permite
penas privativas de liberdade.

Quando não cabe HC, deve-se impetrar MS.

Utilidade: eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor.


A tutela jurisdicional deve satisfazer os interesses do autor e não discutir teses
teóricas.

Prescrição em Perspectiva (prescrição virtual/hipotética): consiste no


reconhecimento antecipado da prescrição em virtude da constatação de que, no
caso de possível condenação, eventual pena que venha a ser imposta ao
acusado estaria fulminada pela prescrição da pretensão punitiva retroativa,
tornando inútil a instauração do processo penal.
Para os tribunais não se admite o reconhecimento dessa modalidade de
prescrição, pois não tem previsão legal. Súmula 438 STJ e RE 602.527 do STF
Para a doutrina, apesar de não haver previsão legal, é possível que uma
denúncia não seja oferecida em virtude da ausência de interesse de agir, pois
não haveria utilidade em se levar adiante um processo fadado à prescrição.

Ex. Crime de furto cometido em 25/05/2005. Vista dos autos de Inquérito em


12/10/08.

25/05/2005 12/10/08
art.155, caput – pena de 1 a 4 anos Vista dos autos do Inquérito do MP.
Menor de 21

Não houve a prescrição do cometimento da ação e vista do inquérito. Na


prescrição abstrata (4 anos) não ocorreu a prescrição em abstrato. Entretanto,
no caso concreto o promotor verifica que o sujeito será condenado a 1 ano.
Ocorrerá assim, a prescrição da pena in concreto. Nessa hipótese o promotor
deixa de promover a ação por essa previsão.

Súmula 438
É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena
hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

Aula 06: 03/04/2013

3.4) Justa causa:

I. Conceito: lastro probatório mínimo indispensável para a instauração


de um processo penal.

Ex. O STF decidiu que para haver justa causa para o crime de assédio sexual
não basta o simples depoimento da vítima para iniciar a persecução penal,
carecendo de outro lastro probatório para iniciá-la.

II. Natureza Jurídica:


1ªc) 4ª condição genérica da ação penal.
2ªc) requisito para o oferecimento da peça acusatória. Da mesma forma que eu
precisaria de um direito líquido e certo no MS, seria necessário um lastro
probatório mínimo para o oferecimento da ação acusatória.

III. Justa Causa Duplicada:


LFG que criou esta nomenclatura. Está relacionada aos crimes de lavagem de
capitais. Trata-se de um crime acessório que exige como crime antecedente
qualquer infração penal. Obriga a trazer com a denúncia um lastro probatório
quanto a lavagem e quanto a infração antecedente. É preciso demonstrar que o
dinheiro escondido é produto de infração penal, não bastando a simples
ocultação do dinheiro.

4) Condições:
4.1) Condição de Procedibilidade:
Conceito: é sinônimo de condição da ação. Funciona como uma condição
necessária para o início do processo. Significa que o processo não começou
sendo necessária esta condição para que ocorra a persecução penal.
Ex. Crimes sexuais dependem de representação - Art.125 CPP.

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

4.2) Condição de Prosseguibilidade:


É condição superveniente da ação. O processo já está em andamento e esta
condição deve ser implementada para que o processo possa seguir seu curso
normal.
Ex. qual é a espécie de ação penal de lesão corporal leve/ lesão culposa.
Antes da Lei 9.099/95 esses 2 crimes eram de ação penal pública
incondicionada.

Depois da Lei 9.099/95, a ação penal passa a ser pública condicionada a


representação. Vide art. 88 Lei 9.099/95.

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a
ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

 Qual é a natureza jurídica da representação da lei dos juizados?


R. Para os processos que já estavam em andamento à época, a representação
funcionou como verdadeira condição de prosseguibilidade. Para os processos
ainda não iniciados à época, funciona como condição de procedibilidade.
Vide art.91 da Lei 9.099/95.

Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal
pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias,
sob pena de decadência.

Atenção! Processos em andamento a época que entrou em vigor a lei 12.015/09


quanto ao estupro praticado com violência real.
Antes da Lei 12.015/09 estes crimes eram de ação penal pública incondicionada.
Vide Súmula 608 STF.

Súmula 608
NO CRIME DE ESTUPRO, PRATICADO MEDIANTE VIOLÊNCIA REAL, A AÇÃO PENAL É PÚBLICA
INCONDICIONADA.

Depois da Lei 12.015/09 não houve menção a este crime. Assim, aplica-se a
regra: ação penal pública condicionada a representação.

Ex.

10/06/09 10/07/09 10/08/09

Crime de MP denúncia. Vigência da


estupro com Crime de Ação Lei 12.015/09
violência real Pública Ação Pública
Incondicionada. Condicionada
Início do à
Processo representação
 Esta representação (em 10/08/09) funciona como condição de
prosseguibilidade?
R. A controvérsia é muito grande: (adotar a corrente de acordo com a prova)
1ªc) Trata-se de ato jurídico perfeito, já que a denúncia fora oferecida antes da
vigência da lei 12.015/09. Ademais, ao contrário da Lei 9.099/95, a Lei 12.015
nada disse quanto à necessidade de se chamar a vítima para oferecer
representação para os processos que já estavam em andamento. (concurso
MP).
2ªc) Ao exigir representação para os crimes de estupro cometidos com violência
real, a lei 12.015/09 funciona como norma processual mista, pois o não
oferecimento da representação é causa de decadência e consequentemente
extinção da punibilidade. Logo, mesmo se o processo já estava em
andamento, a vítima deve ser intimada para que ofereça representação no prazo
de 6 meses (há quem entenda que esse prazo seria de 1 mês, nos temos do
art.91 da Lei 9.099/95). (concurso defensoria).

(Qual das 2 deverá prevalecer na jurisprudência? Como se trata de crimes


sexuais, tende a ser a 1ª corrente por conta da natureza da infração).

5) Classificação das Ações Penais Condenatórias:


É classificada de acordo com o seu pólo ativo:

5.1) Ação Penal Pública:


 Titular: MP (art.129,I,CF)
 Peça Acusatória: Denúncia.
 Espécies:

A. Ação Penal Pública Incondicionada: o MP não depende de representação


do ofendido e nem de requisição do Ministro da Justiça.
Funciona como regra. Art.100 CP.

Ação pública e de iniciativa privada


Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

B. Ação Penal Pública Condicionada: nesse caso a atuação do MP depende da


representação da vítima ou de requisição do Ministro da Justiça. Art.155 CP
c/c art.182 CP

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência
à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído pela
Lei nº 10.741, de 2003)

Atenção! Nem sempre a ação penal está expressa no tipo, mas estão previstas
no final do capítulo daquele crime.
Em regra o crime de furto, é de ação penal incondicionada. Entretanto é
condicionada à representação nos casos do art.182 CP.

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante
violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para
obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa
de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos
comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.

Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o
crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.”

A vítima do 154-A caput CP é a pessoa que teve o seu dispositivo informático


invadido.
A vítima do §1º, 154-A é crime de perigo, ou seja, não há uma vítima específica
O art.154-B dispõe que a espécie de ação penal é ação condicionada a
representação.
Entretanto, no §1º, Art.154-A CP não tem vítima específica, então quem iria
representar? Sendo assim, para Renato, este dispositivo remeteria à ação penal
incondicionada.

C. Ação Penal Pública Subsidiária da Pública:

Ex.1: Decreto-Lei 201/67: art.2º, §2º - Se o MP Estadual não fizer nada poderá
ser requerido providências ao Procurador Geral da República.
Atenção! Apesar de ser utilizado este exemplo, a maioria da doutrina conclui
que este dispositivo não foi recepcionado pela CF/88.
Primeiro porque ele atenta contra os MP’s estaduais, pois o PGR é chefe do
MPU e não dos Estados,
Segundo porque não está previsto no art.129 CF.

Ex.2: Código Eleitoral: art.357, §§3º e 4º. Trata-se de uma hipótese


recepcionada pela CF/88, porque o promotor estadual atua por delegação. Daí
o PRG poderia intervir.

§ 3º Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo legal representará contra êle a
autoridade judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade penal.
§ 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior o juiz solicitará ao Procurador Regional a
designação de outro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia.

Ex.3: Incidente de Deslocamento da Competência: (CF, art.109, V-A,§5º)


O crime que seria originariamente julgado pela justiça estadual, será julgado pela
justiça federal se houver desídia e violação dos direitos humanos.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º
deste artigo;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

5.2) Ação Penal de Iniciativa Privada:


É melhor colocar “iniciativa privada”, pois o direito de ação possui caráter público.
 Titular: Ofendido (representante legal)
 Peça Acusatória: Queixa-Crime
 Espécies:

A. Ação Penal Privada Personalíssima: a legitimidade é exclusiva do


ofendido. No caso de morte do ofendido não haverá sucessão processual.

 A morte da vítima extingue a punibilidade?


R.Sim, na ação penal personalíssima. Atente-se que o art.107,I CPP fala da
extinção da punibilidade diante da morte do agente.
O único exemplo de ação penal privada personalíssima é do art.236 CP –
induzimento a erro essencial. (antes o adultério também era, mas foi
revogado).

Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento


Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada
senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o
casamento.

B. Ação Penal Exclusivamente Privada: no caso de morte haverá sucessão


processual.

C. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública: em sua origem ela possui


natureza pública, mas diante da inércia do MP, surge para a vítima o direito de
propor ação através de uma queixa-crime subsidiária.

6) Princípios da Ação Penal:

Ação Penal Pública Ação Penal de Iniciativa Privada


Ne Procedat Iudex ex Officio Ne Procedat Iudex ex Officio
Ne Bis In Idem Processual Ne Bis In Idem Processual
Princípio da Obrigatoriedade Princípio da Oportunidade ou
Conveniência.
Princípio da Princípio da Disponibilidade
Indisponibilidade/Indesistibilidade
Princípio da divisibilidade Princípio da Indivisibilidade

6.1) – Princípio do Ne Procedat Iudex ex Officio:


Aplicado a ambas as ações.
Trata-se do Princípio da Inércia da Jurisdição. Aplica-se à ação penal pública e
privada.
Ao Juiz não é dado iniciar de ofício um processo penal condenatório. Este
Princípio tem status Constitucional. Art.129,I CF

Não se pode admitir que o juiz inicie uma ação de ofício, pois isso comprometeria
a sua imparcialidade.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

Processo Judicialiforme/ Ação Penal Ex Officio: era aquele processo instaura


de ofício pelo juiz através de uma portaria. O CPP ainda possui resquícios do
Código Penal Italiano (que era muito autoritário). Entretanto é necessário fazer
uma leitura constitucional destes dispositivos, pois não foram recepcionados
pela CF. Diante disso, o art. 26 CPP não foi recepcionado pela CF.

Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por
meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.
Atenção! O juiz pode conceder ordem de HC de ofício dentro de sua
competência, pois é uma ação que visa a proteção da liberdade de locomoção.
Art.654, §2º CPP:

§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando
no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Obs. a prisão temporária NÃO pode ser decretada de ofício, ao contrário do


que ocorre com a prisão preventiva. Para tanto, deve haver requerimento do MP
ou representação da autoridade policial.

6.2) Princípio do Ne Bis In Idem Processual/ Double Jeopardy:


Aplicado a ambas as ações.
Uma mesma circunstância não pode ser levada em consideração 2 vezes uma
mesma circunstâncias.
Ex. o crime de aborto já é um crime contra a gestante.

Ninguém pode ser processado 2 vezes pela mesma imputação.


Este processo está ligado à segurança jurídica. Vide §4 da Convenção
Americana de Direitos Humanos (status supralegal).
A pessoa não pode ser submetida a novo processo pelos mesmos fatos, mesmo
advindo novos elementos sobre este.
Se a imputação/ fato delituoso for diferente pode haver outro processo.

 Se a 1ª sentença foi dada por juízo incompetente, será necessária uma


outra decisão?
R. Decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade, mesmo que
proferida por juiz absolutamente incompetente, é capaz de transitar em julgado
e produzir os seus efeitos regulares, dentre eles o de impedir que o acusado seja
novamente processado pela mesma imputação perante a justiça competente.
(STF HC 86.606)
Atenção! Não existe revisão criminal pro societat.
Ex. crime militar foi absolvido por sentença de juiz federal e transitou em julgado.
Ela não pode ser revista.

6.3.1) Princípio da Obrigatoriedade/ Princípio da Legalidade Processual:

Aplicado a Ação Penal Pública.


Presentes as condições da ação e havendo justa causa, o MP é obrigado a
oferecer denúncia. Assim, o Promotor não pode escolher se vai ou não
denunciar. Está previsto no art.24 CPP, logo é um Princípio que está previsto em
lei.

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
Atenção! O Promotor é obrigado a oferecer a denúncia, mas não é obrigado a
pedir a condenação do acusado. Ainda assim, o juiz pode condenar o acusado.
Vide Art.385 CPP:

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma
tenha sido alegada.

O Princípio da Obrigatoriedade remete aos Mecanismos de Fiscalização:


 Art.28 CPP: Quando o MP exerce uma função anômala de fiscal da
obrigatoriedade exercida pelo juiz.
 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento
do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá
a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Exceções ao Princípio da Obrigatoriedade:


O Promotor não é obrigado a oferecer denúncia quando há transação penal,
acordo de leniência, parcelamento do débito tributário, termo de
ajustamento de conduta em crimes ambientais.

Transação Penal: art.76 Lei 9.099/95.


A doutrina diz que o Princípio da Obrigatoriedade sofre uma mitigação.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo
caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de
direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

Acordo de Leniência (Acordo de Brandura ou de Doçura):


Trata-se de uma espécie de colaboração premiada em crimes contra a ordem
econômico financeira. Prevista na Lei 12.529/11, art. 86 e 87.

Art.86 – Acordo de Leniência Administrativo


Art. 86. O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo de leniência, com a
extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da
penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de
infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo
administrativo e que dessa colaboração resulte

Art. 87 – Acordo de Leniência Criminal


Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e
nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como (exemplificativo) os tipificados
na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina
a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente
beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a
punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo.
Parcelamento do Débito Tributário:
Art.83, §2º da Lei 9.430/96 com redação dada pela Lei 12.382/11.

§ 2o É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o
período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver
incluída no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do
recebimento da denúncia criminal. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011).

Se o sujeito até o parcelamento pagar o débito, o MP não pode oferecer


denúncia.

Termo de Ajustamento de Conduta nos Crimes Ambientais:


Para o STF, enquanto houver o cumprimento do termo, não há necessidade de
oferecimento de denúncia (HC 92.921).
Para o STJ, o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta, que tem
natureza administrativa, não impede o oferecimento de denúncia (STJ, HC
187.043)

6.3.2) Princípio da Oportunidade ou Conveniência:


Aplicado à Ação Penal de Iniciativa Privada.
Cabe ao Ofendido optar pelo oferecimento (ou não) da queixa-crime
Ex. Presidente da Câmara deixou de processar Xuxa, que o chamou de monstro.

Não exercício do direito de queixa:

i) Decadência: é a perda do direito de ação penal privada (ou de


representação) em virtude de seu não exercício no prazo legal.
Natureza Jurídica da Decadência: é causa extintiva da punibilidade em crimes
de ação penal exclusivamente privada personalíssima, ou que dependem de
representação. Na ação privada subsidiária da pública também há a decadência
imprópria: a decadência não acarretará extinção da punibilidade, mas apenas a
perda do direito da ação privada subsidiária da pública.
O Prazo Decadencial é de 6 meses. Vide art.38 CPP.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier
a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo
prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.

Como se trata de causa extintiva da punibilidade, o prazo de decadência é um


prazo de natureza penal, devendo ser contado o dia do início da ação penal.
Vide Art.10 CP.

Contagem de prazo(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)


Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
calendário comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Prazo decadencial é um prazo fatal/improrrogável. Não está sujeito a


interrupção/suspensão. Assim, o pedido de instauração de inquérito não
suspende/interrompe o prazo decadencial.
Regra: este prazo decadencial começa a contar do conhecimento da autoria.
Exceção: Art.236, parágrafo único CP. No prazo decadencial no crime de erro
sobre a pessoa, a própria lei diz que a queixa só pode ser ajuizada do trânsito
em julgado da sentença que anulou o casamento.

Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada
senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o
casamento.

Questão prática: Houve decadência no caso abaixo?

03/04/13 01/10/13 03/10/13

Injúria Oferecimento Recebimento da


da queixa crime queixa por um juiz
incompetente

R: Não confundir prescrição com decadência. A decadência é o prazo para o


direito de ação. O recebimento interessa para a prescrição, pois interrompe esta.
Exercido o Direito de Queixa-Crime por meio de oferecimento da Peça
Acusatória dentro do prazo legal não há falar em decadência, mesmo que a
queixa tenha sido oferecida perante o juízo incompetente. STJ HC11291

Aula 07

ii) Renúncia:
É o ato unilateral e voluntário por meio do qual o legitimado ao exercício da
ação penal privada abre mão do seu direito de queixa. Trata-se de causa
extintiva da punibilidade nas hipóteses da ação penal exclusivamente
privada ou privada personalíssima.

Obs.1: ocorre antes do início do processo.


Obs.2: independe de aceitação por parte do autor do delito. (ato unilateral)
Obs.3: a renúncia pode ser expressa ou tácita.

Renúncia expressa: deve ser inequívoca (é raro acontecer na prática) Art.50


CPP

Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante
legal ou procurador com poderes especiais.
Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito)
anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
Renúncia tácita: prática de ato que revela a incompatibilidade com a vontade
de exercer o direito de queixa. Art.104 CP
Ex. convidar o acusado para ser seu padrinho de casamento.

Renúncia expressa ou tácita do direito de queixa


Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou
tacitamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade
de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo
crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Obs.4: O fato de o ofendido receber indenização não implica em renúncia tácita,


salvo no âmbito dos juizados na hipótese de composição dos danos civis.
Art.74 da Lei 9.099/95.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.

6.4.1) Princípio da Indisponibilidade (Indesistibilidade):

Trata-se de um desdobramento do Princípio da Obrigatoriedade durante o curso


do processo. Cabe apenas na ação penal pública. Art.42 e 576 CPP.

Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.


Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.

O Ministério Público não é obrigado a recorrer, mas a partir do momento que


interpõe o recurso, ele não pode desistir deste. Entretanto, por mais que não
possa desistir do processo, isso não impede que a o Parquet peça a absolvição.
Art.385 CPP

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma
tenha sido alegada.

Exceção ao Princípio da indisponibilidade: Suspensão condicional do processo.


(Lei 9.099/95, art.89)

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não
por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois
a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código
Penal).

Requisito objetivo: pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano.

Atenção! Art.7º, Lei 8.137.


Pena – detenção de 2 a 5 anos, ou multa
A pena de multa vem de maneira alternativa.
Para o Supremo, quando a pena de multa vier cominada de maneira alternativa,
será cabível a suspensão condicional do processo, mesmo que a pena mínima
cominada seja superior a 1 ano (HC 83926)

6.4.2) Princípio da Disponibilidade:


O querelante pode dispor do processo em andamento. Cabe apenas na ação
penal privada.

Formas de disposição:

a) através da conciliação e desistência no procedimento dos crimes


contra a honra de competência do juiz singular.
É raro de ocorrer, porque na maioria das vezes os crimes contra a honra são
julgados nos juizados especiais. Se ficar na mão do juiz singular obedece a este
procedimento especial. Art.522 CPP

Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a
queixa será arquivada.

b) através do perdão do ofendido.


Perdão do ofendido: é o ato bilateral e voluntário por meio do qual o querelante
resolve não prosseguir com o processo que já estava em andamento,
perdoando o acusado. Trata-se de causa extintiva da punibilidade nos casos
de ação penal exclusivamente privada ou privada personalíssima.

(se for ação penal privada subsidiária da pública, o perdão do querelante não
extingue a punibilidade)

Obs.1: o perdão do ofendido não se confunde com o perdão judicial.

Perdão do ofendido: art.107,V CP


Perdão judicial: art.107, IX CP – é o perdão concedido pelo juiz dado a qualquer
tipo de ação judicial (público ou privada) – ex. art. 121, §5º CP

Extinção da punibilidade
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; (perdão do
ofendido)
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. (perdão judicial)

Art. 121 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

Ao contrário da renúncia, que se manifesta antes do início do processo, o perdão


só pode ser concedido pelos querelantes durante o curso do processo e até o
trânsito em julgado da sentença condenatória.Art.106, §2º CP

Renúncia Perdão
Início do processo Trânsito em julgado

§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O perdão do ofendido depende de aceitação do querelado, que pode ser


expressa ou tácita.

Atenção! O silêncio do querelado importa em aceitação tácita. Art.58 CPP

Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer,
dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará
aceitação.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.

c) Perempção:
Perempção: é a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal
privada em virtude da negligência do querelante, com a conseqüente extinção
da punibilidade nos crimes de ação penal exclusivamente privada ou privada
personalíssima.
Trata-se de uma sanção ao querelado, uma causa extintiva da punibilidade que
não se aplica a ação penal privada subsidiária da pública.

Não se confunde com a decadência que é a perda do direito de dar início ao


processo em crimes de ação penal privada.

Art.60 CPP
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação
penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
Obs.1: prevalece o entendimento de que o querelante deve ser intimado para apresentar eventual
justificativa para o abandono do processo.
Obs.2: a contagem do prazo de 30 dias deve ser contínua, ou seja, não é suficiente uma paralisação,
p.ex, de 10 e depois de 20 dias.

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-
lo, ressalvado o disposto no art. 36;
Obs.1: não há necessidade de intimação de cada um dos sucessores.

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a
que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
Obs.1: a ausência do querelante a audiência de conciliação nos crimes contra a honra não é causa de
perempção, mas sim demonstração inequívoca de desinteresse na reconciliação.
Obs.2: ao contrário da ação penal pública, na qual é possível a condenação do acusado mesmo diante
de pedido absolutório do MP, quando se tratar de ação penal exclusivamente privada ou privada
personalíssima, o pedido de absolvição formulado pelo querelante é causa de perempção.
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

6.5.1) Princípio da Indivisibilidade


Aplica-se a ação penal privada.
O processo de um obriga ao processo de todos. Não é possível escolher o autor
do delito. Art.48 CPP.

Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério
Público velará pela sua indivisibilidade.

Fiscalização do Princípio da Indivisibilidade pelo Ministério Público:

I) Se a omissão do querelante for voluntária, ou seja, tinha consciência do


envolvimento de mais de um agente, mas ofereceu queixa apenas contra
um deles, deve ser reconhecido que houve renúncia tácita quanto àquele
não incluído na queixa, renúncia esta que irá se estender a todos os demais
coautores e partícipes. Art.49 e 51 CPP

Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos
se estenderá.

Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia,
efeito em relação ao que o recusar

II) Se a omissão do querelante foi involuntária, ou seja, o querelante não


tinha consciência do envolvimento dos demais agentes, o MP deve
requerer a intimação do querelante para que proceda ao aditamento da
queixa-crime, sob pena, de não o fazendo, haver renúncia tácita que se
estenderá aos demais coautores e partícipes.

6.5.2) Princípio da divisibilidade


Parte minoritária da doutrina defende que aplica-se o Princípio da Indivisibilidade
a ação penal pública.

Doutrina majoritária e os Tribunais Superiores defendem o Princípio da


Divisibilidade na ação penal pública.
O MP pode denunciar alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das
investigações em relação aos demais STJ REsp 388.473.

7) Representação do Ofendido:

7.1) Conceito:
É a manifestação do ofendido ou de seu representante legal no sentido de que
possui interesse na persecução penal do fato delituoso.

 Vigora o Princípio da Oportunidade e da Conveniência. O sujeito não é


obrigado a exercer o direito.
 Não há necessidade de formalismo.

Ex. mulher se submeteu a um exame de corpo de delito, mas não assinou o


termo “representação”. A jurisprudência entende que isso já é uma
representação. STJ HC 89.475.

7.2) Natureza Jurídica:


Em regra, a representação é uma condição específica da ação penal.

Caso o processo já esteja em andamento e a lei passe a exigir uma


representação para o prosseguimento do processo. Nessa hipótese, a
representação é uma condição de prosseguibilidade. Art.91 da Lei 9.099/95.

Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal
pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob
pena de decadência.

7.3) Legitimidade para o oferecimento da representação:

A) Ofendido com 18 anos completos:

Antes CC/2002 Depois CC/2002


O entendimento era de que quando o Art.5º CC alterou a capacidade civil
ofendido tivesse com idade entre 18 e plena aos 18 anos.
21 anos, tanto ele quanto seu Com 18 anos cessa a menoridade,
representante teriam legitimidade logo apenas o efendido pode exercer
concorrente. O art.34 CPP e Súmula o direito.
594 STF foram superadas.
Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos
maior de 18 anos, o direito de queixa poderá ser completos, quando a pessoa fica habilitada à
exercido por ele ou por seu representante legal. prática de todos os atos da vida civil.

Súmula 594 STF – leia-se é um direito


de pessoas de 18 a 21 anos
Súmula 594
OS DIREITOS DE QUEIXA E DE REPRESENTAÇÃO
PODEM SER EXERCIDOS, INDEPENDENTEMENTE,
PELO OFENDIDO OU POR SEU REPRESENTANTE
LEGAL.

B) Ofendido menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental:

O direito de representação será exercido pelo representante legal.


Representante legal é qualquer pessoa que é responsável pelo menor de 18
anos, mentalmente enfermo ou retardado mental. Assim, não há necessidade de
formalismo para ser o representante legal.

Inércia do representante legal e decadência do direito de queixa ou de


representação:
Posição majoritária (MP/Magistratura): não há falar em decadência de um
direito que não pode ser exercido. Logo, por mais que o representante legal
tenha permanecido inerte, quando o ofendido completar 18 anos poderá exercer
o direito de queixa ou de representação, desde que a punibilidade não esteja
extinta pela prescrição.
(ex. caso da Joana Maranhão foi vítima de abuso sexual pelo treinador durante
a infância. Ela disse que contou pra mãe, mas esta não fez nada).

Colocar na prova da Defensoria: se o incapaz tem representante legal, isso


significa dizer que o direito de queixa ou representação podia ser por ele
exercido. Logo, se o representante legal permaneceu inerte, haverá decadência
e consequentemente extinção da punibilidade,

Se não houver representante legal/ colisão de interesses: é necessário que o


Promotor peça ao juiz a nomeação de um curador especial. Art.33 CPP

Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser
exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz
competente para o processo penal

Atenção! O curador especial não é obrigado a oferecer queixa ou


representação. A nomeação é feita para que este realize um juízo de
oportunidade e conveniência.

C) Ofendido casado com idade entre 16 e 18 anos:

A doutrina processual penal entende que a pessoa casada entre 16 e 18 anos


não tem o direito de representação.
Trata-se de uma zona cinzenta: O marido não é representante legal da esposa,
nem seus pais são representantes legais da filha casada. 02 possíveis
soluções:
 nomeação de curador especial
 Aguarda-se que e vítima complete seus 18 anos.

D) Morte da Vítima:

Haverá a sucessão processual: o direito de queixa será transmitido a outras


pessoas. Art.24, §1º e 31 CPP – CADI.

Art.24, § 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (Parágrafo único renumerado
pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993)

Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Obs.1: grande parte da doutrina também inclui o companheiro como um dos


sucessores, por força do art.226, §3º CF.
Para Renato, é melhor não incluir o companheiro, pois o que se está fazendo é
uma analogia de direito penal in malam artem, pois está incluindo uma pessoa a
mais no rol dos sucessores (quanto menos sucessores eu tenho mais fá cil a
decadência).

Há uma ordem preferencial do art.31 CPP, ou seja, se o cônjuge tiver interesse,


deve prevalecer sobre os demais sucessores:

1. Cônjuge
2. Ascendente
3. Descendente
4. Irmão

Art.36 CPP

Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em
seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto,
qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone.

Obs.3: caso haja divergência entre os sucessores, prevalece a vontade


daquele que tem interesse na persecução penal.

Obs.4: o sucessor terá direito ao prazo decadencial restante, prazo este que irá
começar a fluir a partir do conhecimento a autoria

7.4) Retratação da Representação:

Retratar-se significa voltar atrás/arrepender-se. Significa exercer o seu direito de


representação, mas voltar atrás.

Limite temporal: ela pode ser feita até o OFERECIMENTO da denúncia.

Art.25 CPP:
Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

 É possível a retratação da retratação da ação?


R. A maioria da doutrina entende que é possível, desde que dentro do prazo
decadencial (6 meses).

Atenção! Lei Maria da Pena – art.16 da Lei 11.340

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Obs.1: trata dos crimes de ameaça e estupro no ambiente doméstico


Obs.2: a lei fala de “renúncia” de maneira equivocada. Apesar de o legislador utilizar a
expressão “renúncia”, trata-se na verdade de retratação, pois o MP só poderia ter
oferecido a denúncia mediante prévia representação da vítima. Logo, na lei Maria da
Penha, a retratação a representação pode ocorrer até o recebimento da denúncia, em
audiência especialmente designada com esta finalidade.
Obs.3: esta audiência só deve ser designada pelo juiz se houve prévia manifestação da
vítima no sentido de se retratar da representação. (STJ HC 178.744)

Aula 08

7.5) Eficácia Objetiva da Representação:

Representação Investigação Denúncia


Art.129 Art.129 – Art.129
10/05/13 10/05/13 10/05/2013
Somente Tício 03/05/13 Tício e Mévio
Tício e Mévio

Ex. Representação, feita em razão da prática de crime de lesão corporal leve


art.129, caput do CP, ocorrida na sexta passada 10/05/13, sendo autor do crime
Tício. Mévio também foi autor, mas não constou da representação.
Feita a investigação, descobriu-se que a vítima também sofreu uma lesão em
03/05/13, sendo que Tício contou com a ajuda de Mévio para lesionar a vítima.
O crime do dia 03/05/13 não constou da representação, bem como, o Mévio.
Partindo do pressuposto que foram dois os crimes de lesão, neste exemplo o MP
pode oferecer denúncia pelo crime do dia 10/05/13, colocando Mévio no pólo
passivo. O crime do dia 03/05/2013 não poderá ser objeto de representação.
Assim, deve-se chamar a vítima para também oferecer representação quanto ao
crime do dia 03/05/13.

Eficácia Objetiva da Representação: feita a representação contra apenas um


dos coautores ou partícipes o MP pode denunciar todos os envolvidos no fato
delituoso. Porém, feita a representação em relação a um delito, o MP não pode
oferecer denúncia em reação a outros delitos que dependem de representação
(STF HC 98237).

8) Requisição do Ministro da Justiça.

Conceito: É a manifestação do Ministro da Justiça demonstrando seu interesse


na persecução penal.
Ex. crimes contra a honra do presidente da república. Ronaldo fenômeno
chamando Lula de cachaceiro.

Natureza Jurídica: é condição específica da ação penal de procedibilidade.

Atenção! Cuidado com o nome “requisição”, pois ela dá a entender que é uma
ordem, mas isso não é verdade. Requisição não é sinônimo de ordem, pois o
MP continua sendo o titular da ação penal pública (ele não é obrigado a
denunciar).
A requisição não está sujeita a decadência, mas o crime está sujeito à
prescrição.
(A representação por sua vez tem prazo decadencial de 6 meses).

Prevalece o entendimento de que é cabível a retratação da requisição, sendo


que esta pode ser retratada pelo Ministro da Justiça até o oferecimento da
denúncia.

9) Ação Penal Privada Subsidiária da Pública:


Alguns doutrinatores chamam esta ação de “ação penal acidentalmente
privada ou supletiva”.

Previsão Legal: art.5º, LIX CF


Tendo em vista a previsão na Constituição, cabe ação penal privada subsidiária
da pública no processo penal comum, militar e eleitoral.

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

Cabimento: depende da inércia do MP.

Cuidado! Não cabe subsidiária se o MP pedir arquivamento, pois isso significa


que ele agiu.

Prazo: MP tem que apresentar denúncia em 15 dias réu preso; 30 dias réu solto
a partir da vista do MP

Vista dos Prazo do MP Ele tem até Em 17/11/2012


autos ao começou a 17/05/2012, 18/05/2012 Termina o prazo
MP no dia contar que é o último nasce o direito para oferecer
02/05/2012 03/05/2012 – dia do prazo de propositura denúncia
(2ª feira). Prazo do MP da queixa
processual subsidiária.

Cuidado! No dia 18/05/2012 o MP ainda pode oferecer denúncia. O surgimento


do direito da ação penal privada subsidiária da publica não afasta a possibilidade
do promotor de justiça oferecer denúncia. Desta forma, trata-se de uma
legitimação concorrente. Quem oferecer primeiro afasta a legitimidade do
outro.

O direito de ação penal privada subsidiária da pública também está sujeita ao


prazo decadencial de 6 meses. Este prazo começa a contar a partir da inércia
do MP. (17/11/2012).

Decadência Imprópria: em regra a decadência extingue a punibilidade, mas


esta decadência não irá acarretar a extinção da punibilidade. Essa ação penal
em sua essência é pública, então após o curso do prazo decadencial o MP
continua tendo a possibilidade de oferecer a denúncia.
A ação penal privada subsidiária da pública é cabível a todas as
ações públicas?
R. Não. O cabimento da subsidiária depende da espécie de infração penal.
Somente quando o crime contar com uma vítima determinada.
Ex. crime de homicídio, roubo, pode ter ação privada subsidiária da pública.
Ex. em crimes de perigo não há o que se falar em ação penal subsidiária da
pública - Porte ilegal de arma de fogo, tráfico de drogas.

Exceção 1: Crimes contra as relações de consumo (Lei 8.078/90 – art. 80


O PROCON pode ajuizar uma ação subsidiária, bem como as associações de
defesa do consumidor.

Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e
contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério
Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal
subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.
Art. 82
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização
assemblear.

Exceção 2: Crimes falimentares. Art. 184. p.único Lei 11.101


Credores habilitados e administradores podem oferecer ação subsidiária.

Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1o, sem que o representante do
Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá
oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.

Poderes do MP: art.29 CPP

Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir
em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

Poderes do MP:
i) Opinar pela rejeição da queixa crime subsidiária se presente uma das
hipóteses do art. 395.
ii) Aditar a queixa crime: como esta ação continua sendo pública, o MP
pode aditar a queixa não só para incluir coautores e partícipes, como
também para acrescentar novos fatos delituosos.
iii) Intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova
e interpor recurso.
iv) Repudiar a queixa crime subsidiária, hipótese em que é obrigado a
oferecer uma denúncia substitutiva.
Denúncia substitutiva: Mesmo estando a queixa subsidiária que apresenta
perfeitas condições, o MP tem a obrigação de apresentar uma denúncia em seu
lugar.

v) Verificando-se a inércia ou negligência do querelante, o MP retoma o


processo como parte principal (ação penal indireta).

Atenção! Se houver inércia na ação penal privada exclusiva ou personalíssima


dá-se a perempção.

10) Ação Penal Popular:

10.1) Habeas Corpus: pode ser impetrado por qualquer pessoa, seja ela física/
jurídica, capaz/incapaz).
Atenção! Não é uma ação penal condenatória. Trata-se de uma ação
vocacionada a proteção da liberdade de locomoção.

10.2) Faculdade de qualquer cidadão oferecer denúncia por crimes contra


agentes políticos por crimes de responsabilidade.

Obs. Não é uma ação condenatória, pois não é uma denúncia (termo usado de
uma maneira vulgar), mas uma mera noticia criminis. É uma infração político-
administrativa, ou seja, não é um crime. Ex. impeachment; impedir que sujeito
concorra a alguns cargos, etc.

11) Ação Penal Adesiva

1ª corrente: Litisconsórcio entre o MP (ação penal Pública) e o querelante (ação


penal privada).
Ex. conexão ou continência em 2 crimes, um de ação pública (MP interpõe) e
outra de ação privada (querelante interpõe).

2ª corrente: no Direito Alemão, o MP pode oferecer denúncia em crimes de ação


privada, desde que presente interesse público, hipótese em que a vítima pode
se habilitar como acusador subsidiário. (Feitosa, Tourinho)

12) Ação de Prevenção Penal:

É aquela ajuizada contra o inimputável do art.26 caput, com o objetivo de


aplicar medida de segurança. É a chamada ação de prevenção penal.

Ao invés de formular um pedido de aplicação de pena, pleiteia-se a


absolvição imprópria (aplicação de medida de segurança).

13) Ação Penal Secundária

O que é ação penal secundária?


R. É aquela que a depender das circunstâncias do caso concreto, passa a ser
de diferente espécie de ação penal.
14) Ação Penal nos crimes contra a honra.

Regra: ação penal privada.


Exceção:
a) Injúria real: é um crime contra honra aplicado com violência/vias de fato
Ex. jogar água na cara de uma pessoa (vias de fato) – ação privada
Lesão leve: pública condicionada a representação
Lesão grave: pública incondicionada

b) Crime contra a honra do presidente da república/ contra chefe de governo


estrangeiro: pública condicionada a requisição do ministro da justiça.

c) Crimes militares contra a honra:


Ação penal: ação penal pública incondicionada.
Ex. capitão difamar coronel – se dão pela hierarquia e disciplina.

d) Crimes eleitorais contra a honra (“durante a propaganda eleitoral”)


Passa a ser crime eleitoral. Como estes visam a proteção do sufrágio, são
pública incondicionada.

e) Injúria racial: art. 140, §3º CP


Ex. jogo de futebol, torcida joga banana para jogador.
Antes da Lei 12.033/09 esse crime era de ação privada.
O legislador entendeu que este crime tem relevância social, então é de iniciativa
pública condicionada a representação (aplica a questões de etnia, raça,
deficiência).

Injúria Racial ≠ Racismo

Racismo (Lei 7.716/89, art.20): trata-se de uma oposição indistinta a toda uma
raça, cor, etnia, religião, ou procedência nacional.

Ex. você é um catolicozinho de merda – injúria racial.


Ex. proibida a entrada de católicos – racismo.

RHC 19166
Tratou de um passageiro brasileiro e 2 comissários norte-americanos. Eles
falaram “amanhã vou acordar, jovem, bonito, sendo americano. Você vai acordar
como um safado, pobre e brasileiro”. O STF entendeu que pelo teor do que foi
dito tratou-se de crime de racismo.

Cuidado! O racismo é crime de ação penal pública incondicionada.


Já a injuria racial é crime de ação penal pública condicionada à representação.

f) Crime contra a honra de servidor público em razão das funções.


A doutrina chama de crime propter officium – deve guardar relações com o
exercício funcional. Ex. Rogério é um promotor corrupto.

Ex. “Rogério é um corno” não remete este crime.


Súmula 714 STF

É CONCORRENTE A LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO,


CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR CRIME CONTRA A HONRA
DE SERVIDOR PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.

Assim, há 2 hipóteses:
 Ação Penal Privada – Servidor público é o titular
 Ação Penal Pública Condicionada a representação – MP é titular

A súmula versa que a legitimidade é “concorrente”, mas esta expressão foi


equivocada.
INQ 1.939: para o STF, uma vez oferecida a representação pelo funcionário
público, autorizando o MP a agir, estaria preclusa a possibilidade de ajuizamento
da queixa crime. Logo, não se trata de legitimação concorrente, mas sim
alternativa.

15) Ação Penal nos crimes de lesão leve e culposa praticados com violência
doméstica e familiar contra a mulher. (Lei 11.340/06).

O namoro está incluído na Lei Maria da Penha?


R. Depende. Se for uma relação duradoura pode incluir.

Art. 5º em conjunto com o art.7º da Lei 11.340/06.

Art.88 da Lei 9.099/95: transformou os crimes de lesão leve/culposa em crimes


de ação penal pública condicionada a representação.

O Art.41 da Lei 11.340 manda não aplicar aos juizados os crimes de violência
doméstica.

Há uma aparente contradição entre o art. 41 e 16 da Lei Maria da Penha. O art.


16 faz menção a representação na Lei Maria da Penha.

Parte da doutrina e STJ (antigamente) entendeu que a lesão leve e culposa em


violência doméstica e familiar contra mulher continuariam a ser de ação penal
pública condicionada a representação.

Entretanto o art.16 se contrapõe ao art.41, sendo este muito claro que não se
aplica a lei 9.099/95 nos casos de crimes de violência doméstica. Sendo assim,
não se aplica o art.88 da Lei 9.099/95 aos crimes da Lei Maria da Penha.

Desta forma, a lesão leve/culposa, se praticadas no contexto de violência


familiar, a ação penal pública é incondicionada. STF ADI 4424
Depois desta decisão do STF, o STJ já vem compactuando da mesma
orientação.
O STF decidiu nesta ADI que nem todo crime praticado com violência doméstica
e familiar contra a mulher será de ação penal pública incondicionada:
Lesão corporal leve/culposa praticada com violência doméstica: Ação penal
pública incondicionada.

Atenção! Crime de ameaça ou estupro por companheiro continuam


dependendo de representação. A lei Maria da Penha não fala nada sobre
estupro, então aplica-se o CP, o que demonstra um contrassenso, pois na lesão
corporal (que é menos grave) é incondicionada.

16) Ação Penal nos crimes contra a Dignidade Sexual.

Antes da Lei 12.015 Depois da Lei 12.015


Regra: ação penal privada. (inclusive Regra: crimes sexuais passam a ser
em casos de violência presumida – de ação penal pública condicionada a
ex. criança estuprada). representação.

Exceção: Exceções:
a) Vítima Pobre. a) Vítima menor de 18 anos ou
Pública condicionada à pessoa vulnerável:
representação, mesmo se houvesse Ação Penal Pública Incondicionada.
defensoria pública.

b) Abuso do Poder Familiar Problema: a lei não fala nada sobre


Pública Incondicionada. crimes qualificados pela lesão
grave/morte.
c) Qualificado pela lesão Pública Incondicionada – tramita a
grave/morte. ADI 4.301.
Pública Incondicionada.
Atenção! Súmula 608 STF está
d) Emprego de Violência Real: ultrapassada, pois a lei não fala nada
Pública incondicionada – Súmula 608 de crime de estupro com violência
STF. real. Ademais a doutrina entende que
É o emprego de força física sobre o não se trata de crime complexo.
corpo da vítima. Obs. Apontar revolver Desta forma, o estupro com
só é violência real se dou uma violência real é ação penal pública
coronhada, mas não se aponto. condicionada à representação.
Súmula 608
Microlesões na região da vagina não NO CRIME DE ESTUPRO, PRATICADO
MEDIANTE VIOLÊNCIA REAL, A AÇÃO
caracteriza violência real. PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.

Antes da Lei 12.015:

DEPOIS DA LEI 12.015, A SÚMULA 608 DO STF ESTÁ SUPERADA!!

O Fundamento Legal da Súmula 608 é o art.101 CP


Aplica-se o art. 101 CP aos crimes complexos, ou seja, àqueles resultantes da
fusão de duas ou mais figuras típicas. Se um dos crimes que compõe o crime
complexo for de ação penal pública, consequentemente haverá uma extensão
da natureza daquela ação, e o crime complexo também passará a ser de ação
penal pública.
Crítica da Súmula 608: o estupro não é crime complexo, pois fazer conjunção
carnal não é crime.

Súmula 608
NO CRIME DE ESTUPRO, PRATICADO MEDIANTE VIOLÊNCIA REAL, A AÇÃO PENAL É PÚBLICA
INCONDICIONADA.

A ação penal no crime complexo


Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos,
constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se
deva proceder por iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Aula 09

17) Peça Acusatória:


Na denúncia a peça acusatória é a ação penal pública.
Na queixa-crime: ação penal privada.

A petição escrita deve ser apresentada na forma escrita. É possível apresentar


uma queixa-crime/denúncia oralmente no âmbito dos juizados que será
reduzida a termo. Art. 77 da Lei 9.099.

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor
do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao
Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.

Simultaneus Processus
É possível ter um mesmo processo com 2 peças acusatórias?
R. Sim. Quando há a junção de uma denúncia ou queixa quando há
conexão/contineênica.
Ex. denúncia (MP) + queixa (querelante)
(ação penal pública) (ação penal privada)

17.1) Requisitos da Peça Acusatória:

Previsão Legal: Art.41 CPP


Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

São requisitos da peça acusatória:


A) Exposição do fato delituoso (Imputação)
Trata-se de uma narrativa de todas as circunstâncias referentes ao fato
delituoso.
O que aconteceu?
Quando isso aconteceu?
Como este fato delituoso aconteceu?
Por que aconteceu?
Contra quem aconteceu?
A denúncia quanto mais simples e clara for redigida melhor. A denúncia é
descrição de fatos: não precisa colocar jurisprudência ou doutrina.

Elementos essenciais da peça acusatória e elementos acidentais da peça


acusatória:
Elementos essenciais são aqueles necessários para identificar a
conduta como fato típico. É aquele que torna possível a adequação do fato à
norma penal.
Ex. no furto a conduta é “subtrair coisa alheia móvel”. Entretanto na denúncia
tem que narrar o fato.

Esses elementos essenciais devem constar obrigatoriamente da peça


acusatória, sob pena de nulidade absoluta, em razão da violação do Princípio
da Ampla Defesa.

Cuidado! Nos crimes culposos é preciso falar a modalidade da culpa e em que


consistiu a culpa, sob pena de ser inepta a denúncia.
Ex. Renato dirigia de maneira imprudente o carro (errado).
Renato foi imprudente ao dirigir seu carro ao se distrair para pegar celular no
banco de trás e perdeu o controle do carro. (certo).

Cuidado! Nas denúncias de crime de quadrilha tem que ter no mínimo 4


indivíduos que estavam associados para cometer crimes na região (...) por
(...)meses – indica o animus permanente para cometer crimes.

Elementos acidentais são circunstâncias de tempo, lugar e modus


operandi, cuja ausência nem sempre prejudica a ampla defesa.
Ex. Furto. Sujeito subtraiu relógio na local tal, localizado a rua tal

Precisa colocar a data/local do crime na denúncia?


R. Se conhecidos devem constar da peça acusatória. No entanto, se
desconhecidos, a inserção desses elementos não é obrigatória.
Ex. Nem sempre será possível saber o local e a data do crime quando um
cadáver é encontrado no porta-malas com uma arma de fogo.

A ausência desses elementos acidentais pode caracterizar nulidade relativa.


Uma das características básicas é que o prejuízo deve ser comprovado.

Agravantes e atenuantes precisam constar da peça acusatória?


R. Nesse ponto a doutrina entende que agravantes e atenuantes devem constar
da peça acusatória, ou seja, não se pode admitir que uma denúncia seja recebida
sem agravantes e atenuantes (Badaró).
Nos tribunais superiores, ainda prevalece a orientação de que agravantes e
atenuantes podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz, mesmo sem ter
constado da denúncia ou da queixa. Vide Art.385 CPP. STF HC 93.211

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma
tenha sido alegada.
Imputação Criminal: é a atribuição a alguém da prática de determinada infração
penal.
O defensor, ao ler a denúncia, toma conhecimento do fato delituoso cuja autoria
é atribuído a ele.

B) Qualificação do acusado:
Regra: Prenome, nome, naturalidade, data de nascimento do acusado, filiação,
endereço, CPF, RG. É colocar dados capazes de individualizar a pessoa para
evitar homônimos.

Exceção:O CPP diz que se não houver a qualificação do acusado, diz o CPP
que a denúncia poderia ser oferecida com a indicação de esclarecimentos pelos
quais fosse possível a identificação do acusado. Vide Art.41 CPP. Trata-se de
uma hipótese excepcionalíssima, porque no plano fático fazer a denúncia com
apenas estes elementos, é muito difícil identificá-lo.

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas.

A doutrina defende que a única hipótese de aplicação desta artigo, é com


indivíduos presos.
Na prática, se não tem qualificação do acusado na denúncia é necessário fazer
a identificação criminal dele. Ela deve ser feita não se identificar civilmente.
Ainda que haja uma resistência da pessoa em se identificar, o CP autoriza a sua
prisão preventiva. Art.313, p. único CPP.

Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade
civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

C) Classificação do Crime:
É a indicação do dispositivo legal que descreve o fato delituoso praticado pelo
agente. Não basta dizer o nome do crime. Tem que indicar também o dispositivo
legal.
Ex. CP; art.121, §2º, II c/c art.14,II.

A classificação, segundo a posição majoritária, não se trata de requisito


obrigatório, pois o acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados. O
dispositivo é relevante para definir o procedimento e o juízo competente.

O juiz pode alterar a classificação ao receber a denúncia?


R. Posição majoritária: a maioria da doutrina e principalmente os tribunais ao
juiz não é dado alterar a classificação do crime por ocasião do recebimento da
denúncia, pois há momentos próprios para tanto na sentença. O magistrado
pode fazer a:
o Emendatio libelli (art.383)
o Mutatio Libelli (art. 384)
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão
condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida
na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em
virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o
aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

A preocupação não é a classificação, mas sim os fatos imputados ao acusado.


Se o juiz alterar a classificação, ele até estaria fazendo um pré-julgamento.
Ex. descrever furto qualificado, mas pelos fatos foi estelionato.

E se houver uma classificação abusiva ?


R. Porém, se houver excesso de classificação nada impede a concessão da
liberdade provisória, ainda que o juiz seja obrigado a fazer uma
desclassificação provisória e incidental.
Ex. sujeito denunciado por tráfico, quando foi preso com um cigarro de maconha
fumando no parque do Ibirapuera (porte de drogas).

D) Rol de testemunhas:
Atenção! O rol de testemunhas não inclui a vítima.
O rol de testemunhas não se trata de requisito obrigatório, pois há crimes em
que não há necessidade de oitiva de testemunhas. Ex. crimes tributários, etc.

Atenção! A não inclusão do rol de testemunhas na denúncia é causa de


preclusão.
Na prática o que acontece o juiz acaba invocando o Princípio da Busca da
Verdade e vai ouvir aquelas testemunhas como “testemunhas do juízo”.
Art.156,II e 209 CPP

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas
partes.

Qual é o número máximo de testemunhas que podem serem ouvidas?


R.

No procedimento comum ordinário: 8 testemunhas


No procedimento comum sumário: 5 testemunhas
No procedimento sumaríssimo: 3 (há controvérsia falando que são 5
testemunhas).
1ª fase do procedimento do júri: 8 testemunhas
2ª fase do júri: 5 testemunhas
Lei de drogas: 5 testemunhas.
Procedimento do código penal militar: 6 testemunhas
2 assaltantes assaltam 2 pessoas e depois logo a seguir assaltam mais
2 pessoas. Quantas testemunhas eu tenho no processo?
R. 2 crimes, são 2 fatos. Assim, o promotor poderá ouvir 8 testemunhas para o
1º roubo e para o 2º roubo mais 8 testemunhas.

Para a acusação o número máximo de testemunhas é determinado de acordo


com a quantidade de fatos imputados, independentemente do número de
acusados. Para a defesa, leva-se em consideração não só o número de fatos,
como também o número de acusados (STJ HC 55702).

Juiz pode indeferir a oitiva de testemunhas?


R. O juiz pode indeferir a oitiva de testemunhas do autor ou do acusado, desde
que justifique o indeferimento, alegando que a oitiva é irrelevante, impertinente
ou protelatória de maneira fundamentadamente. Art.400, §1º CPP.

§ 1o As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas


irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Ex. Na prática, o advogado arrola 8 testemunhas para protelar o processo, sendo


a 1ª destas conhecia o acusado do jardim de infância. O juiz pergunta a defesa
se todas são dessa forma e o advogado diz que sim. Juiz: “rejeito as demais
testemunhas arroladas pela defesa, eis que as demais testemunhas só
conheciam o réu no tempo do jardim de infância, fato irrelevante para este
julgamento”.

E) Redação em vernáculo.
Art.784, §1º CPP

§ 1o As rogatórias, acompanhadas de tradução em língua nacional, feita por tradutor oficial ou


juramentado, serão, após exequatur do presidente do Supremo Tribunal Federal, cumpridas pelo juiz
criminal do lugar onde as diligências tenham de efetuar-se, observadas as formalidades prescritas neste
Código.

F) Razões de Convicção:
Incumbe ao acusador apontar os elementos informativos e as provas
antecipadas, não repetíveis e cautelares responsáveis pela formação de sua
convicção.
A denúncia tem que ser afirmativa: “ o acusado subtraiu o relógio”.
Tem que descrever o fato criminoso e apontar o lastro probatório: “testemunha
X falou que subtraiu...”

Art.395,III CPP – ausência de justa causa (lastro probatório) para o início do


processo é causa de rejeição de denúncia ou queixa.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
6) Peça acusatória subscrita pelo promotor ou pelo advogado do
querelante.
Não podemos jamais que uma denúncia ou queixa sejam apresentadas sem
assinatura (denúncia apócrifa).

Promotor esquece de assinar denúncia, mas assina a Cota


Ministerial (depois de recebida a denúncia juiz dá “vista ao MP”. Isso
gera nulidade?
R. Não há nulidade a ser declarada tratando-se de mera irregularidade.

Obs. Em prova do MPMG 201 considerou que os Tribunais Superiores entendem


que uma denúncia sabidamente autêntica que não contém assinatura é mera
irregularidade.

Procuração da Queixa-Crime:
Procuração da queixa-crime com Poderes Especiais deve indicar:
 Nome do querelado
 Menção ao fato delituoso (basta haver uma indicação do tipo
penal – STJ, RE 5.478).

Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do
instrumento do mandato o nome do querelante (querelado) e a menção do fato criminoso, salvo quando
tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

O art.44 CPP na verdade fala sobre o querelado e apenas uma menção ao fato
delituoso.
Obs. Doutrina majoritária entende que eventuais vícios da procuração podem
ser sanados a qualquer momento, mesmo após o decurso do prazo
decadencial. Vide Art.568 CPP.

Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada,
mediante ratificação dos atos processuais.

17.2) Prazo para Oferecimento da Peça Acusatória:


Art.46 CPP
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em
que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto
ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-
á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

Prazo para oferecimento da denúncia:


Réu solto: 5 dias
Réu solto: 15 dias

Entretanto, o Código não fala do prazo para a queixa. Assim, se esse prazo vale
para a denúncia, este mesmo prazo é usado na queixa com o réu solto. Quando
o réu está solto a queixa deve ser apresentada dentro do prazo decadencial.

Preso Solto
Denúncia (CPP) 5 dias 15 dias
Queixa-Crime 5 dias 6 meses (prazo
decadencial)
Drogas (Lei 11.343/06) 10 dias 10 dias
CPPM (art.79) 5 dias 15 dias
+ 5 dias + 15
10 dias +15
até 45 dias

Economia Popular 2 dias A lei não diferencia


Abuso de Autoridade 48 horas 48 horas (2 dias)
Código Eleitoral 10 dias 10 dias

O CPPM prevê, diferentemente do CPP, prevê que o prazo pode ser prorrogado:
ao dobro e ao triplo em casos excepcionais se o acusado estiver solto

Quais são as consequências do MP se ele não agir no prazo legal para


interpor a denúncia?
i) Cabimento da ação penal privada subsidiária da pública.
ii) Em se tratando de acusado preso, se restar caracterizado um excesso
abusivo e desproporcional, deve ser reconhecido p excesso de prazo
na formação da culpa, com o consequente relaxamento da prisão, sem
prejuízo da continuidade no processo.

Perda de Subsídios pelo promotor: art.801 CPP


Muitos dizem que não foi recepcionado pela CF 88, pois a remuneração do juiz
e promotor são irredutíveis.

Art. 801. Findos os respectivos prazos, os juízes e os órgãos do Ministério Público, responsáveis pelo
retardamento, perderão tantos dias de vencimentos quantos forem os excedidos. Na contagem do tempo
de serviço, para o efeito de promoção e aposentadoria, a perda será do dobro dos dias excedidos.

17.3) Questões diversas

17.3.1) Denúncia Genérica: quando se tratar de crime cometido por mais de um


agente a peça acusatória deve descrever o quanto possível a conduta
individualizada de cada um dos acusados.
É vedada a denúncia genérica no nosso ordenamento jurídico. É necessário
fazer a descrição de maneira individualizada o quanto possível.
Ex. “os acusados subtraíram para si coisa alheia móvel” – errado.
Ex. 3 acusados encapuçados invadiram a agência bancária. Um ficou na porta,
outro rendeu o vigia e outro foi ao cofre. Eles forma presos. No momento de
oferecer a denúncia não é possível falar o que cada um fez exatamente, pois
estavam encapuçados.
STJ HC 71493 e STF HC80549 – segundo a jurisprudência, tem que tentar
denunciar individualmente.
Atenção! Quando se trata de crimes societários (crimes de gabinete) os
tribunais entendem que a conduta dos acusados deve ser individualizada, sob
pena de violação a ampla defesa e verdadeira responsabilidade penal objetiva.

Crimes de gabinete são os crimes praticados sob a proteção de uma pessoa


jurídica. Neste contexto tem que denunciar uma pessoa física, pois não pode
denunciar a pessoa jurídica Ex. crimes tributários. Denuncio as pessoas que
constam no contrato social. Trata-se denúncia genérica, pois muitas vezes
alguns sócios não sabem o que se passa na empresa. O promotor tem que
observar quais os sócios que praticavam atos de gerências.

17.3.2) Denúncia Alternativa: (Afrânio SiIva Jardim)


Denúncia alternativa é aquela que imputa ao acusado fatos delituosos de
maneira alternativa.

Ex. encontro um cotinthiano com um rolex de 170 mil. Denuncio ele por roubo ou
receptação.
Segundo os tribunais superiores, essa denúncia não é admitida, pois viola a
ampla defesa. Segundo Ada, isso dificulta a defesa do acusado, pois este não
saberia do que se defender.

Atenção! Porém é perfeitamente possível a cumulação de imputações em uma


mesma denúncia, desde que haja continência e conexão.
Ex. Denuncio por estupro e homicídio.

Aula 10
PROVAS:

1) Princípios relacionado à prova no Processo Penal:

1.1) Princípio da Presunção de Inocência (Presunção Da Não


Culpabilidade)

I) Conceito:
é o direito de não ser declarado culpado senão mediante sentença condenatória
transitado em julgado após o devido processo legal no qual o acusado tenha se
utilizado de todos os meios de prova pertinentes para a sua defesa (ampla
defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela
acusação (contraditório).

Convenção Americana de Direitos Constituição Federal 1988


Humanos (DL. 678/92 Art.8º, §º2)
Art.8º, §2º - toda pessoa tem direito a Art.5º, LVII – O Princípio da presunção
que se presuma sua inocência. de inocência passou a constar na CF
Aqui utiliza o Princípio da Presunção a partir de 1988.
de inocência. Aqui a doutrina prefere optar pelo
nome Principioo da Presunção de
Não Culpabilidade
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
se presuma sua inocência, enquanto não for em julgado de sentença penal condenatória;
legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo,
toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às
seguintes garantias mínimas

Atenção! A partir da diferenciação da terminologia, segundo a melhor doutrina,


não há diferença entre os 2 Princípios. No Supremo, ora usa um termo, ora outro.

II) Limite temporal da Presunção de Inocência:


Segundo o art.8º,§2º da Convenção Americana de Direitos Humanos, presunção
de inocência significa “enquanto for legalmente comprovada a sua culpa”. Assim,
a presunção de inocência vai até a prolação de acórdão condenatório por um
tribunal em virtude do exercício do duplo grau de jurisdição – art.8§2º c/c
Art.8º,§2º, “h”.

Artigo 8º - Garantias judiciais


2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for
legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às
seguintes garantias mínimas:
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.

A Constituição Federal por sua vez é mais ampla, pois o limite temporal é até o
trânsito em julgado de sentença condenatória.

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

O problema é que no Brasil há muitos recursos e até que haja o trânsito em


julgado transcorre um tempo enorme, o que é um grande entrave para o
processo penal.

Neste aparente conflito, busca-se a norma mais benéfica para o acusado,


aplicando-se a Constituição Federal, que estende o prazo de presunção de
inocência para o trânsito em julgado.
Ademais, art.29, “b” da Convenção Americana reforça este entendimento:

Artigo 29 - Normas de interpretação


Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no sentido de:
b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de
leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos
Estados;

III) Regras:

A) Regra probatória:
Recai exclusivamente sobre a acusação o ônus de comprovar a culpabilidade do
acusado além de qualquer dúvida razoável, e não do acusado em provar sua
inocência.
Ex. Lei 11.343, art.33, §4º: Tráfico privilegiado (a pena pode chegar a 1 ano e 8
meses). A acusação tem que provar que o acusado não faz jus a causa de
diminuição no tráfico.

§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a
dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de
bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide
Resolução nº 5, de 2012)

Lei de Organização Criminosa (Art.2º da Lei 12.694/2012)

Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais
pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com
objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes
cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.

Logo, em caso de dúvida razoável o acusado deve ser absolvido. Daqui decorre
a regra de julgamento do in dubio pro reo.

Atenção! A doutrina é muito clara que a dúvida deve ser razoável.


Assim, a acusação tem que provar a culpabilidade, enquanto a defesa apenas
cabe suscitar dúvida.

O In dubio Pro Reo aplica-se à Revisão Criminal?


R. Não. A revisão criminal só pode ser ajuizada depois do trânsito em julgado,
então não se aplica o in dubio pro reo.

Qual Princípio aplica-se a Revisão Criminal?


R. In dubio contra reum (STF, HC 68.437) – Assim, o ajuizamento de revisão
criminal para rescindir o trânsito em julgado de sentença condenatória, o
condenado tem que provar a sua inocência. Caso haja dúvida, será mantida a
condenação.

B) Regra de Tratamento:
A regra é a permanência do acusado em liberdade. Eventual restrição à
liberdade de locomoção pode ser determinada apenas em situações
excepcionais, desde que demonstrada a necessidade da medida (art.282,I,
CPP).

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

No concurso demonstrar que as medidas cautelares que restringem a


liberdade abarcam a prisão cautelar e medidas diversas da prisão cautelar.
Para aplicação de uma ou de outra deve-se demonstrar a necessidade da
medida, pois são excepcionais.
A necessidade deve ser fundamentada pelo juízo competente. O Supremo
chama isso de Princípio da Individualização da Prisão Cautelar.
III) Recursos Extraordinários e Ausência de Efeito Suspensivo:
RE e Resp não possuem efeito suspensivo.
Previsão legal: art.637 CPP
Lei 8.038/90: art. 27, §2º.

Art. 637 do CPP. O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo
recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à primeira instância, para a execução da sentença.

§ 2º do art.27 da Lei 8.038/90 - Os recursos extraordinário e especial serão recebidos no efeito devolutivo.

Como tais recursos não são dotados de efeito suspensivo, para os


Tribunais Superiores, era possível a execução provisória da pena mesmo
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. A doutrina criticava muito
este posicionamento, pois a pena começava a ser executada mesmo antes de
haver o trânsito em julgado, desrespeitando a CF.
Este entendimento foi alterado no HC 84.078 – para o Supremo, como o
acusado não pode ser considerado culpado, enquanto não houver trânsito em
julgado de sentença condenatória, não se pode admitir execução provisória
de uma pena. No entanto se presente uma das hipóteses do art.282, inciso I do
CPP, é perfeitamente possível a decretação fundamentada da medida cautelar
de natureza pessoal, inclusive a própria prisão cautelar.
Dessa maneira, em regra, não se admite a execução provisória da pena.

Manutenção da prisão cautelar mesmo o réu tendo sido condenado a regime


semiaberto

Atenção! MP e Magistratura
Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime inicial
semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar.
Se ainda persistem os motivos que ensejaram a prisão cautelar (no caso, o risco de fuga), o réu
deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime inicial semiaberto.
Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso, porém,
ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença. Em outras
palavras, o réu, enquanto aguarda seu recurso preso, deverá receber o tratamento dispensado
aos condenados ao regime semiaberto.
STJ. 5ª Turma. HC 289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014. Inf. 540 STJ.

CUIDADO COM ESTE PRECEDENTE A SEGUIR:

Caso concreto:
João e mais outras três pessoas foram presas em flagrante e denunciadas pela prática dos delitos
previstos no art. 334, § 1º, “c” e “d” e art. 288, ambos do Código Penal.
A pena do art. 334 é de 1 a 4 anos.
A reprimenda imposta ao art. 288 é de 1 a 3 anos.

Liberdade provisória
João interpôs um pedido de liberdade provisória, tendo o juiz indeferido o benefício e mantido
a prisão cautelar.
A discussão sobre a liberdade do réu chegou até o STJ.

Decisão do STJ
A 5ª Turma do STJ decidiu conceder a liberdade ao acusado.
Para a Corte, é ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível
antever que o início do cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em
regime menos rigoroso que o fechado.
No caso concreto, o STJ vislumbrou que, se o réu for condenado, ele não o será no regime
fechado. Logo, por essa razão, não deveria responder o processo preso.
Conforme afirmou o Ministro, a prisão provisória é providência excepcional no Estado
Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os critérios de adequação,
necessidade e proporcionalidade.
Dessa forma, para a imposição da medida, é necessário demonstrar concretamente a presença
dos requisitos autorizadores da preventiva (art. 312 do CPP) — representados pelo fumus
comissi delicti e pelo periculum libertatis — e, além disso, não pode a referida medida ser mais
grave que a própria sanção a ser possivelmente aplicada na hipótese de condenação do acusado.
É o que se defende com a aplicação do princípio da homogeneidade, corolário do princípio da
proporcionalidade, não sendo razoável manter o acusado preso em regime mais rigoroso do que
aquele que eventualmente lhe será imposto quando da condenação.
STJ. 5ª Turma. HC 182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013 (Info 523).

Obs: se restar evidenciado o caráter protelatório dos recursos, apenas para


retardar o feito, os tribunais admitem a execução provisória da pena.

Apesar de não se admitir a execução provisória da pena nada impede a


concessão antecipada de benefícios prisionais ao preso cautelar.

Ex. Sentença Condenatória determinando o cumprimento de 8 anos de prisão.


Recurso exclusivo da defesa (non reformatio in pejus). O sujeito já está preso
preventivamente há 2 anos. Faz jus a progressão, pois cumpriu 1/6 da pena.
Ademais deve cumprir os requisitos para progressão (bom comportamento, etc.).

Vide Súmulas 716 e 717 STF:

Súmula 716
ADMITE-SE A PROGRESSÃO DE REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA OU A APLICAÇÃO IMEDIATA DE
REGIME MENOS SEVERO NELA DETERMINADA, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA.
Súmula 717
NÃO IMPEDE A PROGRESSÃO DE REGIME DE EXECUÇÃO DA PENA, FIXADA EM SENTENÇA NÃO
TRANSITADA EM JULGADO, O FATO DE O RÉU SE ENCONTRAR EM PRISÃO ESPECIAL.

1.2) Princípio do Nemo Tenetur se Detegere:


Ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo .

Previsão Legal: CADH art. 8º,§2º, “g”


CF/88 – art. 5º, LXIII
Artigo 8º - Garantias judiciais
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for
legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às
seguintes garantias mínimas:
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

1.2.1) Titular do Direito de não produzir prova contra si mesmo.


O titular deste direito é qualquer pessoa que possa se auto incriminar. Assim,
está protegido por este direito, a pessoa pode ser presa, solta, indiciado,
acusado, ou seja, durante toda persecução penal.

A testemunha está amparada pelo direito de permanecer em silêncio?


R. Enquanto a pessoa é uma testemunha (3º desinteressado), há o dever de
dizer a verdade. Assim, enquanto 3º desinteressado, a testemunha tem
obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho.
Entretanto, se das perguntas formuladas puderem resultar em auto incriminação,
a testemunha também passa a ter direito ao Nemo Tenetur se Detegere. STF
HC 73.035.

Ex. CPI utilizava uma manobra absurda, pois chamava os investigados na


condição de testemunha para que estes falassem a verdade.

Ex. um irmão “A” assumiu a culpa de um crime cometido pelo irmão B”. Enquanto
o “B” dava depoimento como testemunha, admitiu que era culpa sua o crime.
Assim, ele foi advertido que poderia permanecer em silêncio.

1.2.2) Advertência quanto ao Direito:


Segundo o art.5º, LXIII CF, o preso ou qualquer pessoa será informado
de seus direitos.
Tomar cuidado porque alguns doutrinadores (promotores e delegados)
defendem que não é necessário a advertência uma vez que presume-se o
conhecimento da lei por todos.
Entretanto, o que prevalece é que o acusado deve ser advertido quanto
ao direito de não produzir provas contra si mesmo, sob pena de ilicitude de
eventuais provas por ele produzida autoincriminando-se. Como prova ilegal, ela
será descartada/desentranhada do processo.
STF HC 80.949 – o STF considerou ser prova ilícita uma gravação
clandestina de policiais com o acusado sem prévia advertência quanto ao
silêncio.

Aviso de Miranda: no direito Norte americano, nenhuma validade pode ser


conferida às declarações de um preso à polícia se não houver prévia advertência
de que:
1) O cidadão tem o direito de não responder.
2) Tudo o que disser pode ser usado contra ele.
3) Tem o direito de assistência de Defensor escolhido ou nomeado.
Geralmente quando a pessoa é presa, é entregue um documento de todas as
garantias constitucionais.
O Aviso de Miranda se aproxima muito do direito de não auto-incriminação.

A quem se aplica o dever de advertir o direito ao silêncio?


