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Inovação em Compras

governamentais para
segurança pública

Inovação
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Joana Pires Gonçalves, 2022

Enap, 2022
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF

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Sumário
Módulo 1 – Inovação & setor público: uma realidade possível e necessária
Unidade 1. O que você precisa saber sobre inovação para começar a jornada?........6
Unidade 2. Dá para transformar o setor público por meio da inovação?..................12

Módulo 2 – Inovação & Segurança Pública


Unidade 1. Inovação na Segurança Pública...................................................................20

Módulo 3 – Inovação & Compras Governamentais 3 para a Segurança Pública


Unidade 1. Compras Governamentais & Segurança Pública: uma visão atual..........24
Unidade 2. GPS Institucional............................................................................................28
Unidade 3. Inovação nas fases do processo licitatório..................................................32
Unidade 4. Base normativa específica para aquisição de itens operacionais...............41

Referências........................................................................................................................44

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Módulo

1 Inovação & setor público: uma realidade


possível e necessária

Olá!

Desejamos boas-vindas ao Módulo 1 do curso Inovação em Compras


Governamentais para a Segurança Pública. É um prazer ter você como participante
e auxiliá-lo na construção do seu conhecimento acerca desse tema.

Neste módulo abordaremos sobre os conceitos iniciais sobre inovação e como ela
pode ser utilizada para transformar o setor público. Ele possui 2 unidades:

Unidade 1 – O que você precisa saber sobre inovação para começar


a jornada?

Unidade 2 – Dá para transformar o setor público por meio da


inovação?

Desejamos um excelente estudo!

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Unidade 1. O que você precisa saber sobre
inovação para começar a jornada?

Conhecer os conceitos relacionados à inovação.

1.1. O que é inovação


Olá, desejamos boas-vindas a este curso que trata de assuntos desafiadores e
aparentemente distantes: compras governamentais, inovação e segurança pública.

Quando começamos a trabalhar na área de licitações, visando à aquisição de bens


para a atividade operacional, encontramos diversas dificuldades. Além do problema
inicial em apurar com clareza os desafios institucionais a serem solucionados, tendo
em vista as peculiaridades que envolvem a cultura organizacional de cada órgão
de segurança pública, há discrepância entre as necessidades das instituições e as
soluções ofertadas pelo mercado, principalmente pela alta especificidade dos itens
desejados, normativos diferenciados para produtos controlados.

Apesar de todo esse cenário, precisamos começar a mergulhar nessa tríade e seus
conceitos, métodos e ferramentas, para que, efetivamente, consigamos enxergar
caminhos favoráveis à solução dos problemas complexos que envolvem a segurança
pública, com olhar inovador aplicado às suas atividades-meio, atividades-fim e
transformando positivamente os serviços que nós, servidores da área, ofertamos à
sociedade.

Estamos acostumados a pensar que inovação tem a ver somente com a criação de
novas tecnologias, não é? Muitos pensam assim, porém, um mergulho profundo
nesse mundo nos traz uma visão muito mais ampla e de inúmeras possibilidades
para essa temática, inclusive na área de segurança pública, como veremos ao longo
deste curso.

De acordo com o Manual de Oslo, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento


Econômico (OCDE), de 2005, a inovação é definida como “a implementação de um
produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo,
ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas
de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.”.

O conceito construído pela OCDE traz alguns elementos técnicos que podem não

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ser plenamente entendidos pelo público-alvo que está entrando em contato com
essa temática talvez pela primeira vez neste curso. Por isso cumpre esclarecer que
a inovação tem a ver com alguma mudança significativa em um produto, serviço,
processo, organização ou até no método de marketing utilizado, que traga o
resultado e/ou solução esperada.

Atenção: inovação não é a mesma coisa que invenção.

A invenção ocorre quando alguém faz surgir na nossa realidade algo que até então
não existia, e essa criação estabelece um marco para aquela “coisa”. Parte-se do
ponto zero.

Já a inovação apresenta-se como uma melhoria sobre algo que já existe, mas que
precisa da incidência de novos olhares e ideias a fim de gerar melhores resultados
e certa competitividade mercadológica, dependendo do caso.

Em ambos os casos, há uma atuação profunda no mundo das ideias e no uso da


criatividade que possibilita vislumbrar o novo e as alterações que irão trazer a
inovação desejada:

Invenção: daguerreótipo, a primeira câmera fotográfica

Fonte: https://instaarts.com/fotografia/daguerreotipo-a-primeira-maquina-fotografica/

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Inovação: máquina fotográfica digital

Fonte: https://www.nikon.pt/pt_PT/product/digital-cameras/slr/consumer/d7500

Podemos perceber que a inovação tem a ver com um ciclo de produção de ideias que
acabam gerando uma mudança nova e positiva em um produto, processo, serviço,
entre outros, e trazendo resultados significativos e, muitas vezes, disruptivos.

1.2. Por que inovar?


A busca da inovação pode ter como motivadores inúmeros aspectos desejados
por uma organização, como aumento de vantagem competitiva, necessidade de
obter soluções para problemas específicos e, muitas vezes, complexos, redução
de custos, reestruturação de processos produtivos, ampliação na participação de
certos mercados, enfim, modificações que melhorem a dinâmica institucional, suas
relações internas e externas e experiência de usuários e consumidores em geral.

Ressaltamos, entretanto, que podemos chegar à construção de uma inovação de


forma consistente, acreditando que ela realmente nos levará às melhorias desejadas,
mas teremos somente a certeza de seu poder inovador com a sua implementação
e avaliação de resultados.

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1.3. Para quem inovar?
Estamos acostumados a lidar no dia a dia profissional e pessoal com muitos CPF e
CNPJ, afinal, nossa identificação como pessoas atuantes no mundo perpassa, muitas
vezes, por esses números “fiscais”.

Como pessoas, entretanto, não somos somente aquilo que contribuímos


financeiramente para a sociedade em que vivemos. Somos essenciais a qualquer
movimento neste mundo, seja ele profissional, religioso, familiar, parental, entre
tantos outros que integram nosso sistema existencial.

Qualquer coletividade/comunidade/rede é essencialmente composta por seres


humanos, sem os quais elas funcionam precariamente.

Por isso, devemos sempre nos questionar para quem estamos direcionando esse
esforço de inovação? Quais realidades serão modificadas? Quais pessoas serão
impactadas e se esse impacto será positivo para elas. Isso porque, se pensarmos,
por exemplo, na instituição da qual você faz parte, constataremos que, sem você e
outros servidores públicos, ela é apenas uma ficção jurídica que não entrega nem
agrega valor à sociedade.

