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ESTUDO SOBRE A

DIVERSIFICAÇÃO DAS
EXPORTAÇÕES DE ANGOLA
Março de 2019
AGRADECIMENTOS
O presente estudo foi encomendado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, com o apoio
financeiro do Korean-Africa Economic Cooperation Trust Fund (KOAFEC) (Fundo de Cooperação
Económica Coreia-Africa).

O estudo é de grande importância, numa altura em que Angola procura formas de diversificar a
economia do sector petrolífero e reduzir a vulnerabilidade aos choques externos.

Usando uma metodologia abrangente e objetiva baseada em vantagens comparativas e


desenvolvimento de potencial de mercado, o estudo avaliou o potencial de competitividade de
exportação de 30 sectores e produtos-chave. Espera-se que os resultados do estudo informem a
agenda do Governo de Angola para a Promoção da Diversificação de Exportações e Substituição
de Importações (PRODESI), uma vez que articula claramente alguns sectores e subprodutos chave
cujas cadeias de valor, se bem aproveitadas, poderão contribuir significativamente para o aumento
gradual da produção interna e das exportações, gerar empregos e a tão necessária moeda estrangeira
para aliviar a pressão sobre as reservas.

Este estudo foi co-gerido por Patrick KANYIMBO, Coordenador de Integração Regional
(RDGE0 / RDRI) e Joel Daniel MUZIMA (Economista Principal do País / COAO). A
coordenação do dia-a-dia do trabalho com o Ministério do Comércio e outras contribuições úteis
foram fornecidas por Elsa NABENGE (Consultora Economista / COAO) e Felisberto MATEUS
(economista sênior do país / COAO). O Relatório foi preparado sob a orientação geral do Dr.
Joseph Ribeiro, Country Manager do Escritório Local do BAD em Angola (COAO) e da Dra.
Moono MUPOTOLA, Directora do Departamento de Integração Regional (RDRI). O Estudo foi
elaborado por uma equipa de consultores composta por Derk Bienen (Team Leader) e Samuel Zita,
ambos da BKP Development Research and Consulting, e Ana Duarte e Francisco Miguel Paulo,
ambos do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC-
UCAN).

A equipa agradece ao Governo, o sector privado, as instituições académicas e aos parceiros de


desenvolvimento que directa ou indirectamente contribuíram para o sucesso deste estudo. Uma
palavra especial de apreço vai para o Ministério da Economia e Planeamento, Ministério das
Finanças, Ministério do Comércio, Ministério das Pescas, Banco Nacional de Angola (BNA),
Administração Geral Tributária (AGT), Instituto Nacional de Estatística (INE), Associação
Industrial de Angola (AIA), Agência de Promoção de Investimento e Exportações de Angola
(APIEX) pelo apoio e dedicação prestada à equipa durante a preparação do estudo.

Nota: A página de capa mostra o Mercado de exportações de Angola em 2017.

PÁGINA ii ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

2 RAZÕES PARA A DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES ................................. 2


2.1 Resultado Exportações Angolanas ........................................................... 2
2.1.1 Exportações Totais e Balança Comercial ............................................................... 2
2.1.2 Estrutura Actual das Exportações..........................................................................4
2.1.3 Parceiros Comerciais .............................................................................................. 8
2.1.4 Resumo .................................................................................................................. 10
2.2 Experiência Internacional ........................................................................ 11
2.2.1 Países da África Subsaariana Exportadores de Recursos da Indústria
Extractiva ............................................................................................................... 11
2.2.2 Tigres e Filhotes dos Tigres Asiáticos .................................................................. 13
2.2.3 Egipto .................................................................................................................... 14
2.2.4 Resumo .................................................................................................................. 15

3 DESAFIOS À DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES....................................... 16


3.1 Desequilíbrios Macroeconómicos ........................................................... 16
3.2 Constrangimentos de Infraestruturas .................................................... 19
3.2.1 Transporte e logística ...........................................................................................20
3.2.2 Energia .................................................................................................................. 22
3.3 Capacidade Produtiva Insuficiente ......................................................... 23
3.4 Um Ambiente de Negócios não favorável ............................................. 26
3.5 Constrangimentos de Acesso ao Financiamento ................................... 28
3.6 Fraca Infraestrutura de aferição da Qualidade...................................... 29
3.7 Excessivos Procedimentos de Exportação e Limitada Facilitação do
Comércio .................................................................................................. 30
3.8 Incentivos Insuficientes e Promoção de Exportações ............................ 32
3.9 Dificuldades no Acesso aos Mercados Externos ..................................... 32
3.10 Resumo .................................................................................................... 36

4 POTENCIAL PARA DIVERSIFICAÇÃO DA EXPORTAÇÃO- IDENTIFICAÇÃO DE


SECTORES E PRODUTOS ..................................................................................40
4.1 Sectores com Potencial de Exportação ...................................................40
4.1.1 Desempenho das Exportações ............................................................................ 40
4.1.2 Vantagem Comparativa Revelada....................................................................... 41
4.1.3 Produção ............................................................................................................... 43
4.1.4 Constrangimentos e Opções-Chave para Superá-los ........................................ 46
4.1.5 Avaliação da Procura nos Potenciais Mercados de Exportação ....................... 49
4.1.6 Presença de Barreiras de Acesso aos Mercados de Exportação ....................... 50
4.1.7 Potencial de atracção de Investimento ............................................................... 52
4.1.8 Potencial para Beneficiar da produção Actual ................................................... 52
4.1.9 Avaliação Resumida do Potencial de Diversificação das Exportações ..............54
4.2 Sectores Prioritários e Produtos .............................................................. 57
4.2.1 Potencial de Emprego .......................................................................................... 57
4.2.2 Ligações com as MPMEs e Adição de Valor ........................................................59
4.2.3 Priorização Governamental .................................................................................59
4.2.4 Risco de Duplicação ............................................................................................. 60
4.2.5 Resumo: Priorização dos sectores para Preparação Sectorial de Planos de
Acção de Exportação ........................................................................................... 60

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA iii


5 A POLÍTICA E O QUADRO INSTITUCIONAL PARA DIVERFICAÇÃO DE
EXPORTAÇÃO EM ANGOLA ............................................................................ 62
5.1 Políticas e Estratégias .............................................................................. 62
5.2 Instituições .............................................................................................. 66

6 RESUMO E CONCLUSÕES ................................................................................ 70

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 73

ANEXOS
Anexo A: Perfil dos Sectores
Anexo B: Metodologia para Determinação do Potencial de Exportação e
Selecção do Sector

LISTA DE TABELAS E FIGURAS


Tabela 1: Angola, Produtividade laboral aparente por sector, 2010 e 2016 (produção por trabalhador por
sector, em USD actuais por ano)........................................................................................................................... 24
Tabela 2: Exportações de Angola para a UE, pelo regime de importação da UE, 2010-2016 ('000 de EUR) ..... 33
Tabela 3: Angola - exportações por sector, 2012-2016 (USD ‘000) ...................................................................... 41
Tabela 4: Angola – Vantagens comparativas reveladas por sector ................................................................... 44
Tabela 5: Angola, balanças comercias sectoriais, 2012-2015 (milhões de USD) ...................................................45
Tabela 6: Restrições-chave por sector ................................................................................................................. 48
Tabela 7: Severidade das restrições e potencial de solução para os sectores económicos Angolanos. ........... 49
Tabela 8: Potencial de mercado de exportação e severidade das barreiras de acesso ao mercado para
sectores económicos Angolanos ........................................................................................................................... 51
Tabela 9: Resumo do Potencial de Exportação do Sector .................................................................................. 56
Tabela 10: Angola – emprego por sector, 2010 e 2016 ....................................................................................... 58
Tabela 11: Emprego actual versus potencial de criação de emprego orientado para exportação em
sectores Angolanos seleccionados ....................................................................................................................... 58
Tabela 12: Resumo da priorização do sector para a preparação do plano de acção ......................................... 61
Tabela 13: Rede de apoio comercial em Angola .................................................................................................. 67

Figura 1: Exportações angolanas, 2010-2016 (milhões de USD) ............................................................................. 3


Figura 2: Preço à Vista do Brent na Europa FOB, 2010-2017 (USD por barril, médias anuais).............................. 3
Figura 3: Simulação de exportações angolanas com preço do petróleo constante de 2010, 2010-2016
(milhões de USD) ..................................................................................................................................................... 3
Figura 4: Angola – exportações, importações de bens e balança comercial, 2010-2017 (% do PIB) .................... 3
Figura 5: Exportações angolanas por categoria 2010-2016 (% do total) ..............................................................5
Figura 6: Classificações em termos de índice de concentração de exportações de países africanos
selecionados, 2015-2016...........................................................................................................................................5
Figura 7: Exportações angolanas não-petrolíferas, não diamantíferas, 2016 vs. 2012 (milhões de USD) ........... 6
Figura 8: Taxas médias de crescimento anual de exportações não-petrolíferas, não diamantíferas
angolanas selecionadas, 2012-2016 ......................................................................................................................... 7
Figura 9: Número de produtos NPND diferentes exportados, ao nível de 6 dígitos de HS, 2012-2016
(incluindo potenciais reexportações) ..................................................................................................................... 7
Figura 10: Principais mercados de exportação de Angola em 2010 e 2015 (milhões de USD), por região ......... 8
Figura 11: Mercados das exportações não petrolíferas, não diamantíferas angolanas por região, 2010 e
2015 (milhões de USD) ............................................................................................................................................ 9
Figura 12: Índice de taxa de câmbio efectiva real (REER), Kwanza vs. moedas de 138 parceiros comerciais,
Janeiro de 2000 - Maio de 2017 (Dezembro de 2007 = 100) ................................................................................ 17
Figura 13: Índice de Preço no Consumidor, Angola, 01/2012-01/2017 (% de mudança de ano em ano) ............ 18
Figura 14: Angola, reservas totais excluindo o ouro, 01/2011-08/2017 (milhões de USD) .................................... 18
Figura 15: Taxa de câmbio oficial e não oficial, AOA/USD, 01/2015-09/2017 ....................................................... 18
Figura 16: Índice dos passivos líquidos (M3), 01/2015-08/2017 (01/2015 = 100) ..................................................... 18
Figura 17: Qualidade das Infraestruturas - Desempenho de Angola .................................................................. 19
Figura 18: Índice do Desempenho da Logística - desempenho de Angola .........................................................20
Figura 19 Densidade da empresa em Angola vs. densidade de uma nova da empresa em países africanos
selecionados, 2008-2016 ........................................................................................................................................ 24
Figura 20: Doing Business em Angola e em países comparáveis ........................................................................ 27

PÁGINA iv ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Figura 21: Doing Business in Angola por sub-índice, DB210-DB2018.................................................................. 28
Figura 22: Custo de conformidade de negócios transfronteiriços em Angola e em países comparáveis
à data de Junho de 2017 (USD) .............................................................................................................................30
Figura 23: Tempo de conformidade de negócios transfronteiriços em Angola e em países comparáveis
à data de Junho de 2017 (horas) ........................................................................................................................... 31
Figura 24: Priorização de medidas de políticas horizontais destinadas à diversificação das exportações .......39
Figura 25: RCA de Angola por sector ................................................................................................................... 42
Figura 26: Espaço de produtos de exportações Angolanas, 2015 ....................................................................... 53
Figura 27: "Distância” de novos produtos de exportação para Angola em comparação com as actuais
exportações, 2015 ..................................................................................................................................................54

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA v


ABREVIATURAS
ACP África, Caraíbas e Pacífico IDF Instituto de Desenvolvimento Florestal
AFC Acordo de Facilitação do Comércio IDL Índice de Desempenho Logístico
AGOA Lei Sobre o Crescimento e Oportunidade IFE Instituto de Fomento Empresarial
em África INAPEM Instituto Nacional de Apoio às Micro,
AGT Administração Geral Tributária Pequenas e Médias Empresas
AIA Associação Industrial de Angola INE Instituto Nacional de Estatística
AIBA Associação das Indústrias de Bebida de MINCO Ministério do Comércio
Angola MIND Ministério da Indústria
AICA Associação da Indústria Cimenteira de MPDT Ministério do Planeamento e do
Angola Desenvolvimento Territorial
APE Acordos de Parceria Económica MPMEs Micro, Pequenas e Médias Empresas
APIEX/ Agência para a Promoção de MW Megawatt
AIPEX Investimento e Exportações de Angola NEPC Conselho Nigeriano para a Promoção de
BAD Banco Africano de Desenvolvimento Exportações
BEDIA Agência para o Desenvolvimento de NGN Naira Nigeriano
Exportações e Investimento do NMF Nação Mais Favorecida
Botswana
NPND Não Petrolífera, Não Diamantífera
BNA Banco Nacional de Angola
NTB Obstáculo Não Tarifário
CAGR Índice de Crescimento Anual Composto
NU Nações Unidas
CCI Centro de Comércio Internacional
OCDE Organização de Cooperação e
CCIA Câmara de Comércio e Indústria de Desenvolvimento Económicos
Angola
OMC Organização Mundial do Comércio
CEEAC Comunidade Econômica dos Estados da
ONUDI Organização das Nações Unidas para o
África Central
Desenvolvimento Industrial
CEEIA Comunidade de Empresas Exportadoras
OPEP Organização dos Países Exportadores de
e Internacionalizadas de Angola
Petróleo
CEIC-UCAN Centro de Estudos e Investigação
OTC Obstáculos Técnicos ao Comércio
Científica da Universidade Católica de
Angola PIB Produto Interno Produto
CNC Conselho Nacional de Carregadores PMA País Menos Avançado
CNUCED Conferência das Nações Unidas sobre PNFQ Plano Nacional de Formação de Quadros
Comércio e Desenvolvimento PRODESI Programa de Apoio à Produção, à
COMESA Mercado Comum de África Oriental e Diversificação das Exportações e
Austral Substituição de Importações
DB Doing Business RdO Regras de Origem
DFQF Isento de Direitos, Isento de Quotas SADC Comunidade de Desenvolvimento da
África Austral
DRC República Democrática do Congo
SFS Sanitárias e Fitossanitárias
DAF Distância Até à Fronteira
SH Sistema Harmonizado
ENE Estratégia Nacional de Exportação
SPG Sistema de Preferências Generalizadas
EU Estados Unidos
TCER Taxa de Câmbio Efectiva Real
FMI Fundo Monetário Internacional
TEA Tudo Excepto Armas
FOB Franco a Bordo
TIC Tecnologias da Informação e da
FTA Acordo de Comércio Livre
Comunicação
GCI Índice de Competitividade Global
UCAN Universidade Católica de Angola
GW Gigawatt
UE União Europeia
GWh Gigawatt Hora
USD Dólar Americano
IANORQ Instituto Angolano de Normalização e
VCR Vantagem Comparativa Revelada
Qualidade
IDE Investimento Directo Estrangeiro

PÁGINA vi ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


1 INTRODUÇÃO
Angola é um dos países com as maiores concentrações de exportação de África e até do mundo.
Em média, nos últimos seis anos (2012-2017), os produtos petrolíferos representaram mais de 95%
das exportações totais, e em combinação com os diamantes a percentagem aumenta para quase
99%. Como resultado, Angola é altamente dependente e vulnerável a mudanças no preço do
petróleo. A queda acentuada do preço do petróleo desde 2014 teve grandes repercussões na
economia. Além disso, a extração de petróleo em Angola, como em outros lugares, proporciona
pouco emprego e poucas oportunidades para o desenvolvimento da cadeia de valor e ligações com
as empresas nacionais.

A diversificação das exportações é, portanto, uma tarefa fundamental para o país, a fim de: (a)
reduzir a dependência dos preços do petróleo e se preparar para uma economia pós-petróleo e (b)
gerar emprego. Por conseguinte, o governo identificou, com razão, a diversificação das exportações
como uma prioridade.

O presente estudo pretende contribuir para o esforço de diversificação das exportações de Angola,
por fornecer uma análise minuciosa do potencial de diversificação das exportações de uma vasta
gama de sectores da economia angolana e identificar os constrangimentos e oportunidades para a
diversificação das exportações, tanto ao nível sectorial quanto da economia, constituindo assim
uma base de evidência completa para a elaboração de planos de ação de desenvolvimento de
exportações para um número limitado de sectores com potencial de exportação já identificado. A
maior parte da análise foi feita durante o segundo e terceiro trimestres de 2017, com uma
actualizaçao baseada nos desenvolvimentos recentes no início de 2018. Espera-se,
consequentemente, que o estudo ajude a apoiar os esforços do governo para a diversificação das
exportações, como recentemente expresso no Programa de Apoio à Produção, à Diversificação
das Exportações e Substituição de Importações - PRODESI de Novembro de 2017.

O estudo está organizado como se segue: o capítulo 2 aborda novamente, de forma breve, a
justificação para a diversificação das exportações em Angola e apresenta, também de forma breve,
experiências de outros países selecionados no que respeita à diversificação das exportações. O
capítulo 3 analisa os vários desafios que as empresas Angolanas enfrentam no que tange à
exportação, assim como os factores gerais que limitam a competitividade nas exportações do sector
empresarial angolano. A análise horizontal do capítulo 3 é complementada, no capítulo 4 , com um
resumo da avaliação detalhada do potencial de exportação de 30 setores (apresentados no anexo
A), levando à seleção de seis sectores com potencial de exportação para os quais planos de acção
orientados para a exportação deverão ser elaborados num próximo estágio. A seguir, o capítulo 5
aborda o quadro institucional e de políticas existente em Angola para facilitar a diversificação das
exportações, sobre o qual terá de se construir uma estratégia de diversificação das exportações. O
capítulo 6 conclui o diagnóstico.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 1


2 RAZÕES PARA A DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES
Em muitos estudos, publicações sobre políticas e comentários, se tem afirmado que, especialmente
desde que o preço do petróleo no mundo começou a cair em 2013, a economia angolana precisa
ser diversificada para que se possa superar a crise actual e estar-se melhor preparado para futuras
crises. Para citar apenas dois exemplos de políticas, no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-
2017 (MPDT 2012), o governo já estabeleceu uma “Política de Crescimento Económico, Criação
de Emprego e Diversificação Económica”. Mais recentemente, o FMI declarou que o “principal
desafio económico para Angola continua ser a necessidade de se diversificar a sua economia e a
base de exportação” (FMI 2017:15). Tendo como base os estudps da OPEC, com um remanescente
de produção petrolífera que se prevê durar mais 15 anos e tendo em conta as reservas provadas e
pressupondo-se que a actual produção permaneça inalterada, fica evidente que a diversificação
económica é uma necessidade e uma tarefa urgente.

Neste capítulo não se pretende repetir o trabalho já feito em outros estudos, mas sim fazer-se uma
análise adicional e complementar. Primeiramente, em conformidade com o foco geral do estudo,
em vez de se abordar a diversificação económica de forma generalizada, pretende-se mostrar a
necessidade de uma parte específica da diversificação económica, isto é, a diversificação das
exportações.

Indiscutivelmente, outros aspectos da diversificação económica, tais como o desenvolvimento de


uma base produtiva doméstica para melhor abastecer e servir a procura doméstica, são igualmente
importantes para ajudar a superar a crise actual. Alguns observadores têm mesmo defendido que a
ideia em si de que a diversificação das exportações seja capaz de ajudar Angola a superar a crise é
prematura (ex. UCAN/CEIC 2017). Um segundo objetivo deste capítulo é, portanto, avaliar em
que medida a diversificação das exportações pode realmente ser um elemento para a recuperação
da economia angolana.

Terceiro, o estudo prepara o caminho para a subsequente análise mais profunda dos desafios à
diversificação das exportações (capítulo 3) bem como a identificação dos sectores com potencial
de exportação com base numa metodologia exaustiva e analítica (capítulo 4).

As secções neste capítulo extraem lições para a diversificação das exportações de duas fontes
principais: uma análise do desempenho recente das exportações angolanas (secção 2.1), e uma
análise da experiência internacional no que respeita às políticas de diversificação das exportações
(secção 2.2).

2.1 Resultado Exportações Angolanas


2.1.1 Exportações Totais e Balança Comercial

Em média, as exportações anuais angolanas de 2010 a 2016 situaram-se a volta de USD 53,8 mil
milhões (em USD actual). Depois de uma subida de 35% a começar em 2010 até atingir o pico de
USD 70,9 mil milhões em 2012, as exportações baixaram em 60% chegando aos USD 28,2 mil
milhões em 2016, antes da ligeira recuperação para USD 33.4 mil milhões em 2017 (Figura 1).1

1 Até Março 2018 as estatísticas comerciais referentes ao ano 2017 ainda nao se encontravam disponíveis nas fontes
internacionais como UNCOMTRADE e ITC TradeMap; existem dados preliminares da AGT mas que subestimam as
exportaçoes do petróleo bruto e, por isso, não foram tomadas em conta neste estudo.

PÁGINA 2 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


A flutuação dos valores das exportações, e particularmente a redução das receitas de exportação
desde 2012, foi causada em grande parte pelas alterações no preço do petróleo internacional, que -
considerando as médias anuais - subiu de cerca de USD 80 por barril em 2010 para USD 111 em
2011 e 2012, antes cair de forma acentuada para USD 44 em 2016, mas com uma certa recuperação
desde então (Figura 2). Certamente, uma simulação simples das exportações angolanas, mantendo
o preço do petróleo constante, nos níveis de 2010, mostra que a volatilidade das exportações seria
mínima ( Figura 3 ). Contudo, a simulação mostra também uma falta de dinamismo das exportações
– as exportações teriam crescido a uma taxa média de 0,2% ao ano no período de 2011 a 2017.

Figura 1: Exportações angolanas, 2010-2017 Figura 2: Preço à Vista do Brent na Europa FOB,
(milhões de USD) 2010-2017 (USD por barril, médias anuais)
80,000
120

70,863 111.26 111.63 108.56


70,000
66,427 67,713
100 98.97
60,000 58,672
52,612 80 79.61
50,000

40,000 60
33,749 52.32 53.33
30,000 33,048 43.67
28,157 40

20,000
20
10,000

0
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: Estatisticas sobre as importações reportadas Fonte: Administração de Informação Energética dos
pelos parceiros comerciais de Angola, ITC TradeMap. EUA com base na Thomson Reuters 2

Figura 3: Simulação de exportações angolanas Figura 4: Angola – exportações, importações de


com preço do petróleo constante de 2010, 2010- bens e balança comercial, 2010-2017 (% do PIB)
2017 (milhões de USD)
60,000 64.6%
70.0%
52,612 61.3% 61.6%
51,110
50,255 49,423 48,808 60.0% 54.6%
50,000
48,182 49,039 46.7%
47,632 50.0%
45.2%
40,000 40.0% 41.1% 41.1%
32.2%
33.6% 28.6%
30.0% 22.5%
30,000 24.1%
20.0%
22.5%20.1%15.5%
20.2%19.4%20.6%21.1%
20,000 10.0% 12.1%
10.0%
13.2%12.5%
0.0%
10,000 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Exportações Importações
0 Balança comercial
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: Cálculos dos autores com base no ITC Fonte: Cálculos dos autores com base nos Indicadores
TradeMap e na Administração de Informação de Desenvolvimento Mundial e na Base de Dados das
Energética dos EUA. PEM do FMI

2 https://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=pet&s=rbrte&f=a (acedido em 22 Feb 2018).

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 3


A diminuição das receitas de exportação de petróleo também teve um impacto negativo na balança
comercial do país. Com as exportações a registarem uma queda de mais de 40 pontos percentuais
entre 2011 e 2017, de quase 65% do PIB para 22,5%, continuando as importações a responder por
aproximadamente 20% do PIB durante grande parte desse período, antes de cair para
aproximadamente 13% em 2016 e em 2017, a balança comercial diminuiu de 45% do PIB em 2011
para 10% em 2017 ( Figura 4 ). Contudo, esta manteve-se positiva apesar da queda acentuada nos
preços do petróleo, devido também a um ajuste nas importações, que foram reduzidas, em valores
absolutos, de um pico de USD 28,6 biliões em 2014 para USD 19,2 biliões. No lado negativo, no
entanto, a redução nas importações não é necessariamente o resultado de uma escolha em termos
de políticas, mas sim um reflexo da falta da moeda estrangeira no país. Além disso, a redução nas
importações também afetou não somente os bens para o consumo mas também os bens de
investimento, enfraquecendo desse modo o sector produtivo e afectando a capacidade dos sectores
não-petrolíferos de competir internamente e em mercados de exportação, como será analisado mais
detalhadamente mais a frente.

Uma primeira lição a ser extraída desta visão geral é que a actual elevada dependência de Angola
das exportações de petróleo bruto torna a economia altamente vulnerável às flutuações do preço
do petróleo internacional. A queda acentuada dos preços do petróleo desde o início dos anos 2010
atingiu duramente a economia angolana e, embora existam indícios de alguma recuperação do
preço do petróleo, a diversificação das exportações é um dos elementos de uma estratégia nacional
de mitigação do risco económico.

2.1.2 Estrutura Actual das Exportações

Actualmente, as exportações de Angola podem ser classificadas em quatro categorias principais:


petróleo bruto, produtos petrolíferos refinados e gás, diamantes, e outros produtos. Desde a década
de 1970 esta estrutura tem sido dominada grandemente por exportações de petróleo bruto.3 Apesar
da recente tendência de queda, as exportações de petróleo continuam a dominar as exportações
totais - de 2012 a 2016 a quota-parte das exportações de petróleo bruto nas exportações totais caiu
4.5 pontos percentuais, passando de 97,2% para 90,1% ( Figura 5 ). No mesmo período, a quota-
parte do petróleo refinado (e outros produtos petrolíferos) e dos diamantes no valor total das
exportações aumentou 5,6 pontos percentuais, de modo que a quota-parte combinada de todos os
outros produtos de exportação, apesar de um aumento, manteve-se no valor bastante baixo,
atingindo o máximo de 1.6% em 2016, quando o preço do petróleo esteve no seu nivel mais baixo,
antes duma nova queda para abaixo de 1% em 2017. Nessa conformidade, embora tivesse
diminuído ligeiramente em relação ao valor de 0,966 registado em 2010, o índice de concentração
dos produtos de exportação de Angola, manteve-se em 0,934 em 2016,4 o mais elevado em África
- a segunda economia Africana mais concentrada é a do Botswana (0,876), sendo menos
concentradas as exportações de outros países exportadores de petróleo (aproximadamente 0,7), e
as de seus pares tais como Moçambique (0,270) ou Namíbia (0,275), que possuem estruturas de
exportação comparativamente diversificadas (Figura 6 ).

3 Só em 1973 o petróleo bruto transformou-se no produto de exportação mais valioso, constituindo 30% das
exportações totais, contribuindo o café com 26% (Paulo 2013).
4 O índice de concentração do produto da CNUCED é uma variante do índice de Herfindahl-Hirschman, que vai de

zero a um. Uma classificação de um significa que um só produto constitui o total de exportações de um país, enquanto
um valor de zero significaria que um país exporta vários produtos, em volumes pequenos, isto é, possui uma estrutura
de exportações altamente diversificada; http://unctadstat.unctad.org.

PÁGINA 4 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Figura 5: Exportações angolanas por categoria Figura 6: Classificações em termos de índice de
2011-2017 (% do total) concentração de exportações de países africanos
selecionados, 2015-2016
100% 0.0% 0.1% 0.1% 0.1% 0.2% 1.000 0.934
1.8% 1.6% 1.7% 2.2% 1.6% 0.9%
3.3% 0.876
98% 0.900
1.6% 1.2% 1.5% 1.5% 3.5%
96% 1.5% 6.1% 0.800 0.738 0.734
0.681
94% 0.700
5.1%
92% 0.600
2.2%
90% 0.500
97.2% 96.7% 96.2%
88% 96.6% 0.400
95.0%
86% 0.275 0.27
0.300
90.1% 90.5%
84% 0.200 0.121
82% 0.100
80% 0.000
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Petróleo bruto Petróleo refinado e gas


Diamantes Outros productos

Nota: Os dados de 2016 e 2017 são baseados em Fonte: UNCTADStat.


estatística inversa (importações relatadas por parceiros
de negócios de Angola).
Fonte: ITC TradeMap.

A categoria de outras exportações, i. e., exportações não petrolíferas, não diamantíferas (NPND),
registou um aumento nas exportações, saindo de USD 391 milhões em 2012 para USD 988 milhões
em 2016. A categoria inclui uma grande variedade de produtos, desde produtos de base agrícolas a
maquinaria sofisticada (Figura 7 a). No entanto, grande parte destas exportações é na realidade a
reexportação de produtos importados previamente, incluindo a venda de maquinaria e
equipamento usados. Infelizmente, as estatísticas sobre o comércio em Angola presentemente não
fazem distinção entre reexportações e exportações domésticas genuínas. Contudo, com base em
pesquisas e entrevistas, é possível identificar várias categorias de produtos como sendo
reexportações e exclui-las futuras análises. Entre os produtos restantes, o peixe (23% das
exportações domésticas de NPND), rochas ornamentais (18%), a madeira (9%) e as bebidas (8%)
lideraram as exportações no período 2012 - 2016 (Figura 7 b). O total destas exportações
(“domesticas”) angolanas genuínas, aumentou de USD 88 milhões em 2012 para USD 311 milhões
em 2016.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 5


Figura 7: Exportações angolanas não-petrolíferas, não diamantíferas, 2016 vs. 2012 (milhões de USD)
a) Todas as exportações não-petrolíferas, não diamantíferas

2016 273 139 99 52 45 34 80 57 128

2012 129 81 10 31 30 27 11 1 50

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

84 Máquinas e aparelhos 73 Obras de ferro ou aço


89 Embarcações e estruturas flutuantes 90 Instrumentos de ótica etc.
03 Peixes e crustáceos 85 Máquinas e aparelhos elétricos
25 Sal; terras e pedras; cimento 44 Madeira e obras de madeira
87 Veículos automóveis, tratores 86 Veículos e material para vias-férreas
22 Bebidas Outros

b) Todas as exportações não-petrolíferas, não diamantíferas, excluindo reexportações óbvias

2016 45 80 35 57 646 7 61

2012 30 11 6 1 9 11 4 2 13

0% 20% 40% 60% 80% 100%

03 Peixes e crustáceos 25 Sal; terras e pedras; cimento


44 Madeira e obras de madeira 22 Bebidas
72 Ferro fundido, ferro e aço 70 Vidro e suas obras
82 Ferramentas, etc. 10 Cereais
15 Gorduras e óleos animais ou vegetais 39 Plásticos e suas obras
94 Móveis; mobiliário; colchões; etc. Outros
Fonte: Cálculos feitos pelos autores com base em dados ao nível das transações fornecidos pela AGT.

Enquanto em alguns sectores as exportações cresceram muito rapidamente, tais como os cereais
(203% por ano) e as bebidas (186%), noutros, incluindo as exportações “tradicionais” não
petrolíferas - com realce para as pescas (11%) e especialmente as garrafas de vidro (um declínio
anual médio do valor das exportações de 21%), tiveram um desempenho abaixo da média.

PÁGINA 6 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Figura 8: Taxas médias de crescimento anual de exportações não-petrolíferas, não diamantíferas angolanas
selecionadas, 2012-2016
250.0%
203.5%
200.0% 185.6%

150.0%

100.0% 81.8%
64.2% 58.2%
50.0% 34.6% 33.1% 37.1%
11.0% 10.8%
-9.7% -21.2%
0.0%

-50.0%

Fonte: cálculos feitos pelos autores com base em dados ao nível das transações fornecidos pela AGT.

Finalmente, tendo em conta os desenvolvimentos recentes respeitantes ao nível de diversificação


das exportações, podem ser aplicados três indicadores simples: o número de produtos diferentes
exportados de Angola num ano; o número de novas exportações introduzidas num ano (i.e. aquelas
que não ocorreram no ano anterior), e a taxa da sobrevivência das exportações (i.e. produtos que
foram exportados em pelo menos dois anos consecutivos). Aplicando limiares diferentes para
valores mínimos de exportação, a Figura 9 mostra duas tendências positivas e uma negativa:
Primeiro, é encorajador observer que tanto o número de produtos exportados como o número de
exportações estáveis aumentaram. Por outro lado, o número de produtos novos que estão a ser
exportados tem diminuído desde 2014, em outras palavras: a diversificação das exportações não-
petrolíferas, não diamantíferas abrandou.

Figura 9: Número de produtos NPND diferentes exportados, ao nível de 6 dígitos de HS, 2012-2016
(incluindo potenciais reexportações)
a) Limiar: USD 10.000 b) Limiar: USD 1.000.000
1,200 160
1,015 1,036 138
140 130
1,000 885
120
800 725 94
634 656 637 100 85
69 74
600 479 80 62
409
60 42
400 38
406 40 56 56 53
378
200 311
247 20
0 0 20
2012 2013 2014 2015 2016 2012 2013 2014 2015 2016

Número de produtos exportados Número de produtos exportados

Número de novos produtos de Número de novos produtos de


exportação exportação
Número de exportações exportadas Número de exportações exportadas
ao longo de 2 anos consecutivos ao longo de 2 anos consecutivos
Fonte: Cálculos feitos pelos autores com base em dados ao nível das transações fornecidos pela AGT.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 7


Várias lições podem ser tiradas da análise da actual estrutura de produtos de exportação de Angola.
Primeiramente, a quota-parte nas exportações totais é limitada. Logo, o impacto a curto prazo da
diversificação das exportações na diversificação económica mais alargada e na resolução da crise
económica será também limitado; contudo, dados os efeitos multiplicadores a longo prazo, parece
ser importante começar-se a diversificar as exportações sem mais demora (a secção 2.1.4 aborda
esta questão mais detalhadamente). Em segundo lugar, existe um potencial grande número de
produtos de base NPND que poderiam, em princípio, contribuir para a diversificação das
exportações angolanas, mas o seu desempenho varia consideravelmente. Assim, é importante
identificar quais desses produtos têm o potencial o mais elevado e devem, consequentemente,
merecer prioridade por parte do governo para medidas de apoio. Proporcionar esta filtragem e
definição de prioridades é o objectivo principal do presente relatório (capítulo 4).

2.1.3 Parceiros Comerciais

De modo geral, a China e a União Europeia (UE) têm sido os principais parceiros comerciais de
Angola nos últimos anos, tanto no que diz respeito às importações como às exportações. No
entanto, no decorrer do tempo as respectivas quotas evoluíram de modo bastante diferente. No
que diz respeito às importações, de 2010 a 2015 a predominância da UE diminuiu, passando de
47% (USD 8,5 biliões) do total de importações para 33% (5,5 biliões); O peso da América do Norte
diminuiu igualmente, em 2 pontos percentuais, para 8%. Durante o mesmo período, o peso da
China aumentou em 7 pontos percentuais, tendo chegado a 18%. Além disso, a Coreia do Sul e a
Singapura estão entre os poucos países que poderam aumentar as importações nesse período,
aumentando desse modo o seu peso combinado nas importações de 2% para 13%.

Mais importante, do ponto de vista da diversificação das exportações, é a composição dos


mercados de exportação de Angola (Figura 10). Aqui, a China e a UE tornaram-se ambos mais
importantes em termos relativos: A China, que já era o maior mercado em 2010 - com um valor
total de exportações de USD 21 biliões ou 39,9% das exportações totais - aumentou a sua quota-
parte, em 3,4 pontos percentuais, para 43,3% em 2015, embora esta representasse ainda uma queda
no valor das exportações para USD 14,3 biliões, em consequência do declínio do preço do petróleo.

Figura 10: Principais mercados de exportação de Angola em 2010 e 2015 (milhões de USD), por região

2015 14,321 2,245 8,260 2,676 3,528 1,350 27

2010 20,969 14,005 5,120 5,118 4,461 1,705 32

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

China América do Norte UE


Índia Resto da Ásia África do Sul
América Latina e Caraibe Resto da Europa Resto da África

Fonte: Cálculos feitos pelos autores com base em dados da UN COMTRADE.

