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Engenharia Civil
Júri
Presidente: Professor Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa
Março de 2015
i
SUMÁRIO
O sector da Construção tem sofrido, ao longo dos últimos anos, uma profunda crise provocada pela
recessão da economia mundial que conduziu à queda dos principais indicadores do sector, como por
exemplo, o número de empresas, o número de pessoas ao serviço e o volume de negócios. Como
consequência desta crise económica, o sector sentiu uma forte diminuição da procura de produtos da
Construção tendo em conta a oferta existente. Desta forma, e face a este cenário de diminuição do
poder de compra e de investimento de muitas entidades públicas e privadas, verifica-se que o número
de empresas do sector da Construção tem diminuído, como também o número de pessoal ao serviço.
Num contexto de crise económica e de níveis de crescimento muito reduzidos ou nulos, é essencial
que as empresas de Construção portuguesas adoptem novas estratégias de negócio, como por
exemplo, a internacionalização. O envolvimento de empresas portuguesas em mercados estrangeiros
é há muito tempo reconhecido. Como consequência deste envolvimento, verifica-se que, para as
maiores empresas de Construção portuguesas, o volume de negócios do mercado externo é superior
ao volume de negócios do mercado interno, o que, por si só, acaba por ser ilustrativo da importância
da internacionalização.
ii
ABSTRACT
The Construction sector has suffered, during the years, a deep crisis caused by the economic world
recession, which led to the drop of the sector's main indicators, for example, the number of
companies, the number of people at work and the volume of business. As a result of this economic
crisis, the sector felt a strong reduction of the demand of Construction products regarding the existing
supply. So, and bearing in mind the cutback in purchasing power and public and private investment, it
has been verified that the number of companies and people at work has dropped significantly.
In a context of economic crisis and small or almost none levels of growth, it's considered to be
essential that Construction companies adopt new strategies of business, for example,
internationalization. The evolvement of Portuguese companies in foreign markets has been known for
a very long time. As a result of this evolvement, and regarding the biggest Construction companies in
Portugal, the volume of business from abroad is superior than the volume of business from inside the
country, which reveals the importance of internationalization.
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ÍNDICE DO TEXTO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
iv
4. VECTORES DE DESENVOLVIMENTO........................................................................... 31
5.2 ESTRUTURA.................................................................................................................. 46
6. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 61
v
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 5 - Taxa de inflação ao longo dos anos. Adaptado do INE (2013). .................... 18
Tabela 10 - Pessoal ao serviço em 2008 e 2011. Adaptado de INE (2010 e 2013). .... 26
Tabela 16- Distribuição das insolvências por distrito no ano de 2013. Adaptado de
COSEC (2014). ................................................................................................................................... 40
vi
Tabela 19 - Ranking de empresas de Construção portuguesas. Adaptado de
ENGENHARIA CIVIL (2014) e MARTINS (2008). ......................................................................... 47
Tabela 25- Empresas com outros negócios para além da Construção. Adaptado de
DELOITTE (2010)............................................................................................................................... 53
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 17- Peso do VAB da Construção no VAB total. Adaptado de INE (2013). ......... 30
viii
Figura 19 - Peso do VN internacional de empresas de Construção portuguesas por
zonas geográficas. Adaptado de DELOITTE (2010). ................................................................... 38
Figura 21- Dimensão das empresas insolventes. Adaptado de COSEC (2014). .......... 41
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LISTA DE ABREVIATURAS
UE – União Europeia
VN – Volume de Negócios
x
xi
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTO
O sector da Construção, segundo PAULO (2002), quando comparado com outros sectores apresenta
um conjunto de aspectos que o tornam singular:
À semelhança do que acontece em outros países, a Construção tem uma importância significativa
para a economia nacional. Os produtos da Construção, fornecem as necessárias infra-estruturas
públicas e privadas para muitas actividades e serviços, como por exemplo, o comércio e outras
indústrias. A importância do sector da Construção não está apenas ligada ao seu produto final, mas
também, ao facto de criar emprego para a população e dessa forma contribuir para a evolução da
economia do país. A economia está em expansão se o sector estiver numa fase positiva, por outro
lado, se o sector estiver numa fase negativa a economia está em recessão (BAGANHA et al., 2000).
A Construção em Portugal tem sentido uma forte quebra desde o início da crise, a que se seguiu a
implementação de medidas de austeridade que congelaram o investimento público e limitaram a
acção dos privados, que ficaram sem acesso a crédito. Como consequência da recessão da
economia portuguesa, e segundo o gabinete de estatísticas da União Europeia (Eurostat), a produção
da Construção em Portugal recuou 16,3% em Julho de 2013, sendo o país a apresentar a maior
quebra no conjunto dos 28 Estados Membros.
O cenário em que as empresas de Construção em Portugal vivem, é de tal ordem alarmante, que
segundo um inquérito elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mais de 50% das
empresas apresentam dificuldades no acesso a crédito e enfrentam perspectivas de actividade muito
negativas.
1
1.2 OBJECTIVOS E METODOLOGIA DA DISSERTAÇÃO
Por forma a se atingir o objectivo principal da dissertação, começa-se pela identificação dos principais
stakeholders do sector da Construção. Ou seja, qualquer grupo de pessoas que podem afectar ou ser
afectadas pelo sector, como por exemplo, empresas construtoras, clientes (públicos e privados),
bancos e entidades reguladoras de todo o processo de construção.
Numa outra fase, e tendo em conta que o sector da Construção está sujeito a constantes mudanças
ao longo do tempo, procede-se à enumeração e descrição dos principais vectores de
desenvolvimento que melhor traduzem estas mudanças. Nomeadamente, perceber quais os factores
que têm provocado alterações no sector e qual o impacto que estas mesmas alterações acarretam
para as empresas de Construção.
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1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
3
2. PRINCIPAIS STAKEHOLDERS
Tabela 1 - Resumo das funções dos vários intervenientes do sector da Construção. Adaptado
de PAULO (2002).
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Contribuição para a qualidade do
Intervenientes Função
sector
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Associações Profissionais e Empresarias Controlo e
Organismos Fiscalizadores Organização
Emp. Mão de Obra
Emo. Equipamentos da Const.
Emp. Materiais de Construção
Donos de
Empresas de Empresas Produção
Obra e Empresas de Empresas de
Manutenção e Comerciais e
Entidades Serviços de Construção
Reparação Exploração
Financeiras Engenharia
De todos os intervenientes atrás referenciados, destacam-se pela sua importância desde o projecto
até à construção, o dono de obra, os autores de projecto, a fiscalização e o empreiteiro (Figura 2).
AUTORES DO EMPREITEIRO
DONO DA OBRA
PROJECTO GERAL
OBRA
Fiscalização
complementar
Câmara Municipal
InCI
...
Todas as entidades apresentadas têm um objectivo em comum, que consiste na realização da obra
de acordo com o projecto aprovado. Para que tal objectivo seja conseguido, e tendo em conta as
relações entre todos os intervenientes, é necessário que prevaleça o princípio da boa-fé e
colaboração mútua por forma a permitir que cada interveniente consiga cumprir aquilo que está
estipulado no contracto (DIAS, 2013).
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O proprietário do empreendimento é o interveniente que toma a iniciativa de construir e ordena a sua
execução. Este interveniente pode ser individual ou colectivo, e público ou privado. Compete ao
proprietário definir quais são os objectivos pretendidos para o empreendimento a construir, por forma
a que os autores de projecto comecem a projectar e materializar os mesmos (DIAS, 2013).
O dono de obra é o interveniente que realiza os pagamentos ao empreiteiro geral, em função dos
autos de medição por este apresentados, e tendo em conta a qualidade da Construção. Contudo, e
na maioria dos casos, este apenas pretende a solução que apresente menores custos por não ser o
proprietário final. Também importa referir que ocorrem várias situações em que o proprietário e dono
de obra são a mesma pessoa, como por exemplo, em obras promovidas por empresas de Construção
(DIAS, 2013).
Os autores de projecto são, essencialmente, responsáveis pela realização da obra de acordo com o
projecto e a assistência técnica da mesma. Compete-lhes também esclarecer o dono de obra sobre a
qualidade dos materiais, equipamentos e processos de Construção (DIAS, 2013).
O empreiteiro é a entidade responsável pela execução dos trabalhos. Nas obras onde intervêm vários
subempreiteiros, o empreiteiro que assume a responsabilidade da sua total realização é designado
por “Empreiteiro Geral”. No entanto, podem existir situações em que a responsabilidade é dividida por
um grupo de várias empresas, intitulando-se de agrupamento complementar de empresas (A.C.E) ou
consórcio (DIAS, 2013).
Aquando da realização da obra, o empreiteiro geral elege uma equipa de produção. Esta equipa é
chefiada pelo director de obra, que é responsável pela realização da obra de acordo com o caderno
de encargos, peças escritas e desenhadas complementares ao projecto e regulamentos e normas em
vigor. De uma forma mais detalhada, segundo DIAS (2013), o director de obra deve:
Verificar erros e omissões do projecto nas empreitadas por preço global quando o projecto é
apresentado pelo dono de obra;
Elaborar ou colaborar na execução do plano de segurança e saúde incluindo o projecto de
estaleiro;
Elaborar e aplicar o plano de qualidade para a obra caso o caderno de encargos assim o
estipule ou caso seja política de qualidade do empreiteiro geral;
Proceder à implantação da obra com base em referências fornecidas pela fiscalização;
Elaborar o planeamento de realização de actividades de forma a cumprir os prazos parciais e
globais;
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Realizar os ensaios laboratoriais que são exigidos no caderno de encargos;
Reunir com a fiscalização para informar os desvios do plano de trabalhos aprovado, submeter
à aprovação os materiais e elementos da construção a aplicar, apresentar todos os
documentos exigidos no caderno de encargos e apresentar os autos de medição;
Ajustar os métodos de construção mais favoráveis às condições de realização da obra.
