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Nível Técnico

Criatividade e Inovação

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Sumário

1 - Boas Vindas ....................................................................................................... 05

2 - Introdução .......................................................................................................... 06

3 - Módulo 1 – Análise Setorial e Tendências Tecnológicas .................................. 07

4 - Módulo 2 – Dimensão Organizacional da Construção Civil .............................. 16

5 - Módulo 3 – Perspectivas Tecnológicas Setoriais ............................................... 28

6 - Considerações Finais ........................................................................................ 32

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1 - Boas vindas

Seja bem-vindo! É com muito prazer que estou com você em mais uma etapa desta ca-
minhada.

Como sabemos, as novas e contínuas exigências de um mercado globalizado apre-


sentam cenários que desafiam os profissionais de hoje. São esses desafios que serão
abordados nesta disciplina e que você, com sua experiência, transformará em vantagens
competitivas.

Para que comecemos com o pé direito, tenho de lhe contar o grande desafio que está
por vir.

A empresa em que trabalhamos e também todas as empresas deste país precisam tra-
balhar com inovações para sobreviverem no mercado. Isso parece óbvio, não é? Mas
não é bem assim. Para inovar, temos de analisar quais as tendências do mercado, bus-
cando a cada dia ser um profissional mais competente, comprometido e com o objetivo
de contribuir com a empresa em que trabalhamos.

Nosso objetivo é que você conheça seu papel enquanto colaborador e reflita sobre ele,
parte fundamental para o sucesso da empresa em que está inserido.

Desejamos que o conhecimento adquirido ao longo desta disciplina o auxilie em suas


atividades do dia-a-dia, facilitando seu trabalho e aprimorando seus conhecimentos.

Cláudia Maria Kattah Vanni

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2 - Introdução

Nosso objetivo ao ministrar a disciplina Criatividade e Inovação na Construção Civil é


apresentar o contexto econômico do segmento de edificações e as inovações tecnológi-
cas que serão prospectadas visando auxiliar a cadeia produtiva da construção civil em
uma prospecção organizacional, de forma a subsidiar o trabalho a ser desenvolvido pelo
SENAI num horizonte temporal de até 10 anos.

Vejamos agora os objetivos específicos:

• estimar o ritmo de difusão de tecnologias emergentes;


• avaliar os impactos na demanda quantitativa e qualitativa por trabalhadores;
• permitir que o SENAI reforce sua ação pró-ativa, antecipando necessidades da
indústria e aumentando a empregabilidade de seus alunos;
• identificar fatores de dinamismo no setor e avaliar seu impacto na mudança do
perfil da mão-de-obra que as escolas da instituição devem formar;
• subsidiar as atividades de planejamento de médio e longo prazo relativas a novos
cursos e conteúdo pedagógico para a formação profissional no Brasil.

Como sabemos, a construção civil destaca-se como um dos setores da economia que
mais empregam mão-de-obra, respondendo por cerca de 5% do emprego formal nacio-
nal e 6,5% do total de ocupados no país (formal ou informalmente). Além disso, mais da
metade dos valores destinados a investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF)
no país é dirigida a atividades de construção.

No papel de principal instituição brasileira de formação de recursos humanos para a


indústria, o SENAI se defronta com a necessidade de estimar o ritmo de difusão de tec-
nologias emergentes e avaliar seus impactos na demanda quantitativa e qualitativa por
trabalhadores. Tal esforço permite que a Instituição reforce sua ação pró-ativa, anteci-
pando necessidades da indústria e aumentando a empregabilidade de seus alunos.

A introdução de novas tecnologias no trabalho demanda profissionais especializados em


sua utilização e aprimoramento. A introdução de novos processos de fabricação para um
determinado produto, por exemplo, compreende um novo conjunto de atividades. Esse
conjunto de atividades, bem como os conhecimentos, habilidades e capacidades neces-
sários ao seu desempenho, passa a fazer parte das descrições de ocupações que são
relacionadas à fabricação desse produto na estrutura ocupacional vigente. Ocupações
cujo conteúdo do trabalho é modificado são classificadas como ocupações em evolu-
ção.

O conteúdo apresentado nesta disciplina compreende a identificação de ocupações


emergentes e em evolução1 através de análises de transformações que vêm contribuin-
do para mudanças no conteúdo de trabalho de ocupações do setor de Construção Civil.

1 Ocupações em evolução são ocupações cujo conteúdo de trabalho envolve mudanças. Conhecimen-
tos, habilidades, capacidades e atividades para o exercício dessas ocupações são significantemente
diferentes dos originalmente codificados em estruturas ocupacionais vigentes. Essas ocupações são
representadas por antigos títulos com novo conteúdo de trabalho.

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A identificação e compreensão de mudanças relacionadas ao setor poderão contribuir,
entre outros aspectos, para o desenvolvimento de novos cursos de formação profissio-
nal, a construção de guias para orientação vocacional e a identificação de conhecimen-
tos, habilidades e capacidades para orientar profissionais que optem por transições de
carreiras.

Entender antecipadamente essas tendências e as respectivas transformações causadas


sobre as estruturas ocupacionais contribui para minimizar futuros impactos decorrentes
de sua consolidação, tais como a falta de mão-de-obra especializada e a inexistência de
ações imediatas para sua formação profissional.

O conteúdo está organizado em três módulos. No módulo 1, apresentamos a análise se-


torial e tendências tecnológicas; no módulo 2, tratamos da dimensão organizacional da
construção civil e, no módulo 3, mostramos as perspectivas tecnológicas setoriais.

3 - Módulo 1 – Análise Setorial e Tendências Tecnológicas

Para começar, vamos entender quais as características do Setor de Construção Civil.

Caracterização do Setor de Construção Civil

O setor de Construção Civil compreende, conforme a Classificação Internacional de Ati-


vidades Econômicas, um conjunto de atividades que envolve a preparação de canteiros
de obras, construção total ou parcial de edificações, obras de engenharia civil, instala-
ções, acabamentos e aluguéis de equipamentos de construção ou demolição com ope-
radores.

A construção civil é dividida em dois segmen-


tos principais. O primeiro, edificações, é com-
posto por obras habitacionais, comerciais, in-

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dustriais, sociais (escolas, hospitais, etc.), destinadas a atividades culturais, esportivas e
de lazer (quadras, piscinas, etc.). O segundo, construção pesada, agrupa vias de trans-
porte, obras de saneamento, irrigação/drenagem, geração e transmissão de energia,
bem como sistemas de comunicação e de infra-estrutura em geral.

Como vimos anteriormente, a Construção Civil tem grande importância econômica, con-
tribuindo de forma significativa para o PIB (Produto Interno Bruto) e para o emprego total
do Brasil e de vários países, representando um forte mercado para materiais produzidos
por outros setores econômicos.

Características marcantes tornam esse setor bastante distinto dos demais setores indus-
triais, a saber:

• a longo prazo, o crescimento populacional é o principal direcionador das ativida-


des de construção civil;
• as atividades de construção são bastante dependentes das condições climáticas.
Em países nos quais as estações do ano são bastante distintas, há uma queda
acentuada das atividades de construção durante os meses de baixa temperatu-
ra;
• as atividades de construção são sazonais. Fatores tais como aumento de juros,
crescimento da economia e incentivos governamentais causam flutuações de cur-
to prazo em investimentos na construção civil;
• existe uma alta dispersão geográfica entre as atividades de construção, mesmo
quando estas são executadas por uma mesma empresa, ou seja, em geral uma
mesma empresa de construção civil atua em diferentes obras que se localizam em
bairros, cidades, estados ou mesmo países distintos;
• a duração de projetos individuais é geralmente maior do que um ano fiscal;
• uma parte significativa do que é produzido pelo setor envolve características úni-
cas ou sob medida, ou seja, projetos cujas unidades são facilmente replicadas por
apresentarem as mesmas características, tais como habitações populares, não
representam a maioria;
• as atividades de construção são realizadas por uma grande variedade de em-
preendedores, tais como grandes empresas públicas ou privadas, pequenas em-
presas de construção, órgãos governamentais ou indivíduos atuando por conta
própria;
• a contribuição de médias e pequenas empresas para o setor, incluindo indivíduos
que trabalham por conta própria, é muito significativa;
• em alguns países, grande parte das atividades de construção é realizada pelo
setor informal.