Assim, queremos chamar a sua atenção para a necessidade de considerar o ser


humano e o papel que ele ocupa no processo de inovação que você está conduzindo,

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como ponto central do trabalho, pois dificilmente uma inovação implementada
deixará de tocar a esfera humana e ser conduzida por um olhar também humano.

A inovação centrada em pessoas leva em conta as personas envolvidas, não apenas


quando elas estão na ponta final do processo, mas também quando elas dão razão
à sua realização ou o conduzem.

Enfim, processos de inovação envolvem pessoas sempre, pois são elas que
transformam as realidades. Considere-as para o sucesso da sua empreitada, sejam
elas:

1.4. Tipos de inovação


O conceito de inovação que utilizamos para este curso foi o do Manual de Oslo, da
OCDE, que traz quatro tipos de inovação em seu bojo:

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Inovação de produto: “é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente
melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se
melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais,
softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais”. Nessa
descrição, a OCDE inclui tanto materiais quanto serviços ao se referir a “produtos”,
e expande a inovação também à forma de uso desses produtos.

Inovação de processo: “é a implementação de um método de produção ou


distribuição novo, ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças
significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares”. Normalmente, incide
sobre um cenário ao qual o usuário final de um produto ou serviço não tem acesso,
como a alteração de um processo produtivo que reduza os custos do bem final, a
alteração de software que facilite a integração dos processos etc.

Inovação de marketing: “é a implementação de um novo método de marketing


com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no
posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços”. O método
de marketing inovador não deve ter sido adotado anteriormente pela empresa
ou alterar o produto ou serviço em sua funcionalidade, incidindo somente sobre
aparência, design e forma.

Inovação na organização: “é a implementação de um novo método organizacional


nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou
em suas relações externas.” Nesse sentido, complementa o referido manual:

“As inovações organizacionais em práticas de negócios compreendem a


implementação de novos métodos para a organização de rotinas e procedimentos
para a condução do trabalho. Isso inclui, por exemplo, a implementação de novas
práticas para melhorar o compartilhamento do aprendizado e do conhecimento
no interior da empresa. Um exemplo é a primeira implementação de práticas para
a codificação do conhecimento, por exemplo, pelo estabelecimento de bancos de
dados com as melhores práticas, lições e outros conhecimentos, de modo que se
tornem mais acessíveis a outros. Outro exemplo é a primeira implementação de
práticas para o desenvolvimento dos empregados e melhorias na permanência do
trabalhador, como os sistemas de educação e de treinamento. Outros exemplos
são a primeira introdução de sistemas de gerenciamento para a produção geral
ou para as operações de abastecimento, tais como sistemas de gerenciamento da
cadeia de fornecedores, reengenharia de negócios, produção enxuta e sistemas de
gerenciamento da qualidade”.

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Tem-se o foco principal, assim, na organização do trabalho na instituição, como
gestão do conhecimento, novas vias de capacitações dos colaboradores, parcerias
interinstitucionais inovadoras etc.

Além dos quatro tipos de inovação citados acima, há mais alguns de acordo com o
autor estudado, como os tipos apontados por Larry Keeley e Joseph Schumpeter,
entre outros, que servem como referências de aprofundamento para o aluno.

Unidade 2. Dá para transformar o setor público


por meio da inovação?

Compreender a aplicabilidade da inovação ao serviço público.

2.1. O novo sempre vem: equalizando cenários complexos


do mundo moderno e a atuação governamental
Quando pensamos em exemplos de cenários complexos, atualmente, nós nos
remetemos ao que está mais próximo das nossas vidas: a pandemia Covid-19. De
fato, desde 2020, estamos mundialmente inovando em inúmeros eixos para lidar
com suas consequências sociais, econômicas, funcionais, em saúde pública, entre
outros, e trazer soluções de forma rápida e assertiva, principalmente, por conta da
letalidade do vírus.

Essa ocorrência mundial nos trouxe a necessidade de lidar com ambientes de


incertezas e diversas variáveis, exigindo criatividade e inteligência na construção de
soluções rápidas, principalmente, pelo objetivo principal de preservar vidas.

Apesar de a pandemia ser um evento fora da curva, não esperado no curso regular
de uma sociedade, precisamos reconhecer que, em “normalidade”, a globalização
e a transformação digital estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Nós
nos vemos envolvidos em processos ágeis, informações em tempo real, ocorrências
políticas do outro lado do mundo que, quase instantaneamente, afetam nossas
vidas particulares e profissionais, demandando respostas cada vez mais imediatas
e precisas.

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Nesse contexto, cabe fazer uma pergunta: você já ouviu falar em Mundo VUCA e
Mundo BANI?

Após o período da Guerra Fria, surgiu o conceito de Mundo Vuca, para tentar
esclarecer o contexto dos movimentos do mundo pós-guerra, a fim de preparar as
forças militares para eventuais conflitos nesse cenário.

VUCA é um acrônimo que corresponde a quatro características desse cenário:

1. Volatility (volatilidade)
2. Uncertainty (incerteza)
3. Complexity (complexidade)
4. Ambiguity (ambiguidade)

Essas características passaram a ser consideradas também para os ambientes


empresariais, demandando o desenvolvimento de uma série de habilidades
organizacionais e individuais para a superação de desafios e obtenção do
protagonismo e sucesso esperados.

Com o passar do tempo e a mudança de cenário cada vez mais rápida e constante,
surgiu, em 2018, o conceito de Mundo BANI, pelo antropólogo Jamais Cascio, que
muito se aplica ao mundo atual, principalmente no pós-pandemia, conforme as
quatro características abaixo:

1. Brittle (frágil)
1. Anxious (ansioso)
1. Nonlinear (não linear)
1. Incomprehensible (incompreensível)

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Mas qual a importância de saber esses conceitos e acrônimos tão diferentes?

Bom, precisamos saber o solo em que estamos pisando para estudar e prever as
melhores estratégias de atuação e, com certeza, a inovação é uma delas. Num
mundo com novas características tão específicas, como a do Mundo VUCA, não basta
apenas tentar inovar, é preciso criar as habilidades/competências corretas para
essas atividades, a fim de respeitar o contexto em que ela está sendo construída.

Sendo assim, em um mundo frágil, ansioso, não linear e muitas vezes incompreensível,
é necessário desenvolver resiliência, espírito colaborativo, empatia, escuta ativa,
aceitação de pontos vulneráveis, ética, aprendizado por meio do realizar e não só
da teoria, experimentação, flexibilidade, capacidade de iteração. Essas habilidades
serão, de fato, muito necessárias a todas as atividades ligadas à inovação em
qualquer cenário possível.