PÁGINA 8 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


O aumento da importância da UE como destino das exportações de Angola foi ainda maior - de
facto, a UE é a única região (além do resto da Europa) onde o valor absoluto das exportações
aumentou durante esse período, de USD 5,1 biliões em 2010 para USD 8,3 biliões em 2015, o que
corresponde a um aumento na quota-parte de 9,7% para 25,0%. Inversamente, as exportações para
a América do Norte baixaram substancialmente, de USD 14 mil milhões para USD 2,2 biliões.

As vendas à África do Sul estiveram relativamente estáveis, diminuindo de USD 1,7 biliões para
USD 1,4 biliões, o que corresponde a um aumento na quota-parte das exportações, passando de
3,2% para 4,1%. Finalmente, as exportações para outros países africanos continuaram a ser
mínimas, situando -se em torno dos USD 30 milhões, ou aproximadamente 0,1% do total das
exportações angolanas.

Considerando somente as exportações NPND, a distribuição regional dos mercados de Angola é


ligeiramente diferente (Figura 11). Aqui, a UE constitui, de longe, o maior mercado, embora a sua
predominância tenha diminuído no período de 2010 a 2015, passando de 68% das exportações
NPND para 48% - mas em termos absolutos, as exportações ainda aumentaram consideravelmente,
de USD 20 milhões para US $ 31 milhões. Entretanto, a Ásia no seu todo tornou-se quase tão
importante como a EU: A Índia (13%), China (9%) e outros países asiáticos (incluindo o Oriente
Médio, 22%) representaram 44% das exportações NPND angolanas em 2015, uma subida quando
comparadas com os 32% registados em 2010; este aumento deve-se inteiramente ao maior volume
de exportações para a Índia e outros países asiáticos, enquanto as exportações para a China
diminuíram de USD 9 milhões para USD 6 milhões. Finalmente, as exportações não petrolíferas
para os países africanos também emergiram durante este período mas continuaram limitadas,
situando-se em USD 4 milhões (6% do total das exportações NPND); nenhuma teve como destino
a África do Sul.

Figura 11: Mercados das exportações não petrolíferas, não diamantíferas angolanas por região, 2010 e 2015
(milhões de USD)

2015 31 6 14 4 9 1 0

2010 20 9 10 0

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

UE China Resto da Ásia


Resto da África Índia América Latina e Caraibe
África do Sul Resto da Europa América do Norte

Fonte: Cálculos feitos pelos autores com base em dados da UN COMTRADE.

Combinando a estrutura de produtos das exportações NPNDs angolanas com os mercados


geográficos fica claro que diferentes produtos de exportação têm destinos de exportação bastante
diferentes. Assim:
▪ O peixe é exportado primariamente para a Espanha, com porções menores a terem como
destino o Japão, a China e outros países.;
▪ A madeira é vendida principalmente à China;

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 9


▪ Os mercados de exportação da pedra pré-talhada varia significativamente de ano para ano
e tendem a ser altamente concentrados.
▪ Por exemplo, em 2015, todas as exportações tiveram como destino a Índia, enquanto um
ano antes a Itália era o principal destino; e
▪ o café exportado exclusivamente para Portugal e, em menor quantidade, para a Espanha.

Resumindo a análise dos mercados de exportação de Angola, as lições-chave a serem tiradas de


modo a se promover a diversificação das exportações são as seguintes. O aspecto positivo é que,
de modo geral, a concentração das exportações entre os diferentes destinos é razoavelmente
limitada - o petróleo é exportado para muitos mercados ao redor do mundo. As exportações
NPND para UE e Ásia já aumentaram nos últimos anos, e tem havido uma tendência para a
diversificação do mercado. Contudo, até ao momento, esta tendência positiva tem sido associada
à diversificação dos produtos, uma vez que a maioria de produtos tende a ser exportada para um
pequeno número de mercados, sendo que a diversificação geográfica dos mercados para
determinados produtos não ocorreu; há, assim, um espaço para se reduzir a vulnerabilidade através
da diversificação geográfica dos mercados para determinados produtos básicos de exportação. Uma
outra área para a diversificação das exportações é a venda a países africanos, que até agora tem tido
um fraco desempenho.

2.1.4 Resumo

Angola conforma-se aos preços do petróleo bruto e produtos relacionados no mercado


internacional. Além disso, depende grandemente das receitas provenientes da exportação do
petróleo para financiar sua economia (principalmente das receitas fiscais, divisas para importar bens
e serviços não disponíveis no país) e está altamente vulnerável às flutuações do preço do petróleo
internacional. Estes factores apontam claramente para a necessidade de Angola diversificar a sua
produção e bases de exportação a fim de reduzir a sua dependência do petróleo.

A necessidade de se reduzir a vulnerabilidade fornece por si só uma justificação para a diversificação


das exportações, independentemente da necessidade de diversificação da economia de um modo
geral, no contexto da qual a diversificação das exportações é normalmente apresentada e criticada.

Por exemplo, afirmou-se recentemente que “considerando o seu peso nas exportações totais (4%),
as exportações do sector não petrolífero, não constituem ainda, nem a curto, nem mesmo a médio
prazo alternativa às exportações petrolíferas, tendo em conta os problemas estruturais que o país
apresenta e as dificuldades que os produtores nacionais enfrentam a todos os níveis”
(UCAN/CEIC 2017: 141).

Na mesma senda, a UCAN/CEIC (2017) e Ennes Ferreira (2016) defenderam que a diversificação
das exportações não constituem um factor de mudança para a economia angolana. Vale a pena
apresentar os argumentos de forma detalhada:
“a) ‘Diversificar a produção interna e as exportações fora do sector petrolífero é um imperativo de bom
senso. Mas é credível a proposição de que a curto prazo (há potencial para) exportar a uma escala
considerável? Para os exportar há que, em primeiro lugar, produzi-los e isso requer que não existam
obstáculos de índole diversa, que em Angola são muitos e dificilmente superados a curto prazo.’
b) ‘Pressupostos do estudo: inexistência de quaisquer constrangimentos à produção nacional, obtenção
imediata da produção máxima em cada um dos produtos, toda a produção excedentária face ao consumo
interno é exportada, há mercados externos garantidos sem que se gaste um dia na sua prospecção.’
c) ‘Mais pressupostos: exportação de ferro de 18 milhões de toneladas, de café de 50 000 toneladas, 35
milhões de dólares de exportação de rochas ornamentais, metade do valor de exportação de madeira do
Gabão (um dos principais exportadores africanos), multiplicação por 10 da quota de 0,1% de exportação

PÁGINA 10 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


mundial de sal, 100 milhões de dólares de exportação de mel (equiparado ao Brasil), centenas de milhões
de dólares na exportação de cimento e bebidas alcoólicas.’
d) Tudo somado, conclui Ennes Ferreira, o valor total das exportações diversificadas seria de 1,8 mil
milhões de dólares.
Segundo dados oficiais para 2015, as exportações de petróleo renderam ao país 35,4 mil milhões de
dólares (informações oficiais ainda preliminares), representando esta diversificação apressada um ganho
de apenas 5,1%!” (Ennes Ferreira 2016, conforme citado em UCAN/CEIC 2017: 214f)

Embora seja verdade que a diversificação das exportações não proporciona uma solução rápida
para os problemas económicos de Angola, nenhuma outra medida o faz. Dada a magnitude de
questões a resolver, várias políticas e medidas precisam ser implementadas, sendo que mesmo estas
levarão tempo para produzir mudanças na economia. A diversificação das exportações constitui
um elemento no processo mais amplo de diversificação da economia e contribuirá para uma
economia mais resiliente a longo prazo. Naturalmente, é também imperativo reduzir-se a actual
dependência extrema do preço do petróleo. Considerando todos os factores, há uma necessidade
urgente de se começar a diversificar as exportações, embora qualquer impacto em maior escala só
será sentido a longo prazo.

A necessidade de diversificação das exportações requer que Angola elabore uma estratégia de
diversificação de exportações focada não somente em alguns desafios fundamentais à exportação,
mas também em sectores e/ou produtos com potencial para melhorar o respectivo desempenho
em termos de exportação e naqueles com potencial para serem produzidos e exportados para novos
mercados (a nível regional e internacional). Da mesma forma, a estratégia deverá equilibrar medidas
de curto prazo e de longo prazo.

Para formular uma estratégia deste tipo, é útil começar por desenvolver uma compreensão das
experiências de outros países e possivelmente explorar algumas lições deles. É isso que se tenta
fazer na próxima secção.

2.2 Experiência Internacional


Em termos de estratégias de diversificação de exportações, há muitas experiências de outros países
de que Angola se pode beneficiar. Algumas das experiências que vale a pena considerar incluem as
de países da África subsaariana com alta dependência de commodities como o Botswana e a Nigéria
(secção 2.2.1), tigres e filhotes de tigres asiáticos, como a Coreia do Sul e a Malásia (secção 2.2.2).
Finalmente, os países do norte de África também proporcionam lições úteis, embora os seus
esforços tenham a ver menos com a diversificação de exportações e mais com a expansão de
exportações e com a mudança de foco das commodities primárias para as exportações com valor
acrescentado. A secção 2.2.3 analisa de forma breve o caso do Egipto.5

2.2.1 Países da África Subsaariana Exportadores de Recursos da Indústria


Extractiva

Na região da África subsaariana, o Botswana e a Nigéria possuem características semelhantes às de


Angola no sentido de que as suas estruturas de exportação são dominadas por recursos naturais e
enfrentam o desafio de diversificar a sua produção e bases de exportação: Em 2015, as exportações

5 O objetivo desta secção é ajudar a obter lições para a diversificação das exportações angolanas, não fazer uma análise
abrangente da experiência de outros países – que seria o objecto de um estudo diferente.
Contudo, para uma visão geral comparativa da experiência de outros países, em particular do modelo asiático e sua
aplicação em África, consultar o estudo do BAD sobre manufacturação na África Oriental (Bienen/Ciuriak 2014) e a
literatura analisada no mesmo.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 11


de diamante representaram 82% das exportações totais do Botswana (FMI 2016), e na Nigéria as
exportações de petróleo e gás representaram 92% do total das exportações (FMI 2016a);
conformemente, as pontuações em termos de índice de concentração de exportação são elevadas
(Figura 6 acima). No entanto, embora as suas exportações se concentrem ainda nos recursos
naturais, estes países começam já a diversificar, auxiliados pelas estratégias de diversificação de
exportações em que a Nigéria e o Botswana embarcaram na sequência dos choques que sofreram
os preços internacionais dos seus recursos naturais.

O Botswana reconheceu o desafio da alta concentração das exportações, não apenas a nível
técnico mas também ao mais alto nível politico, e embarcou numa estratégia que começou com a
elaboração de uma estratégia nacional de exportações (NES) para o período 2010-2016 (Republic
of Botswana 2010), que tem como objetivo, dentre outros, (i) fazer do sector de exportação não
diamantífera o motor do crescimento, (ii) diversificar a base de exportação e (iii) maximizar a
contribuição do sector à criação de emprego, desenvolvimento rural, redução da pobreza e
igualdade de gênero. Embora não seja possível, no contexto do presente estudo, estabelecer uma
relação causal directa entre a NES e os recentes desenvolvimentos no sentido da real diversificação
das exportações, a NES conseguiu atingir vários marcos até à data que parecem indicar que a
estratégia contribuiu pelo menos para a diversificação das exportações. Estas realizações incluem:
(i) a identificação de sectores-chave de manufacturação para a execução da NES; (ii) o reforço do
papel da Agência para o Desenvolvimento de Exportações e Investimento do Botswana (BEDIA)
como a promotora principal da imagem do país como um destino africano para o investimento;
(iii) o desenvolvimento de uma estrutura para o Conselho Nacional para a Execução da Estratégia
de Investimento e Exportação, financiada pelo orçamento do estado e presidida pela BEDIA ao
nível técnico e pela Comissão Ministerial para a Economia e Emprego ao nível político; (iv) missões
a países como África do Sul, Angola, Coreia sul e India dirigidas à promoção do comércio; (v) o
estabelecimento de contactos e joint-ventures entre companhias locais e entidades estrangeiras nos
sectores prioritários da NES (téxteis e vestuário, carne e transformação de carnes, jóias, mobiliário,
artes e ofícios, serviços, couro e produtos de couro, vidro e produtos de vidro, e produtos
químicos); e (vi) formação e instrução de potenciais exportadores para vincar a sua posição nos
mercados regionais e internacionais. De 2012 a 2015 a quota das exportações não diamantíferas no
total das exportações do Botswana registou um ligeiro aumento de 0,4 pontos percentuais, tendo
chegado a 21,4% (FMI 2016:28).

No caso da Nigéria, o significativo declínio do preço do petróleo nos anos oitenta levou o governo
a implementar uma série de medidas económicas e políticas de apoio institucional para promover
as exportações não petrolíferas que incluíram: (i) a abolição de vários conselhos de commodities
(cacau, algodão, borracha, produto da palmeira, borracha e amendoim) e restrições quantitativas
que impediam a participação do sector privado nas exportações nigerianas; (ii) a desvalorização do
Naira, moeda da Nigéria, para aumentar a competitividade das exportações; (iii) a abolição das taxas
de exportação e o estabelecimento do Fundo de Desenvolvimento das Exportações para promover
as exportações não petrolíferas; (iv) as reformas monetária e fiscal, tais como a retenção de 100%
das receitas de exportação; e (v) o estabelecimento de Zonas de Processamento de Exportações e
o Conselho Nigeriano para a Promoção de Exportações (NEPC). Estas medidas contribuíram para
um aumento das exportações não petrolíferas de NGN 551 milhões em 1985 (equivalente a USD
616 milhões na taxa de câmbio oficial) para NGN 20,1 biliões em 1995 (equivalente a USD 918
milhões). No entanto, à medida que as exportações de petróleo foram também aumentando ao
longo do mesmo período, a média da quota das exportações não-petrolíferas no total das
exportações permaneceu em cerca de 5%, indicando que era necessário diversificar muito mais a
economia (Titus et al 2013). Em resposta, a Estratégia Nacional de Empoderamento e
Desenvolvimento Económico implementada pelo governo em 2004 procurou, como um dos seus
quatro pilares, “promover as exportações e diversificar as exportações para além do petróleo,” e a

PÁGINA 12 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


NES 2005 a 2010 proporcionou uma estrutura detalhada de acções para este fim
(NEPC/Secretariado da Commonwealth 2004). Desde então, embora o governo continue a
expressar seu forte compromisso com a diversificação das exportações,6 parece não ter havido
nenhuma estratégia de exportação específica; em vez disso, nos últimos anos o contexto das ações
do governo no âmbito da diversificação económica passou a ser o mercado doméstico, tendo como
objectivo a substituição das importações; este é uma abordagem que pode ser apropriada para
países com um mercado doméstico grande - a Nigéria tem uma população de aproximadamente
186 milhões (2016) - mas não tao apropriada para países menores. Além disso, a abordagem da
Nigéria sofre de várias outras deficiências. Estas incluem uma grande quantidade de políticas,
planos e medidas diferentes, muitas vezes a nível do sector, que não têm em conta o impacto maior
do comércio na economia, bem como a coerência com outras políticas. Alem disso, o ambiente
institucional para a exportação, investimento, PME e desenvolvimento industrial também é
complexo. Por exemplo, as políticas de exportação e investimento estão sob os auspícios de duas
instituições diferentes, a saber, a NEPC e o Conselho para a Promoção de Investimentos da Nigéria.

Embora esta abordagem possa constituir uma oportunidade para a especialização, coloca desafios
de coordenação e cria responsabilidades pouco claras, riscos de duplicação e sobreposições de
intervenções que podem levar à ineficiência e ineficácia dos esforços para a diversificação da
produção e das exportações. Alem disso, outros desafios que estão no cerne das fracas exportações
não petrolíferas, incluindo desequilíbrios macroeconómicos e o grave deficit de infraestruturas, não
são abordados (FMI 2016a: 19).

Como resultado, embora a quota das exportações não relacionadas com a indústria de petróleo e
gás tenha aumentado para 8,1% (USD 3,9 mil milhões) em 2015 (FMI 2016a: 33), este aumento é
mais o efeito do declínio do valor das exportações de petróleo, devido à queda do preço do petróleo,
do que uma expressão da diversificação bem-sucedida das exportações para commodities não
petrolíferas.

2.2.2 Tigres e Filhotes dos Tigres Asiáticos

A Coreia do Sul e a Malásia são exemplos de países que se industrializaram com sucesso
promovendo proactivamente as exportações. A Coreia do Sul, um dos quatro Tigres Asiáticos, fez
isso desde a década de 1960, enquanto a Malásia é um dos “Filhotes dos Tigres” que se começou
a diversificar uma geração depois. Ambas oferecem lições interessantes para Angola.

A Coreia do Sul atingiu níveis de crescimento económico notáveis e forte diversificação


económica nos anos sessenta, em grande parte devido à intervenção selecionada do estado para
proteger sectores específicos contra a concorrência estrangeira através de (i) quotas limitadas por
tempo, pautas aduaneiras, subsídios de exportação, subsídios de crédito, programas de formação e
educação abrangentes que contribuíram para o aumento da oferta engenheiros qualificados para o
sector industrial; (ii) uma política industrial direccionada à promoção de indústrias emergentes e
exportações, através das quais as importações de bens de investimento e intermédios usados na
produção destinada à exportação podiam ser isentas de pagar direitos; e (iii) taxas de juro
preferenciais e acesso privilegiado a licensas de importação para compensar o impacto negativo da
sobrevalorização da taxa de câmbio (Amsden 1989: XVI; Kim 2011). Além disso, para incentivar
as empresas a exportar mais, o governo sul-coreano anunciou publicamente metas trimestrais para
commodities, mercados e empresas de exportação, que eram monitorados numa Conferência de
Promoção Comercial mensal que era presidida pelo presidente do país e contava com a presença
de ministros, bancários e exportadores de todas as dimensões (Westphal 1990).

6 http://www.fmti.gov.ng/index.php/184-diversifying-africa-slargest-economy [acedido em 27 de Maio de 2017]

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 13


Após a sua independência em 1967, a economia da Malásia dependia de dois bens de exportação
principais: borracha e estanho. A diversificação das exportações ganhou importância depois das
flutuações no preço internacional da borracha que ocorreram nos cinquenta e sessenta e da prevista
redução acelerada das reservas de estanho (Jomo/Rock 1998). Por conseguinte, a Malásia aplicou
uma abordagem com três focos. Em primeiro lugar, fizeram-se esforços para se diversificar a
produção agrícola e industrial. No que respeita à indústria, a Malásia conseguiu tornar-se no
segundo maior produtor de petróleo e gás natural liquefeito (e no segundo maior exportador de
gás natural liquefeito do mundo) do sudeste asiático. As receitas destes sectores foram então usadas
para financiar a transformação estrutural da economia, incluindo novas actividades agrícolas. Na
década de oitenta o processo de diversificação esteve direccionado à produção do óleo de palma,
da madeira tropical e do cacau, com uma importância cada vez maior atribuída à produção para a
exportação (Jomo/Rock 1998). Em Segundo lugar, o crescimento industrial foi galvanizado por
estratégias de substituição da importação e promoção da exportação. No que respeita às
importações, aumentou-se a proteção nominal e efectiva aos bens de investimento e intermédios,
tais como produtos químicos, cimento, alumínio, aço, equipamento de transporte e processamento
de alimentos para proteger as indústrias emergentes. No entanto, como afirma Okamoto (1994),
nos meados da década de oitenta o governo da Malásia decidiu remover gradualmente as tarifas de
proteção porque se deu conta que as indústrias de substituição das importações não estavam a ter
o desempenho esperado, sendo que muitas delas não cresceram mesmo depois de 10 anos de
protecção, impedindo assim a indústria de exportação de melhorar a sua competitividade no
mercado internacional. No que diz respeito às exportações, um dos mecanismos usados pelo
governo para promover os produtos manufacturados foi permitir 100% de titularidade estrangeira
em empresas que exportassem 50% da respectiva produção, o que atraiu empresas estrangeiras
com foco na exportação, que eram mais produtivas e competitivas no mercado internacional do
que as empresas locais. Em terceiro lugar, a Malásia investiu fortemente em infraestruturas (estradas,
pontes, telecomunicação e parques industriais) e em zonas de processamento de exportação a fim
de satisfazer as necessidades das indústrias focadas na exportação (da Rocha et al. 2016: 59ff).

2.2.3 Egipto

O Egipto está a fazer esforços no sentido de expandir as exportações por via de acordos de
comércio internacionais e projectos dirigidos no domínio da assistência técnica. As reformas
iniciaram em 2004 depois do fracasso das políticas anteriores, e produziram bons resultados no
início - as exportações reais aumentaram em 17% no período 2005-09 (Choi/Abderrahim 2011) -,
mas depois pararam durante a primavera árabe. As reformas de 2004 basearam-se (i) na
liberalização do comércio, incluindo a redução das tarifas sobre os bens de investimento; (ii) na
introdução de uma taxa de câmbio flexível para resolver a questão do preconceito anti-exportação
derivado da sobrevalorização da Libra Egípcia; e (iii) na ampla simplificação dos regulamentos
comerciais e aduaneiros, incluindo o estabelecimento de uma janela electrónica única para o
comércio (Choi/Abderrahim 2011). Depois da estabilização política que se seguiu à primavera
árabe, o governo começou dar novo ímpeto à promoção das exportações através da reorganização
do Centro do Promoção de Exportações e o seu restabelecimento em 2014 como o Centro Egípcio
para o Desenvolvimento das Exportações. Os principais instrumentos utilizados pelo Egipto foram
(i) o desenvolvimento da cadeia de valores através de acordos de comércio internacionais a nível
regional (COMESA FTA, Pan Arab FTA) e a nível bilateral (países árabes, a UE, Turquia e os
E.U.) que concedem aos bens provenientes (especialmente a indústria têxtil e de vestuário) do
Egipto acesso preferencial aos mercados externos, protegendo ao mesmo tempo o mercado
doméstico; (ii) projectos de assistência técnica dirigidos, financiados por doadores, para reforçar as
cadeias de valores através de programas de formação técnica e profissional; (iii) a promoção de um
ambiente de negócios propício para exportações, por exemplo, a criação de Conselhos de
Exportação de Commodities e jurisdição de promoção de exportações; e (iv) a melhoria de sistemas
e infraestruturas de qualidade.

PÁGINA 14 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


2.2.4 Resumo

Angola pode tirar uma série de lições das experiências regionais e internacionais analisadas de forma
breve nesta secção.

Em primeiro lugar, a existência de vontade política ao alto nível para tomar as medidas necessárias
para a diversificação das exportações é uma condição necessária para o sucesso. A experiência
mostrou que as estratégias desenvolvidas em níveis técnicos, mesmo bem-intencionadas e
desenhadas, enfrentam problemas durante a implementação se não forem apoiadas e tiverem
acompanhamento político ao nível mais elevado.

Isso precisa ser acoplado ou acompanhado, em segundo lugar, por uma abordagem estratégica
que tenha uma visão clara, definindo metas e as acções subjacentes a serem tomadas, e também
abordando questões de conflito potencial que venham a surgir com outras estratégias e políticas e,
em tais casos, especificar qual das políticas em conflito têm precedência. Isso exige uma análise
prévia das políticas e estratégias existentes que podem estar relacionadas com desenvolvimento das
exportações (ver a secção 5.1).

Em terceiro lugar, no que diz respeito às medidas e acções a serem definidas, a revisão das práticas
internacionais fornece orientações menos claras, pois as medidas apropriadas dependem do
contexto. No entanto, os programas bem-sucedidos agruparam medidas horizontais e
intersectoriais com intervenções específicas do sector. Entre as acções realizadas por outros países,
destacou-se a desvalorização cambial, o desenvolvimento de infraestruturas “ligeiras e pesadas”
(soft and hard), a remoção de barreiras ao ambiente de negócios, a identificação dos sectores de
exportação prioritários, a melhoria das habilidades da força de trabalho através de programas de
treinamento vocacional e técnico que atendam às necessidades dos sectores prioritários (incluindo
a transferência de know-how de peritos estrangeiros para nacionais), a implementação de uma
abordagem e integração regional estratégica que identifique claramente interesses ofensivos e
defensivos, a criação ou o fortalecimento de serviços de informação comercial (inteligência de
mercado e missões comerciais), a facilitação de joint-ventures entre empresas locais e estrangeiras em
sectores de exportação direcionados, mecanismos de apoio estatal com base no tempo através de
facilidades e instrumentos de crédito à exportação, a implementação de um fundo de
desenvolvimento de exportações. É claro que o “cardápio” de acções potenciais para desenvolver
e diversificar as exportações é vasto e precisará responder aos desafios específicos encontrados (ver
o capítulo seguinte).

Em quarto lugar, é necessária uma estrutura institucional coerente para a implementação da


estratégia de diversificação das exportações, definindo claramente responsabilidades e tarefas;
como já referido, o modelo específico da estrutura institucional depende do quadro institucional
existente (ver secção 5.2). Em Angola, poder-se-á considerar um órgão nacional de implementação,
com múltiplos stakeholders, para a implementação da estratégia de diversificação das exportações,
presidida pela APIEX, a nível técnico, e pelo Vice-presidente ou até mesmo pelo Presidente, a nível
político, que, por sua vez, deverá reportar ao Conselho de Ministro.

Por último, para facilitar o acompanhamento dos progressos da estratégia, um quadro de monitoria
e avaliação também deve ser elaborado e constituir a base para as revisões e progresso trimestrais
ou semestrais da implementação da estratégia de exportações. A importância de tais revisões de
progresso para a continuação da implementação e ajuste das medidas sob a estratégia e, finalmente,
o sucesso da estratégia, é evidenciado pelos exemplos da Coreia do Sul e do Botswana.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 15


3 DESAFIOS À DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES
Esta secção aborda alguns dos principais factores que afectaram negativamente as exportações não-
petrolíferas angolanas nos últimos anos. É essencial desenvolver uma melhor compreensão desses
factores para permitir a identificação de respostas adequadas em termos de políticas e acções para
impulsionar as exportações, tanto a nível macroeconómico, sectorial e empresarial. O foco está em
factores que anteriormente demonstraram ser determinantes no desempenho das exportações (ver,
por exemplo, Cadot et al. 2011; Agosin et al 2012; Parteka / Tamberi 2013; Jetter/Hassan 2015).

A lista de desafios é longa e inclui desequilíbrios macroeconómicos (secção 3.1), deficiências de


infraestruturas (secção 3.2), capacidade produtiva limitada (secção 3.3), um ambiente de negócios
difícil (secção 3.4), constrangimentos no acesso a finanças (seção 3.5), fraca infraestruturas de
qualidade (secção 3.6), procedimentos comerciais complicados e falta de facilitação do comércio
(seção 3.7), apoio limitado aos exportadores (secção 3.8) e desafios no acesso aos mercados
externos (seção 3.9). Para que uma eventual estratégia de diversificação seja bem-sucedida ela terá
de abordar estas questões - com níveis variáveis de urgência e prioridade. As secções neste capítulo
tentam proporcionar uma análise da magnitude das questões individuais e, na sequência, fornecer
orientação para a formulação de respostas apropriadas em termos de políticas.

3.1 Desequilíbrios Macroeconómicos


Um dos factores que dificulta as exportações não-petrolíferas é a contínua sobrevalorização do
kwanza angolano; esta é uma expressão do efeito da doença holandesa (Dutch disease) - os sectores
não-petrolíferos da economia angolana, particularmente os sectores de exportações não-
petrolíferas, estão a perder competitividade nos preços quando comparados com os seus
concorrentes regionais e internacionais. Em Angola, apesar da queda do preço do petróleo e da
desvalorização nominal do kwanza em relação ao dólar americano, e exceptuando-se uma curta
tendência descendente de Março de 2015 a Março de 2016, a Taxa de Câmbio Efectiva Real
(REER) apreciou-se de forma consistente desde o começo do milénio,7 e com maior incidência no
ultimo ano, com início em Abril de 2016 (Figura 12), quando o kwanza voltou a ser estabilizado
em relação ao dólar, tendo em conta as preocupações com a inflação, que começaram a acentuar-
se em finais de 2015 (Figura 13), conduzindo a uma sobrevalorização de 20% no final de 2017
(IMF, 2018: 11) e contribuindo dessa forma para uma perda maior da competitividade do preço
das exportações angolanas.8

O impacto da sobrevalorização do kwanza no desempenho das exportações do sector não-


petrolífero em Angola é significativo. Se essa questão não for resolvida, todas as exportações de
Angola para as quais o preço é um importante factor de competitividade estarão em desvantagem
estrutural e a exportação rentável só se tornará possível para os produtos que beneficiarem de
outras vantagens competitivas em Angola.9

7 Nos primeiros estágios do choque do preço do petróleo, por volta de 2012, a valorização da REER abrandou
ligeiramente.
8 O FMI também nota que desde essa altura o kwanza depreciou depreciou-se em 42% vis-à-vis o euro, em termos

nominais, de certa forma corrigindo a taxa estimada de sobrevalorização da REER (IMF 2018: 11) mas os problemas
estruturais permanecem.
9 Nessa conformidade, as projeções do governo relativamente ao PIB para 2017 e 2018 prevêem um declínio de 0,7%

para as indústrias de manufacturação em 2017, devido à sobreavaliação da taxa de câmbio (MPDT 2017a: 5) e a
recuperação prevista para 2018 baseia-se principalmente no aumento da procura no mercado interno e no pressuposto
de uma maior disponibilidade de insumos importados (MPDT 2017a: 8-10).

PÁGINA 16 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Figura 12: Índice de taxa de câmbio efectiva real (REER), Kwanza vs. moedas de 138 parceiros comerciais,
Janeiro de 2000 - Novembro de 2017 (Dezembro de 2007 = 100)
220.00
200.00
180.00
160.00
140.00
120.00
100.00
80.00
60.00
40.00
20.00
0.00
2000M01
2000M08
2001M03
2001M10
2002M05

2008M03
2008M10
2003M07
2004M02
2004M09
2005M04

2006M06

2009M05

2010M07
2011M02
2011M09

2013M06
2014M01
2014M08

2017M07
2002M12

2005M11

2007M01
2007M08

2009M12

2012M04
2012M11

2015M03
2015M10
2016M05
2016M12
Fonte: Darvas (2012), actualizado a 21 de Dezembro de 2017

Em consequência da sobrevalorização, das exportações limitadas e da taxa de câmbios fixa, a


escassez de moeda estrangeira tornou-se um grande problema, incluindo para os exportadores. O
nível das reservas caiu para menos de metade entre Maio de 2013 e inicios de 2018 (Figura 14). A
maioria dos stakeholders entrevistados para o presente estudo afirmou que a dificuldade de se obter
moeda em prazos curtos e na quantidade necessária - tanto para insumos essenciais para a produção
como para investimentos em máquinas - era um dos principais problemas que prejudicavam a
competitividade e impediam as exportações. As empresas relataram tempos de espera de 3-8 meses
para se ter acesso a divisas para importações (Serviço Comercial Americano 2017: 74). O
surgimento de um mercado paralelo de divisas e o rápido aumento do desvio das taxas de câmbio
oficiais e não oficiais são um indicador do nível de distorção no regime de moeda estrangeira de
Angola: considerando que a taxa de câmbio não oficial diferia “apenas” 39% da oficial no início de
2015, esta rapidamente aumentou para 241% em Junho/Julho de 2016 (Figura 15). Embora a
diferença tenha já caído para 129%, isto não aconteceu como resultado de uma maior
disponibilidade de divisas através do sistema oficial, mas sim como consequência da rigorosa
política monetária restritiva do BNA, combinada com um aumento nas taxas de juro, que resultou
na diminuição da oferta de moeda (Figura 16). Embora esta política tenha sido bem-sucedida em
diminuir a inflação e até certo ponto reduzir a margem entre as taxas de câmbio oficial e não oficial,
a quantidade reduzida de kwanzas em circulação também afectou a actividade económica.

Além disso, do ponto de vista dos exportadores, essa medida não resolveu o problema da
disponibilidade insuficiente das divisas necessárias para a aquisição de insumos e investimentos
essenciais, o que não só reduz e até impede as exportações por parte das empresas que actualmente
não têm nenhuma, e por via disso a sua capacidade de gerar as necessárias divisas, mas também
força aquelas empresas com potencial de exportação a exportar com perdas, simplesmente para
gerar as divisas de que precisam para pagar os insumos que têm de ser importadas. 10 Essas
exportações a baixo custo (dumping) criam então o risco de retaliação por parte dos parceiros
comerciais - o anúncio feito pelo Ministro da Economia da RDC em Julho de 2017 a proibir a

10Ver ex. “Angolans cross borders to sell TVs, diapers and beer for hard currency” (“Angolanos cruzam fronteiras
para vender televisores, fraldas e cerveja para obterem divisas”), Business Day, 14 de Setembro de 2017,
https://www.businesslive.co.za/bd/world/africa/2017-09-14-angolans-cross-borders-to-sell-tvs-diapers-and-beer-
for-hard-currency/ [acedido em 28 October de 2017].

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 17


importação de produtos angolanos que “matam a economia” é um bom exemplo disso - e perigam
o futuro crescimento em termos de exportações para esses mercados.

Figura 13: Índice de Preço no Consumidor, Figura 14: Angola, reservas totais excluindo o ouro,
Angola, 01/2012-02/2018 (% de mudança de ano 01/2011-04/2018 (milhões de USD)
em ano)
45% 40,000
42% 37,036
40% 35,000
35%
30,000
30%
25,000
25%
23% 20,000
20% 19,872
15,000 16,774
15%
11%
10% 10,000

05% 07% 5,000

00% 0
2013M09

2016M03
2014M02

2015M05

2017M01
2012M01
2012M06

2013M04

2016M08
2012M11

2014M12

2015M10

2017M11
2014M07

2017M06

2018M01
2011M07

2012M07

2014M01

2017M01
2013M01

2016M01
2011M01

2012M01

2013M07

2016M07
2015M01
2014M07

2015M07

2017M07
Fonte: Estatísticas Financeiras Internacionais do FMI, Fonte: Estatísticas Financeiras Internacionais do FMI,
http://data.imf.org [acedido em 14 Junho de 2018] http://data.imf.org [acedido em 14 Junho de 2018]

Figura 15: Taxa de câmbio oficial e não oficial, Figura 16: Índice dos passivos líquidos (M3),
AOA/USD, 01/2015-09/2017 01/2015-08/2017 (01/2015 = 100)
600 400% 140

350%
500 130
300%
400
341% 250% 120

300 200%
139% 229% 110
150%
200
100% 100
100
50%
90
0 0%
Jan-15 Jan-16 Jan-17
80
Jul-15

Jul-16

May-17
Mar-15

Mar-16

Mar-17
Jan-15

Sep-15

Jan-16

Jan-17
May-15

Sep-16
Nov-15

May-16

Nov-16

Jul-17

Taxa oficial
Taxa não oficial
Spread (eixo à direita) Índice M3 (01/2015 =…

Fonte: BNA (taxa oficial); CEIC-UCAN (taxa não Fonte: BNA, Estatísticas Monetárias de Angola,
oficial) Outubro de 2017

A magnitude do problema da moeda só piorou no passado recente. Em finais de 2016, o FMI


declarou que os “grandes desequilíbrios no mercado de divisas, se não forem resolvidos, poderão
levar a um ajuste desordenado da taxa de câmbio, uma acentuada aceleração da inflação, e perdas
bancárias, dado o nível até certo ponto ainda alto de dolarização da economia” (FMI 2017: 10f).
Nos últimos tempos, a maioria dos analistas têm previsto que a desvalorização do kwanza será
inevitável; tal medida seria certamente positiva para as exportações - aumentando tanto a

PÁGINA 18 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


disponibilidade de moeda estrangeira para as empresas como a competitividade dos preços nos
mercados de exportações. No entanto, teria de haver certeza de que a desvalorização ocorrerá de
maneira ordeira, com uma inflação controlada (as medidas tomadas até agora para controlar a
inflação produziram resultados limitados, e existe o medo real que a desvalorização poderá
provocar um aumento mais acelerado da inflação, desestabilizando assim a economia), não sendo
esta uma panaceia para o aumento das exportações, uma vez que existem outros constrangimentos,
dentre os quais as fraquezas infraestruturais abordadas a seguir.

