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Introdução
A Quarta Revolução Industrial está trazendo modificações profundas às cidades, que ultrapassam as novas
tecnologias em uso nos diversos sistemas de produtos e serviços disponíveis à sociedade, estendendo-se à
nova forma de pensar das pessoas e de enxergar o mundo.
Embora essas transformações não fiquem restritas às tecnologias, elas são as impulsionadoras dos ciclos de
evolução, que estão acontecendo em períodos cada vez mais curtos, gerando novas tecnologias, que vão
estruturar novos ciclos e assim sucessivamente, permeados por inovações, com transformações de ordem
cultural, social, política e econômica.
Essas tecnologias, quando aplicadas a áreas como saúde pública, educação, mobilidade urbana, distribuição
de energia elétrica e água etc., dão origem as “smart cities”, em que o elemento chave é o conceito de Internet
das Coisas (em inglês Internet of Things – IoT). Esse conceito de IoT prevê o emprego de sistemas inteligentes a
serviço das pessoas, por meio de aquisição de dados, processamento e transformação em produtos.
1- FARAH, Camel Andre de Godoy. Smart City, Segurança e Transporte. A Quarta Revolução Industrial e as Smart Cities [material didático]. Design
instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. Revisão Diane Dal Mago. Diagramação Frederico Trilha. Palhoça: UnisulVirtual, 2019.
O conceito de inovação
O conceito de inovação, apesar de estar associado às novas tecnologias, não se resume a elas. Isso porque,
um processo ou produto inovador poderá ser desenvolvido sem emprego de tecnologias, pois em algumas
situações pode simplesmente estar vinculado a processos, atividades, técnicas ou metodologias, sem
envolver, necessariamente, o emprego direto de tecnologias.
O conceito de inovação transcende aquela visão tradicional vinculada à tecnologia, estando também vinculado a
processos, atividades, técnicas ou metodologias. Assim, é importante compreendermos esse conceito, pois as
soluções relacionadas à Smart Cities são essencialmente inovações em diferentes setores.
Vale observar que a inovação está estreitamente ligada ao empreendedorismo, a capacidade de identificar
oportunidades e implementar ações que possam torná-las produtos ou serviços reais com valor agregado.
Em virtude disso, a inovação é determinante para implementação de novos modelos de negócio,
procedimentos e atitudes entre as pessoas.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), no Manual de Oslo - Diretrizes para
Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação, define inovação como:
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Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado,
ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de
negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. (OECD, 1997 p. 55).
Além disso, é importante destacar que inovação não está diretamente relacionada à descoberta ou invenção,
embora uma invenção possa se tornar uma inovação, devendo, para isso, criar valor.
Diante do contexto apresentado, para efeito de nossos estudos, vamos considerar que inovação é uma nova ideia
ou um conjunto de novas ideias aplicadas que resultam em uma invenção, gerando ou aperfeiçoando um produto,
serviço ou processo, criando valor para as pessoas, as organizações (públicas e privadas) ou a sociedade.
As tecnologias emergentes da Quarta Revolução Industrial envolvem nanotecnologia, inteligência artificial (IA),
realidade virtual aumentada, impressão 3D, Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), entre outras, resultantes
do conhecimento e tecnologias desenvolvidas na terceira Revolução Industrial, particularmente as digitais.
Schwab2 (2018, p.13) apresenta três aspectos importantes da Quarta Revolução Industrial, a saber:
velocidade, a amplitude e profundidade e o impacto sistêmico. Esses aspectos caracterizam a Quarta
Revolução Industrial como uma revolução propriamente dita, pois são capazes de influenciar mudanças
significativas na sociedade, não observadas na história da humanidade até então.
É interessante ressaltar que a compreensão sobre esses aspectos é fundamental para estabelecermos
a conexão entre inovação Quarta Revolução Industrial e Smart Cities, com soluções empregando IoT e
permeando esta dinâmica.
Na sequência, vamos refletir a respeito desses aspectos apresentados por Schwab (2018):
Velocidade
A velocidade está associada às transformações que ocorrem de forma exponencial na sociedade, em
ciclos de evolução cada vez mais curtos, que geram novas tecnologias, com atributos e propriedades que
as tornam mais qualificadas às soluções efetivas, ultrapassando, de forma permanente, empreendedores
públicos e privados em seus projetos.
Amplitude e profundidade
A amplitude e profundidade diz respeito à abrangência de tecnologias combinadas e ao alcance que
conferem, trazendo como resultado a mudança de arquétipos em todos os setores, individualmente ou em
grupo, modificando posturas, posicionamentos e a forma de pensar das pessoas.
Impacto sistêmico
O impacto sistêmico é caracterizado pela transformação de sistemas inteiros em países, em diferentes níveis
e esferas de atuação (governos e empresas), com consequência para toda sociedade.
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Assim, é fundamental que essa observação trazida por Schwab seja considerada nas soluções para Smart
Cities, pois tais soluções não se restringem apenas em aplicar uma nova tecnologia, mas em qual é o resultado
dessa aplicação e como ela impactará na sociedade, assim como se ela poderá ser integrada a outras que já se
encontram em utilização, em uma visão sistêmica. Nada mais é hermético, o resultado das transformações gera
impacto sistêmico na sociedade, em empresas e países.
Entretanto, devemos reconhecer que o conceito de competitividade para órgãos públicos está vinculado à
alta performance, ou seja, à capacidade dos referidos órgãos em cumprir sua função pública com eficácia,
apresentando à sociedade os melhores resultados em relação as suas atribuições e responsabilidades,
cumprimento de forma otimizada o seu papel público.