Por fim, com todo esse conhecimento e essas habilidades, poderemos imaginar uma
atuação governamental que possa contemplar os mais diversos cenários e variáveis,
em tempos pandêmicos ou não, com real capacidade de ofertar melhores serviços,
participação social, entrega de valor e resultados à sociedade apesar dos problemas
estatais cada vez mais complexos, mormente se considerarmos o panorama da
segurança pública e suas especificidades.

2.2 Por que a inovação no setor público é necessária?

Fonte: https://www.instagram.com/p/CN7ZDPLH3Nz/?utm_medium=copy_link

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Até aqui temos conversado sobre como a inovação tem impacto na resolução
de problemas complexos, mas sabemos que o serviço público comporta outros
tipos de problemas que, apesar de não tão complexos assim, esbarram em certas
características e regramentos de sua atuação.

Sendo assim, vamos falar um pouquinho sobre a necessidade de inovar no serviço


público baseada não só nesses problemas de diversas complexidades, mas também
demanda por atender.

2.3 Mais do que inovação, precisamos de inovadores:


desenvolvendo o mindset
Podemos saber todos os conceitos e metodologias referentes aos processos de
inovação, porém, se não desenvolvermos visão e modelo mental que comportem a
capacidade de perceber realidade e propor soluções não convencionais, às quais não
estamos acostumados a recorrer, perderemos tempo e oportunidade de realmente
solucionar desafios reais do serviço público.

A primeira coisa que podemos fazer nessa temática é entender, de fato, o que
significa o termo mindset.

Mindset é um conceito criado pela psicóloga Carol S. Dweck em seu livro intitulado
“Mindset: a nova psicologia do sucesso”, que diz respeito à mentalidade estruturada
de um indivíduo com base em suas crenças pessoais. Essa estrutura mental
estabelece a visão que ele terá do mundo e como agirá nele.

Por isso, se queremos realmente fomentar a inovação em nossa organização,


precisamos primeiro estimular o surgimento de inovadores, avaliando o mindset
organizacional e individual predominante e estimulando a transformação dessa
visão de mundo que pode estar impedindo o avanço na temática.

É de grande importância, também, que essa alteração de mentalidade seja abraçada


pelos gestores públicos e líderes institucionais. Isso porque ele será responsável por
apoiar e fomentar as ações, engajar os servidores envolvidos, dialogar com a alta
gestão e gerenciar o trajeto da inovação perante a estrutura administrativa ainda
tradicional.

Sem o entendimento do gestor sobre conceitos e ferramentas em inovação e a sua


necessidade, todo o processo tenderá ao fracasso ou demandará um esforço muito
maior que o necessário para acontecer.

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Mas quais são os pontos-chave de um mindset de inovação? Abaixo, eu listei algumas
dicas para facilitar a aquisição desse tipo de mentalidade:

1. Pratique a desfusão cognitiva: desfusão cognitiva é a capacidade de se afastar


dos seus próprios pensamentos e assumir a posição de um observador. Isso é
muito importante quando começamos a desenvolver um mindset de inovação e
precisamos entender quais são as características da nossa visão de mundo atual.
Será que os meus pensamentos são fixos, inflexíveis, julgadores? Será que tenho
abertura suficiente para analisar com sinceridade ideias e realidades que me são
postas?

2. Seja resiliente, persistente e compassivo: fazer o novo em um ambiente em


que às vezes há muito apego à tradição e à forma como as coisas têm sido feitas
“desde que tudo era mato” pode ser desafiador. Pedimos, então, que você persista
e seja estratégico. Mudanças podem ser ameaçadoras para as pessoas envolvidas,
entenda suas dificuldades e trabalhe nelas.

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3. Dê asas à sua imaginação e pense fora da caixa: sabe aquela frase clássica
de Albert Einstein que diz ser insanidade continuar fazendo a mesma coisa e
esperar resultados diferentes? Então, isso vale também para o mundo da inovação:
pare de considerar sempre as mesmas ideias, olhe com carinho para aquilo que
a sua imaginação lhe oferece e você acha inviável. Temos certeza de que novas
possibilidades surgirão desse exercício.

4. Seja curioso: curiosidade sobre a vida, experiências, opiniões, enfim, aumente


seu repertório de análise e interação com o mundo. A curiosidade é imprescindível
para fazermos as perguntas certas e, sem elas, a identificação de desafios e soluções
fica prejudicada.

5. Arrisque-se: inovar é assumir riscos e, ao assumir riscos, aceitamos a possibilidade


de errar. E tudo bem. Com o tempo, aprendemos a oportunizar a experimentação e
seus possíveis erros, criando a flexibilidade necessária para traçar rever estratégias
e traçar novos caminhos

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Módulo

2 Inovação & Segurança Pública

Olá!

Desejamos boas-vindas ao Módulo 2 do curso Inovação em Compras


Governamentais para a Segurança Pública. É um prazer ter você como participante
e auxiliá-lo na construção do seu conhecimento acerca desse tema.

Neste módulo abordaremos sobre a inovação na segurança pública. Ele possui 1


unidade:

Unidade 1 – Inovação na Segurança Pública

Desejamos um excelente estudo!

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Unidade 1. Inovação na Segurança Pública

Identificar as nuances que envolvem a inovação na área da segurança pública.

1.1. É possível inovar na Segurança Pública?


Será que é possível inovar na área da Segurança Pública? Para falar um pouquinho
sobre esse tema, convidamos o Delegado de Polícia Federal Otávio Pedro Fernandes.

Otávio é Chefe da Divisão de Inovação da Polícia Federal e presidente do ITAG -


INTERPOL Innovation and Technology Advisory Group, Delegado de Polícia Federal
desde 2002, é Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo – USP, e possui
um MBA em Inovação, Liderança e Gestão pela PUC/RS.

É possível inovar na segurança pública - Otávio (4m48seg).

1.2. Barreiras à inovação na segurança pública


No podcast abaixo, vamos falar um pouco sobre as barreiras à inovação encontradas
na segurança pública, principalmente nas instituições policiais.