3.2 Constrangimentos de Infraestruturas


As deficiências Infraestruturais afectam todas as empresas e reduzem o crescimento económico.
Por exemplo, em 2011 o Banco Mundial estimou que o deficiente fornecimento de energia e a
precária rede de estradas de Angola eram, cada uma delas, responsável por uma redução de 0,2
pontos percentuais no crescimento, e que elevar a qualidade das infraestruturas ao nível dos países
de rendimento médio aumentaria o crescimento anual em 2,9 pontos percentuais (Pushak/Foster
2011). Embora o governo tenha feito investimentos significativos em infraestruturas nos últimos
anos, a sua qualidade de um modo geral ainda é inferior à de outros países africanos (Figura 17 a)
e quase não melhorou (Figura 17 b). Além disso, a capacidade do governo realizar investimentos
diminuiu significativamente desde 2015 devido à queda do preço do petróleo.

As empresas exportadoras estão particularmente expostas a tais desafios uma vez que o nível de
concorrência a que são submetidas é muito maior do que para as empresas com foco no mercado
interno. Assim, particularmente as fraquezas das infraestruturas de transporte (necessárias para a
importação e exportação; secção 3.2.1), e o custo real da energia (electricidade e combustível;
secção 3.2.2), que constituem factores importantes para o nível de concorrência no que respeita à
exportação para as empresas angolanas, são actualmente um constrangimento às exportações. Por
outro lado, embora haja certamente espaço para melhorias, tais como promover a concorrência no
sector, as infraestruturas de informação e comunicações em Angola têm um desempenho
comparativamente bom, e por isso não são analisadas em mais detalhe nesta secção.

Figura 17: Qualidade das Infraestruturas - Desempenho de Angola


a) Angola e países africanos selecionados, b) Pontuações das infraestruturas de Angola no
pontuações das Infraestruturas no ICG, 2014* (1-7, ICG, 2010-2014 (1-7, 7 = melhor)
7 = melhor) 3.5

Total 3
6
5 2.5
Eletricidade 4 Rodoviário
3 2.25
2.26
2
1.712
1
1.67 1.5
2.68
Caminho-de-
Portuário 1
ferro 3.30
2010 2011 2013 2014

Aéreo Total Rodoviário


Angola Botswana Portuário Aéreo
Moçambique Namíbia
Nigéria África do Sul Caminho-de-ferro Eletricidade

* Caminho-de-ferro: 2013 (nenhuma avaliação para a infraestrutura caminho-de-ferro de Angola no ICG 2014)
Fonte: Índice de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial, http://reports.weforum.org/global-
competitiveness-report-2015-2016/

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 19


3.2.1 Transporte e logística

Para as exportações angolanas, dependendo do produto específico, os quatro componentes do


sistema de transporte actualmente em uso (aéreo, marítimo, rodoviário e ferroviário) podem ser
importantes. Embora tenham sido feitos investimentos significativos nas infraestruturas de
transporte em anos recentes, o desempenho ainda não é dos melhores: por exemplo, Angola não
só tem uma classificação abaixo de outros pares africanos no Índice de Competitividade Global do
Fórum Económico Mundial (ICG; Figura 17 a acima) ou no Índice de Desempenho Logístico do
Banco Mundial (IDL; Figura 18 a), como as suas infraestruturas de transporte têm também uma
classificação abaixo da sua pontuação de IDL geral (sendo que apenas as alfândegas são
classificadas como estando ainda pouco desenvolvidas; Figura 18 b). Isto constitui não só um
impedimento ao desenvolvimento da exportação dos serviços de transporte (ver o Perfil do Sector
Serviços de Transporte - anexo A27), mas também coloca as exportações angolanas em
desvantagem competitiva em todos os sectores.

Figura 18: Índice do Desempenho da Logística - desempenho de Angola


a) Angola e países africanos selecionados, b) Pontuações de Angola no IDL 2016, por sub-
classificações no IDL 2007-2016 (escala invertida) índice (5,00 = melhor; 1,00 = pior
2007 2010 2012 2014 2016 2.60
0 2.50
2.40
20
2.30
40 2.20
2.10
60
2.00
80 1.90
1.80
100
1.70
120 1.60

140

160
Angola Botswana
Moçambique Namíbia
Nigéria África do Sul

Fonte: IDL do Banco Mundial, https://lpi.worldbank.org

Os principais problemas podem ser listados por meio de transporte. Relativamente ao transporte
aéreo, embora este seja o sector de infraestrutura geralmente avaliado como tendo um desempenho
melhor que os outros (ver Figura 17 b acima), é importante realçar os seguintes problemas:
▪ As questões de segurança são uma grande preocupação. Todas as companhias aéreas
angolanas foram colocadas na lista negra da UE, com excepção da TAAG, que se encontra,
contudo, sob restrições operacionais. Isso limita o potencial de servir destinos fora de
África;
▪ Há sérios constrangimentos em termos de capacidade. A frota é limitada, particularmente
a frota de carga, que faz exportações de bens ligeiros e perecíveis e está dependente dos
serviços fornecidos por companhias aéreas de transporte de carga estrangeiras;
▪ Foram relatados problemas relacionados com a liquidez, rentabilidade e gestão da TAAG.
Embora a companhia aérea tenha voltado a ter lucros nos últimos anos, sob o contrato de
gestão celebrado com a Emirates, o recente cancelamento do referido contrato pela
Emirates levanta algumas preocupações em relação ao futuro desempenho da companhia;

PÁGINA 20 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


▪ O único grande aeroporto internacional está situado em Luanda, o que implica que todos
os bens têm de ser transportados até lá por estrada e caminho-de-ferro, percorrendo
distâncias consideráveis; e
▪ Infraestrutura insuficiente no aeroporto de Luanda.

No que diz respeito ao transporte marítimo, o facto de Angola não possuir nenhuma companhia
de transporte coloca desafios às suas exportações. Embora haja movimentações no sentido de se
mudar este quadro, entrar no mercado global de serviços de transporte marítimo numa altura em
que há excesso de capacidade e preços baixos não é o mais ideal.

Os principais portos de Angola são os de Luanda, Lobito/Benguela,11 e Namibe, dos quais o de


Luanda é de longe o maior. Apesar dos investimentos feitos para reabilitar e expandir a capacidade
dos portos, nomeadamente do porto de Luanda, para servir o mercado angolano e os países
vizinhos como a RDC, Zâmbia e Zimbabwe, o congestionamento continua a ser um problema,
embora não tão grave como em 2010, quando os atrasos fizeram com algumas exportações fossem
desviadas para Walvis Bay, na Namíbia, a mais de 2.000 km (Pushak/Foster 2011). Desde então,
os investimentos feitos, bem como a diminuição dos volumes processados, em resultado da
desaceleração económica - os volumes caíram em 38% de 2014 a 2015, e em 21% de 2015 a 201612
– aliviaram de alguma forma pressão exercida sobre porto. Do mesmo modo, o porto do Lobito,
que servirá principalmente a RDC e a Zâmbia, através do corredor do Lobito, sofreu igualmente
melhorias. Tendo em conta a desaceleração económica, não está claro quando e com que rapidez
serão executados mais projectos de investimentos em portos, tais como a reabilitação e extensão
do porto do Lobito, a construção de um novo porto em Porto Amboim, ou a construção de um
novo porto de contentores na Barra do Dande, a norte de Luanda. Por exemplo, este último, que
foi aprovado pelo governo em 2011, e cujos trabalhos básicos de engenharia estão já concluídos,
foi suspenso devido a questões de financiamento e à redução dos volumes de carga. Neste
momento isto não afecta negativamente as exportações; mas o processamento de carga de forma
mais eficiente nos portos existentes facilitaria as exportações.

A rede ferroviária de Angola está limitada a três linhas que ligam o interior aos portos de Luanda,
do Namibe e do Lobito13; o comprimento total da rede é de aproximadamente 2.700 quilómetros.
Durante a guerra civil, a maioria dos caminhos-de-ferro caiu no desuso, tendo, no entanto, sido já
reabilitados, com ajuda da China, e reabertos: o caminho-de-ferro de Luanda (aproximadamente
400 quilómetros) em 2010, o caminho-de-ferro de Benguela (aproximadamente 1.300 quilómetros)
em 2015, e o caminho-de-ferro do Namibe/Moçâmedes (aproximadamente 750 quilómetros, de
um total de 1.000 quilómetros). Os trabalhos de extensão da rede de caminhos-de-ferro estão em
estágios diferentes de planificação, tendo, entretanto, abrandado devido aos contrangimentos
orçamentais.

A rede rodoviária de Angola é bastante extensa, com uma cobertura total de mais de 60.000 km.
No entanto, considerando o tamanho do país, fica óbvio que a rede de estradas está muitos furos
abaixo da de outros países, possuindo somente 29 km de estradas classificadas e 41 km de estradas
totais por 1.000 km 2 de área de terra, quando comparados com 278 e 318 respectivamente em

11 Além disso, o porto de Cabinda atende primariamente as exportações de petróleo e gás de Cabinda. O porto de
Porto Amboim perdeu grande parte da sua importância, mas em 2015 o governo anunciou a construção de um novo
porto entre 2017 e 2024, com um investimento inicial de USD 500 milhões e um custo total de USD 1,8 mil milhões;
“Angola constrói porto comercial em Porto Amboim,” Macauhub, 30 de Outubro de 2015,
https://macauhub.com.mo/2015/10/30/angola-builds-commercial-port-in-porto-amboim/ [acedido em 30 de
Outubro de 2017].
12 https://www.export.gov/article?id=Angola-Marine-Technology [acedido em 30 de Outubro de 2017].
13 Um quarto caminho-de-ferro de menor extensão ligava a Gabela ao Porto Amboim (cerca de 120 km), mas já não

está operacional.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 21


países de renda média (Pushak/promove 2011: 20). Além disso, apesar dos gastos relativamente
altos em estradas feitos pelo governo, devido à insuficiente manutenção e à destruição durante a
guerra civil, as condições das estradas são más em comparação com outros países africanos: 58%
da rede classificada de Angola e 40% da rede rural estavam em mau estado em 2011 (Pushak /
Foster 2011: 20). Contudo, a qualidade das estradas é irregular em todo o território. As principais
ligações na parte ocidental do país parecem estar em condições razoáveis, enquanto no leste as
estradas são mais escassas e mais precárias; as estradas terciárias são particularmente escassas. Isto
afecta particularmente a competitividade das exportações agrícolas. Em termos de conectividade
regional, o corredor de estrada internacional mais relevante de Angola liga o país à RDC e à Zâmbia
a leste, embora a infraestrutura esteja em mau estado, “dificultando a ligação regional do país com
a área económica que abrange a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Esta
situação impede que Angola desenvolva o comércio regional com países circunvizinhos e impede
estes de usufruir mais do Porto de Luanda” (Pushak/Foster 2011: 21). De modo geral, a fraca
qualidade das infraestruturas rodoviárias - confirmada também pelos indicadores de desempenho
internacionais tais como o ICG (ver Figura 17 acima) - é claramente um dos grandes
constrangimentos que as empresas enfrentam, incluindo as empresas de exportação.

O governo tem uma abordagem integrada para o desenvolvimento das infraestruturas de


transporte, que incluem uma rede das plataformas logísticas (Rede Nacional de Plataformas
Logísticas) que envolvem estradas, caminhos-de-ferro e mar, e os necessários centros multimodais,
cujo regime legislativo foi aprovado por Decreto Presidencial em Setembro de 2015. Contudo, tal
como acontece com os projectos individuais em vários estágios de planificação em cada uma das
modalidades de transporte, a execução da rede integrada de plataformas logísticas foi adiada

De modo geral, houve progresso na área de transporte e logística mas num ritmo lento, o que
coloca desafios ao sector de exportação.

3.2.2 Energia

O sector da electricidade em Angola beneficiou de investimentos substanciais nos últimos anos.


Por exemplo, de 2010 a 2015, a produção de electricidade aumentou em quase 80%, de 5.450 GWh
para 9.700 GWh (UCAN-CEIC 2016: 79); a capacidade de geração instalada em 2016 era de 1,5
GW. No entanto, o fornecimento de electricidade é ainda incapaz de atender à procura doméstica
e a taxa de electrificação actual é de 30%, que está abaixo da média africana de 41%.14 Dentre os
tipos de infraestruturas em Angola, a electricidade tem uma das piores classificações, apesar das
ligeiras melhorias em anos recentes (Figura 17 acima).

São três os principais constrangimentos ao sector da electricidade em Angola: Primeiro, a


fragmentada rede de transporte e distribuição é demasiado pequena para cobrir o país. Uma
avaliação das infraestruturas feita pelo Banco Mundial em 2001 constatou que “Angola carece de
algo que possa ser descrito como rede eléctrica nacional, para não falar de interligações regionais.
Há vários sistemas de energia isolados, com ligações de transporte locais mínimas, embora existam
planos para uma rede básica (backbone) para ligar os principais recursos energéticos no norte e sul
do país” (Pushak/Foster 2011: 5).

Segundo, falhas de energia aleatórias e frequentes que obrigam os fabricantes e exportadores a usar
geradores de energia e aumentam os custos do negócio. Em 2011 (o último ano com dados
disponíveis), ocorreram falhas de energia em Angola 36 dias por o ano (vs. 5,6 dias em média nos

14 http://www.minea.gov.ao/vernoticia.aspx?id=23251 [acedido em 12 de Setembro de 2017].

PÁGINA 22 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


países de renda média), com as perdas resultantes das falhas de energia avaliadas em 13% das
vendas (vs. 2% em países de renda média; Pushak/Foster 2011: 11).

Terceiro, embora o preço da electricidade em Angola seja comparativamente baixo, o custo de


produção da eletricidade em Angola é relativamente elevado, sendo, na verdade, o mais elevado da
SADC - USD 220/MW (WTO 2015: 60). Com os preços da electricidade abaixo dos custos de
produção - taxa de recuperação de custos em 15%, muito abaixo dos 85% observados na maioria
dos outros países (Pushak/Foster 2011: 11) - e subsidiados (a maioria dos beneficiários estão nas
áreas urbanas principais), e as baixas taxas de cobrança, 15 os investimentos no sector são
negativamente afectados e, consequentemente, a sustentabilidade das empresas estatais
responsáveis pelo fornecimento de electricidade e, em última instância, a qualidade da electricidade
fornecida, são também colocadas em risco.16

Todos estes desafios afectam as companhias exportadoras aumentando os custos e,


consequentemente, afectando também a sua competitividade nos mercados estrangeiros.
Alegadamente, praticamente todas as empresas, dentro e fora de Luanda, possuem os seus próprios
geradores, na maior a diesel, que produzem quase um terço das suas necessidades de energia, o que
pode custar até USD 0,40 por o kWh, quase dez vezes mais que o preço da electricidade fornecida
pela rede pública (USD 0,042 por kWh; Pushak/Foster 2011: 11ff).

Em resposta, o governo está a fazer esforços para resolver esses desafios. Na sequência dos grandes
investimentos feitos para gerar energia na década de 2000 e princípio da presente década, as
iniciativas recentes têm sido direccionadas para a distribuição. Como exemplos, existem dois
projectos que tiveram início em 2016 para a construção da linha de distribuição de electricidade
entre Lauca e Huambo, e a expansão da rede de distribuição de electricidade à região do “Planalto
Central”.17 A identificação e exploração de parcerias e sinergias público-privadas com parceiros na
área de desenvolvimento de energia, são também áreas a ser mais exploradas pelo governo no
sector da electricidade a fim apoiar os sectores de manufacturação e exportação.

3.3 Capacidade Produtiva Insuficiente


Angola alcançou níveis de crescimento económico substanciais depois da guerra civil. Este
crescimento foi impulsionado principalmente pelas exportações de petróleo e pelos investimentos
públicos que por sua vez aumentaram a procura doméstica, criando desse modo oportunidades
para o desenvolvimento do sector da manufacturação. No entanto, estas oportunidades não foram
plenamente aproveitadas - os fabricantes e os fornecedores de serviços na maioria de sectores não
conseguiram se tornar competitivos - nem no mercado doméstico, onde a maioria dos bens
continuam a ser importados, nem nos mercados regionais e internacionais. Uma indicação da
competitividade limitada das empresas angolanas é a baixa produtividade da mão-de-obra nos
sectores não-petrolíferas, que em 2011 era de aproximadamente USD 13.500, comparados com
USD 42.000 nas Maurícias ou no Botswana e USD 55.000 na África do Sul (da Rocha et al. 2016:
152f); embora esta tenha aumentado para mais de USD 20.000 em 2013 e 2014, este valor continua
a ser menos da metade do valor dos outros países mencionados.

Os exportadores em particular precisam produzir bens e serviços que sejam regional e


internacionalmente competitivos, nas quantidades e qualidade requeridas e entregues em tempo

15 Em 2011 relataram-se taxas de cobrança de 42% de facturação em Angola, longe dos 91% nos países de renda media
(Pushak/Foster 2011: 11).
16 http://www.minea.gov.ao/vernoticia.aspx?id=23251 [acedido em 12 de Setembro de 2017].
17 http://www.minea.gov.ao/vernoticia.aspx?id=31045 [acedido em 12 de Setembro de 2017].

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 23


oportuno. Embora os constrangimentos específicos dependam dos sectores, e variem em função
destes, (ver o capítulo 4 e os perfis dos sectores no anexo A), de um modo geral a economia não-
petrolífera enfrenta alguns desafios-chaves. Assim, a capacidade produtiva de muitos sectores em
Angola continua a ser limitada principalmente devido a dois factores no nível das empresas: Em
primeiro lugar, as capacidades das PMEs existentes (e frequentemente também das grandes
empresas) são limitadas pela falta de mão-de-obra qualificada, competências de gestão e tecnologia
adequada. Em Segundo lugar, o número de pequenas e médias empresas (e às vezes também de
grandes empresas) escaláveis na maioria dos sectores não-petrolíferos é insuficiente.

Em relação à primeira questão, os fabricantes e exportadores ainda estão limitados pela falta de
trabalhadores qualificados e acesso a tecnologias de produção modernas. O melhor proxy disponível
para medir isso em todos os sectores é dividir a produção total pelo emprego por sector (Tabela
1). Isso mostra, em primeiro lugar, uma alta variação na produtividade da mão-de-obra em todos
os sectores - o que é esperado devido às diferentes intensidades de capital dos sectores.

Mais importante, e preocupante, é a segunda constatação que, em media, a produtividade baixou


durante o período 2010 - 2016, e não se notou nenhum aumento notável de produtividade em
nenhum sector excepto no das pescas. Isso indica a ausência tanto de competências como de
investimento em tecnologia de produção.

Tabela 1: Angola, Produtividade laboral aparente Figura 19 Densidade da empresa em Angola vs.
por sector, 2010 e 2016 (produção por trabalhador densidade de uma nova da empresa em países
por sector, em USD actuais por ano) africanos selecionados, 2008-201618
CAGR
20.00
Sector 2010 2016 2010-16
Agricult/Pecuá/ 18.00
1,388 1,615 2.6%
Florestas 16.00
Pescas 31,488 63,038 12.3% 14.00
Petróleo e Gás 451,424 417,169 -1.3%
12.00
Diamantes e outros 35,634 22,339 -7.5%
Indústria 10.00
50,566 43,948 -2.3%
transformadora 8.00 5.67
Electricidade 67,605 4,660 -36.0% 6.00 4.10 4.12
Construção 19,873 22,430 2.0%
3.54 3.85 3.98 3.93 3.48
4.00
Comércio 7,177 10,153 6.0%
Transportes/ 2.00
19,759 8,128 -13.8%
armazena 0.00
Correios/
205,693 132,604 -7.1%
telecomunicações
Bancos e Seguros 78,700 82,374 0.8%
Angola Botswana
Estado 18,892 14,416 -4.4%
Serviços imobiliários 7,235,918 8,558,746 2.8% Namíbia Nigéria
Outros serviços 13,195 8,251 -7.5% África de Sul
Angola 15,267 14,504 -0.9%
Fonte: CEIC-UCAN, com base nas estatísticas do INE Fonte: Cálculos dos autores com base no INE (número
/ Governo e nos cálculos dos autores de empresas em Angola), ILO LABORSTAT (força
laboral em Angola), e World Bank Doing Business. 19

A carência de pessoal qualificado e treinado é agravada pela incapacidade de se contratar


estrangeiros qualificados nos sectores de exportação não-petrolíferos (Jover et al. 2012: 19, WTO
2015: 61; ver também perfis dos sector no anexo A). A Lei Geral do Trabalho estabelece requisitos
para níveis mínimos e condições de emprego para trabalhadores angolanos. Assim, os Decretos
Presidenciais 95/5 e 6/01 limitam a quantidade de pessoal expatriado a 30% da força de trabalho

18A densidade é o número de (novas) empresas divididas pela população activa (15-64 anos).
19 Densidade de novas empresas em países comparáveis), http://www.doingbusiness.org/data/
exploretopics/entrepreneurship [acedido em 06 de Novembro de 2017].

PÁGINA 24 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


e exigem que o pessoal angolano e expatriado com as mesmas funções e responsabilidades recebam
os mesmos salários e regalias sociais.

Mais recentemente, o Decreto Presidencial 43/17 de 6 de Março de 2017 confirmou estas regras e
legislou que o pessoal estrangeiro não-residente deve ser pago em kwanzas, não devendo as suas
regalias exceder 50% do respectivo salário e período de emprego os três anos. Antes de contratar
pessoal expatriado, as empresas angolanas devem também provar que as competências requeridas
não estão disponíveis no seio da força de trabalho local.20 No entanto, deve-se também realçar que
o mais recente Plano Intercalar para melhorar a situação económica prevê uma revisão dos
requisitos de visto para o pessoal expatriado altamente qualificado.21

A falta de pessoal motivado e os elevados custos de mão-de-obra também foram referidos, pelos
stakeholders consultados para este estudo, como sendo factores que afectam negativamente a
competitividade.

A questão do desenvolvimento de competências já está a ser abordada no Plano Nacional de


Formação de Quadros de Nível Alto e Médio (PNFQ), que estabeleceu metas ambiciosas para a
capacitação no período 2013-2020 (República de Angola 2012). Embora seja susceptível de resolver
muita da actual carência em termos de competências, o Plano não possui um componente
específico relacionado à exportação.

No que respeita à segunda questão, embora não estejam disponíveis dados quantitativos fiáveis
sobre a distribuição das empresas por tamanho ou desempenho relativos a Angola, a pesquisa feita
a nível dos sectores mostra que, como em muitos países africanos, há uma falta de pequenas e
médias empresas escaláveis. Isto é também apoiado pela densidade de empresas relativamente
baixa, i.e., o número de empresas em relação à força de trabalho: a densidade de todas as empresas
em Angola – em cerca de 4 por 1.000 da população activa – é inferior à densidade de novas empresas
na África do Sul (10) ou Botswana (18) e tem-se mantido essencialmente inalterada ao longo do
tempo (Figura 19 acima). As empresas tendem a ser ou microempresas que operam a um nível de
subsistência e servem clientes locais, mas sem nenhuma capacidade realística de exportar a curto
ou mesmo médio prazo, ou grandes empresas que já exportam, em conformidade com a sua
estratégia de negócio. Não se pode esperar um crescimento considerável em termos de exportação
não petrolífera de nenhuma destas categorias de empresas. O que Angola precisa, portanto, para
diversificar e expandir as exportações, é um número muito maior de médias empresas com alto
crescimento (“gazelas”).

O governo já deu alguns passos no sentido de potenciar o crescimento dessas empresas. Por
exemplo, uma nova lei das MPMEs aprovada em 2012 tem como objectivo promover o
crescimento dessas empresas. Além disso, a fim de acelerar o crescimento das empresas através de
novos investimentos, novas leis de investimento foram aprovadas em 2012 (Lei n. º 20/11, de 20
de Maio de 2011) e também em 2015 (Lei n. º 14/15, de 11 de Agosto de 2015). A Lei do
Investimento Privado de 2015 aplica-se tanto aos investimentos domésticos como estrangeiros em
todos os sectores - excepto nos sectores petrolífero, mineiro e financeiro (Artigo 60) - e concede
extensa proteção aos investidores (Capítulo V da Lei), embora estabeleça que a arbitragem deve
ocorrer em Angola (Artigo 46). A lei abrange também os incentivos ao investimento
(principalmente fiscais) (para os quais os limiares estão definidos em: USD 0,5 milhões para o
investimento doméstico e USD 1 milhão para o investimento estrangeiro; Artigo 3. º) por até dez
anos (artigo 40). Para grandes investimentos (acima de USD 50 milhões), os incentivos devem ser
negociados caso a caso (Artigo 31). Na prática, relatou-se que maioria das empresas em Angola

20 https://www.export.gov/apex/article2?id=Angola-Industrial-Policies [acedido em 18 September 2017].


21 Decreto Presidencial 258/17, de 25 de Outubro de 2017; ver em particular a secção 4.2.2b do Plano.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 25


beneficiam agora de alguma forma de isenção de impostos ou taxa, e que os bens importados para
projectos de investimento público aprovados e projectos de investimento privado reconhecidos
pelo Decreto Presidencial como sendo estratégicos para a economia (que criem pelo menos 500
postos de trabalho em Angola, contribuam para a redução das assimetrias regionais e para a redução
da pobreza) podem beneficiar de isenção de taxas aduaneiras durante um máximo de 6 anos. A lei
concede também um grau considerável de poder discricionário à agência para a promoção do
investimento, e retarda o processo, uma vez que os investimentos ficam sujeitos a negociações
entre o investidor e o governo (Capítulo VII), representado, dependendo do valor do investimento,
pela APIEX e pelo ministério de tutela do sector de investimento, ou pelo Gabinete do Presidente.

Existem limites à participação estrangeira em vários sectores, alguns dos quais com potencial de
exportação, nomeadamente o turismo e hotelaria, transportes e logística e TIC. Nestes sectores, é
obrigatória uma participação angolana mínima de 35% no investimento (Artigo 9).

Em resumo, embora as limitações impostas à participação estrangeira e ao emprego de pessoal


expatriado, bem como o processo de selecção para o IDE sejam bem-intencionadas, estas têm
como efeito primário o desencorajamento do investimento estrangeiro que poderia melhorar a
capacidade produtiva. Além disso, desencorajam também a contratação de pessoal expatriado para
efeitos de formação de pessoal local. Há também uma falta de foco na criação de empresas de alto
crescimento e orientadas para a exportação.

3.4 Um Ambiente de Negócios não favorável


O ambiente de negócios em Angola é difícil, não somente para as empresas exportadoras mas de
um modo geral. Em termos de ambiente de negócios, a classificação total de Angola nos rankings
globais não é boa. De acordo com o mais recente ranking do World Bank Doing Business (DB2018,
referente à situação em meados de 2017), Angola ocupa o lugar 175 dentre 190 economias, e está
muito abaixo de alguns pares africanos (Figura 20 a); em 2011, Angola ocupava o lugar 163.22
Olhando para os desenvolvimentos ao longo do tempo em relação à “distância até à fronteira”
(DAF), i.e., o pais com o melhor desempenho global em cada subíndice, embora Angola tenha
conseguido alguns ganhos modestos desde 2014 (DB2015), estes basicamente serviram para
compensar as perdas de competitividade no ambiente de negócios registadas no período de 2012
a 2014, mas não para preencher a lacuna em relação a outros países africanos comparáveis (Figura
20 b).

22As classificações da Doing Business são corroboradas por uma entidade internacional alternativa de referência do
ambiente empresarial, o ICG, que mostra que de 2013-2014 a 2014-2015 Angola caiu 2 lugares para a posição 142.
Angola não foi incluída no ICG desde então, o que por si só é um problema a ser resolvido devido à percepção negativa
que isto cria entre potenciais investidores externos.

PÁGINA 26 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Figura 20: Doing Business em Angola e em países comparáveis
a) Classificação na DB2018 (dados à data de Junho b) No geral, Doing Business distância até à
de 2017), pelo sub-indicador (dentre 190 economias) fronteira, DB2010-DB2018 (100 = melhor)
75
Global
Resoluç 200 175 Abertur
70
ão de a de
Insolvên168 empres
65
cia 150 134 as
60
Execuçã Obtenç
o de 186 100 ão de 55
contrat alvarás
os de… 50
50 80
45
Comérci 0 Obtend
o 165 o 40
internac eletricid
ional 180 ade 35
30
103
Pagame Registro
nto de
81
172 de
imposto proprie
s dades
Proteçã
Obtenç
o dos 183 ão de
Angola Botswana
investid
crédito
ores… Moçambique Namíbia
Nigéria África do Sul

Fonte: Banco Mundial, Doing Business 2018, http://www.doingbusiness.org [acedido em 31 de Outubro 2017]

As dimensões particularmente fracas do ambiente de negócios são a resolução da insolvência, a


obtenção de crédito, a execução de contratos e o comércio além-fronteiras (Figura 21) - a maioria
das quais afecta particularmente a competitividade das exportações: Em primeiro lugar, as
dificuldades na resolução da insolvência têm um efeito depressivo sobre a propensão de se criar
novas empresas (ver Figura 19 acima), e especialmente o tipo de empresas de alto crescimento e
orientadas para a exportação que Angola precisa para diversificar e expandir as exportações. Tais
empresas são inerentemente arriscadas, e as dificuldades em fechá-las, por conseguinte, irão à
partida desencorajar os empresários de as criar, por melhor que seja o ambiente para iniciar um
negócio (e Angola tem um bom desempenho esse respeito). Em segundo lugar, o acesso ao
financiamento é importante para as empresas de exportação não só porque elas tendem a ser mais
intensivas em termos de capital do que as empresas viradas para o mercado interno, mas também
porque as suas necessidades de fundo de maneio (capital de giro) são superiores, em função dos
maiores atrasos de pagamento nas transações de comerciais internacionais. Por fim, o impacto das
dificuldades no comércio além-fronteiras para os exportadores são evidentes. Em Angola, elas
prejudicam os exportadores duas vezes, uma vez que o actual padrão de organização industrial em
Angola baseia-se em grande medida em insumos e máquinas importadas; assim, os exportadores
são prejudicados quando adquirem matérias-primas e insumos e quando exportam os produtos
acabados.

Apesar do ambiente de negócios difícil e da queda no preço do petróleo, que conduziram a uma
queda nas entradas de IDE, de USD 16,5 biliões em 2014 para USD 14,4 biliões em 2016,23 Angola
continua a ser de longe o maior beneficiário de IDE em África, com entradas acima de 14 biliões
em 2016. Embora os últimos dados por sector não estejam disponíveis, os sectores petrolífero e
mineiro parecem ter sido os maiores beneficiários dessas entradas, especialmente em função dos
regimes de investimento especiais aplicáveis a eles (OMC 2015: 28ff). No entanto, a fim de atrair
investimentos direccionados à diversificação das exportações, o ambiente de negócios doméstico
precisa melhorar, especialmente nas áreas que são mais relevantes para as empresas exportadoras.

23Estatísticas da CNUCED sobre o Investimento Directo Estrangeiro, http://unctadstat.unctad.org [acedido em 03


de Novembro de 2017].

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 27


Figura 21: Doing Business in Angola por sub-índice, DB210-DB2018
90
DAF global
80
Abertura de empresas
70 Obtenção de alvarás de
construção
60 Obtendo eletricidade

Registro de propriedades
50
Obtenção de crédito
40
Proteção dos investidores
30 minoritários
Pagamento de impostos
20 Comércio internacional

10 Execução de contratos

0 Resolução de Insolvência
DB2010 DB2011 DB2012 DB2013 DB2014 DB2015 DB2016 DB2017 DB2018

Fonte: World Bank, Doing Business 2018, http://www.doingbusiness.org [acedido em 31 de Outubro de 2017]

3.5 Constrangimentos de Acesso ao Financiamento


Até Outubro de 2017, Angola tinha 30 bancos licenciados, 29 dos quais estavam operacionais.24 A
concentração no sistema bancário não é excepcionalmente alto: Os cinco maiores bancos são
responsáveis por aproximadamente 70% dos activos totais (KPMG 2015: 9).

Apesar do número de bancos, entre 2011 e 2016 o crédito total à economia caiu em cerca de USD
1 bilião, fixando-se em USD 21,9 biliões. Os beneficiários principais foram os sectores habitacional
e retalhista que em só 2016 receberam 14% e 20% respectivamente. O sector da manufacturação
(indústria transformadora) beneficiou de apenas 8,7%,25 uma indicação clara da necessidade de se
alargar o acesso ao crédito a este sector. No mesmo período, o crédito ao governo aumentou de
3,7% em 2011 para 6,7% em 2016 o que pode ter contribuído para a exclusão do investimento
privado em general, e do investimento relacionado com a exportação em particular

Além do acesso ao financiamento constituir por si só um problema; o custo do financiamento tem


igualmente aumentado: as taxas de empréstimo aumentaram de 10,5% em 2011 para mais de 16%
em 2017.
Criou-se recentemente um mercado de capital (BODIVA) no país, mas este está ainda no seu
estágio inicial e não oferece ainda às empresas a oportunidade de obter financiamento. Do mesmo
modo, as opções para o financiamento de capitais próprios são limitadas. Tendo em conta estes
desafios, não é surpreendente que o acesso ao financiamento seja uma das áreas em que Angola
tem um mau desempenho no índice da Doing Business (ver Figura 21 acima).

Alguns dos principais desafios no sector bancário incluem a necessidade de se (i) reduzir o tempo
de análise dos processos de pedidos de crédito, (ii) minimizar os créditos malparados no mercado,
que aumentaram de 8,1% em 2013 (KPMG 2015) para 15,3% em Setembro de 2016 (IMF 2017) e
(iii) aumentar o crédito ao sector da exportação. A resolução destas questões irá requerer algumas
mudanças sistémicas. Por exemplo, a informação sobre o risco do crédito ainda é difícil de se obter

24 http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/lista_artigos_medias.aspx?idc=142&idsc=834&idl=1 [acedido em 30 de
Outubro de 2017].
25 Cálculos dos autores com base em dados do BNA, Estatisticas Financeiras de Angola, Julho de 2017.

PÁGINA 28 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


em Angola; existe apenas uma empresa licenciada para disponibilizar informações sobre o risco do
crédito no país. Além disso, as avaliações feitas pelos bancos aos pedidos de empréstimos para fins
de investimento e aos relatórios financeiros das empresas são muitas vezes deficientes, levando a
atrasos e baixas taxas de aprovação de empréstimos (Jover et al., 2012: 19).

Faltam programas financeiros específicos para o comércio, embora o mais recente Plano Intercalar
Económico (Decreto Presidencial 258/17) prevê o estabelecimento de linhas de crédito específicas
para exportadores nos sectores prioritários (secção 4.2.1b do Plano). Angola não tem actualmente
nenhuma entidade dedicada a fornecer serviços financeiros para atividades de exportação não-
petrolíferas. Na área dos seguros, não existe nenhum regime de seguro para exportações.

