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Fiscalização de Projetos e

Obras de Engenharia

Logística e Compras Públicas


Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Athos Andre do Amaral Rocha (Conteudista, 2023).

Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO

Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1 – Noções prévias de fiscalização de projetos e obras
Unidade 1 - Introdução............................................................................................ 6
Unidade 2 - O Termo de Referência (ou Projeto Básico,
anexo ao Edital): os cuidados na elaboração...................................................... 12
Unidade 3 – O fiscal de contrato e o profissional habilitado:
as diferenças entre um e outro............................................................................. 18
Unidade 4 - Os conceitos específicos na área de Fiscalização
de Projetos e Obras................................................................................................ 20

Módulo 2 – Projeto de Edificações


Unidade 1 - O que é o projeto de edificações e como contratá-lo? .................. 27
1.1 A importância de um bom projeto para a futura atividade de
manutenção predial da edificação................................................................................ 27
1.2 Como um bom projeto determina o custo de uma obra
ao longo de toda a sua vida útil..................................................................................... 30
Unidade 2 - O projeto começa pela contratante................................................. 35
Unidade 3 - Familiarizando-se com a terminologia aplicada ao projeto. ........ 41
Unidade 4 - Contratação do projeto: qual é a modalidade de
licitação mais indicada? ........................................................................................ 45
Unidade 5 - A diferença entre Direito Autoral e Direito Patrimonial.
Autores e Coautores............................................................................................... 54
Unidade 6 - Como receber um projeto de edificações? ..................................... 60
6.1 A responsabilidade do gestor de contrato............................................................. 62
Unidade 7 - A importância da observação da representação gráfica na
apresentação de projetos ..................................................................................... 65
Unidade 8 - Coordenando um projeto de edificações ....................................... 70
Unidade 9 - A compatibilização dos projetos ...................................................... 74
Unidade 10 – O “projeto-mãe” em projetos de edificações ............................... 77
Unidade 11 - A plataforma BIM e o seu papel na coordenação e na
compatibilização dos projetos ............................................................................. 80

Módulo 3 – Planilha Orçamentária


Unidade 1 - A Planilha orçamentária: principais conceitos
e como ela deve ser exigida................................................................................... 85

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Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado).................... 85
Unidade 2 - Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? ...................... 90
Unidade 3 - Preço: conceito e forma de composição......................................... 96
Unidade 4 - O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do
BDI ........................................................................................................................... 99

Módulo 4 – Obra 104


Unidade 1 - A obra: as primeiras providências para um bom resultado........ 104
1.1 Cuidados na exigência de habilitação nos editais de obras de edificações..... 104
Unidade 2 - O controle da documentação na obra .......................................... 109
Unidade 3 - Usando softwares de gerenciamento de projetos....................... 112
Unidade 4 - A importância da assessoria à fiscalização .................................. 115
Unidade 5 - A atuação do Fiscal de Obras.......................................................... 119
A fiscalização da obra (controle de materiais e procedimentos,
fiscalização de atendimento às normas legais, etc.)................................................. 119
Unidade 6 - A troca das especificações: o conceito do
“Similar-semelhante” e do “Similar-equivalente”............................................. 122
Unidade 7 - Os critérios de medição nas obras (contratos com
regime de empreitada por preço global e contrato com regime de
empreitada por preços unitários)....................................................................... 125
Unidade 8 - Os aditivos de obra: o que deve ser observado?.......................... 128
Unidade 9 - O uso da curva ABC como ferramenta de análise para a
concessão de aditivos de obras de edificações................................................. 132
Unidade 10 - Acompanhando e recebendo a obra: a gestão de
documentos........................................................................................................... 135
A apresentação da documentação técnica da obra: o projeto executivo.............. 135
Unidade 11 - A apresentação dos documentos de registro da obra:
o projeto em as built ou “como construído”..................................................... 138

Referências ........................................................................................................... 141

Glossário................................................................................................................ 148

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Olá!
Desejamos boas-vindas ao curso Fiscalização de projetos e obras de engenharia.
O conteúdo foi estruturado em 4 módulos, a saber:
• Módulo 1: Noções prévias de fiscalização de projetos e obras;
• Módulo 2: Projeto de edificações;
• Módulo 3: Planilha orçamentária;
• Módulo 4: Obra.
O objetivo desse curso é apresentar subsídios nas áreas de engenharia e arquitetura,
bem como noções do arcabouço legal, necessários para o entendimento e realização
de procedimentos concernentes à fiscalização de projetos e obras de engenharia de
edificações na administração pública.
Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de:
• Relacionar a legislação vinculada aos processos licitatórios nas áreas de
projetos e obras;
• Identificar os principais conceitos vinculados às áreas de arquitetura e
engenharia, especialmente na área de edificações;
• Identificar os itens obrigatórios a serem observados quando da
contratação de projetos de edificações;
• Identificar a importância do projeto no ciclo de vida de uma edificação
(na otimização do seu custo, manutenção, etc.);
• Escolher quais tipos de documentos técnicos devem ser gerados,
conforme o tipo de projeto de edificações contratado;
• Identificar o alcance da responsabilidade técnico-administrativa do
gestor de contratos de projetos e obras;
• Demonstrar as vantagens da compatibilização, coordenação e
gerenciamento de projetos;
• Identificar os problemas mais comuns que ocorrem durante a fiscalização
de obras e como evitá-los;
• Apontar as premissas para a celebração de termos de aditamento,
quando necessários.
Assista a seguir a apresentação do curso com o arquiteto e servidor da Receita
Federal, Athos Rocha.
Desejamos um excelente estudo!

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Módulo

1 Noções prévias de fiscalização


de projetos e obras
Unidade 1 - Introdução

Ao final da unidade, você será capaz de relacionar a legislação


vinculada aos processos licitatórios, aos contratos e à fiscalização
e identificar a importância de cada uma das leis aplicadas à
fiscalização de projetos.

Qual é o conhecimento básico necessário aos profissionais que


atuam no preparo do instrumento convocatório, contrato e
fiscalização?
No âmbito da Administração Pública, as atividades de Fiscalização de Projetos e
Obras apresentam uma particularidade, se considerarmos o desenvolvimento
dessas mesmas atividades no âmbito da iniciativa privada. Trata-se da preparação
da contratação, amparada em normativas legais específicas, e o seu resultado com
a publicação de um edital. Compare e veja que na esfera pública as contratações são
muito mais demoradas do que aquelas da iniciativa privada.

Figura 1 – Publicação do edital

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O edital, como peça fundamental para as contratações de projetos e obras, é o
instrumento que norteará a relação entre Administração Pública e a proponente
(dos serviços), e dele fará parte a minuta do Contrato, como um dos seus anexos,
exceto nas hipóteses de Dispensa de licitação em razão de valor e compras com
entrega imediata e integral dos bens adquiridos e dos quais não resultem obrigações
futuras, inclusive quanto a assistência técnica, independentemente de seu valor, em que
o contrato pode ser substituído por carta-contrato, nota de empenho de despesa ou
ainda autorização de compra ou ordem de execução de serviço. (Lei nº 14.133)

O regime jurídico para tais contratos, conforme a Lei n° 14.133/202,1 Art. 95, inciso
II, confere à Administração Pública a prerrogativa de modificá-los unilateralmente
para a melhor adequação às finalidades do interesse público, respeitados os direitos
do contratado de acordo com o Art. 104, inciso I.

É muito importante que os profissionais que atuam nessas áreas detenham um


conhecimento básico de legislação relativa à elaboração de editais.

Figura 2 – Atualização

A preparação desse instrumento convocatório deve obedecer à inúmeras normativas,


muitas em constante modificação, devendo a sua redação ser correta e atualizada,
visto que esse documento será o principal documento da relação Contratante/
Contratado, servindo de referência legal durante todo o período da contratação.

O edital, como é o principal elemento que solucionará impasses e esclarecerá


dúvidas, se incorreto, perderá o seu propósito, inclusive dando oportunidade para
contestações judiciais, caso não esteja bem elaborado ou redigido de forma clara,
coesa e obedecendo fielmente à legislação vigente.

A Instrução Normativa n° 05, de 25 de maio de 2017, da Secretaria de Gestão


do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, determinou a
obrigatoriedade do Gerenciamento de Riscos para as contratações públicas, com

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a elaboração de mapas de riscos, juntados aos autos do processos em algumas
etapas da licitação, entre elas ao final da elaboração do Termo de Referência ou
Projeto Básico. Esses conceitos serão desenvolvidos ao longo do curso.

Já a Portaria n° 389, de 23 de agosto de 2017, do Ministério da Fazenda, determina


que devam ser adotadas as minutas padronizadas da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional na elaboração de instrumentos de contratação pública de
serviços como projetos ou execução de obras pelos órgãos do Ministério da Fazenda
(http://www.pgfn.fazenda.gov.br/consultoria-administrativa/minutas-padrao). Essa
determinação foi acatada com a edição da Portaria RFB nº 2.363, de 06 de julho de
2017.

Outro aspecto importante é a observação ao Decreto nº 7.746, de 05 de junho


de 2012, e ao Decreto nº 9.178, de 23 de outubro de 2017, que o atualiza, que
regulamenta o art. 3° da Lei n° 8.666, de 21 de junho de1993, para estabelecer
critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal, e
institui a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública
–CISAP.. Complementa o mesmo tema, a IN SLTI/MP nº 01, de 19 de janeiro de
2010, que dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de
bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta,
autárquica e fundacional e dá outras providências. Tanto o Decreto nº 7.746, de
05 de junho de 2012 quanto o Decreto nº 9.178, de 23 de outubro de 2017, que o
atualiza, estão em vigor, não tendo sido revogados, apesar da revogação da Lei nº
8.666/1993.

A Lei nº 14.133/2021 determina os elementos mínimos necessários à composição


de um edital. No seu artigo 25 estão as principais exigências para a sua elaboração:

Art. 25. O edital deverá conter o objeto da licitação e as regras relativas à


convocação, ao julgamento, à habilitação, aos recursos e às penalidades da
licitação, à fiscalização e à gestão do contrato, à entrega do objeto e às condições
de pagamento.

A Lei n° 14.133/2021, no seu artigo 102 estabelece que, na contratação de obras e


serviços de engenharia, o edital poderá exigir a prestação da garantia na modalidade
seguro-garantia e prever a obrigação de a seguradora, em caso de inadimplemento
pelo contratado, assumir a execução e concluir o objeto do contrato.

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Qualquer pessoa é parte legítima para impugnar edital de licitação por irregularidade
na aplicação da Lei de Licitações e Contratos Administrativos ou para solicitar
esclarecimento sobre os seus termos. (Art.164. Lei 14.133/2021)

A elaboração de editais, considerando-se todos os quesitos já discutidos até


aqui, é tarefa complexa e que requer dedicação do agente público. Por tal razão,
é imprescindível a sua capacitação. Soma-se a isso o fato de que há constantes
atualizações na legislação que afetam o tema, muitas vezes corrigem ou alteram
preceitos anteriormente adotados, seja pela edição de novas leis, ou por
jurisprudência dos tribunais superiores ou outros órgãos de controle. Sendo o
edital a peça fundamental na relação contratatual entre a Administração Pública
e o Contratado, dele faz parte a minuta do contrato de prestação de serviços, nas
hipóteses cabíveis, conforme disposto no Art. 18, inciso VI, da Lei nº 14.133/2021.

Figura 3 – Edital

Por outro lado, uma análise detalhada da Gestão por Competências da Receita
Federal do Brasil - RFB (no caso dos servidores desse órgão), apresentadas na forma
de uma Cadeia de Valor, através do Mapa Estratégico da instituição, informa quais
são as competências que se espera do servidor, em níveis fundamental, gerencial
(quando servidor ocupante de cargos de chefia) e específico.

A Gestão por Competências da Receita Federal do Brasil está vinculada à Política


Nacional de Desenvolvimento de Pessoal da Administração Pública Federal (PNDP),
que foi instituída pelo Decreto nº 9.991, de 28 de agosto de 2019, sendo o referencial
para a política de capacitação do servidor.

Dentro das competências individuais específicas necessárias ao servidor, estruturadas


de acordo com os processos de trabalho que compõem a Cadeia de Valor da RFB,
aquelas aplicadas aos servidores arquitetos, engenheiros, ou demais servidores que
atuam na fiscalização de projetos e obras são as relacionadas ao macroprocesso 12
“Gestão de Materiais e Logística”, processo de trabalho 12.2 “Gerir Imóveis e Obras”
(Portaria RFB nº 53, de 16 de julho de 2021) e são as listadas a seguir:

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1. Cadastro de imóveis: Realizar cadastros e atualizações de imóveis nos
sistemas informatizados disponíveis, por meio da avaliação das condições
dos imóveis.

2. Elaboração de planos e orçamentos de projetos, obras e serviços de


engenharia: Elaborar e avaliar planos e orçamentos de projetos, obras e
serviços de engenharia, com base em orientações técnicas e priorizando
demandas de acordo com os recursos disponíveis.

3. Elaboração de documentos para contratações de projetos, obras e


serviços de engenharia: Elaborar documentos oficiais referentes a
contratações de projetos, obras e serviços de engenharia com base na
legislação vigente e, quando aplicáveis, nas minutas-padrão estabelecidas.

4. Adequação da identidade visual de bens imóveis: Adequar os bens


imóveis, com base nos padrões definidos nos manuais de identidade
visual da RFB e da Administração Pública Federal.

5. Fiscalização técnica de projetos, obras e serviços de engenharia: Realizar


fiscalização técnica dos contratos de projetos, obras e serviços de
engenharia, conforme as normas técnicas e legislação vigente.

6. Manutenção de bens imóveis: Identificar a necessidade de ações


preventivas e corretivas para manutenção de bens imóveis, por meio de
avaliação periódica da infraestrutura física.

7. Avaliação de imóveis para locação: Avaliar as condições de infraestrutura


dos imóveis objetos de locação, com base na legislação vigente.

8. Avaliação de desenhos técnicos: Avaliar desenhos técnicos (plantas)


conforme contrato, normas técnicas de arquitetura e engenharia,
utilizando os softwares homologados pela RFB.

9. Elaboração e avaliação dos memoriais descritivos e especificações:


Elaborar e avaliar memoriais descritivos e cadernos de encargos e
especificações, com base na legislação vigente.

Perceba que, das competências elencadas, os itens marcados devem ser observados
com muito cuidado, pois invocam grande responsabilidade do agente público já
que tratam da responsabilidade subsidiária que está vinculada ao servidor quando
nomeado fiscal do contrato, na figura de especialista (engenheiro ou arquiteto) e
que será novamente tratada nos módulos 2 e 4. Eles estão diretamente ligados à
qualidade e segurança do ambiente construído.

A observância às normas técnicas de arquitetura e engenharia, bem como à


legislação vigente, são objetos constantes de auditoria, frente à jurisprudência dos
órgãos de controle.

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Note que a qualidade e a segurança do ambiente construído referem-se ao cuidado
de se prever instalações que atendam às normas técnicas ou normas legais
intrinsicamente vinculadas ao desempenho, funcionalidade, conforto, acessibilidade
e segurança. Como exemplo, podemos citar a necessária observação à legislação
ambiental ou à legislação de incêndio, a primeira, explicitamente citada em vários
artigos da Lei n° 14.133/2021. Nesse aspecto, o fiscal do contrato com formação
técnica é solidariamente responsável caso não sejam cumpridas as normativas
técnicas ou legais que são vinculadas à construção, inclusive podendo vir a ser
responsabilizado civil e criminalmente nesses casos.

Em relação aos órgãos superiores de controle, a não observância das suas normativas
legais (Acórdãos ou outras jurisprudências) por parte do fiscal do contrato, poderá
implicar na sua responsabilização, inclusive sanções são previstas nesses casos.

Dessa forma, é de vital importância que o fiscal proceda com todo o rigor na
atuação da sua fiscalização, devendo sempre fazer constar nos autos do processo
administrativo do contrato todas os seus atos relativos a tais quesitos, como
exigências da observância de tais normas e, o mais importante, o seu cumprimento.

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Unidade 2 - O Termo de Referência (ou Projeto
Básico, anexo ao Edital): os cuidados na
elaboração

Ao final da unidade, você será capaz de identificar o conceito de


Termo de Referência, como apresentado na legislação, e a sua
elaboração de forma eficiente.

O termo de referência é etapa da fase preparatória da licitação (fase interna, ou seja,


antes da divulgação do seu edital), sendo a sua elaboração a atividade inicial logo
após a definição do objeto.

A ele se sucedem o anteprojeto e o projeto básico - ou projeto executivo, conforme


o caso. Previamente à definição do objeto – e após a descrição da necessidade da
contratação – é elaborado o estudo técnico preliminar.

Figura 4 – Fase preparatória da licitação

Constitui-se em importante etapa que antecede o projeto básico, a elaboração de


estudo técnico preliminar, conforme o art. 6º, inciso XXV, da Lei nº 14.133/2021:

(...) XXV - projeto básico: conjunto de elementos necessários e suficientes, com


nível de precisão adequado para definir e dimensionar a obra ou o serviço, ou
o complexo de obras ou de serviços objeto da licitação, elaborado com base
nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegure a viabilidade

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técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento e
que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do
prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos:... (Grifo nosso).

Pereira Júnior (2012) ensina:

Durante o estudo preliminar, avaliam-se questões


que possibilitarão a elaboração de anteprojeto em
conformidade com as necessidades administrativas
e as características do objeto a licitar, ou a contratar
de forma direta. Tal estudo leva em conta aspectos
como:

a) adequação técnica; b) funcionalidade; c) requisitos


ambientais; d) adequação às normas vigentes
(requisitos de limites e áreas de ocupação, normas
de urbanização, leis de proteção ambiental etc.);
e) possível movimento de terra decorrente da
implantação, necessidade de estabilizar taludes,
construir muros de arrimo ou fundações especiais; f)
processo construtivo a ser empregado; g) possibilidade
de racionalização do processo construtivo; h)
existência de fornecedores que deem respostas às
soluções sob consideração; i) estimativa preliminar de
custo e viabilidade econômico-financeira do objeto.

Já para a contratação de serviço de elaboração do projeto básico da obra ou


edificação, farão parte de anexo do edital as diretrizes e especificações técnicas do
projeto pretendido, onde estarão descritos todos os requisitos (técnicos, de prazos,
etc.) que deverão ser atendidos. Essas diretrizes devem ser dadas por profissional
habilitado, do próprio quadro da Administração, ou contratado para tal, e serão
mais bem detalhadas no módulo 2.

Para a contratação de serviços de execução de obras, onde já se tenha o projeto


básico, estarão descritas, em anexo ao edital, as diretrizes para a elaboração do
projeto executivo, cuja elaboração, por regra, a precedem (previsão dada pelo Art.
46, § 1º, da Lei nº 14.133/2021), e as providências que se espera da contratada
quando da sua execução. Obviamente, não será descrito nesta peça todo o roteiro
técnico para a execução da edificação ou obra viária ou de infraestrutura, visto que
isso é tema do projeto de construção civil (documentos técnicos) que dela fará parte.

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Nas diretrizes para a elaboração do projeto executivo, complementar ao projeto
básico, estarão descritos os elementos que devem ser entregues à Administração
quando da execução ou finalização da obra (além do projeto executivo, os laudos,
o “as built”, etc.), e as providências que devem ser tomadas pela contratada para a
execução do objeto (observância às normativas de sustentabilidade, à legislação
ambiental, cronograma de etapas, prazos, etc.).

O termo de referência, ou projeto básico deve apresentar os


seguintes itens:
a) definição do objeto, incluídos sua natureza, os quantitativos, o prazo do
contrato e, se for o caso, a possibilidade de sua prorrogação;

b) fundamentação da contratação, que consiste na referência aos estudos


técnicos preliminares correspondentes ou, quando não for possível divulgar
esses estudos, no extrato das partes que não contiverem informações sigilosas;

c) descrição da solução como um todo, considerado todo o ciclo de vida do objeto;

d) requisitos da contratação;

e) modelo de execução do objeto, que consiste na definição de como o


contrato deverá produzir os resultados pretendidos desde o seu início até o seu
encerramento;

f) modelo de gestão do contrato, que descreve como a execução do objeto será


acompanhada e fiscalizada pelo órgão ou entidade;

g) critérios de medição e de pagamento;

h) forma e critérios de seleção do fornecedor;

i) estimativas do valor da contratação, acompanhadas dos preços unitários


referenciais, das memórias de cálculo e dos documentos que lhe dão suporte,
com os parâmetros utilizados para a obtenção dos preços e para os respectivos
cálculos, que devem constar de documento separado e classificado;

j) adequação orçamentária.

O projeto básico contemplará:


a) levantamentos topográficos e cadastrais, sondagens e ensaios geotécnicos,
ensaios e análises laboratoriais, estudos socioambientais e demais dados e
levantamentos necessários para execução da solução escolhida;

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b) soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente detalhadas, de forma
a evitar, por ocasião da elaboração do projeto executivo e da realização das obras
e montagem, a necessidade de reformulações ou variantes quanto à qualidade,
ao preço e ao prazo inicialmente definidos;

c) identificação dos tipos de serviços a executar e dos materiais e equipamentos


a incorporar à obra, bem como das suas especificações, de modo a assegurar
os melhores resultados para o empreendimento e a segurança executiva na
utilização do objeto, para os fins a que se destina, considerados os riscos e os
perigos identificáveis, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução;

d) informações que possibilitem o estudo e a definição de métodos construtivos,


de instalações provisórias e de condições organizacionais para a obra, sem
frustrar o caráter competitivo para a sua execução;

e) subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra, compreendidos


a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e
outros dados necessários em cada caso;

f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos


de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, obrigatório exclusivamente
para os regimes de execução previstos nos incisos I, II, III, IV e VII do caput do art.
46 desta Lei.

