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PROCESSO CIVIL COLETIVO E PROCEDIMENTOS

ESPECIAIS

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Sumário

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 4

2. CONCEITO DE PROCESSO COLETIVO ............................................ 5

2.1. Fundamentos da ação coletiva ................................................ 5

2.2. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO COLETIVO .......... 6

2.1.1 Princípio do devido processo legal coletivo ........................... 6

2.1.2 Princípio da aplicação residual do processo civil......................... 6

2.1.1. Princípio da não taxatividade das ações coletivas ...................... 7

2.1.3 Princípio da primazia do conhecimento do mérito do processo


coletivo 8

2.1.4 Princípio do ativismo judicial ....................................................... 8

2.1.5 Princípio da máxima prioridade da tutela jurisdicional coletiva


comum 9

2.1.6 Princípio da reparação integral do dano .................................... 10

2.1.7 Princípio da disponibilidade motivada e da proibição de abandono


da ação coletiva ............................................................................................... 10

2.1.8 Princípio da economia processual ............................................. 11

3. PROCESSO COLETIVO COMO VERTENTE DO ACESSO À TUTELA


JURISDICIONAL .............................................................................................. 12

4. DIREITOS OU INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS ......................... 14

4.1 Interesses ou Direitos Difusos ...................................................... 17

4.2 Interesses ou Direitos Coletivos ................................................... 20

4.3 Interesses ou Direitos Individuais Homogêneos ........................... 21

5.PROCESSO COLETIVO COMO INSTRUMENTO EFETIVO DO


ACESSO À JUSTIÇA ....................................................................................... 24

6.PROCEDIMENTOS ESPECIAIS ........................................................ 27

6.1 Ação Popular ................................................................................ 27

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6.1.1 Conceito ....................................................................................... 27

6.1.2 Finalidade.................................................................................. 28

6.1.3 Requisitos ................................................................................. 28

6.1.4 Objeto ........................................................................................ 28

6.1.5 Legitimação Ativa ...................................................................... 28

6.1.6 Legitimação Passiva ................................................................. 29

6.1.7 Competência ............................................................................. 29

6.2 Ação Civil Pública ......................................................................... 29

6.2.1 Conceito .................................................................................... 29

6.2.2 Previsão Legal ........................................................................... 30

6.2.3 . Bens Tutelados........................................................................ 30

6.2.4 Espécies de Tutela .................................................................... 31

6.2.5 Legitimidade Ativa ..................................................................... 31

6.2.6 LEGITIMIDADE PASSIVA ............................................................ 32

6.2.7 PROCEDIMENTO ..................................................................... 32

6.2.8 Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta ............... 38

6.2.9 Servidores Públicos ................................................................... 39

6.3 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO ................................... 39

6.3.1 Conceito .................................................................................... 39

6.3.2 Objetivo ..................................................................................... 40

6.3.3 Legitimidade ativa.......................................................................... 40

6.4 Ação de Improbidade Administrativa ............................................ 41

7. CONCLUSÃO .................................................................................... 45

8. REFERÊNCIA .................................................................................... 46

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NOSSA HISTÓRIA

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1. INTRODUÇÃO
No ano de 1970, os sistemas jurídicos processuais começaram a sofrer
modificações a fim de se adequarem às demandas sociais, que não mais podiam
ser satisfeitas pelo sistema processual clássico. Uma das principais
modificações nesse sentido foi a introdução dos institutos do processo civil
coletivo.
É que a globalização acelerou e afetou as relações jurídicas de forma tão
significativa que os direitos e interesses individuais passaram por um
crescimento exponencial de grandes proporções. Esse crescimento deu início a
uma demanda por novas ferramentas e procedimentos jurídicos que fossem
capazes de alcançar pretensões transindividuais.
No Brasil, o Código de Processo Civil de 1973 não abordava diretamente
o processo coletivo. A rigor, somente com a Lei Federal n. 7.347/1985 é que foi
expressamente positivada a tutela coletiva no processo civil brasileiro.
No entanto, o panorama do processo civil coletivo brasileiro foi alterado
com a publicação do Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015).
Embora o novo marco legislativo processual não tenha regulamentado o
processo civil coletivo expressamente, verificou-se uma grande transformação
no sistema processual brasileiro no que se refere à tutela coletiva dos interesses
individuais.
Essa transformação decorre principalmente da introdução do incidente
denominado Resolução de Demandas Repetitivas, nos artigos 976 a 987 do
novo Código.

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2. CONCEITO DE PROCESSO COLETIVO
Processo coletivo é “aquele instaurado por ou em face de um legitimado
autônomo/, em que se postula um direito coletivo lato sensu ou se afirma a
existência de uma situação jurídica coletiva passiva/, com o fito de obter um
provimento jurisdicional que atingirá uma coletividade, um grupo ou um
determinado número de pessoas” (GIDI, Antônio apud DIDIER JR., 2008, p. 46).

Do conceito é possível extrair 3 elementos, quais sejam:


a) a legitimação para agir;
b) a afirmação de uma situação jurídica coletiva: o direito coletivo lato
sensu no pólo ativo (ação coletiva ativa), ou dever ou estado de sujeição a este
direito no pólo passivo (ação coletiva passiva);
c) a extensão subjetiva da coisa julgada.

Assim, há procedimentos especiais (ações coletivas) previstos na


legislação para servir às causas coletivas, tais como:
- Ação popular (art. 5º, LXXIII CF; Lei nº. 4.717/65);
- Ação civil pública (art. 129, III CF; Lei nº. 7347/85);
- MS coletivo (art. 5º, LXX CF);
- Ação coletiva para defesa dos direitos individuais homogêneos dos
consumidores (arts. 91 a 100 do CDC);
- Ação de improbidade administrativa (Lei nº. 8429/92);
- Ações de Controle de Constitucionalidade (ADI e ADC - art. 102, I, “a”
CF).

2.1. Fundamentos da ação coletiva


3. Segundo Didier Júnior, as ações coletivas possuem duas justificativas:
4. a) Fundamento sociológico: aumento das “demandas de massa”. Está ligado,
portanto, ao princípio do acesso à justiça.
5. b) Fundamento político: permitem a solução de diversos conflitos por meio
de um só processo, reduzindo os custos, uniformizando os julgamentos e
trazendo previsibilidade e segurança jurídica. Está ligado principalmente ao
princípio da economia processual.

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2.2. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO
COLETIVO
2.1.1Princípio do devido processo legal
coletivo
O princípio do devido processo legal expressamente previsto na
Constituição Federal, disposto no art. 5º, inciso LIV, é uma garantia e um direito
fundamental que, conforme já consagrado na perspectiva do processo individual,
é a base para um processo organizado que tem como finalidade a obtenção da
solução da lide, através de atos concatenados. No sentido formal e material da
acepção, respectivamente, o devido processo legal é o direito das partes na
busca da prolação de uma sentença substancialmente razoável, assim como, “o
direito a ser processado e processar de acordo com as normas previamente
estabelecidas para tanto” (DIDIER, 2009, p. 38).
Esse princípio está na base do processo, tanto coletivo quanto individual,
derivando dele muitos outros princípios. Contudo, na vocação coletiva do
princípio, esse deve ser observado sob o aspecto de um devido processo social,
como destaca RennanKrüger (THAMAY, 2013, p. 3), de modo que se preste a
desburocratizar o processo para que o Judiciário possa buscar a efetividade da
tutela jurisdicional, superando e abandonando a velha sistemática estritamente
dogmática. Acerca dos princípios decorrentes do devido processo coletivo, o
referido autor ainda destaca, que decorrem desse: o princípio da adequada
representação, princípio da adequada certificação da ação coletiva, princípio da
coisa julgada diferenciada e a “extensão subjetiva” da coisa julgada
secundumeventum litis à esfera individual, princípio da informação e publicidade
adequadas, princípio da competência adequada, dentre outros.

2.1.2 Princípio da aplicação residual do


processo civil
A existência de leis diversas que regem o processo coletivo e a expressa
previsão do dispositivo do art. 21 da LACP e do art. 90 do CDC que autorizam
um diálogo entre os diplomas legais formam um microssistema das tutelas
coletivas lato sensu. Ademais, a gama principiológica própria que versa sobre a
tutela coletiva, estabelece, assim, o caráter meramente residual da aplicação do

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Código de Processo Civil em tema de processo coletivo. O CPC/73 era fruto de
uma concepção dogmática liberal e individualista, incapaz de dar respostas
adequadas para a tratativa da defesa dos direitos coletivos.
No que tange ao Novo Código de Processo Civil, a comissão de juristas
encarregada de elaborar anteprojeto do Novo Código decidiu acerca das
proposições temáticas, fase essa anterior à elaboração da redação dos
dispositivos, não incluir no novo CPC o processo coletivo, bem como os
processos e procedimentos previstos em leis especiais, o que demonstra a clara
opção por evidenciar a distinção de concepções normativas que embasam as
tutelas individuais e as coletivas latu sensu.
Desse modo, destaca-se que somente nos casos de omissão e de vácuo
legislativo, verificável diante do caso em concreto das ações coletivas, que se
aplica as disposições do CPC. Nessa linha, a aplicação do CPC se restringe aos
casos em que: “(i) haja compatibilidade formal (inexistência de disposição em
sentido contrário no microssistema processual coletivo); e (ii) Compatibilidade
material (ausência de risco à tutela eficaz dos direitos coletivos lato sensu)”
(DONIZETTI, E.; CERQUEIRA, 2010, p. 29).

