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PODER JUDICIÁRIO

Comarca de Santa Fé
Juizado Especial Cível
Autos n. 0001167-20.2016.8.16.0180
Estado do Paraná

Dispensável o relatório, nos termos do art. 38, da Lei de n.


9.099/95.
PEDRO MORAES ajuizou a presente ação de
conhecimento em face de BV FINANCEIRA SA CREDITO
FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.
A parte Autora alegou, em suma, que realizou contrato de
financiamento junto à instituição. Ocorre que, após a formalização do
negócio jurídico observou cobranças de serviços de seguro prestamista,
registro de contrato, capitalização parcela premiável, tarifa de avaliação, o
que são práticas supostamente abusivas. Pleiteou-se a declração de
ilegalidade e nulidade das cobranças, a declaração de capitalização de
juros, a condenação na restituição, em dobro, dos valores indevidamente
cobrados.
Citada a Ré. Apesentou contestação (seq.16.1), assim,
requereu preliminarmente pela incompetência em razão da matéria e pela
decadência, no mérito sustentou pelo não acolhimento da inicial, sob o
fundamento de se tratarem de cobranças regulares.
Após o levantemaneto da suspensão, conclusos os autos
para decisão (seq.40).
Das preliminares.
De acordo com o art.3º, da Lei dos Juizados Especiais: “o
Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e
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julgamento das causas cíveis de menor complexidade”., que é aferida, de


acordo com o Enunciado nº 54 do Fonaje, pelo objeto da prova, não em
face do direito material.
Nesse contexto, compete aos Juizados a solução de conflitos
que não exijam a produção de provas periciais. No caso, embora suscitada,
em contestação, a necessidade de prova pericial contábil, esta não se faz
necessária.
Nesse sentido:

“RECURSO INOMINADO. AÇÃO REVISIONAL.


CONTRATO DE FINANCIAMENTO ÚNICO.
COBRANÇA ABUSIVA DE JUROS
CAPITALIZADOS E TAXAS E TARIFAS.
CAUSA COMPLEXA. INOCORRÊNCIA.
DESNECESSIDADE DE PERÍCIA.
COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL.
PEDIDO DE RETORNO PARA JULGAMENTO
PELO JUÍZO A QUO. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma Recursal -
0000237-49.2018.8.16.0077 - Cruzeiro do Oeste -
Rel.: Juiz Pedro Roderjan Rezende - J. 22.11.2019).”
(Grifo nosso).

Corrobora-se ao exposoto o Enunciado de número 13.6, das


Turmas Recursais do Estado do Paraná:

Simples afirmação da necessidade de realizar prova


complexa não afasta a competência do Juizado
Especial, mormente quando não exauridos os
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instrumentos de investigação abarcados pela Lei n.º


9.099/95. (Grifo nosso). (Grifo nosso).

Pelas razões discorridas, a preliminar apontada não merece


acolhimento.
Desse modo, a preliminar suscitada merece ser afastada.
Do Mérito.
Possível o julgamento do processo no estado que se
encontra porque os pontos controvertidos não dependem de provas, ou,
estão devidamente comprovados nos autos, conforme dispõe o artigo 355,
I, do Código de Processo Civil.
Impositiva a aplicação do Código Consumerista, por lógica
aos fundamentos já expostos no projeto de sentença.
O tema em em análise foi objeto de discussão em Recurso
Especial n.1.578.526/SP, em que firmou o seguinte entendimento:

“2.1. Abusividade da cláusula que prevê a cobrança de


ressarcimento de serviços prestados por terceiros, sem
a especificação do serviço a ser efetivamente prestado;
2.2. Abusividade da cláusula que prevê o ressarcimento
pelo consumidor da comissão do correspondente
bancário, em contratos celebrados a partir de
25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-CMN
3.954/2011, sendo válida a cláusula no período anterior
a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade
excessiva; 2.3. Validade da tarifa de avaliação do
bem dado em garantia, bem como da cláusula que
prevê o ressarcimento de despesa com o registro do
contrato, ressalvadas a: 2.3.1. abusividade da
cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a
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2.3.2. possibilidade de controle da onerosidade


excessiva, em cada caso concreto.” (Grifo nosso).

Assim, por coerência judiciária e pelas razões expostas no


julgado acima, o posicionamento deste juízo é no mesmo sentido.
No presente caso, pelo contrato pactuado (seq. 1.2), restam
incontroversas as seguintes cobranças: a) “registro de contrato”, no valor
de R$101,54; c) “seguro prestamista”, no valor de R$700,00; d) ”tarifa de
avaliação do bem”, no valor de R$306,00; e) “IOF”, no valor de R$859,50.
A “tarifa de cadastro” não era objeto de apreciação pelo
Recurso Especial de número 1.578.526/SP, assim, entende-se que a
cobrança da tarifa em questão apenas possui validade após edição Circular
3.371/2007, do BACEN, que a deferiu como um dos serviços prioritários
estabelecidos pelo art. 3º, da Resolução CMN 3.518/2007, nos termos da
súmula 566, do STJ.
Nesse contexto, verifica-se que o contrato de financiamento
foi firmado no ano de 2015 (seq.1.2), portanto, legítima a cobrança de
tarifa de abertura de cadastro pela ré.
Com relação a “Tarifa de avaliação de veículo” e “tarifa de
registro de contrato”, há permissão na cobrança, conforme definido na tese
supracitada (tema 958).
Merece destaque que, não foi argumentado nos autos
nenhuma das ressalvas destacadas no julgado que descaracterize a
regularidade das referidas cobranças, tendo em vista que a parte Autora não