A definição das empresas em função dos efectivos de que dispõem e do seu volume de negócios ou
do seu balanço total é essencial para determinar quais as empresas que podem beneficiar dos
programas ou políticas da União Europeia (UE), especificamente destinados às pequenas e médias
empresas (PME). As micro, pequenas, médias e grandes empresas são definidas em função dos
efectivos de que dispõem e do seu volume de negócios ou do seu balanço total anual (EUROPA,
2013).
Uma microempresa é definida como uma empresa que emprega menos de 10 pessoas e cujo
volume de negócios ou balanço total anual não excede 2 milhões de euros;
Uma pequena empresa é definida como uma empresa que emprega menos de 50 pessoas e
cujo volume de negócios ou balanço total anual não excede 10 milhões de euros;
Uma média empresa é definida como uma empresa que emprega menos de 250 pessoas e
cujo volume de negócios não excede 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não
excede 10 milhões de euros;
Uma grande empresa é definida como uma empresa que apresenta valores superiores aos
apresentados por uma média empresa.
As grandes empresas, e segundo FARIA (2014), podem ser caracterizadas da seguinte forma:
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Num patamar inferior aparecem as pequenas e médias empresas. Estas têm uma organização muito
semelhante às grandes empresas, salvaguardadas as devidas diferenças associadas à dimensão do
mercado e estratégia do grupo. Relativamente aos subempreiteiros estes apresentam uma enorme
especialização em: carpintaria, pintura, serralharias de ferro, serralharias de alumínio, movimentação
de terras, demolições, revestimentos de piso, estruturas metálicas, estruturas de betão armado,
alvenaria de tijolo, revestimento de paredes, soalhos, entre outros. Ganham também cada vez mais
importância em Portugal, os fornecedores de materiais de Construção, as soluções pré-fabricadas, as
novas tecnologias e os produtos inovadores (FARIA, 2014).
Assim sendo, e também segundo FARIA (2014), tanto ao nível das grandes como das pequenas e
médias empresas, a melhoria da produtividade e qualidade passa forçosamente pela introdução
racional da pré-fabricação e produtos inovadores e sustentáveis no quotidiano das empresas de
Construção.
2.2 CLIENTES
O sector da Construção é caracterizado por dois tipos de clientes, distintos entre si: a) entidades
públicas e b) entidades privadas. Os clientes são quem toma a iniciativa de construir, ficando os
autores de projecto responsáveis por projectar as pretensões dos mesmos. Importa também referir
que os clientes são quem financia os projectos, ou seja, são eles que fazem o investimento
necessário por forma a que o sector esteja em actividade.
No que a entidades privadas diz respeito, estas podem se apresentar na forma de entidade individual
ou colectiva, como por exemplo, empresas, consórcios ou um grupo de investidores privados. Este
tipo de cliente pretende, essencialmente, a projecção de prédios, moradias, escritórios e estruturas
comerciais e desportivas. Contudo, importa também referir que, no caso de parcerias público-
privadas, as entidades privadas podem estar envolvidas na construção de obras de interesse público,
como estradas e pontes. Em relação ao investimento, este pode se realizar através de capital próprio
da entidade ou através de empréstimos bancários, situação que mais vezes se verifica.
Para qualquer tipo de cliente, público ou privado, o principal factor que limita a Construção é o
investimento. De acordo com o que vai ser apresentado nesta dissertação, sem investimento o sector
não produz, e se não produz não existe trabalho, e sem trabalho o sector entra em recessão.
Portanto, é possível concluir que, muito mais que novas soluções tecnológicas e construtivas, é
necessário capacidade financeira por parte dos clientes, e conforme será apresentado, a falta de
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investimento no sector da Construção vai ter um impacto bastante significativo na evolução dos seus
principais indicadores.
Importa também referir que, quando o dono de obra não tem nos seus quadros técnicos de
Engenharia Civil, este recorre aos autores de projecto para realizarem a fiscalização da obra e
asinarem o caderno de encargos. Através da fiscalização da obra é garantida a qualidade da mesma,
no que diz respeito à qualidade dos materiais e dos processos de construção.
Actualmente em Portugal existe uma forte oferta de gabinetes de engenharia e arquitectura. Contudo,
é de realçar que, caso o sector da Construção continue a apresentar dificuldades no seu
desenvolvimento, é de esperar que este número apresente uma redução, pois, não havendo obras,
este tipo de gabinetes não consegue manter a sua actividade
Uma das formas adoptadas pelas empresas de Construção para financiarem os seus projectos, é o
recurso a empréstimos bancários. Nestas operações, a entidade bancária fornece o capital
necessário à execução da obra, e o cliente fica a pagar uma determinada prestação durante um certo
período de tempo, acrescida da taxa de juro. Ou seja, a empresa ou entidade privada, recorre a
capital alheio para financiar os seus activos, o que provoca um aumento no passivo e no
endividamento da empresa. Caso a empresa não consiga tirar alguma rendibilidade dos seus
investimentos, esta não vai conseguir pagar os empréstimos, o que pode provocar situações de
falência técnica ou, no limite, a própria dissolução da empresa. Portanto, conclui-se que os
empréstimos bancários são uma forma importante de financiamento de projectos mas com as devidas
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precauções, pois é necessário garantir que o projecto proporciona um valor maior àquele que foi
pago, e assim evitar que a empresa entre numa situação de incapacidade financeira.
Em Portugal existem várias entidades bancárias, contudo, e como será apresentado ao longo desta
dissertação, o volume de créditos concedido a privados tem variado de forma bastante acentuada ao
longo dos anos, muito devido à conjuntura económica do país e consequentes medidas de
austeridade. Esta situação faz com que muitas empresas tenham de encontrar formas alternativas de
financiamento, como por exemplo, investidores privados.
Importa também referir que, actualmente, tem-se verificado em Portugal a queda de algumas das
maiores entidades bancárias nacionais, o que fez com que algumas empresas de Construção
perdessem grande parte do seu capital e adjudicações. A título de exemplo, em Agosto de 2014, a
empresa de Construção Opway teve de apresentar novas garantias bancárias para a concessão da
obra do túnel do Marão em Vila Real, pois as garantias bancárias que tinha do Banco Espirito Santo
perderam valor devido à situação finaceira do banco.
Nesta dissertação, será abordado em maior detalhe as consequências, para o sector da Construção,
da variação do investimento, e quais os motivos que provocaram tais alterações.
2.5 SEGURADORAS
Actualmente em Portugal, existem não só seguros para obras, mas também para os trabalhadores,
mais concretamente, seguros contra acidentes de trabalho, sendo estes obrigatórios de acordo com a
informação veiculada pelo Insituto de Seguros de Portugal. Estes seguros têm como objectivo
proteger não só os trabalhadores mas também o empreiteiro e dono de obra.
Em Portugal, as principais seguradoras que operam no sector da Construção são: a) Ace, b) BES –
Companhia de Seguros, S. A., c) Victoria Seguros, d) Allianz, e) Império Bonança, f) AXA e g) Liberty
Seguros.
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2.6 INSTITUTO DA CONSTRUÇÃO E DO IMOBILIÁRIO
O Instituto da Construção e do Imobiliário (InCI) tem, segundo esta entidade, a missão de: “regular e
fiscalizar o sector da Construção e do Imobiliário, dinamizar, supervisionar e regulamentar as
actividades desenvolvidas neste sector.” Por forma a que uma empresa possa actuar no sector da
Construção, esta necessita de um alvará de Construção que é emitido por esta entidade. As
empresas detentoras de alvará ficam habilitadas a realizar obras públicas e obras privadas. O alvará
contém todas as habilitações da empresa e apresenta validade máxima de um ano, caducando no
mês de Janeiro de cada ano. A habilitação é a qualificação que possibilita que uma empresa tenha
actividade no sector da Construção em determinada especialidade e até um valor limite (DIAS, 2012).
O Instituto da Construção e do Imobiliário, já conta com mais de 56 anos de vida incluindo todos os
estados de evolução (Figura 3).
CICEOP (1956-1970)
CICEOPICC (1970-1988)
CMOPP (1988-1999)
IMOPPI (1999-2007)
InCI (2007-2014)
A qualidade tornou-se numa maneira de encarar a competitividade, pois esta última exige elevados
investimentos para permitir que a empresa assegure ou aumente a sua quota de mercado que, é de
extrema importância pois fornece garantias ao consumidor. A qualidade pode ser atingida de duas
formas distintas: a) através da qualidade do processo de produção, em que este processo é feito com
produtos e técnicas de qualidade, ou, b) através da gestão integral da qualidade, que passa pela
gestão financeira, de marketing, de produção, de aprendizagem e do processo de produção em si. A
certificação, a acreditação e a qualidade, apesar de não serem obrigatórios nos cadernos de
encargos, são uma forma de investimento que pode ser assumido pelas empresas. Também importa
referir que, nos dias de hoje, estes requisitos estão a ser cada vez mais valorizados e já aparecem
como um critério de classificação de propostas (MARTINS, 2008).
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A certificação é, segundo o Instituto Português da Qualidade (IPQ), o “procedimento segundo o qual
uma terceira parte dá uma garantia escrita de que um produto, processo ou serviço está em
conformidade com os requisitos especificados. Daqui será emitido uma certificação da conformidade
que dá confiança que o produto, processo ou serviço, está em conformidade com uma norma ou
outro documento normativo específico”. A certificação da conformidade é atribuída a uma empresa
que comprove ter um sistema de qualidade implementado de acordo com um dos níveis da série de
Normas NP EN ISO 9000, no âmbito do Sistema Português da Qualidade. Compete ao IPQ o
acompanhamento e a aprovação do processo de certificação da qualidade. A certificação será
atribuída por uma entidade acreditada para tal.
A certificação apresenta várias vantagens como, por exemplo, a melhoria contínua do funcionamento
da organização e melhoramento da qualidade da mesma. Estas vantagens fazem com que a imagem
da empresa e a confiança dos clientes seja reforçada. Por outro lado, a certificação tem custos
inerentes que variam com o estado em que se encontra a empresa, por exemplo, custos na
elaboração do manual de qualidade e custos relacionados com o tempo despendido pelos
responsáveis e colaboradores da empresa (MARTINS, 2008).