Agora vamos entender em quais direções o setor da Construção Civil está caminhando.
Fique atento!

Tendências setoriais

As principais tendências identificadas no setor de Construção Civil compreendem a uti-


lização de novos materiais e sistemas de construção, o emprego de tecnologias aliadas
a elementos de design inovadores e novas práticas de gerenciamento de resíduos da
construção.
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Veja abaixo um resumo dessas tendências, cujos objetivos principais compreendem a
redução de custos de construção e de manutenção de obras bem como a minimização
dos impactos de construções sobre o meio ambiente.

Novos materiais

Novos materiais, denominados materiais de construção avançados, além de contribuírem


para a redução de custos iniciais e de manutenção de obras, aumentam a durabilidade,
resistência e capacidade de resposta de estruturas ao fogo e a desastres naturais. Ao
mesmo tempo, podem conformar estruturas com propriedades de automonitoramento e
aprimorar a integração entre estruturas e meio ambiente.

Entre os materiais de construção avançados, encontram-se aços de alta performance.


Esses materiais apresentam as tradicionais propriedades de robustez, dureza, flexibili-
dade e resistência à corrosão, com grau otimizado para conferir máximo desempenho e
custo mínimo, quando utilizados em estruturas para pontes. Contêm pequena concentra-
ção de carbono e facilitam processos de soldagem, que são realizados sem aquecimento
ou com aquecimento reduzido. São resistentes à corrosão e a fraturas, sendo desneces-
sária a utilização de revestimentos.

Revestimentos para isolamento térmico são outra classe de materiais avançados de


construção. Eles contribuem para a conservação de energia, reduzindo o consumo de
sistemas de aquecimento e de ar-condicionado. Além dessas características, apresen-
tam flexibilidade ajustável aos movimentos de contração e expansão, principais respon-
sáveis por rachaduras que causam a acumulação de umidade e o descolamento de
revestimentos.

Produtos resultantes de um novo material, conhecidos como “concreto de madeira”, es-


tão sendo utilizados em substituição aos produtos de madeira. Constituem uma alterna-
tiva direcionada a minimizar impactos ambientais, tais como o efeito estufa, decorrente
da escassez de recursos florestais. Diferentemente de outros produtos, concreto de ma-
deira envolve as mesmas técnicas de construção em madeira, ou seja, exatamente os
mesmos métodos, processos, equipamentos. Ao mesmo tempo, minimiza impactos de
mudanças em instalações hidráulicas, elétricas e de isolamento existentes.

Compósitos produzidos a partir de fibras mescladas com polímeros, também conhecidos


como polímeros reforçados com fibras, vêm gradativamente se transformando em alter-
nativas para reforçar estruturas de concreto. Contribuem para a redução da corrosão de
estruturas e para o projeto de estruturas mais leves e com design mais avançado, pois
apresentam peso reduzido e alto grau de flexibilidade.

A reciclagem de plástico permitiu a produção de compósitos, que vêm sendo utilizados


para reposição de trilhos de madeira em ferrovias. Tais compósitos são resistentes a
danos ambientais decorrentes de fatores climáticos e de agentes biológicos, o que faz
com que eles não necessitem dos mesmos tratamentos aplicados à madeira, reduzindo
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custos de manutenção.

A utilização de tubulações de concreto fabricado a partir de polímeros é cada vez mais


comum em tubulações subterrâneas ou superficiais destinadas ao transporte de líquidos
corrosivos. Estes tipos de tubulação apresentam alta resistência à corrosão e abrasão,
sendo conformados por superfícies de baixa aspereza, que facilitam o escoamento de
líquidos.

Materiais alternativos para a pavimentação de rodovias encontram-se em fase de teste.


Esses materiais, resultantes da otimização de misturas para asfalto, são projetados para
minimizar os efeitos de deformações permanentes causadas por desgaste e baixas tem-
peraturas. Por apresentarem características de especificação e métodos de produção
rígidos, sua fabricação envolve custos mais elevados, o que vem a ser uma das barreiras
para sua introdução no mercado.

Além de novos materiais, a forma de execução também pode ser um caminho para atin-
girmos o objetivo de reduzir custos de construção e de manutenção de obras, bem como
minimizar impactos de construções sobre o meio ambiente. Vamos ver!

Sistemas de construção

Sistemas de construção são conjuntos de elementos construtivos, cujo objetivo é racio-


nalizar processos e reduzir o tempo de construção. Esses sistemas são constituídos por
materiais de construção avançados e se beneficiam de suas propriedades.

Entre as novidades na área de sistemas de


construção, encontram-se juntas para a monta-
gem de estruturas fabricadas a partir de com-
pósitos. Essas juntas possuem um formato es-
pecialmente projetado para distribuir esforços
sobre áreas mais amplas. Com peso próprio
menor do que o das tradicionais juntas de me-
tal, elas contribuem para reduzir o peso total
das estruturas.

Outra novidade envolve sistemas construtivos


sob a forma de painéis. Novas versões de painéis
de isolamento acústico e visual podem ser adap-
tadas a projetos com design específico, através
da variação de sua espessura, dos elementos de
aço que compõem seu reforço ou do número de
placas de cimento que conformam suas cama-
das. Bastante leves, esses painéis não requerem
nenhum equipamento especial em sua instala-
ção, manutenção ou reposição. Os modelos mais
recentes apresentam ótima performance acústi-
ca e vêm sendo amplamente utilizados como re-
vestimento externo de estruturas residenciais e
comerciais.
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Pesquisas mais recentes na área de sistemas de construção direcionam-se à produção
de sistemas automatizados para construção e conexão de estruturas. Tais sistemas en-
volvem a utilização de computadores em seu projeto, fabricação, montagem e avaliação.
Entre os resultados dessas pesquisas, encontra-se uma família de sistemas estruturais,
denominada sistemas de construção integrados. Fazem parte dessa família os elemen-
tos para conexões entre vigas e colunas de concreto e aço, que têm a propriedade de
montagem automatizada. Esse tipo de montagem envolve a utilização de gruas controla-
das por sistemas de cabos, que possibilitam movimentos precisos em seis direções.

Em resumo, os sistemas automatizados de construção e conexão de estruturas reduzem


custos de construção, porque envolvem figuras geométricas que facilitam seu posicio-
namento inicial para montagem. Além disso, sua propriedade de montagem automática
minimiza a intervenção humana durante processos construtivos, reduzindo a exposição
de trabalhadores a acidentes.

Saiba mais: Veja as vantagens do pré-fabricado em relação a outros métodos


construtivos:

• maior facilidade para planejamento e controle de obras;


• eliminação de desperdícios;
• eliminação de serviços intermediários como formas, escoramentos, andaimes,
etc;
• total sincronia do processo de fabricação, transporte e montagem das peças;
• redução dos prazos de entrega da obra e cumprimento completo do cronograma;
• maior controle de qualidade e prazos durante todo o processo de produção;
• alta resistência à fadiga;
• canteiro limpo e organizado;
• facilidade para futuras ampliações da obra;
• maior durabilidade com menores custos de manutenção;
• contribuição na preservação do meio ambiente;
• redução dos custos do seguro contra risco de fogo.

Vamos ver o que vem de novo por aí. Continue atento!

Tecnologias e design inovadores

Tecnologias e design inovadores vêm sendo empregados com


o objetivo de reduzir custos de construção e manutenção, bem
como minimizar os impactos das edificações sobre o meio am-
biente. Essa tendência adiciona novas características às edi-
ficações, em continuidade às observadas nos denominados
“edifícios inteligentes”.

Para Cambiaghi, um edifício inteligente começa com um pro-


jeto inteligente, que por sua vez nasce de uma contratação
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inteligente. “Não existe uma fórmula pronta. Cada edifício é um trabalho de equipe que
deve ser feito a três mãos pelo pessoal de projetos, de construção e de pós-obra”, diz.
Construídos principalmente a partir dos anos 90, os “edifícios inteligentes” contam com
sistemas de segurança automatizados e com sistemas de telecomunicações e tecnolo-
gias de informação sofisticados. Essas edificações conferem amplo suporte à automa-
ção de ambientes de trabalho.

