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Contratando Inovação no
Setor Público
Conteudista/s
Tânia Lopes Pimenta Chioato (conteudista, 2023).
Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1: Aspectos Relevantes sobre Inovação................................................... 6
Unidade 1: O que é Inovação?................................................................................. 6
1.1 Inovação Incremental, Radical e Aberta................................................................... 8
1.2 Diferença entre Contratação de Inovação e Inovação na Contratação.............. 11
1.3 Inovação da Oferta Versus Inovação da Demanda ............................................. 15
1.4 Risco Tecnológico e Níveis de Maturidade Tecnológica (TRL) ............................. 17
Referências ............................................................................................................. 26
Este curso tem por objetivo capacitar agentes públicos para a realização de
contratações com base na Lei Complementar nº 182/2021, o Marco Legal das
Startups, com mais segurança, seguindo boas práticas que podem ajudar a alcançar
os resultados desejados e garantir a transparência do processo de contratação.
Para atingir esse objetivo, o curso está dividido em três módulos, cada um com
tópicos que combinam leitura, estudos de caso, exemplos práticos, videoaulas e
podcasts. Ao final de cada módulo, há exercícios de avaliação com feedbacks.
Ao concluir esse curso, espera-se que você seja apto a mapear problemas concretos
e relevantes de sua organização, reconhecer oportunidades de inovação e conduzir
adequadamente processos de contratações com base no Marco Legal das Startups.
Agora é hora de continuar seu aprendizado sobre o tema deste curso. Conheça o
que foi preparado para você. Bons estudos!
Objetivo de aprendizagem
O mais direto e preliminar deles diz respeito ao que se entende por INOVAÇÃO.
O Referencial Básico do Programa de Inovação do TCU (2017) buscou responder a
essa questão passando pelos conceitos de imaginação e criatividade.
A criatividade consiste
em pensar em coisas
novas, enquanto a
inovação está relacionada
a fazer coisas novas.
Compreendida uma conceituação inicial sobre inovação, ainda que não seja
estanque e absoluta, já é possível perceber que a literatura sobre o tema se
concentra na aplicação prática de ideias, com vistas a implementar melhorias nas
organizações, permitindo-lhes agregar valor à sua missão e às entregas para a
sociedade, sobretudo nas organizações públicas.
Radical
A inovação radical, por sua vez, consiste em uma transformação mais profunda,
mudando completamente a forma como as necessidades das organizações
são atendidas por meio de produtos, serviços ou processos. No entanto essa
transformação exige um maior investimento em pesquisa e desenvolvimento,
além de envolver maiores riscos. Por outro lado, tem maior potencial de
revolucionar mercados e permitir a escalabilidade de novas tecnologias.
• hackathons,
• crowdsourcing,
• comunidades de prática; e
Logo do TáxiGov.
Fonte: UFC (2019).
TaxiGov
Apesar de ter sido reconhecido por sua inovação e recebido prêmios, é um exemplo de
inovação incremental em que o Estado utiliza opções já disponíveis no mercado, mas com
algumas adaptações importantes e significativas para atender às suas necessidades.
A contratação de inovação, por outro lado, está mais relacionada à inovação radical
ou disruptiva e pressupõe a inserção de novos produtos e serviços no mercado,
desenvolvidos com o financiamento e o compartilhamento de riscos com o Estado
e visando à solução de um desafio concreto. Em outras palavras, a contratação
de inovação confere muito mais liberdade de meios e rotas tecnológicas ao
contratado ou parceiro do que a contratação inovadora.
Isso ocorre porque reconhece-se que os atores de mercado e científicos podem ter
informações assimétricas em relação ao Estado e, por isso, podem propor soluções
alternativas mais eficazes do que as previstas pelos editais e termos de referência.
Essas empresas também têm o objetivo de crescer pelo menos dez vezes em um
curto espaço de tempo, tornando-se mais eficientes, rápidas, baratas e lucrativas.
Organizar a
Ideias que merecem Tornar a invenção
informação
ser espalhadas acessível
do mundo
Apesar de a inovação disruptiva promovida por meio das PPI ter alto potencial de
impacto e transformação, é certo que os riscos envolvidos ainda assustam gestores
públicos e até mesmo órgãos de controle.
Dessa forma, é fácil entender que a utilização estratégica dessa potencialidade teria
efeitos transformadores importantes para qualquer nação. Em vez de gastar uma
parte significativa do orçamento público apenas financiando pesquisas científicas —
que é um aspecto extremamente relevante da política pública de ciência, tecnologia
e inovação —, há um montante ainda maior de gastos voltados à manutenção da
máquina pública e suas políticas sociais, que estão claramente subutilizados.
A inovação não deve ser buscada a qualquer custo, mas sim como
uma ferramenta poderosa para solucionar desafios relevantes
que ainda não foram adequadamente atendidos pelas formas de
contratação e opções de mercado disponíveis.
A inovação pelo lado da demanda, promovida pelo Estado, tem como objetivo
direcionar o financiamento público para o desenvolvimento de novos produtos
e serviços que atendam às necessidades dos usuários governamentais, mas que
também tenham potencial de atender às demandas do mercado privado e boas
chances de escalabilidade.
Risco Tecnológico
[...]
Observe que soluções com baixo nível de maturidade (TRL 1), ainda guiadas pela
pesquisa exploratória (curiosidade), não se adaptam a qualquer instrumento de
compra pública no Brasil. Nessa situação não é recomendado proceder com a
contratação devido aos altos níveis de incerteza envolvidos. Por outro lado, soluções
com níveis de maturidade avançados (TRL 9), que já foram introduzidas no mercado,
não apresentam riscos tecnológicos significativos e podem ser contratadas por meio
de qualquer instrumento de contratação.
Além disso, a Portaria MCTI nº 6.449/2022 instituiu o uso do TRL para os projetos do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e de suas unidades vinculadas, atribuindo
a esse órgão a disponibilização, em até 90 dias, de uma calculadora em versão web
de acesso livre e disponível no portal do MCTI, que poderá ser acessada por todos
os atores do ecossistema de CT&I no Brasil e balizará a avaliação e classificação dos
projetos inseridos no Sistema de Gestão de Portfólios de Projetos do MCTI (SEGE3P),
que são disponibilizados ao público por meio da Plataforma InvestMCTI (BRASIL, 2022c).