Mais tarde, e com a criação do Instituto Português de Acreditação (IPAC), foram transferidas para
esta entidade as atribuições relacionadas com a acreditação. A acreditação consiste em reconhecer,
a determinadas entidades, a competência técnica para realizarem avaliações de conformidade. A
acreditação distingue-se da certificação pois esta não só exige um sistema de qualidade, mas
também requer a necessária competência técnica por forma a ser garantida a confiança nos
resultados finais (MARTINS, 2008).
A acreditação tem diversas vantagens para: a) as entidades que optam por esta via, b) a sociedade e,
c) o Estado. A acreditação para as entidades é uma mais valia tendo em conta o mercado de clientes.
Por outro lado, e tendo em conta o número crescente de áreas onde por legislação é exigida a
acreditação, torna-se fundamental que as entidades obtenham esta qualificação por forma a
consolidarem a sua quota de mercado. Para a sociedade e para o Estado, a acreditação proporciona
qualidade de vida pois, garante produtos de qualidade que são avaliados por entidades competentes
e que cumprem as normas em vigor. A qualidade e a acreditação são de grande importância para as
empresas e, devido ao grande número de empresas certificadas, estes requisitos deixam e
proporcionar uma vantagem competitiva e passam a ser uma necessidade para as mesmas
(MARTINS, 2008).
Aquando da criação do Tratado de Roma em 1957, pela Comunidade Económica Europeia (CEE), os
Estados Membros comprometeram-se a promover a melhoria das condições de trabalho visando a
segurança e saúde dos trabalhadores. Por consequência, existe nos dias de hoje uma directiva que
diz respeito à saúde e segurança no trabalho: a Directiva de Estaleiros (Decreto-Lei 273/2003, de 29
de Outubro). Esta directiva estabelece as regras gerais a ter em conta pelos empregadores em
matéria de saúde, higiene e segurança no local de trabalho, bem como, as regras de todas as boas
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práticas a seguir pelos trabalhadores em termos de saúde e segurança. Nesta directiva consta
também que os trabalhadores são responsáveis por observar rigorosamente as regras estabelecidas,
prestando atenção à sua segurança e saúde, e à dos seus colegas de trabalho (DIAS, 2011).
Por forma a promover a segurança, higiene, saúde e bem estar no trabalho em Portugal, foi criado
em 2004, o Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (ISHST). A missão desta
entidade está relacionada com o desenvolvimento e a consolidação de uma cultura de segurança nos
locais de trabalho. O ISHST sucedeu ao Instituto para o Desenvolvimento e Inspecção das Condições
de Trabalho (IDICT), de cuja extinção resultou ainda a autonomização da Inspecção-geral do
Trabalho (ISHST, 2013).
A certificação de sistemas de gestão ambiental é uma ferramenta essencial para as empresas que,
ao seguirem por esta via, demonstram um compromisso voluntário com as questões ambientais e
dessa forma contribuem para a sua melhoria contínua. Como consequência deste compromisso, as
empresas conseguem alcançar uma confiança acrescida por parte dos clientes, colaboradores e
sociedade. A certificação do sistema de gestão da qualidade ambiental de acordo com a norma NP
EN 14001, pode ser efectuada por um organismo de certificação acreditado no âmbito do Sistema
Português da Qualidade (SPQ), pelo Instituto Português de Acreditação (IPAC) (PINHEIRO, 2011).
A Agência Portuguesa do Ambiente foi criada pelo Decreto-Lei n.º 53/2007, de 27 de Abril, e
representa a fusão do Instituto dos Resíduos com o Instituto do Ambiente. Esta organização
desenvolve e acompanha os sistemas de gestão ambiental e desenvolvimento sustentável em
colaboração com entidades públicas e privadas, tendo em vista a protecção e valorização do meio
ambiente (PINHEIRO, 2011).
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3. PANORAMA DA ECONOMIA NACIONAL E CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA
ORGANIZATIVA DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO
Conforme já foi referido, o sector da Construção tem uma notória influência numa cadeia de outras
empresas de outros sectores, quer a montante (empresas projectistas, consultoras, fornecedores de
materiais de construção e instituições financeiras) como também a jusante (equipamentos mobiliários
e serviços), tornando-se este sector num dos principais motores da economia.
Este capítulo está divido em dois subcapítulos distintos. No primeiro pretende-se apresentar a
evolução dos principais indicadores macroeconómicos de todo o sector empresarial nacional,
enquanto que no segundo prentede-se apresentar a evolução dos principais indicadores do sector da
Construção.
Por forma a se compreender melhor o impacto da crise económica de 2008 no sector empresarial,
será apresentado, nos subcapítulos seguintes, a evolução dos principais indicadores
macroeconómicos do mesmo. Mais concretamente, o produto interno bruto, taxa de inflação, taxa de
desemprego e taxa euribor.
Como base da análise, serão utilizadas duas publicações do Instituto Nacional de Estatística (INE)
intituladas Empresas em Portugal e Estatísticas das Empresas, onde são divulgados os principais
indicadores que caracterizam o sector empresarial português ao longo dos anos.
A crise económica portuguesa apresentou a principal desaceleração do Produto Interno Bruto no ano
de 2012, com uma taxa de variação anual de -3,2% (Tabela 2).
Nos anos anteriores a este, e a partir do ano da crise económica de 2008, apenas em 2012 se
verificou um crescimento da actividade económica (1,9%). Nos outros anos, ou se registou um
crescimento nulo (2008), ou uma diminuição da actividade (-2,9%, -1,6% e -3,2%, respectivamente
em 2009, 2011 e 2012).
Tabela 2 - Variação anual do Produto Interno Bruto nacional. Adaptado de INE (2013).
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Ano PIB variação anual (%)
2007 2,40%
2008 0,00%
2009 -2,90%
2010 1,90%
2011 -1,60%
2012 -3,20%
Analisando a evolução trimestral (Figura 4), constata-se que, embora o ano de 2010 tenha sempre
apresentado variações positivas de actividade, ainda que com níveis de crescimento
progressivamente menores, 2011 e 2012 não resistiram ao comportamento negativo da procura
interna (Tabela 3).
0,00%
1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º
-1,00% 2010 -0,60% 2011 2012
-1,10%
-2,00%
-2,00%
-2,30%
-3,00%
-3,00% -3,10%
-4,00% -3,50%
-3,80%
-5,00%
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Ano Procura Interna
2008 0,80%
2009 -3,30%
2010 1,80%
2011 -5,80%
2012 -6,80%
Por outro lado, a procura externa tem vindo a diminuir o seu contributo positivo, reflectindo-se numa
desaceleração das exportações e um contributo mais negativo da procura interna (Tabela 4).
Tabela 4 - Taxa de variação homóloga das exportações e importações. Adaptado de INE (2013).
Variação homóloga
Ano Exportações Importações
2000 8,80% 5,60%
2001 1,80% 1,00%
2002 2,80% -0,50%
2003 3,60% -0,50%
2004 4,10% 7,60%
2005 0,20% 2,30%
2006 11,60% 7,20%
2007 7,50% 5,50%
2008 -0,10% 2,30%
2009 -10,90% -10,00%
2010 10,20% 8,00%
2011 7,20% -5,90%
2012 3,30% -6,90%
Como é sabido, numa economia de mercado, é natural que os preços dos bens e serviços variem ao
longo do tempo, nomeadamente, uns sobem e outros descem. Quando estamos perante uma
situação de um aumento geral dos preços dos bens e serviços, identificamos esse acontecimento
como inflacção. A Tabela 5 apresenta a variação média anual para o sector empresarial nacional da
taxa de inflação.
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Tabela 5 - Taxa de inflação ao longo dos anos. Adaptado do INE (2013).
Ano Inflação
2000 2,90%
2001 4,40%
2002 3,60%
2003 3,30%
2004 2,40%
2005 2,30%
2006 3,10%
2007 2,50%
2008 2,60%
2009 -0,90%
2010 1,40%
2011 3,70%
2012 2,80%
Na Figura 5 verifica-se que, em 2012, a taxa de inflação registou um valor de variação média de
2,8%, sendo que no ano anterior foi de 3.7%. Este indicador tem sido equilibrado na última década
com excepção do ano de 2009 que registou deflação, com uma variação média de -0,9%, em
resultado da diminuição da procura interna.
5,00%
4,40%
4,00% 3,60% 3,70%
3,10%
3,30%
3,00% 2,60%
2,90% 2,80%
2,00% 2,40% 2,30% 2,50%
1,40%
1,00%
0,00%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
-1,00%
-0,90%
-2,00%
18
A deflacção corresponde a uma inflacção negativa, ou seja, corresponde a uma queda de preços dos
bens e serviços. Com uma taxa negativa conclui-se que o consumo diminui, isto porque existe
sempre a expectativa, por parte das famílias, que os preços diminuam ainda mais. A queda do
consumo faz com que as empresas vendam menos, o que faz com que o seu stock aumente e leve à
diminuição da produção. Com a diminuição do consumo e da produção, actividade económica
também diminui, o que conduz a redução de salários e despedimentos.
5,00%
4,00% 3,90%
3,00%
2,00%
1,20%
1,00% 0,70%
0,20% 0,00% 0,20% 0,50%
0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
-1,00%
-0,80% -1,50%
-2,00%
-2,80%
-3,00% -2,80%
-4,00%
-4,20%
-5,00%
19
Ano Emprego na Construção / Emprego total
2003 11,50%
2004 10,70%
2005 10,80%
2006 10,70%
2007 11,00%
2008 10,70%
2009 10,00%
2010 9,70%
2011 9,10%
2012 7,70%
14,00%
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
20
12,00%
9,90%
9,80%
9,60%
9,60%
9,30%
9,20%
9,10%
8,80%
8,30%
10,00%
8,00%
7,60%
6,90%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º
2010 2011 2012
Como base da análise, serão utilizadas duas publicações do Instituto Nacional de Estatística (INE)
intituladas Empresas em Portugal e Estatísticas das Empresas, onde são divulgados os principais
indicadores que caracterizam o sector empresarial português ao longo dos anos.