O detalhamento de todos os serviços da planilha


orçamentária tanto motiva o preço referencial
proposto, como dá maior condição ao particular de
melhor oferecer a sua proposta, ao conhecer todas
as nuanças da contratação. Além da necessária
publicidade e motivação do referencial de preços
utilizado, tal medida instiga a competitividade e
contribui para a economicidade do certame, uma vez
que, ao melhor conhecer o objeto, em tese, embutem-
se menos riscos na contratação.

O particular, igualmente, deve apresentar o


detalhamento de seus preços. Não se destina
desclassificar concorrente por sobrestimativa de
eventual insumo, posto que tal rigorismo em nada
contribuiria para a obtenção da “melhor proposta”.
A demonstração objetiva de todos os custos do
empreendimento subsidia a Administração em
eventuais análises de exequibilidade da oferta.
Também evita a ocorrência de duplicidade de

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encargos dispostos no orçamento e serve de lastro
probatório para o discernimento de futuros pleitos de
reequilíbrio econômico-financeiro. (CAMPELO, Valmir;
CAVALCANTE, Rafael Jardim).

Destaca-se dessa doutrina, a característica meramente referencial do orçamento


da Administração. Enquanto esse é necessário e obrigatório conforme o Decreto
nº 7983/2013, o orçamento da licitante é de sua responsabilidade, devendo esta
produzi-lo conforme a sua técnica adotada, seus procedimentos construtivos ou de
projetos e o seu enquadramento tributário, sempre observando os limites e regras
dados no próprio Decreto.

Por certo, essa condição remete àquela licitante toda e qualquer assunção de
responsabilidade pelos serviços que serão prestados e pelo preço ofertado e
distribuição dos seus custos, inclusive para a eventual celebração de aditivos ao
contrato, conforme será estudado no módulo 3.

A Lei nº 14.133/2021 (nova lei de licitações) trouxe, no entanto, uma novidade, em


comparação à Lei n° 8.666/1993 (antiga lei de licitações): o instituto do orçamento
sigiloso. O Art. 24 da Lei nº 14.133/2021 assim define:

Art. 24. Desde que justificado, o orçamento estimado da contratação poderá ter
caráter sigiloso sem prejuízo da divulgação do detalhamento dos quantitativos e
das demais informações necessárias para a elaboração das propostas, e, nesse
caso:
I – o sigilo não prevalecerá para os órgãos de controle interno e externo; ...

Perceba que o orçamento sigiloso deve ser justificado (ou seja, pode ser futuramente
analisado o seu mérito, em auditoria, podendo vir a ser julgado improcedente) e
deve divulgar obrigatoriamente os seus quantitativos.

O cronograma físico-financeiro integra o orçamento detalhado e, consequentemente,


o projeto básico, embora tal comando não esteja explícito na lei das licitações e
contratos.

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Figura 5 - Cronograma físico-financeiro

Sua previsão é dada exaustivamente em bibliografia especializada, bem como


em jurisprudência dos órgãos de controle, e, a exemplo da regulamentação que
ocorreu ao longo dos anos em relação à Lei nº 8.666/1993, igual regulamentação
possivelmente será feita para a Lei nº 14.133/2021. Seu objetivo é o de prever
desembolsos no decorrer do tempo de execução proposto pelo projeto básico. O
pagamento corresponderá à efetiva contraprestação da execução da obra ou da
prestação de serviço, em conformidade com as etapas fixadas no cronograma físico
e de acordo com a disponibilidade de recursos financeiros, vedada a antecipação de
pagamento à contratada.

Estende-se ao serviço de engenharia o disposto no art. 12 do Decreto nº 7.983, de


2013, o qual estabelece que a minuta de contrato deva conter cronograma físico-
financeiro com a especificação física completa das etapas necessárias à medição, ao
monitoramento e ao controle das obras.

A autoridade sempre deve se atentar para que a soma dos prazos de execução, de
medição, de fiscalização e para realização de correções na obra não ultrapasse o
prazo de vigência contratual.

O projeto básico não é elaborado pela Administração na modalidade de licitação


contratação integrada, sendo esse um encargo do contratado.

O orçamento detalhado, elemento integrante do projeto básico, não é obrigatório


nas modalidades de licitação contratação semi-integrada e integrada.

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Unidade 3 – O fiscal de contrato e o profissional
habilitado: as diferenças entre um e outro

Ao final da unidade, você será capaz de identificar os limites


de atuação e as responsabilidades legais dos diferentes tipos
de profissionais, reconhecer porque o profissional habilitado é
importante para a Contratante, e quais as vantagens de possuir
o profissional habilitado no quadro do órgão.

Na esfera pública, a contratação de serviços de engenharia e arquitetura comumente


se dá por necessidade da manutenção ou ampliação das suas instalações, como
atividade não finalística, salvo em alguns poucos casos, onde a atividade fim do
órgão público seja a construção ou edificação. No entanto, uma das prerrogativas da
Administração Pública é a gestão de contratos, geridas por suas seções de licitação.

Nas seções de licitação, invariavelmente estão alocados servidores do órgão


que apresentam experiência na gestão de contratos e certames licitatórios, mas
normalmente são servidores com pouca ou nenhuma experiência na contratação
de serviços específicos de engenharia e arquitetura.

Salvo se o órgão disponha de seções especializadas nessas áreas, tais processos


licitatórios são conduzidos pelas seções de licitação, que não raras as vezes têm
pouca familiaridade para conduzir temas tão específicos.

Para essa situação, a Lei nº 14.133/2021 prevê, no seu Art. 117, a possibilidade de
assessoramento técnico especializado:

Art. 117. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por 1


(um) ou mais fiscais do contrato, representantes da Administração especialmente
designados conforme requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei, ou pelos
respectivos substitutos, permitida a contratação de terceiros para assisti-los e
subsidiá-los com informações pertinentes a essa atribuição.

No caso da Receita Federal do Brasil, há orientação no mesmo sentido, dada na


Portaria RFB/SUCOR.COPOL nº 566, de 30 de novembro de 2011:

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Art. 20. Caso seja necessário, a autoridade competente, mediante justificativa
fundamentada, poderá autorizar a contratação de profissional, empresa
ou escritório técnico, especializados, para assessorar o representante da
Administração, assistindo-o e subsidiando-o com informações pertinentes a sua
atribuição.”

Da análise da legislação citada é possível identificar a diferença entre o servidor


Fiscal de Contrato e o servidor profissional habilitado na área de engenharia ou
arquitetura. O servidor Fiscal de Contrato, embora com experiência na sua gestão,
não tem a experiência nas áreas específicas, salvo se habilitado. Já o profissional
habilitado em Engenharia ou Arquitetura, detém o conhecimento técnico específico.

Como a realidade da maior parte dos órgãos da Administração Pública é ter as


atividades de Engenharia e Arquitetura como áreas meio - e não finalísticas - é
natural que nos seus quadros não estejam presentes tais profissionais. Por conta
disso é que a legislação traz explicitamente a possibilidade da contratação desses,
como assessoria, conforme já mencionado, pelos comandos da Lei nº 14.133/2021
(Art. 117) e, no caso da Receita Federal do Brasil, da Portaria RFB/SUCOR/COPOL nº
566, de 30 de novembro de 2011.

A presença desses profissionais nos quadros dos órgãos da Administração Pública


cujas áreas de atuação finalística não sejam a Arquitetura e Engenharia é, no
entanto, recomendável. Isso se deve ao fato de que somente tais profissionais têm
condições técnicas de contratar, fiscalizar e receber serviços de projetos e obras e,
muito embora possa se dizer que essas atividades possam ser contratadas, na forma
de assessoramento, a vantagem de o órgão ter servidores nessas especialidades é
muito grande. A razão é simples: profissionais engenheiros ou arquitetos nos seus
quadros, atuando nas áreas específicas, trazem segurança técnica mesmo quando
tais atividades sejam contratadas na forma de assessoramento ou terceirizadas,
visto que os servidores do quadro atuariam como revisores.

Figura 6 – Servidor público revisando

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19


Os servidores do órgão, desempenhando a atividade de revisão, possibilitam a
análise isenta dos serviços propostos por empresas contratadas (tanto projeto
quanto obra) ou ainda a complementação e convalidação do trabalho desenvolvido
por empresas de assessoramento.

Unidade 4 - Os conceitos específicos na área de


Fiscalização de Projetos e Obras

Ao final da unidade, você será capaz de identificar os principais


conceitos vinculados aos temas de fiscalização de projetos e
obras.

Nesta unidade do módulo 1 você será apresentado aos principais termos das áreas
de Arquitetura e Engenharia, cuja conceituação é necessária para o desenvolvimento
do trabalho do fiscal.

Retomam-se dessa forma os conceitos de projeto básico, projeto executivo e “as


built”, já mencionados neste módulo e apresentam-se outros termos de igual
importância.

Os dois primeiros termos acima, especialmente, têm conceitos diferentes se tomados


a partir da Lei nº 14.133/2021, das normas técnicas da ABNT e das resoluções do
sistema CONFEA e CAU/BR.

A Lei nº 14.133/2021 assim define os conceitos de Projeto Básico e Projeto Executivo:

XXV – projeto básico: conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível


de precisão adequado para definir e dimensionar a obra ou o serviço, ou o
complexo de obras ou de serviços objeto da licitação, elaborado com base nas
indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegure a viabilidade técnica
e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento e que
possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do
prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 20


a) levantamentos topográficos e cadastrais, sondagens e ensaios geotécnicos,
ensaios e análises laboratoriais, estudos socioambientais e demais dados e
levantamentos necessários para execução da solução escolhida;
b) soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente detalhadas, de forma a
evitar, por ocasião da elaboração do projeto executivo e da realização das obras
e montagem, a necessidade de reformulações ou variantes quanto à qualidade,
ao preço e ao prazo inicialmente definidos;
c) identificação dos tipos de serviços a executar e dos materiais e equipamentos
a incorporar à obra, bem como das suas especificações, de modo a assegurar
os melhores resultados para o empreendimento e a segurança executiva na
utilização do objeto, para os fins a que se destina, considerados os riscos e os
perigos identificáveis, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução;
d) informações que possibilitem o estudo e a definição de métodos construtivos,
de instalações provisórias e de condições organizacionais para a obra, sem
frustrar o caráter competitivo para a sua execução;
e) subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra, compreendidos
a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e
outros dados necessários em cada caso;
f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos
de serviços e fornecimentos propriamente avaliados, obrigatório exclusivamente
para os regimes de execução previstos nos incisos I, II, III, IV e VII do caput do art.
46 desta Lei;” (Grifo nosso).
“XXVI – projeto executivo: conjunto de elementos necessários e suficientes à
execução completa da obra, com o detalhamento das soluções previstas no
projeto básico, a identificação de serviços, de materiais e de equipamentos a
serem incorporados à obra, bem como suas especificações técnicas, de acordo
com as normas técnicas pertinentes;”

A ABNT NBR 16636-1:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços


técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos -
Parte 1: Diretrizes e terminologia, por sua vez, traz os seguintes conceitos:

3.95
projeto executivo
(PE)
etapa destinada à concepção e à representação final das informações técnicas
dos projetos arquitetônicos, urbanísticos e de seus elementos, instalações e

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21


componentes, completas, definitivas, necessárias e suficientes à execução
dos serviços de obras correspondentes. (Grifo nosso).

3.99
Projeto completo de edificação
(PECE)
etapa dedicada à finalização da compatibilização dos projetos executivos, e ao
detalhamento das definições construtivas que envolve o conjunto de desenhos,
memoriais, memórias de cálculo e demais informações técnicas das especialidades
totalmente compatibilizadas e aprovadas pelo cliente, e necessários à licitação, à
contratação e à completa execução de obra de edificação

Já o IBRAOP (Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas), através da sua


Orientação Técnica n° 01/2006, assim define projeto básico:

Projeto Básico é o conjunto de desenhos, memoriais descritivos, especificações


técnicas, orçamento, cronograma e demais elementos técnicos necessários
e suficientes à precisa caracterização da obra a ser executada, atendendo
às Normas Técnicas e à legislação vigente, elaborado com base em estudos
anteriores que assegurem a viabilidade e o adequado tratamento ambiental do
empreendimento.
Deve estabelecer com precisão, através de seus elementos constitutivos, todas
as características, dimensões, especificações, e as quantidades de serviços e de
materiais, custos e tempo necessários para execução da obra, de forma a evitar
alterações e adequações durante a elaboração do projeto executivo e realização
das obras.
Todos os elementos que compõem o Projeto Básico devem ser elaborados por
profissional legalmente habilitado, sendo indispensável o registro da respectiva
Anotação de Responsabilidade Técnica, identificação do autor e sua assinatura
em cada uma das peças gráficas e documentos produzidos.

E por fim, o sistema CONFEA/CREA assim conceitua o termo “projeto executivo” na


sua Decisão Normativa nº 106, de 17 de abril de 2015:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22


II – o Projeto Executivo, que consiste no conjunto dos elementos necessários e
suficientes à execução completa da obra ou do serviço, conforme disciplinamento
da Lei n°8.666, de 1993, e das normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT. ( CONFEA/CREA)

Perceba que a variação na conceituação dos termos “projeto básico” e “projeto


executivo”, conforme a legislação ou normativa consultada, e a adoção da Lei nº
14.133/2021 como referência principal aos atos licitatórios da Administração Pública,
têm causado muita confusão nas licitações dos órgãos públicos, em relação àquilo
que se exigirá das licitantes e àquilo que o contratado entenda devido.

O projeto executivo é item obrigatório para a realização de


obras e serviços de engenharia, salvo na contratação de serviços
comuns de engenharia, hipótese em que a especificação do objeto
pode ser realizada apenas em termo de referência ou em projeto
básico, desde que demonstrada a inexistência de prejuízo para
a aferição dos padrões de desempenho e qualidade almejados
(Art. 18., § 3º, da Lei nº 14.133/2021). O projeto executivo deve ser
elaborado pela Administração, ou seja, previamente à licitação,
salvo nas hipóteses dos regimes de execução por contratação
semi-integrada ou integrada, em que tal obrigatoriedade recai
sobre o contratado.

Se considerarmos ainda o “as built”, identificam-se três termos vinculados à


documentação técnica, que deve ser gerada por ocasião do desenvolvimento do
projeto ou da execução da obra.

Esse último, cujo conceito deriva da expressão da língua inglesa que significa “como
construído”, trata tão somente do registro da solução técnica efetivamente executada
na obra. Conforme o Manual de Escopo de Projetos e Serviços de Arquitetura e
Urbanismo – Indústria Imobiliária, da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios
de Arquitetura), “as built” é o jogo completo do projeto arquitetônico e dos projetos
das demais especialidades envolvidas, bem como dos pareceres de consultorias,
contendo todas as anotações de ajustes e/ou alterações ocorridas, devidamente
assinadas e assumidas pelos engenheiros e/ou arquitetos responsáveis pela obra
e será a base para a elaboração do Manual do Proprietário, obrigatório conforme
a ABNT NBR 14037: 2011 – Versão Corrigida: 2014 - Diretrizes para elaboração
de manuais de uso, operação e manutenção das edificações — Requisitos para
elaboração e apresentação dos conteúdos.

Esses conceitos devem ser parte integrante do instrumento convocatório com clara
e precisa conceituação, devendo estar presentes no termo de referência ou projeto

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 23


básico, anexo a esse.

Além do conhecimento dos conceitos anteriores, é importante o Fiscal de Contrato


conhecer também os conceitos de retrofit, compatibilização de projetos, e
etiquetagem das edificações, apresentados a seguir. Não se pretende encerrar este
tema neste módulo. Outros conceitos, igualmente importantes, serão definidos e
apresentados ao longo do curso, conforme a sua aplicação.

Retrofit, conforme definido na Instrução Normativa nº 2, de 04 de junho de 2014 da


Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão “é qualquer reforma que altere os sistemas de iluminação,
condicionamento de ar ou envoltória da edificação”.

Segundo Qualharini (2004), retrofit “é o processo de interferir em uma benfeitoria,


que foi executada em padrões inadequados às necessidades atuais”.

Assim, retrofit, em sua forma original, é qualquer tipo de reforma,


a renovação completa de uma edificação, uma intervenção
a um patrimônio, ou seja, colocar o velho em forma de novo
preservando seus valores estéticos e históricos originais, além de
trabalhar com o conceito de sustentabilidade, na medida em que
busca preservar os elementos que caracterizam a edificação ao
invés de simplesmente descartá-los. Croitor (2009), define retrofit
como a ação tomada quando há interesse do empreendedor pela
substituição de sistemas prediais ineficientes e/ou inadequados,
pela mudança de uso do imóvel ou, também, quando as edificações
se encontram inacabadas e abandonadas.

A ABNT NBR 15575-1:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1:


Requisitos gerais, define retrofit como “remodelação ou atualização do edifício
ou de sistemas, através da incorporação de novas tecnologias e conceitos,
normalmente visando a valorização do imóvel, mudança de uso, aumento de vida
útil e eficiência operacional e energética” (Grifo nosso).

Note que o retrofit não se limita apenas a dar uma cara nova ao edifício, como é
comumente entendido, mas conceder-lhe renovação, necessariamente elevando o
seu desempenho.

A compatibilização de projetos é a atividade de integrar os diferentes elementos do


projeto, para que todos tragam as mesmas informações. A coordenação de projetos,
em um nível mais aprofundado, busca a identificação de orientações conflitantes
que poderiam ordenar comandos contraditórios nas pranchas de desenho ou
outros documentos dos diversos projetos envolvidos na concepção de um objeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 24


Figura 7 – Compatibilização de projetos

Assim, os diferentes elementos do projeto devem trazer coerência nas informações,


referenciando-se em uma mesma base (plantas baixas, cortes, fachadas e demais
desenhos). Os trabalhos de compatibilização e coordenação dos projetos são
complexos e com alto grau de dificuldade, devendo ser feitos por profissional
especializado (Arquiteto ou Engenheiro) e requerem treinamento e experiência.
Atualmente esse trabalho vem sendo facilitado com o uso de ferramentas BIM
(Building Information Modeling), tema que será tratado no módulo 2.

Por fim, a etiquetagem das edificações, que teve o seu início através da Lei nº 10.295,
promulgada em 17 de outubro de 2001. Conhecida como Lei da Eficiência Energética,
dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e visa
desenvolver, difundir e estimular a eficiência Energética no País.

Essa lei foi regulamentada inicialmente pelo Decreto nº 4.059, de 19 de dezembro


de 2001, revogado pelo Decreto n° 9.864, de 27 de junho de 2019, em vigor,
que determinou que “os níveis máximos de consumo de energia, ou mínimos de
eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados
ou comercializados no País e de edificações construídas, serão, regulamentados pelo
disposto neste Decreto, com base em indicadores técnicos, por meio do Comitê Gestor de
Indicadores e Níveis de Eficiência Energética, sob a coordenação do Ministério de Minas
e Energia”.

Para tanto, por meio do Decreto, foi instituído o Comitê Gestor de Indicadores e Níveis
de Eficiência Energética - CGIEE e, especificamente para edificações, o Grupo Técnico
para Melhoria da Eficiência Energética nas Edificações no País (GT-Edificações), para
regulamentar e elaborar procedimentos para avaliação da eficiência energética das
edificações construídas no Brasil, visando o uso racional da energia elétrica.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25


A etiquetagem das edificações, no âmbito da Administração Pública Federal é
obrigatória para edificações novas ou que recebam retrofit, com área superior a 500
m² ou cujo valor da obra seja maior que o equivalente ao Custo Unitário Básico da
Construção Civil – CUB Médio Brasil aplicado a uma edificação de 500 m², conforme
o Art. 8º da Instrução Normativa nº 2, de 04 de junho de 2014, da Secretaria de
Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão. Nesses casos, a etiqueta mínima deve ser a de classificação “A”.

SÍNTESE DO MÓDULO
Nesse módulo 1, você foi apresentado aos principais conceitos relacionados à
fiscalização de projetos e obras de engenharia. Buscou-se explorá-los de forma
que seus significados sejam de fácil compreensão para aqueles(as) alunos(as)/
servidores(as) que não têm habilitação técnica específica nas áreas de engenharia ou
arquitetura, mas que, dentro das suas áreas de atuação, trabalhem vinculados a tais
atividades. Apresentou-se um panorama dos requisitos mínimos necessários para
profissionais com essa atuação e se fez uma distinção entre os conceitos de fiscal do
contrato, fiscal administrativo e profissional habilitado, com suas responsabilidades
e deveres. Esse módulo o preparou para os módulos seguintes, onde tais conceitos
serão aprofundados e exemplificados.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 26


Módulo

2 Projeto de Edificações
Unidade 1 - O que é o projeto de edificações e
como contratá-lo?

Ao final da unidade, você será capaz de identificar os principais


conceitos para o desenvolvimento de um projeto eficiente e
reconhecer a importância do projeto no ciclo de vida de uma
edificação.

1.1 A importância de um bom projeto para a futura


atividade de manutenção predial da edificação

Os projetos da construção civil, nesses incluídos os projetos de edificações, além


de serem, por sua natureza, roteiros para as atividades que concorrerão para a
execução do objeto, são igualmente ferramentas de análise para as possíveis
soluções técnicas a serem aplicadas no processo construtivo.

Figura 8 – Projeto de construção

A palavra projeto significa, genericamente, intento, desígnio, empreendimento


e, também, um conjunto de ações, caracterizadas e quantificadas, necessárias à
concretização de um objetivo. Embora esse sentido se aplique a diversos campos
de atividades, em cada um deles o projeto se materializa de forma específica.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27


O objetivo principal de um projeto é a execução da obra idealizada
pelo arquiteto ou engenheiro. Essa obra deve se adequar aos
contextos naturais e culturais em que se insere e responder às
necessidades do cliente e futuros usuários do objeto construído.
As exigências do cliente e dos usuários se exprimem através do
programa de necessidades, que define metodologicamente o
produto final.

Diante disso, as soluções técnicas que deverão ser empregadas para a consecução da
obra devem atender aos princípios da racionalidade, economicidade, funcionalidade
e desempenho.