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impugnou a existência de avaliação do bem, ou até mesmo da falta de


registro, mas apenas fundamentou pela ilegalidade das cobranças.
Ainda, nota-se que consta o valor da avaliação do veículo
dado em garantia (seq.1.2), o que pressupõe a realização da referida
avaliação, logo, a contraprestação é devida.
Não se nota também qualquer excesso que gere onerosidade
ao consumidor.
Com relação aos seguros cobrados, há que se mencionar que
durante todo o lapso da contratação a parte tinha à disposição os referidos
serviços, de modo que a sua restituição causaria enriquecimento sem causa.
Quanto à capitalização de juros suscitada, depreende-se da
contratação que foi cobrada como “taxa de juros mensal 2,41%” e a anual
de “taxa de juros anual 33,10%”. Verifica-se, assim, que a taxa anual de
juros é superior ao duodécuplo da taxa mensal, o que demonstra a
contratação de juros capitalizados. Essa situação é plenamente válida
quando consta expressamente em contratos firmados após 31/03/2000,
quando foi publicada a Medida Provisória nº 1.963-17/2000, de acordo com
o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento proferido
sob a sistemática do art. 543-C, do CPC/1973. Confira-se:

“CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL


REPETITIVO. AÇÕES REVISIONAL E DE BUSCA
E APREENSÃO CONVERTIDA EM DEPÓSITO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM
GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS
COMPOSTOS. DECRETO 22.626/1933 MEDIDA
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PROVISÓRIA 2.170-36/2001. COMISSÃO DE


PERMANÊNCIA. MORA. CARACTERIZAÇÃO. 1.
A capitalização de juros vedada pelo Decreto
22.626/1933 (Lei de Usura) em intervalo inferior a um
ano e permitida pela Medida Provisória 2.170-36/2001,
desde que expressamente pactuada, tem por
pressuposto a circunstância de os juros devidos e já
vencidos serem, periodicamente, incorporados ao valor
principal. Os juros não pagos são incorporados ao
capital e sobre eles passam a incidir novos juros. 2. Por
outro lado, há os conceitos abstratos, de matemática
financeira, de ‘taxa de juros simples’ e ‘taxa de juros
compostos’, métodos usados na formação da taxa de
juros contratada, prévios ao início do cumprimento do
contrato. A mera circunstância de estar pactuada taxa
efetiva e taxa nominal de juros não implica
capitalização de juros, mas apenas processo de
formação da taxa de juros pelo método composto, o
que não é proibido pelo Decreto 22.626/1933. 3. Teses
para os efeitos do art. 543-C do CPC: - ‘É permitida a
capitalização de juros com periodicidade inferior a um
ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da
publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em
vigor como MP 2.170-36/2001), desde que
expressamente pactuada.’ – ‘A capitalização dos juros
em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de
forma expressa e clara. A previsão no contrato
bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual contratada’. 4.
Segundo o entendimento pacificado na 2ª Seção, a
comissão de permanência não pode ser cumulada com
quaisquer outros encargos remuneratórios ou
moratórios. 5. É lícita a cobrança dos encargos da mora
quando caracterizado o estado de inadimplência, que
decorre da falta de demonstração da abusividade das
cláusulas contratuais questionadas. 6. Recurso especial
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conhecido em parte e, nessa extensão, provido.”


(destaquei - REsp 973.827/RS, Rel. Min. Luís Felipe
Salomão, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,
2ª Seção, julgado em 08/08/2012, DJe 24/09/2012).
(Grifo nosso).

Com efeito, o Imposto sobre operações financeiras e de


crédito (IOF) é devido nas operações de crédito por conta dos contratos
de financiamento com garantia de alienação fiduciária, conforme o
disposto na Lei nº 5.143/1966, regulamentada pelo Decreto nº
2.219/1997.
Nesse diapasão, na existência de cobrança de tarifa
irregular tem-se reflexo no valor do IOF, o que não ocorre no caso
concreto.
Diante dos fundamentos discorridos, a pretensão da parte
Autora não merece provimento.
DISPOSITIVO.
Diante do exposto, por sentença, com resolução do mérito
na forma do art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO
IMPROCEDENTE a pretensão formulada por PEDRO MORAES em
face de BV FINANCEIRA SA CREDITO FINANCIAMENTO E
INVESTIMENTO Incabível, nesta fase, a condenação em custas e
honorários advocatícios, por força do art. 55, da Lei nº. 9099/95.
Envie-se a presente decisão para análise a Excelentíssima
Juíza de Direito Supervisora deste Juizado, para homologar, proferir outra

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em substituição, ou, determinar a realização de atos probatórios


indispensáveis, nos termos do art.40, da Lei nº 9.099/95.

Após a homologação, Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

De Astorga/PR para Santa Fé/PR, 16 de agosto de 2021.

Angélica Gimenes Resquetti


Juíza Leiga

8/6

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