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RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

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Sumário

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3

1- INTRODUÇÃO ............................................................................ 4
1.1- METODOLOGIA ...................................................................... 5
2- SISTEMA DE FALÊNCIA E DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
6
3- INSOLVÊNCIA CIVIL X INSOLVÊNCIA EMPRESARIAL .......... 10
3.1- PRESUNÇÃO DE INSOLVÊNCIA. FAZENDA PÚBLICA....... 13
4- FALÊNCIA ................................................................................. 15
4.1- FALÊNCIA — O PEDIDO....................................................... 15
4.2- LEGITIMIDADE PASSIVA...................................................... 16
4.3- EIRELI — EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA: 17
4.4- FALÊNCIA. LEGITIMIDADE. MORATÓRIA ........................... 18
5. PROTESTO INTIMAÇÃO PESSOAL ........................................ 24
6. FALÊNCIA- PROTESTO ESPECIAL ......................................... 26
7. FALÊNCIA: PEDIDO DE FALÊNCIA, ATOS DE FALÊNCIA E
AUTOFALÊNCIA .......................................................................................... 29
7.1- AUTOFALÊNCIA: ................................................................... 31
8. FALÊNCIA: DEFESA EM FACE DO PEDIDO POR
IMPONTUALIDADE E PELA PRÁTICA DE ATOS DE FALÊNCIA. DEPÓSITO
ELISIVO 35
9. APLICAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ................ 40
10. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RECUPERAÇÃO
JUDICIAL E A FALÊNCIA ............................................................................. 43
11. CRÉDITOS TRABALHISTAS .................................................... 48
12. ASPECTOS COMPARATIVOS ENTRE O DECRETO-LEI
Nº 7.661/1945 E A LEI Nº 11.101/2005 ........................................................ 52
13. PRINCÍPIO DA MANUTENÇÃO DA EMPRESA ....................... 54
14. A PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ......................................... 58

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15. EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E DA FALÊNCIA
SOBRE O PROCESSAMENTO DOS FEITOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO
61
16. RECUPERAÇÃO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL ...................... 62
17. EMPRESAS RECUPERADAS POR TRABALHADORES – ERTs
64
18. PLANO DE RECUPERAÇÃO .................................................... 69
19. CONCLUSÃO ............................................................................ 72
20. REFERENCIAS ......................................................................... 74

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1- INTRODUÇÃO

Considerando a proteção ao trabalhador na relação empregatícia, bem


como o atual cenário econômico nacional, nos deparamos com a rara
abordagem dos seus direitos perante a recuperação judicial e à falência, além
da morosidade do andamento processual. Porém, a aplicação dos direitos do
trabalhador ao processo de recuperação judicial e à falência deveria ser não
somente mais favorável, como também mais célere o que, infelizmente, não tem
sido observado nos Tribunais Pátrios.

Vejamos que, toda e qualquer crise financeira é desencadeada pela


gestão inadequada, somando-se ao uso inadequado de recursos financeiros
públicos, e atinge, portanto, a toda uma população e isto se reflete na saúde
financeira das empresas e, consequentemente, na vida dos trabalhadores, que
necessitam de um emprego para poder sobreviver e, na maioria, sustentar um
núcleo familiar.

Em suma, a crise financeira, certamente, pode ser o estopim para abalar


a estrutura de diversas empresas, que acabam por requerer sua recuperação
judicial, inclusive, pode ter a falência decretada, quando esgotados todos os
meios de tentar se reerguer e portanto, acaba por prejudicar gravemente as
condições de vida dos trabalhadores, que são, acima de tudo, a parte mais
fragilizada e desfavorecida e portanto, necessitam ainda mais de soluções para
receber os seus créditos trabalhistas.

Vejamos que, não obstante o desemprego, também é de suma


importância destacar a dificuldade financeira da empresa ao arcar com as
despesas oriundas dos créditos trabalhistas e assim, não resta outra hipótese
senão a recuperação judicial, com previsão na Lei nº 11.101 de 2005, de forma
mais célere e justa, para que, enfim, possa ser vantajoso a ambas as partes,
principalmente ao obreiro que é a parte mais fragilizada economicamente.

Diante desta situação, o presente trabalho tem como escopo analisar não
somente a prioridade dos créditos trabalhistas, como também a efetividade do
processo de recuperação judicial, diante da necessidade de manutenção de
empregos e preservação dos créditos de natureza alimentar. Como também, é

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de suma relevância a análise legislativa e bibliográfica, de modo a explorar
garantias aos obreiros, que foram introduzidas no nosso ordenamento jurídico
através da Lei nº 11.101 de 2015, além de preservar a empresa privada para
que, possa garantir manutenção do emprego e da renda dos trabalhadores ora
desamparados.

Igualmente, conforme será analisado adiante, é de suma importância


salientar princípios constitucionais aplicáveis não somente ao Direito e Processo
do Trabalho, como também ao Direito Empresarial, nomeadamente o Princípio
do Devido Processo Legal, da Isonomia, da Legalidade, e da Razoável Duração
do Processo, que deverão ser considerados para garantir efetividade ao
processo de recuperação judicial e, no caso de decretação de falência, para que
a habilitação de créditos seja dada de forma mais célere e justa.

1.1- METODOLOGIA

Para a construção deste material, foi utilizada a metodologia utilizada de


pesquisa bibliográfica e descritiva, com o intuito de proporcionar um
levantamento de maior conteúdo teórico a respeito dos assuntos abordados.

Segundo Gil, a pesquisa bibliográfica consiste em um levantamento de informações e


conhecimentos acerca de um tema a partir de diferentes materiais bibliográficos já publicados,
colocando em diálogo diferentes autores e dados.

Entende-se por pesquisa bibliográfica, a revisão da literatura sobre as


principais teorias que norteiam o trabalho científico. Essa revisão é o que
chamamos de levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica, a qual pode
ser realizada em livros, periódicos, artigo de jornais, sites da Internet entre outras
fontes. Outro método utilizado foi à metodologia de ensino Waldorf, esta
metodologia é uma abordagem desenvolvida pelo filósofo Rudolf Steiner.

Ele acreditava que a educação deve permitir o desenvolvimento


harmônico do aluno, estimulando nele a clareza do raciocínio, equilíbrio
emocional e a pro atividade. O ensino deve contemplar aspectos físicos,
emocionais e intelectuais do estudante.

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A pesquisa é descritiva, de campo e histórica, apoiada em técnicas de
análise documental sobre a legislação e os planos de ensino obtidos,
bibliográfica (MALHOTRA, 2006; COOPER; SCHINDLER, 2003; VERGARA,
2003; LUNA, 2002), e de análise de conteúdo (BARDIN, 2004). O planejamento
e a revisão da literatura ocorreram durante o segundo semestre de 2007; a coleta
dos dados, a análise e a apresentação dos resultados ocorreu durante 2008.

Ainda para a construção deste, foi utilizado a etno metodologia, pela


fenomenologia e pelo legado de Wittgenstein, além de alguns elementos
marxistas e outros pensamentos mais contemporâneos, como os desenvolvidos
por Pierre Bourdieu e Anthony Giddens.

Segundo Nicolini, Gherardi e Yanow (2003) a noção de prática, na sua


essência filosófica, está baseada em quatro grandes áreas do saber - na tradição
marxista, na fenomenologia, no interacionismo simbólico e no legado de
Wittgenstein -, das quais podem ser citados fenômenos como: conhecimento,
significado, atividade humana, poder, linguagem, organizações, transformações
históricas e tecnológicas, que assumem lugar e são componentes do campo das
práticas para aqueles que delas compartilham. Com tudo, o intuito deste modelo
é possibilitar os estudos e contribuir para a aprendizagem de forma eficaz, clara
e objetiva.

2- SISTEMA DE FALÊNCIA E DE RECUPERAÇÃO DE


EMPRESAS

A decretação da falência tem por objetivo viabilizar de forma célere e


eficiente o processo, em que todos os bens do falido, através de ação coletiva,
são arrecadados para uma venda judicial forçada, impedindo a depreciação dos
ativos tangíveis e intangíveis. A eficiência deste processo está vinculada à rápida
alienação dos bens para pagamento proporcional aos credores, obedecendo a
sua ordem preferencial. Numa fase mais primitiva da evolução da humanidade,
o devedor insolvente respondia com seu próprio corpo pelo pagamento de suas
dívidas.

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Em Roma, era comum o devedor insolvente responder por suas dívidas
dispondo de sua honra, liberdade, corpo e vida. No entanto, a condenação do
devedor, mesmo que lhe custasse a vida, não dava aos credores nenhum direito
sobre os seus bens. Com a evolução legislativa de diversos países, o processo
de satisfação de dívidas deixou de ser pessoal e passou a ser patrimonial,
deixando de existir a possibilidade de sacrificar a vida do devedor, vendê-lo como
escravo ou encarcerá-lo, surgindo o conceito de garantia das obrigações
baseada no patrimônio do devedor.

A formação das grandes companhias mercantis trouxe consigo uma


situação em que se algumas destas não conseguissem honrar seus
compromissos, a insegurança no mercado local era imediatamente propagada,
tornando-se então comum à prática de quebra da banca do devedor, surgindo
daí a expressão bancarrota usual na doutrina jurídica de vários países, entre eles
os Estados Unidos (Bankrupcty), França (Banqueroute) e Itália (Bancarotta).

No Brasil, o Código Comercial, além de várias leis esparsas, como a Lei


1.083/1860, sobre falência dos bancos de circulação, o Decreto 917/1890, a Lei
2.024/1908, seguida do Decreto n. 5.746/1929, que vigorou até 1945, quando foi
promulgado o Decreto-Lei 7.661/1945 e a Lei de Falência e Concordata (LFC),
representaram a evolução legislativa nesta temática jurídica onde o Estado
objetivou tutelar o empresário, permitindo a este, quando em dificuldades,
ingressar com pedido de concordata para com a moratória tentar negociar suas
dívidas.

No entanto, esses instrumentos não eram flexíveis o suficiente a ponto de


permitir que uma empresa superasse suas dificuldades e voltasse a operar
normalmente. Na prática, as normas sobre Falência e Recuperação de
Empresas no Brasil funcionavam apenas para que a empresa se preparasse
para a falência. A concordata apenas alcançava os credores quirografários,
deixando todos os demais livres para a perseguição de seus créditos, impedindo,
desta forma, qualquer possibilidade de recuperação da empresa em
dificuldades.

Na última década, estudos foram desenvolvidos comparando o direito


falimentar dos países desenvolvidos, sobretudo França, Inglaterra e Estados

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Unidos, que visam à preservação e o soerguimento das sociedades devedoras.
Nesses países não se emprega mais o termo falência, mas sim liquidação da
sociedade, visando a manutenção, quando possível, da empresa (atividade
econômica organizada) e para a recuperação das sociedades empresárias
viáveis, são previstos mecanismos de prevenção das dificuldades financeiras.

Caso seja constatada a inviabilidade da empresa, promover-se-á então


sua imediata liquidação através de um processo ágil e desburocratizado, afi m
de que não lese, ainda mais, os interesses dos credores e acarrete danosas
consequências na economia.

O projeto de Lei 4.376/1993 apresentado pelo Poder Executivo ao


Congresso Nacional em 1993, para regular a falência e a recuperação judicial
das empresas, após mais de dez anos de discussões, emendas e vetos foi
aprovado e sancionado em fevereiro de 2005, dando origem a Lei de Falência
11.101/2005, chamada de Lei de Recuperação de Empresas e Falência. O
desafio desta lei foi e ainda é de criar instrumentos eficientes que permitam as
empresas promoverem seu restabelecimento financeiro e econômico,
objetivando diminuir o impacto social que o desemprego traz, evitando, via de
consequência, a desestruturação da economia nacional.

CARVALHO DE MENDONÇA conceitua o instituto jurídico “falência”,


evidenciando a gênese ‘do verbo falir’, onde encontra na palavra latina falece a
origem mais remota, porque exprimiria a mesma coisa que faltar com o
prometido, com a palavra, enganar; daí falimento, falência, seus derivados
significando falha, falta, omissão (NEGRÃO, 2004, p. 5).

Em suma, falência, à luz da Lei 11.101/05, é a forma judicial de solucionar


a situação jurídica do empresário ou sociedade empresária e financeira dos
credores, diante das hipóteses em que o devedor, na forma do art. 94, sem
relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o
equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência ou
que pratica qualquer dos seguintes atos (de falência):

(i) Procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de


meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

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(ii) Realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo
de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado
ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro,
credor ou não;
(iii) Transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o
consentimento de todos os credores e sem ficar com bens sufi
cientes para solver seu passivo;
(iv) Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o
objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para
prejudicar credor;
(v) Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída
anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados
suficientes para saldar seu passivo; e
(vi) Ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos
suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento
ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de
seu principal estabelecimento. Estas hipóteses não são
consideradas atos de falência se o devedor tiver inserido em um
plano de recuperação judicial.

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3- INSOLVÊNCIA CIVIL X INSOLVÊNCIA EMPRESARIAL

Nesta seara é importante que se entenda a diferença entre a insolvência


civil prevista nos artigos 748 a 786-A do CPC e insolvência empresarial prevista
nas hipóteses do art. 94 e 105 da Lei 11.101/05. A insolvência civil é
caracterizada pela desproporção negativa patrimonial, ou seja, ocorre a
insolência civil do devedor quando este, não empresário, ostenta um passivo
superior ao seu ativo. A insolvência empresarial não tem correlação com o ativo
e o passivo do devedor empresário, mas sim com a presunção de insolvência.

Na forma da Lei 11.101/05, a insolvência empresarial poderá ser


presumida nos casos de impontualidade na satisfação de suas dívidas (art. 94,
I) ou ser confessada — autofalência (art. 105) e pela prática de atos de falência
(art. 94, II e III). Importante notar que o inadimplemento no cumprimento de uma
obrigação no prazo determinado se diferencia da insolvência civil porque a
primeira pode decorrer de um erro, negligencia ou por dificuldades em dispor do
patrimônio para o devido cumprimento da obrigação, constituindo, assim, um fato
jurídico próprio da pessoa. Já a insolvência empresarial é um fato econômico
próprio do patrimônio.

Diante do que se o inadimplemento é um ato, a insolvência é um estado:


o inadimplente pode ter e não dar; o insolvente não dá porque não tem. Na lição
do professor KONDER COMPARATO, o inadimplemento seria o simples
descumprimento de uma obrigação, no seu vencimento, sem que se indague
sobre as razões disso; a insolvência seria o inadimplemento qualificado pela falta
de razão em direito; e a insolvabilidade seria a inaptidão econômica para
adimplir.

A diferença identificada entre o inadimplemento — ato — e a insolvência


— estado — é considerada relevante porque justifica a distinção feita na forma
execução do crédito. Esta diferenciação é relevante, ainda, porque justifica a
distinção feita na forma de tutela do crédito: o inadimplemento é tutelado pelas
execuções individuais, enquanto que a insolvência é tutelada pela execução
coletiva. No Direito brasileiro, a falência não pressupõe nem a insolvabilidade
nem a simples inadimplência, mas tão somente a impontualidade ou a prática de

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atos de falência — atos e situações fáticas previstas na própria Lei (art. 94, II e
III da Lei 11.101/05), caracterizando a denominada presunção de insolvência.

A impontualidade, conforme definição do revogado art. 1º do Decreto Lei


nº 7.661/45, ocorre quando o devedor comerciante, não paga, no vencimento,
obrigação líquida constante de título que legitime a ação executiva. Os atos de
falência caracterizam-se por situações enumeradas pela lei que fazem presumir
a existência de dificuldades financeiras na vida do empresário, nos termos do
art. 2º da Lei Falitária. Os mesmos conceitos foram repetidos nos incisos I, II e
III do art. 94 da Lei 11.101/05.

No Brasil podemos notar o número de falências requeridas e decretadas


principalmente após a promulgação da nova Lei 4, conforme pesquisa do
SERASA:

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 Inovações da Lei 11.101/05:

A nova Lei inova no aspecto de introduzir o instituto da recuperação de


empresas em substituição à concordata, com as seguintes principais mudanças:

 Restringe os créditos sem garantias — quirografários.


