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Nível Básico

Tecnologia no Canteiro de Obras

Tecnologia no Canteiro de Obras


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Sumário

1 - Canteiro: A Fábrica de Obras ............................................................................ 05

2 - O Projeto da Fábrica na Indústria Seriada ......................................................... 05

3 - O Projeto e a Implantação do Canteiro de Obras .............................................. 06

4 - Atividades Envolvidas na Concepção e Materialização do Canteiro ................. 08

5 - Aquisição de Suprimentos ................................................................................. 11

6 - Desenvolvimento de Ferramentas Gerenciais para o Processo de Aquisição de 12


Suprimentos ............................................................................................................

7 - Elementos do Canteiro ...................................................................................... 14

8 - Instalações de Infra-Estrutura ............................................................................ 18

9 - Armazenamento e Estocagem de Materiais ...................................................... 21

10 - Caminhos para Veículos e Pedestres dentro do Canteiro ............................... 25

11 - Definição do Layout do Canteiro de Obras ...................................................... 26

12 - Fluxograma dos Processos ............................................................................. 27

13 - Proximidade Desejável entre os Elementos do Canteiro ................................. 27

14 - Roteiro para Posicionamento dos Elementos do Canteiro .............................. 28

15 - Layout do Canteiro de Obras do Edifício Vale dos Coqueiros ......................... 29

16 - Referências Bibliográficas ............................................................................... 34

Tecnologia no Canteiro de Obras


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Tecnologia e Infra-Estrutura de Canteiro de Obras

1 - Canteiro: A fábrica de Obras

O que é o canteiro de obras?

O canteiro de obras pode ser definido como:

• a “área de trabalho fixa e temporária, onde se desenvolvem operações de apoio e


execução de uma obra” (NR 18);
• o conjunto de “áreas destinadas à execução e apoio dos trabalhos da indústria
da construção, dividindo-se em áreas operacionais e áreas de vivência” (NBR-
12284).

NR 18 - Norma Regulamentadora nº 18 do Ministério do Trabalho:


Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Cons-
trução.
NBR 12284 - Norma Técnica da ABNT: Áreas de Vivência em Can-
teiros de Obras.

Percebe-se, por essas definições, que o canteiro é a fábrica cujo produto final é o edifí-
cio. Se é considerado uma fábrica, então o canteiro deve ser analisado sob a ótica dos
processos de produção do edifício e também como o espaço onde as pessoas envolvi-
das na produção estarão vivendo seu dia-a-dia de trabalho.

2 - O Projeto da Fábrica na Indústria Seriada

Na medida em que comparamos o canteiro a uma fábrica, vale a pena comentarmos as


etapas de projeto associadas à concepção de um produto na indústria seriada. No caso
da fabricação de um automóvel, por exemplo, podemos visualizar três diferentes preocu-
pações quanto ao significado do projeto:

• Projeto do produto: significa definir exatamente como será o produto pretendido.


No caso do automóvel, o projeto contemplaria: suas dimensões gerais, o número,
o formato e as dimensões das peças que o constituem, a especificação dos mate-
riais constituintes, entre outros aspectos;

• Projeto do processo: significa definir como se executará cada uma das etapas
participantes do processo produtivo para se chegar, a partir das matérias-primas,
ao automóvel definido pelo projeto do produto. Por exemplo, aqui se deveria indi-
car: em que forma a matéria-prima é recebida, como é cortada (equipamentos e
ferramentas envolvidas, além da técnica adotada), como as diversas partes serão
solidarizadas, etc.;

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• Projeto da fábrica: significa definir e organizar o espaço disponível para que
o processo produtivo ocorra. No caso da fábrica de automóveis, isso implicaria
esco-lher o terreno onde ela seria implantada, bem como projetar todas as partes
(tanto operacionais quanto de vivência) que a constituem.

O projeto da fábrica como uma atividade de concepção do produto.

Figura 1: Concepção do Produto


Fonte: BASTOS, Luiz Otávio - Organização do Canteiro de Obras p.3.2006

3 - O Projeto e a Implantação do Canteiro de Obras

A Construção Civil possui uma série de características que a diferenciam da indústria


seriada, e que, na opinião de alguns profissionais, fazem com que a atividade de projetar
a fábrica se torne mais complexa. As características mais relevantes são:

• O produto “fica” e a fábrica “sai”.

Enquanto a fábrica de automóveis costuma permanecer num mesmo local, por vários
anos, produzindo milhares de automóveis (que vão “saindo” para o mercado consumi-
dor), a fábrica de obras se implanta num certo local, e, assim que o produto (edifício) é
finalizado, ela tem de ser desmobilizada.

• Faz-se uso mais intensivo de mão-de-obra.

Os baixos salários dos trabalhadores da Construção Civil, aliados à baixa produtividade,


favorecem o uso de um grande contingente de operários, o que torna mais complexa a
tarefa de se conceber o processo construtivo e as áreas de vivência.

• As especificações (projeto do produto e do processo) são menos detalhadas.

É mais difícil conceber-se uma fábrica se o produto e/ou o processo não foram detalha-
damente concebidos.
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• Seriam necessários diferentes projetos de fábrica para um único produto.

Na indústria seriada, simplificadamente, pode-se dizer que um dia de trabalho é igual


ao outro, isto é, a cada dia temos o mesmo grupo de trabalhadores, produzindo o mes-
mo tipo de peça num mesmo lugar. No caso da Construção Civil, as atividades mudam
conforme o andamento da obra: assim, no início da produção de um edifício, tem-se a
execução das fundações, quando, ao final, vai-se deparar com serviços de pintura, ou
seja, existem atividades/equipamentos/pessoas diferentes nos diferentes momentos por
que passa a obra. Na medida em que uma fábrica é feita para abrigar os processos que
levam ao produto, a existência de diferentes processos ao longo do tempo demandaria
a concepção de uma fábrica diferente para cada diferente momento.