2- Klaus Schwab é fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, o qual é realizado anualmente, em Davos, Suíça.
Tipos de inovação
Os tipos de inovação transitam por diferentes dimensões, a saber: inovação de produtos, inovação de
processos, inovação de marketing, inovação organizacional, inovação incremental e inovação radical. Na
sequência, vamos descrever cada tipo.
Inovação de produtos
Inovação em produtos é entendida como a introdução de um bem ou serviço oferecido por uma empresa ou
órgão público ou a mudanças significativas em características e funcionalidades de bem ou serviço preexistente.
Inovação de processos
Inovação de processos está relacionada ao como fazer uma determinada atividade ou tarefa em uma empresa
ou órgão público. Está vinculada a uma metodologia, procedimento ou técnica que implementada resulte
em uma mudança significativa. É relevante destacar que a inovação de processo pode ser total ou parcial e
alcançar setores específicos de uma organização.
O Manual de Oslo estabelece, além dos dois tipos apresentados, inovação de marketing e organizacional
(OECD, 1997).
Inovação de marketing
Sem direcionar o raciocínio para o reducionismo teórico, podemos considerar que a amplitude da inovação
de processo engloba a inovação de marketing, entendendo o marketing uma atividade de uma organização.
Inovação organizacional
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Inovação organizacional pode ser avaliada como um tipo extraordinário do conceito inicial (produto e processo),
porém, se pensarmos que se trata de implementação de um método organizacional, retornamos à inovação de
processo. Assim, é permitido continuar com os dois tipos inicias de inovação, produto e processo.
De acordo com o Manual de Oslo (OECD, p. 61), inovação organizacional: “é a implementação de um novo
método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em
suas relações externas. ”
Inovação incremental
A inovação incremental modifica um produto, um sistema ou um processo já existente na organização, sem
alterar as suas funções básicas e nem o modificar expressamente, pois são realizadas apenas melhorias.
Em regra, este tipo de inovação utiliza conhecimento da própria organização, faz adequações para atender o
cliente e não traz sensíveis modificações no modelo de negócio.
Inovação radical
Inovação radical, incorre em transformação geral nas relações com o cliente, na forma de oferecimento do
produto ou serviço. Em regra, causa disrupção no setor de atuação e está associada a novos conhecimentos.
O grau de risco é mais elevado em relação ao sucesso (riscos positivos) ou ao insucesso do empreendimento
(riscos negativos), em face da presença de incertezas de variada natureza. Normalmente, ocasiona a extinção
de atividades ou mercados atuais e criação de novos, ocasionando mudanças significativas de paradigmas
de serviços ou modelos de negócio.
Nas empresas privadas o conceito de valor está relacionado ao desempenho que as empresas proporcionam
sob forma de serviços, produtos, imagem e resultados, às partes interessadas, como por exemplo, clientes,
acionistas, investidores ou conselho.
Nas instituições públicas, a criação de valor está condicionada ao conceito de valor público, que é expresso por:
É relevante sedimentarmos o conceito de valor, pois veremos que as soluções em Smart Cities privilegiam a
entrega de valor às pessoas, com os sistemas as colocando como o centro de suas finalidades. Na sequência
apresentamos dois cases de inovação associados as organizações Amazon Go (EUA) e Zaitt (Brasil), as quais
automatizaram suas lojas de varejo.
Amazon Go (EUA)
Uma loja onde não existem caixas, filas ou check-out. Você entra, começa a comprar, as suas compras são
relacionadas em um carrinho virtual e ao final você pode sair da loja sem passar pelo caixa e enfrentar filas. O
pagamento é feito via APP e será cobrado no seu cartão da Amazon.
Gostou? Isto é a Amazon go, um novo conceito de loja que utiliza uma rede de infraestrutura de IoT, com sensores 10
de diversos tipos associados a câmeras e sistemas de reconhecimento facial, sistemas de fusão de sensores para a
obtenção de dados que serão processados por algoritmos de aprendizagem.
Para entrar na loja é necessário utilizar o APP da Amazon go, que realiza o reconhecimento inicial, depois basta
fazer as suas compras.
Bom, como toda compra com cartão de crédito ou débito, você precisa ter saldo em sua conta bancária para fazer
o pagamento posteriormente!
É um novo modelo de negócio e atualmente já existem mais de 15 lojas nos EUA. (AMAZON GO, 2017).
Zaitt (Brasil)
A Zaitt é uma loja que utiliza um modelo semelhante ao da Amazon go. Também é necessário que o cliente utilize o
APP, porém, a entrada na loja é por meio de QR Code e reconhecimento facial, e após isso você está pronto para
iniciar suas compras.
Coloque os produtos na sacola da loja e encaminhe-se para saída. Lá é feita a verificação do que você comprou
pelo QR Code, o sistema reconhece a compra e você só tem que confirmar ou não a lista de compras. Aqui
também não existem caixas e nem filas, a fluidez para saída é maior do que as lojas convencionais.
Na Zaitt, os produtos possuem etiquetas em que é possível preço dinâmico, fazendo o valor do produto variar ao
longo do dia. (NOVAVAREJO, 2019).
Podemos observar, nos cases apresentados, uma ampla utilização de sensores, de variados tipos, constituindo
uma infraestrutura de IoT. Esses sensores permitem identificar desde o cliente na chegada à loja até a captura
dos dados dos produtos que estão sendo retirados das prateleiras, assim como quem está retirando.