Considerando tudo o que foi dito, fica claro que a avaliação da maturidade tecnológica
é fundamental para a contratação de soluções inovadoras. É importante que os
gestores públicos compreendam esse conceito e adotem a escala de TRL para realizar
essa avaliação, pois ela é a principal referência mundialmente validada e amplamente
utilizada em contratos de soluções inovadoras.
Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o
conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Até a próxima!
GOVINDARAJAN, V. Innovation is not creativity. [S. l.]: HBR Blog Network, 2010.
GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL (GWEC). Global wind report: annual markt
uptade. [S. l.]: [s. n.], 2012.
MIHÁLY, H. From NASA to EU: the evolution of the TRL scale in public sector
innovation. The Innovation Journal, Vol. 22, p. 1–23, 2017. Disponível em: https://
www.innovation.cc/discussion-papers/2017_22_2_3_heder_nasa-to-eu-trl-scale.
pdf. Acesso em: 15 jan. 2023.
TOLSTÓI, Liev. O Reino de Deus está dentro de vós. Tradução de Celina Portocarrero.
Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade você irá reconhecer a importância de contratar inovação, bem
como os avanços nessa área no Brasil e as principais recomendações nacionais e
internacionais sobre promoção de inovação.
Em maio de 2019, a Declaração de Inovação no Setor Público foi adotada por 35 países
membros da OCDE e 5 países não membros, incluindo o Brasil, destacando a importância
da inovação como uma função central e estratégica das organizações do setor público.
Para obter mais informações sobre o livro "Mission Economy" e explorar a visão da
autora, você pode acessar no link do “saiba mais”.
Como afirmado por Mazzucato, a inovação é o motor das sociedades modernas e é capaz
de melhorar a qualidade de vida das pessoas, como evidenciado pelo financiamento
público em projetos tecnológicos bem-sucedidos. Há tempos que o desenvolvimento
tecnológico e a inovação têm sido considerados cruciais para o crescimento da
produtividade e do emprego (OCDE, 2005). A importância das compras públicas de
inovação para a recuperação das economias mundiais pós-Covid 19 também vem
sendo defendida por organismos internacionais, a exemplo da União Europeia:
A União Europeia (EUROPEAN UNION, 2020; 2021) lista diversas razões para a
realização de contratações públicas de inovação, como:
Nesse contexto, o Estado tem o papel de financiar o risco que o mercado privado,
como regra, não financiaria (MAZZUCATO, 2013).
ESG.
Fonte: CEPED/UFSC (2023).
Ainda é possível perceber uma cultura arraigada nos setores de contratações públicas
federais, estaduais e municipais, que historicamente consideram o processo como
mecânico e de menor importância dentro das organizações. Essa falta de incentivos
para o impulso inicial se reflete em maior relevância dada aos meios do que à
finalidade das contratações, e a manutenção do status quo se torna a regra, por
falta de investimentos, infraestrutura, pessoal capacitado ou incentivos adequados.
Isso significa que a defesa do Estado empreendedor como agente central dos saltos
de desenvolvimento econômico e social por meio de contratações orientadas a
missões específicas, perde sua essência. Contratações desse tipo exigem, antes de
tudo, vontade genuína de promover mudanças por meio do emprego estratégico do
poder de compra governamental.
Essa vontade genuína exige esforço, dedicação, tempo e mais recursos do que o
usualmente empregado em setores de contratações. Por isso os agentes públicos
responsáveis pela idealização e condução de contratos públicos de inovação devem
ser capacitados, ter tempo suficiente para realizar o adequado planejamento e saber
priorizar ações ou objetos de maior impacto social, retorno econômico, incentivo a
novos mercados e alinhamento institucional.
Na lista da Austin Rating, o Brasil ocupa o nono lugar, com um PIB de US$ 1,8 trilhão,
atrás dos Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Índia e Itália.
Veja o ranking das 10 maiores economias do mundo em 2022:
5º Reino Unido — US$ 2,6 trilhões 10º Canadá — US$ 1,5 trilhão
Destaca-se, por fim, que o GII é um dos principais instrumentos de referência para
dirigentes empresariais, formuladores de políticas públicas e aos que buscam
conhecimentos sobre a inovação no mundo. As diferentes métricas do ranking
podem ser usadas para monitorar o desempenho de um país, comparando-o com
economias da mesma região ou mesmo grupo de renda (CNI, 2022).
E-digital 2022-2026
Habilitadores
• Infraestrutura e acesso às TIC
• Pesquisa, desenvolvimento e inovação
• Confiança no ambiente digital
• Educação e capacitação profissional
• Dimensão internacional
Transformação Digital
• Transformação digital da economia (subdividida em economia baseada
em dados, dispositivos conectados e modelos de negócio); e
• Cidadania e transformação digital do governo (BRASIL, 2022b, p. 11).
Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o
conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Até a próxima!
CONFEDERAÇÃONACIONALDAINDÚSTRIA(CNI).Brasilficaem57ºlugarentre132países
no Índice Global de Inovação. Portal da Indústria. 2021. Disponível em: https://noticias.
portaldaindustria.com.br/noticias/inovacao-e-tecnologia/brasil-fica-em-57o-lugar-
entre-132-paises-no-indice-global-de-inovacao/#:~:text=Posi%C3%A7%C3%A3o%20
brasileira%20no%20IGI&text=De%20acordo%20com%20os%20dados,64%C2%BA%20
em%202020)%2. Acesso em 15 jan. 2023.
RAUEN, A. Políticas de inovação pelo lado da demanda no Brasil. Brasília, DF: IPEA, 2017.
Objetivo de aprendizagem
• Lei nº 8.666/1993
• Lei nº 14.133/2021
• Lei nº 13.303/2016
• Decreto nº 10.024/2019
• Decreto nº 7.892/2013
A Lei de Inovação, existente há quase 20 anos, por exemplo, passou por importantes
mudanças recentes, como a sua revisão com a Lei nº 13.234/2016 e a sua
regulamentação por meio do Decreto nº 9.283/2018, que adicionaram elementos
relevantes para criar um ambiente mais favorável à contratação de inovação
(BRASIL, 2016; 2018). Essas mudanças são observadas atualmente no cenário de
contratações públicas, que busca cada vez mais a inovação.