Cabe então aqui a questão: é interessante pensar-se organizadamente no projeto do


canteiro de obras?

Nas condições reinantes atualmente na Construção Civil, a resposta seria: Claro que
Sim!

São inúmeras as justificativas para tal resposta.

Em particular, vive-se um momento em que:

• buscar a qualidade tornou-se uma necessidade indiscutível para as empresas de


construção, podendo-se detectar centenas de empresas implantando sistemas de
gestão da qualidade e mesmo buscando certificação de seus sistemas;
• conseguir produtividade constituiu-se também um imperativo, já que o mercado
competitivo atual e a escassez de recursos vai levar à sobrevivência daqueles que
souberem ser mais eficientes na utilização dos recursos físicos;
• a segurança dos operários nunca foi tão discutida, podendo-se citar o destaque
que se tem dado à obediência à NR 18;
• a necessidade de se incrementar as vendas é relevante para melhorar o fluxo de
caixa de uma obra ou da empresa como um todo.

Quanto maior o cuidado em relação ao projeto e implantação do canteiro, melhores se-


rão as probabilidades de sucesso quanto a todos esses aspectos citados. É no canteiro
que muitas das ações preconizadas por um sistema da qualidade e muitas das prescri-
ções de um processo produtivo têm de ocorrer. Não há sentido falar em qualidade na
obra ou produtividade no processo construtivo quando não se tem planejado o local onde
os serviços de construção acontecem.

A NR 18, ao prescrever ações voltadas à segurança do trabalho, tem o canteiro como


palco para sua implementação; mais que isso, a exigência de se fazer um PCMAT induz
a criação de um projeto completo do canteiro. Neste, além de cuidados específicos quan-
to à segurança (como, por exemplo, a correta especificação das plataformas de proteção
na periferia do prédio), a organização do processo construtivo como um todo tem ação
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pró-ativa na melhoria das condições de vida em geral do trabalhador, refletindo-se em
menores riscos à sua saúde.

Além disso, do ponto de vista de marketing do próprio empreendimento, um local de tra-


balho limpo, com tapumes bem cuidados e equipamentos trabalhando adequadamente,
melhora a impressão que o próprio mercado consumidor tem da empresa que o geren-
cia, facilitando futuras transações do ponto de vista comercial.

PCMAT - Programa de Construções e Meio Ambiente de Trabalho


na Indústria da Construção, contemplado na NR 18.

4 - Atividades envolvidas na concepção e materialização do canteiro

Montando um Mosaico

Suponhamos que um artista vá compor um mosaico, em uma parede, a partir de um


monte de pastilhas cerâmicas disponíveis, de diversas cores e de formatos irregulares.
No seu trabalho artístico, ele provavelmente passará, entre outras, pela atividade de se-
leção das pastilhas que achar interessantes, de preconcepção sobre como imagina con-
jugá-las e, por fim, de acoplamento das pastilhas no espaço proposto para o mosaico.

Assim como o artista do mosaico, os gestores da produção de um edifício têm a tarefa


de, a partir de um local predeterminado para receber as atividades relativas à produção
da obra, compor o canteiro. Dentre as atividades para se chegar a esse fim pode-se
citar:
• a seleção, dentre as alternativas disponíveis no mercado, das partes necessárias
para compor o canteiro;
• a pré-concepção das maneiras como se imagina que tais partes irão se conju-
gar;
• a implantação de tais partes, que compõem a fábrica de edifícios.

Montando um mosaico a partir de peças cerâmicas irregulares e de diferentes cores

Figura 2: Mosaico
Fonte: BASTOS, Luiz Otávio - Organização do Canteiro de
Obras p.6.2006

No entanto, o exemplo da montagem do mosaico pode fazer supor que o trabalho de


concepção e implantação de um canteiro seja algo puramente artístico, estando domina-

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do pelas decisões pessoais do gestor. Isso definitivamente não é verdade! O verdadeiro
sucesso quanto ao canteiro de obras é conseguido a partir de um trabalho onde, embora
a criatividade do gestor seja fundamental, existem inúmeros passos técnicos a serem
cumpridos para garantir a eficiência do processo como um todo. Há que se abandonar a
postura tradicional de pouca valorização da concepção do canteiro e seguir em direção
a uma postura mais técnica, onde se tem definidos diretrizes e critérios para discutir o
problema.

Texto Complementar: Diferentes posturas quanto à concepção do canteiro

Questões quanto ao pro- Postura Postura


cesso de concepção desvalorizadora correta
A partir de critérios pesso- A partir de critérios pré-es-
Como conceber?
ais. tabelecidos.
Na hora em que precisar. De preferência, bem antes
Quando fazê-lo?
de a obra começar.
Quem estiver por perto Um conjunto de pessoas
quando a decisão tiver de que reflita as idéias tanto da
Quem concebe? ser tomada. hierarquia superior da obra/
empresa quanto dos traba-
lhadores diretos da obra.
Tabela 1: Posturas
Fonte: BASTOS, Luiz Otávio - Organização do Canteiro de Obras p.7.2006

Aspectos a serem considerados na implantação do canteiro de obras

A escolha dos métodos a serem usados e as decisões tomadas durante o planejamento


geral da obra têm relação direta e interagem com o planejamento do canteiro de obras.
Esse planejamento orienta-se na execução dos trabalhos e no fluxo de materiais, e o seu
objetivo principal consiste em minimizar os percursos dos transportes mais volumosos e
freqüentes dentro do canteiro.

Apesar do caráter relativamente provisório do canteiro de obras, é fundamental que o


dimensionamento bem como a distribuição das suas instalações e equipamentos sejam
planejados adequadamente, para que os trabalhos possam ser executados de forma
contínua. O planejamento insuficiente do canteiro provoca freqüentemente custos adi-
cionais que podem ser evitados. Esses custos ocorrem geralmente devido à implantação
de recursos operacionais mal dimensionados ou inadequados, ou pela necessidade de
correções onerosas no decorrer da obra.

