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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.21.201195-1/001 Númeração 2011969-


Relator: Des.(a) Fernando Lins
Relator do Acordão: Des.(a) Fernando Lins
Data do Julgamento: 06/04/2022
Data da Publicação: 07/04/2022

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL - VALOR BLOQUEADO VIA SISBAJUD - QUANTIA
CONSIDERADA ÍNFIMA PELO JUÍZO A QUO - DETERMINAÇÃO DE
DESBLOQUEIO - IMPOSSIBIIDADE - AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL -
ART. 836 DO CPC - INAPLICABILIDADE - DECISÃO REFORMADA

- Consoante entendimento do Colendo STJ, não se pode obstar a penhora a


pretexto de que os valores penhorados são irrisórios ou ínfimos, haja vista
que tal situação não caracteriza uma das hipóteses de impenhorabilidade,
até mesmo porque a suposta irrisoriedade do valor penhorado em relação ao
total da dívida executada não impede sua constrição, podendo ser abatido do
total devido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.21.201195-1/001 - COMARCA


DE CAMBUÍ - AGRAVANTE(S): BANCO DO BRASIL SA -
AGRAVADO(A)(S): MARIA MADALENA BRANDAO, SEBASTIÃO RIBEIRO
BRANDÃO, SILVIO GARCIA BRANDÃO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 20ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. FERNANDO LINS

RELATOR

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DES. FERNANDO LINS (RELATOR)

VOTO

Trata-se de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto por BANCO DO


BRASIL S/A em face da decisão (evento n. 145) proferida pelo d. Juízo da 1ª
Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Cambuí
que, nos autos da "Ação de Execução de Título Extrajudicial" movida em face
de SILVIO GARCIA BRANDÃO E OUTROS, indeferiu o pedido de bloqueio
formulado pelo exequente/recorrente, nos seguintes termos:

"Procedi com a consulta junto aos sistemas conveniados, conforme telas em


anexo.

Quanto ao bloqueio de valor ínfimo, indefiro o pedido por se tratar de


execução frustrada.

Int."

Em suas razões, sustenta o agravante que mesmo depois de reafirmado


o seu direito de crédito, este não obteve sucesso com o pagamento da dívida
contraída pelos agravados, não vislumbrando outra forma satisfazer o seu
crédito senão pela tentativa de pesquisa aos sistemas conveniados,
notadamente porque não foram localizados bens móveis em nome dos
executados. Nestes termos, defende a necessidade de deferimento da
disponibilização da consulta realizada ao sistema do SISBAJUD, ressaltando
que eventuais quantias

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localizadas poderão ser deduzidas do saldo total executado.

Com estes fundamentos, requer o provimento do recurso, com a reforma


da decisão a quo, possibilitando que a atuação da ferramenta SISBAJUD
seja incondicionada, decotando a limitação imposta de apenas localizar
contas, permitindo, também, a contrição de eventuais quantias localizadas,
sob pena de beneficiar o devedor e prejudicar o credor.

Preparo recursal comprovado (evento n. 02/03).

Apesar de intimados, decorreu o prazo sem que os agravados


apresentassem resposta ao recurso.

É o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de admissibilidade


recursal.

A controvérsia dos autos cinge-se em avaliar o acerto ou desacerto da


decisão indeferiu o pedido de bloqueio do valor localizado na conta bancária
da parte agravada.

Cediço que o art. 836 do CPC preceitua:

"Art. 836. Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o
produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo
pagamento das custas da execução."

O regramento visa preservar o princípio da menor onerosidade para o


devedor, considerando-se o pagamento das custas para alienação dos bens
encontrados.

A constrição de dinheiro não enseja despesas com, por exemplo, hasta


pública para obter imediata liquidez, por isso, sendo esta a

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hipótese, não se aplica o regramento previsto no art. 836 do CPC.

No caso dos autos, cuida-se de ação de execução ajuizada pelo Banco


do Brasil em 29/05/2020, lastreada em Cédula Rural Pignoratícia e
Hipotecária, em face dos agravados, cujo débito originário perfaz o importe
de R$112.772,08.

O pedido de bloqueio de ativos financeiros via SISBAJUD foi deferido e


restou efetivado em conta do agravado Sebastião Ribeiro Brandão, no
importe de R$4.220,56, conforme documento acostado no evento n. 132.

Contudo, ao fundamento de que a quantia constrita era inferior a 10% do


total do débito, o Juízo de origem determinou o desbloqueio do referido
quantum (evento n. 134).

Não conformada, a instituição financeira agravante apresentou


manifestação, solicitando a realização de novas pesquisas aos sistemas
conveniados, defendendo a possibilidade de bloqueio de quantias pequenas,
argumentando que estas poderiam ser deduzidas do saldo total executado
(evento n. 139).

No entanto, o Juízo a quo proferiu a decisão agravada, indeferindo o


pedido do recorrente no tocante ao bloqueio de valor ínfimo, ao fundamento
de que se tratava de execução frustrada (evento n. 145), motivo da
insurgência recursal.