Considerando os conceitos de Vitrúvio (2007, p. 82), os projetos


de arquitetura devem atender cumulativamente aos princípios
básicos “utilitas” (utilidade, uso, funcionalidade, proveito,
vantagem), “firmitas” (solidez, firmeza, consistência, robustez) e
“venustas” (beleza, elegância, estética). Tais conceitos resumem
as qualidades que se pretende para o projeto arquitetônico,
demonstrando que o objeto construído deve conciliar
desempenho, economia e estética. Pode-se assim concluir que o
edifício, ou a obra, deve ter características que atendam à sua
durabilidade e conservação.

Com esse objetivo, o projeto deverá também servir à correta escolha de soluções
que determinem o melhor funcionamento do objeto construído, muito além da sua
concepção ou construção. No projeto é que são definidos os conceitos e técnicas que
garantirão a permanência da construção, principalmente no quesito manutenção.

Figura 9 – Projeto

Em 2013, a Associação Brasileira de Normas Técnicas editou um conjunto de normas


aplicado ao desempenho das edificações. Muito embora tal norma traga, na sua
origem, a destinação às edificações habitacionais, pode-se tomá-la como referência
para qualquer tipo de edifício onde se pretenda condições de bom desempenho.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 28


Uma das premissas básicas dessa normativa é a durabilidade dos elementos da
construção, denotando grande preocupação com a manutenção do edifício.

A Administração Pública, por suas características (necessidade de racionalização dos


custos, orçamentos limitados e inconstantes, falta de equipes permanentes para
conservação), tem como um dos grandes desafios a manutenção do seu patrimônio
construído.

Por essa razão, boas escolhas na fase de projeto definirão o custo


para a Administração na conservação e manutenção das suas
construções por longo período.
Percebe-se dessa condição, que o projeto, muito além de ser um roteiro para a
construção do objeto é, antes de tudo, uma ferramenta para experimentação das
soluções para o bom desempenho da obra ou edifício, possibilitando a escolha
das melhores soluções técnicas, aquelas que trarão o equilíbrio entre custo de
construção, custo de manutenção e funcionalidade, aí considerados a eficiência e o
conforto.

Figura 10 – Atualização

Você, como gestor do contrato de projeto, ao elaborar o seu termo


de referência ou projeto básico, deve observar com cautela tais
premissas, de forma a conduzir a sua elaboração pelo caminho
da racionalidade, economia e desempenho. As definições e as
exigências dadas no termo de referência ou projeto básico devem
ser tais que condicionem a elaboração do projeto para que esse
atenda aos objetivos aqui já mencionados.

Essas escolhas recairão sobre os tipos de materiais, forma de ordenação dos espaços,
morfologia dos elementos etc. Assim, é importante que se observe a vantagem que
se terá sobre a escolha de um material em detrimento de outro, do tamanho da
edificação frente às necessidades do órgão, ou até mesmo da observância ao índice
de compacidade ou da forma do edifício.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29


Índice de compacidade: é a relação percentual existente entre
o perímetro de um círculo de igual área do projeto e o perímetro
das paredes exteriores do projeto. Mascarro, Juan Luís – O custo
das decisões arquitetônicas – 5. ed. Porto Alegre: Masquatro
Editora, 2010.

Como exemplo, citamos a escolha de esquadrias de ferro para a vedação das fachadas
externas de um edifício em zona litorânea. Certamente toma-se aqui a condição
extrema e até mesmo inadmissível, visto que nas condições atmosféricas daqueles
ambientes, jamais se optaria pela escolha de elementos ferrosos para tal uso.

A escolha correta nesse caso seria, por exemplo, esquadrias de alumínio, com pintura
por anodização ou eletrostática, com durabilidade adequada àquelas condições
ambientais. Muito embora seja senso comum no meio da arquitetura e engenharia,
a obviedade por tal escolha (esquadrias de alumínio para a vedação de fachadas
em edificações de ambientes litorâneos), ainda assim é possível encontrar projetos
(mal) especificados trazendo aquela condição (especificação de esquadrias de ferro
naqueles ambientes).

Nos órgãos públicos, os setores que são responsáveis pelos projetos normalmente
são diversos daqueles responsáveis pela manutenção das edificações (ou de outras
obras da construção civil ou de infraestrutura viária). A boa especificação, quando
da elaboração desses projetos, poderá contribuir para a desoneração do trabalho e
do custo despendidos futuramente pelos seus setores de manutenção.

1.2 Como um bom projeto determina o custo de


uma obra ao longo de toda a sua vida útil

No tópico anterior foram apresentadas as relações existentes entre a boa


especificação de um projeto e o custo de manutenção do objeto construído. Veja que
as escolhas corretas no momento das especificações têm, entre outros quesitos, a
função de desonerar o custo de manutenção futura das edificações ou outras obras.

O custo de um projeto é sensivelmente menor do que os custos envolvidos na


execução da obra. Por essa razão, perceba que é mais lógico e sensato concentrar
esforços nessa importante etapa, evitando, por exemplo, economias irresponsáveis
e permitindo que nessa ocasião possam ser avaliadas todas as possibilidades
técnicas para a consecução do objeto pretendido.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 30


Figura 11 – Custo de manutenção

Afinal, é infinitamente mais fácil alterar um desenho, ou até mesmo descartar-se


um conjunto de elementos impressos, do que demolir uma estrutura de concreto.
O projeto, portanto, é o momento para a experimentação e teste de possibilidades.
Para ilustrar a importância que tem um projeto na construção civil, veja a imagem
abaixo:

Figura 12 – Como vai querer seu projeto - Gestão Tecnológica


Fonte da imagem - https://www.passeidireto.com/arquivo/41489279/como-vai-querer-seu-projeto

Perceba, portanto, algumas verdades sobre o projeto:


1. Esqueça projetos rápidos, sem custos e ainda assim com qualidade. Eles
não existem, muito embora essa (projetos não remunerados) não seja
uma realidade possível na Administração Pública;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31


2. Projetos com prazos curtos de elaboração e com custo baixo geralmente
são mal feitos;

3. Projetos com prazo de elaboração exíguo e com boa qualidade têm alto
custo.

Diante disso, você, na condição de gestor público, deve observar


criteriosamente alguns aspectos na sua contratação:
1. Escolha a forma de licitação mais adequada ao objeto a contratar;

2. Estabeleça corretamente o cronograma para a elaboração de projetos;

3. Através de pesquisa de preços, estabeleça a justa remuneração devida


ao serviço de projeto e que servirá de referência à licitação.

Em relação à manutenção do futuro objeto construído, a questão ganha ainda mais


importância. De acordo com a lei de Sitter, ou “lei dos 5”, tomando-se novamente
como exemplo uma estrutura de concreto, o custo para uma intervenção de correção
desde o projeto até a manutenção corretiva aumenta em progressão geométrica, de
razão 5 (SITTER, 1984 apud HELENE, 1992). Assim, pode-se dizer que, arbitrando
que o custo para uma eventual correção de erro no objeto seja 1, durante a fase
de elaboração do projeto, a mesma correção na fase de execução da obra terá
custo 5, na fase de manutenção preventiva terá custo 25 e finalmente, na fase de
manutenção corretiva alcançará o custo de 125 (veja a figura abaixo).

Figura 13 – Lei de Sitter


Fonte da imagem: https://pt.linkedin.com/pulse/planejamento-uma-
necessidade-na-constru%C3%A7%C3%A3o-civil-eduardo-vieira

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 32


Esse mesmo princípio pode ser aplicado, por extensão, às outras disciplinas
(instalações) das obras ou edificações.

Nesta unidade identificaremos quais são as principais escolhas que podem


concorrer para a racionalização do ambiente construído ao longo da sua vida útil,
em consonância com as boas práticas construtivas e com a normativa técnica ou
legislação vigente.

Conforme os tópicos 26 e 27 do PARECER n. 00001/2021/CNS/CGU/AGU, define-se


que “investimentos públicos passem a respeitar a eficácia direta do desenvolvimento
durável, de modo a serem efetivamente sopesados os custos e benefícios, diretos e
indiretos (externalidades), sociais, econômicos e ambientais.” (Grifo nosso) e, ainda
“Por licitações sustentáveis, quer-se dizer “aquelas que, com isonomia, visam a seleção
de proposta mais vantajosa para Administração Pública, ponderados com a máxima
objetividade possível, os custos e benefícios, diretos e indiretos, sociais, econômicos
e ambientais”. (Grifo nosso). No caso das especificações de projetos, as soluções
adotadas terão íntima relação com os comandos dados nos tópicos do referido
Parecer.

Completa as orientações dadas no PARECER nº 00001/2021/CNS/CGU/AGU, a


Cartilha “COMO INSERIR CRITÉRIOS DE SUSTENTABILIDADE NAS CONTRATAÇÕES
PÚBLICAS”, de dezembro/2022, que estabelece, para o tema, as formas de inclusão
dos referidos critérios nos documentos elaborados pela licitação na fase preparatória
da licitação (Estudos técnicos preliminares, Termo de referência, Projeto básico e
Edital) e também quanto à exigência de atendimento às normas técnicas da ABNT
ou outras entidades.

Ainda que o conceito de um bom projeto seja de difícil definição, visto tratar-se de
percepção subjetiva para a qual contribuem diversas variáveis e referências, pode-
se delimitar os requisitos mínimos que devem ser atendidos para que o resultado
seja adequado aos objetivos da Administração Pública.

Figura 14 – Projetos da construção civil

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33


É nesse sentido que recentemente os poderes legislativo e executivo têm editado
leis e normas que buscam o aumento da eficiência da máquina pública, refletida
inclusive na construção das suas instalações.

Instruções normativas que definem eficiência energética,


otimização de recursos e critérios de sustentabilidade ambiental
são normas que atualmente devem ter observância obrigatória
pela Administração.

Dentro dessa condição, seguem algumas iniciativas específicas aplicadas à


elaboração de projetos da construção civil pelo poder público:

1. Escolha de materiais locais, de fácil obtenção no entorno da construção:


essa iniciativa atende aos critérios de sustentabilidade ambiental, visto
que possibilita menor impacto na natureza, pela diminuição das
distâncias de transporte – atividade poluidora – para os insumos da
obra, com reflexo no seu custo;

2. Escolha de materiais produzidos no país, por empresas nacionais ou


nacionalizadas: essa iniciativa traz reflexos diretos na economia do
objeto construído visto que diminui o custo para a sua contratação e
manutenção;

3. Escolha de materiais com melhor eficiência energética como, por


exemplo, luminárias em LED (Light Emitting Diode – ou diodo emissor de
luz), sistema de iluminação com baixo consumo de energia e que
consequentemente diminui os gastos com energia elétrica ao longo da
vida útil do edifício ou obra;

4. Escolha de sistemas de ar condicionado com alta eficiência energética,


que, a exemplo das instalações de iluminação em LED, proporcionam
economia de energia e com isso menor gasto com energia elétrica;

5. Reuso de água, iniciativa que atende principalmente a dois requisitos


básicos: a sustentabilidade ambiental e o menor consumo de água
tratada, refletindo diretamente no custo do seu fornecimento;

6. Escolha de espécies vegetais nativas nos projetos de urbanização ou


paisagismo: essa iniciativa possibilita a melhor adaptação e a baixa
manutenção dos espaços ajardinados das edificações ou obras, refletindo
na economia dos recursos despendidos pela Administração Pública; e

7. Escolha de materiais duráveis e com baixa manutenção quando da


especificação dos projetos (exemplo: escolha de esquadrias de alumínio
ou PVC para a vedação de fachadas): essa condição evita a necessidade de
retificação e repintura dos elementos (quando especificados em madeira
ou ferro), economizando recursos financeiros para os órgãos públicos.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 34


Somam-se a essas considerações inúmeras outras possíveis e que ampliariam
bastante a lista acima. Essas escolhas e definições podem encontrar iniciativa por ação
de bons projetistas. É vital, no entanto, que tais exigências emanem da contratante, a
Administração Pública, quando da elaboração dos seus editais de contratação. Essa é
uma das razões pelas quais é importante – e recomendável – que os órgãos públicos
contem, nos seus quadros, com profissionais habilitados, engenheiros e arquitetos
com qualificação permanente, para a contratação de projetos e obras da construção
civil e de infraestrutura viária, tema já abordado no módulo 1.

Unidade 2 - O projeto começa pela contratante

Ao final da unidade, você será capaz de identificar os itens


obrigatórios a serem observados quando da elaboração do
programa de necessidades para a contratação de um projeto de
edificações.

Quais objetivos desejo alcançar? Como deverá ser o edifício que


pretendo construir? Quais preceitos deve atender? Premissas de
projeto
Para complementar as ideias trazidas nas unidades anteriores, agora serão
abordadas as iniciativas por parte do gestor do contrato quando da contratação de
um projeto da construção civil.

Figura 15 – Objetos de Construção Civil

É de grande responsabilidade a atuação do gestor, não somente por sua condição


de agente público, e que, portanto, deve obedecer às regras e condutas pré-

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35


determinadas, mas também pela condição de responsável pela contratação de
objeto que terá longa vida útil e que poderá gerar grande impacto socioambiental.
Objetos da construção civil são concebidos para durarem dezenas de anos e por
essa razão devem ser muito bem pensados antes do início da primeira escavação.

Note que a definição do resultado esperado é tarefa que requer complexo estudo
e envolvimento. Certamente projetistas podem dar essa resposta. A medida dessa
resposta, no entanto, está intrinsecamente condicionada às orientações e premissas
definidas pela Contratante, nesse caso o poder público. Mais uma vez, a figura do
arquiteto ou engenheiro como gestor desses contratos é fundamental.

Inicialmente, pode-se dizer que as edificações ou obras contratadas pela


Administração Pública devem considerar o seu custo e o seu resultado. Não devem ser
onerosas, dada a limitação de recursos e a responsabilidade social do poder público,
mas também não devem ter custo de construção excessivamente baixo que venha
a onerar o custo do seu uso, conservação e manutenção, conforme já explicitado
anteriormente. O valor de uma obra deve ser medido por todo o período da sua vida
útil, o que inclui a sua concepção, execução, usufruto e eventual demolição.

Figura 16 – Planilha de custos

Essa condição foi trazida em destaque pela Lei nº 14.133/2021, na alínea “c”, inciso
XXIII, do Art. 6°, que estabelece o conceito de Termo de referência:

c) descrição da solução como um todo, considerado todo o ciclo de vida do


objeto; (Grifo nosso).

Conforme a ABNT NBR 15575-1:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho


– Parte 1: Requisitos gerais, a durabilidade do edifício e de seus sistemas é um
requisito econômico do usuário, pois está diretamente associado ao custo global

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do bem imóvel. Esse conceito, embora seja dado por norma especificamente
aplicada a edificações, e do tipo habitacional, pode, como já foi aqui ilustrado,
ser aplicado a qualquer objeto da construção civil.

O gestor do contrato, amparado naquilo que exige a lei de licitações e contratos,


especificamente em relação à elaboração do termo de referência, deve buscar
o equilíbrio entre o custo do projeto e execução e o custo da sua manutenção,
desembolso que será permanente e que onerará os gastos da Administração
Pública durante muitos exercícios financeiros. Profissionais habilitados – arquitetos
e engenheiros – são os únicos capazes de dar tal resposta.

Devem ser considerados requisitos de desempenho e


funcionalidade, que concedam ao ambiente construído boas
condições de uso e habitabilidade, proporcionando aos seus
usuários (agentes públicos e população em geral) bem-estar e
conforto.

Como agente incentivador da transformação social e econômica,


a Administração tem papel na inovação tecnológica quando da
elaboração dos seus projetos da construção civil. Iniciativas que
não são tomadas pelo setor privado, senão pelo lucro, têm no
setor público o seu fomento.

O poder público, como contratante de obras, tem potencialmente grande capacidade


de transformação das nossas cidades. Veja que, por essa razão, as obras contratadas
pela Administração devem trazer, entre as suas características, a adequação ao
entorno e o baixo impacto ambiental. Os requisitos que devem ser buscados são
o baixo consumo energético, a baixa geração de resíduos, o bom desempenho
térmico e acústico, e a durabilidade.

Condicionando a atuação da Administração Pública nas contratações de projeto há


vasta legislação. Uma das normativas mais recentes é a Lei n° 13.647, de 9 de abril
de 2018, que obriga a instalação de equipamentos economizadores de água nos
sanitários públicos de todas as novas edificações públicas a partir da data da sua
vigência.

Outro requisito igualmente importante é a preocupação com o


aspecto visual da obra em relação à sua inserção no ambiente e ao
seu impacto estético. Como agente transformador do ambiente
construído, o poder público, na condição de contratante, deve
também considerar a harmonia e a beleza das suas obras,
elementos que serão permanentes na paisagem.

Devem ser evitados, por exemplo, os chamados “projetos-monumento”, assim


entendidos como aqueles que têm apelo temático ou simbólico, cuja forma possa

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gerar polêmica ou dificuldade de aceitação (ver figura - Centro de Ecologia em Kunshan
) ou que não tenha relação com a função do objeto, um dos princípios norteadores
da arquitetura. Objetos de arquitetura que optem por trazer apelo simbólico podem
fazê-lo de forma sutil e indireta remetendo à diretriz da sua concepção.

“A forma segue a função” é um dos princípios da escola modernista


de design Bauhaus, da década de 1910, que teve grande influência
na arquitetura desde então, ao defender a adoção de desenhos
funcionais nos objetos, em oposição à ornamentação. GROPIUS,
Walter. The new archictecture and bauhaus. New York: Mit
press, 1965.

Figura 17 – Centro de Ecologia em Kunshan – China


Fonte da imagem: http://engenhariae.com.br/curiosidades/foi-inaugurado-
na-china-esse-edificio-que-mais-parece-um-caranguejo-gigante/

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Exemplos bem-sucedidos dessas iniciativas são:
Edifício-sede do Banco Central do Brasil (Bacen), em Brasília, do arquiteto Hélio
Ferreira Pinto. Foi inspirado em imagem gravada no dobrão, moeda do período
imperial, de 1725.

Figura 18 - Banco Central do Brasil


Fonte da imagem: https://www.bcb.gov.br/Pre/Surel/RelAdmBC/2012/
orientacoes-estrategicas-do-banco-central-do-brasil/index.html

Para saber mais sobre o edifício-sede do Banco Central do Brasil


(Bacen) em Brasília, do arquiteto Hélio Ferreira Pinto, acesse o
site:
https://www.bcb.gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/historia_BC.asp

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Ponte da mulher (el puente de la mujer), de autoria do arquiteto espanhol Santiago
Calatrava, no bairro Puerto Madero em Buenos Aires, é inspirado em um casal
dançando tango, manifestação artístico-cultural típica da Argentina, considerada
patrimônio oral e imaterial pela UNESCO (United Nation Educational, Scientific and
Cultural Organization, ou Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das
Nações Unidas).

Figura 19 - El puente de la mujer - Argentina

Considere que as edificações e demais obras da Administração Pública devem


ser sóbrias, para que transmitam as ideias de racionalidade e imparcialidade, ou
inovadoras, através do emprego de novas técnicas, conceitos ou materiais, para
que transmitam a preocupação com a evolução social ou tecnológica do homem.
Essas duas características devem estar sempre acompanhadas do princípio da
economicidade.

Assim, diante dos conceitos apresentados, pode-se resumir os objetivos e premissas


para as obras contratadas pela Administração Pública e que deverão fazer parte do
programa de necessidades dos projetos:

• Desempenho térmico e acústico, visando à diminuição do custo do


objeto ao longo da sua vida útil;

• Durabilidade e facilidade de manutenção;

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• Funcionalidade, com ambientes integrados e adaptáveis às diversas
configurações de leiaute, de forma a diminuir o impacto financeiro
quando da reorganização dos espaços;

• Formas harmônicas e beleza;

• Inserção e adaptação ao entorno, obedecendo a critérios ambientais,


sociais e culturais do local;

• Inovação tecnológica.

Unidade 3 - Familiarizando-se com a terminologia


aplicada ao projeto.

Ao final da unidade, você será capaz de identificar e destacar


quais documentos exigir conforme os tipos específicos de
projeto, e relembrar os conceitos aplicados ao tema “projeto de
edificações”.

Quais as diferenças entre Memorial Descritivo, (Caderno de)


Especificações Técnicas e Caderno de Encargos?
Na contratação dos projetos da construção civil é importante que o gestor do
contrato tenha clareza quanto ao significado da terminologia aplicada, permitindo
assim que os editais tragam correta apresentação dos conceitos e definições.

É comum, dentre os profissionais de engenharia e arquitetura, a confusão entre os


conceitos de memorial descritivo, (caderno de) especificações técnicas e caderno
de encargos, razão pela qual compete à contratante o seu esclarecimento, através
do documento editalício. Essa condição não somente evita a eventual impugnação
do edital como traz segurança jurídica ao órgão público.

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Esses conceitos são definidos abaixo, de acordo com o Tribunal de Contas da União:

Figura 20 - Memorial descritivo, (caderno de) especificações técnicas e caderno de encargos

Observe, portanto, dados os conceitos do Tribunal de Contas de União, que o Caderno


de Encargos é a consolidação do memorial descritivo e das especificações técnicas,
documento este também chamado de Caderno de Encargos e Especificações
Técnicas. Esse documento é complementar às pranchas de desenho do projeto e
tem por função a descrição completa do objeto, textualmente, e as orientações de
como serão executados os serviços. O Caderno de Encargos ainda pode apresentar
outras orientações, como a forma de medição dos serviços, a forma de descarte de
resíduos, a forma de apresentação dos documentos finais, etc.

O Caderno de Encargos, para os projetos de edificações, não é documento facultativo,


dele devendo fazer parte obrigatoriamente, visto ser elemento que elucida dúvidas
advindas da leitura das suas pranchas de desenho, sendo instrumento de arbitragem
nas eventuais dúvidas técnicas advindas da execução do objeto.