R. STF HC 99.558 – esse dever de advertência quanto ao direito ao silêncio
aplica-se apenas ao poder público.

Entretanto, para a doutrina esse dever de advertência também se aplica à


imprensa. A doutrinadora Ana Lúcia Menezes de Vieira proclama a eficácia
horizontal dos direitos fundamentais.
Ex. É muito comum a imprensa pegar a confissão do crime antes mesmo da
polícia, como em programas do Datena; Aqui Agora.

1.2.3) Desdobramentos do Nemo Tenetur se Detegere:

a) Direito ao silêncio.
Direito de permanecer calado.
Art.186 e 198 CPP.

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado
será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não
responder perguntas que lhe forem formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo
da defesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação
do convencimento do juiz.

A doutrina é unânime ao afirmar que o art. 198 CPP parte final não foi
recepcionado pela CF.

Prova defensoria pública: dissertar sobre “direito ao silêncio” no tribunal


do júri.
Há direito ao silêncio no tribunal do júri.
Cuidado! O exercício do direito ao silêncio não pode ser utilizado como
argumento de autoridade para o convencimento dos jurados. Art.478 CPP.

Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Antes da Lei 11.689/09 – No procedimento do júri, se o crime fosse inafiançável


era obrigatória a presença do acusado no plenário.
Com o advento da Lei 11.689/08 – a presença do acusado não é mais
obrigatória, seja o crime afiançável ou não. Assim, se o acusado quiser ficar em
silêncio, ele nem precisa ir ao plenário. Seu advogado pode simplesmente
explicar este posicionamento aos jurados.

b) Inexigibilidade de dizer a verdade do acusado:


Alguns doutrinadores dizem que o acusado teria direito à mentira. Como não há
o crime de perjúrio no Brasil (crime em que o acusado mente), não se pode exigir
a verdade do acusado e isso é admitido. STF HC 68.929

Para Renato, apesar de mentir não ser crime, trata-se de uma conduta antiética
e não admitida em lei. Assim, não é um direito do acusado mentir.

De acordo com a doutrina se estiver diante de uma mentira agressiva (quando


acusado incrimina terceiro inocente) o acusado pode responder por denunciação
caluniosa. (Princípio da convivência das Liberdades Fundamentais –
nenhum direito tem natureza absoluta e pode ser utilizada para cometer atos
ilícitos). STF RE561.704 – o Supremo entendeu que o direito o silêncio não
confere ao acusado o direito de se identificar falsamente.
Art.308 CP – crime de falsa identidade. Exemplo: sou parado em uma blitz e falo
que sou outra pessoa.

Aula 11

C) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa


incriminá-lo.
Ex. matéria para exame grafotécnico, reconstituição e fornecimento de padrões
locais para espectograma da voz são provas que exigem um comportamento
positivo da vítima. Se o investigado/ acusado não quiser fazer não é obrigado.
Entretanto a polícia pode se valer de outros recursos para conseguir estas
provas como gravações, documentos escritos pelo acusado, etc.

Ex. o acusado não é obrigado a soprar o bafômetro (etilômetro).


Cuidado com o etilômetro passivo. É um bafômetro que é colocado perto de
você. Ele não está protegido pelo Nemo Tenetur se Detegere, pois não exige
que o sujeito sopre o bafômetro passivo.

Se a produção da prova não depender de comportamento ativo, não está


protegida pelo nemo tenedur. O acusado é apenas objeto de verificação,
necessitando apenas que ele se sujeite a prova.

Reconhecimento de Pessoas: o ideal é colocar pessoas parecidas com o


acusado para que a vítima reconheça o acusado. É permitida a condução
coercitiva do acusado.

D) Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva.

Prova invasiva: pressupõe uma penetração no organismo humano, implicando


na extração ou utilização de alguma parte dele.
Ex. amarrar alguém para tirar o sangue da pessoa; arrancar cabelo.

Esta prova invasiva está protegida pelo Princípio do Nero Tenedur se Detegere
(o acusado não é obrigado a produzi-la contra a sua vontade).

Prova não invasiva: a prova incriminadora não há penetração no organismo


humano. Essa prova não está protegida pelo Princípio do Nero Tenedur se
Detegere. Logo ela pode ser produzida mesmo contra a vontade do acusado.
Ex. células bucais. Entretanto, não é possível amarrar a pessoa na cadeira e
raspar a boca.
É possível que os investigadores coletem este material por outros meios. Ex.
guimba de cigarro descartada. O lixo só goza da proteção da intimidade se
dentro do domicílio.

STF: Rcl Qo 2.040: Caso da Gloria Trevi apareceu grávida na carceragem da


polícia federal e alegou que era dos policiais. Ela não permitiu o exame de DNA.
O Supremo permitiu pela placenta, pois ela seria descartada por ocasião do
parto.

STJ: HC 149.146: exame de raio X seria uma prova incriminadora não invasiva.
Ex. pessoas (chamadas de “mulas”) transportando drogas no estômago. Este
exame é imprescindível para salvar as pessoas que estão fazendo este
transporte.

O art.306 do CTB sofreu diversas alterações ao longo do tempo.

Redação original do Redação dada pela Lei Redação dada pela Lei
art. 306 da Lei 9.503 nº11.705/2008 – antiga 12.760/12 – nova lei
lei seca. seca.
Art. 306. Conduzir veículo automotor, Art. 306. Conduzir veículo Art. 306. Conduzir veículo
na via pública, sob a influência de automotor, na via pública, estando automotor com capacidade
álcool ou substância de efeitos com concentração de álcool por litro psicomotora alterada em razão da
análogos, expondo a dano potencial de sangue igual ou superior a 6 (seis) influência de álcool ou de outra
a incolumidade de outrem: decigramas, ou sob a influência de substância psicoativa que determine
qualquer outra substância psicoativa dependência: (Redação dada
que determine dependência: pela Lei nº 12.760, de 2012)
(Redação dada pela Lei nº 11.705,
de 2008) Regulamento

“Sob a influência de “estando com A lei saiu em 21/12/12


álcool.” concentração de álcool
por litro de sangue igual “com capacidade
A prova podia ser feita ou superior a 6 psicomotora alterada
através de um decigramas.” em razão da influência
bafômetro ou exame de de álcool ou de outra
sangue. A prova de 6 decigramas substância psicoativa
Se houvesse recusa por é feita por um exame que determine
parte do condutor, direto: bafômetro e dependência”.
poderia ser feito um exame de sangue.
exame indireto. (essa Estas são invasivas. Se A prova continua sendo
pessoa era levada ao a pessoa se recusar a feita através de um
IML e fazia um exame soprar o bafômetro ela exame direto (bafômetro
clínico – respiração, pode. Diante da recusa ou exame de sangue).
hálito etílico, não era possível aferir a
comportamento, etc.) quantidade de álcool no
sangue
(redação O legislador voltou a
+ absurda) admitir, ainda, o exame
“expondo a dano indireto.
potencial a incolumidade STJ Resp 1.111.566 –
de outrem” – crime de diante da recusa do Complementou o
perigo abstrato agente, o exame indireto Art.306 §§1º e 2º.
seria incapaz de revelar
a concentração de Novatio Legis in Pejus:
álcool por litro de Trata de uma mudança
sangue. mais gravosa, pois é
passível de exame
Essa decisão foi direto e indireta.
publicada em setembro Assim, só vai valer para
de 2012 e gerou muita os crimes cometidos a
polêmica. partir de 21/12/12.

crime de perigo O legislador passou a Crime de perigo


concreto. tratar deste crime como abstrato.
de perigo abstrato.

Crime de perigo: há a probabilidade de dano.


Crime de perigo concreto: é o crime no qual a situação de perigo está dentro
do tipo penal. Ex. artt.306 CTB original – sujeito dirigindo na contramão, em
zigue-zague, no acostamento.
Crime de perigo abstrato: o Supremo analisou no HC 109.269 disse que a
punição por crimes de perigo abstrato é constitucional.
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3
miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade
psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) (exame indireto – ex. gravação)
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico,
perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à
contraprova. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de
caracterização do crime tipificado neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)

1.3- Princípio da Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

Este Princípio é extraído da própria constituição federal.


O direito à prova não tem natureza absoluta.
Art.5º, LVI
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

A própria constituição não admite provas obtidas por meios ilícitos. Visa
preservar direitos e garantias fundamentais.
Ex. se a constituição veda a tortura, ela deve prever meios para tal.
Fator de dissuasão de práticas probatórias policiais. Ex. autorização judicial para
interceptação.
Direito à prova não tem natureza absoluta. A polícia e promotoria é compelida a
observar requisitos legais para a produção de provas.

1.3.1- Distinção entre provas ilícitas (provas obtidas por meios ilícitos) e
ilegítimas:

Provas obtidas por meios ilícitos Provas obtidas por meios ilegítimos
Prova produzida mediante violação de Produzida mediante violação de regras de
normas de direito material. direito processual.
Ex. confissão mediante tortura; Ex. Art.479 CPP – impede a prova surpresa
interrogatório duro são provas ilícitas. no dia do julgamento. Tem que ser juntada
3 dias úteis antes, caso contrário haverá
nulidade do julgamento pela leitura de
documento no Júri que não havia sido
juntado no referido prazo.
Momento: em regra, é obtida em momento Momento: é produzida dentro do processo.
anterior ou concomitante ao processo, mas Trata-se na verdade de um fenômeno
externamente a este. endoprocessual.
Ex. invasão de casa sem autorização. Ex. Art.203 CPP – falso testemunho
Consequência: reconhecida a ilicitude da Consequência: como se trata de prova
prova, surge o direito de exclusão obtida mediante violação a regra de direito
(exclusionary rules) com o consequente processual deve ser declarada a nulidade
desentranhamento da prova. (Teoria das Nulidades). Deve ser declarada
art.157, §3ºCPP – deve haver uma decisão a nulidade absoluta ou relativa da prova
declaratória da inadmissibilidade da prova. ilegítima.

Pode ser que o recurso seja feita por uma Ex. exibir no plenário documento sem 3 dias
decisão interlocutória - RESE (o ideal é de antecedência – nulidade absoluta.
que o juiz decida o mais cedo possível o
desentranhamento da prova ilícita) Art. 581, Ex. art.159 CPP – perícia realizada por
XIII CPP – aqui há uma interpretação apenas 1 perito não oficial – nulidade relativa
extensiva para aplicar o RESE neste (deve ser arguida oportunamente e
contexto. devidamente comprovada).

Sentença: se a ilicitude da prova for Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias
conhecida na sentença, o recurso será serão realizados por perito oficial, portador de diploma
de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690,
apreciado na apelação. Art.593 §4º - de 2008)
Princípio da Unirrecorribilidade das
decisões, mesmo que se queira impugnar Ex. a incompetência do juízo que autorizou a
apenas parte da sentença. produção da prova contamina também esta,
que não pode produzir efeitos.
É sempre possível ainda os remédios do
HC (acusado) e MS (MP).
O direito líquido e certo do MP é o direito à
prova que é um desdobramento lógico ao
direito de ação.
Art.157,§3º: preclusa a decisão (quando
não houver mais recurso), a prova outrora
desentranhada será destruída, salvo nas
seguintes hipóteses (professor Antônio
magalhães Filho):
Quando se tratar de objeto lícito
pertencente a alguém.
Ex. carta.
Quando esta prova ilícita constituir o
corpo de delito em relação àquele
responsável por sua produção.
Ex. busca pessoal (art.249 CPP) com
constrangimento de policial corrupta que
escondia dinheiro na calcinha. A gravação
da ação não será destruída, pois pode
consistir nas provas da prática de
constrangimento ilegal, abuso de
autoridade.

Descontaminação do julgado: esta


descontaminação do julgado estava
prevista no art.157 §4º do CPP: o juiz que
tivesse contato com uma prova ilícita seria
afastada do processo.
Este §4º foi vetado pelo presidente da
república alegando que esta
descontaminação poderia gerar manobras
fraudulentas pelas partes do processo.
Ex. o MP sabe que o juiz Barbosa é muito
bonzinho e é provável que acabe
inocentando. Assim, ele implanta prova
ilícita no processo para afastar o juiz.

Interrogatório duro: a pessoa é mantida acordada por muito tempo com


interrogatório; submetida a temperaturas baixas; afogamento simulado. É uma
nova modalidade de tortura muito praticada na prisão de Guantânamo.

Art.479 CPP
Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto
que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à
outra parte. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Art.203 CPP
Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e
Ihe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão,
lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações
com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as
circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.
Art.157, §3ºCPP.
§ 3o Preclusa (quando não houver mais recurso) a decisão de desentranhamento da prova
declarada inadmissível, esta será inutilizada (destruída) por decisão judicial, facultado às partes
acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Art. 581, XIII

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

Art.593 §4º CPP – Princípio da Unirrecorribilidade das decisões, mesmo que se


queira impugnar apenas parte da sentença.
§ 4o Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que
somente de parte da decisão se recorra. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

Art.249 CPP
Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo
da diligência.

1.3.2) Teoria da Prova Ilícita por derivação:

Histórico: esta teoria surgiu com o precedente de 1920 no direito norte-


americano: Silverthorne Lumber Co Vs. US – neste caso foi feita uma busca
apreensão domiciliar ilegal e encontradas outras provas relevantes para o
processo.
Trata-se de uma teoria conhecida como Fruits of Poisons Tree (Teoria dos frutos
da árvore envenenada).

Conceito de prova ilícita por derivação: são os meio probatórios que, não
obstante produzidos validamente em momento posterior, encontram-se afetados
pelo vício da ilicitude originária, que a eles se transmite em virtude do nexo
causal.

Ex. pessoa torturada diz onde estaria enterrada a pessoa assassinada.

Essa Teoria é adotada pelo STF há muito tempo (desde 1996). HC 74530
A Lei 11.690/08 trouxe a novidade de que esta Teoria foi positivada no art.157,
§1º, do CPP.

§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo
de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

1.3.3- Limitações atinentes ao reconhecimento da prova ilícita por


derivação:

A própria suprema corte norte-americana começou a criar algumas teorias


atinentes ao reconhecimento da prova ilícita por derivação.
A) Teoria da Fonte Independente (Independent Source of Doctrive)

Histórico: Bynum vs. US – 1960. As impressões digitais foram colhidas de


forma ilegal, mas elas já estavam registradas no FBI.

Conceito da teoria da fonte independente: se o órgão da persecução penal


demonstrar qur obteve legitimamente novos elementos de informação a partir de
uma fonte autônoma de prova, que foi contaminada pelo vício da ilicitude
originária, esses dados probatórios devem ser considerados válidos.
Ex. confissão ilegal que levou ao cadáver.

Assim, se o examinador perguntar acerca de uma prova ilícita, devo responder


que esta deve ser desentranhada, observando também o desentranhamento de
outras provas que forma contaminadas pela Teoria da Prova Ilícita por derivação,
limitada pelaTeoria da Fonte Independente.

O Supremo já usa a teoria da fonte independente há muito tempo (HC 83.921)


Foi positivado pelo art. 157, §2º CPP (incluído pela Lei 11.690/08).

§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008)

Aula 12.1

B) Teoria da Descoberta Inevitável:


Conceito: será aplicada se se demonstrar que a prova derivada ilícita acabaria
sendo produzida de qualquer maneira, independentemente da prova ilícita
originária. Para aplicação desta Teoria, não basta um juízo do possível, senão a
existência de dados concretos demonstrando que a descoberta seria inevitável.
Chamada de Inevitable Discovery limitation
Ocorreu no caso de Nix vs Willian-willian II: o cadáver foi encontrado através de
uma confissão ilegal, mas fatalmente este seria achado, pois 200 moradores já
faziam a varredura no local, sendo a prova lícita.

STJ: HC 52.995 – julgado que diz respeito a uma quebra ilegal de sigilo bancário
de uma pessoa havia morrido. O herdeiro teve acesso aos dados sem
autorização. Entretanto, como era o único herdeiro, ele inevitavelmente teria
acesso àquelas informações.

STF: HC 91.867: também adotou essa Teoria.

Grande parte da doutrina sustenta que essa Teoria passou a constar do art.157,
§2º, alterado pela Lei 11.690/08.

§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008)

Obs: apesar do §2º fazer menção à Teoria da Fonte Independente, o conceito


por ele trazido seria o da Descoberta Inevitável, seja porque o verbo é utilizado
na condicional, seja porque o procedimento faz referência aos procedimentos
investigatórios que sequer foram realizados.

Importante!!!
Os dados obtidos pela Receita Federal mediante requisição direta às instituições
bancárias em sede de processo administrativo tributário sem prévia autorização
judicial NÃO podem ser utilizados no processo penal, sobretudo para dar base à ação
penal.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.361.174-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/6/2014 (Info
543).

Não confunda:
Segundo o STJ, os dados obtidos pela Receita Federal com fundamento
no art. 6º da LC 105/2001, mediante requisição direta às instituições
bancárias (sem autorização judicial) podem ser utilizados contra o
contribuinte?
• Em processo administrativo fiscal: SIM.
• Em processo penal: NÃO.
Assim, para o STJ o Fisco pode requisitar, sem autorização judicial, informações
bancárias das instituições financeiras para fins de constituição de créditos
tributários. Contudo, tais informações obtidas pelo Fisco não podem ser
enviadas ao MP para servirem de base para a propositura de uma ação penal,
salvo quando houver autorização judicial, sob pena de configurar quebra de
sigilo bancário.

RESUMO ATUAL:
QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO (depende de autorização judicial).

MP NÃO (depende de autorização judicial) (STJ HC 160.646/SP, Dje


19/09/2011).
RECEITA SIM: se os dados forem utilizados em processo administrativo
FEDERAL tributário. NÃO: se os dados forem utilizados em processo
criminal.
TCU NÃO (depende de autorização judicial) (STF. MS 22934/DF, DJe de
9⁄5⁄2012)
CPI SIM (seja ela federal ou estadual/distrital). Prevalece que CPI
municipal não pode.

C) Limitação da Mancha Purgada:


Trata-se da Teoria da Limitação dos Vícios Sanados ou Tinta Diluída.
Conceito: não se aplica à Teoria da Prova Ilícita por derivação se o nexo causal
entre a prova primária e a prova secundária for atenuado em virtude do decurso
do tempo, de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória da menor
relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar
com a persecução penal.

Essa Teoria surgiu no direito norte-americano como Purged Taint no caso Wong
Sun V. US (1963): caso em que o indivíduo A foi preso ilegalmente e levou à
prisão de B, que por sua vez levou à prisão de C.
Teoricamente, a prisão de B e C foram também ilegais por derivação. Entretanto,
no caso concreto, o indivíduo C, após ser colocado em liberdade, decide
voluntariamente confessar a prática delituosa assistido por advogado. Assim, a
Suprema Corte Americana decidiu que a confissão afastou essa contaminação,
pelo menos quanto ao C.

Não há precedentes no STF e no STJ para essa Teoria.


Apesar, do CPP não fazer menção expressa desta Teoria, alguns doutrinadores
entendem que por conta de Lei 11.690/08, pode-se retirar essa interpretação do
art. 157, §1º CPP

§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Obs. Apesar de o §1º não fazer referência expressa à limitação da tinta diluída,
como dispositivo faz menção à ausência de nexo de causalidade entre a prova
ilícita originária e a prova subsequente, parte da doutrina entende que daí pode
se extrair a referida teoria.

D) Teoria do Encontro Fortuito de Provas:


É uma Teoria desenvolvida no Processo Penal brasileiro.
Conceito: no cumprimento de uma diligência, é extremamente comum a
descoberta de elementos probatórios relacionados a outro delito, que não estava
na linha de desdobramento normal da investigação. Nesse caso, se
demonstrado que o encontro foi casual, fortuito, a prova será considerada válida.
Se demonstrado que houve desvio de finalidade na produção desta prova, esta
deve ser considerada ilícita.

Aplicações da Teoria do Encontro Fortuito de Provas:


a) Cumprimento de mandado de busca domiciliar.
Ex. o mandado de busca visava a apreensão de uma cobra. Entretanto,
“aproveitando” a situação a polícia resolve pegar documentos e descobre um
crime. A prova aqui é ilícita por desvio de finalidade.
Ex. o mandado de busca visava a apreensão e documentos, e ao procurá-los a
polícia achou uma arma sem autorização. Aqui a prova é lícita.

Atenção! Cuidado com a busca em escritório de advocacia. É perfeitamente


possível, desde que haja mandado específico e pormenorizado, a ser cumprido
na presença de representante da OAB, sendo vedada a apreensão e
documentos pertencentes à clientes do advogado investigado, salvo se tais
clientes também estiverem sendo investigados como coautores e partícipes pela
prática do mesmo crime que justificou a expedição do mandado.

b) Interceptação Telefônica.
Por força da CF e da Lei 9.296/96 só é possível a interceptação telefônica para
crimes punidos com reclusão. Art.2º,III da Lei de Interceptação:
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das
seguintes hipóteses:
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Se a interceptação telefônica tiver sido autorizada para a investigação de crime


punido com pena de reclusão, não haverá qualquer ilegalidade se os elementos
probatórios aí obtidos forem utilizados na persecução penal de crime com pena
de detenção (STF HC 83.515).

Teoria da Serendipidade: é o encontro fortuito de elementos probatórios


relacionados a outros delitos e outras pessoas no curso da interceptação
telefônica judicialmente autorizada.
A teoria do encontro fortuito ou casual de provas ou serendipidade incide nos casos em que, no
cumprimento de uma diligência relativa a um delito, a autoridade policial casualmente encontra provas
pertinentes à outra infração penal, que não estavam na linha de desdobramento normal da investigação.
Fala-se em encontro fortuito de provas, então, quando a prova de determinada infração penal é obtida a
partir de diligência regularmente autorizada para a investigação de outro crime. Para a doutrina, a validade
da prova inesperadamente obtida está condicionada à forma como foi realizada a diligência: se houve desvio
de finalidade, a prova não deve ser considerada válida; se não houve desvio de finalidade, a prova é válida.
Assim, o fenômeno da serendipidade é aceito no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, o STJ
afirma que é lícita a prova de crime diverso, obtida por meio de interceptação de ligações telefônicas de
terceiro não mencionado na autorização judicial de escuta, desde que relacionada com o fato criminoso
objeto da investigação. A jurisprudência, porém, vai um pouco mais além do entendimento doutrinário,
entendendo que, se no curso de uma interceptação que apura infração punida com pena de reclusão
descobre-se um delito punido com detenção ou praticado por outra pessoa, a transcrição final da captação
pode ser usada não só como notitia criminis, mas também como legítimo meio probatorio para fundamentar
um decreto condenatório. No mesmo trilhar, o STF entendeu que, uma vez realizada a interceptação
telefônica de forma fundamentada, legal e legítima, as informações e provas coletas dessa diligência podem
subsidiar denúncia com base em crimes puníveis com pena de detenção, desde que conexos aos primeiros
tipos penais que justificaram a interceptação.

2) ÔNUS DA PROVA:
Espécies de ônus da prova:

Objetivo: é uma regra de julgamento a ser aplicada pelo juiz quando


permanecer em dúvida no momento do julgamento.
No processo penal, esta regra de julgamento é o in dubio pro reo. Assim, o in
dubio pro reo é uma regra de julgamento que consiste em considerar a
presunção de inocência do acusado em caso de dúvida.

Subjetivo: é um encargo que recai sobre as partes de provar a


veracidade das afirmações por elas formuladas ao longo do processo
resultando de sua inatividade uma situação de desvantagem perante o
direito.

2.1) Distribuição do ônus da prova no processo penal.


Posição Minoritária: em razão da regra probatória que deriva do Princípio da
Presunção de Inocência, o ônus da prova é todo da acusação (posição para
concurso da defensoria pública).

Posição Majoritária: afirma que é possível a distribuição do ônus da prova entre


a acusação e defesa.

Ônus da prova da defesa: A acusação é obrigada a provar a existência do fato


típico.

Ônus da prova da acusação Ônus da prova da defesa


Fato típico  Excludente da Ilicitude
Autoria/ participação Ex. legítima defesa
Nexo causal (geralmente por
perícia)  Excludente de Culpabilidade
Dolo/Culpa
O dolo não pode ser presumido. Na  Extinção da Punibilidade.
verdade, o dolo deve ser comprovado
com base nas circunstâncias objetivas  Álibe (quando a defesa prova
do caso concreto. que o acusado estava em outro
local à época do crime).
Grau de convencimento do juiz: Grau de convencimento do juiz:
É obrigado a produzir um juízo de É preciso criar apenas uma dúvida no
certeza. É obrigado a convencer o magistrado.
magistrado
Ex. tentativa de homicídio ou lesão Ex. briga da balada (generalizada)
corporal. Analisa os elementos não tem como saber quem começou.
objetivos. Assim, autoriza o decreto absolutório,
Uma pessoa que visa apenas um com base no in dubio pro reo. Art.386,
disparo no pé é lesão corporal. Se VI CPP.
forem vários tiros e no tórax é
tentativa de homicídio (não cabe se
alegar somente que queria dar um
“susto”).

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e
§ 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

3) SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DA PROVA:

3.1) Sistema da íntima convicção do magistrado.


É conhecido como o sistema da certeza moral do juiz.
O juiz é livre para valorar as provas, mas não é obrigado a fundamentar o
seu convencimento. Daí por que pode se valer de provas que não constam dos
autos do processo.
Este sistema, pelo menos em regra, não é adotado no processo penal.
Entretanto é adotado

Atenção! O Tribunal do Júri é composto por 1 juiz e 25 jurados. A intima


convicção é apenas para os jurados e não para o juiz presidente. Assim, não
aplica-se o sistema da íntima convicção do magistrado ao tribunal do júri.

3.2) Sistema da prova tarifada.


É conhecido como o sistema da certeza moral do legislador.
Os meio de prova tem valor probatório fixado em abstrato pelo legislador,
cabendo ao juiz tão somente apreciar o conjunto probatório e a ele atribuir o valor
fixado em lei.

Vantagem dele é que ele traz segurança, mas impossibilita o juiz a análise do
caso concreto. Ex. confissão de crime falsa.
O CPP não adota este sistema, em regra.
Exceções:
a) Art.155, p.ú, CPP.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial,
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008)
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Ex. prova-se que o sujeito é casado com certidão de casamento.
Ex. prova que a pessoa é menor de idade se dá através da certidão de
nascimento.
Ex. prova de morte por certidão de óbito. Art. 62 CPP.
Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o
Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.

Súmula 74 STJ
Súmula 74
PARA EFEITOS PENAIS, O RECONHECIMENTO DA MENORIDADE DO REU REQUER PROVA POR
DOCUMENTO HABIL

b) Art.158 CPP
Prova pericial ao exame de corpo de delito.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Ex. crime de homicídio que o corpo foi encontrado.


Ex. crime de tráfico em que foi apreendida a droga.

3.3) Sistema do Livre convencimento motivado ou Sistema da Persuasão


racional do juiz.
O juiz tem ampla liberdade na valoração das provas constantes dos autos, que
tem abstratamente o mesmo valor, mas é obrigado a fundamentar o seu
conhecimento. Em tese, não existe uma prova com valor absoluto.

CF, art.93, IX
CPP, art. 155, caput

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008)

Do sistema da persuasão racional derivam três consequências:


a) Não há prova com valor absoluto.
Antes a confissão no sistema tarifado era conhecido como rainha das provas,
mas isso já foi superado, pois alguém pode substituir o acusado.

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova,
e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre
ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

Apenas fazendo um cotejo entre a confissao no CPP e no CPC:


CPC.

Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar
como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe for desfavorável.
Cindir-se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir
fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção.

CPP.

Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz,
fundado no exame das provas em conjunto.

b) O juiz é obrigado a valorar todas as provas constantes do processo,


mesmo que para refutá-las.
c) Somente serão consideradas válidas as provas constantes do processo.

4) TERMINOLOGIA DA PROVA:

4.1) Prova emprestada:


Consiste na utilização em um processo de prova que foi produzida em outro feito.

Forma da prova emprestada: forma documental.


Ex. certidão de um processo X em um processo Y. Cópia do depoimento da
testemunha.

Valor probatório: mesmo valor da prova originalmente produzida no outro


processo. Ex. se lá era exame de corpo de delito, aqui também será exame de
corpo de delito; se lá era prova testemunhal, lá também será prova testemunhal.

Pressuposto: o acusado no segundo processo deve ter participado


Para ser prova emprestada é necessário ter o mesmo acusado.

Ex. interceptação telefônica. CF/Lei 9.296/96. A interceptação só pode ser


autorizada para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
Entretanto, é possível utilizar a prova emprestada em processo cível ou
administrativo. (STF PET 3.683/MG)
Ex. funcionário público está traficando drogas. No processo administrativo deste
funcionário é possível usar essa prova.

4.2) Prova nominada/inominada:


Prova nominada é aquela que está prevista em lei.
Prova inominada é aquela que não tem previsão legal.
Por mais que não haja previsão legal, estas provas inominadas são admitidas
em virtude do princípio da busca da verdade. Desde que não sejam ilícitas nem
imorais. Art.226 CPP.

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela
seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser
reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com
ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a
autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa
chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou
em plenário de julgamento.

Ex. reconhecimento por e-mail – Delegado de polícia manda a foto do criminoso


ao lado de outras fotos. Não se trata de prova ilícita, nem imoral.

4.3) Prova Típica/ Atípica:


Prova típica é aquela que tem seu procedimento probatório previsto em lei.
Nos termos do art.7º, a reprodução simulada é atípica, pois seu procedimento
probatório não está previsto em lei.

Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a
moralidade ou a ordem pública.

Aula 12.2 (online) provas 04

DAS PROVAS EM ESPÉCIE

5) EXAME DE CORPO DE DELITO E OUTRAS PERÍCIAS

Previsão Legal: art.158 CPP

DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS EM GERAL


Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

O exame de corpo de delito é apenas uma das espécies de prova pericial,


havendo outros tipos. Entretanto, nem toda perícia é um exame de corpo de
delito.
Ex. exame de insanidade mental é um exame pericial que não é exame de corpo
de delito.

5.1. Corpo de Delito: é o conjunto de vestígios materiais deixados pela


infração penal. A expressão “corpo de delito” não necessariamente
significa o corpo de uma pessoa, mas sim os vestígios deixados pelo
crime, ou seja, diz respeito à materialidade da infração penal.
Não se confunde com o cadáver, apesar deste puder ser objeto de corpo de
delito.

Ex. marca de sapada no chão, impressão digital, cadáver no chão, as clásulas


deflagradas, etc.

5.2. Exame de corpo de delito: é uma análise feita por pessoas com
conhecimentos técnicos ou científicos sobre os vestígios deixados
pela infração penal, seja par fins de comprovação da materialidade do
crime, seja para fins de comprovação da autoria;

Ex. casal Nardoni, a perícia foi muito importante para incriminá-lo.


A prova pericial tem argumentos técnicos e científicos, daí é mais confiável, ao
contrário da prova testemunhal que é suscetível a maiores deturpações
(chamada de prostituta das provas), mas ainda é muito utilizada no processo
penal.

Em regra, não há necessidade de prévia autorização judicial para a realização


de exames periciais, sobretudo o exame de corpo de delito (o delegado deve
fazê-lo o mais rápido, com a cena preservada, pois melhor vai ser a sua
qualidade).
Exceções apontadas pela doutrina:
i. Exame de insanidade mental: serve para aferir se o acusado é ou
não é inimputável/ semi-imputável. Só pode ser determinado por juiz
competente. Art.149 CPP.

Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou
a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou
cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
§ 1o O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade
policial ao juiz competente.
§ 2o O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo,
se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento.

ii. Exumação do cadáver: para fins de realização de uma eventual


autópsia. Apesar de não haver previsão legal exigindo a precedência
de autorização do juiz, isso é feito na prática.

5.3. Momento para a juntada do laudo pericial: laudo pericial é uma peça
técnica realizada pelos perito (oficiais ou não).
Em regra, o laudo pericial não funciona como condição de procedibilidade (não
é preciso do laudo pericial para dar início ao processo). Logo, pode ser juntado
durante o curso do processo, desde que, 10 dias antes da audiência una de
instrução e julgamento.
Ex. os laudos periciais tendem a demorar muito a serem confeccionados por falta
de estrutura para tal. Assim, o promotor não precisa esperar que este fique
pronto para oferecer a denúncia, podendo ser juntado no curso do processo.

É possível que as partes juntem quesitos ao perito com antecedência mínima de


10 dias da audiência una de instrução e julgamento, momento em que este
responderá essas questões. Este prazo serve para que o contraditório seja pleno
(possibilidade de reação e ciência), pois é preciso um prazo para as partes se
manifestarem sobre o laudo pericial. Art. 159, §5º,I CPP

§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei
nº 11.690, de 2008)
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde
que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados
com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo
complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Geralmente a defesa não faz parte da realização do exame pericial, sendo


realizado o contraditório diferido (por isso é importante o prazo de
antecedência de 10 dias).

Exceções – o exame pericial é condição de procedibilidade:


a- Lei de drogas (art.50, §1º CPP) exige laudo de constatação. É um
laudo de natureza provisória para aferir se a substância apreendida é
ou não droga.
Ex. Andrei Borges de Mendonça comenta em seu livro de um caso de uma mãe
que foi acusada de ter matado a filha com cocaína, pois esta foi encontrada
morta com vestígios de pó branco na garganta. Ela foi presa e sofreu agressões,
mas logo depois constatou-se que o pó não era cocaína e a criança morreu por
uma morte decorrente de um problema fisiológico.

Art.50, §1º da Lei 11.343.


§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito,
é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na
falta deste, por pessoa idônea.

Lembre-se: trata-se de um laudo provisório que geralmente é feito pela própria


polícia com reagentes químicos. Depois precisa do exame definitivo que é
chamado de exame toxicológico, sendo que um não substitui o outro.

Assim, o laudo de constatação é condição de procedibilidade e condição


obrigatória da própria prisão em flagrante.
§ 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1 o deste artigo não ficará impedido de participar
da elaboração do laudo definitivo.

b- Crimes contra a propriedade imaterial (CPP, art. 525)


Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não
for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.

Quando a infração deixar vestígios nos crimes contra a propriedade imaterial é


condição de procedibilidade a realização de corpo de delito.

5.4. Obrigatoriedade do Exame de Corpo de Delito:


A doutrina estabelece 2 espécies de crime:
a. Infrações penais não transeuntes
São aquelas que deixam vestígios. Neste caso o exame de corpo de delito é
obrigatório. O código, quando o crime deixa vestígios é praticamente uma prova
tarifada, pois apenas admite exame de corpo de delito.
Art.158 CPP
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Ex. homicídio (cadáver), furto.


Obs. O STJ decidiu que a mera suspeita de que o acusado é usuário de substâncias entorpecentes, por
si só, não justifica a realização do exame de dependência toxicológica, providência que deve ser condicionada à
efetiva demonstração da sua necessidade, quando há dúvidas a respeito do seu poder de autodeterminação.

b. Infrações penais transeuntes:


São aquelas que não deixam vestígios. É desnecessário (quase impossível) o
exame de corpo de delito.
Ex. crimes contra a honra depende de como foram perpetrados. Se foram
realizados na internet, isso deixa vestígios (observar os IP’s dos computadores).
5.5) Exame de corpo de delito direto e indireto:
Exame de corpo de delito direto: é aquele realizado diretamente pelo perito
oficial ou por 2 peritos não oficiais sobre o próprio corpo de delito.
Ex. violência doméstica. No IML, na presença do perito, este vai analisar as
lesões provocadas na mulher.

Exame de corpo de delito indireto: temos 2 correntes:


1ªcorrente (minoritária): trata-se de um exame pericial feito por um perito com
base na análise de documentos ou com base na oitiva de testemunhas.
Ex. não há a vítima. A mulher apanhou do marido e após 1 mês ela vai a
delegacia. Ela não consegue fazer exame de corpo de delito direto, porque os
hematomas já desapareceram quase todos. Assim, o perito pode pedir o
prontuário do exame que foi feito no pronto socorro de atendimento no dia do
fato e com base nisso pode fazer o exame de corpo de delito.

2ª corrente (majoritária, STF HC 69.591) se houver o desaparecimento dos


vestígios, um exame judicial feito com base na análise de documentos ou com
base no depoimento de testemunhas pode suprir a ausência do exame direto.
Ex. Elisa Samudio.

Art.158 c/c 167 CPP:


Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal (e documental) poderá suprir-lhe a falta.

5.6) Casuística:
a) Discussão do furto qualificado pelo rompimento de obstáculo.
Ex. grade em janela ou porta foi arrombada.
Em regra, há necessidade de exame pericial para que os peritos possam atestar
que o obstáculo teria sido rompido e que este era exterior a coisa e tinha o
objetivo de proteger a coisa roubada.

Se por ventura desaparecerem os vestígios (ex. grande demora para realizar


perícia geraria insegurança da pessoa que está na casa e deseja colocar novas
grades/cadeados), a prova testemunhal pode suprir a ausência do exame direto.
Atualmente, é muito comum que a vítima tire fotos ela mesma. STJ HC 207.588

b) Majorante do emprego de arma no crime de roubo.


É necessário apreender a arma no crime de roubo para ser realizado um exame
pericial direto (exame de eficiência de arma de fogo- arma tem potencialidade
lesiva, pois poderia atirar) Isso autoriza o aumento da pena de roubo.

Se não houver a apreensão da arma de fogo:


Ex. durante a perseguição o investigado joga fora a arma em um rio e não é
encontrada.
Posição Antiga do STJ (HC 155.149): só seria possível a incidência da majorante
se testemunhas confirmassem que houve disparos de arma de fogo.
Ex. sujeito disparava pra cima para anunciar o roubo.
Posição atual do STF (HC 96.099) e STJ (ERESP 96180): diante da não
apreensão da arma, basta que testemunhas confirmem que houve o emprego
de arma.
Ex. basta que a arma seja apontada para a vítima.

5.7) Peritos:
Perito é um auxiliar do juízo dotado de conhecimentos técnicos ou científicos
sobre determinada área do conhecimento humano, que tem a função estatal de
realizar exames periciais, fornecendo dados capazes de auxiliar o magistrado
por ocasião da sentença. Ele deve ser imparcial e pode sofrer as mesmas causas
de suspeição e impedimento eu o juiz.
Art.275 e 280 CPP.
Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.

O perito pode ser:


 Perito oficial: ele é um funcionário público que tem a função de perito.
Antes da lei 11.690/08, a perícia oficial era feita por 2 peritos.
Depois da lei 11.690/08 basta a presença de 1 perito (art.159 CPP)

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador
de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Se não houver perito oficial, as perícias deverão ser realizadas por 2 peritos não
oficiais (é chamado erroneamente de “perito leigo”, pois ele tem formação e
conhecimento sobre a matéria – melhor usar perito não oficial). Art.159, §1º
CPP
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
O perito não oficial tem que prestar compromisso, mas jurisprudência e doutrina
entendem que a sua ausência não produz qualquer nulidade.
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o
encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Perito oficial: 1
Perito não oficial: 2

Atenção! Em se tratando de uma perícia complexa, pode ser designado mais de


uma perito oficial (perícia que envolve mais de uma área de conhecimento
humano).
Ex. acidente do metrô – precisa de engenheiro civil e elétrico.

Art.159, §7º CPP

§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado,
poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Súmulas 361 STF – esta súmula está ultrapassada e deveria ser lida como “um
só perito não oficial
Súmula 361
NO PROCESSO PENAL, É NULO O EXAME REALIZADO POR UM SÓ PERITO (não oficial), CONSIDERANDO-SE
IMPEDIDO O QUE TIVER FUNCIONADO, ANTERIORMENTE, NA DILIGÊNCIA DE APREENSÃO.

5.8) Assistente técnico:


O assistente técnico sempre existiu no Processo Civil, e foi introduzido no CPP
em 2008.
Assistente técnico é um auxiliar das partes quanto ao laudo pericial.
Não se confunde com assistente de acusação

Perito Assistente técnico


O perito é auxiliar do juízo. É um auxiliar das partes. É provável
que sua atuação seja parcial.
Pode atuar na fase investigatória e O assistente somente pode atuar
processual durante a fase processual. Art.159,
§5º.
É considerado funcionário público, Não é funcionário público.
pelo menos para fins penais (perito
oficial e não oficial)
O perito pode responder pelo crime de Não responde por falsa perícia, pois
falsa perícia – crime próprio (art.342 ele não é perito.
CP)

§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei
nº 11.690, de 2008)
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou
ser inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

6) INTERROGATÓRIO JUDICIAL:

6.1) Conceito:
Interrogatório judicial é o ato processual por meio do qual o juiz ouve o acusado
sobre a sua pessoa e sobre a imputação que lhe é feita.
Ele permite o contato entre o juiz e o acusado.

6.2) Natureza Jurídica:


1ªcorrente) (superada) Há alguns anos, o interrogatório era apontado como
meio de prova. Pela sua localização topográfica no CPP, é tratado como meio
de prova.
Art. 185 está no capítulo III, sendo que no capítulo II está localizado o exame de
corpo de delito.

2ª corrente) (maioria da doutrina e tribunais superiores): é um meio de defesa**.

** Princípio da Ampla defesa


Está previsto no art. 5º, LV CF. A ampla defesa é o gênero dos quais são
espécies:
a) Defesa técnica
b) Auto-defesa.

Defesa técnica/processual:
 é aquela exercida por profissional da advocacia.
 Ela é irrenunciável. O promotor não pode se defender, porque não é
advogado. Caso seja o acusado um advogado, ele pode fazer a sua
própria defesa.
(em alguns países é possível que o próprio acusado exerça a sua defesa
técnica).
Nos EUA a própria pessoa pode exercer a sua defesa técnica, mesmo que o
acusado não seja advogado.

Art.261 CPP
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.

Súmula 708 STF


Súmula 708
É NULO O JULGAMENTO DA APELAÇÃO SE, APÓS A MANIFESTAÇÃO NOS AUTOS DA RENÚNCIA DO ÚNICO
DEFENSOR, O RÉU NÃO FOI PREVIAMENTE INTIMADO PARA CONSTITUIR OUTRO.

 Ao acusado pertence o direito de constituir o seu defensor. STJ, HC


162.785. A nomeação de advogado pelo juiz é somente se o acusado não
tiver defesa técnica.

Abandono do processo pelo advogado constituído: antes de mandar para a


defensoria pública, o juiz deve intimar o acusado que o advogado abandonou o
processo e dá 15 dias para este constituir um defensor. Caso não seja
constituído, o juiz pode nomear um defensor dativo. Súmula 707 STF.

Súmula 707
CONSTITUI NULIDADE A FALTA DE INTIMAÇÃO DO DENUNCIADO PARA OFERECER CONTRA-RAZÕES AO
RECURSO INTERPOSTO DA REJEIÇÃO DA DENÚNCIA, NÃO A SUPRINDO A NOMEAÇÃO DE DEFENSOR
DATIVO.

 Súmula 343 STJ e Súmula Vinculante nº 5.


Súmula 343
É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar.

Súmula vinculante nº5


A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

O STJ previa a necessidade de advogado para o processo disciplinar. Mas o


STF entendeu de forma diversa: para ele não há necessidade de defesa técnica,
mas há ampla defesa.

Para o STF há o direito de Informação, manifestação, razões apreciadas, mesmo


sem advogado.
Autodefesa (defesa material ou genérica): é aquela exercida pelo próprio
acusado. Ela é renunciável.
Existem 3 formas de exercício da autodefesa:
a) Direito de audiência (direito de ser ouvido). É aqui que se localiza o
interrogatório.
b) Direito de presença. É o direito que o acusado tem de acompanhar os
atos da instrução probatória.
Obs.1: o direito de presença não é absoluto. Em certas situações a presença do
acusado causa temor/constrangimento. É muito comum acontecer a retirada do
sujeito da sala (fundamentar o motivo da retirada do acusado da sala).

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério
constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará
a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do
réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008)
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá constar
do termo, assim como os motivos que a determinaram. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Obs.2: o direito de presença pode ser direta ou remota;


Direito de presença direta: o acusado está presente na sala. É a regra.
Direito de presença remota: se dá através da videoconferência.

c) Capacidade postulatória autônoma do acusado.


Alguns atos processuais podem ser praticados pelo próprio acusado, mesmo ele
não sendo advogado.
Ex. HC
Ex. interposição de recursos na 1ª instância. Tem que intimar o acusado e o seu
representante, pois o acusado tem capacidade postulatória autônoma. Assim,
quando o oficial de justiça intimar o acusado da decisão, este poderá pedir para
o oficial que escreva que está ciente da decisão e que pretende recorrer desta
(depois ele junta razões de recurso).

6.3) Momento para a realização do interrogatório (judicial):

No procedimento comum, antes da Lei 11.719/08 o interrogatório era o


primeiro ato de instrução processual. O acusado era citado para comparecer em
juízo e ser interrogado.
Depois da lei 11.719/08 o interrogatório passou a ser realizado ao final
da audiência una de instrução e julgamento, o que, de certa forma, confirma
a natureza jurídica de meio de defesa.
Antes, o acusado falava sem saber o que as testemunhas falavam, e
confessava o crime. Atualmente, o acusado ao saber das provas anteriormente
pode ser mais racional, pois ele pode confessar e atenuar a sua pena se as
provas contra ele forem fortes ou simplesmente permanecer calado ou negar se
as provas contra ele forem insuficientes.

Procedimentos especiais que preveem o interrogatório como primeiro


ato da instrução criminal:
a) CPPM
b) Tráfico de Drogas – Lei 11.343/06;
c) Procedimento originário dos tribunais (Lei 8.038/90, art.7º). **

** Nesse ponto, o plenário do STF (AP 528 AGR/DF) entendeu que se deve
observar a mesma sistemática do CPP. (Renato entende que isso é absurdo,
pois o procedimento especial está previsto em lei. Além disso no procedimento
originário nos tribunais são para pessoas graúdas, além de gerar enorme
insegurança jurídica quando feita a alteração de procedimento por
jurisprudência. Diante disso, Renato sugere fazer o interrogatório no início e
perguntar se o acusado quer fazer outro interrogatório ao final. Diante disso, 99%
se recusa e deve-se fazer o registro dessa recusa para evitar futura anulação).

No procedimento previsto na Lei n. 8.038/90 não é necessário que seja aplicada, por
analogia, a fase de absolvição sumária estabelecida no art. 397 do CPP. Isso porque o
rito previsto nessa lei especial já traz a previsão do denunciado apresentar uma
resposta preliminar e a possibilidade do Tribunal julgar improcedente a acusação
antes mesmo da ação penal se iniciar.
Dessa forma, o art. 4º da Lei n. 8.038/1990 tem a mesma finalidade e substitui a
absolvição sumária do art. 397 do CPP.
Não é cabível, em se tratando de ação penal originária (Lei n. 8.038/1990), que seja
assegurado ao acusado citado para a apresentação da defesa prévia prevista no art.
8º da Lei n. 8.038/1990 o direito de se manifestar nos moldes preconizados no art.
396-A do CPP, com posterior deliberação acerca de absolvição sumária prevista no
art. 397 do CPP.
STJ. Corte Especial. AgRg na APN 697-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em
3/10/2012.
STF. 2ª Turma. HC 116653/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2014.

Lei n.º 8.038/90


Se a ação penal for de competência do STF, STJ, TRF ou TJ, ela deverá obedecer a um rito
processual próprio previsto na Lei n. 8.038/90. Ex: se um Governador for acusado da prática de
um crime, esta ação penal tramitará originariamente no STJ e o procedimento será o da Lei n.
8.038/90 (o CPP será aplicado apenas subsidiariamente).
O procedimento da Lei n.º 8.038/90 é, resumidamente, o seguinte:
1. Oferecimento de denúncia (ou queixa).
2. Notificação do acusado para oferecer resposta preliminar no prazo de 15 dias (antes de
receber a denúncia) (art. 4º).
3. Se, com a resposta, o acusado apresentar novos documentos, a parte contrária (MP ou
querelante) será intimada para se manifestar sobre esses documentos, no prazo de 5 dias.
4. O Tribunal irá se reunir e poderá (art. 6º):
a) receber a denúncia (ou queixa);
b) rejeitar a denúncia (ou queixa);
c) julgar improcedente a acusação se a decisão não depender de outras provas (neste caso, o
acusado é, de fato, absolvido).
Importante: a decisão quanto ao recebimento ou não da denúncia ocorre após o denunciado
apresentar resposta.
5. Se a denúncia (ou queixa) for recebida, o Relator designa dia e hora para audiência.

6.4) Características do Interrogatório:

a) Interrogatório é um ato contraditório: antes da Lei 10.792/03, não era


necessária a presença do MP nem do defensor, pois era um ato privativo do juiz;
com o advento da Lei 10.792/03 a presença do MP e do defensor passa a ser
obrigatória e, além disso, os dois passam a ter direito a reperguntas (CPP,
art. 188);

Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser
esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante. (Redação
dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Atenção! O interrogatório é um meio de defesa. Pergunta o juiz, depois o


promotor e depois o advogado. Geralmente, os acusados só respondem às
perguntas do defensor, podendo permanecer em silêncio nas demais perguntas.

Obs: no caso de pluralidade de acusados com advogados distintos, as perguntas


poderão ser feitas por todos os advogados, sobretudo quando houver situação
que permita delação premiada. Assim, todos os advogados tem direito a
reperguntas.

b) Interrogatório é um ato tecnicamente assistido: é obrigatória a


presença de defensor no interrogatório judicial. No interrogatório policial
não há tal necessidade; Art.185 CPP.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. (Redação dada pela
Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

6.5) Interrogatório por videoconferência:

a) Histórico:
Uma lei paulista (Lei 11. 819/05) passou a prever o interrogatório por vídeo
conferência. Por ser lei estadual, o STF (HC 90.900) reconheceu a sua
inconstitucionalidade formal (CF 88, art. 22,I).
Depois surge a lei federal 11.900/09 que introduziu o interrogatório por
videoconferência no processo penal, constando do art. 185, §§ 2º e 3º, do CPP.
Esta lei possui aplicabilidade imediata, pois é de natureza processual.

Quando o STF declarou a inconstitucionalidade da lei paulistana, todos os


interrogatórios entre 2005 e 2009 foram anulados.

b) Hipóteses: art.185 §2º do CPP:

O interrogatório da videoconferência é chamada de two ways. Isso porque sai da


sala de audiência do juiz até o presídio e sai imagem do presídio até o juiz.
O interrogatório por videoconferência é uma exceção e deve ser fundamentada.

§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá
realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma
das seguintes finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009)
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre
organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; (Incluído pela
Lei nº 11.900, de 2009)
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para
seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; Ex. grande distância
(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível
colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei
nº 11.900, de 2009)
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. Ex. ataques do PCC (Incluído pela Lei nº 11.900,
de 2009)
§ 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as partes serão
intimadas com 10 (dez) dias de antecedência. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
§ 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema
tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que tratam os
arts. 400, 411 e 531 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

A discussão que se faz é se o procedimento por videoconferência é ou não


constitucional.
Paulo Rangel defende que interrogatório por videoconferência seria
inconstitucional, pois a prática deste ato é muito importante e deverá ser feita
pessoalmente.
Para Renato é constitucional, pois o processo penal deve estar aberto a novas
tecnologias e eficiência. Ademais, poupa dinheiro e vidas fazer videoconferência.

Aula 12.3 (online) provas 05 – Nestor Távora

(Ler no livro a partir da página 664 - confissão, reconhecimento de pessoas e


coisas, acareação, prova documental, indícios, busca e apreensão,
interceptação telefônica, colaboração e delação premiada).

7) DECLARAÇÕES DO OFENDIDO:

7.1) Conceito:
É a vítima do crime que funciona para esclarecer a verdade dos fatos
apresentando as suas impressões.

Obs. Natureza das declarações do ofendido: as declarações do ofendido


funcionam como meio de prova a ser contextualizado dentro da instrução
processual.

7.2) Comparecimento:
Se o ofendido devidamente convocado não comparece a respectiva audiência
caberá a condução coercitiva.
Por sua vez, se o crime é de ação privada a ausência do ofendido ocasiona a
perempção (art.60 CPP) e a respectiva extinção da punibilidade (art.107, CP).

7.3) Proteção do ofendido:


Atualmente temos uma macroproteção do ofendido. Com o advento da Lei
11.690/08, o legislador apresentou um leque de proteção ao ofendido
destacando-se as seguintes prerrogativas:
a) Direito de intimação: o ofendido passa a ter direito de ser intimado das
decisões acerca da situação prisional do infrator e esta intimação pode ocorrer
por opção do ofendido por meio eletrônico.
b) Direito de espaço reservado: no ambiente forense haverá espaço
reservado para abrigar o ofendido na expectativa de que ele não tenha contato
com pessoas vinculadas ao réu.
c) Direito de tratamento e atendimento: por deliberação do juiz, o ofendido
pode ser de imediato encaminhado para tratamento médico, psicológico ou
jurídico às expensas do Estado ou do próprio infrator.
d) Direito à intimidade: pode o juiz decretar o segredo de justiça da
persecução penal na expectativa de que informações não sejam partilhadas com
a imprensa preservando-se assim a intimidade, a vida privada e a família da
vítima.

O valor deste meio de prova é relativo devendo ser contextualizado dentro


da instrução.
Para os tribunais superiores, as declarações do ofendido ganham especial
relevância nos crimes de pouca visibilidade como acontece nos crimes sexuais.

8) PROVA TESTEMUNHAL:

8.1) Conceito:
Testemunha é a pessoa desinteressada que presta declaração sobre fato
pretérito apresentando assim as suas impressões sensoriais.

8.2) Restrições:
Regra geral: ser testemunha é um dever em regra extensível a todos para
colaborar na administração da justiça.

Exceções:
a. Parentes do réu.
Obs. o rol de pessoas apresentado no art.206 do CPP nos traz aqueles que
poderão em razão da proximidade com o réu se recusar a funcionar como
testemunha já que as relações familiares são mais importantes do que o
compromisso coma administração da justiça.
Atenção! Os parentes do réu, entretanto, estarão obrigados a figurar como
testemunha quando forem o único meio de prova. Todavia, não serão
compromissados a dizer a verdade.
Atenção! Os parentes da vítima não de submetem a esta prerrogativa,
funcionando regularmente como testemunha e assumindo compromisso de dizer
a verdade.

b. Proibições:
O art.207 do CPP impõe proibições a um núcleo de atividades para que
funcionem como testemunha, ou seja, as pessoas que desempenham ofício,
profissão, ministério ou função. Ex. advogados, médicos, padres. Neste caso, se
o interessado autorizar a pessoa impedida, se quiser, poderá funcionar como
testemunha. Neste caso haverá o compromisso de dizer a verdade

8.3) Classificação da Testemunha:


a. Testemunha numerária: é aquela que integra o número legal e será
compromissada a dizer a verdade.
b. Testemunha extranumerária: é aquela que está fora do número legal,
mas será compromissada a dizer a verdade.
Obs. o juiz pode determinar de ofício a oitiva de testemunhas extranumerárias.
É o que ocorre com a testemunha referida que é aquela apontada por uma outra
testemunha.
c. Informantes: são as pessoas que depõe sem prestar compromisso. É o
que ocorre com os parentes do réu listados no art.206 do CPP, loucos e
menores de 14 anos.
d. Testemunhas instrumentais ou Instrumentárias: ela nada sabe do fato,
servindo apenas para integralizar a forma de um ato da persecução penal

e. Laudadores: são as testemunhas que prestam declaração sobre os


antecedentes do réu sendo também conhecidas como testemunhas de
beatificação.

f. Testemunhas da coroa: são os agentes infiltrados nas facções


criminosas (Lei 9.034/95) que acabam funcionando como verdadeiras
testemunhas privilegiadas em razão da proximidade com o fato criminoso.

8.4) Número de Testemunhas:


O número de testemunhas varia em razão do tipo de procedimento:
a. Procedimento comum ordinário: 8 testemunhas.
b. Procedimento comum sumário: 5 testemunhas.
c. Procedimento sumaríssimo: 3 testemunhas.
d. 2ª fase do júri: 5 testemunhas.

Atenção! O número é contado, segundo a jurisprudência, para cada réu e para


cada fato criminoso.

8.5) Procedimento:

8.5.1) Obrigações da testemunha:

a) Dizer a verdade.
Ela tem o dever de dizer a verdade não podendo ainda calar a verdade ou negar
a verdade, sob pena de responsabilidade criminal por falso testemunho (art.342
CP).

Se a testemunha se retratar antes da sentença ser proferida no processo em que


ela mentiu, ocorrerá a extinção da punibilidade pelo falso testemunho. Logo, uma
vez proferida a sentença como não mais cabe retratação, o juiz oficiará a polícia
para apuração do falso testemunho. Por sua vez, se o juiz profere sentença na
mesma audiência em que a testemunha mentiu caberá autuação em flagrante
pelo falso testemunho.

b) Comparecer.
A ausência injustificada da testemunha ocasiona as seguintes consequências:
 Condução coercitiva;
 Pagamento de multa (que não está atualizada monetariamente);
 Pagamento das custas da diligência;
 Responsabilidade criminal por desobediência.

No prazo de 1 ano, que é contado da data em que a testemunha foi ouvida, ela
deve informar qualquer alteração de endereço sob pena de ser considerada
testemunha faltante.

8.5.2) Incomunicabilidade:
As testemunhas serão ouvidas individualmente de modo que umas não poderão
acompanhar o depoimento das outras, sob pena de nulidade do processo.
Além disso, será reservada uma sala para acomodar as testemunhas de forma
a ser preservada a incomunicabilidade.

8.5.3) Oralidade:
Prevalece a palavra falada, mas nada impede que a testemunha consulte
apontamentos. Devemos destacar as seguintes situações especiais:
 Surdo e/ou mudo: neste caso o depoimento será adaptado a
necessidade especial do depoente.
 Estrangeiro: neste caso, o depoimento é realizado por meio de intérprete,
salvo segundo a jurisprudência quando a língua é muito próxima a nossa.
Ex. português de Portugal, castelhano etc.
 Prerrogativa funcional: as autoridades apontadas no §1º do art.221 CPP
em razão da importância do cargo prestam testemunho por escrito.

8.5.4) Local do depoimento:

A) Se a testemunha reside fora da comarca será ouvida por carta


precatória. Por sua vez, se estado estrangeiro será ouvida por meio de
rogatória.
Atenção 01! As precatórias e rogatórias não suspendem a instrução. Encerrado
o prazo dado pelo juiz ele poderá prorrogar ou sentenciar a causa mesmo sem
a devolução da carta. Quando ela retornar será anexada ao processo da forma
como ele se encontra.

Atenção 02! Para evitar a expedição de carta precatória para oitiva de


testemunha pode ser utilizada a videoconferência.
Atenção 03! Segundo o STF, na súmula 155, se as partes não forem intimadas
da expedição da carta precatória haverá nulidade relativa.
Súmula 155
É RELATIVA A NULIDADE DO PROCESSO CRIMINAL POR FALTA DE INTIMAÇÃO DA EXPEDIÇÃO DE
PRECATÓRIA PARA INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA.

B) Enfermidade ou velhice:
Se a testemunha é enferma ou idosa tendo dificuldade de locomoção será ouvida
onde estiver

8.5.5) Situações especiais:


a. Art.221, caput CPP.
O caput do art.221 do CPP apresenta um rol de autoridades que em razão da
importância do cargo ou da função desempenhada poderão agendar local, dia e
hora para prestar depoimento.
Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os
ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos do
Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do
Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal,
bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles
e o juiz. (Redação dada pela Lei nº 3.653, de 4.11.1959)
§ 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara
dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito,
caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.
(Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior. (Redação dada pela Lei nº 6.416,
de 24.5.1977)
§ 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. 218, devendo, porém, a expedição do
mandado ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indicação do dia
e da hora marcados. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

b. Funcionário Público:
Ele será intimado pessoalmente, mas o chefe da repartição também será
comunicado para que tome providências em homenagem ao princípio da
continuidade do serviço público.

c. Militar
O militar será requisitado ao seu superior em respeito a hierarquia militar.

8.5.6) Estrutura:

i. Compromisso de dizer a verdade (testemunha compromissada).


ii. Qualificação da testemunha. Havendo dúvida quanto a qualificação a
testemunha, ainda assim, poderá ser imediatamente ouvida e o juiz determinará
providências para esclarecer a dúvida.
iii. Contradita.
É a impugnação da testemunha apresentada pelas partes que pode ocasionar
uma proibição do depoimento (art.207 CPP), o afastamento do compromisso
(art.206 e 208 CPP) ou servir de mera advertência ao juiz.

iv. Perguntas:
Atenção! Atualmente o sistema presidencialista de perguntas foi ordinariamente
superado e as partes perguntarão diretamente a testemunha na seguinte
estrutura:
As primeiras perguntas serão arroladas pela parte que arrolou a testemunha; em
segundo lugar, a parte contrária e ao final o juiz poderá fazer perguntas
complementares.
Direito de o réu acompanhar os atos processuais. Conclusões:
Desse modo, podemos dizer que o acusado tem direito de acompanhar, dentro da sala de
audiência, todos os atos de instrução processual, com duas exceções:
1º) O réu não poderá assistir o interrogatório do corréu (art. 191 do CPP). Nesse caso, ele terá
que ficar fora da sala e não poderá acompanhar o depoimento nem mesmo por
videoconferência.
2º) O réu poderá ser retirado da sala de audiência durante o depoimento da vítima ou das
testemunhas se o juiz verificar que a sua presença poderá causar humilhação, temor, ou sério
constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento (art. 217). Nesse caso, o réu ficará fora da sala, mas poderá acompanhar os
depoimentos por meio de videoconferência.
Em ambos os casos, o advogado do réu deverá permanecer na sala de audiência e acompanhar
o ato processual praticado, salvo se o acusado for advogado e estiver atuando em causa própria.
Nesse caso, ele não poderá permanecer na sala de audiência, sendo-lhe facultado constituir
outro advogado para representar juridicamente seus interesses no ato.

Obs. Filtro judicial: o juiz pode vetar eventualmente pergunta da parte que seja
impertinente, que já tenha sido respondida ou que possa induzir a resposta.

v. Desfecho procedimental: o termo de declaração será assinado pelo


juiz, pelas partes e pela testemunha e na impossibilidade dela assinar
haverá assinatura a rogo.

Obs. Conclusões procedimentais:


1. O depoimento testemunhal é essencialmente narrativo e a testemunha
não deve apresentar as suas opiniões pessoais, salvo se forem
indissociáveis da narrativa fática.
2. A autoridade deve promover o registro de forma fidedigna para que o
depoimento não seja subvertido.
3. Produção antecipada de provas: em razão da enfermidade ou velhice, a
testemunha pode ser antecipadamente ouvida, resguardando-se assim o
conteúdo do depoimento

Aula online 1 – 15/04/2013: competência 01

COMPETÊNCIA CRIMINAL:

1 – Mecanismos de Solução dos Conflitos:

Instrumentos disponíveis para a resolução de conflitos:

 Autotutela: caracteriza-se pelo emprego da força para satisfação de


interesses. Hipóteses
a- Legítima defesa é uma espécie de autotutela.
b- Estado de Necessidade
c- Prisão em Flagrante – mesmo sem prévia autorização judicial ela pode
ser feita por particular caso haja flagrante de delito.
Cuidado! Se não houver delito ou motivo para prisão em flagrante feita por
particular, pode acarretar o crime de exercício arbitrário das próprias razões.
art.345 CP.
Exercício arbitrário das próprias razões
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a
lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.

 Autocomposição: caracteriza-se pela busca do consenso entre as


partes.
No processo penal, a autocomposição se dá através da transação,
amplamente aplicado nos Juizados Criminais (art.98, I CF). Para que não
haja negociação com bens de natureza indisponível, só pode estar
relacionada ao cumprimento de penas restritivas de direitos ou multa.
Ex. não posso transacionar com pena de prisão, pois a liberdade é bem
indisponível.

Art.76 da Lei 9.099/95

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não
sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva
de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

 Jurisdição: Juris + Dictio (dizer o direito)


Conceito: trata-se de uma das funções do Estado, exercida precipuamente
pelo Poder Judiciário caracterizada pela aplicação do direito objetivo a
determinado caso concreto.
Atenção! A jurisdição não é exclusiva do Poder Judiciário. Ex. crimes de
responsabilidade.

2) Princípio do Juiz Natural:

Conceito: consiste no direito que cada cidadão possui de saber antecipadamente


a autoridade jurisdicional que irá julgá-lo caso venha a praticar um fato delituoso.
O seu objetivo é garantir a imparcialidade do julgador.

Previsão Constitucional: art.5º, XXXVII e LIII CF.

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

Obs.1: Tribunal de exceção é aquele criado após a prática do fato delituoso


especificamente para julgá-lo. No direito interno aplica-se esta vedação, mas no
plano internacional há muitos tribunais de exceção.
Por este motivo o Estatuto de Roma criou o Tribunal Penal Internacional – trata
de uma corte internacional criada antes do fato delituoso.

Obs.2: as chamadas “justiças especiais” não são exemplos de tribunais de


exceção. Ex. justiça eleitoral e militar já estão delimitadas pela Constituição.

Art.5º, LIII – no momento da prática do delito é possível aferir a competência do


juízo.
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
Regras de Proteção que derivam do Princípio do Juiz Natural:

i) Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela constituição


federal.
ii) Ninguém pode ser julgado por órgão jurisdicional após o fato
delituoso (vedação dos tribunais de exceção).
iii) Entre os juízos pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de
distribuição de competência, que afasta qualquer critério
discricionário referente à escolha do juiz.

2.1) Lei modificadora da competência e sua possível aplicação imediata aos


processos em andamento:

 Processo já está em andamento e tiro de competência de uma justiça


e aplico em outra. Esta lei que modifica a competência pode ser
modificada?
R. Lei modificadora da competência e sua aplicação imediata aos processos em
andamento: em regra, como se trata de norma processual, esta lei deverá ter
aplicação imediata aos processos em andamento (CPP, Art.2º), salvo se já
houver sentença relativa ao mérito, hipótese em que o processo deverá
permanecer na justiça de origem (STF HC76.510).
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior.

Ex.1: Lei 9.299/96 (Lei Rambo – surgiu quando policial com este apelido atirou
contra moradores de um bairro). Esta lei retirou da justiça militar a competência
para o julgamento de crimes dolosos contra a vida praticados por militares
contra civis, ainda que em serviço serão julgados pela justiça comum (tribunal
do júri); crimes julgados em razão de chacina no Carandiru.
Em 1994/1995 – Justiça militar jugava na 1ª instância 98 processos de policiais
de crimes dolosos contra a vida.
Na 2ª instância (TJM/SP) tem 38 processos nesse sentido.
Surgindo a lei 9.299/96 determina o deslocamento para a justiça comum, sendo
os processos de 1ª instância para o tribunal do Júri. O problema é da 2ª instância.
Se os processos da 2ª instância (TJM) for apreciado pelo TJ/SP estará havendo
violação de competência recursal.
Obs. Para alguns doutrinadores (ADA, Tourinho, Badaró), o juiz natural é o juiz
a época do crime. Assim, pouco interessa se surgir uma lei nova.

Ex.2: Art.70 da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas) no Dia 08/10/06 – Competência


da Justiça Federal para o Tráfico Internacional de Drogas nas localidades em
que não houver vara Federal. O legislador não delega mais a competência para
julgamento na justiça Estadual como fazia o revogado art. 27 da antiga lei de
drogas (Lei 9368) previa:
Art. 27. O processo e o julgamento do crime de tráfico com exterior caberão à justiça estadual com
interveniência do Mistério Público respectivo, se o lugar em que tiver sido praticado, for município que não
seja sede de vara da Justiça Federal, com recurso para o Tribunal Federal de Recursos.
Ex. Na vigência da Lei 6.368, a cidade de Pacaraima (RR) há vara estadual e
não há vara federal. Ocorreu crime de tráfico internacional de drogas. Delegação
da competência federal para a justiça estadual com recurso para o TRF da 1ª
região. (CF, art.109, §3º).
Com o advento da Lei 11.343/06 o tráfico internacional de drogas ocorrido em
Pacaraima será julgado na justiça federal da jurisdição desta cidade, qual seja,
Seção Judiciária de Boa Vista.

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito
transnacional, são da competência da Justiça Federal.
Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão
processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

Atenção! Com a revogação do art.27 da Lei 6.368, não há mais nenhuma


delegação da competência da justiça federal no que tange ao âmbito penal.

2.2) Convocação de Juízes de 1º grau para a substituição de


desembargadores:

Este assunto causava grande insegurança em razão da incerteza dos julgados


do STF e STJ.

Deste ponto surgem 4 questionamentos:


a) Há previsão legal para a convocação de juízes de 1º grau para a
substituição de desembargadores. Art.118 LC 35/79.
Art. 118. Em caso de vaga ou afastamento, por prazo superior a 30 (trinta) dias, de membro dos Tribunais
Superiores, dos Tribunais Regionais, dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais de Alçada, (Vetado) poderão
ser convocados Juízes, em Substituição (Vetado) escolhidos (Vetado) por decisão da maioria absoluta do
Tribunal respectivo, ou, se houver, de seu Órgão Especial: (Redação dada pela Lei Complementar nº
54, de 22.12.1986).

b) Critério utilizado para convocação destes juízes: STF (ADI 1.481)


Neste julgado, a lei do ES versava que o desembargador que escolhia o juiz que
iria substitui-lo. Trata-se de um critério discricionário da escolha do juiz e uma
violação do Princípio do Juiz Natural. Assim, o STF reiterou que o critério a ser
utilizado é a decisão da maioria absoluta do tribunal. Art.118 da LC35 faz
menção a este critério.