Quando se analisa em maior rigor o número de empresas no sector da Construção desde 1990
(Tabela 7), constata-se que este, salvo algumas situações pontuais, tem aumentado de forma gradual
ao longo dos anos. De facto, devido à importância deste sector para a economia nacional e também
devido aos baixos custos de entrada no sector, era de esperar que assim acontecesse.
Tabela 7 - Evolução do número de empresas no sector da Construção desde 1990 até 2011.
Adaptado de INE (2013).
21
Sector da Construção Número de Empresas
1993 28409
1994 31406
1995 30404
2000 78382
2001 72890
2002 92927
2003 108909
2004 112962
2005 121671
2006 122070
2007 122487
2008 117027
2009 107536
2010 106710
2011 99179
Contudo, e através do Figura 9, é possível perceber que a partir do ano de 2007 o número de
empresas no sector da Construção tem descido de forma bastante significativa.
140000
120000
100000
80000
60000 Número de Empresas
40000
20000
0
1990 1992 1994 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Quando se compara a evolução do sector da construção entre 2008 (início da crise económica) e
2011 (ano onde existem as últimas actualizações estatísticas relativas ao sector empresarial), é
possível constatar que a crise económica teve um impacto bastante significativo no que diz respeito
ao número de empresas de construção e pessoal ao serviço. Nomeadamente, apesar de o número
de empresas de todos os sectores empresariais ter aumentado 1,4% entre 2008 e 2011 (Figura 10),
para o sector da construção houve um decréscimo de 15,3% (Figura 11) sendo que foi nas empresas
22
individuais que o impacto foi mais sentido (Tabela 8). Relativamente ao aumento do número de
empresas de todos os sectores empresariais, entende-se que este aumentou devido a medidas para
a redução da burocracia para as empresas, nomeadamente, a Empresa na Hora que entrou em vigor
no mês de Julho de 2005 (Decreto-lei n.º 111/2005 de 8 de Julho) sob a tutela do governo de José
Sócrates. Por outro lado, devido à especulação imobiliária, investimentos imobiliários de grande risco,
dificuldade de obtenção de crédito por parte dos clientes (Figura 12) e também devido ao sector da
construção estar completamente sobrelotado, o número de empresas neste sector diminuiu
drasticamente o que fez com que este sector fosse o mais afectado pela crise económica de 2008.
1115000 1112000
1110000
1105000
1100000
1096255 Total Sector Empresarial
1095000
1090000
1085000
2008 2011
120000 117027
115000
110000
105000
Construção
99179
100000
95000
90000
2008 2011
23
Tabela 8 - Número de empresas em 2008 e 2011. Adaptado de INE (2010 e 2013).
2008 2011
2008 / 2011 Empresas Tx. Vr. 08/11 (%)
Nº
Total Sector Empresarial 1096255 1112000 1,4
Construção 117027 99179 -15,3
Sociedades 49082 44820 -8,7
Empresas Individuais 67945 54359 -20
2000 1875
1800
1600 1522
1400
1205
1200 1353
975
1000 894 Volume de novos créditos
800 à habitação (milhões de
771 587 euros)
600
400 555
368
200
153
0
abr/08
ago/11
set/08
jun/07
fev/09
dez/09
out/10
nov/07
mar/11
jan/07
jul/09
jan/12
mai/10
Tabela 9 - Evolução do número de pessoas ao serviço no sector da Construção desde 1990 até
2011. Adaptado de INE (2013).
24
Sector da Construção Pessoal ao serviço
1995 232474
2000 345779
2001 382022
2002 433918
2003 435563
2004 458651
2005 481230
2006 493720
2007 514514
2008 513205
2009 472730
2010 448709
2011 405928
600000
500000
400000
300000
Pessoal ao serviço
200000
100000
0
2008
1990
1991
1992
1993
1994
1995
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2009
2010
2011
No que diz respeito à crise económica de 2008 e mais concretamente à variável pessoal ao serviço,
verifica-se que houve um decréscimo em todos os sectores empresariais sendo que no sector da
construção este decréscimo foi de 20,9% (Tabela 10). Isto acontece devido à falta de trabalho para as
empresas de construção que é provocada pela dificuldade de acesso a crédito por parte do cliente e,
por consequência, a descida dos preços. Se as pessoas não conseguirem vender a casa ao preço
que querem ou que precisam para comprar outra casa ou para abater o empréstimo ao banco, então
não a vão vender e retiram-na do mercado, ou seja, saem do mercado da oferta e também da
procura. Nos últimos anos tem-se verificado uma redução dos preços e também uma diminuição
bastante significativa do poder de compra das pessoas, o que inevitavelmente conduziu à redução da
25
procura (Figura 14). Ao analisar ª Figura 15, conclui-se que até 2010 o número de casas para venda
aumentou, ou seja, houve investimento na construção, mesmo apesar da crise se ter instalado em
2008. Entre 2010 e 2011 verifica-se uma queda muito acentuada do número de casas para venda, ou
seja, à medida que se iam vendendo casas, não se ia investindo na construção de mais habitações.
Esta falta de fundos e de trabalho por parte das empresas de Construção, fez com que muitas
tivessem que fechar ou despedir funcionários e daí resulta a diminuição de pessoal ao serviço no
sector.
2008 2011
Tx. Vr. 08/11 (%)
2008 / 2011 Pessoal ao Serviço
Nº Pessoal ao Serviço
Total Sector Empresarial 3861726 3735340 -3,3
Construção 513205 405928 -20,9
Sociedades 419942 329814 -21,5
Empresas Individuais 93263 76114 -18,4
Oferta
Procura
Procura após crise
26
510000
506015
500000
490000
486738
480000
470000 473235
Número de casas
460000 para venda
450000
440000
433411
430000
2008 2009 2010 2011
Através da análise da Tabela 11 e da Figura 16, é possível concluir que, à semelhança também com
o que aconteceu com o número de empresas e pessoas ao serviço, o volume de negócios tem
aumentado ao longo dos anos de forma gradual. Contudo, é preciso também realçar a importância da
crise económica de 2008 que fez com que este indicador diminuísse.
Tabela 11 - Volume de negócios no sector da Construção entre 1990 e 2011. Adaptado de INE
(2013).
27
Sector da Construção Volume de Negócios
2011 29 290 567 000,00 €
0,00 €
Como já foi referido anteriormente, a crise de 2008 teve um impacto bastante negativo no
desenvolvimento da economia nacional. Como consequência desse mesmo impacto, verificou-se que
os principais indicadores macroeconómicos sofreram mudanças significativas e preocupantes. Por
forma a se conseguir perceber as dificuldades sentidas no sector da construção e por consequência a
diminuição do número de empresas e pessoal ao serviço, analisou-se a variação do volume de
negócios das mesmas no período pós crise económica (Tabela 12). Ao analisar esta variável conclui-
se que as empresas de construção diminuíram as suas receitas em 18,6%, sendo que foi nas
empresas individuais que este decréscimo foi mais acentuado. Tendo em conta a análise feita
anteriormente relativa à dificuldade de acesso a crédito por parte dos clientes, esta redução de
receitas já era esperada.
Tabela 12 - Variação do volume de negócios em 2008 e 2011. Adaptado de INE (2010 e 2013).
Volume de negócios
2008 / 2011 10^3 Euros Tx. Vr. 08/11 (%)
2008 2011
Construção 35.987.752,00 € 29.290.567,00 € -18,6
Empresas Individuais 2.066.325,00 € 1.293.052,00 € -37,4
Sociedades 33.921.427,00 € 27.997.515,00 € -17,5
28
3.2.4 VALOR ACRESCENTADO BRUTO
Através da análise da Tabela 13 conclui-se que o Valor Acrescentado Bruto continuou a apresentar
uma taxa de variação negativa, de -3,1%, após ter registado -1,7% em 2011. O VAB no sector da
Construção apresentou, por seu lado, uma diminuição mais expressiva de -15,8%, tendo sido a mais
pronunciada na última década.
Também ao nível do VAB, o sector da Construção viu diminuir o seu peso (Figura 17), perdendo 3,8
pontos percentuais de 2000 e 2001 (quando representava 7,8% do VAB total) para 2012 (4,0%). Esta
perda de peso relativo corresponde a uma diminuição do valor nominal do VAB da Construção, que
de um valor de 12 100 milhões de euros em 2001, passou para 6 246,6 milhões de euros em 2012.
29
7,80%
7,80%
9,00%
7,50%
6,90%
8,00%
6,70%
6,50%
6,20%
6,20%
5,90%
7,00%
5,40%
5,00%
6,00%
4,60%
4,00%
5,00%
4,00%
3,00%
2,00%
1,00%
0,00%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Figura 17- Peso do VAB da Construção no VAB total. Adaptado de INE (2013).
Numa análise trimestral dos três últimos anos (Figura 18), constata-se que o VAB da Construção
apresentou sistematicamente um desempenho inferior ao da economia, ainda que durante o ano de
2010 se tenha verificado uma diminuição da tendência divergente entre o VAB do sector e o VAB
total.
2,50%
2,10%
2,00%
5,00%
1,20%
0,00%
1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º
-0,30%
-1,30%
-2,40%
-3,20%
-3,40%
-5,00%
-3,40%
-4,10%
-1,80%
-4,30%
VAB Total
-5,20%
-5,40%
-6,80%
VAB Construção
-10,00%
-10,20%
-10,60%
-11,70%
-13,10%
-15,00%
-17,30%
-18,40%
-17,40%
-20,00%
30
4. VECTORES DE DESENVOLVIMENTO
O sector da Construção, como já foi referido, é considerado uma das maiores forças da economia do
país. Segundo ARNALDO (2006), este distingue-se de outros sectores com actividade económica,
tanto em termos produtivos como em termos de mercado de trabalho, devido à diversidade de:
Devido ao estado actual da economia de Portugal, verificou-se uma redução do PIB, como foi
apresentado na tabela 2. Esta redução por sua vez traduziu-se numa queda muito acentuada do
investimento na Construção (Tabela 14), que reflecte a evolução fortemente negativa do investimento
residencial e do investimento público.