As instalações do canteiro dependem principalmente dos seguintes fatores:

• condições locais da obra: possibilidades de abastecimento, área disponível,


possibilidades de acesso;

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• tipo e tamanho da obra: volume total e tipo dos insumos a serem usados na
construção;
• métodos de produção: produções em seqüência, simultâneas ou cadenciadas;
• técnicas de transporte: dimensões e pesos dos materiais a serem transportados;
• tempo de construção e planejamento da execução da obra: distribuição no tempo
dos transportes maiores;
• recursos operacionais disponíveis: número de trabalhadores, máquinas e equipa-
mentos.

As exigências em relação às instalações do canteiro são preponderantemente decorren-


tes de imposições legais. Por isso o dimensionamento, tipo e organização dos elementos
de um canteiro de obras devem obedecer, antes de tudo, às determinações da NR 18
– Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. Além disso, os
parâmetros básicos aqui relacionados referem-se essencialmente à construção de edi-
fícios. Portanto é o local em que se dá a produção das obras de construção e, como tal,
exige análise prévia e criteriosa de sua implantação, à luz dos conceitos de qualidade,
produtividade e segurança.

Texto complementar: Importância da Logística

A construção civil pode se beneficiar muito da logística. Disciplina criada após a segunda
guerra, mas que começou a ser efetivamente empregada como metodologia operacional
após 1990, a logística se aplicou principalmente à indústria de produção em série. Agora,
a construção importa do setor industrial seus princípios, conceitos e técnicas para melho-
rar a eficiência operacional nos canteiros.
Os grandes problemas da construção civil, apontados ao longo dos anos são a geração
de grandes volumes de entulhos por perdas e desperdícios, a ineficiência, o descumpri-
mento de cronogramas, etc. Podemos apontar, sem medo de errar, que um dos grandes
responsáveis por isso é a falta de um planejamento logístico inicial.
Já na etapa de desenvolvimento dos projetos das diversas especialidades, deverá haver
uma grande preocupação com a compatibilização deles de forma a conduzir a um proje-
to construtivo que minimize interferências, facilitando o fluxo produtivo. Para se ter uma
idéia, no Japão, por exemplo, são gastos 2/3 do tempo com projeto e 1/3 com execução.
No Brasil, esses fatores são invertidos. Nessa fase, deverão ser definidos os processos,
tecnologias construtivas, materiais, etc., tudo objetivando a minimização dos custos e o
aumento da eficiência. Uma vez efetuado um bom planejamento inicial, o próximo passo
é o desenvolvimento eficiente da obra propriamente dito e, para isso, o bom planejamen-
to de um canteiro, com foco sempre nas diversas etapas construtivas.

Está começando a ocorrer, na construção civil, um processo de mudança radical na con-


cepção produtiva. Os métodos construtivos sofreram evoluções consideráveis e novas
técnicas de fabricação de elementos estruturais passam a prevalecer. Assim como a
montagem passa a tomar lugar da produção in loco, a movimentação dos materiais nos
canteiros começa a se especializar através da utilização de equipamentos compatíveis,
ou seja, a construção civil está se aproximando do processo de industrialização seria-
da.

Quanto mais industrializada a construção, mais ela se assemelha à indústria seriada. O


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grande diferencial da construção civil é que suas tarefas geralmente não são repetitivas,
não existe um padrão contínuo das atividades, a manufatura (fábrica) nunca é no mesmo
local, entre outros. Com a industrialização, esses fatores são minimizados, fazendo com
que se aproxime o quanto possível de um processo de montagem. Isso conduz a que os
processos se desenvolvam de uma forma totalmente diferente. Os equipamentos exigi-
dos são tecnologicamente mais sofisticados, a mão-de-obra mais qualificada, o fluxo de
suprimentos e os prazos são mais rigorosos.
A logística é um termo em muita evidência em todos os setores industriais / empresa-
riais. Hoje, todas as grandes empresas, empresas de ponta, nos mais diversos setores,
utilizam-se da logística como forma de administrar seus fluxos produtivos com resultados
inquestionáveis.

Dentre as indústrias manufatureiras, a construção civil, em especial o subsetor edifica-


ções, é a indústria que menos se utiliza da tecnologia logística em sua gestão produtiva,
fato que repercute significativamente na produtividade, qualidade, prazos e com eleva-
dos índices de perdas e desperdícios. Evidentemente, isso ratifica o a situação em que
se encontra este setor industrial, onde todos os estudos apontam para índices entre 25%
a 30% de perdas e desperdícios em relação aos quantitativos totais, ou seja, para cada
três edificações construídas, praticamente, poderia ser construída outra.

5 - Aquisição de Suprimentos

O processo de aquisição de materiais para a realização da obra é um processo complexo


de tomada de decisão e comunicação entre vários agentes que fazem parte da cadeia
produtiva da construção civil. Dentro da organização empresarial, deve existir uma inte-
ração entre os setores que estarão diretamente relacionados com a aquisição e com o
planejamento da obra. As principais fases do processo de aquisição podem ser caracte-
rizadas em identificação da necessidade do recurso, realização do pedido de cotação,
comparação entre propostas recebidas, emissão do pedido de compra, recebimento e
armazenamento do recurso e, finalmente, seu pagamento.

A dinâmica do canteiro de obras influencia diretamente na aquisição dos materiais. Exis-


tem diversos condicionantes, tais como: a seqüência física de execução, a disponibilida-
de de áreas para armazenamento no canteiro de obras, a alocação de recursos humanos
em função da produtividade esperada e o desenvolvimento adequado do planejamento.
A adoção de conceitos e ferramentas adaptados da indústria seriada traduz-se numa es-
tratégia cada vez mais utilizada na construção civil. Por exemplo, para adequar a gestão
dos fluxos e processos de movimentação e armazenamento de materiais nos ambientes
fabris, são utilizados enfoques logísticos de administração. O conceito de logística apli-
cado à realidade da construção civil pode ser entendido como: “um processo multidisci-
plinar aplicado a uma determinada obra, que visa garantir no tempo, qualidade e custo
esperados, o abastecimento, a armazenagem, o processamento e a disponibilização dos
recursos materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes
de produção e a gestão dos fluxos físicos de produção e das informações relacionadas
a estes” (SILVA; Cardoso, 1999).
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Assim, o desenvolvimento de ferramentas, como a análise logística, que facilitem essa
administração traduz-se numa estratégia eficaz de gerenciamento dos recursos aloca-
dos na obra.