Esses sensores estão interligados a sistemas com Inteligência Artificial, os quais realizam a análise dos dados
e produzem conhecimento a respeito de quem comprou e o que comprou, finalizando uma lista de compra,
essa é enviada para cobrança por meio do APP da loja.
O objetivo de uma loja autônoma é otimizar o seu funcionamento com o mínimo de intervenção humana. O
propósito é reduzir custos operacionais, otimizar o tempo do cliente em suas compras, identificar interesses
e padrões de compra dos clientes, maximizar a logística de mercadorias, ter agilidade no pagamento e
desenvolver preços dinâmicos.
Vale destacar que a estratégia utilizada na concepção de uma loja autônoma é o emprego de infraestrutura
de IoT. Essa estratégia constituiu de uma série de sensores de diversos tipos para obtenção de dados e a sua
posterior análise, gerando conhecimento.
No contexto das Smart Cities essas lojas automatizadas não estão restritas em uma bolha isolada e
compartimentada em relação ao resto da cidade onde ela está inserida. Os conhecimentos gerados pela loja
podem ser integrados a diversos sistemas, como trânsito, por exemplo.
1) o cliente seleciona pelo seu smartphone (usando o APP da loja) quais lojas possuem o produto (gerenciamento
de estoque a partir do consumo, utilizando o processamento dos dados obtidos pelos sensores) que ele necessita.
Posteriormente, associa quais estão em melhor situação naquele momento em relação ao transporte público,
considerando horários dos modais de transporte (ônibus, bonde, metro). Ele seleciona uma opção de transporte ou
utiliza um patinete ou uma bicicleta pelo APP para chegar à loja, otimizando tempo e deslocamento.
Caso o cliente fizer a opção de ir de ônibus, metrô, bicicleta ou patinete ele vai usar o seu smartphone com o APP
de transporte urbano para validar o seu embarque.
2) a logística de mercadorias pode ser realizada de forma autônoma, sem intervenção humana, de acordo com
aquisição de dados de consumo da loja e seu processamento por meio de algoritmos, viabilizando uma logística
just in time.
Isso dispensa a necessidade de a loja manter robustas estruturas físicas para armazenamento de estoques, pois
a entrega pode ser fracionada, por demanda. O sistema de logística do fornecedor pode integrar informações de
demanda da loja e com informações do sistema de trânsito, processando-os e obtendo os melhores resultados em
relação à fluidez do trânsito, locais e horários para carga e descarga e itinerários, otimizando o processo de entrega
de mercadorias na loja.
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O propósito da inovação
O propósito da inovação é criar valor para as organizações, seja na esfera pública ou privada, conforme
assinalam Dodgson e Gann (2014, p. 25), “uma das características da inovação é que ela pode ser
encontrada em qualquer organização”.
Para o setor público a inovação proporciona maior produtividade e melhor desempenho dos órgãos públicos,
constantemente pressionados com redução de orçamento e cobranças por qualidade em serviços entregues
à população. A inovação resulta em melhoria de processos, geração de benefícios sociais, produtividade
institucional e qualidade nos resultados.
A visão geral de inovação envolvendo soluções aplicáveis em Smart Cities está focada em aspectos globais,
que atendem a necessidades associadas à:
Referências
AMAZON GO. Amazon Go Legendado. 2017. (1m 46s). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=s8L6ZWK2h7w. Acesso em: 20 jul. 2019.
DODGSON, Mark e DAVID Gann. Inovação. Porto Alegre: L&M Editores, 2014.
NOVAVAREJO. Zaitt – Como funciona o primeiro supermercado 100% autônomo? 2019. (4m 10s). Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=3sePipUMMZU. Acesso em: 20 jul. 2019.
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Esses dados são globais, porém, se formos avaliar por continentes, observamos que a região América (região
designada no relatório por América do Norte, Caribe e América Latina) é a mais urbanizada, com mais de
80% das pessoas residindo em cidades e projeção para 90% em 2050 (ONU 2019, p. 5). Para o Brasil, a
estimativa é que mais de 90% da população resida em cidades em 2050.
Esses números demonstram a necessidade de planejamento e de políticas públicas para gestão integrada
destas áreas urbanas, de modo a garantir o bem-estar das pessoas que ali residem e otimizar a utilização de
recursos de toda ordem, com o mínimo de degradação ambiental.
De acordo com a ONU, o desenvolvimento de áreas urbanas está associado a três dimensões do
desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental.
Entretanto, na prática, verifica-se que a maioria dos aglomerados de pessoas e construções em áreas urbanas 13
não ocorre de forma planejada, resultando no crescimento desordenado das cidades. Paralelamente a esse
movimento, a ampliação dos serviços essências à população, com vista a atender às diversas necessidades
geradas pelo crescimento urbano, deu-se de forma desorganizada, criando uma complexa demanda.
Os processos e sistemas desenvolvidos pela sociedade para atender as necessidades básicas ainda residem
em um modelo compartimentado, estanque, com visão restrita ao respectivo setor ou área de negócio. Assim,
educação, saúde, segurança3, mobilidade urbana, energia, comércio, finanças, governança pública, entre outras
áreas, evoluíram formando sistemas isolados (mesmo que precários), com nenhum ou um baixo grau de integração
entre eles, fato que contribuiu, sobremaneira, para ineficiência diante à complexa demanda dos centros urbanos.