31
Tabela 14- Taxa de variação real do Investimento Público. Adaptado de BANCO DE PORTUGAL
(2014).
A verificar-se este cenário, de redução significativa do volume de negócios (tabela 11) e de uma
maior exigência do mercado, cabe às empresas encontrarem as melhores estratégias por forma a
conseguirem sobreviver nestas condições de extrema dificuldade. Assim sendo, e considerando que
a redução do número de pessoas ao serviço já não é suficiente, esta estratégia terá que passar pela
modernização da empresa. Como por exemplo, modernização em termos de tecnologia de processos
construtivos e de mão-de-obra especializada (ARNALDO, 2006).
De seguida, e segundo INOFOR (2002), apresenta-se uma análise SWOT adaptada ao sector da
Construção. A análise SWOT permite cruzar os pontos fortes e fracos do sector com as
oportunidades e ameaças, e permite também identificar os principais pontos críticos para a
competitividade do sector.
Subempreitadas desorganizada;
Concorrência muito centrada no factor preço;
Ausência de produção em série dificultando a obtenção de economias de escala;
Significativa descapitalização do sector, com reduzidas taxas de rendibilidade;
Produtividade reduzida das empresas do sector;
Existência de práticas duvidosas e concorrência desleal;
Crescente trabalho clandestino;
32
Baixo nível de habilitações e qualificações dos trabalhadores do sector;
Envelhecimento da população do sector.
Esta análise permite apresentar de forma resumida algumas das características do sector da
Construção, tendo em conta os elementos que poderão influenciar de forma positiva ou negativa o
desenvolvimento e competitividade do sector.
Também, através desta análise, retiram-se os factores críticos para a competitividade do sector:
Capacidade de internacionalização;
Diversificação de produtos;
Reforço de relações de cooperação e parceria;
Política industrial orientada para o sector da Construção;
Necessidade de introduzir alguma estandardização acompanhada de inovações ao nível dos
materiais e processo de construção;
Aposta na formação profissional.
O sector da Construção foi conduzido, durante várias décadas, através do conhecimento e sabedoria
dos profissionais da Construção. Com o passar do tempo, com o evoluir das tecnologias e com o
aparecimento de novos materiais, muita desta sabedoria foi ignorada e com ela caíram também em
desuso algumas das boas regras de Construção. As grandes obras edificadas ao longo dos séculos,
que hoje em dia ainda podemos admirar, tinham prazos de execução enormes, devido à sua
dimensão, ao manusear dos materiais e à ausência de tecnologia disponível (ARNALDO, 2006).
A inovação tem sido reconhecida como uma vantagem competitiva bem como, um aspecto
fundamental para a melhoria da eficiência das organizações. O sector da Construção é um dos
principais motores da economia nacional, contudo, este tem sido criticado pela falta de eficiência
quando comparado com outros sectores empresariais, e também pela falta de vontade em inovar.
33
Segundo MARTINS (2008), os factores que promovem a inovação vão originar que esta se manifeste
da seguinte forma:
Apesar da importância da inovação no sector da Construção, alguns gestores de empresas ainda têm
a ideia de que o investimento em inovação significa computadores, internet e programas como o
AutoCAD. Porém, a inovação é um instrumento de gestão organizacional, deixando de ser um
diferencial competitivo para se tornar numa necessidade para as empresas.
A título de exemplo, muitos profissionais da área já começaram a trabalhar com o conceito de BIM, ou
Building Information Modeling, que é conhecido por representar as características físicas e funcionais
dos empreendimentos. Com o aparecimento do BIM, passou a ser possível promover a colaboração
entre todos os intervenientes da obra, visto que que este contém informação sobre todas as fases de
evolução do ciclo de vida do empreendimento.
Apesar de a inovação ser considerada fundamental para o futuro das empresas, esta não tem sido
muito praticada no sector, principalmente devido à falta de formação dos trabalhadores e dos
empresários, ao fraco nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos,
tecnologias e novos processos de produção (MARTINS, 2008).
A rivalidade no sector da Construção sente-se de uma forma bastante intensa que está
extremamente centralizada na concorrência pelo preço. Este tipo de concorrência acaba por ser
bastante instável pois prejudica as margens de lucro das empresas do sector. De facto, quando os
intervenientes estão apenas centrados no factor preço e o fazem descer, as propostas de empresas
construtoras podem ser rápida e facilmente igualadas pelos rivais e, uma vez igualadas, conduzem à
redução das receitas (INOFOR, 2002).
Como consequência desta forma de intervir no sector, onde se pretende espremer o preço o máximo
possível, apenas se está a contribuir para a redução das margens de lucro das empresas, a fraca
34
qualidade do produto final e aumento da competitividade por forma a que as empresas consigam
sobreviver. Todos estes factores contribuem de forma negativa para a evolução do sector da
Construção e, naturalmente, para a economia do país.
A Construção é uma actividade em queda. Os principais factores que contribuem para este cenário
são:
Crise económica, que provoca uma redução dos níveis de confiança por parte de todos os
intervenientes do sector;
Escassez de crédito concedido a particulares e empresas, o que tem condicionado o nível de
investimento;
Montantes de dívidas elevados;
Queda do investimento público, mais concretamente, do investimento na Construção;
Tendo em conta os factores apresentados, é de esperar que estes tenham um impacto significativo
no que diz respeito ao emprego e desemprego na Construção. De acordo com a análise de
conjuntura da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (FPICOP),
apresentam-se os principais números que caracterizam o mercado de trabalho nacional.
Relativamente ao emprego, no terceiro trimestre de 2013, o sector apresentou 288 900 postos de
trabalho, menos 66 800 que em igual período do ano anterior. Contudo, se tivermos em conta os
números de 2002 e os compararmos com os de 2013, concluímos que foram eliminados 319 693
postos de trabalho, o que se traduz uma redução de 53% da força de trabalho do sector.
35
4.4 CONSTRUÇÃO E HABITAÇÃO
De acordo com a série anual das Estatísticas da Construção e Habitação, publicada pelo Instituto
Nacional de Estatística, os principais indicadores sobre a Construção e Habitação em Portugal são os
que de seguida se apresentam.
Em 2012 o número de edifícios licenciados em Portugal diminui 17,2% tendo em conta o ano anterior
(-10,5% em 2011), tendo sido licenciados 20 788 edifícios.
Por semelhança com os anos anteriores, a construção de edifícios destinou-se a habitações novas,
representando este destino 63,8% do total de edifícios. Em 2011 as construções novas
representaram 64,2% do total de edifícios licenciados, face a 69,4% em 2010. Estes números são
representativos da desaceleração de construções novas e da importância crescente da reabilitação
de edifícios.
No que diz respeito a obras concluídas, registou-se um decréscimo de 2,0% no número de edifícios
concluídos (-2,8% em 2011), correspondendo a um total de 25 931 edifícios concluídos em 2012.
Relativamente a edifícios de habitação familiar, existiam em 2012 cerca de 3,6 milhões de edifícios, o
que corresponde a um aumento de 0,4% face ao ano anterior.
O valor dos trabalhos realizados pelas empresas de Construção, com 20 e mais pessoas ao serviço,
diminuiu 13,3% em 2011. A principal causa para esta diminuição está relacionada com o decréscimo
de 25,6% das obras de construção de edifícios.
Por fim, conclui-se que o decréscimo de vários indicadores do sector da Construção está ligado ao
facto de a produção na Construção estar em queda (Tabela 15).
36
Período de Índice de produção na Construção e Obras
Tipo de Obra
referência dos Públicas - Taxa de variação homóloga - Base 2010
Edifícios -16,00%
dados (%)
Obras de Engenharia -16,10%
Total -15,70%
Julho de 2013 Edifícios -16,30%
Obras de Engenharia -14,80%
4.5 INTERNACIONALIZAÇÃO
Num contexto de crise económica, e níveis de crescimento nacionais muito baixos ou quase nulos, é
essencial para as empresas a entrada em novos mercados. Este factor não está apenas relacionado
com a maximização das receitas em novos horizontes mas, essencialmente, trata-se da
sobrevivência das próprias empresas. No entanto, a participação das empresas em mercados
internacionais apresenta enormes desafios, sendo da responsabilidade das empresas o
desenvolvimento de estratégias apropriadas para uma internacionalização com sucesso (GAMA,
2011).
O sector da Construção começou a operar em mercados estrangeiros no fim dos anos oitenta, com a
entrada na União Europeia em 1985. Nesta altura houve um grande desenvolvimento de infra-
estruturas, como por exemplo, autoestradas, ferrovias, aeroportos, pontes, e reabilitação de escolas,
hospitais e universidades. Mais tarde, na década de noventa, a construção da feira internacional
“Expo 98” e da ponte Vasco da Gama veio confirmar este desenvolvimento de infra-estruturas e,
também, desafiar a criatividade de engenheiros, arquitectos e empresas de Construção. No início do
ano de 2000, o sector da Construção começou a abrandar o crescimento progressivo que vinha a
evidenciar desde o final dos anos oitenta. Para tal contribuíram o elevado número de infra-estruturas
existentes no país e a contenção de custos por parte do Governo. Face à crescente oferta no que diz
respeito à nova habitação, a Construção sofreu uma redução considerável do seu volume de
negócios (GAMA, 2011).