 É possível um recurso ser julgado por 3 desses juízes convocados?


R. Para o STF é possível o julgamento de recursos por turmas (ou câmaras)
formadas por maioria de juízes convocados. O voto do juiz convocado tem o
mesmo valor que o voto de um desembargador. HC 96.821 relatado pelo ministro
Ricardo Levandoviski.

3) Competência:
Competência: é a medida e o limite da jurisdição dentro dos quais o órgão
jurisdicional pode aplicar o direito objetivo.
A jurisdição é una (é uma função do Estado), ou seja, tecnicamente é errado
falar de justiça federal, eleitoral, trabalhista, etc. Entretanto, esta divisão é falada
porque não é possível que um único juiz seja competente para todas as matérias.
Desta forma, o que se estuda é a divisão da competência.

3.1) Espécies de Competência:

a) Competência ratione materiae: estabelecida em virtude da natureza da


infração penal. Exemplos:
Crimes dolosos contra a vida. Tribunal do Juri
Crimes eleitorais – tribunal eleitoral
Crimes militares- tribunal militar.

b) Competência ratione personae (funcionae): competência por


prerrogativa de função. Justifica-se pela importância da ocupação que
exercem.
Ex. presidente da república em crimes comuns é julgado pelo STF.
Ex. governadores de estado em crimes comuns são julgados pelo STJ.
Ex. promotores de justiça são julgados pelo tribunal de justiça, salvo nos crimes
eleitorais.
Em alguns julgados do STF, ao invés de usar o termo ratione personae que
remete a um entendimento em razão da pessoa, utilizam o termo ratione
funcionae.

c) Competência territorial em razão do lugar (ratione loci):


É a competência territorial: local da consumação do delito ou nos casos de
tentativa pelo local em que foi praticado o último ato de execução.

d) Competência funcional:
Nesse caso a competência é fixada de acordo com as funções desempenhadas
por órgãos jurisdicionais diversos. Ela subdivide-se em 3:

d.1) competência funcional por fase do processo.


Ex. tribunal do júri tem procedimento bifásico. Na 1ª fase há a judicius
acusacionis ou sumário da culpa só há a participação do juiz sumariante que
pode prolatar: pronuncia, impronuncia, desclassificação, absolvição sumária
(horizontal).

d.2) competência funcional por objeto do juízo.


Depende da matéria a ser definida.
Ex. tribunal do júri possui certas matérias competem ao juiz presidente (matérias
de direito) e outras ao conselho de sentença (matérias de fato. Ex. autoria,
absolvição) (horizontal).

d.3) Competência funcional por grau de jurisdição/ vertical:


Em regra, a ação tramita na 1ª instância e havendo recurso, deve ser apreciado
no 2º grau de jurisdição (vertical).

Competência funcional pode ser:


 horizontal: os órgãos jurisdicionais estão no mesmo grau hierárquico
 vertical: há uma diferença de hierarquia entre os órgãos jurisdicionais

Art.69 CPP
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função

3.2) Distinção entre competência absoluta e relativa.


(tabela para revisão)
Competência Absoluta Competência Relativa
Regra de competência criada com Regra de competência criada no
base no interesse público. interesse preponderante das
partes.
No processo penal, jamais se pode
afirmar que o Estado não tem
interesse. Assim, ainda que de
maneira subsidiária, há interesse do
Estado. Ex. ônus da prova.
Tem previsão constitucional (Pacelli) Tem previsão infraconstitucional
Competência Improrrogável Competência prorrogável, ou seja,
(imodificável) pela vontade das admite modificações pelas partes. Ex.
partes. Ex, tribunal do júri, justiça crime cometido em Guarulhos, mas
eleitoral/militar, etc. por um motivo o processo foi
instaurado em São Paulo
(competência territorial). Se as partes
arguirem essa competência em
momento oportuno, os autos serão
remetidos para Guarulhos. Se as
partes quedarem-se inertes haverá
prorrogação de competência.
Consequências: Nulidade Absoluta. Consequência: Nulidade Relativa
Cuidado! Posição minoritária diz que
a decisão seria inexistente (Ada)
Ex. crime de moeda falsa foi julgada
pela justiça militar.
Características da nulidade relativa:
Características da Nulidade absoluta:  O prejuízo deve ser
 o prejuízo é presumido comprovado
 pode ser arguida a qualquer Ex. a prova a ser produzida está em
momento. Em se tratando de Guarulhos.
sentença condenatória ou
absolutória imprópria (não há  Deve ser arguida no momento
revisão criminal pro societat), a oportuno sob pena de
nulidade absoluta pode ser preclusão.
arguida mesmo após o trânsito
em julgado, seja por meio de Momento oportuno:
revisão criminal, seja por meio  Para a acusação: antes do
de habeas corpus. oferecimento da peça
Art. 626 CPP acusatória.
 Para a defesa: na resposta da
acusação.
Art.396-A CPP
Art. 626. Julgando procedente a revisão, o Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá
tribunal poderá alterar a classificação da infração, argüir preliminares e alegar tudo o que interesse
absolver o réu, modificar a pena ou anular o à sua defesa, oferecer documentos e justificações,
processo. especificar as provas pretendidas e arrolar
Parágrafo único. De qualquer maneira, não testemunhas, qualificando-as e requerendo sua
poderá ser agravada a pena imposta pela decisão intimação, quando necessário. (Incluído pela Lei
revista. nº 11.719, de 2008).

Incompetência absoluta deve ser Incompetência relativa também deve


declarada de ofício pelo juiz, ser reconhecida de ofício pelo juiz,
enquanto exercer jurisdição no até o início da instrução do
processo. (até sentença) Art.463 processo.
CPC Apesar de haver interesse
preponderante das partes, há ainda o
Ex. promotor oferece denúncia interesse do Estado (por isso de
perante um juiz de 1ª instância contra ofício).
um deputado federal.
Ex. ação de incêndio de Santa Maria
Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá interposta no Acre. O juiz pode
alterá-la: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de
2005) reconhecer de ofício a incompetência.
Súmula 33 STJ.
I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da Súmula 33
parte, inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros A INCOMPETENCIA RELATIVA NÃO PODE SER
de cálculo; DECLARADA DE OFICIO (no processo civil) STJ
CC1506; CC1519: CC 1589
II - por meio de embargos de declaração.
A redação da súmula pode levar a
erro, pois foi redigida sem o acréscimo
“no processo civil”. Em alguns
julgados isolados, o STJ entendeu
que esta súmula seria aplicável ao
processo penal HC 95.722. Para
Renato isso é um erro escandaloso.

Art.399, §2º - Fala do Princípio da


identidade física do juiz.

§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir


a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Ex. um juiz que tem incompetência


territorial, instruiu todo o processo. A
competência prorroga.
Consequências da Incompetência Consequências da Incompetência
Absoluta: Relativa:
Nulidade absoluta dos atos  Devem ser anulados apenas os
decisórios e probatórios atos decisórios (doutrina).
(posição da doutrina). Porém, com a inserção do
Cuidado! Para o STF atos decisórios art.399 §2º, os atos
proferidos por juízo incompetente probatórios também deverão
podem ser ratificados pelo juízo ser renovados perante o juízo
competente. HC 83 006. competente, em respeito ao
Os efeitos só serão produzidos a Princípio da identidade física
partir da ratificação. do juiz.
Importância prática: o recebimento da O Art.567 trata de uma incompetência
denúncia (que interrompe a relativa, pois anula atos decisórios e
prescrição) é um ato decisório. Se foi não todo o processo.
dado por juiz incompetente ele poderá Art. 567. A incompetência do juízo anula somente
os atos decisórios, devendo o processo, quando for
ser anulado e pode haver prescrição. declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.
Não pode ser modificada em virtude Pode ser modificada em virtude da
da conexão/continência, pois se trata conexão ou da continência, já que as
de uma competência improrrogável. duas são causas modificadoras de
competência
Exemplos: Exemplos:
 Ratione materiae  Ratione Loci
(crimes eleitorais, militares, crimes (competência territorial)
dolosos contra a vida)  Competência por distribuição
 Competência por prevenção
 Ratione Funcionae (Súmula 706 STF)
(deputados federais, Súmula 706
É RELATIVA A NULIDADE DECORRENTE DA INOBSERVÂNCIA DA
desembargadores). COMPETÊNCIA PENAL POR PREVENÇÃO.
 Conexão/continência
 Competência Funcional

Aula online – Competência 02


4- Guia de Fixação da Competência Criminal:

 Competência de Justiça: Qual é a justiça competente?


Justiça Federal, Estadual, especializadas (militar, eleitoral, etc.).

 Competência Originaria: O acusado tem foro por prerrogativa de


função?
No Brasil tem várias autoridades que tem foro especial em razão da função que
exercem (evitar a nomenclatura foro privilegiado).

 Competência de Foro/ Territorial: qual é a comarca/Seção Judiciária/


subseção judiciária competente?
Em regra a competência é estabelecida com base onde foi a consumação (art.70
CPP).
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou,
no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Lembrar:
Comarca – justiça estadual
Seção Judiciária/ subseção judiciária – justiça federal

 Competência de Juízo: qual vara é competente?


Esta pergunta não é relevante para comarcas pequenas em que há apenas 1
vara. Ademais, é importante verificar se há uma vara especializada (crimes de
trânsito, violência doméstica contra a mulher, organizações criminosas).
Se não há esta especialidade, a competência será pela distribuição (art.75
CPP). Ex. 10 varas criminais.
Antes o critério era “par, impar” isso era muito perigoso para manipulação. Hoje
o critério é mais aleatório.

Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição


judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente.
Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de
prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal.

O art.75 CPP trata de competência por prevenção. Há 2 juízos competentes,


mas essa competência é fixada pela prevenção.
Ex. pedido de prisão cautelar é distribuído. A partir do momento que o juiz analisa
o pedido ele se torna competente.
Art. 83 CPP
Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática
de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia
ou da queixa (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c).

Prevenção: é quando um juiz antecede ao outro na prática de algum ato do


inquérito ou do processo. Este ato deve ter caráter decisório. Ex. prisão
temporária, interceptação telefônica, etc.

 Competência Interna: Qual é o juiz competente?


Toda vara deve ter o titular e o substituto. Nem sempre isso acontece (na justiça
federal é mais comum).

 Competência Recursal: a quem compete o julgamento de eventuais


recursos?
Quem vai julgar o recurso é geralmente os TJ’s e TRF’s.
Nos juizados especiais quem julga são as turmas recursais.

Lei 11.340 art. 14 (Lei Maria da Penha) – este artigo se lido literalmente dá a
entender que isso é um Juizado Especial Criminal, o que é um equívoco. Sendo
assim, ele deve ser lido em conjunto com o art.41.

Art. 14. Os Juizados (Vara) de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária
com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e
pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
normas de organização judiciária.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente
da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Isso na verdade é uma vara de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Importante!!!
A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja
realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos contra a vida
praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação da competência
constitucional do júri.
Apenas o julgamento propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no
Tribunal do Júri.
STF. 2ª Turma. HC 102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014.

Quem decide os recursos interpostos contra decisão dos juizados


de violência doméstica e familiar contra a mulher?
R. O recurso é julgado pelo Tribunal de Justiça e não pela turma recursal.

Vamos ver a seguir cada tipo de competência acima citadas.

Competência da justiça:

5- Competência Criminal da Justiça Militar:


Há 2 tipos de justiça militar:
 Justiça Militar da União.
 Justiça Militar dos Estados.

Justiça Militar da União Justiça Militar dos Estados


Previsão na CF: art.124 Previsão na CF: art. 125, §§ 4º e 5º -
com redação dada peça EC 45/04.

Crimes militares definidos em lei. Crimes militares dos Estados.


+
Não tem esta previsão Ações judiciais contra atos
disciplinares militares

Competência Criminal: Competência Criminal:


Para julgar os crimes militares
definidos em lei (CPM) É a mesma coisa da justiça militar da
Súmula 172 STJ – crime de abuso de União.
autoridade é competência da justiça
comum. Ela julga crimes militares definidos em
lei (propriamente/impropriamente
Há 2 espécies de crimes militares: militares).
 Crimes propriamente militares
 Crimes impropriamente
militares

Art.5º, LXI
Crime propriamente militar. (neste
caso a prisão pode ser feita mesmo
sem for em flagrante ou com ordem
escrita de autoridade).

Não há conexão entre crime comum e


militar.

Acusado: Acusado:
A justiça militar da União julga Apenas os militares dos Estados (à
qualquer pessoa: militares e civis. época do delito):
O STF/STJ tem adotado uma  Policia Militar
interpretação restritiva em relação  Bombeiro
aos processos de crimes cometidos  Policiais rodoviários estaduais
por civis na justiça militar. A justiça criminal militar não pode
STF: civil só pode ser julgado pela julgar civis.
justiça militar em tempos de paz, se
evidenciado o interesse de atingir as 2 critérios:
forças armadas em sua destinação i) Ratione materiae (crimes
constitucional. militares)
ii) Ratione personae
Critério: (cometidos por militares
 Ratione materiae estaduais
(não interessa a pessoa do acusado)

5.1) Justiça Militar da União:

A) Previsão na CF: art.124

Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Atenção! não prevê o julgamento das ações judiciais contra atos disciplinares
militares.

B) Competência Criminal:
Para julgar os crimes militares definidos em lei. A lei que define os crimes
militares é o CPM (código penal militar).

Súmula 172 STJ – abuso de autoridade não é crime previsto no CPM, logo, não
é crime militar e deve ser julgado na justiça comum.

COMPETE A JUSTIÇA COMUM PROCESSAR E JULGAR MILITAR POR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE,
AINDA QUE PRATICADO EM SERVIÇO.

Ex. Abuso de autoridade de PM - justiça estadual.


Abuso de autoridade por soldado das forças armadas – justiça federal.

Ex. aborto cometido em um hospital militar por um médico militar com uma
gestante militar. No CPM não há crime de aborto, então não é crime penal militar.
Art. 205 (homicídio simples) Julgado

Geralmente o CPM prevê os crimes antigos do CP. Ex. homicídio, peculato, etc.
Essas leis especiais novas não estão previstas no CPM. Ex. tortura em quartel
praticado por sargento é crime comum; transmissão de fotos de pedofilia por
oficial militar em quartel é crime comum.

Há 2 espécies de crimes militares:


 Crimes propriamente militares
 Crimes impropriamente militares

Art.5º, LXI
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;

Hipóteses em que pessoa pode ser presa:


 Flagrante de delito
 Ordem escrita e fundamentada da autoridade
 Crime propriamente militar. (neste caso a prisão pode ser feita mesmo
sem for em flagrante ou com ordem escrita de autoridade).

Crime propriamente militar: é aquele que só pode ser praticado por militar, pois
consiste na violação de deveres restritos do militar.
Ex. deserção (art.187) – é quando militar se ausenta por mais de 8 dias. Assim,
militar é o único que pode responder por este crime. (O STF já decidiu há muito
tempo atrás que os civis podem responder por este crime, mas Renato disse que
é uma decisão equivocada).

Crime impropriamente militar: é a infração penal prevista no CPM, cujo o


sujeito ativo pode ser qualquer cidadão civil ou militar (passando a ser
considerado crime militar, porque praticado em uma das condições do art. 9º, II
e III do CPM.
Ex. Crime de estelionato. Uma senhora recebia pensão do exército. Ela morre e
família simula que ela não morreu. Uma pessoa idosa se apresenta anualmente
no lugar do morto.
O crime de estelionato está previsto no art.251 c/c O art. 9º, III, “a” CPM, pois
estelionato foi praticado por civil contra o patrimônio sob a administração militar.

Conexão entre crime comum e militar:


Não pode haver junção dos processos, ou seja, a separação é obrigatória. O
crime comum será julgado pela justiça comum, enquanto o crime militar será
julgado pela justiça militar.
Ex. militar estava trabalhando, e no seu horário de descanso ele saiu do quartel
sem permissão (art.195 CPM – crime de abandono de posto é propriamente
militar) e assaltou uma padaria fora do quartel. Assim, ele será julgado na justiça
comum pelo crime de roubo e pela justiça militar pelo crime de abandono. Não
há em nenhuma hipótese a previsão da junção destes processos.

STJ Súmula 90 – diz que crimes militares – justiça militar


crimes comuns – justiça comum
Súmula 90
COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL MILITAR PROCESSAR E JULGAR O POLICIAL MILITAR PELA PRATICA DO
CRIME MILITAR, E A COMUM PELA PRATICA DO CRIME COMUM SIMULTANEO AQUELE.

C) Acusado:
A justiça militar da União julga qualquer pessoa: militares e civis.
O STF/STJ tem adotado uma interpretação restritiva em relação aos processos
de crimes cometidos por civis na justiça militar.
Apesar da Constituição autorizar isso, os tribunais entendem que o civil só será
julgado pela justiça militar se evidenciado o seu interesse de atentar contra as
forças armadas em sua destinação constitucional.
Ex. civis invadiram um quartel do exército para pegar armamentos – justiça
militar da União.
Ex. crimes culposos praticados pelas forças armadas por civil é julgado pela
justiça comum.
STF HC 86216 – acidente em viaduto onde o motorista jogou um caminhão
militar para fora. Como foi acidente culposo e não estava evidenciado que o
motorista tinha interesse de afetar as forças armadas. O STF entendeu que o
caso deveria ser julgado na justiça comum.

STF: civil só pode ser julgado pela justiça militar em tempos de paz, se
evidenciado o interesse de atingir as forças armadas em sua destinação
constitucional.

A doutrina defende que o critério utilizado é:


 Ratione materiae
(não interessa a pessoa do acusado).

D) Competência Cível:
Atenção! A justiça militar da União não tem competência cível. Ex. revisão de
proventos militares é julgado pela justiça comum.

E) Órgão Jurisdicional:
O órgão jurisdicional competente para julgar é o Conselho de Justiça. (1 juiz
auditor + 4 militares oficiais de posto mais elevado que o acusado).
Juízo ad quem: STM
Atenção! O STM só é competente para a Justiça Militar da União.

5.2) Justiça Militar dos Estados:

A) Previsão na CF: art. 125, §§ 4º e 5º - com redação dada peça EC 45/04.

Julga crimes militares dos Estados + ações judiciais contra atos disciplinares
militares.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

B) Competência Criminal:
É a mesma coisa da justiça militar da União.

Ela julga crimes militares definidos em lei (propriamente/impropriamente


militares).

C) Acusado:
Apenas os militares dos Estados (à época do delito):
 Policia Militar
 Bombeiro
 Policiais rodoviários estaduais.

Cuidado: o guarda civil metropolitano não são militares estaduais, assim não
podem ser julgados pela justiça militar estadual.

Atenção! Essas condições são à época do delito.


Ex. a PM exclui o sujeito que cometeu o crime antes da conclusão do julgamento
do crime militar. Isso é irrelevante, pois a competência é a época do fato.

Atenção! PM voluntário (Lei 10.029) presta serviço de natureza voluntária. Ele


não é considerado militar do Estado, ou seja, ele é um civil que deve ser julgado
pela justiça comum.

A justiça criminal militar não pode julgar civis.

Sendo assim, caso haja concurso de pessoas, sendo um militar e outro não, os
processos tem que ser separados. Vide Súmula 53 STJ
Súmula 53
COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR CIVIL ACUSADO DE PRATICA DE CRIME
CONTRA INSTITUIÇÕES MILITARES ESTADUAIS.

A CF é clara ao falar que a justiça militar só julga os militares dos estados (à


época do crime).

Assim, a doutrina costuma dizer que a competência da justiça militar estadual é


fixada com base em 2 critérios:
iii) Ratione materiae (crimes militares)
iv) Ratione personae (cometidos por militares estaduais

D) Competência Cível:
Por força da EC 45/2004, a justiça militar estadual, ao contrário da justiça militar
federal, possui competência cível de ações contra atos disciplinares.

Denilson Feitoza exemplifica: Reintegração ao cargo, MS contra punição ilegal.

O militar pode entrar com HC para ações disciplinares?


R. Art.142 CF § 2º -
Não caberá "habeas-corpus" (em relação ao mérito ) em relação a punições disciplinares militares. (mas
é perfeitamente possível a impetração do writ quando a pretensão visar a impugnação da legalidade da
punição)

STF RE 338.840 - o HC não pode analisar o mérito (ex. para falar que a
decisão foi muito severa), mas a legalidade sim (ex. competência, duração da
sanção disciplinar).

Ação de improbidade contra militares estaduais:


O STJ entende que a ação de improbidade na verdade não é uma ação
disciplinar simplesmente, pois é uma verdadeira ação judicial. Assim sendo, é da
competência da justiça comum estadual. (STJ, CC 100.682).

E) Órgão Jurisdicional:

Juiz de direito do juízo militar: julga singularmente os crimes militares contra


civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares.

Conselhos de Justiça: dos demais crimes militares, desde que não cometidos
contra civis.

Juízo ad quem: depende do estado da federação TJM (RS/MF/SP),


Nos demais estados do TJ.

Observações finais sobre o quadro comparativo:

a) Crime praticado com arma da corporação mesmo não estando o militar


em serviço, com o advento da lei 9.299/96 passou a ser considerado crime
comum (a súmula 47 do STJ perdeu sua validade diante dessa lei).

b) Crime doloso contra a vida praticado por militar contra civis: até a lei
9.299/96 era crime da competência da justiça militar. Essa lei levou esses
crimes para o Tribunal do Júri (o júri pode ser estadual ou federal).

c) Tiro de abate (também conhecido por tiro de destruição): art.303 da Lei


7.565/86. O CPM sofreu uma alteração em seu art.9º, p.ú., pela Lei
12.432/11. A competência para julgar o tiro de abate é da União.

6- Competência criminal da justiça eleitoral:


Ela julga os crimes eleitorais, que não são apenas aqueles previstos no Código
Eleitoral, pois a doutrina diz que qualquer crime que seja rotulado como
eleitoral pelo legislador será considerado crime eleitoral.
Ex. na época das eleições há a criação de várias leis prevendo como crime
condutas criminosas nas eleições.

Conexão entre crime eleitoral e crime comum:


Se estivermos diante de um crime eleitoral + um crime comum estadual: ambos
serão julgados pela justiça eleitoral.
Se estivermos diante de um crime eleitoral + um crime comum federal: o
processo será separado.
Se estivermos diante de um crime eleitoral + um crime doloso contra a vida: o
processo será separado.

7- Competência criminal da justiça do trabalho:


O art.114, IV, CF foi alterado pela EC 45/04.
STF: ADI 3.684 entendeu que a EC 45/04 não atribuiu competência criminal
genérica à justiça do trabalho.

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria
sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Aula online Competência 03


8- Competência criminal da justiça federal:

A competência da justiça federal é ratione materiae (art.109, incisos III a XI)


Obs. Atribuições investigatórias da polícia federal ≠ competência criminal da
justiça federal.

Art.144 CF

A PF investigará infrações que envolvam mais de um estado ou internacional.


A Lei que dispõe sobre infrações penais de repercussão interestadual ou
internacional que exigem repressão uniforme é a Lei 10.446/02.

8.1) Análise do art. 109, IV, CF

A) Crimes políticos
Estão previstos na lei 7.170/83. O crime além de estar previsto nesta lei deve
também ter sido praticado com motivação política.

Portanto, para ser crime político necessário:


Previsão na lei 7.170/83
+
Motivação política

O art.30 da lei mencionada não foi recepcionada pela CF/88, pois prevê que os
crimes políticos serão julgados pela justiça militar.
Da sentença condenatória de crime político o recurso cabível é o ROC (recurso
ordinário constitucional) para o STF.
B) Crimes praticados em detrimento de:

Bens União

Serviços da Autarquias federais

Interesses Empresas Públicas Federais

Obs. Para que a competência seja da justiça federal sempre deverá haver uma
lesão direta (imediata). Súmula 107 do STJ.

Súmula 107
COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE ESTELIONATO PRATICADO
MEDIANTE FALSIFICAÇÃO DAS GUIAS DE RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIARIAS,
QUANDO NÃO OCORRENTE LESÃO A AUTARQUIA FEDERAL.

Ex.1) fraude eletrônica praticada em detrimento de correntista da CEF, cuja


conta corrente pertence a uma agência localizada em SP, sendo os saques
fraudulentos realizados em Curitiba.
Trata-se de um furto qualificado pela fraude, pois a fraude foi utilizada para burlar
a vigilância exercida pela instituição financeira, permitindo que o próprio agente
subtraísse os valores.

Para os Tribunais Superiores o sujeito passivo é a instituição financeira. Logo,


como se trata da CEF, a competência será da justiça federal. (STJ, CC 67.343).

A competência territorial será da seção judiciária de SP, pois o crime de furto


consuma-se no local de onde a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da
vítima, leia-se, onde está localizada a agência bancária do correntista
prejudicado.

Ex.2) roubo cometido contra casa lotérica: trata-se de pessoa jurídica de direito
privado permissionária de serviço público, competência da justiça estadual.

Ex.3) roubo cometido contra agência dos correios:


Se a agência for explorada pela própria EBCT, ou nos casos de agência de
correios comunitária, a competência será da justiça federal. Porém, se a agência
for uma simples franquia dos correios, competência da justiça estadual (STJ HC
39.200).

Ex.4) Crime cometido em detrimento da FUNASA.


A FUNASA é a fundação nacional de saúde. A fundação pública federal é tida
como espécie de autarquia federal. Portanto, a competência será da justiça
federal.
Ex.5) Crime cometido em detrimento da OAB: não obstante o julgamento do
Supremo na ADI 3026, subsiste a competência da justiça federal para julgar
crimes em detrimento da OAB (exercício ilegal da advocacia nos termos do
art.205 CP).
Ex. exercício ilegal da profissão – art.205.

Art.205. Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa.

Ex. falsificação de carteira da OAB.

Ex.6) Crime de roubo cometido contra o Banco do Brasil: a competência é da


justiça estadual, pois o BB é uma sociedade de economia mista.
Súmula 42 STJ
Súmula 42
COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR AS CAUSAS CIVEIS EM QUE E PARTE
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA E OS CRIMES PRATICADOS EM SEU DETRIMENTO.

Ex.7) Crime de dano cometido contra bens tombados: se o bem tiver sido
tombado por um Estado ou por um Município, a competência será da justiça
estadual; se o bem foi tombado pela União, cabendo ao IPHAN (instituto do
patrimônio histórico artístico nacional) sua fiscalização, a competência será da
justiça federal.

Ex.8) Crime cometido contra consulado estrangeiro: como se trata de mera


representação de um estado estrangeiro no território nacional, competência da
justiça estadual.

Ex.9) Crime de peculato cometido em detrimento do MPDFT: como não se trata


de órgão da União, compondo a estrutura orgânica do DF, a competência será
da justiça comum do DF (STJ , CC 122. 369).

Ex.10) Desvio de verbas federais transferidas aos Municípios:


Se a verba ainda estiver sujeita à prestação de contas perante órgãos federais,
a competência será da justiça federal; se a verba já estiver incorporada ao
patrimônio municipal, competência da justiça estadual. Súmulas 208 e 209 STJ.

Súmula 208
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR PREFEITO MUNICIPAL POR DESVIO DE VERBA SUJEITA
A PRESTAÇÃO DE CONTAS PERANTE ORGÃO FEDERAL.
Súmula 209
COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR PREFEITO POR DESVIO DE VERBA TRANSFERIDA E
INCORPORADA AO PATRIMONIO MUNICIPAL.

Ex.11) Desvio de verba do Fundef (O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento


do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério): competência da justiça
federal. Está sujeito a uma controle do TCU. (STJ CC119.305)

Ex.12) Falsificação de moeda estrangeira:


A competência é da justiça federal, pois compete ao Banco Central do Brasil (é
uma autarquia federal) fiscalizar a circulação de moeda estrangeira no território
nacional.
No caso de moeda nacional a competência é também da justiça federal, pois é
a União que produz o real. Quando a falsificação for grosseira, não há crime de
falsidade, mas pode subsistir o crime de estelionato, passando a ser de
competência da justiça estadual. Súmula 73 STJ

Súmula 73
A UTILIZAÇÃO DE PAPEL MOEDA GROSSEIRAMENTE FALSIFICADO CONFIGURA, EM TESE, O CRIME DE
ESTELIONATO, DA COMPETENCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

Ex.13) Falso testemunho cometido no processo trabalhista (ou perante a justiça


eleitoral, federal ou militar da União).
Como se trata do Poder judiciário da União, a competência é da justiça federal.
Todas essas 4 justiças integram o Poder Judiciário da União.
Súmula 165 STJ
Súmula 165
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE FALSO TESTEMUNHO COMETIDO NO
PROCESSO TRABALHISTA.

Ex.14) crime cometido contra ou por funcionário público federal:


Se o crime estiver relacionado ao exercício das funções, a competência será da
justiça federal. Ex. fiscais da justiça do trabalho foram assassinados em
Unaí/MG.

Súmula 147 STJ


Súmula 147
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES PRATICADOS CONTRA FUNCIONARIO
PUBLICO FEDERAL, QUANDO RELACIONADOS COM O EXERCICIO DA FUNÇÃO.

Ex. crime praticado contra dirigente sindical. Ele não é considerado funcionário
público federal, então julga na justiça estadual.

C) Crimes praticados contra o meio ambiente:


Em regra: são da competência da justiça estadual.
Sob a vigência da Lei 5.197 isso era possível. Com o surgimento da nova lei de
crimes ambientais o meio ambiente é atribuição de toda a sociedade e entes da
federação.

Assim, a Súmula 91 STJ foi revogada.


Súmula 91
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES PRATICADOS CONTRA A FAUNA.

Nas provas há algumas pegadinhas:

Ex.15) Crime de pesca ilegal do camarão no mar territorial:


Como se trata de bem da União a competência será da justiça federal.
A partir do local onde o crime foi privado é que se estabelece a competência.
Ex.16) Crime de extração ilegal de recursos minerais em propriedade particular.
Art.20, IX CF – são bens da União. Por isso mesmo que o crime seja em
propriedade particular, eles pertencem à União.
Art. 20. São bens da União:
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Ex.17) Crime ambiental cometido na floresta amazônica.


Trata-se de crime da competência da justiça estadual, pois patrimônio nacional
não se confunde com os bem pertencentes à União. (STF, RE 349,189)
Art.225, §4º
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a
Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

D) Crimes contra a fé pública


Recai sobre documentos como nota de real, identidade.

Regras:
1- Em se tratando de crime de falsificação, a competência será
determinada de acordo com o órgão responsável pela confecção do
documento.
Ex. crime de moeda falsa é julgado pela justiça federal, porque é a casa da
moeda (instituição federal) que emite moeda.
Ex. falsificação de CPF a competência da justiça federal, pois quem emite é a
Secretaria da Receita federal.
Ex. carteira nacional de habilitação é emitida pelo detran, logo é de competência
da justiça estadual.

Atenção para a carteira de ARRAIS amador: para o STF e STJ, competência da


Justiça federal, pois a fiscalização naval é da justiça da União. É carteira para
dirigir pequenas embarcações e a marinah emite este docuemto. Sendo assim,
a competência deveria recair na União.

2- Em se tratando de uso de documento falso por terceiro que não tenha


sido responsável pela falsificação do documento, a competência será
determinada de acordo com a pessoa física ou jurídica prejudicada pelo
uso, pouco importando o órgão responsável pela confecção do
documento.

Ex. apresentação de carteira de habilitação falsa em uma blitz da polícia


rodoviária federal. A competência é da justiça federal.

3- Se a falsificação ou uso de documento falso forem cometidos como meio


para a prática de um crime fim, sendo por este absorvidos com base no
princípio da consunção, a competência será determinada de acordo com
o sujeito passivo do crime fim.
Ex. estelionato: tem que averiguar se a falsificação foi absolvida pelo estelionato.
Se sim, o sujeito só vai responder pelo crime de estelionato.
Ex. sujeito que mora em Curitiba, onde tem um dos IPVA’s mais caros do Brasil,
dá endereço de São Paulo. Ele pratica um crime contra a ordem tributária. O
crime de falsidade é absolvido pelo crime tributário.

Súmulas importantes:
 TFR (precedeu o STJ) – Súmula 31
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsificação ou de uso de certificado de
conclusão de curso de 1º e 2º Graus, desde que não se refira a estabelecimento federal de ensino ou a
falsidade não seja de assinatura de funcionário federal.

Se o funcionário público assinou o certificado, é crime de competência da justiça


federal.
A falsificação do diploma de instituição superior é de competência federal, seja
ela uma instituição particular ou pública.

 Súmula 62 STJ –
Súmula 62
COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR O CRIME DE FALSA ANOTAÇÃO NA CARTEIRA DE
TRABALHO E PREVIDENCIA SOCIAL, ATRIBUIDO A EMPRESA PRIVADA.

Se a falsa anotação atentar contra interesse do INSS, o crime do artigo297,


§3º,II, CP deve ser julgado pela justiça federal (STJ, CC 58.443). Caso contrário,
subsiste a competência da justiça estadual para o julgamento do feito.
Ela foi feita em 1992. Com o passar dos anos ela foi alterada.
Art.297, §3º,I CP – foi criada em 2000, portanto é posterior. Criou um crime novo,
através da lei dos crimes previdenciários (Lei 9.983/2000).

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito
perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei
nº 9.983, de 2000)

Há casos em que a falsa anotação atenta contra interesse do INSS e outros não.
Ex.a) Sujeito faz anotação falsa na carteira de trabalho para comprovar antiga
experiência e conseguir um emprego. Não atenta contra o INSS.
Ex.b) mãe faz falsa anotação na carteira do filho falecido que nunca contribuiu
para receber pensão por morte. Neste caso atenta contra o INSS

E) Execução Penal:
Depende da natureza do estabelecimento prisional
Atualmente, a transferência de presos é um grande problema. Antes não havia
presídios federais e as pessoas cumpriam pena nos presídios estaduais.
Atualmente há presídios federais em Mossoró RN, Campo Grande MS, Porto
velho RO, Catanduvas PR.
Pergunta: o sujeito foi transferido para a justiça federal. Quem vai julgar os
incidentes da execução? R. Súmula 192 STJ. A súmula deixa claro que o juízo
da execução define o presídio em que o sujeito cumprirá a pena.
Súmula 192
COMPETE AO JUIZO DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO A EXECUÇÃO DAS PENAS IMPOSTAS A
SENTENCIADOS PELA JUSTIÇA FEDERAL, MILITAR OU ELEITORAL, QUANDO RECOLHIDOS A
ESTABELECIMENTOS SUJEITOS A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.

Lei 11.671/08, art.2º.


Art. 2o A atividade jurisdicional de execução penal nos estabelecimentos penais federais será desenvolvida
pelo juízo federal da seção ou subseção judiciária em que estiver localizado o estabelecimento penal
federal de segurança máxima ao qual for recolhido o preso.

Atenção! Evite localidades de presídios federais quando passar no concurso.

F) Contravenções penais.

Não são julgadas pela justiça federal de 1ª instância, nem mesmo se cometidas
em detrimento da União ou se praticadas em conexão com crime federal.
Art.109, IV CF
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Súmula 38 STJ
Súmula 38
COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL COMUM, NA VIGENCIA DA CONSTITUIÇÃO DE 1988, O PROCESSO POR
CONTRAVENÇÃO PENAL, AINDA QUE PRATICADA EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA
UNIÃO OU DE SUAS ENTIDADES.

Contravenções penais não podem ser julgadas pela justiça federal de 1ª


instância, mas a de 2ª instância pode (competência por prerrogativa de função).

8.2) Análise do art.109 , inciso V da CF:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

(Questão) Os crimes previstos em tratado ou convenção internacional são


julgados pela justiça federal.
R. Errado, pois são necessários 2 requisitos. Ex. policial civil torturar alguém na
delegacia a competência é da justiça estadual.

Requisitos cumulativos:
a) Crime previsto em tratado ou convenção internacional +
b) Internacionalidade territorial do resultado em relação à conduta delituosa.

Ex. tráfico internacional de drogas. Ele está previsto em convenções


internacionais (Convenção de Viena).

Observações do Tráfico internacional de drogas:


a) Pressupõe o intuito de transferência da droga envolvendo mais de um
país, dispensando-se, todavia, a efetiva ocorrência do resultado. Ex.
pessoa pega no embarque internacional sem sair do território nacional já
caracteriza o crime de tráfico internacional de drogas (tenha ou devesse
ocorrer no estrangeiro).
b) O fato de se tratar de acusado estrangeiro e o fato de a droga não ser
produzida no Brasil, isoladamente considerados, não autorizam a
conclusão no sentido do tráfico internacional.

Ex. o fato do traficante ser estrangeiro por si só não caracteriza o tráfico


internacional.
Ex. droga que não é produzida no país por si só não caracteriza o tráfico
internacional.

c) Se a substância apreendida não for considerada droga no país de origem


não se trata de tráfico internacional, mas sim de tráfico doméstico da
competência da justiça estadual.
Ex. Lança perfume na argentina não é considerado droga, mas no Brasil é.
Assim, não há tráfico internacional.

d) Se um crime de tráfico internacional estiver sendo julgado pela justiça


federal e houver a desclassificação para tráfico doméstico, os autos
devem ser encaminhados à Justiça Estadual.

Observações de Pedofilia pela internet:


Se o crime ficar restrito ao território nacional (e-mail entre duas pessoas em São
Paulo) a competência será da Justiça estadual. No entanto, se o crime for
praticado além das fronteiras nacionais, a competência será da justiça federal.

Quanto à competência territorial, pouco interessa a localização do provedor, pois


a competência é fixada com base no local de onde emanaram as imagens com
pedofilia.

Aula online - competência 04

8.3) Incidente de deslocamento de competência:


Incidente de deslocamento da competência. Conhecido como IDC.
Foi introduzido na CF na Emenda 45/04: previsão no art.109, V-A e §5º. Está
muito ligada quando o Brasil reconheceu a competência da Corte Interamericana
de Direitos Humanos. Um crime que seria julgado pela justiça estadual tem a
competência deslocada para a justiça federal. Justifica-se porque a União é
responsabilizada pelo descumprimento de tratado internacional.

Requisitos para o deslocamento da competência:


a) Crime praticado com grave violação aos direitos humanos.
b) Risco concreto de descumprimento de tratados internacionais firmados
pelo Brasil em virtude da negligência do Estado membro em proceder à
persecução penal.

Há 2 casos de IDC:
i) Caso do assassinato da irmã Doroty Stein. O STJ negou o
deslocamento da competência, por entender que o 2º requisito não foi
cumprido.
ii) 1º caso em que o STJ deferiu o deslocamento. Tratou do caso do
julgamento de um assassinato de um advogado que denunciava
grupos armados na Paraíba.

Legitimidade: PGR
Competência: STJ

8.4) Crimes contra a organização do trabalho:


Art.109, VI CF, 1ª parte – crimes contra a organização do trabalho são de
competência da justiça federal.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;

Os crimes contra a organização do trabalho estão previstos nos arts.197 a 207


CP, mas nem todos serão julgados pela justiça federal. Somente serão julgados
pela justiça federal quando houver lesão de natureza coletiva.

Súmula 115 do extinto TFR


Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho, quando
tenham por objeto a organização geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente.

Ex. Art.203 CP – patroa fala que empregada não tem direito a carteira de
trabalho. É caso da competência da justiça estadual.
Frustração de direito assegurado por lei trabalhista
Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho:

Ex. Art. 207 CP – o crime precisa ser feito contra um grupo de trabalhadores,
logo é da competência da justiça federal. RHC18242.
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional:

Cuidado com o crime do art. 149 CP - Crime de redução à condição análoga a


de escravo. Este artigo não está localizado nos crimes contra a organização do
trabalho, mas contra a liberdade individual. Os tribunais superiores já tem alguns
julgados afirmando que este crime é da competência da justiça federal, pois
geralmente é um crime praticado em face de um grupo. RE 398041

Redução a condição análoga à de escravo


Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação
dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

8.5) Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico financeira.


Previsão: art.109, VI, in fine.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;

Nem todos os crimes contra sistema financeiro e ordem econômico financeira


são de competência da justiça federal.
Vamos ver caso a caso:

i. Lei 1.521/51 (crimes contra a economia popular):


Diante do silêncio, a competência é da justiça estadual.
Súmula 498 STF

Súmula 498
COMPETE À JUSTIÇA DOS ESTADOS, EM AMBAS AS INSTÂNCIAS, O PROCESSO E O JULGAMENTO DOS
CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR.

ii. Lei 4.595/64- competência da justiça estadual:


iii. Lei 7.492/86, art.26 – competência da justiça federal.
Prevê o crime contra o sistema financeiro.

iv. Lei 8.137/90 – em relação aos crimes tributários, como a lei nada diz
acerca da competência, esta deve ser fixada de acordo com a natureza
do tributo sonegado.
Assim, se o tributo for federal, competência federal. Ex. IR
Se a competência do tributo for de natureza estadual, competência estadual.
Ex. IPVA.

v. Lei 8.176/91 – (silêncio) justiça estadual, pouco importando a fiscalização


exercida pela ANP. RE454777
Ex. venda de combustível adulterada é competência da justiça estadual.

vi. Lei 9.613/98: em regra a competência é da justiça estadual, salvo se


praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas
autarquias e empresas públicas, ou quando a infração antecedente for de
competência da justiça federal (STJ RHC11918).
Ex. traficante de drogas que ganha muito dinheiro constrói uma pizzaria para
lavar dinheiro. Em regra é de competência da justiça estadual, exceto se a
infração antecedente for da competência da justiça federal ou quando a
lavagem atingir bens da União, autarquias, etc.

8.6) Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves.


Mais uma competência outorgada à justiça federal. Art.109, IX CF.

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;


Em regra os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves são da
competência da justiça federal.
Entretanto, tem que observar a natureza da aeronave ou navio, ou seja, se eles
forem militares, a competência é da justiça militar.

Geralmente o examinador tenta te confundir.


Ex. Crime praticado por cidadão americano contra vitima peruana, navio de
bandeira inglesa em águas brasileiras saindo do porto de Santos.
Temos que fazer as seguintes perguntas:
a) Aplica-se a lei brasileira a este crime?
Art.5º CP – deve observar se esta embarcação é território nacional por extensão.
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional,
ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se
achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 1984)
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.(Redação dada pela Lei nº
7.209, de 1984)

b) Se o crime for praticado em navio ou em aeronave.


Cuidado! Navio deve entender apenas como embarcação de grande porte
(capaz de navegar em alto mar).
Quando a constituição diz “a bordo de navio” é crime cometido no interior da
embarcação.
STJ CC 43.404 – vítima de homicídio se acidentou quando tentava subir no
navio.
Ex. retirada de carga de navio ancorado – competência da justiça estadual.
Ex. pequena lancha – competência da justiça estadual.

Aeronave: definição no art.106, Lei 7.565/86 – Código brasileiro de aeronáutica

Art. 106. Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em vôo, que possa sustentar-se e circular no
espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas.

Aeronave não precisa ser grande como ocorre com os navios.


Ex. Boing 767 é aeronave acidente gol legacy. STF CC72283
Ex. teco teco, helicóptero são aeronaves.

Atenção! Não é necessário a presença de motor, assim balão é chamada de


aeronave.

Essa aeronave precisa estar voando?


R. os tribunais entendem que este crime é cometido quando a aeronave estiver
no ar ou em terra STJ HC 108478.

8.7) Crimes praticados por ou contra índios:


A competência depende do motivo do crime

Ex. índio queimado vivo em Brasília – justiça estadual.


Ex. índio assassinado porque era um líder indígena. Justiça federal.
Crimes praticados por ou contra índios devem ser julgados pela justiça estadual,
salvo se houver lesão aos direitos indígenas.
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
O que são direitos indígenas? Art. 231 CF
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

Súmula 140 STJ


Súmula 140
COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR CRIME EM QUE INDIGENA FIGURE COMO
AUTOR OU VITIMA.

Atenção! Genocídio praticado contra índios.


Lei 2.289/56, art.1º – O genocídio comporta várias formas, sendo uma delas
matar.
Ex. distribuir anticoncepcionais falando que é remédio para gripe para evitar
gravidezes de mulheres de uma etnia é genocídio.

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso,
como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição
física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;

O genocídio contra índios: em regra, a competência é de um juiz singular federal,


pois não se trata de crime doloso contra a vida, mas sim de crime contra a
existência de grupo nacional étnico, racial ou religioso. Não é crime doloso contra
a vida.
Porém, se praticado mediante morte de membros do grupo, o agente deverá
responder pelos diversos crimes de homicídio em concurso formal impróprio com
o delito de genocídio. Neste caso, os homicídios deverão ser julgados por um
tribunal do júri federal, que exercerá força atrativa em relação ao crime conexo
de genocídio (STF RE 351487).

8.8) Conexão e continência entre crime de competência “federal” e crime


de competência “estadual”.
Regra geral, o juízo com força atrativa é aquele que julgará a infração mais
grave. Art.78, II CP.
Ex. roubo e receptação. O crime de roubo atrai a competência.

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes
regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a
competência do júri; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada pela
Lei nº 263, de 23.2.1948)

Entretanto, quando houver conexão entre crime federal e estadual prevalece a


competência da justiça federal, pois esta está prevista na CF, pouco importando
a gravidade da infração.

Ex. tráfico internacional de drogas em santos. Em Sp foi cometido o homicídio.


Justiça Federal. Ambos os crimes serão julgados no tribunal do júri federal de
santos.

Súmula 122 STJ.


Súmula 122
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL O PROCESSO E JULGAMENTO UNIFICADO DOS CRIMES CONEXOS DE
COMPETENCIA FEDERAL E ESTADUAL, NÃO SE APLICANDO A REGRA DO ART. 78, II, "A", DO CODIGO DE
PROCESSO PENAL.

9) Competência criminal da justiça estadual:


Possui natureza residual. Ela julga aqueles crimes que não competem a outras
justiças. Assim, é importante saber a competência destas.

10) Justiça Política ou justiça extraordinária:


Consiste em uma atividade jurisdicional exercida por órgãos políticos alheios ao
poder judiciário. Geralmente se trata de crime de responsabilidade, que na
verdade não são crimes, mas infração político-administrativa.

Ex. presidente da república que pratica um crime de responsabilidade deve ser


julgado pelo Senado após autorizado pela Câmara dos Deputados.

11) Competência por prerrogativa de função.


Conceito: em virtude da relevância da função de determinadas pessoas, elas
serão julgadas diretamente por funções.
Não usar a expressão “foro privilegiado”, porque dá noção de privilégio.
Alguns se referem a essa competência de ratione personae, que é incorreta,
sendo melhor usa ratione funcionae.

I. Investigação e indiciamento de pessoas com foro por prerrogativa de


função: apesar de não haver previsão legal expressa, o STF entendeu no Inq
2.411 que a investigação e indiciamento de pessoas com foro por prerrogativa
de função depende de autorização por desembargador ou ministro relator.

II. Arquivamento de inquérito nas hipóteses de atribuição originária do PGJ


ou PGR: nesses casos, não há necessidade de submeter à promoção de
arquivamento à análise do tribunal, porquanto seria inviável a aplicação do art.28
CPP. Porém, para que esta decisão administrativa seja capaz de fazer coisa
julgada formal e material, a promoção deve ser apreciada pelo tribunal
competente (STF Inq 2.341)
III. Duplo grau de jurisdição:
Acusados com foro por prerrogativa de função (e eventuais coautores e
partícipes atraídos por força da conexão ou da continência) não tem direito ao
duplo grau de jurisdição, aí compreendido como o direito a um reexame
integral da matéria de fato e de direito a ser confiado a órgão jurisdicional diverso
daquele que proferiu a decisão impugnada. STF RHC 79785 – ex-promotor Igor
foi julgado originariamente pelo TJSP e queria recorrer e STF negou. Ele não
tem direito de um recurso que devolva a matéria a um outro tribunal, mas possui
direito a recurso. Ex. RE, Resp é possível.

Ex. No caso mensalão discutiu-se se esta vedação se aplica a todos os


acusados, uma vez que poucos tinham direito ao foro por prerrogativa de função
e os demais foram atraídos. Entretanto, estes também tem vedação ao duplo
grau de jurisdição.

O duplo grau de jurisdição visa impedir que uma pessoa seja julgada por apenas
um julgador. Como no foro por prerrogativa de função há um órgão colegiado,
ele não é necessário.

IV. Regra da Atualidade:


Se o indivíduo for diplomado deputado federal, passa a ter direito a foro por
prerrogativa de função enquanto estiver em exercício funcional. Cessado esse
exercício, cessa o direito ao foro por prerrogativa de função.

Ex. Fulano foi processado por crime e um juiz singular (cidadão comum) estava
julgando. Ele foi eleito deputado federal e o STF passa a julgar este crime.
Passados 4 anos ele não é reeleito e o juiz singular volta a julgá-lo. Nenhum
destes atos é considerado inválido, pelo Princípio do tempus regit actum.

Renúncia: se deputado renúncia, continua a ser julgado pelo STF?


R. AP 333 - a renúncia teria se dado 5 dias antes do julgamento. Neste 1º
precedente o Supremo entendeu que pela regra da atualidade ele não deveria
ser mais julgado pelo STF, remetendo ao juízo comum.

Na AP 396 – a renúncia se deu 1 dia antes do julgamento. Desta vez o Supremo


se entendeu competente para julgar o ex-deputado, entendendo que este fez
isso dolosamente. Ele condenou o deputado em 14 anos (1ª condenação do
Supremo).

V. Regra da Contemporaneidade:
Se o crime for cometido durante o exercício funcional e estiver relacionado
ao exercício das funções, deve ser mantida a competência por prerrogativa
de função, ainda que o agente não mais esteja no exercício das funções.
Esta regra não é mais utilizada pelos tribunais superiores.

Ex. Deputado federal pratica o crime de corrupção passiva. Ele não é reeleito,
ele é ex-deputado. De acordo com a regra da contemporaneidade pouco
interessa que ele seja ex-deputado, devendo ele ser julgado pelo Supremo;
Entretanto ela não é mais aplicada – Súmula 394 STF
Súmula 394
COMETIDO O CRIME DURANTE O EXERCÍCIO FUNCIONAL, PREVALECE A COMPETÊNCIA ESPECIAL POR
PRERROGATIVA DE FUNÇÃO, AINDA QUE O INQUÉRITO OU A AÇÃO PENAL SEJAM INICIADOS APÓS A
CESSAÇÃO DAQUELE EXERCÍCIO (CANCELADA).

O STF deliberou pelo cancelamento desta súmula no Inq 687. Assim, a


competência por prerrogativa de função não guarda relação com a época em
que o crime foi cometido, mas sim à função exercida.

Ex-deputados, ex-senadores e ex-presidentes não gostaram deste


cancelamento. Daí surgiu a Lei 10.628 em 24/12/02. Paulo Rangel afirmou que
esta lei foi um presente de natal que os congressistas se deram.

Ela acrescenta os §§1º e 2º art 84.


O §1º visa ressuscitar o conteúdo da súmula 394, enquanto o §2º pretende a
estender a competência por prerrogativa ded função à ação de improbidade
administrativa (possui natureza cível, daí deveria tramitar nos juízos cíveis).

§ 1o A competência especial por prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente,


prevalece ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função
pública. (Incluído pela Lei nº 10.628, de 24.12.2002) (Vide ADIN nº 2797)
§ 2o A ação de improbidade, de que trata a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, será proposta perante
o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o funcionário ou autoridade na hipótese de
prerrogativa de foro em razão do exercício de função pública, observado o disposto no § 1o. (Incluído
pela Lei nº 10.628, de 24.12.2002) (Vide ADIN nº 2797)

Apesar da tentativa absurda supracitada, essa Lei foi atacada por meio de uma
ação direta e o STF na ADI2797 declarou a inconstitucionalidade destes 2
parágrafos, sob os seguintes argumentos:
O legislador ordinário não poderia contrariar a orientação do Supremo e fazer
uma interpretação autêntica, sendo que o STF já decidiu de forma diversa.
Súmula 396 STF.

Súmula 396
PARA A AÇÃO PENAL POR OFENSA À HONRA, SENDO ADMISSÍVEL A EXCEÇÃO DA VERDADE QUANTO AO
DESEMPENHO DE FUNÇÃO PÚBLICA, PREVALECE A COMPETÊNCIA ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO, AINDA QUE JÁ TENHA CESSADO O EXERCÍCIO FUNCIONAL DO OFENDIDO.

Apesar desta súmula não ter sido expressamente revogada, ela foi revogada
tacitamente.

VI. Crime cometido após o exercício funcional.


Não terá direito ao foro por prerrogativa de função. Súmula 451 STF
Súmula 451
A COMPETÊNCIA ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO NÃO SE ESTENDE AO CRIME COMETIDO APÓS
A CESSAÇÃO DEFINITIVA DO EXERCÍCIO FUNCIONAL.
Ex-deputado que pratica um crime não há a fixação de competência por
prerrogativa de função.

VII. Crime contra a vida:


O foro por prerrogativa de função que estiver previsto na CF (ex. deputado
estadual) prevalece sobre a competência do júri; se o foro estiver previsto
apenas em uma constituição estadual, prevalece a competência do tribunal do
júri.
Ex. desembargador/deputado estadual/promotor de justiça mata alguém
dolosamente.

A competência do tribunal do júri está prevista na CF, mas a própria CF prevê o


foro por prerrogativa de função. Assim, prevalece o Princípio da Especialidade,
ou seja, o foro por prerrogativa de função.

Ex. caso do Promotor Tales que matou 2 pessoas. Ele como promotor foi julgado
pelo tribunal de justiça (art. 96,III CF)

Súmula 721 do STF


Súmula 721
A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO POR
PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.

VIII. Hipóteses de concurso de agentes: nesse caso, desde que não se trate
de crime doloso contra a vida, é possível a reunião dos feitos perante o
tribunal de maior graduação, mas esta reunião não é obrigatória.

Não é obrigatório o julgamento pelo mesmo juiz no caso de concurso de pessoas


havendo foro por prerrogativa de função.

Se for crime doloso contra a vida haverá a separação de processos, sendo que
o tribunal competente é o tribunal do júri para este.

Súmula 704 STF


Súmula 704
NÃO VIOLA AS GARANTIAS DO JUIZ NATURAL, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL A
ATRAÇÃO POR CONTINÊNCIA OU CONEXÃO DO PROCESSO DO CO-RÉU AO FORO POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO DE UM DOS DENUNCIADOS.

E se o desembargador praticar um crime em co-autoria com um


promotor?
R. Há 2 pessoas com foro de prerrogativa de função, mas em tribunais distintos.
Neste caso prevalece o tribunal de maior graduação (STJ). STF, HC91.437

Se Renato (TRF) e Rogério (TJ) praticarem crime em coautoria?


R. como não há hierarquia entre os 2 tribunais acima, vai separar os processos.

Prefeitos: depende de qual crime ele cometeu. Vide Súmula 702 STF
Crime estadual (comum/doloso contra a vida): TJ é competente
Crime federal: TRF
Crime eleitoral: TRE
Crime Militar da União: STM

Súmula 702
A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA JULGAR PREFEITOS RESTRINGE-SE AOS CRIMES DE
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL; NOS DEMAIS CASOS, A COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA
CABERÁ AO RESPECTIVO TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU.

Em síntese é possível afirmar o seguinte:


a) Se a competência especial por prerrogativa de função estiver
estabelecida na Constituição Federal, prevalecerá sobre a competência
constitucional do júri, em razão do Princípio da Especialidade;
b) Se o foro especial estiver previsto em lei ordinária, em lei de organização
judiciária, ou exclusivamente na Constituição Estadual, prevalecerá a
competência constitucional do júri. Vide súmula 721 STF.

Obs. A competência ratione funcionae e funcioal pode ser estabelecida pela CF,
CE e Lei ordinária federal ou estadual, respeitado o âmbito de aplicabilidade.

12) Competência Territorial:

Em regra essa competência é fixada pelo local da consumação.


Cuidado! Nos crimes tentados a competência será determinada pelo local do
último ato de execução. Art. 70 CP.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou,
no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Ex. ligações extorsionárias de presídio (presos ligam falando que sequestraram


parente de vítima). Ligações feitas de Bangu, vítima na cidade de Santos,
dinheiro entregue em São Paulo. Bangu é o local da ação ou omissão, porque
foi lá que se desenvolveu a conduta. O dinheiro foi entregue em São Paulo, onde
se deu o exaurimento do crime. Assim, o crime de extorsão se consuma no local
onde a vítima é extorquida.

Crimes Plurilocais: é aquele crime em que a ação e omissão são praticados em


uma comarca e o resultado se deu em outra comarca.

Homicídio doloso.
Ex. Em Betim eu atirei e a vítima morre em Belo Horizonte indo para hospital.
Em regra, deveria ser competente o juiz do resultado, qual seja Belo Horizonte.
Entretanto, os tribunais consolidaram o entendimento que prevalece o local da
conduta por 2 razões:
 Questões probatórias: é muito mais fácil produzir as provas no local da
ação.
 Política Criminal: se este crime fosse julgado em Belo Horizonte, poucos
saberiam que isso aconteceu. Interessa muito mais onde se deu o crime.
Crime cometido no estrangeiro:
A competência é da justiça estadual.

Art.88 CPP
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da
Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será
competente o juízo da Capital da República.

Ex. um funcionário do Banco do Brasil em Buenos Aires pratica um crime contra


o Banco do Brasil.
Neste caso pode ser julgado no Brasil, pois trata-se de sociedade de economia
mista. (regra de extraterritorialidade) – art. 7º CP
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 1984)
I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município,
de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

Ex. sujeito morou em Rio Preto por último – será julgado pela justiça estadual de
São Paulo.
Ex. sujeito nunca morou no Brasil – será julgado na capital federal – Brasília.

Estelionato com cheque:


Não é possível confundir 2 possíveis crimes de estelionato que podem ser
praticado com cheque: crime
a) Art.171, §2º, VI CP – crime de estelionato com cheque sem fundo – se dá
no local com a recusa do pagamento.
Ex. Renato, com agência bancária em São Paulo, foi em Santos e deu cheque
para pagar uma televisão. A competência territorial é em São Paulo, pois a
consumação se dá quando a agência se recusa a dar o pagamento.

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.

Vide Súmula 244 STJ


Súmula 244
Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem
provisão de fundos.

b) Art.171 caput Crime de estelionato mediante cheque falso:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Se consuma no local da obtenção da vantagem ilícita – Súmula 48 STJ

Súmula 48
COMPETE AO JUIZO DO LOCAL DA OBTENÇÃO DA VANTAGEM ILICITA PROCESSAR E JULGAR CRIME DE
ESTELIONATO COMETIDO MEDIANTE FALSIFICAÇÃO DE CHEQUE

Estelionato com cheque sem fundos: competência territorial do local da


recusa do pagamento.
Estelionato mediante cheque falso: Se consuma no local da obtenção da
vantagem ilícita.

Foro de Eleição no Processo Penal.


Nos crimes de exclusiva ação penal privada, o querelante pode escolher entre o
foro do domicílio do réu ou do lugar da infração.

Art.73 CPP:
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da
residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

Aula 13

PRISÃO
NOVA PRISÃO CAUTELAR

1) A tutela cautelar no processo penal:

 Possui natureza urgente.


 Visa assegurar a eficácia do processo.
Em certas situações o indivíduo livre pode causar determinados prejuízos
(destruir documentos, ameaçar testemunhas, etc.).

 Não há um processo cautelar autônomo


Maioria da doutrina defende que não há um processo cautelar autônomo em
sede de tutela cautelar no processo penal, ao contrário do processo civil. Esta
tutela é prestada através de medidas cautelares concedidas incidentalmente
durante as investigações ou no curso do processo.

1.1) Espécies de medidas cautelares.


Antônio Escarandes Fernandes utiliza a seguinte classificação:

a) Medidas cautelares de natureza patrimonial (ou medidas cautelares


reais – não é muito utilizada porque recai sobre bens móveis ou imóveis)
São aquelas relacionadas à reparação do dano e ao perdimento de bens como
efeito da condenação.

Atenção! Os efeitos da condenação só vão produzir efeito após o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória. Reparação do dano e confisco
(perdimento de bens) – art.91 CP
Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a
prática do fato criminoso.
§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do
crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela
Lei nº 12.694, de 2012)
§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão
abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de
perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)

Como o trânsito em julgado demora por volta de mais de 10 anos, se os bens,


objetos do crime, que restarem desguarnecidos podem já ter sido alienados e
inviabilizar a reparação do dano.

Ex. medida cautelar em sequestro – art.125 CPP


Art. 125. Caberá o seqüestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração,
ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.

Possui natureza cautelar patrimonial que visa resguardar os bens frutos do


crime.

b) Medidas cautelares de natureza probatória:


Visam preservar as fontes de prova, contribuindo para a descoberta da verdade.

Ex. busca pessoal ou domiciliar.


Ex. interceptação telefônica.
Ex. oitiva antecipada de ofendidos, testemunhas e delatores incluídos no regime
de proteção.

Lei 12.483/11 acrescentou o art.19-A da lei 9.807/99 – fala do regime de proteção


às testemunhas: é uma medida cautelar de natureza probatória
c) Medidas cautelares de natureza pessoal:
São aquelas que acarretam a restrição ou a privação da liberdade de locomoção
do acusado. Possuem natureza pessoal, ou seja, ou o indivíduo será privado
totalmente de sua liberdade de locomoção ou isso poderá acarretar uma
restrição (ex. não pode mudar sem comunicar à justiça).

Ex. prisão preventiva/temporária.

Aqui vem a maior diferença da lei 12.403/11.


Antes da Lei 12.403/11 o juiz tinha apenas apenas 2 opções de medidas
cautelares de natureza pessoal:

Professor Machado Cruz chamava isso de


 Prisão cautelar bipolaridade das medidas cautelares de
natureza pessoal.
ou
 Liberdade Provisória

Não havia medidas intermediárias.

Depois da Lei 12.403/11: houve a criação de medidas intermediárias. Está


relacionada ao art.319 e 320 CPP.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e
justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas
ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas
infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao
fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado
tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira
quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave
ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e
houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a
obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei
nº 12.403, de 2011).
IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº 12.403, de
2011).
§ 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº 12.403, de
2011).
§ 3o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº 12.403, de
2011).
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser
cumulada com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 320. A prisão decretada na jurisdição cível será executada pela autoridade policial a quem forem
remetidos os respectivos mandados.
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de
fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o
passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

O juiz está a disposição a possibilidade de:


Prisão cautelar
Ou
Cumulada, se for o caso
Liberdade provisória com ou sem fiança
com as medidas cautelares
diversas da prisão.
Assim , a lei 12.403/11 acabou com a bipolaridade, pois agora o juiz pode tratar
das medidas cautelares diversas de prisão.

Atenção! Essas medidas cautelares diversas da prisão podem ser aplicadas de


2 formas distintas. Podem ser aplicadas como instrumento de contra cautela
substituindo anterior prisão em flagrante, preventiva ou temporária.

Ex. art. 319 VI imagine que um funcionário da receita do aeroporto tenha


facilitado a entrada de produtos contrabandeados (art.318 CP)

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)

O delegado informa que se o funcionário da receita permanecer solto ele


poderá continuar a praticar crimes funcionais.
Entretanto, a pena prevista é de 3 a 8 anos. Como a pena é pequena, será
desproporcional mantê-lo preso. Desta forma, é mais proporcional suspendê-lo
do cargo público, sob a justificativa supracitada.

Também podem ser aplicadas àquele acusado em liberdade, desde que


presentes os pressupostos do art.282,I.

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).

1.2) Poder Geral de Cautela no Processo Penal:

Conceito: consiste na adoção de medidas cautelares inominadas e atípicas


sempre que aquelas previstas em lei não forem suficientes para resguardar a
eficácia do processo.

No CPC o poder geral de cautela está previsto no art.798.


Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste Livro,
poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de
que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.

É possível usar o Poder Geral de Cautela no Processo Penal?


1ªc) Não pode ser usado no processo penal, sob pena de violação ao Princípio
da Legalidade (Fábio Delmanto e Defensoria Pública).
2ªc) Pode ser usado no processo penal, desde que para fins de aplicação de
medidas menos gravosas que aquelas previstas em lei. (Princípio da
proporcionalidade).

Ex. juiz não pode decretar uma prisão temporária de 2 anos. Ela conta com
alguns julgados dos tribunais superiores. STF HC 94.147; STJ HC 114.734
Ex. briga de torcida organizada. Geralmente gera crimes de dano e de lesão
corporal leve. Todo dia que tiver jogo, a pessoa tem que comparecer à delegacia
durante a partida.

1.3) Pressupostos para a aplicação das medidas cautelares de natureza


pessoal.

Prisão Preventiva Medias cautelares diversas da


prisão
Fumus Comissi Delicti Fumus Comissi Delicti
Só pode prender a pessoa se houver: (fumaça do cometimento do delito)
 Prova da existência do crime e Só pode prender a pessoa se houver:
 Indícios de autoria e  Prova da existência do crime e
participação  Indícios de autoria e
participação
É uma espécie de medida cautelar.

Aqui é preciso o periculum libertatis.


É o perigo concreto que a
permanência do acusado em
liberdade representa para a
investigação criminal, para a
aplicação da lei penal e para a própria
segurança da coletividade
Art.312 CPP Art.282,I

Art. 312. A prisão preventiva poderá Art. 282. As medidas cautelares


ser decretada como garantia da ordem previstas neste Título deverão ser aplicadas
pública, da ordem econômica, por observando-se a: (Redação dada pela Lei nº
conveniência da instrução criminal, ou 12.403, de 2011).
para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime I - necessidade para aplicação da lei
e indício suficiente de autoria. (Redação dada penal (garantia de aplicação da lei penal),
pela Lei nº 12.403, de 2011). para a investigação ou a instrução criminal
(conveniência da instrução criminal) e, nos
Até aqui elas são iguais. casos expressamente previstos, para evitar a
prática de infrações penais (garantia da
ordem pública ou da ordem
econômica); (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).
É uma medida de ultima ratio: a É uma medida prima ratio: as
prisão cautelar só deve ser utilizada medidas cautelares devem ser
quando demonstrada a ineficácia das concedidas, exceto quando ineficazes
medidas cautelares diversas da Art.310,II
prisão.
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em
flagrante, o juiz deverá
fundamentadamente: (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).

II - converter a prisão em flagrante em


preventiva, quando presentes os requisitos
constantes do art. 312 deste Código, e se
revelarem inadequadas ou insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão;
ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Quanto à infração penal: devem ser Quanto à infração penal: à infração


observados os requisitos do art.313. penal deve ser cominada pena
privativa de liberdade, seja de
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste maneira isolada, alternativa ou
Código, será admitida a decretação da prisão cumulativa.
preventiva: (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).
Ex. art.28 da Lei de Drogas (porte de
I - nos crimes dolosos punidos com drogas para consumo pessoal não
pena privativa de liberdade máxima superior prevê pena privativa de liberdade)
a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011). Art.283, §1º CPP
II - se tiver sido condenado por outro § 1o As medidas cautelares previstas
crime doloso, em sentença transitada em neste Título não se aplicam à infração a que
julgado, ressalvado o disposto no inciso I do não for isolada, cumulativa ou
caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 alternativamente cominada pena privativa de
de dezembro de 1940 - Código liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.403, de
Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
2011).

III - se o crime envolver violência


Atenção! Nos juizados especiais é
doméstica e familiar contra a mulher, criança, possível a aplicação das medidas
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com cautelares, desde que o crime preveja
deficiência, para garantir a execução das a restritiva de liberdade.
medidas protetivas de urgência; (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Ex. porte de armas para uso pessoal
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei
não admite medida cautelar, pois não
nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº prevê restritiva de liberdade.
12.403, de 2011). Ex. desacato admite medida cautelar
diversa de prisão, pois prevê uma
Parágrafo único. Também será pena de restritiva de liberdade.
admitida a prisão preventiva quando houver
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos
suficientes para esclarecê-la, devendo o
preso ser colocado imediatamente em
liberdade após a identificação, salvo se outra
hipótese recomendar a manutenção da
medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).

2) Procedimento para a aplicação de medidas cautelares de natureza


pessoal.
2.1) Aplicação isolada ou cumulativa das cautelares diversas da prisão.
Art.319 ou 320 pode ser aplicada de maneira isolada ou cumulativa.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Ex. a aplicação desta medida na cidade de São Paulo é difícil de fiscalizar.


Assim, ela deve ser repensada com o comparecimento periódico em juízo, pelo
menos uma vez por mês ou com monitoração eletrônica.

A monitoração eletrônica é muito eficaz, mas muito cara também.

Qual das medidas do art.319 pode ser aplicada isoladamente?


R. Internação provisória. Ela não pode ser aplicada com outras medidas
cautelares, pois a liberdade da pessoa estará restringida e não há necessidade
de outras medidas.

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça,
quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver
risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

2.2) Jurisdicionalidade:

Qual a única autoridade que pode decretar as medidas cautelares?