As cidades precisam se tornar inteligentes, desenvolver a capacidade de criar, aperfeiçoar e otimizar o emprego
desses sistemas, e para isso precisam romper com modelos estanques e ultrapassados.
Essa transformação das cidades está associada a diferentes tecnologias e inovações, das quais destaca-se a
internet, a qual relativizou o conceito de distância geográfica e estabeleceu uma nova dinâmica nas relações
sociais. Mais do que isso, constituiu uma infraestrutura interligando coisas físicas (objetos e máquinas), coisas
virtuais (software e sistemas) e pessoas, o paradigma da Internet das Coisas ou em Inglês Internet of Things
(IoT), como é mais conhecido e utilizado.
3- Para efeito desse estudo, o termo segurança engloba Segurança Pública, Sistemas de Trânsito e Defesa Civil. Abrange, também, os dois ramos
complementares à Segurança Pública, para efeito de prover segurança à sociedade, que é a Segurança Institucional, afeta aos órgãos públicos e
Segurança Empresarial, referente às empresas.
Essa evolução tecnológica permitiu, por exemplo, automatizar uma infinidade de conhecimentos e atividades
humana a partir do desenvolvimento de sensores dos mais variados tipos que podem ser conectados
à internet e permitem a captação de dados e seu envio para processamento. Também viabilizou o
desenvolvimento de dispositivos digitais como smartphones, tablets e notebooks, plataformas onde ocorrem
o monitoramento e a utilização propriamente dita do conhecimento processado.
Assim, serviços projetados utilizando os diversos dispositivos e suas redes que os interligam, geram novos
serviços a partir dessas interconexões, indicando possibilidades infinitas para aplicações em IoT. Schwab
(2018b, p.147) afirma que “na próxima década4, mais de 80 bilhões de dispositivos conectados ao redor do
mundo estarão em constante comunicação com pessoas e uns com os outros”.
Este é o futuro que se descortina a nossa frente e como continua Schwab em suas observações, “essa vasta
rede de interações, análises e resultados, remodelará a forma como os objetos são produzidos, preverá
nossas necessidades e fornecerá novas perspectivas sobre o mundo”
O futuro é hoje
Inovação refere-se a novas soluções que atendam às necessidades presentes, muitas vezes aquelas que parte
significativa dos usuários ainda nem havia vislumbrado a possibilidade de utilização. Todavia, embora atenda às
necessidades presente, inovação também possui vínculo estreito com o futuro, pois estamos pensando hoje em
algo que atenderá o porvir, uma solução que o tempo de desenvolvimento não pode torná-la obsoleta.
Nesse sentido, as soluções para Smart Cities, nos diversos segmentos, envolvem inovação, seja incremental
ou radical.
Mas quais são as demandas em IoT para atender essas soluções? Como devemos pensar a IoT para horizontes
temporais de curto e médio prazo?
O desenvolvimento de soluções que envolvam IoT exige um exercício intenso, permanente, e, principalmente, 14
inter e multidisciplinar de pensar o futuro. Assim, esse processo não pode ser desenvolvido isoladamente,
compartimentado, pois tais soluções estão interconectadas. Devemos ter uma visão sistêmica, com
integração e interdependência dos sistemas envolvidos.
Taurion (2015, p. 107) afirma que “a complexidade da sociedade humana e, principalmente, a complexidade
das grandes cidades não podem mais ser vistas de forma isolada, como sempre fizemos, mas sim em uma
visão de sistemas. ”
Nessa perspectiva, o desenvolvimento de uma solução em Smart Cities que, invariavelmente, emprega
IoT, tem que partir da premissa do processamento de dados e da conectividade para tornar os sistemas
inteligentes, otimizando a utilização de recursos de toda ordem e conectando pessoas, software e máquinas.
Desse modo, temos que refletir sobre o futuro para começar a criar uma ideia que se tornará uma solução
efetiva em algum momento da trajetória do desenvolvimento humano. A forma linear de contar o tempo começa
a perder sentido quando pensamos dessa forma, pois temos que viver o futuro para pensar o presente.
Além dos ecossistemas de inovação5, o desenvolvimento de soluções em IoT requer formas de pensar
o futuro e operacionalizar produtos e serviços. Uma forma de trabalhar com o futuro é fazer análise de
tendências e elaborar cenários prospectivos, de acordo com o horizonte temporal a ser considerado. Na
sequência vamos ver essas duas formas de pensar o futuro.
Análise de tendências
A análise de tendências consiste em realizar análise da conjuntura6 e de fatores de influência em horizontes
temporais curtos, normalmente em torno de um ano, no máximo dois anos, com capacidade de identificar as
transformações. Normalmente está orientada para inovações incrementais e estabelece hipóteses simples,
estruturadas com um pequeno número de variáveis, para visualizar as tendências.
Nesse processo de caracterização de tendências, além das variáveis presentes no ambiente, é importante
identificar os fatos portadores de futuro que podem influenciar o tema em pauta e avaliar as principais incertezas.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) criou a Rede Nacional de Institutos de Inovação para
acompanhar as transformações da Quarta Revolução Industrial. Desse modo, o Senai estruturou uma rede de
26 institutos de inovação, que atuam em pesquisa e desenvolvimento em temas e tendências como produtos
inteligentes, energia renovável e novos materiais.
Cenários prospectivos
A elaboração de cenários prospectivos refere-se à construção de contextos complexos, a partir de hipóteses
estruturadas e de alternativas ambientais e organizacionais com base na trajetória histórica, nas condições do
presente e nas variáveis com potencial de influenciar um quadro futuro. Schwartz7 afirma que “cenários são
ferramentas para nos ajudar a adotar uma visão de longo prazo num mundo de grande incerteza”. (2006, p. 15).