No período antes da crise económica de 2008, várias empresas portuguesas partiram em busca de
novos negócios no mercado internacional. Esta opção acabou por se transformar numa oportunidade,
com as empresas a depararem-se com a possibilidade de ganhar obras no exterior, com margens
elevadas e em contextos de menor concorrência. Contudo, com a chegada da crise, esta opção
deixou de ser uma escolha, e passou a tornar-se numa necessidade de sobrevivência para muitas
empresas do sector. A subida dos preços das matérias-primas e a diminuição da procura, limitaram
bastante o crescimento do volume de negócios no mercado nacional, portanto a internacionalização
passou a ser encarada como uma estratégia necessária, por forma a se evitar o decréscimo drástico
das rendibilidades das empresas (GAMA, 2011).
37
continente americano, nomeadamente Brasil, Venezuela, México, e os Estados Unidos da América
(E.U.A) também estes têm sido aposta de várias empresas de Construção portuguesas. Contudo, os
E.U.A., devido à grande dimensão das empresas de Construção locais, tem-se revelado num
mercado de difícil acesso e adaptação para as empresas portuguesas. Na América do Sul, as
empresas portuguesas ainda estão a tentar consolidar uma forte posição nesses mercados.
Relativamente ao Brasil, apesar da proximidade linguística e cultural, este mercado é considerado
também de difícil entrada devido a burocracias de funcionamento do mercado em si (DELOITTE,
2010.
Portugal
África
30,00% América Central e Sul
62,00% América do Norte
1,00%
7,00% Europa
Espanha
2,00%
18,00%
Ásia
América Central e Sul
7,00%
73,00% América do Norte
Europa
38
Ao consultar alguns relatórios de contas de empresas de Construção, identifica-se a presença
internacional das mesmas nos seguintes países: Angola, Argélia, Brasil, Bulgária, Cabo Verde,
Camarões, Costa do Marfim, Costa Rica, E.U.A, Eslováquia, Espanha, E.A.U, França, Guiné, Guiné
Equatorial, Grécia, Hungria, Irlanda, Israel, Líbia, Ucrânia, Macau, Malawi, Marrocos, Mauritânia,
Moçambique, Namíbia, Peru, Polónia, R. Checa, Roménia, São Tomé e Príncipe, Tunísia e
Venezuela.
4.6 INSOLVÊNCIAS
A análise anual de insolvências realizada pela COSEC registou um total de 6 030 insolvências no ano
de 2013 em todos os sectores empresariais, o que representa uma queda de 10% face a igual
período do ano anterior. O sector da Construção continua a ser o sector com maior número de
registos de insolvências, representando 26% do total de registos em 2013 (-17% face a igual período
do ano passado), continuando a ser o sector mais relevante na análise global de insolvências.
Berta Dias da Cunha, administradora da COSEC refere que “o ano de 2013 confirmou as nossas
expectativas de melhoria do indicador após um longo período de agravamento consecutivo do
número de insolvências de empresas. Muitas foram as empresas nacionais que conseguiram
encontrar formas de ultrapassar as adversidades e alcançar sucesso além-fronteiras. Sentimos que
as empresas nacionais têm demonstrado um grande esforço para ultrapassar obstáculos, procurando
diversificar as suas actividades e explorar outros mercados. É com expectativa que aguardamos os
resultados para este ano, contando que a evolução possa ser mais animadora.”
Segundo dados divulgados pela COSEC, apresenta-se na Tabela 16, a distribuição das insolvências
por distrito. Os distritos que registam maior número de insolvências são os de Lisboa, Porto e Braga,
com, respectivamente, 23,10%, 22,70% e 10,70% de insolvências. O distrito que regista menor
número de insolvências é o de Portalegre com apenas 0,50% de insolvências, -33,00% face ao ano
de 2012.
39
Tabela 16- Distribuição das insolvências por distrito no ano de 2013. Adaptado de COSEC
(2014).
Do total de empresas insolventes em 2013 (Figura 21), cerca de 67% são classificadas, no Estudo
Anual de Insolvências da COSEC, como microempresas. No gráfico também é detalhada ainda a
categoria de Empresário em Nome Individual (ENI) que registou, no ano 2013, um total de 10% do
número de insolvências em Portugal.
40
Dimensão das empresas insolventes
1%
0% <500K
4%
10%
>500K<3M
>3M<50M
18%
>50M
67%
ENI
ND
Em 2013, os três sectores mais afectados pelo desaparecimento de empresas (Tabela 17) foram:
Construção, representando 26% do número total de insolvências de empresas (-17% que em igual
período de 2012), Serviços, representando 19% (+14% que em igual período de 2012), e Retalho,
representando 17% (-5% que em igual período de 2012).
Tabela 17- Distribuição das insolvências por actividade sectorial. Adaptado de COSEC (2014).
41
Numa análise mais detalhada sobre o sector da Construção, e também segundo dados da COSEC,
apresenta-se na Figura 22 as insolvências neste mesmo sector por subsectores de actividade. Assim
sendo, é importante realçar o peso do subsector Construção de Edifícios (residenciais e não
residenciais) que representa 44% do total de insolvências registadas no sector. Como é visível
também na Figura 22, 71% das empresas que entraram em insolvência no ano de 2013
desenvolviam a sua actividade em áreas de Construção de Edifícios e Construção Especializada. No
entanto, verificou-se também uma reduzida presença de outros subsectores como a Fabricação (9%)
e Construção de Obras Públicas (5%).
Construção
5%
Construção de Edifícios
9%
Construção
44% Especializada
16%
Actividades Imobiliárias
Figura 22- Insolvências no sector da Construção por subsectores. Adaptado de COSEC (2014).
42
5. APLICAÇÃO DO MODELO SCP AO CASO PORTUGUÊS
Nos anos trinta, um grupo de economistas (Edward Chamberlin e Joan Robinson) começou a
desenvolver uma abordagem por forma a perceber as relações entre o ambiente à volta de uma
empresa, o seu comportamento, e a sua performance. O objectivo original desta investigação era
identificar e descrever as condições sobre as quais, numa estrutura de mercado considerada perfeita,
uma empresa teria dificuldades em apresentar resultados em determinada indústria. Mais tarde este
modelo foi desenvolvido por Joe S. Bain, um economista americano associado à Universidade da
Califórnia (BARNEY et al., 2007).
43
No modelo SCP, o ambiente organizacional é considerado de extrema importância no que diz
respeito à estrutura das empresas. O ambiente organizacional caracteriza-se por um grupo de
indivíduos que se juntam por forma a atingir determinado objectivo e, como é sabido, as acções
conjuntas aumentam a probabilidade de sucesso. Contudo, também é considerado crítico que exista
uma boa coordenação e colaboração de todos os intervenientes, caso contrário torna-se mais difícil
as empresas atingirem os seus objectivos. Não menos importante que o ambiente organizacional,
temos também o ambiente tecnológico. Este ambiente é um dos principais responsáveis pela
competitividade das empresas, pois representa a base técnica das suas actividades económicas
(FERRAZ et al., 2008).
Noutras indústrias menos competitivas, as empresas enfrentam menos constrangimentos e têm mais
opções de conduta, as quais permitem obter mais vantagens competitivas. Contudo, mesmo quando
existem mais opções de conduta, a estrutura da indústria acaba por influenciar e limitar muitas destas
opções. Por exemplo, podemos considerar que as barreiras de entrada num determinado sector são
fundamentais para definir durante quanto tempo as empresas conseguem manter as suas opções de
conduta sustentáveis. Por outro lado, se estas barreiras de entrada não existirem, as empresas vão
ser rapidamente igualadas pela entrada de novos concorrentes. Mas, mesmo neste caso, a estrutura
da indústria continua a ser importante na conduta e performance das empresas (BARNEY et al.,
2007).
Uma indústria apresenta uma concorrência perfeita quando: a) existe um número elevado de
empresas a competirem umas com as outras, b) os produtos a serem transaccionados pelas
empresas são homogéneos (substitutos perfeitos), c) os custos de entrada e saída da indústria em
questão são baixos, e d) todas as empresas instaladas na indústria têm igual acesso à tecnologia e
aos factores de produção. Como é sabido, as empresas que operam em indústrias que apresentam
concorrência perfeita, agem individualmente, sem ter em conta as estratégias e decisões das outras
empresas. Nesse sentido, as empresas observam o preço de mercado e decidem qual a quantidade
que querem vender a esse preço (SILVA, 2012). Um exemplo deste tipo de indústria pode ser a
indústria petrolífera (BARNEY et al., 2007).
44
é caracterizado por ter: a) um elevado número de empresas concorrentes que, individualmente, não
têm influência sobre o preço, b) custos de entrada baixos que permitem a entrada de novas empresas
e, c) empresas que vendem produtos diferenciados. Um exemplo deste tipo de indústria são os
restaurantes, que apresentam uma grande variedade de comidas, preços e serviços. Relativamente a
estas indústrias, as empresas têm uma variedade de opções de conduta por forma a obterem
vantagens competitivas (SILVA, 2012).
De seguida, temos as indústrias que são identificadas como oligopólio. Nestas indústrias o mercado é
controlado por um número reduzido de empresas, o que faz com que cada empresa quando
pretender tomar uma decisão de mercado, tenha em conta o comportamento e reacção das
restantes. Assim sendo, as empresas que actuam neste tipo de indústria apresentam um
comportamento estratégico, ao contrário do que se verifica nas indústrias de concorrência perfeita e
de concorrência monopolística, as quais não têm em conta as reacções dos seus concorrentes. Esta
indústria é caracterizada, essencialmente, por apresentar concorrência imperfeita e pelos produtos
transaccionados serem homogéneos (LIPSEY et al., 2011).
Finalmente, algumas indústrias podem ser consideradas como um monopólio. Neste tipo de indústria
uma única empresa controla o mercado de um determinado produto. Desta forma, a empresa
consegue influenciar o seu preço de transacção sem a intervenção de terceiros (LIPSEY et al., 2011).
Por fim, pode-se concluir que o modelo SCP é caracterizado por um certo tipo de estrutura de
mercado, que limita e condiciona a conduta das empresas e essa, por consequência, tem efeito sobre
a performance das mesmas. Portanto, tendo em conta o tipo de estrutura do mercado, as empresas
podem optar por vários tipos de conduta e estratégias, que determinarão o seu desempenho
económico (SEBBEN et al., 2012).