Além disso, o Marco Legal das Startups, que entrou em vigor recentemente, tem
como objetivo destacar o contrato público de solução inovadora, firmado a partir
de modalidade especial de licitação para teste de soluções inovadoras (BRASIL,
2021b, art. 13), bem como o contrato de fornecimento, por dispensa de licitação,
firmado com o desenvolvedor da solução que se mostrar mais alinhada à resolução
do desafio proposto pelo órgão ou entidade contratante.
Este marco legal facilitou a criação de alianças estratégicas entre o setor público, o
setor privado e a academia (universidades e institutos de pesquisa científica), uma
configuração conhecida como "tripla hélice".
Nos termos dessa lei, a inovação foi definida como a introdução de novidade
ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos
produtos, processos ou serviços (BRASIL, 2004).
Lei nº 13.243/2016
A Lei nº 13.243/2016, além de alterar diversas outras leis, a exemplo da Lei
nº 8.666/1993, prevê instrumentos de estímulo à inovação nas empresas,
dentre os quais a encomenda tecnológica (BRASIL, 2016b). Veja outros
mecanismos possíveis:
Decreto nº 9.283/2018
Esse decreto regulamenta as disposições da Lei nº 10.973/2004, alterada pela Lei
nº 13.243/2016, no âmbito federal. Para a regulamentação nas esferas estadual
ou municipal, a tendência é que esses entes se espelhem nesse decreto.
• atuação do “investidor-anjo”;
Lei nº 14.133/2021
A mais recente lei geral de licitações e contratos administrativos conferiu muito
mais ênfase à inovação que sua antecessora, a Lei nº 8.666/1993. Além de ser
uma lei essencialmente digital, colocando os processos, plataformas, catálogos,
cadastros e modalidades eletrônicos como a regra para todo o metaprocesso
das contratações e elevou a objetivo da contratação tanto o incentivo à inovação
quanto a transformação digital e o desenvolvimento nacional sustentável.
Fomento ao
Importância das Modernização do empreendedorismo
empresas como agentes ambiente e de inovador como meio de
centrais do impulso negócios brasileiro, promoção da produtividade
inovador em contexto à luz dos modelos de e da competitividade da
de livre mercado negócios emergentes economia brasileira e de
trabalho qualificados
Enquadramento de Startups
A Lei Complementar 182, em seu artigo 4º, traz critérios para o enquadramento
de startups na modalidade de tratamento especial destinado ao fomento dessas
empresas (BRASIL, 2021b). Para se enquadrar, é preciso que a organização
empresarial ou societária seja:
Importante notar que, segundo a LC 182, uma startup não precisa necessariamente
oferecer um produto ou serviço inovador, a exemplo do que aconteceu com a
Internet ou com os smartphones. É possível que uma oferta inovadora de modelo
de negócio em um mercado tradicional a caracterize como startup, mudando a
lógica usual de criação, entrega e captura de valor.
Unicórnio
As sociedades
cooperativas
As sociedades As sociedades
empresárias simples
II - com até 10 (dez) anos de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)
da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia; e
A fim de garantir que a empresa que se beneficiará dos incentivos da LC 182 seja
uma empresa iniciante no mercado (neófita), a lei estabeleceu como condição
para a elegibilidade o limite máximo de 10 anos de inscrição do CNPJ junto aos
órgãos responsáveis. Para evitar manobras jurídicas que descaracterizem a
condição de empresas novas ou criadas há no máximo 10 anos, por meio de
incorporações, fusões ou cisões empresariais (BRASIL, 2021b, art. 4º, §2º), os
seguintes controles foram estabelecidos:
Incorporação
Será considerado o tempo de inscrição da empresa incorporadora.
Cisão
Será considerado o tempo de inscrição da empresa cindida, na hipótese
de criação de nova sociedade, ou da empresa que a absorver, na hipótese
de transferência de patrimônio para a empresa existente.
Inova Simples
De acordo com a lei, tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem fazer aportes de
capital em startups, seguindo as regulamentações da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM). Esses aportes podem ser feitos em diferentes modalidades de investimento,
com ou sem participação no capital social da startup (BRASIL, 2021b, arts. 5º e 6º).
Sandbox Regulatório
Que bom que você chegou até aqui! Agora é a hora de testar seus conhecimentos.
Para isso, acesse o exercício avaliativo disponível no ambiente virtual. Bons estudos!
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 8 abr. 2023.
2
O Contrato Público de Solução
Inovadora: Previsões Normativas
e Etapas da Contratação
Nesse módulo você vai se aprofundar na modalidade especial de licitação
introduzida pelo Marco Legal das Startups, que resulta no contrato público de
solução inovadora (CPSI), e a hipótese de dispensa de licitação dele decorrente, o
contrato de fornecimento (CF).
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade você irá conhecer os principais aspectos normativos relacionados
à modalidade especial de licitação para a contratação de testes de solução inovadora.
O Marco Legal das Startups estabeleceu uma modalidade especial de licitação com
o objetivo de regulamentar a licitação de soluções inovadoras pela administração
pública (BRASIL, 2021b, art. 1º, inciso III) e estimular a contratação pública de soluções
inovadoras elaboradas ou desenvolvidas pelas startups (BRASIL, 2021b, art. 3º, inciso
VIII). O marco previu, em seus artigos 13 e 14, uma modalidade especial de licitação
para aquisição de tais soluções, resultando na formalização de um ou mais contratos
públicos de solução novadora (CPSI). De acordo com o IPEA (2022), o CPSI é:
Além disso, propõe-se que essa finalidade seja alcançada com maior tolerância
ao erro, uma vez que o processo inovador envolve a exploração de terrenos
incertos e desconhecidos. A única maneira de saber se uma solução inovadora
irá funcionar é por meio da experimentação, o que não seria possível com as
formas tradicionais de contratação (RAUEN, 2022). Portanto, o contrato não é
para a solução em si, mas para testar a solução, sem obrigar os contratados ou
gestores públicos a garantir o sucesso da solução.