A nova versão de “edifício inteligen-


te” faz parte de um movimento de-
nominado “arquitetura verde”. Entre
as grandes vantagens desse tipo de
construção, encontra-se a redução do
consumo de energia, que é cerca de
50% menor do que o das construções
tradicionais.

Fontes alternativas de energia para


essas edificações provêm de células
combustíveis e fotovoltaicas. Células
combustíveis alimentadas por gás na-
tural fornecem energia suficiente para
manter as atividades noturnas, além
de cerca de 5% do total consumido durante o dia. A água aquecida proveniente do sis-
tema de exaustão dessas células é utilizada para consumo interno e aquecimento da
edificação. Células fotovoltaicas instaladas no exterior contribuem com energia solar adi-
cional.

Para aumentar a eficiência no consumo de energia, sistemas de aquecimento e de refri-


geração movidos a gás reduzem perdas de transmissão comuns em sistemas movidos a
eletricidade. Sensores de movimentos, instalados no interior das edificações, controlam
equipamentos de ventilação e luzes em áreas raramente ocupadas, como, por exemplo,
escadas. Sinais indicativos são alimentados por diodos e têm baixa emissão de luz. Cavi-
dades com abertura controlada por computadores facilitam a ventilação natural, sempre
que possível. Sensores de temperatura externos controlam a abertura e o fechamento
de cortinas e painéis. Finalmente, o próprio formato dessas edificações contribui para a
utilização de luz natural.

As novas versões de “edifícios inteligentes” demandam maior planejamento quando


comparadas às construções tradicionais. Como as diversas tecnologias são parte das
próprias edificações, sua integração deve ser perfeita. Novos produtos de software, que
permitem simular o comportamento de edificações antes de sua construção, têm contri-
buído para que engenheiros, arquitetos e construtores possam reduzir a fase de plane-
jamento dessas construções.

Outro aspecto importante é o fato de que a indústria de construção é considerada bas-


tante desagregada no que diz respeito às novas versões de “edifícios inteligentes”. Ainda
não existem padrões específicos para materiais e tecnologias utilizados em sua constru-
ção.

12 Criatividade e Inovação
Relembrando

Todos os aspectos analisados visam reduzir ao máximo os impactos. As construções


chamadas de “edifícios inteligentes” fazem parte de um movimento denominado “arqui-
tetura verde”. Eles podem chegar a reduzir o consumo de energia em até 50%!!!

Você sabia que a Alemanha ocupa há muito uma posição de destaque, quando se trata
de arquitetura ecológica?

Gerenciamento de resíduos de construção

O setor da construção, sob o ponto de vista ambiental, é conhecido como “setor dos
40%”: em valores aproximados, consome 40% dos recursos naturais não renováveis, é
responsável pela emissão de 40% do CO2
do efeito estufa, consome 40% da energia
produzida, gera 40% da movimentação de
transportes.

Como um reflexo da mudança do compor-


tamento da sociedade, a questão ambien-
tal vem, no entanto, ganhando cada vez
mais importância no subsetor. A busca de
edifícios mais sustentáveis - econômica,
ambiental e socialmente – começa a ser
perseguida por diferentes agentes. Esse processo começa a se tornar realidade em
grandes cidades brasileiras, como São Paulo, podendo ser observado no mercado cor-
porativo, principalmente em edifícios comerciais de alto padrão que abrigam sedes de
empresas multinacionais, Indústrias, inclusive públicas como a Petrobrás, têm adotado
essa postura na produção de seus edifícios.

As implicações do ponto de vista organizacional, no âmbito não só das empresas e dos


empreendimentos, mas da cadeia produtiva, são enormes, pois cobrem todo o “ciclo de
vida” de um empreendimento. Tal ciclo vai da escolha do terreno e estabelecimento de
prioridades de sustentabilidade do empreendimento, até a demolição futura do edifício e
destinação dos resíduos gerados. Passa pelas etapas de projeto (materiais, componen-
tes, sistemas, uso racional dos recursos, conforto e saúde dos usuários, terreno e ecos-
sistemas, vizinhança, etc.), execução (uso racional dos recursos, impactos ambientais,
aspectos sociais, etc.) e operação e manutenção (custo ao longo da vida útil, uso racio-
nal dos recursos, conforto e saúde dos usuários, incômodos na vizinhança, impactos no
meio urbano, etc.). Do ponto de vista do ambiente político institucional, é talvez o fator
que mais impactos organizacionais vai causar aos agentes da cadeia produtiva, a médio
e longo prazos.

Como vimos na disciplina Meio Ambiente, o setor de Construção Civil gera uma consi-
derável quantidade de materiais e produtos, que são classificados como resíduos e que
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passam a fazer parte do lixo industrial. Esses materiais e produtos são principalmente
resultantes de construções, reformas, demolições de obras de construção civil e da pre-
paração e escavação de terrenos. Comumente conhecidos como entulhos de obras,
envolvem, entre outros, tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, me-
tais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas,
pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações e fiação elétrica.

Com o objetivo de prevenir e evitar os impactos desses resíduos sobre o meio ambiente,
novas regulamentações deram origem a práticas de gerenciamento de resíduos de cons-
trução, que vêm sendo adotadas por um número cada vez maior de países.

Veja, a seguir, algumas práticas que visam à redução de resíduos, através de processos
como reutilização ou reciclagem. Seu enfoque é a prevenção da acumulação do lixo em
canteiros de obras. Práticas de prevenção visam reduzir a quantidade e o grau de conta-
minação de produtos ou materiais, a fim de evitar sua caracterização como resíduos.

São distintas da reciclagem e de outros tipos de gerenciamento de resíduos aplicados


somente quando produtos e materiais são considerados parte do lixo. Compreendem
três etapas que se caracterizam por:

• evitar a produção de lixo, ou seja, eliminar substâncias com capacidade de con-


taminação, ou reduzir a utilização de materiais ou da intensidade de energia em
processos de produção, consumo e distribuição;
• reduzir as fontes de produção de lixo, minimizando o uso de substâncias com ca-
pacidade de contaminação e/ou materiais ou consumo de energia;
• reutilizar produtos, envolvendo múltiplos usos de um produto em sua forma ori-
ginal, de acordo com o propósito original ou com soluções alternativas e com ou
sem recondicionamento.

Para incentivar práticas de prevenção de acumulação de lixo no setor de Construção


Civil, os processos de construção vêm sendo repensados de forma a: restringir o uso
de materiais sem potencial de reciclagem; garantir o uso de produtos que possam ser
facilmente decompostos em suas matérias-primas; e facilitar a demolição de obras no
término de seu período de vida útil.

Resumindo, a implementação de práticas de prevenção de acumulação de lixo no setor


de Construção Civil vem se desenvolvendo de forma gradativa, dependendo, em grande
parte, da utilização de materiais avançados, compatíveis com as novas regulamenta-
ções. Para os materiais e produtos que não se encontram em conformidade com essas
práticas, são aplicados processos de reciclagem e de tratamento, que também fazem
parte do gerenciamento de resíduos nesse setor.

Agora que você já entendeu a importância da implementação de práticas de prevenção e


como evitar impactos ambientais, veremos como o ambiente político e institucional afeta
o desempenho do setor, bem como a cadeia produtiva se estrutura, analisando as novas
estratégias de recursos humanos, modelos de gestão e organização do trabalho adotado
pelas empresas líderes do setor.

14 Criatividade e Inovação
Impactos sobre a estrutura ocupacional

A partir das tendências apresentadas anteriormente, observam-se importantes aspectos


que causam impactos sobre a estrutura ocupacional do setor de Construção Civil.
Observa-se que os impactos da utilização de materiais avançados e de novos sistemas
de construção sobre seu conteúdo de trabalho são mínimos. Isso ocorre porque essas
ocupações estão presentes em construções onde os materiais e sistemas não deman-
dam processos de construção inovadores, ou seja, são utilizados em conformidade com
processos construtivos existentes. Dessa forma, não se verificam mudanças substan-
ciais em atividades que envolvem a instalação de sistemas convencionais e de produtos
derivados de materiais tradicionais.