R. Em regra, as medidas cautelares só podem ser decretadas pelo juiz
competente, no exercício de função jurisdicional.

Um corregedor regional não pode decretar medidas cautelares.


Ex. um juiz federal estava sendo investigado e o corregedor decretou a prisão.
Está errado, pois este não está na sua função jurisdicional.
Ex. CNJ exerce funções correcionais e não jurisdicionais. Assim, ele não pode
decretar prisão. O tribunal que pode.

Exceção: há uma medida cautelar que pode ser aplicada por uma outra
autoridade: a FIANÇA também pode ser concedida pela autoridade policial, mas
apenas nos casos de prisão em flagrante.

Art.322 – flagrante + crime com pena não superior a 4 anos.


Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa
de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito)
horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Atuação ex officio do juiz:


Até que ponto o juiz pode ou não agir de ofício?
R. Na fase investigatória o juiz não é dado agir de ofício, sob pena de violação
ao sistema acusatório e a garantia da imparcialidade.
Durante a fase processual admite-se a decretação de medidas cautelares ex
officio.

Art.282, §2º.
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando
no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art.311 CPP
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

Art.251 CPP
Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos
respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

Devem ser decretadas de maneira fundamentada.


Princípio da Individualização da prisão: o STF passou a usar estes Princípio.
Toda decisão que decreta uma medida cautelar deve ser fundamentada, sob
pena de nulidade absoluta.
“decreto a prisão com base na garantia da ordem pública” Isso é errado, pois é
muito genérico.

2.3) Legitimidade para o requerimento de decretação de medidas


cautelares:

Quem pode pedir ao juiz a decretação da medida cautelar?


Na fase investigatória Na fase processual
Autoridade Policial MP
Polêmica: há necessidade de oitiva Querelante (quando for autor)
do MP? (prova pra delegado ou Assistente da acusação.
promotor) (é a vítima que se habilita no processo
1ªc) (delegado) Não há necessidade em crimes de ação pública).
de oitiva do MP, pois delegado tem
capacidade postulatória. Atenção! Antes da Lei 12.403/11 o
assistente não tinha esta legitimidade
2ªc) (promotor) Há necessidade de para requerer medidas cautelares.
oitiva do MP, pois o promotor é o Assim, a súmula 208 foi revogada
titular da ação penal. Assim, não é tacitamente.
possível decretar medida cautelar Súmula 208
sem que o autor seja ouvido. O ASSISTENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
NÃO PODE RECORRER,
Ex. foi decretada uma cautelar, mas EXTRAORDINARIAMENTE, DE DECISÃO
promotor observa que é caso de CONCESSIVA DE "HABEAS CORPUS".
arquivamento.
Lei 7.960/89, art.2º, §1º. A partir da lei 12.403/11, o assistente
passa a ter essa legitimidade.
MP
Ofendido apenas em crimes de Art.311 CPP
ação penal privada Art. 311. Em qualquer fase da
Acusado e defensor: investigação policial ou do processo penal,
Tem interesse na substituição de caberá a prisão preventiva decretada pelo
juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou
anterior prisão por medida cautelar a requerimento do Ministério Público, do
diversa da prisão.
querelante ou do assistente, ou por
Ex. auditor da receita federal preso representação da autoridade policial.
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
pede como última tentativa, que não
há necessidade de mantê-lo preso.
Acusado e o seu defensor

Aula 14

2.4) Contraditório Prévio Aplicado às Medidas Cautelares:

Antes da Lei 12.403/11 Depois da Lei 12.403/11


Tínhamos um contraditório diferido Em regra: contraditório prévio.
(postergado) Art.282,§3º,CPP : ressalvados os
As medidas cautelares eram casos de urgência ou de perigo de
concedidas INAUDITA ALTERA ineficácia da medida, o juiz ao receber
PARS. A parte não tinha direito de ser a medida cautelar, determinará a
intimada previamente da concessão intimação da parte
das medidas cautelares.

Os autos devem permanecer em juízo: parece haver, por parte do legislador, e


certa desconfiança de que se os autos fossem objeto de carga não seriam
devolvidos, comprometendo a medida.

Em regra o contraditório será prévio, mas o próprio dispositivo prever que se


houver qualquer risco a eficácia da medida o contraditório será diferido. Art.282,
§3º CPP

§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido


de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento
e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Esta parte inicial é mal redigida, pois toda medida cautelar tem como
característica básica a urgência.

Ex. promotor de justiça pede prisão de traficante, líder de uma organização


criminosa, pois pretende fugir. Não cabe contraditório prévio, pois a ciência
prévia da medida cautelar geraria ineficácia da medida.

Quando o contraditório for diferido (é uma exceção) o juiz deve fundamentar a


razão em virtude da qual não foi observada a regra. Ex. “sob risco de
empreender fuga”.

2.5) Descumprimento injustificado das cautelares diversas da prisão.

As medidas cautelares devem ser impostas coercitivamente.


Art.282, §4º CPP
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante
requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor
outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo
único). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

São possibilidades de medidas quando houver descumprimento.


a) Substituição da medida
b) Imposição da cumulação da medida
c) Em último caso, a prisão preventiva.

Não há uma ordem entre estas possibilidades, pautando-se pelo caso concreto.
Caso o magistrado entenda que a prisão preventiva seja a medida de rigor, ele
pode aplica-la diretamente sem passar antes pelas outras.

Tipificação do Crime de Desobediência:


Ex. juiz determinou o impedimento do contato do sujeito com a vítima. Ele
descumpre a medida
Art.330 CCP – não há o crime de desobediência por força do art.282, §4 CPP.
Neste dispositivo, a lei já disse quais as consequências do descumprimento da
medida e não ressalvou para o crime de desobediência.

Ex. Art.219 CPP – neste caso, se a testemunha faltar ela pode ser
responsabilizada por crime de desobediência, pois a lei trouxe esta previsão.

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do
processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência. (Redação
dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

Informativo 538 STJ:

Regra: se na Lei, houver previsão de sanção civil ou administrativa para o caso de


descumprimento da ordem dada, não se configura o crime de desobediência.
Exceção: haverá delito de desobediência se, na Lei, além da sanção civil ou
administrativa, expressamente constar uma ressalva de que não se exclui a sanção penal.
Ex1: Marcelo foi parado em uma blitz. O agente de trânsito determinou que ele
apresentasse a habilitação e o documento do veículo, tendo Marcelo se recusado a fazê-
lo. Marcelo não cometeu crime de desobediência porque o art. 238 do Código de Trânsito
já prevê punições administrativas para essa conduta (infração gravíssima, multa e
apreensão do veículo), sem ressalvar a possibilidade de aplicação de
sanção penal.

Ex2: Gutemberg foi intimado para testemunhar em uma ação penal, tendo, no entanto,
sem justificativa, deixado de comparecer ao ato processual. Gutemberg cometeu o crime
de desobediência. O CPP determina que o juiz poderá aplicar multa e condená-lo a pagar
as custas da diligência, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência (art.
219). Assim, a Lei (no caso, o CPP) prevê punições civis,
ressalvando, no entanto, que elas poderão ser aplicadas juntamente com a condenação
criminal.
Ex3: Cleôncio foi intimado para testemunhar em uma ação de indenização por danos
morais, tendo, no entanto, sem justificativa, deixado de comparecer ao ato processual.
Cleôncio não cometeu o crime de desobediência. O CPC prevê que a testemunha faltosa
será conduzida coercitivamente e condenada a pagar as despesas do adiamento do ato (art.
412). Contudo, a Lei (no caso, o CPC) não prevê a possibilidade de tais sanções cíveis
serem aplicadas juntamente com a punição pelo crime de desobediência.

STJ RHC 515.596

Decretação da preventiva: principal controvérsia


Há necessidade de observância obrigatória do art.313 CPP na
decretação da preventiva?
O art.313 CPP dispõe os crimes que estão sujeitos à decretação da prisão
preventiva.

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o
disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso,
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade
civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Ex. alguém está sendo investigado pelo crime de ameaça. A ameaça tem uma
pena que varia de 1 a 6 meses. O juiz determina a proibição de manter contato
com pessoa determinada (art.319,III CPP).

Para aplicar uma medida cautelar diversa da prisão, basta haver uma pena
privativa de liberdade.

Houve o descumprimento da medida, como o sujeito passou a


perseguir a família da vítima. Neste caso pode-se aplicar a medida
de prisão preventiva, mesmo sem ter nenhuma previsão o art.313
CPP?

1ªc) a prisão preventiva só poderá ser decretada se observado o art. 313 CPP.
Assim, neste caso concreto, não poderia haver prisão preventiva (concurso de
defensoria – posição minoritária).

2ªc) Majoritária (Pacelli) Nas hipóteses de descumprimento das cautelares


diversas da prisão a preventiva poderá ser decretada independentemente da
observância do art.313 CPP. Isso serve como intimidação para que a pessoa
cumpra a medida cautelar, ou seja, empresta força coercitiva nestas.

A decretação de preventiva nos casos de descumprimento das cautelares


diversas da prisão é a única hipótese em que a prisão preventiva pode ser
decretada sem a previsão expressa do art.313 CPP.

2.6) Revogabilidade e/ou substitutividade das medidas cautelares.


Toda decisão que decreta uma medida cautelar é baseada na cláusula rebus sic
standibus (caráter situacional). A medida deve ser mantida enquanto mantidos
os seus pressupostos; a partir do momento em que altera os pressupostos, ela
pode ser alterada. Esta cláusula aplica-se a todas as medidas cautelares.

Art.282, §5º.

§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que
subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

Ex. acusado começou ameaçar as testemunhas. Juiz mandou prendê-lo.


Começou a instrução e no interrogatório o juiz perguntou se o acusado iria parar
de ameaçar as testemunhas e esse disse que sim e voltou a ameaçar (revogou
prisão). Entretanto o sujeito voltou fazer de novo e juiz decretou novamente a
prisão.
Art.316 CPP.

Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada
pela Lei nº 5.349, de 3.11.1967)

Após decretada a prisão preventiva, de quanto em quanto tempo é


necessário reavaliar a necessidade da prisão?
R. Resolução Conjunta de nº1 do CNJ e CNMP. Ela determina que a
necessidade de manutenção das prisões cautelares deve ser reavaliada pelo juiz
pelo menos uma vez por ano. Ela fala apenas sobre a prisão, mas aplica-se
também a periodicidade mínima de 1 ano da necessidade de manutenção de
todas as medidas cautelares.

Art. 1º.
As unidades do Poder Judiciário e do Ministério Público, com competência em matéria criminal infracional
e de execução penal, implantarão mecanismos que permitam, com periodicidade mínima anual, a revisão
da legalidade da manutenção das prisões provisórias e definitivas, das medidas de segurança e das
internações de adolescentes em conflito com a lei.
§1º.Para dar cumprimento ao disposto no caput os Tribunais e as Procuradorias do Ministério Público
poderão promover ações integradas, com a participação da Defensoria Pública, da Ordem dos Advogados
do Brasil, dos órgãos de administração penitenciária e de segurança pública, das instituições de ensino e
outras eventuais entidades com atuação correlata.
§2º. Para auxiliar o trabalho de revisão, os Tribunais e Procuradorias poderão criar grupos de trabalho
compostos por juízes e membros do Ministério Público, que terão competência e atribuição em todo o
Estado ou região, e por servidores em número compatível com a quantidade de processos
2.7) Recursos Cabíveis ou Adequados:

a) Em favor da acusação: o ideal é pensar na utilização do RESE (art.581,V


CPP).
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão
preventiva (ou de outra medida cautelar diversa da prisão) ou revogá-la, conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação dada pela Lei nº 7.780, de 22.6.1989)

Há doutrinadores ultrapassados que dizem que o RESE não possui aplicação


extensiva.
Entretanto, doutrina majoritária entende que é possível RESE para impugnar
medida cautelar imposta. O rol do art.581 foi feito em 1989, então é necessário
uma interpretação extensiva.

Atenção! Este RESE não pode ser interposto por autoridade policial. Entretanto
querelante, MP, assistente da acusação podem interpor o RESE.

Este RESE não é dotado de efeito suspensivo. Mesmo que interponha este
RESE, a decisão não será suspensa. Assim, o sujeito que teve a prisão revogada
ele estará livre.

Como o RESE não é dotado de efeito suspensivo, o ideal é impetrar


simultaneamente um MS.

Lei 12.016/09 – art.5º,II: Se concederá MS quando se tratar de decisão judicial


da qual caiba recurso sem efeito suspensivo.

Art. 5o Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:


II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;

Assim, em uma prova colocar que entra com RESE e de maneira concomitante
com um MS para ter efeito suspensivo.

Obs. Jecrim que não recebe denúncia é apelação que


Obs. Denuncia competência originária é agravo regimental
Obs. Incompetência do juízo RESE
Obs. Decisão que julga procedente a exceção, salvo a suspeição cabe RESE.
Obs. Pronúncia – Rese; Impronúncia – apelação;
Obs. Absolvição sumária cabe em regra apelação. Exceção Art. 415,IV CP - as
hipóteses de absolvição sumária pela prescrição e causas de extinção de
punibilidade cabe RESE.
Obs. Revogação/ concessão da liberdade provisória
Indeferir prisão preventiva RESE
Relaxar prisão em flagrante

b) Em favor do acusado: HC
HC mesmo em se tratando de medida cautelar diversa da prisão, pois há um
risco potencial a liberdade de locomoção.
Se a medida decretada tiver sido uma medida cautelar diversa (ex.
comparecimento periódico em juízo) aplica-se HC também, pois esta também é
uma restrição à liberdade de locomoção.

2.8) Detração e medidas cautelares diversas da prisão


Detração está prevista no art.42 CP. É o desconto do tempo de prisão cautelar
(provisória) da pena definitiva.

Detração
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão
provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos
estabelecimentos referidos no artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A detração não se confunde com a remição. A remição está prevista no art.126


da LEP.

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho
ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela Lei nº 12.433, de
2011)
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental,
médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no
mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1 o deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma
presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
educacionais competentes dos cursos frequentados. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas
de forma a se compatibilizarem. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 4o O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a
beneficiar-se com a remição.(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão
do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo
órgão competente do sistema de educação.(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional
poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de
execução da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1 o deste artigo.(Incluído
pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar.(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 8o A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa. (Incluído
pela Lei nº 12.433, de 2011)

Ex. sujeito usou monitoramento eletrônico por 5 anos como medida cautelar. É
possível detrair a pena?

1- Havendo semelhança e homogeneidade entre a medida cautelar diversa


da prisão imposta durante o curso do processo e a pena definitiva aplicada
na sentença condenatória, será possível a detração.
2- Caso não haja semelhança, há controvérsias:

1ªc) não é possível a detração por ausência de previsão legal. STF HC81886
2ªc) (posição minoritária da doutrina) diante do silêncio da lei, a detração pode
ser feita utilizando critério semelhante à remição. Esta corrente trabalha com
ideia de isonomia/justiça, pois seria injusto não levar em consideração tempo
que o sujeito que cumpriu medida cautelar imposta durante o curso do processo.
Esse processo de revisão tem que ser compatível

Ex. sujeito ficou 10 anos com monitoramento eletrônico. Para a 1ª corrente, não
pode haver remição. Para a 2ª corrente esta remição pode se dar de maneira
proporcional como a cada 3 dias de monitoramento há remição de

3) Prisão

3.1) Conceito:
É a privação da liberdade de locomoção com recolhimento da pessoa humana
ao cárcere, seja em virtude de flagrante de delito, ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente, seja em face de transgressão militar ou
crime propriamente militar.
Art.5. LXI CF

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;

3.2) Prisão Civil:


CF: art.5º, LXVII
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
A prisão civil é possível no caso:
a) Devedor de alimentos
b) Depositário civil

A CF apenas autoriza a prisão civil nestas 2 possibilidades, ou seja, ele não é


autoaplicável, pois depende de legislação para regulamentar a matéria.

O Pacto de São José da Costa Rica: art.7º,§7º, DEC 678/92.


Trata da impossibilidade da prisão civil do depositário infiel e ressalva esta
possibilidade apenas para a prisão de alimentos.

No RE466.343. Resolve alterar o status normativo dos tratados internacionais,


passando a gozar de status normativo supralegal. Assim, eles estão abaixo da
CF e acima da legislação constitucional. Eventuais normas infraconstitucionais
são inválidas se em confronto com a CADH (convenção americana de direitos
humanos).
A CADH afastou a legislação infraconstitucional do depositário infiel.

Súmula Vinculante 25
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

3.3) Prisão do Falido:


A lei antiga de falência (DEC Lei 7661/45 – art.35) previa a prisão civil do falido
para obriga-lo a cumprir as suas obrigações. Não era uma prisão cautelar.
Art. 35. Faltando ao cumprimento de qualquer dos deveres que a presente lei lhe impõe, poderá o falido
ser prêso por ordem do juiz, de ofício ou a requerimento do representante do Ministério Público, do síndico
ou de qualquer credor.
Parágrafo único. A prisão não pode exceder de sessenta dias, e do despacho que a decretar cabe
agravo de instrumento, que não suspende a execução da ordem.

Para a jurisprudência e doutrina, este dispositivo não foi recepcionado pela


CF/88.

Súmula 280 STJ


Súmula 280
O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos
incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.

A Lei 11.101/05 – art. 99, prevê a prisão do falido sob um outro prisma.

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:
VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas,
podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quando requerida com
fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei;

O legislador, de maneira sábia, nessa nova lei passou a prever a prisão não
como civil, mas preventiva. Esta prisão preventiva pode ser decretada para
assegurar a eficácia da persecução penal, mas jamais para assegurar o
cumprimento dos deveres do falido.

3.4) Prisão administrativa.


É uma espécie de prisão decretada por autoridade administrativa com o objetivo
de compelir alguém a cumprir um dever de direito público.

Antes da Lei 12.403/11 essa prisão administrativa estava prevista no art.319 e


320 CPP. A doutrina dizia que estes 2 artigos não foram recepcionados pela
CF/88, pois esta deixa claro que não abarcou a prisão administrativa.

Art. 319. A prisão administrativa terá cabimento:


I - contra remissos ou omissos em entrar para os cofres públicos com os dinheiros a seu cargo, a fim de
compeli-los a que o façam;
II - contra estrangeiro desertor de navio de guerra ou mercante, surto em porto nacional;
III - nos demais casos previstos em lei.
§ 1o A prisão administrativa será requisitada à autoridade policial nos casos dos ns. I e III, pela autoridade
que a tiver decretado e, no caso do no II, pelo cônsul do país a que pertença o navio.
§ 2o A prisão dos desertores não poderá durar mais de três meses e será comunicada aos cônsules.
§ 3o Os que forem presos à requisição de autoridade administrativa ficarão à sua disposição.
Art. 320. A prisão decretada na jurisdição cível será executada pela autoridade policial a quem forem
remetidos os respectivos mandados.

Assim, em regra não há prisão administrativa.


Exceção:
 Estado de defesa e estado de sítio: a prisão pode ser decretada por
autoridade que não judiciária. Art.136 CF.
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional
ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

 Prisão do Estrangeiro:
O Estatuto do estrangeiro prevê a prisão em 3 situações distintas. Em caso de:
a) Extradição: STF
b) Expulsão: STF
c) Deportação: é uma medida administrativa, então basta que um juiz federal
decrete.

No art.81 do Estatuto do estrangeiro prevê que o Ministro da Justiça que decreta


a prisão. Entretanto, ele não foi recepcionado, pois quem decreta na verdade é
o juiz.
Art. 81. O Ministério das Relações Exteriores remeterá o pedido ao Ministério da Justiça, que ordenará a
prisão do extraditando colocando-o à disposição do Supremo Tribunal Federal. (Renumerado pela Lei
nº 6.964, de 09/12/81)

3.5) Prisão Militar:


Art.5º, LXI CF: a prisão militar é possível em 2 situações:
 No caso de transgressão disciplinar
 Crime propriamente militar

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;

Essas prisões podem ser efetuadas mesmo sem prévia autorização judicial ou
flagrante de delito.
Ex. crime de deserção é considerada propriamente militar.

A CF autoriza a prisão militar de modo a preservar a hierarquia e disciplina.

Atenção! HC contra punições disciplinares.


Art.142, §2º CF
§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.

Apesar da redação deste dispositivo, a jurisprudência entende que não cabe HC


em relação ao mérito da punição disciplinar, mas aspectos relacionados à
legalidade da punição podem ser questionados por meio do remédio heroico.

Ex.As prisões disciplinares tem prazo máximo de 30 dias.


O militar está preso a 180 dias por uma transgressão. Esta é uma punição
disciplinar ilegal que pode ser impugnada por HC.

3.6) Prisão Penal:


Chamada de Carcer ad poenam
Prisão penal é aquela que resulta de sentença condenatória com trânsito em
julgado.
O problema da prisão penal é que ela demora muito pra acontecer. Ex. pimenta
neves; massacre do Carandiru.

3.7) Prisão Cautelar:


Chamada de Carcer ad custodium.
Prisão processual, também chamada de provisória. Mas este último não é um
termo adequado.

Prisão cautelar é aquela decretada antes do trânsito em julgado de sentença


condenatória com objetivo de assegurar a eficácia do processo.
A prisão cautelar é plenamente compatível com o princípio da presunção de
inocência, desde que utilizada de maneira excepcional com o objetivo de
assegurar a eficácia do processo. Portanto, esta espécie de prisão jamais pode
ser utilizada como modalidade de cumprimento antecipado da pena ou de modo
a dar satisfação à sociedade ou à opinião pública.

Espécies de prisão cautelar:


a) Prisão em flagrante*
b) Prisão preventiva
c) Prisão temporária.

* há uma discussão sobre isso que veremos a frente.

Art.283 CPP
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado
(prisão penal) ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Aula 15

4) Prisão em flagrante:

4.1) Conceito:
É uma medida de autodefesa da sociedade, caracterizada pela privação da
liberdade de locomoção daquele que é surpreendido em situação de flagrância,
a ser executada independentemente de prévia autorização judicial.
Do latim flaglare, significa ardência, incêndio. É situação que demanda solução
urgente, por isso independe tal prisão de autorização judicial.
A própria Constituição autoriza a prisão em flagrante sem prévia autorização
judicial, conforme art.5º LXI CF.

4.2) Espécies:

A- Flagrante obrigatório (ou coercitivo)


As autoridades policiais têm o dever de efetuar prisão em flagrante (desde que
possível).
Quando assim o faz, a autoridade age no estrito cumprimento do dever legal.
No caso de inércia, a depender do caso concreto, devemos lembrar que o policial
é garante e pode responder desde a prevaricação até mesmo o delito de
homicídio (no caso de omissão em flagrante situação de homicídio).
O dever de agir persiste durante às 24 horas do dia (não só durante o horário do
expediente).

Art.301 CPP
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem
quer que seja encontrado em flagrante delito.

B- Flagrante facultativo
Aplica-se a qualquer pessoa do povo, que poderá efetuar a prisão em flagrante.
Vale lembrar que promotores e juízes, por exemplo, não têm o dever legal de
efetuar a prisão (só as autoridades policiais)
Há exercício regular de direito na conduta de quem efetua prisão em flagrante
de alguém.
Prevê o art.301 do CPP tanto o flagrante facultativo quanto ao flagrante coercitivo

Há mais espécies de prisão em flagrante, disciplinado no art. 302 CPP.

C- Flagrante próprio/ perfeito/real/verdadeiro:


 Quem está cometendo a infração penal
 Acaba de cometer o crime
Art.302, I e II -

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;

No iter criminis, é preciso, pelo menos em regra o início dos atos executórios.
Exceto alguns crimes (ex. quadrilha ou bando, petrechos para falsificação de
moeda).

Não há um lapso temporal da prática da infração até a efetivação da prisão.


Quanto ao inciso I, o cometimento do crime depende da prática de atos de
execução (em regra).

Ex. sujeito colocou uma garrafa de whisky dentro da blusa dentro de


supermercado. O sujeito foi preso dentro do supermercado em flagrante.
Segundo a doutrina, trata-se de uma prisão ilegal, pois é necessário o início dos
atos de execução que se dá quando o sujeito passa pelo caixa.

D- Flagrante impróprio/irreal/imperfeito/quase-flagrante.
Art.302,III CPP – é a hipótese mais comum de prisão em flagrante.

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que
faça presumir ser autor da infração;
Exige a conjugação de 3 elementos:
i. Requisito circunstancial (pessoa ser presa em uma situação que
faça presumir a autoria).
Ex. sujeito que sai correndo do local.

ii. Requisito de atividade, qual seja, uma perseguição.


O problema é por quanto tempo pode durar uma perseguição. Esta deve ser
ininterrupta. Pode durar mais de 24 horas, desde que seja ininterrupta.

Art.290, §1º CPP- conceito de perseguição.

Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou comarca, o executor
poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade local,
que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a remoção do preso.
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando:
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha perdido de vista;
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou
qual direção, pelo lugar em que o procure, for no seu encalço.

iii. Requisito temporal


Essa perseguição deve ter início logo após a prática do crime.

O que é “logo após”?


É o lapso temporal entre o acionamento da polícia, seu comparecimento ao local,
coleta de informações e início da perseguição.

Como fica esse flagrante impróprio em crimes contra vulneráveis?


Ex. estupro de vulnerável.
R. STJ, HC3.496 – a expressão “logo após” deve ser interpretada de forma
diversa: conta-se a partir do momento em que o responsável legal descobre o
incidente.
Ex. os pais deixavam em casa 3 filhos. 1 irmão com 19 anos (só filho do pai), um
de 4 e outro de 6 anos. O mais velho estupra o mais novo durante a tarde. A mãe
chega em casa a noite.

E- Flagrante Presumido/ Ficto/ Assimilado:


Art.302, IV CPP

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser
ele autor da infração.

A lei fala de encontro e logo após.


Aquilo que há é um encontro casual. Não há necessidade de perseguição.

Ex. casal de namorados que roubavam carros. A polícia reforçou segurança no


local. Um dia um policial vê o casal encostado a um carro e ao averiguar, localiza
toca-fitas dentro da bolsa da mulher.

Logo depois significa logo após.


F- Flagrante preparado/ provocado/ crime de ensaio/ delito putativo por
obra do agente provocador. ILEGAL

Putativo significa imaginário. São 2 requisitos cumulativos:


 Indução à prática delituosa pelo agente provocador. Ele pode ser um
particular ou autoridade policial.
Ex. dono de casa para pegar doméstica que furta objetos da casa.
Ex. brincadeira da praia de relógio na areia.

 Adoção de precauções para que o crime não se consume.

Segundo a doutrina trata-se de um crime impossível devido a ineficácia absoluta


do meio, ou seja, não tem como se consumar.
Dentre as várias espécies de flagrante, esta é uma das ilegais (deve ser objeto
de relaxamento), pois crime impossível não é punido no nosso ordenamento

Súmula 145 STF – Atenção! Não necessariamente é feito pela polícia. Pode ser
feito por particular.

Súmula 145
NÃO HÁ CRIME, QUANDO A PREPARAÇÃO DO FLAGRANTE PELA POLÍCIA TORNA IMPOSSÍVEL A SUA
CONSUMAÇÃO.

G- Flagrante esperado:
Não há agente provocador (não há indução).
A autoridade policial toma conhecimento da prática de um crime futuro e adota
medidas para efetuar a prisão em flagrante. O flagrante esperado é um flagrante
legal.

Ex. interceptação telefônica os sujeitos falam que vão cometer um crime. A


polícia sabendo disso, vai ao local e prende as pessoas.
(Greco – pensamento minoritário - defende que no flagrante esperado, se a
polícia colocar 100 policiais à paisana seria crime impossível)

Venda simulada de drogas: quanto ao verbo vender trata-se de flagrante


preparado. Porém, não se pode perder de vista que o tráfico de drogas é crime
de ação múltipla ou de conteúdo variado. Logo, é perfeitamente possível que o
agente responda pelo crime do art.33 nas modalidades de “trazer consigo”,
“guardar”, “oferecer”, etc., desde que a posse da droga seja preexistente STJ/
HC17483.
Ex. Policial à paisana finge comprar drogas de traficante e prende-o em flagrante.

H- Flagrante Prorrogado/Retardado/Diferido/Ação Controlada:


Consiste no retardamento da intervenção policial para que ocorra em um
momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita de provas.

Em tese, a pessoa já poderia ser presa por estar em situação de flagrância, mas
se fosse efetuada naquele momento haveria prejuízo de outros elementos
probatórios.
Ex. pessoa transportando drogas em aeroporto já poderia prender o indivíduo.
Mas polícia não prende de imediato, esperando ver outros envolvidos

Funciona como exceção ao flagrante obrigatório. Pode ser encontrada na:


 Lei 12.850/13, art. 8º (Lei das Organizações Criminosas); - não há
necessidade de autorização judicial. Ação controlada.
 Lei 9.613/98 (Lei de lavagem de capitais); há necessidade de prévia
autorização judicial.
 Lei 11.343/06 (Lei de Drogas). Há necessidade de prévia autorização
judicial.

Art. 53 da Lei 11.343


Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos,
além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes
procedimentos investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados
pertinentes;
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos
utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e
responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação
penal cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

Entrega vigiada: é a técnica que permite que remessas ilícitas ou suspeitas de


drogas ou de outros produtos ilícitos saiam do território de um país com o
conhecimento e sob o controle das autoridades competentes com a finalidade
de investigar infrações e identificar os demais coautores e partícipes. Nada mais
é que uma espécie de ação controlada.
Ex. restaurante de fachada no Rio que exportava carne com cocaína dentro. Era
permitida a sua saída com supervisão das autoridades para verificar mais
elementos da conduta criminosa.

Espécies de entrega vigiada:


 Entrega vigiada limpa: a remessa ilícita é feita por via postal ou frete e o
seu conteúdo é substituído por um produto lícito. Ex. tira cocaína e coloca
talco em seu lugar
 Entrega vigiada suja: a encomenda segue seu itinerário sem alteração do
conteúdo.

I- Flagrante forjado/fabricado/urgido/maquinado:
É a hipótese de um flagrante ilegal. A autoridade policial ou particulares criam
provas de um crime inexistente para legitimar uma prisão em flagrante. Isso
caracteriza abuso de autoridade ou se praticada por um particular é denunciação
caluniosa.

4.4) Prisão em flagrante nas várias espécies de crimes:

a. Crimes permanentes:
É o crime que a consumação se prolonga no tempo e o agente detém domínio
do fato durante a sua permanência, podendo fazer cessar a conduta.
Ex. sequestro de pessoas em cativeiro.

Art.303 CPP
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar
a permanência.

Em crimes permanentes, o flagrante é possível enquanto não cessar a


permanência. É possível a violação domiciliar mesmo sem autorização judicial.

Atenção! Pode haver flagrante, mesmo com violação de domicílio em crimes


permanentes.
Ex. Tráfico, quadrilha ou bando, sequestro podem ter violação de domicílio a
qualquer momento.

b. Crime habitual:
Crime é preciso a prática reiterada para caracterizar o crime. Ex. exercício ilegal
da medicina –art.282 CP

Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica


Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem
autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Doutrina majoritária: (Tourinho Filho, Paulo Rangel) não é possível a prisão em


flagrante em crimes habituais.

Doutrina Minoritária (Mirabete): é possível a prisão em flagrante em crimes


habituais.

Para Renato depende do caso, desde que as circunstâncias do caso concreto


evidencie a habitualidade da atividade criminosa).
Ex. agenda do suposto médico (que está cheia) é meio de prova para prisão em
flagrante

c. Crimes de ação penal privada e Crimes de ação penal pública


condicionada a representação.
É possível a prisão em flagrante, mas a lavratura do auto de prisão e flagrante
fica condicionada à manifestação da vítima.

Ex. crime de estupro. Mulher chama a polícia para prender o estuprador. A


polícia sai em perseguição e prende o sujeito, pois a ligação já é uma
manifestação de que a vítima

d. Crime formal:

É aquele crime em que há um resultado, mas ele não precisa de acontecer para
consumar o crime.
Ex. crime de concussão (art.316) – o recebimento da exigência indevida é mero
exaurimento do crime.

Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

É possível efetuar a prisão em flagrante da entrega vantagem (ex.


dinheiro)?
R. A prisão em flagrante é possível em crimes formais, mas desde que seja feita
no momento da execução do delito (o mero exigir) e não quando de seu
exaurimento (entrega de dinheiro).

e. Crime continuado:
CP: art.71

É possível o flagrante no crime continuado, sendo o flagrante fracionado

4.5) Fases da prisão em flagrante:

i) Captura do agente:
 Situação de flagrância
 Emprego da força – art.292 CPP

Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada
por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários
para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas
testemunhas.
O emprego de força da polícia só pode ser utilizado em legítima defesa.

Uso de algemas: o uso de algemas é medida de natureza excepcional, possível


apenas nas seguintes hipóteses:
 Com a finalidade de impedir/prevenir ou dificultar a fuga do preso;
 Com a finalidade de evitar agressão do preso contra policiais, terceiros,
ou contra si mesmo.
Ex. pessoa presa tenta agredir a si mesma pode ser algemada.
Súmula vinculante de nº11:
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade
física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou
do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Auto de justificação de algemas: o policial tem que explicar a necessidade de


utilização de algemas (sob pena de nulidade do ato processual a que se refere,
responsabilidade penal, civil e administrativa).
Ex. em julgamento do júri o sujeito permaneceu a todo tempo com algemas e
isso influenciou o seu julgamento. O Supremo anulou o julgamento em razão
disso.

A exibição de preso na televisão só pode ser feita com finalidade pública.


Ex. estuprador. É possível que tenha praticado outros estupros, logo, quando
mostra o rosto dele outras vítimas possam reconhece-lo e representar.

Para Renato, na prática, o momento da prisão do sujeito é ideal que coloque


algemas.

ii) Condução coercitiva:


iii) Lavratura do APF
iv) Recolhimento à prisão
A depender do delito cometido, o delegado pode arbitrar fiança. Art.322 CPP

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa
de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito)
horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

v) Deverá haver a comunicação da prisão à família do preso ou à pessoa


por ele indicada, ao juiz, ao MP e a defensoria pública.
No caso da defensoria pública, se o autuado não indicar o nome de seu
advogado. Art.306 CPP.

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente
ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia
integral para a Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

O §1º não está dizendo que a defensoria precisa de acompanhar, mas apenas
encaminhar a cópia é necessária.

Na hora da prisão também deve ser entregue a nota de culpa.


Este nome é péssimo, pois o nome dá a entender que o sujeito está assumindo
a culpa e muitas pessoas deixam de assinar por causa disso.

Nota de culpa ou nota de ciência das garantias constitucionais: é o


instrumento entregue ao preso que identifica os responsáveis e os motivos de
sua prisão, concretizando o disposto no art.5, LXIV CF.

Aula 16:

4.5. Convalidação Judicial da Prisão em Flagrante

I. Relaxamento da prisão ilegal:


Lei 12.403/11
Prevê o art.310 do CPP.
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art.
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;
ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato
nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória,
mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

Conceito: são as providências a serem adotadas pelo juiz ao receber o APF.


Por sua vez, prevê o art. 306 do CPP.
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente
ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia
integral para a Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).

Na redação antiga, não era prevista a comunicação ao MP, mas isso era feito
pela LNMP.

Possibilidades do Magistrado:
I. Relaxamento da prisão legal, com fulcro no art.5º, LXV da CF

CF art.5º, LXV
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

A constituição deixa bem claro que essa medida só pode ser tomada pela
autoridade judiciária.
São 02 as hipóteses de cabimento do relaxamento:
a) Ilegalidade da prisão em flagrante
*Inexistência de situação de flagrância.
*Inobservância das formalidades constitucionais e legais LXII, LXIII, LXIV do
art.5º, CF. Tendo em vista a prisão ser medida extrema ela deve ter estes
requisitos observados.
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;

O relaxamento da prisão pelo juiz não impede a decretação da prisão cautelar,


desde que presentes seus pressupostos legais.
Ex. Fernandinho Beira Mar foi relaxada a prisão em flagrante por ser ilegal (ex.
seu advogado não foi comunicado), mas ele ainda assim pode ser preso
cautelarmente.

Prisão em flagrante ≠ prisão cautelar

Pode haver relaxamento da prisão pela autoridade policial?


R.
1ª Corrente (majoritária): não é possível. Só juiz pode determinar o
relaxamento de prisão. (concurso magistratura).

2ª Corrente (minoritária): é possível a autoridade policial fazer um relaxamento


de prisão com base em uma interpretação a contrário sensu do art.304, §1º, 1ª
parte, CPP (concurso delegado).
Para alguns doutrinadores (Nucci), o delegado de polícia poderia determinar o
relaxamento da prisão em flagrante.

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo,
sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à
oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe
é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.
(Redação dada pela Lei nº 11.113, de 2005)
§ 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará
recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso,
com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do
preso à autoridade.

II. Conversão da Prisão em Flagrante em Preventiva:


Art.310, II CPP
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art.


312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;
ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
É extremamente importante, pois a lei deixa claro que o juiz é obrigado a fazer a
conversão. A prisão em flagrante deixa de ser motivo para que alguém
permaneça preso. Para isso é necessário fazer a conversão da prisão em
flagrante em preventiva.

Esta conversão em preventiva deve ser fundamentada sob pena de nulidade


absoluta.

Trata-se de uma fundamentação complicada, pois no APF não há elementos de


informação vastos a justificar a preventiva. Entretanto, isso não pode ser usado
como desculpa.

Ex. preso o estuprador em flagrante, o delegado observou que haviam casos


semelhante na delegacia, chamou outras 2 supostas vítimas que fizeram o
reconhecimento do sujeito.

Pressupostos da prisão em flagrante em prisão preventiva:

O art.310,II faz referência apenas ao art.312 CPP. Entretanto, é preciso observar


o art.313?
1ªc) basta o art.312. Foi feita uma interpretação gramatical do art. 310,II CPP.
2ªc) deverão estar presentes os pressupostos dos arts. 312 e 313 CPP. Trata-
se de uma interpretação sistemática.

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova
da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o). (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o
disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso,
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade
civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Esta conversão não pode ser feita de ofício pelo juiz na fase investigatória, sob
pena de violação ao sistema acusatório e a garantia da imparcialidade.

Para tanto, há necessidade de o juiz ser provocado pela autoridade policial ou


pelo MP. Art.311 CPP.

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

Andrei Borges de Mendonça defende que esta conversão não precisa ser feita
apenas em prisão preventiva, mas também em prisão temporária, desde que
presentes os pressupostos da Lei 7.960/89.

Obs. Se a liberdade provisória é cabível até mesmo para o tráfico de drogas


(HC104.339), não há falar em conversão obrigatória da prisão em flagrante em
preventiva.

III. Concessão de Liberdade Provisória

A concessão da liberdade provisória pode ser aplicada com ou sem fiança;


cumulada (ou não) com medidas cautelares diversas da prisão. O importante é
a medida ser proporcional.

Ex. Art.319, VI CPP – é mais proporcional aplicar esta medida em caso de


auditor da receita que facilita contrabando.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).

Prazo para a convalidação da prisão em flagrante para a preventiva:

Aplicação subsidiária do art.322, §único CPP – como juiz tem 48 horas para
conceder a fiança. A doutrina vem entendendo que para as outras medidas,
dentre elas a convalidação, também seria de 48 horas.

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa
de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito)
horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

A prisão em flagrante tem que ser comunicada ao juiz em até 24 horas após a
captura. Ao receber o APF, o juiz teria 48 horas para convalidar o APF.

4.6) Natureza jurídica da prisão em flagrante.

Doutrina majoritária defende que a prisão em flagrante é uma espécie de


prisão cautelar.

Doutrina minoritária defende que é uma medida pré-cautelar, pois a prisão em


flagrante antecede a decretação de uma medida cautelar. (Auri Lopes Jr., LFG,
Gustavo Henrique Badaró).

Prisão em Flagrante Legal

Conversão em preventiva OU Medida provisória


Medida cautelar Medida de contracautela

Como a prisão em flagrante legal só pode ser convertida em preventiva ou


medida provisória, e a essas antecede, ela é chamada de medida pré-cautelar.

5) Quadro comparativo entre prisão temporária e prisão preventiva

(tabela para revisão)

Prisão temporária Prisão preventiva


Previsão Legal: Lei 7.960/89 Previsão Legal: art. 311 a 316 CPP.
Origem: Medida Provisória 111/89. (Lei 12.403).
Momento: Momento:
Pode ser decretada apenas durante Art.311 – fase investigatória e fase
a fase investigatória (IP e outros processual
procedimentos).
Cuidado! Não se admite em Na fase investigatória a preventiva
nenhuma hipótese durante a fase será cabível apenas em relação aos
processual. (Art.2º da Lei 7960) crimes que não admitem prisão
temporária. Art. 1º Lei 7960.

Hipóteses de aplicabilidade: Hipóteses de aplicabilidade


Há um rol taxativo de crimes: Devem ser observados os
a) art.1º,III da Lei 7960/89. pressupostos alternativos dos incisos
Não se aplica prisão temporária em e p. ú. do art.313 do CPP.
crimes contra contravenções
b) Crimes hediondos e
equiparados (Lei 8.072/90,
art.2º, §4º.

Pressupostos: Pressupostos:
Fumus comissi delicti (art.1º,  Fumus comissi delicti:
III, Lei 7.960/89. Prova de existência do crime
Periculum libertatis (art.1º, I ou Indícios de autoria.
II da Lei 7.960/89).
Assim, o inciso III deve estar sempre  Periculum libertatis:
presente, seja cominado com o inciso Garantia da ordem pública/
I ou III. econômica
Garantia da aplicação da lei penal
Conveniência da instrução criminal

Prazo: Prazo:
O prazo é determinado. Não tem prazo determinado.
De 5 dias prorrogável por mais 5. Não obstante, devem ser observados
Se em crimes hediondos: 30 dias + 30 os prazos previstos em lei para a
dias. prática dos atos processuais, sob
Decorrido o prazo não precisa de pena de excesso de prazo na
alvará de soltura, sendo o preso formação da culpa.
automaticamente libertado, salvo se A jurisprudência entende que o juiz
decretar prisão preventiva com o deve se atentar para cada ato
oferecimento da denúncia, processual.

NÃO pode ser decretada de ofício. Pode ser decretada de ofício na fase
Deve haver requerimento do MP ou processual.
representação da autoridade policial. Na fase investigatória não pode ser
declarada de ofício.

Prisão temporária

1. Previsão legal
A prisão temporária surgiu na Medida Provisória 111 em 1989.

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias,
com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32,
de 2001)
I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

Com o surgimento da EC 32 de 2011 passou-se a vedar a edição de medidas


provisórias para legislar sobre direito processual penal (Art. 61, §1, I, b CF).

Assim, surgiu a discussão se a MP 111/89 convertida na lei 7.960 era


constitucional.
1ªc) trata-se de uma inconstitucionalidade formal. (Alberto Silva Franco, Paulo
Rangel).

2ªc) Entretanto, o STF na ADI 162 entendeu que a Lei 7960 não resultou da
medida provisória 111, declarando prejudicado o pedido e constitucional a Lei
7960.

2. Momento (Art.2º da Lei 7960)


Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial ou
de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade.

3. Hipóteses de aplicabilidade:
Há um rol taxativo de crimes:
a) art.1º,III da Lei 7960/89.
Não se aplica prisão temporária em crimes contra contravenções
b) Crimes hediondos e equiparados (Lei 8.072/90, art.2º, §4º.

Art. 1° Caberá prisão temporária:


III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de
autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art.
270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas
típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).

Cabe prisão temporária no crime de estupro de vulnerável?


R. Sim, pela aplicação do art.2º, §4º da Lei 8.072/90. (Lei dos crimes hediondos).
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes
previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema
e comprovada necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464, de 2007)

4. Pressupostos:
Fumus comissi delicti (art.1º, III, Lei 7.960/89).
Periculum libertatis (art.1º, I ou II da Lei 7.960/89).
Assim, o inciso III deve estar sempre presente, seja cominado com o inciso I ou
II.

Art. 1° Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento
de sua identidade;
III Sempre presente - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo
único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art.
270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas
típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).

Prisão preventiva

1. Previsão Legal: art. 311 a 316 CPP. (Lei 12.403).


Momento:
2. Art.311 – fase investigatória e fase processual

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

(Prova de delegado)
Cabe prisão preventiva durante as investigações de um homicídio
qualificado?
R. Não. A partir que o legislador previu a possibilidade de prisão temporária na
Lei 7.960, Art.1º, a, aplica-se prisão temporária e não preventiva, pois não é
possível 2 prisões cautelares na fase de investigação.

Art. 1° Caberá prisão temporária:


a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);

Na fase investigatória a preventiva será cabível apenas em relação aos


crimes que não admitem prisão temporária.

3. Hipóteses de aplicabilidade:
Devem ser observados os pressupostos alternativos dos incisos e p.ú. do
art.313 CPP.

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Obs.1: Apenas crimes dolosos.


Obs.2: Pena máxima superior a 4 anos.
Obs.3: Para tanto devem ser levadas em consideração as hipóteses de concurso
de crimes, qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de
pena, mas não serão consideradas as agravantes e atenuantes.

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o
disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Obs.1: cabível apenas em relação a crimes dolosos;
Obs.2: acusado reincidente em outro crime doloso, salvo se houver o decurso
do lapso temporal de 5 anos da reincidência;
Reincidente é quem tem contra si uma sentença penal condenatória transitado
em julgado (art.63 CP).
Obs.3: a reincidência deverá ser específica em crimes dolosos (ou seja não pode
o crime anterior ser culposo).
Obs.4: nesse caso do inciso II, pouco importa a quantidade de pena cominada
ao delito

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso,
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Obs.1: em se tratando de violência doméstica, pressupõe-se que o crime seja


de natureza dolosa. (violência de gênero).
Obs.2: esta violência deve ser praticada em uma relação doméstica, familiar ou
íntima de afeto (Lei 11.340, arts.5º e 7º).
Ex. o namoro pode entrar nesta relação íntima de afeto, dependendo do caso
concreto (não pode ser amor de carnaval).
Obs.3: segundo o STJ, não basta o descumprimento das medidas protetivas de
urgência. Para além disso, deve ser demonstrada a necessidade da prisão
preventiva para a garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal
e garantia de aplicação da lei penal.HC 100. 512
Ex. Dado Dolabella teve medida de distanciamento da Luana Piovani. Ambos
estavam no camarote do Brahma e aquele levou uma fita métrica. Diante da
brincadeira foi decretada a prisão dele. Para Renato, foi desnecessária a prisão,
pois a intenção dele não era de agressão.
Obs.4: nesse caso do inciso III, pouco importa a quantidade de pena cominada
ao delito.

Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade
civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Obs.1: como o dispositivo não estabelece qualquer requisito quanto à infração
penal, esta prisão preventiva pode ser decretada não apenas em relação a
crimes dolosos, mas também em relação a crimes culposos e contravenções
penais, pelo tempo estritamente necessário para a identificação criminal do
preso.
Falta de identificação. Seria a única hipótese de prisão preventiva em crimes
culposos e contravenções penais.

Aula 17
6) Prisão domiciliar:

A prisão domiciliar estava prevista apenas no art.117 da LEP. Neste caso, há a


substituição da prisão penal por uma prisão domiciliar. O STJ entende, também,
que se não houver condições para a execução do regime aberto ou semi-aberto,
o acusado poderia cumprir a sua pena em casa.

Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular
quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.

A Lei12.403/11 introduziu o art.317 e 318 CPP. Não se confunde com a prisão


domiciliar do art.117 da LEP.
No art.117 LEP a substituição é de uma pena definitiva, enquanto no art.317 CPP
cabe a substituição de uma pena preventiva.

Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só
podendo dela ausentar-se com autorização judicial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - maior de 80 (oitenta) anos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com
deficiência; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

Quadro comparativo das prisões domiciliares:

Prisão domiciliar na LEP Prisão Domiciliar (CPP)


Previsão Legal: LEP, art.117 Previsão Legal: art.317 e 318 CPP
A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, O CPP, ao tratar da prisão domiciliar,
está se referindo à possibilidade da está se referindo à possibilidade do
pessoa já condenada cumprir a sua réu, ao invés de ficar em prisão
pena privativa de liberdade na própria preventiva, permanecer recolhido em
residência sua residência.
Prisão domiciliar de natureza penal Prisão domiciliar de natureza cautelar
(cumprimento de pena)
Prisão domiciliar substitutiva de prisão É a prisão domiciliar substitutiva da
penal em regime aberto** prisão preventiva (jamais da prisão
** STJ HC216.828: se o estado não temporária).
dispor de condições para que o Aqui o indivíduo terá direito à
condenado em regime semiaberto detração. Art.42 CP.
possa progredir para o aberto (ex.
casa do albergado), também terá Para Renato a prisão temporária não
direito à prisão domiciliar. pode ser substituída pela prisão
domiciliar, pois aquela tem prazo curto
(5 dias + 5 dias; hediondos 30+30) ,
enquanto a prisão preventiva tem
prazo indeterminado. Ademais, a
prisão temporária visa assegurar as
investigações, e estando ele em
cassa poderia atrapalhar as
investigações.
Hipóteses de admissibilidade: Hipóteses de Admissibilidade**:
I - maior de 80 (oitenta) anos e
I - condenado maior de 70 (setenta) portador de estado de saúde
anos; debilitado e fragilizado
Assim, não é automática a prisão
domiciliar quando completa 80 anos;
HC138 .986 STJ

II - agente extremamente debilitado


II - condenado acometido de doença por motivo de doença grave;
grave; (acometido é portadora) Não basta que seja portadora, a
pessoa tem que estar debilitada por
motivo de doença grave.
Assim, terá direito a prisão domiciliar,
apenas quando o tratamento médico
não puder ser ministrado no
estabelecimento prisional.
Obs. Se há tratamento médico no
estabelecimento profissional ele
permanecerá preso.
STJ HC47.115

III - agente imprescindível aos


III - condenada com filho menor ou cuidados especiais de pessoa menor
deficiente físico ou mental; de 6 (seis) anos de idade ou com
Aplica-se somente à mulher deficiência;
Aplica-se à homens e mulheres.
Imprescindível: não há familiares que
possam cuidar do menor ou do
deficiente.

IV - gestante a partir do 7o (sétimo)


IV - condenada gestante. mês de gravidez ou sendo esta de
alto risco.
Se no presidio houver condições para
realização de partos ela permanecerá
presa.

** o ônus da prova é do requente.


Trata-se de um ônus da prova
perfeito: tem que convencer o juiz sob
um argumento de certeza. Art.318
CPP, p.ú. CPP

Mecanismos de controle: Mecanismos de controle:


Monitoramento eletrônico (art.146- Monitoramento eletrônico (art.319, IX
B,IV LEP) – foi acrescentado em 2010 CPP)
Emprego de Vigilância contínua na
residência (Lei 5.256/67, art.3º) – ex.
juiz lalau. Renato acha que há um alto
custo

Informativo 736 STF: Constatada pelo juízo da execução a inexistência, no Estado-


membro, de estabelecimento prisional para cumprimento de pena em regime aberto,
permite-se o início do cumprimento em prisão domiciliar, até ser disponibilizada
vaga no regime adequado.
STF. 1ª Turma. HC 113334/RS, red. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 18/2/2014.

Detração
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão
provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos
estabelecimentos referidos no artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art.318 Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando: (Incluído pela
Lei nº 12.258, de 2010)
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
III - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
IV - determinar a prisão domiciliar; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
V - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

É possível a concessão de prisão domiciliar a pessoa que esteja


cumprindo pena em regime fechado ou semiaberto?
Pela literalidade da LEP, somente teria direito à prisão domiciliar a pessoa
condenada ao regime aberto que se enquadrasse em uma das hipóteses do art.
117 da LEP. No entanto, em hipóteses excepcionais, a jurisprudência tem
autorizado que condenados que estejam no regime fechado ou semiaberto
possam ter direito à prisão domiciliar desde que:
 sejam portadores de doença grave; e
 fique demonstrada a impossibilidade de receberem o tratamento
adequado no estabelecimento prisional onde cumprem pena.

7) Medidas Cautelares diversas da prisão:


Essas medidas podem ser aplicadas ao CPP e na legislação penal.
Art.1º, p.ú. CPP

Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando
as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

Assim, aplica-se a LMP, Lei de Drogas, Estatuto do Desarmamento.


Elas podem ser usadas de maneira isolada ou cumulativa.
Ex. Art.22 da LMP trata das medidas protetivas de urgência.

Qualquer uma dessas medidas pode ser utilizada no art.282, I CPP.


Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

7.1) Comparecimento periódico em juízo.


Objetivo: verificação de que o acusado ainda mantém vínculos naquele lugar e
que exerce atividade laborativa.
A lei não estabelece a periodicidade. Assim, esta deve ser fixada pelo
magistrado.

Art.319, I ≠ art.310, § único

Cuidado! Não confundir a medida do Art.319, I e art.310, § único. Nos 2


dispositivos, a lei exige o comparecimento em juízo.
A diferença é a punição se a pessoa não comparece.

Art.319,I – eventual descumprimento autoriza em último caso a prisão


preventiva. (art. 312, § único)
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art.312, Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares
(art. 282, § 4o). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

O art.310 deve ser lido com o art.314 CPP - eventual descumprimento (não
comparecr aos atos processuais) jamais acarretará a prisão preventiva. Ex. não
é possível prender alguém se ela está amparada pela excludente de ilicitude.
Art.310 Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o
fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade
provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes
dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).

7.2) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares:


Objetivo: evitar a reiteração delituosa.
Certos locais estimulam o efeito criminógeno no indivíduo.
Ex. briga de torcida organizada. Proibição de ir ao estádio de futebol.
Ex. proibir a ida a boates.
Ex. pode determinar a proibição de determinado local para evitar novos crimes
e para preservar a produção da prova.

Acesso: é uma ação isolada. É o impedimento de entrar em determinado local,


mesmo que uma única vez.
Frequência: é a repetição do acesso. A lei quer vedar a repetição de um
comportamento.
Lugares: locais públicos (ex. praça onde há a venda de drogas), locais privados
abertos ao público (ex. shopping, casa noturna), locais privados (ex. casa de
uma pessoa – ex. lei maria da penha).

Atenção! Não é possível determinar uma pena de banimento. Art.5º,XLVII, d Ex.


impedir que a pessoa fique na cidade.

XLVII - não haverá penas:


d) de banimento;

7.3) Proibição de Manter contato com pessoa determinada:

Pessoa determinada: vítima, testemunha, corréu, relator.


Contato: pessoal, telefônico, por meios eletrônicos.

7.4) Proibição de ausentar-se da comarca ou do país:


Se aplicada de maneira isolada, pode gerar eficácia da medida
Em cidades pequenas é possível fazer o controle pelo oficial de justiça que
fiscalizará na residência.
Em cidades maiores é possível fazer com monitoramento eletrônico.

É possível, ainda, a possibilidade de retenção do passaporte. Art.320 CPP.


Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de
fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte,
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Entretanto, o passaporte retido não impede por si só do sujeito sair do país.


Ex. Salvatore Catiola.
Ex.médico acusado de estupro fugiu para o Líbano.

7.5) Recolhimento Domiciliar no período noturno e nos dias de folga.


Em cidade pequena é possível determinar que a polícia visite o sujeito durante
a noite em sua casa.
Em cidades maiores, só é possível com o monitoramento eletrônico.
Esta medida não se confunde com a prisão domiciliar.
No recolhimento Domiciliar no período noturno e nos dias de folga é possível o
exercício de atividade laborativa durante o período diurno.

7.6) Suspensão do exercício da função pública ou de atividade de natureza


econômica ou financeira.
Essa medida cautelar só pode ser decretada quando houver um nexo funcional
entre o delito.
Ex. Rogério não pode ser suspenso do cargo de promotor por bater em sua
mulher.

Art.327 CP – conceito de funcionário público para fins penais.


Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 6.799, de 1980)
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Essa medida só pode ser utilizada em crimes contra a ordem econômico


financeira, que estão previstos em:
 Lei 1.521/51
 Lei 7.134/83
 Lei 7.492/86
 Lei 8.078/90
 Lei 8.137/90
 Lei 8.176/91
 Lei 9.279/96
 Lei 9.613/98

Ex. posto vende gasolina adulterada. O juiz determina a suspensão da atividade.


Ex. doleiro autorizado pelo Banco Central utiliza-se de sua profissão para
lavagem de dinheiro.

Essas suspensões são permitidas e compatíveis com a livre iniciativa, pois não
se pode utilizar da profissão para cometer ilícitos.

Suspensão de mandatos eletivos:


1ª corrente) não é possível. (Gustavo Henrique Badaró)
2ª corrente) é possível. (Andrei borges de Mendonça, salvo em relação àqueles
que gozam de imunidade absoluta quanto a prisão cautelar (presidente da
república).
Ex. governador de estado pode ser preso. Ex. Arruda, ex-governador do DF, foi
preso.

Suspensão do pagamento:
Ex. Auditor da receita que foi afastado do cargo por estar contrabandeando
produtos. O pagamento pode ser suspenso?

1ªc) é possível. STJ Resp 413. 398 O pagamento pode ser suspenso, pois isso
seria enriquecimento ilícito e desestímulo aos demais funcionários.

2ªc) (STF) essa suspensão do pagamento não é possível, pois viola a regra de
tratamento que deriva do Principio da Presunção de Inocência. (Renato)

Art.92, I CP:
Art. 92 - São também efeitos da condenação:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)I - a perda de
cargo, função publica ou mandato eletivo, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever
para com a Administração Publica quando a pena aplicada for superior a quatro anos; (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

STF: RE 482.006: se refere a uma lei estadual mineira que previa que se o
funcionário público estivesse respondendo por um processo penal por crime
relativo a suas funções foi declarado inconstitucional por violação ao Princípio
da Presunção de Inocência.

7.7) Internação Provisória:


As chamadas medidas de segurança só podem ser aplicadas ao final do
processo (internação ou tratamento ambulatorial), com o trânsito em julgado de
decisão condenatória imprópria.

A regra é que o inimputável permaneça solto ( a regra de presunção de inocência


também se aplica ao inimputável).

Requisitos da Internação provisória:


a) O indivíduo deve ser inimputável ou semi-imputável. Art.319, VII CPP

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça,
quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco
de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

O ideal é esperar a conclusão dos peritos, mas muitas vezes isso não é possível.
Ex. sujeito fugiu do manicômio e cometeu crime. Nestes casos, há provas
diversas do exame de sanidade mental (que demora de3 a 4 meses), como
documentos do manicômio.

b) Crime praticado com violência ou grave ameaça.


Ex. um crime contra a honra não autoriza a internação provisória.

c) Deve haver um risco de reiteração.


Esta é a única hipótese do art.319 que traz requisitos.
Este indivíduo internado terá direito à detração.

7.8) Fiança:
Antes da lei 12.403/11: a fiança era apenas uma medida de contracautela
substitutiva da prisão em flagrante.
Art.319, VIII CPP
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a
obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

Depois da lei 12.403/11: a fiança também poderá ser aplicada como medida
cautelar autônoma para os acusados em liberdade.
A fiança foi colocada dentro do rol das cautelares. Elas podem ser aplicadas não
só como substitutiva, mas também como medidas autônoma.

Ex. sujeito cometeu um crime tributário e desviou 500 milhões. Os juízes arbitram
uma fiança com quantitativo grande.

Ex. acidente de carro porche com fiança de R$300.000,00.

Fiança é...
- uma caução em dinheiro ou outros bens (garantia real)
- prestada em favor do indiciado ou réu
- para que ele possa responder o inquérito ou o processo em liberdade
- devendo cumprir determinadas obrigações processuais
- sob pena de a fiança ser considerada quebrada
- e ele ser preso cautelarmente.

Infrações inafiançáveis: arts.323 e 324 CPP.


Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes de racismo; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como
crimes hediondos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem
motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - em caso de prisão civil ou militar; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Valor da fiança: o CPP colocou novos parâmetros da fiança – art.325 CPP.


Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
c) (revogada). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade,
no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de liberdade
cominada for superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

O delegado pode arbitrar fiança de 650 reais a 65 mil reais, no caso do inciso I.
Art.202 CPP

Atenção! A dispensa da fiança é apenas feita pelo juiz. Art.350 CPP.

O juiz poderá aumentar em até mil vezes a multa, se a condição do acusado


permitir. Ex. Thor Batista se envolveu em acidente de carro.

Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação econômica do preso, poderá
conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código
e a outras medidas cautelares, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas
impostas, aplicar-se-á o disposto no § 4o do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).

Momento de concessão da fiança


A fiança pode ser concedida:
 Na fase de investigação pré-processual;
 Em qualquer momento do processo criminal enquanto não tiver transitado em julgado
a sentença condenatória (art. 334).

Quem concede a fiança


A fiança poderá ser concedida pelo(a):
a) Delegado de Polícia;
b) Autoridade judiciária.

Em quais casos a autoridade policial pode conceder fiança?


O Delegado somente poderá conceder fiança se a infração praticada tiver pena máxima de 4
anos.
Se o crime tiver pena superior a 4 anos, o preso deverá requerer a concessão da fiança ao juiz,
que deverá decidir o pedido em até 48 horas.

Valor a ser arbitrado Quantidade de pena


1 a 100 salários Menos de 4 anos
10 a 200 salários Mais de 4 anos

Dependendo da situação econômica do preso (se rico ou pobre), a autoridade poderá:


a) Dispensar a fiança.
b) Reduzir em até 2/3 os valores da tabela acima;
c) Aumentar em até 1000 vezes os valores da tabela acima.
Atenção! Tanto o magistrado como o Delegado podem reduzir ou aumentar os valores da fiança,
mas a dispensa só quem pode autorizar é a autoridade judiciária.

Quais os critérios que devem ser levados em consideração no momento da fixação do valor?
Para determinar o valor da fiança, a autoridade levará em consideração:
 a natureza da infração;
 as condições pessoais de fortuna do indiciado/acusado (condições econômicas);
 a sua vida pregressa;
 as circunstâncias indicativas de sua periculosidade;
 o valor provável das custas do processo, até final julgamento.

Tabela para revisão:


Prazo de 4 anos:
Art. 322 CPP Art. 394, §1º, II CPP Art. 313,I CPP
Fiança concedida por Procedimento sumário – Prisão preventiva – pena
delegado – pena menor que 4 anos de máxima maior que 4
máxima não superior a 4 pena máxima anos.
anos de pena
≤ 4 anos < 4 anos > 4 anos

Valor da Fiança:
Art. 325 CPP Art. 79 CDC
≤ 4 anos – 1 a 100 s.m. 100 a 200 mil X BTN
>4 anos – 10 a 200 s.m.
Juiz poderá: Juiz poderá:
Dispensar fiança Reduzir até a metade de seu valor
Reduzir até 2/3 mínimo
Aumentar até 1000 vezes. Aumentar em até vinte vezes.

(Tabela para revisão):


7.9) Monitoramento eletrônico:
Consiste na utilização de dispositivo não ostensivo de monitoramento
eletrônico, geralmente afixado ao corpo da pessoa, a fim de que se saiba a
qualquer hora do dia e da noite a sua exata localização.

Dispositivo não ostensivo: é o mais discreto possível. A ideia é que a pessoa


não permaneça presa e continue exercer suas atividades normais.
Ex. É uma tornozeleira eletrônica.

No Brasil, o monitoramento eletrônico surgiu com a Lei 12.258/10 – introduziu o


art.146-B LEP. Na LEP este monitoramento é chamado de “back door”- na saída
do sistema carcerário, pois já cumpriu pena. É utilizada como última forma de
monitoração, no final do cumprimento da pena.

Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando: (Incluído pela
Lei nº 12.258, de 2010)
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
III - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
IV - determinar a prisão domiciliar; (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
V - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)

Na lei 12.403/11 introduziu no CPP esta possibilidade. Pode ser aplicado de


maneira isolada ou cumulativa com outras medidas. É o chamado
monitoramento “front door”. Está sendo utilizado para evitar uma prisão.

Formas de utilização do monitoramento eletrônico:


 Zonas de exclusão: são locais cujo acesso é vedado ao acusado.
Ex. em SP, no caso da separação de corpos no caso de violência doméstica. Na
hora que o acusado se aproxima do local proibido, o monitoramento apita.

 Zonas de inclusão: locais em que o acusado deverá permanecer.


Ex. prisão domiciliar. O monitoramento apita quando o sujeito sai de casa.

Constitucionalidade do monitoramento eletrônico:


Para Renato, todo o instrumento que evita o cárcere da pessoa, é constitucional.
Ela pode continuar exercendo atividade laborativa, pode manter vínculos
familiares.

INTENSIVO II

Professor Nestor Távora

Aula 01

1) Questões e Procedimentos Incidentes:


1.1) Considerações:

a) Conceito: são matérias de natureza meritória ou processual que podem


ser suscitadas no transcorrer do processo e que devem ser solucionadas
para que o magistrado possa ser ou não proferir a sentença.

Conclusão: Frederico Marques chama de “questões prévias”.

b) Enquadramento Normativo:
b.1) Quando o tema é meritório é tratado dentro das questões prejudiciais.
b.2) Quando o tema é processual a questão passa a ser denominada por
procedimentos incidentais.

São procedimentos incidentais:


I) Exceção (art.95 a 11, CPP)
II) Conflito Jurisdição (art. 113 a 117, CPP)
III) Restituição de coisa apreendida (art. 118 a 124 CPP)
IV) Medidas assecuratórias (art.125 a 148 CPP)
V) Incidente de falsidade documental (art.145 a 147 CPP)
VI) Incidente de insanidade mental (art. 149 a 154 CPP).

Atenção! Classificação de Eugênio Pacelli:


Para Eugênio Pacelli:
 Questões tipicamente preliminares:
o Exceção
o Conflito de Jurisdição

 Questões acautelatórias de natureza patrimonial:


o Medidas acautelatórias
o Restituição de coisa apreendida.

 Questões tipicamente probatórias:


o Incidente falsidade documental.
o Incidente de insanidade mental.

2.1) Conceito:
Questão prejudicial é aquela vinculada ao mérito e que deve ser resolvida para
que o magistrado profira sentença condenando ou absolvendo o réu.

Ex. abandono material exige pressuposto de parentesco


Ex. crime de bigamia exige que o primeiro casamento seja válido.

A validade do 1º casamento à aferição da bigamia

é questão prejudicial é a questão prejudicada.

2.2) Natureza jurídica (classificação):


1ª posição: Denilson Feitoza (minoritária). A prejudicial de mérito é uma
elementar do tipo penal.
Elementar do tipo: é aquele fator jurídico que, eliminado leva à atipicidade da
conduta ou à desclassificação da infração

2ª posição: Tourinho Filho (majoritária).


As prejudicias nada mais são do que o elemento de conexão que poderia,
inclusive, ser objeto de um processo autônomo (art. 76 CPP).

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:


I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias
pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na
prova de outra infração.

2.3) Características:

a) Anterioridade:
Deve o juiz resolver primeiro a questão prejudicial para só então apreciar a
demanda principal.

b) Essencialidade/Interdependência/Necessariedade:
A prejudicial está diretamente ligada ao cerne da demanda o que importa no
próprio reconhecimento ou não da tipicidade.

c) Autonomia:
A matéria objeto da prejudicial ordinariamente será discutida em processo
autônomo na esfera extrapenal. (arts. 92 e 93, CPP)

DAS QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES


CAPÍTULO I
DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz
repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no
juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da
inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá
a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados.
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão
diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação
para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre
direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e
realização das outras provas de natureza urgente.
§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora
não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal
fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria
da acusação ou da defesa.
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público
intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento.
2.4) Questões prejudiciais X questões preliminares (caiu MPBA):

Questões Prejudiciais Questões preliminares


a) Mérito. a) Processual
As prejudiciais estão vinculadas ao As preliminares normalmente estão
mérito e precisam ser solucionadas vinculadas a matéria processual
para que a demanda principal seja (art.564 CPP) e eventualmente ao
julgada. mérito (causas de extinção da
punibilidade – ex. prescrição e
decadência) e uma vez reconhecidas
impedem a análise da demanda
principal.
b) Existência do crime b) A ausência das condições da
Gera atipicidade. Ex. se o 1º ação ou dos pressupostos
casamento for julgado nulo pelo juízo processuais.
cível, gera atipicidade no crime de
bigamia
c) Autonomia c) Processo Principal
As prejudiciais gozam de autonomia e As preliminares serão
podem ser objeto de um outro necessariamente analisadas no bojo
processo do processo principal
d) Juízo Penal ou Extrapenal d) Juízo Penal
As preliminares só serão analisadas
no juízo penal, pois integram as
discussões ventiladas dentro do
processo.
e) Julgamento do mérito principal f) Processo nulo ou extinção da
da demanda punibilidade
Uma vez apreciadas, as prejudiciais Uma vez acatadas elas impedem a
contribuem para o julgamento do apreciação do mérito principal seja
mérito principal da demanda. porque o processo será declarado
nulo (art.564, CPP) ou em razão da
extinção da punibilidade (art.107, CP)

2.5) Classificação:

I- Quanto à natureza:

a) Prejudicial Homogênea/ Comum/ Imperfeita:


É aquela que trata de matéria penal e que será resolvida no próprio juízo criminal.