Além disso, a modalidade de licitação especial para soluções inovadoras pode ser
aplicada a objetos com qualquer nível de maturidade tecnológica, de acordo com
o conceito de TRL. Isso significa que pode ser utilizada desde as etapas iniciais de
pesquisa básica envolvendo P&D até adaptações de produtos já existentes (FASSIO,
2022). No entanto, é importante lembrar que:
Além disso, as soluções podem se referir a objetos com ou sem risco tecnológico,
o que significa que seu desenvolvimento pode estar mais inserido no terreno da
incerteza, sem a garantia de alcançar os resultados desejados, ou estar mais no
terreno da viabilidade conhecida, em que é possível afirmar que os resultados serão
alcançados com base no conhecimento da tecnologia empregada.
Vale destacar que, embora a licitação para solução inovadora esteja prevista no
Marco Legal das Startups, ela não se destina à contratação somente de empresas
que se encaixam nessa classificação. Apesar da clara intenção legislativa de incentivar
a contratação de startups, o que tende a voltar sua utilização para esse público,
outras configurações societárias e empresariais também podem ser contratadas
sem limitações. O objetivo normativo é incentivar empresas de pequeno porte com
grande potencial de crescimento, independentemente de sua classificação como
startup ou não (BRASIL, 2022). O TCU destaca, ainda, que:
Diferente de outras modalidades, o edital para solução inovadora deve deixar claro
os seguintes aspectos:
• resultados esperados;
Dificilmente uma vacina poderá ser desenvolvida por meio da contratação por CPSI,
uma vez que pode haver incompatibilidade entre os investimentos necessários para o
seu desenvolvimento e os limites máximos de gastos públicos com esse tipo de contrato.
O exemplo das vacinas é útil para entendermos os limites que devem ser
considerados ao definir o objeto no edital da licitação. Nesse sentido, é importante
que o edital não siga os mesmos moldes dos editais tradicionais para contratações
usuais, mas conceda maior liberdade aos proponentes no desenho da solução
para resolver o problema proposto.
Ao definir o objeto no edital da licitação, é essencial ter cuidado para evitar que ele
seja genérico demais, como contratar testes de soluções inovadoras para resolver
a "gestão hospitalar de um município". O edital deve conceder maior liberdade aos
proponentes no desenho da solução, mas ao mesmo tempo, estabelecer claramente
o problema a ser resolvido e os resultados esperados.
A amplitude de problemas dentro dessa temática é tão diversa que o projeto tem
alta probabilidade de não ter um foco bem definido e maiores chances de fracasso.
Em vez disso, pode ser mais apropriado usar o CPSI para viabilizar o transporte
de pacientes com maior segurança, otimizar a gestão de estoque e provimento de
insumos médico-hospitalares ou gerenciar filas de atendimento, por exemplo, cada
um compondo um desafio diferente.
Os critérios de julgamento das propostas, nos termos do § 4º, art. 13, da LC 182,
devem ser claros no edital e considerar, pelo menos:
A Petrobras ainda previu uma segunda etapa de avaliação para os mais bem
colocados na etapa inicial, em que outros critérios seriam aplicados.
Modelo de Negócios
Consistência do modelo de negócios para viabilizar a entrada da solução
tecnológica no mercado e sua perenização ou para atender a demanda da
Petrobras, seja como fornecedor direto ou como subfornecedor.
Lista de Oportunidades.
Fonte: Petrobras (2022a).
I - 1 (uma) deverá ser servidor público integrante do órgão para o qual o serviço
está sendo contratado; e
Objeto
Planejamento
Soluções que envolvem atividades de P&D com
Bens e seviços em geral
risco tecnológico
Seleção do fornecedor
Bens e serviços em geral Soluções que envolvem atividade de P&D com risco
tecnológico
Dessa forma, é importante destacar que, ao buscar uma solução inovadora, o objeto
da contratação possui características específicas e peculiares em relação aos objetos
tradicionais, que justificam a adoção de modalidades ou ferramentas especiais para
selecionar os potenciais fornecedores.
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 8 abr. 2023.
FASSIO, C.; RADAELLI, R.; AZEVEDO, E. de; DÍAZ, M. F. Guia de alternativas jurídicas
e de boas práticas para contratações de inovação no Brasil. Washington, D.C.:
Banco Interamericano de Desenvolvimento, 2022. Disponível em: https://acervo.
fortaleza.ce.gov.br/download-file/documentById?id=3343a71c-4353-4a0e-b0be-
6cf66c5cc5d5. Acesso em: 16 fev. 2023.
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade, você irá conhecer os principais aspectos normativos relacionados
ao contrato público de solução inovadora (CPSI) e ao contrato de fornecimento (CF).
Dessa forma, é possível que o CPSI seja firmado para período inferior, o que pode
ser ajustado com o fornecedor na etapa de negociação da licitação. Além disso,
a lei permite a prorrogação do contrato por até mais 12 meses além do prazo
originalmente estabelecido, sem limitar o número de prorrogações.
III - a matriz de riscos entre as partes, incluídos os riscos referentes a caso fortuito,
força maior, risco tecnológico, fato do príncipe e álea econômica extraordinária;
A utilização da matriz de risco tem se tornado cada vez mais comum nas relações
contratuais, como exemplificado pelas disposições da Lei nº 14.133/2021 que, a partir
de 01/04/2021, se aplica subsidiariamente às contratações de inovação com base na
LC 182 para a administração federal direta, autárquica e fundacional. De acordo com
a norma geral de licitações, são elementos essenciais da matriz de riscos:
Porém, o CPSI tem uma natureza bastante diferente, onde a contratada é responsável
por definir a rota tecnológica para atingir as metas estabelecidas. Nesse contexto
não faz muito sentido limitar as frações do objeto passíveis de inovação, pois o
caminho é inteiro permeado por novas soluções metodológicas e/ou tecnológicas.
Critérios de Remuneração
Os critérios de remuneração para cada CPSI são limitados a um valor máximo de
R$ 1.600.000,00 por um período de até 12 meses, conforme previsto no artigo 14,
§2º e §4º da LC 182 (BRASIL, 2021b). No entanto o edital da licitação pode estabelecer
limites inferiores para o valor máximo do contrato. Para um mesmo desafio é
possível contratar mais de um parceiro, ficando cada um deles (signatário de um
contrato) vinculado ao valor máximo estabelecido na lei complementar.