É relevante destacar que cenários prospectivos não são adivinhações ou previsões, uma vez que prever o
futuro com relativo grau de certeza é praticamente impossível. Os “cenários são veículos que ajudam pessoas
a aprender”, como diz Schwartz (2006, p. 17), pois eles apresentam imagens alternativas do futuro.
Em um estudo sobre soluções inovadoras, podemos fazer uma associação razoável entre inovações radicais
e cenários prospectivos, pois eles nos facilitam o ensaio do futuro e indicam como determinados aspectos
considerados no estudo podem se comportar.
O exercício de pensar o futuro não deve ser destinado somente ao setor privado no desenvolvimento de 15
soluções comerciais, pois as Smart Cities precisam de uma perfeita integração entre todos os sistemas,
incluída a governança pública. Pensar o futuro é particularmente interessante para sistemas de governança,
visando a estabelecer modelos mais ágeis e proativos.
Um exemplo são as soluções baseadas em IoT, que requerem uma identificação única para cada ser humano.
Se os governos não conseguem implementar um sistema único de identificação de sua população, as
empresas privadas adiantam soluções não oficiais com base em seus próprios resultados.
O Brasil possui 27 sistemas de identificação para expedição de carteira de identidade civil, todos estanques. Embora
exista o projeto do Documento Nacional de Identidade, atualmente, é possível a expedição de mais de uma carteira
de identidade, os institutos de identificação são independentes e os bancos de dados não são unificados.
6- Análise da conjuntura refere-se à análise dos aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais e de ciência e tecnologia que compõem a estrutura
ambiental de um determinado país ou macrorregião ou, ainda, a estrutura global.
7- Peter Schwartz é considerado um dos maiores pensadores sobre o futuro. É estrategista de negócios e especialista em cenários prospectivos.
Para identificar pessoas potenciais as empresas utilizam uma conta de e-mail ou de uma rede social,
como o facebook, por exemplo, para fazer a identificação das pessoas e estabelecer procedimentos
de verificação e validação. Assim, quando o poder público não consegue ser ágil suficiente, viabilizando
estruturas de governança que atendam a demanda da sociedade, a iniciativa privada adianta-se e
apresentam soluções.
Referências
BRISTOL IS OPEN. Bristol is Open Core Objective. 2018. Disponível em: https://www.bristolisopen.com/
overview/. Acesso em: 25 jul. 2019.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). World Urbanization Prospects 2018. Highlights.
Departament of Economic and Social Affairs. New York: United Nations, 2019. Disponível em: https://
population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-Highlights.pdf. Acesso em: 21 jul. 2019.
___________. World Urbanization Prospects: The 2018 Revision. Key Facts. Departament of Economic and
Social Affairs. 2019b. Disponível em: https://population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-KeyFacts.
pdf. Acesso em: 21 jul. 2019.
SCHWAB, Klaus. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. São Paulo: EDIPRO, 2018b.
SCHWARTZ, Peter. A Arte da Visão de Longo Prazo. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2006.
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O contexto de uma Smart City envolve estreita relação com sustentabilidade e resiliência, com soluções
voltadas para sustentabilidade ambiental, financeira e social, assim como o emprego otimizado de recursos
naturais de toda ordem e visando a promover o bem-estar das pessoas, em processos baseados em
integração, economia e eficiência.
O emprego otimizado de recursos de toda ordem decorre de iniciativas materializadas a partir de escolhas embasadas
em sustentabilidade. Assim, a essência das Smart Cities não está relacionada somente à sustentabilidade e resiliência,
mas à participação efetiva do cidadão em processos colaborativos de governança pública.
Diante do contexto apresentado, podemos observar que muito mais do que aplicação de tecnologias, uma
Smart City envolve concepção voltada para valores, bem comum e gestão, um verdadeiro impacto disruptivo,
que vai muito além das características de uma cidade digital. O documento Panorama Setorial da Internet –
Smart Cities, do NIC.br9, explicando a diferença entre Smart Cities e Cidades Digitais, destaca que:
Por vezes confundidos, esses conceitos se diferenciam pelo o grau e a natureza da capacidade que
uma cidade tem de se relacionar com as tecnologias digitais. A cidade digital funciona como uma
“extensão virtual” da cidade, por meio da disponibilização de infraestrutura e serviços a partir das TIC.
A smart city, por sua vez, compreende o uso de sistemas urbanos inteligentes. Além disso, considera-
se que tais sistemas devem ser capazes de gerar dados que servirão para informar os tomadores de
decisão e, consequentemente, abastecer políticas públicas baseadas em evidências. (NIC.br, 2017).
8- O termo “entes”, no contexto desse estudo, refere-se a objetos e pessoas, ou seja, máquinas e humanos.
9- NIC.br é o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR. Tem por finalidade implementar as decisões e os projetos do Comitê Gestor da
Internet no Brasil - CGI.br, responsável por coordenar e integrar as iniciativas e serviços da Internet no Brasil.
Observamos que não existe consenso a respeito de um conceito de Smart Cities, pois ele está em
constante transformação, na medida em que inovações sobre o tema são disponibilizadas e resultam em
desdobramentos com influência direta sobre os sistemas que permeiam uma cidade.