Barreiras à inovação – Joana (8m22seg)

Adicionalmente, em um interessantíssimo artigo escrito por John M. Weinstein para


Police Chief Magazine intitulado “O desafio da inovação em organizações de aplicação
da lei”, o autor abordou alguns impedimentos característicos das instituições que
possuem esse tipo de atribuição, como a policial, para a implementação de inovação.
Para ele:

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• O mito da homogeneidade: instituições hierarquizadas tendem priorizar metas
unificadoras que visem a um objetivo comum, como o expressado pelo mantra
“proteger e servir”. Entretanto, há diversas formas de alcançá-lo que devem ser
valorizadas. A heterogeneidade é, portanto, salutar nesse sentido.

• Aversão ao risco: a maioria das organizações hierárquicas é avessa ao risco. Sua


cultura de responsabilidade pune o fracasso, e uma forma de se isolar das
consequências do fracasso é assumir menos riscos, documentar tudo (isto é,
burocracia) e difundir as decisões entre tantos que o fracasso não pode ser atribuído
a uma pessoa. Há também a incapacidade de fazer cálculos significativos de custo-
benefício em um ambiente dinâmico e mutável. Quando um ambiente é estável, os
custos e benefícios para determinados cursos de ação são conhecidos
experimentalmente e podem, portanto, ser calculados. Porém, por definição,
quando alguém está explorando o desconhecido, ele ou ela não sabe o que
encontrará. Esse problema impede o desenvolvimento de respostas prontas para o
uso contra ameaças assimétricas.

• A lacuna autoridade-expertise: as organizações hierárquicas são baseadas na


antiguidade, mas, à medida que alguém sobe na escada organizacional, ele ou ela
não tem mais tempo para permanecer atualizado em sua área de especialização
original. Além disso, o líder não está próximo dos problemas e desenvolvimentos
que a organização enfrenta. Portanto, a reação é a resposta típica. O gestor, forçado
a lidar com as obrigações relacionadas a assuntos de pessoal, orçamentos e relações
com a comunidade, tem menos tempo para se manter atualizado nas operações
básicas da atividade fim. Portanto, provavelmente presumirá que as táticas e
operações são as mesmas de quando ele ou ela estava "nas trincheiras". O problema
surge quando o chefe, que tem autoridade para tomar decisões em virtude do
posto, pode vir a não ter a especialização.

Em resumo, o autor relata que as organizações hierárquicas têm um bom desempenho


em ambientes estáveis ​​caracterizados pela previsibilidade e capacidade de cálculo.
No entanto, sua cultura e tradição, especialização e insularidade de componentes,
distorção de informações e a incapacidade de fazer cálculos de custo-benefício
em um ambiente avesso ao risco minam sua capacidade de inovar e responder a
ambientes novos e imprevistos.

1.3. Cultura organizacional e o impacto nos processos de


inovação das instituições policiais
A análise da cultura organizacional é importantíssima dentro do processo de

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inovação, principalmente quando falamos de instituição policial. E esse aspecto foi
especialmente abordado pelo Capitão Calaça da PMSE, no podcast indicado abaixo.

Irlan Massai Calaça é oficial da Polícia Militar do Estado de Sergipe, pós-graduado em


Criminalidade Violenta pela Universidade Federal de Sergipe, com especializações
em: Ações Táticas Especiais (BOPE-PMAL), Controle de Distúrbios (PRF), Tiro de
Precisão (COT-PF), Explosivos (BOPE-PMBA) e Contraterrorismo (GIOE-GNR), é autor
do livro Mentalidade Tática Policial & as quatro etapas do treinamento de alto
rendimento, lançado em 2021.

Cap. Calaça Cultura organizacional e Inovação (5m23seg)

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Módulo

3 Inovação & Compras Governamentais


para a Segurança Pública

Olá!

Desejamos boas-vindas ao Módulo 3 do curso Inovação em Compras


Governamentais para a Segurança Pública. É um prazer ter você como participante
e auxiliá-lo na construção do seu conhecimento acerca desse tema.

Neste módulo abordaremos sobre compras governamentais, GPS institucional,


inovação no processo licitatório e a base normativa. Ele possui 4 unidades:

Unidade 1 – Compras Governamentais & Segurança Pública: uma


visão atual

Unidade 2 – GPS Institucional

Unidade 3 - Inovação nas fases do processo licitatório

Unidade 4 - Base normativa específica para a aquisição de itens


operacionais

Desejamos um excelente estudo!

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Unidade 1. Compras Governamentais &
Segurança Pública: uma visão atual

Conhecer o cenário de compras públicas na segurança pública.

1.1. A importância e o impacto das compras públicas nos


cenários públicos e privados
Aqui, vamos abordar brevemente o impacto dos processos licitatórios voltados às
aquisições de bens nos cenários públicos e privados.

Em âmbito público, é interessante considerar que, para o funcionamento de um


órgão ou entidade pública, há uma série de aparatos necessários que são facilmente
observáveis no dia a dia.

A título de exemplo, podemos pensar numa instituição policial e a estrutura que


ela demanda para a prestação de serviço com qualidade. Vemos, da atividade-meio
à atividade-fim, uma série de itens indispensáveis ao seu funcionamento, como
mobiliário, computadores, papelaria, impressoras, enfim, aparatos básicos do
cotidiano do serviço público, além de materiais mais específicos como armamentos,
munições, equipamentos operacionais, uniformes, viaturas, sem os quais a atuação
do policial fica inviabilizada.

Olhe para a sua instituição e perceba o quanto um processo licitatório e os bens


fornecidos por meio dele impactam a sua atividade, isso sem falar na contratação
de serviços que não entram no escopo deste curso, mas que são igualmente
importantes (como contratação de serviço de fornecimento de energia elétrica,
água, limpeza, abastecimento e manutenção de viaturas etc.).

Com o aprimoramento do processo de compras de uma instituição, tem-se também


a melhoria nos serviços públicos por ela prestados, gerando real impacto na atuação
estatal e nas entregas ao cidadão, além do impulsionamento do desenvolvimento
econômico.

No âmbito privado, há também grande repercussão considerando o volume de


orçamento público que é direcionado para compras governamentais, como mostra

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o site Painel de Compras do Ministério da Economia e a imagem dele extraída
com filtros selecionados para os contratos firmados no ano de 2019, envolvendo
aquisições e as principais modalidades licitatórias (Pregão Eletrônico, dispensa e
inexigibilidade de licitação) no Poder Executivo em âmbito Federal:

Fonte: http://paineldecompras.economia.gov.br

Sendo o Governo Brasileiro o maior comprador no cenário nacional, ele atua como
grande fomentador da economia, do desenvolvimento sustentável e de novas
tecnologias e produtos pelas empresas nacionais, ligado diretamente ao movimento
de inovação por esses atores privados.