 Cria o instituto da recuperação judicial.
 Cria o instituto da recuperação extrajudicial.
 Altera a ordem dos credores, a saber:
i. Créditos trabalhistas, até 150 salários-mínimos (por credor);
ii. Créditos tributários, exceto as multas tributárias;
iii. Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
iv. Créditos com privilégio especial:

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 Os previstos no art. 964 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
 Os assim definidos em outras Leis Civil e Comercial; e
 Aqueles a cujos titulares a Lei confira o direito de retenção a coisa
dada em garantia.
v. Créditos com privilégio geral (Debêntures):
 Os previstos no artigo 965 da Lei n. 10.406/02
 Os previstos no parágrafo único do art. 67 da Lei 11.101/05;
 Os assim definidos em outras Leis Civil e Comercial:
vi. Créditos quirografários; e
vii. vii. Créditos subordinados.

3.1- PRESUNÇÃO DE INSOLVÊNCIA. FAZENDA


PÚBLICA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO AUTOS DE EXECUÇÃO


FISCAL. A falência da sociedade empresarial não é, por si só, método que se
agrupa nas hipóteses elencadas no rol do art. 135, III, do CTN. E se assim não
o fosse, haveria insuperável violação a própria definição do que seja infração à
lei, tratando desigualmente dois fenômenos iguais: inadimplência.

Porque a falência, por si só, não induz presunção de infração à lei, sendo
certo que na grande maioria dos casos decorre do mero inadimplemento que
gera o decreto falimentar. Duplo ferimento à isonomia, na medida em que,
tomando como base a premissa doutrinária majoritária de que a fazenda não
teria interesse em pedir a falência do particular, tratar-se-ia de adjetivar o
mesmo fenômeno consoante a natureza do sujeito ativo.

Se inadimplemento há para com a fazenda, daí não se conclui pela


presença dos atos previstos no art. 135, II, do CTN. Se há impontualidade no
pagamento em relação aos credores a quem se atribui legitimidade ativa para
pedir falência, que não significa que o caso subsume-se ao inciso III pré-falado.

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À míngua de falta de lógica, a jurisprudência caminha bem. Anotem-se os
seguintes arestos:

TRIBUTÁRIO – REDUÇÃO DE MULTA FISCAL – APLICAÇÃO DO ART. 106, II, DO


CTN – PROCESSO AINDA NÃO DEFINITIVAMENTE JULGADO NA ESFERA JUDICIAL –
EXECUÇÃO FISCAL – SÓCIO- -GERENTE – RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA – FALÊNCIA
– EXIGÜIDADE DE BENS – REDIRECIONAMENTO.(...).

Nesta Corte o entendimento é de que o simples inadimplemento da


obrigação tributária não enseja a responsabilidade solidária do sócio-gerente,
nos termos do art. 135, III, do CTN. A falência não configura modo irregular de
dissolução da sociedade, pois além de estar prevista legalmente, consiste numa
faculdade estabelecida em favor do comerciante impossibilitado de honrar os
compromissos assumidos.

Em qualquer espécie de sociedade comercial, é o patrimônio social que


responde sempre e integralmente pelas dívidas sociais. Com a quebra, a massa
falida responde pelas obrigações a cargo da pessoa jurídica até o encerramento
da falência, só estando autorizado o redirecionamento da execução fiscal caso
fique demonstrada a prática pelo sócio de ato ou fato eivado de excesso de
poderes ou de infração de lei, contrato social ou estatutos. Recursos especiais
parcialmente conhecidos e, no mérito, improvidos. (STJ RESP 601851/RS Órgão
Julgador: SEGUNDA TURMA Rel. Min. Eliana Calmon, publicado no DJ
DATA:15/08/2005 p; 249).

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4- FALÊNCIA
4.1- FALÊNCIA — O PEDIDO
O pedido de falência, fundado no art. 94, inciso I, exigirá que o autor
demonstre a impontualidade do devedor, juntando à petição inicial a certidão de
protesto, referente a crédito próprio ou de terceiros. Neste último caso, deve
também juntar prova de que é credor.

De acordo com o art. 1º da Lei 9.492/97, o ato de protesto é a declaração


pública do não pagamento de uma obrigação, ou seja, é o ato formal e solene
pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada
em título e outros documentos de dívidas. Portanto, o § 3º do art. 94 da Lei
11.101/05 é norma cogente ao determinar que o pedido de falência será instruído
com os títulos executivos superiores a 40 (quarenta salários mínimos) na forma
do parágrafo único do art. 9º da mesma lei, acompanhados, em qualquer caso,
dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar.

Nota-se que o valor mínimo imposto pela Lei 11.101/05 para instrução do
pedido de falência poderá ser composto por um único título executivo superior a
40 (quarenta) salários mínimos ou por um conjunto de créditos vencidos que
somados serão superiores ao respectivo critério determinado pela Lei.
Importante ressaltar que parece haver distinção entre protesto obrigatório e
protesto especial falimentar, querendo referir-se ao protesto cambiário e ao
introduzido pela Lei Falimentar.

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Todavia, o protesto realizado para fins cambiais pode ser utilizado para o
requerimento de falência, desde que obedecida à regra do enunciado 361 da
Súmula do Superior Tribunal de Justiça: A notificação do protesto, para
requerimento de falência da empresa devedora, exige a identificação da pessoa
que a recebeu. Esse entendimento deu margem a debates no Superior Tribunal
de Justiça expostos a seguir na seção de Jurisprudência.

4.2- LEGITIMIDADE PASSIVA

A falência é um instituto privativo de devedores empresários, sociedades


empresárias ou apenas empresários individuais, independentemente de serem
registrados na Junta Comercial.

Tanto o devedor (autofalência) como os credores podem requerer a


falência. Em relação ao primeiro é indispensável ficar demonstrada sua condição
de empresário, regular ou irregular (art. 105, III da LFR), uma vez que o instituto
falimentar é dirigido exclusivamente aos empresários, na forma do artigo 986 do
Código Civil.

Assim, a legitimidade ativa para requerer a falência poderá ser exercida


pelo:

(i) Próprio devedor empresário (autofalência);


(ii) Por qualquer credor, se empresário, tendo que provar sua
regularidade;
(iii) Pelo cônjuge sobrevivente;
(iv) Por herdeiros do devedor;
(v) Pelo inventariante;
(vi) Pelos sócios ou acionistas da sociedade; e
(vii) Pelos credores não domiciliados no Brasil, desde que prestem
caução.

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4.3- EIRELI — EMPRESA INDIVIDUAL DE
RESPONSABILIDADE LIMITADA:

A Lei nº 12.441 de 11 de julho de 2011 alterou o Código Civil,


acrescentando o artigo 980-A, afim de autorizar a criação das Empresas
Individuais de Responsabilidade Limitada — EIRELI, atendendo assim a um
antigo anseio dos empresários brasileiros. Este novo modelo de exercício da
empresa autoriza o empresário, titular da totalidade do capital social
devidamente integralizado, constituir uma pessoa jurídica sem a participação de
outro sócio, eliminando desta forma a figura do “sócio de palha”, sócio com
pequena participação no capital social, muito comum nas sociedades limitadas
no Brasil, fazendo parte da sociedade apenas para atender a legislação. O maior
atrativo para constituir uma EIRELI ao invés de ser um empresário individual é
justamente a incomunicabilidade entre o patrimônio social e o pessoal de quem
constitui a empresa, tendo em vista a criação de uma pessoa jurídica de direito
privado (art. 44 do Código Civil). Assim sendo, torna-se evidente a possibilidade
da EIRELI se valer do mecanismo da falência, tanto na modalidade autofalência,
como requerendo a falência de terceiros.

Jurisprudência:

Requerimento Falência — Fazenda Pública

FALÊNCIA. FAZENDA PÚBLICA. INTERESSE. NÃO HA EMPEÇO LEGAL A QUE


FAZENDA PUBLICA REQUEIRA A FALENCIA DE SEU DEVEDOR. A LEI DE QUEBRAS
SOMENTE EXCLUI O CREDOR COM GARANTIA REAL, NOS TERMOS DO ART. 9., III, “B”.
DIREITO REAL DE GARANTIA E PRIVILEGIO CREDITORIO NÃO SE CONFUNDEM.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

RESP 10660/MG (RSTJ 84/179); DJ:10/06/1996, p.20319 Min. COSTA LEITE (353) Data
da Decisão:12/12/1995; TERCEIRA TURMA Decisão: POR UNANIMIDADE, CONHECER DO
RECURSO ESPECIAL E, POR MAIORIA, DAR-LHE PROVIMENTO.

PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA FORMULADO PELA FAZENDA PÚBLICA


COM BASE EM CRÉDITO FISCAL. ILEGITIMIDADE. FALTA DE INTERESSE. DOUTRINA.
RECURSO DESACOLHIDO.

I — Sem embargo dos respeitáveis fundamentos em sentido contrário, a


Segunda Seção decidiu adotar o entendimento de que a Fazenda Pública não

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tem legitimidade, e nem interesse de agir, para requerer a falência do devedor
fiscal.

II — Na linha da legislação tributária e da doutrina especializada, a


cobrança do tributo é atividade vinculada, devendo o fisco utilizar-se do
instrumento afetado pela Lei à satisfação do crédito tributário, a execução fiscal,
que goza de especificidades e privilégios, não lhe sendo facultado pleitear a
falência do devedor com base em tais créditos.

RESP 164389 / MG; Ministro CASTRO FILHO; Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO


TEIXEIRA; SEGUNDA SEÇÃO ; Data do Julgamento: 13/08/2003.

4.4- FALÊNCIA. LEGITIMIDADE. MORATÓRIA

FALÊNCIA ACORDO LEGITIMIDADE RECURSAL SÓCIO

É certo que não se pode confundir massa falida com o próprio falido
(aquele contra quem foi proferida a sentença de quebra). Contudo, após a
decretação da falência, ele não é mero espectador no processo falimentar, pois
pode praticar atos processuais em defesa de seus interesses, mas não em nome
da massa, que possui representante próprio: o síndico nomeado. Isso é o que
apregoa a nova Lei de falências (Lei n. 11.101/2005), a qual, em seu art. 103
(caput e parágrafo único), expressamente admite essa legitimidade. Na hipótese,
apesar de o agravo de instrumento em questão ter sido interposto em nome da
sociedade empresária, o que em verdade discutia era o dia do trânsito em
julgado da quebra para efeito de instrução da ação rescisória ajuizada, daí
presente a legitimidade do sócio falido para tal, porque se encontra a defender
seu interesse de ver rescindida a sentença de quebra que lhe foi desfavorável.
Quanto ao síndico da massa falida, não existe sua prerrogativa de intimação
pessoal para contra minutar aquele agravo (art. 206, § 1º, do DL n. 7.661/1945).
Anote-se que, no caso, a autora requereu o sobrestamento do feito diante da
perspectiva de composição amigável.

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Porém, ao receber cheque desprovido de fundos, entendeu descumprido
o acordo e requereu o prosseguimento do feito, o que, atendido, resultou na
decretação da falência com fulcro na revelia, sem que houvesse qualquer
intimação dando conta da retomada do curso da ação, tampouco da quebra.
Assim, vê-se que o juízo julgou procedente o pedido de falência sem se
aperceber que lhe faltavam as condições de procedibilidade do art. 267, IV, do
CPC, pois é assente que o pedido de sobrestamento ou suspensão do processo
formulado unilateralmente pelo credor com o fim de buscar composição amigável
configura moratória, que desnatura a impontualidade do devedor, a impedir o
processamento do pedido de falência (arts. 1º e 4º, VIII, do referido DL).

Dessarte, correto o acórdão do tribunal a quo que, de ofício, tornou nula


a sentença declaratória da falência, quanto mais se sopesado o baixo valor do
título em questão. Precedentes citados: Resp 660.263-RS, DJ 10/5/2006; Resp
101.088-RS, DJ 13/12/1999; Resp 701.927-SP, DJ 12/6/2006; REsp 757.874-
SP, DJ 1º/8/2006; Resp 191.535— SP, DJ 5/8/2002, e REsp 237.345-MG, DJ
28/8/2000. Resp 702.835-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
16/9/2010. 4ª TURMA (INFO 447 STJ).

Credor garantia real Impossibilidade pedido

 FALÊNCIA. CREDOR. GARANTIA REAL

A massa falida de um banco, insatisfeita com a impontualidade no


pagamento de nota promissória vencida e protestada vinculada a uma dívida
garantida por hipoteca, pediu a falência de uma companhia (art. 1º do DL n.
7.661/1945). Sucede que houve a celebração de acordo entre as partes, o que
levou o juiz a extinguir o processo (art. 269, III, do CPC). Note-se que o valor da
transação foi depositado.

Então, o sócio majoritário do banco falido recorreu da sentença, ao


fundamento de que, por má gestão do liquidante, o valor da transação tornou-se
ínfimo, a causar prejuízos. Porém, o TJ, ao averiguar que o pedido de falência
veio lastreado em título garantido por hipoteca, reconheceu, de ofício, que o
pedido da falência era descabido, diante do que dispõe o art. 9º, III, b, do DL n.

19
7.661/1945, e indeferiu a inicial pela impossibilidade jurídica do pedido (art. 295,
parágrafo único, III, do CPC), daí o recurso especial.

Nesse contexto, em razão da jurisprudência deste Superior Tribunal, não


há como reconhecer que houve renúncia tácita ao privilégio em razão do
requerimento de falência do devedor, pois ela há que ser sempre expressa.
Anote-se que a falência é instituto reservado a credores quirografários em busca
da partilha, em rateio, dos bens do devedor, para a satisfação, mesmo que
reduzida, de seus créditos.

Assim, de acordo com volumosa doutrina, a beneficiária de hipoteca, que


notadamente não é credora quirografária, não pode requerer a falência se não
desistir dessa garantia ou provar, em procedimento prévio, que o bem em
questão não é sufi ciente à satisfação do crédito. É certo, também, que matéria
de ordem pública referente à falta de condição da ação, tal qual a constante dos
autos (impossibilidade jurídica do pedido), pode ser conhecida a qualquer tempo
e grau de jurisdição (art. 267, § 3º, do CPC).

Dessarte, revela-se irretocável o acórdão recorrido quando declara a


inépcia da inicial. Por último, vê-se que há, nos autos, pedido de levantamento
do numerário depositado, o que melhor será apreciado pelo juízo singular com o
retorno dos autos, visto que há que se preservar a possibilidade de invocação
do duplo grau de jurisdição.

Precedentes citados: REsp 117.110-MG, DJ 19/8/2002, e REsp 118.042- SP, DJ


11/10/1999. REsp 930.044-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/6/2009. (INFO 399 STJ).

Pedido: Pagamento ou Falência Possibilidade

PROCESSO CIVIL. FALÊNCIA. O pedido não é inepto pelo fato de o autor


haver requerido o pagamento do débito ou a decretação da falência. Agravo
regimental não provido. AgRg no AG 279638 / SP. Ministro ARI PARGENDLER.
Órgão Julgador. TERCEIRA TURMA. Data do Julgamento: 26/06/2003.

Dívida de pequeno valor. Impossibilidade.

FALÊNCIA. VALOR INSIGNIFICANTE

Mesmo ao tempo do DL n. 7.661/1945, já se encontrava presente o


princípio da preservação da empresa, incrustado claramente na posterior Lei n.

20
11.101/2005. Assim, mesmo omisso o referido DL quanto ao valor do pedido,
não é razoável nem se coaduna com sua sistemática a possibilidade de valores
insignificantes provocarem a quebra da empresa, pois isso nada mais é do que
preservar a unidade produtiva em detrimento de satisfazer uma dívida.

Precedente citado: REsp 870.509-SP. AgRg no Ag 1.022.464-SP, Rel.


Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 2/6/2009 (ver Informativo n. 384). INFO
397 STJ.

“COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. DECRETOLEI


7.661/45. TÍTULOS DE VALOR INSIGNIFICANTE FRENTE AO PRINCÍPIO DA
PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. DECRETO DE QUEBRA. DESCABIMENTO.
PRECEDENTES.

I. Nos termos da juris prudência do STJ, “Apesar de o art. 1º do Decreto-


Lei nº 7.661/45 ser omisso quanto ao valor do pedido, não é razoável, nem
se coaduna com a sistemática do próprio Decreto, que valores insignifi
cantes provoquem a quebra de uma empresa. Nessas circunstâncias, há
de prevalecer o princípio, também implícito naquele diploma, de
preservação da empresa.” (REsp 959695/SP, Relatora Ministra Nancy
Andrighi, DJe 10/03/2009). PRECEDENTES. II. Recurso especial não
conhecido. (REsp 598.881/SC, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 08/02/2010) (Grifo Nosso).