Na sequência destacamos alguns aspectos básicos em uma Smart City e que deve ser considerado na
elaboração de soluções:
• integração de sistemas: denotando enfoque sistêmico, com integração e interdependência dos diversos
sistemas e subsistemas, em perfeita combinação nas diversas necessidade humanas, como educação, saúde,
mobilidade urbana, energia etc.;
• acessibilidade e inclusão: conceito de Smart Cities com incorporação de valor público em soluções e
sistemas, ajustados para proporcionar o bem comum, os direitos de cidadania, redução das desigualdades
sociais e respeito à dignidade humana;
• tecnologia: amplo emprego de tecnologia em todos os sistemas, sem, entretanto, ser a tecnologia o fim da
aplicação e sim as pessoas a quem o sistema serve.
Para avaliar e definir se uma cidade é uma Smart City ou não, o projeto United Smart Cities10 (2018)
estabeleceu um conjunto de indicadores chaves de desempenho internacional, definindo critérios com a
finalidade de contribuir para que as cidades possam fazer uma autoavaliação.
A partir dessa mensuração, busca-se criar estratégias para alcançar metas de desenvolvimento sustentável.
Esses indicadores e a metodologia de coleta estão reunidos na publicação Collection Methodology for Key
Performance Indicators for Smart Sustainable Cities11.
Ao estabelecer uma abordagem de “compreender o problema que precisa de solução” o Bristol is Open formula
considerações referentes a uma Smart City que envolve a conectividade digital, e as seguintes condutas:
Schwab afirma também que “em sua forma mais simples, ela pode ser descrita como a relação entre as
coisas (produtos, serviços, lugares etc.) e as pessoas que se torna possível por meio de diversas plataformas
e tecnologias conectadas”.
Petrolo, Loscri e Mitton (2015, p. 4) apresentam requisitos para que IoT seja aplicada em sistemas, sob ponto
de vista do usuário e de autoridades municipais como:
É importante observar que a IoT utiliza sensores e meios de comunicação para formar a infraestrutura
que viabiliza o funcionamento dos sistemas em uma Smart Cities, e assim possibilitar o monitoramento e
otimização de utilização de bens e serviços. Qualquer objeto pode receber um sensor ou um dispositivo de 19
identificação, como RFId12 que realize a captação e envio de dados.
A concepção de coletivo é uma das premissas presente em soluções para Smart Cities, não há como pensar
mais no indivíduo, o modelo mental é coletivo e a IoT é o elemento chave para este compartilhamento.
Schwab (2018b, p. 63), ao tratar da necessidade de governança ágil, reforça que ela “deve ser capaz de
repensar não apenas o conteúdo de seus regulamentos, normas e padrões, mas os muitos mecanismos
necessários para produzi-los”.
12- RFId: Radio frequency identidade. Sigla em Inglês que significa identidade em rádio frequência.
13- Self-starter é uma expressão em Inglês que pode ser traduzida como iniciar algo por iniciativa própria.
Para o desenvolvimento de soluções em Smart Cities são necessários três eixos impulsionadores: Governo,
Setor empresarial e Academia.
Governo
O governo deve ter capacidade de elaborar políticas públicas, estratégias e planejamento, assim como
executar iniciativas e realizar o seu controle, avaliando-as. Deve, também, estruturar os marcos regulatórios
para questões relacionadas ao emprego de tecnologia e mantê-los atualizados, mesmo com as constantes
transformações e evoluções tecnológicas.
Desenvolver modelos de incentivos e fomento, por meio de financiamento e redução de impostos e taxas, de
forma a impulsionar iniciativas com potencial capacidade de gerar produtos e serviços, estimulando pesquisa
e empreendedorismo.
Setor empresarial
Atitude proativa de organizações privadas em empreendimentos que efetivamente entreguem valor ao
cidadão. Nesse aspecto, as Parceiras Público Privadas (PPP) ganham força, por ocupar um espaço em que o
setor público não teria condições de atuar.
Academia
Instituições acadêmicas envolvidas na capacitação de profissionais e realização de pesquisa científica, em
perfeita integração com as empresas e o governo, com a finalidade de atender as demandas presentes.
Permeando esses três eixos encontram-se os cidadãos, centro de benefícios das soluções para Smart Cities,
que possuem um papel de participação ativa na governança pública, apresentando demandas e participando
de processos de fiscalização.
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Referências
BRISTOL IS OPEN. Bristol is Open Core Objective. 2018. Disponível em: <https://www.bristolisopen.com/
overview/>. Acesso em: 25 jul. 2019.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). World Urbanization Prospects 2018. Highlights.
Departament of Economic and Social Affairs. New York: United Nations, 2019. Disponível em: https://
population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-Highlights.pdf. Acesso em: 21 jul. 2019.
PETROLO, Riccardo; LOSCRI, Valeria; MITTON, Nathalie. Towards a smart city based on cloud of things, a
survey on the smart city vision and paradigms. Transactions on Emerging
SCHWAB, Klaus. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. São Paulo: EDIPRO, 2018b.
SCHWARTZ, Peter. A Arte da Visão de Longo Prazo. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2006.
TAURION, Cezar. Tecnologias Emergentes. Mudança de atitude e diferenciais competitivos nas empresas.
São Paulo: Editora Évora, 2015.
Em reportagem da revista ÉPOCA Negócios, Tiago (2019, p. 38) revela que um levantamento de consultorias
americanas assinalou que apenas 4% das empresas utilizam efetivamente IA em seus sistemas, entretanto, essa
mesma pesquisa indica que “para o futuro, no médio e longo prazo, a IA oferece possibilidades assombrosas”.