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Figura 20.1 – Caderno de Encargos

Outro conceito amplamente aplicado à área e que também gera dúvidas quanto
ao seu significado é o memorial justificativo. Alerte-se para o fato de que esse
documento é tão somente, como o próprio nome diz, um texto que justifica o
projeto. Nele estará contida a exposição das razões pelas quais foram adotadas
determinadas soluções e decisões de projeto, o porquê se utilizou determinados
materiais, traçados, dimensionamentos, etc., em detrimento de outras escolhas. O
memorial justificativo é, portanto, a peça textual que explica o projeto.

É importante que nesse documento conste com clareza a explicação para os


seguintes itens:

+ 1 - Localização
Descrição sucinta do entorno (quando se tratar de projeto de edificação
ou intervenção urbanística) e a forma como o objeto relaciona-se com ele,
indicando as soluções adotadas para o tratamento dos ruídos, insolação,
regime de ventos, etc.;

+ 2 - Programa de necessidades
Identificação das razões que levaram o projetista a adotar determinada
solução para os elementos do objeto. Exemplo: em um projeto que contenha
um auditório, a explicação das razões pelas quais determinada forma foi
adotada para tal auditório, a configuração da plateia, etc.;
Planta baixa (quando se tratar de projeto de edificação ou intervenção
urbanística);
Explicação para a distribuição funcional dos elementos, sua relação,
ordenamento, integração, hierarquia, etc.;

+ 3 - Volumetria
Descrição da forma como se obteve a solução plástica (quando se tratar
principalmente de projeto de edificação), processo criativo, enfatizando
procedimentos que foram adotados, tais como subtrações, adições,
composição de cheios e vazios, luz e sombras, texturas e materiais, linhas
predominantes, etc.;

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+ 4 - Tecnologia
Apresentação da escolha construtiva e suas vantagens. Descrição do benefício
que será atingido com a opção pela forma de construção adotada em relação
a economia, desempenho, rapidez de execução, etc. Exemplo: porque foi
adotada a forma construtiva “estaiada” para o projeto de um viaduto, em
detrimento da forma “simplesmente apoiado”.

O memorial justificativo não é item obrigatório na elaboração


dos projetos (conforme ABNT NBR 16636-2: 2017 - Elaboração e
desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos
arquitetônicos e urbanísticos Parte 2: Projeto arquitetônico)
e não é comumente adotado ou exigido nas contratações da
Administração Pública. É imprescindível, no entanto, quando for
adotada a modalidade de licitação “concurso”, que será abordada
na próxima unidade.

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Unidade 4 - Contratação do projeto: qual é a
modalidade de licitação mais indicada?

Ao final da unidade, você será capaz de avaliar qual a melhor


modalidade de licitação a ser adotada nos diferentes tipos de
objeto.

Conforme a Lei n° 14.133/2021, há 5 modalidades de licitação possíveis para a


contratação de um projeto na Administração Pública:

Figura 21 – As cinco Modalidades de Licitação

As modalidades “pregão” e “concorrência” terão seus critérios de julgamento pelo


menor preço ou maior desconto, tendo essa última ainda os critérios de “melhor
técnica ou conteúdo artístico”, “técnica e preço” e “maior retorno econômico”.
Diferentemente da Lei n° 8.666/1993, o critério de julgamento “melhor técnica ou
conteúdo artístico” da Lei nº 14.133/2021 não considera o preço.

A modalidade “concurso” terá apenas um critério de julgamento: “melhor técnica ou


conteúdo artístico”.

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A modalidade “leilão”, apenas o critério de julgamento “maior lance”.

Já a modalidade “diálogo competitivo” permite à Administração a realização de


diálogos com licitantes previamente selecionados, mediante critérios objetivos,
quando forem atendidas as seguintes condições:

• necessidade de inovação técnica ou tecnológica;

• impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade satisfeita


sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado;

• impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas com


precisão suficiente pela Administração.

Antes de abordarmos as formas de licitação é importante comentarmos a necessidade


de formação do preço referencial no processo licitatório para a contratação de um
projeto, item que fará parte do edital, nas situações definidas na Lei n° 14.133/2021.

Como já mencionado neste curso, a Administração Pública deve sempre ter o seu
preço referencial para contratações. Isso é válido para projetos, obras e também
para serviços continuados. Devido ao serviço de projeto ter a sua mensuração de
forma subjetiva, por vezes é difícil encontrar referenciais criteriosos para a formação
do seu preço. Deve-se considerar que para um mesmo objeto pode haver sensíveis
diferenças de preços em função da escala, área de edificação considerada, etc.

A Instrução Normativa SEGES/ME n° 98/2022 estabelece as regras para a definição


do valor estimado para a contratação de obras e serviços de engenharia sob o
regime de execução indireta, nos processos de licitação, tema que será visto no
módulo 5 deste curso.

Dentre as modalidades de licitação com as quais é possível a contratação de projetos


temos, então, o pregão, a concorrência, o concurso e o diálogo competitivo. Ignora-
se a modalidade leilão, utilizada apenas para a alienação de bens imóveis ou de
bens móveis inservíveis ou legalmente aprendidos (inciso XL, do Art. 6º, capítulo III,
da Lei nº 14.133/2022).

A lei das licitações determina que o pregão é a modalidade de licitação obrigatória


para a aquisição de bens e serviços comuns de engenharia. Mas o que pode ser,
então, classificado com serviço comum de engenharia?

A Advocacia Geral da União, através da Orientação Normativa n° 54/2014, pondera:

“Compete ao Agente ou Setor Técnico da Administração declarar


que o objeto licitatório é de natureza comum para efeito de
utilização da modalidade pregão e definir se o objeto corresponde
a obra ou serviço de engenharia, sendo atribuição do órgão
jurídico analisar o devido enquadramento da modalidade
licitatória aplicável. ”

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 46


A dúvida recai sobre o fato de um projeto poder ser considerado ou não como
serviço comum de engenharia.

O Auditor do TCU, André Mendes (MENDES, 2013) faz uma comparação entre um
serviço notadamente comum de engenharia, a impermeabilização de uma laje de
uma edificação e um serviço de projeto. Somente pelo fato de o projeto necessitar
de um responsável técnico, ou seja, configurar-se como um serviço intelectual, não
poderia ser classificado como serviço comum. Além disso, em um projeto, tomando-
se como exemplo um projeto de arquitetura, não é possível definir objetivamente
sua forma, aparência e características arquitetônicas finais, confirmando a
impossibilidade de seu enquadramento como serviço comum.

No entanto, conforme jurisprudência do Tribunal de Contas da União, através do


Acórdão n° 601/2011 –TCU - Plenário, se houver entendimento de que o objeto final
de uma licitação de projeto não terá diferença, independentemente de quem o fará,
este pode ser classificado como comum:

...se o projeto ou estudo a ser obtido pela realização do serviço por uma empresa
ou profissional for similar ao projeto desenvolvido por outra empresa, dotada
com as mesmas informações da primeira, esse objeto, no caso ‘estudos e projetos’
podem ser caracterizados como ‘comuns’. Caso contrário, se a similaridade dos
produtos a serem entregues não puder ser assegurada, o objeto é incomum.

Perceba a controvérsia que envolve a questão e que, diante da incerteza do caminho


a seguir, muitos gestores acabam optando pela adoção dessa modalidade (pregão)
para a contratação dos serviços de projeto, quando de pequeno vulto. Opta-se, dessa
forma, pelo caminho mais seguro se considerarmos a segurança jurídica. Perde-
se, no entanto, o resultado dessa escolha, pela qualidade do objeto recebido, visto
que o custo e a qualidade do projeto tendem a ser grandezas opostas, conforme
demonstrado na unidade 2 deste módulo – tópico 1.2 através da figura abaixo
relembrada:

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Figura 22 - Como vai querer seu projeto - Gestão Tecnológica
Fonte da imagem: https://www.passeidireto.com/arquivo/41489279/como-vai-querer-seu-projeto

É importante comentar que a modalidade “pregão” pode tornar-se antieconômica


para a Administração Pública, as chamadas licitações deficitárias, visto que há
casos em que o desconto obtido em um certame com esse tipo de modalidade -
comparando-se o preço contratado com o preço inicial dos lances (orçamento
referencial da Administração) - não alcança o gasto despendido com o contingente
de mão de obra envolvido no seu procedimento. Estudos nesse sentido vêm sendo
feitos pela Controladoria Geral da União. Recente relatório desse órgão de controle,
feito em novembro/2022, concluiu que 16,3% do total de pregões feito pelos órgãos
públicos do poder executivo federal foi deficitário.

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Figura 23 - Relatório de Avaliação – Secretaria de Gestão – Exercícios
2018 a 2022 – CGU, de 25 de novembro de 2022
Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do Siasg DW.

Para que se jogue mais luz sobre o debate, tome-se o posicionamento do CAU/BR,
conselho profissional dos arquitetos e urbanistas e suas recentes ações quanto à
adoção do pregão para a contratação de projetos pela Administração Pública.

A unidade do CAU do estado do Rio Grande do Sul se posicionou sobre o tema e tem
alcançado repetidos êxitos nas ações judiciais ou ações de impugnação impetradas
contra a modalidade pregão nesse tipo de contratação.

Acesse os links para saber mais sobre a unidade do CAU do estado


do Rio Grande do Sul:

• http://www.caurs.gov.br/caurs-nao-admite-pregao-na-
contratacao-de-servicos-de-arquitetura-e-urbanismo

• http://www.caurs.gov.br/caurs-tem-sucesso-em-
impugnacao-de-pregao-em-campo-bom

• http://www.caurs.gov.br/pregao-encruzilhada

• Vitória contra o pregão! CAU/RS vence ação em Porto


Alegre | CAU/RS (caurs.gov.br)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 49


Sabe-se que contratações de projeto têm pouca representatividade numérica no
universo de contratações da Administração Pública. Não traria ônus à supremacia
do interesse público o maior dispêndio de tempo e de recursos humanos da
Administração para essa forma de contratação (licitações nas modalidades que não
sejam o pregão) frente ao benefício que se teria com o resultado final do objeto, fruto
de um bom projeto, conforme já mencionado nos tópicos 1.1 e 1.2 deste módulo.

Para projetos de maior vulto, no entanto, a modalidade ideal é o concurso. Esse é


o entendimento da academia e dos órgãos de classe da engenharia e arquitetura.
Notadamente, os grandes projetos em nível mundial, aqui definidos grandiosos pela
sua qualidade, destaque e importância, aliados à quintessência da manifestação
artística e tecnológica, foram desenvolvidos através de concurso.

Exemplos desses projetos são:

Figura 24 - Ópera de Sidney, Austrália


Fonte da imagem - https://www.archdaily.com.br/br/784303/
classicos-da-arquitetura-pera-de-sydney-jorn-utzon

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Figura 25 - Plano Piloto da cidade de Brasília, Brasil
Fonte da imagem: https://www.archdaily.com.br/br/762897/em-foco-
lucio-costa/54ecb228e58ece263300000a-the-original-pilot-p

Figura 26 - Plano Piloto da cidade de Brasília, Brasil


Fonte: https://www.uninorte.com.br/curso-de-arquitetura-e-urbanismo-
promove-viajem-de-estudos/arquitetura-brasilia/

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 51


Figura27 – Bilbao - Espanha
http://verybilbao.com/en/comercios/museo-guggenheim-bilbao/

Figura 28 - Estádio “Ninho de Pássaro, Pequim/China


Fonte da imagem: istockphoto.com

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Figura 29 - Remodelação da Estação Central de Trens, Berlim/Alemanha
Fonte da imagem: http://www.tremeuropa.com.br/trens-em-berlim/

André Baeta, Auditor Federal de Controle Externo do TCU, em artigo publicado


em novembro/2014 na revista “Infraestrutura Urbana, defende a contratação de
projetos pela modalidade concurso. Segundo o auditor, há vantagens para a
Administração Pública quando desse tipo de contratação, abaixo transcritas:

Com o concurso, contrata-se o melhor projeto e não a melhor


empresa;

A Administração Pública sabe qual é o projeto que está


comprando, visto que ao receber as propostas, a contratante
avaliará desenhos conceituais, memoriais, etc., ainda em fase
preliminar;

O projeto é entregue no prazo, sem aditivos ou aumento de


custos;

Há aumento da competitividade entre as empresas projetistas;

O melhor projeto é selecionado por especialistas da área;

Assim, considerando-se as questões apresentadas no debate em torno do tema,


é possível concluir que há grande vantagem para a Administração Pública na

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 53


escolha da modalidade concurso ou concorrência, essa última tendo como critério
de julgamento a “melhor técnica ou conteúdo artístico” ou “técnica e preço” para a
contratação de projetos.

Unidade 5 - A diferença entre Direito Autoral e


Direito Patrimonial. Autores e Coautores

Ao final da unidade, você será capaz de reconhecer a proteção


dos direitos autorais e a sua aplicação no âmbito do poder público
como contratante.

Surgida na Renascença, no início do século XIV, a questão dos direitos autorais trazia
no seu conceito original a proteção aos editores, o que na Inglaterra foi chamado de
copyright. Essa condição, fomentada pela então recente invenção da imprensa, tinha
por objetivo garantir àqueles editores e livreiros a remuneração dos altos custos
de impressão aos quais estavam submetidos, devido ao uso de gravuras (muito
comuns nos primórdios da imprensa) ou outras informações adicionais.

Figura 30 – Copyright

A proteção para os direitos do autor surgiria somente mais tarde, nos ares da
Revolução Francesa, em oposição à condição protetiva inglesa, o que se chamou
droit d’auteur. Essa condição trazia outra inovação, a divisão dos direitos em direitos
patrimoniais e direitos morais, concedendo ao autor não só a proteção sobre a sua
autoria, como também à propriedade da sua obra. DUARTE (2009)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 54


No Brasil, a legislação sobre direitos autorais teve início ainda no período
imperial, através da edição de normas vinculadas à proteção de obras jurídicas,
com a criação dos primeiros cursos de Direito, com alguma evolução ao longo
do período republicano e sua consolidação, através da Lei nº 5.988, de 14 de
dezembro de 1973, que reunia a legislação sobre o tema.

Na Constituição da República, de 1988, surge pela primeira vez em um texto


constitucional a proteção dos direitos de autor como uma garantia individual.
Vejamos o seu Art. 5º:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,


publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos
herdeiros pelo tempo que alei fixar;

Dez anos depois é editada a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que revoga
a lei de 1973 sobre o tema e que está em vigor atualmente, com recente alteração
pela Lei nº 12.853, de 14 de agosto de 2013, incluindo a gestão coletiva dos direitos
autorais, as duas regulamentadas pelo Decreto nº 9.574, de 22 de novembro de
2018.

No âmbito da Administração Pública e sua relação com os autores, aqui enfatizados


os autores de obras intelectuais de projetos, um dos temas no nosso curso, é
limitada a possibilidade de transferência daqueles direitos. Como contratante, a
Administração tem a possibilidade de transferência para si apenas da parte relativa
aos direitos patrimoniais do autor. A Lei nº 14.133/2021 traz essa condição explicitada
no Art. 30, parágrafo único (artigo que estabelece as regras para a licitação na
modalidade “concurso”) e no Art. 93 (artigo que trata especificamente da cessão dos
direitos patrimoniais, quando da contratação de projetos ou de serviços técnicos
especializados).

Para tratarmos a questão é necessário primeiramente que entendamos a divisão


dos direitos autorais.

Conforme a Lei nº 9.610/1998, esses dividem-se em patrimoniais e morais, a exemplo


das primeiras manifestações do modelo legislativo francês sobre o tema. O seu Art.
22 diz que pertencem ao autor da obra intelectual ambos os direitos.

O direito moral, inalienável e irrenunciável, por tratar-se de direito que protege


a criação de espírito, não pode ser transferido, e confere, ao autor as seguintes

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 55


prerrogativas, dadas no Art. 24 da Lei n° 9.610/1998:

Art. 24. São direitos morais do autor:


I – o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado,
como sendo o do autor, na utilização de sua obra;
III – o de conservar a obra inédita;
IV – o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificações
ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo,
como autor, em sua reputação ou honra;
V – o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI – o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de
utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à
sua reputação e imagem;
VII – o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre
legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo
fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma
que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será
indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.”

Para os incisos V e VI são ressalvadas as indenizações aos terceiros atingidos:

§ 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prévias indenizações a terceiros,


quando couberem.”

O Art. 26 traz importante informação:

Art. 26. O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem
o seu consentimento durante a execução ou após a conclusão da construção.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 56


Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar
ao autor sempre que, após o repúdio, der como sendo daquele a autoria do
projeto repudiado.”

Esse comando limita, portanto, a discricionariedade do


contratante quanto à alteração da obra intelectual e deve
ser muito bem observado pela Administração Pública, aqui
enfatizados os projetos contratados pelo poder público, sob pena
de gerar ao autor, em eventuais alterações do objeto, o direito a
indenizações.

O segundo grupo de direitos do autor são os patrimoniais, relativos à propriedade


da obra. Vejamos o que diz a Lei nº 9.610/1998 quanto a essa questão:

Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária,
artística ou científica.

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra,


por quaisquer modalidades, tais como: (...)
X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser
inventadas (...)

Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao


adquirente qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em
contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei.

A leitura dos artigos acima indica a necessidade de transferência daqueles


direitos patrimoniais pelo autor ao adquirente para que esse possa fazer a
utilização e o usufruto da obra.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 57


Quanto a isso, há previsão expressa na Lei nº 9.610/1998:

Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos


a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular,
pessoalmente ou por meio de representantes com poderes especiais, por meio
de licenciamento, concessão, cessão ou por outros meios admitidos em Direito,
obedecidas as seguintes limitações:
I – a transmissão total compreende todos os direitos de autor, salvo os de natureza
moral e os expressamente excluídos por lei
II – somente se admitirá transmissão total e definitiva dos direitos mediante
estipulação contratual escrita

Assim, é necessário que a Administração Pública, como adquirente do direito


patrimonial do autor (através da devida remuneração pela obra adquirida) faça
constar, no edital da licitação, cláusula expressa, conforme demonstrado no inciso II
do Art. 49 da Lei n° 9.610/1998.

Veja que, diante do que estabelece aquela lei, é importante


também o cuidado da Administração Pública quanto à eventual
alteração do objeto contratado. Na execução de obras, a partir da
contratação de um projeto básico, conforme a Lei nº 14.133/2021,
no seu art. 6º, inciso XXVI, deve ser observado com elevado critério
a elaboração do projeto executivo, também autorizado pela
referida lei. O projeto executivo em questão – com o significado
que tem - já discutido na unidade 2 do módulo 1 deste curso, deve
configurar-se em mero detalhamento complementar, jamais
podendo alterar a concepção original dada no projeto básico.

Alterações naquela concepção geram a possibilidade de o autor buscar indenizações


ou mesmo reparação judicial contra a ofensa ao seu direito moral.

A coautoria, por conseguinte, é instituto que prevê a assunção da


paternidade de uma obra artística ou trabalho técnico por dois
ou mais autores. A sua manifestação é direta, através do acordo
entre os participantes quando da composição do objeto, onde
cada um dos autores contribui com a sua ideia na elaboração
do intento, trazendo como resultado ideia única da combinação
dessas. Os coautores têm igual peso na responsabilidade pelo
objeto constituído e também iguais direitos.

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Essa é uma das razões pelas quais deve-se tomar cuidado quando da revisão dos
projetos contratados pela Administração Pública através da elaboração do projeto
executivo. Essa também é uma das razões para a contrariedade dos conselhos de
classe (CAUBR e Sistema CONFEA/CREA) quanto a essa prática.

Permitida pela Lei nº 14.133/2021, no seu Art. 6º, inciso XXVI, essa condição prevê
a possibilidade de complementação do projeto básico através do chamado projeto
executivo, que pode vir a transfigurar o objeto original, o que caracterizaria uma
clara afronta ao direito autoral.

Lembre-se que, conforme já exposto neste curso, na unidade 4 do módulo 1, a Lei


nº 14.133/2021 traz confusão nos conceitos de projeto básico e projeto executivo.
Para que se afaste o risco de ofensa à autoria do projeto, a ação permitida para
o momento da obra, em relação à revisão do projeto, deveria ser tão somente a
de detalhamento complementar. Essa complementação teria apenas o caráter de
esclarecimento da ideia advinda do projeto original (o projeto básico da licitação)
eventualmente não detalhada, ou que possa ter gerado dúvida quanto a sua forma
de execução, preservando a autoria do objeto, impedindo o risco de desobediência
ao direito autoral e, desta forma, dando segurança à conduta do gestor do contrato.

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Unidade 6 - Como receber um projeto de
edificações?

Ao final da unidade, você será capaz de indicar a necessidade de


verificação das normativas técnicas e demais normativas legais
citadas no projeto, sua vigência, a data da sua edição, etc., e
enfatizar a responsabilidade do gestor do contrato de elaboração
do projeto frente ao objeto entregue, em relação a soluções,
quantitativos, custos, etc.

Nos processos licitatórios, o edital de licitação e o seu termo de referência ou projeto


básico são os elementos que definem os procedimentos para as contratações
da Administração Pública. Dessa forma, ao ser recebido o projeto, toma-se como
primeira ação do gestor a necessidade de análise do objeto quanto à observância
das diretrizes expostas no termo de referência ou projeto básico do edital.

Nessa ocasião, a revisão deve pautar-se na observação do atendimento ao programa


de necessidades, à legislação, às diretrizes técnicas e aos objetivos expostos naquela
peça processual.

Simultaneamente a essa revisão preliminar, o gestor mergulhará na documentação


do projeto para a identificação do atendimento aos itens de entrega obrigatória para
o tipo de objeto. A relação desses itens deve sempre estar expressa no termo de
referência ou projeto básico, para que tenha o gestor a legitimidade na sua cobrança.
Para a sua elaboração, no momento da montagem do edital, a Administração deve
fazer constar as orientações das normas técnicas, a bibliografia sobre o assunto e as
determinações dos conselhos profissionais.