Na Tabela 18 apresenta-se uma lista das variáveis a serem utilizadas para analisar cada componente
do modelo, nomeadamente, a estrutura, a conduta e a performance.
45
Tabela 18 - Identificação dos principais tópicos a serem abordados nos subcapítulos
relacionados com a Estrutura, Conduta e Performance.
5.2 ESTRUTURA
46
nacional. Comparando os anos de 2014 e 2005, importa destacar que empresas como a Mota-Engil,
a Teixeira Duarte e Soares da Costa apresentaram alguma estabilidade em termos de ranking,
enquanto a Somague desceu algumas posições. Importa também referir que a empresa OPCA
corresponde, nos dias de hoje, à OPWAY depois de uma fusão da OPCA com a SOPOL.
47
Tabela 20 - Estrutura do sector da Construção por segmentos de actividade económica no ano
de 2012. Adaptado de BANCO DE PORTUGAL (2014).
Número de
Segmentos de Actividade Número de Volume de
pessoas ao
Económica Empresas Negócios
serviço
Actividades
34% 21,6% 31,4%
especializadas
Número de
Segmentos de Actividade Número de Volume de
pessoas ao
Económica Empresas Negócios
serviço
Actividades
28,8% 16,4% 26,1%
especializadas
Em relação à distribuição das empresas do sector da Construção por classes de dimensão (Tabela
22), conclui-se que a grande maioria do sector é constituído por microempresas, apresentando uma
percentagem de quase 88% do total do número de empresas. Destaca-se também o facto de as
grandes empresas apenas apresentarem uma percentagem de 0,1%, contudo são responsáveis por
37% do total do volume de negócios do sector. Para finalizar, enfatiza-se as pequenas e médias
empresas, que apresentam uma percentagem do número de pessoas ao serviço de quase 50%.
48
Tabela 22 - Distribuição das empresas do sector da Construção por classes de dimensão no
ano de 2012. Adaptado de BANCO DE PORTUGAL (2014).
Número de
Estrutura por classes de Número de Volume de
pessoas ao
Dimensão Empresas Negócios
serviço
Pequenas e Médias
12,2% 44,5% 49,4%
Empresas
Da análise da Tabela 23, onde se apresenta a distribuição das empresas do sector da Construção por
classes de dimensão no ano de 2002, verifica-se que as microempresas apresentavam 97,4% do
total de número de empresas e 65,9% do total de número de pessoas ao serviço, o que é ilustrativo
da força deste segmento. Contudo, em termos de volume de negócios, a maior contribuição surgia
por parte das restantes empresas, com uma percentagem de 52,8 do total do volume de negócios.
Número de
Estrutura por classes de Número de Volume de
pessoas ao
Dimensão Empresas Negócios
serviço
Os clientes do sector da Construção podem ser divididos em dois grandes grupos, de um lado as
entidades públicas e do outro os particulares. Tendo em consideração a Tabela 24, importa referir
que o investimento total no sector da Construção em Portugal tem vindo a diminuir, principalmente no
período pós crise económica de 2008. De facto, devido às medidas severas de austeridade que o
país tem enfrentado, o congelamento do investimento público tem sido apresentado como uma
solução para a contenção de despesas por parte das nossas entidades governamentais. Contudo,
existe quem defenda que esta posição apenas irá atrasar o desenvolvimento do sector empresarial
português e fragilizar ainda mais o sector da Construção, que é considerado como o principal motor
da nossa economia.
49
Tabela 24 - Investimento total no sector da Construção entre 2008 e 2011. Adaptado de INE
(2013).
1800 1684
1636
1559
1600
1400
1483
1200
400
203
140 165
200 281
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
50
5.3 CONDUTA
Uma vez identificados os elementos da estrutura de mercado, apresenta-se agora qual o tipo de
conduta que as empresas de Construção têm assumido por forma a aumentarem o seu volume de
negócios. Como é sabido, as empresas tendem a escolher as melhores estratégias com a finalidade
de obter uma maior participação no mercado económico em que estão inseridas. Para cada
estratégia que a empresa define, existe um impacto diferente sobre o seu desempenho no mercado
de trabalho.
5,3
4,9
2,9
1,2
0,8
0,4 0,4 0,5 0,5
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Segundo alguns dados disponibilizados pela Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas
(ANEOP) sobre o estudo “O Poder da Construção em Portugal – Impactos 2009/2010”, cerca de 70%
das 50 maiores empresas do sector estão presentes fora de Portugal, sendo que 86% do volume de
negócios internacional é realizado pelas 10 maiores empresas de Construção.
Por forma a se compreender melhor que existe uma relação directa entre a dimensão das empresas
e o peso da actividade internacional, apresenta-se, na Figura 26, o peso do volume de negócios no
exterior face ao volume de negócios total, por dimensão das empresas, com base no volume de
negócios de 2007 das mesmas.
51
3000,000 2784,651
2500,000
2000,000
1718,023
1500,000 VN Internacional
1235,354
VN Total
1000,000
443,766
500,000
0,000
entre 200 - 400 M€ acima de 400 M€
Nas empresas com volume de negócios entre 200 milhões de euros e 400 milhões de euros,
o peso da actividade internacional foi de cerca de 25%;
Nas empresas com volume de negócios superior a 400 milhões de euros, o peso dos
mercados externos foi de cerca 45%.
52
Abandono dos mercados
29,00% actuais
Reforço nos mercados
48,00% actuais
Manutenção dos
mercados actuais
Entrada em novos
23,00% mercados
Por forma a melhorarem o seu desempenho, as empresas de Construção optaram também por tomar
medidas relativamente à diversificação das actividades. Nesse sentido, as empresas estão agora
mais focadas em aproveitar todas a formas de rendimento possível ao longo do ciclo de vida do
produto. Nomeadamente, desde os materiais de construção até à exploração da edificação
(DELOITTE, 2010). Assim, apresenta-se na Tabela 25, a percentagem de empresas com outros
negócios para além da Construção consoante a sua dimensão em termos de volume de negócios.
Tabela 25- Empresas com outros negócios para além da Construção. Adaptado de DELOITTE
(2010).
53
Através dos valores apresentados conclui-se que a) 73% das empresas opera no negócio de
concessões e do imobliário, b) 48% das empresas com actividade em concessões têm um volume de
negócios superior a 200 milhões de euros e, c) 19% das empresas opera em outros negócios para
além dos apresentados.
No que diz respeito à área de concessões, é prática comum a utilização das parcerias público-
privadas. Neste tipo de concessões, as empresas para além de fazerem o investimento necessário
para a realização de determinada infra-estrutura, ficam também responsáveis pela exploração da
mesma durante um certo período de tempo, conforme acordado contratualmente. Quanto à área da
indústria e da energia, esta está relacionada com as participações que as empresas de Construção
têm com negócios relacionados com produtos a aplicar na Construção como, por exemplo,
carpintarias, construções metálicas, fabrico de produtos betuminosos, painéis solares, entre outros.
Relativamente ao imobiliário, a generalidade das empresas de Construção promove
empreendimentos imobiliários, e assim, obtém as margens geradas pela actividade da Construção e
ainda do negócio da promoção imobiliária (SANCHES, 2010).
Também se tem verificado que, para ganharem quotas de mercado, algumas empresas de
construção em Portugal recorrem a fusões e aquisições. Por exemplo, a aquisição em 1999 da Engil
por parte da empresa Mota & Companhia, tornando-se na Mota-Engil, a maior empresa do sector da
Construção. Por outro lado, as empresas de Construção portuguesas, por forma a ganharem
dimensão, também optam por uniões pontuais, isto é, agrupam-se em consórcios (SANCHES, 2010).
54
5.4 PERFORMANCE
De facto, ao analisar a variação do volume de negócios das duas maiores empresas de Construção
portuguesas, Mota-Engil e Teixeira Duarte, é possível verificar que a percentagem do volume de
negócios relativa ao mercado externo tem aumentado ao longo dos anos, enquanto que a
percentagem relativa ao mercado interno tem diminuído (Figuras 28 e 29).
1800 1701
1600
1453
1400
1156
1200
999
1000 941 939 Actividade Interna (milhões
790 de euros)
800
Actividade Externa (milhões
613
600 de euros)
400
200
0
2010 2011 2012 2013
55
1400
1283
1200
1027
1000
785 787
800 712 Actividade Interna (milhões
de euros)
593
600 535 Actividade Externa (milhões
488
de euros)
400 357
298
200
0
2009 2010 2011 2012 2013
56
25 000,00 €
20 000,00 €
15 000,00 €
10 000,00 €
5 000,00 €
0,00 €
2006 2007 2008 2009 2010 2011
57
Tabela 27 - Endividamento e Passivo das empresas do sector da Construção. Adaptado de INE
(2013).
Tabela 28 - Rendibilidade das vendas das empresas do sector da Construção. Adaptado de INE
(2013).
Em relação à rendibilidade dos activos (Tabela 29), verifica-se que esta aumentou entre 2008 e 2010
e diminuiu entre 2010 e 2011. De facto em 2008 e 2011 esta rendibilidade até apresentou valores
negativos, o que demonstra que os activos fixos tangíveis das empresas, como por exemplo a
maquinaria, não estavam a ser utilizados de forma optimizada para a produção dos produtos da
Construção. Importa também referir, e de acordo com a mesma tabela, que a formação bruta de
capital fixo também tem vindo a diminuir, o que demonstra que ao longo dos anos as empresas foram
58
perdendo muitos dos seus activos fixos tangíveis (maquinaria, terrenos, materiais de construção)
devido à queda do sector da Construção.
Tabela 29 – Rendibilidade dos activos e formação bruta de capital fixo das empresas do sector
da Construção. Adaptado de INE (2013).