Embora atualmente predomine a utilização de algoritmos em sistemas que utilizam IoT em Smart Cities, a IA
encontra-se em processo contínuo de aplicação em sistemas dessa natureza.
Conectividade máquina-máquina
O modelo de análise utilizando unicamente algoritmos ou empregando IA necessita de matéria-prima
chamada de “dados”. Sem dados não há o que ser analisado. Então, a IoT, essa infraestrutura que interliga
“coisas”, permite a interoperabilidade entre dispositivos e sistemas, pois é responsável pela captação,
preparação e envio dos dados até os sistemas de análise.
A IoT basicamente age de forma autônoma em relação aos eventos, fluindo dados que iniciam ou influenciam
processos, sem necessidade de intervenção humana. A conectividade ocorre entre máquina e humano e
máquina e máquina. Esse trâmite gera economia e orienta os sistemas em Smart Cities, entretanto, quanto
menor a intervenção humana, mais rápida ocorre a comunicação e o processamento de dados.
Schwab (2018b, p. 161) assinala que a “economia de dados entre máquinas crescerá até ficar maior que a
economia entre humanos”, face aos milhões de dispositivos que serão incorporados à IoT nos próximos anos,
conectando máquinas às máquinas.
Em relação ao volume de dados produzidos, no contexto do Estado brasileiro, a Lei Geral de Proteção de
Dados, LGPD, Lei nº 13.709/2018, é apenas o início dos esforços para estabelecer regulamentação referente
a situações decorrentes da IoT em Smart Cities. Isso porque há muito mais a se vislumbrar em relação a
marcos normativos.
Identificação de demanda
Os sistemas 5G vão acelerar o fluxo de tráfego de internet, permitindo aprimorar os processos de
identificação de demanda on-line, seja por aquisição de produtos e serviços, seja por opções do cidadão em
relação a algum serviço oferecido, como por exemplo, transporte público ou atendimento em saúde.
Além dessa oferta on–line, a identificação de demanda fornece um estudo de padrões de comportamento do
cidadão em diversas situações em uma Smart City, em termos econômicos, com aquisição de produtos, ou
na utilização de serviços públicos, permitindo um planejamento e emprego judicioso dos meios existentes,
buscando sustentabilidade.
Capacidade de análise
A IoT extrapola a instalação de sensores em uma Smart City para aquisição de dados e interligação entre
dispositivos. Uma aplicação com elevado potencial de gerar valor para governos, empresas e cidadãos ainda
não foi totalmente explorada: a análise de dados e sua utilização.
Entretanto, o exercício de atividades profissionais nas funções dos sistemas cada vez mais exige preparação
técnica individual das pessoas. Como exemplo, cita-se a necessidade de habilidades e competências
específicas que habilitem um técnico responsável pela instalação dos sensores de IoT em um determinado
sistema, ou do técnico responsável pela manutenção desse sistema.
A capacitação de profissionais que atuam em IoT exige a elaboração de cursos e treinamentos com
conteúdos específicos e direcionados, mas, mais do que isso, com padrões de ensino adequados aos
modelos mentais exigidos para o exercício da atividade profissional.
Segurança cibernética
A ampla exposição a ambientes de uso intensivo de tecnologia da informação e comunicação (TIC) indica a
necessidade de adoção de medidas de segurança para salvaguarda e proteção dos sistemas das Smart Cities.
Farah (2019) explica que o ciberespaço15 ultrapassa a composição de equipamentos e possui três dimensões:
- Física: caracterizada pelos equipamentos, cabos, instalações, espaço físico e outro tipo de material.
- Digital: compreendida pelo espaço virtual, os sistemas digitais, redes e Internet.
- Pessoal: permeando as duas dimensões anteriores do conceito de ciberespaço estão as pessoas,
personalizadas nos operadores (analistas e técnicos) e nos usuários que interagem com todos os
componentes acima descritos e expressam o aspecto de conhecimento neste ambiente. (FARAH, 2019).
14- Para fins desse estudo, o termo “modelo de negócio” se aplica a iniciativas do setor privado e do setor público. Em relação ao setor público, a palavra
“negócio” é entendida como atividade institucional de um órgão público ou iniciativa por ele implementada.
15- Ciberespaço: “ambiente em que dispositivos eletrônicos, equipamentos, redes de computadores, sistemas digitais, sistemas de comunicações, usuários,
operadores e Internet são empregados de forma integrada para produção, armazenamento, compartilhamento e tramitação de informações” (FARAH, 2019).
Vale destacar que em cada uma dessas dimensões as ameaças estão presentes e possuem tendências
de ampliar a sua atuação, em virtude do intensivo uso de TICs, isso requer medidas de segurança para
salvaguarda e proteção desses sistemas.
Oportunidades e negócios
As oportunidades identificadas a partir dos sistemas com IoT em Smart Cities abrangem negócios em todos
os setores. O importante nessa dinâmica de identificação de oportunidades é compreender a essência de
uma Smart City e da estruturação de seus sistemas. Nesse contexto, identificar o emprego de IoT em cada
um deles permitirá assinalar as oportunidades decorrentes dessa empregabilidade.
No sentido de entender a essência de uma Smart City, Bouskela comenta, na monografia editada pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), que:
Uma Cidade Inteligente é aquela que coloca as pessoas no centro do desenvolvimento, incorpora
tecnologias da informação e comunicação na gestão urbana e utiliza esses elementos como
ferramentas que estimulam a formação de um governo eficiente, que engloba o planejamento
colaborativo e a participação cidadã. Smart Cities favorecem o desenvolvimento integrado e
sustentável tornando-se mais inovadoras, competitivas, atrativas e resilientes, melhorando vidas.