Por outro lado, a nova tendência de utilização de sistemas automatizados de construção


e conexão de estruturas contribui para algumas alterações significativas no conteúdo de
trabalho dessas ocupações. Essas mudanças requerem desenvolvimento profissional
específico para a construção de tais sistemas.

A análise dos impactos do uso de tecnologias e design inovadores na construção de


novas versões de “edifícios inteligentes”, como abordado anteriormente, revela um qua-
dro de maior complexidade. Sistemas elétricos, eletrônicos e mecânicos interagem na
manutenção dessas edificações e são construídos em conjunto com a edificação e não
adicionados posteriormente, como ocorre em construções tradicionais. A instalação des-
ses sistemas inteligentes demanda esforços integrados. Por exemplo, profissionais en-
volvidos na instalação de componentes mecânicos devem ser capazes de compreender
o papel dos componentes eletrônicos e vice-versa. Além disso, são necessários conhe-
cimentos sobre os materiais avançados que formam os componentes desses sistemas,
bem como de seus processos de instalação.

Esses impactos independem do nível de escolaridade dos profissionais envolvidos nes-


sas edificações e podem ser sumarizados na aquisição de conhecimentos em quatro
áreas: sistemas elétricos, sistemas eletrônicos, sistemas mecânicos e materiais avan-
çados.

Outro aspecto fundamental compreende a coordenação do trabalho dos profissionais


envolvidos na construção de “edifícios inteligentes”. Muitas empresas de construção vêm
acentuando a importância de profissionais capacitados na gestão dos recursos materiais
e humanos envolvidos nesses tipos de construção. Nesse contexto, uma das principais
características requeridas é a capacidade de comunicação, cuja importância é funda-
mental para garantir a eficiência na integração dos diversos sistemas comuns nessas
construções.

Como resultado de práticas de gerenciamento de resíduos da construção, observam-se


dois tipos distintos de impactos na estrutura ocupacional do setor de Construção Civil.
O primeiro impacto compreende a introdução dessas práticas no conteúdo de trabalho
das ocupações do setor, por meio de treinamentos e formação profissional. O segundo
Criatividade e Inovação
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impacto diz respeito às novas oportunidades de trabalho no setor.

As novas oportunidades de trabalho no setor envolvem conjuntos de atividades que fa-


zem parte do conteúdo de trabalho de ocupações emergentes na área de Meio Ambien-
te. Em relação ao setor de Construção Civil, essas ocupações são denominadas trans-
versais e compreendem Engenheiros de Meio Ambiente, Técnicos em Proteção ao Meio
Ambiente, Técnicos em Controle de Poluição, Trabalhadores da Conservação do Meio
Ambiente, Trabalhadores do Transporte de Materiais com Potencial de Risco e Trabalha-
dores da Disposição de Materiais Químicos.

4 - Módulo 2 – Dimensão Organizacional da Construção Civil

Estruturação da cadeia produtiva e dos empreendimentos

Você já deve ter ouvido falar em cadeia construtiva, mas você é capaz de descrevê-la
detalhadamente?

Então vamos aprender um pouco mais!

Configuração da indústria: subsetor de edificações

A cadeia produtiva é constituída por diversos agentes, incluindo as administrações muni-


cipais, estaduais e federais; concessionárias de serviços públicos; investidores e agentes
financeiros; empresas imobiliárias; empresas incorporadoras; empreendedores; empre-
sas de projeto e engenharia consultiva; consultores especializados; fabricantes de mate-
riais, componentes e sistemas; fornecedores de subsistemas integrados; laboratórios de
ensaios; organismos de certificação; instituições de ensino e pesquisa; empresas cons-
trutoras; empresas especializadas de execução (sondagem, fundações, levantamento
topográfico, etc.); empresas de gerenciamento de obras; empresas de marketing e pes-
quisa de mercado; empresas de manutenção predial; empresas de serviços condomi-
niais; empresas de gerenciamento de facilidades; empresas de “comissionamento” de
empreendimentos (commissioning); seguradoras e resseguradoras; clientes finais; etc.
Mas o que as inovações tecnológicas têm a ver com tudo isso?

A sofisticação de tecnologias é introduzida pela presença de inovações e pelo aumento


da complexidade dos edifícios, estando associada a uma variabilidade cada vez maior
de suas tipologias, para atender aos desejos dos clientes. Assim, continuará a trazer,
como uma das conseqüências, o aumento da importância relativa de alguns dos agentes
da cadeia, com implicações organizacionais para eles mesmos e para a cadeia produtiva
como um todo.

Este é o caso, sobretudo, das seguintes empresas: de projeto e de engenharia con-


sultiva; de gerenciamento de facilidades; dos fornecedores de materiais, componentes
e sistemas “customizados” e subsistemas integrados; de gerenciamento de obras; de
marketing e pesquisa de mercado; das especializadas em execução; de serviços condo-
miniais.

O papel de determinados fabricantes de componentes e sistemas tradicionalmente fora


do subsetor ou que nele atuam de modo secundário deve aumentar, principalmente no
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caso de componentes e sistemas eletrônicos e de supervisão e controle.

Dessa forma podemos concluir que novas profissões devem surgir no subsetor, em áre-
as tais como gestão de resíduos, reciclagem, logística reversa e pólos logísticos. A essas
se somam novas especialidades de projeto.

Agora que você já entendeu como os Setores da Construção Civil são influenciados por
inovações tecnológicas, veja no próximo item como elas irão se interagir frente a essas
novidades.

Padrões de competição, articulação e colaboração nas cadeias produtivas

Ações de âmbito setorial vêm sendo conduzidas, nos últimos 10 anos, na cadeia produ-
tiva como um todo e em subcadeias específicas, visando melhorar a sua compreensão
e o seu nível de articulação e colaboração bem como regular os padrões de competição
praticados.

Do ponto de vista da ação pública, merecem destaque:

• programas que dão suporte à pesquisa, como é o caso do Programa de Tecnolo-


gia de Habitação - HABITARE, da FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos do
Ministério da Ciência e Tecnologia, que procuram promover ações que melhorem
a integração na cadeia;
• programas que visam à melhoria da qualidade do produto final e ao aprimoramen-
to das empresas e da cadeia produtiva, atuando também como mecanismo regu-
lador da competição, como um todo. Dentre eles, estão o Programa Qualihab
- Programa da Qualidade da Construção Habitacional do Estado de São Paulo da
CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São
Paulo; e o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-
H, da Secretaria Nacional da Habitação do Ministério das Cidades.

Quanto às ações das empresas privadas e de suas entidades setoriais, merecem des-
taque:

• ações da Comissão da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do


Estado de São Paulo – Construbusiness;
• programas Setoriais da Qualidade, alinhados com os programas Qualihab e
PBQP-H, mas conduzidos pelas entidades setoriais, que visam à implantação de
sistemas de gestão da qualidade (setor de serviços e obras) ou ao desenvolvi-
mento da normalização técnica e à busca da conformidade às normas técnicas
(fabricantes de materiais, componentes e sistemas);
• ações conduzidas pelo Comitê Brasileiro de Construção Civil da Associação Bra-
sileira de Normas Técnicas, com apoio da Caixa Econômica Federal, para o apri-
moramento da normalização técnica, incluindo a preparação de novas normas
e a revisão dos textos antigos. O processo levou à criação das normas ditas de
Criatividade e Inovação
17
“desempenho”, que representarão um novo marco para a construção habitacional
no país;
• ações de entidades setoriais que se unem para resolverem problemas comuns
(fabricantes de esquadrias de alumínio e construtores; contratantes e fornecedo-
res de projeto; etc.).

O estudo de prospecção tecnológica da cadeia produtiva da construção habitacional


identificou a necessidade de “apoio organizacional e institucional à qualidade” como sen-
do um dos fatores críticos relacionados à questão da qualidade na cadeia produtiva da
produção habitacional.