Do ponto de vista das transações, a perda dos serviços em USD dos bancos correspondentes torna
mais difícil o financiamento do comércio, particularmente nos casos em que o comércio é efetuado
em dólares americanos (ver FMI 2017: 12f) - o que aparentemente já não é possível depois de o
último banco ter parado de fornecer serviços de liberação de transações em dólares em Novembro
de 2016; consequentemente, as transações internacionais agora são normalmente feitas em euros
(Serviços Comerciais dos Estados Unidos 2017.: 98). Além disso, os programas e medidas em curso
para melhorar a estabilidade do sector financeiro provavelmente tornarão o acesso às finanças mais
difícil, uma vez que os bancos passarão a ter maior aversão ao risco à medida que forem limpando
as suas carteiras de empréstimo.

3.6 Fraca Infraestrutura de aferição da Qualidade


Infraestruturas de qualidade funcionais são importantes para os exportadores em vários aspectos.
Primeiramente, as empresas precisam de apoio para melhorar a produção e os produtos de modos
a assegurar a satisfação dos padrões de segurança e os requisitos de qualidade dos mercados-alvo,
de acordo com normas e padrões internacionais; esta é, até certo ponto, uma questão de reforço
da capacidade produtiva, mas que requer infraestruturas de qualidade e funcionais em Angola, que
sejam capazes de proporcionar o necessário apoio às empresas. Em segundo lugar, são necessários
serviços de avaliação da conformidade para certificar que os produtos de exportação angolanos
satisfazem as exigências dos mercados-alvo; isto requer laboratórios e entidades de certificação
acreditadas por organismos internacionais. Na ausência de tal avaliação da conformidade
reconhecida pelas autoridades do país de destino, as exportações não podem ocorrer ou ficam
sujeitas a longos e onerosos testes no país de destino.

Uma avaliação recente das infraestruturas de aferição da qualidade angolanas revelaram fraquezas
significativas. Especificamente, constatou-se a “falta de uma política da qualidade, combinada com
infraestruturas de qualidade imprópria com recursos humanos insuficientes e, nalguns casos,
insuficientemente qualificados. Os instrumentos legais que governam as actividades principais no
campo da qualidade - o Sistema Nacional da Qualidade, o Conselho Nacional da Qualidade, os
Estatutos do IANORQ, a Lei de Bases da Metrologia e os respectivos regulamentos - estão
desactualizados” (Rebello da Silva/Lopes Ponçano 2016: 2). Constatou-se também, que o diálogo
público-privado relacionado com questões de qualidade é limitado, e os três pilares das
infraestruturas de qualidade - padronização, metrologia, e avaliação da conformidade - são
impróprios ou subutilizados, não alinhado com as práticas regionais e internacionais, e carecem de
recursos humanos. Especificamente com relação à avaliação da conformidade, que é de
importância particular para os exportadores, o estudo resume as constatações tal como se segue:
“a) O recém-criado Instituto Angolano de Acreditação não tem infraestruturas físicas ou pessoal
qualificado, e a cooperação com as estruturas regionais é quase inexistente; b) Não há nenhum
organismo nacional de certificação e a vasta maioria dos técnicos envolvidos nos processos de formação,
consultoria e auditoria são estrangeiros. Não há nenhuma base de dados sobre organismos de

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 29


certificação ou entidades certificadas. Contudo, o número de empresas certificadas listadas no 'estudo
2015' do ISO é encorajador e mostra o interesse nesta atividade; c) No que respeita à base de laboratório,
a mesma é inadequada para responder às exigências do mercado: os laboratórios não cobrem todas as
áreas, não têm recursos técnicos e científicos, e não usam os recursos metrológicos necessários. Há
equipamento não utilizado devido à falta de operadores, reagentes, materiais de referência e da falta de
peças/manutenção, entre outros” (Rebello da Silva/Lopes Ponçano 2016: 2).

3.7 Excessivos Procedimentos de Exportação e Limitada Facilitação


do Comércio
Apesar da estratégia do governo para expandir as exportações, as empresas dispostas a exportar
enfrentam vários constrangimentos processuais e monetários. No que diz respeito a este último,
Angola cobra um imposto de selo sobre as exportações de 0,5% sobre o valor aduaneiro dos
produtos exportados (MLGTS Legal Circle 2015: 30). Esta é não somente uma violação de regras
da OMC - o Acordo relativo à Aplicação do Artigo VII do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras
e Comércio especifica que os encargos aduaneiros devem reflectir o custo do serviço que está a ser
prestado, o que significa que um imposto de selo ad valorem é impróprio - mas faz também com
os produtos angolanos sejam menos competitivos nos mercados de exportação.

Se olharmos para os custos de conformidade totais para exportar e importar,26 Angola posiciona-
se abaixo de alguns concorrentes regionais, e da média subsaariana, no que diz respeito tanto a
exportações como a importações e aos custos tanto documentais como de conformidade nas
fronteiras (Figura 22).

Figura 22: Custo de conformidade de negócios transfronteiriços em Angola e em países comparáveis à data
de Junho de 2017 (USD)
a) Custo para exporter b) Custo para importar
1800 1800
1600 1600
1400 1400 564
1200 1200 460
1000 240 348 1000
800 250 800 317
220 221 213
600 600 1030 1077
825 170 400 171
400 179 745 786 657 717
200 602 428 613 200 67 63
317 354
0 0 98 145

Conformidade com a documentação Conformidade com a documentação


Conformidade com obrigações na fronteira Conformidade com obrigações na fronteira
Fonte: Manco Mundial, Doing Business 2018, http://www.doingbusiness.org [acedido em 31 de Outubro de 2017]

Em segundo lugar, no que diz respeito às questões processuais aduaneiras, Angola fez progressos
notáveis nos últimos anos. Algumas das reformas empreendidas são:
▪ A informatização dos procedimentos aduaneiros nas principais entradas de importações, o
que levou a um aumento do número de declarações aduaneiras remetidas electronicamente,
de 43% em 2009 para 84% em 2014 (OMC 2015: 32);

26Ambos são importantes, como abordado acima, porque os exportadores normalmente dependem de insumos
importados e, portanto, facilitar os procedimentos de importação aumentará a competitividade das exportações.

PÁGINA 30 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


▪ A introdução de um procedimento de desembaraço aduaneiro acelerado para os operadores
que regularmente importam grandes quantidades de mercadorias e têm um bom histórico
de conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis (OMC 2015: 32); e
▪ A redução do número de dias necessários para cumprir os procedimentos aduaneiros de
exportação de 52 (2011) para 15 (2017);27
▪ Eliminação das inspecções pré-embarque obrigatórias em 2013 (MLGTS Legal Circle 2015:
30).28

Estes são desenvolvimentos positivos, mas há muito mais a ser feito para se assegurar que os
procedimentos aduaneiros joguem um papel importante no apoio às exportações não-petrolíferas
angolanas (e aos insumos importadas relacionados) de modo a que estas possam se tornar
competitivas em relação aos países vizinhos. Particularmente no que respeita ao tempo necessário
para exportar, este supera de longe o tempo necessário em outros países regionais e é quase o
dobro da média da África subsaariana (Figura 23). Tais procedimentos longos têm claramente um
efeito depressivo sobre a propensão para exportar. Neste contexto, é encorajador o facto de, para
resolver a situação económica, o Plano Intercalar prever a redução dos custos administrativos para
as exportações e insumos essenciais importados.29

Figura 23: Tempo de conformidade de negócios transfronteiriços em Angola e em países comparáveis à data
de Junho de 2017 (horas)
a) Tempo para exportar b) Tempo para importar
500 500
400 400
173
300 300
169
200 131 200 180 108
90 91 36
68 284
100 192 70 100
18 120 135 100 104 3 24 3 144 145
66 96
0 5 0 4 14 6

Conformidade com a documentação Conformidade com a documentação


Conformidade com obrigações na fronteira Conformidade com obrigações na fronteira

Fonte: Banco Mundial, Doing Business 2018, http://www.doingbusiness.org [acedido em 31 de Outubro de 2017]

O número de instituições envolvidas no processo de exportação e importação também é grande, e


o valor acrescentado de alguns deles, que também não têm nenhuma correspondência em outros
países, não é claro. Um exemplo disso é o Conselho Nacional de Carregadores de Angola (CNCA),
que noutros países é um organismo do sector privado que representa os interesses dos carregadores,
mas em Angola é uma entidade pública. Um outro exemplo é a testagem obrigatória dos produtos
para exportações pela Bromangol, que aumentou significativamente os custos de exportação -
exemplos na indústria de bebidas mostram um custo adicional de até 18% do valor do produto.
Entretanto, este requisito foi aparentemente interrompido em Outubro de 2017. O uso de portais
electrónicos para processar as exportações e importações ainda é limitado, e não existe uma janela

27 Relatórios Doing Business do Banco Mundial 2011 e 2018.


28 Regulamento de Inspecção Pré-embarque, REGIPE), Decreto 41/06 de 17 julho de 2006, emendado pelo Decreto
Presidencial 63/13 de 11 Julho de 2013.
29 Decreto Presidencial nº 258/17, de 25 de Outubro de 2017, seção 4.2.3b.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 31


eletrônica única que agregue as várias agências e organismos envolvidos no processo do comércio
sob o mesmo “teto”.

A transparência das regras de exportação é limitada, sendo que os procedimentos não são bem
divulgados nem estão facilmente disponíveis aos comerciantes. Por exemplo, embora o Ministério
do Comércio tenha publicado um Manual do Exportador em 2015 (Ministério do Comércio /
APIEX 2015), o mesmo é muito básico e fornece orientação limitada sobre os processos a serem
seguidos. A informação essencial para os comerciantes é normalmente difícil de encontrar, repleta
de incertezas sobre a sua validade e aplicabilidade. As empresas constataram também que os
regulamentos mudam sem aviso prévio (ou qualquer tipo de aviso; Serviço Comercial Americano
2017).

Melhorar a facilitação do comércio é o objectivo principal do Acordo de Facilitação do Comércio


(AFC) da OMC, do qual Angola ainda não é signatário. Dado o desempenho actual do país com
relação aos procedimentos de exportação e a necessidade de reforma, o governo deverá considerar
a adesão ao AFC a fim de beneficiar do apoio e assistência técnica disponíveis na sua estrutura. No
futuro, um dos principais desafios reside na necessidade de realizar uma avaliação nacional dos
potenciais custos e benefícios da adesão ao AFC e, posteriormente, explorar e concordar com os
termos de adesão. A reforma dos procedimentos aduaneiros tem o potencial de reduzir o custo do
comércio transfronteiriço.

3.8 Incentivos Insuficientes e Promoção de Exportações


Os incentivos à exportação são monetários (por exemplo, isenções fiscais) e não monetários (por
exemplo, requisitos legais) destinados a incentivar as empresas a exportar bens e serviços
específicos; o principal objetivo desses incentivos é tornar os bens e serviços domésticos
competitivos no mercado internacional. Exemplos de incentivos à exportação incluem isenções de
direitos de importação ou reembolsos; garantias de financiamento de exportação para os
exportadores e fundos de competitividade.

Actualmente, Angola não possui um regime específico de incentivo à exportação, além das zonas
francas (onde as empresas, sendo consideradas fora do território aduaneiro angolano) estejam
isentas de impostos sobre a importação e exportação. O desempenho da exportação também é um
dos critérios utilizados na determinação dos incentivos ao investimento na Lei do Investimento
Privado 14/2015 de 11 de Agosto de 2015 (artigo 30 e quadro anexo), embora a sua ponderação
nos critérios gerais seja limitada a 7,5% (as empresas não-exportadoras recebem uma pontuação de
7,5%, enquanto as empresas que exportam mais de 75% da produção recebem uma pontuação de
15%. Em suma, há uma grande falta de incentivos específicos às exportações em Angola.

3.9 Dificuldades no Acesso aos Mercados Externos


As exportações de Angola para o seu principal mercado ocorrem no âmbito de vários acordos de
acesso ao mercado - no âmbito de acordos preferenciais, acordos comerciais preferenciais e das
regras da nação mais favorecida da OMC (NMF). Esta secção resume os acordos para os principais
mercados, destacando questões que dificultam o acesso a eles

Embora a China seja o maior mercado de exportação de Angola, as exportações de petróleo bruto
são predominantes. As exportações de outros produtos são limitadas. As exportações angolanas
são elegíveis para beneficiar do regime chinês livre de direitos, livre de quotas (DFQF) para PMAs

PÁGINA 32 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


com relações diplomáticas com a China, que está em vigor desde 2010,30 mas não estão disponíveis
informações sobre o uso real do regime de preferências pelas empresas angolanas. De qualquer
modo, parece que o conhecimento no seio das empresas sobre regime, os seus requisitos e
operações é limitado. Devem ser feitos esforços adicionais para exportar produtos não petrolíferos
para o mercado chinês.

O segundo maior mercado de exportação, que é particularmente importante para os produtos não
petrolíferos, é a União Europeia. Sendo um PMA, as exportações angolanas para a UE beneficiam
actualmente do regime Everything But Arms (EBA), que faz parte do sistema generalizado de
preferências da UE (SGP) e proporciona acesso DFQF a todas as exportações de Angola para o
mercado da UE, desde que estas cumpram com os padrões de segurança e qualidade exigidos e
cumpram com as regras de origem EBA (RdO). Estes dois últimos requisitos nem sempre são
fáceis de cumprir; o primeiro especialmente em relação aos produtos agrícolas e alimentícios, e o
último em relação aos produtos manufacturados. Embora a RdO no âmbito da EBA tenha sido
simplificada em 2011, a fim de melhorar a utilização das preferências, a utilização preferencial de
Angola diminuiu de aproximadamente 60% para menos de 40% (Tabela 2). A tabela também
mostra que a maior exportação de Angola para a UE, o petróleo, não está sujeita a direitos de
importação na UE.

Tabela 2: Exportações de Angola para a UE, pelo regime de importação da UE, 2010-2016 ('000 de EUR)
Elegibilidade Regime de importação 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Somente MFN ZERO 3,779,864 6,449,534 6,951,790 9,221,279 9,312,046 7,114,331 4,093,490
MFN MFN NÃO ZERO 2,060 215 12 1,488 0 160 436
MFN NÃO ZERO 28,272 69,395 57,248 55,646 50,412 33,426 46,514
SPG
SPG ZERO 39,055 91,734 82,300 26,452 20,937 18,089 29,475
Desconhecido 2,595 6,988 2,993 2,411 3,979 3,845 18,190
Ex portações totais para a UE 3,851,847 6,617,867 7,094,344 9,307,277 9,387,374 7,169,852 4,188,106
Elegível para SPG 1.7% 2.4% 2.0% 0.9% 0.8% 0.7% 1.8%
Tax a (%) Isento de impostos 99.1% 98.8% 99.2% 99.4% 99.4% 99.5% 98.4%
Taxa de utilização SPG 58.0% 56.9% 59.0% 32.2% 29.3% 35.1% 38.8%
Fonte: Cálculos dos autores com base na base de dados da Eurostat COMEXT.

Angola também é membro do grupo de estados da África, Caraíbas e Pacífico (ACP), que têm
estado a negociar, em diferentes grupos regionais, acordos de parceria económica (APE), que visam,
dentre outros, tornar a relação comercial entre a UE e os países ACP compatível com as regras da
OMC, e também proporcionar um regime comercial estável e previsível, especialmente para as
indústrias e os investidores. O grupo do APE da SADC, que inclui o Botswana, Lesoto,
Moçambique, Namíbia, África do Sul e Suazilândia, concluiu as negociações com a UE sobre um
APE a 15 de Julho de 2014 e assinou-o a 10 de Junho de 2016; Angola ficou de fora do APE, mas
com a opção de aderir.31 Enquanto Angola optar por permanecer fora do APE, desde que retenha
o estatuto de PMA, poderá continuar a exportar para a UE ao abrigo do EBA. A comercialização
no âmbito deste regime tem algumas vantagens - notoriamente, não se baseia na reciprocidade e,
portanto, não exige compromissos de abertura de mercado por parte de Angola. Contudo, existem
também algumas desvantagens e riscos: Em princípio, a UE poderia alterar as condições aplicáveis
ao EBA, ou eliminar o regime de preferências, unilateralmente a qualquer momento. As RdO
também são menos favoráveis do que no APE. Por outro lado, as oportunidades oferecidas pelo
APE da SADC-UE incluem o (i) desenvolvimento potencial de cadeias de valor regionais,

30 OMC, acordos de comércio regionais e acordos de comércio preferential, http://www.ptadb.wto.org/ptalist.aspx


[acedido em 16 de Agosto de 2016] e ICSTD, BRIDGES, http://www.ictsd.org/bridges-news/bridges-
africa/news/china-extends-97-percent-dfqf-treatment-for-ldc-imports [acedido em 28 de Maio de 2017].
31 Os outros seis membros da SADC (RDC, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Zâmbia e Zimbabwe) estão a negociar

com a UE como parte de outros grupos regionais, nomeadamente as configurações do APE da África Central, Oriental
e Austral.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 33


utilizando princípios de cumulação onde permitido, (ii) apoio no estabelecimento de sistemas de
administração aduaneira eficientes, (iii) processos de liberalização recíprocos, mas assimétricos e
(iv) acesso de mercado DFQF garantido na UE, mesmo que o estatuto de renda média seja
alcançado

Em suma, os desafios para os exportadores angolanos não-petrolíferos dispostos a vender os seus


produtos no mercado da UE incluem (i) resolver questões relacionadas com a qualidade, SPS e
barreiras técnicas ao comércio (BTC) para os seus produtos de exportação, e (ii) a necessidade de
estabelecer as estruturas e sistemas nacionais necessários para uma gestão e controlo adequados da
origem dos produtos exportados para a UE. Seria necessária uma nova avaliação mais aprofundada
para se determinar se a adesão ou não à APE proporcionará benefícios líquidos para Angola, em
termos de facilitar as exportações não petrolíferas para a UE sem as empresas nacionais serem
sobrepujadas pela uma concorrência das empresas da UE.

Angola tem o acesso aos Estados Unidos ao abrigo da Lei do Crescimento e Oportunidades
Africanas (AGOA), que prevê o acesso ao DFQF, incluindo uma isenção dos requisitos-padrão de
“yarn forward” dos EUA que negam o acesso a têxteis e roupas usando insumos não originários. De
2012 a2016, a componente AGOA das exportações angolanas para os EUA diminuiu de 93% para
64%, mas foi em grande parte dominada pelas exportações de petróleo e diamante. Outros
produtos elegíveis para AGOA são vinhos, produtos químicos, aço, certos componentes de
veículos motorizados, produtos agrícolas, entre outros32. Existe também um Acordo de Comércio
e Investimento (TIFA) desde maio de 2009, que prevê consultas bilaterais sobre o comércio de
bens e políticas de investimento de interesse para Angola e os EUA.33 As dificuldades e os desafios
em relação às exportações no âmbito da AGOA são as mesmas enfrentadas no âmbito do EBA:
requisitos pesados relativos a regras de origem e risco de retirada unilateral.34 Da mesma forma, os
requisitos de segurança e qualidade dos produtos nos EUA são tão difíceis de satisfazer quanto os
da UE.

As exportações de Angola para os mercados africanos ocorrem ao abrigo de vários acordos:


Angola é membro da SADC e da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC),
que, em princípio, prevê o comércio preferencial entre os seus membros; para outros países
africanos, Angola opera com regras NMF, que envolvem tarifas relativamente elevadas.

Angola é membro fundador da SADC (criada em 1992). No âmbito do seu Plano de


Desenvolvimento Estratégico Indicativo Regional (RISDP), a SADC pretendia originalmente
chegar a um Acordo de Comércio Livre (ACL) até 2008, uma união aduaneira até 2010, um
mercado comum até 2015, uma união monetária até 2016 e uma moeda única até 2018. O ACL foi
estabelecido no cronograma em 2008, mas as etapas restantes foram adiadas em grande parte pela
falta de clareza sobre como lidar com a sobreposição de estatuto de membro em outros acordos
(incluindo aqueles com sindicatos aduaneiros, tais como a Comunidade da África Oriental). As
oportunidades oferecidas pelo ACL da SADC incluem um potencial mercado de 277 milhões para
bens e serviços angolanos. 35 As exportações de Angola para a maioria dos países da SADC já
beneficiam de reduções tarifárias ou eliminação de tarifas para uma grande quantidade de produtos.
Angola também enfrenta desafios.

32 http://www.trade.gov/agoa [acedido em 28 de Maio de 2017] e OMC (2015).


33 https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2009/may/united-states-and-angola-sign-
trade-and-investment-fra [acedido em 29 de Maio de 2017] e o Serviço Comercial Americano (2017).
34 Esse risco pode ser mais real no caso da AGOA do que no âmbito da EBA, já que os EUA já retiraram o estatudto

de AGOA de alguns países com base em considerações políticas.


35 http://www.sadc.int/about-sadc/overview/sadc-facts-Figuras [acedido em 25 de Abril de 2017].

PÁGINA 34 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Primeiro, precisará aumentar a produção nacional (quantidade e qualidade) para competir com
empresas de países como África do Sul e Botswana que possuem cadeias de valor de abastecimento
regionais relativamente bem estabelecidas. Em segundo lugar, ainda não se definiu a estratégia de
negociação do ACL da SADC para informar sobre os seus termos de adesão tanto do Protocolo
sobre o comércio de bens (a implementação está em andamento, mas Angola ainda precisa ratificar)
como do projecto de protocolo sobre o comércio de bens (ainda não em vigor). Em terceiro lugar,
de 2010 a 2015, o valor comercial entre Angola e a África do Sul foi o maior da SADC, constituindo
4% do valor comercial total, o que sugere a necessidade de diversificar as fontes regionais de
importação e os destinos para exportação. No que diz respeito ao investimento, Angola ratificou
o Protocolo da SADC sobre Finanças e Investimento em Agosto de 2008, que entrou em vigor em
Abril de 2010 e visa harmonizar as políticas financeiras e de investimento dos membros da SADC,
especialmente promovendo e atraindo IDE para a região (OMC 2015).

A CEEAC foi criada em 1983, tendo como um dos seus objetivos estabelecer uma área de comércio
livre e união aduaneira dentro de 12 anos. Até à data, dispõe de regimes tarifários e de trânsito
preferenciais, das suas próprias regras de origem e do seu próprio mecanismo de financiamento
baseado numa imposição sobre as importações provenientes de países terceiros. O sindicato
aduaneiro ainda não funciona (WTO 2015: 23). Do mesmo modo, as tarifas para as exportações
angolanas para os países da CEEAC ainda estão sujeitas a direitos; Além disso, as empresas
relataram que os obstáculos não tarifários e os desafios processuais são obstáculos importantes na
exportação para os países da CEEAC; na verdade, a CEEAC parece oferecer pouco em termos de
preferências em comparação com a exportação para outros países africanos sob o regime NMF.

Como País Menos Avançado (PMA), Angola beneficia dos regimes SGP em vários outros
mercados, incluindo o Japão (desde Agosto de 1971) e o Canadá (desde Julho de 1974). Embora
Angola tenha recentemente exportado para esses mercados, não foram encontradas evidências
sobre as taxas de utilização desses regimes. Pode-se supor, no entanto, que apresentam problemas
de acesso ao mercado semelhantes aos da UE e dos EUA.

A Índia também possui um regime de Preferência DFQF para os PMA, segundo o qual os PMA
podem exportar para a Índia com isenção de impostos - isso se aplica a 98,2% das linhas pautais
desde Abril de 2014. As preferências são concedidas apenas mediante pedido dos PMA;
actualmente 31 PMAs beneficiam desse regime – Angola ainda não é um dos beneficiários. As
regras de origem também foram simplificadas em 2015 para tornar mais fácil para os exportadores
dos PMA usar o sistema.

Para as exportações de Angola aplicam-se as regras do resto do mundo, normalmente as da OMC,


incluindo regras especiais e de tratamento diferenciado para os PMA. Angola tornou-se membro
da OMC em 23 de Novembro de 199636 mas não é parte dos acordos plurilaterais da OMC ou de
outros protocolos / acordos da OMC, incluindo o Acordo de Facilitação de Comércio (AFC), que
entrou em vigor em 22 de Fevereiro de 2017. A participação de Angola na OMC tem sido limitada
e, tal como muitos PMAs, concentrou-se principalmente nas questões do desenvolvimento no
contexto da Agenda de Doha para o Desenvolvimento.

Em suma, embora o acesso ao mercado seja muito específico ao produto e, portanto, seja melhor
abordado sector por sector (ver seção 4.1.6 e perfis no anexo A), as questões-chave são as barreiras

36Os próprios compromissos de Angola em termos de acesso ao mercado são muito limitados. A taxa consolidada
média das linhas pautais angolanas é de 59,2%. Embora os produtos agrícolas estejam consolidados numa taxa máxima
de 52,7%, os produtos não agrícolas estão consolidados a uma taxa média de 60,1%. Existem também 31 linhas pautais
para as quais as taxas pautais aplicadas pela NMF excedem a taxa consolidada em até 35 pontos percentuais (OMC
2015).

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 35


não-tarifárias - em particular os padrões de segurança e qualidade e as regras de origem - nos
mercados dos países desenvolvidos e as barreiras tarifárias, bem como obstáculos processuais nos
mercados africanos. Para o governo, será importante determinar primeiro os principais mercados-
alvo e, em seguida, resolver a questão das barreiras específicas de acesso ao mercado, que podem
ou não envolver a necessidade de negociar acordos. A falta de conhecimento sobre os mercados e
as condições de acesso ao mercado pelas empresas angolanas constitui outra barreira; portanto, a
compreensão e satisfação dos requisitos de acesso a esses mercados são importantes.

3.10 Resumo
Para determinar a necessidade de acções em termos de políticas relacionadas com os desafios
abordados neste capítulo, com o objetivo de desenvolver as exportações não petrolíferas, é útil
fornecer um resumo que trate claramente dos seguintes factores relevantes para a determinação
das prioridades das políticas (as recomendações mais detalhadas decorrentes dessas constatações e
as ações propostas serão apresentadas no plano de ação para a diversificação das exportações):
Primeiro, a importância de um desafio específico na expansão e diversificação das exportações;
segundo, o potencial para resolver um determinado desafio em curto prazo e com recursos
governamentais limitados; e, terceiro, a probabilidade de a eliminação de um desafio conduzir
rapidamente ao aumento das exportações não petrolíferas.

Como foi demonstrado, as distorções macroeconómicas, em particular a sobrevalorização do


kwanza e a resultante escassez da necessária moeda estrangeira tanto para os exportadores já
existentes como para os potenciais exportadores, para a compra de insumos e equipamentos no
exterior, constituem um impedimento fundamental para a exportação e expansão das exportações
não-petrolíferas. Resolver esta questão cria a possibilidade de se expandir as exportações a curto
prazo, pois ajudaria os exportadores actuais com os mercados existentes a expandir mais. Essas
distorções devem, portanto, ser resolvidas com urgência e ser consideradas como uma alta
prioridade. Existem diferentes opções de políticas que podem, em princípio, ser implementadas
em curto prazo, produzindo efeitos imediatos para o aumento da competitividade das exportações.

As restrições em termos de infraestruturas, em particular na energia e nos transportes, são outro


desafio fundamental para a exportação. No entanto, alguns investimentos governamentais em
infraestruturas trouxeram algum alívio nos últimos anos, bem como uma menor pressão sobre a
infraestrutura de transporte devido à desaceleração económica - o que, por sua vez, levou a uma
desaceleração dos investimentos em infraestruturas. As melhorias nas infraestruturas são
particularmente importantes para a expansão das exportações à agricultura e aos produtos agrícolas
transformados, que são produzidos principalmente fora dos atuais centros económicos do país e
possuem a infraestruturas menos desenvolvidas, bem como para os exportadores de produtos que
consomem muita em energia. Assim, a importância das infraestruturas para a diversificação das
exportações é crucial. No entanto, resolver os desafios de infraestruturas consome tempo e
recursos consideráveis, conforme evidenciado pelos grandes investimentos que já ocorreram mas
que ainda precisam ser aumentados. Esta é uma questão geracional, tornada mais difícil na
sequência da queda do preço do petróleo e das consequentes perdas nas receitas do governo. Do
lado positivo, já estão disponíveis planos detalhados para investimentos em infraestruturas. Do
ponto de vista do desenvolvimento das exportações, as prioridades devem ser reavaliadas para
assegurar que as infraestruturas relacionadas com as exportações sejam tratadas com a mais alta
prioridade e para determinar os projetos que resolvam constrangimentos específicos às exportações
em curto prazo. No entanto, é improvável que melhorar as infraestruturas contribua para a rápida
diversificação das exportações.

PÁGINA 36 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


As restrições na capacidade produtiva, tanto no que se refere ao número de empresas como à
quantidade de produção (em muitos sectores) e problemas operacionais nas empresas existentes,
que levam à falta de competitividade em termos de preço e qualidade, são um terceiro obstáculo
fundamental à melhoraria no desempenho das exportações. Sem aumentar o número de empresas
prontas a exportar e sem capacidade reforçada nas empresas existentes em termos de mão-de-obra
qualificada e tecnologias de produção eficientes, um aumento notável nas exportações não
petrolíferas será muito difícil. Infelizmente, embora existam alguns rápidos a serem obtidos a partir
do apoio direcionado a empresas que estão à beira de poder exportar, bem como facilitar a
contratação de pessoal expatriado para colmatar lacunas na disponibilidade de pessoal qualificado
(e nas necessidades de formação), melhorar a capacidade produtiva nas formas mais fundamentais
exigidas é, em grande parte, um esforço a longo prazo, que exige não apenas uma política centrada
na criação de pequenas e médias empresas orientadas para o crescimento e a exportação (“gazelas”),
mas também um programa abrangente de desenvolvimento de competências, a fim de aumentar a
disponibilidade de mão-de-obra especializada local a empregar em empresas que sejam
competitivas nos mercados regionais e internacionais.

Como mencionado, o ambiente de negócios em Angola é difícil, especialmente quando


comparado a outros países, incluindo concorrentes na região. Isso tem um impacto na
competitividade das empresas domésticas, pois aumenta os custos e desencoraja o investimento,
mas é uma questão menos fundamental do que as distorções macroeconómicas, os
contrangimentos de infraestruturas ou de capacidade produtiva. Além disso, muitas questões
relacionadas ao ambiente de negócios podem ser resolvidas de forma relativamente fácil, com
recursos limitados, desde que haja vontade política suficiente. Os efeitos de um ambiente de
negócios melhorado sobre o desempenho das exportações são, no entanto, bastante indirectos e,
portanto, levam tempo a ser sentidos - embora seja um elemento importante no desenvolvimento
das exportações, a melhoria do ambiente de negócios não são uma solução rápida para a
diversificação das exportações.

O acesso às finanças é um problema a vários níveis. Além das dificuldades gerais de obtenção de
financiamento que afectam todas as empresas, os exportadores são afetados também pela falta de
instrumentos para financiamento comercial e seguros, incluindo questões relacionadas a transações
de pagamentos internacionais. Esta questão está intimamente relacionada com a escassez de moeda
estrangeira e as medidas correspondentes tomadas pelo banco central com o objetivo de manter a
taxa de câmbio e controlar a inflação, que restringiram ainda mais o acesso ao financiamento.
Resolver essas questões ajudaria os actuais exportadores a expandirem rapidamente as exportações,
enquanto o impacto na diversificação das exportações seria menos directo e só ocorreria a longo
prazo.

As debilidades em termos de infraestruturas de qualidade, particularmente em relação à


avaliação da conformidade e garantia de que as empresas angolanas possam satisfazer os requisitos
de segurança e qualidade dos produtos nos mercados-alvo, são constrangimentos importantes às
exportações: a não satisfação dos padrões impede as exportações, e ter de se submeter a testes no
mercado-alvo, devido à falta de órgãos de certificação credenciados, eleva consideravelmente os
custos. No entanto, melhorar a qualidade das infraestruturas exigirá tempo e será uma solução
rápida para expandir as exportações. As medidas devem, portanto, ser tomadas começando com
melhorias na qualidade das infraestruturas para as exportações não petrolíferas actuais e emergentes,
a fim de se obter alguns resultados iniciais num prazo mais curto.

Os procedimentos de exportação são outra questão importante, uma vez que são pesados, lentos
e caros, especialmente quando comparados com a maioria dos outros países; e os procedimentos
complicados chocam directamente contra a tão necessária expansão e diversificação das

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 37


exportações. Esta questão poderia ser corrigida em relativamente pouco tempo e com recursos
relativamente limitados, facilitando assim as actuais exportações não petrolíferas. No entanto,
alguns problemas de reforma são tecnicamente complexos e provavelmente exigirão assistência
externa.

Angola carece actualmente um regime específico para incentivos à exportação, mas, tendo em
conta os outros desafios, o efeito dessa carência e os seus efeitos sobre a expansão das exportações
- sem se ter resolvido antes as outras questões - é considerado limitado, excepto, primeiro, em
certos sectores que têm um claro potencial de exportação e, segundo, se concebido como
instrumento de compensação para os efeitos prejudiciais da sobrevalorização sobre os
exportadores. Embora os incentivos à exportação possam ser instituídos em pouco tempo, e
também com efeitos quase imediatos, espera-se que a sua magnitude seja limitada, a menos que os
outros impedimentos à diversificação das exportações sejam removidos.

Da mesma forma, resolver as restrições actuais de acesso ao mercado como uma política
horizontal é considerada uma questão secundária e só produzirá resultados de médio a longo prazo.
Geralmente, a probabilidade de Angola alterar as condições de acesso ao mercado nos mercados-
alvo é limitada; estas deveriam ser negociadas com os governos dos parceiros comerciais e, dado
que Angola já beneficia do acesso preferencial a muitos países, parece pouco provável que grandes
melhorias ainda possam ser alcançadas. Existem algumas excepções - como o acesso aos mercados
de vários países africanos, bem como a adesão ao Sistema Geral de Preferências da Índia - que deve
ser realizada pelo Governo. No entanto, uma política mais importante seria ajudar os exportadores
angolanos a lidar com os requisitos de acesso aos mercados dos parceiros comerciais.

Resumir o acima ajuda a priorizar as medidas de políticas horizontais destinadas a apoiar a


diversificação das exportações devem ser definidas com base no entendimento de que a remoção
das restrições mais importantes, bem como as que produzem os resultados mais rápidos, devem
ser priorizadas (Figura 24). 37 Com base nessa consideração, a remoção de distorções
macroeconómicas ou apoiar os exportadores para enfrentar os efeitos dessas distorções é a medida
mais importante (no canto superior esquerdo da Figura 24). Em seguida vem uma série de medidas
que são muito importantes, mas que produzirão resultados apenas a longo prazo, ou que resultarão
num impacto menos forte na diversificação das exportações, mas que poderão gerar resultados no
curto prazo. Finalmente, a medida menos importante seria melhorar o acesso aos mercados nos
países destinos das exportações (no canto inferior direito da Figura 24).

No entanto, existem duas advertências para esta priorização. Primeiro, as medidas se reforçam
mutuamente, pelo que uma medida tomada sem outra é pouco provável que seja eficaz. Isto
significa que não é aconselhável escolher apenas algumas medidas para a implementação - uma
estratégia de diversificação das exportações deve solucionar de forma abrangente todas as restrições
identificadas para que seja bem-sucedida; neste sentido, a priorização deve ser considerada como
algo que fornece uma indicação apenas da relativa urgência e importância das medidas.