Especificamente quanto à área de segurança pública e a confirmação do impacto


da atuação governamental em contratações, vale citar a relevância do programa
ComprasSusp, instituído no Ministério da Justiça e Segurança Pública visando à
otimização dos processos de compras de bens e serviços para os integrantes do
Sistema Único de Segurança Pública.

Um projeto de fato inovador pelo seu impacto a nível nacional, com objetivos

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muito bem estabelecidos e resultados importantíssimos para a área, como mostra
o compilado de dados sobre os processos de aquisição concluídos constante do
Relatório de Gestão Integrado do Ministério da Justiça e Segurança Pública:

Fonte: Relatório de Gestão Integrado do Ministério da Justiça e Segurança Pública (https://www.gov.br/


arquivonacional/pt-br/arquivos%20pdf/relatorios_gestao/Relatorio_de_Gestao_2020.pdf(opens in a new tab))

Tal documento evidenciou, também, que as contratações realizadas ou empenhadas


para contratação totalizam, naquele ano, um investimento em segurança pública de
aproximadamente R$ 458,46 milhões.

Para saber mais, indicamos o acesso ao site https://www.gov.br/mj/


pt-br/assuntos/noticias/o-comprassusp e ao vídeo explicativo https://
www.youtube.com/watch?v=bFLYqrdVaDQ

1.2. Como as aquisições contribuem para a atuação em


segurança pública?
As aquisições em segurança pública têm ligação direta com a qualidade e eficiência
da prestação desse tipo de serviço à população, tanto de forma preventiva quanto
repressiva.

Uma polícia bem equipada e tecnicamente preparada tem condições muito


superiores de resposta às questões sociais complexas que se apresentam, como

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preservação da ordem pública, repressão às organizações criminosas, apuração de
infrações, ações de inteligência, enfim, muitas atribuições relacionadas à atividade
com maiores chances de sucesso e menor risco aos operadores e outros atores
envolvidos.

Essas aquisições não envolvem somente bens próprios à atividade-fim operacional,


mas também soluções de coleta de dados, treinamento, gestão de força de trabalho,
comunicação intra e interinstitucional, entre outros eixos.

Sendo assim, aquisições eficientes em segurança pública têm influência de grande


relevância para a modernização dos meios de atuação institucional e atingimento
dos objetivos estratégicos do órgão, além de fortalecimento da presença estatal e
da interação com o cidadão.

Colete à prova de balas salva policial

Fonte: https://ladodeca.com.br/pm-e-salvo-por-colete-a-prova-de-balas-em-itaborai/

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Simulador virtual de tiro para policiais

Fonte: http://www.policiacivil.am.gov.br/noticia/id/4132/ano/2015/mes/05/

Foto do Centro Integrado de Comando e Controle Nacional

Fonte: https://www.flickr.com/photos/justicagovbr/46579010125/

Unidade 2. GPS Institucional

Identificar o estágio de maturidade institucional no quesito inovação em


compras.

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2.1. Apurando a maturidade institucional na atividade de
compras inovadoras
Para inovar em compras públicas, primeiramente, precisamos entender em que
estágio de maturidade a instituição se encontra nessa temática. Isso porque muitos
dos gaps aí identificados representarão os desafios a serem solucionados para
que a inovação efetivamente possa acontecer. Sendo assim, propomos alguns
questionamentos sobre esse aspecto:

1. Há uma política de inovação no órgão ou entidade ou fomento à cultura


de inovação em geral?

2. A instituição consegue realizar um mapeamento dos desafios e


soluções necessárias para a sua atuação, considerando os gaps entre o
que tem sido entregue e o que ela deseja entregar?

3. Há um planejamento anual de aquisições construído com base nas


necessidades reais da atividade e no planejamento estratégico do órgão?

4. Esse planejamento é feito de forma colaborativa e em prazo coerente


com a sua importância, assegurando menor gasto de tempo na execução
da compra e em sua gestão?

5. Os servidores atuantes na área de licitações recebem capacitações e


treinamentos em frequência suficiente para a atuação em processos,
muitas vezes, de alta complexidade, como os da área policial, não
só quanto ao tema específico de licitações, mas também quanto ao
desenvolvimento de soluções e habilidades diversas, como design de
processos, design thinking, storytelling, gamificação?

6. Existe espaço para a discussão de ideias e questionamento do que


vem sendo feito em termos de compras e projetos institucionais?

7. É dada importância ao benchmarking com outras instituições públicas


e privadas?

8. Há atuação em sinergia dos diversos atores da contratação que


permita uma visão sistêmica do procedimento licitatório e a construção
de estratégia na aquisição, a fim de abarcar soluções coordenadas desde
o planejamento até a avaliação do resultado da aquisição?

9. O processo de aquisição é iniciado e finalizado em momentos


oportunos, evitando atrasos das entregas institucionais?

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29


10. Os itens adquiridos atendem às demandas identificadas e apresentam
qualidade esperada?

11.Há participação do órgão em alguma estrutura de compras


compartilhadas que assegure a padronização e a redução de custos?

12. Emprega-se o gerenciamento de riscos na aquisição?

13. A aquisição passa por um ciclo completo PDCA (planejar, fazer, checar,
agir)?

Fonte: Compras públicas inteligentes: uma proposta para a melhoria da gestão das
compras governamentais, Antônio Carlos Paim Terra, Enap, 2018.

Como pode ser observado, há muitos aspectos a apurar para entendermos em que
nível de maturidade em compras inovadoras a instituição está e quais caminhos
deveremos traçar para chegar ao seu desenvolvimento.

Acrescentando mais informações a esse tópico, sugerimos a leitura


do artigo “COMPRAS PÚBLICAS INTELIGENTES: UMA PROPOSTA
PARA A MELHORIA DA GESTÃO DAS COMPRAS GOVERNAMENTAIS”
de Antônio Carlos Paim Terra, que apresenta o conceito de compras
públicas inteligentes.

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2.2. Governança em contratações
A Nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) estabelece, em seu art. 11, parágrafo
único, que:

“Art. 11. [...]:

Parágrafo único. A alta administração do órgão ou entidade é responsável


pela governança das contratações e deve implementar processos e estruturas,
inclusive de gestão de riscos e controles internos, para avaliar, direcionar e
monitorar os processos licitatórios e os respectivos contratos, com o intuito de
alcançar os objetivos estabelecidos no caput deste artigo, promover um ambiente
íntegro e confiável, assegurar o alinhamento das contratações ao planejamento
estratégico e às leis orçamentárias e promover eficiência, efetividade e eficácia
em suas contratações.”