6 - Desenvolvimento de Ferramentas Gerenciais para o Processo de Aquisição de


Suprimentos

Conforme já mencionado, para cada fase da produção e correspondentes materiais a


serem adquiridos, existe a necessidade de se gerenciar o processo de aquisição. Devido
à repetitividade desse processo e para reduzir o esforço gerencial daqueles que serão
os responsáveis pelo mesmo, é importante desenvolver ferramentas que auxiliem na
administração e controle da transferência de informações.

Os exemplos propostos são:

• cronograma de necessidade de materiais e componentes;


• cronograma de início do processo de aquisição de materiais;
• cronograma de entregas de materiais na obra.

Além disso, também podem ser desenvolvidas planilhas que facilitem a comparação das
propostas de cotação, minutas de contrato para a fase de negociação, a elaboração de
diretrizes para o correto armazenamento no canteiro de obras, etc.

Texto Complementar: Cronograma de necessidade de materiais e componentes

O cronograma de necessidade de materiais pode ser obtido diretamente do cronograma


físico da obra através da atribuição de recursos às atividades ou serviços. A utilização de
programas gerenciadores de projeto e de planilhas eletrônicas facilita a obtenção desse
dado.

Durante a elaboração do cronograma de necessidade de materiais, é importante de-


compor os produtos de acordo com sua constituição e com o processo de compras. Um
exemplo típico é a argamassa, que pode ser industrializada ou produzida no canteiro. Se
definido que a argamassa será produzida no local, devem ser determinados os quantita-
tivos de seus materiais básicos: cimento, cal e areia, de acordo com o respectivo traço,
conforme exemplificado na Figura 3.

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Figura 3: Cronograma de necessidade de materiais e componentes

Texto Complementar: Cronograma de início do processo de aquisição de mate-


riais

O processo de aquisição deve considerar, além da necessidade de planejamento da


obra, as operações comerciais, financeiras e administrativas envolvidas para garantir a
execução da obra.

Dessa forma, no início desse processo, devem-se considerar os prazos referentes à ela-
boração da proposta para cotação, distribuição aos fornecedores cadastrados ou não,
período relativo à formulação da resposta, processo de negociação, autorização de
compra, programação para entrega dos materiais pelo fornecedor e recebimento no can-
teiro de obras.

Para cada material a ser adquirido ou tipo de fornecedor, esse prazo poderá ser variável.
Assim, é interessante a criação de uma ferramenta gerencial que identifique o início do
processo de cotação para facilitar a administração do setor de suprimentos ou do cantei-
ro de obras, conforme Figura 4.

O ponto de partida para esse processo consiste do cronograma de necessidade de ma-


teriais, ou seja, o momento de aplicação dos mesmos nas frentes de trabalho.

Outras condições a serem observadas dizem respeito às estratégias de compra e nego-


ciação a serem utilizadas, que devem seguir as diretrizes da empresa e da conjuntura
econômica do momento. As compras podem ser parceladas ou totais, independentemen-
te do processo de entrega dos produtos, que também podem ser parcelados ou totais.

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Figura 4: Cronograma de início do processo de aquisição de materiais

Texto Complementar: Cronograma de entregas de materiais no canteiro de obras

Outra análise diz respeito aos procedimentos necessários para entrega e recebimento
dos materiais no canteiro de obras. Fazendo uso da logística, do conhecimento das
condições do canteiro, como espaços para armazenamento, ritmo de produção e dimi-
nuição dos fluxos de transporte, além da necessidade de distribuição dos esforços entre
os profissionais ou operários existentes, é recomendável que haja uma distribuição dos
processos de entrega na obra. A Figura 5 ilustra um exemplo de cronograma de entregas
de materiais na obra.

Figura
Figura 5:
5: Cronograma
Cronograma de
de entregas
entregas de
de materiais
materiais no
no canteiro
canteiro de
de obras
obras

7 - Elementos do Canteiro

Ligados à produção:

• Central de argamassa;
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• Pátio de armação (corte/dobra/pré-montagem);
• Central de fôrmas;
• Central de pré-montagem de instalações;
• Central de esquadrias;
• Central de pré-moldados.

De apoio à produção:

• Almoxarifado de ferramentas;
• Almoxarifado de empreiteiros;
• Estoque de areia;
• Estoque de argamassa intermediária;
• Silo de argamassa pré-misturada a seco;
• Estoque de cal em sacos;
• Estoque de cimento em sacos;
• Estoque de argamassa industrializada em sacos;
• Estoque de tubos;
• Estoque de conexões;
• Estoque relativo ao elevador;
• Estoque de esquadrias;
• Estoque de tintas;
• Estoque de metais;
• Estoque de louças;
• Estoque de barras de aço;
• Estoque de compensado para fôrmas;
• Estoque de passarela para concretagem.

Sistemas de Transporte:

Com decomposição de movimento:

• Na horizontal: carrinho; jerica; porta-palete; “dumper”; “bob-cat”;


• Na vertical: sarilho; talha; guincho de coluna; elevador de obras.

Sem decomposição de movimento:

• Gruas: torre fixa; torre móvel sobre trilhos; torre giratória; torre ascensional;
• Guindastes sobre rodas ou esteiras;
• Bombas: de argamassa; de concreto.

De apoio Técnico/Administrativo:

• Escritório do engenheiro e estagiário;


• Sala de reuniões;
• Escritório do mestre e técnico;
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• Escritório administrativo;
• Recepção / guarita;
• Chapeira de ponto.