Ex. arguição de exceção da verdade nos crimes contra a honra (ex. crime de
calúnia). Se provar que é verdade o fato será atípico. Ele está diretamente
vinculado ao mérito e será resolvida dentro do próprio juízo criminal.

Ex. crime de lavagem de dinheiro é necessário que a origem do dinheiro seja


ilícito. Se o sujeito argui que a origem do dinheiro é lícita o fato é atípico.
Atenção! O nosso código não disciplina expressamente as prejudiciais
homogêneas, cabendo a doutrina analisar o tema. Por isso a lógica da sua
imperfeição (por isso é chamada de prejudicial imperfeita).

b) Prejudicial Heterogêneas/ Jurisdicional/ Perfeita:


É aquela que trata de matéria extrapenal permeando os demais ramos do direito.

II- Quanto à competência:

A) Prejudicial não devolutiva:


É aquela apreciada no próprio juízo criminal.
Atenção! Percebe-se que ordinariamente as prejudiciais não devolutivas
acabam sendo homogêneas (pois decididas pelo juízo criminal).

B) Prejudicial devolutiva:
É aquela que será resolvida perante outro juízo (na esfera extrapenal).
Atenção! Percebe-se que ordinariamente as prejudiciais devolutivas acabam
sendo heterogêneas (pois decididas pelo juízo extrapenal).

Assim:
Prejudicial homogênea – prejudicial não devolutiva
Prejudicial heterogênea – prejudicial devolutiva

Classificação da prejudicial devolutiva:


B.1) Prejudicial Devolutiva Absoluta (obrigatória):
Ela necessariamente será resolvida na esfera extrapenal e diz respeito ao
estado civil das pessoas (art.92, CPP)
Ex. bigamia – o juízo criminal tem que remeter para o juízo cível delibere sobre
a nulidade do 1º casamento.

Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz
repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no
juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da
inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá
a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados.

B.2) Prejudicial Devolutiva Facultativa (relativa):


É aquela que poderá ser remetida para solução na esfera extrapenal. O seu
conteúdo é matéria não penal distinta do estado civil das pessoas (art.93,
CPP)

Ex. relações de propriedade, domínio, posse.


Ex. sujeito está sendo acusado de crime de furto, mas alegou que o bem é dele.
A discussão da propriedade está ligada ao mérito, pois se a restar provado gera
atipicidade.

Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa
da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para
resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito
cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização
das outras provas de natureza urgente.
§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora
não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal
fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria
da acusação ou da defesa.
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público
intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento.

III- Quanto aos efeitos:

a) Questão prejudicial necessária (em sentido estrito):


É aquela que impõe a suspensão do processo criminal para a sua solução na
esfera extrapenal.
Atenção! A prejudicial necessária se caracteriza na discussão do estado civil
das pessoas (art.92 CPP).

b) Questão prejudicial facultativa (em sentido amplo):


Ela pode ou não importar na suspensão do processo criminal para a sua solução
na esfera extrapenal.
Atenção! A prejudicial facultativa trata de matéria não penal distinta do estado
civil das pessoas (art.93 CPP).
Conclusão: percebe-se que as prejudiciais homogêneas ordinariamente não
suspendem o processo criminal, pois serão resolvidas pelo próprio juiz penal.

IV- Quanto ao grau de influência quanto à questão prejudicada:

A) Prejudicial Total:
É aquela que reconhecida fulmina a caracterização do crime levando à
atipicidade da conduta (arts. 92 e 93 CPP)
Ex. uma vez reconhecida a nulidade do casamento no juízo cível, extirpa
totalmente a discussão do processo, levando a atipicidade.

B) Prejudicial Parcial:
É aquela que atinge as circunstâncias que permeiam o aspecto acidental da
infração sem interferir no âmago da tipificação. Ex. caracterização de causa de
aumento de pena.

Atenção! O CPP nos arts. 92 e 93 não disciplinou a prejudicial parcial revelando


a inutilidade deste enquadramento.

2.6) Sistemas de apreciação e solução das prejudiciais:

a) Sistema da Cognição Incidental (ou do predomínio da jurisdição penal):


Por ele, o juiz criminal sempre seria competente para julgar a prejudicial pouco
importa se homogêneo ou heterogêneo.

Conclusão: esse sistema enfatiza a razoável duração do processo com a


concentração da demanda na esfera penal, mas fragiliza respeito às regras de
competência material.
Atenção! Esse sistema não é adotado no Brasil.

b) Sistema da Prejudicialidade Obrigatória:


Por ele, o juiz criminal jamais teria competência para apreciar prejudicial
heterogênea, exigindo-se a remessa para a esfera extrapenal (remessa
necessária).

c) Sistema da Prejudicialidade Facultativa:


Por este sistema o juiz criminal poderá remeter ou não à prejudicial para sua
solução na esfera extrapenal.

d) Sistema Misto ou Eclético (adotado no Brasil):


Trata-se da construção de uma situação híbrida que conjuga o sistema da
prejudicialidade obrigatória com a prejudicialidade facultativa.

Conclusão: como o sistema é isto, será necessário um enquadramento. Nas


prejudiciais heterogêneas vinculadas ao estado civil das pessoas teremos uma
prejudicialidade obrigatória (art.92 CPP). Por sua vez, na prejudicialidade
heterogênea distinta do estado civil haverá verdadeira facultatividade (art. 93
CPP).

2.7) Prejudicial Obrigatória: (art.92 CPP)

a- Conceito:
Segundo Paulo Rangel, prejudicial obrigatória é aquela que diz respeito ao
estado civil das pessoas e sendo séria e fundada importa na necessária
paralização do processo criminal para a sua solução no cível.

b- Pressupostos:
b.1- Existência do crime: ela está ligada a própria existência do crime discutido
no processo penal (tipicidade).
b.2- Controvérsia deve ser séria E fundada.
b.3- Consiste na discussão do estado civil das pessoas. Obs. Estado civil é
entendido em sentido estrito: concerne a discussão do casamento, paternidade,
filiação e idade (STF HC 77.278).

c- Consequências:
c.1- deve o juiz criminal suspender o processo e a prescrição (art. 116,I, CP)
aguardando o trânsito em julgado da sentença cível que resolva a prejudicial.

c.2- produção probatória: as provas de natureza urgente podem ser produzidas


imediatamente antes ou até mesmo no transcorrer da suspensão para que não
ocorra perecimento.
c.3- atuação do MP: cabe ao promotor se o crime é de ação pública promover a
ação civil ou intervir na ação que já existe impulsionando o feito em homenagem
ao Princípio da Obrigatoriedade.

Obs.1: a atuação do MP no cível é cabível mesmo fora da sua legitimidade


ordinária.
Obs.2: se não houver curadoria cível caberá ao promotor criminal agir na órbita
extrapenal para a solução da prejudicial.

Aula 02:

2.8) Prejudicial Facultativa.


Conceito: se caracteriza pela discussão da matéria meritória distinta do estado
civil das pessoas e sendo séria e fundada, pode importar na suspensão do
processo criminal para a sua solução na esfera extrapenal.
Ex. discussão da propriedade do bem na imputação do crime de furto (art.155
CP)

Pressupostos da prejudicial facultativa:


 Caracterização: ela está diretamente vinculada à caracterização do crime
imputado na inicial acusatória e a sua procedência leva à atipicidade do
fato.
 Prejudicial quanto a matéria trata de questão distinta do estado civil das
pessoas.
 É necessário que já exista na esfera cível ação que tem como objeto a
matéria que integra a prejudicial.
Ex. sujeito é acusado de crime de furto e o réu alega ser dono do imóvel.
Suspende-se o processo no criminal se já houver uma ação cível em curso
discutindo o assunto.

 Não haverá a remessa para a esfera cível se eventualmente existir


limitação normativa a produção probatória já que no processo penal
vigora o Princípio da Liberdade na produção das provas (item 7 da
exposição de motivos do CPP c/c art.155 CPC).
Ex. se no processo cível não for possível a produção de determinada prova, o
juiz criminal deverá produzí-la incider tantum no processo criminal.

Procedimento:

O parâmetro procedimental que diferencia as prejudicias obrigatórias e


facultativas é a produção de provas.
Atenção! Deve o juiz criminal autorizar a produção das provas notadamente
“testemunhal” e as de natureza urgente para só então paralisar o processo
criminal para aguardar a solução da prejudicial.

Obs. 1: quanto à prescrição: a paralização do processo também importa na


suspensão do prazo prescricional (art. 116,I CP).
Causas impeditivas da prescrição
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência
do crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Obs.2: postura do MP: cabe a ele intervir no cível para tutelar o bom andamento
da demanda.
Se a demanda criminal foi deflagrada pelo autor, cabe o MP deflagrar a ação
cível para imprimir celeridade à ação

Obs.3: o juiz criminal definirá o tempo de suspensão do processo em que ele


aguardará que o juiz cível profira a sentença (não é necessário o trânsito em
julgado).
Superado o prazo sem a sentença, o juiz criminal poderá prorroga-lo ou retomar
o processo crime para julgar a demanda, resolvendo incidentalmente na esfera
penal a prejudicial facultativa e desse item não haverá o manto da coisa
julgada material
Ex. juiz criminal estipula prazo (prazo não vincula o juízo cível) que vai esperar
no juízo cível para proferir sentença. Se o juiz cível proferir sentença, o juiz
criminal continuar processo criminal mesmo sem trânsito em julgado.
Caso o juiz cível não profira sentença no tempo estipulado há 2 possibilidades:
a. Prorroga o prazo.
b. Juiz criminal decide mesmo sem sentença cível, mas decisão não faz
coisa julgada material – aqui corre o risco das sentenças cíveis e criminais
serem contraditórias.

Obs.4: Vinculação temática e eventual contradição de decisões.


Pouco importa se a prejudicial é obrigatória ou facultativa já que em ambos os
casos o juiz criminal está vinculado ao mérito da decisão cível
Nas prejudiciais obrigatória e facultativa, se o juiz criminal suspendeu o processo
e aguardou a sentença do processo cível, ambos estarão vinculados naquilo que
foi deliberado no cível.
Na prejudicial facultativa, havendo posterior decisão cível contraditória a
sentença penal que resolveu incidentalmente a prejudicial, ela será considerada
na fase recursal ou pode ensejar o manejo da revisão criminal (art.621 CPP).

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:


I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos
autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de
circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

2.9) Sistema recursal:


A decisão que suspende o processo em razão de uma questão prejudicial é
interlocutória, desfiando RESE (recurso em sentido estrito) – art. 581,XVI CPP.

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

A denegação da suspensão, por sua vez, é irrecorrível e as partes poderão


impetrar MS (interesse do autor) ou HC (interesse do réu), conforma o caso ou
alegar a nulidade do processo prorrogada pela não suspensão e pela má
apreciação da matéria em preliminar de futura apelação (nulidade).
2.10) Princípio da suficiência da ação penal:
Segundo Ada Pellegrini, eventualmente, a ação penal é suficiente para abranger
toda a matéria e o juiz criminal poderá resolver incidentalmente a questão
prejudicial facultativa.

Aula Online 03 – 1ª parte

Incidente de Sanidade Mental:

1. Considerações:
1.1) Conceito: é o procedimento que nos permitirá aferir a higidez mental do
agente, o que tem reflexo não só na futura sanção a ser aplicada (medida de
segurança) como também na própria gestão da persecução penal em razão da
presença do curador.

1.2) Natureza Jurídica: este procedimento se caracteriza como um típico


incidente, deflagrando um procedimento incidental sendo que o agente não
poderá se negar a submissão ao incidente por se tratar verdadeiramente de uma
questão de ordem pública.

1.3) Necessidade do Incidente: o incidente é necessário em cada persecução


penal onde seja alegada a inimputabilidade não se admitindo empréstimo do
incidente entre processos. Por outro lado, a interdição do cível é indiferente para
a esfera penal não dispensando a instauração do incidente.

2) Legitimidade do incidente processual:


Legitimidade para determinar o incidente apenas o juiz poderá fazê-lo, pois
está sob o manto da cláusula de reserva de jurisdição.

Legitimidade para provocar:


 O juiz ex officio
 MP
 Curador
 Advogado
 Ascendentes
 Descendentes
 Irmãos
 Cônjuge.
Atenção! Na fase investigativa o delegado poderá representar pela instauração
do incidente.

3) Estrutura:

1º passo: Provocação do juiz ou iniciativa do magistrado.

2º passo: Cabe ao juiz baixar Portaria.


Obs. A deliberação quanto a instauração do incidente não comporta recurso
especifico e quem se sentir prejudicado poderá impetrar HC ou MS.

3º passo: intervenção do curador.


4º passo: formação de procedimento incidental e suspensão do processo
principal.
Obs.01: havendo instauração na fase do inquérito não haverá paralização da
investigação.
Obs.02: por absoluta ausência de previsão legal o prazo prescricional
continuará fluindo normalmente.

5º passo: as partes serão admitidas a formular quesitos.

6º passo: os peritos terão 45 dias para elaborar um laudo constatando o estado


da saúde mental do agente.
Obs.1: o prazo pode ser prorrogado por deliberação do juiz e se os peritos
entenderem essencial.
Obs.2: se o perito é oficial, ele atuará monocraticamente.
Obs.3: nada impede que os peritos tenham acesso ao processo principal para
melhor instruir o exame.

7º passo: caberá ao juiz homologar o resultado da perícia.


Obs. para Guilherme Nucci, a decisão homologatória desafia apelação
(art.593,II CPP).

4) Consequências do incidente de insanidade:

4.1) Os peritos detectam que o indivíduo era inimputável à época do fato. O


processo volta a correr com a presença obrigatória do curador. Ao final há uma
absolvição impropria com aplicação de medida de segurança.

4.2) Os peritos podem concluir que o indivíduo era imputável à época do fato. O
processo volta a correr sem curador.

4.3) Os peritos concluem que à época do fato era imputável, mas ocorreu
inimputabilidade superveniente. Neste caso o processo continuará suspenso,
mas a prescrição continua correndo.
Obs.1: durante a suspensão do processo, nada impede a produção de provas
urgentes com iminente perecimento.
Obs.2: quanto a internação provisória durante a suspensão, subsistem 02
posições:
1ª posição: para Rômulo Moreira, o §1º do art.152 do CPP não tem respaldo
constitucional, afinal, estaríamos executando provisoriamente a medida de
segurança, o que afronta a presunção de inocência.
2ª posição: para Guilherme Nucci não há ofensa constitucional, afinal a
inimputabilidade exige uma medida imediata de tratamento.
§ 1o O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro
estabelecimento adequado.

4.4) Inimputabilidade na execução da pena:


Neste caso podem ocorrer 02 situações, quais sejam:
1ª situação: se o juiz da execução perceber que a inimputabilidade é transitória,
internará o agente no HCT (hospital de custódia e tratamento), mas o indivíduo
continua cumprindo pena tanto que ao final do tempo da sanção ele será
liberado mesmo sem estar recuperado (art.41 CP).
2ª situação: se o magistrado entender que a inimputabilidade é permanente
pela análise do respectivo incidente converterá a pena em medida de segurança
de forma que a liberação pressupõe que o agente esteja recuperado (art.183
da LEP).
Obs. crítica: para LFG as internações sem prazo máximo não devem ser
toleradas, devendo-se respeitar o prazo máximo de sanção previsto para o delito
praticado

EXCEÇÕES
1) Conceito:
É o procedimento incidental que corre apenso ao processo principal para não
tumultuá-lo e onde poderemos discutir a ausência das condições da ação ou
dos pressupostos processuais.

Obs.1: Exceção X Objeção:


Segundo Polastri Lima, no aspecto estrito as exceções caracterizam matéria
defensiva não cognoscível de ofício pelo juiz. Já as objeções, importam em
matéria processual que pode ser reconhecida de ofício pelo juízo (matéria de
ordem pública).

Crítica: O Art. 95 CPP, não acatou terminologicamente a distinção doutrinária já


que as exceções do código podem ser conhecidas de ofício pelo juiz, o que as
caracteriza como verdadeiras objeções.
Consequência da 2ª fase da Defensoria: a matéria ventilada no art.95 do CPP
eventualmente pode ser apresentada em uma preliminar de resposta escrita
ou de memorial já que o magistrado pode conhece-los até mesmo de ofício.

DAS EXCEÇÕES
Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de:
I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.

Obs.2: Hipóteses de Exceção: art. 95 CPP


 A exceção de suspeição/impedimento ou incompatibilidade.
 A exceção de incompetência
 A exceção de litispendência
 A exceção de coisa julgada
 A exceção de ilegitimidade de partes.

2) Classificação das Exceções:

2.1. Quanto à natureza:


 Exceção processual: ela importa na alegação de fato processual,
ausência de condição da ação ou pressuposto processual (art. 95 CPP).
 Exceção material:
 Direta: é a defesa direta do mérito pela negativa de autoria,
inexistência do fato, excludente de tipicidade, de ilicitude ou
de culpabilidade. São teses meritórias defensivas que
vão lastrear o mérito da ação.

 Indireta: é a defesa indireta do mérito caracterizada pelo


reconhecimento da extinção da punibilidade (art. 107 CP)
tendo aptidão a imutabilidade (não vcabe mais recurso)
pela coisa julgada material.

2.2. Quanto aos efeitos:


 Dilatória: é aquela que importa na procrastinação da evolução do
processo. Ex. Exceção de incompetência.

 Peremptória: é aquela que extingue o processo sem julgamento de


mérito.
Como no CPP só há exceções processuais, extingue sem julgamento de mérito.
Ex. exceção de litispendência.

Obs. Enquadramento:
 A exceção de suspeição/impedimento ou incompatibilidade. Se julgada
procedente será remetida ao substituto legal, logo é uma exceção
dilatória.
 A exceção de incompetência. É a remessa ao juiz competente - exceção
dilatória
 A exceção de litispendência - peremptória
 A exceção de coisa julgada - peremptória
 A exceção de ilegitimidade de partes – dilatória ou peremptória.
Se a ilegitimidade é “ad causam” estaremos diante da ausência
de condição da ação e o processo será extinto sem julgamento de mérito, o que
caracteriza uma exceção peremptória.
Por sua vez, se a ilegitimidade é “ad processum” estaremos
diante de pressuposto processual e os atos praticados pelo querelante menor de
18 podem ser ratificados pelo representante legal, o que caracteriza uma
exceção dilatória.

2.3) Quanto ao processamento:


 Interna: É aquela resolvida no bojo do processo principal. Eventualmente
a análise no seio do processo principal pode ocorrer afinal a matéria é de
ordem pública.
 Instrumental: é aquela que inaugura um procedimento incidental para não
tumultuar o processo principal. (regra no CPP: art., 111 e 95)

Art. 111. As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra, o andamento
da ação penal.
3) Natureza jurídica das exceções:
Dentro do código, a exceção é um procedimento incidental e a sua natureza é
de direito público subjetivo corolário do Princípio da Ampla Defesa que não se
exaure pela mera apresentação da resposta escrita.
4) Exceção de Suspeição/Impedimento/Incompatibilidade:

4.1) Conceito: é o procedimento incidental para arguir a quebra da


imparcialidade de determinada autoridade.

4.2) Distinção:

A. Suspeição:
Segundo Hélio Tornaghi, juiz suspeito é aquele que tem predileção por uma das
partes do processo, sendo que Mirabete arremata que este fator é relacionado a
um fato externo ao processo.

Obs.1: a suspeição é fato gerador de nulidade absoluta. Todavia, deve ser


arguida no 1º momento em que a parte se manifestar nos autos tendo
conhecimento da matéria, sob pena de preclusão. É portanto uma nulidade
absoluta que preclui.
Crítica: para Eugênio Pacelli, o fator preclusivo é frágil, afinal a matéria pode ser
discutida em preliminar de futura apelação ou reconhecida de ofício até mesmo
pelo tribunal.

Obs.2: Hipóteses – elas estão contempladas no art. 254 CPP de maneira


exemplificativa destacando-se os seguintes pontos:

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles (das partes);

Obs.1: A mera relação de cordialidade ou empatia não caracteriza a suspeição.


Obs.2: Este sentimento tem que partir do juiz e não da parte.
Obs.3: Se a parte injuriar o juiz para provocar-lhe ira não caberá exceção de
suspeição já que ninguém pode se valer da sua própria torpeza.
Obs.4: o sentimento de amizade ou ira para com o advogado, não foi
contemplado, o que não impede que o juiz se afaste por razões de foro
íntimo.

Outras hipóteses de suspeição (rol exemplificativo)

II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo,
sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

B) Impedimento:

B.1) Conceito: Segundo Hélio Tornaghi, juiz impedido é aquele que tem
interesse no próprio resultado da demanda e Mirabete conclui que fato gerador
é intrínseco ao próprio processo.
Obs.1: o impedimento ocasiona verdadeira inexistência do processo.
Obs.2: Hipóteses: O nosso legislador apresenta de forma taxativa as hipóteses
de impedimento, destacando-se o art. 252 CPP:

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:


I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial,
auxiliar da justiça ou perito;

Obs.1: ao lado do cônjuge, por interpretação constitucional, incluiremos o


companheiro ou companheira.

III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a
questão;

Obs.1: os despachos de mero expediente não são fato gerador de impedimento.


Obs.2: se o magistrado proferir sentença não está impedido de no futuro analisar
a admissibilidade de eventual recurso (STF, HC 94.089).
Obs.3: Se o juiz julgou determinado réu, nada impede que aprecie outro
processo contra o mesmo indivíduo. STF, HC 83.020).

Importante!!!
Determinado magistrado praticou um fato que se enquadra como crime e infração
disciplinar.
Foram instaurados um PAD e um processo criminal contra o juiz.
O Desembargador que participou do julgamento do PAD que condenou o magistrado
NÃO está impedido de também julgar o processo criminal contra esse juiz.
Essa situação não se enquadra no inciso III do art. 252 do CPP.
STF. 1ª Turma. HC 120017/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/5/2014.
Outro caso:
Determinado fato pode gerar dois processos distintos: uma ACP e uma ação penal.
O juiz que sentencia a ACP não está impedido de julgar também o processo criminal,
não se enquadrando esta situação no art. 252, III, do CPP.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.288.285-SP, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador-
convocado do TJ-PR), julgado em 27/11/2012 (Info 510).

Outro caso:
Não se verifica prejuízo na hipótese em que Ministro impedido participa de
julgamento cujo resultado é unânime, pois a subtração do voto desse magistrado
não teria a capacidade de alterar o resultado da votação.
STF. 1ª Turma. HC 116715/SE, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 5/11/2013 (Info 727).

Outras possibilidade de impedimento (rol taxativo):

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
C) Incompatibilidade:
C.1) Conceito: ela se caracteriza pela quebra da imparcialidade em razão de
um fato gerador não disciplinado em lei. É o que nos habituamos a chamar de
“suspeição por foro íntimo”.
Ex. juiz amigo íntimo de advogado.

Obs. 1: a incompatibilidade é fato gerador de nulidade absoluta com tratamento


similar ao empregado na suspeição.

Obs.2: resolução 82 do CNJ:


RESOLVE:
Art. 1º No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de primeiro grau fará essa afirmação nos
autos e, em ofício reservado, imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria local ou a órgão
diverso designado pelo seu Tribunal.
Art. 2º No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de segundo grau fará essa afirmação nos
autos e, em ofício reservado, imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria Nacional de
Justiça.
Art. 3º O órgão destinatário das informações manterá as razões em pasta própria, de forma a que o sigilo
seja preservado, sem prejuízo do acesso às afirmações para fins correcionais.
Art. 4º Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

Atenção! Por esta resolução, o juiz deveria comunicar reservadamente à


corregedoria o motivo da incompatibilidade. Apreciando MS (MS 28.215)
apresentado pela Associação Nacional dos Magistrados, o STF concedeu
liminar, já que a matéria deve ser regida por Lei Complementar e não por
resolução.

Conclusão: atualmente, segundo o STF, reconhecida pelo juiz a


incompatibilidade, devemos aplicar o art.135, p.ú, do CPC, por analogia
HC82798.

Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

5) Procedimento da Suspeição do juiz:

5.1) Declaração de ofício 97, CPP:

a. declarar de ofício por escrito nos autos.


b. suspender o processo
c. intimar as partes.
d. remessa para o substituto legal.

Obs.1: para o STJ a declaração maliciosa da suspeição somada ao dolo


específico pode caracterizar a responsabilidade criminal por prevaricação.

Obs.2: segundo Mirabete, se o substituto legal entende que o fundamento


invocado é falacioso poderá invocar conflito negativo de competência,
remetendo os autos ao tribunal, sem prejuízo da provocação da corregedoria.
Art. 97. O juiz que espontaneamente afirmar suspeição deverá fazê-lo por escrito, declarando o
motivo legal, e remeterá imediatamente o processo ao seu substituto, intimadas as partes.

Aula 03

5.2) Oposição da Exceção de Suspeição:

Obs1. Antecedência quanto às demais.


Em regra, a exceção de suspeição antecede as demais exceções, já que o juiz
parcial não deve intervir nos demais atos do processo. Ressalve-se o
desconhecimento do fato gerador pelas partes.

Obs.2: Preclusão:
Se a parte não suscita a suspeição na primeira oportunidade de manifestação
processual, operar-se-á a preclusão. Todavia, segundo Eugênio Pacelli como a
matéria é fato gerador de nulidade absoluta nada impede que ela seja ventilada
em preliminar de futura apelação como consectário do Devido Processo Legal.

Obs.3: Antecedência lógica ao processo.


Em razão do Sistema de Cautelaridade que irriga a fase investigativa, nada
impede a oposição de exceção do juiz mesmo antes de iniciado o processo.

Obs.4: Excipiente e Excepto.


Esta Exceção é oposta contra a autoridade e não contra o órgão, sendo o
opositor conhecido como excipiente e a autoridade como excepto.

 Quais são as opções do juiz?

I. Juiz Concorda

a. Arguição por escrito:


Obs.1: no júri dentro da sessão plenária a arguição é oral.
Obs.2: Legitimidade para apresentar a exceção:
 MP
 Advogado (precisa de poderes especiais)
 Assistente de acusação (vítima)

b. Autuação da Petição e suspensão do processo:


Obs.1: a petição estará acompanhada por eventuais documentos e rol de
testemunhas em nº máximo de 3 por analogia ao artigo 407, p.ú do CPC.

Parágrafo único. É lícito a cada parte oferecer, no máximo, dez testemunhas; quando qualquer das partes
oferecer mais de três testemunhas para a prova de cada fato, o juiz poderá dispensar as restantes.

c. Deliberando quanto à procedência da arguição cabe ao juiz


determinar a remessa ao seu substituto legal intimando as
partes.

Obs.: sistema recursal.


A decisão de exceção de suspeição é irrecorrível, afinal o Tribunal não teria
como reverter aquela situação jurídica revelada pelo magistrado.

II. Juiz discorda:


A) Arguição por escrito, salvo no plenário do júri.
B) Autuação em apartado.
C) Resposta do juiz em 03 juiz acompanhado pelo adequado manancial
probatório.
D) Remessa ao tribunal para decisão:
d.1. É possível que se detecte a manifesta improcedência da suspeição.
Ex. foi feito tão somente para colocar o juiz em situação dificultosa. Nesta
situação, o relator deverá rejeitar liminarmente a oposição de exceção de
suspeição.
Obs. Esta decisão desafia agravo regimental.
d.2. Se o relator entende que a arguição é plausível, razoável e relevante,
ele determinará a citação das partes (excipiente e excepto) submetendo a
oposição a julgamento.

Obs. Sistema Recursal:


Do acórdão do tribunal, admite-se eventualmente REsp e/ou RE havendo
enquadramento constitucional. Não há recurso ordinário

Obs. Suspensão do Processo:


Se as partes que atuam no processo aderem mutuamente a tese da suspeição,
o relator no tribunal, pela potencial evidência poderá paralisar o andamento do
processo principal.
(note-se que no 1º grau não há suspensão)

(Questão MPPR) Má fé.


Se o juiz sabedor do fato gerador o refuta de má fé, pagará as custas do
procedimento. Já o excipiente que refuta de má fé se submete ao pagamento
de multa.
(atualmente esta multa é inexequível, pois não houve atualização monetária dos
valores contidos no CP de 1940).

6) Exceção do MP:

6.1) Conceito:
As hipóteses de suspeição, impedimento ou incompatibilidade dos juízes são
aplicadas no que for pertinente aos membros do MP (art.258, CPP)
Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer
das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos
impedimentos dos juízes.

6.2) Procedimento:
a) Arguição por escrito
b) Notificação do Promotor ou Procurador da República.
c) Manifestação em 3 dias com a indicação probatória pertinente.
d) Decisão do juiz (irrecorrível):
o Improcedente: promotor permanece
o Procedente: Remessa ao substituto legal (art.104 CPP)

Obs. 01: Critica - O MP odeia este art.104 CPP.


Para Elmir Duclerc o art.104 é inconstitucional por violar o sistema acusatório e
o Princípio do Promotor Natural (Ellen gracie não aceitava este Princípio). Neste
caso, como solução, deve o juiz, por analogia, invocar o art.28 CPP
encaminhando os autos ao Procurador Geral.

Obs.02: A atuação do promotor comprometido subjetivamente (seja ele suspeito


ou impedido) é mera irregulariada, ademais o juiz tem total condição de afastar
os excessos (Majoritária – Hugo Nigro Mazilli).

Obs.03: O promotor eventualmente afastado poderá impetrar MS.

7) Suspeição da Autoridade Policial:


Este é um dos itens mais contraditórios do CPP.

7.1) Conceito:
De acordo com art.107 CPP, não há exceção de suspeição contra a autoridade
policial. O delegado, detectando o fato gerador, deverá se declarar suspeito.
(colocar isso em prova objetiva)
Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão
elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.

Obs. segundo Guilherme Nucci, admite-se, por analogia, a interposição de


recurso administrativo endereçado ao chefe de polícia.

8) Oposição aos serventuários, funcionários, peritos, intérpretes:

8.1) Enquadramento Normativo: Arts. 274, 279, 280 CPP

Art. 274. As prescrições sobre suspeição dos juízes estendem-se aos serventuários e funcionários da
justiça, no que Ihes for aplicável.
Art. 279. Não poderão ser peritos:
I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do art. 69 do Código
Penal;
II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da
perícia;
III - os analfabetos e os menores de 21 anos.
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.

8.2) Procedimento:

a. Arguição por escrito


b. Juiz decide de plano e sem recurso.

Obs.1: Admite-se a impetração de MS.


Obs.2: se o indivíduo parcial atuou em um processo causando prejuízo, nada
impede que eventual nulidade seja discutida em preliminar de futura apelação.
Ex. serventuário deixou de juntar documento que incriminava o réu, perícia falsa
etc.

Obs.3: Segundo a doutrina (Auri Lopes Jr.) é de bom tom que o juiz notifique o
agente para manifestação em respeito ao contraditório.

EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
1) Introdução:

1.1) Considerações iniciais:


Se o juízo é incompetente admite-se a oposição de exceção de incompetência
que aplica-se tanto a incompetência absoluta, quanto a incompetência relativa.
A diferenciação entre estas á a possibilidade do juiz opor de ofício e preclusão.

Obs.1: Enquadramento:

Competência Material pode ser:


 Ratione Materiae (Absoluta)
 Ratione Loci (Relativa)
 Ratione Personae (Absoluta)

Competência Funcional:
 Pelo Objeto do Processo (Absoluta)
 Pelos graus de Jurisdição (Absoluta)
 Fases do Processo (Absoluta)

Conclusão 01: A exceção de incompetência é cabível tanto para incompetência


absoluta quanto para incompetência relativa.

Conclusão 02: A súmula 33 do STJ, segundo o entendimento doutrinário


prevalente, não é aplicada na esfera penal e a incompetência relativa pode ser
reconhecida de ofício (Feitosa, Tourinho Filho etc. – maioria da doutrina).
Contra o entendimento majoritário, o STJ em decisão amplamente criticada
afastou a possibilidade do reconhecimento de ofício da incompetência relativa.
(HC95.722)

Súmula 33
A INCOMPETENCIA RELATIVA NÃO PODE SER DECLARADA DE OFICIO.

Atenção! A incompetência relativa deve ser arguida pelas partes no primeiro


momento de manifestação do processo e o juiz poderá declinar de ofício até
antes da absolvição sumária (art.397 CPP).

1.2) Procedimento:
a) Arguição:
A arguição de exceção de incompetência pode ser feito tanto oralmente como
por escrito.
b) Formação de autos apartados:
Para não tumultuar o andamento do processo principal.

c) Notificação da parte contrária para a manifestação.


Obs. Se a parte contrária não é o MP, ele será ouvido como custus legis.

d) Decisão:
Pode ter 2 naturezas:
a. Pela improcedência da exceção.
Neste caso, o processo permanece no mesmo juízo e a exceção é julgada pelo
próprio magistrado que preside o processo principal.

b. Pela procedência da exceção:


Neste caso, os autos serão remetidos ao juízo competente.
Obs.: de acordo com o art.567 CPP, se a incompetência é relativa, os atos
decisórios serão anulados e os instrutórios poderão ser aproveitados no juízo
competente.
Já se a incompetência é absoluta, segundo Ada Pelegrini, nenhum ato será
aproveitado perante o juízo competente.

1.3) Sistema Recursal:


Juiz reconhece ex officio a incompetência (ocorre no bojo do processo principal)
caberá RESE (recurso em sentido estrito) com base no art.581,II CPP:
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
II - que concluir pela incompetência do juízo;

Se o magistrado julga o procedimento incidental da exceção, teremos as


seguintes situações:
b.1) Procedência: cabe RESE com base no art.581,III CPP
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

b.2) Improcedência: não há recurso para impugnar aquela decisão, mas a


matéria pode ser suscitada em preliminar de futura apelação como fato gerador
de nulidade.

Atenção! Nada impede que as partes diante da improcedência impetrem de


imediato HC ou MS a depender se o interesse violado é da defesa ou da
acusação
Art.647 CPP
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

2) Exceção de Ilegitimidade:

2.1) Considerações:

Obs.Enquadramento:
 Ilegitimidade ad causam: condição da ação que é fato gerador de nulidade
absoluta.
 Ilegitimidade ad processum: Está diante de um pressuposto
processual. Trata-se de fato gerador de nulidade relativa, pois se o
representante legal ratificar os atos praticados com vício de
representação, haverá convalidação. Ex. vício da representação pode
ser ratificado.

Atenção! Ambas podem ser objeto do procedimento incidental de exceção.

2.2) Procedimento:

a) Arguição: ela pode ser:


 Oral
 Por escrito

b) Formação de autos apartados.

c) Notificação da parte contrária:


Obs. se a parte contrária não é o MP, ele deve ser ouvido como custus legis.

d) Decisão:
 Improcedência da exceção:
O processo será mantido com as mesmas partes.

 Procedência da Exceção:
Se a legitimidade é ad causam, o processo é integralmente nulo e será extinto
sem julgamento de mérito. Nada impede que a parte legítima não havendo
prescrição ou decadência, inaugure um novo processo. Ex. o crime é de
persecução pública, e a vítima entrou com a ação.

Se a ilegitimidade é ad processum, o representante legal poderá ratificar os atos


praticados salvaguardando o processo. Se ele não fizer, haverá o
reconhecimento da nulidade e extinção do feito sem julgamento de mérito. Ex:
vício de representação.

2.3) Sistema recursal:

A. Se no curso do procedimento principal o juiz analisa


a ilegitimidade de ofício podem se apresentar as
seguintes situações:
 Rejeição da Inicial Acusatória: vai caber RESE com base no art.581,I
CPP.
I - que não receber a denúncia ou a queixa;

 Se no curso do processo o juiz de ofício reconhece a nulidade por força


da ilegitimidade, caberá RESE com base no art.581,III
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

B. Julgamento da Exceção:
 Se Procedente cabe RESE (art. 581,III CPP)
 Se for julgada improcedente – não há recurso, mas a matéria pode ser
suscitada em preliminar de futura apelação como fato gerador de nulidade
ou ensejar HC ou MS.

3) Exceção de Litispendência:

3.1) Considerações Iniciais:

Conceito: Almeja-se aqui evitar o bis in idem com processos simultâneos


tratando do mesmo fato delituoso.
Obs.1: O fato gerador da litispendência como marco procedimental é o
recebimento da inicial acusatória no 2º processo independente da citação
válida.
Obs.2: Diferença dos requisitos entre processo civil e processo penal:

Processo Civil Processo Penal


Mesmas partes Mesmo acusado (interessa somente o
polo passivo)

Mesma causa de pedir Mesma imputação, pouco importando


o artigo de lei invocado na inicial
acusatória.
O réu se defende dos fatos. Havendo
esta identidade de imputação =
haverá
Mesmo Pedido Pedido genérico de aplicação de
sanção, seja ela uma pena ou uma
medida de segurança.

Atenção! O pedido adequado em toda ação penal é o pedido de sanção (e não


de condenação), pois o promotor pode pleitear absolvição imprópria do acusado,
aplicando-se neste caso medida de segurança.

Crítica: Para Jacinto Miranda Coutinho, o conceito de lide é inaplicável na esfera


penal sendo adequado falarmos em demanda já que acusação e defesa tem o
mesmo interesse, qual seja, o da justa prestação jurisdicional.

3.2) Procedimento:
a. Arguição oral ou por escrito.
b. Formação de autos apartados.
c. Oitiva da parte contrária.
Obs. se MP não for a parte contrária ele é ouvido como custus legis.

d. Juiz profere decisão pela procedência ou improcedência da exceção.


Conclusão: se o magistrado julga procedente a exceção, haverá extinção do
processo mais novo sem julgamento de mérito.
Se a decisão for pela improcedência, o processo será mantido.

3.3) Sistema recursal:


a) Se o juiz ex officio no bojo do processo principal reconhece a litispendência,
ele extinguirá o feito, sem julgamento de mérito por sentença que desafia
apelação (art.593,II CPP)
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não
previstos no Capítulo anterior; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

b) Se o juiz julga procedente a exceção, caberá RESE (art.581, III CPP)


Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

c) Havendo improcedência da exceção não cabe recurso e a matéria pode


ser suscitada em preliminar de futura apelação ou ensejar HC ou MS.

Aula 04:

4) Exceção de coisa julgada:

4.1 – Considerações:

Obs.: Diferenciação:
a) Coisa julgada meramente formal: É aquela cuja imutabilidade é adstrita
ao procedimento em que a decisão foi proferida (Imutabilidade
intrínseca).

b) Coisa julgada material: É aquela onde a imutabilidade da decisão é


projetada para fora do procedimento em que foi proferida
(Imutabilidade extrínseca).

Obs.1: A coisa julgada material pressupõe a existência de coisa julgada


formal.
Atenção! Coisa Soberanamente Julgada: é aquela extraída da definitividade
das decisões absolutórias e das decisões de extinção da punibilidade, pois
elas não admitem reversão, nem mesmo por meio da revisão criminal. Todavia,
segundo o STF a decisão de extinção da punibilidade com base em atestado de
óbito falso é inexistente, não tendo aptidão para imutabilidade.

Obs.2: Limites da coisa julgada:


i. Limites objetivos:
Eles vão permear o fato imputado ao agente na inicial acusatória, sendo que a
referência basilar é o fato principal. Os fatos periféricos analisados
perifericamente pelo juiz não ensejam coisa julgada. Ex. prejudiciais resolvidas
no cível.
Atenção! Os fatos apreciados incidentalmente pelo juiz criminal, como ocorre
nas questões prejudiciais facultativas, não são aptos a imutabilidade pela coisa
julgada material.

Conclusões:
a) Crime continuado: Nesta hipótese, se a inicial acusatória abrange
apenas uma parcela das condutas, as demais não estarão acobertadas pela
coisa julgada material, podendo ser objeto de um processo autônomo.
Segundo o STJ, caberá ao juízo das execuções promover a respectiva
adequação (unificação) da pena, após o trânsito em julgado da segunda decisão.
Ex. sujeito pratica 4 apropriações indébitas em continuidade delitiva. O sujeito
foi julgado por 3 das apropriações. Assim, a 4ª conduta pode ser objeto de um
novo processo e no juízo de execução promoverá a adequação da pena após o
trânsito em julgado da 2ª decisão.

b) Crime em concurso formal: Neste caso, se a inicial acusatória não


contempla todos os resultados lesivos, a regra é que não haverá coisa julgada
material para os resultados lesivos não contemplados. Todavia, se o magistrado
reconhece categoricamente que o fato inexistiu ou que o réu não contribuiu
para a conduta, a coisa julgada contemplará todos os resultados (art. 386, I e
IV, do CPP).

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.690,
de 2008)

c) Crimes permanentes e crimes habituais: Neste caso, uma vez


ofertada a inicial acusatória, teremos um divisor de águas e, permanecendo a
permanência ou a habitualidade, nada impede que insistência na conduta enseje
um outro processo, cabendo ao juízo das execuções promover a respectiva
unificação (STF, HC 103.171).
Ex. MP oferta inicial acusatória para crime de curandeirismo (crime habitual) e
sequestro (crime permanente) mesmo que estes estejam em curso. O atos após
o oferecimento da inicial podem ser objeto de outra ação. O juiz da execução é
que fará a adequação das penas.

ii. Limites subjetivos:


São aqueles que abrangem o imputado na relação jurídica processual.

Situações especiais:
a. Para o STF, se o réu foi denunciado como autor intelectual de um
homicídio e devidamente absolvido, nada impede uma nova denúncia pelo
mesmo homicídio agora como partícipe da execução, já que os fatos
caracterizadores da conduta são distintos.
b. Havendo concurso de pessoas, se a denúncia contempla parte dos
indivíduos, nada impede que os demais sejam denunciados em outro
processo, pois não estão contemplados na coisa julgada material inerente ao
primeiro processo.
c. Para o STF, no HC 101.131, a sentença que deve preponderar é a que
primeiro transitou em julgado, pouco importando se a segunda decisão, que
ofende a coisa julgada, traz uma sanção mais árida ou mais branda.

a. – Procedimento:
a) Arguição: pode ser oral ou por escrito.
b) Formação de autos apartados;
c) Oitiva da parte contrária:
Atenção! Se a parte contrária não for o MP ele deve ser ouvido como “custus
legis”.

d) Decisão do incidente pode ser:


 Pela procedência do incidente: Como consequência jurídica haverá a
extinção do processo principal sem julgamento de mérito.
 Pela improcedência do incidente: O processo principal, neste caso,
seguirá o seu curso regular.

b. – Sistema Recursal:

a. Juiz: Se no bojo do processo principal reconhece de ofício a prévia


existência de coisa julgada material, ele extingue o feito por sentença sem
julgamento de mérito, em decisão que desafia apelação (art. 593, II, do CPP).

b. Instauração e julgamento da exceção de coisa julgada:


 Exceção julgada procedente: Cabe RESE (inciso III, art. 581, CPP);
 Exceção julgada improcedente (curso regular): Não há recurso, sendo
que a matéria pode ser suscitada como fato gerador nulidade em preliminar de
futura apelação, sem prejuízo do imediato manejo de HC (defesa) ou de MS
(acusação).

PROCEDIMENTOS

1- Considerações Iniciais:

Obs1: Embasamento normativo:


 Lei 11.689/08;
 Lei 11.719/08.

Obs2: Enquadramento terminológico:


 Processo: É um procedimento em contraditório, enriquecido pela
relação construída entre o juiz e as partes.
 Procedimento: É uma sequência lógica de atos concatenados em lei
e destinados a uma finalidade.
 Rito: Ela deriva de ritmo e nada mais é do que a amplitude assumida
por determinado procedimento.
 Ação: Para Ada Pellegrini, ação é o direito público subjetivo,
constitucionalmente assegurado, de exigir do Estado-Juiz a aplicação da lei ao
caso concreto para solução da demanda penal. Ação = Direito
Crítica: Para Ovídio Baptista, o direito constitucionalmente assegurado é o da
justa e adequada prestação jurisdicional, ao passo que a ação é o que
fazemos para obtê-lo. Ação = Meio Para Obter Direito (Ação Exercida)

Obs.3: Classificação dos procedimentos:

Ritos:
 Ordinário;
 Sumário;
 Sumaríssimo
.
a) Procedimento comum:

b) Procedimentos especiais: Júri .

Obs.4: Escolha do rito no processo comum:

Escolha do
rito no Antes da reforma Depois da reforma
processo
comum
 Aplicado aos crimes  Aplicado aos crimes
apenados com reclusão. com pena ≥ 4 anos (igual ou
Ordinário superior), pouco importando se
de reclusão ou detenção.
 Aplicado aos crimes  Aplicado às infrações
Sumário apenados com detenção. com pena < 4 anos (inferior).
 Aplicado aos crimes com pena de até 2 anos e para as
Sumaríssimo contravenções penais (pouco importa a quantidade de pena
aplicada à contravenção). Critério híbrido!

Obs.1: O rito sumário é o “soldado de reserva” do rito sumaríssimo quando a


infração de menor potencial ofensivo, por imperativo legal, não será apreciada
no Juizado. Ocorre nas seguintes hipóteses:
 Complexidade do fato, inviabilizando o oferecimento de denúncia oral;
 Inexistência de citação por edital ou expedição por carta rogatória;
 Inaplicabilidade da Lei dos Juizados no âmbito da violência doméstica
(art. 41 da Lei 11. 340/06).

Obs2: No Estatuto do Idoso aplicamos o rito sumaríssimo aos crimes com pena
máxima de até 4 anos. Todavia, se a infração tem pena máxima superior a 2
anos, não são cabíveis os institutos benéficos da lei dos Juizados como
composição civil e transação penal (art. 94 da Lei 10. 741/03).

Obs3: Exasperação e mitigação da pena


- Havendo concurso material: as penas máximas devem ser somadas.
- Havendo causa de aumento: vamos exasperar a pena máxima da fração
máxima.
- Havendo causa de diminuição: vamos diminuir a pena máxima da fração
mínima.

Obs4: Procedimento adequado na reunião de processo (conexão/continência)


– regras:

1ª Regra: devemos analisar qual o foro prevalente pelas regras de competência


firmadas no art. 78 do CPP.
2ª Regra: nas hipóteses de concurso de crimes com rito distintos sem que se
tenha a solução normativa para o caso, deve-se adotar o rito mais amplo que
melhor acomoda o interesse das partes.
Atenção! O art. 28 da antiga Lei de Tóxicos estabelecia que o rito a ser seguido
era o da infração mais grave. Atualmente, a nova lei é omissa e, quando não
pudermos resolver com o art. 78 do CPP, vamos adotar o rito mais amplo.

2- Estrutura do Procedimento Comum de Rito Ordinário.

2.1- 1ª Etapa: Fase Postulatória:

a) Oferta da inicial acusatória: seja ela a denúncia, na ação pública, ou


queixa crime, na esfera da atuação privada.

Obs1: os seus requisitos estão capitulados no art. 41 do CPP e ela deve estar
lastreada pelos indícios de autoria e da materialidade.

Obs2: Havendo conexão entre um crime de ação pública e um crime de ação


privada, admite-se o oferecimento da denúncia e da queixa pelos respectivos
legitimados, formando-se um litisconsórcio ativo facultativo entre o MP e o
querelante em fenômeno jurídico conhecido como ação penal adesiva.
Cuidado! A ação adesiva é também estudada na ação civil “ex delicto” (art. 63
a 68 do CPP), representando um outro fenômeno, com a discussão patrimonial
dos prejuízos causados pelo crime na esfera penal.

b) Juízo de admissibilidade - pode ser:

b.1) Juízo de Admissibilidade Negativo: magistrado irá rejeitar a inicial.


Conceito: A rejeição da inicial é a decisão do juiz que renega a
instauração do processo por ausência dos respectivos requisitos legais.
Hipóteses de rejeição da inicial acusatória está prevista no art. 395. CPP.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

i. Inépcia da petição inicial:


Para o STF a inépcia se apresenta de duas maneiras, quais sejam:

Inépcia formal: é ocasionada por um defeito na própria construção da


inicial que normalmente contamina a narrativa fática.

Ex.: se caracteriza pela “denúncia genérica” e pela “imputação


alternativa”.
Denúncia genérica: é aquela que não especifica a quota de participação de
cada réu – ex.: réus do caso Carandiru: não é possível saber quem atirou.
Imputação alternativa: segundo Afrânio Silva Jardim se caracteriza quando
uma dúvida substancial autoriza o Promotor, na denúncia, imputar um só crime
a mais de uma pessoa de maneira alternativa – imputação alternativa subjetiva
– ou imputar mais de um delito a uma mesma pessoa de maneira alternativa –
imputação alternativa objetiva – ex.: “denuncio por furto ou roubo”.

Para o STF a imputação alternativa também caracteriza inépcia da inicial que


deve ser rejeitada.

Inépcia material: é a ausência de lastro probatório mínimo, dando


sustentabilidade a inicial, ou seja, a ausência de justa causa. Atualmente
tratada de maneira autônoma no inciso III, do art. 395, do CPP.

ii. Ausência dos seguintes elementos:


 Ausência de condição da ação:

Legitimidade “ad causam”


Interesse de agir
Possibilidade jurídica do pedido

 Ausência de pressuposto processual:


1°) Pressupostos de existência:
a) Demanda: veiculada a inicial acusatória;
b) Órgão jurisdicional com investidura;
c) Partes que possam estar em juízo.

2°) Pressupostos de validade:


a) Inexistência de vícios processuais;
b) Originalidade da demanda (ausência de litispendência ou de coisa
julgada).

iii. Por ausência de justa causa:


Ausência de lastro probatório mínimo dando sustentação a inicial (Afrânio Silva
Jardim). Para o STF a ausência de justa causa significa que a inicial é
temerária.

Aula 05:
(continuação do juízo negativo de admissibilidade)

Obs. rejeição da inicial X não recebimento:


Conceito: a nossa doutrina (Mogenor Bonfim) diferenciava os 2 institutos já que
a rejeição estava vinculada a hipótese de mérito ao passo que o não recebimento
a fundamentos de natureza processual.
Rejeição- mérito
Não recebimento – processual

Conclusões atuais: após a reforma promovida pela lei 11.719/08, tal distinção
perdeu o sentido, já que o art. 395 CPP apresenta apenas fundamentos
processuais e os antigos fundamentos de mérito como a atipicidade e a
extinção da punibilidade (revogação do art.43 CPP) devem ser resolvidos pela
ausência de interesse de agir (Rômulo Moreira – aplicação do art. 395,II CPP)
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Art. 43. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - o fato narrado evidentemente não constituir crime;(Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra causa;(Revogado pela Lei nº 11.719, de
2008).
III - for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição exigida pela lei para o exercício da ação
penal.(Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Nos casos do no III, a rejeição da denúncia ou queixa não obstará ao exercício da
ação penal, desde que promovida por parte legítima ou satisfeita a condição.(Revogado pela Lei nº 11.719,
de 2008).

Obs.2: Sistema recursal:


A regra é que da decisão caberá RESE contemplado no art.581, I CPP:
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
I - que não receber a denúncia ou a queixa;

Exceção: Juizados Especiais Criminais – apelação art.82 da Lei 9.099/95:


Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser
julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede
do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério
Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do
art. 65 desta Lei.
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de
acórdão.

Atenção! Segundo o STF na súmula 707 a ausência de notificação da defesa


para apresentar contrarrazões importa nulidade absoluta.

Súmula 707
CONSTITUI NULIDADE A FALTA DE INTIMAÇÃO DO DENUNCIADO PARA OFERECER CONTRA-RAZÕES AO
RECURSO INTERPOSTO DA REJEIÇÃO DA DENÚNCIA, NÃO A SUPRINDO A NOMEAÇÃO DE DEFENSOR
DATIVO.

b.2) Juízo de Admissibilidade Positivo: Recebimento da inicial acusatória:

Conceito: É o ato do juiz que demarca o início do processo em razão da


presença dos requisitos legais que embasam a inicial acusatória.

Consequência:
 Início do processo.
 O mero suspeito vira réu.
 Interrupção da prescrição.
 Fixar a prevenção.
Natureza Jurídica:
I. Doutrina: para Aury Lopes Jr. este ato se caracteriza como verdadeiro
interlocutório simples, demandando motivação.
II. STF e STJ: para os tribunais superiores o ato é feito por mero
despacho dispensando-se a motivação o que significa dizer que é
admitido o recebimento implícito da inicial.

(Questão AGU) Segundo o supremo admite-se o recebimento implícito da


denúncia (recebimento sem motivação).
R. Verdadeiro

Sistema Recursal:
Não há previsão de recurso. A defesa pode impetrar HC com a finalidade de
trancar o processo (trata-se de um despacho com força decisória segundo STF
e STJ, o que é uma criação absurda).

c) Citação:
É o ato de comunicação processual que informa ao réu que o processo começou
e o convoca a apresentar defesa.

Obs.1: finalidade informativa + convocatória.


Obs.2: circundução: é o ato pelo qual se declara a nulidade de uma citação
viciada. Atenção! Em que pese o vício ser fato gerador de nulidade absoluta ela
é convalidável nos termos do art.570 CPP.

Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o
interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argüi-
la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a
irregularidade poderá prejudicar direito da parte.

Obs.3: Regra de transição:


Antes da Lei 11.689/08 e da Lei 11/719/08 o réu era citado para ser interrogado.
Em respeito ao exercício da defesa, o interrogatório foi deslocado
topograficamente para o último ato da instrução e a citação atualmente o
convoca para apresentar resposta escrita à acusação (art. 396, e 396-A, CPP)

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a
rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito,
no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
2008).
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua
defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. (Incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o
juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei
nº 11.719, de 2008).
Situações especiais onde o interrogatório está localizado no processo:
 CPPM
 Tráfico de Drogas (57, Lei 11.343)
 Procedimentos originários dos tribunais (art.7º da Lei 8.038/90).
Filtro jurisprudencial: segundo o STF (AP528), nos procedimentos originários, o
interrogatório deve ser realocado para o último ato de instrução, respeitando-se
a ampla defesa por força do Princípio da Adequação ou da Adaptabilidade
procedimental.

Obs.4: Adaptação do CPP:


O inciso VI do Art. 352 CPP deve se adequar a nova sistemática procedimental
sendo aplicável a situações especiais em que o interrogatório ainda funciona
como primeiro ato instrutório.
Art. 352. O mandado de citação indicará:
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;

Obs.5: Efeitos da citação:


Realidade Cível Realidade Penal
Art.219 CPC Art.363 CPP A citação vai angularizar
a relação processual
A citação torna o juízo prevento O juízo se torna prevento com: (art.83)
 Recebimento da inicial e
 com a adoção de medidas
cautelares na fase do inquérito
(não é com a citação)
Induz litispendência Induz litispendência com o
recebimento da inicial e não citação
Torna litigiosa a coisa A indução de demanda se dá com o
recebimento da inicial
Interrompe a prescrição ainda quando Interrompe a prescrição com o
determinada por órgão incompetente recebimento da inicial e é necessário
que o órgão seja competente

Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do
acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Modalidades de Citação:
I. Citação Pessoal/ Real: É conhecida como a citação real realizada por
oficial de justiça.
II. Citação por Edital/ Ficta: é conhecida por citação ficta.
III. Citação por Hora Certa: é ficta.

Obs.1: Informatização da Justiça.


De acordo com o art.6º da Lei 11.419/06 não há citação pelos sistemas de
informática na esfera penal.

Obs.2: Não haverá citação por AR nem mesmo no âmbito dos juizados especiais
criminais. (os JEC admitem intimação por AR).
I) Citação Pessoal/ Real:

Conceito: é aquela cumprida por oficial de justiça que vai até o réu e promove a
leitura do mandado com a entrega da contrafé.
Obs. Situações especiais:
Pessoa Jurídica é citada por intermédio de seu representante legal.
Os inimputáveis serão citados por intermédio de seu curador.

Requisitos:
a. Extrínsecos: dizem respeito ao procedimento para concretização do ato.
Art.357 CPP.
 Leitura do Mandado com a entrega da contrafé
 Certificação do Oficial com a constatação do aceite ou da recusa do réu.

b. Intrínsecos: eles dizem respeito ao próprio mandado e estão catalogados no


art. 352 CPP.

Obs: em que pese o art. 217, CPC, a citação penal será realizada em qualquer
dia e horário respeitando-se a inviolabilidade domiciliar.

Efetivação por precatória:


Conceito: é aquela efetivada quando o imputado está em comarca distinta,
porém em local certo e sabido (art. 354 CPP).
Art. 354. A precatória indicará:
I - o juiz deprecado e o juiz deprecante;
II - a sede da jurisdição de um e de outro;
Ill - o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV - o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer.

Obs.1: Precatória Itinerante:


Caso o órgão deprecado perceba que o réu está em comarca distinta, mas em
local certo e sabido deverá de ofício promover a remessa o que revela a
itinerância (§1º, art. 355 CPP).

Art. 355. A precatória será devolvida ao juiz deprecante, independentemente de traslado, depois de
lançado o "cumpra-se" e de feita a citação por mandado do juiz deprecado.
§ 1o Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá
o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.

Obs.2: Percebendo o juízo deprecado que o réu está se escondendo, a carta


será devolvida para que se delibere quanto a efetivação da citação por hora
certa. (art.355, §2º c/c art.362 CPP)
§ 2o Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória será
imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.

Citação do Militar:
Para os militares da ativa (art. 280 CPPM) a citação se efetiva por meio dos seu
superior hierárquico (art. 358, CPP) não só por respeito a hierarquia como
também em razão da inviolabilidade do quartel (Guilherme Nucci).
Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.
Citação do Funcionário Público:
Conceito: o funcionário público será citado pessoalmente e o seu superior deve
ser informado se eventualmente o funcionário precisar se ausentar (art.359 CPP)
respeitando-se o princípio da continuidade do serviço público.

Citação do Réu Preso:


Conceito: se o réu está preso ele será citado pessoalmente (art.360 CPP).
Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

Obs.: divergência entre doutrina e jurisprudencial:


Para o STJ (HC 16.339) interpretando a súmula 351 do STF se o réu está preso
na mesma unidade federativa do juiz a citação por edital é fato gerador de
nulidade absoluta.
O mesmo não ocorre se o réu está preso em outra unidade federativa e o juiz
desconhecia este fato
Segundo a doutrina a citação pessoal do réu preso é necessária já que o juiz
não pode se eximir deste conhecimento notadamente pela atual necessidade de
registro no cadastro do CNJ. Art.289-A CPP.

Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato registro do mandado de prisão em banco de dados
mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Citação do acusado no estrangeiro:


Se o acusado está no estrangeiro em local certo e sabido, será citado por meio
de carte rogatória sendo indiferente se o crime é afiançável ou inafiançável.
Obs. Se o réu está em local incerto no estrangeiro, será citado por edital.
Obs. a citação da carta rogatória comporta na suspensão da prescrição (art. 368
CPP).

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada
das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no
art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Obs: o art. 222-A que trata das rogatórias para oitiva de testemunha não se
aplica ao ato citatório.
Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua
imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio. (Incluído pela Lei nº 11.900, de
2009)
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código.
(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

Citação em Legações estrangeiras:


Nestas hipóteses a carta rogatória não suspende o prazo prescricional. Art. 369
CPP.
Art. 369. As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas mediante
carta rogatória. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Citação por carta de ordem:


Por um critério de logística procedimental, os tribunais podem expedir carta de
ordem para que o ato citatório se realize pelo juízo atuante no local onde o
citando reside (art.9º, §1º da Lei 8.038/90)

II) Citação por edital:

Conceito: a citação por edital se caracteriza por uma citação ficta por publicação
do texto informativo judicialmente selecionado no diário oficial ou no átrio do
fórum.
Obs. segundo o STF pela sua Súmula 366, não há nulidade se a publicação não
transcreve a inicial acusatória sua obrigatória ou artigo de lei que caracteriza o
delito.
Obs. Não há citação editalícia nos juizados especiais criminais.
Hipóteses que autorizam a citação por edital:
 Acusado em local incerto e não sabido
Atenção! Para o STF a citação por edital é considerada a última ratio e o
magistrado deve esgotar as diligências na expectativa de encontrar o agente.
HC 88 548.

 Acusado em local inacessível:


Obs: com a expressa revogação do inciso I do art. 363 CPP (Lei 11.719/08) se
o acusado está em local inacessível, será citado por edital por analogia ao
art.231, II, CPC.

Se o réu está se escondendo para não ser citado pessoalmente. Atualmente, em


razão da Lei 11.719/08 esta modalidade enseja a citação por hora certa.

III) Citação por Hora Certa:


Conceito: nela se constata a má fé do réu que está se escondendo para não
ser citado pessoalmente e o modus operandi é o mesmo do CPC arts. 227 a 229
CPC. Trata-se de mais uma modalidade de citação ficta.
Obs.: regra de transição.
Antes de 2008 o réu de má fé era citado por edital com a suspensão do processo
e da prescrição (art. 366 CPP).
Atualmente por força do art.362 CPP o réu de má fé é citado por hora certa e se
não se manifestar é declarado revel com a nomeação de advogado dativo.

Requisitos:
 Comparecimento do oficial por 3 vezes no endereço designado na inicial.
 Suspeita de ocultação do réu para não ser citado.

d. Apresentação da resposta escrita a acusação:

Conceito: É a peça que vai resistir aos termos da inicial acusatória trazendo
todos os argumentos fáticos e jurídicos dentro da estratégia defensiva
alimentando assim a esperança de que o mérito da causa seja julgado
antecipadamente por meio da absolvição sumária (art. 396 e 396-A, CPP)
Capacidade postulatória: esta peça deve ser subscrita por advogado sob pena
de nulidade absoluta do processo (súmula 523 STF).

Prazo: 10 dias contados da efetivação da citação.


Obs. Segundo o STF, na súmula 710 é indiferente a data da juntada aos autos
do mandado cumprido.

Conteúdo:
Projeção vertical: a defesa pode optar por uma peça profunda com
apontamento doutrinário e jurisprudencial ou por uma peça rasa a depender da
respectiva estratégia (se o juiz não costuma julgar antecipadamente o mérito é
melhor apresentar uma peça rasa).

Projeção Horizontal: abrangência. Ela pode conter:


 Preliminares:
 processuais (art.564 CPP)
 mérito (art.107 CP)

 Mérito Principal podem ser trazidas todas as teses de fato e


de direito que justificam a absolvição sumária (art.397 CPP)

 Princípio da Eventualidade já podem ser requeridas


diligências e sob pena de preclusão o rol de testemunhas.

Rol de testemunhas: no procedimento comum ordinário há 8 testemunhas.

Atenção! Caso a defesa invoque as exceções (art. 95 do CPP) elas deverão


compor uma peça separada á que inauguram um procedimento incidental (MP,
Magis, Delegado).
Já na construção da peça no concurso da defensoria, as exceções podem ser
apresentadas como fato gerador de nulidade na preliminar da própria resposta
escrita.

Obrigatoriedade: esta peça é necessária ao processo sendo uma verdadeira


condição de prosseguibilidade e as consequências da não apresentação
dependem do tipo de citação.

Aula online 01:

Ausência da resposta a acusação - hipóteses de citação:


 Pessoal: neste caso o réu será declarado revel com a nomeação de
advogado dativo para apresentar a resposta com a respectiva devolução
do prazo.
Obs. na esfera penal o réu revel não mais será intimado pessoalmente para os
atos subsequentes do processo, salvo a sentença condenatória ou
absolutória imprópria. Todavia, como a defesa técnica é obrigatória, o
advogado continuará sendo intimado (art. 367 CPP).
Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para
qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não
comunicar o novo endereço ao juízo. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)
 Citação por hora certa: neste caso, ele será declarado revel nomeando-
se advogado dativo para apresentação da resposta com a respectiva
devolução do prazo. (p.ú. do art. 362 do CPP)
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e
procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei n o 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á
nomeado defensor dativo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

 Edital:
Obs.: regra de transição:
Antes da Lei 9271/96 Após a Lei 9271/96
Se o réu citado por edital não se Se o réu citado por edital não se
defendesse era decretada a revelia e defendesse, o juiz irá suspender o
o processo seguia com a nomeação processo e suspender a prescrição.
de advogado dativo.
Art. 366. O processo seguirá à revelia do acusado Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não
que, citado inicialmente ou intimado para qualquer ato do comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
processo, deixar de comparecer sem motivo justificado. o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o
juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no
art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Obs.1: Direito Intertemporal.


De acordo com o STF, a norma contida no art. 366 tem caractere híbrido,
pois aborda o aspecto processual (suspensão do processo) e o aspecto material
(suspensão da prescrição). Como o aspecto material é maléfico, ela não se
aplica aos crimes ocorridos antes da sua entrada em vigor (HC83.864).

Obs.2: Aplicação do Art.366 CPP na Justiça Militar.


De acordo com o art.412 CPPM havendo citação por edital e omissão da defesa
será declarada a revelia sendo inaplicável o art.366 CPP para que não ocorra
interpretação in malan partem.

Obs.3: Lavagem de Capitais.


De acordo com o art.2º, §2º da Lei 9.613/98 se o réu citado por edital não se
defende será declarado revel nomeando-se um advogado dativo.

Obs.4: Tempo de Suspensão.


1ª posição: segundo o STJ na sua Súmula 415 ocorrendo citação por edital e
omissão defensiva, deve o juiz suspender o processo e a prescrição pelo tempo
abstratamente fixado para o delito prescrever (art.109 CP). Superado este prazo
e mantida a ausência o processo permanecerá suspenso, mas a prescrição
passa a contar. (Majoritária, prevalece no concurso).

Súmula 415
O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.

Ex. Crime de Homicídio – prescrição em 20 anos.

1 ano Int. presc. 1 mês p/


verificar ausência 19a + 11 m 19a+11m

Fato Recebimento citação por fim da fim da


da denúncia edital suspensão prescrição

Total: 39 anos e 10 meses para prescrever o crime de homicídio.

2ª posição: para o STF deve o juiz suspender o processo e a prescrição até o


réu comparecer, sendo um evento futuro e incerto e que não se confunde com a
imprescritibilidade incidental (minoritária).

Obs.5: Decretação da preventiva.


No transcurso da suspensão, a prisão preventiva só é cabível se presentes os
requisitos dos arts. 312 e 313 CPP, não se admitindo a sua automática
decretação.

Obs.6: Produção antecipada de provas.


Segundo o STJ na súmula 455 a produção probatória durante a suspensão se
justifica pelo efetivo risco de perecimento e não pelo mero decurso do tempo.
Súmula 455
A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser
concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.

Obs.7: Comparativo de institutos. (tabela para revisão)


Resposta
Comparativo Extinta Defesa Defesa Preliminar escrita a
Prévia acusação
 Lei de tóxicos
Estava na antiga  Procedimento
Previsão redação do art.395 originário dos Art.396 e 396-A
Tribunais
Legal CPP que foi  Juizados Especiais (é CPP
alterada pela lei oral).
11.719/08.  Nos Crimes
Funcionais praticados
por servidor público.
Prazo 3 dias após o 10 a 15 dias a 10 dias contados
interrogatório do depender do da respectiva
réu. procedimento. citação.
Momento Após o É apresentada entre Após a citação
interrogatório. o oferecimento e o sendo que a
recebimento da denúncia já foi
inicial acusatória. recebida.
Capacidade Na antiga defesa A capacidade A capacidade
Postulatória prévia, a postulatória é postulatória é
capacidade exigida. exigida.
postulatória era
dispensada.
Finalidade Requerer Convencer o juiz que Convencer o juiz
diligências e a inicial acusatória quanto a
arrolar deve ser rejeitada necessidade de
testemunhas. evitando o início de absolvição
um processo sumária e pelo
temerário. Princípio da
eventualidade
requerer
diligências e
arrolar
testemunhas.

Obs.8: em respeito ao Princípio do Contraditório, parte da doutrina (Gustavo


Badaró) defende a coerência da abertura de vistas à acusação para que se
manifeste sobre os termos da resposta escrita em analogia ao art.409 CPP.

Art. 514 CPP- defesa preliminar


Se o acusado, à época do oferecimento da denúncia, não era mais funcionário público,
não terá direito à defesa preliminar de que trata o art. 514 do CPP.
STF. Plenário. AP 465/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/4/2014.

2.2- 2ª Etapa: Fase Intermediária:


Se caracteriza pelo julgamento antecipado do mérito.

a) Julgamento antecipado do mérito:


Se dá com a sentença absolutória sumária.
Conceito: sentença absolutória sumária é a decisão apta a imutabilidade pela
coisa julgada material que antecipa o mérito inocentando o réu sem a
necessidade da realização de audiência de instrução e julgamento.

Hipóteses da sentença antecipada do mérito: elas serão observadas em uma


análise de certeza, ou seja, se o juiz estiver na dúvida o juiz marcará a AIJ.
Esta situação de certeza são extraídas do art. 397 CPP.

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

I) Excludente da tipicidade formal ou material.


A atipicidade material remete ao Princípio da Insignificância.

II) Excludente de ilicitude.


Inclui as previstas na parte geral (art.23 CP) e na parte especial do CP.

III) Excludentes de culpabilidade:


Obs. a inimputabilidade não autoriza a absolvição sumária no procedimento
comum, pois anteciparia a imposição de sanção (medida de segurança), o que
não é favorável à defesa. O mesmo não ocorre na absolvição sumária cabível
ao final da 1ª fase do júri. Art.415 CPP.
Assim, no júri é possível a absolvição sumária imprópria do inimputável quando
for a única tese defensiva, ao passo que não será possível a absolvição sumária
em procedimento comum pela tese da inimputabilidade.

Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação dada pela Lei
nº 11.689, de 2008)
I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – o fato não constituir infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

IV) Extinção da Punibilidade: (art. 107 CP)

Crítica: a nossa doutrina se insurge quanto a colocação desta hipótese como


fundamento de absolvição, afinal a extinção da punibilidade é cognoscível à
qualquer tempo e não reconhece a inocência do agente, mas tão somente a
impossibilidade de punição. (Súmula 18 STJ c/c art. 61 CPP)

OBS: o art. 397 admite interpretação extensiva de modo a incluir como


fundamento da absolvição sumária no procedimento comum a negativa de
autoria e a inexistência do fato como ocorre na absolvição sumária do júri.

Sistema Recursal da Absolvição Sumária:


 Regra:
Da decisão que absolve sumariamente caberá apelação sem efeito
suspensivo (art. 593,I CPP) o que significa dizer que se o réu estava preso será
imediatamente libertado.
Atenção! A doutrina defende o manejo do MS para trazer efeito suspensivo ao
recurso evitando a imediata soltura do réu.
A decisão que denegar a absolvição sumária importa na marcação da audiência
de instrução e julgamento. Este ato é irrecorrível e a defesa poderá impetrar
HC com a finalidade de trancar o processo.

 Exceção:
Decisão que declara ou denega a extinção da punibilidade caberá RESE de
acordo com o VIII, IX do art.581 CPP.
Conclusão: é o que chamamos de decisão “pro et contra” no processo penal,
pois ela é cabível tanto na concessão quanto na denegação da absolvição
sumária.

2.3- 3ª Etapa: Etapa de Realização da Audiência de Instrução / Debates/


Julgamento:

OBS.1: Prazo de 60 dias, pouco importa se o réu está preso ou solto. (art. 400
CPP)
Conclusões:
a. o prazo é impróprio, todavia o excesso desmedido ocasiona a ilegalidade
da prisão que deve ser relaxada.

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta)
dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em
seguida, o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

b. Em que pese a omissão do art.400 CPP quanto ao marco inicial


deveremos considerar o recebimento da inicial acusatória (trata-se de
uma analogia à Lei de Tóxicos).

OBS.2: Suspensão condicional do processo.


Havendo nos autos eventual proposta ou requerimento de suspensão
condicional do processo é recomendável que seja marcada uma audiência
preliminar para aferição da proposta e de eventual aceitação (art. 89 da Lei
9.099/95).

OBS.3: indeferimento probatório.


Conceito: é possível que o magistrado venha a indeferir as provas
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
Atenção! Se o magistrado autoriza uma prova que deveria ser denegada
caberá correição parcial já que ele está tumultuando o andamento do
procedimento. Por sua vez, se o juiz por equívoco denega uma prova que deveria
ser produzida este ato é fato gerador de nulidade absoluta, pois a prova é uma
decorrência lógica do exercício da ação e do direito de defesa. Logo, a matéria
pode ser invocada em preliminar de futura apelação.

OBS.4: Estrutura da audiência:

INSTRUÇÃO - Organização da produção probatória:


a. Oitiva do Ofendido:
Obs.: ausência injustificada do ofendido na audiência caberá condução
coercitiva sendo que se o crime é de ação privada haverá perempção (art.60
CPP).
Obs.: no fórum será reservado um espaço ao ofendido evitando o contato direto
com o réu e com as pessoas a ele ligadas (§4º do art. 201 CPP).
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para o
ofendido. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

b. Oitiva das testemunhas:


De acusação: 8 testemunhas
De defesa: 8 testemunhas.
Obs. inversão da ordem: segundo o STF ela pode gerar nulidade relativa se ficar
demonstrado o prejuízo.

c. Interpelação do perito e assistente técnico


d. Acareações
e. Reconhecimento de pessoas e de objetos.
f. Interrogatório do réu.

A instrução probatória se inicia com a oitiva do ofendido e termina com o


interrogatório do réu. São ao todo 6 atos.
Obs.: Admite-se ao final da AIJ que o MP, assistente de acusação ou que o
advogado requeiram diligências cuja necessidade é extraída da própria instrução
cabendo ao juiz deliberar quanto a sua produção ou não. Art.402 CPP.

DEBATES ORAIS:
A acusação desfruta de 20 minutos prorrogáveis por + 10 minutos, se o juiz
permitir.
Obs. Assistente de acusação: fala por 10 minutos improrrogáveis.
O tempo do assistente será acrescido ao tempo primário de fala do advogado.

Após isso, a defesa desfruta de 20 minutos prorrogáveis por + 10 minutos, se o


juiz permitir.

JULGAMENTO COM A PROLAÇÃO DE SENTENÇA: (art.386 ou 387 CPP)

Base principiológica:
A. Princípio da Oralidade:
Conceito: atualmente a reforma do procedimento comum ordinário nos permite
dizer que a oralidade permeia substancialmente a sua estrutura com o
predomínio da palavra falada como já ocorria nos juizados e no plenário do júri.

Princípios decorrentes da oralidade (subprincípios):


 Princípio da Concentração: por ele os atos instrutórios devem ser
reunidos em audiência una que pode ser desmembrada se for necessária.
 Princípio da Imediatidade: por ele as provas serão produzidas
imediatamente perante o juiz.
 Princípio da Identidade Física do Juiz: o magistrado que presidir a
instrução deverá proferir a sentença (art.399 §2º CPP).

§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Obs. a identidade física encontra verdadeira mitigação no art. 132 CPC e convive
harmonicamente com a produção probatória por precatório ou por vídeo
conferência. STJ HC 135.456.
Obs. de acordo com o art.3º, III da Lei 8.038/90 em razão da alteração legislativa
promovida pela lei 12.019/09 os tribunais poderão convocar magistrados que
terão competência para instruir as ações originárias e esta previsão deve ser
acomodada com o Princípio da Identidade Física funcionando como verdadeira
mitigação.

Atenção! Hipóteses de mitigação ao Princípio da Oralidade com a substituição


dos debates orais por memoriais (por decisão do juiz):
 Pluralidade de réus (bastam 2 ou mais).
 Complexidade da causa.
 Requerimento de diligência probatória ao final da instrução.
 Interrogatório por precatória.
 Para o STJ se as partes acordarem os debates orais podem ser
substituídos por memoriais mesmo fora das hipóteses legalmente
disciplinadas.
Obs.: Procedimento da apresentação dos memoriais:
 Juiz vai sobrestar a audiência após o interrogatório.
 Juiz notificará a acusação para apresentar memoriais em 5 dias.
 Juiz notificará a defesa para apresentar os memorias defensivos também
em 5 dias. Atenção! O prazo aqui não é comum com a acusação.
 Os autos são conclusos ao juiz para proferir sentença em 10 dias
prorrogáveis por mais 10 dias.

Obs. Estrutura do memorial:

Acusação (MP) Defesa


Podem ser suscitadas preliminares: Podem ser suscitadas preliminares:
 processuais (art.564 CPP)  processuais (art.564 CPP)
 mérito (art.107 CP)  mérito (art.107 CP)
Ex. no memorial pode haver extinção
de punibilidade por um crime e pelo
outro atacar o mérito.
Mérito principal: Mérito principal:
 Pedido de condenação  Memorial defensivo há um
tomando por base o (art.387 CPP). pedido de absolvição (art.386 CPP).
 Pedido de absolvição  Pedido de absolvição
imprópria. imprópria.

(a qualificadora e causa de aumento Mérito acidental:


já foram pleiteadas na denúncia).  Pedido de afastamento de
qualificadoras.
 Pedido de afastamento de
causas de aumento.
 Pedido de reconhecimento de
causas de diminuição.
 Pedido de desclassificação do
delito.

Obs. Obrigatoriedades dos memoriais:


Conceito: o entendimento prevalente é o da obrigatoriedade da apresentação
dos memoriais e a omissão traz consequências jurídicas distintas a depender do
tipo de ação e de quem é o omitente.

a. Omissão do MP: como a ação pública é indisponível deve o juiz invocar o


art.28 CPP remetendo os autos ao procurador geral.

b. Omissão do assistente de acusação: é uma mera irregularidade não


havendo impacto jurídico.

c. Omissão do querelante: em regra, ela ocasiona a perempção e a


consequente extinção da punibilidade (art.60,III CPP).
Todavia, na ação privada subsidiária da pública se o querelante for omisso ele
será afastado e o promotor retoma o feito como parte principal (art.29 CPP).

d. Omissão do advogado de defesa: se ele é constituído deve o juiz notificar


o réu para que contrate outro. Se o réu se omitir será nomeado advogado dativo.
Se o advogado já era dativo, será nomeado um novo advogado.
Atenção! Nas 2 situações nada impede eventual sanção ao advogado e ofício
ao conselho de ética da OAB.

Aula 06

TRIBUNAL DO JÚRI

1- Considerações:
1.1- Origem Mundial:
Magna Carta 1215 + Revolução Francesa (1789).

1.2- Origem no Brasil:


Surgiu em 1822 para julgar crimes praticados pela imprensa.
Em 1824 o Júri ganhou assento constitucional na Constituição Imperial.
Em todas as constituições republicanas o júri foi tratado, salvo na de 1937
(Estado Novo – Ditadura – Getúlio Vargas).
Atualmente na CF/88, o júri está tratado no art. 5°, XXXVIII. Ele ganhou
status de cláusula pétrea, já que ele integra o capítulo dos direitos e garantias
fundamentais.
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

O júri deve ser interpretado como tendo uma acepção dúplice, qual seja:
a) Direito fundamental: De integrar a administração da justiça na condição
de jurado.
b) Garantia fundamental: De julgamento por pessoas comuns do povo,
quando da prática de um crime doloso contra a vida.

Obs.: essa acepção dúplice é adotada por Guilherme Nucci.


Em que pese o seu tratamento no art. 5° da CF, é amplamente majoritário
o entendimento de que o júri é órgão integrante do poder judiciário.

2- Princípios constitucionais específicos do júri:

Temos quatro princípios constitucionais específicos que estão concentrados


no art. 5°, XXXVIII, da CF.
a) Princípio da plenitude de defesa:
Conceito: Segundo Paulo Rangel, como jurados são juízes leigos, além dos
argumentos técnicos podem ser utilizados argumentos metajurídicos para a
adequada valoração.
Atenção! No júri ganham destaque os laudadores ou testemunhas de
beatificação que são convocados a depor sobre os antecedentes do réu para
sensibilizar os jurados.

Obs.: Enquadramento:
I- Plenitude de defesa técnica: A atuação de advogado é necessária sob pena
de nulidade absoluta (Súmula 523 do STF). Se o juiz perceber que o réu está
indefeso, pela inconsistência técnica do advogado, deve dissolver o Conselho,
remarcando a sessão com a nomeação de outro advogado (art. 497, V, do CPP).
II- Plenitude de autodefesa: Se o réu, no interrogatório, apresentar a sua versão,
ela deverá ser apresentada aos jurados mesmo que contrária à tese do
advogado.

b) Princípio do sigilo das votações:

Conceito: Para que não ocorra ingerência externa no convencimento e no voto


do jurado, o sigilo deve ser analisado com dois enfoques, quais sejam:
 Sigilo de ambiente.
 Sigilo quanto ao procedimento.

Sigilo de ambiente: Ele se materializa por meio da “sala secreta” (“sala


especial”) onde os quesitos serão votados e ninguém que possa intimidar o
jurado terá acesso, sob pena de nulidade absoluta.

Obs1: Pessoas envolvidas - Os que têm acesso à esta sala são: juiz, jurados,
acusação (MP e querelante), advogados (defesa e acusação); escrivão, oficial
de justiça.
Obs2: Réu advogando em causa própria - neste caso ele teria acesso à sala.
Obs3: Nos fóruns com estrutura mais humilde, o plenário pode ser esvaziado e
transformado em sala secreta (art. 485, do CPP) que é compatível com o art. 5°,
LX da CF c/c art. 93, IX da CF.

Sigilo quanto ao procedimento: Dá-se de duas maneiras, quais sejam:

1° aspecto: Incomunicabilidade - os jurados não podem conversar entre si


ou com terceiros sobre o fato objeto do julgamento, sob pena de nulidade
absoluta (art. 564, III, “J” do CPP). Ao conversarem sobre amenidades serão
fiscalizados pelo escrivão ou pelo oficial de justiça.
2° aspecto: Sigilo do voto - Os jurados votam os quesitos de forma
impessoal, por meio de uma cédula opaca que não o identifica. Atualmente,
seguindo a proposta de Ruy Barbosa para aproximar o Júri brasileiro ainda mais
do Júri francês, está vedada a unanimidade e com quatro votos em determinado
sentido, é obtida a maioria e o quesito estará suficientemente julgado (art. 483,
§1°, do CPP).
c) Princípio da soberania dos veredictos:

Conceito: Em respeito à vontade popular no julgamento do júri, reconhecemos


que os demais órgãos do judiciário não poderão subverter o mérito da decisão
dos jurados.

Obs.: Mitigações à soberania dos veredictos:


 Apelação da sentença emanada do Júri: Se os jurados julgarem de
forma manifestamente contrária à prova dos autos, caberá apelação. E se o
Tribunal a julgar procedente, deverá caçar o julgamento, mandando o réu para
novo um júri com outros jurados. Este fundamento só poderá ser invocado uma
única vez, pouco importa quem apelar primeiro (art. 593, III, “d” c/c §3° do CPP).

Obs1: De acordo com a Súmula 713 do STF, o recurso de apelação no Júri está
adstrito a uma das hipóteses do art. 593, III do CPP.
Súmula 713
O EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO CONTRA DECISÕES DO JÚRI É ADSTRITO AOS FUNDAMENTOS DA
SUA INTERPOSIÇÃO.

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. (Redação dada pela Lei nº
263, de 23.2.1948)
§ 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados
aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
§ 2o Interposta a apelação com fundamento no n o III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der
provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. (Incluído pela Lei nº 263, de
23.2.1948)
§ 3o Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a
decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o
réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. (Incluído pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)
§ 4o Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que
somente de parte da decisão se recorra. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

Obs2: Segundo o STF, na Súmula 206, no novo julgamento não poderão


participar jurados que integraram o primeiro júri, sob pena de nulidade absoluta.
Súmula 206
É NULO O JULGAMENTO ULTERIOR PELO JÚRI COM A PARTICIPAÇÃO DE JURADO QUE FUNCIONOU EM
JULGAMENTO ANTERIOR DO MESMO PROCESSO.

Obs3: Juízo rescindente - nele o Tribunal vai cassar a decisão sem proferir um
acórdão substitutivo.
 Ação de revisão criminal (art. 621, CPP): Se o réu está diante de uma
decisão condenatória ou absolutória imprópria emanada do Júri e já transitada
em julgado, na revisão criminal ele poderá de imediato ser absolvido
propriamente, mitigando-se a soberania em prol do status de inocência.

Conclusão: Este acórdão, que julga procedente a revisão criminal, possui juízo
rescindente já que vai cassar a sentença injusta e possui também juízo
rescisório, já que o Tribunal ao julgar a revisão criminal vai proferir um acórdão
substituindo a decisão impugnada para de pronto absolver o réu.

d) Princípio da competência mínima para julgamento dos crimes


dolosos (tentados e consumados) contra a vida:

Obs1: Ao contrário do ocorrido em Portugal, onde a Constituição não afirma


a competência mínima do Júri, relegando a matéria ao legislador ordinário, no
Brasil o constituinte foi precavido, elegendo ao status de cláusula pétrea a
competência mínima para julgar os crimes dolosos contra a vida (competência
mínima do Júri para julgar os crimes compreendidos nos arts. 121 a 128 da CP).
Obs2: Havendo interesse político, o legislador ordinário poderá ampliar a
competência do Júri que não pode, contudo, ser reduzida nem mesmo por
emenda à Constituição (porque é cláusula pétrea!).
Obs3: Crimes conexos - Além dos dolosos contra a vida, o Júri vai julgar
todas as infrações comuns conexas (art. 78, I do CPP -> estabelece o que
chamamos de “vis atrativa”).
Atenção: Ressalvem-se os crimes militares e os eleitorais que se forem
conexos a um doloso contra a vida, impõe-se a separação de processos.

Obs4: Conexão com infração de menor potencial ofensivo - Neste


caso, a infração de menor potencial vai a Júri. Segundo LFG, antes da denúncia
ser recebida deve ser marcada uma audiência preliminar para oferta de
composição civil e transação penal, nos termos do § único, do art. 60 da Lei
9099/95.

Obs5: Situações especiais, nas quais a morte pode ocorrer, mas o fato não
será julgado pelo Júri:
 Latrocínio (art. 157, §3° do CP): Trata-se de crime contra o patrimônio
e não crime doloso contra a vida. Por isso, não vai a Júri (Súmula 603 do
STF).
 Genocídio (Lei 2.889/56): Segundo o STF e STJ, o genocídio não vai a
Júri, pois é crime contra a humanidade e não crime doloso contra a vida.

Atenção: Se a conduta genocida ocasiona a morte, existe forte corrente


doutrinária enquadrando a hipótese como concurso formal impróprio entre o
homicídio e o genocídio e a denúncia deve ser apresentada na Vara do Júri, em
razão da força atrativa (art. 78, I c/c 77 do CPP).

 Ato infracional: Se o menor mata alguém, será julgado na Vara da


Infância e da Juventude (art. 103, do ECA – Lei 8.069/90).
 Foro por prerrogativa de função previsto na CF: Se o foro por
prerrogativa for estabelecido pela CF, a autoridade não vai a Júri. O mesmo não
ocorre se a prerrogativa é estabelecida APENAS na CE (Súmula 721, STF).

Súmula 721
A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO POR
PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.

 Militar das forças armadas mata militar das forças armadas ambos
na ativa: Ele será julgado na Justiça Militar Federal (art. 9°, II, “a”, do CPM).
 Militar estadual mata outro militar estadual ambos na ativa: A
competência é da Justiça Militar Estadual (art. 9°, II, “a” do CPM).
 Civil mata militar das Forças Armadas em serviço e em lugar sujeito
a jurisdição militar: O civil será julgado na Justiça Militar Federal (art. 9°, II, “b”,
CPM).
 Civil mata militar estadual (pouco importa se em serviço ou em local
sujeito a jurisdição militar): Ele será julgado no Júri, já que a Justiça Militar
Estadual NÃO julga pessoas comuns (art. 125, §4° da CF).
 Crime político de matar o Presidente (art. 29, Lei 7170/83):
- da República;
- do Senado;
- da Câmara dos Deputados
- do STF:
Este indivíduo será julgado perante o juiz federal de 1° grau (art. 109, IV, da
CF). Desta sentença, condenatória ou absolutória, cabe Recurso Ordinário
Constitucional (ROC) para o Supremo (art. 102, II, “b”, da CF).
 Tiro de abate: De acordo com o art. 9°, § único do CPM, inserido pela lei
12432/11, nas hipóteses de tiro de abate de aeronave no combate ao
tráfico de drogas, a competência será da Justiça Militar Federal.

Obs6: Crime doloso contra a vida praticado por militar contra pessoa
comum - Com a alteração do art. 9°, do CPM em 1996 e com a EC 45/04
reconhecemos que o militar nesta hipótese será levado a Júri, pois não mais se
trata de uma infração militar e sim de uma infração comum.
Advertência: Regra interpretativa – Segundo Aury Lopes Jr. a Emenda 45/04 só
alterou o art. 125, §4° da CF, tratando dos militares estaduais. Logo, se um militar
federal mata dolosamente um civil, ele será julgado na Justiça Militar Federal
(Esse posicionamento foi o gabarito da prova do DPU – Nestor discorda
radicalmente do mesmo!).

3- Características do júri:

Obs.: Composição do Tribunal do Júri:


 1 juiz presidente;
 25 jurados, dos quais 7 serão sorteados para compor o Conselho de
sentença.
a) Tribunal heterogêneo: composto por um juiz togado e 25 juízes leigos.

Obs.: Classificação das decisões judiciais, quanto à composição do Órgão


Prolator:
I- Decisões subjetivamente simples: são aquelas proferidas por um
órgão monocrático.
II- Decisões subjetivamente plúrimas: são aquelas proferidas por um
órgão colegiado homogêneo.
III- Decisões subjetivamente complexas: são aquelas emanadas de um
órgão colegiado heterogêneo. Ex.: tribunal do Júri.

Aula 07
b) O júri é um tribunal horizontal:
Não há hierarquia entre o juiz presidente e os jurados.

Obs.1: Classificação da competência funcional: no júri há a competência


funcional pelo objeto do juízo. Segundo Mirabete na sessão plenária,
funcionalmente os jurados analisam os fatos promovendo o respectivo veredito.
Já o juiz presidente profere a sentença com a respectiva aplicação da lei sem
que haja hierarquia entre eles.

c) Temporário:
Conceito: o júri é idealizado para funcionar por determinados períodos do ano.
Estes períodos serão demarcados na respectiva lei de organização judiciária.
Obs.: enquadramento terminológico.
i. Reunião do júri: reunião são os meses do ano no qual o júri vai atuar.
Ex. em cidade do interior de Alagoas para cada mês de reunião do júri haviam 2
meses de abstenção.

ii. Sessão: é o ato solene em que o processo será submetido a


julgamento.

d) O júri é um tribunal que vota por maioria:


O júri vota por maioria, vedada a unanimidade, pois o sigilo deve ser preservado.
Assim, com 4 votos em determinado sentido o quesito estará suficientemente
julgado, estando vedada a unanimidade.
A partir do
cumprimento do
mandado ou
compareciment
o em juízo do
acusado ou
defensor
(citação
inválida ou
por edital)

4- Procedimento do Júri: (tabela para revisão)

O procedimento do júri segue um rito especial escalonado ou especial,


contendo 02 fases:

1ª fase: “judicium accusationis” (ou sumário da culpa). Trata-se de uma fase de


filtro, pois caberá ao poder judiciário a palavra final quanto a remessa do réu ou
não ao corpo de jurados.
Atenção! A lei de organização judiciária definirá perante que juízo tramitará a
primeira fase do júri.
Ex. em Salvador, havendo homicídio de criança ou adolescente a primeira fase
tramita na vara da infância e da juventude.
2ª fase: “judicium causae” (ou fase de julgamento). Nesta fase há o julgamento
perante os jurados.
Obs. esta fase tramita na vara especializada do júri.

I) “Judicium accusationis” (ou sumário da culpa).


Se aproxima muito ao procedimento comum ordinário.

1º passo: oferta da inicial acusatória, seja ela a denúncia ou a queixa-crime.


Obs.1: os requisitos da inicial estão encampados no art. 41 CPP.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Obs.2: a queixa crime perante o procedimento do júri se caracteriza nas


seguintes hipóteses:
a. Ação privada subsidiária da pública (art.29 CPP).
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir
em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

b. Havendo conexão entre o crime doloso contra a vida e um delito de ação


privada, admite-se a formação de um litisconsórcio ativo facultativo
entre o MP e o querelante em fenômeno jurídico conhecido como ação
penal adesiva (ou reunião de feitos).
Críticas: a doutrina entende que esta reunião pode ocasionar tumulto
procedimental sendo recomendada ao juiz mesmo que facultativamente a
promover a separação de processos. Art. 80 do CPP:
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não
Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Ex. marido tenta matar mulher deferindo vários tiros e não acertando nenhum
em razão do alto grau de embriaguez. Quando as balas acabaram ele começou
a xingar a mulher de “vagabunda, puta” etc. MP e querelante podem
adesivamente apresentar ação pela tentativa de homicídio e injuria.

2º passo: juízo de admissibilidade da inicial acusatória.


O juízo de admissibilidade pode ser:
a. Negativo: a inicial acusatória será rejeitada e o juiz vai denegar início ao
processo (art.395 CPP)
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

b. Positivo: a inicial acusatória será recebida, deflagrando-se o processo.


Art. 406 CPP.
3º passo: citação do réu. No procedimento do júri as modalidades citatórias são
as mesmas do procedimento ordinário, quais sejam:
 Pessoal
 Edital
 Hora Certa

4º passo: apresentação da resposta escrita à acusação (§3º, art.406, CPP).


Ele é similar à redação dos arts. 396 e 396-A CPP que tratam da resposta escrita
no procedimento comum ordinário.
§ 3o Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa,
oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o
máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

Se as partes pretendem apresentar exceção (art.95 CPP) recomenda-se que


sejam apresentadas em uma peça separada inaugurando um procedimento
incidental. (art. 407 CPP)
Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de:
I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.

Art. 407. As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

5º passo: começa a peculiarizar o procedimento. Em respeito ao Princípio do


contraditório, deve o juiz abrir vistas à acusação pelo prazo de 5 dias para se
manifestar sobre documentos ou preliminares trazidas na resposta escrita pela
defesa (art. 409, CPP).
Atenção! Esta abertura de vista não é disciplinada na estrutura do procedimento
comum ordinário.
Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares
e documentos, em 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

6º passo: o ato saneador do juiz.


Cabe ao magistrado no prazo de 10 dias já que os autos lhe são conclusos (art.
410, CPP) sanear o processo e o conteúdo deste ato dependerá da posição
adotada.

Art. 410. O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a realização das diligências requeridas
pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

 1ª posição: (majoritária – Pacceli e Brasileiro) o juiz vai:


o Deliberar sobre as diligências requeridas pelas partes.
o Sanar nulidades
o Marcar audiência de Instrução, Debates e Julgamento.

 2ª posição. (minoritária – Nestor Távora) Juiz vai:


o Deliberar sobre diligências
o Sanar nulidades
o O juiz poderá absolver sumariamente o réu, aplicando o art.
397 CPP como lhe autoriza o §4º, do art.394 CPP e esta absolvição
antecederia a realização da audiência de instrução e julgamento.

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Art.394 § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais
de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

o Se juiz não estiver convencido da inocência do réu, ele vai


marcar a audiência de Instrução, Debates e Julgamento.

7º passo: Realização da Audiência de instrução/debates e julgamento da 1ª fase


do júri.
Obs.1: Prazo – em homenagem à razoável duração do processo essa audiência
encerrando a 1ª fase deve estar concluída no prazo de 90 dias contados do
recebimento da inicial acusatória em que pese a lacuna da lei pouco importa se
o réu está preso ou solto (art. 412 do CPP).
Obs.2: estrutura da audiência
i. Instrução dentro do processo: a sequência lógica de atos é análoga ao
que ocorre no procedimento comum ordinário havendo verdadeira
padronização (art.411 caput e §§1º e 2º CPP)
Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível,
à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em
seguida, o acusado e procedendo-se o debate. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento e de deferimento pelo juiz.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o As provas serão produzidas em uma só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Atenção! Não há previsão ao final dos atos instrutórios do requerimento pelas


partes de alguma diligência complementar. Esta lacuna pode ser suprida com a
determinação de ofício pelo juiz de diligências complementares para suprir
dúvida sobre ponto relevante. (II, art. 156, CPP)
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

ii. Debates orais: eles são idênticos ao que ocorre no procedimento comum
ordinário (art.411, §§4º, 5º, 6º CPP)
§ 4o As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo
prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez). (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 5o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles
será individual. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 6o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez)
minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

Atenção! Não há previsão de substituição dos debates orais por memoriais.


Entretanto, ela é admitida em analogia ao que ocorre no procedimento comum
ordinário (art.403, §3º e art.404 CPP).

Art. 403 § 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder
às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o
prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a
audiência será concluída sem as alegações finais. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo
sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá
a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Atenção! No procedimento comum os debates orais ou os memoriais devem ser


exaurientes trazendo todas as teses das partes.
No júri eles podem ser apresentados por negativa geral e de maneira sucinta
em razão da estratégia da defesa de só revelar os seus argumentos perante os
jurados (STF HC 103.579).

iii. Os autos serão conclusos ao juiz que vai proferir decisão na própria
audiência ou no prazo de 10 dias (art.411, §9º CPP).
Art.411 § 9o Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando
que os autos para isso lhe sejam conclusos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

o réu possui o direito de participar dos atos de seu processo e de estar presente nas audiências
para que possa exercer sua autodefesa.
Apesar de não estar previsto expressamente na CF/88, o direito à presença do réu na audiência
encontra-se consagrado no art. 14, 3, “d”, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
e no art. 8º, 2, “d” e “f”, da Convenção Americana de Direitos Humanos.
Esse direito do acusado de estar presente na audiência é chamado por alguns doutrinadores de
“direito ao confronto” (right of confrontation), que consiste no direito fundamental do acusado
de presenciar e participar da colheita da prova oral contra ele produzida na audiência (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Niterói: Impetus, 2013).

Decisões possíveis do juiz:

1ª DECISÃO: ao final da 1ª fase o juiz pode entender que:

 Existem indícios de autoria e


Decisão de pronúncia
 Prova da materialidade

i. Conceito:
Segundo Frederico Marques, a pronúncia é a decisão interlocutória mista não
terminativa que encerra a 1ª fase do júri com a remessa do réu aos jurados

ii. Natureza Jurídica:


É uma decisão interlocutória, pois tem conteúdo decisório.
É uma decisão interlocutória mista, pois conclui etapas procedimentais.
É uma decisão interlocutória mista não terminativa, pois ela não tem o condão
de encerrar o processo.

iii. Pressupostos para o juiz pronunciar o réu:


 É o convencimento da materialidade (juízo de certeza que ocorreu o
crime).
 Presença de indícios de autoria (ideia de verossimilhança).
Atenção! Base principiológica:
Quanto a autoria, é pautada o Princípio do “in dubio pro societate” .
Já quanto à materialidade vigora o princípio “in dubio pro reo”, afinal a pronúncia
exige a certeza quanto a existência do crime (STF, HC 81. 646. HC 95.068).

iv. Conteúdo da pronúncia:


d.1) O juiz analisará:
 Os indícios de autoria.
 A prova da materialidade (tipo básico).
 Análise de qualificadoras.
 Análise de causas de aumento de pena.
 Omissão penalmente relevante (§2º, art. 13 CP).
 Tese da tentativa (art.14,II CP).
 Análise do concurso de pessoas (art.29 CP).

d.2) Não poderá o juiz analisar:


 Causas de diminuição de pena (art. 7º LICPP – lei de introdução ao CPP),
exceto a tentativa.
 Agravantes/atenuantes.
 Eventual tese de concurso de crimes, pois esta matéria é pertinente à
dosimetria da pena que ganha importância ao final da 2ª fase do
procedimento quando o juiz proferir a sentença condenatória.

v. Eventuais crimes conexos:


Para Guilherme Nucci, em posição majoritária, a pronúncia quanto ao crime
doloso contra a vida por arrastamento importa na pronúncia dos conexos
independente da análise de lastro probatório dando sustentabilidade - “eficácia
objetiva da pronúncia”.

vi. Descoberta de outros infratores.


Neste caso deve o juiz abrir vistas ao MP após pronunciar ou impronunciar o réu
para que ocorra o devido aditamento da denúncia. Em que pese a redação do
art. 417 CPP é mais prudente que o aditamento ocorra antes da decisão para
que o processo seja sincronizado para todos os réus e então seja proferida uma
só pronúncia.
O juiz, entretanto, analisando que o aditamento pode tumultuar o processo que
já está em estágio avançado poderá optar por desmembrar o feito (art.80 CPP)
inaugurando-se um novo processo quanto aos infratores incidentalmente
descobertos. O risco do desmembramento é a existência de decisões
contraditórias.

vii. Fundamentação da pronúncia e postura do juiz:


A pronúncia deve ser adequadamente motivada, sob pena de nulidade absoluta
por ofensa ao art.93, IX CF.
Não pode o juiz antecipar juízo de culpa ou afastar peremptoriamente as teses
de defesa, pois isto acabará influenciando os jurados que recebem uma cópia
da pronúncia (p.ú, do art. 472 CPP) em fenômeno jurídico conhecido como
eloquência acusatória.

Consequência da eloquência acusatória:


1ª posição: para o STJ em decisão da 6ª turma, a eloquência
acusatória não importa na declaração de nulidade do procedimento, pois
bastaria que a pronúncia viciada fosse desentranhada dos autos e o processo
deve ser aproveitado (Resp. 982 033) – decisão minoritária.

2ª posição: para o STF, em posição prevalente (inclusive na


doutrina), a pronúncia deve ser declarada nula e os autos baixados para que o
juiz profira uma nova decisão refazendo-se o processo a partir dali.
Pauta-se no Princípio da Consequencilidade: os atos que decorrem da
pronuncia nula também são nulos. HC 103. 037 STF.

viii. Sistema Recursal:


Recurso em sentido estrito – IV, art. 581 CPP.

ix. Situação prisional:


Atualmente com a nova redação do art. 413, CPP teremos a seguinte postura a
ser assumida pelo juiz:
o Se o réu já estava preso, deve o juiz justificar o porquê da
manutenção da prisão.
o Se o réu já estava preso, deve o juiz dizer por que não cabe
liberdade provisória com ou sem fiança e a conversão do
cárcere em uma das medidas cautelares do art. 319 CPP.
o Se o réu estava solto, só poderá ser preso se presentes os
requisitos da prisão preventiva (arts. 312 e 313 CPP).
Aula 08

j) Efeitos (consequências) da pronúncia:

a. Submissão do réu ao plenário do júri.

b. Ela imprime os limites da acusação em plenário.


Obs.1- Consequência: parte da doutrina entende que esta limitação apresenta o
Princípio da Correlação entre a pronúncia e os quesitos que serão formulados
aos jurados.
Obs.2- Atenção! A pronúncia não limita as teses defensivas que poderão ser
trazidas na seção plenária.
c. Preclusão das nulidades relativas ocorridas na 1ª fase do júri que
poderão ser suscitadas até o recurso apresentado para impugnar a
pronúncia (art.572 CPP).
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão
sanadas:
I - se não forem argüidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior;

d. Interrupção da prescrição.
Obs.1: para o STJ de acordo com a súmula 191 o prazo prescricional estará
interrompido mesmo que em momento posterior o delito seja desclassificado em
grau de recurso ou na sessão plenária do júri.
Súmula 191
A PRONUNCIA E CAUSA INTERRUPTIVA DA PRESCRIÇÃO, AINDA QUE O TRIBUNAL DO JURI VENHA A
DESCLASSIFICAR O CRIME.

Princípio da Correlação: por ele os limites da pronúncia são prefixados pela


inicial acusatória já que o juiz não poderá julgar ultra, citra ou extra petita.
Obs. institutos vinculados:
 Emendatio Libelli: cabe ao juiz na pronúncia, sem nenhuma formalidade
prévia, corrigir os equívocos de enquadramento de artigo existentes na inicial
acusatória e não há prejuízo a defesa já que o réu se defende dos fatos. (Art.
383, CPP).
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

 Mutatio Libelli: é o instituto que permite promover uma readequação da


imputação quando os fatos revelados pela instrução são distintos dos
narrados originariamente na inicial acusatória. Logo, o MP aditará a denúncia e
na sequência a defesa se manifesta e o juiz proferirá a pronúncia dentro deste
novo contexto fático (art.384 CPP).
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida
na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em
virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o
aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Consequências da Mutatio Libelli:


 não pode o juiz na pronúncia reconhecer qualificadora ou causa de
aumento que não foi narrada na denúncia. A solução é a aplicação da mutatio.
 Havendo manifesta improcedência o juiz poderá afastar qualificadora
(Frederico Marques fala de desqualificação) ou causa de aumento previamente
narradas na denúncia, mas que não há lastro probatório demonstrando.

2ª DECISÃO: decisão de impronúncia


O juiz pode estar convencido de que não há indícios de autoria ou prova da
materialidade do crime.
Neste contexto haverá a decisão de impronúncia.
a) Conceito: decisão de impronúncia é a decisão que extingue o processo
sem julgamento de mérito por ausência de lastro probatório que viabilize a
remessa do réu aos jurados (art.414 CPP).

b) Natureza Jurídica: com a lei 11.689/08, a impronúncia ganhou status de


sentença, tendo aptidão restrita à coisa julgada formal.

c) Definitividade: a impronúncia não é uma decisão definitiva. Logo, se


surgirem novas provas enquanto o crime não estiver prescrito o MP terá aptidão
para oferecer uma nova denúncia inaugurando um novo processo (começa tudo
do zero). Nada impede que os autos do antigo processo sejam apensos a nova
denúncia.
Consequências de afirmar que a decisão de impronúncia não é definitiva:
 Caracteriza a cláusula rebus sic standibus (como as coisas estão).
O réu fica impronunciado, desde que as coisas fiquem como estão. Se mudar
este cenário, ele será pronunciado.
 O requisito objetivo para reversão da impronúncia é o surgimento de
novas provas que se caracterizam da seguinte forma:
o Prova substancialmente nova: é a prova inédita que
até então era desconhecida. Ex. surgimento do DVD
que gravou a pessoa realizando o delito.
o Prova formalmente nova: é aquela preexistente nos
autos, mas que ganhou uma nova versão. Ex.
testemunha que muda o teor do depoimento.

Obs.
Notícia de provas novas: reabertura de inquérito (art.18 CPP; 524 STF)
Novas provas: propositura de nova denúncia

d) Sistema recursal: o recurso adequado é a apelação (art.416 CPP) e ela


está desprovida de efeito suspensivo de forma que se o réu estava preso
será imediatamente libertado.
Atenção! Legitimidade para recorrer da sentença de impronúncia:
 MP
 Querelante
 Assistente de acusação: o recurso do assistente é
supletivo pois ele só poderá apelar se o MP não o fizer.
 Defesa: a defesa pode apelar da impronúncia almejando
a absolvição sumária.

e) Institutos Jurídicos Essenciais:


i. Despronúncia: é a reversão da pronúncia pelo êxito do
RESE (recurso em sentido estrito) apresentado, seja porque
o tribunal o julgou procedente ou porque o juiz de 1º grau se
retratou da decisão – reversão da pronúncia para
impronúncia.
ii. Absolvição de instância: significa que o réu está livre
daquele processo, mas corre o risco de enfrentar outro se
surgirem novas provas.

3ª DECISÃO: absolvição sumária:


A absolvição sumária é pautada na certeza da inocência do réu.
Importante: ao contrário do procedimento comum ordinário, no rito do júri, o magistrado
somente irá decidir se absolve sumariamente o réu após a audiência de instrução.

a. Conceito: é a sentença de cognição exauriente que extingue o processo


com julgamento de mérito inocentando o réu, sem a necessidade de
remetê-lo ao corpo de jurados.
Atenção! Compatibilidade com o art.5º, XXXVIII, “d”, CF. O juiz, através da
absolvição sumária, não estaria usurpando a competência do júri?
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
R. Segundo Guilherme Nucci, esta decisão pautada no art.415 CPP é
absolutamente compatível com o texto constitucional já que a competência do
júri é acionada se não houver evidencia prévia da inocência.

Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – o fato não constituir infração penal; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)

b. Hipóteses que justificam a absolvição sumária:

Negativa de autoria (nova)


Inexistência do fato (nova)
 Certeza quanto Excludente de tipicidade (nova)
Excludente de ilicitude (antiga)
Excludente de culpabilidade (antiga)

Obs. Não vigora o in dubio pro reo.

Obs. A inimputabilidade só poderá autorizar a absolvição sumária imprópria


se for a única tese apresentada pela defesa. Segundo Guilherme Nucci, isso
funciona como uma verdadeira autorização (p.ú do art.415 CPP).
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Informativo 535 STJ : No procedimento do Tribunal do Júri, o juiz pode, na fase do art.
415 do CPP, efetivar a absolvição imprópria do acusado inimputável, na hipótese em
que, além da tese de inimputabilidade, a defesa apenas sustente por meio de
alegações genéricas que não há nos autos comprovação da culpabilidade e do dolo do
réu, sem qualquer exposição dos fundamentos que sustentariam esta tese.
STJ. 5ª Turma. REsp 39.920-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/2/2014.
Atenção! As 03 novas hipóteses de absolvição sumária antes da vigência da Lei
11.689/2008 funcionavam como justificativa de impronúncia quando então esta
decisão de maneira excepcional fazia coisa julgada material, o que atualmente
não mais existe.

Atenção! Ao contrário do art.397 CPP (absolvição sumária no procedimento


ordinário), o art.415 CPP (absolvição sumária no procedimento do júri) não trata
da extinção da punibilidade como fundamento da absolvição, não só porque
ela não se enquadra como justificação de inocência como também porque ela
pode ser declarada a qualquer tempo (art.61 do CPP).

Sistema Recursal: o recurso cabível é a apelação (art.416 CPP) e ela está


desprovida de efeito suspensivo de forma que se o réu estava preso será
imediatamente libertado.

Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação. (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)

Obs.1: terá legitimidade:


 MP
 Querelante
 Assistente de acusação (supletivamente).
 Defesa
Obs. A defesa possui interesse recursal quando houver ofensa ao
p.ú, do art.415 CPP ou para fazer valer um fundamento absolutório
que impeça a ação civil ex delicto (art.63 a 68 do CPP).

Obs.2: Recurso ex officio:


Segundo o STF na súmula 423, o recurso ex officio nada mais é que o requisito
objetivo para que a decisão transite em julgado, o que não ocorrerá enquanto
não houver reapreciação pelo tribunal.
Súmula 423
NÃO TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX OFFICIO", QUE SE
CONSIDERA INTERPOSTO "EX LEGE".

Para a maioria da doutrina, como a nova redação do art.415 do CPP não trata
do instituto, resta concluir que o inciso II do art.574 foi tacitamente revogado.
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser
interpostos, de ofício, pelo juiz:
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o
crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

4ª DECISÃO: decisão de desclassificação


Não houve dolo de matar.
a. Conceito: é a decisão interlocutória mista não terminativa que encerra a
1ª fase do júri com a remessa dos autos ao juízo competente por não se tratar
de delito da esfera dos jurados (art.419 CPP).
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos
referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao
juiz que o seja. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado
preso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

b. Sistema Recursal: RESE (Art.581,II CPP)


Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
II - que concluir pela incompetência do juízo;

Legitimidade para recorrer da desclassificação:


 MP
 Querelante
 Assistente (supletivamente)
 Defesa

c. Consequências jurídicas da desclassificação:


i. Procedimento: os autos serão remetidos para o juízo competente de acordo
com a lei de organização judiciária que poderá ser, inclusive, o próprio órgão
que proferiu a desclassificação (no TJMG é assim). Neste caso, em que pese
a omissão da lei, deve o juiz renovar a instrução oportunizar debates orais ou
memoriais para só então proferir a sentença.
ii. Réu preso: neste caso, ele ficará à disposição do juízo competente (p.ú, art.419
CPP) que poderá mantê-la de forma motivada, promover o relaxamento ou
conceder liberdade provisória.
iii. Conflito negativo de competência: havendo desclassificação o magistrado deve
apontar o artigo de lei para o qual desclassificou a conduta, salvo se for
imprescindível para detectar o juízo competente. O órgão que recebeu os
autos, pode discordar da remessa entendendo que houve dolo de matar. Neste
caso, surgem 3 posições quanto à admissibilidade de ser invocado um conflito
negativo e competência:
1ª) Posição Minoritária (Idejalma Mússio): para
ele, uma vez preclusa a desclassificação, o órgão que recebeu
o processo não pode invocar o conflito negativo.
2ª) Majoritária (Nucci e Távora): para ele se o
TJ já apreciou a matéria via RESE não caberá conflito negativo.
Todavia, se ninguém tinha recorrido da desclassificação o juízo
que recebeu o processo pode invocar o conflito negativo de
competência, afinal, o TJ nunca apreciou a matéria.
3ª) Majoritária (Ada Pellegrini): o conflito pode
ser invocado sempre já que o órgão do TJ que julga o RESE é
distinto do que aprecia o conflito negativo. Esta posição é
adotada pelo Renato Brasileiro em um outro enfoque, já que o
problema deve ser resolvido pelo respeito ao juiz natural e pelas
regras de competência constitucional.

Obs. Crimes Conexos:


a. Decisão de pronúncia: a pronúncia pelo crime doloso contra a vida,
importa na remessa ao plenário do crime conexo.
b. Decisão de impronúncia: neste caso, o crime conexo será remetido ao
juízo competente (p.ú, do art.81 CPP).
c. Decisão de absolvição sumária: os crimes conexos serão remetidos ao
juízo competente, pois não são abrangidos pela absolvição sumária (p.ú,
art. 81 CPP).
d. Decisão de desclassificação: neste caso, o conexo será remetido ao juízo
competente (p.ú. do art.81, CPP).
Conclusão: para o conexo, nestas hipóteses, não haverá perpetuação da
jurisdição.

II) “Judicium causae” (ou fase de julgamento).


É a 2ª fase do júri.
Atenção! O pressuposto lógico da fase de julgamento é a existência de
pronúncia.

Obs.1: Início da 2ª Fase:


Ela se estabelece com a preclusão da pronúncia, seja porque ninguém recorreu
ou porque o recurso julgado já é definitivo.

Aula 09
(Continuação de tribunal do júri: judicium causae)

Obs.2: intimação da pronúncia – art. 420 CPP (tabela para revisão):


Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público; (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto
no § 1o do art. 370 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado. (Incluído pela Lei
nº 11.689, de 2008)

Antes da Lei 11.689/08 Após da Lei 11.689/08


Crime afiançável – a intimação era A regra atualmente é uniforme, ou
pessoal ou por edital, quando não seja, pouco importa se o crime é
encontrado; afiançável ou inafiançável: a
intimação será pessoal.
Crime inafiançável – a intimação era Se o réu não foi encontrado pouco
pessoal. importa, pois ele será intimado por
edital e o processo prosseguirá a sua
Atenção! Se o réu não fosse revelia.
encontrado, o processo ficaria Quanto à pronúncia acabou a crise de
paralisado e o prazo prescricional instância.
corria normalmente em fenômeno
jurídico conhecido como crise de
instância.

Antes da Lei 9271/96 Após a Lei 9271/96


Se o réu citado por edital não se Se o réu citado por edital não se
defendesse era decretada a revelia e defendesse, o juiz irá suspender o
o processo seguia com a nomeação processo e suspender a prescrição.
de advogado dativo.
Art. 366. O processo seguirá à revelia do acusado Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não
que, citado inicialmente ou intimado para qualquer ato do comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
processo, deixar de comparecer sem motivo justificado. o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o
juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no
art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Sendo assim, atualmente o que vigora é o seguinte:


 Acusado CITADO por edital e não comparece: o processo ficará suspenso
(não pode prosseguir porque não se tem certeza se ele sabe da existência do
processo).
 Acusado INTIMADO por edital da decisão de pronúncia: o processo
continuará e ele será julgado (como ele já foi citado pessoalmente, é possível ter
certeza que ele sabe da existência do processo).

O réu pode ser intimado por edital da decisão de pronúncia mesmo


que o crime tenha ocorrido antes da Lei n.º 11.689/2008?
Em regra, SIM. Existe uma exceção:
A Lei 11.689/2008, que alterou o art. 420 Tal norma processual penal não pode ser
do CPP, é norma de caráter processual, aplicada aos fatos anteriores à Lei
razão pela qual, em regra, deve ser 9.271/1996, em que foi decretada a revelia
aplicada imediatamente aos processos em do réu.
curso (art. 2º do CPP). Isso se justifica para não julgar alguém que
não tenha ciência inequívoca sobre a
acusação que pesa contra si.
Ex: Marcos cometeu homicídio em 2002; Ex: Diogo cometeu homicídio em 1992; foi
foi citado pessoalmente e respondeu o citado por edital, mantendo-se revel
processo; foi pronunciado em 2004, mas a durante a instrução; foi pronunciado em
Justiça não conseguiu intimá-lo 1998, mas a Justiça não conseguiu intimá-
pessoalmente da sentença; logo, desde lo pessoalmente da sentença; logo, desde
2004, o processo estava suspenso (“crise 1995, o processo estava suspenso. Mesmo
de instância”). Com a inovação legislativa, com a inovação legislativa, Diogo NÃO
Marcos poderá ser julgado a revelia. Isso poderá ser julgado, a não ser que se
porque é certo que ele sabe da existência consiga intimá-lo pessoalmente. Isso
do processo. porque como ele foi citado por edital, não
se pode ter certeza que ele sabe da
existência do processo.

O CPP permite que o réu pronunciado e que não foi localizado para
ser intimado pessoalmente do dia marcado para o Plenário do Júri
possa mesmo assim ser julgado?
A resposta a essa pergunta irá variar de acordo com a Lei n.º 11.689/2008.

ANTES da Lei n.º 11.689/2008: NÃO ATUALMENTE: SIM


O CPP dizia que o Plenário do Júri em caso A Lei n.º 11.689/2008 alterou o CPP e
de crimes inafiançáveis somente poderia determinou que, se o réu não puder ser
ocorrer se o réu estivesse presente. intimado pessoalmente do dia do Júri, a
Em caso de crime inafiançável, se o réu intimação ocorrerá por edital (art. 431 c/c
não comparecesse, adiava-se o Júri e art. 420, parágrafo único). No dia do Júri, o
decretava-se a sua prisão preventiva. julgamento será realizado mesmo que o
Se o crime fosse afiançável (o que na réu não compareça. Trata-se de norma de
prática era difícil), realizava-se o júri, à caráter processual, aplicável a crimes
revelia do réu. cometidos antes da Lei 11.689/2008.

Obs.3: Preclusão da pronúncia e sua imodificabilidade.


Em regra, a pronúncia é inalterável, salvo pela ocorrência de fato novo
superveniente quando então o juiz deve abrir vistas ao MP para aditamento e
na sequencia ouvirá a defesa proferindo uma nova pronúncia e renovando o
prazo para recurso (art.421, §1º CPP).
Ex. sujeito foi pronunciado por tentativa de homicídio. A vítima veio a óbito antes
do julgamento no júri. É necessário aditar a pronúncia.

Atenção! Se a decisão final já transitou em julgado nada pode ser feito, pois não
há revisão criminal pro societat.
Passos da 2ª fase do júri:

1ª fase) Com a revogação do libelo, cabe ao juiz notificar a acusação para


apresentar um requerimento de diligências que serão produzidas na 2ª fase do
júri, no prazo de 05 dias onde podem ser arroladas até 05 testemunhas.

2ª fase) notificar a defesa para apresentar requerimento de diligências no prazo


de 05 dias em que serão arroladas 05 testemunhas.

3ª fase) os autos serão conclusos ao juiz para que o juiz possa sanear o
processo.
Ao sanear o juiz vai:
 Sanar nulidades.
 Deliberar sobre as diligências requeridas pelas partes.
 Acostar aos autos um relatório que funciona como uma síntese do
processo e que será entregue aos jurados juntamente com uma cópia da
pronúncia.
Atenção! Atualmente teremos um filtro quanto a leitura dos autos na sessão
plenária, admitindo-se a leitura de peças referentes exclusivamente a provas
colhidas por precatória, a provas cautelares antecipadas e não repetíveis
(art.473,§3 CPP).

4ª fase) Marcação da sessão plenária.


Obs. organização da pauta. Sequência lógica - terão preferência:
i. Os réus presos.
ii. Entre os presos, aqueles que estão presos há mais tempo.
iii. Se a situação prisional é idêntica terão preferência na pauta os réus
pronunciados primeiro (art.429 CPP).

Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência:
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – os acusados presos; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão; (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)
III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
2008)

4ª fase) Realização da sessão plenária.


Obs.1: Abertura da sessão.
Para que a sessão seja inaugurada, é necessário que dos 25 jurados
convocados, compareça ao menos 15 jurados caso contrário a sessão será
remarcada com a convocação de jurados suplentes.

Obs.2: Ausências injustificadas:


 Ausência do Órgão do MP: a audiência será remarcada, já que
não mais existe a figura do promotor ad doc, cabendo ao juiz oficiar ao
procurador geral (art.129, §2º CF).
 Ausência do Advogado de Defesa:
Cabe ao juiz remarcar a sessão.
Atenção! Neste caso, o juiz deve oportunizar que o réu contrate um novo
advogado, mas deve oficiar a defensoria pública para que assuma a causa se
na nova sessão o advogado faltar (art.456 CPP)
Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este
constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados
do Brasil, com a data designada para a nova sessão. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado
ser julgado quando chamado novamente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento,
que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias. (Incluído
pela Lei nº 11.689, de 2008)
 Ausência de acusado solto:
Será julgado à revelia e a sua ausência pode representar o exercício da sua
autodefesa.
 Ausência injustificada do acusado preso:
Neste caso ele deve ser trazido pelo Estado, pois se o júri é realizado sem a sua
presença, haverá nulidade absoluta.
Atenção! Nada impede que o réu e o advogado subscrevam requerimento em
conjunto requerendo o seu não comparecimento como exercício da autodefesa.
 Ausência do advogado de assistência de acusação:
A sessão não será remarcada e o júri será regularmente realizado (art.457 CPP).
Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou
do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
2008)
§ 1o Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser, salvo
comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do Tribunal
do Júri. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido
da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu
defensor. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Atenção! Para que o assistente por meio de advogado participe da sessão, é


necessário que se habilite no processo com antecedência mínima de 05 dias na
sessão (art.430 CPP).
Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da
data da sessão na qual pretenda atuar. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

o Em se tratando de ação privada subsidiária o MP assume a ação,


caso o advogado se ausente.
o Ação privada exclusiva ou personalíssima: esta ausência ocasiona
perempção (art.60 CPP) levando a extinção da punibilidade (art.107
CP).

 Ausência de Testemunha:
Testemunha que mora fora da comarca: ela não está obrigada a arcar
com os custos de deslocamento e a sua ausência não importa no adiamento da
sessão.
Testemunha que mora na comarca: a regra é que a sessão não será
adiada, salvo se a testemunha foi arrolada em caráter de imprescindibilidade
e houve requerimento para sua intimação. Neste caso, deve o juiz determinar
a condução coercitiva e se a testemunha não for encontrada a sessão será
adiada.
Atenção! Neste caso existe a responsabilidade criminal por desobediência
(art.458 CPP).

 Ausência do juiz presidente:


Remarca a sessão.

Obs.3: formação do conselho de sentença:


Caberá ao juiz promover o sorteio dos 07 jurados que efetivamente vão integrar
o julgamento.

Advertência 01: requisitos para ser jurado (critérios cumulativos):


i. 18 anos completos;
ii. Notória idoneidade;
iii. Brasileiro nato ou naturalizado;
iv. Residir na comarca;
v. Alfabetizado;
vi. Não é necessário superior completo;
vii. Audição, visão e voz em perfeitas condições.

Advertência 02: aqueles com 70 anos ou mais podem pleitear a dispensa do


serviço do júri.

Advertência 03: vedação do jurado profissional.


Atualmente, se o indivíduo funcionou efetivamente nos 12 meses antecedentes
a publicação da lista geral como jurado, o seu nome estará excluído da lista.
A lista geral é publicada provisoriamente em todas as comarcas até o dia 10 de
outubro de cada ano e em definitivo até o dia 10 de novembro. Art.426 CPP:
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada pela imprensa
até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri. (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz
presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
2008)
§ 2o Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)
§ 3o Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na presença do
Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e de defensor
indicado pelas Defensorias Públicas competentes, permanecerão guardados em urna fechada a chave, sob
a responsabilidade do juiz presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à
publicação da lista geral fica dela excluído. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 5o Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, completada. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

Advertência 04: impugnação da lista geral.


1ª posição: atualmente caberá reclamação ao presidente do júri que pode ser
apresentada do dia 10 de outubro até no máximo 10 de novembro quando a lista
definitiva será publicada. (art.426, §1º CPP)
§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente
até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
2ª posição: para Guilherme Nucci caberá a apresentação de reclamação e após
o julgamento das reclamações nada impede a apresentação de recurso em
sentido estrito no prazo de 20 dias e endereçado para apreciação pelo
presidente do TJ (art.581, XIV CPP).
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
Crítica: para Távora o RESE neste caso acabou.

Advertência 05: isentos do serviço do júri.


Algumas pessoas em razão nitidamente da importância do cargo ou da função
desempenhada estão isentas de atuar como jurado de acordo com art.437 do
CPP.
Art. 437. Estão isentos do serviço do júri: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – o Presidente da República e os Ministros de Estado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – os Governadores e seus respectivos Secretários; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e
Municipais; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – os Prefeitos Municipais; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)
VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei
nº 11.689, de 2008)
VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública; (Incluído pela Lei nº 11.689, de
2008)
VIII – os militares em serviço ativo; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa; (Incluído pela Lei nº 11.689,
de 2008)
X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
2008)

Advertência 06: Escusas:


a) Escusa injustificada: se o jurado se recusar a comparecer,
injustificadamente será multado de 1 a 10 salários mínimos de acordo com a sua
condição econômica (§2º do art.436 CPP). Não havendo responsabilidade
criminal por desobediência em razão da ausência de previsão legal específica
(STJ HC 22.721).
§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários
mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado. (Incluído pela Lei nº 11.689,
de 2008)

b) Escusa de consciência: se por convicção religiosa, filosófica ou política


o jurado não quer cumprir o seu papel, cabe ao juiz aplicar medida alternativa
(art.438 CPP). A recusa no cumprimento da medida importa na suspensão dos
direitos políticos.
Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no
dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o
serviço imposto. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo,
assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério
Público ou em entidade conveniada para esses fins. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Advertência 07: “Modus operandi”:
a. Arts.448 e 449 CPP:
Cabe ao juiz promover à leitura dos arts. 448 e 449 CPP, oportunizando que o
jurado reconheça voluntariamente eventual suspeição, impedimento ou
incompatibilidade.

Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – marido e mulher; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – ascendente e descendente; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – sogro e genro ou nora; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – tio e sobrinho; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
VI – padrasto, madrasta ou enteado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável
reconhecida como entidade familiar. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades
dos juízes togados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 449. Não poderá servir o jurado que: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa
determinante do julgamento posterior; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro
acusado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

b. 15 jurados:
O quórum mínimo de 15 jurados para integrar a sessão, pode contar com os
impedidos, suspeitos e individualizados.

c. Empréstimo de jurados:
Para o STF, se não comparecer ao menos 15 jurados, a sessão não será
instaurada, pois não se admite o empréstimo por uma outra sessão do mesmo
fórum, á que as partes tem direito de saber previamente quem é o jurado
convocado. (HC88801- STF).

d. Recusas das Partes:


d.1) Recusas motivadas: uma vez sorteado o jurado para integrar o conselho,
as partes poderão arguir a suspeição, o impedimento ou a incompatibilidade,
provando de imediato e o juiz decide naquele momento (não há limitação
numérica).
d.2) Recusas imotivadas ou peremptórias: cada parte poderá recusar sem
motivar até 03 jurados dentro da sua estratégia (art.468 CPP).

Consequências:
 A defesa das recusas motivadas ou imotivadas é feita em 1º lugar.
 Pluralidade de réus com advogados distintos.
Atualmente, os advogados podem acordar que um só deles exerça as recusas
em nome de todos os réus quando então o máximo de recusas peremptórias
será de 03. Não ocorrendo acordo, cada advogado exercerá o seu nº individual
de recusas, sendo que se 1 deles recusa o jurado ele estará automaticamente
afastado do conselho de sentença, independente da manifestação dos demais
advogados ou do MP.

Ex.
Adv 1: aceita Adv.2: recusa MP: não precisa mais se
manifestar, pois basta 1
recusa.
 Estouro de urna: ele ocorre pela impossibilidade de formação do
conselho já que não foram obtidos os 07 jurados para integrá-lo, em razão dos
afastamentos voluntários ou das recusas. Neste caso, a sessão será remarcada
para o 1º dia desimpedido, convocando-se os jurados suplentes.

 Desmembramento do julgamento:
Havendo pluralidade de réus e ocorrido o estouro de urna, pode o juiz determinar
o desmembramento do processo para que os réus sejam jugados em separado,
almejando assim, evitar um novo estouro.

Obs.4: Passo a passo da sessão plenária:


I. Compromisso do conselho de sentença: eles serão
compromissados a bem e fielmente desempenhar o seu papel e serão
informados do dever de incomunicabilidade, já que não poderão conversar
entre si nem com terceiros sob o fato objeto de julgamento, sob pena de nulidade
absoluta e dissolução do conselho.

II. Instrução (produção probatória):


Consequências:
i. Conteúdo: a estrutura é similar ao que ocorre na 1ª fase do júri,
ressalvando-se o nº de testemunhas que são em nº máximo de 05. (art.473 do
CPP)
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz
presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e
diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela
acusação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as
perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios
estabelecidos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por intermédio do juiz
presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e
esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas
colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

ii. As testemunhas ficarão incomunicáveis de forma que umas não poderão


ouvir o depoimento das demais.

iii. Interpelações:
As partes vão promover as interpelações diretamente, ao passo que as
perguntas dos jurados serão realizadas por intermédio do juiz presidente.

Aula Online 02
III. Debates orais:
Não podem ser substituídos por memoriais.

Distribuição temporal (ordem dos debates):


1º) Acusação: 1:30 min
Obs. Havendo assistente ele acordará com o MP o tempo de fala. Não havendo
acordo o juiz delibera.
2º) Defesa: 1:30 min
3º) Acusação poderá ir a réplica: 1 h
4º) Tréplica em até 1h.
Obs. Inovação: a posição prevalente admite que o advogado traga tese nova na
tréplica. Todavia, em respeito ao contraditório deve o juiz ouvir a acusação sobre
este novo ponto.

Pluralidade de réus: neste caso, incluiremos 1 hora em cada trecho dos dabates
independentemente da quantidade de réus incluídos. Ex. 5 réus:
1º) Acusação: 1:30 min (+1h)
2º) Defesa: 1:30 min (+1h)
3º) Acusação poderá ir a réplica: 1 h (+1h)
4º) Tréplica em até 1h. (+1h)

Proibições: as partes não poderão, para impressionar o jurado, utilizar


argumentos de autoridade que são aqueles dissociados do manancial probatório
e que funcionam como verdadeiras simbologias, sob pena de nulidade
absoluta.

Hipóteses: (art.478 CPP)


i. Referência ao silêncio, o que vai englobar a referência a própria
ausência física do réu na sessão plenária.
ii. Uso de algemas (Súmula Vinculante 11 STF).
iii. Decisão de pronúncia ou a decisão que impactou na remessa do réu
ao corpo de jurados.
iv.Os documentos novos só poderão ser utilizados se foram inseridos ao
processo com cientificação da parte contrária em antecedência mínima de 03
dias úteis. Almeja-se evitar o fator surpresa e respeitar o contraditório.

Apartes:
a. Conceito: é a intromissão da parte contrária na sustentação oral do seu
adversário.
b. Regramento normativo:

Antes da Lei 11.689/08 Na vigência da Lei 11.689/08


Eles só seriam admitidos se a parte Os apartes serão autorizados ou não
autorizasse a intromissão. pelo juiz e terão até 3 min sendo que
o tempo do aparte é acrescentado ao
tempo de fala de quem foi
interrompido (art.497, XII CPP).

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente
referidas neste Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com
a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao
tempo desta última. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Réu indefeso:
Segundo o STF na súmula 523 a ausência de defesa técnica importa nulidade
absoluta do processo. Na espécie deve o juiz de ofício ou por provocação
dissolver o Conselho de Sentença remarcando a sessão plenária com a
nomeação de um novo advogado (art.497,V, CPP c/c STF HC89.222).

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente
referidas neste Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o
Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Súmula 523
NO PROCESSO PENAL, A FALTA DA DEFESA CONSTITUI NULIDADE ABSOLUTA, MAS A SUA DEFICIÊNCIA SÓ
O ANULARÁ SE HOUVER PROVA DE PREJUÍZO PARA O RÉU.

Sociedade indefesa:
Percebendo o juiz que o membro do MP não está preparado para construir
tecnicamente a acusação em face do manancial probatório existente deverá em
analogia ao inciso V, do art.497 CPP dissolver o conselho remarcando a sessão
e oficiando ao Procurador Geral.

IV. Esclarecimento aos Jurados (parte pedagógica da sessão):


Conceito: após os debates orais, o magistrado indagará aos jurados se estão
aptos a julgar a causa promovendo a leitura dos quesitos com a respectiva
explicação permitindo que as partes promovam a sua contribuição.
Havendo a necessidade da realização de alguma diligência extremamente
importante pode o juiz determinar a dissolução do conselho com a remarcação
da sessão para que a diligência seja cumprida e com a convocação de novos
jurados (art.480, §1º c/c art.481 CPP).
Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz
presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada,
facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se
necessitam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa,
não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização
das diligências entendidas necessárias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

V. Sala Secreta:
Conceito: É o ambiente reservado onde será promovida a votação dos quesitos.

Quesitação:
 Conceito: são as perguntas que devem ser respondidas pelos jurados e
que retratam as teses acusatórias e defensivas.
 Sistema adotado pelo CPP:
a) Sistema francês: por ele nós teremos uma série de quesitos
formulados aos jurados e que retratam individualmente cada tese.
b) Sistema anglo-americano: haverá uma única pergunta
indagando-se quanto a culpa ou inocência.
c) Após a Lei 11.689/2008: antes da reforma adotávamos o sistema
francês. Atualmente adotamos um sistema misto, pois a pergunta derradeira
quanto a absolvição ou não do réu inspirada no sistema americano foi introduzida
na quesitação brasileira.

Fontes dos Quesitos:


 Decisão de pronúncia;
 Decisões posteriores que julgaram admissível a acusação;
 O interrogatório do réu;
 Debates orais das partes;

Obs. não cabe quesitar qualificadoras e causas de aumento se não estiverem


na pronúncia.

Importante!!!
Em determinado Júri, o advogado do réu alegou que este agiu em legítima defesa (art. 23, III, do
CP). A acusação, por sua vez, sustentou que o acusado atuou com excesso doloso (art. 23,
parágrafo único, do CP), devendo ser condenado.
Nos dois primeiros quesitos, os jurados afirmaram que “SIM” para as perguntas sobre
materialidade e autoria.
No terceiro quesito, foi perguntado: “O jurado absolve o acusado?”. Os jurados também
responderam que “SIM”.
Diante disso, o juiz deveria ter encerrado a votação e proferido sentença absolutória.
Ocorre que o magistrado formulou mais uma pergunta aos jurados: “O acusado excedeu
dolosamente os limites da legítima defesa?” Não agiu corretamente o juiz.
Se os jurados responderem “SIM” para a tese defensiva, o juiz não pode mais elaborar quesito
sobre excesso doloso da legítima defesa. Se essa tese for suscitada pelo MP em Plenário e os
jurados quiserem concordar com a acusação, basta que eles respondam “NÃO” para o quesito
defensivo (“O jurado absolve o acusado?”). Se responderam “SIM”, é porque não concordaram
com os argumentos do MP, sendo ilegal formular um quesito específico para a tese de acusação.
STJ. 5ª Turma. HC 190.264-PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/8/2014 (Info 545).

Pluralidade de Crimes ou de Acusados:


Neste caso deveremos promover uma série de quesitos para cada delito e para
cada acusado de maneira a individualiza-los (art.483, §6º CPP)

§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries


distintas. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Estrutura dos Quesitos (caiu MPBA):

Quesitos Primários Quesitos Secundários


a. Quesito quanto a materialidade: a) Causas de diminuição de
“O crime existiu?” pena:
Se os jurados disserem: Obs.1: havendo mais de uma causa
“Não”, o réu estará absolvido de diminuição faremos quesitos
justamente pelo reconhecimento da individuais para cada uma delas.
inocorrência do fato delituoso.
“Sim”, a votação continua. Obs.2: Segundo o STF na súmula 162
se causas de exasperação da pena
b. Quesito quanto a forem quesitadas antes das causas de
autoria/participação: diminuição haverá nulidade
“O réu concorreu para o delito?” absoluta.
“Não”, o réu estará absolvido
justamente por negativa de autoria. b) Qualificadoras:
“Sim”, a votação continua. Obs.1: havendo mais de uma teremos
que quesitá-las individualmente.
c. “O réu deve ser absolvido?”
“Sim”, o réu estará absolvido por c) Causas de aumento de pena:
legítima defesa. Havendo mais de uma exige-se a
“Não”, haverá condenação. quesitação individualizada.

Obs. Se a defesa apresenta como


única tese a negativa de autoria e os
jurados no 2º quesito afirmam que o
réu concorreu para o crime subsistem
02 correntes quanto a necessidade de
elaboração do 3º quesito.
1ª posição: o 3º quesito estaria
prejudicado, afinal a votação do 2º
quesito já afastou a única tese da
defesa e por isso o réu encontra-se
condenado (José Renato e gabaritou a
prova do MPBA - minoritária).
2ª posição: o entendimento prevalente
na doutrina e no STJ é de que o 3º
quesito é obrigatório sob pena de
nulidade absoluta, pois os jurados
julgam com a sua íntima convicção e
podem se valer de elementos que não
estão nos autos.

Obs.2: Pluralidade de teses defensivas


e formulação dos quesitos.
1º posição: para LFG devem ser
promovidos quesitos complementares
ao 3º para identificar o real
fundamento da absolvição, o que
pode obstar uma eventual ação civil
indenizatória (minoritária).
2ª posição: o entendimento
prevalente é que o 3º quesito é único
e não haverá detalhamento mesmo
que a defesa tenha apresentado em
plenário diversas teses (majoritário).