2.1.1. Princípio da não taxatividade das


ações coletivas
Esse princípio decorre de uma leitura combinada dos dispositivos do art.
5º, inciso XXXV da Constituição Federal, assim como do art. 83 do CDC
combinado com o art. 21 da LACP. Assim, preza-se pelo conhecimento do
conteúdo da demanda a ser tutelado pelo Poder Judiciário. Nessa linha, como
dispõe o art. 83 do CDC, o objetivo é possibilitar, por todas as espécies de ações,
a defesa dos direitos coletivos, visando, em verdade, a adequada e efetiva tutela,
não podendo servir de obstrução para a propositura da ação coletiva a
inexistência de procedimento para a proteção de determinado direito coletivo.
Portanto, “nada impede, a propositura de ação coletiva inominada visando à
proteção de determinado direito coletivo” (DONIZETTI, E.; CERQUEIRA, 2010,
p.103).

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2.1.3 Princípio da primazia do conhecimento
do mérito do processo coletivo
Esse princípio decorre do princípio da instrumentalidade das formas.
Desse modo, buscasse também superar o formalismo exacerbado que possa
afetar de forma direta a busca e reconhecimento da tutela coletiva. Sendo que o
processo não é um fim em si mesmo, portanto, seus institutos devem ser
conformados pelas máximas estabelecidas pela Constituição Federal (ALVARO
DE OLIVEIRA, 2006, p. 138). Assim, o que se pretende é de plano o
conhecimento da questão de fundo, isto é, da matéria que se está a discutir.
Decorre daí a permissão ao órgão jurisdicional, por exemplo, para que seja mais
flexível no que tange ao preenchimento dos requisitos de admissibilidade
processual.
Outra questão referente ao princípio da primazia do conhecimento do
mérito, conforme destaca Didier Jr., é a previsão de coisa julgada. Dessa forma,
a premissa aplicável ao microssistema das tutelas coletivas é que não haverá
coisa julgada quando o julgamento for de improcedência por insuficiência de
provas, podendo ser reproposta a demanda (DIDIER, 2010, p. 120). Pode-se,
portanto, falar em superação do formalismo tradicional, permitindo que o
processo seja instrumento para a efetivação da justiça, de acordo com os
fundamentos do formalismo valorativo. Busca-se, sobretudo diante da
repercussão social do processo coletivo, a solução equânime ao caso e que seja
um processo justo e em uma razoável duração de curso natural.

2.1.4 Princípio do ativismo judicial


O princípio do ativismo judicial advém do interesse público primário nas
causas coletivas, portanto, sendo prudente a maior participação do Poder
Judiciário, que deverá assumir a posição de protagonista e condutor firme da lide
coletiva. Uma consequência desse princípio decorre da relativização do princípio
da ação (ou da demanda) em que impõe à parte a iniciativa de provocar o
exercício da jurisdição. Destaca-se que o juiz não poderá impulsionar de forma
inicial a lide coletiva, mas tão somente incentivar aos legitimados para que
tomem as medidas cabíveis e então efetivem a ação. Nessa linha, o 7º da LACP

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determina que “se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem
conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil,
remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis”.
O ativismo está vinculado ao princípio do impulso oficial. Nessa
perspectiva, o juiz tem a função de fazer aquilo que for necessário, com a
finalidade de conduzir o processo ao seu objetivo final, de uma sentença justa,
gerando ao fim a paz social. Nesse mesmo sentido, podemos citar, como
exemplo, a previsão do art. 100 do CDC, na qual dispõe que o juiz deverá definir
o valor da indenização residual, em razão da lesão a direitos individuais
homogêneos. Em casos recentes, pode-se citar, também, por exemplo, o
controle judicial de políticas públicas ordenando a execução de atividades
essenciais pelo administrador.

2.1.5 Princípio da máxima prioridade da tutela


jurisdicional coletiva comum
Esse princípio decorre da supremacia do interesse social, presente nos
processos coletivos, sobre o particular, próprio do processo individual. Conforme
analisa Gregório Assagra (ALMEIDA, 2007, p. 64), o princípio decorre do art. 5
º, § 1º, da Constituição Federal, o qual determina a aplicabilidade imediata das
normas definidoras de direitos e garantias fundamentais. Nessa perspectiva, o
princípio em questão é oriundo da natureza ontológica das tutelas coletivas, que
sempre trazem consigo um direito ou interesse social:
Não seria nenhum pouco razoável que o Judiciário não
desse prioridade às tutelas jurisdicionais coletivas, pois é no
julgamento desses conflitos coletivos que terá o condão de
dirimir, em um único processo e em uma única decisão, um
grande conflito coletivo ou vários conflitos individuais
entrelaçados por uma homogeneidade de fato ou de direito
que justifique, seja por força de economia processual, seja
para evitar decisões conflitantes, a tutela jurisdicional
coletiva (ALMEIDA, 2001, p. 573).

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Contudo, na contramão das assertivas acima expostas, o Novo Código de
Processo Civil (Lei 13.105/05) traz em seu bojo a determinação de que “os juízes
e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir
sentença ou acórdão” (art.12, caput).
Ou seja, em tese não será possível o julgamento de processos coletivos
em prioridade às tutelas individuais.
Acredita-se que a complexidade de um pleito de tutela coletiva não pode
servir, de modo algum, como entrave para celeridade na tramitação de tutelas
singulares mais simples.

2.1.6 Princípio da reparação integral do dano


Conforme o nome do princípio já dispõe, o dano ao grupo deve ser
reparado integralmente. Nesse ponto a reparação integral ao dano causado
deverá ser auferida e devidamente liquidada, para que não reste impune o sujeito
que pratica atos lesivos que devem ser afastados ou quanto mais evitados.
Nessa assertiva, dispõe os arts. 11 e 12 da Lei de Ação Popular, assim como o
art. 100 do CDC. Nesse entendimento, cabe ressaltar, ainda, que nas ações
populares e também nas ações de improbidade administrativa, mesmo que não
tenha sido feito o pedido de condenação, esse é admitido como espécie de
pedido implícito (DIDIER, 2010, p. 125).

2.1.7 Princípio da disponibilidade motivada e


da proibição de abandono da ação
coletiva
O processo coletivo perpassa pelo princípio da disponibilidade motivada
e da proibição de abandono da ação coletiva, uma vez que a demanda coletiva
não depende da vontade das partes, e sim, da necessidade social de sua
propositura. A desistência infundada ou abandono da ação coletiva, conforme
estabelece o art. 5º § 3º, da LACP, impõe o controle por parte de outros
legitimados ativos, em especial, o Ministério Público, que deverá assumir a
titularidade da ação, diante da inércia dos demais legitimados.

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Noutro giro, o dever de agir não é absoluto, podendo o Ministério Público,
no caso de ajuizamento ou não da ação coletiva, de acordo critérios de
conveniência e oportunidade, não propor a demanda. Destaca-se, porém, que o
inquérito civil prévio à propositura da ação em que for devidamente arquivado
pode vir a sofrer a devida fiscalização do Conselho Superior do Ministério
Público. Contudo, como avalia Gregório Assagra, não é admissível o abandono
da ação pelo MP, uma vez que não é compatível com o direito processual
coletivo a extinção do processo sem julgamento do mérito (com base no art. 267,
II ou III do CPC, casos de contumácia bilateral ou unilateral, respectivamente) e,
ademais, não é compatível também a ocorrência de perempção em sede de
demandas coletivas, com fulcro na interpretação dos dispositivos do art. 5º § 3º,
da LACP e art. 9º, da Lei de Ação Popular (ALMEIDA, 2010, p. 66).

2.1.8 Princípio da economia processual


O princípio da economia processual se faz presente também no processo
coletivo. Nesse sentido, a lógica é obter o máximo de resultado possível com o
mínimo de investimentos e prática de atos processuais (GRINOVER et al., 2007,
p. 13). Conforme analisa RennanThamay sobre o referido princípio: “A economia
no processo coletivo se traduz à possibilidade de, por exemplo, reunir processos
quando houver conexão ou continência, ou ainda quando for possível encerrar o
segundo processo em caso de litispendência e coisa julgada” (THAMAY, 2013,
p. 6). Esses atos permitem eliminar esforços desnecessários praticados tanto
pelo Judiciário quanto pelas partes sem que haja uma potencial finalidade.
Nessa esteira, o Novo Código de Processo Civil consagra em seu art. 139,
inciso X dispositivo o qual “prevê que o magistrado, dentro de suas funções
gerenciais, deve monitorar o aumento o crescimento exponencial de
determinadas demandas e notificar os principais legitimados para a ação civil
pública” (PINHO, 2014, p. 5).
Assim, o dispositivo mencionado, chamado de “incidente de
coletivização”, visa dar concretude ao princípio da economia processual,
diminuindo o volume de trabalho dos juízes em relação aos litígios de massa
idênticos. O dispositivo figura com a seguinte redação:

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Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições
deste Código, incumbindo-lhe: X - quando se deparar com
diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o
Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do
possível, outros legitimados a que se referem os arts. 5º da
Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e 82 da Lei nº 8.078,
de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a
propositura da ação coletiva respectiva.