Mas, afinal, o que é governança em contratações públicas?

A recentíssima PORTARIA SEGES/ME Nº 8.678, DE 19 DE JULHO DE 2021, que dispõe


sobre a governança das contratações públicas no âmbito da Administração Pública
federal direta, autárquica e fundacional, traz o seguinte conceito para o termo:

“Art. 2º Para os efeitos do disposto nesta Portaria, considera-se:

[...]

III - governança das contratações públicas: conjunto de mecanismos de liderança,


estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a
atuação da gestão das contratações públicas, visando a agregar valor ao negócio
do órgão ou entidade, e contribuir para o alcance de seus objetivos, com riscos
aceitáveis;”.

Sendo assim, tais mecanismos apontados devem ser empregados, de acordo com
o referido normativo, para garantirem os objetivos das contratações públicas no
âmbito apontado, a saber:

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“Art. 3º Os objetivos das contratações públicas são:

I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais


vantajoso para a Administração Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de
vida do objeto;

II - assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a justa


competição;

III - evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente


inexequíveis e superfaturamento na execução dos contratos;

IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.”

Recomendamos, inclusive, o vídeo de apresentação de tal


Portaria elaborado pelo Ministério da Economia no Youtube para
aprofundamento.

Unidade 3. Inovação nas fases do processo


licitatório

Conhecer as inovações que podem ser aplicadas às fases do processo licitatório.

3.1. Fatiando e passando: um guia de sobrevivência para as


operações licitatórias inovadoras
Após uma introdução sobre inovação, compras governamentais e segurança pública,
vamos ao que interessa: a inovação na construção de um processo de aquisição de

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 32


bens para a segurança pública.

Sabemos que o procedimento licitatório é muito extenso, e que uma abordagem mais
completa não caberia neste curso, por isso escolhemos fatiar e passar rapidamente
por elementos mais importantes de sua estrutura com comentários e dicas práticas
de como inovar e ser mais assertivo nas compras por seu órgão. Vamos lá?

3.2. Planejar para entregar: a importância do (bom)


planejamento das aquisições para as entregas institucionais
Nós que trabalhamos no serviço público e, principalmente, na segurança pública
sentimos diariamente o peso de atuar, muitas vezes, “apagando incêndios” (serve
em literalidade para os nossos companheiros Bombeiros Militares). E isso é muito
prejudicial ao desenvolvimento de projetos importantes e de longo prazo que vão
sendo sobrestados por conta das crises frequentes.

Alguns incêndios são imprevisíveis e fazem parte do cenário específico da nossa


área, entretanto, muitos são resultados da falta de planejamento adequado.

Isso também acontece na área de licitações.

Um processo licitatório, dependendo de sua complexidade, necessita de certo


tempo para cumprir seu ciclo e seu objetivo. Então, quando chega uma demanda
de aquisição “para ontem”, fica claro que ela não foi planejada e também não será
entregue no momento desejado, ou seja, perderá seu objeto.

Pode acontecer também de a demanda constar do planejamento institucional,


porém, não estar apta a resolver o problema identificado, pois todo o processo de
apuração da solução não foi feito de forma satisfatória.

Enfim, existem muitas questões que envolvem o planejamento de uma aquisição,


que devem, em maior grau, estar alinhadas com os objetivos institucionais do órgão
estabelecidos em seu planejamento estratégico bem delineado.

Sendo assim, aí vai a primeira dica: o primeiro passo para quem está perdido e não
sabe por onde começar a planejar é olhar para o planejamento estratégico da sua
instituição! Segura na mão dele e vai!

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O planejamento estratégico é um documento que contém o caminho estabelecido
pela instituição para alcançar certos objetivos, por meio de ações, metas, projetos,
indicadores e todos os demais elementos que a conduzam de um ponto A para um
ponto B.

Toda a sua atuação funcional e os projetos desenvolvidos em sua unidade de


trabalho devem ter coerência com esse trajeto preestabelecido.

De posse dessas informações estratégicas, será possível a elaboração de um plano


anual de aquisições institucional, focado em objetivos já definidos.

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3.3. Refinando a demanda: foco no problema (certo) e nas
soluções (possíveis) pelo Estudo Técnico Preliminar
A INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40, DE 22 DE MAIO DE 2020 trouxe regramentos
específicos para a elaboração, no âmbito da Administração Pública federal direta,
autárquica e fundacional, de Estudo Técnico Preliminar – ETP para a aquisição de
bens e contratação de serviços.

De acordo com a IN supra, considera-se ETP:

“Art. 1º [...]

Parágrafo único. Para os efeitos desta Instrução Normativa, considera-se ETP o


documento constitutivo da primeira etapa do planejamento de uma contratação
que caracteriza determinada necessidade, descreve as análises realizadas em
termos de requisitos, alternativas, escolhas, resultados pretendidos e demais
características, dando base ao anteprojeto, ao termo de referência ou ao projeto
básico, caso se conclua pela viabilidade da contratação.”

O ETP, como se vê, tem como função delinear melhor a aquisição para a construção
do Termo de Referência e demais documentos licitatórios, e deve “evidenciar o
problema a ser resolvido e a melhor solução dentre as possíveis, de modo
a permitir a avaliação da viabilidade técnica, socioeconômica e ambiental da
contratação”.

É muito importante identificar o real problema a ser resolvido para, então, apurar
a melhor solução. E isso demanda um afastamento das nossas certezas e abertura
para analisar a situação sem pré-julgamentos.

Para isso, indicamos uma metodologia muito interessante chamada design thinking!
Ela coloca as pessoas como centro do processo e traz uma abordagem aos problemas
e criação de possíveis soluções, utilizando como referencial o processo utilizado por
designers. O método possibilita a análise colaborativa, o processo criativo e valoriza
a experimentação.

O processo do design thinking possui algumas etapas práticas, conforme imagem


abaixo:

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Empatia: olhar abertamente para a situação e tentar entender as pessoas envolvidas,
suas dores, desejos, e se conectar com essa realidade;

Definição: momento de entender efetivamente qual é o problema a ser enfrentado;

Idealização/Ideação: com o problema em mãos, agora podemos começar a propor,


de forma colaborativa, ideias e assim construir, após o refino de tais ideias, uma
solução minimamente viável.