Vamos verificar as tendências sobre a cadeia produtiva da construção civil apresentadas


pelo Plano Estratégico para Ciência, Tecnologia e Inovação na Área de Tecnologia do
Ambiente Construído:

“Deverá aumentar a consciência de que há forte interdependência entre os agentes da


cadeia produtiva em termos de desempenho. Em função disso, será crescente a neces-
sidade de gerenciar a cadeia produtiva como um todo, partindo da premissa de que, em
muitas situações, a competição por investimentos e mercados ocorrerá entre diferentes
cadeias. Assim, deverá haver mudanças de atitude por parte dos diferentes agentes, os
quais buscarão maior cooperação entre si ao invés de confrontação. Tende a aumentar
a formação de alianças estratégicas, redes cooperativas e parcerias entre empresas,
as quais mantêm vínculos não estritamente comerciais ao longo de diversos empreen-
dimentos. Deverá também crescer o número de ações de âmbito nacional ou regional
promovidas por entidades setoriais, articuladas em torno de programas de melhoria da
qualidade ou de gestão integrada de cadeias produtivas.”

“Os fabricantes deverão estabelecer uma maior interação com o processo de constru-
ção, buscando aumentar o valor agregado aos seus produtos através da introdução de
serviços associados, tais como projeto, serviço de entrega mecanizada e planejada, ins-
talação e manutenção durante o uso. Alguns desses fabricantes poderão se engajar for-
temente no processo de projeto, sendo-lhes possível oferecer alternativas tecnológicas
a partir de uma especificação de desempenho. Os contratos de fornecimento deverão
definir claramente os compromissos das partes. Alguns dos setores fabricantes tendem
à forte internacionalização (por exemplo, cerâmica para revestimento, pedras naturais,
etc.).”

“Os revendedores de materiais, que têm um importante papel no atendimento a peque-


nos consumidores, poderão assumir papéis de mais impacto da cadeia, tais como geren-
ciamento logístico e montagem de kits.”

“No caso de setores fragmentados, formados por uma elevada parcela de micro e pe-
quenas empresas, deve-se salientar a necessidade da aglomeração de empresas em
esforços cooperativos, principalmente de caráter regional, como, por exemplo, pólos in-
dustriais, clusters e redes. Tais esforços devem reunir não apenas as empresas e suas
formas de representação (associações, sindicatos e federações), mas também diversas
outras instituições públicas e privadas voltadas à formação de recursos humanos, pes-
quisa e de serviços tecnológicos, etc.” (...)

18 Criatividade e Inovação
“A aquisição de produtos e serviços na construção sofrerá mudanças drásticas, no sen-
tido de introduzir contratos que definam uma relação mais profissional entre as partes.
Assim, poderá haver uma gama muito ampla de tipos de contratos, muitos deles bas-
tante distintos das formas tradicionais de licitação e contratação, do tipo empreitada por
preço mínimo. Os contratos deverão definir claramente as responsabilidades de cada
interveniente e estabelecer uma divisão de riscos compatível com a capacidade de cada
parte em gerenciá-los. A certificação de sistemas de gestão da qualidade, sistemas de
gestão ambiental e sistemas de gestão da higiene e segurança do trabalho será forte-
mente utilizada como indutor de desenvolvimento do setor por parte de clientes. A ênfase
em contratos formais e certificação não eliminará a importância de aspectos informais e
de relacionamento pessoal.”

Estruturação dos empreendimentos

No item anterior, pôde-se perceber que, para o setor da construção civil, não basta ape-
nas analisar as relações entre agentes no âmbito da cadeia produtiva, pois ele se ca-
racteriza pela adoção do modelo de organização da produção por empreendimentos
ou “projetos”. Trata-se de uma configuração de curta duração (tipicamente de 12 a 24
meses, no subsetor de edificações) e focada num produto e cliente.

Algumas mudanças vêm ocorrendo no modo de gestão dos empreendimentos e devem


continuar nesse sentido, afetando as relações entre os agentes nele atuantes, com con-
seqüências organizacionais:

• etapas iniciais dos empreendimentos ganham importância (prospecção do merca-


do; estudo de viabilidade técnico-econômica);
• ganham destaque novas configurações dos empreendimentos (“Turn-key”; “Built
to Suit”, etc.);
• mudam as formas de contratação das construtoras, num rebalanceamento no
compartilhamento de riscos entre contratantes e construtoras (preço máximo ga-
rantido; preço alvo);
• alianças estratégicas (joint ventures, cooperações, parcerias, etc.) alteram as for-
mas de contratação e de relacionamento entre agentes;
• introdução do mecanismo da arbitragem nos contratos de fornecimento de obras
e serviços, que constitui ágil instrumento de resolução de conflitos no âmbito do
empreendimento, ao permitir “as partes envolvidas resolver suas disputas sem a
interferência do Poder Judiciário, por especialistas na matéria em litígio, de ma-
neira informal e com maior rapidez e eficácia do que no processo judicial”, facilita
o estabelecimento e permite consolidar as relações entre agentes;
• visão mais ampla conferida à gestão de empreendimentos por parte dos contra-
tantes (gerenciamento dos custos, da integração, da comunicação, dos riscos,
dos contratos, dos aspectos ambientais, etc.);
• desenvolve-se integração de sistemas de gestão e criação de um plano da quali-
dade específico para o empreendimento;
• aplicação dos princípios da engenharia simultânea altera o momento de interven-
Criatividade e Inovação
19
ção dos agentes;
• funções “gerenciamento de projeto” e “gerenciamento de obras” ganham impor-
tância, envolvendo, além das tradicionais áreas de planejamento/prazo, qualida-
de, aquisições e custos, outras como escopo, recursos humanos, comunicações
e riscos;
• etapa de projeto se destaca, incluindo a elaboração de projetos para produção,
envolvendo a escolha da tecnologia construtiva;
• surgem novas exigências quanto a desempenho e sustentabilidade dos proces-
sos envolvidos na produção dos edifícios e de seus materiais, componentes e
sistemas e dos produtos finais;
• novos agentes começam a fazer parte do ciclo do empreendimento (por exemplo,
para o atendimento aos clientes e comunicação com clientes, o fornecimento da
assistência técnica, a avaliação da satisfação dos clientes, o gerenciamento da
entrega da obra – Commissioning , o gerenciamento de facilidades - Facilities
Management, etc.);
• destaca-se a notoriedade da Tecnologia da Informação (TI) para a coordenação
de empreendimentos;
• cresce a importância da formulação e do uso de indicadores.

O estudo de prospecção tecnológica da cadeia produtiva da construção habitacional


identificou a necessidade de “projeto” e de “gerenciamento” como sendo dois dos fatores
críticos relacionados à questão da tecnologia e gestão da produção habitacional. Nesse
sentido, diz que:

• Projeto: necessidade de melhorar o processo de projeto habitacional, o que signi-


fica incorporar, na prática das empresas projetistas, construtoras e fornecedoras,
os seguintes elementos: coordenação modular e compatibilização entre todos os
subsistemas; padronização de dimensões e detalhes construtivos; maior uso de
componentes e sistemas pré-fabricados; integração do produto com o processo de
produção (projeto para produção), coordenação de todas as fases da produção,
com foco na satisfação do usuário, a utilização de ferramentas computacionais e
sistemas de informação que aumentem a produtividade e evitem a ocorrência de
erros;
• Gerenciamento: necessidade de melhorar o gerenciamento das construções, o
que significa disseminar nas empresas a prática sistematizada de ações voltadas
à coordenação, planejamento, execução e controle, de modo a otimizar o uso de
recursos bem como garantir a qualidade do processo de produção e dos produtos
intermediários e finais.
• Processo de projeto: atualmente é insatisfatório/regular, devendo melhorar no
futuro, mesmo no cenário tendencial. Uma tendência que pode se transformar em
estratégia é a concentração de esforços para disseminar os avanços já obtidos
para o conjunto das empresas.

Ganham importância no mercado os chamados projetos de pré-construção (que incluem


orçamento, planejamento da produção, programação da produção, projetos para produ-
ção, projeto do canteiro, etc.).