(BOUSKELA et al. 2016, p. 16).
Diante desse cenário, torna-se fundamental planejar e governar uma Smart City em um processo de gestão
que privilegie a sustentabilidade. Nesse contexto, a resiliência constitui-se em um grande desafio, em
particular pela necessidade de integrar todos os seus sistemas, os quais se desdobram em subsistemas e
atividades com emprego de IoT.
Saúde pública
otimização do sistema de marcação de consultas e exames, considerando demanda e a
distribuição de vagas por local e horários;
registro clínico em prontuário único, com acesso em qualquer local de atendimento pelo
profissional de saúde, contendo histórico de atendimentos e de exames realizados;
sistema de antecipação de crises na área de saúde (por exemplo, epidemias), a partir do
processamento e análise de dados coletados em postos de atendimento à população.
Mobilidade urbana
sistema de gestão semafórica por demanda, otimizando o fluxo de trânsito nas vias;
sistema integrado de logística empresarial e trânsito, para coordenação de movimento de
veículos de entregas em cidades (horários, locais, itinerários), com o sistema de trânsito local
(bairro), regional (região com bairros contíguos) ou municipal;
monitoramento das vias de trânsito com gestão de fluxo por preditividade, ou seja com
antecipação na tomada de decisão.
Educação
escolas inteligentes, com dispositivos que permitam o controle escolar bem como acessibilidade
a outros serviços públicos por parte de professores e estudantes;
Energia
sistema de gestão inteligente de consumo de energia em residências, com aplicação de valor
dinâmico de tarifas;
sistemas de captação e utilização de energia solar que permitam o compartilhamento de excedentes;
redes inteligentes de energia (smart grid).
Governança pública
sistemas de participação do cidadão em processos de governança por meio de APP;
APP para informação e disponibilização de serviços públicos;
participação do cidadão em processos de fiscalização de serviços públicos por meio de APP,
com tráfego de dados e imagens.
Segurança pública
sistemas inteligentes de monitoramento por câmeras de vídeo, com emissão de alarmes em
situações de inconformidade de segurança;
soluções para centros integrados de comando e controle (CICC) que permitam a integração de
dados e informações provenientes de diversas fontes de Inteligência;
sistemas de planejamento de policiamento ostensivo e de preservação da ordem, a partir de
análise de dados de vários sistemas municipais.
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Essas são algumas oportunidades delineadas a partir de sistemas de Smart Cities, entretanto, podemos
verificar que para cada uma delas são possíveis desdobramentos, o que as amplia demasiadamente.
Entregar, por meio do uso das melhores práticas éticas, inovação produtiva, capacidades e serviços
que podem gerar uma qualidade de vida socialmente justa para todos. Impulsionar a colaboração entre
as sociedades, o conhecimento, o compartilhamento de dados e o gerenciamento analítico em todo o
cenário digital, a fim de fornecer serviços às autoridades públicas, residentes, empresas, estudantes e
visitantes a Bristol e ao oeste da Inglaterra. (BRISTOL, 2018, tradução do autor).
Ainda sobre Bristol is Open, o projeto adota “uma abordagem de ‘compreender o problema que precisa de
solução’, projetando soluções que utilizem a conectividade digital” (BRISTOL, 2018, tradução do autor). Isso
reforça a necessidade de engajamento dos setores público e privado, propiciando inovação para obtenção de
soluções que tornem as cidades inteligentes, incorporando o conceito de Smart City.
16- Joint venture expressão de origem inglesa que significa união de duas empresas para a exploração de uma atividade, por tempo determinado. A
tradução literal é “união com risco”, e pode ser utilizada para qualquer sociedade, incluindo pessoas físicas, entretanto, é comumente utilizada para
representar a associação de duas empresas.
Projeto Bristol
Bristol é uma cidade do Sudoeste da Inglaterra, reconhecida como principal cidade inteligente do Reino Unido e é
onde se desenvolve o Bristol is Open, uma joint venture entre a University of Bristol e o Bristol City Council.
O financiamento é proveniente de verbas do governo local, do Reino Unido e da União Europeia, associadas
a financiamento de pesquisas acadêmicas e do setor privado. O foco do projeto é a realização de pesquisas e
iniciativas que contribuam para o desenvolvimento de uma cidade inteligente.
Bristol is Open constitui em um modelo de iniciativa em particular pelos aspetos destacados a seguir.
Colaboração e conexão
Viabilizando a colaboração 25
Integração entre cidadãos, autoridades municipais, setor privado, centros de inovação e academia por meio do
Bristol is Open.
Bristol is Open é a caracterização da integração entre governo, setor privado, academia e o cidadão, em uma
experiência para materializar uma Smart City em todas suas especificidades.
Para finalizar este estudo, destacamos a relevância de se compreender o conceito de Smart Cities e sua
essência, assim como a demanda de soluções. Essa compreensão fundamental para aplicações em IoT e
para explorar as oportunidades decorrentes. O trabalho para desenvolvimento de soluções dessa natureza
exige equipes multidisciplinares, com modelos mentais diversificados, que permita enxergar as diversas faces 26
das Smart Cities.
Referências
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Desenvolvimento (BID). Disponível em: https://publications.iadb.org/en/road-toward-smart-cities-migrating-
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Janeiro, março de 2019. P. 34-49.
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