3. PROCESSO COLETIVO COMO VERTENTE DO


ACESSO À TUTELA JURISDICIONAL
O processo civil brasileiro, de concepção individualista, é apto a solucionar
os conflitos eminentemente privados, ou seja, protege os direitos subjetivos das
pessoas envolvidas no conflito. O processo coletivo precisa ir além.
O processo precisa proporcionar ao cidadão acesso à ordem jurídica
justa, respondendo às mais variadas situações. Nos conflitos de massa essa
preocupação torna-se ainda maior. A doutrina costuma justificar o processo
coletivo com base nas ideias de acesso à tutela jurisdicional e economia
processual.
O processo coletivo não pode ficar restrito à proteção dos direitos
subjetivos envolvidos no conflito, deve ser capaz de proteger também bens e
valores de interesse geral, estabelecendo o dever jurídico de respeitar esses
bens e valores e ainda medidas eficazes para que essas obrigações sejam
cumpridas.
Os princípios do acesso à tutela jurisdicional, da efetividade e da
celeridade processual tornam-se verdadeiros preceitos para a solução dos
conflitos de massa, de forma que o tratamento dispensado às questões coletivas,
por qualquer de suas espécies, há de ser no sentido de alcançar maior eficácia
na solução dos litígios.
A efetividade do direito encontra correspondência com o princípio
constitucional do acesso à tutela jurisdicional que, na lição de Luiz Guilherme
Marinoni:

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(…) quer dizer acesso a um processo justo, a garantia a uma
justiça imparcial, que não só possibilite a participação efetiva
e adequada das partes no processo jurisdicional, mas que
também permita a efetividade da tutela dos direitos,
consideradas as diferentes posições sociais e as específicas
situações de direito substancial. Acesso à justiça significa,
ainda, acesso à informação e à orientação jurídica e a todos
os meios alternativos de composição de conflitos.
De acordo com Luiz Rodrigues Wambier:
(…) contemporaneamente a garantia constitucional de
acesso à tutela jurisdicional do Estado significa direito de
acesso à efetiva tutela jurisdicional, isto é, direito de obter do
Estado tutela jurisdicional capaz de promover a
concretização de seus comandos, do modo como previstos
no plano do direito material.
O acesso à tutela jurisdicional através do processo coletivo pode ser
observado sob várias vertentes. A primeira diz respeito à possibilidade de
exame pelo Poder Judiciário de lesões ou ameaças de lesões a direitos que não
possuem titular determinado, como os chamados direitos fundamentais de
terceira geração ou dimensão.
Sob outra vertente, como explica Gidi, examinando a experiência
das classactions no direito norte americano, as ações coletivas asseguram o
acesso à tutela jurisdicional de pretensões que, de outra forma, dificilmente
chegariam ao Poder Judiciário, como os casos em que o indivíduo sofre um
prejuízo financeiro reduzido, não se sentindo estimulado, pelo dispêndio de
tempo e dinheiro, a recorrer ao Judiciário.
A economia processual também é observada nos processos coletivos,
pois embora ele permita o acesso ao Judiciário de pretensões que, de outra
forma, não seriam apreciadas, possibilita que um grande número de ações
individuais repetitivas, em torno de uma mesma controvérsia, sejam
substituídas por uma única Ação Coletiva.
Cumpre agora demonstrar quais interesses ou direitos podem ser
tutelados através do processo coletivo.

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4. DIREITOS OU INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS
Os interesses ou direitos transindividuais apresentam certas
particularidades que serão agora analisadas. Abordaremos o tema explicitando
o que se entende hoje no Brasil por interesses ou direitos coletivos lato sensu,
os difusos e coletivos, e por interesse ou direito individual homogêneo.
No presente estudo, as expressões “direitos” e “interesses”, sempre que
se referirem aos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, serão
utilizadas como sinônimas.
Diversos ordenamentos jurídicos não qualificaram as pretensões coletivas
como direitos subjetivos, porque essas pretensões fugiam ao caráter
individualista do direito subjetivo. De acordo com José Manuel de Arruda Alvim:

A ideia central do direito subjetivo é sua rigorosa


individualização e atribuição de poder subjetivo a uma
pessoa ou ente jurídico, em si mesmo e em relação à
titularidade, o que se projetou no Código de Processo Civil,
encontrando sua longa manus no art. 6° desse diploma,
marcadamente individualista.

As pretensões coletivas eram então designadas pela doutrina com a


expressão “interesse”, pois representavam aspirações materiais que
transcendiam as aspirações individuais.
As aspirações coletivas não poderiam ser qualificadas como direitos
subjetivos, pois se nega a elas a possibilidade de imputar-lhes uma titularidade
individual e exclusiva, pois são pertinentes a toda a sociedade ou parcela desta.
Possuem ainda natureza extrapatrimonial, pois não são economicamente
apropriáveis por ninguém. Por esses motivos a doutrina designava as
pretensões coletivas como interesses difusos ou interesses coletivos. A
expressão “interesse” foi utilizada na edição da Lei da Ação Civil Pública e na
Constituição Federal.
Com a edição do Código de Defesa do Consumidor o legislador passou a
adotar as expressões “interesses” e “direitos” como sinônimas.

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Na verdade não existe utilidade prática para as distinções conceituais
entre interesses e direitos, pois o Poder Judiciário brasileiro deve tutelar
indistintamente interesses e direitos.
Segundo Kazuo Watanabe: “Os termos “interesses” e “direitos” foram
utilizados como sinônimos. Certo é que, a partir do momento em que passam a
ser amparados pelo direito, os “interesses” assumem o mesmo status de
“direitos”, desaparecendo qualquer razão prática, e mesmo teórica, para a busca
de uma diferenciação ontológica entre eles.”
A este respeito, Elton Venturi observa que:
O legislador, certamente alertado sobre o possível
reducionismo que poderia recair sobre a utilização da
expressão ‘interesses’ ao invés de ‘direitos’, optou por uma
solução conciliatória que acabou prestigiando a ambas,
tornando-as equivalentes para fins de tutela jurisdicional.
Os direitos transindividuais estão situados em uma faixa intermediária de
direitos. Não se situam no direito privado, nem no direito público. Como já
afirmado anteriormente os direitos transindividuais transcendem o caráter
individual dos direitos, pois o enfoque não se dá nas relações intersubjetivas.
Também não podem ser considerados direitos públicos, pois esses tratam das
relações entre o Estado e seus súditos.
Os direitos transindividuais tratam das relações inerentes às sociedades
de massa, ou seja, estão situados em uma faixa intermediária entre o direito
privado e o direito público.
Mauro Cappelletti criticou a rígida dicotomia entre os direitos público e
privado, demonstrando que existe categoria intermediária entre eles, em suas
palavras:
“A summadivisio aparece irreparavelmente superada diante
da realidade social de nossa época, que é infinitamente mais
complexa, mais articulada, mais sofisticada, do que aquela
simplista dicotomia tradicional. Nossa época, já tivemos
oportunidade de ver, traz prepotentemente ao palco novos
interesses difusos, novos direitos e deveres que, sem serem
públicos no senso tradicional da palavra, são, no entanto,
coletivos: desses ninguém é titular, ao mesmo tempo que

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todos os membros de um dado grupo, classe, ou categoria,
deles são titulares”.
Cumpre ressaltar que não se deve confundir defesa de direitos coletivos
com defesa coletiva de direitos (individuais homogêneos).
De acordo com Teori Albino Zavascki direitos coletivos são direitos
subjetivamente transindividuais, não possuem titular determinado e são
materialmente indivisíveis. O direito coletivo é designação genérica para o direito
coletivo e o difuso, as duas modalidades de direitos transindividuais. Os direitos
individuais homogêneos são direitos subjetivos individuais, cuja coletivização
tem sentido instrumental para permitir sua efetiva tutela em juízo.
O tipo de direito é o que determina a espécie de tutela, e não o contrário.
Não é a tutela jurisdicional pleiteada o elemento que define a natureza do direito
deduzido em juízo.
De acordo com Rodolfo de Camargo Mancuso:
Cabe ressaltar que, embora à primeira vista a tríade – interesses difusos,
coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos – sugira que se cuida de
espécies de um mesmo gênero, impende distinguir: os dois primeiros sub-tipos,
podem-se dizer, com José Carlos Barbosa Moreira, essencialmente coletivos,
sendo que nos difusos aparece absoluto o binômio indivisibilidade do objeto-
indeterminação dos sujeitos, contexto que se relativiza nos coletivos em sentido
estrito. Já no tocante aos individuais homogêneos, o próprio nomen
iuris denuncia que se trata de um novum genus (antes não previsto no art. 1° da
Lei 7.347/85, nem depois, no art. 129, III da vigente CF), cuidando-se de
interesses que na substancia remanescem individuais, mas que comportam trato
processual coletivo, por concernirem a um número importante de sujeitos, com
isso se prevenindo a indesejável atomização do conflito coletivo em múltiplas e
repetitivas demandas individuais. Dir-se-ia que estes últimos cuidam de
interesses episódica ou contingencialmente coletivos, ou se quiser, coletivos na
forma porque vêm manejados judicialmente (art. 81, parágrafo único, III, da Lei
8.078/90).
Passamos então a analisar as particularidades de cada um deles,
iniciando pelos difusos.

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4.1 Interesses ou Direitos Difusos

Os direitos difusos são caracterizados pela transindividualidade,


indivisibilidade e indeterminação de seus titulares. Características estas que
apresentam um alto grau de dispersão e relevância social.
Vêem definidos no art. 81, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor
“(…) assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato”.
De acordo com Pedro da Silva Dinamarco nos interesses difusos, o objeto
(ou o bem jurídico protegido) não é passível de divisão, na medida em que é
impossível proteger um indivíduo sem que essa tutela não atinja
automaticamente os demais membros da comunidade que se encontram na
mesma situação.
O direito difuso não é simples soma das pretensões individuais. A
indivisibilidade do direito difuso se encontra no bem da vida que se visa proteger.
Exemplo clássico de direito difuso é os relacionados com questões ambientais,
como a poluição do ar.
José Roberto dos Santos Bedaque explica que “o que caracteriza o direito
difuso (…) é a indivisibilidade do objeto, isto é, a satisfação ou a lesão ao
interesse de um dos membros do grupo atinge, necessária e automaticamente,
a esfera de todos.”
Uma das questões polêmicas acerca dos direitos difusos é saber se pode
o indivíduo, isoladamente, defender seu direito englobado pelo direito difuso,
pois o que é indivisível no direito difuso é o objeto protegido e não a causa de
pedir.
Para buscar a tutela jurisdicional, primeiramente, é necessário que o
interessado possua legitimidade. O Código de Processo Civil, em seu artigo 6º,
diz expressamente que ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio,
salvo quando autorizado por lei, ou seja, no ordenamento jurídico brasileiro cada
interessado defende pessoalmente seus interesses.
Para estar em juízo defendendo direito alheio é necessário expressa
autorização legal. Ocorre que o direito difuso é ao mesmo tempo direito próprio
e direito alheio, ou seja, transcende a esfera individual e atinge a esfera coletiva.

