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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão Segunda Turma Recursal DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO DISTRITO


FEDERAL

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0706432-90.2021.8.07.0000

AGRAVANTE(S) DAVINA MARIA VIANA

AGRAVADO(S) DISTRITO FEDERAL


Relator Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA

Acórdão Nº 1351371

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA.


PROCESSUAL CIIVL. RESERVA DE HONORÁRIOS CONTRATUAIS. PROCURAÇÃO
COM CLAÚSULA REMUNERATÓRIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO CORPO DA
PROCURAÇÃO. VALIDADE. RECURSO PROVIDO.

1. Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisão proferida nos autos do


cumprimento de sentença n. 0714590-23.2020.8.07.0016, em trâmite no 4º Juizado Especial da
Fazenda Pública do Distrito Federal, que entendeu que procuração não é instrumento hábil a pactuar
honorários, sendo necessário contrato para este exclusivo fim.

2. O artigo 24 da Lei n. 98.906/94 exige tão somente a forma escrita para o contrato de honorários, o
que pode ser suprido por simples menção clara no instrumento de mandato/procuração.

3. É válida, portanto, a estipulação de honorários advocatícios no corpo do instrumento do mandato,


em homenagem a liberdade das formas contratuais publicação.

4. Agravo conhecido e provido.

ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ARNALDO CORRÊA SILVA - Relator,
ANA CLAUDIA LOIOLA DE MORAIS MENDES - 1º Vogal e JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º
Vogal, sob a Presidência do Senhor Juiz JOÃO LUIS FISCHER DIAS, em proferir a seguinte decisão:
Agravo conhecido e provido. Unânime., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 02 de Julho de 2021

Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisão proferida nos autos do processo
0714590-23.2020.8.07.0016 em trâmite no 4º Juizado Especial da Fazenda Pública do Distrito Federal,
que entendeu que procuração não é instrumento hábil a pactuar honorários, sendo necessário contrato
para este exclusivo fim.

Os advogados que assinam o agravo, cujo interesse aqui buscado é deles, narram que a procuração
também é instrumento jurídico hábil a pactuar honorários contratuais e que se faz necessário o
provimento do presente agravo para que seja determinado o destaque dos honorários com a
consequente intimação do banco para transferência do valor para a conta indicada nos autos
originários.

Requereu a parte agravante a antecipação dos efeitos da tutela, a fim de determinar que o percentual de
10% sobre o proveito econômico obtido, relativo aos honorários contratuais, sejam depositados e
mantidos em conta judicial, até que haja decisão de mérito, haja vista o perecimento do direito.

No mérito, o provimento do recurso, para que a decisão agravada seja reformada e seja deferido o
destaque dos honorários contratuais.

A antecipação da tutela foi deferida (ID n. 23891466).

A parte agravada não apresentou contrarrazões.

Vieram os autos conclusos.

É o relatório.

VOTOS
O Senhor Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA - Relator

O recurso é cabível, tempestivo e cumpriu todos os requisitos de admissibilidade.

A decisão recorrida afirma que: “(...) procuração não é instrumento jurídico hábil à delimitação de
honorários advocatícios”. Dito isto, justifica que honorários devem ser fixados por meio de contrato e
que inexiste nos autos qualquer documento que evidencie a legitimidade ou autorização dos patronos
para cobrarem honorários contratuais, ad exitum, dos sindicalizados, em ações individuais por eles
propostas. Por fim, a decisão confere prazo para juntada de instrumento contratual que justifique a
cobrança.

Portanto, para análise dos autos, resta saber se a procuração anexada (ID 60031390 dos autos
originários) é instrumento hábil à delimitação de honorários advocatícios.

Está escrito na procuração que o outorgante está ciente e de acordo com as condições estabelecidas
pelo SINDSAÚDE e do percentual de honorários correspondente a 10% sobre o proveito econômico
para os advogados constituídos.