Segundo, muitas das questões horizontais afectam diferentes sectores de forma distinta. Por
exemplo, as restrições de acesso ao mercado no mercado-chave de cimento ou bebidas podem
constituir uma restrição importante para esses produtos. Portanto, as medidas horizontais precisam
ser complementadas com medidas específicas do sector, com base em numa análise minuciosa da
operação, desempenho e perspectivas dos sectores.

37O governo esta já a planificar a implementação de medidas em muitas das áreas identificadas como sendo de
estrangulamento (ver seção 5.1); no entanto, essas medidas geralmente não são classificadas em termos de importância.

PÁGINA 38 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Figura 24: Priorização de medidas de políticas horizontais destinadas à diversificação das exportações

Prioridade Crescente

Importãnica Estratégica da Diversificação das Exportações Distorções Constrangimentos da Capacidade Produtiva


Macroeconómicas
Elevada
Constrangimentos a nível das Infraestruturas

Reduzida Qualidade das Infraestruturas

Prioridade Crescente
Complicações nos
Procedimentos Ambiente de
Relativos às Negócios Difícil
Média

Exportações
Restrições Financeiras

Incentivos às
Exportações
Reduzid
a

Restrições às Entrada no Mercado

curto Médio Longo


Tempo necessário para alterar o desempenho das
exportações

Fonte: Elaborado pelos autores.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 39


4 POTENCIAL PARA DIVERSIFICAÇÃO DA EXPORTAÇÃO-
IDENTIFICAÇÃO DE SECTORES E PRODUTOS
A avaliação do potencial de exportação do sector e a selecção de sectores de alta prioridade foram
realizadas num processo em três etapas, que consistiram em (1) a definição de 30 sectores para os
quais o potencial de exportação deve pelo menos, em princípio, existir; (2) a identificação de
sectores com potencial de exportação, tanto a curto como a médio e longo prazo, com base em
uma série de critérios de oferta e procuraa; e (3) identificação de sectores prioritários para os quais
os planos de acção sectorial deveriam ser desenvolvidos. O Anexo B descreve a abordagem e
metodologia para cada uma das três etapas.

4.1 Sectores com Potencial de Exportação


Para determinar o potencial de exportação, são considerados diversos factores do lado da oferta e
da procuraa (ver metodologia no Anexo B):
▪ Desempenho de exportação recente;
▪ A vantagem comparativa revelada pelos sectores;
▪ Produção e potencial corrente no sector;
▪ Principal restrição para o crescimento das exportações e potencial para superá-las;
▪ O nível, crescimento e estabilidade da demanda regional e internacional; e
▪ A existência e a importância das barreiras de acesso aos mercados de exportação, tanto em
termos de tarifas como de barreiras não tarifárias.

Além disso, o potencial de um sector para atrair o IDE e para beneficiar e/ou criar repercurssões
de/para outros sectores e a economia global, medido pela relação da produção existente com o
sector, também desempenha um papel importante para determinar se o potencial de exportação
existente a curto ou a longo prazo.

As seguintes sub-secções abordam esses factores individualmente e depois agregam-nas numa


matriz de potencial de diversificação de exportação, que mostra o potencial de exportação para
todos os sectores considerados e os agrupa em sectores com potencial limitado, intermediário e
alto.

4.1.1 Desempenho das Exportações

Tabela 338 resume o recente desempenho das exportações dos sectores analisados. Apenas dois
sectores - cimento e bebidas - mostraram recentemente altos valores de exportação e alto
crescimento das exportações. A madeira, os cereais, o sabão, o açúcar e o couro registaram volumes
elevados, mas de médio, ou grandes volumes, mas crescimento médio, produtos derivados do
petróleo, produtos pesqueiros e aço de valor agregado e sectores de serviços são grandes
exportações mas cresceram em níveis relativamente limitados, ou mesmo declinaram em termos
de valor. Além disso, os dados de bens também incluem reexportações,39 e é provável que, para
produtos de aço e seus derivados, ou derivados de cereais, entre outros, a parcela de reexportação
nos dados reportados seja considerável. Essas questões são abordadas nos perfis sectoriais (Anexo
A) e são levadas em consideração na avaliação resumida conforme apresentado na secção 4.1.9.

38 Apenas os sectores de bens são cobertos porque dados desagregados para exportação de serviços não estão
disponíveis.
39 As estatísticas disponíveis não distinguem entre exportações domésticas genuínas e reexportações.

PÁGINA 40 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Com base no desempenho recente das exportações, os produtos de cimento, bebidas, madeira e
seus derivados, cereais e produtos relacionados, sabão e serviços empresariais têm o maior
potencial (células verdes na última coluna da Tabela 3), enquanto minérios e minerais, sal, Carne e
produtos à base de carne e produtos avícolas têm o menor potencial (células vermelhas).

Tabela 3: Angola - exportações por sector, 2012-2016 (USD ‘000)


Sector 2012 2013 2014 2015 2016 Pm. 2012-16 CAGR 2012-16 Sumário
01 Carne e seus Derivados 65.3 52.4 89.9 277.9 107.8 118.7 13.4% baixo
02 Aves 31.5 51.6 1,013.1 1,495.0 56.6 529.6 15.8% baixo
03 Produtos de Pesca 32,178.1 38,709.6 45,473.4 47,454.8 55,521.9 43,867.5 14.6% médio
04 Leite e Produtos Lácteos 32.3 29.0 161.1 1,200.9 334.4 351.6 79.3% médio
05 Mel 0.2 1.7 1.0 2.4 13.7 3.8 193.2% médio
06 Vegetais e Preparados de Vegetais 53.3 162.1 332.3 945.8 840.5 466.8 99.2% médio
07 Fruta e Preparados de Fruta 120.2 64.3 156.7 669.6 3,092.0 820.6 125.2% médio
08 Café 1,047.2 649.2 1,215.9 1,395.5 1,174.2 1,096.4 2.9% médio
09 Cereais e seus Derivados 34.0 35.5 8,124.7 29,448.6 6,020.8 8,732.7 264.7% alto
10 Oleaginosas e Óleos Vegetais 57.0 7.6 4,861.9 4,843.9 516.6 2,057.4 73.5% médio
11 Açucar e Confeitaria 3.6 10.9 904.4 4,636.8 2,379.4 1,587.0 406.4% alto
12 Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas 856.4 2,028.5 2,442.8 3,070.6 56,988.1 13,077.3 185.6% alto
13 Sal 1.9 1.8 0.9 10.7 2.8 3.6 10.5% baixo
14 Rochas Ornamentais 9,969.8 9,643.5 6,876.8 7,776.5 8,882.3 8,629.8 -2.8% médio
15 Cimento 4.5 2.1 3,510.2 21,959.8 67,832.3 18,661.8 1008.3% alto
16 Minerais e Seus Derivados 73.9 179.2 29.8 22.1 63.9 73.8 -3.6% baixo
17 Produtos Petrolíferos e seus Derivados 1,452,729.3 1,602,836.8 1,660,456.1 1,629,464.9 953,198.7 1,459,737.2 -10.0% médio
18 Fertilizantes 37.2 8.7 295.8 86.6 103.8 106.4 29.3% médio
19 Sabão 65.8 171.9 985.7 1,786.2 6,307.9 1,863.5 212.8% alto
20 Plásticos e Seus Derivados 822.0 1,708.2 5,761.8 4,090.5 11,916.6 4,859.8 95.1% médio
21 Couro e seus Derivados 86.8 294.9 348.3 374.8 1,079.6 436.8 87.8% médio
22 Madeira e seus derivados 5,572.6 5,529.0 12,764.1 18,239.5 34,913.7 15,403.8 58.2% alto
23 Algodão, Tèxteis e Confecções 1,043.9 1,056.0 3,008.0 2,685.5 3,520.8 2,262.8 35.5% médio
24 Vidro 11,487.1 9,699.2 4,293.3 1,837.6 4,431.9 6,349.8 -21.2% médio
25 Minerais Preciosos de valor agregado 0.7 9.6 0.8 1.8 2.1 3.0 30.5% médio
26 Ferro, Aço e Produtos Derivados 90,608.0 34,975.1 68,643.2 73,821.6 147,543.2 83,118.2 13.0% médio
Outros sectores de bens 69,873,188 67,121,372 58,500,020 33,528,983 16,561,165 49,116,945 -30.2%
Total ex portações de bens 71,480,170 68,829,290 60,331,772 35,386,583 17,928,010 50,791,165 -29.2%
27 Serviços de Transporte 21,367.0 24,667.0 25,188.0 25,298.0 .. 24,130.0 5.8% médio
28 Serviços de Telecomunicações 33,207.0 20,934.0 37,094.0 30,172.0 .. 30,351.8 -3.1% médio
29 Viagens e Serviços de Turismo 706,465.0 1,233,720.0 1,589,030.0 1,162,715.0 .. 1,172,982.5 18.1% médio
30 Serviços para as Empresas (incluindo a Indústria2,638.0
Petrolífera)
17,540.0 8,090.0 20,488.0 .. 12,189.0 98.0% alto
Outros serviços 16,333 18,839 21,948 17,490 .. 18,653 2.3%
Total ex portações de serv iços 780,010 1,315,700 1,681,350 1,256,163 1,156,000 1,258,306 17.2%
Nota: As pontuações de semáforo para o valor médio de exportação: verde:> USD 10 M; amarelo:> USD 1 M;
vermelho: <= USD 1 M; para crescimento médio anual: verde:> 100%; amarelo:> 20%; vermelho: <= 20%.
Fonte: Cálculos dos autores com base em dados de exportação fornecidos pela AGT (bens) e ITC TradeMap (serviços).

4.1.2 Vantagem Comparativa Revelada

Devido ao domínio das exportações de petróleo nas exportações totais de Angola, muito poucos
outros sectores de bens mostram uma vantagem comparativa revelada (RCA), ou seja, têm uma
pontuação do Índice Balassa de pelo menos 1 (Figura 25a) - na verdade, em 2012 nenhum único
sector teve uma vantagem comparativa e apenas três - cimentos, produtos petrolíferos de valor
agregado e pedras ornamentais - apresentaram RCA acima de 1 em comparação com as
exportações mundiais em 2016 (painel esquerdo). Em comparação com a África sub-sahariana,
dada a maior semelhança das economias regionais em termos de estruturas de exportação, Angola
apresentou uma RCA acima de 1 apenas para produtos petrolíferos de valor agregado e cimento
(painel direito).

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 41


Olhando separadamente para os sectores de serviços,40 as viagens e o turismo destacam-se com
uma RCA forte, enquanto os outros sectores de serviços apresentaram desvantagens comparativas
reveladas moderadas tanto em 2012 como em 2015 (Figura 25b).

Figura 25: RCA de Angola por sector


(a) Sector de bens, 2016 vs. 2012
Angola vs. Mundo Angola vs. África Sub-Sahaariana
10 10
Cimento
Rochas Petrolífero
Petrolífero s VA
1 1 Cimento
s VA Rochas
Bebidas Pesca
Madeira Bebidas Madeira
Ferro
0.1 Sabão 0.1 Sabão FerroPescaVidro
Açucar Vidro Pláscticos
Cereais Fruta Café AçucarCereais

RCA 2016
RCA 2016

Pláscticos Couro
0.01 Vegetais 0.01 Leite Vegetais Tèxteis Café
Mel Couro Fruta
Leite Tèxteis Oleaginosa
Oleaginosa Aves
Fertilizante s Fertilizante
s Aves
0.001 Sal s 0.001 Mel s
Carne
Carne
Sal
Minerais
0.0001 Minerais 0.0001
Preciosos
Minerais
Preciosos
0.00001 0.00001 Minerais

1
0.00001

0.0001

0.01
0.001

0.1
1
0.00001

0.0001

0.01
0.001

0.1
0.000001

RCA 2012 RCA 2012


(b) Sector de Serviços, 2015 vs. 2012
Angola vs. Mundo Angola vs. Africa
10 10
Turismo
Turismo

1 1 Telecomun
icações
RCA 2016

RCA 2016

Telecomun
icações
Serviços
Serviços Transporte para
0.1 para 0.1
empresas Transporte
empresas

0.01 0.01
10

10
1

1
0.01

0.1

0.01

0.1

RCA 2012 RCA 2012


Fonte: Cálculos dos autores com base em dados de exportação fornecidos pela AGT (Angola) e UN COMTRADE
(África Sub-sahariana e Mundial), para sectores de bens e ITC TradeMap para sectores de serviços. Veja a Tabela 4

40Conforme observado na metodologia (Anexo B), os sectores de bens e serviços foram considerados separadamente,
principalmente devido a problemas relacionados à comparabilidade dos dados. No entanto, uma análise combinada da
vantagem comparativa revelada de bens e serviços também foi realizada; Isso oferece resultados muito semelhantes -
os índices do Índice Balassa para os sectores de serviços pouco reduzidos, devido ao impacto do sector de petróleo,
mas esse efeito é contrariado por um desenvolvimento mais forte dos sectores de serviços ao longo do tempo na
avaliação combinada.

PÁGINA 42 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


No entanto, para determinar o potencial de exportação dos sectores angolanos, não é apenas a
RCA absoluta que é importante, mas também o desenvolvimento ao longo do tempo. Aqui, os
sectores de bens de Angola fizeram grandes progressos no período de 2012 a 2016 - com o declínio
do preço do petróleo, a competitividade de todos os outros sectores melhorou na comparação
global e e todos menos dois - vidro e pedras ornamentais - em comparação com a África Sub-
sahariana; Isso é indicado na Figura 25 pelo facto de que os sectores estão localizados acima da
linha diagonal.

Mesmo que o desenvolvimento da RCA seja ajustado pelo declínio do preço do petróleo ao longo
do período (por um factor de 2.205), a maioria dos sectores ainda melhorou a sua pontuação de
RCA ao longo do período, ou seja, sua vantagem comparativa aumentou (ou a desvantagem
comparativa diminuiu). Em comparação com o mundo, apenas a RCA de vidro declinou com base
nesta medida ajustada e em comparação com a África sub-sahariana, este foi o caso do vidro, pedras
ornamentais, carne e seus derivados, sal e minérios. Por outro lado, as maiores melhorias foram
feitas por cimento, açúcar e confeitaria, cereais, sabão, bebidas e mel, o que aumentou a RCA
(reduziu sua desvantagem comparada) mais de cem vezes, em muitos casos, no entanto, começando
de uma forte desvantagem comparativa (Tabela 4).

Para os sectores de serviços, o desenvolvimento ao longo do tempo tem sido menos positivo.
Somente os serviços de negócios poderiam melhorar seu desempenho de exportação no período
de 2012 a 2015, o sector de turismo e viagens ocupou sua posição, e os transportes e as
telecomunicações perderam terreno (conforme observado pela posição abaixo da linha diagonal na
Figura 25).

Considerando os desenvolvimentos ao longo do tempo e a vantagem comparativa revelada em


2016, o cimento, os produtos petrolíferos de valor agregado, as bebidas, a madeira e seus derivados
e os serviços de viagens e turismo são os sectores com maior potencial de exportação com base no
critério RCA (veja a célula verde à direita na Tabela 4), enquanto o vidro, carne e produtos à base
de carne, sal, minérios e café, bem como os serviços de transporte e telecomunicações (células
vermelhas) apresentam o menor potencial.

4.1.3 Produção

Em todos os sectores, a actual capacidade de abastecimento de Angola é insuficiente para atender


a procuraa doméstica, o que é evidenciado por altos défices comerciais sectoriais e produção
doméstica limitada. No que se refere às balanças comerciais, apenas os seguintes sectores registaram
superávits comerciais em 2015, fornecendo uma indicação (embora não prova) de que a produção
é suficiente para exportar: pedras ornamentais, produtos petrolíferos de valor agregado e serviços
de viagens e turismo (Tabela 5). Além disso, o cimento alcançou um superávit comercial em 2016.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 43


Tabela 4: Angola – Vantagens comparativas reveladas por sector
(a) Sectores de bens, em comparação com a África Mundial e Sub-Sahariana, 2012 e 2016
2012 2016 Cámbio 2016 v s 2012

RCA RCA RCA RCA RCA RCA RCA


Angola Mundo África Angola/Mundo Angola/África Angola Mundo África Angola/Mundo Angola/África Angola/Mundo Angola/ASS score
Total 71,480.17 16,682,108.9 388,753.9 17,928.01 12,865,760.7 114,889.9
01 Carne e seus Derivados 0.07 108,909.6 427.5 0.00014 0.00083 0.11 93,419.7 547.4 0.00083 0.00126 5.92 1.52 1
02 Aves 0.03 30,965.3 138.5 0.00024 0.00124 0.06 22,426.0 116.6 0.00181 0.00311 7.62 2.51 3
03 Produtos de Pesca 32.18 120,742.6 3,374.6 0.06220 0.05186 55.52 115,034.0 3,029.8 0.34637 0.11744 5.57 2.26 4
04 Leite e Produtos Lácteos 0.03 73,273.0 1,477.4 0.00010 0.00012 0.33 52,666.9 226.3 0.00456 0.00947 44.23 79.52 4
05 Mel 0.00 1,729.1 5.6 0.00003 0.00018 0.01 1,935.9 146.1 0.00509 0.00060 202.87 3.32 3
06 Vegetais e Preparados de Vegetais 0.05 77,573.0 1,205.0 0.00016 0.00024 0.84 77,624.5 926.4 0.00777 0.00581 48.43 24.15 4
07 Fruta e Preparados de Fruta 0.12 112,503.7 4,668.6 0.00025 0.00014 3.09 108,409.7 4,928.1 0.02047 0.00402 82.07 28.71 4
08 Café 1.05 32,313.6 1,840.3 0.00756 0.00309 1.17 23,140.2 968.1 0.03641 0.00777 4.81 2.51 2
09 Cereais e seus Derivados 0.03 193,451.8 2,380.9 0.00004 0.00008 6.02 150,108.5 1,370.1 0.02878 0.02816 701.17 362.28 4
10 Oleaginosas e Óleos Vegetais 0.06 187,971.9 2,793.2 0.00007 0.00011 0.52 148,045.3 1,100.9 0.00250 0.00301 35.40 27.11 4
11 Açucar e Confeitaria 0.00 49,249.3 1,333.5 0.00002 0.00001 2.38 35,049.6 560.5 0.04872 0.02720 2841.10 1843.18 4
12 Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas 0.86 103,843.7 1,736.2 0.00192 0.00268 56.99 91,177.4 1,361.2 0.44854 0.26829 233.05 100.01 6
13 Sal 0.00 2,129.7 95.6 0.00020 0.00011 0.00 1,798.1 96.9 0.00110 0.00018 5.42 1.73 1
14 Rochas Ornamentais 9.97 4,156.3 105.5 0.55982 0.51416 8.88 3,239.5 122.6 1.96766 0.46426 3.51 0.90 4
15 Cimento 0.00 10,886.9 762.4 0.00010 0.00003 67.83 7,007.3 402.6 6.94685 1.07972 72085.11 33670.24 8
16 Minerais e Seus Derivados 0.07 500,539.0 38,243.3 0.00003 0.00001 0.06 352,969.9 22,231.1 0.00013 0.00002 3.77 1.75 1
17 Produtos Petrolíferos e seus Derivados 1,452.73 1,349,269.7 29,832.9 0.25128 0.26484 953.20 568,603.5 3,514.1 1.20303 1.73827 4.79 6.56 6
18 Fertilizantes 0.04 64,064.8 692.8 0.00014 0.00029 0.10 39,963.4 416.2 0.00186 0.00160 13.76 5.48 3
19 Sabão 0.07 54,558.5 839.0 0.00028 0.00043 6.31 46,882.0 425.3 0.09656 0.09504 342.79 222.66 4
20 Plásticos e Seus Derivados 0.82 556,081.1 2,448.3 0.00034 0.00183 11.92 473,801.8 1,779.3 0.01805 0.04292 52.32 23.51 4
21 Couro e seus Derivados 0.09 135,231.0 1,819.4 0.00015 0.00026 1.08 118,541.3 539.7 0.00654 0.01282 43.65 49.43 4
22 Madeira e seus derivados 5.57 110,407.9 1,456.6 0.01178 0.02081 34.91 103,008.6 1,055.0 0.24323 0.21208 20.65 10.19 6
23 Algodão, Tèxteis e Confecções 1.04 663,690.9 4,877.4 0.00037 0.00116 3.52 594,914.8 2,675.5 0.00425 0.00843 11.57 7.25 4
24 Vidro 11.49 67,372.2 389.9 0.03979 0.16023 4.43 59,903.7 366.1 0.05309 0.07758 1.33 0.48 0
25 Minerais Preciosos de valor agregado 0.00 93,062.6 93.0 0.00000 0.00004 0.00 77,583.8 143.2 0.00002 0.00009 10.68 2.21 3
26 Ferro, Aço e Produtos Derivados 90.61 873,126.8 20,030.1 0.02422 0.02460 147.54 590,677.0 12,414.1 0.17926 0.07616 7.40 3.10 4

(b) Sectores de serviços, em comparação com o mundo e a África, 2012 e 2015


2012 2015 Cámbio 2015 v s 2012

RCA RCA RCA RCA RCA RCA RCA


Angola Mundo África Angola/Mundo Angola/África Angola Mundo África Angola/Mundo Angola/África Angola/Mundo Angola/ASS score
Total 780.01 4,518,752.2 103,568.6 1,256.16 4,848,731.2 100,647.2
27 Serviços de Transporte 21.37 649,241.6 22,483.4 0.19066 0.12619 25.30 671,335.9 20,873.5 0.14545 0.09711 0.76 0.77 1
28 Serviços de Telecomunicações 33.21 226,364.3 4,128.4 0.84985 1.06800 30.17 355,884.8 2,620.2 0.32725 0.92263 0.39 0.86 2
29 Viagens e Serviços de Turismo 706.47 739,259.0 33,363.2 5.53621 2.81158 1,162.72 802,044.3 28,408.3 5.59573 3.27932 1.01 1.17 6
30 Serviços para as Empresas (incluindo a Indústria
2.64 Petrolífera)
733,674.9 12,160.4 0.02083 0.02880 20.49 903,562.0 14,051.5 0.08752 0.11682 4.20 4.06 5
Nota: valores de exportação em milhões de USD.
Fontes: Cálculos de autores baseados em dados de exportação fornecidos pela AGT (Angola) e UN COMTRADE (África Subsaariana e Mundo) para bens e ITC TradeMap para
serviços.

PÁGINA 44 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Analisando a capacidade e a estrutura de produção reais com base nos perfis do sector, uma série
de questões comuns enfrentam os sectores angolanos em termos de produção (veja também a
secção 3.3). Primeiro, em muitos sectores, há um número insuficiente de produtores/provedores
comerciais domésticos. Em alguns casos, não há produção, como na produção de fertilizantes;
noutros casos, um grande número de pequenas e micro empresas operam numa fase de
sobrevivência, mas não têm capacidade ou competitividade para exportar, como é o caso de alguns
sectores agrícolas. O que geralmente falta, são empresas produtivas, competitivas e escaláveis com
potencial de exportação.

Em segundo lugar, o legado da guerra civil, que destruiu a capacidade de produção em vários
sectores, continua a afectar principalmente os sectores agrícolas, incluindo café, pecuária, frutas e
vegetais, algodão, bem como as indústrias a jusante dependentes de produtos agrícolas, tais como
como indústrias de carne, couro ou têxteis. Algumas actividades de mineração, em particular
minério de ferro, também foram afectadas. A revitalização de pelo menos alguns sectores está em
curso, no entanto o processo exige tempo.

Tabela 5: Angola, balanças comercias sectoriais, 2012-2015 (milhões de USD)


2012 2013 2014 2015 CAGR 2012-15
01 Carne e seus Deriv ados -709.7 -606.7 -785.0 -441.5 -15%
02 Av es -648.8 -508.6 -620.6 -353.0 -18%
03 Produtos de Pesca -313.7 -218.6 -257.6 -178.6 -17%
04 Leite e Produtos Lácteos -313.4 -269.1 -217.2 -117.2 -28%
05 Mel -1.4 -0.9 -0.9 -0.6 -23%
06 Vegetais e Preparados de Vegetais -231.4 -221.2 -244.3 -154.7 -13%
07 Fruta e Preparados de Fruta -124.8 -95.7 -123.7 -56.1 -23%
08 Café -3.0 -3.3 -3.5 -1.6 -19%
09 Cereais e seus Deriv ados -1,362.4 -1,130.8 -1,057.0 -643.9 -22%
10 Oleaginosas e Óleos Vegetais -535.1 -466.3 -130.1 -41.2 -57%
11 Açucar e Confeitaria -327.0 -247.6 -93.1 -40.3 -50%
12 Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas -865.3 -706.3 -770.2 -390.6 -23%
13 Sal -12.2 -10.8 -15.4 -8.5 -11%
14 Rochas Ornamentais 4.1 4.7 0.2 5.6 11%
15 Cimento -242.7 -154.3 -298.8 -73.7 -33%
16 Minerais e Seus Deriv ados -1.3 -0.6 -0.1 -0.1 -59%
17 Produtos Petrolíferos e seus Deriv ados 319.4 -469.6 1.4 1,377.2 63%
18 Fertilizantes -106.3 -80.7 -103.3 -57.4 -19%
19 Sabão -279.1 -203.5 -188.6 -145.4 -20%
20 Plásticos e Seus Deriv ados -844.1 -661.7 -683.9 -483.5 -17%
21 Couro e seus Deriv ados -74.7 -68.4 -70.8 -45.0 -16%
22 Madeira e seus deriv ados -104.7 -92.6 -88.8 -30.0 -34%
23 Algodão, Tèx teis e Confecções -526.1 -434.3 -561.3 -306.2 -17%
24 Vidro -127.6 -95.6 -118.2 -64.3 -20%
25 Minerais Preciosos de v alor agregado -1.9 -2.6 -1.9 -1.3 -12%
26 Ferro, Aço e Produtos Deriv ados -2,849.8 -2,209.2 -2,758.1 -1,846.3 -13%
27 Serv iços de Transporte -4,415.0 -4,732.7 -5,490.2 -4,032.7 -3%
28 Serv iços de Telecomunicações -471.8 -669.1 -600.2 -181.4 -27%
29 Viagens e Serv iços de Turismo 547.6 1,067.4 1,476.0 1,016.4 23%
30 Serv iços para as Empresas (incluindo a Indústria
-9,315.7
Petrolífera)-9,652.5 -10,542.7 -7,948.8 -5%
Fontes: Cálculos de autoria baseados em dados fornecidos pela AGT (exportações) e UN COMTRADE (importações)
para bens e ITC TradeMap para serviços

Em suma, o maior potencial de produção para fins de exportação (em vez de satisfação da procura
doméstica) existe nos seguintes sectores:
▪ Cimento: Angola tem cinco principais produtores de cimento com uma capacidade de
produção instalada combinada de cerca de 8 milhões de toneladas por ano, em comparação

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 45


com a procura doméstica não superior a 6 milhões de toneladas. Existe, portanto, uma
capacidade de reserva significativa que pode ser usada para exportar;
▪ Bebidas: o sector cresceu rapidamente desde o início do milénio, com a participação no
valor agregado industrial de Angola aumentando de 32% em 2001 para 57% em 2016
(UCAN-CEIC 2017), tornando o sector de longe o maior sector industrial do país. A
Associação das Indústrias de Bebidas de Angola (AIBA) afirmou em 2016 que a produção
doméstica é suficiente para atender a procura interna. O país possui mais de 40 empresas
de bebidas com uma capacidade instalada total entre 4,5 e 5 bilhões de litros por ano,41
significativamente acima da procura interna total de cerca de 3 bilhões de litros por ano;
▪ Madeira e seus derivados: de acordo com o Ministério da Agricultura, as reservas totais de
madeira explorável em Angola somam cerca de 54 milhões de m3, das quais cerca de 1,2
milhões podem ser colhidas de forma sustentável por ano - 850 mil de plantações e 360 mil
de florestas naturais (Ministério de Agricultura 2016). A produção actual é
significativamente menor de acordo com o Instituto de Desenvolvimento Florestal, IDF,
mas ainda é suficiente para atender a procura doméstica de madeira redonda e madeira
serrada. Por outro lado, Angola continua a depender das importações de produtos de
madeira processados, como painéis de madeira.

Os seguintes sectores também possuem capacidade de suprimento que pode ser adequada para
exportação, pelo menos até certo ponto:
▪ Os sectores que já estão a exportar, mas onde grandes aumentos na produção não são
viáveis no curto prazo: incluem produtos pesqueiros e seus derivados, pedras ornamentais
e serviços de viagens e turismo; e
▪ Sectores em que os projectos de investimento são actualmente implementados (ou podem
ser implementados a curto prazo) para expandirem a produção, o que também pode facilitar
as exportações: os sectores desta categoria são vidro (garrafas), café, frutas, vegetais,
oleaginosas, mel, têxteis, artigos de plásticos, serviços de telecomunicações e serviços às
empresas.

Em outros sectores, a capacidade e o potencial de produção são bastante limitados, pelo menos
em relação à procura doméstica, e, portanto, a capacidade de oferta orientada para a exportação é
considerada limitada pelo menos no curto e médio prazo.

4.1.4 Constrangimentos e Opções-Chave para Superá-los

A revisão dos sectores revelou uma série de restrições comuns que afectam a produção e a
exportação da maioria, senão de todos os sectores (tabela 6). Estes incluem, em particular, os
seguintes:
▪ Falta de acesso à moeda estrangeira (ver secção 3.1): de acordo com informações específicas
recebidas das partes interessadas e a pesquisa documental, isso afecta pelo menos 60% dos
30 sectores que dependem de insumos e maquinários importados, além de exigir
funcionários/serviços expatriados pagos em moeda estrangeira. Para as empresas desses
sectores, o difícil acesso à moeda estrangeira é uma restrição vinculativa, tanto para a
produção, mercado interno como para as exportações;
▪ Um problema parcialmente relacionado, que também afecta 60% dos sectores pesquisados,
é a disponibilidade limitada de matérias-primas e insumos do mercado interno. Em muitos
casos, isso se refere a produtos agrícolas que as indústrias a jusante (como gado para carne

41“Angola: Proclamada Associação das Indústrias de Bebidas de Angola”, Agência Angola Press, 29 de Janeiro de
2015, http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/economia/2015/0/5/Angola-Proclamada-Associacao-das-
Industrias-Bebidas-Angola,e396a4c0-abdb-4f9a-9143-fc2faefa52b2.html [acedido em 12 de Julho de2017].

PÁGINA 46 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


e couro, algodão para têxteis, frutas para bebidas, cereais para farinha e produtos de
panificação ou oleaginosas para óleos vegetais) exigem, por sua vez, insumos para indústrias
agrícolas (como fertilizantes ou ração para animais) também faltam. Esta falta de cadeias
de valor doméstico força as empresas a gerar as matérias-primas das importações, que não
só impulsionam os custos (afectando a competitividade nos mercados estrangeiros), mas
também às vezes limitam o resultado, devido à escassez de moeda estrangeira;
▪ Fraquezas na infra-estrutura de transporte e serviços de logística são a terceira restrição
chave para os exportadores de uma maioria (53%) de sectores (ver secção 3.2). Isto refere-
se parcialmente à infra-estrutura doméstica, em particular nas áreas rurais, onde, a falta de
acesso e as estradas afluentes é um problema para muitos sectores agrícolas, afectando a
produtividade das operações tanto para os mercados domésticos como para os mercados
de exportação, e em parte para serviços de infra-estrutura e logística para exportação
(portos, aeroportos). O acesso limitado à electricidade da rede e a necessidade resultante
de geradores para a geração (dispendiosa) é outro problema de infra-estrutura que afecta
muitos sectores (veja também o próximo ponto);
▪ As três restrições que afectam pelo menos quase metade dos sectores dizem respeito à
capacidade produtiva e à competitividade em geral - são a falta de pessoal formado e
qualificado, altos custos de utilidades e produção baixa e/ou de baixa qualidade, bem como
capacidade de produção limitada (ver secção 3.3).

Além disso, uma série de constrangimentos são vinculativos somente para sectores específicos e,
portanto, limitam o potencial de exportação desses sectores; alguns destes são:
▪ Para os sectores agrícolas e outros produtos perecíveis e alimentares, as infra-estruturas
pós-colheita, incluindo o armazenamento, a ausência de cadeias de refrigeração, a falta de
organismos de certificação internacionalmente credenciados e os procedimentos lentos
para exportação são restrições vinculativas para a exportação (e em parte a produção);
▪ As ineficiências operacionais e a falta de investimento afectam uma série de sectores, tanto
os sectores de exportação tradicionais como o café e os sectores, visando principalmente o
mercado interno, como a maioria dos sectores de processamento agropecuário. Devido a
outros constrangimentos, a propensão a investir nestes é limitada;
▪ O custo das restrições exportadoras e operacionais nos procedimentos de importação e
exportação foram identificados como restrições em relativamente poucos sectores, mas em
particular nos que mostraram um desempenho de exportação relativamente forte, incluindo
bebidas, vidro e madeira. Isso mostra que, uma vez que as empresas superaram questões
gerais que afectam a produtividade e a capacidade produtiva, as regras e procedimentos de
exportação constituem o próximo nível de restrições vinculativas para as exportações;
▪ Finalmente, as questões de acesso ao mercado também afectam um número relativamente
pequeno de sectores, em particular os sectores de serviços. Estes são abordados em mais
detalhes na secção 4.1.6.

Em geral, as barreiras específicas às exportações são bastante raras, mas isso é resultado da
experiência geralmente limitada com as exportações não petrolíferas, onde muitas empresas estão
a lutar para sobreviver mesmo no mercado doméstico devido a problemas de competitividade mais
gerais. Onde as barreiras relacionadas à exportação estão presentes, são questões graves que podem
facilmente impedir as exportações. Portanto, a remoção de tais barreiras é um importante
instrumento de curto prazo para expandir as exportações, já que as empresas que se beneficiam das
melhorias já estão a exportar e, portanto, podem expandir as exportações a curto prazo.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 47


Tabela 6: Restrições-chave por sector
Problemas no
Ambiente econômico / Infraestrutura Problemas trabalhistas e de Facilitação de mercado de
regulatório Infraestrutura de qualidade habilidades Fatores que afetam a produção e os custos comercio exportação

Resumo das restrições


Potencial para medidas para superar
restrições

Falta de acesso a moeda


estrangeira
Questões de política de
concorrência
Legislação desatualizada
Eletricidade
Transporte e logística
Pós-colheita /
armazenamento
Certificação fraca para
exportação
Controle fraco das
importações
Falta de pessoal treinado
Disponibilidade limitada de
mão-de-obra nas áreas
produtoras
Alto custo do trabalho em
relação à produtividade do
trabalho
Dificuldade para obter vistos
para expatriados
disponibilidade limitada de
matérias-primas domésticas
Custos de serviços elevados
Difícil acesso ao
financiamento
Tecnologia de produção,
falta de investimento
Ineficiências operacionais
Baixa saída / capacidade
limitada; inconsistência de
produção e qualidade
Despacho aduaneiro lento
Eficiência da porta baixa
Custo de exportação
Embalagem e rotulagem
Problemas de acesso ao
mercado (tarifas, NTBs)

Sector
01 Carne e seus Derivados x x x x x x x x alto baixo
02 Aves x x x x x x x médio médio
03 Produtos de Pesca x x x x x médio médio
04 Leite e Produtos Lácteos x x x x x x x x x alto médio
05 Mel x x x x médio alto
06 V egetais e Preparados de V egetais x x x x x x alto médio
07 Fruta e Preparados de Fruta x x x x x x alto médio
08 Café x x x x x x x x alto médio
09 Cereais e seus Derivados x x x x x x x x x x alto baixo
10 Oleaginosas e Óleos V egetais x x x x x x x x x alto médio
11 Açucar e Confeitaria x x x x x médio médio
12 Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas x x x x médio alto
13 Sal x x x médio alto
14 Rochas Ornam entais x x x x médio médio
15 Cim ento x x x x x médio médio
16 Minerais e Seus Derivados x médio médio
17 Produtos Petrolíferos e seus Derivados x alto baixo
18 Fertilizantes x x x x x x alto baixo
19 Sabão x x x x x x x alto alto
20 Plásticos e Seus Derivados x x x x x x x médio alto
21 Couro e seus Derivados x x x x x x x x alto baixo
22 Madeira e seus derivados x x x x x x x médio médio
23 Algodão, Tèxteis e Confecções x x x x x x x x médio alto
24 V idro x x x x x x x médio alto
25 Minerais Preciosos de valor agregado x x alto baixo
26 Ferro, Aço e Produtos Derivados x x x x x médio médio
27 Serviços de Transporte x x x x x alto baixo
28 Serviços de Telecom unicações x x x x médio médio
29 V iagens e Serviços de Turism o x x x x x x x x médio baixo
30 Serviços para as Em presas (incluindo a
Indústria Petrolífera) x x x x alto baixo
Porcentagem de setores afetados pela restrição60% 17% 3% 30% 53% 27% 27% 3% 43% 3% 10% 13% 60% 43% 20% 33% 30% 43% 10% 13% 7% 3% 23%
Fonte: Preparado pelos autores com base em perfis sectoriais no anexo A

PÁGINA 48 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Abordar estrategicamente às questões identificadas irá transcender o apoio a sectores individuais.
A superação das principais restrições, como a criação ou o fortalecimento de ligaçõess entre
sectores, ou seja, a falta de cadeias de valor ou a resolução de questões de moeda estrangeira
exigiriam uma abordagem abrangente em oposição a um sector específico. Mas os pilotos para
sectores específicos que são particularmente afectados podem ser feitos e permitirão abordar
questões específicas - estas serão abordadas nos planos de acção do sector.