17
Esse dispositivo do Código de Processo Civil (art. 6°) não é adequado
para solucionar o problema da legitimação para a causa na tutela dos direitos
difusos. De acordo com Nelson Nery Junior:
(…) os institutos ortodoxos do processo civil não podem ser
aplicados aos direitos transindividuais, porquanto o
processo civil foi idealizado como ciência em meados do
século XIX, notavelmente influenciado pelos princípios
liberais do individualismo, que caracterizam as grandes
codificações daquele mencionado século. Ao pensar, por
exemplo, em legitimação para a causa como instituto ligado
ao direito material individual a ser discutido em juízo, não se
pode ter esse mesmo enfoque quando se fala de direitos
difusos, cujo titular do direito material é indeterminável.
Para o ajuizamento das Ações Coletivas de um modo geral, são
legitimados os entes de direito público, como associações, ministério
público, defensoria pública, autarquias, fundações, sociedades de
economia mista.
Dentre as Ações Coletivas, a única que possui legitimação restrita é a
Ação Popular, pois somente cidadão pode-se utilizar deste meio de
impugnação.
Explica Luiz Rodrigues Wambier que se o titular de uma pretensão
individual, abrangida pelo direito difuso, não conseguir sensibilizar os legitimados
para agir em nome da coletividade, então “deverá valer-se do sistema processual
comum, da legitimidade ordinária, previsto no Código de Processo Civil,
buscando a tutela jurisdicional também com fundamento em direito subjetivo
individual”.
De acordo ainda com referido autor os direitos difusos devem ser
encarados como direitos novos, desvinculados dos direitos subjetivos já
protegidos pelo ordenamento jurídico. Esses direitos novos devem receber
tratamento processual diferenciado e conviver harmonicamente com aqueles.
Explica Wambier que:
(…) há alguns anos, o sistema processual, com os
mecanismos da legitimação ordinária (ao titular do direito
cabe sua defesa em juízo) e da legitimação extraordinária

18
(defesa de interesse alheio em nome próprio), não continha
elementos suficientes para responder satisfatoriamente a
uma nova gama de direitos, que paulatinamente foram
reconhecidos e incorporados ao acervo de bens
susceptíveis de proteção, sendo necessário criar um outro
sistema, capaz de conviver com o remanescente sistema
tradicional, mas baseado em novas posturas
metodológicas.
A criação desses novos mecanismos de defesa dos direitos, vinculados
aos direitos difusos e coletivos, não é inconstitucional. Criaram-se mecanismos
especiais para direitos novos, ou seja, diferenciados dos direitos individuais
subjetivos tradicionais.
Quanto à natureza jurídica da legitimidade conferida aos entes que atuam
no pólo ativo das ações coletivas não existe um consenso na doutrina.
Alguns doutrinadores entendem que os entes legitimados atuam como
substituto processual. De acordo com Ephraim de Campos Jr., citado por Luiz
Manoel Gomes Jr. a substituição processual seria um gênero da legitimação
extraordinária e ocorreria “(…) quando a lei atribuir a alguém legitimação para
pleitear, como autor ou réu, em nome próprio, direito (pretensão) alheio, com
autonomia e exclusividade (…)”.
Já Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery explicam que a
figura da substituição processual existe somente no direito singular e no direito
processual civil individual. O substituto substitui pessoa determinada,
defendendo em seu nome o direito alheio do substituído. Direitos difusos e
coletivos não poderiam ser regulados pelo mesmo sistema, porque possuem
como característica a não individualidade. Não se substitui coletividade ou
pessoas indeterminadas.
Acrescentam ainda que o que ocorre é um fenômeno próprio do direito
processual civil coletivo, que seria a legitimação autônoma para a condução do
processo. Através da legitimação autônoma para a condução do processo o
legislador, independente do conteúdo do direito material a ser discutido em juízo,
legitima pessoa, órgão ou entidade a conduzir o processo judicial no qual se
pretende proteger o direito difuso ou coletivo.

19
O autor Ricardo de Barros Leonel explica que as concepções tradicionais
da legitimação, como premissas absolutas, devem ser abandonadas. Argumenta
que no caso das Ações Coletivas, os entes legitimados, possuiriam legitimação
autônoma para a condução do processo, que não se confunde nem com
legitimação extraordinária, nem com legitimação ordinária.
Segundo entendimento de Luiz Manoel Gomes Jr. as Ações Coletivas
emergem no contexto de uma temática inteiramente diferenciada. O processo
tradicional possui caráter individual. Logo, para se tratar das ações Coletivas faz-
se necessário uma releitura de conceitos clássicos, como por exemplo, os
conceitos de legitimação e interesse.
Esses conceitos necessitam de uma readaptação para analisar os
pressupostos e condições das ações coletivas.
Assim, as Ações Coletivas possuem uma legitimação processual coletiva
que seria a possibilidade de almejar a proteção dos direitos coletivos lato
sensu (difusos, coletivos) e individuais homogêneos, ainda que haja coincidência
entre os interesses próprios de quem atua com os daquele que serão, em tese,
beneficiados com a decisão a ser prolatada.
O acesso à tutela jurisdicional se dá adotando-se um ou outro critério de
legitimação. Tratando-se de direito subjetivo tradicional o acesso à tutela
jurisdicional ocorrerá com a utilização do processo civil individual tradicional, e
tratando-se de direitos novos (coletivos lato sensu) e de direitos individuais
homogêneos o acesso à tutela jurisdicional se dará através do processo coletivo.

4.2 Interesses ou Direitos Coletivos


O direito coletivo é caracterizado por sua transindividualidade,
indivisibilidade e determinação de seus titulares. Vem definido no art. 81, II do
CDC: “interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base”.
O que diferencia o direito coletivo do direito difuso é a determinabilidade
dos seus titulares. Nos dizeres de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz
Arenhart:

20
(…) a diferença essencial entre os direitos difusos e direitos
coletivos (stricto sensu) reside no fato de que os direitos
difusos pertencem, naturalmente, a pessoas
indeterminadas, dissolvidas na sociedade, e que por meras
circunstâncias fáticas estão ligadas entre si, enquanto os
direitos coletivos (stricto sensu) têm como titular grupo,
categoria ou classe de pessoas que estão ligadas entre si ou
com o violador (ou potencial violador) do direito, por uma
relação jurídica base.
É direito transindividual na medida em que transcende o direito de cada
uma das pessoas vinculadas ao grupo associativo, para atingir os fins sociais do
grupo.
O tratamento processual dado aos direitos coletivos, por se tratar de um
direito novo, assim como os direitos difusos, deve ser distinto do tratamento
processual dado aos direitos individuais tradicionais. Aqui, quanto à legitimação
para a causa na tutela dos direitos coletivos, nos reportamos ao que já foi
exposto quanto aos direitos difusos.

4.3 Interesses ou Direitos Individuais


Homogêneos
Os interesses individuais homogêneos são definidos pelo Código de
Defesa do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo único, III, como aqueles
decorrentes de origem comum. Sua titularidade pertence a um número
determinado ou determinável de pessoas que tiveram seus direitos individuais
violados de forma similar por práticas a que foram submetidas.
Os direitos individuais são qualificados de homogêneos apenas por ficção
jurídica, afim de que possam ser, também, defendidos em juízo por ação coletiva.
São os direitos de grupo, categoria, classe de pessoas determinadas ou
determináveis, que compartilhem interesses divisíveis, oriundos das mesmas
circunstâncias de fato, isto é, possuem uma origem comum.

Como ressaltado no início deste ítem, os direitos individuais homogêneos


são verdadeiros interesses individuais, mas circunstancialmente tratados de
forma coletiva. Ou seja, não são coletivos em sua essência nem no modo como

21
são exercidos. Na verdade, esses direitos, mais do que os outros dois já
tratados, são consequência da moderna sociedade de massa, em que a
concentração de pessoas em grandes centros e a produção em série abre
espaço para que muitas pessoas sejam prejudicadas por um único fato.
Segundo Kazuo Watanabe:
A homogeneidade e a origem comum, são, portanto, os
requisitos para o tratamento coletivo dos direitos individuais”,
sendo que a origem comum pode ser de fato ou de direito, e
a expressão não significa, necessariamente, uma unidade
factual e temporal. As vítimas de uma publicidade enganosa
veiculada por vários órgãos de imprensa e em repetidos dias
de um produto nocivo à saúde adquirido por diversos
consumidores num largo espaço de tempo e em várias
regiões têm, como causa de seus danos, fatos de uma
homogeneidade tal que os tornam a ‘origem comum’ de
todos eles.
Com relação à homogeneidade, a intenção do legislador foi
excluir situações pessoais heterogêneas do âmbito da defesa coletiva dos
direitos individuais.
A respeito do assunto, Ada Pellegrini Grinover
(…) em tese, a prevalência da dimensão coletiva sobre a
individual poderia ser útil para aferir, do ponto de vista prático, se efetivamente
os direitos individuais são, ou não, homogêneos. Inexistindo, a prevalência dos
aspectos coletivos, os direitos seriam heterogêneos, ainda que tivessem origem
comum. Provavelmente, poder-se-ia afirmar, em linha de princípio, que essa
origem comum (ou causa) seria remota e não próxima. A adotar-se esse critério,
dever-se-ia concluir que, não se tratando de direitos homogêneos, a tutela
coletiva não poderia ser admitida, por falta de possibilidade jurídica do pedido”.
Em algumas situações o vínculo existente entre os direitos individuais dos
diversos titulares não autoriza a propositura de uma ação coletiva, mas sim a
propositura de ações individuais, ou, ainda, das chamadas “ações plúrimas”,
promovidas por mais de um titular do direito, por meio de litisconsórcio ativo
facultativo.