Áreas de Vivência:

• Alojamento;
• Cozinha;
• Refeitório;
• Ambulatório;
• Sala de treinamento/alfabetização;
• Área de lazer;
• Instalações sanitárias;
• Vestiário;
• Lavanderia.

Outros Elementos:

• Entrada de água;
• Entrada de luz;
• Coleta de esgotos;
• Portão de materiais;
• Portão de pessoal;
• Tapume;
• “Stand” de vendas.

De Complementação Externa à Obra:

• Residência alugada/comprada;
• Terreno alugado/comprado;
• Canteiro central.

Texto Complementar: Algumas “dicas” para sua reflexão ao projetar o canteiro de


obras:

Dica 1

O canteiro é o cartão de visitas de toda obra, portanto vale a pena projetá-lo em confor-
midade com a imagem de sua empresa.
O canteiro é a praça de relacionamento de sua empresa com a vizinhança da obra, clien-
tes, fornecedores e funcionários.

Dica 2

Projete as edificações sempre em conformidade com as normas, visando estabilidade


estrutural, conforto ambiental e segurança.

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Dica 3

Implante o canteiro em local que permaneça o maior tempo possível, pois desmobiliza-
ções durante a obra causam muito transtorno.

Dica 4

Encontre um local que não interfira nas movimentações horizontais e verticais de mate-
rial e pessoal, e que ao mesmo tempo lhe assegure controle da obra, bem como facilida-
de de acesso para funcionários e visitantes.

Dica 5

Sempre que possível, leve em consideração a insolação e ventilação para contribuir com
o conforto dos usuários.

Dica 6

Ao planejar as edificações de apoio, estabeleça um programa de necessidades, com


definições claras de tamanhos de salas, localização e fluxos. Se possível, projete o mo-
biliário para evitar falta ou excesso de espaço.

Dica 7

Ao planejar as instalações sanitárias, considere 01 chuveiro para cada grupo de 10 tra-


balhadores e um conjunto de lavatório, vaso sanitário e mictório para cada grupo de 20
trabalhadores.

Dica 8

Os alojamentos devem ter pé-direito de:


- 2,50m para cama simples;
- 3,00m para beliches.
É proibido instalá-los em subsolos ou porões.

Dica 9

No refeitório, calcule aproximadamente 1,00m2/trabalhador para o local de refeições. O


refeitório não pode estar situado em subsolos ou porões, nem ter comunicação direta
com as instalações sanitárias.
O pé-direito mínimo é de 2,80m, ou conforme o código de obras do município da obra.

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Dica 10

Sempre que houver trabalhadores alojados, as áreas de vivência deverão dispor de alo-
jamentos, lavanderia e área de lazer.

Dica 11

Toda obra com 50 ou mais trabalhadores alojados deverá ter um ambulatório.

8 - Instalações de Infra-Estrutura

As instalações de infra-estrutura podem ser consideradas como os pressupostos básicos


para um desenvolvimento racional da construção.

Considerando os aspectos qualidade e eficiência no planejamento dessas instalações,


serão apresentados aqui, de forma sucinta, os componentes da infra-estrutura que de-
vem estar presentes em todos os canteiros de obras.
Além das áreas destinadas diretamente aos trabalhos de obra, deve-se avaliar, durante
a fase de planejamento, a necessidade ou não da instalação de um plantão de vendas
no local da obra. Em caso afirmativo, devem ser previstas a área e a melhor localização
para tal.

Áreas de vivência

a) Escritórios de obra

Devem ser colocadas à disposição dos funcionários administrativos de uma obra, dentre
os quais se incluem o gerente, mestre e supervisor, salas de escritório e espaços onde
possam ser realizadas reuniões. Para as reuniões, tanto pode ser colocada à disposição
uma sala própria, como pode ser usado o escritório do gerente da obra, desde que seja
dimensionado de forma adequada para esse fim.

Normalmente as salas do pessoal administrativo devem estar dispostas nas laterais do


canteiro, de preferência próximas ao acesso da obra. Além disso, deve ser possibilitada,
a partir dessas salas, uma visão geral do canteiro para que possam ser percebidos, pelo
gerente ou supervisor, possíveis transtornos ou situações de risco na obra.

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Figura 6: Modelo de escritório de um canteiro
Fonte: www.canteiro.com.br

b) Local para refeições

Independente do número de trabalhadores, todo canteiro de obras deve possuir um local


adequado, onde os trabalhadores possam fazer suas refeições e encontrar abrigo em
tempo ruim. Esses alojamentos devem ter piso de concreto, cimento ou outro material
lavável, e conter, além de mesas e cadeiras, equipamentos de cozinha. O local deve ter
capacidade para atender a todos os trabalhadores no horário das refeições (considera-
se 1,25 m² por trabalhador).

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Figura 7: Modelo de refeitório de um canteiro - Fonte: www.canteiro.com.br

c) Vestiários

Todo canteiro de obras deve possuir um vestiário, localizado de preferência próximo à


entrada da obra, o qual deve estar provido de armários individuais, dotados de fechadu-
ras e cabides.

Figura 8: Modelo de Vestiário c/ Sanitário usual em canteiros - Fonte: www.canteiro.com.br

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d) Instalações sanitárias

As instalações sanitárias são componentes básicos e essenciais de um canteiro de


obras. Elas devem ser equipadas com vasos sanitários (bacia turca ou vaso sifonado),
mictórios, lavatórios e chuveiros. Para esse fim, além dos barracos normalmente utiliza-
dos, podem-se instalar carros toiletes completamente equipados.

As normas de condições de trabalho (NR 18) fornecem os seguintes parâmetros para


dimensionamento das instalações sanitárias segundo o número de trabalhadores:

• um conjunto composto de lavatório, vaso sanitário e mictórios para cada grupo de


20 trabalhadores ou fração;
• um chuveiro para cada grupo de 10 trabalhadores ou fração.