Dito isto, passo à análise do que restou decidido pelo TRF da 4ª Região, em ocasião semelhante:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. HONORÁRIOS CONVENCIONADOS POR


PROCURAÇÃO. DEDUÇÃO DA VERBA DEVIDA AO CAUSÍDICO. POSSIBILIDADE. 1. É
assegurado aos inscritos na OAB o direito ao pagamento direto dos honorários convencionados, por
dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, desde que o advogado junte aos autos o seu
contrato de honorários antes da expedição do mandado de levantamento ou precatório. 2. O art. 24
da Lei 8.906/94 exige tão-somente a forma escrita para o contrato de honorários, razão pela qual
não há óbice que o acerto sobre aquela verba seja celebrado na própria procuração desde que haja
menção ao percentual e forma de incidência, não havendo, ademais, razão para exigir-se a juntada
do instrumento de contrato com disposição expressa acerca da prévia autorização para a dedução
de verba devida ao patrono. TRF-4 - AG: 20705 RS 2005.04.01.020705-1, Relator: VICTOR LUIZ
DOS SANTOS LAUS, Data de Julgamento: 02/08/2005, QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ
13/10/2005 PÁGINA: 683)”

No mesmo sentido:

“ EMENTA. PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIIVL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


RESERVA DE HONORÁRIOS CONTRATUAIS. PROCURAÇÃO COM CLAÚSULA
REMUNERATÓRIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO CORPO DA PROCURAÇÃO.
VALIDADE. RECURSO PROVIDO. – O artigo 24 da Lei n. 98.906/94 exige tão somente a forma
escrita para o contrato de honorários, o que pode ser suprido por simples menc;ão clara do quantum no
instrumento de mandato - Sendo válida, portanto, a estipulação de honorários advocatícios no corpo
do instrumento do mandato, em homenagem a liberdade das formas contratuais – No caso, na
procuração juntada aos autos da ação subjacente está expressamente determinada a verba honorária
avençada. Assim, considera-se válida, para fins do art. 22, 4º, da Lei n. 8.906/94, a estipulação de
honorários advocatícios no corpo do instrumento do mandato – Esclareço, outrossim, que possíveis
vícios contratuais poderão ser questionados na seara, pois esta não impede o direito de discussão sobre
sua validade no órgão jurisdicional pertinente, conforme prevê o art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal. Frise-se, por oportuno, que os honorários contratuais devem ser pagos na forma da obrigação
principal, somente os honorários de sucumbência podem ser pagos em separado da parte do cliente.
Agravo de Instrumento provido. (TRF- 3 -AI: 50115554020194030000 SP, Data de Julgamento
05/09/2019, data de publicação: e-DJF3 Judicial Data 10.09.2019).
Portanto, observa-se que há vários precedentes no sentido de que é possível a fixação de honorários
advocatícios por meio de procuração.

O artigo 22, § 4º, da Lei nº 8906/94, em que se baseou a decisão recorrida, prevê que: “§ 4º Se o
advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de
levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da
quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou”.

Contudo, ao se referir ao termo contrato, a referida norma não veda sobre a fixação de honorários
advocatícios contratuais por procuração. Não há exigência de forma contratual prevista.

A meu ver, a exigência legal é de que o contrato de honorários advocatícios contratuais deve ser
escrito, sem exigir mais detalhes.

De fato, o contrato de honorários é negócio jurídico formal e solene, no entanto não se pode exigir
documento específico para tal quando se tem procuração informando de forma clara e evidente os
ditames da negociação, indicando ainda o percentual acordado entre as partes.

Por fim, adotando o sistema da celeridade que confere a este Juizado, a princípio, não cabe ao juízo de
origem exigir instrumento contratual que justifique a cobrança de honorários, quando já detalhado em
procuração.

Portanto, em razão do princípio da liberdade das formas contratuais , o agravo deve ser provido.

Em face do exposto, conheço do agravo e lhe dou provimento, determinando que se destaque da
verba da condenação principal os honorários contratuais.

Sem custas e sem honorários.

Comunique-se a presente decisão à origem para cumprimento. Preclusa, dê baixa e arquivem-se.

A Senhora Juíza ANA CLAUDIA LOIOLA DE MORAIS MENDES - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Juiz JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

Agravo conhecido e provido. Unânime.

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