INFORMATIVO N.º: 405 DO STJ: FALÊNCIA. VALOR MÍNIMO. A Turma


negou provimento ao recurso, reiterando o entendimento de que não é razoável
deferir pedido de falência provocado por valor inferior a quarenta vezes o salário
mínimo vigente ao tempo da propositura da ação. Em casos tais como o dos
autos, aplica-se o princípio da preservação da empresa, apesar de o art. 1º do
DL n. 7.661/1945 ser omisso quanto ao valor da dívida como requisito para a
decretação da quebra. Precedentes citados: REsp 959.695-SP, DJe 10/3/2009,
e AgRg no REsp 1.089.092-SP, DJe 29/4/2009. REsp 943.595-SP, Rel. Min.
Sidnei Beneti, julgado em 3/9/2009.

Irretroatividade da Lei 11.101/05

Dívida de pequeno valor

21
FALÊNCIA. DÍVIDA. PEQUENO VALOR.

A recorrente requereu a falência da sociedade empresária de arquitetura


e engenharia com base no DL n. 7.661/1945, porque não foram pagas três notas
promissórias no total de quatro mil e quinhentos reais. Cinge-se a controvérsia
em analisar a possibilidade de falência sob a égide do mencionado decreto,
quando o pedido é fundado em dívida de pequeno valor.

Sustenta que o Tribunal de origem fez retroagir a Lei posterior (a nova Lei
de Falências), para evitar a falência do devedor impontual. Porém, a Turma
negou provimento ao recurso, por entender que, onde a recorrente pretende ver
a retroação ilegal de uma norma, há apenas a prevalência de um princípio já
contido na legislação aplicável, ao qual o TJ passou a dar maior efi cácia a partir
da recente decisão do legislador em editar toda uma nova Lei, tendo como
preocupação maior, justamente, a preservação da empresa.

A atividade jurisdicional do TJ, fiel à impossibilidade de fazer retroagir as


disposições da nova Lei, sendo aplicável ao caso apenas o art. 1º do DL n.
7.661/1945, dirigiu-se, então, a definir a melhor interpretação desse último
dispositivo. Para a Min. Relatora, há, assim, uma pequena, mas relevante
alteração de perspectiva. Embora, no início, a questão aparentemente se
referisse à retroação da nova Lei, na verdade ela fica melhor enquadrada como
um problema de interpretação da Lei antiga.

Em outras palavras, trata-se de problema estritamente relacionado à


hermenêutica do mencionado DL, aos seus princípios, suas normas e
finalidades, inclusive em uma perspectiva histórico-progressista que se tornou
possível apenas a partir da edição da nova Lei. A hermenêutica é atividade
naturalmente dinâmica, e a alteração dos entendimentos jurisprudenciais
decorre, muitas vezes, justamente da necessidade de adaptar o sentido de uma
Lei à mudança dos tempos.

Assim, em princípio, nenhum erro existe em buscar uma interpretação


para o art. 1º do DL n. 7.661/1945, aplicável ainda depois de sessenta anos, que
seja mais adequada ao atual estado de desenvolvimento do capitalismo
brasileiro, privilegiando-se a manutenção da unidade produtiva em vez da
satisfação duvidosa de uma dívida, pelo sistema do concurso de credores. Não

22
há que censurar o órgão jurisdicional por ter, eventualmente, alterado uma
posição jurisprudencial em face da evolução das instituições e das novas
necessidades da sociedade.

O TJ, referindo-se expressamente àquele artigo, sustenta que a falência


deve ser afastada quando o pedido é fundado em dívida de pequeno valor
porque esse não era o objetivo do legislador ao sinalizar a presunção de estar
falido o comerciante pelo não pagamento de obrigação líquida constante de título
executivo.

Com isso, o TJ afirma encontrar também, no cerne do próprio DL, o


princípio da preservação da empresa que é tão caro à Lei n. 11.101/2005. É com
base nesse princípio que a presente falência deixou de ser declarada; note-se,
aliás, que muito embora a recorrente sustente ter havido retroação de uma
específica norma que vedava a quebra por menos de quarenta salários mínimos,
em nenhum momento o acórdão adota esse parâmetro ou mesmo define
qualquer outro.

Sustenta o TJ que, apesar de o referido artigo ser omisso quanto ao valor


do pedido, não é razoável, nem se coaduna com a sistemática do próprio
decreto, que valores insignificantes provoquem a quebra de uma empresa. REsp
870.509-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/2/2009. (INFO 384 STJ).

40 S.M.

Momento do pedido

FALÊNCIA. VALOR MÍNIMO.

A Turma negou provimento ao recurso, reiterando o entendimento de que


não é razoável deferir pedido de falência provocado por valor inferior a quarenta
vezes o salário mínimo vigente ao tempo da propositura da ação. Em casos tais
como o dos autos, aplica-se o princípio da preservação da empresa, apesar de
o art. 1º do DL n. 7.661/1945 ser omisso quanto ao valor da dívida como requisito
para a decretação da quebra. Precedentes citados: REsp 959.695-SP, DJe
10/3/2009, e AgRg no REsp 1.089.092-SP, DJe 29/4/2009. REsp 943.595-SP,
Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 3/9/2009. 3ª TURMA. INFO 405.

23
5. PROTESTO INTIMAÇÃO PESSOAL
 COMERCIAL — RECURSO ESPECIAL — FALÊNCIA — PROTESTO —
INTIMAÇÃO — PESSOA IDÔNEA INTEGRANTE DA EMPRESA
DESTINATÁRIA — REGULARIDADE — ANÁLISE DA IDONEIDADE DO
INTIMADO — REEXAME DE MATERIAL FÁTICO-PROBATÓRIO — SÚMULA
07/STJ — DISSÍDIO PRETORIANO NÃO COMPROVADO.

1 — Esta Corte de Uniformização Infraconstitucional tem decidido que, a


teor do art. 255 e parágrafos do RISTJ, para comprovação e apreciação do
dissídio jurisprudencial, devem ser mencionadas e expostas as circunstâncias
que identificam ou assemelham os casos confrontados, bem como juntadas
cópias integrais de tais julgados ou, ainda, citado repositório oficial de
jurisprudência. In casu, os arestos paradigmas não guardam similitude fática
com o caso dos presentes autos.

2 — É sufi ciente, em pedido de falência, a intimação do protesto a pessoa


idônea integrante da empresa destinatária, devendo constar no instrumento, pelo
menos, o nome do funcionário. Outrossim, tendo o v. acórdão recorrido
considerado a regularidade da referida intimação, concluir de maneira diversa
implica, necessariamente, em reexame do material fático-probatório
apresentado nos autos, o que encontra óbice na Súmula 07/STJ.

3 — Precedente (AGREsp no 299.465/PR e REsp no 112.931/SC).

4 — Recurso não conhecido. RESP 294082 / PR Ministro JORGE


SCARTEZZINI QUARTA TURMA Data do Julgamento: 16/09/2004.

 PROTESTO. NOTIFICAÇÃO. CORREIOS. COMPROVAÇÃO. ENTREGA.

O pedido de falência fundado em título protestado, com notificação pelos


Correios, deve vir acompanhado de comprovação da entrega da
correspondência no endereço da devedora, não bastando a assertiva do oficial
de que enviou a notificação. REsp 435.043-SP, Rel. Min. Ruy Rosado, julgado
em 19/9/2002. (Informativo 147). (4a Turma).

Protesto Intimação Pessoal Lei 11.101/05 Agravo regimental. Medida


cautelar. Recurso especial. Falência. Ausência de fumus boniiuris.

24
1. Sob o quadro fático deduzido pelo Tribunal de origem mediante o
exame dos documentos do feito, questionar a efetiva emissão, remessa e
retenção das duplicatas não dispensa, em princípio, nova apreciação das provas
dos autos, operação vedada na instância especial, a teor da Súmula no 7/STJ.

2. O Decreto-Lei no 7.661/45, diversamente da atual legislação, com base


na qual foi decretada a quebra, estabelece como o protesto deverá ser efetuado
(art. 10, caput e §§ 1o e 2o), não havendo flagrante equívoco na orientação do
Tribunal de origem no sentido de que “a nova legislação falimentar não trouxe
nenhuma exigência de indicação do nome da pessoa que recebeu a intimação
no instrumento de protesto” (fl . 142).

3. Agravo regimental desprovido. AgRg na MC 13065 / MS AGRAVO


REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR Ministro CARLOS ALBERTO
MENEZES DIREITO TERCEIRA TURMA Data do Julgamento: 04/09/2007.

RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA.


INEXISTÊNCIA. PROTESTO. INTIMAÇÃO. IDENTIFICAÇÃO DO
RECEBEDOR. DESNECESSIDADE.

1. O julgamento antecipado da lide não constitui cerceamento de defesa


se a parte não especifica no momento oportuno as provas que pretendia
produzir, quando instada a tanto pelo juiz.

2. Para a validade da intimação do protesto é suficiente a comprovação


de que a correspondência foi enviada ao endereço do devedor fornecido pelo
apresentante (Art. 14 da Lei 9.492/97).

3. A fé pública de que goza o Tabelião faz presumir a veracidade de suas


certidões, que não cede perante simples alegações desacompanhadas de
robustas provas.

REsp 784448 / SP RECURSO ESPECIAL Ministro HUMBERTO GOMES


DE BARROS TERCEIRA TURMA Data do Julgamento: 14/02/2008

25
6. FALÊNCIA- PROTESTO ESPECIAL

É cediço que a tentativa de notificação do protesto deve ser feita


pessoalmente no endereço fornecido pelo apresentante e, para o caso de futuro
requerimento de falência, deve constar a identificação de quem recebeu a
intimação (Súm. n. 361-STJ). No caso dos autos, houve a recusa do recebimento
de intimação no endereço fornecido, mas não houve a intimação por edital, tal
como nesses casos apregoa expressamente o art. 15 da Lei n. 9.492/1997.

Dessa forma, aponta o Min. Relator que, como não consta do instrumento
de protesto a individualização de quem se recusou a assinar a carta registrada,
é inviável reputar o protesto realizado como credenciado a amparar o pedido de
falência e, ainda, diante da falta da intimação editalícia, também é forçoso
reconhecer que, sem o protesto especial, assiste razão nesse ponto ao
recorrente.

Ademais, explica que o pedido de falência deve demonstrar que o devedor


ostenta alguns sinais indicativos de insolvência previstos na legislação
falimentar, pois a falência não pode ser tomada como simples ação de cobrança.

Por outro lado, o Min. Relator observou ser incensurável a decisão a quo
que reputou como irrelevante o fato de a empresa credora requerer a falência
apresentando apenas uma das 4 duplicatas (no valor de R$ 16.583,79)
constitutivas da dívida, visto que poderá ser feita a investigação de sinais

26
indicativos de falência pelo julgador, após o decote de eventual excesso no valor
inadimplido, portanto não há iliquidez nessa hipótese.

Ainda ressaltou que, se o devedor optar por afastar o pleito falimentar,


poderá promover o depósito do valor que entender devido e questionar a quantia
excedente (art. 98, parágrafo único, da Lei n. 11.101/2005). Isso posto, a Turma
conheceu em parte o recurso e, nessa parte, deu-lhe provimento. REsp
1.052.495-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 8/9/2009. 3a TURMA.
INFO 406 STJ.

Protesto para fins Falimentares.

Indispensabilidade.

 PROTESTO. TÍTULO JUDICIAL. PEDIDO DE FALÊNCIA.

Discute-se a necessidade ou não de protesto de título judicial para postular


pedido de falência. O título judicial originou-se de um acordo celebrado em uma
medida cautelar de sustação de protesto de outro título. De posse do título
judicial inadimplido, pretendeu o recorrente credor o seu protesto para embasar
pedido de quebra da devedora recorrida, que a levou ao ajuizamento de uma
ação ordinária de cancelamento de protesto, com o deferimento da tutela
antecipada, do qual decorre o agravo e o presente recurso. Pretendia o
recorrente protestar o título judicial apenas para firmar o descumprimento do
acordo, já que inexistia execução anterior, situação em que até se dispensaria o
protesto, e forte na letra do art. 10 da LF, que não excepciona do protesto título
algum e abarca também os judiciais. No STF, prevaleceu, por maioria, o
entendimento que admite o protesto de sentença trabalhista para a instrução do
pedido de quebra (RE 81.202-RS, 1a Turma). A Turma conheceu em parte do
recurso e deu-lhe provimento para autorizar o protesto do título. REsp 252.134-
SP, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 25/11/2002. (Informativo 156)
(4a Turma).

27
Protesto Especial Falimentar

TÍTULOS DE CRÉDITO. PROTESTO. PEDIDO DE FALÊNCIA

Os títulos de créditos subordinados ao protesto comum escapam à


necessidade de protesto especial. No caso, onde se discute a sufi ciência do
protesto, o cheque, levado a protesto regular, é título hábil para instruir o pedido
de falência. Precedentes citados: REsp 50.827-GO, DJ 10/6/1996, e REsp
74.847-SP, DJ 2/6/1997. REsp 203.791-MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo,
julgado em 8/6/1999. (Informativo 22) (4a Turma).

Protesto Especial Falimentar Lei 11.101/05

AGRAVO REGIMENTAL. PROTESTO DE DUPLICATA. INTIMADA


PESSOA QUE NÃO É PREPOSTO OU REPRESENTANTE LEGAL DA
EMPRESA. VALIDADE. VEDADO EXAME DA QUALIDADE DE
FUNCIONÁRIO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. SÚMULA 7/ STJ.
PRESCINDIBILIDADE DE PROTESTO ESPECIAL.

I — Segundo jurisprudência desta Corte, não há necessidade daquele que


recebe intimação para pagamento da dívida, ser preposto ou representante legal
da empresa protestada.

II — A teor da Súmula 7/STJ é vedado o exame de matéria fático-probatória


no recurso especial.

III — É dispensável o protesto especial previsto na Lei de Falências quando


a duplicata de prestação de serviços permite a propositura de ação executiva.
Agravo regimental improvido. AgRg no Ag 636261 / MG AGRAVO REGIMENTAL
NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Ministro SIDNEI BENETI TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento: 15/04/2008

28
7. FALÊNCIA: PEDIDO DE FALÊNCIA, ATOS DE FALÊNCIA E
AUTOFALÊNCIA

A Lei 11.101/05 dispõe em seu artigo 94, incisos II e III, os atos que
independem da impontualidade para caracterizar o estado de falência, são assim
considerados, de forma presumida, indicadores de sua situação de insolvência.
Esses fatos (atos de falência) devem ser especificados na inicial, juntando o
autor as provas que tiver e indicando as que pretenda produzir.

São eles: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão


de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos
inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar
credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo
a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não,
sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens sufi cientes
para solver seu passivo; d) simula a transferência de seu principal
estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para
prejudicar credor; e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída
anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados sufi cientes para
saldar seu passivo; f) ausentasse sem deixar representante habilitado e com
recursos sufi cientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou
tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal
estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação
assumida no plano de recuperação judicial.

São atos de difícil comprovação. Assim, são raros os pedidos de falência


com base nos atos de falência previstos no inciso III do art. 94.

Todavia, o ato de falência previsto no inciso II do art. 94 é comumente


evidenciado, devendo o autor do pedido instruir a inicial com certidão
demonstrativa da tríplice situação fática: “não paga, não deposita e não nomeia
à penhora bens suficientes dentro do prazo legal”. Além disso, deverá comprovar
a suspensão da execução.

29
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE
COMPETÊNCIA. OBSCURIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 49 DA LFR (LEI 11.101/2005).
SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES CONTRA O DEVEDOR. TERMO INICIAL.
DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DECISÃO COM
EFEITOS “EX NUNC”. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS.