Complementarmente, e como rica fonte de consulta, pode-se observar as orientações


do Tribunal de Contas da União através da Portaria SEGECEX nº 33, de 7 de dezembro
de 2012, no seu item I.1.2.1 e no seu Anexo II.

Os elementos mínimos a serem apresentados para o projeto de uma edificação


de porte médio, conforme esse item da portaria, são:

a) levantamento topográfico;

b) sondagens;

c) projeto arquitetônico;

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d) projeto de terraplanagem;

e) projeto de fundações;

f) projeto estrutural;

g) projeto de instalações hidrossanitárias;

h) projeto de instalações elétricas;

i) projeto de instalações telefônicas;

j) projeto de instalações de detecção e alarme e de combate a incêndio;

k) projeto de instalações lógicas;

l) projeto de instalações de ar condicionado; e

m) projeto de instalação de transporte vertical.

O conjunto de documentos do projeto deve contemplar as peças gráficas (pranchas


de projeto), com a indicação da sua revisão e data, o Caderno de Encargos, o
Cronograma físico-financeiro e o Orçamento detalhado com a indicação da data-
base para os preços tomados.

Figura 31 - Documentos

No Caderno de Encargos deve estar descrita a lista das pranchas de desenho


integrantes do projeto, com a sua revisão e data. No Cronograma físico-financeiro
e no Orçamento detalhado deve ser mostrado o título do projeto para a sua fácil
identificação. As pranchas de desenho devem ser apresentadas dentro das normas
da ABNT, condição que deve estar expressa no edital. Essa condição vale também
para o Caderno de Encargos.

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Esse documento, conforme o tamanho do objeto, atinge o volume de 400 páginas
ou mais, razão pela qual deva ser apresentado com sumário. Recomenda-se que
o sumário siga a mesma sequência numérica que será apresentada na planilha
orçamentária, o orçamento detalhado. Essa forma de ordenação não somente
torna mais coesa a informação apresentada pelo autor do projeto, como possibilita
a facilitação do trabalho futuro do executor da obra e, principalmente, do seu fiscal.

Para a conferência da documentação entregue, o gestor do contrato pode se valer


da adoção de lista de checagem, documento que poderá ser anexado ao processo.
As observações quanto ao recebimento do objeto devem ser registradas em
relatório circunstanciado, que servirá de documento de comunicação com a licitante
e também será integrada ao processo.

Deve também ser observada pelo gestor do contrato a indicação


da data de edição das leis ou normas técnicas referenciadas pelo
autor do projeto. É comum a citação de normas técnicas sem
vigência ou que tenham sido substituídas por outras normas
mais atualizadas, bem como a referência de leis que tenham sido
revogadas. Esse é um dos principais erros cometidos nos projetos,
assunto que será retomado nesse módulo.

6.1 A responsabilidade do gestor de contrato

Na Administração Pública, o gestor de contrato responde


solidariamente pelos danos causados à Fazenda Pública (Art. 8°,
§1°, Art. 169, §3°, inciso II) ou por atos praticados no exercício das
suas funções (Art. 121 e Art. 122 da Lei nº 8.112/1990). Vejamos os
exemplos:

Art. 8º A licitação será conduzida por agente de contratação, pessoa designada


pela autoridade competente, entre servidores efetivos ou empregados públicos
dos quadros permanentes da Administração Pública, para tomar decisões,
acompanhar o trâmite da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e
executar quaisquer outras atividades necessárias ao bom andamento do certame
até a homologação.

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§ 1º O agente de contratação será auxiliado por equipe de apoio e responderá
individualmente pelos atos que praticar, salvo quando induzido a erro pela
atuação da equipe.
(Lei nº 14.133/2021, Art. 8°, parágrafo 1º)

Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício


irregular de suas atribuições.
(Lei nº 8.112/1990, Art. 121)

Perceba que as ações dos agentes públicos devem, portanto, estar sempre
amparadas em normativas legais que as legitimem. Essa condição estende-se às
ações de contratação e recebimento de um objeto, aqui especificamente tratado o
projeto. A mesma observação aos critérios legais que deve ter o gestor de contrato
quando da elaboração dos editais de contratação deve ser aplicada quando do
recebimento do projeto e da sua consequente revisão e aceitação.

Jurisprudência recente do Tribunal de Contas da União traz o


entendimento da matéria por aquela corte. Vejamos o que dizem
os acórdãos:

“1. A aprovação de projeto básico inadequado, com grandes implicações


nos custos e prazos de execução do empreendimento, reveste-se de
gravidade suficiente para justificar a apenação pecuniária do gestor
responsável e a sua inabilitação para o exercício de cargo em comissão
ou função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal. ”

(Acórdão nº 915/2015 - TCU – Plenário)

Analisando-se os pressupostos legais citados, percebe-se claramente a


responsabilidade do gestor quanto aos seus atos administrativos. Essa estende-se
por consequência às questões específicas da sua função e habilitação, através da
escolha das soluções técnicas a serem adotadas na elaboração do objeto – o projeto,
por exemplo - e a criteriosa análise daquelas soluções propostas pelos projetistas.
Essa condição está amplamente amparada no Acórdão nº 915/2015 – TCU – Plenário,
acima citado, visto que dada a discricionariedade do gestor de contrato na aprovação
do projeto, pode-se configurar a desobediência aos princípios da economicidade e
da razoabilidade.

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Por todas as razões citadas, ainda que a Administração Pública contrate o projeto
ou a obra com profissional ou empresa qualificados e habilitados, ou ainda que
tenha igualmente o assessoramento técnico de empresa ou profissional habilitados
e qualificados, é também de sua responsabilidade qualquer erro formal, imperícia
ou negligência, através dos seus agentes públicos.

Essa condição confirma a ideia de que é altamente recomendável que os órgãos


públicos que tenham no seu organograma setores responsáveis pela contratação
de projetos, obras ou quaisquer serviços de engenharia, contem com profissionais
legalmente habilitados e com constante processo de qualificação.

Figura 32 – Serviços de engenharia

No âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil, do Ministério da Fazenda,


a PORTARIA RFB/SUCOR/COPOL nº 566, de 30 de novembro de 2011 – Dispõe sobre os
procedimentos relativos à elaboração de projetos básicos e executivos, bem como à
execução de obras, serviços de engenharia, reparos e adaptações no âmbito da Secretaria
da Receita Federal do Brasil, determina o seguinte, no artigo 3º, parágrafo 1º, do seu
anexo I:

Art. 3º Após a definição do Programa de Necessidades, deverá ser elaborado


o Anteprojeto. Este documento constitui a configuração inicial da solução
arquitetônica para a obra, considerando as principais exigências contidas no
Programa de Necessidades.
§1º O Anteprojeto, sempre que possível, deverá ser elaborado por servidor
devidamente habilitado do Ministério da Fazenda, preferencialmente da
Secretaria da Receita Federal do Brasil.

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Unidade 7 - A importância da observação da
representação gráfica na apresentação de
projetos

Ao final da unidade, você será capaz de identificar


os erros mais comuns observados nos projetos e a consequência
gerada pelo recebimento de um projeto com deficiência na sua
representação gráfica, bem como os prejuízos daí advindos.

Você sabia que o desenho de projetos que resulta na sua


representação gráfica assume notadamente dupla função?
A primeira está diretamente ligada ao processo criativo, à geração da ideia, ao
significado e ao teste das possibilidades, tema tratado dentro do campo da semiótica
e intensamente desenvolvido por autores dedicados ao estudo do pensamento
complexo. SANTAELLA (1983) MORIN (1995) PEIRCE (1987).

Nessa ação, a forma de representação certamente terá influência sobre o resultado


final, condicionando inclusive a fluidez das ideias do projetista. A escolha do
instrumento de representação gráfica condicionará a síntese do seu pensamento
criativo e o sucesso da intenção de projeto. BORGES (2001). Não nos deteremos nessa
questão neste curso, ela é citada apenas como referência ao potencial apresentado
pelos diversos instrumentos de representação gráfica.

A segunda função remete à comunicação, como o próprio nome demonstra, da


correta representação da intenção do seu autor. Tanto melhor comunicação haverá
entre o comunicante do projeto (o seu autor) e o seu leitor, quanto maior for a
precisão e correção da representação.

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BERTIN (1986) esclarece essa condição através da relação da ação inventiva das
ideias com a sua representação:

ETAPAS DA DECISÃO REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

• Definir o problema • Análise matricial do problema


(definição de questões)
• Construir o quadro de dados

• Adotar uma linguagem de • Tratamento gráfico da


tratamento informação (descobrir as
respostas)
• Tratar os dados categorizando
os dados exaustivos

• Interpretar para decidir e para • Representação gráfica de


comunicar os dados comunicação (comunicar as
simplificados respostas encontradas)

Observando-se a tabela acima, percebe-se a complexidade do processo que


resulta na correta representação gráfica do objeto. Assim, o desenho final deverá
ser esclarecedor da intenção do seu autor, sob pena de falhar na comunicação do
objetivo pretendido.

Durante muito tempo, a representação gráfica teve por objetivo apenas o registro
dos objetos. A partir do século XV, iniciou-se a transformação da forma comunicativa,
incorporando ações criteriosas de análise qualitativa do objeto representado
através da riqueza de elementos dos instrumentos da sua representação. Essa
mudança deu-se através de Fillipo Brunelleschi, arquiteto italiano da Renascença, e
a potencialidade comunicativa dos seus desenhos e esboços. Ao vencer o concurso
para o projeto da cúpula da catedral Santa Maria Del Fiore em Florença, Brunelleschi
utilizou instrumentos de representação gráfica que mostravam notável compreensão
do funcionamento estrutural da cúpula e a criteriosa análise do sistema construtivo
através da representação figurada, conforme figura a seguir.

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Figura 33 – Representação Figurada
Fonte da imagem: CARVALHO JR. J.M.N. Prática de Arquitetura e
conhecimento técnico. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo:
Universidade de São Paulo, 1994, 273p. (Tese de Doutorado).

Na mesma época, Leon Battista Alberti, arquiteto e pintor italiano renascentista,


complementando o trabalho iniciado por Brunelleschi, assinalou outro marco na
arquitetura e engenharia, utilizando na representação de seus desenhos a análise
científica da perspectiva, o que consolidou a forma de apresentação de perspectivas
utilizadas atualmente, as perspectivas cônicas. Confira a figura a seguir.

Figura 34 – O cone e o quadro visual


Fonte da imagem - https://www.poisson.com.br/livros/educacao/
volume12/Educacao_no_seculoXXI_vol12.pdf

A Associação Brasileira de Normas Técnicas apresenta a ABNT NBR 6492:2021 –


Documentação técnica para projetos arquitetônicos e urbanístico – Requisitos, como

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normativa para a representação gráfica em projetos de arquitetura. Muito embora
específica para essa disciplina, por analogia pode-se adotá-la como orientação para
a representação gráfica de todas as demais disciplinas que concorrem para o projeto
de uma edificação (estrutural, elétrico, ar-condicionado, hidrossanitário, etc.).

Essa norma determina a correta forma de apresentação do projeto de arquitetura,


através da escolha das linhas de representação, dos elementos mínimos necessários,
do formato das pranchas de desenho, das técnicas de representação, etc.

Ao gestor de contrato compete a exigência de atendimento a tal norma quando da


contratação dos projetos da Administração Pública.

A incorreção e a imprecisão na representação gráfica dos projetos


contratados podem possibilitar erros de interpretação dos
desenhos por parte das licitantes e, com isso, permitir conclusões
equivocadas da técnica construtiva ou dos quantitativos de
projeto, refletindo diretamente da formação do preço da obra.

Os principais erros de representação gráfica que são encontrados


nos projetos são:
1. Não correspondência entre o corte do desenho e a sua marcação em
planta baixa. Essa condição pode levar à interpretação errada do
comando construtivo quando da execução da obra, onerando o seu
custo pela necessidade de correção (demolições e ajustes), quando
detectado pelo fiscal;

2. Não correspondência entre a legenda e os desenhos do projeto. Essa


situação pode causar, nos projetos de instalações, a interpretação errada
dos tipos de elementos (tubulações, fiação, etc.) causando a quantificação
equivocada de materiais;

3. Cotagem errada dos elementos de desenho, o que pode levar à incorreta


interpretação das medidas e a consequente execução equivocada da
obra ou quantificação de materiais;

4. Erro na representação das linhas de desenhos, especialmente nos cortes


e vistas, ocasionando a interpretação incorreta dos elementos e levando
à execução em desacordo com o projeto, o que gera a necessidade de
demolição e nova execução, onerando o custo da obra;

5. Falta de indicação das bitolas das tubulações nas instalações


hidrossanitárias, em plantas baixas, ou sua indicação parcial. Essa
situação gera dúvidas quanto às bitolas corretas, de acordo com o trecho
e a hierarquia da rede, levando à eventual quantificação errada das
diferentes bitolas. A figura abaixo demonstra a falta de informação

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quanto ao diâmetro da tubulação da instalação de chuveiros automáticos
para prevenção de incêndio no seu trecho terminal, o que gera a dúvida
sobre qual é o diâmetro correto que deve ser adotado. Observe a figura
abaixo.

Figura 35 –Projeto de instalações de prevenção de incêndio com informações incompletas

Perceba, portanto, caro aluno, que muito mais do que uma forma simplificada de
registro das intenções de projeto, a representação gráfica tem importante função
por ser a ação a principal responsável pela comunicação e pelo consequente
entendimento da ideia a ser transmitida. Projetos, muitas vezes simplificada e
depreciativamente chamados de meros “desenhos”, especialmente por leigos, são,
na verdade, complexas ações de desenvolvimento e manifestação das intenções e
ideias do seu autor, podendo condicionar o sucesso ou o fracasso do seu objeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 69


Unidade 8 - Coordenando um projeto de
edificações

Ao final da unidade, você será capaz de observar a interdependência


dos projetos que compõem uma edificação, a interferência de
um projeto em outro e as consequências das decisões isoladas.

A coordenação do projeto de edificações

Dentro da atividade de projeto, a coordenação assume condição de destaque,


configurando-se em uma das iniciativas de maior importância a partir do seu
projetista. Nos editais da Administração Pública para a contratação desse tipo de
serviço, a coordenação de projetos deve estar listada como uma das atividades que
comporão o serviço prestado e deve ser tratada com ênfase, dada a sua importância.
A despeito da discussão jurídica existente entre os conselhos profissionais (Sistema
CONFEA/CREA e CAU/BR) sobre a legitimidade para o desenvolvimento dessa
atividade, saiba que a sua responsabilidade é exclusiva daquele profissional
que concebe o projeto. Assim, espera-se que, nos projetos desenvolvidos por
engenheiros, a sua coordenação a eles seja vinculada e, nos projetos desenvolvidos
por arquitetos, mesma lógica se imponha.

Para saber mais acesse a Resolução CONFEA nº 1010/2005, Resolução


CAU/BR nº 51/2013, Resolução CONFEA/CREA nº 1048/2013 e Notas
Explicativas sobre a Especificação e Fundamentos das Atividades
Privativas de Arquitetos e Urbanistas – CAU/BR.

Naturalmente, nos projetos relacionados à infraestrutura (pontes, estradas,


barragens, etc.), normalmente desenvolvidos por engenheiro, este também assumirá
a figura de coordenador.

Por outro lado, nos projetos de edificações, normalmente desenvolvidos por


arquiteto, a responsabilidade recai sobre tal profissional.

Este curso não tem por objetivo acalorar a polêmica sobre as competências
privativas ou compartilhadas de tais profissionais, mas é importante esclarecer a
necessária atuação do responsável pelo projeto, seja ele arquiteto ou engenheiro,
na sua coordenação. Afinal, a coordenação do projeto garantirá a sua qualidade e
somente o seu criador, que o concebe, tem condições plenas de tomada de decisões

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 70


sobre a sua forma de elaboração. Ainda que essa atividade possa ser desenvolvida
por outro profissional, dos quadros do órgão público, ou contratado para tal, na
forma de atividade de revisão do projeto, é incomparável o domínio do processo
pelo seu projetista.

Mas o que é a coordenação do projeto?


Para responder a essa questão deve ser inicialmente entendido como um projeto
é concebido. Especialmente em projetos de arquitetura, a soma das variáveis
envolvidas apresenta questões de ordem formal (formas arquitetônicas), teórica
(teorias de arquitetura), estética, análise de estruturas (sustentação do edifício,
no caso de edificações), análise de instalações (subdisciplinas como instalações
elétricas, hidrossanitárias, de ar condicionado, etc., no caso de edificações) e
completa normativa técnica e legal aplicada ao campo de atuação. Para consolidar
todas essas variáveis, há várias formas de abordagens, o que requer a atuação do
coordenador, em um processo de grande complexidade. DÜLGEROGLU, Y. (1999),
JUTLA, R (1996). A coordenação é então o teste contínuo e sistemático de integração,
interdependência e consolidação de influências dessas variáveis de forma a buscar
o melhor resultado possível na concepção final do objeto.

Dada a ideia acima, conclui-se que o profissional legítimo para a ação de coordenação
do projeto deve efetivamente ser o seu criador. Comumente confundida com
gerenciamento de projetos, a coordenação representa atividade inerente ao
processo criativo e não pode ser delegada. Enquanto o gerenciamento atua no
controle de prazos e processos, promovendo a intermediação entre os profissionais
ou atividades envolvidas na elaboração de um projeto, a coordenação promove a
integração do projeto, é inata do seu processo e exclusiva do seu agente.

A ABNT NBR 16.636-1:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos


especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Parte 1: Diretrizes e
terminologia, assim define, no seu item 3.36, a coordenação de projetos:

3.36
coordenação de projetos
atividade técnica, realizada por profissional habilitado, voltada a coordenar e
efetuar análise crítica das interfaces dos projetos das diversas especialidades
voltadas a uma construção e assessorar a gestão do empreendedor e as demandas
dos profissionais envolvidos na realização da obra, de modo a alcançar a
eficácia e à melhoria da eficiência nesses processos e projetos, gerenciando as
áreas de conhecimento, escopo, custo, qualidade, aquisições, recursos humanos,
comunicações, riscos, tempo e partes interessadas em sua total compatibilização.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 71


A falta da coordenação nos projetos possibilita o surgimento de lacunas ou questões
não respondidas que resultam na imprevisão de soluções, acarretando o incremento
dos custos da execução das obras. Na Administração Pública, cujo roteiro a ser
seguido encontra variadas regras e procedimentos, a falta dessa iniciativa causa
prejuízos financeiros significativos. Uma boa coordenação de projetos a partir
do seu projetista minimiza a necessidade de revisão dos projetos por parte do
órgão público, economizando tempo e mão de obra. Minimiza também os erros
de orçamento, visto que a coordenação identifica incompatibilidades que possam
existir entre as diversas subdisciplinas integrantes de um projeto.

Finalmente, e não menos importante, pode-se dizer que a coordenação do projeto


atua no resultado formal e estético do objeto ao controlar as interferências
intrínsecas do processo projetivo, de uma disciplina em outra, cuja falta de controle
poderia condenar a beleza, a funcionalidade e o desempenho do produto final.

A atuação do projetista não se limita então ao domínio da sua especialidade. A


sua responsabilidade estende-se à amarração das informações que consolidem o
objetivo pretendido, representado pelo objeto de arquitetura ou engenharia, seja
ele uma edificação ou elemento de infraestrutura urbana ou viária.

Ao arquiteto, desenvolvedor do projeto de arquitetura de uma edificação, cabe a


tomada de decisão, assessorado pela sua equipe de projetistas complementares,
sobre o sistema ideal de condicionamento do ar, alimentação de água fria ou quente,
esgoto pluvial e sanitário, elementos estruturais ou qualquer outra infraestrutura
que integrem o objeto.

Figura 36 – Arquiteto

Ao engenheiro, desenvolvedor de um projeto de infraestrutura urbana ou viária,


cabe a tomada de decisão, igualmente assessorado pela sua equipe de projetistas
complementares, sobre o sistema ideal a ser adotado pelas demais disciplinas que
integrem aquele projeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 72


Figura 37 – Engenheiro

Nos dois casos, os únicos profissionais que têm plenas condições de darem as
melhores soluções globais e integradas para o produto final são os responsáveis
pela sua concepção, pois somente eles detêm com clareza a ideia formal sobre o
objeto desenvolvido.

Figura 38– Arquiteto e Engenheiro

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 73


Unidade 9 - A compatibilização dos projetos

Ao final da unidade, você será capaz de distinguir o conceito de


projeto (desenhos, orçamento e caderno de especificações) e
reconhecer a necessidade de uma análise completa de todos os
documentos que compõem um projeto e a sua inter-relação.

Na unidade anterior, procurou-se identificar o conceito de coordenação de projetos,


examinando as ações envolvidas no processo criativo do projeto e a sua distinção do
conceito de gerenciamento de projetos, atividade que atua notadamente no controle
dos processos, prazos e intermediação dos atores envolvidos na elaboração de um
projeto. Por ser termo de amplo significado, o gerenciamento de projetos aplica-se
a várias áreas do conhecimento humano e não somente à construção civil.

A compatibilização de projetos, seguindo-se tal linha de raciocínio, pode ser


entendida como um nível mais específico de atuação do projetista na elaboração
do seu projeto. Os termos “coordenação” e “compatibilização” de projetos têm
conceitos similares, muitas vezes confundindo-se. O primeiro, no entanto, é mais
abrangente, conforme apresentado na unidade anterior.

A compatibilização de projetos dedica-se a um nível mais imediato da sua análise e


está refletida principalmente na sua representação gráfica e nas suas interferências.
Note-se que, na apresentação desses conceitos (coordenação, gerenciamento e
compatibilização de projetos), a figura do projetista toma grande importância. A
Administração Pública, como gestora do contrato (conceito apresentado na unidade
6 deste módulo), tem a responsabilidade sobre o projeto, pelo qual responde,
subsidiariamente, a projetista, sendo inclusive passível de denúncia por órgão de
auditoria ao conselho profissional, quando da sua má atuação e quando causadora
de prejuízos à Administração.