Caso haja prorrogação do contrato, que é limitada a um período adicional de até
12 meses, o valor máximo não pode ser renovado. Ou seja, o valor total máximo,
incluindo prorrogações, deve ser de R$ 1.600.000,00 para cada CPSI.
Vale ressaltar que o valor máximo de R$ 1.600.000,00 por CPSI pode ser atualizado
anualmente pelo Poder Executivo Federal, de acordo com o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou outro índice que o substitua, conforme
estabelecido no artigo 12, §3º da LC 182 (BRASIL, 2021b).
I - preço fixo;
• a propriedade intelectual;
• os critérios de remuneração.
Para fornecer mais informações sobre esses critérios, um quadro com as principais
aplicações e observações para CPSI é apresentado a seguir (BARBOSA, 2022).
Por outro lado, as contratações com risco tecnológico são mais difíceis de precificar
devido aos fatores de incerteza inerentes ao desenvolvimento do projeto. Nesses casos,
pode ser interessante considerar o reembolso de custos. A imagem a seguir ilustra a
escala de risco tecnológico e o tipo de contrato mais adequado para cada situação.
Diante disso é muito importante que esses marcos estejam claramente estabelecidos
entre as partes, que o órgão ou entidade contratante realize um acompanhamento
amiúde da execução contratual e que tenha plenas condições de opinar quanto à
proporcionalidade entre os pagamentos até então realizados pelo poder público e
o emprego de esforço na direção do objetivo pelo contratado.
Pagamento Antecipado
Esse pagamento, contudo, deve ser precedido de justificativa expressa e estar previsto
no edital. A lógica do pagamento antecipado é a mesma de toda a lei complementar,
no sentido de estimular a participação de empresas neófitas e com pouca ou quase
nenhuma capacidade financeira, admitindo um “adiantamento” contratual para
possibilitar que tenham condições de iniciar o desenvolvimento da solução.
A solução resultante do CPSI pode ser de produto, processo e, se for o caso, integração
à infraestrutura tecnológica ou ao processo de trabalho da administração pública. O
contrato de fornecimento pode prever não apenas o fornecimento da solução em si,
mas também sua integração aos processos e soluções já existentes na infraestrutura
e rotina do órgão ou entidade contratante.
Vale lembrar que os valores do CPSI poderão ser atualizados anualmente de acordo
com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou outro índice que
o substitua, e essa atualização também afeta o valor do contrato de fornecimento.
Como já mencionado, as regras da lei geral de licitações e da lei das estatais são
aplicáveis de forma complementar nas licitações e contratos regidos pelo Marco
Legal das Startups, incluindo o CPSI e o contrato de fornecimento.
[...]
Art. 125. Nas alterações unilaterais a que se refere o inciso I do caput do art. 124
desta Lei, o contratado será obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais,
acréscimos ou supressões de até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado
do contrato que se fizerem nas obras, nos serviços ou nas compras, e, no caso de
reforma de edifício ou de equipamento, o limite para os acréscimos será de 50%
(cinquenta por cento).
Art. 126. As alterações unilaterais a que se refere o inciso I do caput do art. 124 desta
Lei não poderão transfigurar o objeto da contratação.
[...]
[...]
Contrato
Fiscalização e acompanhamento
Pagamento condicionado
à entrega do exato objeto O pagamento é efetuado as(s) contratado(s),
contratado, sob pena de glosa mesmo que o problema não seja solucionado,
de valores e aplicação de desde que demonstrado o esforço empreendido.
sanções administrativas.
Agora assista ao vídeo para conhecer alguns dos principais aspectos normativos do
CPSI, incluindo sua finalidade, as situações em que pode ser aplicado e os cuidados
essenciais a serem observados.
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 8 abr. 2023.
Objetivo de aprendizagem
2 Definição da contratação
3 Execução do contrato
Para conhecer mais detalhadamente cada uma dessas etapas, acesse o material
de consulta disponível para download. Ele fornecerá informações completas e
orientações sobre como aplicar essas etapas em aquisições sob sua responsabilidade.
Seguindo o passo a passo sugerido pela CPIN, a trilha do CPSI se divide em duas
etapas: com ou sem risco tecnológico. Nesse momento, é importante que o gestor
público tenha clareza sobre o que é o risco tecnológico, se o seu desafio envolve
Embora a plataforma divida a trilha do CPSI em duas partes, é possível entender que
as diferenças entre as etapas não justificam a separação, sendo suficiente apresentar
ressalvas aplicáveis apenas a uma ou outra situação no decorrer da trilha do instrumento.
Trilha do CPSI.
Fonte: Fassio (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023).
Esta trilha é um guia composto por uma série de etapas que conduzem ao
Contrato Público para Solução Inovadora. Ela apresenta orientações que estão em
conformidade com a LC 182, além de boas práticas e materiais de apoio destinados
a este tipo de instrumento de contratação.
Definir a Demanda
A primeira etapa consiste na definição da demanda, que serve como base para a
elaboração do Termo de Referência (TR). Essa etapa é o resultado da análise detalhada
do desafio a ser enfrentado e dos estudos técnicos preliminares realizados nas
fases anteriores. Os insumos para a elaboração do TR foram construídos a partir do
aprofundamento no problema, transformado em desafio, considerando que,
Além disso, é nesta etapa que o edital da licitação é elaborado, com os critérios de
julgamento das propostas na fase de seleção do fornecedor, conforme o disposto
no art. 13, §4º, da LC 182. Nessa etapa é, ainda, definida a comissão especial para
julgamento das propostas na licitação, nos termos do art. 13, §3º.
Cabe ressaltar que a minuta do contrato incluída como anexo ao edital pode ser
posteriormente ajustado nos termos pactuados na fase de negociação.
Publicar o Edital
Sugere-se, por fim, quanto a essa etapa, a leitura do Guia de publicação online do
gestor de Compra Pública para Inovação (MITCHELL, 2022), com orientações para
garantir a transparência a publicidade da contratação.