Com o objectivo de avaliar a gravidade dos problemas e o potencial para resolvê-los, e, portanto,
em última análise, contribuir para o exercício de priorização do sector, a Tabela 7 agrupa os 30
sectores pesquisados; como pode ser visto, para nenhum dos sectores as restrições foram
classificadas como baixas. No entanto, uma série de sectores com restrições de nível médio têm
um potencial alto ou pelo menos intermediário para resolver os problemas e, assim, iniciar ou
expandir as exportações (quanto mais alto um sector estiver localizado, mais positivo é a
perspectiva de exportar). Por outro lado, os sectores da célula inferior direita enfrentam restrições
graves que são difíceis de abordar, o que mitiga os seus sectores de exportação notáveis pelo menos
no curto e médio prazo.

Tabela 7: Severidade das restrições e potencial de solução para os sectores económicos Angolanos.
Potencial para medidas para superar restrições
alto médio baixo
baixo --- --- ---
médio 05 Mel 02 Aves 29 Viagens & turismo
12 Bebidas 03 Produtos pesqueiros
13 Sal 11 Açucar
20 Plásticos 14 perdas ornamentais
23 Algodão & texteis 15 Cimento
24 Vidro 16 Minério & minerais
22 Madeira
Gravidade das restrições

26 Ferro & aço


28 Telecomunicações
alto 19 Sabão 04 Leite 01 Carne
06 Vegetais & derivados 09 Cereais
07 Frutas & derivados 17 Produtos petrolíferos
08 Café 18 Fertilizantes
10 Olegainosas & óleo 21 Couro
25 Minerais preciosos
27 Serviços de Transporte
30 Serviços empresariais
Fonte: Preparado pelos autores com base em perfis sectoriais no anexo A

4.1.5 Avaliação da Procura nos Potenciais Mercados de Exportação

Dependendo do sector, os actuais mercados de exportação de Angola variam consideravelmente.


Para alguns sectores, como cimento e produtos perecíveis, os países vizinhos (incluindo aqueles
próximos ao mar) constituem os principais mercados. Para outros, mercados internacionais
seleccionados, como a UE, EUA, China e outros países asiáticos são os principais alvos (por
exemplo, café). Para outros, o mercado é verdadeiramente global (por exemplo, peixe, madeira,
pedras ornamentais).

A avaliação da procura do mercado tomou em consideração essas diferenças nos mercados


geográficos. Em muitos casos, o desempenho recente dos mercados tem sido medíocre, devido à
folga económica global desde a crise financeira, e a evolução dos preços tem sido desigual. No
entanto, isso não constitui necessariamente um obstáculo para as exportações angolanas, na maioria
dos casos, devido ao facto de que as exportações angolanas actuais são tão limitadas que as suas
actuais quotas nos mercados-alvo são insignificantes ou muito baixas; Isso cria a oportunidade de
expansão. A excepção é a República Democrática do Congo (RDC), onde as importações de
Angola, pelo menos, para determinados produtos, incluindo aves, ovos, cimento e cerveja,

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 49


representam uma elevada quota de mercado, pelo menos em certas regiões, o que significa que a
expansão das exportações para a RDC é provável que seja difícil (veja também a questão das
barreiras de acesso ao mercado na RDC abaixo) e novos mercados para os produtos em questão
teriam que ser identificados.

Em muitos casos, os desenvolvimentos do mercado variam consideravelmente entre segmentos de


mercado ou produtos; e tendo em vista as limitações de capacidade actuais de Angola, será
importante uma abordagem focalizada em termos de identificação do mercado-alvo e, dentro de
cada mercado-alvo, a definição dos segmentos de mercado será importante. Na maioria dos casos,
as exportações angolanas visarão um nicho de mercado específico em vez de mercados de massa
no país ou países alvo.

Como resultado das considerações precedentes, o potencial do mercado foi avaliado como “médio”
para “alto” para a maioria dos mercados (ver Tabela 8 na próxima secção)42 excepto os fertilizantes,
que é um mercado fortemente comercializado que tem visto uma forte e consistente contração nos
últimos anos, juntamente com uma concorrência global muito alta e fortes economias de escala - e
que, portanto, parece ser um mercado difícil de entrar para as exportações angolanas, especialmente
considerando o facto de que a produção no país deveria ser iniciada a partir do zero.

4.1.6 Presença de Barreiras de Acesso aos Mercados de Exportação

Para a análise das barreiras de acesso aos mercados de exportação, os sectores de bens e serviços
precisam ser tratados separadamente, uma vez que a natureza das barreiras difere entre as duas.
Para os sectores de bens, dependendo dos sectores e dos mercados-alvo, as tarifas e as barreiras
não tarifárias (NTBs) precisam ser consideradas. Um padrão geral é que os mercados com barreiras
tarifárias mais elevadas (ou seja, muitos países africanos) são menos difíceis em relação à maioria
das NTB, em especial TBTs e vice-versa. No que se refere às barreiras específicas enfrentadas pelos
sectores:
▪ Para todos os sectores agrícolas, os requisitos SPS geralmente são muito exigentes,
especialmente nos mercados dos países desenvolvidos. Além disso, enfrentam barreiras em
termos de exigentes padrões de qualidade e requisitos de certificação;
▪ Para quaisquer bens de consumo, cumprir os padrões de qualidade e segurança, requisitos
de certificação e regulamentos de embalagem e rotulagem, especialmente nos mercados dos
países desenvolvidos, são desafiadores, em particular devido à infra-estrutura deficiente em
qualidade em Angola;
▪ Os bens de consumo (como as bebidas) também enfrentam uma barreira em termos de
hábitos e expectativas do consumidor, que exigem investimentos consideráveis na
construção de marca para entrar no mercado; e
▪ As proibições de importação afectaram as exportações “bem-sucedidas” para a República
Democrática do Congo, em particular o cimento, a cerveja e as aves de capoeira/ovos,
outros produtos agrícolas seriam ocasionalmente ou sazonalmente afectados por cotas de
importação (isso ainda não foi um problema para Angola devido às exportações limitadas
de Produtos agrícolas que ocorrem actualmente).

Para os quatro sectores de serviços considerados, as barreiras de acesso ao mercado dependem


da forma como os serviços são exportados, os chamados “modos de fornecimento”. Dos quatro
modos de oferta, dois – “consumo no exterior” (modo 2), onde o comprador do serviço viaja para
o país do prestador de serviços, “presença comercial” (modo 3) do provedor de serviços no país

42Embora esta categorização seja uma boa notícia para o potencial de diversificação de exportações de Angola, fornece
orientações limitadas para priorizar os sectores.

PÁGINA 50 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


comprador, ou seja, o IDE do prestador de serviços no exterior - são os mais importantes, com o
“fornecimento transfronteiriço” (modo 1) também desempenhando um papel importante para
alguns sectores de serviços em que a presença do comprador não é necessária para a recepção do
serviço (por exemplo, serviços de telecomunicações, serviços que podem ser fornecidos através da
internet).43

Para o modo 2, onde o destinatário do comprador deve estar presente em Angola, as barreiras de
acesso ao mercado não desempenham um papel importante, excepto no turismo, que é afectado
por requisitos rigorosos de visto em Angola, bem como conexões de transporte aéreo limitadas.
No modo 3, as barreiras de acesso são constituídas por regulamentos de investimento e outras
condições regulatórias para a prestação de serviços no país alvo; Estes tendem a ser elevados em
sectores fortemente regulamentados, como serviços de telecomunicações e transportes. Além disso,
as exportações de modo 3 geralmente exigem investimentos consideráveis (ver secção 4.1.7). As
barreiras de acesso à exportação do modo 1 são tipicamente de natureza técnica.

Resumindo a análise do potencial do mercado de exportação e barreiras de acesso ao mercado, a


Tabela 8 agrupa os 30 sectores pesquisados; como pode ser visto, para a maioria deles o potencial
e a gravidade das barreiras de acesso foi classificado como médio; em muitos casos, esta avaliação
é o resultado da heterogeneidade dentro dos sectores. Em qualquer caso, o potencial de exportação
dos sectores situados na coluna da direita (baixo potencial de mercado) e da linha inferior (altas
barreiras ao acesso) não deve ser considerado como prioritário para uma estratégia de expansão de
exportação que procure resultados a curto prazo.

Tabela 8: Potencial de mercado de exportação e severidade das barreiras de acesso ao mercado para sectores
económicos Angolanos
Potencial de Mercado
alto Médio baixo
baixo 13 Sal
14 Pedras Ornamentais
17 Produtos petrolíferos.
24 Vidro
médio 03 Produtos Pesqueiros 05 Mel 18 Fertilizantes
08 Café 06 Vegetais & preparados
29 Viagens & turismo 07 Frutas & preparados
Gravidade das barreiras de acesso

09 Cereais
10 Oleginosas & óleos
12 Bebidas
15 Cimento
16 Minérios & minerais
19 Sabão
20 Plásticos
22 madeira
23 Algodão & texteis
25 Minerais preciosos
26 Ferro & aço
28 Telecomunicações
30 Serviços empresariais
alto 01 Carne
02 Aves
04 leite
11 Açucar
21 Couro
27 Serviços de Transporte
Fonte: Preparado pelos autores com base em perfis sectoriais no anexo A.

43O modo 4, que abrange a presença de pessoas naturais Angolanas que prestam serviços em países estrangeiros,
desempenha um papel limitado para uma estratégia de diversificação de exportações e depende essencialmente das
políticas de permissão de trabalho de outros países.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 51


4.1.7 Potencial de atracção de Investimento

O potencial de um sector para atrair investimentos depende de factores horizontais (como as


condições macroeconómicas, o ambiente empresarial geral, qualquer regime de incentivo potencial,
a possibilidade de repatriar lucros, etc.), bem como os específicos do sector (incluindo o nível actual
de investimentos e “saturação”, o desenvolvimento projectado do mercado interno ou mercados
de exportação existentes, condições de custo no sector, disponibilidade de matérias-primas e outros
insumos, disponibilidade de recursos humanos, etc.). Considerando que os factores horizontais
afectam a atração de investimentos de todos os sectores, os factores específicos do sector ajudam
a diferenciar sectores; os perfis do sector no anexo A abordam o potencial de investimento
específico por sector, que em muitos casos depende das restrições sectoriais (ver secção 4.1.4).

Em geral, os sectores podem ser agrupados em três grandes categorias: o primeiro inclui aqueles
que foram afectados pelo subinvestimento ou negligência, ou são novos sectores e, portanto,
precisam de investimentos consideráveis para torná-los exportadores competitivos. O potencial
real para atrair o investimento privado, em seguida, depende da gravidade dos constrangimentos
que afectam o sector. Este grupo inclui a maioria dos sectores agrícolas, incluindo café, fertilizantes,
sabão e serviços de viagens e turismo. O segundo grupo compreende os sectores em que
investimentos consideráveis foram feitos (ou pelo menos planeados) recentemente, em alguns
casos, até mesmo em investimentos excessivos, e onde o potencial de investimento adicional em
curto prazo é limitado. Esses sectores incluem cimento, açúcar e algodão e vestuário. O terceiro
grupo são sectores estabelecidos, na maioria dos casos que já estão exportando, onde o
investimento tem sido uma actividade contínua e onde investimentos adicionais podem levar à
expansão das exportações a curto prazo. Este grupo inclui bebidas, vidro, madeira, pescas, bem
como os sectores de serviços considerados.

Em geral, a descoberta da análise do sector mostra que apenas alguns sectores têm baixo potencial
de investimento (público ou privado), incluindo investimentos orientados para exportação; Estes
são cereais e seus derivados, açúcar, couro e seus derivados e produtos minerais de valor agregado
e jóias.

4.1.8 Potencial para Beneficiar da produção Actual

Um conceito teórico proeminente abordando a probabilidade e facilidade de diversificação em


novas exportações é o “Espaço de produtos” (Hidalgo et al., 2007). O Espaço do Produto visualiza,
para o universo dos produtos (geralmente com base no nível de 4 dígitos do HS), quão
semelhantes/diferentes são os requisitos de conhecimento para sua produção. Como os países são
susceptíveis de exportar produtos que são semelhantes, exigem, respectivamente, conhecimento
similar (que são, portanto, exportações existentes “próximas”), o Espaço de produtos mostra quais
novos produtos têm maior propensão para serem novas exportações do que outros, que são mais
“distantes” da produção e exportação actual. Em outras palavras, “num país- espaço de produto
retrata o que este actualmente pode fazer, quais produtos estão próximos e o país pode começar
de forma viável e, consequentemente, pode ajudar a determinar os caminhos da expansão
industrial.”44

Para Angola, uma aplicação padrão do conceito de espaço de produtos não é apropriada porque as
exportações actuais estão tão isoladas em todo o espaço do produto que os grupos de produtos
“próximos” que poderiam ser a base para a diversificação de exportação simplesmente não existem.

44http://atlas.cid.harvard.edu/about/glossary [acedido em 12 de Julho de 2017]. Uma explicação detalhada do Espaço


do Produto está contida em Hausmann et al. (2014).

PÁGINA 52 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Isso é ilustrado na Figura 26, em que cada ponto representa um grupo de produtos no nível de 4
dígitos do HS e as linhas entre os pontos indicam a “proximidade” das exportações. Os grupos de
produtos em cinza não são exportados por Angola. A Figura 26 visualiza assim a natureza isolada
da exportação actual: com excepção de alguns metais escarpados, não existe nenhum par de
exportações actuais que estariam directamente ligadas entre si. Isso também significa que
repercurssões positivas em termos de aprendizagem ou efeitos de abertura de mercado são
limitados.

Figura 26: Espaço de produtos de exportações Angolanas, 2015

Productos
petrolíferos

Máquinas e
aparelhos

Productos de
Ferro e aço
Productos de m adeira

Sucata de
m etais

Diam antes

Rochas
ornam entais

Productos
de pesca

Fonte: Elaborado pelos autores com base no Atlas de Complexidade Económica


http://atlas.cid.harvard.edu/explore/product_space/export/ago/all/show/2015/ [accessed 12 July 2017].

Nessas condições, a diversificação em novos produtos de exportação seria classificada, por


definição, como muito “distante” de uma perspectiva do Espaço de Produtos, ou seja, seria difícil
de alcançar. Isso é ilustrado na Figura 27, onde a distância (conforme mostrado pelo eixo
horizontal) de qualquer grupo de produtos para as exportações actuais é maior que 0,99, sendo 1 a
distância máxima possível. O grupo de produtos de exportação “mais próximo” seria assim peixes
e crustáceos (que está localizado no extremo esquerdo do espectro), com alguns produtos neste
grupo já a serem exportados.

Embora uma aplicação rigorosa do conceito de espaço de produtos para Angola conduza à
descoberta exagerada de que o potencial de diversificação de exportação é mínimo, uma aplicação
menos rígida do conceito foi aplicada. Isso leva a idéia básica (que é mais fácil exportar novos
produtos que são semelhantes, exigem competências e conhecimentos similares aos que já estão
sendo exportados), mas depende de um julgamento qualitativo derivado do papel histórico que um
sector tem desempenhado em Angola bem como o nível de experiência de exportação no sector
ou sectores intimamente relacionados.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 53


Figura 27: “Distância” de novos produtos de exportação para Angola em comparação com as actuais
exportações, 2015

Diam antes

Outros productos

Com bustíveis minerais

Sal, cim ento,


rochas ornam entais

Peixes e crustáceos

Animal Veget. Food- Mineral Plastics & Leather Wood Stone & Machinery
Chemical Textiles Footwear Metals Transport Misc
products products stuffs products rubber products products glass electrical

Nota: as exportações actuais são rotuladas


Fonte: Elaborado pelos autores com base no Atlas de Complexidade Económica,
http://atlas.cid.harvard.edu/explore/pie_scatter/export/ago/all/show/2015/ [accessed 12 July 2017].

Aplicar isso aos sectores pesquisados mostra, em primeiro lugar, que os vínculos actuais entre os
sectores estão na maior parte subdesenvolvidos. A principal expressão disso é a falta de cadeias de
valor domésticas e o fcato de que a maioria dos insumos, em todos os sectores, é importada. Mas,
em segundo lugar, para muitos sectores, as cadeias de valor doméstico e as fortes ligações com
outros sectores poderiam ser construídas - isso exige uma abordagem integrada de cadeia de valor
para a diversificação das exportações (que já está incorporada na definição de sectores para este
estudo). Em terceiro lugar, dadas as limitadas exportações não petrolíferas, a maioria dos sectores
é considerada como “distante” – dos 30 sectores pesquisados, apenas pescas, bebidas, pedras
ornamentais, cimento, minérios e minerais, produtos petrolíferos de valor agregado, madeira e
vidro estão incluídos entre aqueles onde há experiência suficiente nos mercados para facilitar a
expansão das exportações. Adicionando padrões tradicionais de produção e exportação, alguns
sectores agrícolas, incluindo o café, poderiam ser adicionados, enquanto o restante dos sectores
enfrentaria uma curva de aprendizado íngreme ao entrar no negócio de exportação.

4.1.9 Avaliação Resumida do Potencial de Diversificação das Exportações

Os vários factores que afectam os resultados das exportações abordados nas secções anteriores
foram utilizados, aplicando a metodologia explicada no Anexo B, para classificar os 30 sectores
definidos de acordo com seu potencial de exportação. Isto está resumido na Tabela 9. Todos os
detalhes para a avaliação de cada sector são fornecidos nos perfis sectorais no Anexo A.

PÁGINA 54 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


A Tabela 9 resume a classificação para cada sector e cada critério considerado na avaliação do
potencial de exportação, usando uma abordagem de semáforo para cada critério, bem como em
geral, para indicar alto, intermediário e baixo potencial. A avaliação de resumo está na coluna
“potencial de exportação geral”, que aplica tanto a abordagem do semáforo quanto apresenta uma
pontuação de potencial de exportação, variando de 0 a 2. No entanto, ao invés da pontuação
absoluta de um sector, que é naturalmente influenciado por um número das avaliações qualitativas
e, portanto, necessárias como parte do exercício, a classificação dos sectores é a informação mais
importante, porque todos os sectores foram avaliados com os mesmos critérios.

A partir da tabela, pode-se observar que os constrangimentos para o desenvolvimento das


exportações fora do petróleo bruto e dos diamantes em bruto são altas, impactando o potencial de
exportação dos sectores. Apenas um sector, bebidas, tem uma pontuação total que indica o
potencial de exportação “alto”. No entanto, vários outros sectores com uma pontuação que os
coloca no grupo “potencial de exportação médio” realmente perdem o limite de corte de forma
restritiva e, portanto, também têm um potencial considerável. Estes incluem vidro, produtos
pesqueiros, pedras ornamentais, cimento, madeira e seus derivados, e viagens e turismo. No outro
extremo do espectro, para nove sectores, a maioria na agricultura, o potencial de exportação foi
avaliado como baixo.

A Tabela 9 também mostra os maiores desafios que são: do lado da oferta. Para não menos de 14
sectores, a gravidade dos constrangimentos-chave foi classificada como alta, e o desempenho de
exportação passado e actual foi baixo. 15 Sectores apresentam baixas taxas em termos de RCA. Do
lado positivo, tem havido desenvolvimentos encorajadores em relação à produção em muitos
sectores, e as medidas para superar os principais constrangimentos enfrentados estão prontamente
disponíveis e, em muitos casos, já estão sendo implementadas, em um grande número de sectores.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 55


Tabela 9: Resumo do Potencial de Exportação do Sector
Critério A. Lado da Oferta B. Lado da Procura Potencial C. Potencial Potencial
1. Potencial Concorrencial das Exportações 2. Potential para Ultrapassar os Obstáculos 3. Nível e 4. Barreiras à para Exportar para Atrair Exportador -
Chave Estabilidade Entrada no (em Term os Investim ento Horizonte
Desempenh Vantagem Produção/ Classificação Obstáculos Medidas para Classificação da procura Mercado Gerais) e Beneficiar Tem poral
o das Comparativa ouptut Chave Ultrapassar os Regional/ da Produção
Exportações Revelada (VCR) Obstáculos Internacional Actual
Sector Chave
12 Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas alto 6 alto 2.00 médio alto 1.50 médio médio 1.38 alto curto prazo
24 V idro médio 0 médio 0.67 médio alto 1.50 médio baixo 1.29 médio curto prazo
02 Produtos de Pesca médio 4 médio 1.00 médio médio 1.00 alto médio 1.25 alto curto prazo
14 Rochas Ornam entais médio 4 médio 1.00 médio médio 1.00 médio baixo 1.25 médio médio prazo
15 Cim ento alto 8 alto 2.00 médio médio 1.00 médio médio 1.25 médio curto prazo
22 Madeira e seus Derivados alto 6 alto 2.00 médio médio 1.00 médio médio 1.25 alto curto prazo
29 V iagens e Serviços de Turism o médio 6 médio 1.33 médio baixo 0.50 alto médio 1.21 médio médio prazo
13 Sal baixo 1 baixo 0.00 médio alto 1.50 médio baixo 1.13 médio longo prazo
20 Plástico e seus Derivados médio 4 médio 1.00 médio alto 1.50 médio médio 1.13 médio médio prazo
05 Mel baixo 3 médio 0.67 médio alto 1.50 médio médio 1.04 médio médio prazo
08 Café médio 2 médio 0.67 alto médio 0.50 alto médio 1.04 médio médio prazo
17 Produtos Petrolíferos e seus Derivados médio 6 baixo 1.00 alto baixo 0.00 médio baixo 1.00 médio longo prazo
26 Ferro, Aço e Seus Derivados médio 4 médio 1.00 médio médio 1.00 médio médio 1.00 médio médio prazo
23 Algodão, Têxteis e Confecções (b) baixo 2 médio 0.33 médio alto 1.50 médio médio 0.96 médio longo prazo
28 Serviços de Telecom unicações médio 2 médio 0.67 médio médio 1.00 médio médio 0.92 médio curto prazo
06 V egetais e Preparados de V egetais médio 4 médio 1.00 alto médio 0.50 médio médio 0.88 médio médio prazo
19 Sabão (b) médio 2 baixo 0.33 alto alto 1.00 médio médio 0.83 médio médio prazo
30 Serviços Prestados às Em presas (incluindo a alto 5 médio 1.33 alto baixo 0.00 médio médio 0.83 médio médio prazo
indústria petrolífera)
07 Fruta e Preparados de Fruta baixo 4 médio 0.67 alto médio 0.50 médio médio 0.79 médio médio prazo
16 Minérios baixo 1 baixo 0.00 médio médio 1.00 médio médio 0.75 médio longo prazo
10 Oleaginosas e Óleos vegetais (b) baixo 2 médio 0.33 alto médio 0.50 médio médio 0.71 médio médio prazo
02 Aves baixo 3 baixo 0.33 médio médio 1.00 médio alto 0.58 médio longo prazo
09 Cereais e Seus Derivados (a) baixo 4 baixo 0.33 alto baixo 0.00 médio médio 0.58 baixo médio prazo
11 Açucar e Confeitaria (b) baixo 2 médio 0.33 médio médio 1.00 médio alto 0.58 médio longo prazo
25 Minerais preciosos de valor agregado (b) baixo 2 baixo 0.00 alto baixo 0.00 médio médio 0.50 médio longo prazo
04 Leite e Produtos Lácteos (b) baixo 2 baixo 0.00 alto médio 0.50 médio alto 0.38 médio longo prazo
27 Serviços de Tranporte médio 1 baixo 0.33 alto baixo 0.00 médio alto 0.33 baixo médio prazo
01 Carne e seus Derivados baixo 1 baixo 0.00 alto baixo 0.00 médio alto 0.25 médio longo prazo
18 Fertilizantes (b) baixo 2 baixo 0.00 alto baixo 0.00 baixo médio 0.25 médio longo prazo
21 Couro e seus Derivados (b) baixo 2 baixo 0.00 alto baixo 0.00 médio alto 0.25 médio longo prazo
Notas:
(a) As pontuações para o desempenho das exportações foram ajustadas com base nas informações do perfil do sector (estatísticas geradas pelas reexportações em vez do desempenho
genuíno do sector doméstico).
(b) As pontuações para o desempenho de exportação e RCA foram ajustadas com base em informações de perfil do sector (estatísticas impulsionadas por reexportações em vez de
desempenho genuíno do sector doméstico).
Fonte: análise dos autores, ver Anexo A.

PÁGINA 56 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


4.2 Sectores Prioritários e Produtos
Como o número de sectores com potencial de exportação médio ou alto é relativamente alto, é
necessária uma maior priorização e selecção dos sectores que devem ser auxiliados através de
planos de acção direccionados. Para isso, de acordo com a metodologia (Anexo B), os seguintes
critérios foram aplicados:
▪ potencial de criação de emprego;
▪ potencial para estabelecer vínculos com as MPMEs e o nível de adição de valor;
▪ a medida em que os sectores são priorizados nas políticas governamentais (para garantir a
coerência das políticas); e
▪ o nível de apoio (orientado para a exportação) do qual o sector já beneficia, a fim de evitar
a duplicação de esforços.

As seguintes sub-seções abordam esses factores individualmente, antes de se apresentar um resumo


da priorização dos sectores para a estratégia e acções de diversificação de exportações do governo.

4.2.1 Potencial de Emprego

Para avaliar o potencial de emprego orientado para a exportação nos sectores considerados, são
levados em conta dois factores: o actual nível de emprego, bem como o potencial de geração de
emprego através das exportações. No que diz respeito ao anterior, as estatísticas oficiais apenas
fornecem dados agregados que não estão alinhados aos sectores mais específicos, conforme
definido neste estudo. No entanto, estas estatísticas oficiais permitem desenhar algumas
descobertas iniciais (Tabela 10). Em primeiro lugar, o sector agrícola e florestal continua sendo, de
longe, o maior sector em termos de emprego, proporcionando quase 3 milhões de trabalhadores
Angolanos. Nota-se também que o emprego neste sector continuou a aumentar nos últimos anos
(em média 2,1% ao ano no período de 2010 a 2016), embora esse crescimento tenha sido mais
lento do que o crescimento total no emprego (4,7% sobre o mesmo período), o que resultou em
uma redução da participação da agricultura no emprego total (de 52% para 44,9%). No entanto, é
claro que a importância dos subsectores agrícolas em qualquer estratégia de diversificação das
exportações não pode ser descartada. Em segundo lugar, com a maioria dos sectores neste estudo
pertencentes ao sector manufatureiro, é importante notar que este é um sector pequeno em termos
de emprego - representando apenas 2% do emprego total em 2016, mas que cresceu acima da
média.

O segundo factor a considerar é o nível de emprego que se espera que seja gerado pelo aumento
das exportações. Aqui, deve-se considerar que a mudança de um sector de um mercado doméstico
orientado para a exportação envolve frequentemente a introdução de novas tecnologias de
produção, que tendem a ser mais intensivas em capital e, portanto, exigem relativamente menos
trabalhadores. Em outras palavras, a expansão da exportação de um sector nem sempre vai de
mãos dadas com a criação de emprego considerável. Ao mesmo tempo, os efeitos indirectos da
geração de emprego podem superar os efeitos directos, como seria o caso, por exemplo, para a
produção doméstica de fertilizantes, que empregaria poucos trabalhadores directamente (menos de
1.000), mas aumentando a disponibilidade de fertilizantes de baixo custo pode ter uma efeito
importante sobre o emprego nos sectores agrícolas.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 57


Tabela 10: Angola – emprego por sector, 2010 e 2016
2010 2016
personas % do total personas % do total CAGR 2010-16
Agricult/Pecuá/ Florestas 2,621,107 52.0% 2,977,734 44.9% 2.1%
Pescas 33,447 0.7% 45,782 0.7% 5.4%
Petróleo e Gás 64,559 1.3% 83,017 1.3% 4.3%
Diamantes e outros 22,904 0.5% 86,127 1.3% 24.7%
Indústria transformadora 59,419 1.2% 131,336 2.0% 14.1%
Electricidade 11,646 0.2% 206,418 3.1% 61.5%
Construção 320,191 6.3% 428,882 6.5% 5.0%
Comércio 949,645 18.8% 1,231,759 18.6% 4.4%
Transportes/ armazena 81,377 1.6% 236,710 3.6% 19.5%
Correios/ telecomunicações 4,574 0.1% 14,509 0.2% 21.2%
Bancos e Seguros 14,138 0.3% 23,357 0.4% 8.7%
Estado 420,832 8.3% 467,135 7.0% 1.8%
Serviços imobiliários 424 0.0% 562 0.0% 4.8%
Outros serviços 438,841 8.7% 699,553 10.5% 8.1%
Emprego total 5,043,104 100.0% 6,632,881 100.0% 4.7%
Fonte: Cálculos dos autores com base nas estatísticas do INE e do governo

Os perfis sectoriais no anexo A tentam estimar o emprego actual por sector e os efeitos de criação
de emprego (directos e indirectos) que resultariam de exportações mais elevadas. A Tabela 11
fornece um resumo; uma vez que, em muitos casos, os dados quantitativos não estão disponíveis,
a avaliação resumida apenas distingue o emprego baixo, médio e alto ou a criação de emprego, com
“baixo”, aproximadamente equivalente a menos de 10 mil empregos; “médio” entre 10.000 e
50.000 empregos, e “alto” mais de 50.000. Como pode ser visto na tabela, cerca de metade dos
sectores pesquisados, o potencial de criação de emprego é avaliado como médio ou alto, com
sectores agrícolas - frutas, vegetais e café, bem como a cadeia de valor do algodão - com maior
potencial (coluna esquerda) para criação de emprego orientada para a exportação. Por outro lado,
para 17 sectores, a criação de emprego é considerada como limitada (coluna direita), quer porque
o potencial de expansão das exportações como tal é pequeno ou porque as exportações expandidas
provavelmente provocariam de padrões de produção intensivos em capital que requerem
relativamente poucos trabalhadores.

Tabela 11: Emprego actual versus potencial de criação de emprego orientado para exportação em sectores
Angolanos seleccionados
Potencial de geração de emprego
Alto médio baixo
Alto 06 Vegetais & preparados 12 Bebidas 03 Produtos pesqueiros
07 Frutas & preparados 29 Viagens & turismo 27 Serviços de Transporte
médio 08 Café 05 Mel 09 Cereais
10 Oleaginosas &óleo
22 madeira
Baixo 23 Algodão & texteis 11 Açucar & confeitaria 01 Carne & seus derivados
16 Minério & minerais 02 Aves
Emprego atual

18 Fertilizantes 04 Leite & derivados


26 Ferro & Aço 13 Sal
14 Pedras Ornamentais
15 Cimento
17 Prdutos petrolíferos
19 Sabão
20 Plástico
21 Couro & derivados
24 Vidro
25 Minerais precisoso e
derivados
28 Telecomunicações
30 Serviços empresariais
Fonte: Preparado pelos autores com base em perfis sectoriais no anexo A.

PÁGINA 58 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


4.2.2 Ligações com as MPMEs e Adição de Valor

Os sectores que têm potencial de desenvolvimento, as ligações com outras empresas, em particular
as MPMEs, são priorizados devido aos efeitos de repercurssões positivas que geram. Do mesmo
modo, as exportações com um alto nível de adição de valor são consideradas particularmente
benéficas devido ao nível de câmbio líquido que geram.

No que diz respeito às ligações com as MPMEs, estas estão actualmente subdesenvolvidas em
praticamente todos os sectores, principalmente devido ao facto de que os sectores exportadores
operam principalmente isoladamente para o resto da economia doméstica, com todos os insumos
importados (como já descrito acima, veja, por exemplo, a secção 4.1. 8). Isso também significa que
o potencial de adição de valor do sector de exportação está actualmente sub-utilizado.

O potencial de adição de valor é maior para sectores que, com base em matérias-primas disponíveis
no país, podem exportar produtos de valor agregado. O alto potencial é visto particularmente no
sector pesqueiro, produtos petrolíferos de valor agregado, derivados de couro e madeira, derivados
de vidro, minerais de valor agregado e viagens e turismo. Para alguns desses sectores - como a
pesca ou a madeira -, o desafio é desenvolver produtos exportados de valor agregado (ou seja, o
desenvolvimento das operações a jusante), enquanto outros - como o turismo - precisam
estabelecer vínculos com fornecedores nacionais (integração a montante) ampliar a adição de valor.

No que diz respeito aos vínculos com as MPMEs, estas são mais fortes nos sectores agrícolas em
que tanto a produção (pequena escala) quanto a fabricação (produção de produtos alimentares)
pode ser administrada por empresas relativamente pequenas, com necessidades de investimento
limitadas e níveis de sofisticação do produto. O sabão, produtos plásticos, couro e têxteis criam
oportunidades similares para as MPMEs. Por outro lado, o alcance das MPMEs nos sectores de
cimento e mineração é particularmente limitado.

4.2.3 Priorização Governamental

A fim de promover a coerência das políticas, os sectores que são priorizados pelo Governo em
outras políticas e estratégias devem ser considerados com especial atenção. Os sectores prioritários
do governo foram, portanto, identificados com base no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-
2017, Linhas Mestras, o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de
Importações, PRODESI; Ministério da Economia e do Planeamento 2017), e os Programas Dirigidos
existentes e planeados (ver secção 5.1). De acordo com esses documentos, a lista dos sectores
prioritários é longa, mas muitos sectores são priorizados no contexto da substituição de
importações em vez da promoção de exportação. A lista de sectores que são priorizados com um
foco de exportação é comparativamente curta e inclui pesca, café, sal, pedras ornamentais, produtos
petrolíferos de valor agregado e produtos florestais - ou seja, principalmente os sectores que já
estão a exportar.