O projeto de uma edificação (ou de elemento de infraestrutura urbana ou viária) é


composto obrigatoriamente de alguns elementos, a saber, os desenhos gráficos, o
Caderno de Encargos e a planilha orçamentária com cronograma físico-financeiro.

É recorrente o entendimento, especialmente pelos leigos, de que um projeto é


representado pelo conjunto de pranchas de desenho que o representam. Muitas
vezes equivocadamente chamadas de “plantas”, as folhas (de desenho) ou pranchas
(de desenho) integrantes desse conjunto são apenas o item “desenhos gráficos” do
pacote do projeto. A esse, somam-se o documento descritivo da sua materialização
(Caderno de Encargos) e os documentos quantificadores e formadores de preço
do seu objeto (planilha orçamentária e cronograma físico-financeiro). Cada um

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 74


desses elementos deve estar perfeitamente integrado aos demais, sendo obrigação
precípua do projetista a sua coesão, coerência e consolidação. Subsidiariamente,
compete à Administração Pública, através do gestor de contrato, a completa revisão
desses elementos para a verificação da sua integração.

A compatibilização de projetos deficiente promove a dúvida sobre a decisão a ser


tomada na eventualidade de contradição de informações entre os documentos de
um mesmo projeto, podendo gerar prejuízos financeiros à Administração Pública.
Um mesmo item do projeto deve ter idêntica especificação nas pranchas de desenho,
no Caderno de Encargos e na planilha orçamentária e essa consolidação é obrigação
do projetista, o autor e criador do projeto.

Ao gestor do contrato, arquiteto ou engenheiro, é obrigatória a


revisão desses elementos para que se identifiquem eventuais
incompatibilidades de informações, tornando-se essa uma
responsabilidade solidária, em jurisprudência pacificada
pelos tribunais superiores e órgãos de controle, conforme já
demonstrado ao longo deste curso. Caso ocorra tal situação,
deve ser gerado relatório circunstanciado ao projetista para
que este promova as devidas correções e esclareça as dúvidas e
contradições.

Na hipótese de não identificação de incompatibilidades nesse conjunto de


documentos no momento da contratação do projeto e após o seu aceite e
recebimento, caberá ao fiscal da obra a mediação da solução, buscando sempre
o esclarecimento das dúvidas junto ao projetista com a necessária intermediação
da contratante, a Administração Pública. Eventuais alterações em quantitativos
e valores daí advindos deverão ser realizadas por ajustes contratuais, em casos
específicos, através de termos aditivos ao contrato, assunto que será tratado no
módulo 4.

Dentro do conjunto das pranchas de desenho, os seus diversos elementos gráficos


devem igualmente apresentar coerência e relação entre si. Essa condição, tratada na
unidade 7 deste módulo, evita o surgimento de dúvidas por eventuais informações
desencontradas que possa haver entre os diversos desenhos integrantes do
conjunto de pranchas gráficas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 75


Figura 39 – Projetos da construção civil

Erros dessa ordem são muito comuns nos projetos da construção civil, em função da
falibilidade do procedimento de composição de desenhos pelo método atualmente
adotado, o uso de softwares de CAD (Computer Aided Design – ou Projeto Assistido
por Computador). A necessidade de geração dos seus diversos elementos em
momentos distintos muitas vezes possibilita esse desencontro de informações. As
novas tecnologias, especialmente o conceito BIM (Building Information Modeling
– ou Modelagem da informação da Construção), trazem alto grau de precisão na
produção integrada dos diversos desenhos de um projeto, assunto que será tratado
na unidade 11.

Os elementos “Caderno de Encargos” e “planilha orçamentária”, tanto quanto


possível, devem ter estrutura de organização similar. Assim, a listagem dos itens
da planilha orçamentária deve buscar obedecer à distribuição dos itens trazida no
sumário do Caderno de Encargos, com numeração sequencial hierarquizada para
os diversos elementos do projeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 76


Unidade 10 – O “projeto-mãe” em projetos de
edificações

Ao final da unidade, você será capaz de identificar a importância


do projeto de arquitetura no projeto de edificações, como
referência para todos os demais projetos.

Como você já pôde ver em unidades anteriores, o projeto de uma edificação envolve
um grande número de disciplinas de acordo com as instalações específicas que
serão necessárias no edifício. Como também já destacado, esses projetos devem
guardar estreita e coerente relação entre si.

Em um edifício de porte médio, convencional, com vários pavimentos, destinado a


escritórios ou instalações administrativas, no atual estágio da construção civil, serão
necessários os seguintes projetos, minimamente:

• Projeto de Arquitetura;

• Projeto Estrutural (concreto armado, metálico ou madeira);

• Projeto de Instalações Hidrossanitárias (água fria e/ou quente, esgoto


sanitário, esgoto pluvial, água de reuso);

• Projeto de Instalações Elétricas (tomadas, pontos de força e iluminação);

• Projeto de Instalações de Rede Lógica (dados e voz);

• Projeto de Instalações de CFTV (Circuito fechado de televisão);

• Projeto de Controle de Acesso;

• Projeto de Instalações de Ar Condicionado e Ventilação Mecânica;

• Projeto de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (sistemas passivos e


ativos – saídas de emergência, iluminação de emergência, hidrantes,
chuveiros automáticos, etc.);

• Projeto de Elevadores;

• Projeto de GMG (Grupo motogerador);

• Projeto de Urbanização e Paisagismo;

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E ainda, conforme o detalhamento do projeto:

• Projeto de Esquadrias;

• Projeto de Revestimento de Fachadas;

• Projeto de Cogeração de Energia;

• Projeto de Tratamento de Efluentes.

Essas disciplinas com seus desenhos finalizados integrando o conjunto impresso


da documentação de projeto, da forma como é praticado atualmente, resultam
em centenas de pranchas de desenho, chegando facilmente a 500 pranchas,
nos formatos A1 ou A0, para edifícios de médio porte (10 pavimentos, com área
construída entre 20.000 e 30.000 m²).

Os formatos A0 e A1 integram um conjunto de formatos de


pranchas de desenho, de acordo com o seu tamanho, padronizados
pelo organismo ISO (Internacional Organization for Standardization)
e apresentados na ABNT NBR 16752:2020 – Desenho técnico –
Requisitos para a apresentação em folhas de desenho.

Esse complexo conjunto de desenhos tem como ordenador inicial o projeto


de arquitetura. Embora tal informação possa parecer óbvia, é comum a sua
incompreensão, onde se verifica muitas vezes a adoção da premissa errada para
a elaboração de uma determinada disciplina, ao basear-se em projeto diferente do
projeto de arquitetura.

Para que se consolide o entendimento, vejamos o que determinava a ABNT NBR


16636-2:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos especializados
de projetos arquitetônicos e urbanísticos – Parte 2: Projeto arquitetônico, nos seus
itens 6.2 e 6.3:

6.2 Coordenação da atividade técnica do projeto arquitetônico


As determinações e representações do projeto arquitetônico, em todas as
suas etapas, devem ser estabelecidas, objetivando a coordenação de projetos
e a conformidade das demais atividades técnicas relativas a especialidades
complementares que compõem o projeto completo da edificação, de acordo
com outras Normas Brasileiras específicas vigentes, aplicáveis a cada conteúdo
setorial.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 78


6.3 Programação das etapas do projeto arquitetônico
As etapas do projeto arquitetônico voltado a edificações devem ser definidas
de modo a possibilitar a subsequente definição e articulação das etapas das
demais atividades técnicas das outras especialidades que compõem o projeto da
edificação, segundo o grau de complexidade de cada projeto. (Grifo nosso)

Naturalmente, a interação dos projetos faz com que tal lógica seja contrariada em
casos específicos. Pode-se citar, como exemplo, a necessidade de dimensionamento,
no projeto elétrico, dos pontos de força que alimentarão as máquinas climatizadoras
ou ventiladoras, informação advinda do projeto de ar condicionado e ventilação.
Certamente, nesse caso específico, a melhor fonte de informação é realmente
aquele projeto de instalações de ar-condicionado, visto que o projeto de arquitetura
não apresenta, e tampouco propõe-se a apresentar, tal informação.

Excetuando-se essas condições específicas, que deverão ser coordenadas pelo


autor do projeto de arquitetura, todas as disciplinas devem se remeter às
orientações dadas no projeto de arquitetura, sob pena de a representação gráfica
da disciplina em questão não ser clara, sendo por vezes confusa e ilegível, conforme
for a base de desenho equivocadamente escolhida para a sua elaboração.

A figura a seguir mostra o resultado indesejado gerado pela escolha da base de


desenho do projeto de ar-condicionado para a elaboração do projeto de prevenção
de incêndio. Note-se que o desenho não está legível, causando dificuldade na
identificação dos elementos que efetivamente interessam naquele desenho, as
instalações de prevenção de incêndio. Dentro do retângulo vermelho, é mostrada a
área que foi ampliada na segunda figura, onde pode-se identificar em destaque os
elementos do projeto de ar-condicionado (tubulação de insuflamento de ar exterior
e evaporadoras), em detrimento da representação gráfica dos elementos da
instalação de prevenção de incêndio (eletrodutos, com a identificação dos circuitos,
e detectores de fumaça, apontados pelas setas cor laranja). Veja as figuras a seguir.

Figura 40 – Sobreposição indesejada de instalações

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 79


Figura 40.1 – Área ampliada - sobreposição indesejada de instalações

Unidade 11 - A plataforma BIM e o seu papel


na coordenação e na compatibilização dos
projetos

Ao final da unidade, você será capaz de reconhecer as vantagens


da modelagem digital para a qualificação dos projetos e para
a diminuição dos custos, bem como verificar que a diminuição
dos erros grosseiros nas obras é resultado de uma boa
compatibilização e coordenação dos projetos.

A partir da evolução da forma de representação gráfica iniciada no Renascimento,


com Brunelleschi e Alberti, com a intensificação do uso das perspectivas cônicas com
1 ou 2 pontos de fuga, como você já pôde ver em unidades anteriores, seguiu-se a
invenção do sistema de representação com o uso de diedros, por Gaspard Monge.

Fillipo Brunelleschi foi um arquiteto, engenheiro e pintor italiano


do período da Renascença (Florença, 1377 – Florença, 1446) que
resgatou a utilização das perspectivas, muito adotada na cultura

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 80


Greco-romana da antiguidade, para a representação de desenhos
na forma tridimensional. Brunelleschi é o responsável pela
criação da perspectiva cônica com 1 ponto de fuga, representando
os desenhos em 3 dimensões da forma como efetivamente as
imagens são vistas pelo olho humano.

Leon Battista Alberti foi um arquiteto, pintor e escultor italiano


do período da Renascença (Gênova, 1404 – Roma, 1472) que, a
exemplo de Brunelleschi, utilizou o desenho em perspectiva
como forma de representação gráfica. Continuando o trabalho
por ele iniciado, Alberti foi o autor da primeira análise cientifica
da perspectiva, através do estudo das proporções do edifício e da
geometrização do espaço.

Diedro é a união de dois semiplanos perpendiculares entre si.


Por analogia, pode-se comparar o diedro como se fosse um livro
aberto com suas páginas formando um ângulo de 90°.

Gaspard Monge (Beaune, 1746 – Paris, 1818) foi o matemático


francês criador da geometria descritiva, a base matemática do
desenho técnico.

Naquele sistema, um dado objeto é projetado simultaneamente em dois planos de


projeção ortogonais - o diedro - trazendo para o desenho conceitos matemáticos,
criando a geometria descritiva e fundando a base para o desenho técnico moderno.
Essa técnica permitiu o início da representação de um objeto tridimensional em
planos bidimensionais, conforme identificado na figura abaixo:

Figura 41 - Representação de um objeto tridimensional em planos bidimensionais


Fonte da imagem: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAglgcAB/apostila-geometria-descritiva

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 81


A técnica criada por Monge exige que se represente o objeto em vários planos
bidimensionais para que sejam mostradas todas as suas faces. Assim, quanto
mais complexo for o objeto a ser representado, maior será o número de planos
necessários. Nesse método, a representação gráfica de um triedro (Elemento
da geometria espacial composto de três lados, ou três planos) exige três planos,
enquanto que a representação de um octaedro (Elemento da geometria espacial
composto de oito lados, ou oito planos) exigirá oito. Dessa forma, quando da
necessidade de modificação do objeto tridimensional, a alteração deve considerar
todos os planos de representação, identificando quais os planos cujas modificações
serão representadas.

Essa condição traz ao desenho técnico a necessidade de extremo cuidado para que
não sejam esquecidas as modificações do objeto em todos os planos onde essa
ocorrerá. Falhas na execução dessa técnica trazem infidelidade ao desenho e, na
atividade de projeto, pode causar grandes prejuízos à interpretação do desenho,
distorcendo o entendimento do objeto representado.

Em um projeto de edificação, situações como essa influenciam diretamente a


quantificação das partes do objeto com reflexos no seu custo. Os sistemas baseados
em CAD (Computer Aided Design – ou Projeto Assistido por Computador), assim como
os sistemas adotados anteriormente o desenho na prancheta, apresentam grande
possibilidade de falhas por essa condição. Quando uma alteração é feita em uma
vista de desenho, imediata e manualmente deve ser feita nas demais vistas, para
que a informação representada guarde coerência.

Figura 42 - Projeto assistido por computador

Com o advento da tecnologia BIM (Building Information Modeling


– ou Modelo de Informação da Construção) situações como essas
desapareceram. Isso porque, na estratégia da plataforma BIM, a
forma de representação do objeto não se dá em planos e sim no
espaço, como um objeto tridimensional, através de um modelo
digital, representando o objeto como este ocorre na realidade.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 82


Nos softwares que adotam a tecnologia BIM, qualquer vista do
objeto será a partir do modelo tridimensional, o que promove
a sua interdependência com as outras vistas. Assim, ao serem
feitas alterações em uma vista extraída do modelo – um corte
do modelo, por exemplo –, essas alterações automaticamente
serão refletidas nas demais vistas. Para o projetista, elimina-se a
preocupação com a alteração manual das modificações sofridas
pelo objeto nas tantas vistas que o representarem. Somente
por essa condição, a tecnologia BIM já trouxe grande ganho à
atividade de projeto, o que elimina a possibilidade da ocorrência
dos erros descritos na unidade 7 deste módulo, quando utilizados
os sistemas CAD.

A grande vantagem dessa nova tecnologia, no entanto, está na coordenação e


na compatibilização dos projetos. Nos softwares que adotam a tecnologia BIM, as
diversas disciplinas integrantes do objeto, em um projeto de uma edificação por
exemplo, são representadas a partir do mesmo modelo digital, tridimensional.
Assim, tendo-se a representação do modelo de arquitetura do edifício, pode-se
incluir espacialmente, através de medidas reais, em escala, as diversas instalações
aplicadas ao modelo de arquitetura, tais como, instalações elétricas, hidrossanitárias
e de ar-condicionado, além do sistema estrutural.

As instalações representadas serão mostradas tridimensionalmente, com os


tamanhos reais, facilitando a sua visualização e identificando o espaço por elas
ocupado. Dessa forma são facilmente identificadas as interferências de uma sobre
a outra que eventualmente possa haver, promovendo a sua coordenação.

Alguns softwares BIM trazem a possibilidade da detecção automática de conflitos,


proporcionando ao projetista a rápida visualização das eventuais interferências.
No quesito das informações do projeto, a tecnologia BIM tem como instrumento a
quantificação automática dos elementos e sistemas do objeto, o que permite gerar
relatórios de quantitativos que servirão à composição do seu orçamento e formação
de preço, eliminando a possibilidade de erros na sua compatibilização.

Uma falha desse sistema, no entanto, é a impossibilidade de


atualização automática dos preços dos insumos ou serviços
quando da alteração do seu valor. Softwares de orçamento
atualmente existentes possibilitam a comunicação direta com
bases de dados de preços de serviços e insumos, o que torna
automática a atualização de uma planilha orçamentária de um
projeto, facilidade não encontrada nos atuais softwares BIM.

Ainda assim, a tecnologia BIM deverá muito em breve ser dominante no processo
de projeto, dados as enormes vantagens por ela oferecidas. Um projeto elaborado
dentro dessa plataforma apresenta grande fidelidade e coordenação entre os seus

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 83


elementos, o que reduz os custos finais do objeto a ser construído, em função da
previsão antecipada do seu resultado e a possibilidade de tomada de decisões,
preventivamente, na eventualidade da ocorrência de alguma incompatibilidade. Essa
condição diminui a necessidade de aditamentos ao contrato, quando da execução
da obra, por eventuais erros de projeto. Para a indústria da construção civil e para
a Administração Pública, essa é uma grande vantagem, ao otimizar os custos de
produção e eliminar os retrabalhos na execução do objeto.

Nos últimos anos, a tecnologia BIM vem se tornando obrigatória nos projetos das
edificações públicas de alguns países. Você sabia que entre esses estão França,
Inglaterra, Alemanha, Suécia, Noruega, Estados Unidos e, recentemente, a Espanha?
Pois saiba que no Brasil essa obrigatoriedade poderá em breve vir a ser adotada. Na
edição de 05 de junho de 2017 do Diário Oficial da União, a Presidência da República
editou decreto que instituiu a criação do Comitê Estratégico de Implementação do
BIM. Nesse decreto, uma das atribuições do comitê era a de “propor, no âmbito do
Governo Federal, a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, as suas diretrizes e a
estratégia de atuação” (Art. 3º, item I). Em 17 de maio de 2018, foi editado o Decreto
nº 9.377, que institui a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information
Modeling e que revoga o Decreto de 5 de junho de 2017.

SÍNTESE
Nesse módulo 2, foi abordado o projeto de edificações com seus temas vinculados.
Ainda que muitos conceitos sejam específicos da área, nos quais engenheiros e
arquitetos têm pleno domínio, a abordagem buscou esclarecer, de forma didática
para os leigos, os conhecimentos inseridos nesses conceitos. Uma das ênfases deste
módulo foi o peso e a importância que tem um projeto bem desenvolvido para a
execução da obra, sendo diretamente responsável pela otimização do seu custo,
sua durabilidade, seu desempenho e o regime de manutenção durante a sua vida
útil.

O projeto foi também apresentado como um instrumento para tomada de decisão,


atividade prévia à sua função final que é o roteiro e especificações técnicas de
materiais e serviços para a execução da obra. Por ser tema importante, estudou-se
também os conceitos de direito autoral, o limite das responsabilidades do projetista
e do executante, além de um debate sobre a modalidade de licitação mais indicada
para a contratação de projetos, com o posicionamento das cortes de julgamento
de contas e dos conselhos profissionais. Por fim, com o encerramento do módulo,
foram abordados os temas de coordenação e compatibilização de projetos, com
os instrumentos disponíveis para essas ações, e o seu recebimento. Essas duas
iniciativas, igualmente importantes, quando bem executadas condicionam o bom
andamento da obra e a redução dos riscos daí advindos.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 84


Módulo

3 Planilha Orçamentária

Unidade 1 - A Planilha orçamentária: principais


conceitos e como ela deve ser exigida

Ao final da unidade, você será capaz de analisar os diferentes


tipos de orçamento e identificar a sua correta aplicação.

Os diferentes tipos de orçamento (expedito,


preliminar e detalhado)

Um dos itens que integram o pacote de projeto, o orçamento para a execução da obra,
após a quantificação dos seus materiais e serviços, é o elemento que possibilitará a
formação do preço de venda do objeto. A quantificação, ou seja, a mensuração dos
insumos e serviços do projeto é uma das responsabilidades do projetista.

A ABNT NBR 13531:1995 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades


técnicas, cancelada em 2017, determinava no seu item 3.4 (Contratação de prestação
de serviços técnicos especializados de projetos) alínea “c”, que o cronograma físico-
financeiro da obra era uma das etapas que deviam estar previstas na contratação
de um projeto. A ABNT NBR 13532:1995 – Elaboração de projeto de edificações –
Arquitetura, também cancelada em 2017, determinava que o projeto executivo de
arquitetura deveria trazer entre os seus elementos o “memorial quantitativo dos
componentes construtivos e dos materiais de construção” (item 4.4.9.2, alínea “b”).

Ambas as normas foram substituídas pelo conjunto de normas ABNT NBR 16636.
A norma técnica ABNT NBR 16636-1:2017 - Elaboração e desenvolvimento de
serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos - Parte 1:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 85


Diretrizes e terminologia, traz no seu item 3 (Termos e definições), o subitem 3.40
conceituando orçamento:

3.40
elaboração de orçamento
Atividade que envolve o levantamento de custos, de forma sistematizada, de
todos os elementos inerentes ao projeto e à execução de determinado objeto de
construção.

A norma técnica ABNT NBR 16636-2:2017 - Elaboração e desenvolvimento


de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos
Parte 2: Projeto arquitetônico, traz como uma das responsabilidades do projetista, na
etapa de projeto executivo, a elaboração de memoriais quantificativos e de planilhas
orçamentárias como documentos de texto a serem apresentados no projeto (item
6.4.7.2, alínea “b”). Pode ser que essa seja uma novidade para você, mas saiba que
poucos profissionais de projetos, principalmente aqueles que atuam na iniciativa
privada, têm o domínio dessa informação.

Esse fato ocorre pela tendência que temos de que, finalizado o projeto, a
responsabilidade pelo seu orçamento seja do orçamentista, elaborado de forma
distante e dissociado do seu projetista, muitas vezes contratado pela construtora,
somente no momento prévio à execução da obra.

Os tipos de orçamento podem variar em precisão e complexidade de acordo com


o objetivo pretendido. O orçamento que servirá como uma referência inicial para a
avaliação da viabilidade de um empreendimento terá menos complexidade e trará
maior margem de erro do que um orçamento final, para obra, advindo de um projeto
executivo. Esse último, embora de grande complexidade, terá ainda margem de erro
aceitável, menor, porém, do que a margem de erro admitida para o primeiro.