1. A regra do art. 49 da Lei 11.101/2005 merece interpretação sistemática.


Nos termos do art. 6º, caput, da Lei de Falências e Recuperações
Judiciais, é a partir do deferimento do processamento da recuperação
judicial que todas as ações e execuções em curso contra o devedor se
suspendem. Na mesma esteira, diz o art. 52, III, do referido diploma legal
que, estando a documentação em termos, o Juiz deferirá o
processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato, ordenará a
suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor. Assim, os
atos praticados nas execuções em trâmite contra o devedor entre a data
de protocolização do pedido de recuperação e o deferimento de seu
processamento são, em princípio, válidos e eficazes, pois os processos
estão em seu trâmite regular.
2. A decisão que defere o processamento da recuperação judicial possui
efeitos “ex nunc”, não retroagindo para atingir os atos que a antecederam.
3. O art. 49 da Lei 11.101/2005 delimita o universo de credores atingidos
pela recuperação judicial, instituto que possui abrangência bem maior que
a antiga concordata, a qual obrigava somente os credores quirografários
(DL n. 7.661/45, art. 147). A recuperação judicial atinge “todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos”, ou seja, grosso
modo, além dos quirografários, os credores trabalhistas, acidentários,
com direitos reais de garantia, com privilégio especial, com privilégio
geral, por multas contratuais e os dos sócios ou acionistas.
4. O artigo 49 da LFR tem como objetivo, também, especificar quais os
créditos, desde que não pagos e não inseridos nas exceções apontadas
pela própria lei, que se submeterão ao regime da recuperação judicial e
aqueles que estarão fora dele. Isso, porque, como se sabe, na
recuperação judicial, a sociedade empresária continua funcionando
normalmente e, portanto, negociando com bancos, fornecedores e

30
clientes. Nesse contexto, se, após o pedido de recuperação judicial, os
débitos contraídos pela sociedade empresária se submetessem a seu
regime, não haveria quem com ela quisesse negociar.
5. Na hipótese, o aresto embargado deu ao dispositivo infraconstitucional a
interpretação que entendeu pertinente, dentro do papel reservado ao STJ
pela Carta Magna (art. 105), concluindo que o crédito fora validamente
adimplido antes do deferimento do processamento da recuperação
judicial, momento em que a execução não estava suspensa e eram
válidos e eficazes os atos nela praticados, razão pela qual o Juízo do
Trabalho é o competente para ultimar os atos referentes à adjudicação do
bem imóvel.
6. Embargos de declaração acolhidos, para sanar obscuridade, sem efeitos
infringentes. (EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no CC 105.345/DF, Rel.
MIN. RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/11/2011, DJe
25/11/2011)

7.1- AUTOFALÊNCIA:

A autofalência significa a insolvência confessada pelo devedor empresário


ou sociedade empresária. O pedido de autofalência se dará quando o próprio
empresário ou sociedade empresária pedir a sua própria falência, desde que
esteja em crise econômico-financeira ou julgar não atender aos requisitos da
recuperação judicial.

A lei de falências traz a previsão de autofalência do devedor como forma


de proteção do crédito público. Segundo a redação legal, não resta claro se a
autofalência é uma faculdade do devedor, ou uma obrigação do mesmo.

Na forma do art. 105, o devedor em crise econômico-financeira que julgue


não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer
ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento
da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:

31
• demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios
sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas
com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas
obrigatoriamente de:

 Balanço patrimonial;
 Demonstração de resultados acumulados;
 Demonstração do resultado desde o último exercício social;
 Relatório do fluxo de caixa
 Relação nominal dos credores, indicando endereço, importância,
natureza e classificação dos respectivos créditos;
 Relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a
respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de
propriedade;
 Prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em
vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus
endereços e a relação de seus bens pessoais;
 Os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem
exigidos por Lei;
 Relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com
os respectivos endereços, suas funções e participação societária.

JURISPRUDÊNCIA:

Ato de Falência Penhora 0após o prazo Impossibilidade Falência

EXECUÇÃO INDIVIDUAL. FALÊNCIA. PENHORA.

A Turma decidiu que a nomeação extemporânea de bens à penhora, no


juízo de execução individual, impede o prosseguimento do pedido de falência
(art. 652 do CPC e art. 2o, I, da antiga Lei de Quebra, DL n. 7.661/1945).

Com efeito, conforme a melhor exegese dos supracitados dispositivos


legais, a falência não pode ser requerida antes do cumprimento do prazo
processual para pagamento, o que não significa que, esgotado o prazo, impõe-
se a decretação da falência de quem não se manteve de todo inerte na execução
individual. Precedente citado: REsp 136.565-RS, DJ 14/6/1999. REsp 741.053-

32
SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/10/2009. 4a TURMA (INFO
412 STJ).

Ato de Falência. Indicação de bem à penhora. Intempestividade.

FALÊNCIA. INDICAÇÃO DE BEM À PENHORA. INTEMPESTIVIDADE

O fato de o comerciante dispor de ativos que superem seus débitos não


obsta a decretação da falência com fundamento no art. 2o, I, do Decreto Lei n.o
7.661/45. Entretanto, não deverá ser feita interpretação literal desse dispositivo,
quando requerida a falência após a nomeação de bens à penhora, ainda que
essa se faça após decorrido o prazo legal, porque seria excessivamente rigoroso
e inconveniente a decretação, com a destruição da empresa. Ocorrendo a
nomeação da penhora, deve-se prosseguir com a execução. Com esse
entendimento, a Turma negou provimento ao recurso da empresa que requeria
a falência da devedora. REsp 125.399-RS, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, julgado
em 27/3/2000. (Informativo 52) (3aTurma)

Autofalência. Execução Fiscal. Alcance dos Sócios. Fraude

PROCESSO CIVIL — EXECUÇÃO FISCAL — EMPRESA FALIDA — NOME DO


SÓCIO NA CDA — REDIRECIONAMENTO: IMPOSSIBILIDADE — ART. 13 DA LEI 8620/93
— CONTROVÉRSIA DECIDIDA SOB O ENFOQUE EXCLUSIVAMENTE CONSTITUCIONAL
— NÃO CONHECIMENTO.

1. Na interpretação do art. 135 do CTN, o Direito pretoriano no STJ


firmou-se no sentido de admitir o redirecionamento para buscar
responsabilidade dos sócios, quando não encontrada a pessoa
jurídica ou bens que garantam a execução.
2. Duas regras básicas comandam o redirecionamento:
i. quando a empresa se extingue regularmente, cabe ao exequente
provar a culpa do sócio para obter a sua imputação de
responsabilidade;
ii. se a empresa se extingue de forma irregular, torna-se possível o
redirecionamento, sendo ônus do sócio provar que não agiu com
culpa ou excesso de poder.
3. Na hipótese dos autos, surge uma terceira regra: quando a empresa se
extingue por falência, depois de exaurido o seu patrimônio. Aqui, a
responsabilidade é inteiramente da empresa extinta com o aval da

33
Justiça, sem ônus para os sócios, exceto quando houver
comportamento fraudulento.
4. Inviável o recurso especial interposto contra acórdão que decidiu
controvérsia em torno da inaplicabilidade do art. 13 da Lei 8.620/93,
sob enfoque exclusivamente constitucional.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. REsp 882474
/ RS RECURSO ESPECIAL Ministra ELIANA CALMON SEGUNDA
TURMA Data do Julgamento: 17/06/2008

Requisitos Autofalência.

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.


NÃO CONFIGURADA. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO DE AUTO-FALÊNCIA.
INFRAÇÃO À LEI. NÃO-CONFIGURAÇÃO, POR SI SÓ, NEM EM TESE, DE SITUAÇÃO QUE
ACARRETA A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS SÓCIOS.

i. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação


jurisdicional o acórdão que adota fundamentação sufi ciente para
decidir de modo integral a controvérsia posta.
ii. Para que se viabilize o redirecionamento da execução é indispensável
que a respectiva petição descreva, como causa para redirecionar,
uma das situações caracterizadoras da responsabilidade subsidiária
do terceiro pela dívida do executado.
iii. Segundo a jurisprudência do STJ, a simples falta de pagamento do
tributo e a inexistência de bens penhoráveis no patrimônio da
devedora não configuram, por si sós, nem em tese, situações que
acarretam a responsabilidade subsidiária dos representantes da
sociedade.
iv. A ofensa à lei, que pode ensejar a responsabilidade do sócio, nos
termos do art. 135, III, do CTN, é a que tem relação direta com a
obrigação tributária objeto da execução. Não se enquadra nessa
hipótese o descumprimento do dever legal do administrador de
requerer a autofalência (art. 8º do Decreto-lei nº 7661/45).
v. Recurso especial a que se nega provimento.

34
8. FALÊNCIA: DEFESA EM FACE DO PEDIDO POR
IMPONTUALIDADE E PELA PRÁTICA DE ATOS DE
FALÊNCIA. DEPÓSITO ELISIVO

Iniciado o processo de falência e após a citação do devedor insolvente,


seguem-se alguns caminhos:

(i) Inércia do devedor, quando serão analisados os fatos


da inicial como caracterizadores da presunção de
insolvência;
(ii) Defesa apresentada com base em relevantes razões
de direito, no prazo de dez dias, sem depósito elisivo;
(iii) Defesa apresentada com base em relevantes razões
de direito, no prazo de dez dias, com depósito elisivo;
e
(iv) Defesa apresentada apenas com depósito elisivo.
Importante ressaltar que, realizados o depósito elisivo,
a falência não mais poderá vir a ser decretada,
seguindo-se, portanto, sentença denegatória da
falência que decidirá sobre o destino do depósito.

Embora não seja uma estratégia segura, o devedor pode apresentar sua
defesa sem efetuar o depósito elisivo, caso em que se sujeitará, na hipótese de
improcedência de sua defesa, a um possível decreto de quebra.

O depósito elisivo é o realizado em dinheiro correspondente ao crédito


reclamado, acrescidos de juros, correção monetária, custas processuais e
honorários advocatícios.

Portanto, efetivando-se o depósito elisivo, a falência não mais poderá ser


decretada porque já não mais existe a impontualidade; a matéria de julgamento
agora é deslocada para a legitimidade do crédito do autor.

O depósito elisivo está disciplinado no art. 98, parágrafo único, da Lei


11.101/05: Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei,
o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao

35
total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários
advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado
procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo
autor.

O quantum a ser depositado deve incluir correção monetária, juros e


honorários de advogado, segundo determina a Súmula 29 do STJ.

Observa-se, contudo, que nem sempre, no exíguo prazo de defesa, há


possibilidade de o devedor se assegurar do valor total do débito, sobretudo
porque ainda desconhecido o montante que será arbitrado a título de honorários.
Se houver essa dificuldade, o devedor deve depositar o principal e, junto com
este, requerer o arbitramento dos honorários e a elaboração de conta para
complementação de seu depósito.

JURISPRUDÊNCIA:

Depósito elisivo

FALÊNCIA. EMPRESA COIRMÃ. DEPÓSITO

A Turma não conheceu o recurso, considerando inócua a alegação da


recorrente de que houve violação do art. 52 do DL n. 7.661/1945, insurgindo—
se contra a decisão judicial que remeteu ao juízo falimentar depósito elisivo
efetuado por pessoa jurídica que, à época dos fatos, já se encontrava sob os
efeitos de falência decretada em processo envolvendo outra empresa coirmã
pertencente ao mesmo grupo. Ressaltou o Min. Relator que tal decisão foi
expedida levando-se em conta os efeitos decorrentes da quebra em processo
diverso, e não apenas a condição individual da empresa devedora. Resp
538.815-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/5/2009.
(Informativo 395 STJ).

Depósito Elisivo — Impossibilidade

Processo civil. Falência. Recurso especial. Pedido de quebra fundado na


impontualidade referente ao adimplemento de títulos de crédito. Ajuizamento
pelo requerido, após a contestação, de ação declaratória de nulidade dos
mesmos títulos que embasaram o pedido falimentar. Acórdão que reconhece,

36
nessas circunstâncias, a necessidade de suspensão desse último processo, com
fundamento no art. 265, IV, ‘a’ do CPC. Impossibilidade. — A 3ª Turma decidiu,
no precedente Resp nº 604.435/SP, ser cabível a suspensão do processo
falimentar quando, anteriormente ao pedido de quebra, já havia o requerido
ajuizado ação declaratória de nulidade dos títulos. Nesse precedente, ressaltou-
se que, em face da ocorrência de depósito elisivo por parte deste, acompanhada
de contestação que em grande parte apenas repetia os termos da inicial daquela
ação anterior, havia realmente a possibilidade indesejada de que decisões
contraditórias fossem proferidas nos dois processos, pois a mesma questão —
nulidade dos títulos — passara a ser objeto de exame por dois juízos distintos.
— Na presente hipótese, contudo, a ação declaratória de nulidade não era
antecedente ao pedido de falência; ao contrário, só foi proposta após a
contestação no processo falimentar, de forma que a possibilidade de
manifestações conflitantes — fundamento do precedente supra citado — foi
artificialmente criada pela recorrida. — Trata-se, portanto, de situações
diferentes, que requerem solução igualmente diversa; exclui-se, dessa forma, a
presente hipótese do alcance do art. 265, IV, ‘a’, do CPC, porque a ação
declaratória não é anterior ao pedido de quebra. (Recurso especial conhecido e
provido. REsp 680965 / RS — RECURSO ESPECIAL — 2004/0114812-8 —
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.)

Depósito elisivo

RECURSO ESPECIAL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL -


INEXISTÊNCIA - NOTIFICAÇÃO DO PROTESTO POR EDITAL NO CASO DE RECUSA À
APOSIÇÃO DE ASSINATURA NA CARTA REGISTRADA - NECESSIDADE - PEDIDO DE
FALÊNCIA APONTANDO A CRÉDITO COM VALOR EXCEDENTE AO EFETIVAMENTE
DEVIDO - ANÁLISE DO PLEITO APÓS O DECOTE DO VALOR - ADMISSIBILIDADE- ANÁLISE
DA QUESTÃO DA INOCUIDADE DA DUPLICATA DESACOMPANHADA DO COMPROVANTE
DE RECEBIMENTO DA MERCADORIA PELO COMPRADOR SOB A ÓTICA DOS ARTS. 1º, §
3º, DO DECRETO-LEI N. 7.661/45, 9º, PARÁGRAFO ÚNICO, E 94, I, DA LEI N. 11.101/2005 -
COMANDOS NORMATIVOS INÁBEIS A AMPARAR ESSA DISCUSSÃO - SÚMULA Nº 284 DO
STF - APLICAÇÃO -IMPRESCINDIBILIDADE DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DA
MERCADORIA PELO COMPRADOR - INOVAÇÃO RECURSAL - VEDAÇÃO - PEDIDO DE
FALÊNCIA SEM PROTESTO ESPECIAL PARA ESSE FIM - ADMISSIBILIDADE - RECURSO
ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSE PONTO, PARCIALMENTE PROVIDO.

37
1. A Corte de origem não incorreu em omissão alguma, conquanto tenha
decidido contrariamente ao interesse da parte, motivo pelo qual se repele a
indicada negativa de prestação jurisdicional.

2. A tentativa de notificação do protesto, em primeiro lugar, deve ser feita


pessoalmente no endereço fornecido pelo apresentante e contar, especialmente
no caso de futuro requerimento de falência, com a identificação do nome do
recebedor da intimação.

3. Todavia, quando a notificação pessoal do protesto não logra obter a


identificação de quem se recusou a assinar a carta registrada, é de rigor a
realização da intimação do protesto por edital como requisito necessário para
sustentar o pedido de falência, tudo conforme o art. 15 da Lei n. 9.492/97 e os
princípios da preservação e conservação da empresa, como in casu.

4. Como o pedido de falência, sobretudo, deve demonstrar que o devedor


ostenta algum dos sinais indicativos de insolvência previstos na legislação
falimentar, é viável que o julgador investigue a configuração de algum desses
indícios após o decote do valor excessivo, de sorte que não há falar em iliquidez
da dívida nessa hipótese.

5. Caso o devedor opte por afastar o pleito falimentar mediante o


instrumento do depósito elisivo (sediado no art. 98, parágrafo único, da Lei n.
11.101/05), assiste-lhe a oportunidade de promover esse depósito levando em
conta o valor que entende efetivamente devido e de manifestar o seu
inconformismo acerca da quantia excedente na sua contestação.

6. A análise da questão da inocuidade da duplicata desacompanhada de


comprovante de recebimento da mercadoria pelo comprador sob a ótica dos arts.
1º, § 3º, do Decreto-Lei nº 7.661/45, 9º, parágrafo único, e 94, I, da Lei n.
11.101/2005 é inviável em razão de o conteúdo normativo desses dispositivos
ser incapaz de amparar essa discussão, a atrair o óbice da Súmula n. 284/STF.

7. O tema da imprescindibilidade da prova do recebimento da mercadoria


pelo comprador como requisito solene não foi ventilado pelo recorrente na
Instância de origem, de maneira que a sua suscitação no presente recurso
especial importa em inovação da controvérsia, vedada por Corte. Ad

38
argumentandum tantum, seria inviável a conclusão do Sodalício a quo acerca da
comprovação do êxito na entrega da mercadoria ao comprador, por força do
édito da Súmula n. 07/ STJ.

8. É prescindível o protesto especial para a formulação do pedido de


falência.

9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.


(RESP - RECURSO ESPECIAL – 1052495, RELATOR MASSAMI UYEDA,
TERCEIRA TURMA, JULGADO EM 18/11/2009).