Isso cria uma oportunidade para a estratégia de diversificação das exportações para complementar
as medidas existentes para outros sectores prioritários, que até agora foram enquadrados no
contexto do atendimento ao mercado interno, com apoio orientado para a exportação (desde que,
é claro, que o potencial de exportação tenha sido determinado). Na verdade, este é o caso de vários
sectores pesquisados, incluindo alguns produtos agrícolas (como frutas e vegetais), bem como os
sectores de bebidas, vidro, cimento e serviços.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 59


4.2.4 Risco de Duplicação

Finalmente, os sectores que já beneficiam do apoio real do governo (em vez de “apenas” como
sectores prioritários em documentos de políticas), doadores ou que são cobertos por projectos de
investimento do sector privado, foram revistos para determinar qualquer risco de duplicação ou
potencial de complementaridades com projectos existentes ou planeados. Onde o apoio já cobre
medidas ou metas relacionadas à exportação, nenhum plano de acção do sector será preparado.
Isso não significa que esses sectores devem ser excluídos da estratégia de diversificação das
exportações, mas apenas que não é necessário definir planos de acção específicos para estes, já que
já estão sendo feitos por outras iniciativas - a implementação dessas outras iniciativas, no entanto,
precisará de ser monitorado como parte da estratégia de diversificação de exportação.

Apenas relativamente poucos sectores foram excluídos da preparação do plano de acção com base
neste critério. Especificamente, produtos da pesca, sal, madeira e seus derivados e pedras
ornamentais já estão sendo cobertos com apoio específico para exportação do projecto ACOM
assistido pela União Européia.45 Os sectores de produtos derivados do mel, café, açúcar e valor
agregado também estão sendo apoiados por vários projectos governamentais, doadores e do sector
privado, assim como os sectores de serviços de transporte e telecomunicações.

4.2.5 Resumo: Priorização dos sectores para Preparação Sectorial de Planos de


Acção de Exportação

O resumo da análise do potencial de exportação e a avaliação dos critérios de priorização permitem


agrupar sectores em três categorias (Tabela 12). Isso aponta para seis sectores a serem selecionados
para análise aprofundada e elaboração de planos de acção de exportação. Estes são os seguintes:
▪ Bebidas;
▪ Serviços de viagens e turismo;
▪ Frascos de vidro/vidro;
▪ Cimento;
▪ Produtos hortícolas e vegetais; e
▪ Frutas e preparados de frutas.

45O projecto ACOM fornece assistência técnica ao Governo de Angola nas áreas de política comercial e acordos
internacionais, logística e promoção comercial em três produtos não petrolíferos (peixes e frutos do mar, pedras de
madeira e dimensões).

PÁGINA 60 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Tabela 12: Resumo da priorização do sector para a preparação do plano de acção
Critério Potencial Potencial das Potencial em Alinhamento Duplo potencial: Prioridade do
exportador exportações termos de com os planos Existência de sector para ser
(em term os para gerar efeitos/ligações e prioridades projectos recentes, a seleccionado para
gerais) emprego (mais-valias e do Governo decorrer ou ser alvo de um
Sector ligações com planeados plano de acção
12 Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas 1.38 médio PMEs)
alto médio risco limitado alto
29 V iagens e Serviços de Turism o 1.21 médio alto médio risco médio alto
24 V idro 1.29 baixo alto médio risco médio alto
15 Cim ento 1.25 baixo médio médio risco limitado alto
06 V egetais e Preparados de V egetais 0.88 alto alto médio risco limitado alto
07 Fruta e Preparados de Fruta 0.79 alto alto médio risco limitado alto
26 Ferro, Aço e Seus Derivados 1.00 médio médio alto risco médio médio
23 Algodão, Têxteis e Confecções (b) 0.96 alto médio médio risco médio médio
20 Plástico e seus Derivados 1.13 baixo médio baixo risco limitado médio
19 Sabão (b) 0.83 baixo alto médio risco limitado médio
10 Oleaginosas e Óleos vegetais (b) 0.71 médio médio médio risco limitado médio
30 Serviços Prestados às Em presas (incluindo a 0.83 baixo médio baixo risco limitado baixo
indústria petrolífera)
16 Minérios 0.75 médio baixo baixo risco limitado baixo
03 Produtos de Pesca 1.25 médio alto alto risco elevado baixo
14 Rochas Ornam entais 1.25 baixo baixo alto risco elevado baixo
22 Madeira e seus Derivados 1.25 médio alto alto risco elevado baixo
13 Sal 1.13 baixo médio alto risco elevado baixo
05 Mel 1.04 médio médio médio risco elevado baixo
08 Café 1.04 alto médio alto risco elevado baixo
17 Produtos Petrolíferos e seus Derivados 1.00 baixo médio alto risco elevado baixo
28 Serviços de Telecom unicações 0.92 baixo médio médio risco elevado baixo
02 Aves 0.58 baixo médio médio risco médio baixo
09 Cereais e Seus Derivados (a) 0.58 médio baixo médio risco médio baixo
11 Açucar e Confeitaria (b) 0.58 médio médio médio risco elevado baixo
25 Minerais preciosos de valor agregado (b) 0.50 baixo médio baixo risco limitado baixo
04 Leite e Produtos Lácteos (b) 0.38 baixo médio médio risco limitado baixo
27 Serviços de Tranporte 0.33 baixo médio médio risco elevado baixo
01 Carne e seus Derivados 0.25 baixo médio médio risco médio baixo
18 Fertilizantes (b) 0.25 médio médio médio risco médio baixo
21 Couro e seus Derivados (b) 0.25 baixo alto baixo risco limitado baixo
Fonte: Análise dos autores, ver Anexo A.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 61


5 A POLÍTICA E O QUADRO INSTITUCIONAL PARA
DIVERFICAÇÃO DE EXPORTAÇÃO EM ANGOLA
A diversificação das exportações toca em muitos sectores da economia. Por conseguinte, é
importante - a fim de garantir coerência - localizá-lo no quadro mais amplo das estratégias e
políticas económicas. Além disso, o processo de implementação da diversificação das exportações
de Angola exige tanto uma estrutura institucional adequada e autorizada responsável pela sua gestão,
um mecanismo eficaz para a coordenação das várias agências governamentais envolvidas no
processo e uma comunicação efectiva com os actores económicos, a academia e sociedade civil e
apoio político de alto nível.

5.1 Políticas e Estratégias


Actualmente, Angola possui um conjunto de políticas e estratégias relacionadas à diversificação das
exportações. Estas incluem Angola 2025, Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, Plano
de Desenvolvimento Nacional 2018-2022 e o Plano de Desenvolvimento a Médio Prazo para o
Sector Agrícola 2013-2017, Estratégia Nacional de Desenvolvimento de Exportações de Angola
(EDEXPORTA) 2015-2020) e as directrizes do governo para a definição de uma estratégia de saída
da crise económica derivada da queda do preço do petróleo nos mercados internacionais em 2016
(Linhas Mestras para a Definição de Estratégia para a Saída da Cruzada da Queda do Preço do
Petróleo no Mercado Internacional 2016). Mais recentemente, vários planos e estratégias foram
desenvolvidos: o Presidente decretou um Plano Intercalar (Outubro de 2017 a Março de 2018) de
Medidas Políticas e Acções para Melhorar a Situação Económica,46 o Ministério da Economia e
Planeamento desenvolveu um Programa de Apoio à Produção, Diversificação e Substituição de
Importação, e o Governo desenvolveu um Programa de Estabilização Macroeconómica 2017-2018.
Embora seja importante ter em mente esse espectro de políticas no projecto de estratégia de
exportação, é crucial garantir a consistência e as complementaridades entre eles. Algumas das
principais características desses instrumentos de política são as seguintes:

▪ Angola 2025 (MPDT 2007): este documento apresenta a estratégia de desenvolvimento a longo
prazo de Angola. Uma das suas políticas económicas globais é a Política de Apoio às
Exportações sob o tema “O Mercado Descobre Angola”. Algumas das principais prioridades
definidas incluem a necessidade de Angola identificar os mercados de exportação alvo para os
seus produtos, desenvolver uma melhor compreensão das principais tendências do mercado e
concorrentes e elaborar as estratégias sectoriais correspondentes. A Agenda também sugere a
criação de uma única entidade responsável pelo acompanhamento da estratégia de
internacionalização económica de Angola.

▪ Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022 (Governo de Angola 2018): como se afirma
no sumário exexutivo do mesmo, o PDN “constitui o segundo exercício de planeamento de
médio prazo realizado no âmbito do Sistema Nacional de Planeamento em vigor, na sequência
do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 2013-2017, e visa a promoção do
desenvolvimento socioeconómico e territorial do País” (Governo de Angola 2018: 10). O PDN
apresenta 6 eixos principais de desenvolvimento que se pretende alcançar até 2022: (1)
Desenvolvimento Humano e Bem-estar; (2) Desenvolvimento Económico Sustentável,
Diversificado e Inclusivo; (3) Infra-estruturas Necessárias ao Desenvolvimento; (4)
Consolidação da Paz, Reforço do Estado Democrático e de Direito, Boa Governação, Reforma

Plano Intercalar (Outubro 2017 a Março 2018). Medidas de Política e Acções para Melhorar a Situação Económica e Social Actual,
46

Decreto Presidencial No. 258/17 de 27 de Outubro de 2017.

PÁGINA 62 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


do Estado e Descentralização; (5) Desenvolvimento Harmonioso do Território; (6) Garantia
da Estabilidade e Integridade Territorial de Angola e Reforço do seu papel no contexto
Internacional e Regional. No segundo eixo, consta a Política de Fomento da Produção,
Substituição de Importações e Diversificação das Exportações que tem com um dos objectivos
de promover a produção das fileiras prioritárias aumentar as suas respectivas exportações em
diversidade e quantidade. Os produtos e fileiras prioritárias identificados no plano são:
“banana, café, hortícolas e tubérculos (mandioca, batata), leguminosas e oleaginosas, mel,
palmar, produtos da pesca (peixe, marisco e crustáceos) e derivados (farinha e óleo de peixe),
bebidas alcoólicas e não alcoólicas, minério de ferro, ouro, quartzo, madeiras, rochas
ornamentais, têxteis, cimento e outros materiais de construção, sal iodado, produtos da
indústria petroquímica, serviços e telecomunicações, turismo” (Governo de Angola 2018: 158).
Uma das metas estabelecidas é o aumento em 50% em relação ao ano de 2017 do valor de
exportação em USD até 2022. O PDN estabelece ainda que haverá um novo programa de
Angola Investe, de nominado Programa Angola Investe Mais (PAI+) que vai ajudar no
financiamento dos projectos que concorrem para a substituição das importações e promoção
das exportações (Governo de Angola 2018: 159).

▪ Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 (MPDT 2012): No abrangente Plano Nacional de


Desenvolvimento, o Governo estabeleceu a Política de Promoção do Crescimento Económico,
Aumento de Emprego e Diversificação Económica com base nas prioridades a longo prazo do
país estabelecidas até 2025; Neste contexto, as principais acções estratégicas definidas para
facilitar o desenvolvimento do sector exportador Angolano são a diplomacia económica, a
promoção da imagem de Angola e a marca de produtos fabricados em Angola fora do país e a
atração de empresas estrangeiras em Angola através de joint ventures.

▪ Plano de Desenvolvimento do Médio Prazo do Sector Agrário 2013-2017 (Ministério da Agricultura


2012): O Plano de Desenvolvimento de Médio Prazo de Angola para o Sector Agrário define
políticas e prioridades governamentais até o final de 2017. Uma das treze acções prioritárias
estabelecidas por esta estratégia é a promoção da agricultura rural e do agronegócio através de
investimentos públicos e privados (nacionais e internacionais) nas áreas de culturas alimentares
e culturas comerciais. Espera-se que a segurança alimentar seja reforçada através de culturas
alimentares prioritárias, como milho, mandioca, feijão, amendoim, arroz e batatas. As culturas
comerciais prioritárias definidas pela estratégia incluem algodão, café, frutas, carne e leite.

▪ Estratégia Nacional de Desenvolvimento das Exportações de Angola (EDEXPORTA), 2015-2020


(Ministério do Comércio 2014): A Estratégia Nacional de Desenvolvimento das Exportações
de Angola está focada no sector de exportação não-petrolífero. Esta apresenta a situação actual
das exportações não-petrolíferas e o que precisa ser feito até 2020 em termos de simplificação
dos mecanismos de comércio exterior, o quadro legal, incentivos fiscais e aduaneiros para
exportação, desenvolvimento de mecanismos de financiamento, competitividade e
internacionalização da base de exportação das empresas, aumento da capacidade de exportação
e promoção das exportações de serviços.

▪ Linhas Mestras para a Definição de uma Estratégia para a Saída da Crise Derivada da Queda do Preço da
Petróleo no Mercado Internacional (Governo de Angola 2016): Tendo em vista a queda acentuada
do preço internacional do petróleo e suas consequências negativas para Angola, O governo
identificou 11 categorias de produtos e 2 categorias de serviços com potencial para aumentar
as exportações não petrolíferas no curto prazo, a fim de “compensar” o impacto da redução
das receitas de exportação de petróleo. Esta directriz governamental também exortou os
ministérios a elaborarem planos sectoriais (Programas Dirigidos) para cada categoria
identificada de produtos e serviços.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 63


▪ Plano Intercalar (Outubro 2017 a Março 2018). Medidas de Política e Acções para Melhorar a Situação
Económica e Social Actual (Decreto Presidencial 258/17): Este plano provisório prevê um amplo
conjunto de medidas para abordar questões económicas e sociais ao longo de um período de
menos de meio ano. As medidas propostas no plano abordam distorções macroeconómicas e
medidas específicas voltadas para a diversificação das exportações, o investimento e a
substituição de importações; Muitas das medidas propostas contribuirão para melhorar a
situação actual. No entanto, o Plano também enfrenta alguns problemas. Primeiro, o nível de
ambição é extremamente elevado e, em relação a isso, o período de implementação é pouco
realista - por exemplo, uma série de medidas previstas exigirá consultas extensas,
respectivamente, aprovadas pelo Parlamento (por exemplo, o livro de tarifas).

▪ Programa de Apoio à Produção, à Diversificação das Exportações e Substituição de Importações – PRODESI


(Ministério da Economía e do Planeamiento 2017): Este programa visa fortalecer a economia
doméstica não petrolífera através da realização de cinco objectivos: diversificação baseada em
empresas existentes e cadeias de valor; criação de clusters; aumentar a entrada de moeda
estrangeira; atrair investimentos estrangeiros; e aumentar a segurança alimentar através de uma
melhor disponibilidade de produtos alimentares básicos. Com um horizonte de tempo de cinco
anos, o programa visa produzir resultados de curto prazo (dentro de um ano), a serem
alcançados através de um conjunto de medidas, incluindo a criação de uma comissão de
coordenação interministerial; melhoria dos serviços de apoio à exportação; apoio específico a
sectores de exportação selecionados (bananas, café, cereais, madeira, pedras ornamentaia,
confecções, cimento, frutos do mar e turismo); apoio a sectores selecionados que competem
com as importações; e a criação de incentivos fiscais e acesso preferencial a moeda estrangeira
para fins de diversificação de exportações e substituição de importações.

▪ Programa de Estabilização Macroeconómica 2017-2018 (República de Angola 2017): O Programa de


Estabilização Macroeconómica foi desenvolvido em seguimento ao Plano Intercalar com os
objectivos de consolidação fiscal e estabilização da taxa de câmbio e, nesta medida, inclui
operações fiscais, monetárias, cambiais taxas e medidas de sistemas financeiros. Em termos de
taxas de câmbio, o programa considera explicitamente o impacto na industrialização,
diversificação da economia e competitividade externa (pág. 28f) e visa reduzir a diferença entre
as taxas de câmbio oficiais e informais (p. 29) – espera-se que essas medidas, portanto, apoiem
a diversificação das exportações.

Geralmente, apesar da disponibilidade dos instrumentos de política acima mencionada, há alguns


pontos e inconsistências que vale a pena mencionar. Em primeiro lugar, em teoria, todos eles
parecem convergir para o objectivo geral do crescimento e desenvolvimento das exportações e, de
facto, têm um impacto potencial na Estratégia de Diversificação das Exportações.

Em segundo lugar, embora se espere que os principais planos e prioridades relacionados à


exportação sejam implementados a curto e médio prazos, nem sempre são consistentes e, portanto,
transmitem direções políticas conflitantes, embora sejam todas voltadas para aumentar o
crescimento e o desenvolvimento das exportações. Por exemplo, a lista prioritária de culturas
comerciais identificadas e priorizadas no Plano de Desenvolvimento de Médio Prazo do sector
agrícola (PDMPSA) 2013-2017 difere substancialmente da lista de produtos priorizados com
potencial de exportação identificado pelo documento de política de Linhas Mestras cujo prazo é
bastante mais curto. Embora o último tenha o mérito de ir além dos produtos agrícolas, sua lista
de prioridades não inclui o algodão, a carne e o leite, que são alguns dos produtos comerciais
prioritários do anterior.

PÁGINA 64 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Em terceiro lugar, há também inconsistências entre as directrizes estabelecidas pelas Linhas Mestras
e as acções de curto prazo necessárias para substituir as importações ou aumentar as exportações.
Por exemplo, uma das acções prioritárias claramente definidas pelas Linhas Mestras é que o
governo priorizaria a venda de moeda estrangeira para (i) as operações do sector de petróleo, (ii)
controlar a inflação (combustível e alimentos), (iii) aquisição de serviços de saúde, bens e serviços
educacionais e (iv) implementar operações estatais prioritárias (as que não podem ser adiadas47). As
Linhas Mestras não afirmam claramente, no entanto, como os programas do sector alvo (Programas
Dirigidos) seriam tratados em relação ao acesso à moeda estrangeira. Por outro lado, quase todos os
Programas Dirigidos prevêem o acesso prioritário à moeda estrangeira para que as respectivas
empresas do sector possam comprar matérias-primas importadas para suas operações para que
estas possam aumentar os níveis de produção ou exportação. No entanto, até o final de Março de
2017, o acesso a moeda estrangeira pelas empresas exportadoras ainda era um problema importante.
Por exemplo, o sector de vidro, um sub-sector do sector industrial, foi um dos melhores
exportadores da lista geral de Programas Dirigidos ao atingir 5.921 toneladas de exportações no
valor de US $ 3,4 milhões até Setembro de 2016 (226% do plano), mas ainda estava seriamente
limitado pelo acesso a moeda estrangeira. Outros produtos agrícolas prioritários das Linhas Mestras,
como o café, apresentaram menor desempenho de exportação em US$ 1,1 milhão (apenas 2,9%
do alvo).

Em quarto lugar, a equipa de estudo não pode identificar um Programa Dirigido para os sub-
sectores de serviços priorizados pelo governo nem para a lista de produtos identificados com
potencial de exportação no âmbito deste estudo, incluindo subsectores agrícolas (frutas e vegetais
e seus preparativos): De acordo com uma actualização preparada pelo MPDT no início de 2017,
os Programas Dirigidos para serviços selecionados e sectores de frutas e vegetais estavam em
preparação ou planeados (MPDT 2017). Apesar disso, o governo estabeleceu metas de cerca de
US$ 248 milhões de novos investimentos e 8.033 postos de trabalho adicionais a serem criados no
sector agrícola até o final de 2017 48 . Isso foi contrastado com uma significativa falta de
investimentos e criação de emprego limitada. Em Setembro de 2016, o sector agrícola recebeu
apenas 8,2% do plano inicial em grande parte porque nenhum novo investimento no sector havia
sido feito (pesca, outro sector prioritário, recebeu zero) (MPDT 2017: 11). Este sector é ainda
limitado pela contratação limitada da mão-de-obra estrangeira especializada muito necessária (32
de 114 trabalhadores planeados) (MPDT 2017: 10).

Além disso, as estratégias existentes de exportação - em particular a EDEXPORTA 49 –fazem


recomendações gerais, mas não possuem recomendações específicas e planos de acção para
produtos estratégicos de exportação.

Por último, mas não menos importante, embora, em particular, o PRODESI tem uma importante
secção sobre o papel do Estado no processo de diversificação económica, as várias políticas e
planos geralmente se mantiveram vagas na estrutura institucional para implementação ou, em
alternativa, levaram a uma proliferação de instituições. Mais recentemente, o Plano Intercalar
(secção 4.2.3 a) refere-se à necessidade de criar uma Unidade de Implementação Técnica para o
Programa de Promoção de Exportação e Substituição de Importação. No entanto, pode ser mais
eficiente atribuir uma instituição existente, como a AIPEX, para liderar a implementação de
qualquer estratégia de promoção de exportações. Como é explicado em mais detalhes abaixo, o que
é necessário não é uma nova instituição, mas sim um órgão multissectorial liderado por uma
entidade.

47 Estes não são especificados.


48 A definição do sector não pode ser identificada no relatório do governo (MPDT 2017).
49 O mesmo se aplica às estratégias desenvolvidas pelos pesquisadores para apoiar o governo, como a Estratégia para a

Diversificação da Economia Angolana (LCG/ISEG 2015).

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 65


5.2 Instituições
A diversificação das exportações é um processo que envolve muitas entidades (stakeholders) que
implica um forte compromisso e envolvimento de várias instituições que desempenham um papel
fundamental. As partes interessadas que devem desempenhar um papel incluem o governo, sector
privado, academia e sociedade civil em menor medida. Actualmente, as principais partes
interessadas que estão envolvidas nos processos de exportação de Angola estão divididas em três
grupos principais (as partes interessadas individuais são descritas de forma rsumida na Tabela 13):
▪ Instituições de definição de políticas (Governo): Ministérios do Comércio, Finanças,
Agricultura e Florestas, Indústria, Pescas e Mar, Recursos Minerais e Petróleo, Transportes,
Turismo, Economia e Planeamento, Trabalho, Telecomunicações e Tecnologia da Informação
e Banco Central (BNA);
▪ Administração de exportação e instituições directamente envolvidas no processo de
exportação: Administração Geral de Impostos (AGT), Conselho Nacional de Transportadores
(CNC), agentes alfandegários, Instituto Nacional de Padrões e Qualidade, Bromangol,50 bancos
comerciais e companhias de seguros; e
▪ Instituições de apoio à exportação: a Agência de Investimento Privado e Promoção de
Exportações (AIPEX), a Comunidade de Empresas Exportadoras e Internacionalizadas
Angolanas (CEEIA), a Câmara de Comércio e Indústria de Angola (CCIA), a Associação
Industrial de Angola (AIA) e associações sectoriais como a Associação dos Produtores de
Bebidas Angolanas (Associação das Indústrias de Bebidas de Angola, AIBA) e a Associação da
Indústria Angolana de Cimento (Associação da Indústria Cimenteira de Angola, AICA).

Em geral, essas partes interessadas lidam com questões de formulação de políticas comerciais,
negociações e implementação, acesso ao mercado e promoção de exportação, controlo de
qualidade e padrões e outras áreas necessárias para auxiliar as exportações angolanas a se tornarem
competitivas regional e internacionalmente. No entanto, existem alguns pontos importantes a
serem observados no quadro institucional Angolano para o comércio.

Em primeiro lugar, porque o comércio é uma questão política transversal, existem muitas
instituições de política comercial em Angola cujos mandatos e linhas de autoridade são semelhantes
e, portanto, criam espaço para a duplicação de esforços, ineficiências e fraca coordenação. As
políticas comerciais e industriais estão fortemente inter-relacionadas. A experiência regional (por
exemplo, na África do Sul, Namíbia, Botswana e Moçambique) mostra que essas duas áreas
funcionam melhor quando estão alojadas no mesmo ministério. Isso melhora a eficiência e eficácia
da formulação e implementação de políticas, bem como a coordenação. No entanto, em Angola,
os Ministérios do Comércio (MINCO) e a Indústria (MIND) são separados, o que coloca altos
riscos de sobreposição e ineficiência e impõe maiores desafios de coordenação. Além disso, as
linhas de autoridade na área do comércio são desnecessariamente dispersas. Por exemplo, o
Ministério de Economia e Planeamenteo (MEP) lidera questões de integração regional da SADC,
enquanto a MINCO lidera a OMC, bem como questões comerciais bilaterais diferentes da SADC.

Em segundo lugar, a coordenação intra-sectorial e intersectorial ainda é um enorme desafio. As


políticas comerciais, industriais e agrícolas estão fortemente inter-relacionadas e não podem ser
geridas em silos. Embora a coordenação institucional seja importante, Angola ainda não dispõe de
um mecanismo formal estabelecido de múltiplas partes interessadas para o diálogo político, o
acompanhamento e a coordenação geral dos programas em questões relacionadas com as

50O governo encerrou o contrato com Bromangol em Novembro de 2017; ver “Rescisão de contrato com Bromangol,
destaque da semana”, 10 de Novembro de 2017,
http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/economia/2017/10/45/Rescisao-contrato-com-Bromangol-destaque-
semana,d88f7311-6dbc-429e-9d87-86423d5d401b.html [acedido em 17 de Novembro de 2017].

PÁGINA 66 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


exportações. Actualmente, a coordenação institucional ocorre principalmente a nível político
através do Conselho de Ministros (Executivo). Isso é necessário e importante, mas não suficiente,
pois a maior parte do trabalho precisa ser realizada ao nível técnico.

Em terceiro lugar, as instituições académicas capazes de apoiar o desenvolvimento das exportações


fornecendo as evidências necessárias para as decisões políticas ainda não são exploradas ou
envolvidas adequadamente pelo governo e pelo sector privado nos processos de tomada de decisão
relacionados com as exportações de Angola.51

Em quarto lugar, a melhoria da comunicação com os principais interessados através de meios de


comunicação (TV, rádio, jornais, comunicados de imprensa, sites, etc.) e de forma contínua
também será importante para aumentar a conscientização pública e a apropriação nacional.
Portanto, um plano de comunicação precisará de ser desenvolvido.

Tabela 13: Rede de apoio comercial em Angola


Instituição Função
Instituições de Definição de Políticas
Ministério das Ministério das Finanças tem o mandato de conduzir políticas fiscais destinadas a
Finanças investir em infra-estruturas materiais e imaterias necessárias para aumentar a
eficiência dos investimentos públicos e privados, reduzir os custos das transacções
e contribuir para a competitividade global das exportações.
Ministério do Este Ministério é responsável pela elaboração, execução e supervisão da política
Comércio comercial do país. O ministério emite licenças de exportação e importação, sem as
quais as empresas não podem participar no comércio internacional, seja exportação
ou importação. Todo o processo de exportação começa neste Ministério, pelo que
é crucial para a definição e implementação da estratégia de diversificação de
exportação. Também lidera na formulação, negociação e implementação da
política comercial internacional a nível bilateral, regional e multilateral.
Minsitério da Este Ministério tem a responsabilidade de formular, conduzir, implementar e
Agricultura e Florestas controlar a política do Executivo nas áreas de agricultura, pecuária, segurança agro-
alimentar e recursos florestais, com vista ao desenvolvimento sustentável. O
Ministério também tem o importante papel de prestar apoio institucional às
empresas que operam neste sector; Sem esse apoio, é mais difícil produzir e
eventualmente exportar. Dado o potencial de exportação em subsectores agrícolas
selecionados, o Ministério é um importante parceiro na estratégia de diversificação
de exportações.
Ministério da Este Ministério tem a missão de formular e conduzir a política governamental no
Indústria sector de manufactura. Também tem a responsabilidade de apoiar as empresas do
sector de manufactura para aumentar sua produção e posteriormente suas
exportações. A promoção das exportações de manufactura não pode ser feita de
forma consistente sem este Ministério.
Ministério da O Ministério da Economia e do Planeamento tem o importante papel de coordenar
Economia e todos os planos e estratégias governamentais para garantir a consistência entre os
Planeamento intervenientes. Uma vez que a estratégia de diversificação das exportações envolve
muitos sectores e instituições diferentes, o envolvimento deste Ministério
assegurará uma coordenação harmoniosa entre os intervenientes.
Através do Instituto Nacional de Apoio às MPME (INAPEM), o Ministério também
tem a responsabilidade de coordenar os esforços do governo no apoio ao sector
privado, em especial as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs). Tendo em
conta que as MPMEs desempenham um papel importante na diversificação das
exportações, o apoio que recebem dessas instituições é crucial para o sucesso da
estratégia de exportação.
Ministérios da Este Ministério é responsável, nomeadamente, pela formulação de políticas nas
Administração áreas de trabalho, emprego, formação profissional, bem como para assegurar a
Pública, Trabalho e implementação de programas abrangidos por essas áreas em geral, e para atender
Segurança Social a escassez de qualificações nos sectores de exportação, em particular.
Ministério das Pescas O Ministério das Pescas e do Mar é responsável, nomeadamente, pela formulação
e do Mar de políticas, estratégias, planos relacionados ao uso do mar Angolano, das águas

51 Actualmente, Angola não tem uma organização activa da sociedade civil na área de comércio.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 67


Instituição Função
interiores e dos seus ecossistemas; autorizando e supervisionando as operações de
pesca; promovendo o uso sustentável dos recursos hídricos e adoptando medidas
para prevenir a poluição.
Ministério do Turismo O Ministério do Turismo trata, inter alia, da formulação de políticas e estratégias
para os subsectores de hospedagem e turismo; licenciamento, supervisão e apoio a
empresas do sector (agências de viagens, operadores turísticos, bem como todas as
actividades directamente relacionadas ao turismo); mobilizando investimentos
internos e internacionais para desenvolvimento hoteleiro e turístico e promoção de
Angola como destino turístico.
Ministério dos O Ministério é responsável pela (i) provisão de orientação política no
Recursos Minerais e desenvolvimento e exploração de recursos minerais e petrolíferos; (ii) criação de um
Petróleo ambiente propício para atrair investimentos no desenvolvimento, provisão e
utilização de recursos de petróleo e minerais (iii) regulação, licenciamento,
supervisão e apoio a empresas do sector e (iv) monitoria e avaliação de actividades
de empresas privadas nos sectores de energia e minerais para garantir o uso
racional e sustentável dos recursos.
Ministério do O Ministério dos Transportes é responsável, designadamente, por promover (i) o
Transporte desenvolvimento e optimização da prestação de serviços de transporte nas áreas da
aviação rodoviária, ferroviária, marítima e civil; (ii) assegurar o bom desenrolar das
actividades de portos e aeroportos; (iii) organizar e supervisionar a concorrência
entre diferentes meios de transporte; e (iv) regular e monitorar a actividade dos
agentes económicos no sector de transporte, de acordo com a legislação relevante.
Serviços de transporte eficientes, eficazes, confiáveis e competitivos são essenciais
para promover o crescimento e o desenvolvimento das exportações.
Mnistério das O Ministério das Telecomunicações e da Tecnologia da Informação é responsável,
Telecomunicações e nomeadamente, por (i) formular políticas, orientações, objectivos dos serviços de
Tecnologia da telecomunicações e desenvolver a infra-estrutura do sector, e (ii) monitorar e
Informação avaliar a implementação das directrizes, objectivos e metas acima mencionados. Um
sector eficiente, eficaz e confiável de comunicação e tecnologia da informação é
crucial para apoiar a competitividade das exportações.
Banco nacional de O Banco Central desempenha um papel importante na implementação da
Angola (BNA) estratégia de diversificação das exportações, estabelecendo políticas monetárias e
cambiais favoráveis ao aumento das exportações não petrolíferas. As políticas
monetárias que visam reduzir a taxa de juros podem ser direcionadas para ajudar
as empresas exportadoras bem-sucedidas, apoiando-as a financiar suas
exportações. A adopção de uma taxa de câmbio flexível também pode, de certa
forma, ser apropriada para promover a diversificação das exportações.
Administração de exportações e instituições envolvidas no processo de exportação
Administração Geral A AGT tem a responsabilidade, entre outros, de cobrar direitos aduaneiros e cobrar
de Impostos (AGT) receitas aduaneiras decorrentes dos fluxos de comércio internacional. Qualquer
processo de exportação passa pela AGT antes de chegar ao mercado internacional.
Portanto, a eficiência da AGT é extremamente importante para o sucesso da
estratégia de diversificação de exportações.
Conselho Nacional de Este é um Instituto Público do Ministério dos Transportes que tem como objectivo
TransporteMarítimo coordenar e controlar as operações de comércio internacional e transporte
(CNC) marítimo. O CNC é muito importante para a implementação da estratégia de
diversificação das exportações, levando em consideração a importância do
transporte marítimo para o processo de exportação.
Instituto Nacional de O IANORQ é a instituição governamental responsável pelo estabelecimento, gestão
Padrões de Qualidade e melhoria do Sistema de Qualidade e Padrão de produtos e serviços Angolanos,
(IANORQ) um passo importante para o acesso ao mercado (nacional e estrangeiro). Um
sistema de qualidade uniforme e padrão facilita as exportações.
No campo da padronização, o IANORQ trabalha para harmonizar os padrões
nacionais com os de outros países da SADC e com padrões internacionais (ISO, IEC
e CODEX). No campo da metrologia, a Lei de Pesos e Medidas foi aprovada e um
pequeno laboratório de calibração para unidades de massa e volume deverá ser
configurado em breve.
Desde 2002, o laboratório de metrologia vem realizando actividades de verificação
e calibração.
Despachantes Como as empresas que exportam não interagem directamente com a Alfândega
Aduaneiros Oficiais (AGT), a interação é feita por meio de um agente, o agente alfandegário. Estes
cobram taxas pelos serviços que fornecem. Uma estratégia bem-sucedida de

PÁGINA 68 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


Instituição Função
diversificação de exportação também dependerá da qualidade dos serviços dos
agentes alfandegários.
Bromangol/outros Até Novembro de 2017, a Bromangol era a empresa mandatada, no âmbito de um
laboratórios contrato governamental, para realizar análises laboratoriais ou testes de produtos
alimentares exportados ou importados. Como o contrato foi cancelado
recentemente, o novo sistema de certificação ainda não está claro. A eficiência, o
tempo necessário para divulgar os resultados dos testes e os preços do teste podem
determinar o sucesso do processo de diversificação das exportações. Na medida do
possível, outras empresas também devem ser autorizadas a executar testes
laboratoriais para garantir a concorrência e, possivelmente, contribuir para redução
de preços.
Bancos Comerciais Os bancos comerciais desempenham um papel fundamental no fornecimento de
recursos financeiros às empresas exportadoras para aumentar suas exportações. São
fontes fundamentais de financiamento de suas próprias fontes, mas cada vez mais
linhas de crédito especiais são disponibilizadas aos exportadores pelo Governo e
Parceiros de Desenvolvimento. É muito difícil implementar a estratégia de
diversificação das exportações se os bancos comerciais não forem mobilizados para
apoiar o processo
Companhias de As companhias de seguros também são parceiros estratégicos para
Seguros desenvolvimento de exportação, pois oferecem serviços direcionados para produtos
exportados e exportadores.
Instituições de Apoio à Exportação
Agência de Criada ao abrigo do Decreto Presidencial nº 81/18, de 19 de Março de 2018, a AIPEX
Investimento Privado – Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola,
e Promoção de tutelada pelo Ministério da Economia e Planeamento, faz parte de um conjunto de
Exportações (AIPEX) medidas do Governo angolano no sentido de acelerar e facilitar a realizaçao de
investimentos privados no País, assim como promover as exportaçoes e os negócios
internacionais de parcerias empresariais capazes de aumentar a competitividade da
economia nacional, atraves de um quadro institucional dinamico e adequado52. A
AIPEX tem a missão de:
1. Preparar, conduzir, avaliar, negociar e aprovar os projectos de investimento
privado;
2. Promover o incremento e diversificação das exportações de produtos e serviços
do país;
3. Assegurar a inserção das empresas nacionais nos mercados internacionais e
captar IDE;
4. Promover a captação de IDE e assegurar o desenvolvimento da competitividade
das empresas nacionais e promover a sua internacionalização;
5. Contribuir para a implementação das políticas e programas de substituição das
importações e aumento das exportações.
Comunidade de A CEEIA tem como objectivo apoiar as empresas exportadoras, auxiliando-as nas
Empresa Exportadoras melhores práticas, com políticas e intercâmbio de conhecimentos e cooperação com
e Internacionalizadas homólogos internacionais. As empresas exportadoras existentes enfrentam muitos
Angolanas (CEEIA) desafios e, ao serem organizadas nessa comunidade, podem dialogar, como uma
entidade, com o governo ou outras instituições que as ajudem a superar seus
desafios. Também podem compartilhar experiências com as empresas que querem
exportar, mas não sabem como fazê-lo.
Câmara de Comércio e A CCIA tem o principal objectivo de promover as actividades económicas e
Industria de Angola comerciais no país e no exterior. Mais de 500 empresas e associações de empresas
(CCIA) de diferentes sectores da economia são membros desta câmara.
Associação Industrial A AIA é uma associação de empresas no sector de manufactura com o objectivo de
de Angola (AIA) apoiar seus associados para obter acesso à assistência técnica e financeira necessária
para aumentar sua produção.A AIA também usa sua capacidade de lobby para
influenciar as principais decisões da política industrial do governo.