Compulsando detidamente os autos, em que pese o entendimento


adotado pelo Juízo primevo, entendo que o caráter irrisório do valor
bloqueado não é capaz de ensejar no seu desbloqueio, inclusive, tais valores
podem ser decotados do valor exequendo, até a integral satisfação do
crédito.

Deste modo, é certo que ainda que se trate de módica quantia para fazer
frente à quitação de vultosa dívida, não se pode perder de vista a
inaplicabilidade do art. 836 do CPC à espécie e, além disso, é preciso
considerar os gastos já empreendidos pelo exequente para a

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satisfação do crédito, inclusive com inúmeras tentativas de localização de


bens dos devedores.

A respeito do tema confira-se a lição de Misael Montenegro Filho leciona:

"Mais uma vez valorizando o princípio da menor onerosidade para o devedor


(art. 805), o legislador infraconstitucional protege seus bens, quando
constatar que o produto resultante da sua venda seria apenas suficiente para
garantir o pagamento das custas processuais, sem quitar parte mínima do
principal." (Novo Código de Processo Civil Comentado, 1ed, São Paulo:
Atlas, 2016, p.755)

Neste contexto, consoante entendimento do Col. Superior Tribunal de


Justiça, não se pode obstar a penhora a pretexto de que os valores
penhorados são irrisórios ou ínfimos, haja vista que tal situação não
caracteriza uma das hipóteses de impenhorabilidade, e a irrisoriedade do
valor penhorado em relação ao total da dívida executada não impede sua
constrição. Nesse sentido:

"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA.


BACENJUD. VALORES DE ATÉ 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. REGRA DA
IMPENHORABILIDADE NÃO ALCANÇA, EM REGRA, A PESSOA
JURÍDICA. CASO DOS AUTOS. VALOR IRRISÓRIO. DESBLOQUEIO. NÃO
CABIMENTO. 1. O acórdão recorrido consignou: "Pelo que se vê dos autos,
para garantir a execução fiscal de origem no valor de R$ 196.575,97, foram
bloqueados R$ 8.422,29 das contas bancárias da empresa executada em 04-
2019 (cf. extrato do bacenjud do evento 20 do processo originário). A
empresa devedora requer a liberação dos valores sob o fundamento de que
são irrisórios e, portanto, insuficientes à satisfação das custas da execução
fiscal (CPC, art. 836),

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bem como por estarem revestidos da impenhorabilidade prevista no inciso X


do art. 833 do Código de Processo Civil. Pois bem, o Superior Tribunal de
Justiça já se manifestou no sentido de que não se pode obstar a penhora on-
line de numerário ao pretexto de que os valores são irrisórios, por não
caracterizar uma das hipóteses de impenhorabilidade ("tal parâmetro não foi
eleito pelo legislador como justificativa para a liberação do bem constrito", cf.
REsp 1242852/RS, Segunda Turma, DJe 10-05-2011; ainda, REsp
1241768/RS, Segunda Turma, DJe 13-04- 2011; REsp 1187161/MG,
Primeira Turma, DJe 19-08-2010. AgRg no REsp 1383159/RS, Primeira
Turma, DJe 13-09- 2013). Além disso, ao contrário do que entende a parte
agravante, a disposição prevista no art. 836 do CPC não se aplica ao caso
dos autos, seja porque a União é isenta de custas processuais, seja porque o
bloqueio de valores via sistema Bacenjud nada despende, de modo que todo
o montante encontrado nas contas bancárias do executado serve ao
abatimento do débito tributário. Enfim, no que tange ao pedido de liberação
dos valores bloqueados na origem com base na impenhorabilidade prevista
no inciso X do art. 833 do CPC (limite de 40 salários mínimos, a quantia
depositada em caderneta de poupança), trata-se de modalidade de
impenhorabilidade que não aproveita às pessoas jurídicas (situação da parte
executada), já que se destina à manutenção dos valores necessários ao
sustento do próprio devedor e de sua família, ou seja, verbas de caráter
alimentar. Essa orientação, ademais, está de acordo com o entendimento
desta Segunda Turma, do que é exemplo o seguinte julgado assim
sintetizado: (...) Portanto, não foram apresentados motivos suficientes à
reforma da decisão agravada" (fls. 36-37, e-STJ, grifos acrescidos). 2. A
impenhorabilidade inserida no art. 833, X, do CPC/2015, reprodução da
norma contida no art. 649, X, do CPC/1973, não alcança, em regra, as
pessoas jurídicas, visto que direcionada a garantir um mínimo existencial ao
devedor (pessoa física). Nesse sentido: "[...] a intenção do legislador foi
proteger a poupança familiar e não a pessoa jurídica, mesmo que mantenha
poupança como única conta bancária" (AREsp 873.585/SC, Rel. Ministro
Raul Araújo, DJe 8/3/2017). 3. Conforme já assentado na decisão
monocrática, o acórdão recorrido está em consonância com a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que não se pode obstar a

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penhora on-line pelo sistema Bacenjud a pretexto de que os valores


bloqueados seriam irrisórios. 4. Agravo Interno não provido.