Conclusões:
a. A sentença absolutória no
plenário do júri não faz coisa
julgada na esfera cível, afinal se o
marco absolutório é o 3º quesito não
temos como saber o real fundamento
da absolvição.
b. Inimputabilidade: se a defesa
alega que o réu é inimputável (art.26,
caput) deve o juiz promover a
quesitação específica quanto a
capacidade de entender e querer do
agente, pois só assim poderá ser
aplicada medida de segurança no que
chamamos de absolvição imprópria.

Obs. Questões complementares:


a. Forma individual de votação.
Com 04 votos em determinado sentido, o quesito estará suficientemente julgado
estando vedada a unanimidade.

b. As agravantes e atenuantes não serão quesitadas e o juiz está


autorizado a reconhecê-las no momento da prolação da sentença (art. 492,I, “b”,
CPP c/c STF HC 106.376).

c. Quesito obrigatório:
Segundo o STF, na súmula 156, a sonegação de quesito obrigatório é fato
gerador de nulidade absoluta.

d. Tese da Tentativa:
A tese da tentativa eventualmente existente será quesitada após o 2º quesito
primário (§5º do art.483 CPP).

e. Desclassificação do delito:
Se os jurados desclassificam o crime para outro que não é da sua alçada caberá,
em regra, ao juiz presidente do júri promover o julgamento, salvo se ele for
incompetente materialmente quando deverá promover a remessa ao juízo
competente. Ex. desclassificação para crime militar.

Obs.1- infração de menor potencial ofensivo: atualmente, havendo


desclassificação para infração de menor potencial ofensivo, caberá ao juiz
presidente do júri permitir naquele momento a aplicação dos benefícios da Lei
9.099/95.
Atenção! Se a desclassificação é para crime de ação pública condicionada, o
prazo para representar passaria a fluir da desclassificação.
Obs.2- crimes conexos.
Neste caso, o crime desclassificado e o conexo serão apreciados pelo presidente
do júri.
Ex. crime de tentativa de homicídio c/c estupro foi desclassificado para lesão
corporal. Assim, o crime de estupro também será julgado pelo juiz presidente.

Obs.3: Classificação do Instituto:


 Desclassificação própria:
é aquela onde os jurados não especificam para qual delito estão
desclassificando. Neste caso, a competência é do juiz presidente que está livre
para deliberar podendo inclusive absolver o réu.
 Desclassificação imprópria:
Nela, os jurados apontam para qual delito estão desclassificando e o juiz
presidente, segundo entendimento prevalente está obrigado a acatar proferido
assim, sentença condenatória.

f. Falso testemunho em plenário.


Deveremos a luz da análise do art.211 CPP promover a devida quesitação ao
jurado e em caso positivo a testemunha será entregue a autoridade policial
podendo, inclusive, ser autuada em flagrante. Logo, a quesitação nesta hipótese
é condição objetiva para persecução penal pelo crime de falso testemunho
(art.342 CP).

VI. Desfecho da Sessão:


Votados os quesitos, caberá ao juiz presidente proferir a sentença que deve ser
lida em plenário com todos de pé e as partes já saem intimadas para
apresentação de eventuais recursos.
Obs. Com a revogação expressa do protesto por novo júri (arts. 607 e 608 CPP).
Desta sentença caberá apelação sem prejuízo de eventuais embargos
declaratórios.

DESAFORAMENTO:
1) Conceito: é a retirada da sessão plenária da sua comarca originária com
a migração para comarca preferencialmente mais próxima de maneira a
preservar a isenção e a regularidade do julgamento.
2) Legitimidade:
2.1) Decisão compete à decisão do TJ ou TRF.
2.2) Quem poderá requerer:
 MP;
 Querelante;
 Assistente de acusação;
 Defesa;
 Representação do juiz.

Atenção! A deliberação quanto ao desaforamento, pressupõe a oitiva da defesa,


sob pena de nulidade absoluta.
Súmula 712 STF c/c art.427 CPP.

3) Momento:
Este instituto é cabível na 2ª fase do júri, ou seja, após a preclusão da
pronúncia.
Atenção! Após o julgamento da 2ª fase admite-se eventualmente o requerimento
do desaforamento, desde que preenchidos os seguintes requisitos:
 Nulidade da decisão.
 O fato gerador se revelou durante ou após a realização do julgamento.

4) Hipóteses:
a. Havendo interesse para preservar a ordem pública.
Existe risco concreto de convulsão social, comprometendo a tranquilidade da
sessão e a própria integridade dos jurados (HC 85.707/BA STJ).

b. Dúvida sobre a imparcialidade do júri (HC90801- STJ).


c. Falta de segurança pessoal dos acusados.
d. Não realização da sessão no prazo de 06 meses (contados da
preclusão da pronúncia).
Atenção! O juiz presidente não é legitimado a representar pelo desaforamento
nesta hipótese (art.428 CPP).
Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de
serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de
6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
de 2008)

Conclusão: como inovação da lei 11.689/08, o tribunal pode autorizar a imediata


realização da sessão plenária na comarca original em se detectando que não há
excesso de trabalho (§2º do art.428 CPP) em que pese o código estabelecer que
o requerimento de antecipação emana da defesa por interpretação extensiva
devemos incluir o MP, o assistente de acusação e o querelante.

§ 2o Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento em quantidade


que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para
o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que determine a imediata realização do julgamento.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
5) Crimes conexos e pluralidades de réus:
Neste caso, todos os elementos que integram o processo migram para nova
comarca.

6) Sistema Recursal:
Não há previsão de recurso para impugnar a denegação do desaforamento.
Todavia, o pedido pode ser renovado em analogia ao art.110 CPPM.

7) Nova Comarca:
Preferencialmente o processo migra para comarca mais próxima dentro do
mesmo Estado na esfera estadual (comarcas limítrofes) e da mesma região na
esfera federal.

8) Suspensão do Julgamento:
Pode o tribunal determinar, havendo relevância de motivos, a suspensão do
procedimento que tramitava em 1º grau para que não se realize a sessão de
julgamento (§2º, art.427 CPP).
9) Reaforamento:
É a possibilidade da sessão ser devolvida para sua comarca original, pois na
nova comarca, uma situação de crise se estabeleceu e na comarca original a
paz voltou a reinar. Neste caso subsistem 02 posições (quanto a admissibilidade
do reaforamento):
1ª posição: É cabível.
2ª posição: não é cabível, e se na comarca nova instaura-se a situação
de crise, o adequado é desaforar para uma 3ª comarca (majoritária).

Aula 10
TEORIA GERAL DOS RECURSOS

Bibliografia: obra de Ada Pellegrini, Scarance Fernandes e Magalhães Gomes


Filho.

1) Conceito:
Recurso é uma ferramenta de impugnação das decisões judiciais construída na
mesma relação processual, sendo que, volitivamente, almeja-se a integração, o
esclarecimento, a anulação ou a reforma do julgado.

Desse conceito extrai-se 04 conclusões:


i. O recurso é uma procedência voluntária.
ii. O recurso é admitido na mesma relação processual.
iii. O recurso é o desdobramento do direito de ação.
iv. A finalidade do recurso pode oscilar entre a integração, esclarecimento,
invalidação ou a reforma do julgado.

2) Natureza Jurídica:

2.1) 1ª posição: (majoritária) recurso é um desdobramento do direito de


ação (Ada Pellegrini).

2.2) 2ª posição: recurso é qualquer ferramenta de impugnação da


decisão judicial.
Crítica: O nosso CPP, na redação original, enquadra equivocadamente no
capítulo dos recursos as ações autônomas de impugnação como HC e a revisão
criminal.

2.3) 3ª posição: recurso é uma nova ação construída incidentalmente no


mesmo processo. (Helio Bastos Tornaghi)

Fundamentos pautados em uma mudança de paradigma (são 02 paradigmas


que precisam ser revistos):
 A ação tem por objeto a análise do fato típico, ao passo que o recurso tem
por objeto a decisão impugnada.
 No recurso o polo da demanda pode ser alterado, afinal quando a defesa
recorre, ela está no polo ativo da “relação recursal”.

3) Princípios:
São regras interpretativas que auxiliam na análise dos recursos em espécie.
3.1) Princípio da Voluntariedade: o recurso é pautado na estratégia da
parte que só recorrerá se lhe for conveniente (art.574 CPP)
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser
interpostos, de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o
crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.(tacitamente revogado).

Os membros do MP e da defensoria estão obrigados a interpor recurso?


R. Não, os membros do MP e da Defensoria Pública apenas recorrerão se assim
entenderem conveniente.

Obs. Recurso “ex officio”/ segundo grau necessário/ remessa obrigatória.

i. Conceito: algumas decisões judiciais serão necessariamente


reapreciadas pelo tribunal mesmo que as partes não venham a impugná-la.

ii. Natureza Jurídica: 03 posições no Brasil:


 1ª posição: Aury Lopes Jr. e Fábio Roque (minoritária): o instituto não
foi recepcionado pela CF/88 que no art.129,I adota o sistema acusatório
que é incompatível com o art.574 CPP que exige do juiz uma função que
não lhe é peculiar.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
 2ª posição: Para o STF (majoritária) na sua súmula 423, o instituto é
uma condição objetiva de eficácia da decisão, afinal, se não houver a
remessa a decisão ficará em aberto, não transitando em julgado.
Súmula 423
NÃO TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX OFFICIO", QUE SE
CONSIDERA INTERPOSTO "EX LEGE".
 3ª posição: Para Nestor Santiago (minoritária): para ele o institutoo é
defato um recurso e o juiz estaria desempenhando uma função anômala,
já que o sistema acusatório adotado no Brasil é o não ortodoxo.

iii. Hipóteses de admissibilidade de recurso “ex officio”:


a. Concessão de HC por juiz de 1º grau.
b. Concessão de reabilitação criminal (art.746 CPP).
c. Da decisão de arquivamento do inquérito policial ou da sentença
absolutória nos crimes contra a economia popular e contra a saúde
pública. (art.7º da Lei 1.521/51).
Atenção! Em que pese o tráfico ser crime contra a saúde pública, ele não se
enquadra na hipótese já que a lei específica não disciplinou a matéria. Lei
11.343/06. Ex. se inquérito de tráfico for arquivado não cabe recurso ex officio.

d. Concessão de Mandado de Segurança pelo juiz de 1º grau (art.14, §1º da


Lei 12.016/09).
e. Do indeferimento liminar por relator no tribunal da ação de revisão criminal
(art.625, §3º do CPP).
Atenção! Atualmente, o entendimento prevalente é que não mais caberá recurso
de ofício da absolvição sumária ao final da 1ª fase do júri por ausência de
previsão do art.415 CPP de maneira que o art.574,II CPP está tacitamente
revogado.

3.2) Principio da Unirrecorribilidade:


Para cada decisão judicial caberá, em regra, um só recurso se ela for recorrível.
Obs. Mitigação: excecionalmente este princípio pode ser mitigado como ocorre
com a interposição simultânea de recurso extraordinário (RE) ao STF e recurso
especial (Resp) ao STJ, por ofensa a CF e a legislação infraconstitucional.

Para Paulo Rangel esta mitigação é meramente aparente, afinal cada recurso é
apresentado de uma parcela do julgado e a unirrecorribilidade neste
fracionamento seria mantida. (Paulo Rangel é um dos principais membros da
banca da magistratura do TJRJ) – posição minoritária.

3.3) Princípio da Fungibilidade/ Teoria do Recurso Indiferente/


“Teoria do Tanto Vale”/ “Teoria do Recurso sem Rosto”/ Princípio da
Permutabilidade ou conversibilidade.
Conceito: por ele, um recurso equivocado pode ser reconhecido como se fosse
o recurso correto em homenagem a instrumentalidade das formas (art.579 CPP).
Requisitos:
a) Ausência de má-fé: para o Supremo a má fé está presumida quando o
recurso inadequado gozava de mais prazo do que o recurso correto e o
recorrente se valeu do excesso.
Contra o STF está Denilson Feitoza ao argumento de que com essa rigidez o
Princípio seria muito pouco aplicado.

b) Ausência de erro grosseiro: é necessário que exista uma dúvida


objetiva quanto ao recurso cabível naquela hipótese (STJ 611877).

3.4) Princípio da Taxatividade:


Conceito: os recursos criminais estão taxativamente previstos em lei não se
admitindo recurso inominado ou de improviso.
É também conhecido como princípio da legalidade recursal. A constituição
estabelece que cabe à União legislar sobre direito recursal: será disciplinado por
lei federal.

3.5) Princípio da Convolação:


Segundo Norberto Avena, a ferramenta impugnativa correta e adequada ao caso
pode ser apreciada como se fosse outra, ainda mais adequada a espécie, ou
seja, a ferramenta inicial será convolada.
Ex. em uma sentença que transitou em julgado cabe revisão criminal e HC.
convolar a revisão criminal apresentada para combater uma sentença nula que
transitou em julgado em HC, já que este tramita em ritmo sumaríssimo e
comporta concessão de liminar.

3.6) Princípio da Conversão:


Conceito: o tribunal incompetente para apreciar determinado recurso deverá
reapontá-lo encaminhando de ofício ao órgão competente (é o que se chama de
“itinerância recursal”).

3.7) Princípio da “Non Reformatio in Pejus”:


É o Princípio da proibição da reforma para pior.
Conceito: quando o Tribunal julgar recurso da defesa, a situação do réu
não poderá ser piorada.
Fundamentos:
 Processual: o tribunal não poderá julgar extra petita.
 Político: almeja-se ainda, não inibir os recursos da defesa.

Modalidades de non reformatio in pejus:


 Proibição Direta da non reformatio in pejus: é aquela imposta ao tribunal
que não poderá piorar a situação do réu ao julgar o recurso da defesa.
 Proibição Indireta da non reformatio in pejus: se a decisão de 1º grau foi
anulada em virtude do recurso da defesa, a nova decisão a ser proferida
não poderá exasperar a situação do réu, pois indiretamente haveria
reformatio in pejus.

Conclusão: esta proibição nos apresenta um verdadeiro efeito limitador, já que


se apenas a defesa recorre os limites da sanção estão demarcados pela decisão
impugnada no que chamamos “efeito prodrômico”. Vide Art.617 CPP.
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e
387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver
apelado da sentença.

Efeito prodrômico = efeito limitador (reflexo).

Situações especiais:
a. Reformatio in Pejus X Incompetência Absoluta:
Se a sentença é anulada em virtude da incompetência absoluta do juízo surgem
02 posições:
 1ª posição: para Eugênio Pacelli não caberá a proibição e o juiz natural,
se for o caso, pode exasperar a situação do réu já que esta limitação é
revista em lei ordinária (Art. 617 CPP) e o juiz natural é reconhecido pela
CF. Minoritária e tem que ser citada nas provas de juiz federal e MPF.
 2ª posição (majoritária): a proibição da reforma para pior subsiste
mesmo nesta hipótese (STJ HC 10.5384).

b. Reformatio in Pejus X Júri:


O entendimento prevalente, inclusive na doutrina, é de que os jurados não se
submetem a proibição do art.617 CPP, já que atuam soberanamente (art.5º,
XXXVIII CF). Todavia, se no segundo julgamento os jurados reconhecerem as
mesmas circunstâncias do 1º julgamento, o juiz presidente do júri deverá
respeitar o art.617 CPP.
Atenção! Recentemente, o STF em acórdão da lavra de Cézar Peluso,
reconheceu que mesmo que o 2º julgamento no júri reconheça circunstâncias
mais gravosas ao réu, o juiz presidente não poderá exasperar a pena se o 1º
julgamento foi anulado por um recurso da defesa (STF, HC89.544).
Nas provas colocar o entendimento da doutrina e só colocar este julgado em
provas discursivas ou quando a objetiva falar “útimo julgado do STF”.

c. Interpretação Extensiva:
Como reflexo da prolação da reforma para pior o Supremo editou a Súmula 160,
reconhecendo que nos julgamentos dos recursos da acusação o tribunal não
poderá declarar nulidades que não foram invocadas e que prejudiquem a defesa,
salvo se a decisão era passível de recurso de ofício.
Súmula 160
É NULA A DECISÃO DO TRIBUNAL QUE ACOLHE, CONTRA O RÉU, NULIDADE NÃO ARGÜIDA NO RECURSO
DA ACUSAÇÃO, RESSALVADOS OS CASOS DE RECURSO DE OFÍCIO.

3.8) Princípio da Reformatio in Mellius (Princípio da Reforma para


Melhor):
Segundo LFG em entendimento prevalente, ao julgar recurso da acusação, o
tribunal pode beneficiar o réu mesmo que não tenha sido objeto do recurso.
O tribunal estaria julgando “extra petita”.

Fundamentos:
 O bem em jogo é indisponível.
 Os tribunais podem conceder HC ex officio, e por consequência, nada
impede que beneficie o réu julgando recursos da acusação.
 O réu não pode ser prejudicado pela ineficiência do advogado de defesa.
Embasamento normativo:
Este Princípio não está expressamente contemplado no CPP, mas é extraído da
leitura a contrario sensu do art.617 CPP.

3.9) Princípio da Dialeticidade dos Recursos:


O recorrente deverá apresentar as suas razões recursais embasando o recurso
apresentado.

Obs.1: Finalidade: Diante das razões a parte contrária poderá estabelecer o


contraditório (dialética) apresentando suas contrarrazões.
Obs.2: O recurso de apelação pode subir ao tribunal com ou sem as razões
mitigando a essência da dialeticidade. Art.601, CPP.

Aula 11

3.10) Princípio da Complementaridade/ Princípio da


Complementariedade:
Conceito: é a possibilidade das razões recursais serem complementadas seja
porque a decisão impugnada sofreu alteração de ordem material ou em face do
provimento de eventuais embargos declaratórios.

3.11) Princípio da Variedabilidade/ Variabilidade:


Conceito: por ele, o recurso interposto pode ser substituído por outro também
adequado à espécie desde que dentro do prazo e com visível mitigação à métrica
da unirrecorribilidade.
Crítica: a nossa doutrina tem afastado a aplicação da variação, já que se um
recurso já foi interposto é sinal que ocorreu preclusão consumativa.

3.12) Princípio da Colegialidade:


Conceito: como regra, o recurso interposro será apreciado por um órgão
colegiado.

3.13) Princípio do Duplo Grau de Jurisdição.


Obs.1: fundamentos:
 Falibilidade humana
 Inconformismo inerente ao homem

Obs. 2: Previsão normativa do Princípio do Duplo grau de Jurisdição:


a. À luz da CF: Decorre do Contraditório, da Ampla Defesa e do Devido
Processo Legal. É uma decorrência implícita (art.5º, LV, CR/88).
b. Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH, art.8º, item 2): o
Supremo deu status de norma supralegal no RE 466. 343.

Artigo 8. Garantias judiciais


Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
h. direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.

Atenção! Historicamente o Princípio do Duplo Grau não tem víeis absoluto, o


que podemos extrair das seguintes situações jurídicas:
a. Segundo Ada Pelegrini as interlocutórias simples no processo penal, em
regra, são irrecorríveis (Princípio da Irrecorribilidade das Interlocutórias
Simples). Todavia, nada impede que se impetre HC ou MS.
b. Segundo o STF na Súmula 453, o instituto na mutatio libelli (art.384 CPP)
não se aplica no segundo grau de jurisdição.
c. Súmula 453
NÃO SE APLICAM À SEGUNDA INSTÂNCIA O ART. 384 E PARÁGRAFO ÚNICO DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL, QUE POSSIBILITAM DAR NOVA DEFINIÇÃO JURÍDICA AO FATO DELITUOSO, EM VIRTUDE DE
CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR NÃO CONTIDA, EXPLÍCITA OU IMPLICITAMENTE, NA DENÚNCIA OU QUEIXA.
d. As autoridades que usufruem de foro por prerrogativa de função serão
julgadas originariamente perante o tribunal e não terão direito a um duplo
grau de mérito propriamente dito. (STF, RHC 79.785).

Obs. na AP 470 que tramita no STF, popularmente chamada de julgamento do


mensalão, o Supremo amparado no respeito ao duplo grau, acatou os embargos
infringentes apresentados criando assim 02 premissas a serem destacadas:
o O STF admitiu como vigentes um recurso previsto no regimento interno e
que antecede a Constituição de 1988.
o A admissibilidade dos embargos infringentes também se justificou pelo
respeito ao duplo grau de jurisdição criando-se uma inusitada situação
onde a reapreciação do mérito compete ao próprio órgão que proferiu a
decisão impugnada.

Informativo 735 STF - A divergência estabelecida na fixação da dosimetria da pena


não enseja o cabimento de embargos infringentes no STF.
STF. Plenário. AP 470 EI-décimos quartos-AgR/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em
13/2/2014.
Embargos infringentes
São cabíveis embargos infringentes contra decisão do STF que tiver condenado o réu em
processo de competência originária daquela Corte, desde que tenha havido, no mínimo, quatro
votos divergentes.
Os embargos infringentes do STF estão previstos no art. 331, I, do RISTF, que foi recepcionado
pela CF/88 com força de lei ordinária e não foi revogado pela Lei nº 8.038/90.
STF. Plenário. AP 470 AgR - vigésimo sétimo/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 18.9.2013.
Se quiser maiores detalhes, veja o Info 720-STF.

4) Pressupostos Recursais (condições recursais):


Ada Pelegrini chama de condições recursais: são conceitos análogos.
Conceito: pressupostos/condições recursais são os requisitos necessários para
que o recurso ultrapasse o juízo de admissibilidade, permitindo que o órgão ad
quem adentre no mérito.

4.1) Enquadramento Terminológico:


A. Quando se trabalha com juízo de admissibilidade do recurso, iremos
analisar os pressupostos ou condições recursais. Trata-se de uma
análise prelibatória (antecede o mérito).
B. Permitirá o juízo de mérito – há uma análise principal do recurso. Trata-
se de uma análise delibatória.

Pressupostos recursais: CARTA LI


Objetivos Subjetivos
Objetivos:
Cabimento
Adequação
Regularidade formal na interposição do recurso (ex. RESE e apelação – por
petição ou termo nos autos e não necessitam vir acompanhados das razões);
Tempestividade (prazo processual)
Ausência de fato impeditivos ou extintivos (impede = renúncia / extingue
deserção ou desistência). Obs. MP não pode renunciar ou desistir. Obs. A
deserção vem do não pagamento das custas.

Subjetivos:
Legitimidade recursal (ativo: MP, querelante, assistente/ passivo réu defensor,
curador)
Interesse recursal: sucumbência – frustração de expectativas legítimas.

Obs. Pressupostos de admissibilidade recursal podem ser divididos em:

I) Pressupostos intrínsecos:

a) Cabimento de recurso
b) Legitimação do recorrente
c) Interesse no recurso
d) Inexistência de algum fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer
II) Pressupostos Extrínsecos:

a) Tempestividade
b) Regularidade Formal
c) Preparo

4.2) Pressupostos recursais objetivos:

I. Cabimento
Significa a previsão legal de recurso para impugnar determinada decisão.
Está diretamente ligado ao Princípio da Legalidade Recursal. Não havendo
previsão legal de recurso para impugnar determinada decisão, nada impede que
o sucumbente impetre HC ou MS.

II. Adequação
É necessário que o recorrente utilize a ferramenta impugnativa adequada ao
caso.
Obs. O princípio da fungibilidade mitiga os rigores da adequação. Afinal, um
recurso equivocado pode ser conhecido como se fosse o correto, desde que não
exista má-fé ou erro grosseiro.

III. Tempestividade
Conceito: Os recursos devem ser interpostos, respeitando-se o prazo legal, sob
pena de preclusão temporal.

Obs.1: Interposição:
A tempestividade recursal é medida pela interposição, sendo que, nos recursos
que tem prazo autônomo para as razões, como na apelação e no RESE, a sua
apresentação fora do prazo é mera irregularidade. STJ HC204.099

Obs.2: Início do prazo recursal.


Os prazos para recurso tem natureza processual (art.798 CPP) e são contados
a partir da respectiva intimação.

Conclusões:
a. A intimação do MP, dos defensores públicos e dos advogados dativos é
sempre pessoal. Já a intimação do advogado do querelante, do
advogado do assistente de acusação e do advogado contratado pelo réu
é feita pela imprensa ou por qualquer outro meio idôneo.
b. Para o STF a entrega dos autos no setor administrativo do MP
configura a intimação pessoal daquele órgão (STF HC 83255).
c. Segundo o STF na súmula 710, o prazo começa a fluir da efetiva
intimação e não da juntada aos autos da carta cumprida.
Súmula 710
NO PROCESSO PENAL, CONTAM-SE OS PRAZOS DA DATA DA INTIMAÇÃO, E NÃO DA JUNTADA AOS AUTOS
DO MANDADO OU DA CARTA PRECATÓRIA OU DE ORDEM.
d. Segundo o STF na sua súmula 310 se a intimação ocorrer na sexta-feira
o prazo passa a fluir do 1º dia útil subsequente em que existe expediente.
Vale dizer segunda-feira.
e. Quando a decisão é proferida em audiência, as partes já sairão intimadas
para eventuais recursos, desde que, estejam presentes.
f. Na esfera militar a decisão pode ser lida na própria sessão o em até 8
dias, sendo este o marco para se aferir a ocorrência a intimação.

Obs.3: Peculiaridades quanto ao prazo da defesa:


O advogado/ defensor e o réu são dotados de legitimidade autônoma para
recorrer e o prazo começa a fruir a partir da última intimação, pouco importando
a ordem em que tenha sido realizada. (STJ Resp 873 052).

Atenção! Se têm entendido que a necessidade de intimação pessoal do réu é


aplicável no primeiro grau de jurisdição (STJ, HC 111.698).

Obs.4: Prazo em dobro:


a. Defensor público: SIM, tem prazo em dobro.
b. Advogado dativo: NÃO, não tem prazo em dobro.
c. MP: NÃO, não tem prazo em dobro e está afastada a aplicação do art.
188 CPC.
d. Juizado Especiais Federais: o art. 9º da Lei 10.259/01 não tolera nos
juizados federais diferenciação prazal, o que a princípio não deve atingir
na esfera penal os defensores públicos.

Obs.5: Interposição de recurso por fax:


Ela é aceita no processo penal (HC 86.952).

Obs.6: Informatização da justiça.


A lei 11.419/06 que disciplina a informatização da justiça tem aplicação na esfera
penal, salvo no que pertine ao ato citatório.

IV. Inexistência de Fato Impeditivo:


a. Conceito: é o reconhecimento de que não se admitem elementos que
antecedem a interposição do recurso e impedem o seu conhecimento.

b. Hipóteses de fato impeditivo:


b.1) Renúncia ao direito de recorrer.
Conceito: a renúncia é um desdobramento do princípio da voluntariedade e se
caracteriza quando a parte afirma que não irá impugnar a decisão antecipando
o seu trânsito em julgado.

Legitimidade da renúncia ao direito de recorrer:


 MP:
1ª posição) para Eugênio Pacelli o MP não poderá renunciar como consectário
do Princípio da Obrigatoriedade, já que o promotor não atua com
discricionariedade.
2ª posição) Para Paulo Rangel e Denilson Feitoza o MP pode renunciar como
desdobramento do Princípio da Voluntariedade Recursal.
 Defensoria:
Segundo o STF na súmula 705, a renúncia por parte do réu que está
desassistido, não impede o recurso apresentado pelo seu advogado.
Súmula 705
A RENÚNCIA DO RÉU AO DIREITO DE APELAÇÃO, MANIFESTADA SEM A ASSISTÊNCIA DO DEFENSOR, NÃO
IMPEDE O CONHECIMENTO DA APELAÇÃO POR ESTE INTERPOSTA.
Ex. oficial em comarcas mais simples perguntava ao réu (pessoa humilde) ao
intimá-lo se tinha interesse em recorrer. O réu respondia que não por
desconhecimento.

Nada impede que o advogado venha a renunciar e neste caso, segundo o STF
na Súmula 708, o réu será intimado para contratar um novo advogado.
Súmula 708
É NULO O JULGAMENTO DA APELAÇÃO SE, APÓS A MANIFESTAÇÃO NOS AUTOS DA RENÚNCIA DO ÚNICO
DEFENSOR, O RÉU NÃO FOI PREVIAMENTE INTIMADO PARA CONSTITUIR OUTRO.

b.2) Preclusão:
É um fato impeditivo que compromete o avanço progressivo do processo.
Hipóteses de Preclusão:
 Preclusão temporal: é a ???
 Preclusão lógica: decorre da prática de um ato incompatível com a
vontade de recorrer
 Preclusão consumativa: ela ocorre quando uma determinada faculdade
processual já foi exercida.
Ex. uma vez apresentadas as razões não se admite que elas sejam
complementadas pela preclusão consumativa, salvo se a decisão impugnada for
alterada.

b.3) Recolhimento ao cárcere para recorrer.


Conceito: até 2008 o recolhimento ao cárcere quando o réu fosse portador de
maus antecedentes ou fosse reincidente era eleito a pressuposto recursal sob
pena de não conhecimento da apelação ou do recurso em sentido estrito
apresentado para impugnar a pronúncia.

Evolução normativa:

Antes de 2008 Após 2008:


Vigência do art.594 CPP. Art.594 CPP foi revogado
expressamente pela lei 11.719/08.
Vigência do 585 do CPP Art.585 CPP foi revogado tacitamente
pela Lei 11.689/08.
Vigência do Súmula 09 STJ. Não aplicação da Súmula 09 STJ, já
que foi superada pela Súmula 347.

Conclusão: atualmente, maus antecedentes e reincidência não justificam a


decretação de prisão e o recolhimento ao cárcere, uma vez que não mais é
pressuposto para conhecimento de recurso.
Ademais a legislação extravagante foi impactada pelas alterações no
CPP e pela mudança de direcionamento jurisprudencial merecendo retificação
os seguintes dispositivos:
 Art.31 da Lei 7492/86.
 Art.22 §2º da Lei 8.038/90.
 Art.2º, §3º da Lei 8.072/90.
 Art.3º da Lei 9.613/98 que foi revogado pela lei 12.683/12.
 Art.59 da Lei 11.343/06.
 Art.527, CPPM

V. Inexistência de Fato Extintivo:


a. Conceito: estamos diante de fatos supervenientes a interposição do
recurso e ocasionam a sua anômala extinção.

b. Hipóteses de fato extintivo:


b.1.Desistência: ela se caracteriza pela manifestação da parte que não
pretende que o recurso interposto seja julgado.

Obs. Legitimidade:
a. MP: NÃO com ponto pacífico, o MP não poderá desistir do recurso
interposto, já que ele é um desdobramento do direito de ação (art.576
CPP).
b. Defensor Público: SIM em homenagem a liberdade funcional, os
defensores poderão desistir do recurso apresentado se for estratégico.
(STJ HC 105.145 e HC93.120).
c. O réu ou advogado constituído: SIM poderão desistir de eventuais
recursos interpostos.

b.2. Deserção:
O art. 806 CPP disciplina normativamente o preparo que está dispensada nas
ações públicas.
Na ação privada exclusiva ou personalíssima, o preparo pode ser exigido a
depender do estado da federação.
Atenção! Com a expressa revogação do art.595 CPP pela Lei 11.719/08,
reconhecemos que não mais existe deserção pela fuga do réu que já tenha
interposto o recurso.

VI. Regularidade Formal:


Conceito: ela guarda pertinência com a interposição do recurso e com as razões
recursais tendo por parâmetro o Princípio do devido processo legal.
Obs.: Haverá verdadeira mitigação quando adotarmos o Princípio da
Instrumentalidade das formas, desde que não ocorra ofensa a garantias
inerentes a atuação das fases.

4.3) Pressupostos recursais subjetivos:


4.3.1) Legitimidade.
Conceito: Segundo Ada Pellegrini a legitimidade nada mais é que a pertinência
subjetiva para apresentação de determinado recurso.

Hipóteses: Gerais (art.577 CPP)


a. Réu: na esfera penal o réu, mesmo sendo leigo, é legitimado sendo que
as razões recursais vão exigir capacidade postulatória.
b. Assistente de Acusação:
O assistente é a vítima ou seus sucessores com habilitação no processo de ação
pública para auxiliar o MP.
Os poderes do assistente estão delineados no art.271 CPP.
O assistente poderá recorrer se o MP não o fizer, o que caracteriza um recurso
subsidiário ou supletivo.

Atualmente, com a reforma prisional legitima o assistente a pleitear prisão


preventiva, é necessário reconhecer que a atuação do assistente almeja a
obtenção do justo provimento jurisdicional e não apenas de uma indenização.
Logo, poderá recorrer para pleitear a exasperação da pena e até mesmo de
decisão concessiva de HC, estando superado a Súmula 208 STF.

Aula 12

Obs. Prazo Recursal do assistente


a) Habilitado: 05 dias.
b) Não habilitado: 15 dias (art.598, p.ú., CPP).

Atenção! Segundo STF na Súmula 448, como o assistente só poderá recorrer


se o MP não o fizer, o seu prazo passa a fluir uma vez esgotado o prazo
ministerial.
Súmula 448
O PRAZO PARA O ASSISTENTE RECORRER, SUPLETIVAMENTE, COMEÇA A CORRER IMEDIATAMENTE APÓS
O TRANSCURSO DO PRAZO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

Atenção! O assistente tem legitimidade para interpor alguns recursos dentro da


prelação normativa, quais sejam:
Alguns recursos do assistente (sob a ótica subsidiária):
 Apelação (art.598 CPP)
Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for
interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas
enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que
não terá, porém, efeito suspensivo.

 RESE para impugnar a extinção da punibilidade, e historicamente antes


da lei 11.689/08 a decisão de impronúncia.
Atualmente o RESE da impronúncia foi substituído pelo recurso de apelação
(art.416 CPP).
 O assistente poderá recorrer das decisões favoráveis dentro da
sistemática prisional. Ex. recurso da decisão de HC que deferiu a
liberdade.

Conclusão: uma vez deflagrada a legitimidade recursal do assistente ele poderá


desdobrar a relação recursal até a última instância com recursos ordinários e
extraordinários. Vide Súmula 210 STF.
Súmula 210
O ASSISTENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PODE RECORRER, INCLUSIVE EXTRAORDINARIAMENTE, NA AÇÃO
PENAL, NOS CASOS DOS ARTS. 584, § 1º, E 598 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

Obs. 5: Regramento na legislação especial:


i) Art.2º,p.ú do Dec. Lei 201/67: órgãos federais como assistente de
acusação por intermédio de suas procuradorias.
§ 1º Os órgãos federais, estaduais ou municipais, interessados na apuração da responsabilidade do
Prefeito, podem requerer a abertura do inquérito policial ou a instauração da ação penal pelo Ministério
Público, bem como intervir, em qualquer fase do processo, como assistente da acusação.

ii) Art.26, p.ú da Lei 7.492/86: vai trabalhar com os crimes contra o
sistema financeiro – se dá pela CVM (Convenção de Valores
Mobiliários) e BC (Banco Central).

4.3.2) Interesse Recursal:


a. Conceito: segundo Denílson Feitoza, o interesse deriva da
sucumbência que é fruto de uma situação jurídica desfavorável originada da
decisão a ser impugnada.

b. Classificação da sucumbência:

b.1. Sucumbência única: ela atinge apenas uma das partes.


b.2. Sucumbência múltipla: nela, o gravame atinge mais de um interessado,
podendo ser desdobrado da seguinte maneira:
b.2.1) Sucumbência múltipla paralela: nela os interesses desatendidos
são idênticos.
b.2.1) Sucumbência múltipla recíproca: nela os interesses violados são
contrapostos. Ex. MP pleiteia condenação por roubo e receptação. Juiz decidiu
favorável ao roubo mas contrário a receptação (acusação e defesa são
sucumbentes).

b.3) Sucumbência Direta: é aquela que ofende frontalmente o interesse da


parte.
b.4) Sucumbência Reflexa: nela nós teremos prejuízo aplicável a quem não
integra a relação processual. Ex. vítima (assistente) não habilitada diante de uma
sentença absolutória pode recorrer em 15 dias. Art.598, p.ú CPP.
Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for
interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas
enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que
não terá, porém, efeito suspensivo.
Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em que
terminar o do Ministério Público.

b.5) Sucumbência Total: o pedido da parte é negado em sua integralidade.


b.6) Sucumbência Parcial: nela apenas uma parte do pedido foi desatendido

c. Interesse Recursal da Defesa em recorrer de decisão absolutória:


c.1. Absolvição imprópria: há interesse recursal.
c.2. Absolvição própria: neste caso, a defesa nutre interesse recursal para que
o fundamento absolutório impeça eventual ação civil indenizatória.
c.3. Extinção da Punibilidade: não há interesse recursal (STJ, Resp 908. 863).

Obs. Divergência entre o interesse do acusado e do defensor.


Ex. para transação penal é necessário lastro probatório mínimo, qual seja,
indícios de autoria e materialidade, mas muitas vezes o acusado aceita por
medo. Diante disso o defensor pode recorrer da transação. Prevalece a vontade
de quem quer recorrer. É a decorrência lógica da Súmula 705 STF.
Súmula 705
A RENÚNCIA DO RÉU AO DIREITO DE APELAÇÃO, MANIFESTADA SEM A ASSISTÊNCIA DO DEFENSOR, NÃO
IMPEDE O CONHECIMENTO DA APELAÇÃO POR ESTE INTERPOSTA.

d. Sentença condenatória ou absolutória:


d.1) Interesse recursal do MP: se o MP foi sucumbente, nada impede o
recurso da sentença condenatória pleiteando a absolvição. A sucumbência
acontece quando em memoriais o Promotor pleiteou a absolvição e o réu acabou
condenado.
d.2) Ação exclusivamente privada:
d.2.1) Sentença condenatória: neste caso, haverá interesse
recursal para exasperar a pena ou para pleitear a absolvição ou
abrandamento da sanção.
d.2.2) Sentença absolutória: neste caso como a ação privada é
movida pelo Princípio da Disponibilidade se o querelante não recorrer, o MP
nada tem a fazer.

Efeitos Recursais: obstativo, devolutivo, suspensivo, translativo, regressivo/


imperativo ou diferido, extensivo, substitutivo.

5.1) Efeito obstativo:


Conceito: a interposição recursal impede a preclusão temporal, obstando o
transito em julgado da decisão.

5.2) Efeito Devolutivo:


A ideia do tantum devolutum quantum apelatum. Devolvo ao judiciário tanto
quanto eu impugnei.
Conceito: por ele o judiciário vai reapreciar a matéria fruto da impugnação e nos
termos e limites apresentados pela parte (Princípio da Inércia da Jurisdição).
Obs.1: os limites da impugnação podem ser transbordados em razão da
reformatio in mellius já que o tribunal mesmo julgando extrapetita pode
transbordar os limites do recurso para beneficiar o réu (há uma extensão da
devolução).
Obs.2: uma vez interposto recurso a sua dimensão horizontal (devolutividade) é
especificada pelo recorrente. Todavia, a análise da profundidade do conteúdo
(dimensão vertical) compete ao órgão julgador não havendo limite.
Obs.3: Se a parte pretende limitar a amplitude do recurso deverá fazer na
petição de interposição e não nas razões. Se ela for omissa presume-se que
tenha recorrido de tudo e o tribunal terá ampla cognição horizontal, salvo nos
recursos de fundamentação vinculada onde esta liberdade não existe (STF, HC
93.942). Ex. apelação da sentença em plenário do júri (art.593,III, CPP).
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. (Redação dada pela Lei nº
263, de 23.2.1948)

5.3) Efeito Suspensivo:


Se caracteriza por obstar que a decisão seja implementada no mundo jurídico
enquanto o recurso não for definitivamente julgado. Este efeito pressupõe
disciplina legal.
Obs. Segundo Ouvídio Batista, o efeito suspensivo não é trazido pela
interposição do recurso e sim pelo simples fato da decisão ser passível de um
recurso com este efeito. Logo, do momento em que a decisão é proferida até o
julgamento definitivo do recurso, ela não é implementável.

Efeito suspensivo indireto: alguns recursos não gozam por lei de efeito
suspensivo como recurso extraordinário e o especial, mas indiretamente ele
existe, afinal como o réu é presumivelmente inocente, não haverá execução
provisória da pena (STF HC 84.078).

Atualmente, de acordo com as súmulas 716 e 717 STF nada impede que os
benefícios da Lei de Execução Penal sejam aplicados antes da decisão
transitada em julgado.

Obs.4: Inexistência de efeito suspensivo.


A apelação de sentença absolutória está desprovida de efeito suspensivo de
forma que o réu será imediatamente libertado.

5.4) Efeito regressivo/ imperativo ou diferido:


Conceito: por ele, o órgão prolator da decisão poderá se retratar em razão da
interposição do recurso.
Aplicação:
 RESE
 Agravo em execução
 Carta Testemunhável
 Agravo para destrancar recurso especial e recurso extraordinário.

Classificação dos Recursos em razão do órgão competente para rever a matéria.


Há uma tripartição:
a) Recursos iterativos: são aqueles em que a reanálise da matéria será
feita necessariamente pelo órgão que proferiu a decisão. Ex. embargos
de declaração.
b) Recursos reiterativos: neles a decisão impugnada será revista apenas
pelo órgão ad quem. Ex. apelação.

c) Recursos mistos: são aqueles onde o conteúdo impugnado é revisto


pelo órgão a quo com a possibilidade de retratação e eventualmente pelo
órgão ad quem. Ex. RESE, Agravo em execução, Carta Testemunhável,
Agravo para destrancar recurso especial e recurso extraordinário.

5.5) Efeito Extensivo:


Conceito: por ele, réus que não recorreram podem ser beneficiados pelo recurso
de um comparsa, desde que o fundamento não seja personalíssimo
aproveitando a todos (art.580 CPP).
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um
dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos
outros.

Atenção! Este efeito é também aplicável às ações de impugnação como o HC e


a revisão criminal.

5.6) Efeito Substitutivo:


Conceito: por ele, quando o tribunal aprecia o mérito do recurso, proferirá um
acórdão substituindo a decisão impugnada.

Obs.1: Embasamento normativo: Art.512 CPC c/c art.3º CPP


Art. 512 CPC. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que
tiver sido objeto de recurso.
Art. 3o CPP A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.

Atenção! (Prova da Defensoria)


Havendo substitutividade com trânsito em julgado, esta decisão é o parâmetro
para eventual ação de revisão criminal.

5.7) Efeito Translativo:


Conceito: é a capacidade do tribunal analisar matérias que refogem à alegação
do recorrente por ser matéria de ordem pública. Ex. nulidade absoluta pode ser
reconhecida de ofício.
Atenção! Este Princípio é mitigado pela proibição da reformatio in pejus, já que
o tribunal não poderá reconhecer de ofício nulidade que possa prejudicar a
defesa. Súmula 160 STF:
Súmula 160
É NULA A DECISÃO DO TRIBUNAL QUE ACOLHE, CONTRA O RÉU, NULIDADE NÃO ARGÜIDA NO RECURSO
DA ACUSAÇÃO, RESSALVADOS OS CASOS DE RECURSO DE OFÍCIO.

(TJMG) As normas sobre o sistema recursal são reconhecidamente processuais,


tendo aplicação imediata. Vide Art.2º CPP:
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior.

Obs.1: Adequada interpretação: a sistemática recursal nos permite concluir que


a lei aplicável é aquela vigente no nascimento da nossa pretensão recursal que
acontece no momento em que a decisão é proferida e ganha visibilidade.
Ex. 13 de maio foi proferida a sentença. Em 15 de maio de 2013 uma nova lei
extinguiu o recurso de apelação. Assim, a apelação deve ser recebida, pois era
vigente a lei que admitia apelação em 13 de maio.

Atenção! De acordo com o art.389 CPP a sentença é publicada nas mãos do


escrivão no momento em que o magistrado a entrega.

Obs.2: exemplos mais recentes:


a) No protesto por novo júri extinto pela lei 11.689/08 reconhecemos que o
instituto persistiu até 8 de agosto de 2008 (08/08/08 – STJ RHC 31.585)
– todas as decisões proferidas até esta data.
b) Atenção para o art.4º da Lei 11.418/06, exigindo a repercussão geral para
o Recurso Extraordinário – RE.
Art. 4o Aplica-se esta Lei aos recursos interpostos a partir do primeiro dia de sua vigência.
???
Atenção! O STF, na QO suscitada no AI 664.567 condicionou a demonstração
da Repercussão geral às adequações regimentais que entraram em vigor no dia
03/05/2007 – 03 de maio de 2007.

5) Procedimento Recursal:

A) Inauguração perante o juízo a quo:


Se divide em 03:
a.1) Interposição do Recurso: a interposição pode ser a quo ou a termo.

a.2) Juízo de admissibilidade:


Terei o juízo de admissibilidade: análise dos pressupostos recursais.

Havendo analise negativa quanto a admissibilidade, o recurso será rejeitado.


Havendo analise positiva quanto a admissibilidade, o recurso será recebido e
terá seguimento ao órgão ad quem.

a.3)??

B) Juízo ad quem:
b.1) Juízo de admissibilidade: há a renovação do juízo de admissibilidade.
Analisará mais uma vez os pressupostos recursais. Ele poderá ser:
 Negativo: o recurso não poderá ser conhecido.
 Positivo: o recurso será conhecido. O recurso terá seguimento.

b.2) Seguimento.
b.3) Órgão colegiado vai ingressar no mérito.
O recurso será provido ou improvido.

Obs. Julgamento monocrático por relator em tribunal:


a. Ele não é possível nos TJ’s e nos TRF’s, no julgamento de apelações,
RESE’s ou agravo em execução.
b. Perante os tribunais superiores ele é admitido notadamente no RE
(recurso extraordinário) e no Resp (recurso especial), aplicando-se o
art.557 do CPC c/c art.38, Lei 8.038/90.

Aula 13
AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGAÇÃO

1) HABEAS CORPUS

1) Conceito
Segundo Pontes de Miranda, é a ferramenta constitucionalmente assegurada
(art.5º, LXVIII, CF) que almeja a tutela do direito líquido e certo de locomoção
contra ilegalidade ou abuso de poder atual ou iminente que atinge direito próprio
ou alheio, comprometendo a prerrogativa de ir, vir ou ficar.

Disciplina normativo infraconstitucional: art.647 e ss CPP.


A doutrina brasileira do HC (questão MPF) admitia uma visão ampla de utilização
do HC para tutela de outros direitos com liquidez e certeza, o que foi superado
em 1926.

2) Natureza Jurídica do HC:


2.1) 1ª posição: encampada pelo CPP – 01/01/1942: é um recurso
2.2) 2ª posição: Para a doutrina pátria atual (Ada Pellegrini), STF e STF e novo
CPP (projeto):
Trata-se de uma ação autônoma de impugnação estabelecendo uma nova
relação jurídica processual e podendo ser impetrado antes da deflagração do
processo criminal ou após o transito em julgado de eventual sentença.

3) Legitimidade:

3.1) Legitimidade ativa: de qualquer pessoa. Pode ser enquadrado


como uma ação penal popular não condenatória.

Atenção! Não pode haver ação penal popular condenatória, mas pode haver
ação penal popular não condenatória.

Pessoa Jurídica, infantes, inimputáveis, analfabetos podem impetrar


HC?
R. Sim, admite-se que o menor, louco, analfabeto, PJ impetrem HC, ou seja,
qualquer pessoa. Apenas não se tolera HC apócrifo (anônimo).

Obs.1: O legitimado poderá, inclusive, interpor eventuais recursos no


desdobramento da relação processual em virtude do julgamento do HC.

Obs.2: a impetração de HC pressupõe capacidade processual (de ser parte).

3.2) Legitimidade passiva: é do autor. Arbitrariedade (abuso de


poder) ou da ilegalidade.
Em regra, é um funcionário público, mas nada impede que seja um particular
notadamente nas relações médico-hospitalares.
Ex. idoso internado compulsoriamente deve impetrar HC contra dono da clínica
e filhos.

3.3) Paciente: é o beneficiado pela ordem.


Obs.1: pode haver coincidência entre o impetrante e o paciente.
Obs.2: o paciente é necessariamente uma pessoa física, afinal os interesses da
PJ na esfera penal são albergados por MS.
Na prova objetiva do TJMG, considerou-se como correto a impetração de HC
para pessoa jurídica, mas isso é um equívoco.
4) Modalidades de HC:

4.1) HC repressivo ou liberatório: neste caso a liberdade


ambulatorial já foi cerceada e o provimento da ação comina na expedição de
alvará de soltura.

4.2) HC preventivo: Nele existe um risco iminente a nossa liberdade


e o provimento da ação resulta na expedição de um salvo conduto (é um fator
impeditivo, uma garantia).

4.3) HC suspensivo: para LFG ele se caracteriza quando a ordem


prisional já foi expedida, mas o mandado ainda não foi cumprido. O provimento
da ação resulta na expedição de uma contraordem ou de um contramandado
prisional.

4.4) HC profilático: é aquele impetrado quando o risco a liberdade de


locomoção existe, mas é periférico ou difuso.
Ex. impedimento do advogado de acessar os autos de inquérito (na ótica do
suspeito). Na ótica do advogado cabe MS.

4.5) HC trancativo: é aquele que almeja extinguir sumariamente o


procedimento investigativo ou o processo criminal em virtude da patente
ilegalidade normalmente tangenciada pela ausência de justa causa que nada
mais é do que o lastro indiciário ou probatório de sustentabilidade do
procedimento. Ele não foi disciplinado expressamente.

4.6) HC nulificador: ele se justifica quando exista uma patente


nulidade do processo e o provimento da ação normalmente resulta na
declaração da nulidade e na necessidade de reconstrução do processo a partir
da ocorrência do vício. Esta modalidade de HC é também utilizada para combate
de decisão transitada em julgado e manifestamente nula, já que teremos
uma maior eficiência na obtenção da liberdade em comparação com a ação de
revisão criminal.

4.7) HC para extinção da punibilidade: o resultado deste HC é a


declaração de extinção da punibilidade, prejudicando a eventual persecução
penal em curso (art.107, CP).

4.8) HC “ex officio”: os juízos e tribunais sempre que tenham


conhecimento de eventual ilegalidade e abuso de poder, comprometendo a
liberdade ambulatorial, estão autorizados a conceder HC, respeitando-se
contudo, as regras de competência.

Atenção! Em que pese a omissão do CPP, é pacífico o entendimento quanto a


admissibilidade de liminar nas mais variadas modalidades de HC em analogia
ao que ocorre com o que ocorre com o MS.

5) Competência:

5.1) Primeira regra interpretativa:


Normalmente a competência para o HC é definida em razão da autoridade
coatora ou do responsável pela ilegalidade.

Coator Competência para julgar o HC


Particular Juiz de 1º grau
Delegado Estadual Juiz Estadual de 1º grau
Delegado Federal Juiz Federal de 1º grau
MP estadual TJ
MPU (atua em 1º grau) TRF
Juiz Estadual de 1º grau TJ
Juiz Federal de 1º grau TRF
Membros do TJ ou TRF STJ
Membro de Tribunal Superior STF

Obs.1: turma recursal do juizado como coatora.


Atualmente, a súmula 690 STF não tem mais aplicação e quando a turma
recursal é a coatora, o HC será julgado no TJ ou no TRF conforme o caso.

(Prova MP e TJ):
Os membros do MP podem funcionar como coautores quando presidem um PIC
(procedimento investigativo criminal) ou quando requisitam a instauração de
inquérito. Por outro lado, na indicação dos juízes, devemos distinguir coator que
é o responsável jurídico pela ilegalidade do mero detentor que é aquele que
administra o acondicionamento do preso e que não figura no HC.

5.2) 2ª regra interpretativa: Competência específica do STF:


a) Se o paciente se submete a jurisdição do Supremo, será do STF a
competência para julgar ao HC. Art.102,I, “d” CF.
b) Ainda cabe ao Supremo julgar HC quando o coator está submetido a sua
jurisdição, mesmo que não integre o judiciário, ressalvando-se apenas
a competência constitucional do STJ. Art.102,I, “i” CF.

5.3) 3ª regra interpretativa: Competência específica do STJ:


i. Quando o paciente se submete a jurisdição do STJ, lhe caberá julgar o
HC (art.105,I, “c”, CF).
ii. Quando o coator se subsume a jurisdição do STJ caberá a este tribunal
julgar o HC (art.105,I, “c”, CF).
Atenção! Vale lembrar que os ministros de Estado e os comandantes das
forças armadas ao praticarem crime serão julgados no Supremo. Todavia,
quando forem coatores o HC será impetrado no STJ.

6) Cabimento do HC:
Foi idealizado pelo art.648 CPP.
Atenção! Art.648 não é taxativo.
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:
I - quando não houver justa causa;
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;
VI - quando o processo for manifestamente nulo;
VII - quando extinta a punibilidade.

I) Inexistência de justa causa:


Obs.1: Enquadramento terminológico: esta expressão pode caracterizar
ausência de lastro indiciário ou probatório mínimo, assim como ausência de
legalidade lato sensu.

Obs.2: Enquadramento persecutório:


 Inquérito Policial
 Processo
 Prisão

Consequência de justa causa: este inquérito deve ser trancado.


 Inquérito Policial - trancado
 Processo - trancado
 Prisão – ilegal, devendo ser relaxada.

II) Quando o agente está preso por mais tempo do que a lei determina:
A única prisão cautelar que tem métrica prazal é a temporária (prisão temporária
é a única que tem prazo certo), conforme a Lei 7.960/89. Esgotado o prazo, a
prisão se autorevoga e a libertação do agente independe da expedição de
alvará de soltura, sob pena de abuso de autoridade. Perpetuado o cárcere, a
prisão se transforma em coação ilegal desafiando relaxamento.

III) Quando o autor da coação é incompetente:


Obs. Enquadramento persecutório:
 Decretação de prisão ou de outra medida cautelar. Neste caso, a
prisão é manifestamente ilegal, merecendo relaxamento e eventual
medida cautelar será caçada e o seu resultado é imprestável. Nada
impede que a medida cautelar seja renovada o juízo competente.
 Se o processo tramita perante órgão incompetente, a procedência do HC
importa na determinação de remessa dos autos para o juízo competente.

Atenção! Se a incompetência era relativa (territorial), os atos decisórios são


reputados nulos e os instrutórios podem ser aproveitados pelo juízo competente
(art.567 CPP). Já se a incompetência é absoluta, todos os atos devem ser
renovados.
IV) Quando houver cessado o motivo da coação:
A prisão preventiva se estende no tempo enquanto houver necessidade que é
medida pela presença das suas hipóteses de decretação (art.312 CPP).
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova
da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4 o). (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).

Se elas desaparecem, a prisão deve ser revogada (art.316 CPP) e para tanto,
admite-se a impetração de HC, afinal a preventiva segue a cláusula rebus sic
standibus.
V) Quando o agente não é admitido a prestar fiança.

Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação
dada pela Lei nº 5.349, de 3.11.1967)

O dispositivo permite interpretação extensiva para albergar liberdade provisória,


com ou sem fiança e ambas são enquadráveis como um direito, desde que
preenchidos os requisitos legais.

Art.310,III CPP.
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

VI) Quando o processo é manifestamente nulo:


Obs.: neste caso, segundo Ada Pellegrini e Scarance Fernandes, o ato originário
será declarado nulo e os que dele decorrem em homenagem ao Princípio da
Consequencialidade.

VII) Havendo a extinção da punibilidade:


Obs.: neste caso, o provimento do HC culmina numa decisão “terminativa de
mérito” (expressão de Tourinho Filho), declarando-se extinta a punibilidade.

7) Leitura do HC na ótica das condições da ação:

7.1) Legitimidade ad causam:


Segundo Alfredo Buzaio nada mais é do que a pertinência subjetiva da ação
e no polo ativo pode figurar qualquer pessoa com capacidade processual e no
polo passivo teremos o autor da ilegalidade ou do abuso de poder, seja ele um
funcionário público ou um particular.

7.2) Interesse de agir:

7.2.1) Necessidade da tutela:


Conceito: deve ser demonstrada a existência de violência ou coação a liberdade
de maneira concreta e plausível.

Conclusões:
a. No processamento do HC não se admite instrução probatória. Logo, a
demonstração deve estar lastreada por prova pré-constituída.
b. Não se admite HC para impugnar ato normativo em tese (STJ, HC
140.861)

7.2.2) Adequação:
Conceito: o objetivo do HC é a tutela da liberdade de locomoção, de forma que
não havendo risco nem em tese, a ferramenta adequada é o MS.
Obs. Destacam-se as súmulas 693, 694 e 695 do STF
Súmula 693
NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO CONDENATÓRIA A PENA DE MULTA, OU RELATIVO A
PROCESSO EM CURSO POR INFRAÇÃO PENAL A QUE A PENA PECUNIÁRIA SEJA A ÚNICA COMINADA.
Súmula 694
NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA A IMPOSIÇÃO DA PENA DE EXCLUSÃO DE MILITAR OU DE PERDA
DE PATENTE OU DE FUNÇÃO PÚBLICA.
Súmula 695
NÃO CABE "HABEAS CORPUS" QUANDO JÁ EXTINTA A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.

Ex. Está vinculado ao pedido de reabilitação o MS, pois não cabe mais privação
de liberdade, uma vez que a pena já foi cumprida.

7.3) Possibilidade Jurídica do Pedido:

a) Cabimento de HC em relação a punições disciplinares militares.


Em regra, de acordo com o §2º do art.142 da CF, não caberá HC.
Esta restrição segundo o Supremo, está adstrita ao mérito da sanção e não
impede via habeas corpus a análise da legalidade do ato (STF, RE 338.840).

b) Prisão administrativa (art.650, §2º CPP):


Segundo a doutrina majoritária (Tourinho Filho) a prisão administrativa não foi
recepcionada pela Constituição, o que é consolidado pela Lei 12.403/11 de
maneira que neste tópico o objeto está prejudicado.

Aula 14 – 1ª parte
(Note que a aula 14 foi repartida no caderno e continua com nulidades).

8) Restrições quanto a admissibilidade ao HC:

Segundo o STF, na Súmula 691, não cabe HC do indeferimento de liminar em


Habeas Corpus feito monocraticamente por Ministro Relator em Tribunal
Superior.
Súmula 691
NÃO COMPETE AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CONHECER DE "HABEAS CORPUS" IMPETRADO CONTRA
DECISÃO DO RELATOR QUE, EM "HABEAS CORPUS" REQUERIDO A TRIBUNAL SUPERIOR, INDEFERE A
LIMINAR.

Conclusões:
a) O entendimento sumular atualmente é aplicado para reger denegação
de liminar por Desembargador Relator no TJ ou no TRF.
b) O próprio supremo mitigou os rigores da Sumula 611, admitindo HC
nas hipóteses onde a denegação da liminar está contaminada por manifesta
ilegalidade. Vide STF HC109.167.

9) Sistema Recursal do HC:

9.1) HC impetrado perante o primeiro grau.


Quando o juiz de 1º grau julga o HC ele proferirá sentença que pode ser pela
procedência ou improcedência da ordem. Para impugnar esta decisão caberá
RESE (Art. 581, X CPP).
Atenção! A concessão do HC em 1º grau ainda comporta Recurso de Ofício
(art.574 CPP) que nada mais é do que o requisito para que a decisão transite
em julgado (Súmula 423 STF).
Súmula 423
NÃO TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX OFFICIO", QUE SE
CONSIDERA INTERPOSTO "EX LEGE".

9.2) HC impetrado no TJ ou TRF.

a) Indeferimento de liminar por decisão monocrática.


Neste caso admite-se o manejo do Agravo Regimental sem prejuízo do
cabimento de um novo HC nas hipóteses de manifesta ilegalidade.

b) Julgamento colegiado do mérito:


b.1) Improcedência da ordem: se HC no mérito for julgado improcedente no TJ
ou TRF caberá ROC (recurso ordinário constitucional) para o STJ – art. 105,II,
“a” CF.

b.2) Procedência da ordem: se HC no mérito for julgado procedente no TJ ou


TRF. Havendo ofensa à CF caberá RE (recurso extraordinário) ao STF. Havendo
ofensa à lei federal infraconstitucional caberá RESP (recurso especial) ao STJ.

c) Julgamento do HC pelo STJ:


c.1) Indeferimento da Liminar pelo ministro relator: caberá agravo regimental
sem prejuízo de um outro HC nas hipóteses de manifesta ilegalidade.

c.2) Julgamento colegiado do mérito:


i. Improcedente: caberá ROC (recurso ordinário constitucional) ao
STF – art.102,II, “a” CF.
ii. Procedente: a ofensa a CF caberá RE (recurso extraordinário) ao
STF.

Atenção! O STF e o STJ antecipando a proposta do novo CPP (PL156)


passaram a entender que se determinada decisão sobre o tema HC comporta
recurso específico, é este que deve ser utilizado em detrimento de um novo HC
chamado de HC substitutivo (STF, HC 109956 – relatoria do Min. Marco
Aurélio). Conclusão: naturalmente este novo entendimento ainda não sumulado
deve ser abrandado nas hipóteses de manifesta ilegalidade, afinal o HC é julgado
de forma muito mais célere do que o ROC.

2) AÇÃO DE REVISÃO CRIMINAL


1. Conceito:
Ela é uma ação autônoma de impugnação que estabelece uma nova relação
jurídica processual e tendo aptidão para impugnar decisões com trânsito em
julgado desfavoráveis à defesa e sendo de competência originária dos tribunais
(ou das turmas recursais nos juizados).
Atenção! Diferenciações entre ação rescisória e revisão criminal:

Ação Rescisória Revisão Criminal


O direito de ajuizar a rescisória se Pode ser proposta a qualquer tempo,
submete ao prazo decadencial de 02 inclusive após o cumprimento integral
anos. da pena e até mesmo após a morte do
réu, pois se deseja reestabelecer o
status dignitatis.
Legitimidade: Legitimidade:
A ação rescisória pode ser proposta A revisão criminal será proposta pelo
por: réu ou por procurador devidamente
 Quem foi parte do processo. habilitado. Havendo falecimento a
 Por seus sucessores a título ação pode ser proposta pelo CADI:
singular ou universal.  Cônjuge ou companheira
 Pelo terceiro juridicamente  Ascendente
interessado.  Descendentes
 Pelo MP.  Irmãos.
Obs. quanto ao MP, como legitimado
a propor a ação revisional subsistem
02 posições:
1ª posição) Nada impede que o MP
proponha a ação revisional, desde
que em favor do réu, notadamente
nas localidades onde a defensoria
pública inexiste ou é frágil. (Ada
Pellegrini, Norberto Avena).
2ª posição) Para Guilherme Nucci o
MP não poderá promover a ação
revisional por absoluta ausência de
previsão legal disciplinando a matéria.
(HC80796/01).
No concurso prevalece a 1ª posição.
A rescisória pode ser manejada no A ação de revisão criminal só será
interesse de qualquer das partes. manejada em favor dos interesses da
defesa.

2. Pressupostos:
2.1) Pressuposto Lógico:
O pressuposto lógico da ação de revisão criminal é a existência de decisão
judicial condenatória ou absolutória imprópria que tenha transitado em julgado.

Atenção! Não caberá ação revisional de decisões absolutórias próprias com


trânsito em julgado, nem mesmo para modificar o fundamento da absolvição,
pois elas estão protegidas pela coisa soberanamente julgada.

Obs. A decisão que extingue a punibilidade (art.107 CP) ou a decisão que


concede o perdão judicial não se submete à ação revisional. Situação distinta
acontece com a extinção da pretensão executória, pois o interesse da revisão
criminal subsiste, afinal almejamos restabelecer o status dignitatis.

2.2) Pressuposto formal:


Demonstração do trânsito em julgado da decisão, o que normalmente é
promovido por meio de certidão (carta de sentença).

3. Hipóteses de admissibilidade da revisão criminal:


Elas são taxativas e estão delineadas no art. 621 CPP.

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:


I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos
autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de
circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

3.1) Quando a decisão condenatória ou absolutória imprópria for contrária ao


texto expresso de lei ou a evidência dos autos.

Obs.1: Enquadramento interpretativo:


A 1ª situação caracteriza “error in procedendo” – por um equivoco na aplicação
das regras.
Já a parte final do dispositivo nos remete ao “error in judicando”, pois o equívoco
compromete a percepção dos fatos.

Obs.2: em que pese o dispositivo de reportar tão somente à lei penal, devemos
incluir a lei processual, a constituição federal e a constituição americana de
direitos humanos.

Obs.3: no processo penal aplicaremos a súmula 343 do Supremo idealizada


para o processo civil, afinal se a ofensa à norma não for frontal não caberá ação
revisional.

3.2) Quando a decisão está embasada em depoimento, documentos ou perícias


falsas:
Obs.1: Esta falsidade nada mais é do que uma ilicitude probatória atualmente
contextualizada no art. 157 CPP.
Obs.2: a ilicitude probatória pode ser constatada dentro da própria ação
revisional ou em processo autônomo de justificação.

3.3) Quando após o trânsito em julgado são descobertas novas provas da


inocência do réu ou que justifiquem um abrandamento da pena.

Obs.3: a prova nova pode ser antecedente ou subsequente ao trânsito em


julgado, o que não impedirá a sua utilização.

Atenção 01! Segundo o STF, na súmula 611, novatio legis in mellius após o
trânsito em julgado não enseja revisão criminal e a competência para aplica-la
é do juízo das execuções penais.
Súmula 611
TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA CONDENATÓRIA, COMPETE AO JUÍZO DAS EXECUÇÕES A
APLICAÇÃO DE LEI MAIS BENIGNA.
Atenção 02! Efeitos da procedência da ação revisional:
Obs.1: enquadramento terminológico:
O provimento da ação revisional pode culminar nas seguintes situações
jurídicas. Pode haver
a. Pode haver um “judicium rescindens”: neste caso a decisão combatida
será rescindida e o revisionando será submetido a um novo julgamento.
b. Pode haver um “judicium rescisorium”: neste caso o tribunal proferirá
um acórdão substitutivo representativo da nova situação jurídica do réu.

Conclusão: percebe-se assim que a procedência da ação revisional pode


culminar:
 na absolvição do réu;
 na alteração da classificação do crime;
 na modificação da pena;
 na anulação do processo.

Art.626 CPP:
Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração,
absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo.
Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.

4. Competência para julgamento da ação revisional:

4.1) Decisão de 1º grau: quem julgará é o TJ ou TRF.


4.2) Acórdão do TJ: quem julgará é o próprio TJ.
4.3) Acórdão do TRF: quem julgará é o próprio TRF.
4.4) Acórdão do STJ: quem julgará é o próprio STJ.
4.5) Acórdão do STF: quem julgará é o próprio STF.

Regra especial: a turma recursal dos juizados é competente para analisar a


revisão das decisões do juiz de 1º grau do juizado e da própria turma recursal.

5. Justa Indenização:
Conceito: havendo requerimento do interessado, a revisão criminal culminará
no reconhecimento da justa indenização que tem como fato gerador o erro
judiciário. Esta indenização engloba, inclusive, eventuais custos com valores
indenizatórios já pagos à vítima pelo réu em eventual ação civil.

Atenção! A alínea “b”, do §2º do art.630 CPP não tem respaldo constitucional
ao afirmar que não cabe indenização se a ação penal foi de iniciativa privada.
Afinal o erro que compõe o fato gerador da indenização é do Estado. Nada
impede contudo que o Estado promova uma ação regressiva contra o
querelante.

Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização
pelos prejuízos sofridos.
§ 2o A indenização não será devida:
b) se a acusação houver sido meramente privada.
6. Revisão Criminal de acordo com as condições da ação:

6.1) Legitimidade:
a. ativa: art.623 CPP.
Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no
caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

b. passiva:
É o Estado (nos processos Estaduais) ou a União (processos federais).
Atenção! O MP não é legitimado passivo, funcionando apenas como custus legis
(parecerista).

6.2) Interesse de Agir:


Ele se caracteriza com o trânsito em julgado da sentença condenatória ou
absolutória imprópria. Art. 625 CPP.
Não é necessária para o cabimento de ação de revisão que as vias recursais
tenham sido esgotadas na ação de conhecimento.

6.3) Possibilidade Jurídica do Pedido:


É necessário que uma decisão com conteúdo desfavorável a defesa tenha
transitado em julgado.

Obs. Revisão criminal X Soberania dos veredictos.


Salvo as hipóteses de erro grosseiro, a revisão criminal culminará na rescisão
do julgado com a remessa do réu a um novo julgamento em respeito a soberania
(STJ Resp 10.21468).

Aula 15 LFG
ATOS JURISDICIONAIS

1) Atos Jurisdicionais:
 Despachos;
 Decisões;
 Sentenças;

1.1) Despachos:

Quem pode despachar?


R. A EC. nº45/2004 possibilitou que os servidores despachassem, desde que
por delegação do magistrado.

Recurso?
Em regra, não cabe. No entanto, no caso de despacho tumultuário ou abusivo,
cabe correição parcial. Não cabe embargos de declaração caso o despacho seja
omisso, obscuro ou contraditório. Deve o advogado se valer do seu dirieto de
petição para esclarecer o teor do ato.

Despacho cabe coisa julgada?


R. Despacho não faz coisa julgada.

1.2) Decisões:

Decisões X Sentenças: atualmente é mais complexo diferenciar uma da outra.

Decisões são atos decisórios que não encerram o processo; são interlocutórias
por estarem no meio do processo.
Sentenças são atos decisórios que encerram o processo.