20 Criatividade e Inovação
Dependendo do tipo de edificação envolvida no
empreendimento - relacionada à obra de infra-es-
trutura, comercial, industrial ou residencial – es-
sas mudanças são ou serão mais presentes, do
mesmo modo que, no caso da construção resi-
dencial, isso depende do modo de produção ado-
tado: própria a preço de custo, privada imobiliária,
produção e gestão estatal e autoconstrução. No
entanto, ao estarem presentes, trarão mudanças
às formas de organização do subsetor.

Como podemos observar, várias tendências rela-


cionadas à questão de gerenciamento de proje-
tos foram apresentadas na disciplina Engenharia
e Arquitetura Simultânea, visando a estabelecer
uma condição prospectiva de suas evoluções.

Veja o exemplo ao lado:

Uma inacreditável obra de engenharia

Ponte que liga a Suécia à Dinamarca se transforma


em um túnel no meio do mar!
Mas será que esta ponte que liga a Suécia à Dinamar-
ca existe mesmo?

Criatividade e Inovação
21
Sim, os dois países fizeram um consórcio para a criação de uma ponte-túnel.

Veja no desenho abaixo.

A ponte (ou túnel) foi inaugurada no ano 2000 para interligar a cidade de Copenhague
- capital da Dinamarca - a Malmo - a terceira maior cidade da Suécia. Copenhague en-
contra-se na ilha grande de Zealand, localizada aproximadamente a 16 km (10 milhas)
de Suécia. Essa zona entre Dinamarca e Suécia se chama Oresund. A gigantesca cons-
trução serviu para unir ainda mais os dois países que já tinham suas culturas e economia
igualmente ligadas.

Para termos idéia do


trabalho que tiveram
para construir essa ma-
ravilha, veja algumas
fotos e curiosidades:

Uma ilha artificial foi


construída.

22 Criatividade e Inovação
A entrada do túnel...

Veja a seguir o cronograma resumido, firmado entre os governos dos dois países:

• em 1991, os dois países firmam um acordo para construir a ponte;


• em 94, o governo Sueco aprova o início da ligação da ponte;
• em abril de 97, foi perfurado o primeiro pilar de sustentação da ponte a dezessete
metros de profundidade. Também em 97, chegam as mais de 55.000 toneladas de
componentes que formarão o túnel.

E finalmente, no dia 1º de julho de 2000, foi inaugurada a ponte-túnel, que liga a Dina-
marca à Suécia.

Criatividade e Inovação
23
Características do mercado consumidor da cadeia

O estudo de prospecção tecnológica da cadeia produtiva da construção habitacional


identificou o “conhecimento das necessidades do consumidor” como sendo um dos fato-
res críticos relacionados à questão da qualidade da produção habitacional. Nesse sen-
tido, diz que:

De modo geral, pouco se conhece do mercado consumidor, não importando o tipo de


edificação ou a quem se destina. Nesse sentido, o Plano Estratégico para Ciência, Tec-
nologia e Inovação na Área de Tecnologia do Ambiente Construído aponta algumas ten-
dências gerais sobre as características do mercado consumidor em edificações residen-
ciais:

“Tende a aumentar o foco nas necessidades dos clientes, devendo ser enfatizado o con-
trole horizontal de processos, baseado na definição clara de relações cliente-fornecedor,
em oposição ao controle vertical, típico de estruturas hierárquicas funcionais.

Assim, um maior esforço de identificação do perfil e dos requisitos dos clientes deverá
ser realizado (...)

“Um dos mecanismos que deverá ser fortemente utilizado é a participação direta dos
clientes nas decisões, dentro de um processo de desenvolvimento de produto adequa-
damente planejado, principalmente no caso de órgãos ou empresas contratantes.”

“Um esforço maior também deverá ser aplicado ao processo de ‘educar’ o cliente quanto
ao produto que está sendo adquirido, incluindo desde a disseminação de informações
quanto a alternativas de produtos ou serviços e seus respectivos custos, até instruções
sobre como usar adequadamente o produto.”

“Garantias reais de bom funcionamento do produto deverão ser oferecidas, da mesma


forma que existem em outras indústrias.”

“A avaliação da satisfação do cliente, realizada através dos procedimentos de avaliação


pós-ocupação, é essencial para retro-alimentar o processo de construção de edifica-
ções, de forma a definir as ações corretivas necessárias e propor diretrizes para novos
empreendimentos semelhantes.”

Como podemos perceber, todas essas tendências alteram as relações à jusante da ca-
deia de suprimentos de um empreendimento, no que tange à influência dos clientes
finais no seu comportamento, e têm conseqüências organizacionais marcantes.

Características organizacionais setoriais

Quatro aspectos merecem destaque neste item:

• qualidade;
• infra-estrutura de Tecnologia Industrial Básica, incluindo normalização técnica;
• meio ambiente;
• uso da tecnologia da informação.
24 Criatividade e Inovação
Qualidade

Os principais e inúmeros aspectos que afetam a estruturação da cadeia produtiva dos


empreendimentos relacionados à questão da qualidade já foram citados nos itens an-
teriores, afetando as diferentes etapas dos empreendimentos e os diferentes agentes
envolvidos.

Cabe, no entanto, resgatar aqui uma tendência para as normas de certificação:

Certificação de sistemas de gestão da qualidade: a certificação de sistemas de gestão


da qualidade (por exemplo, ISO 9001) já vem sendo usada por parte de órgãos contra-
tantes e financiadores públicos e privados como mecanismo para estimular a qualifica-
ção de seus fornecedores. Na esfera pública, destaca-se o Sistema de Qualificação de
Empresas de Serviços e Obras (SiQ), criado no âmbito do PBQP Habitat, que propõe a
qualificação das empresas de forma evolutiva, cujo último nível resulta na certificação
do sistema de gestão da qualidade. Em que pese ser um importante indutor da melhoria
do setor, a certificação de sistemas da qualidade não deve ser encarada como o único
mecanismo de melhoria gerencial das empresas, devendo haver uma conscientização
das limitações do seu papel.

• “Certificação de sistemas de gestão ambiental e de higiene e segurança do tra-


balho: outros tipos de certificação de sistemas de gestão, tais como de gestão
ambiental (série de normas ISO 14000) e de gestão da higiene e segurança do
trabalho vêm assumindo uma crescente importância, devendo ter o seu fomento
incrementado no futuro.”

Infra-estrutura de Tecnologia Industrial Básica: capacidade laboratorial, normaliza-


ção técnica e avaliação de conformidade

Uma análise completa das implicações desse tema seria muito longa e um pouco fora
de propósito, devido ao foco da disciplina. No entanto, duas de suas componentes não
podem deixar de ser citadas: a limitada capacidade laboratorial do setor e o problema da
normalização técnica e da avaliação de conformidade.

Quanto à capacidade laboratorial do setor, apontamos a importância da “reciclagem,


recapacitação e incentivo aos laboratórios de controle tecnológico de materiais e siste-
mas”:

Os laboratórios dedicados à análise, avaliação e controle tecnológico de materiais e


sistemas de construção estão ainda focados quase que exclusivamente em produtos
relacionados às estruturas, como o concreto e o aço. No entanto, as necessidades atuais
quanto aos novos produtos e sistemas requerem laboratórios equipados e capacitados
para análise e avaliação de produtos e sistemas sob todos os aspectos do desempenho
ao longo da vida útil. A necessidade de atualização tecnológica e, sobretudo, de adequa-
ção às exigências internacionais nos padrões NBR ISO Guia 25 para a operação dos
Criatividade e Inovação
25
laboratórios existentes nas várias regiões do Brasil é condição fundamental ao processo
de modernização da indústria utilizando-se mecanismos como a certificação de produ-
tos.

Já quanto à normalização técnica e à avaliação de conformidade, embora carências


existam, há uma tendência clara no sentido do desenvolvimento de:

• novas normas e atualização das antigas, cobrindo os diferentes componentes e


sistemas, produzidas segundo um processo que envolva todos os agentes inte-
ressados e com forte influência da questão do desempenho;
• novas normas que consolidem as práticas profissionais, ditas “referenciais tecno-
lógicos”;
• “referenciais normativos de serviços” ou “códigos de práticas recomendadas”;
• mecanismos de aprovação técnica de tecnologias inovadoras para construção;
• novos programas setoriais de componentes e sistemas voltados ao combate à
não conformidade intencional.