Conforme o TCU (Tribunal de Contas da União), através da Portaria SEGECEX Nº 33


de 07 de dezembro de 2012, os orçamentos de obra podem ser classificados em
expedito, preliminar e detalhado.

As avaliações expeditas podem ser feitas com base em custos históricos, índices,
gráficos, estudos de ordens de grandeza, correlações ou comparação com projetos
similares. Podem, por exemplo, ser utilizados índices específicos conhecidos no
mercado, a exemplo do Custo Unitário Básico – CUB, para avaliação expedida do
custo de construção de edificações. O CUB é o custo por unidade de área construída
para alguns tipos de projetos padronizados estabelecidos pela ABNT NBR
12721:2006 Versão Corrigida 2:2007 - Avaliação de custos unitários de construção
para incorporação imobiliária e outras disposições para condomínios edifícios

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 86


- Procedimento. Outros exemplos de estimativas de custo são o custo por MW
(megawatt) de potência instalada, no caso de usinas termoelétricas, ou a estimativa
de custo de rodovias mediante o uso de um custo médio por quilômetro de rodovia
construída.

Dessa forma, as avaliações expeditas têm como vantagem:


a) possibilitar a análise da viabilidade dos empreendimentos e a escolha da
alternativa a ser desenvolvida na etapa de detalhamento dos projetos, sem
impor o elevado ônus da elaboração de um orçamento detalhado;

b) não requerer muitas informações detalhadas sobre o projeto e, por isso,


o seu custo é muito menor do que o custo de elaborar um orçamento
completo, muito embora a elaboração de uma estimativa requeira muita
experiência do estimador, além de conhecimento, sensibilidade e
informações atualizadas;

c) avaliar preliminarmente os orçamentos de obras públicas para indicar se


o valor global do empreendimento está adequado ou não, apesar de ser um
método simples e de pouca precisão. (Portaria SEGECEX nº 33– TCU – p. 29.).

O orçamento preliminar é mais detalhado do que a avaliação expedita de custos,


pois pressupõe o levantamento de quantidades e requer pesquisa de preços dos
principais insumos e serviços. Enquanto a avaliação expedita é utilizada no estudo
de viabilidade, o orçamento preliminar costuma ser utilizado na fase de anteprojeto.

Os orçamentos preliminares normalmente são elaborados quando a execução do


projeto de engenharia de detalhamento já foi contratada, o que propiciará a geração
de muitos dados, embora não definitivos, para servirem de base para o orçamento.
Dessa forma, estarão disponíveis para o orçamentista dados como os custos dos
serviços de engenharia que já foram contratados, especificações preliminares de
equipamentos de processo e de utilidades e listas preliminares de materiais.

Também poderá dispor de dados sobre o tipo de fundações e plantas arquitetônicas


das edificações. Apesar do menor grau de incerteza do orçamento preliminar,
o orçamentista ainda pode fazer uso de levantamentos expeditos de algumas
quantidades e atribuição de custos para alguns serviços.

Exemplos de levantamentos expeditos que podem ser utilizados


em um orçamento preliminar de obra de edificação:
Área de formas (m²) = Volume de concreto (m³) x 12;

Peso de aço (Kg) = Volume de concreto (m³) x 100;

Volume total de concreto (m³) = área construída x 0,16;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 87


Volume de remoção de entulho = volume de demolição x 2;

Área de reboco = área de alvenaria x 2(Portaria SEGECEX nº 33 – TCU – p. 29-30).

O orçamento detalhado é elaborado com base nas composições de custos unitários


e extensa pesquisa de preço dos insumos. Esse tipo de orçamento procura chegar
a um valor bem próximo do custo real da obra, com uma reduzida margem de
incerteza e a sua elaboração ocorre nas fases de projeto básico ou executivo, ou
seja, o orçamento detalhado só é justificável se o projeto apresentar elevado grau
de desenvolvimento, o que possibilitará a obtenção de listas completas de materiais.

Figura 43 – Orçamento detalhado

A sua função é servir de base para a licitação da obra, podendo também ser uma
ferramenta para o controle de custos de implantação do empreendimento. Eventuais
aditivos de contrato, quando da execução da obra deverão sempre pautar-se nesse
tipo de orçamento (Portaria SEGECEX nº 33 - TCU – p. 30).

Você sabia que, atualmente, a tecnologia BIM (Building


Information Modeling) é poderoso instrumento para a extração
de listas completas de materiais e insumos de um projeto,
trazendo grande ajuda na sua quantificação para a elaboração
do orçamento detalhado?

Em relação à precisão esperada para os diferentes tipos de orçamento, a OIT – IBR


004/2012 (Orientação Técnica) do IBRAOP (Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras
Públicas), assim os define:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 88


Fonte da tabela - OT – IBR 004/2012 – Instituto Brasileiro de Auditoria de Obas Públicas. p. 4.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 89


Unidade 2 - Como deve ser o orçamento
vinculado ao projeto?

Ao final da unidade, você será capaz de observar a necessidade de


adequação do orçamento gerado na fase de projeto (orçamento
de referência da Administração) ao Decreto nº 7.983/2013.

As regras para os orçamentos das obras públicas eram dadas pela Lei de Diretrizes
Orçamentárias, anualmente, até o ano de 2013. Na ocasião da edição de cada
uma daquelas leis, eram definidos os critérios que deveriam ser obedecidos pela
Administração Pública na sua elaboração. Excetuados os serviços e obras de
infraestrutura e transporte, ponto comum entre tais leis era a adoção das tabelas
do SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil),
mantidas pela Caixa Econômica Federal, através de pesquisa de preços no mercado
feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e a observação de
extração de medianas para os custos apontados naquelas tabelas.

No ano de 2013, foi editado o Decreto n° 7.983, de 8 de abril de


2013, que, consolidando o entendimento recorrente daquelas
leis de diretrizes orçamentárias, estabeleceu regras e critérios
para a elaboração do orçamento de referência de obras e
serviços de engenharia contratados e executados com recursos
dos orçamentos da União.

Observe que, no mesmo ano, complementando a jurisprudência


sobre o tema, o Tribunal de Contas da União editou o Acórdão nº
2622/2013 – TCU – Plenário, que retomava o posicionamento da
corte dado no Acórdão nº 2369/2011 – TCU – Plenário, com análise
da incidência do BDI sobre os orçamentos de obras públicas e que
teve abordagem complementar através do Acórdão nº 2440/2014
– TCU – Plenário.

Para que possamos entender a aplicação do Decreto nº 7983/2013 aos orçamentos


das obras públicas, é necessário retomar alguns conceitos previstos no seu texto:

+ Custo unitário de referência


Valor unitário para execução de uma unidade de medida do serviço previsto
no orçamento de referência e obtido com base nos sistemas de referência de
custos ou pesquisa de mercado;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 90


+ Composição de custo unitário
Detalhamento do custo unitário do serviço que expresse a descrição,
quantidades, produtividades e custos unitários dos materiais, mão de obra e
equipamentos necessários à execução de uma unidade de medida;

+ Custo total de referência do serviço


Valor resultante da multiplicação do quantitativo do serviço previsto no
orçamento de referência por seu custo unitário de referência;

+ Custo global de referência


Valor resultante do somatório dos custos totais de referência de todos os
serviços necessários à plena execução da obra ou serviço de engenharia;

Uma das questões definidas no Decreto nº 7.983/2013 é a ênfase na utilização das


medianas dos custos unitários previstos nas tabelas do SINAPI para a obtenção do
custo global de referência, no caso das obras e serviços de engenharia, exceto os
serviços e obras de infraestrutura de transporte:

AArt. 3º O custo global de referência de obras e serviços de engenharia, exceto


os serviços e obras de infraestrutura de transporte, será obtido a partir das
composições dos custos unitários previstas no projeto que integra o edital de
licitação, menores ou iguais à mediana de seus correspondentes nos custos
unitários de referência do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil - SINAPI, excetuados os itens caracterizados como montagem
industrial ou que não possam ser considerados como de construção civil.

A demonstração do custo global de referência é feita através do orçamento sintético


da obra. Conforme BAETA (2012), o orçamento sintético, ou planilha orçamentária, é
a relação de todos os serviços de uma obra com as respectivas unidades de medida,
quantidades e preços unitários. Ou seja, o orçamento sintético é a planilha que
demonstra a soma dos custos totais de referência dos serviços, estes conforme o
conceito apresentado no Decreto nº 7.983/2013.

O orçamento analítico é a apresentação da composição de cada um dos custos


unitários dos serviços que integram o orçamento.

Saiba que é bastante comum, até mesmo entre fiscais de projetos


e obras da Administração Pública, a confusão entre esses dois

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 91


conceitos. Muitas vezes entende-se o conceito de orçamento
sintético como um resumo, por conta da palavra “sintético”
do seu nome, cujo significado remete à síntese, deixando para
“orçamento analítico” a incorreta aplicação do conceito daquele
primeiro, pela falsa impressão de que uma relação de itens
fartamente apresentada em uma planilha orçamentária seja
instrumento que permite “análise” dos custos. Efetivamente, o
orçamento sintético é a peça que contém a relação completa
dos custos unitários de referência (ou de serviço), e que, pela sua
soma, define o valor da obra ou projeto. O orçamento analítico
é peça que contém a relação completa das composições de
custos unitários, ou seja, o detalhamento de cada um dos custos
unitários de serviço apresentados no orçamento sintético.

O projeto básico finalizado deve disponibilizar o orçamento referência da


Administração, que é uma das peças que integrarão o futuro edital de licitação
da obra, salvo nas exceções previstas na Lei n° 14.133/2021, devendo trazer
obrigatoriamente o orçamento sintético, o orçamento analítico, a composição do
BDI, o cronograma físico-financeiro da obra, o critério de aceitabilidade dos preços
e as cotações de mercado.

Na contratação de serviços de engenharia, o instrumento


convocatório deve estabelecer critérios de aceitabilidade
dos preços unitários e global (Decreto nº 7963/2013, Art. 11 e
Orientação Normativa AGU nº 5, de 1º de abril de 2009).

Esse último item não deve constar do edital, e nem ser disponibilizado às licitantes,
servindo apenas de instrumento de consulta da Administração para o momento da
fase externa da licitação, quando da análise dos orçamentos apresentados pelas
proponentes. As cotações de mercado deverão ser feitas para aqueles itens que não
constam das tabelas de referência oficiais (SINAPI, SICRO, ORSE/SE, NOVACAP/DF,
SEINFRA/CE, etc.), legalmente aceitas para as composições de custos dos orçamentos
da Administração, e têm de ser apresentadas com, no mínimo, três cotações para
cada item. (Acórdão nº 1.266/2011 – TCU – Plenário ).

Para tanto, vejamos a jurisprudência sobre o tema editada após a promulgação da


Lei nº 14.133/2021.

A Instrução Normativa SEGES/ME nº 91, de 16 de dezembro de 2022, estabelece


as regras para a contratação de obras e serviços de engenharia nos processos
de licitação e de contratação direta. Na presente IN, fica autorizada a aplicação do
Decreto nº 7.983/2013 nesses casos de contratação.

A Instrução Normativa SEGES/ME n° 98, de 26 de dezembro de 2022, estabelece


regras e diretrizes para o procedimento de contratação de serviços sob o regime de

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 92


execução indireta de que dispõe a Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021, no âmbito
da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional, ou seja, para
quaisquer serviços, autoriza a aplicação da Instrução Normativa nº 5, de 26 de maio
de 2017, que dispõe sobre as regras e diretrizes do procedimento de contratação
de serviços sob o regime de execução indireta no âmbito da Administração Pública
federal direta, autárquica e fundacional. O Art. 20 da citada IN nº 5/2017, assim define:

Art. 20. O Planejamento da Contratação, para cada serviço a ser contratado,


consistirá das seguintes etapas:
I – Estudos Preliminares;
II – Gerenciamento de Riscos; e
III – Termo de Referência ou Projeto Básico.
Combinado com o seu Art. 30, temos:
Art. 30. O Termo de Referência ou Projeto Básico deve conter, no mínimo, o
seguinte conteúdo:
...
X – estimativas detalhadas dos preços, com ampla pesquisa de mercado nos
termos da Instrução Normativa nº 5, de 27 de junho de 2014; e...

A IN nº 5/2014 foi revogada pela Instrução Normativa nº 73, de 05 de agosto de


2020 (Dispõe sobre o procedimento administrativo para a realização de pesquisa de
preços para a aquisição de bens e contratação de serviços em geral, no âmbito da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional), em vigor. Vejamos
o que diz o seu artigo 5°:

Art. 5º A pesquisa de preços para fins de determinação do preço estimado em


processo licitatório para a aquisição e contratação de serviços em geral será
realizada mediante a utilização dos seguintes parâmetros, empregados de forma
combinada ou não:
...
III - dados de pesquisa publicada em mídia especializada, de sítios eletrônicos
especializados ou de domínio amplo, desde que atualizados no momento da
pesquisa e compreendidos no intervalo de até 6 (seis) meses de antecedência
da data de divulgação do instrumento convocatório, contendo a data e hora de
acesso; ou

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 93


IV - pesquisa direta com fornecedores, mediante solicitação formal de cotação,
desde que os orçamentos considerados estejam compreendidos no intervalo
de até 6 (seis) meses de antecedência da data de divulgação do instrumento
convocatório.

Veja que uma das formas de pesquisa de preços é a pesquisa direta com fornecedores,
previsão confirmada pelo Acórdão TCU 713/2019 – Plenário.

Já o Acórdão TCU 2401/2022 – Plenário destaca:

84. Ao estimar o valor de uma obra pública, o orçamentista deve recorrer


obrigatoriamente aos sistemas de referência, mormente Sinapi e Sicro. Entretanto,
particularidades da obra, sua localização e situações impactantes (a exemplo da
pandemia do Covid-19) obrigam o orçamentista a recorrer subsidiariamente a
outras fontes de informação, dentre as quais a pesquisa de mercado de que trata
o art. 6º, in fine, do Decreto 7.983/2013. Há, portanto, amparo legal na adoção
desse tipo de procedimento. Isso é particularmente válido quando um insumo
ou um serviço não tem seu custo contemplado nos sistemas referenciais para a
praça onde se localiza o empreendimento, tal o caso examinado neste processo.

O Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013, que estabelece regras e critérios para


elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia,
contratados e executados com recursos dos orçamentos da União, no que couber,
para a definição do valor estimado nos processos de licitação e de contratação direta
de obras e serviços de engenharia, estabelece as seguintes regras para a formação
de preços, em ordem sequencial (conforme seus artigos 3º, 4º e 5º):

1 – Composições dos custos unitários menores ou iguais à mediana de seus


correspondentes do SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices
da Construção Civil) no caso de edificações, ou menores ou iguais aos seus
correspondentes do SICRO (Sistema de Custos Referenciais de Obras), no caso dos
serviços e obras de infraestrutura de transportes;

OBS.: O primeiro será mantido e divulgado pela Caixa Econômica Federal e o


segundo, pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

O Art. 6°, porém, assim destaca:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 94


Art. 6º Em caso de inviabilidade da definição dos custos conforme o disposto nos
arts. 3º, 4º e 5º , a estimativa de custo global poderá ser apurada por meio da
utilização de dados contidos em tabela de referência formalmente aprovada por
órgãos ou entidades da administração pública federal em publicações técnicas
especializadas, em sistema específico instituído para o setor ou em pesquisa de
mercado.”

Perceba que tal artigo está citado no tópico 84 do Acórdão TCU 2401/2022 e coaduna-
se tanto com o inciso III quanto com o inciso IV do Art. 5º da IN n° 73/2020, citada,
por vinculação, na IN SEGES/ME nº 98, de 26 de dezembro de 2022.

Na apresentação do orçamento pela licitante, devem constar


o orçamento sintético, o orçamento analítico, a composição
do BDI da proponente, o cronograma físico-financeiro da obra
e a indicação do responsável técnico pelo orçamento com sua
formalização.

A responsabilidade técnica pelo orçamento será configurada através da ART


(Anotação de Responsabilidade Técnica/Sistema CONFEA/CREA) de um engenheiro
ou de RRT (Registro de Responsabilidade Técnica/RRT/CAU/BR) de um arquiteto e
urbanista.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 95


Unidade 3 - Preço: conceito e forma de
composição

Ao final da unidade, você será capaz de analisar os itens


formadores do preço de uma obra e entender o conceito de preço
de venda.

Aprofundando a unidade anterior, veremos a seguir o critério de formação do preço


de venda para uma obra.

O orçamento referencial para a licitação de uma obra da Administração Pública


é elaborado na fase do projeto básico pelo projetista e seu orçamentista, que
iniciarão o seu trabalho pela análise dos projetos. Tanto melhor e mais preciso será
o orçamento quanto mais completo for o projeto. Essa é a principal razão pela qual
há intensa campanha dos conselhos profissionais para que as licitações sejam feitas
adotando-se o projeto executivo de uma obra, e não o projeto básico, conforme
permitido pela Lei nº 14.133/2021.

Para análise do projeto é necessário a listagem dos serviços previstos e a sua


quantificação. A etapa seguinte é o cálculo do custo unitário de cada serviço, o
orçamento analítico, com a apresentação das composições de custos unitários. O
orçamento analítico permitirá a consolidação do orçamento sintético e a aplicação
do BDI.

Figura 44 – Análise de projeto

Conforme o Decreto nº 7.983/2013, sobre o custo global de referência (advindo do


orçamento sintético) deve ser aplicada a taxa de BDI (Benefícios e despesas indiretas)
contendo, minimamente, os seguintes itens:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 96


I - Taxa de rateio da administração central;

II - Percentuais de tributos incidentes sobre o preço do serviço, excluídos


aqueles de natureza direta e personalística que oneram o contratado;

III - Taxa de risco, seguro e garantia do empreendimento; e

IV - Taxa de lucro.

Há ainda outros itens que poderão integrar o BDI, representando as despesas


aplicadas à realidade de cada tipo de empresa, como as despesas administrativas e
as despesas financeiras. A primeira refere-se ao desembolso quando da contratação
de serviços com alocação de postos de trabalho. A segunda, “aos gastos relacionados
à perda decorrente da defasagem entre a data do efetivo desembolso e a data da receita
correspondente” (Revista do TCU, Brasília, v. 32).

O Acórdão n° 325/2007 – TCU, no entanto, fundamenta que tais despesas não


devem incidir sobre equipamentos e que a despesa financeira não deve incidir sobre
serviços (Nota técnica n° 3/2009 – SCI. p. 4.).

Há, no entanto, itens não recomendados para inclusão no BDI


(MENDES, 2013, p. 42) quando da elaboração do orçamento de
referência pela Administração, embora possam constar do BDI
ofertado pela licitante no momento da licitação. São eles o IRPJ
e a CSLL. Ao incluí-los, a licitante deve apresentá-los de forma
destacada na composição do BDI.

A fórmula de cálculo do BDI para as obras da Administração Pública consta do


Acórdão nº 2369/2011 – TCU – Plenário, consolidada no Acórdão nº 2622/2013 –
TCU - Plenário. Esse último traz ainda valores médios orientativos para o BDI e
seus componentes, conforme o tipo de obra, e que servem de referência para a
montagem do orçamento da Administração.

Com o cálculo do BDI, finalmente é possível obter-se o preço de venda (PV),


que é o resultado da aplicação do percentual do BDI ao custo direto da obra
(Decreto nº 7983/2013, Art. 2º, inciso VI), dado pela fórmula abaixo:

PV = CD (1 + %BDI)

onde:

CD é o custo direto da obra.

No caso de obras e serviços de engenharia, na oferta do BDI, deve ser considerado


também o BDI reduzido para materiais e equipamentos de natureza específica e
que representem valor significativo da obra. Vejamos o que destaca o Decreto n°
7983/2013, no seu Art. 9º, parágrafo 1º:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 97


§ 1º Comprovada a inviabilidade técnico-econômica de parcelamento do objeto
da licitação, nos termos da legislação em vigor, os itens de fornecimento de
materiais e equipamentos de natureza específica que possam ser fornecidos por
empresas com especialidades próprias e diversas e que representem percentual
significativo do preço global da obra devem apresentar incidência de taxa de BDI
reduzida em relação à taxa aplicável aos demais itens.”

Esses equipamentos e materiais podem ser, por exemplo, máquinas de ar


condicionado, elevadores, grupos geradores, divisórias, mobiliário, estabilizadores
e no breaks, ou seja, todos aqueles cuja fabricação ou montagem tenham processo
que não seja de domínio da licitante (ou contratada), e que, dada a sua especificidade
tenham fornecedores que detenham tal domínio sempre obedecendo também ao
critério de representar percentual significativo do valor do contrato.

O Acórdão nº 2452/2017 – TCU – Plenário informa que uma taxa de BDI acima do limite
referencial da Administração Pública não representa, por si só, superfaturamento,
desde que o preço contratado (preço de venda) esteja compatível com o preço de
mercado.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 98


Unidade 4 - O lançamento do percentual do ISS
na planilha de composição do BDI

Ao final da unidade, você será capaz de identificar a forma correta


de lançamento do tributo Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISS) na composição do BDI em relação às diferentes
legislações municipais.

Um dos tributos incidentes no cálculo do BDI é o imposto sobre serviços de qualquer


natureza, ou ISS. A incidência desse imposto segue legislação municipal, ou seja,
varia conforme o município onde será executada a obra.

Figura 45 – Cálculo do BDI

Por essa razão, deve-se ter muito cuidado quando do seu lançamento na composição
do BDI. Além de ter variação de alíquota conforme o município, ainda pode haver
variação da incidência da alíquota. Alguns municípios têm, na sua legislação, a
previsão de incidência da alíquota sobre todo o orçamento (material e mão de obra
previstos na planilha orçamentária). Outros, no entanto, fazem incidir tal alíquota
somente sobre a mão de obra, isentando sua incidência sobre materiais.