Face a esta estrutura de mercado, as empresas tiveram que repensar a sua filosofia empresarial e
elaborar novas estratégias empresariais, adaptadas à realidade existente. Com a queda do volume
de negócios no sector da Construção, foram várias as empresas que sentiram dificuldades em manter
actividade, reduzindo o número de empresas no sector, e outras reduziram o número de pessoas ao
serviço por forma a colmatar a falta de trabalho, conforme foi apresentado nos subcapítulos 3.2.1 e
3.2.2. Não sendo suficiente a redução do número de trabalhadores, e com as margens operacionais a
ficarem cada vez menores, com a diminuição do valor acrescentado bruto, as empresas tiveram que
tomar outro tipo de atitude e pensar noutro tipo de estratégia.
Estando o mercado nacional limitado em termos de oferta de trabalho, muitas empresas optaram por
investir em mercados emergentes e decidiram apostar na internacionalização, como se constata pela
59
evolução do volume de negócios internacionais ilustrada na Figura 25. Esta opção veio, de certa
forma, aumentar as possibilidades de obtenção de trabalho por parte das empresas, e consequente
aumento do volume de negócios, melhorando a sua performance em termos económicos.
Outro tipo de conduta apresentado pelas empresas de Construção, face à estrutura de mercado, foi a
diversificação de negócios. Com esta estratégia, muitas empresas optaram por se especializar noutro
tipo de actividades para além da construção, conforme foi apresentado na Tabela 25.. Este tipo de
conduta permitiu às empresas aumentar as suas fontes de receitas, pois não estavam apenas
dependentes da encomenda de obras.
No que diz respeito à performance, esta está dependente das opções de conduta tomadas pelas
empresas, que foram baseadas na estrutura de mercado. Assim sendo, e já tendo referido a
importância do volume de negócios internacional para a performance das empresas, destaca-se a
produtividade aparente do trabalho por pessoa. Relativamente a este indicador, evidencia-se o
significativo ganho de produtividade que se verificou no período pós crise económica de 2008. De
facto, com a queda do número de pessoas ao serviço verificada na caracterização da estrutura de
mercado, os trabalhadores tiveram que aumentar os seus níveis de desempenho por forma a que as
obras ficassem concluídas nos prazos contratualmente acordados.
Importa também referir que, apesar do enorme esforço por parte das empresas de Construção, em
elaborar estratégias que fizessem face ao estado actual da estrutura, o sector estava de tal forma em
fase descendente, que nem sempre é possível obter resultados positivos. Por forma a comprovar este
facto, destaca-se a evolução do endividamento das empresas no sector da Construção. Consoante
foi apresentado, este indicador continuou a aumentar, apesar de todas as medidas de conduta
tomadas pelas empresas. Contudo, podemos concluir que estas medidas efectuadas pelas empresas
foram medidas de sobrevivência, pois o panorama era bastante desfavorável, e caso as mesmas não
tivessem sido tomadas, talvez o cenário fosse extremamente desanimador. Assim sendo, e tendo em
conta o período de extrema dificuldade que o sector atrevessou no período pós crise, é de destacar
as iniciativas tomadas pelas empresas, que fizeram com que muitos dos indicadores de performance
apresentassem variações positivas.
60
6. CONCLUSÕES
Actualmente, as maiores construtoras a nível nacional são a Mota-Engil, Teixeira Duarte e Soares da
Costa. Estas são as grandes empresas no sector da Construção pois são as que maior volume de
negócios apresentam, e também porque são as que mais empregados têm. Ou seja, são estas
empresas que mais contribuem para os quase 30 biliões de euros de volume de negócios do sector.
Em termos de evolução, e comparando com o ano de 2005, constata-se que estas empresas
conseguiram manter-se no topo ao longo dos anos, mesmo com todas as mudanças estruturais que o
sector apresentou, o que demonstra a capacidade de adaptação e qualidade das estratégias
empresariais destas mesmas empresas.
Analisando a estrutura do sector por classes de dimensão, são as microempresas que maior
presença têm no que diz respeito ao número de empresas, enquanto que, em relação ao volume de
negócios e número de pessoas ao serviço, são as pequenas e médias empresas que mais
contribuem. Face ao ano de 2002, verifica-se que as pequenas e médias empresas e as grandes
empresas foram ganhando importância em termos do volume de negócios e também do número de
pessoas ao serviço, conforme é demonstrado na Tabela 22 e 23. Estes valores são representativos
da evolução que o sector da Construção em Portugal foi sofrendo ao longo dos anos, muito devido à
crise económica de 2008.
61
Antes da crise económica, as grandes empresas do sector davam como subempreitada obras às
microempresas, e desta forma era garantido trabalho para este segmento do mercado. Com a
chegada da crise e consequente redução da construção, as grandes empresas deixaram de
apresentar a mesma oferta de subempreitadas para as microempresas, e estas, devido à falta de
trabalho e aos seus recursos limitados, não resistiram e acabaram por falir. As grandes empresas por
sua vez, por apresentarem maiores recursos e estruturas, conseguiram adaptar-se à recessão e
desenvolveram estratégias que lhes permitiram manter-se em actividade, e, por consequência, são
nos dias de hoje as principais responsáveis pelo volume de negócios e número de pessoas ao
serviço no sector.
Com igual tendência do investimento público no sector da Construção, também o volume de novos
créditos à habitação tem vindo a diminuir drasticamente. Por exemplo, no ano de 2007 este valor
rondava os 1875 milhões de euros, passando para 153 milhões de euros no ano de 2012. Este tipo
de acontecimentos dificultam o investimento dos privados no sector, e juntando também o facto de as
entidades públicas terem as suas fontes de investimento congeladas, conclui-se que, se esta
tendência se manter nos próximos anos, o sector vai apresentar dificuldades em recuperar.
Analisando a conduta, conclui-se que houve um forte investimento na internacionalização por parte
das empresas. Em termos de evolução de volume de negócios internacional para todo o sector da
Construção, é possível concluir que este passou de 428 milhões de euros em 2000, para 5300
milhões de euros em 2013. É possível também concluir que é nas empresas com volume de negócios
superior a 400 milhões de euros, que o peso do volume de negócios internacional é mais
representativo, conforme foi apresentado na Tabela 26. Estes valores, por si só, representam a maior
dificuldade das empresas mais pequenas em consolidarem a sua presença no estrangeiro,
principalmente por terem estruturas de menor dimensão e também por apresentarem menor
capacidade económica.
Em concordância com a evolução que tem vindo a ser identificada no sector, verificou-se também que
as empresas de Construção optaram por diversificar as suas actividades. Esta evolução de conduta
das empresas está relacionada com a alteração da procura e é considerada como uma estratégia
empresarial para ultrapassar a situação negativa que o sector atravessa. As empresas ao
diversificarem reduzem o risco da construção, contudo, ficam expostas a novas ameaças
dependendo do investimento necessário para aceder a novas actividades.
62
Em termos de diversificação de negócios, e de acordo com os valores apresentados nesta
dissertação, conclui-se que as empresas de Construção têm privilegiado a diversificação através das
concessões, nomeadamente, rodoviárias, ambientais e em termos de energia também. Desta forma,
as empresas conseguem tirar proveito da actividade de construção e também obter cash-flows
constantes devido à exploração da obra. Verifica-se também que muitas empresas têm optado por
uma diversificação a curto prazo, mais concretamente, na indústria dos materiais e serviços e
também na promoção imobiliária.
No que a tendências futuras diz respeito, e com a saída da Troika de Portugal, prevê-se que os
próximos anos sejam de recuperação, contudo, uma recuperação modesta. É expectável que
indicadores como o nível de desemprego e o nível de confiança dos consumidores apresentem uma
variação positiva, por forma a contrariar a tendência negativa que se tem vindo a verificar nos últimos
anos. Portanto, face a este cenário, e também tendo em conta que os juros de crédito para as
pequenas e médias empresas estão a cair, pode-se esperar que os próximos anos sejam propícios
para se investir de forma controlada em projectos de Construção.
Importa também referir que, ao se realizar esta dissertação, conclui-se que a crise no sector da
Construção não se resolve com mais obras e mais empresas. Muito pelo contrário, o sector precisa
de reduzir em quantidade e aumentar em qualidade. Isso significa menos empresas, mas melhores
empresas. Empresas com melhor capacidade organizativa e tecnológica e também com profissionais
mais qualificados. São este tipo de empresas que são necessárias, e empresas mais estáveis são as
que podem pagar melhores salários e também prestar serviços em território nacional e internacional,
pois apresentam melhores estruturas e melhores estratégias empresarias, o que por sua vez conduz
a melhores resultados económicos.
Conclui-se também que, ao longo dos anos, Portugal tem apresentado excessos de construção nova
e de infraestruturas, como por exemplo as autoestradas. Este excesso de construção em nada
contribuiu para o desenvolvimento do país, e é tempo para empresas do sector da Construção
pensarem em novas estratégias. Assim sendo é necessário que o sector passe a apostar mais na
reabilitação, que por vezes é mais complexa do que a construção nova e exige maior qualificação dos
profissionais.
63
subsistam, pode ocorrer uma desaceleração do processo de diversificação, contudo, não deve ser
suficiente para alterar a tendência verificada nos últimos anos. A diversificação coloca desafios às
empresas mas também oportunidades, portanto, é considerada como vital para o desenvolvimento
das mesmas e consequente melhoramento do sector da Construção em Portugal.
A internacionalização por sua vez deve também continuar a ser encarada como uma estratégia
empresarial futura para as empresas. Através dos valores divulgados, verificou-se que a presença de
empresas portuguesas em mercados emergentes não é um processo recente, e que muito antes da
crise económica de 2008 já existiam empresas a operar no mercado estrangeiro. Com a chegada da
crise, a internacionalização não foi apenas encarada como uma oportunidade de negócio, mas sim
como uma necessidade e questão de sobrevivência. Portanto, e tendo em conta que o sector não vai
apresentar uma recuperação significativa em termos de mercado nacional, conclui-se que esta
estratégia não deve ser abandonada e que as empresas devem continuar a expandir os seus
horizontes em busca de novas oportunidades e novos desafios.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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