Reforçando as idéias anteriores, o estudo de prospecção tecnológica da cadeia produti-


va da construção habitacional identificou a “normalização técnica” e a “conformidade de
componentes e materiais” como sendo dois dos fatores críticos relacionados à questão
da qualidade da produção habitacional. Nesse sentido, diz que: “Normalização técnica:
necessidade de ampliação, adequação e atualização do conjunto das normas técnicas
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), aplicáveis à construção civil.” É
necessário também que a normalização esteja focada no desempenho e não na prescri-
ção, como ainda é comum, para propiciar o avanço tecnológico no setor.

Conformidade de componentes e materiais: “existe a necessidade de adequação às nor-


mas técnicas, dos componentes e materiais de construção.” O documento apresenta,
ainda, as conclusões tiradas após a apresentação dos temas aos especialistas, visando
a estabelecer uma condição prospectiva de suas evoluções:

Na normalização técnica, a tendência é de melhora; mesmo no cenário tendencial e no


cenário pessimista, ela não piora. Há a percepção de que a normalização formal evoluirá
positivamente, em função da modernização do setor e do aumento das exigências le-
gais. As dificuldades maiores estão na efetiva aplicação. Conformidade de componentes
e materiais: “Tendência é de aumento, embora deva ser considerada diferenciação nos
produtos e nas regiões do país.” Mais uma vez, todo esse desenvolvimento vai levar a
mudanças organizacionais no âmbito da cadeia produtiva.

Meio-ambiente

Como no caso da qualidade, os principais aspectos que afetam a estruturação da ca-


deia produtiva dos empreendimentos relacionados à questão do meio-ambiente já foram
também citados anteriormente e afetam as diferentes etapas dos empreendimentos bem
como os diferentes agentes envolvidos:

• desenvolvimento de métodos e ferramentas que avaliem o impacto ambiental de


empreendimentos de construção ao longo do seu ciclo de vida;
26 Criatividade e Inovação
• desenvolvimento de métodos de análise do ciclo de vida (ACV) de componentes
e edifícios;
• introdução de mecanismos para a gestão dos requisitos ambientais ao longo do
processo de projeto;
• desenvolvimento de bases de dados, incluindo o registro de boas práticas, para
apoio a decisões de projeto relacionadas à vida útil das edificações;
• desenvolvimento de tecnologias que aumentem a eco-eficiência dos materiais, e
componentes utilizados na construção civil, incluindo processos de reciclagem de
resíduos, co-processamento de resíduos como insumo energético, eliminação de
elementos nocivos e aumento da durabilidade de materiais e componentes;
• desenvolvimento de componentes e subsistemas voltados à conservação de ener-
gia e água nas edificações;
• desenvolvimento de métodos e técnicas para a gestão da operação, manutenção,
reforma e modernização de edifícios visando a aumentar a vida útil das edifica-
ções e a conservação de energia e água;
• compreensão dos processos de degradação de materiais e componentes, de for-
ma a prever a sua vida útil em diferentes condições de uso;
• desenvolvimento de sistemas de certificação ambiental de sistemas de gestão de
empresas e de empreendimentos e também de mecanismos de avaliação de pro-
dutos do ponto de vista ambiental, adaptados à realidade do macro-complexo;
• desenvolvimento e implementação de programas de educação ambiental. A gran-
de maioria deles, ao virar realidade, o que deve ocorrer em muitos casos, afetará
a organização setorial.

Um tema essencial do conceito de sustentabilidade, que deve se desenvolver com am-


plos impactos organizacionais vindo somar-se ao do meio-ambiente, é o da responsabi-
lidade social empresarial2.

Uso da tecnologia da informação

Em relação à tecnologia da informação, o seu impacto na Construção Civil ao longo das


últimas décadas tem sido mais lento e menor do que se esperava, principalmente por
deficiências na gestão de processos.

À medida que tais deficiências forem superadas, a tecnologia da informação poderá tra-
zer benefícios substancialmente maiores ao setor. Além disso, a utilização mais intensa
de sistemas computacionais na gestão dependerá do sucesso da implementação de
algumas tecnologias disponíveis em produtos comerciais e também de algumas iniciati-

2 - O Instituto Ethos (2005), um dos mais respeitados órgãos brasileiros que age em prol de uma gestão
ética de negócios, define responsabilidade social empresarial como: “uma forma de conduzir os negócios
que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente
responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas,
funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambi-
ente) e consegue incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender as demandas de
todos, não apenas dos acionistas e proprietários”.

Criatividade e Inovação
27
vas setoriais de estabelecimento de padrões (por exemplo, classes de objetos, termino-
logia).

Os principais impactos esperados são: uso de extranets para o gerenciamento de proje-


tos; uso do CAD 3D (Computer Aided Design em três dimensões) e realidade virtual em
mais larga escala durante o projeto e também para visualização de produtos; intensifi-
cação do uso de SIG (Sistemas de Informações Geográficas) para a criação de bancos
de dados vinculados a bases geográficas; controle automatizado de movimentação e
estoques de materiais; desenvolvimento de sistemas computacionais para gestão que
integrem diferentes processos gerenciais (por exemplo, planejamento, projeto, orçamen-
to, etc.); uso de sensores e hardware portátil para monitoramento e controle gerencial e
tecnológico; desenvolvimento e aplicação de sistemas de automação e informação para
a operação e manutenção de edifícios.

“Várias são as possibilidades de avanços que a tecnologia da informação tem propor-


cionado à Construção Civil, muitas delas vinculadas também a melhorias nas teleco-
municações. Os benefícios proporcionados por sistemas computacionais poderiam ser
ainda maiores se a Construção Civil explorasse mais adequadamente o seu potencial,
principalmente através da introdução de melhorias em seus processos gerenciais”.

5 - Módulo 3 – Perspectivas Tecnológicas Setoriais

Panorama tecnológico do setor da construção de edificações no brasil

O setor de construção de edifícios no país tem apresentado, historicamente, uma lenta


evolução tecnológica, comparativamente a outros setores industriais. As características
da produção, no canteiro de obras, acarretam baixa produtividade e elevados índices de
desperdícios de material e de mão-de-obra. Essa condição, associada às altas taxas de
inflação verificadas até os anos 80, fazia com que a lucratividade do setor fosse obtida
mais em função da valorização imobiliária do produto final do que da melhoria da efici-
ência do processo produtivo.

A partir da década de 90, em função de vários fatores, como o fim das altas taxas de
inflação, os efeitos da globalização da economia, a redução do financiamento, a retração
do mercado consumidor e o aumento da competitividade entre as empresas, entre ou-
tros, têm levado a uma modificação desse cenário. As empresas construtoras começam
a tentar viabilizar suas margens de lucro a partir da redução de custos, do aumento da
produtividade e da busca de soluções tecnológicas e de gerenciamento da produção de
forma a aumentar o grau de industrialização do processo produtivo.

Porém, vários são os fatores que impedem a alavancagem desse movimento e o início
de uma nova fase de evolução sustentada do setor, entre os quais podem ser citados:

• a ainda baixa produtividade do setor, em que pese a evolução recente, estimada


em cerca de um terço da de países desenvolvidos;
• a ocorrência de graves problemas de qualidade de produtos intermediários e final
da cadeia produtiva bem como os elevados custos de correções e manutenção
pós-entrega;
• desestímulo ao uso mais intensivo de componentes industrializados devido à alta
28 Criatividade e Inovação
incidência de impostos e conseqüente encarecimento dos mesmos;
• a falta de conhecimento do mercado consumidor, no que diz respeito às suas ne-
cessidades em termos de produto a ser ofertado;
• a falta de capacitação técnica dos agentes da cadeia produtiva para gerenciar a
produção com base em conceitos e ferramentas que incorporem as novas exigên-
cias de qualidade, competitividade e custos;
• a incapacidade dos agentes em avaliar corretamente as tendências de mercado,
os cenários econômicos futuros e a identificação de novas oportunidades de cres-
cimento.