22
O intuito do legislador ao elencar o requisito da homogeneidade foi
provavelmente o de excluir eventuais situações pessoais heterogêneas do
âmbito da defesa coletiva dos direitos individuais. Nos dizeres de Luiz Rodrigues
Wambier: “(…) as particularidades relativas a cada um dos membros individuais
devem ser desprezadas, quando da resolução de conflito que envolva direitos
individuais homogêneos.”
A semelhança entre os direitos individuais homogêneos e os coletivos é o
tratamento processual dispensado a ambos. Os direitos difusos e os direitos
coletivos efetivamente representam novas formas de condutas apreciadas pelo
ordenamento jurídico, mas os direitos individuais homogêneos não. Eles são os
direitos subjetivos individuais tradicionais, que possuem como titulares pessoas
individualmente consideradas.
Exercida a ação coletiva por um dos legitimados do art. 82 do Código de
Defesa do Consumidor, o titular do direito individual não deve aguardar
passivamente o deslinde da ação.
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, cada titular da
pretensão individual lesada, mesmo que homogênea, deve propor sua própria
ação, ou intervir no processo coletivo como litisconsorte, ou ainda, promover a
liquidação e consequente execução da obrigação constante da sentença
coletiva.

23
5.PROCESSO COLETIVO COMO INSTRUMENTO
EFETIVO DO ACESSO À JUSTIÇA

Por meio da função legislativa, o Estado estabelece normas de conduta,


regulando as ações humanas para garantir e melhorar a vida em
comunidade. Essas normas de conduta, de observância imperativa, geralmente
são aceitas e obedecidas por todos.
Quando não respeitadas, cabe ao Estado, substituindo a vontade das
partes (visto que não é admitido no ordenamento jurídico brasileiro a autotutela),
adotar medidas de coação, para que as normas de conduta não se transformem
em letra morta.
Essa função do Estado, de observar o cumprimento das normas de
conduta e, em caso negativo, aplicar as devidas medidas de coação, é a
chamada função Jurisdicional do Estado.

De acordo com Humberto Theodoro Junior “jurisdição é a função do


Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma
situação jurídica controvertida.” É também o que se extrai do art. 5° XXXV da
Constituição Federal, que estabelece que a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito.
Do próprio conceito de função Jurisdicional depreende-se a ideia de que
ela é equipada com instrumentos que permitem realizar materialmente o Direito.
A busca da efetividade é o desafio do processo civil atual. A efetividade
do direito material não é somente provocar a atuação do Estado na solução dos
conflitos. A efetividade deve ser entendida como o direito de obter, em um prazo
razoável, uma decisão justa e capaz de atuar eficazmente no plano fático.
De acordo com Bedaque:
A tarefa principal do ordenamento jurídico é estabelecer uma
tutela de direitos eficaz, no sentido de não apenas assegurá-
los, mas também garantir sua satisfação. O ordenamento
será efetivo quando, vigente a lei, seja ela espontaneamente
acatada pelo destinatário, por encontrar correspondência na

24
realidade social; ou quando a atuação se der
coercitivamente, mediante a adoção de medidas que
substituam a atuação espontânea. Todos os fatos sociais
juridicamente relevantes devem ocorrer em conformidade
com a vontade geral e abstrata do legislador, de forma
natural ou coercitiva.
A preocupação com a efetividade da jurisdição surgiu com o movimento
do acesso à tutela jurisdicional. Movimento bem representado por Mauro
Cappelletti e Vittorio Denti, que compilaram estudos realizados e demonstraram
reais problemas do sistema jurídico. Para Candido Rangel Dinamarco o acesso
à tutela jurisdicional equivale à obtenção de resultados justos, explicando que
(…) não tem acesso à justiça aquele que sequer consegue
fazer-se ouvir em juízo, como também os que, pelas
mazelas do processo, recebem uma justiça tardia ou alguma
injustiça de qualquer ordem. Augura-se a caminhada para
um sistema em que se reduzam ao mínimo inevitável os
resíduos de conflitos não jurisdicionalizáveis (a
universalização da tutela jurisdicional) e em que o processo
seja capaz de outorgar a quem tem razão toda a tutela
jurisdicional a que tem direito.
Enfocando nossa análise na garantia do acesso à justiça
enxergamos que o processo coletivo é um poderoso instrumento para a
sua efetividade. Isso porque, além de prestigiar a economia processual,
adapta-se ao princípio da igualdade, facilitando o acesso ao Judiciário.
O Poder Judiciário, apreciando os conflitos coletivos, que envolvem partes
que litigam devido a questões de interesses transindividuais, evita contradição
nas decisões proferidas e a demora na solução das controvérsias que poderiam
ocorrer se o conflito fosse tratado de forma individual.
O processo coletivo permite um maior aproveitamento dos atos
processuais praticados, já que através de uma única ação serão atendidos os
interesses de um grupo determinável ou indeterminável de lesados.
É imperioso alcançar a efetividade do acesso à justiça e, como
consequência, a prestação da tutela jurisdicional adequada. “Por tutela

25
adequada entende-se a que é provida da efetividade e eficácia que dela se
espera”.
O acesso à justiça de modo coletivo facilita o acesso ao Judiciário na
medida em que, como ocorre na ação civil pública, a demanda é proposta por
um legitimado extraordinário que possui mais preparo para a defesa do interesse
a ser tutelado. Além disso, muitas vezes, a pessoa prejudicada individualmente
em seu direito não se sente encorajada a acessar a justiça, por considerar o
dano sofrido exíguo e por constatar que a posição social e econômica do
adversário pode ser mais forte.
Explica Cappelletti que (1977, p. 130):
A pessoa lesada se encontra quase sempre numa situação
imprópria para obter a tutela jurisdicional contra o prejuízo
advindo individualmente e pode simplesmente ignorar seus
direitos; ou, ainda, suas pretensões individuais podem ser
muito limitadas para induzi-la a agir em Juízo, e o risco de
incorrer em grandes despesas processuais pode ser
desproporcional com respeito ao ressarcimento
eventualmente obtível.
De fato, os legitimados ativos, ao contrário do autor individual, estão
preparados e possuem suporte para enfrentar a parte contrária.
Cumpre ressaltar que nas demandas coletivas existem algumas
peculiaridades em comparação com as individuais, tal como ocorre com a
competência que, em regra, é definida pelo local do dano (artigo 2º da Lei nº
7.347/85); e, a coisa julgada, que, dependendo do tipo de interesse tutelado e
do resultado do processo, pode ser erga omnes, ultra partes ou não ter eficácia
(artigo 103 do Código de Defesa do Consumidor).
Ainda, conforme se depreende do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85,
não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas
processuais.
Portanto, dizer o direito de forma coletiva caracteriza uma enorme
contribuição para o acesso à justiça. É um corolário do princípio da
inafastabilidade do Poder Judiciário, pois sendo a jurisdição monopólio do

26
Estado, cabe a este prestá-la de forma célere e efetiva, e uma das formas disso
ocorrer é por meio do processo coletivo. O processo é instrumento da jurisdição
e a sua forma coletiva torna ainda mais eficaz a prestação desta.

6.PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
São ações coletivas que envolvem um conjunto de pessoas ou até mesmo
toda a sociedade. Isto porque, a decisão tomada em uma ação coletiva afeta não
só os indivíduos que entraram com aquela ação como também todos aqueles
que se encontram na situação julgada e pretendem entrar com uma ação na
Justiça.

6.1 Ação Popular

6.1.1 Conceito
O Art. 5º, LXXIII da Constituição Federal diz:
“LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico
e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento
de custas judiciais e do ônus da sucumbência.”

Segundo Hely Lopes Meirelles:


“é o meio constitucional posto à disposição de qualquer
cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos
administrativos – ou a estes equiparados – ilegais e lesivos
do patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas
autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas
subvencionadas com dinheiros públicos”.

27
6.1.2 Finalidade
A ação popular, junto com o Direito de sufrágio, direito de voto em
eleições, plebiscitos e referendos, e ainda a iniciativa popular de lei e o direito
de organização e participação de partidos políticos, constituem formas de
exercício da soberania popular (Constituição Federal Art. 1 e Art. 14), permitem
ao povo, de forma direta, exercer a função fiscalizatória do Poder Público, com
base no princípio da legalidade dos atos administrativos e no conceito de que
a República é do povo.

6.1.3 Requisitos
São requisitos para ajuizamento da ação popular:
 Requisito subjetivo: somente tem legitimidade para a
propositura da ação popular o cidadão;
 Requisito objetivo: refere-se à natureza do ato ou da omissão
do poder público a ser impugnado, que deve ser,
obrigatoriamente, lesivo ao patrimônio público, seja por
ilegalidade, seja por imoralidade. Conforme decidiu o Supremo
Tribunal Federal, a ação popular é destinada “a preservar, em
função de seu amplo espectro de atuação jurídico-processual, a
intangibilidade do patrimônio público e a integridade da
moralidade administrativa”

6.1.4 Objeto
O objeto da ação popular é o combate ao ato ilegal ou imoral e lesivo ao
patrimônio público, sem contudo configurar-se a ultima ratio, ou seja, não se
exige o esgotamento de todos os meios administrativos e jurídicos de
prevenção ou repressão aos atos Ilegais ou imorais e lesivos ao patrimônio
público para seu ajuizamento.