Protótipo: no cenário atual de compras, já passaríamos para a aquisição do item, não


é mesmo? Mas muita calma nessa hora! Aqui, temos a oportunidade de prototipar
uma solução e seguir para a fase seguinte;

Testes: chegamos ao momento de testar o protótipo! Aqui, você terá a possibilidade


de errar sem medo. Só assim teremos a confirmação de que essa solução realmente
está apta a resolver o nosso problema inicial identificado lá na etapa 2, ou de que
precisaremos voltar e criar um novo protótipo.

Pronto! Após os testes, poderemos ter uma solução final aprovada, que trará suas
nuances, custos e mercado identificados no ETP, ou reprovada, o que nos levaria a
iterar e refinar alguma análise feita em outra etapa.

O processo pode parecer meio confuso no início, porém, após cada fase, vamos
criando mais clareza, estrutura e confiança no resultado:

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A realização de todo esse trajeto possibilita identificar qual aquisição irá resolver
nosso desafio, e pode até indicar como melhor caminho outro procedimento que
não um processo licitatório. Já pensou?

Além disso, proporciona melhor utilização de recursos públicos, garantindo uma


contratação inteligente e assertiva!

Quantos produtos ou serviços poderiam ser desenhados e refinados antes de


seguirem para um processo licitatório, evitando desperdício de erário e custos
administrativos desnecessários, além de atraso nas entregas da instituição?

Sugerimos, para complementação, os cursos na Enap intitulados


Gestão da Inovação no Setor Público (https://www.escolavirtual.
gov.br/curso/416), que contêm muitos insights importantes sobre
a inovação em governo, e Princípios do Design Thinking e Inovação
em Governo (https://www.escolavirtual.gov.br/curso/326/), que fala
especificamente sobre a ferramenta.

Outra sugestão é o completíssimo Design Thinking - Toolkit para


Governo (https://portal.tcu.gov.br/design_thinking/index.html),
disponibilizado pelo Tribunal de Contas da União contendo vários
templates, ferramentas e dinâmicas utilizados pelo design thinking e
as informações necessárias para sua utilização.

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3.4. Termo de Referência: definindo as estratégias do jogo
O Termo de Referência é um dos documentos licitatórios mais utilizados para a
estruturação de compras governamentais na segurança pública, tendo em vista
a adoção majoritária de pregão eletrônico e sistema de registro de preços para
aquisição de bens e contratação de serviços.

Esse documento possui parâmetros, requisitos e elementos mínimos estabelecidos


nos normativos vigentes em aquisições. E tão importante quanto o atendimento
desses é a construção coerente e clara do seu objeto, para evitar entregas e
resultados indesejados:

Fonte: https://www.instagram.com/p/CFzj4_LDmiv/?utm_source=ig_web_copy_link

Por isso, a elaboração colaborativa dos termos da contratação entre os setores e


envolvidos, a utilização de audiência pública para prospecção de ideias e sugestões
do mercado, cidadãos e outras instituições, e a visão sistêmica do processo são de
grande ajuda na estruturação dessa espinha dorsal do procedimento licitatório.

Entenda o Termo de Referência como um desenho completo da sua contratação e


faça dele uma ação estratégica! Ele dirá como será o seu “cenário de operações” na
área licitatória.

Lembre-se de que a quantidade de insights e ideias coletadas é igualmente


proporcional ao aumento do seu campo de visão e possibilidades para o processo
que você está construindo.

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3.5. Mitigando riscos para assegurar resultados
A identificação de riscos quanto ao objeto a ser contratado é de suma importância
para o sucesso da aquisição, de forma a criar pontos de controle e garantir que
todo o procedimento seja realizado sem maiores intercorrências e com as entregas
esperadas.

Junto com a vontade de inovar, vem também o medo de arriscar, e se houver um


mapeamento dos riscos envolvidos nessa empreitada, servidores e gestores se
sentirão mais seguros para apostarem no novo e reduzirem o espaço para incertezas.

Conhecer as variáveis que incidirão sobre a contratação, as probabilidades de


ocorrência, impactos e possíveis ações de mitigação desses riscos é de extrema
importância para o atingimento de resultados e soluções.

Para isso, pode ser elaborada, também, de forma preliminar, uma Estrutura Analítica
de Riscos – EAR (também conhecida como Risk Breakdown Structure – RBS), que facilita
a visualização dos riscos por eixo definido:

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Fonte: http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/1098

3.6. Especificidades dos Produtos Controlados pelo Exército


Na atividade licitatória de itens para segurança pública, normalmente nos deparamos
com os PCE: Produtos Controlados pelo Exército.

Eles são classificados, de acordo com o Regulamento de Produtos Controlados,


DECRETO Nº 10.030, DE 30 DE SETEMBRO DE 2019, em duas categorias:

I – Produto que apresenta:

a) poder destrutivo;

b) propriedade que possa causar danos às pessoas ou ao patrimônio; ou

c) indicação de necessidade de restrição de uso por motivo de incolumidade pública;


ou

II – Produto que seja de interesse militar.

Os PCE são fiscalizados nacionalmente por meio do SisFPC via Diretoria de Fiscalização
de Produtos Controlados – DFPC e Regiões Militares – RM.

Ao planejar a aquisição de um produto controlado, deve ser dada especial atenção


aos documentos específicos exigidos para a sua efetivação conforme o objeto, que
deverão, em regra, ser apresentados na fase de habilitação, como Certificado de

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Registro ou Título de Registro, Retex, Memorial Descritivo, entre outros.

Os normativos referentes a esse tipo específico de produto serão listados na


próxima unidade.

Unidade 4. Base normativa específica para


aquisição de itens operacionais

Conhecer a base normativa aplicável à aquisição de itens operacionais.

4.1. Normativos Específicos de PCE


Aqui, estão listados os principais e mais recentes normativos que versam sobre
Produtos Controlados pelo Exército. Eles foram compilados em um arquivo único
para facilitar a busca por palavras-chave.

Portarias PCE.pdf

1. Portaria n. 7 de 28/04/2006 / MD - Ministério da Defesa (D.O.U.


14/06/2006) - Aprova as Normas Reguladoras para Definição de
Dispositivos de Segurança e Identificação das Armas de Fogo Fabricadas
no País, Exportadas ou Importadas.

2. PORTARIA Nº 56 - COLOG, DE 5 DE JUNHO DE 2017. - Dispõe sobre


procedimentos administrativos para a concessão, a revalidação, o
apostilamento e o cancelamento de registro no Exército para o exercício
de atividades com produtos controlados e dá outras providências.

3. DECRETO Nº 9.845, DE 25 DE JUNHO DE 2019 - Regulamenta a Lei no


10.826, de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre a aquisição, o
cadastro, o registro e a posse de armas de fogo e de munição.