Para a superação das barreiras que impedem o avanço tecnológico e o aumento da


produtividade na construção de edifícios no país, destacam-se algumas ações, entre
elas a ampliação do acesso a equipamentos, a diversificação do mercado fornecedor
de insumos para pré-fabricação, atualmente concentrado em poucos fornecedores, com
maior poder de barganha sobre o elo da produção; a desoneração tributária sobre a pré-
fabricação; as formas de contratações que estimulem o aumento da produtividade, como
modalidades de contrato por preço fechado ou preço alvo e a modernização da legisla-
ção trabalhista na construção civil, visando à redução da informalidade na contratação
de trabalhadores.

Trajetórias tecnológicas no setor da construção de edificações

A construção civil e a construção de edificações têm se desenvolvido de forma gradual


e particularmente de forma mais intensa a partir do final do século XIX. É dessa época
o desenvolvimento do cimento Portland e, em conseqüência, do concreto armado e pro-
tendido, que possibilitou a construção de edifícios de multipavimentos. A estrutura me-
tálica também se desenvolveu no âmbito de um maior conhecimento técnico-científico.
Esse conhecimento, o das ciências da engenharia, permitiu, então, o desenvolvimento
do cálculo das estruturas e também da mecânica dos solos.

Mais especificamente no país, de 1930 a 1990, surgiram alguns materiais e componen-


tes como substitutos de outros anteriormente empregados. Tubulações de água fria e de
esgotos, feitas até então em ferro fundido, aço galvanizado ou cerâmica, foram substituí-
das por plástico, no caso o PVC. Janelas em madeira foram gradativamente substituídas
por fabricadas em aço, alumínio ou PVC. Materiais de revestimento como pedras foram
substituídas por cerâmicas, assim como foram introduzidas as tintas poliméricas a base
de látex.

Internacionalmente é o final da Segunda Guerra Mundial que traz a possibilidade real de


uma grande evolução na construção de edificações para resolver o problema da escas-
sez de habitações em uma Europa devastada.

A partir dessa necessidade, podem-se listar cinco tópicos que alteraram substancialmen-
te os princípios da construção civil e particularmente da construção de edificações:

Criatividade e Inovação
29
a) o primeiro deles foi o conceito de controle da qualidade, baseado nos modelos fordis-
tas e tayloristas, utilizados por setores industriais avançados na época;

b) nas décadas de 60 e 70, a abordagem determinística foi substituída pela abordagem


probabilística, alterando os critérios de projeto estrutural;

c) no final da década de 70, surgiu o conceito de desempenho das edificações, que subs-
tituiu as idéias prescritivas e trouxe as exigências do usuário para o cenário técnico;

d) na década de 80, os conceitos de gestão da qualidade também repercutiram na cons-


trução de edificações, com as devidas adaptações;

e) nos anos 90, surgiu o conceito da construção sustentável, a reboque do movimento


internacional de sustentabilidade ambiental, que teve como marco o encontro Rio 92.

Esse tipo de industrialização trouxe uma certa democratização da tecnologia para todas
as empresas, permitindo o seu emprego sem grandes investimentos. No entanto é fun-
damental a mudança dos processos gerenciais nas construtoras e na capacitação de
sua mão-de-obra.

Hearst Headquarters, Nova York. Este é um grande


exemplo do potencial de reciclagem do aço. Todas
as diagonais que estruturam os caixilhos usam esse
material. A edificação de 7 pavimentos na sua base
foi preservada, dando origem a um programa multi-
funcional. Fonte: Foster and Partners

Saiba mais: Existem dois modelos de construção sustentável, que estão sendo
estudados no país:

• construções com materiais sustentáveis industriais: construções edificadas com


ecoprodutos fabricados industrialmente, adquiridos prontos, com tecnologia em
escala, atendendo a normas, legislação e demanda do mercado;

• construções com materiais de reuso (demolição ou segunda mão): esse tipo de


construção incorpora produtos convencionais, prolonga sua vida útil e requer pes-
quisa de locais para compra de materiais, o que reduz seu alcance e reprodutibi-
30 Criatividade e Inovação
lidade. Este sistema construtivo emprega, em geral, materiais convencionais fora
de mercado. É um híbrido entre os métodos de autoconstrução e a construção
com materiais fabricados em escala, sendo que estes não são sustentáveis em
sua produção.

Impactos sobre ocupação e qualificação profissional

Na construção civil e em particular na construção de edificações, as modernas aborda-


gens de desenvolvimento organizacional apontam o processo de aprendizagem como a
mola propulsora de mudanças e fator fundamental para a manutenção do processo de
melhoria contínua dentro das organizações. Porém a aprendizagem nesse contexto não
é vista apenas como a aquisição de novos conhecimentos, mas essencialmente como o
desenvolvimento da habilidade de aprender a aprender.

Outro ponto importante na formação dos profissionais é a necessidade de desenvolvi-


mento de habilidades gerenciais, relacionadas ao entendimento da relação entre mem-
bros de uma mesma organização e à abordagem sistêmica do trabalho e da organiza-
ção, envolvendo seus aspectos técnico, econômico, social e ambiental. Esse requisito
decorre do reconhecimento da influência decisiva dos recursos humanos na qualidade
de processos e produtos. Mas, para que essa influência seja positiva, é preciso que os
mesmos tenham conhecimento do todo e da inserção de sua atividade no processo, o
que permite um efetivo comprometimento com a busca da qualidade total.

O Senai, através de suas mais diferentes unidades, tem sido a principal instituição no
país preocupada com a capacitação da mão-de-obra do setor da construção de edifi-
cações. Uma pesquisa desenvolvida pelo CIPMOI - Curso Intensivo de Preparação de
Mão-de-Obra Industrial da Universidade de Minas Gerais, que mantém um curso para o
setor da construção civil há quase 50 anos, procurou através responder a seguinte per-
gunta: os empregadores e os operários da construção civil realmente desejam um curso
de capacitação?

Foi verificado que os empregadores consideram que o baixo nível de escolaridade e a


falta de compromisso com a qualidade do produto final são os principais problemas da
mão-de-obra que utilizam. Mostrou também que menos de 50% dos empregadores en-
trevistados acreditam que cursos de capacitação serão efetivamente oferecidos na sua
empresa ou sob sua responsabilidade.

Podemos perceber que o operariado, por sua vez, espera dos cursos apenas um treina-
mento para uma função que exerce, decorrente de suas necessidades mais eminentes,
ou seja, em um primeiro instante não dão tanta importância a uma formação mais profun-
da em temas mais complexos que venham oferecer novas oportunidades profissionais.

Criatividade e Inovação
31
6 - Considerações Finais

Como tendência para o futuro do setor, podemos focar os seguintes temas que atual-
mente estão sendo discutidos internacionalmente:

a) as questões ambientais continuam sendo discutidas no âmbito da construção


de edificações. Sente-se que ainda é necessário evoluir nos conceitos e o setor
deverá apresentar propostas concretas que consigam reduzir, de forma signifi-
cativa, o seu impacto ambiental;

b) é preciso ampliar o conceito de desempenho para a construção baseada em de-


sempenho, com normas que descrevam os objetivos que os produtos e serviços
devem atender. Essa proposta vai além do que simplesmente indicar, de forma
prescritiva, a solução de um determinado problema. Com esse tipo de enfoque,
seria possível introduzir mais facilmente produtos e processos inovadores e, em
conseqüência, diminuir custos e elevar a qualidade;

c) torna-se indispensável a re-valoração da construção, através de um processo


em curso, de modo a repensar a construção civil e a construção de edificações.
Alguns grupos discutem o efeito da tecnologia da informação e do comércio ele-
trônico; outros, a revisão radical de como o setor opera e como incorpora valor
para o produto final; e outros ainda, os desafios da segurança ocupacional bem
como a questão do trabalho no setor. Essas questões têm sido discutidas no
âmbito do CIB, International Council for Research and Innovation in Building and
Construction que congrega especialistas em edificações.

32 Criatividade e Inovação

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