6.1.5 Legitimação Ativa


Somente o cidadão, seja o brasileiro nato ou naturalizado, inclusive
aquele entre 16 e 18 anos, e ainda, o português equiparado, no gozo de seus
direitos políticos, possuem legitimação constitucional para a propositura da

28
ação popular. A comprovação da legitimidade será feita com a juntada do título
de eleitor (no caso de brasileiros) ou do certificado de equiparação imposto dos
direitos civis e políticos e título de eleitor (no caso do português equiparado).

6.1.6 Legitimação Passiva


Os sujeitos passivos da ação popular são diversos, prevendo a Lei
nº 4717/65, em seu Art. 6º, § 2º, a obrigatoriedade da citação das pessoas
jurídicas públicas, tanto da administração direta quanto da indireta, inclusive
das empresas públicas e das sociedades de economia mista ou privadas, em
nome das quais foi praticado o ato a ser anulado, e mais as autoridades
funcionários ou administradores que houverem autorizado aprovado ratificado
ou praticado pessoalmente o ato ou firmado o contrato impugnado, ou que, por
omissos, tiverem dado oportunidade a lesão, como também, os beneficiários
diretos do mesmo ato ou contrato.

6.1.7 Competência
A competência para processar e julgar ação popular será determinada
pela origem do ato a ser anulado, aplicando-se as regras constitucionais e
legais de competência.

6.2 Ação Civil Pública

6.2.1Conceito
A ação civil pública configura-se como uma das espécies de ações
coletivas previstas no ordenamento jurídico brasileiro para a tutela de direitos de
interesse da coletividade. Constitui-se como sendo um instrumento processual
de índole constitucional, destinado à proteção de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos.

29
6.2.2Previsão Legal
Trata-se de instituto legal previsto no art. 129, III, da Constituição de 1988,
de acordo com o qual uma das funções institucionais do Ministério Público é a
promoção da ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
Por sua vez, encontra-se regulamentada na Lei nº 7.347/85, tendo esta lei
disciplinado de forma pormenorizada o procedimento relativo a ação civil pública,
sendo considerada a norma de maior relevância sobre o tema.
Além disso, também encontra guarida legislativa no Código de Defesa do
Consumidor, mais precisamente no Título III, que cuida da defesa do consumidor
em juízo.

6.2.3. Bens Tutelados


Os bens tutelados pela ação civil pública são bastante vastos, ao passo
que de acordo com o art. 1º da Lei nº 7.347/85, ela tem por objeto a
responsabilização pelos danos morais e patrimoniais causados ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico, a qualquer interesse difuso ou coletivo, a ordem
econômica, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos
ou religiosos, ao patrimônio público e social.
O rol descrito no artigo citado acima é considerado numerus apertus, ou
seja, ele é meramente exemplificativo, logo, qualquer outro direito difuso, coletivo
ou individual homogêneo que esteja sofrendo com alguma ilegalidade pode ser
resguardado por meio desse instituto.
Destaca-se ainda, que não pode ser objeto de ação civil pública
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, FGTS (Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço), e outros fundos de natureza institucionais
cujos beneficiários possam ser individualmente identificados.

30
6.2.4Espécies de Tutela
Como dito acima, por meio da ação civil pública busca-se à
responsabilização patrimonial e moral, que pode ser alcançada por meio de uma
tutela repressiva ou por meio de uma tutela preventiva. A primeira é acionada
quando o dano ao bem já se efetivou, ou seja, para fazer cessar ou reparar o
dano. Já a segunda é utilizada para as hipóteses em que os danos aos bens
jurídicos tutelados ainda não se concretizaram, ou seja, busca-se evitar o dano.
A tutela preventiva se efetiva por meio da concessão de tutelas
provisórias, as quais serão detalhadas em outro tópico. Por sua vez, a tutela
repressiva ocorrerá por meio de uma sentença condenatória.

6.2.5Legitimidade Ativa
A legitimidade ativa na ação civil pública é classificada como
extraordinária (substituição processual), haja vista que a lei autoriza que um
terceiro defenda em nome próprio direito pertencente a outrem.
Apesar do art. 129, III, da CF/88, prevê como função institucional do
Ministério Público à propositura de ação civil pública, ele não é o único legitimado
ativamente para tal ato.
O fato é que a Lei nº 7.347/85 indicou em seu art. 5º um rol exaustivos de
entes legitimados para a propositura da ação civil pública, quais sejam: a) o
próprio Ministério Público; b) a Defensoria Pública; c) Entidades da
Administração Direta e Indireta; e d) Associações constituídas a pelo menos 01
(um) ano e que apresente pertinência temática, ou seja, que tenha em suas
finalidades institucionais a defesa de um ou algum(s) do(s) bens tutelados pela
ação civil pública.
Importa salientar que o prazo mínimo de constituição das Associações
exigido na lei poderá ser dispensado, desde que fique evidente o manifesto
interesse social, demonstrado pela dimensão do dano ou pela relevância do bem
jurídico a ser tutelado.
Segundo entendimento sumulado pelo STF, o Ministério Público tem
legitimidade para propor ações civis públicas tanto em defesa de direitos difusos

31
e coletivos, quanto em defesa de direitos individuais homogêneos. Nesse sentido
dispõe a orientação insculpida na súmula 643.
Além disso, o Ministério Público, quando não for parte no processo,
deverá obrigatoriamente atuar como fiscal da lei. Por outro lado, se a Associação
abandonar a causa ou desistir infundadamente será de responsabilidade do
Ministério Público assumir a continuidade da demanda, fato que também pode
ser realizado por qualquer dos outros legitimados ativo.
Por sua vez, calha destacar que o STF, no julgamento da ADI 3943/DF,
reconheceu a legitimidade ativa da Defensoria Pública para o ajuizamento de
ação civil pública que vise a defesa de interesses difusos e coletivos de pessoas
necessitadas.
De acordo com o §3º, do art. 5º, da Lei nº 7.347/85, é dado ao
Poder Público e a outras Associações legitimadas a faculdade de se habilitar
como litisconsorte no processo. Nesse mesmo sentido, é permitido a formação
de litisconsórcio facultativo entre os Ministério Público da União, dos Estados e
do Distrito Federal.

6.2.6 LEGITIMIDADE PASSIVA


Qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, pode figurar no polo passivo
de uma ação civil público, desde que atente contra qualquer dos bens
juridicamente tutelados na ação civil pública.

6.2.7PROCEDIMENTO
De acordo com Marcelo Abelha Rodrigues, na obra organizada por Fredie
Didier Jr. (p.374, 2008):
“A ação civil pública é uma demanda civil utilizada para a
proteção de direitos supraindividuais, e, por isso mesmo,
segue uma disciplina própria que é a que resulta da
combinação da LACP com o Título III do CDC. […] Se houver
lacuna ou conflito neste sistema, a solução deverá ser
buscada no Código de Processo Civil, observando-se uma

32
interpretação dos dispositivos que sejam atinentes à tutela
coletiva (efetividade e instrumentalidade)”.
Dessa forma, conclui-se que o procedimento a ser seguido na ação civil
pública é a junção das normas ditadas na Lei nº 7.347/85 e de normas presentes
no Código de Defesa do Consumidor, devendo fazer mão do Código de Processo
Civil na hipótese de lacunas.

 Competência
A competência para processamento e julgamento da ação civil pública é
do juízo do foro do local onde ocorreu o dano ou onde houver a ameaça de dano,
conforme dispõe o art. 2º, da Lei nº7.437/85. Trata-se de uma competência
absoluta, logo, não cabe flexibilização pelas partes.
Além disso, a propositura é causa de prevenção do juízo para todas as
ações que venham a ser propostas e cuja causa de pedir e objeto sejam o
mesmo.

 Inquérito Civil
O inquérito civil é um procedimento investigativo pré-processual que
possui previsão legal expressa no §1º, do art. 8º, da Lei nº 7.437/85.
Nas palavras de Marcelo Abelha Rodrigues (p.383, 2008), “o inquérito civil
é uma ferramenta, um instrumento (sem fim em si mesmo) não jurisdicional
(administrativo)” […], colocado “à disposição do parquet, voltado à coleta de
elementos para a formação de convicção deste órgão com vistas a eventual
propositura de ação civil pública para defesa de direitos supraindividuais.”
São características do inquérito civil: a) exclusividade; b)
instrumentalidade; c) publicidade; d) solenidade; e) dispensabilidade; f)
participatividade.
A exclusividade advém do fato de que somente o Ministério Público está
legalmente autorizado a instaurar e presidir o inquérito civil. Apesar disso, ele
inicia-se por iniciativa do MP (portaria) ou por provocação de qualquer pessoa
ou órgão (representação).
Por sua vez, a instrumentalidade decorre da ideia de que o inquérito civil
é o instrumento por meio do qual o Ministério Público busca elementos
probatórios capazes de embasar a propositura de futura ação civil pública.