Julgar Propostas
É importante lembrar que, assim como no pregão, as etapas da licitação para solução
inovadora são invertidas, sendo selecionadas somente as empresas que atingiram
critérios suficientes, em ordem de colocação no julgamento das propostas, de
acordo com a quantidade máxima de potenciais contratados estabelecida no edital.
Vale lembrar que o Marco Legal das Startups permite critérios bastante flexíveis
para qualificação técnico-operacional e econômico-financeira, além de dispensar a
apresentação de algumas certidões e documentos obrigatórios na maioria das licitações.
Gerir CPSI
Na plataforma CPIN, são sugeridas questões relevantes para gestores e fiscais dos
contratos, tais como:
Encerrar CPSI
O processo de inovação envolve um maior grau de tolerância ao erro, uma vez que
o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos nem sempre resulta
nos resultados almejados. Especialmente quando envolve risco tecnológico, ou
seja, quando o objeto está na fronteira do conhecimento científico, o fracasso
pode ser uma possibilidade real.
Por isso, é essencial que os gestores públicos estejam preparados para lidar com
esse risco real, e registrem adequadamente as principais ocorrências e tomadas de
decisão, para deixar claro quais ações foram tomadas e quais obstáculos técnicos e/
ou econômicos levaram à descontinuidade.
As lições aprendidas ao longo de todo o processo são fundamentais, sendo uma boa
prática o registro da experiência, de forma a orientar melhorias nas contratações
futuras e sinalizar para outros possíveis órgãos e entidades contratantes de
semelhante solução, as dificuldades e obstáculos que não foram possíveis transpor.
Toda falha pressupõe aprendizado e algum avanço na direção que se quer percorrer.
Em função disso, a plataforma disponibilizou documento editável para registro
das experiências que não alcançaram o seu objetivo, de forma a retomar as fases
percorridas, identificando pontos positivos e sujeitos a melhorias, como insumo
para experiências futuras:
Registro de experiências
FASSIO, C.; RADAELLI, R.; AZEVEDO, E. de; DÍAZ, M. F. Guia de alternativas jurídicas
e de boas práticas para contratações de inovação no Brasil. Washington, D.C.:
Banco Interamericano de Desenvolvimento, 2022. Disponível em: https://acervo.
fortaleza.ce.gov.br/download-file/documentById?id=3343a71c-4353-4a0e-b0be-
6cf66c5cc5d5. Acesso em: 16 fev. 2023.
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). Comissão de
inovação: guia de linguagem simples. Porto Alegre: TJRS, 2021.
Ao final desta unidade você irá identificar práticas institucionais de governança que contri-
buem para o sucesso dessas contratações de CPSI.
Sendo assim, não há que se confundir governança com gestão, em que pese haver
alguns pontos de sombreamento e forte interação entre ambas, especialmente
nas funções de direção (governança) e planejamento (gestão); e nas funções de
monitoramento (governança) e implementação dos controles (gestão).
Interessa a nós, no âmbito desse curso, olhar mais detidamente para a governança
das contratações. Está claro que a boa governança, por si só, não garante o alcance
dos resultados. Mas não há dúvidas de que as chances de êxito das contratações se
elevam consideravelmente em organizações com boa maturidade em governança e
gestão, assim como se ampliam os riscos de impropriedades, corrupção e desperdício
de recursos públicos em organizações que não se preocupam em manter uma boa
governança interna.
Foram obtidos dados das licitações a partir das informações prestadas pelos
jurisdicionados ao TCE/MT por força da Resolução Normativa TCE/MT nº 3/2020 –
TP. Os procedimentos e análise dos dados estão sintetizados no quadro a seguir:
Quantidade de Quantitativa
Competitividade participantes em com dados de Poisson-Gama Binomial Negativo
uma licitação contagem
Desconto obtido
Eficiência
em relação ao Quantitativa Normal Linear
Licitatória
valor orçado
Quantidade de Quantitativa
Celeridade dias de duração com dados de Poisson-Gama Binomial Negativo
da fase externa contagem
Qualitativa com
Licitações
Êxito 2 categorias Bernoulli Logística Binária
homologadas
("Dummy")
Toda essa estrutura colocada em prática serve como um escudo às organizações, que
estarão mais aptas a justificar e registrar suas decisões, com menor susceptibilidade
a falhas decorrentes de deficiências no acompanhamento das soluções inovadoras,
legitimando, até mesmo, os insucessos, tão comuns ao processo inovador, pela
inviabilidade tecnológica de resolução do desafio originalmente construído.
A compreensão de que a governança das aquisições tem parcela relevante no êxito das
contratações públicas, levou à incorporação, no texto da Nova Lei de Licitações (BRASIL,
2021b), de diversos dos mecanismos que a compõem, tais como gerenciamento de
riscos, responsabilidade da alta administração, gestão por competência, ênfase no
planejamento das contratações e participação ativa do controle social com ampla
transparência dos atos relacionados às licitações e contratos.
Cada um desses aspectos pode ser avaliado sob o enfoque ainda mais específico da
contratação de inovação, tendo em vista esse tipo de contratação demandar ainda
mais cuidados e atenção em relação às contratações tradicionais, dados os riscos e
incertezas envolvidos.
Não é por acaso que a Nova Lei de Licitações inclui a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável como um dos objetivos das contratações públicas, juntamente
com o incentivo à inovação (BRASIL, 2021b). Os países da OCDE (2019) já reconhecem
que o desenvolvimento sustentável e as prioridades sociais dos governos exigem
novas abordagens.
Nesse sentido, é importante que a política de inovação por meio do uso do poder de
compra e da formação de parcerias, com instrumentos que atuem tanto na oferta
quanto na demanda, faça parte de uma estratégia governamental e de Estado que
estabeleça metas, objetivos, indicadores e prioridades.
Acórdão 1.237/2019-TCU-Plenário
A situação pode ser explicada pelos níveis de investimento desses países no setor. De
2016 a 2020, por exemplo, a China instalou 600 parques de biotecnologia e sua
produção cresceu 80% no período. Em 2021, o investimento do país em pesquisa
e desenvolvimento foi de 621 bilhões de dólares. O país forma 8 a 10 milhões de
alunos por ano contra menos de 500.000 dos EUA e, seguindo nesse ritmo, ameaça
a liderança americana no setor.