4. DECRETO Nº 9.846, DE 25 DE JUNHO DE 2019 - Regulamenta a Lei no

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10.826, de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre o registro, o cadastro
e a aquisição de armas e de munições por caçadores, colecionadores e
atiradores.

5. DECRETO Nº 9.847, DE 25 DE JUNHO DE 2019 - Regulamenta a Lei


no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre a aquisição,
o cadastro, o registro, o porte e a comercialização de armas de fogo
e de munição e sobre o Sistema Nacional de Armas e o Sistema de
Gerenciamento Militar de Armas.

6. PORTARIA Nº 1.222, DE 12 DE AGOSTO DE 2019 - Dispõe sobre


parâmetros de aferição e listagem de calibres nominais de armas de fogo
e das munições de uso permitido e restrito e dá outras providências.

7. DECRETO Nº 10.030, DE 30 DE SETEMBRO DE 2019 - Aprova o


Regulamento de Produtos Controlados.

8. PORTARIA Nº 118 - COLOG, DE 4 DE OUTUBRO DE 2019 - Dispõe sobre


a lista de Produtos Controlados pelo Exército e dá outras providências

9. PORTARIA Nº 125 - COLOG, DE 22 DE OUTUBRO DE 2019 - Dispõe sobre


a aquisição, o registro, o cadastro e a transferência de armas de fogo
de competência do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas e sobre
aquisição de munições.

10. PORTARIA Nº 1.729, DE 29 DE OUTUBRO DE 2019 - Aprova as Normas


Reguladoras dos procedimentos administrativos relativos ao comércio
exterior de Produtos Controlados pelo Exército (PCE) no âmbito do
Sistema de Fiscalização de Produtos Controlados (EB10-N-03.002), 2019
e dá outras providências.

11. PORTARIA Nº136 - COLOG, DE 08 NOVEMBRO DE 2019 - Dispõe sobre o


registro, o cadastro e a transferência de armas de fogo do SIGMA e sobre
aquisição de armas de fogo, munições e demais Produtos Controlados
de

12. PORTARIA Nº 1.880, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2019 - Altera dispositivos


das Normas Reguladoras dos procedimentos administrativos relativos ao
comércio exterior de Produtos Controlados pelo Exército (PCE) no âmbito
do Sistema de Fiscalização de Produtos Controlados (EB10-N-03.002),
aprovadas pela Portaria do Comandante do Exército no 1.729, de 29 de
outubro de 2019.

13. PORTARIA Nº 60 - COLOG, DE 15 DE MARÇO DE 2020 - Estabelece os

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Dispositivos de Segurança, Identificação e Marcação das Armas de Fogo
Fabricadas no País, Exportadas ou Importadas.

14. PORTARIA Nº 61 - COLOG, DE 15 DE MARÇO DE 2020 - Dispõe sobre


Marcação de Embalagens e Cartuchos de Munição.

15. PORTARIA Nº 46 - COLOG, DE 18 DE MARÇO DE 2020 - Dispõe sobre


os procedimentos administrativos relativos ao acompanhamento e ao
rastreamento de produtos controlados pelo Exército e o Sistema Nacional
de Rastreamento de Produtos Controlados pelo Exército.

16. PORTARIA Nº 212 - COLOG/C EX, DE 15 DE SETEMBRO DE 2021 -


Dispõe sobre a aprovação das normas relativas aos procedimentos
administrativos do Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos
Controlados pelo Exército (SisNaR).

17. PORTARIA Nº 213 - COLOG/C EX, DE 15 DE SETEMBRO DE 2021


- Aprova as Normas Reguladoras dos dispositivos de segurança e dos
procedimentos para identificação emarcação de armas de fogo e suas
peças, fabricadas no País, exportadas e importadas.

18. PORTARIA Nº 214, COLOG/C EX, DE 15 DE SETEMBRO DE 2021 - Aprova


as Normas Reguladoras dos procedimentos para identificação, marcação
das munições e suas embalagens no âmbito do Sistema de Fiscalização
de Produtos Controlados.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43


Referências
SCHERER, F.; CARLOMAGNO, M. Gestão da Inovação na Prática. 2. ed. São Paulo:
Grupo GEN, 2016.

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OCDE. Manual de Oslo: Diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre


inovação. 3. ed. Paris: OCDE, 2005.

SILVA, F. P. D. et al. Gestão da inovação. Porto Alegre: Grupo A, 2018.

BRILLO, J.; BOONSTRA, J. Liderança e Cultura Organizacional para Inovação. São


Paulo: Saraiva, 2018.

STICKDORN, M.; SCHNEIDER, J. Isto é design thinking de serviços: fundamentos,


ferramentas, casos. Porto Alegre: Bookman, 2014.

STICKDORN, M.; LAWRENCE, A.; HORMESS, M.; SCHNEIDER, J. Isto é Design de


Serviço na Prática: Como Aplicar o Design de Serviço no Mundo Real - Manual do
Praticante. Porto Alegre: Grupo A, 2019.

BROWN, T. Design Thinking – Edição Comemorativa de 10 anos. Rio de Janeiro: Alta


Books, 2020.

LEIFER, L.; LEWRICK, M.; LINK, P. A Jornada do Design Thinking. Rio de Janeiro: Alta
Books, 2019.

MENELAU, S.; VIEIRA, A. F. B. R.; FERNANDES, A. S. A. Inovação em Serviço de


Segurança Pública no Brasil: Facilitadores e Barreiras à Inovação nos Postos
Comunitários de Segurança do Distrito Federal. (https://repositorio.ufba.br/ri/
bitstream/ri/21863/1/Inova%C3%A7%C3%A3o%20em%20Servi%C3%A7o%20
de%20Seguran%C3%A7a%20P%C3%BAblica%20no%20Brasil%20-%20
Facilitadores%20e%20Barreiras%20%C3%A0%20Inova%C3%A7%C3%A3o.pdf)

Caderno Brasil na OCDE – Compras Públicas. (https://www.ipea.gov.br/portal/


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FENILI, R. R. Desempenho em processos de compras e contratações públicas: um


estudo a partir da inovação e das práticas organizacionais. 2016. xxiii, 340 f., il. Tese
(Doutorado em Administração) – Universidade de Brasília, Brasília, 2016. (https://
repositorio.unb.br/bitstream/10482/22451/1/2016_RenatoRibeiroFenili.pdf)

PAIM TERRA, A. C. Compras públicas inteligentes: uma proposta para a melhoria


da gestão das compras governamentais. 2018. Disponível em: <http://repositorio.
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