52 http://apiexangola.co.ao/?page_id=787

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 69


6 RESUMO E CONCLUSÕES
As análises feitas neste relatório mostram que a diversificação das exportações é um elemento
importante do processo mais amplo de diversificação económica de Angola, o que, por sua vez, é
uma estratégia essencial, não só para superar a actual crise económica, mas também, e em particular,
para fortalecer a capacidade de resistência contra crises futuras, e para preparar o país para uma
época pós-exportação de petróleo.

Embora o actual domínio das exportações de petróleo seja tão forte que uma redução significativa
da dependência das exportações de petróleo através da diversificação das exportações a curto prazo
seria ilusória, dadas as restrições consideráveis que o país enfrenta em termos de competitividade
das exportações, medidas visando a remoção de restrições para a diversificação das exportações
deve ser tomada o mais rápido possível. Alguns deles exigirão uma quantidade significativa de
tempo para mostrar resultados sob a forma de crescimento de exportação não-petrolífero.

Como o estudo mostrou, as exportações Angolanas não petrolíferas enfrentam uma combinação
de restrições horizontais e sectoriais, que vão desde distorções macroeconómicas gerais, como a
sobreavaliação da taxa de câmbio e a consequente falta de moeda estrangeira, para impedimentos
altamente específicos do sector, como barreiras para exportar bens específicos em mercados
específicos.

Em resposta, a diversificação das exportações e a construção da competitividade das exportações


serão exigidas medidas horizontais e sectoriais. Para ambos, são necessárias medidas a curto prazo
e a mais longo prazo, com “curto prazo” e “longo prazo”, não referindo-se ao facto de que os
últimos devem levar algum tempo no futuro, mas que serão requerem mais tempo de
implementação e produção de resultados. As medidas necessárias podem ser resumidas da seguinte
forma:
▪ As medidas horizontais de longo prazo deverão visar a construção de capacidade produtiva
e a infra-estrutura;
▪ As medidas horizontais de curto prazo incidirão sobre a remoção de distorções
macroeconómicas ou seus efeitos sobre os exportadores;
▪ As medidas sectoriais a curto prazo complementarão as medidas horizontais de curto prazo
pela remoção de limitações vinculativas imediatas para expandir as exportações em sectores
específicos, conforme identificado em perfis sectoriais (ver Anexo A); e
▪ Serão necessárias medidas sectoriais a longo prazo para construir capacidades específicas
do sector - como infra-estrutura específica, tecnologia e habilidades sectoriais de produção
de ambiente empresarial -, inclusive realizar e rastrear rapidamente algumas das medidas
estruturais horizontais.

Para ser relevante, uma estratégia de diversificação de exportação e um plano de acção precisam
abordar de forma abrangente as restrições através de uma combinação de todos os quatro tipos de
medidas. As medidas de curto prazo certamente permitirão expandir as exportações não
petrolíferas, mas, no curto prazo, principalmente na margem intensiva, ou seja, exportando mais
produtos que já estão sendo exportados. Conforme mencionado, dada a pequena participação
dessas exportações nas exportações totais de Angola, isso só será um ponto de partida para a
diversificação económica, mas em si mesmo será insuficiente para superar os problemas
económicos actuais de Angola. Para isso, será necessária a diversificação em novos produtos (ou
seja, na ampla margem), e isso requer medidas que mudem estruturalmente o ambiente e a
economia de negócios Angolanos.

PÁGINA 70 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


As medidas horizontais para a diversificação das exportações são amplamente as mesmas que são
necessárias para a diversificação económica em geral. Nesse sentido, uma estratégia de
diversificação das exportações deve ser alinhada com a estratégia de diversificação das exportações
do país expressa em vários documentos, mais recentemente o Plano Intermediário para o período
de Outubro de 2017 a Março de 2018 (Decreto presidencial 258/2017) 53 e a Estabilização
Macroeconómica Programa 2017-2018 de Dezembro de 2017, que estabelecia conjuntos abrangentes (e
ambiciosos) de medidas. A estratégia de diversificação das exportações desempenhará um papel
subsidiário nessas estratégias mais amplas, no que se refere à sua horizontal.

As medidas a nível sectorial desempenharão, portanto, um papel fundamental na estratégia de


diversificação das exportações - novamente, a partir da priorização do sector que já foi realizada,
inclusive, mais recentemente, no PRODESI. No entanto, deve reconhecer-se que, embora o
governo tenha priorizado muitos sectores em suas diversas estratégias, políticas e planos de acção,
a implementação do apoio a sectores prioritários nem sempre foi garantida. Um dos problemas é
que muitos sectores foram definidos como sectores prioritários e, muitas vezes, sem considerar as
implicações gerais - se (quase) tudo for uma prioridade, nada é uma prioridade e a priorização não
fornece orientação sobre onde (ou qual sectores) O governo deve usar melhor seus recursos
limitados.

A análise realizada neste estudo tem como objectivo promover uma abordagem prática para uma
estratégia de diversificação de exportações e um plano de acção que equilibre uma abordagem
selectiva forte (a abordagem da política industrial sectorial clássica) com foco em medidas
horizontais (a abordagem do consenso de Washington). Isto está de acordo com a prática recente,
que tem visto o retorno de uma política industrial que combina medidas horizontais com selectivas
direcionadas a sectores específicos. Para Angola, como se mostra neste estudo, isso significa que
as medidas horizontais para corrigir o viés anti-exportação fundamental (como a sobreavaliação da
moeda) e restrições gerais que dificultam a produção em Angola (como restrições de infraestrutura)
são aliadas a medidas destinadas a apoiar sectores específicos que foram cuidadosamente
selecionados com base em critérios claros e uma análise económica completa, ao invés de uma
abordagem intuitiva - que tem sido o foco principal do presente estudo.

Como resultado das análises sectoriais efectuadas, dos 30 sectores pesquisados, 21 têm pelo menos
um potencial de exportação médio (embora quatro deles sejam apenas a longo prazo). As medidas
de política devem concentrar o apoio nestes sectores - de facto, vários desses sectores já estão
sendo apoiados, incluindo alguns especificamente relacionados ao desenvolvimento de exportação.
No entanto, vários sectores ainda não foram apoiados por medidas específicas para expandir as
exportações; Para isso, propõe-se a elaboração de planos de acção sectorial destinados a aumentar
as exportações. Os seis sectores propostos são:
▪ Bebidas;
▪ Serviços de viagens e turismo;
▪ Frascos de vidro/vidro;
▪ Cimento;
▪ Produtos hortícolas e vegetais; e
▪ Frutas e preparações de frutas

Esses sectores coincidem em grande parte com os sectores identificados no mais recente programa
de apoio governamental para produção, exportação diversificação e substituição de importações (PRODESI) de
Novembro de 2017 (Ministério da Economia e do Planeamento 2017).

53Note-se que o Plano Intermediário prevê uma série de medidas com relevância directa para a diversificação das
exportações, particularmente nas seções 4.2.3, 4.2.4 e 4.2.6.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 71


Finalmente, a coordenação intra-sectorial e intersetorial ainda é um enorme desafio para Angola.
As políticas comerciais, industriais e agrícolas estão fortemente inter-relacionadas e não podem ser
geridas em silos. Embora a coordenação institucional seja importante, Angola ainda não dispõe de
um mecanismo formal estabelecido de múltiplas partes interessadas para o diálogo político, o
acompanhamento e a coordenação geral dos programas em questões relacionadas com as
exportações. Actualmente, a coordenação institucional ocorre principalmente a nível político
através do Conselho de Ministros (Executivo). Isso é necessário e importante, mas não suficiente,
pois a maior parte do trabalho precisa ser realizada no nível técnico. O Plano Intercalr do Governo
de Outubro de 2017 a Março de 2018 define a necessidade de criação de uma Unidade de
Implementação Técnica para supervisionar a implementação do Programa de Promoção de
Exportações e Substituição de Importação. Duas questões merecem destaque. O primeiro é que o
governo deve assegurar a maximização da experiência e/ou experiência de órgãos existentes, como
a APIEX, para cumprir seu mandato sobre actividades de promoção de exportação, pois isso
provavelmente seria económico. O segundo é que esta unidade proposta deve ser um órgão
multisectorial liderado por uma instituição capaz, composta por membros de instituições
governamentais, do sector privado, da academia e da sociedade civil.

Numa fase seguinte da preparação da estratégia de diversificação das exportações, devem ser
definidas e preparadas as medidas horizontais necessárias para superar os constrangimentos que
afectam as exportações não petrolíferas de Angola, bem como os planos de acção para o
desenvolvimento das exportações nestes seis sectores, bem como os mecanismos institucionais
adequado para a implementação do plano.

PÁGINA 72 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


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ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA PÁGINA 75


ANEXOS
Anexo A: Perfil dos Sectores

1. Carne e seus derivados


2. Aves
3. Produtos Pesqueiros
4. Leite e produtoa Lácteos
5. Mel
6. Vegetais e Preparados de Vegetais
7. Fruta e Preparados de Fruta
8. Café
9. Cereais e seus derivados
10. Olegainosas e óleos vegetais
11. Açucar e Confeitaria
12. Bebidas alcoólicas e não- alcoólicas
13. Sal
14. Rochas Ornamentais
15. Cimento
16. Minério e Minerais
17. Produtos Petrolíferos de valor agregado
18. Fertilizantes
19. Sabão
20. Plástico e seus derivados
21. Couro & seus derivados
22. Madeira e seus derivados
23. Algodão, texteis e confecções
24. Vidro
25. Minerias preciosos de valor agregado
26. Ferro, aço e seus derivados
27. Serviço de Transporte
28. Serviços de Telecomunicações
29. Viagens & serviços de turismo
30. Serviços prestados à empresas incluindo a industria petrolífera

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA ANEOX A – PÁGINA 1


Anexo B: Metodologia para Determinação do Potencial de
Exportação e Selecção do Sector
A avaliação do potencial de exportação do sector e a selecção de sectores de alta prioridade foram
realizadas num processo em três etapas, consistindo em (1) definição do sector; (2) identificação
de sectores com potencial de exportação, tanto a curto como a médio e longo prazo; e (3) selecção
de sectores prioritários para os quais os planos de acção sectorial são desenvolvidos. Este anexo
descreve a abordagem para cada uma das três etapas.

1. Definição do Sector

O Governo de Angola considera existir o potencial de exportação para os seguintes produtos e


serviços (Governo de Angola 2016: §§71 e 120):
▪ “Rochas ornamentais (granito, etc.);
▪ Cimento e outros materiais de construção;
▪ Café;
▪ Mel;
▪ Produtos da pesca (peixe, marisco e crustáceos) e derivados (farinha e óleo de peixe);
▪ Madeiras;
▪ Minério de ferro;
▪ Bebidas alcoólicas e não alcoólicas;
▪ Leguminosas oleaginosas;
▪ Hortícolas e tubérculos;
▪ Sal Iodizado;
▪ Serviços (transportes e telecomunicações).”

Além disso, os seguintes sectores são identificados no contexto da substituição de importações


(Governo de Angola 2016: §§132):
▪ “Agricultura e silvicultura: madeira e seus derivados, café, sementes (milho, soja, batata), milho,
soja, feijão, mandioca, arroz, batata, hortaliças, cevada, legumes, frangos e ovos frescos,
algodão, cana-de-açúcar, caprinos, ovinos, suínos, moringueiras e palmares;
▪ Indústria Alimentar: fuba de bombó e de milho, água mineral e de mesa, cerveja, refrigerantes,
sal iodizado, farinha de milho, sabão, farinha de trigo, óleo alimentar, óleo de palma, massas
alimentares, malte e açúcar;
▪ Restante Indústria Transformadora: cimento, madeira, plásticos, vidro, têxteis, material e
equipamento escolar, materiais de construção;
▪ Serviços: seguros e resseguros, serviços dentro da cadeia petrolífera.”

Utilizando esses sectores e produtos como ponto de partida e complementando os dados


actualizados de exportação e as considerações de cadeia de valor e exportação, são definidos 30
sectores para os quais o potencial de exportação não pode ser excluído a priori (Tabela B1). Para
garantir uma abordagem transparente, os sectores de bens foram definidos com base no Sistema
Harmonizado (HS), com os produtos agrupados em sectores com base na similaridade de factores
de produção e vínculos entre estes. As exportações de petróleo bruto e diamante não são
consideradas, já que suas exportações já estão bem estabelecidas, mas os produtos de valor
agregado nos dois sectores estão incluídos nos nestes. Para os sectores de serviços, as categorias
definidas na sexta edição da Balança de Pagamentos do FMI e do Manual de Posição de
Investimento Internacional (BPM6) foram usadas, pois estas são relatadas na balança de
pagamentos, que normalmente constituem a única fonte disponível de comércio de serviços
Estatisticas.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA ANEXO B – PÁGINA 1


Tabela B1: Definição de sectores para o estudo.
Sector54 HS códigos cobertos (produtos)
1. Carne e seus Derivados 02 Carne excl. 0207 Aves; 1601-1603 Preparados de carne
2. Aves 0207 Carne de aves; 0407-0408 Ovos;
3. Produtos Pesqueiros Código HS 03 Peixe e crustáceos etc, 1504 óleo de peixe; 1604-1605
preparados de peixes e crustáceos; 230120 farinha de peixe na (ração
animal)
4. Leite e produtos lácteos 0401-0406 Leite e produtos lácteos
5. Mel 0409 Mel
6. Vegetais e Preparados de 07 Legumes (incluindo batatas, cebolas, mandioca, feijão e outros
vegetais legumes); 2001-2005 Preparados de vegetais
7. Fruta e preparados de fruta 08 Frutas comestíveis e castanhas; 2006-2009 Preparados de fruta
(incluindo sumos)
8. Café 0901 Café
9. Cereais e seus derivados 10 Cereais; 11 Produtos da indústria de moagem; 1902 Massas; 19
Preparados de cereais
10. Oleaginosas e óleos vegetais 12 Sementes de óleo; 1507-1517 Óleo vegetal e gorduras
11. Açucares e confeitaria 17 açucares e confeitaria
12. Bebidas alcoólicas e não- 22 Bebidas, bebidas espirituosas e vinagre
alcoólicas
13. Sal 2501 Sal (incluindo sal de mesa, sal iodado)
14. Rochas Ornamentais 2515 Mármore; 2516 Granito
15. Cimento 2523 Cimento
16. Minérios e minerais 2603-2617 Minérios não de ferro; 7106-7112 Metais preciosos
17. Produtos petrolíferos de valor 2710-2713 Petróleo refinado, gases & coque; 2901-04 Produtos
agregado químicos baseados em hidrocarbonetos
18. Fertilizantes 31 Fertilizantes
19. Sabão 34 Sabão e agentes tenso-activos
20. Plásticos e seus derivados 39 plásticos e seus derivados; 6402 Calçado em plástico
21. Couro e seus derivados 41 couros e peles em bruto; 42 Artigos de couro; 6403 Calçado de
couro
22. Madeira e seus derivados 44 Madeira e seus derivados; ex9403 Móveis de madeira
23. Algodão, têxteis e confecções 52 Algodão (incluindo fiação & tecelagem); 53-63 Têxtil e
Confecções
24. Vidro 70 Vidros e cristais
25. Minerais preciosos de valor 7113-7114 Jóias
agregado
26. Ferro, aço e seus derivados 2601-2602 Minérios de ferro; 72 Ferro e aço; 73 obras de ferro
fundido, ferro ou aço; 7610-7616 Produtos de alumínio
27. Serviços de Transporte 1.A.b.3 Transporte (que inclui o transporte marítimo, aéreo e outros
meios de transporte, em cada meio de transporte de mercadorias e
de passageiros, bem como serviços postais e de correio)
28. Telecomunicações e serviços 1.A.b.9.1 Serviços de telecomunicações, 1.A.b.9.2 Serviços
de TI informáticos
29. Viagens & Serviços turísticos 1.A.b.4 Viagens (que incluem viagens empresariais e pessoais, e para
cada tipo de serviços de viagem como alojamento, serviços de
alimentação, transporte local e outros serviços oferecidos aos
turistas)
30. Serviços prestados a 1.A.b.2 Serviços de manutenção e reparação; 1.A.b.10 Outros serviços
empresas, incluindo a empresariais (incluindo R&D, profissionais e consultoria, e serviços
indústria petrolífera técnicos, relacionados com o comércio e outros negócios)

54 Os sectores são ordenados por código HS - não o potencial de exportação! A tabela não afirma que exista um
potencial de exportação para todos os sectores listados, mas deve incluir todos os sectores para os quais o potencial
de exportação não pode ser categoricamente excluído a priori. Então, dos sectores definidos, 5-7 serão priorizados e
seleccionados para os planos de acção do sector.

PÁGINA 2 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


2. Identificação de sectores com potencial de exportação

O próximo passo no processo de selecção do sector é a identificação de sectores que parecem ter
potencial de exportação. Esses sectores constituem o universo entre os quais os sectores
prioritários são selecionados na terceira etapa, com base em critérios adicionais, conforme descrito
abaixo.

Para a identificação de sectores com potencial de exportação, os seguintes critérios e factores são
aplicados.

A. Factores do lado da oferta

São consideradas uma série de questões do lado da oferta que têm implicações para o potencial
exportador de Angola no sector ou no nível de produto:

1) Potencial para a competitividade das exportações. A competitividade das exportações de


um sector é uma condição essencial para que as exportações aumentem. Este é medido com
base numa série de variáveis quantitativas que incluem:
 O desempenho recente das exportações de Angola no sector nos últimos cinco anos (2012-
201655), medido pelo valor de exportação absoluto no actual USD, bem como o crescimento
médio das exportações ao longo do período (taxa de crescimento anual composta, CAGR)
em porcentagem; A fonte é exportar dados AGT para sectores de bens e ITC TradeMap56
para sectores de serviços. O aumento das exportações que já são comparativamente
grandes tem um forte impacto na balança comercial e, portanto, esses grandes sectores
de exportação são interessantes para a diversificação das exportações. Além disso, os
sectores que mostraram um desempenho de exportação dinâmico nos últimos anos
poderiam ter o potencial, se apoiados, crescer rapidamente a um ritmo acelerado no futuro
e, portanto, complementar os já amplos, mas potencialmente mais lentos, desenvolvendo
os sectores de exportação. As importações Angolanas e a balança comercial no sector
também são consideradas nos perfis do sector para colocar o desempenho das
exportações em perspectiva;
 A vantagem comparativa revelada (RCA) do sector, comparando 201657 com 2012. A RCA é
medida pelo índice de Balassa, que compara a participação de um sector nas exportações
totais de Angola para a parcela das exportações desse sector nos grupos de referência
exportações totais. Um valor maior que 1 mostra uma vantagem comparativa revelada e
um valor inferior a uma desvantagem comparativa revelada. Devido à posição dominante
das exportações de petróleo bruto em Angola, a RCA para qualquer ano tem um valor
limitado, uma vez que é improvável que apresente uma vantagem comparativa revelada
para qualquer outro sector. No entanto, comparar os desenvolvimentos na RCA ao longo
do tempo indica quais sectores ganharam competitividade (ou com mais precisão,
reduziram o nível de não competitividade) durante esse período. Para o estudo, a RCA de
Angola em comparação com o mundo e em comparação com a África sub-Sub-
sahariana58 é considerado. As fontes de dados para os cálculos são dados de exportação
de AGT (para exportações de bens Angolanos), UN COMTRADE (para exportações de
bens de outros países) e ITC TradeMap para exportação de serviços;

55 Para o comércio de serviços, os dados desagregados por sector estão disponíveis somente até 2015.
56 http://www.trademap.org. Os dados de comércio de serviços na TradeMap são baseados no ITC, UNCTAD,
comércio da OMC em banco de dados de serviços com base nas estatísticas do BoF do FMI.
57 Para sectores de serviços, 2015.
58 Para os sectores de serviços, devido a problemas de dados, o total de África é usado como o segundo comparador

em vez da África Sub-sahariana.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA ANEXO B – PÁGINA 3


 Produção em Angola, tanto para os mercados domésticos e de exportação, quanto para a
participação na exportação da produção doméstica, bem como nas projeções, conforme
evidenciado, p.Ex. por projectos de investimento actuais ou planeados. A questão
importante da perspectiva do desenvolvimento das exportações é a existência de
capacidade suficiente para expandir as exportações. Uma questão para a análise é que os
dados sobre a produção não estão disponíveis na mesma classificação e no mesmo nível
de desagregação que os dados comerciais e muitas vezes não são coerentes entre produtos
e sectores. Portanto, uma abordagem eclética foi tomada, combinando fontes de dados
trans-sectoriais com dados e informações específicas do sector. Do mesmo modo, são
consideradas variáveis, incluindo o volume de produção, o valor acrescentado sectorial e
a contribuição para o PIB, etc., com base na disponibilidade e adequação para a análise
em termos de desagregação sectorial.

No entanto, é preciso ter em mente que o desempenho recente nem sempre é um indicador
para o futuro, e a identificação real do potencial de exportação deve ser feita com base no
futuro, e não no potencial recente. Portanto, outros factores são considerados.

2) Potencial para superar os principais constrangimentos que o sector actualmente enfrenta.


Somente se as restrições actuais do sector impedirem ou limitarem as exportações podem ser
abordadas e resolvidas, o potencial de exportação existente pode ser convertido no
crescimento real das exportações. Portanto, as principais restrições para as exportações
precisam ser identificadas num primeiro passo e, em seguida, as opções potenciais para abordá-
las:
 As principais restrições podem ter o impacto específico num sector de restrições horizontais
ou restrições verdadeiramente sectoriais. Exemplos do primeiro seria o acesso a restrições
financeiras, que afectam mais fortemente sectores intensivos em capital, ou
disponibilidade limitada de mão-de-obra qualificada, que afecta sectores que precisam de
mão-de-obra qualificada. Por outro lado, exemplos de restrições específicas do sector
incluem problemas relacionados ao abastecimento/ disponibilidade de insumos, a
existência de regulamentos específicos do sector (como requisitos sanitários e
fitossanitários [SPS]) e similares;
 Medidas para resolver restrições chave: para o crescimento das exportações, deve ser possível
superar as restrições chave identificadas. Como o foco principal do estudo é sobre o
desenvolvimento das exportações no curto prazo, as medidas devem estar disponíveis
para superar rapidamente os constrangimentos que exigem recursos limitados, incluindo
necessidades de investimento (em particular em relação ao crescimento esperado do valor
exportado).
A identificação das restrições, a avaliação da gravidade e a revisão das medidas para superá-
las são realizadas de forma qualitativa, com base em revisão de documentos e consultas com
representantes do sector, e são descritas nos perfis do sector (Anexo A).

B. Factores associados a Procura

Além dos factores associados a oferta, o desempenho das exportações de Angola também depende
de uma série de questões relacionadas à procura. Os seguintes são considerados para determinar o
potencial de exportação:
3) Nível, crescimento e estabilidade da procura regional e internacional: esta está sendo
avaliada de duas maneiras:
 analisando o desenvolvimento da procura para o produto/sector no período de 2012 a 2016,
globalmente ou em mercados-alvo relevantes, usando os dados UN COMTRADE

PÁGINA 4 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


obtidos através da WITS 59 para sectores de bens e ITC TradeMap para sectores de
serviços. Especificamente, considera-se a taxa média de crescimento das importações
sectoriais no mercado alvo identificado;
 analisando os desenvolvimentos nos mercados-alvo actuais e prováveis para o setor/produto. Esses
mercados-alvo diferem em todos os sectores, são identificados com base em análise
documental e estatística, contribuições das partes interessadas e avaliação própria da
equipa de estudo, e são mencionados nos perfis do sector (ver Anexo A).

4) Existência de barreiras de acesso ao mercado: as barreiras de acesso ao mercado


consideradas incluem as tarifas que as exportações Angolanas enfrentariam em mercados-alvo,
bem como barreiras não-tarifárias, incluindo requisitos legais, barreiras técnicas (como
exigências de alto padrão), sanitários e fito- medidas sanitárias (SPS). A avaliação da barreira
de acesso ao mercado é realizada qualitativamente com base em pesquisa de mesa e entrevistas
com as partes interessadas, complementada, quando apropriado, com pesquisa de base de
dados, como o Mapa de Acesso ao Mercado do ITC e o Banco de Dados de Acesso ao
Mercado da UE60; está resumido nos perfis do sector (ver Anexo A).

C. Potencial para atrair o investimento (IDE) e beneficiar da produção actual

O potencial para exportar novos produtos depende do nível de novos investimentos, incluindo o
IDE, para a produção desses novos produtos e serviços. O potencial para atrair investimentos
orientados para a exportação, por sua vez, depende, além dos factores económicos gerais e do nível
de competitividade das exportações, também no nível de vínculos com outros sectores: quanto
mais desenvolvidos são esses vínculos, maior o potencial de exportação e maior valor agregado
gerado em Angola. Da mesma forma, as novas exportações que estão intimamente relacionadas
com a produção e as exportações existentes podem ser desenvolvidas mais rapidamente do que as
exportações que não possuem vínculos com a produção e as exportações actuais. Além disso, os
sectores baseados em matérias-primas disponíveis no país e, portanto, geram alto valor agregado
no país, têm maior potencial de exportação.

Essas considerações são dirigidas pela abordagem do espaço do produto, que mede a relação dos
produtos entre si e é usada para analisar os fluxos comerciais para identificar as actividades
económicas promissoras que têm o potencial de diversificar a economia e pauta de exportação
tanto no curto (quanto produtos intimamente relacionados) e a longo prazo (produtos menos
relacionados). O espaço do produto mapeia as capacidades de produção em bens de acordo com a
“distância” em termos de capacidades para outras exportações (Hidalgo et al., 2007). No conceito
original, o espaço do produto e as distâncias são medidas com base na RCA; Para Angola, esta
aplicação estrita do conceito tem limites devido ao facto de que, como resultado do domínio das
exportações de petróleo bruto praticamente todas as outras exportações, caracterizam-se por uma
desvantagem comparativa revelada. No entanto, os mapas de espaço de produtos desenvolvidos
são utilizados para identificar o potencial de exportação a curto e longo prazo, recorrendo a dados
e visualizações do Atlas e do Observatório de Complexidade Económica, bem como a pesquisa
adicional da equipa de estudo e suas próprias observações; Este último tornou-se necessário porque,
de acordo com os dados sobre Complexidade Económica, Angola teria poucas possibilidades de
diversificar as exportações no curto prazo, já que a produção actual está amplamente dispersa sem
vínculos entre a produção existente. Em essência, o desenvolvimento das exportações próximas
das capacidades de produção actuais de Angola é possível num período de tempo mais curto que
as exportações que estão mais “distantes” da produção actual, mas mostrar isso requer uma

59 http://wits.worldbank.org.
60 http://madb.europa.eu.

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA ANEXO B – PÁGINA 5


metodologia eclética. Como no caso da maioria dos outros factores, o potencial de atração de
investimentos e “distância” aos produtos actuais é avaliado qualitativamente.

D. Pontuação, agregação e avaliação resumida do potencial de exportação

Os diversos factores secundários da oferta e da demanda que afectam o potencial de exportação


de um sector são agregados numa única medida do potencial de exportação de um sector. Devido
ao facto de que alguns factores são quantitativos e alguns qualitativos, uma agregação matemática
de factores é impossível. Portanto, uma simples abordagem de semáforo é aplicada para pontuação:
para cada um dos factores e problemas, uma cor de semáforo é atribuída, onde “verde” indica alto
potencial, potencial médio “amarelo” e potencial baixo “vermelho”. Para os indicadores
qualitativos, a cor é atribuída pelo julgamento especializado da equipa de estudo, conforme descrito
nos perfis do sector (Anexo A). Para os dois indicadores puramente quantitativos, os seguintes
limites foram definidos:
▪ Desempenho de exportação recente: para valores médios de exportação 2012-2016: verde:>
USD 10 M; amarelo:> USD 1 M; vermelho: <= USD 1 M; para crescimento médio anual:
verde:> 100%; amarelo:> 20%; vermelho: <= 20%; A pontuação geral para o desempenho de
exportação é: verde, onde o valor ou o crescimento da exportação são pelo menos amarelos e
um é verde; vermelho, onde o valor e o crescimento são vermelhos; amarelo, em todos os
outros casos;
▪ RCA: para a pontuação do RCA, tanto o RCA 2016 como a mudança na RCA no período de
2012 a 2016 são considerados. Para os índices absolutos do índice de Balassa em 2016, um
índice acima de 1 é verde; um valor entre 0,1 e 1 (indicando o potencial de uma melhoria para
1) amarelo; e um valor abaixo de 0,1 vermelho. Para a mudança de RCA, uma relação de
melhora de menos de 2.205 no índice de Balassa é vermelha; uma melhoria entre 2,205 e 6,615
amarelo; e mais de 6.615 de verde. O valor de 2.205 constitui o ajuste para a variação do preço
do petróleo entre 2012 e 2016. Assim, um sector para o qual o valor da RCA melhorou num
fator de 2.205 não melhorou realmente o desempenho, mas apenas se beneficiou com o
declínio do preço do petróleo. Para a pontuação RCA geral, as quatro pontuações individuais
são agregadas com ponderações iguais. Os sectores de bens e serviços são analisados
separadamente, mas uma análise de sensibilidade que trata os dois em conjunto também é
realizada.

As pontuações individuais são então agregadas da seguinte forma:


▪ O desempenho de exportação, a RCA e a produção são agregados, igualmente ponderados, na
pontuação de competitividade de exportação (1), assim como a existência e soluções potenciais
para restrições chave, no potencial para superar a pontuação de restrições chave (2);
▪ As pontuações para a competitividade das exportações (1), o potencial para superar as
principais restrições (2), a demanda regional e internacional (3) e as barreiras de acesso ao
mercado (4) são agregadas, novamente ponderadas de igual forma, para a pontuação de
potencial de exportação global.
▪ Finalmente, a pontuação para o potencial de atrair o IDE/investimento e para se beneficiar da
produção actual (C) determina se o potencial de exportação é no curto, médio ou longo prazo.

A agregação é feita matematicamente, com pontuações de 0, 1 e 2 atribuídas a semáforos vermelhos,


amarelos e verdes. Isso leva a uma pontuação de potencial de exportação numérica (com um
intervalo de 0 a 2), que então é reconvertida em semáforos (pontuação de até 0,67 em vermelho,
de 0,67 a 1,33 amarelo e acima de 1,33 verde).

A agregação é apresentada, em resumo, sob a forma de uma “Matriz de Potencial de Diversificação


de Exportação” de sectores e produtos (Tabela B2), sendo fornecidos mais detalhes para cada

PÁGINA 6 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA


sector nos perfis de sector curto (Anexo A), que incluem informações sobre os vários factores que
afectam o potencial de exportação de um sector.

Tabela B2: Estrutura da matriz de potencial de diversificação de exportação


Critério A. lado da oferta B. lado da demanda Potencial C. Potencial Horizont
1. Potencial para competitividade de 2. Potencial para ultrapassar as 3. Nível de 4. de pata atração e do
Exportação restrições chave estabilidade barreir esportaçã de potencial
o global investiment de
Desempenh RCA Produção Sum Restrições Medidas Sum da demanda as de
regional / acesso os e exportaç
o de Chave para
internacional ao benefícios ão
Exportação ultrapassar
mercad da produção
as restrições
o actual
Sector chave
[A]
[B]

3. Identificação de sectores prioritários

Entre os sectores com potencial de exportação (médio ou alto), os sectores prioritários são
selecionados para uma análise mais detalhada e a elaboração de planos de acção sectoriais. Isso
identifica mais as questões e os obstáculos do sector para o desenvolvimento das exportações e
define e descreve as medidas a serem tomadas para expandir as exportações, bem como
desenvolver, quando apropriado, projectos de investimento que possam ser implementados por
investidores - privados ou públicos, incluindo parceiros de desenvolvimento - ou o próprio
governo, a fim de aumentar ainda mais as exportações.

Para a identificação dos sectores prioritários, são aplicados os seguintes critérios:


1) Potencial para a criação de emprego: os sectores que têm o potencial de gerar um número
alto de empregos são priorizados para isso, tanto o emprego actual como a intensidade de
trabalho do sector são considerados;
2) Potencial para estabelecer vínculos com as MPMEs e para criar valor agregado: os
sectores que têm potencial de desenvolvimento, as relações com outras empresas, em
particular as MPMEs, são priorizados devido aos efeitos de reprecurssões positivas que geram.
Da mesma forma, as exportações de valor agregado são priorizadas;
3) Priorização do governo: os sectores que são priorizados pelo governo em outras políticas
são analisados para explorar o alinhamento de tais outros planos e prioridades do governo.
Em particular, os sectores prioritários que careciam de apoio específico à exportação são
priorizados;
4) Apoio actual ao sector: os sectores que já beneficiam do apoio do governo, dos doadores ou
que são cobertos por projectos de investimento do sector privado serão revisados de perto
para determinar qualquer risco de duplicação ou potencial de complementaridades com tais
existentes ou projectos planeados. Onde o apoio já cobre medidas ou metas relacionadas à
exportação, nenhum plano de acção do sector será preparado.

Para a avaliação do potencial de exportação, é utilizada uma abordagem de semáforo para


priorização, onde “verde” indica alta prioridade (pontuação de 2), prioridade média “amarela”
(pontuação de 1) e baixa prioridade “vermelha” (pontuação de 0). Em princípio, os quatro critérios
são agregados com igual ponderação. No entanto, se, segundo o quarto critério, se verificar uma
sobreposição substancial com outras medidas de apoio existentes ou previstas, um sector é
automaticamente considerado como de baixa prioridade e nenhum plano de acção do sector está
preparado. Finalmente, a pontuação de potencial de exportação também é considerada, com dupla
ponderação, na priorização do plano de acção do sector.

Os resultados da priorização são apresentados, em resumo, sob a forma de uma “Matriz de


Priorização Sectorial” (Tabela B3), sendo fornecidos mais detalhes para cada sector nos perfis do

ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA ANEXO B – PÁGINA 7


sector limitado (Anexo A) para os sectores para os quais um meio potencial de exportação foi
determinado. Para os sectores de alta prioridade, os planos de acção sectorial são então
desenvolvidos.

Tabela B3: Estrutura da matriz de priorização do sector


Critério Pontuação Potencial Potencial de Alinhamento Potencial de Prioridade
potencial de geração ligação com os duplicação: do sector a
de de (envolvimento planos e as Existência de ser
exportação emprego de MPMEs e prioridades projectos seleccionado
adição de do governo recentes/ em para a
valor) curso / preparação
planeados do plano de
Sector acção
[A]
[B]

PÁGINA 8 ESTUDO SOBRE DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE ANGOLA

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