33
Por seu turno, a publicidade pressupõe o respeito ao contido no art.
37, caput, da Constituição Federal, e indica que ele é um procedimento público.
A solenidade por sua vez, diz respeito ao fato de que ele deve seguir
regras procedimentais especificas previstas na legislação.
A característica da dispensabilidade ocorre por que o Inquérito Civil é um
procedimento facultativo para a propositura da ação civil pública, ou seja, não é
elemento obrigatório para o início da ação civil pública. Nesse sentido,
o caput, do art. 8 da Lei nº7.437/85, estipula que qualquer interessado pode
requisitar as autoridades competentes as certidões e informações que entender
necessário para instruir a inicial da ação civil pública, as quais deverão ser
fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias. Tais informações são fornecidas sem
que haja a necessidade de um inquérito civil. Ademais, o próprio Ministério
Público também pode simplesmente requisitar aos órgãos públicos ou privados
certidões, informações, exames ou perícias, sem que para tanto seja preciso
iniciar um inquérito civil.
Neste último caso, o prazo para o envio das informações e documentos
solicitados não será inferior a 10 (dez) dias úteis, e somente será aceita a
negativa de seu fornecimento quando a lei impuser sigilo ao
documento/informação requerido. Ocorrendo tal situação, a ação poderá ser
proposta desacompanhada deles, cabendo ao juiz presidente da futura ação
requisitar os documentos e informações outrora negados. Não sendo caso de
sigilo, a entrega dos documentos solicitados pelo MP é obrigatório, e a sua
negativa constitui crime, conforme dicção do art. 10, da Lei nº 7.437/85.
Por último, a participatividade “está ligada a ideia de que a livre convicção
do MP deve ser feita por meio de elementos que atestem uma situação o mais
próximo da verdade” (RODRIGUES, p.385, 2008). Elementos estes que podem
ser fornecidos pelos próprios indivíduos integrantes da sociedade, e não apenas
coletados por meio da atividade investigativa do Ministério Público.
O objetivo do inquérito civil é colher elementos probatórios que justifiquem
à propositura da ação civil pública. Uma vez esgotadas as diligências, e
constatado a prática dos danos aos bens tutelados em sede de ação civil, caberá
ao Ministério Público ou a qualquer dos outros legitimados, fazendo uso das
provas colhidas, dar início a citada ação.

34
Entretanto, caso o Ministério Público ao final do inquérito civil conclua pela
inexistência de fundamentos para o ajuizamento da ação civil pública, deverá
promover, fundamentadamente, o arquivamento dos autos do inquérito ou das
peças informativas colhidas.
Nesta situação, a lei determina que o membro do Ministério Público, sob
pena de falta grave, encaminhe os autos do inquérito ou das peças informativas
arquivada, no prazo de 03 (três) dias, para o Conselho Superior do Ministério
Público. O Conselho fica incumbido do dever de, por meio de uma sessão de,
determinar a rejeição ou a homologação da promoção de arquivamento.

Caso o Conselho do Ministério Público entenda pela rejeição do


arquivamento, designará imediatamente um novo membro do Ministério Público
para proceder com o ajuizamento da ação civil pública.

 Cautelares e Medida Liminar


A Lei nº 7.437/85, prevê no art. 4º a possibilidade de ajuizamento de ação
cautelar e no art. 12 prevê o mandado liminar, ambas são formas tutelas
preventivas na busca de evitar o dano aos bens jurídicos tutelados.
Ocorre que a Lei nº 7.437/85 não possui em seu texto toda a disciplina
normativa necessária para aplicação de tais ferramentas, não restando ao órgão
julgador outra alternativa senão socorre-se das disposições do Código de
Processo Civil, aplicando-o subsidiariamente, fato que é expressamente
autorizado na própria norma, conforme se vê no art. 19.
O problema é que o Código de Processo Civil de 1973, foi inteiramente
revogado, tendo sido substituído por um novo Código (Lei nº 13.105/15), o qual
passou por profundas reformulações em seu texto.
Diante de todas as modificações inseridas no Novo CPC, as figuras da
ação cautelar e da medida liminar, como outrora conhecidas, foram substituídas
por novos institutos. Ocorre que o novo Código unifico-as em um mesmo regime,
agora denominadas de Tutela Provisória.
A Tutela Provisória, é o género do qual são espécies as figuras da tutela
de urgência e da tutela de evidência. Por sua vez, a tutela de urgência pode ser
cautelar ou antecipada, e concedida em caráter de antecedente ou incidental
(art. 294, CPC).

35
Considerando o teor das normas contidas nos art. 4º e art.12 da lei de
ação civil pública, concluímos que com o advento do novo CPC houve uma
revogação tácita do seu conteúdo. Isso porque onde na lei consta como ação
cautelar, deve ser substituído pelo instituto da tutela de urgência cautelar, ao
passo que onde têm a figura da medida liminar, deve ser trocada pela da tutela
de urgência antecipada.
Tal modificação resta necessária para assegurar a aplicabilidade do
disposto no art. 4º e 12, da lei de ação civil pública. Caso não haja essa
adequação, o órgão julgador ficará de mãos atadas quando se deparar com
pedidos fundamentados nos citados artigos, vez que não terá uma norma
processual capaz de indicar o caminho a ser seguido.

Diante da importância que possuem os bens juridicamente tuteladas pela


norma lei de ação civil pública, é imperioso que haja essa adequação, para que
os mesmo não fiquem desprotegidos contra as ações perpetrada pelos
infratores.

 Sentença e Coisa Julgada


Na ação civil pública a sentença é preponderantemente condenatória,
conforme se vislumbra do art. 3º da Lei nº 7.347/85, e visa a reparação
patrimonial e moral. Os responsáveis pelos danos aos bens tutelados podem ser
condenados para pagar uma quantia em dinheiro ou ao cumprimento de uma
obrigação de fazer ou não fazer.
Sendo procedente o pedido, a sentença poderá determinar a condenação
em dinheiro, dinheiro este que terá seu valor revertido em prol de um Fundo
destinado a reconstrução dos bens lesados (art. 13). Além disso, pode haver
uma condenação para cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer, ou
seja, para dar prestação devida ou cessar a atividade nociva.
Cumpre destacar, que o Fundo para o qual o dinheiro da condenação
deve ser revertido será administrado por um Conselho Federal ou por Conselhos
Estaduais, dos quais participarão o Ministério Público e representantes da
comunidade. Enquanto não for regulamentado o Fundo, o dinheiro ficará
depositado em estabelecimento oficial de crédito, em uma conta que tenha
correção monetária.

36
Na hipótese de a sentença ser improcedente, por insuficiência de provas,
qualquer dos legitimados ativo podem entrar com uma nova ação fundada nos
mesmos fatos, e desde que tenham novas provas.
A sentença faz coisa julgada material com eficácia erga omnes nos limites
da competência territorial do órgão prolator, salvo no caso de sentença de
improcedência por insuficiência de provas, a qual faz coisa julgada formal, já que
pode ser objeto de uma nova ação.

 Recurso
A lei da ação civil pública não possui normas que determinem o
processamento dos recursos interposto contra as decisões proferidas no
processo. A norma apenas define que o juiz pode atribuir efeito suspensivo aos
recursos para que seja evitado dano irreparável à parte. Tal fato nos leva a
conclui, que a regra é que os recursos tenham apenas efeito devolutivo, sendo
a concessão de efeito suspensivo uma exceção.
Ademais, a citada norma também não especifica os recursos cabíveis,
exceto para o caso de decisão que concede liminar, a qual está sujeito a agravo
de instrumento. Diante desse fato, deve ser aplicada as regras inerentes a
recurso contida no Código de Processo Civil, por força do disposto no art. 19, da
Lei nº 7.347/85.

 Execução
Ocorrendo o trânsito em julgado da sentença, a parte autora deve
proceder com a execução. Quando a parte autora for associação, ela terá o
prazo de 60 (sessenta) dias para promover a execução, caso não o faça dentro
desse prazo, caberá ao Ministério Público ou a qualquer dos demais legitimados
ativos proceder com a execução, conforme art. 15, da Lei nº 7.347/85
Quando a sentença condenatória fixar obrigação de fazer ou não fazer, e
não houver o cumprimento voluntário por parte do demandado, dará ensejo a
execução específica, bem como o juiz poderá cominar multa diária independente
de requerida pela parte autora, nos termos do art. 11, da Lei nº 7.347/85.

37
 Despesas Processuais
“Despesas processuais constituem o gênero do qual as custas, os
emolumentos, as diárias de testemunhas, os honorários de perito são espécies”
(RODRIGUES, p.399, 2008).
No caso da Lei nº 7.347/85, o art. 18 determina que não haverá
pagamento adiantado de custas, emolumentos, honorários periciais, honorários
advocatícios ou qualquer outras despesas processuais. Por sua vez, a
interpretação do texto normativo nos leva a concluir que quando a parte ré for
vencida está poderá ser condenada nas despesas processuais, já no caso da
parte autora vencida, só haverá condenação para o caso da associação, e desde
que haja comprovação de sua má-fé não ajuizamento da demanda.

 Litigância de má-fé
O art. 18, da Lei nº 7.347/85, cuida do caso de litigância de má-fé.
Segundo a norma, a sanção por litigância de má-fé aplicar-se-á solidariamente
as associações e aos diretores responsáveis pela propositura da demanda, logo,
pela leitura da norma, os demais legitimados ativos não poderiam ser
condenados pela prática dessa conduta.
A penalidade prevista para esses casos será a condenação em honorários
advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por
perdas e danos.

6.2.8Termo de Compromisso de
Ajustamento de Conduta
O Termo de compromisso de ajustamento de conduta está previsto no
§6º, do art. 5º, da Lei nº 7.347/85. Trata-se de um título executivo extrajudicial,
por meio do qual os órgãos públicos legitimados tomam do causador do dano
um compromisso para que adequem sua conduta às exigências legais.
Por meio dele o legitimado passivo assume obrigações de fazer ou não
fazer a fim de recuperar ou evitar futuros danos aos bens tutelados pela ação
civil pública. Não requer a homologação judicial por se tratar de título executivo
extrajudicial. Além disso, caso haja o descumprimento da acordado o órgão

38
público poderá acionar a penalidade prevista no termo, bem como dar início a
ação civil pública.