Depósito elisivo. Pedido de Falência.

COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA INTERPOSTO NA


VIGÊNCIA DO DL Nº 7.661/45. PRÉVIO AJUIZAMENTO DE AÇÃO ANULATÓRIA DO TÍTULO
QUE LASTREIA O PEDIDO. SUSPENSÃO DO PEDIDO DE FALÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE
DEPÓSITO ELISIVO. NÃO CABIMENTO. DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA PELO TRIBUNAL.
POSSIBILIDADE. INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ANTES DA DECRETAÇÃO DA
QUEBRA. DESNECESSIDADE. INTERVENÇÃO PRÉVIA DO PODER EXECUTIVO EM
FALÊNCIAS DE EMPRESAS AÉREAS. DESNECESSIDADE. NOTA PROMISSÓRIA
VINCULADA A CONTRATO DE RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. EXECUTIVIDADE. NOVAÇÃO.
MANUTENÇÃO SUBSTANCIAL DA OBRIGAÇÃO PRETÉRITA. INEXISTÊNCIA. NOMEAÇÃO
DE SÍNDICO PELO TRIBUNAL, NO ATO DE DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA.
POSSIBILIDADE. FALTA DE NOMEAÇÃO DE FISCAL PARA ACOMPANHAMENTO DA
FALÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO PARA O ANDAMENTO DO PROCESSO.

Ainda que previamente ajuizada ação anulatória do título que lastreia o


pedido de falência, se inexiste depósito elisivo e não houve garantia do juízo,
não há de se cogitar a suspensão do processo de falência, cuja natureza
processual de execução coletiva, de cognição sumária, permite a aplicação
analógica do art. 585, § 1º, do CPC.- O procedimento estabelecido pelo DL nº
7.661/45 previa, para a fase pré-falimentar, uma instrução sumária, própria das
ações executórias, de sorte que, não havendo depósito elisivo e não sendo
requerida a concessão do prazo previsto no art. 11, § 3º, o Tribunal, após afastar
os argumentos da defesa, podia de plano decretar a quebra.- Não havia no DL
nº 7.661/45 um único dispositivo que determinasse a intervenção do Ministério
Público no processo pré-falimentar.

A análise sistemática do art. 15, II, permite concluir que o Ministério


Público somente deveria ter ciência do pedido de falência após a prolação da

39
respectiva decisão de quebra. - O art. 188 do Código Brasileiro de Aeronáutica
veicula mera faculdade do Poder Público de intervir em empresas aéreas,
faculdade essa que não poderia embaraçar a efetividade do DL nº 7.661/45, que
não impunha nenhum empecilho à decretação da falência de empresas aéreas.

O contrato de confissão de dívida é título executivo, podendo executar-se


a nota promissória a ele vinculado. - Não havendo a criação de uma obrigação
nova para substituir a antiga, não há de se falar em novação. - Na sistemática
do DL nº 7.661/45, a nomeação do síndico faz parte do próprio conteúdo da
declaração de falência.

Nos termos do parágrafo 2º do art. 201 do DL nº 7.661/45, “a falta ou


demora da nomeação do fiscal não prejudica o andamento do processo da
falência”. Recursos especiais não providos.

9. APLICAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

A Carta Magna é de suma relevância no decorrer da recuperação judicial


e da falência, principalmente quanto à aplicação de princípios constitucionais ao
Direito e Processo do Trabalho e ao Direito Empresarial, vez que são
fundamentais para o bom andamento processual, da forma mais favorável
possível não somente à empresa, como também ao trabalhador que, conforme
alhures ressaltado, é a parte mais fragilizada desta relação.

De início, deparamo-nos com o princípio do devido processo legal,


elencado no artigo 5º, incisos LIV e LV, da Carta Magna, que tem como corolários
o contraditório e a ampla defesa aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo aos litigantes, com os meios e recursos inerentes. Neste sentido,
consoante o prestigiado doutrinador Alexandre de Moraes, “O devido processo
legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de
proteção ao direito de liberdade quanto no âmbito formal”, assegurando aos
litigantes a paridade com o Estado, sendo concedida a liberdade de defesa e o
direito à publicidade do processo, possibilitando ainda a citação, produção de
provas e dever de ser julgado por Juiz competente. Tais direitos são primordiais

40
para o andamento eficaz do processo de Recuperação Judicial, sendo, portanto,
favorável não somente à empresa, como aos empregados.

Aliás, o princípio em destaque remonta ao princípio disposto no artigo 5º,


inciso II, da Carta Magna, que é o da Legalidade, em que nenhuma pessoa pode
ser obrigada a fazer ou deixar de fazer algo que não esteja expresso em lei.
Inclusive, quanto à sua abrangência, há respaldo nos ensinamentos do mesmo
doutrinador Alexandre de Moraes, quando o mesmo afirma que “O princípio da
legalidade é de abrangência mais ampla do que a do princípio da reserva legal”.
Portanto, temos que a lei é considerada uma norma jurídica aprovada pelo poder
legislativo e sancionada pelo poder executivo, pelo que, pode-se dizer que o
andamento da recuperação judicial, a decretação de falência e a habilitação dos
créditos trabalhistas somente se darão através de expressa previsão legal.

Outro princípio que merece destaque é o da igualdade, proclamada no


próprio artigo 5º, caput, da Constituição Federal de 1988, onde é o Poder Público
é vedado a fornecer tratamento desigual para os cidadãos, sendo todos iguais
perante a lei, sem discrição de qualquer natureza. Deste modo, pode-se notar
que o princípio mencionado é de suma relevância para o bom andamento da
recuperação judicial, nomeadamente quanto aos créditos trabalhistas devidos
aos empregadores.

Na mesma esteira, vale ressaltar o brilhante entendimento do doutrinador


português José Joaquim Gomes Canotilho, quando ensina que “Igualdade é um
pressuposto para a uniformização do regime das liberdades individuais a favor
de todos os sujeitos de um ordenamento jurídico, e os direitos fundamentais são
direitos de todos, são direitos humanos.”

Portanto, é notório que o princípio da igualdade também remonta-nos,


por exemplo, à habilitação dos créditos trabalhistas, vez que nenhum credor,
principalmente trabalhista, deverá ser desmerecido, mas sim fará jus ao crédito
pertinente. Aliás, o princípio em tela poderia ser aplicado da melhor maneira
possível ao solucionar os problemas das empresas em vias de falência, em que
todos os credores trabalhistas possuem os direitos referidos, sem exceções.

Também é perfeitamente aplicável o princípio da razoável duração do


processo, de forma a garantir a celeridade no andamento processual, o que é de

41
suma importância para o processo de recuperação judicial e falência,
considerando novamente como parte fragilizada o empregado, que se encontra
desempregado e portanto, possui direitos e créditos trabalhistas que devem ser
recebidos com a máxima urgência. Ressaltamos que, a Emenda Constitucional
de 2004 teve como um dos principais escopos assegurar a todos a razoável
duração processual, no âmbito administrativo e jurídico.

Aliás, vem-se buscando seguir este princípio nos Tribunais Pátrios, ao


tomar medidas que favorecem a celeridade processual, considerando a
hipossuficiência do obreiro, pelo que, neste sentido, o doutrinador Aldacy Rachid
Coutinho é claro ao ressaltar que “A ausência de postos de trabalho causa a
exclusão social, para além de afetar a saúde mental, pois a perda de
possibilidade de exercer um direito ao trabalho gera um sentimento de
fracasso.” Portanto, considerando o perigo de exclusão social, oriundo do
desemprego, somando-se ao fato de se encontrar em situação financeira
desfavorável, é de grande relevância que o processo seja célere.

Igualmente, acima de tudo, saliente-se que, no decorrer do processo,


mais do que respeitar os princípios constitucionais, deverá ser considerada a
realidade social dos obreiros e assim, novamente, o ilustre doutrinador José
Joaquim Gomes Canotilho remonta-nos à possibilidade de celeridade processual
aliada ao caráter social, quando menciona que: “Procura-se, por outro lado, ir
para além da constitucionalidade como princípio formal de ordem jurídica, tendo
presente a realidade social”.

Em suma, tanto o direito empresarial como o direito do trabalho, estão


fortemente ligados ao direito constitucional, diante de todo o exposto, fica-se a
saber que existem muitos princípios e garantias fundamentais na
nossa Constituição Federal de 1988, que deveriam estar enquadrados no
assunto em destaque, ou seja, nos créditos trabalhistas na recuperação judicial
e na falência. Mas, talvez pela grande demanda, tais princípios, algumas vezes,
não são levados considerados, fazendo com que haja mais burocracia e menos
eficiência, e consequentemente, demora no andamento processual, sendo um
fator prejudicial não somente aos obreiros como às empresas.

42
10. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RECUPERAÇÃO
JUDICIAL E A FALÊNCIA

A Recuperação Judicial é, antes de tudo, um novo instituto, introduzido


pela Lei nº 11.101/2005, o que será amplamente comparado com o antigo
Decreto-Lei nº 7.661/1945, em tópico próprio adiante.

Assim, esta lei pretende inovar o ordenamento jurídico, no sentido de ser


mais benéfica não somente para com os credores, principalmente trabalhistas,
como também para com as empresas, de forma a obter melhoras à saúde
financeira, para que a mesma seja mantida e, consequentemente, continue
gerando empregos.

Segundo Marcelo Papaléo de Souza, “a legislação nacional,


hodiernamente, visa apresentar meios aos empresários viáveis que estão em
situação de dificuldade econômica e financeira passageira, permitindo sua
reestruturação como atividade”.

Neste sentido, será preciso tomar algumas prudências em relação à


recuperação judicial, bem como salvaguardar a recuperação de devedores cuja
situação financeira se encontra comprometida. Assim, a recuperação será de
suma importância para beneficiar não somente os credores, como também os
devedores e, acima de tudo, será favorável para que seja mantida não somente
a empresa, como também, de forma consequente, os empregos e o bem estar
dos empregados como um todo.

Ao analisarmos o artigo 47, da Lei nº 11.101/05, na qual trata da


Recuperação, nos deparamos com o notório escopo de preservação da função
social da empresa, conforme alhures exposto, eis que permitirá a manutenção
da produção e do emprego, sendo, ainda, um incentivo à contínua atividade
econômica, favorável também ao bom desenvolvimento de todo um país.

A doutrina nacional entende, na sua maioria que, tão logo se depare com
dificuldades na empresa, deverá, antes de tudo, haver interesse, vez que quando
não existe interesse, a empresa não merece os benefícios da recuperação

43
judicial, principalmente quando não houve investimentos, levando a crer que não
há solução para tal empresa.

Segundo Marcelo Papaléo Souza, “se ninguém quer a empresa, a falência


é a solução do mercado, e não há por que se buscar a força à sua recuperação”.
Ou seja, para o ilustre doutrinador, não há que falar no deferimento da
recuperação judicial quando não há, acima de tudo, interesse em recuperar.

Já o ilustre doutrinador Fábio Ulhôa Coelho ressalta que “se prevalecer a


racionalidade nos dois lados, quer dizer, se ambos considerarem vantajosa a
transação, a empresa recapitaliza-se e reorganiza-se, continuando a operar, e
deve até mesmo crescer.”. Nesse sentido, é reforçada novamente a ideia de que,
a recuperação da empresa deve partir dos próprios administradores, vez que são
os principais interessados.

Quanto à aplicação da lei em comento, será destinada ao empresário e à


sociedade empresária e ainda, o artigo 2º, da Lei nº 11.101/2005 é claro ao
determinar a exclusão de empresas públicas e de sociedade de economia mista,
bem como instituições financeiras e outras entidades legalmente equiparadas, o
que entra em confronto com a garantia constitucional fundamental elencada no
artigo 5º, inciso XXXV, da Carta Magna, em que a lei não deve excluir da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Na realidade, a recuperação judicial tem como principal escopo a


conservação da empresa, que não deve se confundir com a conservação da
pessoa física ou da pessoa jurídica. Conforme alhures sustentado, o principal
fim é conservar a função social da empresa, e principalmente a manutenção de
sua atividade e os empregos, de modo a beneficiar não somente os
administradores, como também os empregados, auxiliando, inclusive, o
crescimento econômico de todo um país, ao gerar empregos e economia.

Ainda, podemos dizer que a recuperação judicial no ordenamento jurídico


brasileiro, nomeadamente quanto aos requisitos, tem algumas influências do
Direito Alemão, conforme verificamos na doutrina do Advogado Dr. Georg Ann:
“Die Gründe für die Eröffnung sind: Insolvenz (Ist der Schuldner nicht, so wird er
die fälligen Zahlungsverpflichtungen erfüllen); Unzulänglichkeit (Wenn der

44
Schuldner nicht in der Lage ist, können die Zahlungsverpflichtungen zum
Verfallsdatum liegen); und Überschuldung (nur juristische Personen)”

Ademais, tal influência alemã se confirma pela ilustre doutrinadora Dora


Berger, principalmente quando menciona que “o legislador alemão introduziu as
seguintes medidas legais (...) c) Estabeleceu diversas medidas que visam a
evitar a inexistência e/ou insuficiência da massa falida”. Isto porque, o
entendimento ainda foi no ano de 2001, ou seja, na época da vigência do
Decreto-Lei nº7.66111/1945, que, conforme adiante será explorado, era menos
eficaz, porém, atualmente, com a vigência da Lei nº11.10111/2005, este
posicionamento se encontra em perfeita consonância.

Ou seja, basicamente, para que seja dado seguimento à recuperação


judicial, deverá, acima de tudo, ter sobre endividamento, incapacidade de
cumprir com as obrigações e a insolvência do credor, ou seja, estado em que o
devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que receber.

Na recuperação judicial, deverá ter credores que se dividem em


assembleia e subdividem em: classe de deliberação; credores trabalhistas;
credores com garantia real e por fim os credores com privilegio geral ou especial,
quirografários e subordinados, que podem deliberar plano de recuperação tendo
um quórum de maioria simples em todas as classes citadas acima de credores,
desprezando o valor do crédito ou por maioria simples de credores não
trabalhista que considerara o valor dos créditos devidos, sendo possível também
o juiz optar por outra forma.

Ainda, poderá ter comitê com o escopo de fiscalizar a execução do plano


judicial, além das atividades administrativas do administrador. Em seguida, o
Juiz nomeará o administrador, cuja remuneração será no máximo 5% (cinco por
cento) no máximo do crédito devido da empresa de recuperação, e deverá
fiscalizar o plano de recuperação, com a possibilidade de administrar a empresa
quando houver afastamento do administrador originário.

Segundo Marcelo Papaléo de Souza, “a recuperação judicial apresenta


três fases distintas”. Vejamos: a primeira fase é postulatória, onde terá a
instrução da peça de ingresso e o respectivo requerimento da recuperação; já a
segunda fase é deliberativa, ou seja, haverá a discussão acer4ca da

45
possibilidade de aprovação do plano e, por fim, temos a terceira fase, que é a de
execução, em que haverá a fiscalização do plano ora aprovado, e poderá haver
a novação das dívidas anteriores à então recuperação, e assim, o devedor e
todos credores terão que cumprir suas obrigações.

Inicialmente, não deverá ser falido; deve estar 02 (dois) anos na atividade
regularmente no mesmo ramo; não ter requerido a recuperação judicial nos
últimos 05 (cinco) anos (exceto empresa de pequeno porte ou micro empresa,
em que o prazo é de 08 (oito) anos); e, por fim, não ter sócio controlador
administrador condenado por crime falimentar. Em seguida, ações de execuções
serão suspensas, assim como a prescrição contra a sociedade de recuperação.
Contudo, não serão prescritas, por exemplo, ações trabalhistas e de execução
fiscal.

Já a fase de deliberação consistirá na aprovação do plano de


recuperação, cujo prazo será de 60 (sessenta) dias para apresentação, sob pena
de decretação de falência. Caso não seja aceito o plano de recuperação judicial
o recurso cabível é o agravo de instrumento, nos termos dos Artigos 17 e 59, §
2º da Lei nº 11.101.2005. Aliás, tais dispositivos, atualmente, entram em
confronto com o Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015),
nomeadamente quanto ao Artigo 1.015, vez que não está incluído no seu rol o
cabimento do recurso quanto à decisão de recuperação judicial.