Espécies de Decisões Interlocutórias:

I- Simples: não encerra o processo ou qualquer parte do procedimento.


Ela não julga o mérito de qualquer pedido incidental.
Ex. ato do juiz que recebe denúncia (em regra não cabe recurso, entretanto é
possível impetrar HC contra o recebimento da denúncia).
II- Mista não terminativa: não extingue o processo, mas encerra uma
fase do procediemtno.
Ex. pronúncia que não encerra o procedimento escalonado do júri, mas a
primeira fase deste. Neste caso caberia RESE contra a decisão.
III- Mista Terminativa (“decisão com força definitiva” ou “definitiva
em sentido estrito”):
é a decisão que julga o mérito de um pedido incidental sem extinguir o processo
principal. Trata-se de um pedido incidental (juiz não decide o mérito). Ex.
julgamento de um livramento condicional – aqui não decide o mérito principal.
Ex. restituição de coisas apreendidas.

1.3) Sentenças:

1.3.1) Conceito:
É o ato do juiz que termina o processo decidindo ou não o mérito da causa.
Fisicamente o efeito do encerramento processual é o arquivamento da papelada.

1.3.2) Espécies de Sentença:

i. Sentença terminativa/ Sentença formal definitiva: extingue o processo


sem julgamento do mérito por razões processuais: não absolve nem
condena. Ex. sentença que acolhe exceção de coisa julgada.

Decisão terminativa Sentença terminativa:


julga o mérito de um pedido incidental extingue o processo sem julgamento
e não encerra o processo. Ex. juiz de mérito. Não cabe outro processo.
julga prisão preventiva.

ii. Sentença condenatória: é o conceito tradicional de sentença. Ocorre


quando o juiz julga procedente o pedido formulado pela acusação.

Se o MP nas alegações finais pede absolvição o juiz é obrigado a


condenar?
R. 1ªc) (majoritária) Sim, art. 385 CPP (Magistratura, MP)
2ªc) Não, o juiz não pode condenar de ofício (Defensorias Públicas) – tem
base no sistema acusatório (se não houver acusação, o juiz não pode condenar).

iii. Sentença absolutória: se dá quando o juiz julga improcedente o pedido


de condenação. Vide art.386 CPP.
Absolutória própria: juiz absolve e não impõe nenhuma consequência ao réu.
Ex. réu absolvido no plenário do júri.
Absolutória imprópria: juiz absolve, mas impõe medida de segurança contra o
réu. Ex. inimputabilidade por loucura aplica-se medida de segurança.

iv. Sentença declaratória extintiva da punibilidade: não condena, não


absolve, mas extingue a punibilidade estatal em razão da prescrição.
Ex. Perdão judicial – súmula 18 STJ.
A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da
extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório.

v. Sentença que julga o mérito de uma ação autônoma:


a. HC.
b. MS.
c. Revisão criminal.
Essas ações não pedem absolvição ou condenação. Quando julga essas 03
ações, essa sentença é peculiar.

vi. Sentença constitutiva.


Ela modifica a situação jurídica do réu.
Ex. Reabilitação criminal dá uma nova situação jurídica para o réu.

vii. Sentença homologatória:


É uma sentença que não condena nem absolve, mas propõe uma prestação. É
o que ocorre no âmbito dos juizados especiais.

1.3.3) Classificações de Sentenças:

a. Sentença simples: é a sentença proferida por juiz monocrático


(único).
b. Sentença subjetivamente plúrima: é a sentença emanada de um
órgão colegiado, ou seja, mais de um juiz.

Na organização criminosa cabe sentença subjetivamente, pois a Lei 12.689


possibilita que 03 juízes participem do processo.
Ela se dá também nos tribunais (no mínimo 03 membros).

c. Sentença subjetivamente complexa: se dá quando vários órgãos


participam de uma decisão única. Ex. tribunal do júri – decisão dos jurados +
decisão do juiz.
d. Sentença material: julga o mérito do pedido.
e. Sentença formal: sentença que encerra o processo por razões
processuais (não é condenando nem absolvendo).
f. Sentença autofágica ou de efeito autofágico: é a sentença em
que o juiz reconhece o crime, mas ao mesmo tempo extingue a punibilidade. Ex.
perdão judicial – é extintiva da punibilidade e autofágica ao mesmo tempo.
Atenção! Não confundir perdão judicial com prescrição retroativa.
Perdão judicial – ex. pai mata filho no trânsito culposamente. A sentença é única:
juiz reconhece o crime, mas perdoa.
Ex. prescrição retroativa é um tema de direito penal. Não há uma sentença
autofágicas, mas sim 02 sentenças autônomas.

g. Sentença branca:
É a sentença que remete para o grau de jurisdição superior o julgamento de uma
questão sobre tratados internacionais.
Isto não é possível no Brasil, pois há o Princípio da Indeclinabilidade da
Jurisdição: o juiz tem que decidir.

h. Sentença vazia: é a sentença sem fundamentação. É uma


sentença nula.
i. Sentença suicida ou incoerente: sentença em que o dispositivo
não tem nada a ver com a fundamentação. É uma sentença nula.
j. Sentença executável: é a sentença que pode ser executada
imediatamente. Ex. sentença absolutória tem que ser executava imediatamente,
devendo o juiz mandar soltar de imediato.
k. Sentença não auto-executável: é a sentença condenatória. Para
ser executável deve haver o trânsito em julgado.

1.3.4) Natureza Jurídica da Sentença:

A sentença declara ou cria o direito?


R. 02 doutrinas:
Clássica: a sentença declara o direito criado pelo legislador.
Moderna: na prática o juiz muitas vezes cria o direito (não só declara). Ex. lapso
de 30 dias do direito no crime continuado complementado o texto legal foi criado
pela jurisprudência.
Neste caso fala-se de sentença/decisão aditiva: é a decisão que complementa
um texto legal incompleto, pois adiciona uma nova regra no direito.
Há também a sentença substitutiva/manipulativa: o juiz cria uma nova norma
jurídica. Ex. transação penal nos juizados é homolagada. A lei não fala nada em
caso de descumprimento da decisão homologatória. Assim a jurisprudência
decidiu que deve ser oferecida a denúncia.
Ex. aborto anencefálico.
Ex. reconhecimento de união homoafetiva.

A sentença equivocada deve ser anulada ou reformada pelo tribunal?


R. Quando há no tribunal um erro in procedendo, o tribunal anula a sentença,
porque o juiz procedeu mal, não respondendo pelo sistema trifásico da pena.
Quando há um erro in judicando (juiz avaliou mal as provas) o tribunal reforma.

1.3.5) Publicação da Sentença:


Em regra, a sentença se torna pública quando junta a sentença no processo e
faz a certidão.
Exceções:
 Juiz profere sentença em audiência. Sentença ditada já é pública.
 Sentença lida no plenário do júri.

Princípio da Imodificabilidade da Sentença: este princípio comporta


exceções, ou seja, é possível o juiz rever a sentença já publicada.
i. Para corrigir inexatidões materiais. Ex. grafia dos nomes,
erro de endereço etc.
ii. Corrigir erro de cálculo.
iii. Quando é cabível embargos de declaração.
iv. Lei penal nova mais favorável e o processo continua em 1º
grau. O juiz readquire jurisdição para aplicar a lei nova.

2) Coisa Julgada:
É uma garantia da imutabilidade da sentença e dos seus efeitos. Ela põe fim
aos processos.
Seu fundamento é a segurança jurídica, pois os litígios não podem ser
intermináveis.
A sua premissa é a preclusão das vias recursais, ou seja, quando não cabe mais
recurso há coisa julgada.

03 conceitos:

 Coisa julgada formal: ocorre quando não cabe mais recurso. Ela projeta
seus efeitos para dentro do processo.
 Coisa julgada material: ela se projeta para fora do processo, ou seja, ela
vale para dentro e fora do processo. Não se pode rever em outro processo
o que foi julgado.
 Coisa julgada parcial: foi admitida recentemente no julgamento do
mensalão. Nos crimes sem recurso já faz coisa julgada, enquanto nos
crimes em que há recurso pendente não faz coisa julgada. Neste último
caso é necessário dar uma preventiva.
Ex. Dirceu já começou a cumprir pena definitiva do que transitou em julgado.

Atenção! Nos casos em que o juiz pode de ofício rever a sentença (correção de
erros e inexatidões materiais), é possível que ocorra mesmo após a coisa
julgada.

Coisa julgada e cláusula rebus sic standibus: uma sentença condenatória


que fez coisa julgada se mantém enquanto as coisas se mantiverem da mesma
forma. Significa que na fase de execução a forma de cumprir a sentença será
alterada (ex. progressão de regime).

Função Negativa da Coisa Julgada: impede novo processo para discutir o


assunto julgado. Não se permite duplo julgamento.
Exceção: revisão criminal só cabe pro réu – discute-se aquela coisa julgada.
Decorrência da coisa julgada: ninguém pode ser processado 02 vezes pelo
mesmo fato. Ne bis in idem.
Exceção: extraterritorialidade da lei penal brasileira (art.7º CP). Ex. atentado
contra o presidente da república será julgado no país estrangeiro e no Brasil e é
aplicado a compensação das penas.

Obs. Na sentença condenatória a coisa julgada é sempre relativa, pois cabe


revisão criminal. Já na sentença absolutória não cabe revisão da coisa julgada
pro MP.

Limites da coisa julgada:


 Limites objetivos: O que transita em julgado é a parte decisória da
sentença que tecnicamente se chama dispositivo ou conclusão. A
fundamentação não faz coisa julgada. O que transita em julgado é o fato narrado
julgado.
 Limites subjetivos: a pena não passará da pessoa do
condenado (Princípio da Intranscedência da ação )
Toda decisão é tomada diante de um fato que foi narrado e julgado. Ele é idêntico
quando há mesmo pedido, mesma causa de pedir e mesmas partes.

Fato narrado e Coisa Julgada Descobre-se Cabe novo


julgado pelo que houve: processo?
crime de:
Fez coisa julgada Descobre-se que não cabe novo
1º caso: no momento do processo, pois é
Furto furto houve uma circunstância
violência depois do fato anterior e
da coisa julgada não fato novo.
Fez coisa julgada No momento da cabe novo
2º caso: morte da vítima processo, pois o
Homicídio no houve outra réu será
trânsito morte (o sujeito processado e
atropelou e matou condenado por
02 pessoas, mas uma 2ª morte e
sabia apenas de haverá concurso
01). formal.

Fez coisa julgada Vítima morreu não cabe novo


3º caso: após trânsito em processo, pois é
Lesão corporal julgado uma circunstância
dolosa do fato anterior e
não fato novo.
Fez Coisa julgada Descobre-se que Sim, cabe novo
4º caso: houve também processo pelo
Roubo um estupro, estupro.
entretanto o réu
foi julgado
apenas por
roubo.
Fez coisa julgada Sequestrou Sim, cabe novo
5º caso: novamente a processo
Sequestro vítima.
Não cabe novo
6º caso: processo, pois o
Quadrilha ou O grupo continua mesmo grupo
bando Fez coisa julgada planejando outros continua com a
(associação crimes. permanência que
criminosa) já foi julgado. É
preciso executar
(Crime a sentença para
continuado) desfazer o grupo.
Descobre-se Não cabe novo
7º caso: fatos antigos do processo, pois
Exercício exercício da está dentro da
irregular da Fez coisa julgada medicina habitualidade que
medicina foi julgada.

(Crime habitual) Descobre-se Entretanto, se


fatos novos do após julgado
exercício da continua a
medicina exercer a
medicina, cabe
novo processo.
Sim, cabe novo
8º caso: Fez coisa julgada Descobre-se um processo, pois é
03 roubos 4º roubo. fato novo distinto
dos fatos
precedentes.

Executor do homicídio: No plenário do júri, no dia do julgamento, o réu


confessou o crime, mas fala que o agente “B” foi executor e que ele deu a arma,
portanto sendo partícipe. Em virtude disso, o réu foi absolvido, pois o quesito era
de “executor”. Cabe novo processo contra este réu para imputar a ele novo
crime?
R. Sim, pois a causa de pedir é diferente.

Filme “Risco Duplo”: mulher foi processada e condenada por matar o marido,
apesar de negar a autoria do crime. Não se encontra o corpo do marido. Presa
a mulher descobre que o marido está vivo, cumpre a pena, sai da prisão e mata
o marido. Ela pode ser processada novamente?
R. Sim, é preciso primeiro uma revisão criminal para absolver a mulher da
condenação e desfazer a coisa julgada.
Uma vez feito, pode ser processada por homicídio verdadeiro. A pena que ela
cumpriu injustamente não pode ser abatida/compensada o novo crime, pois não
existe crédito de pena injusta para o futuro (seria um estímulo ao crime).

Atenção! A coisa julgada só pode ser feita entre as partes.


Entretanto, nada impede que se processe outro réu caso se descubra que foi
também autor do crime.
Coautoria: corréu “A” foi processado e absolvido. Há coisa julgada. Descobre-
se que houve um correu “B”. “B” pode ser processado pelo crime pelo qual corréu
“A” foi absolvido?
R. Tudo depende do fundamento da absolvição:
 Se o fato é atípico para “A”, é atípico para “B”.
 Se a absolvição de “A” foi por falta de provas, pode processar “B”.

(Aula 14 – 2ª parte)
NULIDADES

Para Nestor é a aula mais importante do ano.

O tema nulidades tem uma obra paradigma de “Nulidades no Processo


Penal” de Ada Pellegrini, Scarance Fernandes, Magalhães Gomes Filho.

Teoria Geral das Nulidades:

1) Conceito: a nossa doutrina diverge quanto ao enquadramento


terminológico do instituto subsistindo as seguintes posições:

1ª Posição: para Paulo Rangel (examinador do TJRJ) é a sanção imposta


ao ato viciado nos permitindo utilizar a expressão “sanção de nulidade”.
2ª Posição: para Guilherme Nucci a nulidade é um vício que contamina
determinado ato processual praticado com descumprimento das regras legais ou
constitucionais.
3ª Posição: para Mirabete a nulidade assume 02 percepções, sendo a
primeira o vício individualmente considerado e a 2ª a sanção que lhe é
judicialmente imposta.

Conclusão conceitual: é a sanção judicialmente imposta em face da


imperfeição do ato praticado (atipicidade) o que revela o descumprimento das
regras constitucionais ou infraconstitucionais que regem a matéria com defeitos
essenciais ou acidentais, estabelecendo uma verdadeira gradação do sistema.

2) Sistemas de aferição das nulidades:


Marco inicial da interpretação: segundo Paulo Sérgio Leite Fernandes e
Geórgia Bajer Fernandes os sistemas no Brasil e no mundo se caracterizam com
os seguintes perfis:
a. Sistemas Rígidos: são aqueles em que a individualização das nulidades
pressupõe previsão legal. Ex. sistema francês (art.1.030, CPC) e italiano.
b. Sistemas Genéricos: eles conferem ao intérprete certa margem
interpretativa adequando o caso concreto a eventual sanção pela constatação
de prejuízo.

Base Brasileira: para Paulo Rangel, tendo por base a premissa maior podemos
construir a seguinte sistemática no nosso ordenamento:
a) Sistema da Certeza Legal: por ele, a nulidade pressupõe disciplina
normativa. Sem lei não haverá nulidade.
b) Sistema da Instrumentalidade das Formas: o magistrado pode adequar
a situações concretas, suprindo as omissões normativas.
c) Sistema Misto (atualmente adotado no Brasil): o nosso código no art.564
elenca uma série de vícios que ocasionam a sanção de nulidade, mas o
legislador não exauriu a matéria permitindo ao juiz conformar o sistema
na análise do caso concreto declarando a nulidade em hipóteses outras
de aferição de prejuízo.

Aula 16

3) Tipicidade X Atipicidade do ato:

3.1) Conceito:
A. Tipicidade: é a qualidade consistente na prática do ato de acordo com as
normas legais e/ou constitucionais.
B. Atipicidade: consiste na inobservância das regras legais e/ou
constitucionais.

Atenção! Para Calmon de Passos a nulidade pressupõe declaração judicial


consistente.

Conclusão:
Atipicidade + Ineficácia Judicialmente declarada = Nulidade (ato nulo)

4) Classificação das Nulidades:


Parâmetro: a gravidade do vício.

4.1) Doutrina clássica (Mirabete):

a. Ato inexistente: é aquele desprovido de elementos constitutivos se


caracterizado como um verdadeiro não ato, ou seja, é um nada jurídico.
Falta elemento essencial e não produz efeito nunca. Ex. decisão proferida
por quem não é juiz.

b. Ato nulo: ele não produz efeito até a sua convalidação e se isso não for
possível nunca os produzirá.
b.1. Nulidade relativa: é aquela submetida a uma condição suspensiva, pois
uma vez sanada o ato passa a produzir efeito.
b.2. Nulidade absoluta: é aquela cuja convalidação é impossível e por isso o
ato nunca produzirá efeito.

c. Ato anulável: é aquele que produz efeito até que seja eventualmente
invalidado.

4.2) Doutrina moderna:


Parâmetro: enfatiza-se atualmente a necessidade da declaração judicial de
invalidade do ato para estancar os seus efeitos (Paulo Rangel). Trata-se de
entendimento preponderante no Brasil.
a) Ato inexistente: é aquele que não produz efeito e independe de
declaração judicial, afinal lhe faltam elementos estruturais para classifica-
lo como verdadeiro ato. Trata-se de um não ato, ou seja, um nada jurídico.
É a única semelhança com a doutrina clássica.
Ex. delegado de polícia no TCO fazia transação penal.

b) Ato irregular: é o ato defeituoso que ainda não sofreu declaração de


nulidade.
Atenção! Para Norberto Avena a irregularidade seria um vício sem gravidade
dispensando-se qualquer declaração de nulidade, pois o ato continuaria em
vigor.

c) Nulidade absoluta: é aquela em que o interesse público aflora pautado


no devido processo legal de forma que sua declaração se dá de ofício,
pois o prejuízo gerado é presumido.
Obs.1: segundo Hélio Tornaghi é melhor dizer que o prejuízo é evidente ao
invés de falarmos em presunção que tecnicamente tem outro significado.
Obs.2: segundo o STJ esta presunção de prejuízo é relativa, admitindo prova
em sentido contrário para demonstrar que a parte não foi prejudicada (STJ,
HC22.7263).
Conclusão: logo, o prejuízo deve ser comprovado mesmo quando a nulidade
é absoluta, pois sem prejuízo não há vício (STJ, RHC110623).

d) Nulidade relativa: é aquela pautada na preponderância do interesse das


partes, sendo passível de preclusão.
Obs.1: no processo penal as nulidades relativas podem ser declaradas ex officio,
adotando-se uma postura intransigente no respeito ao devido processo legal.
Obs.2: O art.571 CPP direciona um momento procedimental para arguição das
nulidades relativas, provisionadas de maneira não exaustiva no art.572 do CPP.

Art. 571. As nulidades deverão ser argüidas:


I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406;
II - as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos especiais,
salvo os dos Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o art. 500;
III - as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois desse prazo,
logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes;
IV - as do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logo depois de aberta a audiência;
V - as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as
partes (art. 447);
VI - as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500;
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de
anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão
sanadas:
I - se não forem argüidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior;
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
5) Princípios reitores do sistema de nulidades:

5.1) Princípio do Prejuízo (art.563 CPP):

É o princípio de origem francesa – é o chamado pas de nullité sans grief.


Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou
para a defesa.

Atenção! É também chamado de Princípio da Transcendência.


Conceito: Por ele não há nulidade sem a ocorrência de prejuízo.

Obs.1: Enquadramento.
a) Na nulidade absoluta, o prejuízo é evidente ou presumido por lei.
Todavia segundo o STJ esta presunção é relativa de forma que se tem
exigido a sua demonstração mesmo em tais hipóteses.
b) Nulidade relativa: o prejuízo necessariamente deve ser demonstrado
porque quem a arguiu como pressuposto para o êxito do requerimento.

5.2) Princípio da Instrumentalidade das Formas:


Conceito: por ele se o ato praticado atingiu a sua finalidade não há que se falar
em declaração de nulidade.

Obs.2: Enquadramento:
Se a nulidade é absoluta o vício deve ser declarado, pois os fins não justificam
os meios.
Conclusão: este princípio ganhou ascendência nos juizados especiais e nas
hipóteses de nulidade relativa. Todavia, havendo disciplina legal, pode ser
aplicado nas nulidades absolutas, como ocorre no vício da citação que é fato
gerador de nulidade absoluta, mas está sanado se o réu apresentar defesa.
(art.570 CPP).

5.3) Princípio da Eficácia dos Atos Processuais:


Conceito: segundo Calmon de Passos, os atos nulos continuam a produzir
efeitos regulares enquanto não houver a declaração de invalidade.

5.4) Princípio da Restrição Processual à Decretação de Ineficácia:


Conceito: por ele a invalidade independe de instrumento processual adequado
(decisão judicial) e se o momento ainda for oportuno (não preclusão).

5.5) Princípio da Causalidade ou Consequencialidade:


Conceito: por ele, uma vez declarada a nulidade do ato os demais que dele
decorrem também estarão viciados, delimitando-se assim a extensão do defeito.

O processo só é declarado integralmente nulo se o fato declarado nulo é desde


o início. Assim, atinge atos subsequentes ao vício. Ex. juiz não considerou
memoriais – a nulidade a partir disso.

Conclusão: percebe-se que é indiferente se a nulidade é absoluta ou relativa,


pois o vício atinge o ato atípico e os que dele decorrem, pois os demais serão
preservados, cabendo ao juiz delimitar a extensão (§1º e §2º do art.573 do
CPP).
Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão
renovados ou retificados.
§ 1o A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam
ou sejam conseqüência.
§ 2o O juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.

Havendo declaração de nulidade da citação, os atos processuais subsequentes


também estarão contaminados. Ex. STJ HC 50.875.

5.6) Princípio da Conservação dos Atos Processuais:


Conceito: por ele os atos que não decorrem do ato nulo devem ser preservados
em um verdadeiro sistema de aproveitamento.

Obs.1: embasamento normativo. Art.248 CPC.


Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que não moleste os moradores mais do que o
indispensável para o êxito da diligência.

Obs.2: este princípio é conhecido como “Confinamento da Nulidade”.

5.7) Princípio do Interesse:


Conceito: nenhuma nulidade pode ser arguida por inobservância de formalidade
que só interesse a parte contrária.

Atenção! Esse princípio, em certo modo, é mitigado quando a nulidade é


absoluta, pois existe certa fluidez na análise do que seria o interesse público.

5.8) Princípio da Boa-fé:


Por ele, a parte não poderá arguir nulidade a que tenha dado causa (art.565 do
CPP).
Obs. este princípio é mitigado nas hipóteses de nulidade absoluta já que ela
poderá ser arguida mesmo por quem deu causa.???

6) Reconhecimento das Nulidades:

6.1) Reconhecimento na 1ª instância:


a. Havendo arguição das partes nas peças que integram a estrutura do
processo como a inicial acusatória, a resposta escrita ou os memoriais ou
ainda por meio de petição autônoma ou por termo na seção de julgamento.
Nada impede, ainda que a nulidade seja invocada em preliminar de eventual
recurso.
b. Nada impede que o juiz de ofício reconheça a nulidade, pouco importa se
ela é absoluta ou relativa (arts. 251 e 423 do CPP).

6.2) Reconhecimento na 2ª instância:


O tribunal na apreciação da nulidade, tem por base a matéria que lhe foi
devolvida por força do recurso apresentado. Vide Súmula 160 STF (é uma
limitação).
Súmula 160 STF:
É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício.

Conclusões:
a) no recurso de ofício (art.574 CPP) o tribunal é livre para declarar nulidades
contra ou a favor da defesa.
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser
interpostos, de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o
crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

b) No julgamento do recurso acusatório, o tribunal é livre para reconhecer


nulidades desfavoráveis ao réu, desde que estejam consignadas no recurso.

c) No julgamento de recurso interposto pela acusação ou pela defesa, o tribunal


é livre para reconhecer nulidades em favor do réu, mesmo que não
consignadas no recurso, afinal estaremos diante de uma verdadeira reformatio
in mellius (reforma para melhor).

Aula Online 03 – 2ª parte.

Nulidades em Espécie

Art.564 CPP elenca as nulidades em espécie, mas não é um rol exaustivo.


Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou
o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de
21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos
concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos
processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o
julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela
lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que
caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e
contradição entre estas. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

I) Inciso I: incompetência, suspeição ou suborno.


Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;

A) Incompetência do Juízo:
Obs. 1: Havendo incompetência absoluta do juízo estaremos diante de um
fato gerador de nulidade absoluta. Por sua vez, se a incompetência é meramente
relativa, a nulidade é também relativa. A incompetência relativa é a
incompetência territorial.
Atenção! Para Aury Lopes Jr., como a liberdade está em jogo, é necessário
reconhecer que mesmo o critério territorial deve ser enquadrado como parâmetro
de competência absoluta (posição minoritária).
Obs.2: Consequências:
Segundo Ada Pelegrini, na análise do art.567 do CPP, devemos promover as
seguintes conclusões:
 Havendo incompetência relativa, os atos decisórios serão declarados
nulos, mas os instrutórios serão aproveitados no juízo competente.
 Se a incompetência é absoluta, todos os atos são imprestáveis e devem
ser refeitos perante o juízo competente.
Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for
declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.

B) Suspeição/ Impedimento ou Suborno do juiz.


Obs.1: Enquadramento interpretativo.
Suspeição: para Hélio Tornaghi, juiz suspeito é aquele que tem predileção por
uma das partes do processo (art.254 do CPP).
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo,
sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

Impedimento: para Hélio juiz impedido é aquele que tem interesse no


resultado da demanda (art.252 CPP).
Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial,
auxiliar da justiça ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a
questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Suborno: já o juiz subornado é o que recebeu vantagem indevida,
caracterizando comumente a corrupção ou a concussão.

Obs.2: Consequências:
Estas hipóteses constituem fato gerador de nulidade absoluta e todos os atos
devem ser refeitos perante o respectivo substituto legal definido na lei de
organização judiciária.
Atenção 01! Se a parte sabendo do fato gerador da suspeição não a invoca no
primeiro momento de manifestação, haverá convalidação (convalidação de
nulidade absoluta).
Atenção 02! Temos ainda a chamada incompatibilidade que nada mais é do
que a suspeição por foro íntimo e que é também considerada como um fato
gerador de nulidade.

II) Inciso II: Ilegitimidade da parte.


Obs.1: Enquadramento:
a. Ilegitimidade ad causam nada mais é do que uma condição da ação.
b. Ilegitimidade ad processum nada mais é do que um pressuposto
processual.
Obs.2: Consequências:
Faltando legitimidade para a causa, estaremos diante de uma nulidade
absoluta e o processo será extinto sem julgamento de mérito. Ex. parte ilegítima.
Havendo ilegitimidade para o processo, em que pese o código
enquadrá-la como nulidade absoluta, admite-se convalidação, desde que o
representante legal ratifique os atos praticados com vício na representação. Ex.
ilegitimidade do procurador (art.568 CPP).
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada,
mediante ratificação dos atos processuais.

III) Inciso III: haverá nulidade em virtude do vício ou da falta das


seguintes fórmulas ou termos.

a) Inicial acusatória:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou
o auto de prisão em flagrante;

i. Vício da inicial acusatória:


Obs.01 Os vícios normalmente ocasionam a inépcia da inicial que deve ser
rejeitada (art.395, I CPP). Entretanto, promovido o recebimento haverá nulidade
absoluta que pode ser invocada até antes da prolação da sentença.
Conclusão: após a sentença vamos invocar os vícios da decisão
eventualmente lastreada numa inicial ruim, pois a discussão autônoma e
específica sobre a inicial estará preclusa.

ii. Vícios da Representação:


Obs. Enquadramento:
Devemos diferenciar as seguintes situações jurídicas:
1ª situação: inexistindo representação haverá nulidade absoluta do processo
e se o prazo decadencial ainda não transcorreu, o procedimento será renovado
desde que ofertada a representação. Por sua vez, se o prazo decadencial já está
ultrapassado, deve ser reconhecida a decadência e consequente extinção da
punibilidade.
2ª situação: os vícios estruturais de uma representação existente podem ser
corrigidos, desde que respeitado o prazo decadencial que passou a fluir do
conhecimento da autoria do crime.

iii. Por ausência de portaria ou de auto de flagrante no


chamado processo judicialiforme:
Ela não mais tem aplicação, já que o processo judicialiforme disciplinado no
art.26 do CPP não foi recepcionado pelo art.129, I CF.
Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por
meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

b) Ausência do exame de corpo de delito nas infrações que deixam


vestígio:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
Obs.1: na prática, se ao final do processo a materialidade não está demonstrada
deve o juiz absolver o réu ao invés de reconhecer a nulidade.
Obs.2: não haverá vício se a ausência da perícia for suprida pela prova
testemunhal (art.167, CPP).
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

c) Por ausência de nomeação de defensor ao réu que não possui


advogado:
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de
21 anos;

c.1) Defensor:
Para o STF na Súmula 523 a ausência de defesa técnica é fato gerador de
nulidade absoluta, mas a mera deficiência ocasiona nulidade relativa.
Súmula 523
NO PROCESSO PENAL, A FALTA DA DEFESA CONSTITUI NULIDADE ABSOLUTA, MAS A SUA DEFICIÊNCIA SÓ
O ANULARÁ SE HOUVER PROVA DE PREJUÍZO PARA O RÉU.

c.2) Curador:
A nomeação de curador ao indivíduo entre 18 e 21 anos incompletos não mais
subsiste, já que de acordo com o art.5º do CC eles são absolutamente capazes.
Entretanto, subsiste a nomeação de curador para os inimputáveis por doença
mental.

d) Ausência de intervenção do MP na persecução penal:


d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
Atenção! O art.572 do CPP enquadra a hipótese como fato gerador de nulidade
relativa.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão sanadas:
I - se não forem argüidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior;
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
Obs. Enquadramento doutrinário:
1ª situação: Se o MP deixa de intervir na ação pública incondicionada ou
condicionada haveria nulidade absoluta.
2ª situação: estamos diante de uma ação privada subsidiária da pública.

e)
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos
concedidos à acusação e à defesa;
e.1) Nulidade em razão dos vícios da citação:
Obs.1: os vícios citatórios ocasionam o que nós chamamos de circundução
(citação circunduta).
Obs.2: de acordo com o art.570 do CPP em que pese estarmos diante de
nulidade absoluta, o vício estará convalidado se o réu comparecer ao processo
e efetivamente exercer a sua defesa.

e.2) Vícios que contaminam o interrogatório:


Obs.1: ele é um ato necessário e o juiz não poderá suprimi-lo arbitrariamente,
sob pena de nulidade absoluta.

e.3) Prazos:
Os vícios na concessão do prazo para a acusação e para a defesa.
Atenção! Em que pese o art.572 CPP, enquadrar a hipótese como nulidade
relativa, a nossa doutrina a aponta como nulidade absoluta por ofensa ao direito
de defesa e ao exercício efetivo da acusação

f)
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos
processos perante o Tribunal do Júri;
f.1) Em razão dos vícios na decisão de pronúncia:
Obs. A pronúncia é uma decisão de equilíbrio e se o juiz antecipar juízo de culpa
ou afastar peremptoriamente as teses de defesa haverá nulidade absoluta.

f.2) Vícios no Libelo crime acusatório:


Obs. Em virtude da Lei 11.689/08, a parte final da alínea “f” está tacitamente
revogada, já que não mais existe libelo crime acusatório.

g) Vícios na intimação do réu para a sessão plenária do júri.


g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o
julgamento à revelia;
Obs.1: atualmente com o advento da Lei 11.689/08, o réu não encontrado pode
ser julgado a revelia, pouco importa se o crime é afiançável ou inafiançável.
Obs.2: Crítica: em que pese o art.572 CPP enquadrar a hipótese como nulidade
relativa, a nossa doutrina a aponta como nulidade absoluta por ofensa ao
contraditório e a ampla defesa.

h) Vício de intimação das testemunhas convocadas a comparecer na


sessão plenária do júri.
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela
lei;
Obs.1: o art.572 do CPP enquadra a hipótese como nulidade relativa.
Obs.2: a melhor doutrina entende que se a testemunha foi arrolada em caráter
de imprescindibilidade e o júri foi feito sem a sua presença, a nulidade é absoluta
e a adequada intimação é necessária.

i) Nulidade em razão da ausência de pelo menos 15 jurados para


abertura da sessão plenária
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
Obs.1: interpretação: neste caso, a hipótese é fato gerador de nulidade absoluta,
sendo que o STJ tem precedente a enquadrando como relativa, o que exigiria a
demonstração de prejuízo para o reconhecimento do vício (no concurso colocar
como absoluta).
Obs.2: solução jurídica: neste caso a sessão será remarcada para o primeiro dia
desimpedido convocando-se os jurados suplentes.

j)
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade;
j.1) Vício no sorteio do Conselho de Sentença
Obs. ele é fato gerador de nulidade absoluta seja pela tentativa de direcionar a
escolha ou por vício no modus operandi do próprio sorteio.
j.2) Nulidade pela quebra da incomunicabilidade dos jurados:
Obs. neste caso se os jurados conversam entre si ou com terceiros sobre o fato
objeto do julgamento, haverá nulidade absoluta e o Conselho será dissolvido.

k) Vício nos quesitos e nas respectivas respostas:


k) os quesitos e as respectivas respostas;
Obs. os quesitos estão disciplinados nos arts.482 e ss. do CPP estabelecendo
a sistemática de organização.
Os vícios, segundo a jurisprudência, podem se apresentar de formas variadas,
destacando-se as seguintes:
 Quesito formulado negativamente. Ex. O réu não deve ser absolvido? –
confuso
 Ausência de quesitos obrigatórios.
 Qualificadoras e causas de aumento quesitadas antes das causas de
diminuição – causa de diminuição tem que ser quesitada primeiro.
Súmulas 156 e 162 STF:
Súmula 156
É ABSOLUTA A NULIDADE DO JULGAMENTO, PELO JÚRI, POR FALTA DE QUESITO OBRIGATÓRIO.
Súmula 162
É ABSOLUTA A NULIDADE DO JULGAMENTO PELO JÚRI, QUANDO OS QUESITOS DA DEFESA NÃO
PRECEDEM AOS DAS CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES.
l) Nulidade por ausência de acusação ou defesa na sessão plenária do
júri.
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;

Obs.1: nestas hipóteses haverá nulidade absoluta e o júri tem que ser dissolvido
oficiando-se ao procurador geral do MP e ao Conselho de ética da OAB.
Obs.2: se o promotor, entretanto, requer fundamentadamente a absolvição do
réu na sessão plenária, não haverá nulidade.

m) Nulidade pelos vícios na sentença:


m) a sentença;
Obs. este vicio é fato gerador de nulidade absoluta e normalmente o tribunal
caça a decisão devolvendo os autos para que o juiz profira uma nova.

n) Ausência de recurso ex officio nas hipóteses exigidas por lei:


n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;

Obs.1: O art.574 CPP aponta as principais hipóteses de recurso de ofício.


Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser
interpostos, de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o
crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

Obs.2: crítica: a luz da melhor interpretação do STF, esta situação não é


propriamente um caso de nulidade já que a ausência de remessa faz com que a
decisão fique pendente, não transitando em julgado. Súmula 423 STF.
Súmula 423
NÃO TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX OFFICIO", QUE SE
CONSIDERA INTERPOSTO "EX LEGE".

o) Nulidade por vício de intimação das sentenças e das demais


decisões que comportem recurso:
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que
caiba recurso;
Obs. neste caso haverá nulidade absoluta por ofensa ao contraditório e a ampla
defesa.

p) Por deficiência do quórum dos órgãos colegiados para julgamento


perante tribunal:
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento;
Obs.: esta definição numérica é normalmente definida nos regimentos internos
e o vício é fato gerador de nulidade absoluta.

IV) Inciso IV: Nulidade por omissão de formalidade que constitui


elemento essencial do ato.
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e
contradição entre estas. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Obs.1: esta hipótese funciona como uma cláusula genérica e de acordo com o
art.572 CPP é fato gerador de nulidade relativa.
Obs.2: Crítica: para Aury Lopes, se a formalidade é de fato essencial, melhor
seria enquadrá-la como nulidade absoluta.

PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO
(Importante para MP e Magistratura)

1) Conceito:
Por ele, o magistrado ao proferir sentença está adstrito aos termos da inicial
acusatória já que o juiz não pode julgar ultra, citra ou extra petita.

Obs. institutos correlatos:

I) Emendatio Libelli:
I.I) Conceito: é o instituto que permite ao juiz na sentença a corrigir os
equívocos de enquadramento de artigo existentes na inicial acusatória.
Ex. Na inicial acusatória, o MP oferece denúncia arguindo que o agente solicitou
vantagem indevida, mas pede condenação por peculato. Na sentença o juiz
julga o fato e realiza a emendatio aplicando o artigo correto.
Dica: cai em 100% das provas de magistratura, em que na sentença coloca na
inicial acusatória uma tipificação diferente.

Obs. Fundamento:
a. Iura Novit Curia: o juiz conhece o direito.
b. Narra Mihi Factum, dabo tibi ius: significa “narra-me o fato e te darei o
direito”.

I.II) Aplicação: Este instituto é aplicado tanto na ação pública como na ação
privada.

I.III) Momento:
1ª posição: a corrente majoritária é partidária da tese de que o instituto é
aplicável no momento em que o juiz profere a sentença e eventualmente a
pronúncia na 1ª fase do júri.
Obs.1: Fundamento: isso se justifica pelo tratamento no título XII do CPP que
trata da sentença (art.383 do CPP).
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão
condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Obs.2: nada impede que o instituto seja aplicado na fase recursal, desde que
não ocasione reformatio in pejus (reforma para pior).
2ª posição: (corrente minoritária) segundo Gustavo Henrique Badaró, o
magistrado, mesmo antes da sentença, poderá promover um enquadramento
provisório do artigo correto, notadamente para preservar direitos e garantias
fundamentais como a concessão de fiança.

I.IV) Respeito ao Contraditório:


1ª posição: O entendimento preponderante (majoritário) é de que as
partes não precisam ser ouvidas, afinal não houve alteração fática e o juiz aplica
o instituto de ofício ao decidir “sem nenhuma formalidade prévia” (STF AP431
AgR terceiro).

2ª posição: para a corrente minoritária (Aury Lopes), mesmo nas


questões de direito, as partes devem ser ouvidas antes da emendatio,
respeitando-se o contraditório.

I.V) Inovações:
O instituto da emendatio permite ao juiz concluir que ele é competente para julgar
a causa, os autos serão remetidos ao órgão competente. Por sua vez, se o
magistrado percebe que são cabíveis os institutos benéficos dos juizados
oportunizará a aplicação da suspensão condicional do processo (art.383 do
CPP c/c Súmula 337 STJ) e mesmo sem previsão expressa pode ser
oportunizada a transação penal (art.76 da Lei 9099/95).
II) Mutatio Libelli:

II.I) Conceito:
É o instituto que permite a readequação da imputação, pois os fatos realmente
ocorridos e revelados na instrução são distintos dos narrados na inicial
acusatória (art.384 CPP).

II.II) Aplicação:
1ª posição: o entendimento preponderante é aquele que aplica o
instituto na ação pública e na ação privada subsidiária por força da limitação
prevista no art.384 CPP.
2ª posição: para Gustavo Badaró, o instituto é também aplicável na ação
privada exclusiva e personalíssima, desde que respeitado o prazo decadencial
de 6 meses (posição minoritária).

II.III) Momento:
O instituto é aplicado no primeiro grau de jurisdição, afinal, é na audiência de
instrução que as provas revelam que o fato ocorrido é distinto do que foi narrado
na denúncia.
Atenção! Segundo o STF, na súmula 453, não haverá mutatio no 2º grau de
jurisdição, para que não ocorra supressão de instância. Neste caso, nada impede
que o processo seja declarado nulo e a sua reconstrução comportará a
readequação da imputação.
Súmula 453
NÃO SE APLICAM À SEGUNDA INSTÂNCIA O ART. 384 E PARÁGRAFO ÚNICO DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL, QUE POSSIBILITAM DAR NOVA DEFINIÇÃO JURÍDICA AO FATO DELITUOSO, EM VIRTUDE DE
CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR NÃO CONTIDA, EXPLÍCITA OU IMPLICITAMENTE, NA DENÚNCIA OU QUEIXA.
II.IV) Procedimento:
A mutatio necessariamente comporta o respeito ao contraditório (diferentemente
da emendatio).

A) O juiz vai sobrestar a audiência de instrução e julgamento.


B) Cabe ao juiz abrir vistas ao MP para aditar a denúncia no prazo de 5 dias
podendo ser arroladas até 3 testemunhas.

Obs.1: Negativa do MP: neste caso cabe ao juiz invocar o art.28 do CPP
encaminhando os autos ao Procurador Geral.

Obs.2: Interpretação à luz da Lei 11.719/2008:


Atualmente, o art.384 do CPP não é enfático quanto à baixa dos autos feita pelo
juiz para que ocorra o aditamento. Esse fenômeno é chamado de aditamento
provocado. Todavia, se o promotor de ofício não aditar nada impede que o juiz
o provoque, podendo até mesmo invocar o art.28 CPP (art.384, §1º CPP –
posição majoritária).
§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste
Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Crítica: (usar na prova do MP) uma corrente minoritária entende que esta
provocação feita pelo juiz afronta o sistema acusatório, subsistindo apenas o
aditamento voluntário, afinal não é papel do juiz provocar o MP para o aditamento
da inicial.

C) Cabe ao juiz abrir vista a defesa para manifestação no prazo de 5 dias,


podendo arrolar até 03 testemunhas.

Aula 17
D) Juízo de Admissibilidade do Aditamento:

d.1) Juízo negativo:


O juiz irá rejeitar o aditamento inicial.
Obs. Sistema recursal:
Em regra, a rejeição poderá ser impugnada através de RESE (CPP, art.581,I).
Exceção: Nos juizados especiais o recurso adequado é a apelação (Lei 9.099/95,
art.82).

d.2) Juízo positivo:


O juiz irá receber o aditamento.
Obs. Neste caso, não há previsão recursal, admitindo-se o manejo do HC.

E) Cabe ao juiz retomar a instrução.


Haverá a oitiva das novas testemunhas: 3 para a acusação + 3 para a defesa.
Haverá o interrogatório do réu. Trata-se de um ato necessário.

F) Debates orais:
Eventualmente podem ser substituídos por memoriais (§3º do art.403 c/c art.404
CPP).

G) Decisão sentenciando a causa:

Atenção!
1º momento: Antes da reforma do art.384 CPP, promovida pela Lei
11.719/2008, se o MP promovesse um aditamento por força da mutatio, o juiz ao
proferir sentença teria 02 alternativas, podendo condenar o réu pelo fato
originariamente narrado na denúncia ou por aquele trazido no aditamento em
fenômeno jurídico apelidado por Afrânio Silva Jardim como Imputação
alternativa objetiva superveniente:
 Imputação objetiva: mais de 1 fato.
 Objetiva: alternância entre crimes.
 Superveniente: fruto do aditamento.

Ex. Na denúncia o fato narrado é um furto e o promotor promoveu à tipificação


correta de furto. Na instrução foi imputado fato superveniente (outro roubo),
promovendo (havia alternância de crimes com o aditamento).

2º momento: atual
Promovido o aditamento em razão da mutatio, o juiz estará adstrito aos termos
do aditamento (art.384, §4º CPP) e o fato originariamente narrado na denúncia
será desconsiderado de forma que acabou a imputação alternativa objetiva
superveniente.

Conclusão: Colocar na prova do MP: se o magistrado absolveu o réu pelo fato


objeto do aditamento nada impede que ele seja novamente denunciado pelo fato
original trazido na inicial acusatória que não foi acobertado pela coisa julgada
material (cada coisa julgada a seu tempo).

RECURSOS EM ESPÉCIE

1- Considerações:

Atos Judiciais passíveis (ou não) de impugnação recursal.


a) Despachos: eles não são passíveis de impugnação recursal, afinal, estão
destituídos de conteúdo decisório, servindo apenas para impulsionar e organizar
o processo.
Obs.1: nada impede que o despacho que tumultua o procedimento seja
impugnado por correição parcial que tem um viés nitidamente administrativo.
Obs.2: o art.93, XIV da CF, os despachos podem ser delegados a determinados
funcionários públicos.

b) Decisões interlocutórias:
b.1) interlocutórias simples:
Ela possui conteúdo decisório e integra a estrutura do procedimento, mas não
tem o condão de concluir etapas procedimentais ou o procedimento mútuo.
Obs. Sistema recursal: como regra, elas não comportam recurso (ao contrário
do que ocorre com o CPC) em razão do Princípio da Irrecorribilidade das
Interlocutórias Simples, extraído segundo a escola paulista de processo penal
da montagem do art.581 CPP – sua idealizadora é Ada Pellegrini.
Exceção: quando a interlocutória simples for impugnável, o recurso adequado é
o RESE (art.581 CPP).
Atenção! Nada impede que o prejudicado se valha do MS ou do HC para
impugná-la.

b.2) interlocutórias mistas:


Conceito: Elas tem conteúdo decisório e integram a estrutura procedimental,
encerrando etapas procedimentais ou o procedimento como um todo.

b.2.1) interlocutórias mistas não terminativas: é aquela que conclui uma


etapa procedimental sem pôr fim ao procedimento principal. Ex. pronúncia.
b.2.2) interlocutórias mistas terminativas: elas se caracterizam por
encerrar o próprio procedimento principal. Ex. rejeição da denúncia.

Obs. Sistema recursal da interlocutória mista:


Regra: cabe RESE (art.581)
Exceção: cabe apelação (art.593,II CPP).

c) Sentenças:

c.1) Sentenças condenatórias (art.387 CPP): elas vão comportar apelação


(art.593,I CPP).

c.2) Sentenças absolutórias: Podem ser:


c.2.1) Próprias OU Impróprias (Medida de Segurança)
c.2.2) Antecipadas (absolvição sumária – art.397 CPP ou 415 CPP) OU não
antecipada (art.386 CPP).

O recurso cabível será a apelação de acordo com o art.593,I, CPP ou art.416


CPP (trata da absolvição sumária no júri).

Atenção! no julgamento dos crimes políticos pelo juiz de 1º grau não caberá
apelação e sim ROC (Recurso ordinário constitucional) ao STF – art.102, II, “b”
CF.

c.3) “Sentença” (decisão) terminativa de mérito:


É aquela apta a imutabilidade pela coisa julgada material, mas que não tem o
condão de condenar ou absolver o réu. Ex. extinção da punibilidade (art.107 CP).

Obs.: sistema recursal.


Em regra caberá RESE (art.581 do CPP).
Exceção: caberá apelação (art.593,II, CPP).

2- RESE – Recurso em sentido estrito:


2.1) Conceito:
É a ferramenta impugnativa adequada ao combate das decisões interlocutórias
e eventualmente das sentenças nas hipóteses delineadas pelo art.581 do CPP.

Atenção! O caput do art. 581 CPP merece reparos, pois admite o RESE para
impugnar despachos, o que não é aplicável, pois estes comportam correição
parcial.

2.2) Hipóteses de decretação:

Obs.1: Regras interpretativas.


a) O art.581 CPP admite interpretação extensiva.
b) Quanto a matéria que individualmente comportaria RESE é veiculada
dentro de uma sentença condenatória ou absolutória, deveremos impugná-la por
apelação que goza de primazia quando comparada ao RESE (Mirabete).
Tourinho Filho enquadra este fenômeno no Princípio da Consunção.
c) As hipóteses do art.581 CPP que disciplinam decisões do juízo das
execuções estão tacitamente revogadas, pois atualmente o recurso adequado é
o agravo em execução (art.197 da Lei de Execuções Penais).

Obs.2: Legislação Especial:


a. Havendo suspensão da permissão/ habilitação para dirigir, assim como a
proibição de sua obtenção caberá RESE (art.294, p.ú. da Lei 9503/97).
b. Havendo arquivamento de investigação nas contravenções de jogo do
bicho, e de corrida de cavalo fora do hipódromo pelo autor da
representação (art.6º, p.ú. da Lei 1.508/51).
Crítica: forte corrente doutrinária entende que esta previsão viola o sistema
acusatório, afinal o titular da ação pública e da opinião delitiva é o MP (art.129,I
CF). Para aqueles que defendem a aplicação do recurso, restaria ao TJ ao julgá-
lo procedente, determinar a remessa dos autos ao Procurador Geral para que
ele decida o que fazer em analogia ao art.28 CPP.

c. Responsabilidade dos vereadores e dos prefeitos.


Caberá RESE da decisão de decretação ou revogação da preventiva assim
como de afastamento das funções (art.2º,III, Dec.Lei201/67).
Atenção! Para os prefeitos em exercício, esta hipótese não tem aplicação, pois
a decisão emanará do tribunal de justiça, não sendo cabível RESE (art.29,X,
CF). Assim só caberá RESE se for decisão de 1º grau.

Obs.3. Hipóteses de RESE no CPP (art.581 CPP):

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


I - que não receber a denúncia ou a queixa;
II - que concluir pela incompetência do juízo;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
IV - que pronunciar ou impronunciar o réu;
IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, ou indeferir requerimento de
prisão preventiva, no caso do artigo 312;
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão
preventiva, ou relaxar prisão em flagrante. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão
preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação dada
pela Lei nº 7.780, de 22.6.1989)
VI - que absolver o réu, nos casos do art. 411; (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008)
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da
punibilidade;
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
XVII - que decidir sobre a unificação de penas;
XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;
XXII - que revogar a medida de segurança;
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação;
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

Dica: a tendência é se a decisão acidental for contra:


Acusação: cabe RESE.
Defesa: não cabe recuso, sendo possível HC.

 Inciso I: Não recebimento da inicial acusatória.

Obs.1. Paulo Rangel (TJRJ) diferenciava rejeição de não recebimento da inicial


acusatória já que a primeira expressão estaria vinculada à argumentos de mérito
desafiando apelação. Já o não recebimento trazia argumentos de natureza
processual, comportando RESE.
A posição de Rangel foi superada pela Lei 11.719/08 e pela súmula 60 do
TRF da 4ª Região, já que o entendimento prevalente não diferencia rejeição
de não recebimento e as hipóteses de inadmissibilidade da inicial estão no
art.395 CPP, sendo essencialmente de natureza processual.
Obs.2. Contraditório Prévio:
Segundo STF, na Súmula 707 a defesa deve ser intimada para apresentar
contrarrazões ao recurso, sob pena de nulidade e a nomeação de advogado
dativo não supre a omissão.
Súmula 707
CONSTITUI NULIDADE A FALTA DE INTIMAÇÃO DO DENUNCIADO PARA OFERECER CONTRA-RAZÕES AO
RECURSO INTERPOSTO DA REJEIÇÃO DA DENÚNCIA, NÃO A SUPRINDO A NOMEAÇÃO DE DEFENSOR
DATIVO.

Obs.3: Acórdão substitutivo:


Segundo o Supremo, na Súmula 709, o acórdão de procedência do RESE já
funciona como recebimento da inicial, demarcando a interrupção da prescrição,
salvo se o tribunal anular a decisão, devolvendo os autos para que o juiz profira
uma nova (erro in procedendo).
Obs.4: Juizados especiais:
O recurso adequado para combater a rejeição é a apelação (art.82 da Lei
9.099/95).
Obs.5: Recebimento da Inicial:
Se o magistrado recebe a inicial estaremos diante de interlocutória simples e
recorrível que comporta HC com a finalidade de trancar o processo.

 Inciso II: Reconhecimento ex officio da incompetência:


Obs.1: admite-se o reconhecimento de ofício da incompetência absoluta ou
relativa, sendo inaplicável a súmula 33 do STJ na esfera penal.
Obs.2: A desclassificação ao final da 1ª fase do júri traz consigo em última
análise um reconhecimento de ofício de incompetência, sendo enquadrada no
inciso II do art.581 do CPP (art.419 CPP).

 Inciso III: Procedência das exceções, salvo a de suspeição:


Obs.1) as exceções estão consolidadas no art.95 do CPP e a sua procedência
normalmente desatende aos interesse da acusação, desafiando RESE. Por sua
vez, se o juiz julga improcedente a exceção não cabe recurso e o prejudicado
normalmente vai se valer do HC.

Obs.2) situação peculiar da suspeição.


Se o juiz de 1º grau julga procedente a suspeição não cabe recurso por
inconsistência lógica: a exceção de suspeição é julgada por tribunal, sendo que
o RESE somente é cabível de decisões de juízes de 1ª instância, razão pela qual
não cabe RESE daquela decisão.

Significa que se o juiz entende que não é suspeito remeterá a matéria para
decisão do tribunal que não comporta RESE, mas eventualmente Resp. ao STJ
ou RE ao STF.

Dica: decisão de tribunal não comporta RESE.

 Inciso IV: Decisão de pronúncia:


Obs.1: A lei 11.689/08, revogou parcialmente o inciso IV no trato da
impronúncia, que atualmente comporta apelação (art.416 do CPP).
Obs.2: enquanto RESE estiver pendente de julgamento, a sessão plenária não
se efetiva e os autos não serão remetidos ao juiz que preside o júri.
Obs.3: segundo o Supremo, em que pese a polêmica, o assistente de acusação
poderá recorrer da pronúncia para fazer incluir qualificadora ou causa de
aumento, desde que o MP não tenha recorrido (STF HC 84022).

 Inciso V: Dividido em 02 etapas:


1ª etapa: trata da fiança.
2ª etapa: trata da prisão cautelar e da liberdade provisória sem fiança.

Obs.1) 1ª etapa: Fiança.


As decisões sobre fiança normalmente tem status de interlocutórias simples e
elas são recorríveis por meio do RESE.
Enquadramento (quando caberá RESE):
 Quando juiz conceder/deferir pedido de fiança.
 Quando juiz negar/indeferir o pedido de fiança.
 Quando juiz arbitrar/fixar o valor. Atenção! Conceder é o mesmo
que deferir pedido, enquanto arbitrar é fixar valor – em momentos diferentes é
cabível RESE.
 Quando juiz cassar a fiança. Cassação é a reversão do instituto que
era inaplicável ao caso (é feito pelo próprio juiz que concedeu a fiança) Ex. em
crime hediondo não pode haver fiança.
 Decisão que julgar inidônea: é aquela que não foi reforçada, ou
seja, cujo valor não foi implementado. Atenção! Vale lembrar que o delegado
pode arbitrar fiança e esta decisão não comporta RESE e sim uma mera
provocação ao juiz para que analise a legalidade do ato (art.322 CPP).

Obs.2) 2ª etapa: Prisão cautelar ou liberdade provisória sem fiança.


Caberá RESE da:
o Revogação da preventiva ou do seu indeferimento de decretação.
o Relaxamento da prisão ilegal:
o Da concessão da Liberdade provisória sem fiança.

Conclusão: nestas hipóteses (2ª etapa), se a decisão é favorável à liberdade


caberá RESE; se for desfavorável recurso não cabe e sim HC.

Aula 18
 Inciso VI: Decisão de Impronúncia:
Este inciso foi revogado expressamente pela lei 11689/08.
Conclusão: Atualmente a impronúncia comporta apelação.

 Inciso VII: Fiança:


Obs.1: Enquadramento:
a) Cabe RESE da quebra da fiança: A quebra da fiança ocorre pelo
descumprimento das obrigações impostas ao afiançado e que estão
consignadas nos arts. 327, 328 e 341 do CPP.
b) Cabe RESE em razão da perda da fiança: Ela se caracteriza pela fuga do
réu após o trânsito em julgado da decisão condenatória, frustrando o início da
execução da pena.

Obs.2:Consequência financeira:
QUEBRA DA FIANÇA PERDA DA FIANÇA
Havendo quebra, 50% do valor Havendo perda da fiança, 100% do
caucionado será destinado ao valor remanescente que foi
FUNPEN (fundo nacional caucionado será destinado ao
penitenciário). FUNPEN. Serve para pagar vítima,
multa, custas etc. e depois se sobrar
alguma coisa o resto vai para o
FUNPEN.

Obs.3: Ausência de efeito suspensivo: Havendo quebra ou perda de fiança, o


RESE só terá efeito suspensivo para impedir que o valor seja imediatamente
destinado ao FUNPEN, o que só pode ocorrer após o definitivo julgamento do
RESE.

Obs.4: Crítica: parte da doutrina entende que na hipótese da perda da fiança,


como ela ocorre após o trânsito em julgado, a competência é do juízo das
execuções em decisão que desafia agravo em execução (art.197 LEP). Vale
lembrar que tudo dependerá da respectiva lei de organização judiciária.
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.
Entretanto, na prova coloca o gabarito como RESE.

 Incisos VIII e IX – extinção da punibilidade.


Obs.1: Enquadramento: segundo Tourinho Filho, a decisão que declara a
extinção da punibilidade é terminativa de mérito. Já a denegação é promovida
por meio de interlocutória simples e nas 02 hipóteses cabe RESE.
Obs.2: Decisão “pro et contra” no processo penal: é aquela que
comporta recurso independente da admissibilidade ou denegação do pleito (é a
decisão da extinção da punibilidade que comporta RESE).
Obs.3: Crítica ao processo comum ordinário: o inciso IV do art.397 do
CPP, por equívoco, enquadra a extinção da punibilidade como fundamento da
absolvição sumária. Neste caso, o recurso correto continuará sendo o RESE e
não a apelação.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

 Inciso X: julgamento do HC por juiz de 1º grau concedendo ou


denegando a ordem. Esta decisão teria status de sentença, mas por um
critério político, em ambas as situações, caberá RESE para impugnar esta
decisão.
Obs.1: se o juiz de 1º grau conceder o HC não havendo RESE, ele estará
obrigado a reverter a decisão para reanálise do tribunal, se valendo do recurso
de ofício. Art.574, I do CPP.
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser
interpostos, de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;

Obs.2: se o HC for denegado em tribunal caberá ROC (recurso ordinário


constitucional).

 Inciso XI: decisão que conceder, revogar ou suspender a suspensão


condicional da pena. Trata-se do SURSIS penal.
Obs.1: este dispositivo está tacitamente revogado, afinal se o SURSIS é
apreciado na sentença condenatória caberá apelação (art.593 do CPP).
Por sua vez, se a decisão é do juízo das execuções, caberá agravo em
execução (art.197 da LEP).

 Inciso XII: decisão que conceder, negar ou revogar o livramento


condicional.
Obs. este dispositivo está tacitamente revogado pelo art.197 da LEP já que
atualmente caberá agravo em execução (o livramento condicional é a última fase
da pena aplicado pelo juiz da execução).

 Inciso XIII: decisão que anular a instrução criminal no todo ou em parte.


Obs.1: O dispositivo admite interpretação extensiva acobertando decisão do juiz
de 1º grau que reconhece a nulidade das demais fases do processo como a
postulatória e dos debates orais.
Obs.2: se o juiz denegar o reconhecimento da nulidade, nada impede que se
impetre HC (para defesa), MS (para acusação), correição parcial (para ambas –
é medida administrativa) e preliminar de futura apelação.

 Inciso XIV: decisão que incluir ou excluir jurado da lista geral.


1ª posição: para Nucci, desta decisão cabe reclamação ao juiz que preside o
júri e do julgamento da reclamação caberá RESE que será julgado pelo
presidente do tribunal de justiça.
2ª posição: de acordo com parcela considerável da doutrina, o inciso XIV está
tacitamente revogado pelo art.426, §1º do CPP, afinal desta decisão caberia
apenas reclamação ao presidente do tribunal do júri.
§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz
presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
2008)

Atenção! Para quem entende que esta hipótese está vigendo, este RESE tem
prazo peculiar de 20 dias.

 Inciso XV: da decisão que denegar a apelação ou que a julgar


deserta.
Obs.1: Neste caso percebemos o caráter subsidiário da carta testemunhável que
é o recurso utilizado para destrancar outro, mas só tem cabimento quando o
legislador não fizer previsão de recurso específico para a hipótese como na
apelação que é destrancada pelo RESE (art.639 CPP).

Obs.2: com a expressa revogação do art.595, CPP pela Lei 12.403/11, é


necessário reconhecer que não mais existe deserção pela fuga, subsistindo
apenas nas hipóteses de ausência de preparo.

 Inciso XVI: suspensão do processo em virtude de questão


prejudicial:
Obs.1: cabe recurso tanto nas prejudiciais obrigatórias (art.92 do CPP) como
nas facultativas (art.93 do CPP).
Obs.2: esta decisão também importa na suspensão da prescrição (art.116,I do
CP).
Obs.3: denegação – se o magistrado denega a suspensão do processo, não
caberá recurso, mas o prejudicado pode impetrar MS (acusação), HC (defesa),
correição parcial ou em preliminar de futura apelação.

 Inciso XVII: decisão de unificação das penas. O dispositivo está


tacitamente revogado, pois caberá agravo em execução (art.197 LEP).
 Inciso XVIII: da decisão do incidente de falsidade documental.
Obs.1: é regida pelos art.145 a 148 do CPP e a decisão do juiz declarando ou
denegando a falsidades comporta RESE.
Obs.2: consequências jurídicas: julgado procedente o incidente, os autos
serão remetidos ao MP para apuração de eventual crime, desde que a decisão
de incidente esteja preclusa – RESE precluso (inciso IV do art. 145 CPP).
Atenção! A procedência do incidente não vincula o MP que poderá entender que
não há crime a apurar.

 Incisos XIX a XXIII: todos estão tacitamente revogados pois dizem


respeito aos recursos do juízo da execução em que cabe agravo em execução.

 Inciso XXIV: está tacitamente revogado não só porque a conversão da


multa em prisão não é cabível (art.51 do CP) como também pelo fato de eventual
decisão equivocada emanaria do juiz das execuções cabendo agravo em
execução. Art.197 da LEP.

3- Procedimento do RESE:

3.1) Juízo a quo:


Interposição do RESE: Tanto pode ocorrer por petição como pode ser uma
interposição a termo (sem rigor formal).
 Prazo para interpor o RESE é de 05 dias (art.586 CPP).
 O recorrente será notificado para apresentar razões recursais. Terá
prazo de 02 dias para fazê-lo.
 O recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 02
dias.
 Os autos serão conclusos ao juiz: cabe a ele no prazo de 02 dias ratificar
a decisão e remeter o recurso ao tribunal ou se retratar da decisão de
forma que o recurso provisoriamente estará prejudicado.
Conclusão: se o magistrado se retratar, o prejudicado por mera petição
pode recorrer, desde que a decisão fruto da retratação esteja enquadrada no
art.581 do CPP. Caso contrário, o prejudicado pode impetrar HC ou MS.

3.2) Juízo ad quem:


Se o magistrado não se retratar ou se o sucumbente recorrer da retratação, o
RESE será encaminhado a 2ª instância para julgamento.
Conclusão: o recurso será julgado pelas câmaras do TJ, pelas turmas do TRF
ou pela turma recursal do juizado, conforme o caso.

Obs.1: se o RESE for rejeitado no juízo a quo, o recurso adequado para


destrancá-lo é a carta testemunhável.
Obs.2: em regra, o RESE contará com a formação de instrumento. Art.587 do
CPP. De maneira excepcional, o RESE subirá nos próprios autos, nas hipóteses
do art.583 do CPP.
Art. 583. Subirão nos próprios autos os recursos:
I - quando interpostos de oficio;
II - nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X;
III - quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.
Parágrafo único. O recurso da pronúncia subirá em traslado, quando, havendo dois ou mais réus,
qualquer deles se conformar com a decisão ou todos não tiverem sido ainda intimados da pronúncia.

Após a deliberação do juízo a quo, o RESE chegará ao tribunal em 5 dias ou


será entregue ao sistema de remessa dentro deste prazo. Art.591 CPP.
Art. 591. Os recursos serão apresentados ao juiz ou tribunal ad quem, dentro de cinco dias da
publicação da resposta do juiz a quo, ou entregues ao Correio dentro do mesmo prazo.

4- Efeitos:
4.1) Efeito devolutivo: é um efeito que sempre vai permear o RESE.
4.2) Efeito suspensivo: é excepcionalíssimo. Só é admitido nas hipóteses do
art.584 do CPP.
4.3) Efeito extensivo: o RESE pode beneficiar quem não recorreu, desde que a
tese seja comum aos réus.
4.4) Efeito iterativo: o juiz poderá se retratar da decisão proferida em virtude do
recurso apresentado (art.589 do CPP).
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois
dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe
parecerem necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição,
poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso,
independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado.

5- APELAÇÃO:

1. Conceito de Oídio Batista:


É o recurso ordinário por natureza com ampla devolutividade e que funciona
como expressão do Princípio do Duplo Grau de Jurisdição, permitindo a
impugnação das sentenças condenatórias ou absolutórias e das decisões
definitivas ou com força de definitivas nas hipóteses legalmente previstas.

Obs.1: Origem histórica: é o direito romano.


Obs.2: Consequência lógica:
a. Função rescisória: o tribunal ao julgá-la tem a oportunidade de proferir
um acórdão substitutivo que toma o lugar da decisão impugnada.
b. Função rescindente: neste caso o tribunal anuará a decisão impugnada,
devolvendo os autos para que o juízo a quo profira uma nova.

2. Classificação da Apelação:

2.1) Apelação Ampla X Apelação Limitada:


Conceito: na petição de interposição, a parte poderá limitar a amplitude do
apelo, devolvendo ao tribunal apenas uma parcela do julgado (art.599 do CPP).
Atenção! Não havendo limitação na interposição presume-se que a parte
recorreu de toda a decisão.

Obs. Júri: segundo o Supremo, na Súmula 713 a apelação do júri tem


fundamentação vinculada e o tribunal não pode fugir do dispositivo normativo
aplicado no preâmbulo do recurso pelo apelante.
2.2) Apelação Principal X Apelação Subsidiária:
Conceito: apelação principal é aquela proposta pelo MP, pelo querelante ou
eventualmente pela defesa. Já a subsidiária é aquela interposta pelo assistente
de acusação (art.271 do CPP) que só poderá recorrer se o MP não o fizer
(art.598 do CPP).

2.3) Apelação Ordinária X Apelação Sumária:


a. Apelação ordinária: é aquela que tem por objeto crime apenado com
reclusão e o rito de julgamento no tribunal será mais amplo (art.613 CPP).

b. Apelação sumária: é aquela que tem por objeto crime apenado com
detenção e o rito de julgamento no tribunal será mais célere (art.610 do
CPP).
Crítica: a lei 11.719/08 atualmente define o rito ordinário para os crimes com
pena igual ou superior a 4 anos e o sumário para as infrações com pena inferior
a 4 anos, exigindo-se assim uma atualização do parâmetro adotado para
classificar a apelação nos artigos 613 e 610 do CPP.

Aqui o legislador alterou os parâmetros do rito ordinário e sumário, mas


esqueceu de mudar os parâmetros da sentença.

3- Hipóteses de cabimento:

Obs. enquadramento normativo:


 O art.593 CPP estabelece uma regra geral. (estudaremos essa).
 O art.416 CPP trabalha com apelo na absolvição sumária e na
impronúncia no júri (já vimos).
 O art.82 da Lei 9.099/95 que trata nos juizados especiais (já vimos).

Art.593 CPP- Regra geral:


Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não
previstos no Capítulo anterior; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. (Redação dada pela Lei nº
263, de 23.2.1948)
§ 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados
aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
§ 2o Interposta a apelação com fundamento no n o III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der
provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. (Incluído pela Lei nº 263, de
23.2.1948)
§ 3o Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a
decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o
réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. (Incluído pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)
§ 4o Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que
somente de parte da decisão se recorra. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

I. Sentença condenatória (art.387 do CPP) e Sentença absolutória:


Obs.1: do julgamento de crime político, ao invés de apelação caberá ROC ao
STF (art.102, II, “b” da CF).
Obs.2: acórdão condenatório ou absolutório (julgamento originário em tribunal)
neste caso, ressalvada a especial previsão no regimento interno do tribunal (que
não cai em concurso), como os embargos infringentes no mensalão, só caberá
Resp. ao STJ e RE ao STF.

II. Das decisões definitivas ou com força de definitivas ressalvada a


hipótese de cabimento de RESE (art.581 do CPP).
Conclusão: esta hipótese acoberta decisões interlocutórias mistas e decisões
terminativas de mérito ou não que não sejam acobertadas por RESE.

Principais decisões que comportam apelação do inciso II:


 Homologação da hipoteca legal.
 Homologação de incidente de insanidade mental.
 Reconhecimento ex officio da litispendência ou da coisa julgada.
 Julgamento do sequestro de bens.
 Julgamento do arresto de bens.

III. Decisões condenatórias ou absolutórias impróprias ao final da 2ª fase


do procedimento escalonado do júri.
Isso deve ser interpretado conforme o Princípio da Soberania dos Vereditos.

Prazos, quórum PROCESSO PENAL – tabela para revisão

3 DIAS
Art.23 p.ú LOC – depoimento 3 dias (podendo ser ampliado)
investigado Org. Crim.
Júri – juntada de documento ou objeto 3 dias úteis antes do julgamento
art 479 CPP
Crimes contra a propriedade imaterial 3 dias após a diligência de 2 peritos.
art. 527 CPP – apresentação de laudo

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