Figura 9: Modelo de instalações sanitárias utilizadas em canteiros


Fonte: www.canteiro.com.br

9 - Armazenamento e estocagem de materiais

A cada fase da obra, deve-se utilizar uma planta em escala 1:100, representativa da si-
tuação inicial da fase, com o objetivo de vislumbrar os espaços disponíveis para abrigar
os elementos de canteiro necessários.

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a) Almoxarifado

O almoxarifado serve para guardar ferramentas e equipamentos, bem como armazenar


materiais que serão usados durante a construção. Como alguns materiais são sensíveis
ao tempo, deve-se garantir a estanqueidade do local de armazenagem. Ele deve pos-
suir, também, uma boa iluminação e ter um dimensionamento proporcional ao volume
da obra.

Devido à utilização múltipla do almoxarifado, ele deve ser instalado em local de fácil
acesso e, se possível, próximo ao centro do canteiro.
De acordo com o tamanho da obra e espaço disponível, pode ser mais viável economi-
camente o uso de containeres para todas as instalações citadas (escritórios, refeitórios,
vestiários, instalações sanitárias). Na análise de viabilidade dessa solução, entra em
consideração a rapidez de montagem e desmontagem do canteiro bem como o tempo
de disponibilidade dessas instalações na obra.

Figura 10: Almoxarifado convencional em canteiros


Fonte: www.canteiro.com.br

b) Galpões para depósito

Os galpões usados como depósitos para os materiais de construção, como tijolos, mas-
sa ou ferragem de armação, devem ser dimensionados adequadamente durante o pla-
nejamento da obra. Esse dimensionamento deve considerar principalmente a estocagem
das barras de aço para armadura, possibilitando uma boa variedade de barras com diâ-
metro, comprimento e formas diferentes, no caso de barras já dobradas. A base deve ser
plana e firme, para poder estocar o material com segurança. Se necessário, a base de

22 Tecnologia no Canteiro de Obras


estocagem pode ser melhorada colocando-se madeira ou outros materiais adequados
sobre o piso.

Na Alemanha, para a estocagem de cimento, gesso e materiais similares, são usados


silos na maioria dos casos e, para tal, as fundações precisam ser feitas de modo a su-
portarem a carga de um silo cheio. Por outro lado, os silos devem também ser ancorados
na fundação, pois, quando vazios, são tão leves que podem ser levantados pela ação
do vento.

Texto Complementar

Tabela 2: Áreas necessárias à estocagem de alguns insumos para a construção.


Características do
Material Quantidades Área (m2)
Estoque

Fonte: Boletim Técnico do Departamento de Engenharia de Construção Civil da EPUSP - BT 177, p.12.

Central de carpintaria

A fabricação ou pré-montagem de fôrmas no canteiro de obras requer a instalação de


uma central de carpintaria, cuja localização deve ser escolhida de modo a facilitar o flu-
xo do material. A pilha de tábuas e vigotes, por exemplo, deve estar localizada junto ao
acesso da obra. As serras, assim como a mesa de trabalho, devem ser posicionadas de
modo que as peças de madeira possam ser retiradas da pilha longitudinalmente e posi-
cionadas para o corte no tempo necessário para a montagem no local de concretagem;
no entanto, deve ser considerada, nesses casos, a necessidade de um equipamento
adequado para o transporte desses elementos, como, por exemplo, a grua. Independen-
temente da fabricação, ou não, das fôrmas no próprio canteiro, a instalação de uma serra
circular é indispensável.

Fornecimento de água

A água é necessária para muitos fins na obra. Ela é usada, por exemplo, no preparo de
misturas como concreto e argamassas e, também, na limpeza de equipamentos e veí-
culos. Além disso, o funcionamento das instalações sanitárias depende de um dimensio-
namento adequado do abastecimento de água. A água para beber deve ser colocada à

Tecnologia no Canteiro de Obras


23
disposição em forma de bebedouros com água potável. Recomenda-se que o projetista
de instalações hidráulicas contratado desenvolva também um projeto para o abasteci-
mento das instalações do canteiro de obras.
A demanda de água de uma obra pode ser determinada com auxilio de valores de refe-
rência tabelados para os diferentes usos (Tabela 3:) (Rosenheinrich, 1981).

Texto Complementar

Tabela 3: Tabela de referência para a determinação da demanda de água


Uso Demanda
água para beber e higiene 20 – 30 l/homem –dia
água para preparar argamassa 200 – 250 l/m³
água para preparar concreto 100 – 200 l/m³
água para o tratamento posterior concre- 30 l/m³
to
Outros fins de pequena demanda Adicional 20 – 25¨%

Esgoto da obra

Para áreas localizadas em centros urbanos, o escoamento do esgoto de obra na rede


pública não é apenas a solução mais econômica e higiênica, mas também, freqüente-
mente, a única solução. Nesses casos, deve-se observar que o esgoto esteja livre de
componentes tóxicos não permitidos pelos órgãos públicos de saneamento. As normas
e leis que determinam o procedimento adequado em relação ao esgoto de uma obra
variam de acordo com a sua localização e por isso devem ser esclarecidas com a devida
antecedência. Caso necessário, deve ser providenciada a permissão do órgão compe-
tente para o escoamento do esgoto na rede pública.

Instalações elétricas

Para o planejamento do abastecimento de energia elétrica da obra, deve ser determi-


nado com antecedência onde deverão existir pontos de energia e qual será a demanda
necessária para, em seguida, ser planejada a rede de distribuição de energia. Deve-se
considerar também que as instalações do canteiro de obras estão sujeitas a condições
especiais como umidade, impactos e radiação solar, que implicam medidas especiais de
segurança, como eletrodutos resistentes a essas influências. Deve-se garantir ao traba-
lhador segurança e fácil acesso às instalações. Equipamentos seguros e que podem ser
reutilizados em outras obras devem ter prioridade sobre as ligações temporárias e de
pouca segurança.