Contudo, entendimento jurisprudencial recente do Emérito Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo admitiu a aplicação do dispositivo às decisões
oriundas da recuperação judicial, e está presente no acórdão do Agravo de
Instrumento nº 2084028-08.2016.8.26.0000, 2ª Câmara Reservada de Direito
Empresarial, Desembargador Fábio Tabosa, publicado em 02 de maio de 2016,
nomeadamente quando salienta que “não há óbice à impugnabilidade das
decisões em processo de recuperação por meio de agravo de instrumento, no
âmbito do novo CPC, isso por força da aplicação extensiva da regra do parágrafo
único do referido dispositivo legal”.

Assim que for deferida a recuperação judicial, e decorrido o trânsito em


julgado, permanecerá no prazo de 02 (dois) anos o cumprimento de todas as
obrigações ora assumidas, nos termos do artigo 61, da Lei nº 11.101/2015 e,

46
desta forma, será dedo o início da fase de execução, em que só poderá haver
mudança do plano se respeitar às mesmas regras de sua aprovação, ou seja, as
fases citadas anteriormente, e se houver descumprimento do plano de
recuperação, será decretação de falência do devedor.

A nova Lei de Falência tem como um dos principais escopos evitar o


pedido de falência como mero instrumento de cobrança de obrigação, contudo,
nem sempre é possível o cumprimento do plano de recuperação judicial por parte
das empresas, levando, então, à decretação da falência. Aliás, conforme o
brilhante doutrinador Fábio Ulhôa Coelho, “atendido o valor mínimo, presume-se
absolutamente que a intenção do requerente é a quebra do devedor, não
podendo o juiz perscrutá-la além desse parâmetro objetivo”.

Assim, as obrigações que tinham como previsão vencimentos previstas


para um período superior aos dois anos estipulados pela lei, terão título executivo
judicial pelo valor constante da recuperação e, em consequência, poderão
ajuizar requerimento de falência, com fundamento no rol de incisos do art. 94.

Por fim, tão logo seja decretada a sentença de falência, serão suspensas
as execuções (inclusive fazenda pública), ações líquidas, o direito de retenção
sobre bens sujeitos a arrecadação, o curso dos prazos prescricionais e os juros
contra o falido, bem como haverá o vencimento antecipado das obrigações, a
privação da administração dos bens pelo falido, e a proibição do exercício da
atividade comercial pelo falido.

Em suma, foram expostos os principais aspectos acerca da recuperação


judicial e da falência, pelo que, no tópico a seguir, será dado o início da
abordagem dos créditos trabalhistas, sendo este o principal foco que, conforme
alhures sustentado, em sede de introdução, é de difícil exploração no âmbito
jurídico brasileiro, de forma que merece especial atenção, considerando,
principalmente, o direito do trabalhador ante as dificuldades financeiras do
empregador.

47
11. CRÉDITOS TRABALHISTAS
Recuperação Judicial

Serão submetidos à recuperação judicial todos os créditos existentes,


mesmo não vencidos no dia em que foi feito o pedido de recuperação judicial,
salvo as exceções previstas no artigo 49, § 3º e 4º, da Lei nº 11.101/2015.[25],
ou seja, proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis ou de arrendador
mercantil; proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos
contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade; ou
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio não serão
submetidos, assim como a importância entregue ao devedor, em moeda corrente
nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação.

Ademais, conforme anteriormente sustentado, em tópico próprio, o plano


de recuperação judicial no poderá prever um prazo superior a 30 (trinta) dias
para o pagamento de até 05 (cinco) salários mínimos vencidos a 03 (três) meses
anteriores ao pedido de recuperação judicial, e nem prever um prazo maior de
01 (um) ano para pagamento de créditos oriundos da legislação trabalhista ou
decorrente de acidentes do trabalho, consoante previsão no artigo 54, da Lei nº
11.101/2015.

No mesmo sentido, os créditos trabalhistas vencidos no trimestre anterior


ao pedido de recuperação, deverão ser pagos no prazo de 30 (trinta), e os
créditos vencidos até a data do pedido de recuperação deverão ser pagos no
prazo máximo de 01 (um) ano.

Igualmente, o crédito trabalhista que fora constituído após o pedido de


recuperação judicial, aprovados pela Assembleia dos Credores, valerão como se
fizesse parte do contrato de trabalho, nos termos do entendimento de Fábio
Ulhoa Coelho, quando ensina que “o plano pode estabelecer quaisquer
condições para as obrigações trabalhistas que se vencerem após a distribuição
do pedido de recuperação judicial”.

Ainda, no que tange à classe dos créditos trabalhistas, sejam decorrentes


de relação empregatícia, sejam oriundos de acidente, deverá obedecer à ordem
de preferência, sendo este o posicionamento de Eduardo Câmara: “os créditos
decorrentes de relação de emprego, juntamente com os créditos decorrentes de

48
acidentes de trabalho, compõem a mesma classe, porém, dentro desta, deve ser
observada a ordem de preferência, decorrente da natureza do crédito.”

Portanto, como se não bastasse a prioridade quanto aos créditos, ainda


há que considerar que todo o processo deve se dar da forma mais célere
possível, vez que se trata de crédito para o trabalhador, que é a parte
hipossuficiente diante desta relação.

Aliás, novamente, denota-se a influência do Direito Alemão sobre o nosso


ordenamento jurídico, ressaltado novamente pela doutrinadora Dora Berger,
quando assim destaca: “A execução trabalhista tem como objetivo a celeridade
na satisfação de crédito trabalhista dada a sua natureza alimentar.” . Inclusive,
novamente, o Professor Alemão Dr. Gerog Ann, na sua doutrina, ensina que “Ist
das Arbeitsverhältnis bereits zum Zeitpunkt der Insolvenz beendet, Der Antrag
ist nicht gegen den Insolvenzverwalter, son dern Gegen den Schuldner.

Mais adiante, nos deparamos com a habilitação do crédito trabalhista, cuja


regra seria a apuração da Justiça do Trabalho competente, com o escopo de
averiguar sua liquidez, porém, o nosso Egrégio Tribunal Regional do Trabalho
da 01ª Região tem entendido, ultimamente, que é desnecessário, conforme
verificamos no entendimento jurisprudencial referente ao Agravo de Petição nº
0001520-36.2013.5.01.0341, juízo a quo 01ª Vara do Trabalho de Volta
Redonda/RJ, 05ª Turma, Relator Evandro Pereira Valadão Lopes, publicado em
14 de fevereiro de 2017, in verbis: “A legislação pátria não contém norma
expressa que defina em que momento processual deve a execução primária,
dirigida ao devedor principal, ser redirecionada ao devedor subsidiário”

Vejamos que não se pode exigir do credor trabalhista a obrigatoriedade


de propor ação perante a Justiça do Trabalho, vez que pode ser reconhecido
pelo próprio administrador judicial, inclusive com um simples termo de rescisão
contratual não quitado ou com extratos em que consta a falta de recolhimento do
FGTS, não sendo, portanto, necessário que seja oriundo de título executivo
judicial.

Aliás, a habilitação dos créditos se trata de incidente processual, e o


crédito trabalhista a ser incluído no quadro geral de credores, através de
sentença judicial trabalhista, será o da sentença homologatória da Justiça

49
Especializada do Trabalho. Em regra, as prescrições deverão ser suspensas
durante 180 (cento e oitenta) dias Em seguida, as execuções trabalhistas
poderão ser normalmente concluídas, mesmo com a inscrição do crédito no
quadro dos credores.

Igualmente, mesmo com essa possibilidade, o obreiro não está impedido


de propor ação, tendo em vista o seu enquadramento no Artigo 52, inciso III, da
Lei nº 11.101/2005, e só haverá a suspensão de sua ação respectiva caso haja
alguma interferência nas atividades do devedor.

As execuções individuais contra o devedor são suspensas durante a


recuperação judicial, cujo escopo será lograr êxito na reorganização estrutural
empresarial. Tão logo seja deferido o pedido de recuperação judicial, será
nomeado o administrador judicial, e o Juiz do Trabalho é competente para
reservar o crédito trabalhista, na ocasião da não suspensão da Ação Trabalhista
proposta.

Ainda, o crédito trabalhista líquido, executado na Justiça do Trabalho,


deverá ser cumprido perante o mesmo juízo da recuperação, na forma e
condição prevista, quando da inscrição no plano judicial homologado pelo juiz
nos autos da recuperação judicial.

Tão logo as execuções voltem ao seu curso normal, caso seja


ultrapassado período da suspensão, contado a partir do deferimento do
processamento da recuperação, o devedor deverá apresentar o plano no prazo
de 60 (sessenta) dias após a data do deferimento da recuperação, devendo ser
aprovado num prazo de 04 (quatro) meses, e ultrapassado esse período da
suspensão, as execuções voltarão ao seu curso normal.

Neste sentido é importante o devedor relacionar os seus credores no juízo


da recuperação judicial, para não haver prejuízo ao trabalhador, visto haver
vários devedores que se utilizam à recuperação judicial somente com objetivo
protelar os pagamentos dos seus débitos, por não.

Ademais, quanto às obrigações trabalhistas, a renegociação deverá ser


coletiva, não se permitindo individual, tendo em vista o risco da sua ineficácia.
Aliás, serão considerados diversos fatores, que deverão ser negociados entre os

50
empregados, tais como a compensação de horas, redução de jornada laboral e,
a consequente supressão salarial. Assim, após a negociação, caso haja
necessidade de alguma alteração contratual, deverão ser adotadas providências
cabíveis, mas sem interferência da Assembleia Geral de Credores.

Essa flexibilização dos direitos trabalhistas, é uma espécie de adaptação


às grandes e recentes mudanças no ordenamento jurídico, nomeadamente
quanto ao Direito do Trabalho, instrumentalizada pela Lei nº 13.467 de 2017, que
tem sido amplamente divulgada e discutida. Todavia, mesmo com a
possibilidade de negociação, há que ser respeitadas as garantias e os direitos
fundamentais previstos na Carta Magna, alhures ressaltado em tópico próprio,
considerando que, segundo doutrinador Paulo Dourado de Gusmão, “A
superioridade jurídica desse direito é tal, que todos os demais ramos do direito
público interno e do direito privado têm que se adaptar às suas prescrições, não
podendo violá-las, sob pena de serem inconstitucionais.

Portanto, os direitos mínimos trabalhistas devem ser respeitados por


fazerem parte do rol dos direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988,
vez que não pode infringi-los, sob pena de ser constatada inconstitucionalidade.

Por fim, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias de suspensão das
ações, retoma-se o prazo pelo período restante. Se incluídas no quadro-geral
dos credores, com a competência de seu prosseguimento pelo próprio juiz da
recuperação, caso o plano aprovado ocorrer após o período da suspensão, as
execuções trabalhistas poderão ser normalmente concluídas mesmo que o
crédito esteja inscrito no quadro dos credores.

Todavia, caso restem infrutíferos todos os meios de recuperação judicial


e, portanto, seja decretada a falência, deverá ser respeitada, mesmo assim a
celeridade, como também deverão ser respeitados os direitos do empregado.

51
12. ASPECTOS COMPARATIVOS ENTRE O DECRETO-LEI
Nº 7.661/1945 E A LEI Nº 11.101/2005

Ao longo dos anos, houve diversas transformações no que tange ao


Direito Empresarial Falimentar, nomeadamente a Nova Lei de Falências (Lei
nº 11.101/05). Nesta seção, serão abordados alguns aspectos da nova lei,
comparando-a com a antiga lei falimentar (Decreto-Lei nº 7.661/45), a apontar
também o que evoluiu e o que é preciso mudar.

Segundo o doutrinador Luiz Tzirulnik, a nova lei falimentar começou a ser


projetada há mais tempo, sendo que “o Brasil passou efetivamente a consolidar
a recuperação de empresas apenas em 1993, com a elaboração do Projeto nº
4.376-B, que depois de mais de dez anos de tramitação, transformou-se na Lei
nº 11.101 de 2005.” Ou seja, já havia um projeto de lei para criar essa
recuperação de empresas. Todavia, devido à falta de aplicação do princípio
constitucional da celeridade processual, bastante sustentado alhures, o projeto
ficou bastante tempo em trâmite para enfim ser aprovado e transformado
definitivamente em lei.

O importante na evolução histórica é obter um posicionamento crítico em


relação a todos os prós e contras aos falidos e aos que pleiteiam a recuperação
judicial. Portanto, o Decreto-Lei nº 7.661/45 regia até pouco tempo as relações
falimentares no Brasil, e possuía como um dos seus contra a decretação da
falência ou a concessão da concordata sem uma razão justa. Aliás, com
sustentação no entendimento de Fábio Ulhôa Coelho, o pressuposto de que o
devedor não se arriscaria a pedir a recuperação judicial sob pena de falência é
falso, como, segundo o autor, “não deve ser vista como um valor jurídico a ser
buscado a qualquer custo”.

Uma outra situação que comprovava a impossibilidade temporal e


desfavorecia o devedor era o prazo de defesa com o pedido de falência. É que
o prazo antigamente era de dois dias, ao passo que com a nova lei é de dez dias.
Havia então o pedido de concordata, que sanava apenas os créditos
quirografários, onde o credor não tinha nenhum apoio. Desta forma, um dos seus
defeitos era o envolvimento apenas de uma parcela da dívida não garantida,

52
sendo ainda assim concedido o prazo de dois anos para pagar a dívida da
empresa. Atualmente, é possível compensar as dívidas com o capital, além de
utilizar créditos tributários na recuperação. Além disso, é concedido o prazo para
aquele que a pleiteia poder se recuperar.

Há que se falar na decretação da insolvência, que consiste na perda da


capacidade patrimonial, ou seja, o patrimônio do devedor é inferior às suas
dívidas. Para que seja possível a recuperação da empresa, deve-se focar a
recuperação nas dívidas que a empresa possui e se há a insolvência, sob pena
de a mesma não ser deferida e ser decretada de imediato a falência, o que pode
ser desnecessário. A crise de natureza econômica é para o professor Fábio
Ulhôa Coelho a “retratação considerável nos negócios desenvolvidos pela
sociedade empresária, e a crise é revelada quando a sociedade não tem mais
caixa para honrar com os seus compromissos.”

Agora, a pessoa não somente terá prazo para recuperar a empresa, como
também deverá apresentar um plano de recuperação da empresa. A concordata
da legislação anterior era uma mera concessão de prazo enquanto que a
recuperação é uma concessão de formar um projeto de resgate da empresa, sob
pena de seu indeferimento.

Luiz Tzirulnik ensina que “em direito, a falência se refere ao processo de


excepção coletiva contra o devedor individual ou social que exerce
exclusivamente atividade empresária.” Portanto, a falência, decorrente ou não
da eficiência da recuperação judicial ou extrajudicial, depende apenas do
devedor que deve ser necessariamente um empresário.

Cumpre destacar que, segundo a doutrina de Ricardo Negrão, “devem


concorrer três pressupostos: a qualidade de empresário do devedor, a sua
insolvência e a declaração judicial desse Estado.” Ou seja, a recuperação judicial
só poderá ser movida se o devedor realmente for empresário, bem como a
necessidade desta deverá estar devidamente comprovada.

Na antiga lei falimentar, qualquer que fosse o título protestado, ensejava


pedido de falência por parte de credor. Agora, a presunção de impontualidade
só ocorre se houver dívidas de títulos com valor acima de quarenta salários
mínimos. Se há uma dívida que vem de vários títulos e se a soma não for superior

53
a esse valor, não caberá a decretação de falência do devedor. A falência por
impontualidade tem previsão no art. 94, inciso I, da Lei nº 11.101/2005, que diz
ser possível a decretação de falência de quem não pagar no prazo os títulos
executivos protestados.

Fulcrado no ensinamento de Ricardo Negrão, há a possibilidade de


gratuidade de justiça, em que “a favor do falido, deve-se conceder o benefício da
justiça gratuita em relação à custa do recurso que não pode ser julgado extinto
por falta do pagamento do preparo.”

Ora, no caso em tela, é cabível o recurso de agravo de instrumento,


devendo ser formado por peças indicadas pelas partes, já que, não há sentido
nenhum na interposição do retido, tendo em vista que a sua apreciação, a título
de preliminar, no julgamento de apelação contra a falência, não poderá ser
desconstituída.

Em suma, a nova lei, apesar de ainda ser vagarosa e pouco eficaz, veio
para tentar favorecer a empresa em crise com o plano de recuperação judicial,
restando esperanças de voltar a operar, ao passo que antigamente era pedida a
concordata ou era decretada de imediato a falência, sem recursos e sem
chances de a empresa se reerguer. Assim, pode-se dizer que, simultaneamente,
é mais favorável ao empregado, considerando a nova oportunidade de
recuperação.