Por outro lado, o Brasil importa quase 90% dos ingredientes farmacêuticos
ativos, sendo praticamente dependente da produção internacional, investiu apenas
39 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento e segue com sua política
atual de desenvolvimento de novos medicamentos fortemente baseada no modelo
de PDPs (parcerias de desenvolvimento produtivo) que vêm se mostrando pouco
efetivas ao longo dos anos para a área de biotecnologia.
O autor acaba por ressaltar o uso de novos instrumentos como uma saída para
a autossuficiência nacional nessa indústria de tamanha importância para a
nova economia mundial. Destaca a encomenda tecnológica e as políticas de
emparelhamento tecnológico com países líderes em biotecnologia.
O exemplo citado acima apenas ilustra uma realidade presente em diversos outros
setores da indústria e no desenvolvimento de tecnologias essenciais na nova
economia, a economia do conhecimento. O desenvolvimento do país passa por
investimentos em inovação, os quais podem e devem considerar os orçamentos das
organizações para promoverem suas contratações. Ainda sobre o papel do Estado
em todo esse processo:
A figura a seguir, elaborada por Mazzucato (2013) mostra como a gigante Apple se
utilizou das principais inovações financiadas pelo governo americano para compor
seus produtos e se tornar a empresa com maior valor de mercado da atualidade. O
financiamento governamental do desenvolvimento de novas tecnologias realizado
pelo DoE, DoD, CERN, Darpa e Exército Americanos foram essenciais para a
construção dos smartphones como os conhecemos e significaram uma verdadeira
revolução que, ao contrário do que muito se apregoa por aí, tem muito mais risco e
visão do Estado americano que do mercado privado.
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em:
8 abr. 2023.
BRASIL.TribunaldeContasdaUnião(TCU).Acórdãon°1237/2019-TCU-Plenário,sessãode29de
maio de 2019. Brasília, DF, 2019. Disponível em: https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/documento/
acordao-completo/*/NUMACORDAO%253A1237%2520ANOACORDAO%253A2019/
DTRELEVANCIA%2520desc%252C%2520NUMACORDAOINT%2520desc/0/%2520. Acesso em:
18 jan. 2023.
VALLAS, S. P.; KLEINMAN, D. L.; BISCOTTI, D. Political Structures and the Making of US
Biotechnology. In: BLOCK, F. L.; KELLER, M. R. (Orgs.). State of Innovation: The U.S.
Government’s Role in Technology Development. Boulder, CO: Paradigm Publishers,
2009.
Ao final desta unidade você irá reconhecer boas práticas e cuidados a serem observados
ao longo da instrução processual de contratação de CPSI e contrato de fornecimento.
A nível organizacional, a boa governança das contratações é a base para garantir que
o órgão ou entidade está apto a bem conduzir suas compras públicas de inovação.
Cada contratação, contudo, necessita passar por um processo específico e terá suas
próprias questões e desafios a serem enfrentados pelos gestores públicos.
Como já mencionado, a boa governança, por si só, não garante o sucesso das
contratações, mas amplia muito as suas chances. De outro lado, organizações com
baixos graus de maturidade de governança em suas aquisições, estão mais sujeitas
a erros falhas e desvios.
Trata-se de um enorme desafio internalizar essa premissa, tanto para o gestor público
como para os órgãos de controle. Tanto é assim, que o TCU vem desenvolvendo
cartilhas para orientar também o exercício do controle em contratações de inovação.
No âmbito do Inovamos (BRASIL, 2020a), foram sugeridas abordagens diferenciadas
pelos órgãos de controle, mais compatíveis com a natureza dos contratos de inovação,
com o intuito de conferir maior segurança aos gestores públicos responsáveis por
conduzi-los, a exemplo das audiências de inovação, que consistem em rápidas
apresentações aos órgãos de controle sobre a inovação que se pretende contratar,
para estimular o contato e a troca de informações desde cedo, além de diversas
outras exemplificadas a seguir:
Assim como os investidores no mercado de ações têm por hábito mesclar ativos mais
e menos arriscados em suas carteiras, de maneira que o excelente desempenho de
alguns compense o prejuízo causado pelo mau desempenho de outros, de maneira
análoga a administração pública pode pensar em seu portfólio de desafios e projetos.
Menciona-se, ainda, que nem todo objeto comporta a aplicação de solução inovadora,
devendo o gestor público estar atento para evitar o “fetiche da inovação”, que
pode trazer riscos extremos sem que a real necessidade os justifique:
Por fim, uma vez iniciada a execução de um contrato para solução inovadora,
os profissionais envolvidos devem estar conscientes de que “mesmo que não se
chegue a um produto, o aprendizado obtido com as pesquisas para o processo de
aquisição poderá ser utilizado em outras compras públicas de inovação” (BRASIL,
2022). Nesse sentido, seja para fins de resguardo perante os órgãos de controle,
seja para adequada gestão do conhecimento, a instrução processual realizada com
cuidado e responsabilidade é de suma importância.
De acordo com o Manual de Gestão de Riscos do TCU (2020b), pode-se definir risco
e oportunidade como:
Risco
Possibilidade de que um evento afete negativamente o alcance dos
objetivos.
Oportunidade
Possibilidade de que um evento afete positivamente o alcance de
objetivos.
Todo processo de contratação deve estar, desde a sua origem, permeado por
tomadas de decisão que envolvem avaliações de riscos e a adoção de medidas
mitigadoras para minimizá-los e potencializar o alcance de resultados, ou ainda
soluções rápidas de contorno, em resposta à materialização dos riscos.
Além dessas três, há o controle externo exercido pelo TCU ou outro organismo
independente que não faça parte da organização. Trata-se de uma espécie de quarta
linha de defesa.
III - terceira linha de defesa, integrada pelo órgão central de controle interno
da Administração e pelo tribunal de contas. (BRASIL, 2021b).
Fonte: B3 (2023).
1. estabelecimento do contexto;
2. identificação dos riscos;
3. análise dos riscos;
4. avaliação dos riscos;
5. tratamento dos riscos;
6. comunicação e consulta com partes interessadas;
7. monitoramento; e
8. melhoria contínua (BRASIL, 2020b).