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Texto Complementar

Tabela 4: Demanda de energia elétrica estimada para o canteiro de obras


Demanda máxima provável do canteiro de obras
Potência total instalada – 142.860 w
Lâmpadas 1.500 W 100% 1.500W
Betoneira 580 litros
5.520 W 100% 5.520 W
(7,5 cv)
Elevador de carga
9.200W 100% 9.200 W
(12,5 cv)
Furadeira martelete
1.300 W 100% 1.300 W
(2 un)
Vibrador para con-
2.208 W 100% 2.208 W
creto (3 cv)
Máquina de cortar
2.208 W 100% 2.208 W
ferro
Máquina de dobrar
2.208 W 100% 2.208 W
ferro
Máquina de solda 5.500 W 100% 5.500 W
Máquina de cortar
660 W 100% 660 W
parede
Serra circular de
3.680 W 100% 3.680 W
mesa (5 cv)
Plaina elétrica ma-
750 W 100% 750 W
nual
Chuveiro 17.600 W 100% 17.600 W
Serra circular para
3.000 W 100% 3.000 W
madeira
Serra circular para
2.800 W 100% 2.800 W
mármore
58.134W 58.134 W
Total =
x 60% 34.880 W
Demanda de 34,88 kVA (91,54 A). Considerando o fator de potência e a corrente de
partida dos motores, justifica-se o limitador termomagnético tripolar de 100 A.
Para a estimativa de demanda, admitiu-se 60% dos equipamentos funcionando ao
mesmo tempo.

10 - Caminhos para veículos e pedestres dentro do canteiro

Na definição dos caminhos entre os diversos pontos do canteiro de obras, deve-se, por
motivo de segurança, tentar fazer a separação de caminhos para veículos e para pedes-
Tecnologia no Canteiro de Obras
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tres, mesmo que, na prática, isso não seja completamente realizável.

O ideal é que os caminhos para veículos sejam planejados de forma que estes só pos-
sam andar em uma direção (mão única). Deve ser evitado que eles se desloquem de ré,
pois isso favorece a ocorrência de acidentes mesmo com a utilização de sinalização.

O traçado das ruas dentro do canteiro deve possibilitar que os transportes sejam realiza-
dos sem que haja empecilhos ou situações de conflito. Para isso devem ser considera-
dos os seguintes pontos:

• a entrada e saída de veículos da obra devem ser posicionadas de modo a permitir


boa visibilidade;
• as ruas dentro do canteiro devem possibilitar uma ligação direta entre os meios de
transporte verticais e horizontais;
• se possível, deve-se tentar, através do traçado de ruas, facilitar o acesso dos
veículos aos principais pontos de produção dentro do canteiro;
• quando ocorrer o descarregamento de veículos no canteiro, os demais transpor-
tes não devem ser prejudicados por essa atividade;
• entre a construção e o caminho de veículos, deve haver espaço suficiente para o
depósito de materiais e para a realização de trabalhos, principalmente quando o
traçado circunda o edifício;
• por motivo de segurança, deve-se deixar espaço suficiente entre os caminhos de
veículos e os equipamentos, andaimes e alojamentos.

É importante que veículos pesados mantenham uma distância adequada das escava-
ções para evitar desmoronamentos. Os caminhos de veículos devem ser reforçados
para suportar as cargas que passarão sobre eles. Uma boa solução é dada pelo tapete
de saibro que, além de reforçar o caminho, proporciona a limpeza das rodas dos veícu-
los, dispensando a disponibilização de um servente para a limpeza das mesmas ou da
calçada.

11 - Definição do layout do canteiro de obras

Nesta etapa do planejamento do canteiro, a experiência e a criatividade dos planejadores


são fundamentais, pois é aqui que, através de proposições para a organização do can-
teiro em cada uma de suas fases, os responsáveis pelo mesmo procurarão, da melhor
maneira possível, compatibilizar as necessidades com a disponibilidade de áreas. Vários
outros aspectos deverão ser simultaneamente considerados, tais como segurança, cus-
tos, etc., não existindo solução única, e, sim, diferentes possibilidades as quais podem
ser melhores ou piores de acordo com o contexto em que se inserem.

Essa tarefa é muitas vezes mais facilmente cumprida se executada em duas etapas:
definição geral e detalhamento do layout. Na primeira delas, trabalha-se com estimativas
mais globais, enquanto, na segunda, detalha-se cada uma das partes do canteiro. A fim
de auxiliar na busca de uma solução racional, indicam-se, a seguir, algumas orientações
para o trabalho criativo do planejador, bem como se discutem critérios para a avaliação
da(s) solução(ões) proposta(s).

26 Tecnologia no Canteiro de Obras


12 - Fluxograma dos processos

A elaboração de um fluxograma dos processos (associados à quantidade de viagens ne-


cessárias entre cada parte) que envolvem maior quantidade de transporte é importante
para ajudar a vislumbrar as partes que se desejaria ter mais próximas entre si. A Figura
11 ilustra um fluxograma para o caso de um edifício tradicional de 3000 m2 de área cons-
truída quanto aos serviços de estrutura, alvenaria e revestimentos argamassados; nota-
se que algumas partes, como, por exemplo, a central de produção de argamassa, devem
ter sua posição cuidadosamente pensada para que se otimizem os fluxos em geral.

Texto Complementar

Figura 11: Fluxograma de alguns processos


Fonte: Boletim Técnico do Departamento de Engenharia de Construção Civil da EPUSP-BT177, p. 14.

13 - Proximidade desejável entre os elementos do canteiro

Deve-se listar, para cada fase em estudo, numa tabela de dupla entrada, todos os ele-
mentos necessários e o relacionamento entre cada um deles tendo em vista a importân-
cia de estarem próximos ou não.