(AgInt no REsp 1878944/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA


TURMA, julgado em 24/02/2021, DJe 01/03/2021) - grifei".

"CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA.
PENHORA DE RENDIMENTOS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
CONCEDIDA NO CURSO DA EXECUÇÃO. EFEITOS EX-NUNC.
JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº
568 DO STJ. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 98 E 99 DO
NCPC. IMPERTINÊNCIA DELES PARA ACOLHIMENTO DE TESE
TRAZIDA PELA RECORRENTE. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 284 DO STF, POR ANALOGIA. UTILIDADE
PRÁTICA DO PROCESSO DE EXECUÇÃO. ART. 836 DO NCPC. NÃO
PREQUESTIONADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 211 DO STJ.
NECESSIDADE DE ALEGAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO
ART. 1.022 DO NCPC. INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE
OBSERVOU A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. APLICAÇÃO DA
SÚMULA Nº 568 DO STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS
ARTS. 278, 484, 783 DO NCPC. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 211 DO STJ.
PREQUESTIONAMENTO FICTO (ART. 1.025 DO NCPC). NECESSIDADE
DE APONTAMENTO DE CONTRARIEDADE AO ART. 1.022 DO NCPC.
INOVAÇÃO RECURSAL EM AGRAVO INTERNO. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. [...] 5. Ainda na linha
da nossa jurisprudência, não se pode obstar a penhora a pretexto de que os
valores penhorados são irrisórios, por isso não caracterizar uma das
hipóteses de impenhorabilidade ('tal parâmetro não foi eleito pelo legislador
como justificativa para a liberação do bem constrito (REsp nº 1.825.053/PR,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe de 5/9/2019), e a
irrisoriedade do valor penhorado em relação ao total da dívida executada não
impede a sua penhora. Precedentes.[...]"(AgInt no REsp 1687015/MG, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 29/06/2020, DJe
01/07/2020).

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Este posicionamento coaduna com o que vem sendo decidido por este
Eg. Tribunal de Justiça:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL - VALOR CONSTRITO VIA BACENJUD - QUANTIA
IRRISÓRIA - ART. 836 DO CPC - INAPLICABILIDADE - CAUSA DE
IMPENHORABILIDADE - INEXISTÊNCIA - BLOQUEIO MANTIDO. "Não se
levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução
dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas
da execução" (CPC, art. 836). O regramento visa preservar o princípio da
menor onerosidade para o devedor, considerando-se o pagamento das
custas para alienação dos bens encontrados. A constrição de dinheiro não
enseja despesas com, por exemplo, hasta pública para obter imediata
liquidez, por isso, sendo esta a hipótese, não se aplica o regramento previsto
no art. 836 do CPC. O e. STJ firmou entendimento de que "não se pode
obstar a penhora on-line pelo sistema Bacenjud a pretexto de que os valores
bloqueados seriam irrisórios" (AgInt no REsp 1878944/RS). O caráter irrisório
do valor bloqueado e o fato de os devedores serem pessoas de poucas
posses não são causas de impenhorabilidade. Alinha-se ao entendimento do
STJ para rever posicionamento anterior e manter a constrição. Recurso
desprovido." (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.121292-3/001,
Relator(a): Des.(a) Manoel dos Reis Morais, 20ª CÂMARA CÍVEL, julgamento
em 15/09/2021, publicação da súmula em 20/09/2021)

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - VALOR


BLOQUEADO VIA SISBAJUD - QUANTIA CONSIDERADA ÍNFIMA PELO
JUÍZO A QUO - DETERMINAÇÃO DE DESBLOQUEIO - DESCABIMENTO -
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL - ART. 836 DO CPC -
INAPLICABILIDADE NO CASO - DECISÃO REFORMADA - RECURSO
PROVIDO.

- Consoante entendimento do Colendo STJ, não se pode obstar a

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penhora a pretexto de que os valores penhorados são irrisórios ou ínfimos,


haja vista que tal situação não caracteriza uma das hipóteses de
impenhorabilidade, e a suposta irrisoriedade do valor penhorado em relação
ao total da dívida executada não impede sua constrição.

- Em que pese a previsão inserta no art. 836 do CPC, constata-se que tal
norma é inaplicável ao caso, pois o Juízo a quo entendeu por bem isentar o
executado do pagamento das custas da execução.

- Decisão reformada. Recurso provido." (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv


1.0000.20.599385-0/001, Relator(a): Des.(a) Mariangela Meyer, 10ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/07/2021, publicação da súmula em
28/07/2021)

Com essas considerações, DOU PROVIMENTO AO RECURSO,


reformando-se a decisão guerreada, para permitir o bloqueio do valor
constrito na conta do executado, ressaltando a possibilidade da constrição
incidir sobre quantias pequenas frente ao débito exequendo.

Custas recursais pelos agravados.

DESEMBARGADORA LÍLIAN MACIEL - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. FERNANDO CALDEIRA BRANT - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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