O aprofundamento nesse tema pode ser realizado pela leitura atenta do Manual de
Gestão de Riscos do TCU (BRASIL, 2020b), assim como dos normativos infralegais
que orientam a contratação de TI (BRASIL, 2019), alterada pela IN-SGD 47/2022, e de
serviços (BRASIL, 2017b), todas aplicáveis subsidiariamente às normas de contratação
de inovação.
2.4 Interações
Essa interação está alinhada, ainda, com práticas internacionais. Segundo a declaração
sobre inovação no setor público, de cujo Brasil é signatário, um dos compromissos
assumidos foi o de cultivar novas parcerias e envolver vozes diferentes por meio da
conexão entre diferentes atores (públicos, privados, sociedades do terceiro setor),
colaborando e cocriando novas abordagens ou soluções para problemas. O objetivo
é vincular as redes de intercâmbio dentro e fora de todo o sistema de inovação
(OCDE, 2019).
Art. 27 [...]
Art. 32 [...]
Corroborando com essa constatação, o Marco Legal das Startups trouxe a necessidade
de observância de outros princípios e diretrizes aplicáveis às contratações
públicas, como a cooperação entre os setores público e privado e o incentivo ao
empreendedorismo inovador (BRASIL, 2021b).
De todo modo, caso haja carência de pessoal com perfil mais técnico voltado ao objeto
do desafio, sempre há a possibilidade de lançar mão de colaboradores externos para
a formação de comitês técnicos de especialistas. Esses comitês não figuram como
obrigatórios na legislação pertinente, mas sua formação é considerada boa prática e
seus pareceres podem ser bons insumos para o processo de tomada de decisão.
Vejam que as funções são distintas de uma e outra. O comitê consiste em apoio
técnico de especialistas que opinarão sobre a qualidade técnica das propostas
considerando a viabilidade da tecnologia e rota tecnológica adotada pelos
proponentes, seus obstáculos e esforços de desenvolvimento, formularão pareceres
que orientarão escolhas, decisões e auxiliarão na avaliação quanto ao bom ou
insuficiente andamento da solução inovadora.
Pode ser composto por especialistas internos ou externos, e seus membros, em que
pese poder haver reconhecimentos formais da organização com que colaboram,
não podem ser remunerados pelos serviços desempenhados no comitê. Sua adoção
consiste, portanto, em boa prática, seja para as encomendas tecnológicas, seja para
os CPSIs.
A seguir, assista a uma entrevista com o professor e pesquisador do Ipea, André Rauen,
um dos principais especialistas em contratações públicas de inovação. Ele apresenta
orientações e algumas boas práticas que os gestores interessados em inovação devem
considerar e implementar.
INSTITUTE OF INTERNAL AUDITORS (IIA). Modelo das três linhas do IIA 2020: uma
atualização das três linhas de defesa. 2020. Disponivel em: https://iiabrasil.org.br/
noticia/novo-modelo-das-tres-linhas-do-iia-2020. Acesso em: 18 jan. 2023.
Ao final desta unidade você irá conhecer iniciativas de inovação da administração pública.
Inovamos
O documento consolida o esforço do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), através da Divisão de Competitividade,
Tecnologia e Inovação (CTI) e do Laboratório de Inovação e
Coparticipação do Tribunal de Contas da União (CoLab-i), para
impulsionar e potencializar a compra pública de inovação, apontando
possibilidades de atuação conjunta entre diferentes atores ao longo
do processo.
Todo o material disponibilizado pela AGU pode ser obtido nos seguintes
endereços:
• NAGI Digital
• GT Investimento em Inovação
• GT Indicadores de Inovação
• GNova Lab
Prospectando, experimentando e disseminando novas metodo-
logias a serem aplicadas na resolução dos desafios públicos.
• GNova Transforma
Apoiando outras instituições públicas na busca que construam
soluções para os seus próprios problemas, de forma colaborativa.
• GNova Pessoas
Que busca provocar mudanças profundas na forma como as
organizações exercem suas lideranças, orientando-as para ha-
bilidades mais consentâneas com o mundo moderno e a trans-
formação digital.
Lives
As seguintes lives que tratam do tema contratações públicas de
inovação:
Semana da Inovação
Trata-se de evento gratuito, promovido regularmente no âmbito da
Enap em parceria com diversos outros órgãos e entidades públicos
com o objetivo de fomentar a discussão de ideias, a troca de
experiências e uma mentalidade mais disruptiva na administração
pública (ENAP, 2022).
Outras Comunidades
Além dos canais e comunidades de prática já mencionados, é possível
citar ainda outros hubs, fontes de consulta, inspiração e orientações,
a exemplo:
• Hubtec
• Parque Tecnológico Porto Digital
• BraziLAB
• Eita! Recife
• Inova_MPRJ
• Repositório de Conhecimento do IPEA (RCIPEA)
Petrobras
Uma das organizações públicas que mais tem se utilizado das
potencialidades do Marco Legal das Startups é a Petrobras. A empresa
pública vem conduzindo vários desafios a serem resolvidos por meio
de CPSI, além de ter desenvolvido toda uma metodologia para esse
tipo de contratação.
Etec TCU
A encomenda tecnológica em andamento no âmbito do TCU tem
por objetivo resolver o desafio de melhorar a celeridade e qualidade
das instruções de representações e denúncias acerca de possíveis
irregularidades em licitações e contratos com o emprego de
inteligência artificial.
Etec AEB
Outro caso de contratação de encomenda tecnológica e o de solução
de navegação inercial para a Agência Espacial Brasileira. Esse caso
redundou no desenvolvimento de diversas cartilhas orientativas
elaboradas em conjunto com o TCU e outros órgãos parceiros, que
acompanharam as fases iniciais da contratação. Os principais eventos
da contratação estão disponíveis aqui.
IMPACTA NORDESTE. Marco Legal das Startups é utilizado pela primeira vez para
contratar soluções em Educação. 2022. Disponível em: https://impactanordeste.
com.br/marco-leg a l-das-startups-e-utilizado-pela-primeira-vez-para-contratar-
solucoes-em-educacao/. Acesso em: 29 maio 2023.