13. PRINCÍPIO DA MANUTENÇÃO DA EMPRESA

A partir da entrada em vigor da lei n° 11.101/2005, alterou-se


profundamente a legislação falimentar brasileira, com objetivo de preservar a
atividade produtiva, potencializar o ativo sobre o qual incidem as pretensões dos
credores e prevenir a falência.

A recuperação judicial tem como objetivo solucionar as causas


que levaram a crise econômico-financeira da empresa, resolvendo de maneira
satisfatória seus débitos e evitando assim uma eventual falência e encerramento
das atividades. Nesse sentido João Pedro Scalzilli argumenta:

54
“O princípio basilar da LFRE é o da preservação da empresa,
especialmente diante dos interesses que em torno dela gravitam. Vale dizer, a
empresa é a célula essencial da economia de mercado e cumpre relevante
função social, porque, ao explorar a atividade prevista em seu objeto social e ao
perseguir o seu objetivo de lucro, promove interações econômicas, produção ou
circulação de bens ou serviços com outros agente do mercado, consumindo,
vendendo, gerando empregos, pagando tributos, movimentando a economia,
desenvolvendo a comunidade em que está inserida.”

Destaca-se que um dos princípios principais da recuperação judicial é de


preservar a empresa como unidade de produção, geradora de postos de
trabalho, tributos e riquezas, invocando sua função social e o estimulo a atividade
econômica, conforme exposto no artigo 47 da Lei:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social
e o estímulo à atividade econômica.

Percebe-se que o legislador teve, acima de tudo, uma


preocupação social, pois seu intuito real é de garantir o equilíbrio da economia,
zelando não só pelo interesse de uma classe, ou de classes, mas sim o interesse
de toda a sociedade. Visando primeiramente que a fonte produtora, a empresa,
seja mantida, pois essa é uma fonte mediata, que beneficiará, mesmo que de
forma indireta a sociedade num todo. Segundo Lobo a recuperação judicial é um
instituto que tem por finalidade preservar os negócios e os empregos, a saber:

“A recuperação judicial é o instituto jurídico, fundado na ética da


solidariedade, que visa sanear o estado de crise econômico-financeira do
empresário e da sociedade empresária com a finalidade de preservar os
negócios sociais e estimular a atividade empresarial, garantir a continuidade do
emprego fomentar o trabalho humano, assegurar a satisfação, ainda que parcial,
de um plano de reestruturação e reerguimento, o qual, aprovado pelos credores,
expressa ou tacitamente, e homologado pelo juízo, implica novação dos créditos
anteriores ao ajuizamento da demanda e obriga a todos os credores a ela

55
sujeitos, inclusive os ausentes, os dissidentes e os que se abstiveram de
participar das deliberações da assembleia geral.”

Em ordem, a outra preocupação do legislador é a de manutenção


de empregos, mais uma vez preocupado com as situações sociais, geradas
pelo desemprego, como por exemplo, a marginalização e a desigualdade social,
causada por tal fato. Como observado por Wilson Alexandre Barufaldi:

“O princípio da preservação da empresa, na recuperação judicial, é


peculiar no que tange à sua formatação, pois ao mesmo tempo em que ele indica
um objetivo (fim) a ser almejado- manter a fonte produtora e os empregos-, ele
também pode ser um meio para promover os interesses dos credores.”

Destaca-se ainda que a jurisprudência é clara quanto a


necessidade de observação de tal princípio, como se percebe pelos julgados
abaixo:

Ementa: AGRAVO INTERNO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL AÇÃO


CAUTELAR INOMINADA. LIMINAR. GARANTIA DE FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA. MANUTENÇÃO. A recuperação judicial tem o intuito de
propiciar ao devedor a superação das dificuldades econômico-financeiras,
visando à preservação da empresa e evitando os negativos reflexos sociais e
econômicos que o encerramento das atividades empresariais poderia causar.
Princípio da preservação da empresa. Inteligência do art. 47, da Lei nº
11.101/2005. II. Portanto, descabe a discussão sobre a qualidade do crédito em
discussão em sede de ação cautelar, o que deverá ocorrer através dos meios
próprios previstos na lei que regula a recuperação judicial e a falência e no
Código de Processo Civil. III. Deve ser garantido o fornecimento de energia
elétrica, por se tratar de serviço essencial, de modo a viabilizar a manutenção da
empresa recuperanda e fazer cumprir os objetivos da Lei nº 11.101/2005.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (Agravo Nº 70064837222, Quinta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Julgado
em 24/06/2015)

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO. SUJEIÇÃO


DE CRÉDITO GARANTIDO POR CESSÃO FIDUCIÁRIA AO PROCESSO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AUSÊNCIA DE REGISTRO. MULTA.

56
POSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. 1. Recurso
julgado prejudicado na parte em que houve reconsideração da decisão recorrida
por parte do juízo recorrido. 2. Decisão que tem por finalidade assegurar a
possibilidade de superação da situação de crise econômico-financeira da
agravada, permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação
da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 3.
Considerando que não há nos autos prova de que as Cédulas de Crédito
Bancário foram registradas no Ofício de Registro de Títulos e Documentos do
domicilio da recuperanda, requisito indispensável para admitir a condição de
proprietário fiduciário do agravante (Art. 1.361 CC), inviável a admissão desses
títulos como crédito extraconcursal à luz das disposições do § 3º do art. 49 da
Lei 11.101/05. 4. Cabimento de multa diária para o caso de descumprimento da
ordem judicial. Manutenção do valor da multa diária para o caso de
descumprimento, eis que adequada à espécie e finalidade do instituto.
RECURSO PARCIALMENTE PREJUDICADO E, NO RESTANTE,
DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70064640477, Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em
29/07/2015).

Sendo assim, mostra-se claro que o princípio da proteção da empresa é


de grande importância dentro da recuperação judicial já que exercício da
atividade comercial gera uma reação em cadeia produtora de riqueza, já que
movimenta e economia, gerando empregos direta e indiretamente.

57
14. A PROTEÇÃO AO TRABALHADOR

O Direito do Trabalho é regido por um princípio basilar; qual seja o


princípio da norma mais favorável (também conhecido como princípio do in dúbio
pro operário) que explicita que a dúvida que surgir deve ser solucionada de
molde a não prejudicar o empregado. Arnaldo Sussekind ao comentar sobre o
assunto afirma que: “A necessidade de proteção social aos trabalhadores
constitui a raiz sociológica do Direito do Trabalho é imanente a todo o seu
sistema jurídico”.

Com a criação do instituto da Recuperação Judicial quis o


legislador proteger também o trabalhador, como observado por João Pedro
Scalzilli:

“Quis o legislador proteger, também, aqueles que trabalham na empresa


assolada pela crise, como já ocorria na vigência da lei anterior. É o princípio da
proteção do trabalhador, consubstanciado em vários dispositivos da LFRE, entre
eles na própria classificação do crédito trabalhista no quadro dos credores
concursais: em primeiro lugar entre os créditos concursais (art. 83, I – além do
previsto no art. 151, que prevê o pagamento imediato de determinadas verbas
salariais), principalmente em razão da sua natureza eminentemente alimentar e
da conhecida hipossuficiência do trabalhador, que não consegue negociar
garantias em seu contrato de trabalho, tampouco embutir em sua remuneração
uma taxa de risco, tal como o fazem as instituições financeiras e os grandes
fornecedores, por exemplo.”

Assim, percebe-se que o princípio da manutenção da empresa e da


proteção ao trabalhador andam juntos nesse instituto, como afirma Manoel
Justino Bezerra Filho, “a Lei, não por acaso, estabelece uma ordem de
prioridades na finalidade que diz perseguir, ou seja, colocando como primeiro
objetivo a ‘manutenção da fonte produtora’, ou seja, a manutenção da atividade
empresarial em sua plenitude tanto quanto possível, com o que haverá
possibilidade de manter também o ‘emprego dos trabalhadores’. Mantida a
atividade empresarial e o trabalho dos empregados, será possível então
satisfazer os ‘interesses dos credores’.

58
Ademais, na recuperação judicial o devedor (empresário individual ou
sociedade empresária), terá o prazo máximo de um ano para o pagamento dos
débitos trabalhistas, vencidos até a data do pedido de recuperação:

“Art. 54 – O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo


superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho vencidos até a data do pedido
de recuperação judicial.”

A exceção a esta regra vem tratada no parágrafo único do artigo 54


mencionado, onde se diz que “o plano não poderá, ainda, prever prazo superior
a 30 (trinta) dias para pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários mínimos por
trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3(três)
meses anteriores ao pedido de recuperação judicial”.

Vale observar ainda que a expressão créditos derivados da legislação do


trabalho não tem sentido amplo, não envolvendo as outras relações de trabalho
abrangidas pela nova competência material da Justiça do Trabalho, por força da
Emenda Constitucional n. 45/2004. Tem, sim, sentido restrito, para abranger,
exclusivamente, os direitos devidos aos empregados celetistas.

Sendo assim, observa-se a natureza alimentar do crédito trabalhista faz


dele um crédito superprivilegiado, no sentido de que o seu pagamento deva ser
quase imediato. Como bem explicado por Gladston Mamede trata-se de um
benefício ex personae:

“Trata-se de um benefício ex personae, ou seja, de preferência não ao


crédito trabalhista em si, mas a pessoa do trabalhador, certo de que o § 4o do
artigo 83 da Lei 11.101/05 prevê que os créditos trabalhistas cedidos a terceiros
serão considerados quirografários, ou seja, que perderão a sua preferência.
Garante-se, assim, a manutenção da ideia de proteção ao trabalhador, a sua
pessoa, e não ao seu crédito, sem que, no entanto, seja ele expropriado do
mesmo: pode até cedê-lo mas o cessionário não estará, por certo, pretendendo
crédito alimentar e, portanto, não fará jus a preferência.”

Ademais, percebe-se que o crédito trabalhista por não ser liquido que as
ações trabalhistas não se suspendem com o deferimento do pedido de

59
recuperação. As ações prosseguirão na Justiça do Trabalho naquele Juízo, até
a apuração do valor da condenação e inscrição no quadro-geral de credores pelo
valor determinado em sentença. Ou seja, percebe-se ai outra vantagem do
credito trabalhista, visto que o mesmo foge da regra do artigo 6º, § 4º, da Lei nº
11.101/2005:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento


da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e
execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do
sócio solidário.

(...)

§ 4º Na recuperação judicial a suspensão de que trata o caput deste artigo


em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta)
dias contados do deferimento do processamento da recuperação,
restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou
continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento
judicial.

Importante frisar, ainda que os créditos trabalhistas constituídos após o


pedido de recuperação judicial não farão parte do plano e nem sofrem os seus
efeitos, tendo forma privilegiada de pagamento como crédito extraconcursal.
Assegurados, portanto, aos empregados que tenham seus contratos de trabalho
rescindidos após o pedido de recuperação judicial, o pagamento da integralidade
de seus créditos trabalhistas.

60
15. EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E DA FALÊNCIA
SOBRE O PROCESSAMENTO DOS FEITOS NA JUSTIÇA DO
TRABALHO

A presente exposição não abarcará todas as controvérsias que envolvem


a recuperação judicial, extrajudicial e a falência do empresário ou da sociedade
empresária, mas apenas as questões estritamente ligadas ao tema proposto, ou
seja, os efeitos da recuperação judicial e da falência sobre o processamento dos
feitos na Justiça do Trabalho.

Toda vez que surge um instituto jurídico novo dispondo sobre um tema
jurídico que, no passado, também mereceu a consideração do legislador
positivo, a primeira indagação que nos vem à mente é a de saber se o direito
atual inovou para melhor ou se piorou o direito anterior, peculiaridade que será
apreendida durante a abordagem do presente tema.

Na vigência do direito anterior, consubstanciado no decreto-lei 7.661/45 a


intenção do legislador era visivelmente proteger o direito de crédito, razão pela
qual assegurava todos os meios legais para que os credores recebessem seus
haveres, mesmo diante do sacrifício integral da empresa, eis que o crédito
exerce papel importante no meio jurídico, como elemento garantidor da
aquisição de bens e da circulação de riquezas, e sua garantia constitui elemento
sintomático da normalidade da vida empresarial.

No direito atual, consubstanciado na lei 11.101/05, que extingue tanto a


concordata preventiva como a suspensiva, o intuito do legislador não é o de
preservar a satisfação dos créditos dos credores a qualquer custo e sim de
viabilizar a recuperação judicial ou extrajudicial do devedor em dificuldade
financeira, com o propósito de evitar ao máximo a decretação de sua falência,
pois parte efetivamente do princípio de que a preservação da empresa é muito
mais interessante para a sociedade porque ela privilegia os postos de trabalho,
mantém o pagamento de impostos e garante o exercício do papel social da
empresa com o consequente estímulo à atividade econômica.

61
A ênfase da recuperação judicial ou extrajudicial parte do princípio de que
é mais fácil salvar o enfermo do que ressuscitar o morto, sendo que uma vez
salva a empresa, enquanto possível utilização de meios jurídicos pra este fim, o
objetivo não é liquidar para repartir, mas de conservar para salvar e ter melhores
proveitos econômicos para todos.

Nessa linha de raciocínio, tanto a recuperação judicial como a


extrajudicial, nos termos do artigo 47 da lei 11.101/05, "tem por objetivo viabilizar
a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir
a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o
estímulo à atividade econômica".

16. RECUPERAÇÃO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL

Trata-se de medidas judiciais para evitar que a crise na empresa venha a


provocar a falência. Fazem parte do plano de recuperação da atividade
econômica.

Para adquirir legitimidade para o processo de recuperação judicial,


precisa atender os seguintes requisitos de forma cumulativa:

• Não pode estar falida

• Deve estar explorando atividade econômica

• Não ter obtido recuperação judicial a menos de 5 (cinco) anos

• Não ter obtido concessão de recuperação judicial com base no plano


especial a menos de 8 (oito) anos

• Sócio ou administrador não ter sido condenado pelos crimes previstos


na lei de falência.

Todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos,


são incluídos no pedido de recuperação judicial.

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As microempresas e as empresas de pequeno porte podem apresentar
plano especial de recuperação judicial. O pedido de plano especial não suspende
o curso da prescrição, nem das ações de execuções por créditos não
abrangidos.

 FALÊNCIA NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

O juiz ira decretar falência nos casos de:

• Acordo na assembleia geral dos credores;

• Omissão do plano por parte do devedor;

• Rejeição do plano de recuperação;

• Falta de apresentação das certidões;

• Descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano;

 RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Plano aceito pelos credores nele indicado, que poderá ou não ser
homologado pelo judiciário. Sua implementação não é obrigatória.

A vantagem, é que envolve um procedimento muito mais rápido e


financeiramente mais atrativo. É mais cômodo para as empresas pequenas, pois
não precisa de unanimidade entre os credores e as despesas são muito
menores, além de ser menos burocrática.

 EFEITOS

A partir da sua edição, a pessoa, os bens e os atos jurídicos e os credores


do empresário falido são submetidos a um regime jurídico especifico.

É criada uma massa falida subjetiva, suspensão das ações individuais,


suspensão dos juros, exigibilidade antecipada dos créditos contra o devedor, os

63
sócios passam a ser ilimitadamente responsáveis e administradores solidários.
É suspensa a prescrição e arrecadação dos bens do devedor.

Ficam inabilitados temporariamente da prática de atividade empresarial,


até a sentença extintiva de suas obrigações.

 OBRIGAÇÕES:

Os bens do devedor são arrecadados e entregues para a massa.

No caso de sócios solidários e ilimitadamente responsáveis, por exemplo,


poderão ter seus bens particulares arrecadados.

O sócio que se retirou da sociedade há menos de dois anos, poderá ter


seus bens alcançados, no caso de dívidas existentes na data do arquivamento
da alteração do contrato.

17. EMPRESAS RECUPERADAS POR TRABALHADORES –


ERTs

Uma forma de reorganizar e dar continuidade nos negócios seria a


recuperação da empresa pelos seus trabalhadores, que basicamente seriam os
trabalhadores tomando-se os gestores da empresa, que em muitas vezes acaba
sendo não só uma alternativa, mas a melhor forma de manutenção dos negócios
e dos postos de trabalho, e assim evitando o forte impacto que teria o
fechamento de uma empresa, seja na renda de seus trabalhadores, no
recebimento de valores por parte dos credores, de clientes que contavam com a
empresa para seguirem com seus próprios negócios entre outros, por isso então
sendo uma alternativa viável, os trabalhadores em muitos casos tomam as
rédeas do negócio quando outras alternativas não dão melhores expectativas
para todos os interessados.