6.2.9Servidores Públicos
Qualquer pessoa poderá provocar o Ministério Público acerca dos fatos
que autorizam a propositura da ação civil pública, devendo indicar elementos
que sejam capazes de formar a convicção do parquet, tratando-se de uma
faculdade concedida pela norma.
Entretanto, quando a pessoa é Servidor(a) Público, ela está obrigada pela norma à noticiar
ao Ministério Público à prática dos atos objetos da ação civil pública. No caso de
Magistrados e membros de Tribunais, no exercício de suas funções, quando tomarem
conhecimento de ações ensejadoras de ação civil pública, é seu dever remeter ao
Ministério Público as peças informativas, conforme prescrevem os art. 6º e 7º da Lei nº
7.347/85

6.3 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

6.3.1Conceito
Nos termos do art. 5°, LXX, da Constituição de 1988, o mandado de
segurança coletivo é remédio constitucional que poderá ser impetrado
por partido político com representação no Congresso Nacional, ou
por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelos menos 1 (um) ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados.
O mandando de segurança coletivo foi criado com o objeto de fortalecer
as organizações clássicas, bem como pacificar as relações sociais por meio de
soluções homogêneas do judiciário para situações controvertidas, evitando-se
assim o surgimento de milhares de litígios e o risco de desestabilização da ordem
social.

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6.3.2Objetivo
O objetivo do mandado de segurança coletivo é a proteção de direito
líquido e certo, não amparado por habeas corpus e habeas data, contra atos ou
omissões ilegais e abuso de poder de autoridade, com o intuito de preservar ou
reparar interesses transindividuais.

6.3.3 Legitimidade ativa


Tem legitimidade para impetrar a ação coletiva o partido político com
representação no Congresso Nacional. Para configurar essa representação,
basta apenas 1 (um) parlamentar do partido eleito para a Câmara dos Deputados
ou Senado Federal.
Conforme art. 21, caput, da Lei n° 12.016/2009, a ação pode ser
impetrada pelo partido político na defesa de seus interesses legítimos relativos
a seus integrantes ou à finalidade partidária.
A doutrina majoritária entende que o partido não está restrito a
defesa exclusiva de direitos políticos de seus filiados, mas de qualquer direito
inerente à sociedade, em razão mesmo da natureza do direito de representação.
Porém, não é esta a posição jurisprudencial do Superior Tribunal de
Justiça, cujo orientação é restritiva em relação ao que determinada a
Constituição, prejudicando o interesse maior de defesa da sociedade. De fato,
conforme afirma a doutrina, o constituinte não previu qualquer limitação ao
mandado de segurança coletivo impetrado por partido político além da
representação no Congresso Nacional.
Além dos partidos políticos, são também legitimados para a impetração
de mandado de segurança coletivo organização sindical, entidade de classe e
a associação, desde que atendam aos requisitos constitucionais. Sãoeles
estar legalmente constituída, atuar em defesa de interesses de membro ou
associados e ainda, para o caso exclusivo das associações, estar funcionando
há pelo menos 1 (um) ano.
É desnecessária autorização de membro ou associado para a
impetração da ação. No entanto, deve haver previsão específica no estatuto
quanto à legitimação. Por outro lado, é necessária a pertinência temática entre

40
o objeto do mandado de segurança coletivo e os objetivos institucionais do
sindicato, entidade de classe ou associação.
Por fim, conforme jurisprudência, e com base no art. 8° da Constituição, é
ampla a legitimidade ativa ad causam dos sindicados, como substitutos
processuais das categorias que representam, na defesa de direitos e interesses
coletivos ou individuais de seus integrantes.

6.4 Ação de Improbidade Administrativa

A ação de Improbidade Administrativa protege um bem difuso, qual seja:


a moralidade administrativa. Como princípio da Administração Pública, a
moralidade está prevista no caput do art. 37 da Constituição Federal de 1988
(CF/1988), sendo um conceito jurídico indeterminado que demanda
interpretação valorativa. No caso específico da Lei de Improbidade
Administrativa (LIA), o princípio está diretamente ligado aos atos de improbidade,
mas estes não se encerram naquele, uma vez que é possível que o ato de
improbidade administrativa decorra da violação de outros princípios da
Administração Pública.
Trata-se, portanto, segundo a doutrina majoritária, de uma Ação Civil
Pública, com especificidades próprias díspares do microssistema coletivo quanto
à legitimidade, ao objeto, à coisa julgada e ao procedimento.

6.4.1Procedimento
A Lei 8.429/1992, além de conteúdo material, também traz previsões
processuais, ou seja, o procedimento para apuração dos atos de improbidade.
O art. 14 prevê um procedimento administrativo perante a autoridade
administrativa, devendo esta cientificar o Ministério Público e o Tribunal de
Contas sobre a existência dessa investigação. A abertura dar-se-á por
representação de qualquer pessoa que poderá ou não ensejar um procedimento
judicial.
A ação de improbidade administrativa dispensa o procedimento
administrativo prévio, sendo proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa
jurídica interessada, assumindo o rito ordinário.

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Foram previstas medidas de natureza cautelar: indisponibilidade de
bens, sequestro e afastamento cautelar do agente público. A indisponibilidade
de bens é medida para os casos de lesão ao patrimônio público ou
enriquecimento ilícito quando houver fundados indícios de responsabilidade,
sendo a ação principal proposta em 30 dias. Quanto ao sequestro, uma
peculiaridade com relação à normatização comum: na LIA não é necessário que
seja sob um bem determinado na forma do CPC.
O art. 17 prevê o rito ordinário, mas na verdade assume um rito especial
diverso daquele previsto no Código de Processo Civil (CPC). O § 7.º deste artigo
estabelece a notificação do requerido para manifestação em 15 dias, com o
posterior juízo de admissibilidade do magistrado. É um caso de defesa preliminar
no processo civil, similar ao procedimento para apuração de crimes dos
funcionários públicos previsto no Código de Processo Penal. Outra
particularidade é a previsão do agravo de instrumento previsto do “cite-se”.
Somente após essa fase inicial é que o processamento assumirá o rito
ordinário.
Outra característica peculiar do procedimento previsto na LIA é a
possibilidade de revisão, a qualquer momento, da inadequação da ação, com
extinção sem julgamento do mérito (art. 17, § 11, LIA).
Diferentemente da tutela dos demais direitos difusos, a moralidade
administrativa não comporta transações, por vedação expressa na LIA. Portanto,
não há uma fase própria para a conciliação na forma prevista no CPC.
Por derradeiro, a sentença de procedência condenará o agente improbo
e, no que couber, o particular às sanções previstas no art. 12, da LIA, sem
prejuízo de outras sanções penais, civis e administrativas.
Ressalta-se que a sentença, tendo em vista o conteúdo sancionatório,
não segue o mesmo regime do sistema coletivo, salvo quanto ao ressarcimento
pois, neste caso, se torna uma ação civil pública idêntica às demais, aplicando a
normatização da Lei 7.347/1985.

42
6.5 Ações de Controle de Constitucionalidade

6.5.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade

A ADI tem como principal objetivo retirar do ordenamento jurídico a lei


ou o ato normativo estadual ou federal incompatível com a Constituição, tendo
como legitimados a sua propositura as pessoas elencadas no artigo 103 e
incisos da Constituição, como por exemplo o Presidente da República, o
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, as Mesas do Senado
Federal e da Câmara dos Deputados, dentre outros.
Art. 103. Podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara
Legislativa do Distrito Federal; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - o Governador de Estado ou do Distrito
Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso
Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito
nacional.
Com relação a competência para julgamento, esta fica a cargo do STF,
segundo o artigo 102, I, a da Constituição Federal, sendo necessário um

43
quórum de 2/3 dos membros para a instalação e a aprovação da maioria
absoluta dos membros do STF para a declaração da inconstitucionalidade.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
3, de 1993)
Por último cumpre mencionar quais os efeitos de uma possível
declaração de inconstitucionalidade, que tornando a lei inaplicável, tem
efeitos erga omnes, vinculante e em regra extunc.

6.5.2 Ação Direta de Constitucionalidade


A Ação Declaratória de Constitucionalidade, introduzida no ordenamento
jurídico através da Emenda Constitucional número três de 1993, tem por
objetivo declarar a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo federal,
sendo considerados legitimados ativos as mesmas pessoas que podem propor
a ADI, ou seja, todos aqueles previstos no artigo 103 da CF/88.
Aqui, a competência para julgamento e os quóruns de instalação e
aprovação são os mesmos da ADI, assim como os efeitos da decisão.

44
7. CONCLUSÃO
Diante de todo o exposto é possível concluir que processo coletivo é um
instrumento adequado para a efetividade do acesso à justiça. Isso porque
privilegia a economia processual e a igualdade.
De fato, o acesso à justiça de modo coletivo, além de evitar a contradição
nas decisões proferidas, permite maior aproveitamento dos atos processuais
praticados. Além do mais, permite a prestação da tutela jurisdicional adequada.
Através do processo coletivo, o Poder Judiciário analisará lesões ou
ameaças de lesões a direitos que não possuem titular determinado e, ainda,
poderá analisar pretensões que, de outra forma, dificilmente chegariam ao Poder
Judiciário. Dessa forma os princípios do acesso à tutela jurisdicional, da
efetividade, da celeridade e da economia processual ficam garantidos pelo
processo coletivo.
Como demonstrado, o acesso à justiça de forma coletiva garante a
efetividade da garantia constitucional da inafastabilidade do Poder Judiciário.
Mais do que a previsão de direitos e garantias, é necessário a efetividade desses
direitos e garantias, e, em se tratando do acesso à justiça, conforme abordado
neste artigo, não se pode esquecer que o processo coletivo é um instrumento
que facilita o acesso ao Poder Judiciário e possibilita a prestação da tutela
jurisdicional adequada.

45
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