Tecnologia no Canteiro de Obras


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Tabela 5: Importância quanto à proximidade

A, B, C, D, E = importância decrescente quanto à proximidade;


Fonte: Boletim Técnico do Departamento de Engenharia de Construção Civil da EPUSP - BT177, p. 14

14 - Roteiro para posicionamento dos elementos do canteiro

Apesar de não existir uma regra única para a seqüência de posicionamento dos elemen-
tos do canteiro, já que normalmente se tem uma solução de compromisso entre os vários
posicionamentos, sugere-se aqui um roteiro simplificado para proceder a tal disposição.

Seqüência proposta:

• Posicionamento do “stand” de vendas;


• Escolha do local do(s) acesso(s);

Texto Complementar: Dados importantes quanto ao acesso ao canteiro de obras

• Número de pistas;
• Largura Total;
• Declividade (%);
• Restrições de Circulação.

Posicionamento da guarita:

Guarita/Portaria/Chapeira: local destinado a controle de pessoal. Deve ser cons-


truída próxima à entrada do canteiro de obras, possibilitando o melhor acesso ao
mesmo. A chapeira deve ser dotada de relógio de ponto com respectivos escani-
nhos para guarda dos cartões.

Escolha do posicionamento do(s) equipamentos(s) de transporte vertical:

Recomendações quanto à posição do elevador de carga:


• distância em relação ao recebimento;
• distância em relação aos estoques;
• distância em relação aos processamentos intermediários;
• distância em relação aos pontos “de entrega”;
• segurança quanto à queda de materiais;
• redução da interferência com outros serviços: paredes com instalações; paredes
com revestimentos cerâmicos;
• uso de sacadas;
• chegada a ambiente amplo;

28 Tecnologia no Canteiro de Obras


• localização do segundo elevador: próximo ou distante;
• análise, ao longo do tempo, de mudanças de canteiro e de materiais a serem
transportados (por exemplo, portões existentes a cada momento, execução de
partes da estrutura que impedem acesso, etc.).

Localização do escritório técnico, alojamento, vestiários, sanitários e almoxarifa-


dos:

• Estudo em detalhes da localização de escritórios, vestiários, almoxarifados, ma-


nutenção, refeitório, etc., tendo, como objetivo, um melhor arranjo geral do cantei-
ro de obra e evitar interfaces com a construção da obra (minimização das interfe-
rências com as obras definitivas).
• Localização, em ordem decrescente de importância, dos principais processamen-
tos intermediários (exemplo: central de argamassa; corte/dobra/pré-montagem de
armadura) associados a seus respectivos estoques:
• o material deve ficar o mais próximo possível do local de seu uso e, quando esse
local estiver em nível alto, próximo ao equipamento de elevação. Não é um pro-
cesso simples. Por exemplo, o concreto deve ser preparado perto da estrutura a
ser executada, porém a betoneira deve ter perto de si os agregados;
• um eficiente sistema de manuseio de materiais no canteiro reduz a duração da
obra, alivia a taxa de perdas e economiza as despesas de material, mão-de-obra
e equipamento;
• seqüência dos serviços: se for adequadamente planejada, uma mesma área pode
ser destinada ao armazenamento de diversos materiais ao longo da obra. Por
exemplo, no início, a área acomodará os tijolos, depois as telhas e, no fim, tubos;
• a orientação básica para a locação dos materiais no canteiro de obra é a de esta-
rem o mais próximo possível do seu local de uso, já que carga, descarga, manu-
seio e transporte aumentam os riscos de quebra, perda e estrago dos materiais,
além de demandarem tempo.

Deve-se ter um check-list que contemple recomendações das mais variadas naturezas,
as quais, não tendo aparecido nas demais partes deste roteiro de planejamento do can-
teiro, possam ter se mostrado relevantes a partir de experiências vividas pela empresa
ou pelos planejadores de canteiro anteriormente.

15 - Layout do canteiro de obras do Edifício Vale dos Coqueiros

Vamos agora ao layout do canteiro de obras do edifício Vale dos Coqueiros. Essa con-
cepção de layout está sujeita a diversas modificações no arranjo. Analise e pense em
como conceber um novo arranjo considerando as diversas informações necessárias ao
projeto do canteiro.

Tecnologia no Canteiro de Obras


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Figura 12: Modelo de layout de canteiro de obras
Fonte: Boletim Técnico do Departamento de Engenharia de Construção Civil da EPUSP - PCC 233, p. 2.

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32 Tecnologia no Canteiro de Obras
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16 - Referências Bibliográficas

Professor Hélio Flávio Vieira


Engº Civil/Produção, Professor/pesquisador, Doutor, FURB/UNIVALI

Professora Sheyla Mara Baptista SERRA


Dra., Eng., Professora Adjunto do Departamento de Engenharia Civil da Universidade
Federal de São
Carlos - UFSCar.

Professor José Carlos PALIARI


M.Sc., Eng., Professor Assistente do Departamento de Engenharia Civil da Universidade
Federal de São
Carlos - UFSCar

Curso Organização Canteiro de Obras


Professor: Luiz Otávio Bastos.

ABNT. NBR-12284 - Áreas de vivência em canteiros de obras. Rio de janeiro, 1991.

Ferreira, E.A.M. - Metodologia para elaboração do projeto do canteiro de obras de


edifícios. Tese de doutorado apresentada à EPUSP. São Paulo: PCC-EPUSP, 1998.

LICHTENSTEIN, N.B. - Formulação de modelo para o dimensionamento do sistema


de transporte em canteiro de obras de edifícios de múltiplos andares. Tese de dou-
torado apresentada à EPUSP. São Paulo: PCC-EPUSP, 1987.

Ministério do Trabalho. NR18 - Condições e meio ambiente do trabalho na indústria


da construção. Brasília, 1995.

Muther, R. - Planejamento do layout: sistema SLP. São Paulo: Edgar Blucher, 1986.

Souza, U.E.L. - Canteiro de Obras. São Paulo: EPUSP/ITQC, 1993.

Sampaio, J.C.A. - NR-18: Manual de aplicação. São Paulo: Sinduscon-SP/PINI, 1998.

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Anotações

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Anotações

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