64
A experiência na Recuperação de Empresas por Trabalhadores é algo
que vem de muito tempo, mas teve um grande crescimento e evidencia por conta
de crises, como por exemplo, na difícil fase econômica presenciada no Brasil nos
anos 80 e 90 e ou na Argentina por conta de crise no início dos anos 2000, mas
atualmente ela é cada vez menos utilizada.

Entre os anos 80 e 90 as empresas no Brasil enfrentavam momentos


muito difíceis, como reflexo da grave crise econômica enfrentada em todo o país
naquele período, e nisto muitas empresa vieram a decretar falência, causando
entre outras impactos um grande aumento no desemprego, e como a crise era
de modo geral, os trabalhadores nem mesmo possuíam boas expectativas de
retorno ao mercado de trabalho em um curto prazo de tempo.

A falta de expectativa em um futuro próximo, a necessidade de muitas


vezes se buscar auxilio na justiça para recebimento de seus direitos, ou em
casos de trabalhadores que recebiam como pagamento de dívidas trabalhista,
os direitos sobre instalações, maquinas e etc., e aliada a outras questões,
cresceu a ideia de os trabalhadores com ajuda fundamental dos sindicatos,
começarem a se organizar e formar cooperativas ou associações, a fim de
assumir e controlar a empresa que de outra forma teria seu fim eminente.

Esta alternativa surgia entre outras, mas cada vez mais se acreditava que
poderia ser possível a manutenção dos postos de trabalho através do controle
dos trabalhadores, e desta forma continuava viva a esperança de manter o
recebimento de proventos para o sustento além de outras questões muito
relevantes trazidas pela auto-gestão pelos funcionários.

O processo pode ocorrer, por exemplo, com organização por parte dos
trabalhadores para constituírem uma nova empresa, visando arrendar meios de
produção da empresa, mas para isso é de fundamental importância que os
funcionários tenham consciência da situação econômica e financeira da entidade
a qual trabalham e que pretendem se tornar o gestores, e nesse ponto também
já deve ser de conhecimento dos sindicatos por pontos reconhecidos tanto pelos
trabalhadores como pelo próprio sindicato, como atraso no pagamento dos
vencimentos, não recolhimento de FGTS, férias coletivas em demasia, cessação
de alguns serviços básicos como segurança, serviços médicos e outros.

65
Como os trabalhadores de modo geral não tem o conhecimento ou
expertise necessários para iniciarem e seguirem com a recuperação, o sindicato
por exemplo contando com ajuda de algum órgão que lide com autogestão, pode
iniciar o processo, que em um primeiro momento pode ser de negociação com
os donos da empresa, demonstrando que a autogestão pelos trabalhadores
pode ser a alternativa contraria ao fechamento, e que com isso poderiam dar
continuidade ao negócio.

Os trabalhadores podem se organizar e solicitar arrendamento da massa


falida aos encarregados legais do processo de falência da empresa, e diversos
pontos deverão ser levados em conta e analisados durante a negociação, pois
não seria somente os funcionários “quererem” recuperar a empresa, por isso a
necessidade de se fazerem estudos e levantamentos sobre se é viável do ponto
de vista econômico, há também negociações a serem feitas com clientes e
credores, pois estes têm grande interesse na forma como serão continuados ou
não os negócios da empresa, pois os credores esperam receber seus devidos
valores, e clientes esperam ainda fazer negócios com a empresa, pois
dependem dela também para manter seus próprios negócios.

Sendo comprovada a viabilidade do negócio, é de suma importância o


arrendamento dos meios da empresa sem que haja a interrupção de suas
atividades, pois com a interrupção, se ocorrer em uma indústria, por exemplo,
pode haver sucateamento ou avaria de maquinário por falta de manutenção
adequada, se prestador de serviço pode ocorrer a perda de clientes que não
podem aguardar os serviços voltarem e acabam buscando outros fornecedores
ou prestadores de serviço.

Em sequência, ocorre a tomada dos trabalhadores na gestão dos


negócios, em que a transferência dos meios de produção pode ocorrer após a
liquidação dos ativos, e em muitos casos os trabalhadores tinham de participar
do processo de venda e tendo concorrência de outros interessados, o que torna
o processo em algo não tão simples, e por conta desta concorrência poderia
ocorrer tomadas a força por parte dos trabalhadores, tentando assim fazer
pressão para valerem seus direitos para não interromper as atividades da
empresa ou impedir que outros pudessem tomar posse da mesma, pois isto

66
colocaria em forte risco a manutenção de seus postos de trabalho e por
consequência sua fonte de renda.

Neste ponto é vital a participação dos sindicatos, com seus preparo e


conhecimentos para demonstrar que a recuperação por parte dos trabalhadores
em uma autogestão não seria apenas mais uma alternativa, mas uma real forma
de beneficiar a todos os envolvidos no processo para que a entidade tenha
continuidade.

Na pratica o processo é muito mais complexo, e para dar o suporte


necessário aos trabalhadores que viessem a tentar esta autogestão como
alternativa de sua sustentabilidade, surgiram órgãos que tinham o intuito de
prover esta ajuda, como o nascimento da ANTEG(Associação Nacional de
Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária) na
primeira metade dos anos 90, em que esta associação que surgiu pelas mãos
de líderes sindicais, promovia e ainda promove, o auxílio na recuperação de
empresas pelos seus trabalhadores, seja com suporte nas negociações com
antigos proprietários seja com sua expertise técnica aos funcionários que não
possuem de forma geral o conhecimento necessário para gerir uma empresa
seja qual for o ramo ou tamanho, e também outras formas de auxilio que tenham
como objetivo a autogestão pelos trabalhadores.

Surge alguns anos depois, a UNISOL(União e Solidariedade das


Cooperativas do Estado de São Paulo), que apesar de ter iniciado auxiliando
basicamente trabalhadores do estado de São Paulo, com o tempo se tornou
nacional, dando suporte a empresas de vários estados, e dentre as várias formas
de apoio aos trabalhadores que possui em comum com a ANTEG, a UNISOL
também faz uma forte divulgação desta que nasceu como uma alternativa e
acabou se tornando uma realidade, não só do Brasil mas em muitos países, e
além destas duas citadas como exemplo, existem muitas outras organizações,
associações que possuem a mesma motivação de dar suporte aqueles que
optam por esta alternativa.

Uma grande pesquisa que possuía a frente dos estudos mais de dez
universidades do país culminou no livro: EMPRESAS RECUPERADAS POR
TRABALHADORES NO BRASIL. 1. ed. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013, e este

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traz uma enorme contribuição para se entender este fenômeno, em que o
resultado é uma rica fonte de dados e que demonstra de forma completa como
um grande número de empresas saiu de uma falência eminente para uma nova
fase em suas histórias.

Sabe-se através deste estudo que a maioria das quase 70 ERTs


identificadas na pesquisa concentram-se no sudeste, seguidas do sul, nordeste,
norte e centro-oeste, que entre as ERTS o começo do processo ocorreu não só
pela motivação após ou durante o fechamento da empresa, mas também pela
necessidade de sobreviverem de alguma forma e pensarem em alternativas
diferentes, ou até a mesmo pela a vontade de terem seu próprio negócio, ou que
os principais ramos de empresas recuperadas por trabalhadores até então era:
Metalurgia, Industrias têxteis/confecções, alimentação entre muitas outras.

Algumas das empresas recuperadas são: Cobertores Parayba,


Coopertextil, Uniforja, Alumifer, Coopershoes entre muitas outras.

De várias formas uma recuperação bem sucedida por trabalhadores pode


trazer benefícios, além é claro da manutenção dos empregos daqueles que
recuperaram a empresa, o conhecimentos adquirido pela experiência da gestão,
mesmo tendo ajuda de algum como as citadas UNISIOL ou ANTEG, os
funcionários certamente terão um grande aprendizado de rotinas e tudo mais o
que envolve ser gestor, pois ao terem de se deparar com a necessidade de
serem os gestores, tem-se um crescimento tanto profissional como de ideias, já
que a visão agora deve ir muito além do trabalho focado no salário do fim do
mês, mas agora o objetivo e responsabilidades vão muito além. A recuperação
bem sucedida também afeta clientes que mantém seus negócios com a
empresa, fornecedores que mantém sua própria receita com a manutenção de
um cliente, o governo que recebe seus tributos tanto da empresa quanto de
forma direta ou indireta dos seus funcionários, que de outra forma por conta do
desemprego não estariam contribuindo de forma plena, e muitas outras são as
vantagens obtidas se a recuperação for bem encaminhada.

Mas assim como em qualquer negócio, esta recuperação pode não dar
certo, ou pode dar certo no início, mas não se sustentar por muito tempo, e entre
os motivos podemos citar a falta de apoio do estado com benefícios, ou linhas

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de credito mais flexíveis, por exemplo, mas este é um risco inerente a qualquer
empresa, seja ela uma recém constituída, seja uma empresa recuperada por
seus trabalhadores, ou uma empresa que nunca enfrentou graves crises.

De qualquer forma não uma certeza de que a recuperação não venha a


dar certo, assim como não se pode ter a certeza de que valerá a pena, mas é
sabido de que houve ganhos de várias maneiras para a maioria dos que puderam
participar de uma recuperação na própria empresa, e que vieram a se tornar
gestores no que antes eram somente colaboradores.

Atualmente o número de empresas que passam por recuperação pelos


trabalhadores é muito pequeno e diminui cada vez mais as não somente pelas
dificuldades encontradas, mas em boa parte por conta das mudanças no
Decreto-lei nº 7.661/45, que culminou na Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de
2005. Recuperação Judicial e Extinção da Concordata. Recuperação
Extrajudicial.

Com as modificações, foram facilitadas por exemplo as negociações entre


credores e empresas, além de outros benéficos que tem como objetivo evitar
que uma empresa acabe por decretar falência, e assim possam ser mantidos os
empregos de seus funcionários, o que salvou muitas empresas assim como
funcionários ligados a elas, que puderam manter seus empregos, e como
consequência a recuperação pelos trabalhadores diminui cada vez mais, uma
vez que os próprios proprietários possuem maiores condições de recuperarem a
empresa a beira da falência.

18. PLANO DE RECUPERAÇÃO

O plano de recuperação da empresa deve demonstras as medidas a


serem tomadas para contornar a crise. Neste plano é preciso demonstrar a
viabilidade da continuação das atividades, pois dependerá de aprovação dos
credores na recuperação extrajudicial e pelo juiz no processo judicial. Para
melhor entendimento vamos criar exemplo de um plano de recuperação.

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A empresa Nunes e Souza Ltda – EPP entrou em uma grave crise
financeira após operar por um período de dois anos com prejuízos consecutivos,
isso fez com que a empresa acumulasse dividas juntos aos seus fornecedores e
dificuldades em adquirir crédito no mercado situação que estava inviabilizando a
continuidade de suas atividades. Diante desta situação e ameaça dos credores
em solicitar a falência, os sócios reuniram com o administrador e o contador da
empresa e juntos estruturaram o plano de recuperação como segue.

Viabilidade do negócio: Os dados colhidos demonstram a possibilidade


de incremento no faturamento, pois se verificou nichos de mercado na área de
atuação da empresa com possibilidade de criação de novos serviços.

Redução dos custos de produção: Será preciso enxugar o quadro de


pessoal em todas as áreas: administrativo, vendas e produção. Aquisição de
maquinas mais modernas com tecnologias avançada que permitam aumento da
produção, com redução do consumo de energia e diminuição da média de erro.

Criação de parcerias: Para obter maior aproveitamento da capacidade


produtiva instalada, com a prestação de serviços a terceiros cria-se uma nova
fonte de receita e também a possibilidade de criação de novos produtos.

Condições de pagamentos das dívidas de acordo com a


classificação dos credores:

Credores trabalhistas: Devido a necessidade de redução imediata de


pessoal, a empresa propõe prazo de máximo de um ano para quitação das
verbas rescisórias e indenizatórias.

Dividas com garantia real: A empresa solicita a este grupo carência de 12


meses e 120 parcelas mensais consecutivas.

Credores Quirografários: Fornecedores: A empresa propõe as mesmas


condições de 12 meses de carência e 120 parcelas mensais consecutivas, aos
credores de pequenos valores este prazo será menor pois as parcelas a serem
pagas por fornecedor não serão inferiores a R$ 50,00.

Credores tributários: O passivo tributário será parcelado na forma e nos


prazos determinados pelo Código Tributário Nacional pelos programas de
parcelamento oferecidos pela União, Estado e Município.

70
Juros e Encargos: A empresa oferece juros de 6% a.a., sempre incidente
sobre o saldo devedor, acrescido da taxa referencial, a ser quitado no final do
prazo de recuperação.

As planilhas com os valores devidos, parcelas mensais a serem pagas e


projeção de receita serão anexadas ao processo para serem analisadas pelos
credores ou juiz.

71
19. CONCLUSÃO

Da melhor maneira possível, foram expostas as principais ideias e motivos


que conduziram o desenvolvimento desse artigo, com o escopo de salientar a
resposta a várias problemáticas aqui tratadas, de forma a chegar a uma
conclusão acerca do assunto tratado.

A economia brasileira tem enfrentado uma avassaladora crise,


principalmente nos últimos 02 (dois) anos, arruinando empresas de grande
nome, mesmo com a Nova Lei de Falências, que procura solucionar problemas
empresariais (e no caso, também trabalhistas) com o fim de evitar a falência que,
infelizmente ocorreu com algumas empresas.

Como não poderia deixar de ser, foi muito discutida a Lei nº 11.101 de
2005, principalmente no que diz respeito à sua eficácia. Também é óbvio que,
no início do artigo, não deixei de abordar os princípios e garantias constitucionais
que poderiam ser mais bem aplicados ao caso, ou seja, onde os princípios
entram em conflito com a aplicação da Nova Lei de Falências na solução da
decadência de diversas empresas

Sendo assim, foi constatado que há sim a falta de aplicação de tais


princípios, principalmente quanto à celeridade processual, ou seja, a devida
duração do processo, e portanto, diversas empresas não resistiram e faliram.

Mais uma vez no que toca à Lei nº 11.101/05, foi feita uma comparação
entre esta e a lei anterior, o Decreto-Lei nº 7.661 de 1945, a apontar o que
progrediu e o que ficou estagnado, ou seja, o que deveria ser melhorado e não
foi.

De um modo geral, a conclusão que se chegou ao término deste trabalho


é que há de fato a econômica a nível nacional, e paralelamente a tal fato, certa
demora na aplicação da lei falimentar, que não evitou a falência de grandes
empresas. Também foi abordado que, apesar de nos depararmos com a
Reforma Trabalhista, aprovada neste ano, não se pode deixar de considerar
princípios e garantias constitucionais, que continuam sendo de hierarquia

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superior, principalmente para beneficiar os cidadãos, nomeadamente como
trabalhadores. Além disso, foi verificado o quanto ainda é burocrática e
inconstitucional a limitação de créditos trabalhistas, principalmente quando se
trata do trabalhador como parte hipossuficiente.

Contudo, ainda resta uma esperança de haver maior eficácia no nosso


ordenamento jurídico, para que a economia volte a obter crescimento, e,
portanto, continue gerando cada vez mais empregos e consequentemente,
melhores condições para os trabalhadores.

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20. REFERENCIAS

CARMO; Júlio Bernardo do. Efeitos da recuperação judicial e da falência


sobre o processamento dos feitos na Justiça do Trabalho. O desembargador
Federal tece considerações sobre o instituto jurídico da recuperação judicial e da
falência no que refere aos créditos trabalhistas. Sexta-feira, 28 de outubro de
2011. Acessado em 11/06/2020. Disponível
em:<https://www.migalhas.com.br/depeso/144109/efeitos-da-recuperacao-
judicial-e-da-falencia-sobre-o-processamento-dos-feitos-na-justica-do-
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dificuldades. 02/2013. Fundação Getúlio Vargas. Acessado em 11/06/2020.
Disponível em:<https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/direito das
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judicial e falência. Aspectos sobre a sua prioridade e eficiência. Publicado
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extrajudicial do empresário e da sociedade empresária, segundo a Lei nº 11.101,
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Incorporação e Cisão e o Planejamento Tributário. Acessado em 11/06/2020.
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recuperação judicial. Publicado em 03/2016. Acessado em 11/06/2020.
Disponível em:<https://jus.com.br/artigos/47220/a-protecao-ao-trabalhador-em-
face-da-recuperacao-judicial>.

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