Nesses casos, para efeitos de facilitação do cálculo do BDI e para que não se
incorra em erro ou descuido no percentual do ISS a ser considerado - o que poderia
configurar o enriquecimento da contratada, exigindo eventualmente a revisão de
contrato -, é feito cálculo de uma alíquota proporcional do ISS, que, considerada
somente sobre a mão de obra, pode ser lançada diretamente na planilha do BDI que
será aplicado a todos os itens da planilha orçamentária.

A fórmula de cálculo do ISS proporcional assim é descrita:

ISSdif= [VMO (sem BDI) / VT (sem BDI)] x % ISSmun

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 99


onde:

ISSdif= ISS diferenciado;

VMO (sem BDI) = soma dos valores da mão de obra sem a incidência
do BDI;

VT (sem BDI) = valor total da obra (material e mão de obra) sem a


incidência do BDI;

% ISSmun = alíquota do ISS conforme legislação municipal.

Assim, calculado esse ISS diferenciado, pode-se lançá-lo diretamente na planilha de


cálculo do BDI.

Vejamos, a seguir, as duas formas de cálculo do BDI, considerando ISS incidente


somente sobre a mão de obra para um dado município. A primeira é a forma
incorreta, ao fazer incidir a alíquota do ISS em todos os itens da planilha orçamentária,
indistintamente. A segunda, é fazendo incidi-la somente sobre a mão de obra, pelo
cálculo do ISS proporcional, conforme a fórmula acima demonstrada.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 100


Tabela 1 - Exemplo de ISS lançado de forma incorreta na planilha de cálculo do BDI:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 101


Tabela 2 - Exemplo de ISS lançado de forma correta na planilha de cálculo do BDI:

Na tabela 1, a alíquota de 4% do ISS foi incluída integralmente no cálculo do BDI. Essa


iniciativa está incorreta, pois para o município em questão a legislação municipal
considera tal tributo incidindo apenas sobre a mão de obra. Como o BDI é um valor
percentual corretamente aplicado sobre todo o custo do contrato (R$ 4.000.00,00),
essa alíquota é transportada indiretamente também para os valores do material.

Na tabela 2, ao calcular-se a alíquota proporcional do ISS, ainda que o BDI resultante


seja aplicado sobre o custo global do contrato, a incidência do ISS proporcionalmente
será apenas sobre a mão de obra.

Observe que, no exemplo em questão, para o valor aproximado


da obra de R$ 5.000.000,00, equivalente a um prédio de 3.300 m²,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 102


de padrão médio, o erro na estimativa do seu preço seria de R$
158.000,00. Caso a obra a ser construída tivesse área total de
33.000 m², ou seja, dez vezes maior que a do nosso exemplo, o
erro no valor do orçamento pelo simples equívoco na forma de
lançamento do ISS seria da ordem de R$ 1.580.000,00.

SÍNTESE
Nesse módulo 3, destacou-se exclusivamente a elaboração de planilhas
orçamentárias, devido à sua importância dentro do processo licitatório. Tratou-
se inicialmente do orçamento de referência da Administração para a contratação
das suas obras, cuja forma de elaboração é definida em Decreto da Presidência
da República. Para os estudos preliminares de uma obra, foi feita a distinção entre
os possíveis tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado), a forma de
composição do preço (preço de venda) de uma obra e a formação do BDI (Benefícios
e Despesas Indiretas), com a particularidade de correta definição do percentual do
ISS (Imposto Sobre Serviços) nele incidente. Esses conceitos também servirão de
base para a discussão da forma e possibilidades de eventual concessão de aditivos
de obra, um dos temas a serem discutidos no próximo módulo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 103


Módulo

4 Obra
Unidade 1 - A obra: as primeiras providências
para um bom resultado

Ao final da unidade, você será capaz de identificar quais são as


exigências possíveis – e aquelas necessárias – na habilitação das
licitantes quando da montagem do edital de licitações de obras.

1.1 Cuidados na exigência de habilitação nos editais


de obras de edificações

Estamos chegando ao final do nosso curso. Nesse último módulo, abordaremos a


atividade de obra quando da contratação de um projeto pela Administração Pública.
Essa atividade requer cuidados já na licitação, com a habilitação das proponentes.

A habilitação em uma licitação está regrada pela Lei 14.133/2021 no seu Capítulo
VI. Um dos seus itens, bastante importante em uma licitação de obra, refere-se à
qualificação técnica Art. 67.

Essa exigência é um dos aspectos que geralmente trazem dúvidas aos servidores
responsáveis pela elaboração do edital, quanto à capacitação técnico-profissional
e à capacidade técnico-operacional. Embora não exista na Lei nª 14.133/2021
abordagem comparativa entre essas duas exigências, recente jurisprudência do
Tribunal de Contas da União debateu esse entendimento.

Os incisos I a VI do Art. 67 da Lei nº 14.133/2021 reconhecem a qualificação técnica da


proponente através do seu registro na entidade profissional competente (conselho
profissional) e da comprovação da aptidão para o desempenho da atividade ou
serviço que será contratada, com regras definidas no edital. A aptidão deverá ser
comprovada também para os membros da equipe técnica da proponente.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 104


A comprovação da habilitação (qualificação técnico-profissional e técnico-
operacional) das licitantes será feita através de certidões ou atestados emitidos
pelos conselhos profissionais ( Lei n° 14.133/2021 – Art. 67, inciso II ).

Figura 46 – Atestado de capacidade técnica.

Esse artigo, no entanto, limita as exigências no caso da apresentação de atestados


conforme os parágrafos § 1º e 2º abaixo transcritos:

§ 1º A exigência de atestados será restrita às parcelas de maior relevância ou


valor significativo do objeto da licitação, assim consideradas as que tenham
valor individual igual ou superior a 4% (quatro por cento) do valor total estimado
da contratação.

§ 2º Observado o disposto no caput e no § 1º deste artigo, será admitida a


exigência de atestados com quantidades mínimas de até 50% (cinquenta por
cento) das parcelas de que trata o referido parágrafo, vedadas limitações de
tempo e de locais específicos relativas aos atestados.”

O Acórdão nº 534/2016 – TCU – Plenário, no entanto, já havia analisado essa questão


e o entendimento formado por aquela corte foi pela pertinência da exigência de
quantidades mínimas em linha de análise iniciada no Acórdão nº 3.070/2013 – TCU
– Plenário.

A possibilidade de exigência de quantidade mínima, porém, vincula-se ao serviço


objeto dos atestados fornecidos, e não ao número de atestados. Do Acórdão nº
534/2016 – TCU – Plenário, extrai-se, do seu item 8, a confirmação da possibilidade
de exigência de quantidades mínimas para o objeto, desde que esse tivesse
características de maior relevância e valor significativo, conforme determinava o § 2º

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 105


do Art. 30 da Lei nº 8.666/2013, e que o serviço tivesse maior complexidade técnica.
Vejamos o item:

8. Por isso, sou de opinião que a interpretação mais adequada do art. 30, § 1º,
inc. I, in fine, da Lei nº 8.666/93, é a de que é possível, e até mesmo imprescindível
à garantia do cumprimento da obrigação, delimitar as características que devem
estar presentes na experiência anterior a ser comprovada pelas licitantes –
compatíveis com o objeto pactuado –, aí se inserindo a exigência de quantitativos
mínimos concernentes ao objeto que se pretende contratar. (Voto da relatora
Ana Arraes).

Perceba que, no voto acima, a delimitação das características que devem estar
presentes na experiência anterior a ser comprovada configura-se de extrema
importância para que se atinja o objetivo da exigência de qualificação técnica. Esse
procedimento evita a possibilidade de comprovação de qualificação por parte da
licitante por experiência não exigida no edital, ou mesmo por apresentação de
experiência insuficiente.

O presente Acórdão pacificou o entendimento da questão, prevista na Lei nº


8.666/1993, mas que deixava dúvidas quanto à sua forma de aplicação. Na Lei nº
14.133/2021, essa questão foi igualmente tangenciada.

É o caso de certame de licitação de obra que exigia comprovação de capacitação


técnico-profissional na instalação de sistema VRF de ar-condicionado, onde a
proponente limitou-se à apresentação de comprovação de capacitação técnico-
profissional para instalações de sistemas do tipo minisplit.

VRF – Variable Refrigerant Flow, ou Fluxo de Refrigeração


Variável, é um sistema de ar condicionado que, tal qual dito no
nome, utiliza variação no fluxo do gás refrigerante no processo de
climatização do ambiente condicionado. Esse sistema tem maior
eficiência e maior complexidade tecnológica se comparado com
sistemas mais tradicionais.

Minisplit é um sistema de ar condicionado composto de unidades


separadas para condicionamento interno (evaporadoras) e troca
de calor (condensadoras), indicado para pequenos ou médios

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 106


ambientes e com controle de acionamento localizado, muito
utilizado em instalações residenciais, exigindo, portanto, menor
conhecimento técnico na sua instalação, se comparado a um
sistema VRF.

Obviamente, por tratar-se de tecnologias diferentes, caso não estivesse delimitada


a característica da instalação no edital (experiência em instalação de sistema VRF), a
Administração teria de aceitar a comprovação de experiência na tecnologia menos
complexa (minisplit), certamente com prejuízo na qualidade do sistema construtivo
objeto da licitação.

Importante salientar que a exigência de quantidade mínima para


a capacidade técnico-profissional (comprovação da capacidade
técnica do profissional contratado pela empresa), à luz do
voto da relatora, não se refere às quantidades exigidas para a
capacitação técnico-operacional (comprovação da capacidade
técnica da empresa), visto que essa última não é determinante,
e sim a primeira.

Enfatiza-se também que a exigência de atestados com registro nos conselhos


profissionais (Certidão de Acervo Técnico, ou CAT) sempre é feita para o profissional
– e não para pessoa jurídica – razão pela qual a sua possibilidade apenas para a
capacitação técnico-profissional e não para a capacitação técnico-operacional
(Resolução nº 1.025/2009 – CONFEA/CREA e Resolução nº 24/2012 – CAU/B). Esse
entendimento é confirmado por jurisprudência do Tribunal de Contas da União
(Acórdão de Relação 3028/2016 – TCU – Plenário).

Outro ponto que merece destaque em relação à capacitação técnico-profissional


é a apresentação dos atestados pelo profissional. A Lei nº 14.133/2021 não faz
referência ao vínculo do profissional com a empresa licitante, tal qual o fazia a Lei
n° 8.666/1993, que exigia a vinculação do profissional detentor dos atestados com
a empresa licitante. No entendimento do Tribunal de Contas da União (Acórdão
2016/2016 – TCU – Plenário), essa comprovação pode se dar através de contrato
de prestação de serviço entre a empresa e o profissional, ainda que este não seja
empregado registrado da empresa ou seu sócio. Vejamos o que diz o item 139 do
referido acórdão:

139. No Acórdão 2.297/2005 – Plenário, da relatoria do E. Ministro Benjamin


Zymler, foi exposto acurado exame da matéria, do qual destacamos, em síntese,
os seguintes aspectos:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 107


- O artigo 30, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/1993 utiliza a expressão ‘qualificação
técnico-profissional’ para indicar a existência, nos quadros permanentes de uma
empresa, de profissionais em cujo acervo técnico conste a responsabilidade pela
execução de obras ou serviços similares àqueles aspirados pelo órgão licitante.
Há que se atentar, todavia, para o fato de que a referida lei não define o que seja
‘quadro permanente’.

Assim, essa expressão poderia ser compreendida como o conjunto de pessoas


ligadas à empresa de modo permanente, sem natureza eventual, por meio
de vínculos de natureza trabalhista e/ou societária. Esse conceito, entretanto,
reclama certa ampliação nas hipóteses em que a autonomia no exercício da
profissão descaracteriza o vínculo empregatício sem afastar a qualificação do
sujeito como integrante do quadro permanente, como é o caso dos profissionais
da área de engenharia;

- A exigência de que as empresas concorrentes possuam vínculo empregatício


com o profissional técnico qualificado mostra-se excessiva e limitadora à
participação de eventuais interessados no certame, uma vez que o essencial,
para a Administração, é que o profissional esteja em condições de efetivamente
desempenhar seus serviços no momento da execução de um possível contrato.

- Se o profissional assume os deveres de desempenhar suas atividades de modo


a assegurar a execução satisfatória do objeto licitado, o correto é entender que
os requisitos de qualificação profissional foram atendidos. Não se pode conceber
que as empresas licitantes sejam obrigadas a manter profissionais de alta
qualificação, sob vínculo empregatício, apenas para participar da licitação; ”

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 108


Unidade 2 - O controle da documentação na
obra

Ao final da unidade, você será capaz de observar a importância


da lista-mestra no controle da documentação técnica da obra.

Os elementos gráficos finalizados, que integram o conjunto impresso da


documentação de um projeto executivo, resultam em centenas de pranchas de
desenho, cadernos de detalhamento, além do caderno de encargos, memoriais
descritivos ou memórias de cálculo.

Você sabia que o número de pranchas de desenho chega


facilmente a 500, nos formatos A1 ou A0 (ABNT NBR 16752:2020
– Desenho técnico – Requisitos para a apresentação em folhas
de desenho), para edifícios de médio porte (10 pavimentos, com
área construída entre 20.000 e 30.000 m²), sendo que os cadernos
de detalhamento e o caderno de encargos podem atingir número
de páginas de igual ordem de grandeza?

Na fase de licitação da obra, se esta for considerada a partir de um projeto básico,


essa relação de documentos é sensivelmente menor, o que torna o controle da
documentação muito mais fácil. No entanto, essa documentação deve constar do
edital da licitação, na forma de uma lista, em anexo próprio, para que seja possível
a identificação precisa de quais documentos integram o projeto.

A Lei n° 14.133/2021 estabelece, por regra, que as obras devem ser licitadas com a
existência de um projeto executivo.

Para esse tipo de projeto, a lista de documentos cresce exponencialmente atingindo


milhares de páginas entre memoriais, laudos, estudos e detalhamento construtivo,
e centenas de pranchas de desenho, incluindo projetos ambientais, de drenagem,
geométricos, estruturais, viários, de sinalização viária e sinalização náutica, para
citar alguns. (Edital 046/14-00-DNIT).

No decorrer da obra, com as sucessivas complementações de projetos, muitas


vezes com modificações nas pranchas de desenho e demais documentos, novas
emissões (revisões) são geradas, iniciativas essas que requerem rígido controle,
principalmente das cópias impressas que estarão circulando na obra, para que se
evite a adoção de documentos ultrapassados, a partir de revisões que não mais
estão válidas. Esse procedimento é o sistema de gestão de documentos, que integra

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 109


o sistema de gestão da qualidade.

Uma das formas de controle da documentação da obra é a emissão de uma lista-


mestra, documento que traz ordenadamente, por tipo de projeto ou disciplina,
a relação dos elementos gráficos do projeto, sejam eles pranchas de desenho,
memoriais, laudos ou cadernos de especificações e detalhamento. Essa lista-mestra
pode tanto ser gerada em softwares mais acessíveis, tais como editores de texto
ou planilhas eletrônicas, de forma manual, como em softwares mais complexos e
dedicados como gerenciadores de workflow.

Workflow é “a modelização e a gestão informática do conjunto de


tarefas a realizar e dos diferentes atores envolvidos na realização
de um processo de negócio (também chamado de processo
operacional). O termo workflow poderia, por isso, ser traduzido
por ‘gestão eletrônica dos processos de negócio’. Um processo
operacional representa as interações sob a forma de troca de
informações entre diversos atores, como: indivíduos, aplicações
ou serviços e processo de terceiros.

De maneira prática, um workflow pode descrever:

• o circuito de validação;

• as tarefas a realizar entre os diferentes atores de um processo;

• os prazos a respeitar;

• os modos de validação.

Para saber mais acesse o site https://www.cnj.jus.br/siga/


apostila_sigawf.pdf

(Poder Judiciário. Justiça Federal. Seção Judiciária do Rio de


Janeiro. Workflow)

A norma ABNT ISO 9001:2015 – Sistemas de Gestão da Qualidade – Requisitos,


traz, no seu item 7.5.3, importantes informações e roteiro sobre o controle de
documentação que prioriza a sua integridade, fidelidade, disponibilidade, proteção,
distribuição, validação e controle de alterações.

O controle da documentação na obra e a sua validação é uma das tarefas precípuas


do engenheiro ou arquiteto residente, e pelas razões expostas, uma das mais
importantes.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 110


Na figura abaixo, é representado um exemplo de uma lista-mestra:

O exemplo demonstrado, gerado através de um arquivo de edição de textos, de


forma simplificada, é poderosa ferramenta no controle da documentação da obra.
Os campos (colunas) mostrados evidenciam as informações atualizadas e dão ao
gestor da obra e aos demais parceiros envolvidos informação única, consolidada e
acessível.

Softwares dedicados ao controle do fluxo de trabalho (workflow) podem ser ainda


mais eficientes ao trazerem mais ganhos e aumentarem as possibilidades de
controle e atuação do gestor.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111


Unidade 3 - Usando softwares de gerenciamento
de projetos

Ao final da unidade, você será capaz de identificar a importância do


uso de aplicativos para gerenciamento de projetos e cronograma
de obras.

Assim como o controle da documentação na obra, o controle do seu desenvolvimento


é igualmente importante, sendo vital para que sejam atingidos os objetivos de prazo
e custo previstos. Uma das formas de controle dessas duas variáveis é a elaboração
de um cronograma de atividades.

No parágrafo 9° do Art. 46 da Lei nº 14.133/2021, é determinada a obrigatoriedade


de que a medição e o pagamento dos serviços - quando os regimes de execução
forem a empreitada por preço global, empreitada integral, contratação por tarefa,
contratação integrada e a contratação semi-integrada (incisos II, III, IV, V e VI) - esteja
associada à execução das etapas de um cronograma físico-financeiro, conforme
abaixo:

§ 9º Os regimes de execução a que se referem os incisos II, III, IV, V e VI do


caput deste artigo serão licitados por preço global e adotarão sistemática de
medição e pagamento associada à execução de etapas do cronograma físico-
financeiro vinculadas ao cumprimento de metas de resultado, vedada a adoção
de sistemática de remuneração orientada por preços unitários ou referenciada
pela execução de quantidades de itens unitários. (grifo nosso).

O Decreto nº 7983/2013, no seu Art. 12, traz também tal obrigatoriedade:

Art. 12. A minuta de contrato deverá conter cronograma físico-financeiro


com a especificação física completa das etapas necessárias à medição, ao
monitoramento e ao controle das obras.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 112


Note que, ainda que esteja previsto na legislação que trata das licitações e orçamentos
de referência no âmbito da Administração Pública, o cronograma é abordado com
ênfase no controle do fluxo de recursos financeiros, e não no controle das atividades
da obra. Nesse ponto, há falha na legislação, onde seria necessário a previsão de
instrumento que pudesse efetivamente conferir o controle do andamento físico da
obra ou serviço, a sua evolução por atividades. Na Lei nº 14.133/2021, no mesmo
parágrafo 9° do Art. 46, indiretamente é feita alusão a esse tipo de controle
quando se fala em “cumprimento de metas de resultado”, não especificando, no
entanto, a forma de cumprimento de tais metas. Em função de ser uma lei recente,
possivelmente haverá instrução normativa que regulamente esse tema ou, ainda,
jurisprudência das cortes superiores de auditoria e controle que determinem a
forma de atingimento das metas.

Dentro do campo da construção civil e do seu gerenciamento e controle, há


inúmeras ferramentas consagradas para a aplicação nessa ação. É comum
observarmos a adoção de cronogramas de barras, gerados através de softwares de
criação de planilhas eletrônicas para o controle das atividades da obra. Essa forma,
ainda largamente utilizada pelas construtoras, infelizmente nenhum controle traz
sobre o andamento das atividades, servindo apenas à visualização instantânea do
estágio de desenvolvimento das atividades ou da sua previsão no tempo. Assim,
um cronograma de atividades elaborado nesse ambiente fornecerá a informação
correta apenas em dois momentos: no início da sua elaboração, coincidindo com
o início das atividades da obra, ou quando atualizado, manualmente e de forma
onerosa, ao longo da execução da obra.

O controle efetivo das atividades na obra se dá através do método


do caminho crítico, ou método PERT/CPM (Program Evaluation
and Review Technique/Critical Path Method). Esse método prevê o
encadeamento das atividades em rede e nós, com pré-requisitos
a serem atendidos para que cada atividade seja realizada. Esses
pré-requisitos tanto podem ser a realização inicial de uma outra
atividade (atividade predecessora) como a necessidade de
compra de um determinado material ou a contratação de um
determinado serviço para que a atividade seja possível.

Diferentemente do cronograma físico-financeiro da obra, o cronograma por


atividades baseado no método PERT/CPM promove o efetivo controle da obra por
apresentar as suas atividades através do conceito chamado “Estrutura Analítica do
Projeto”, onde as atividades são apresentadas por ocorrência e interdependência.
Não obrigatório, à luz da legislação aplicada às licitações na Administração Pública,
essa forma de controle deve ser recomendada à contratada e acompanhada pelo
fiscal do contrato.

Atualmente estão disponíveis no mercado alguns softwares que possibilitam esse


controle. O mais adotado é o MS Project®, que permite o controle das atividades e

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 113


dos recursos (mão de obra e materiais) empregados na obra, adotando o método
do caminho critico. Esse software é licenciado pela Microsoft®. Outros, no entanto,
são gratuitos, onde podemos citar como exemplos o ProjectLibre e o GanttProject.

Mas, afinal, o que é o método do caminho crítico?


Conforme o guia PMBOK® (Project Management Body of Knowledge, do PMI – Project
Management Institute, ou Guia de Conhecimento de Gerenciamento de Projetos,
do Instituto de Gerenciamento de Projetos), o caminho crítico é “A sequência de
atividades que representa o caminho mais longo de um projeto, que determina a menor
duração possível de um projeto” (PMBOK , 5ª edição, p. 176). A figura abaixo mostra
graficamente o caminho crítico de uma sequência de atividades:

Figura 47 – Caminho crítico de uma sequência de atividades


Fonte da imagem: http://www.pmknowledgecenter.com/dynamic_scheduling/
baseline/critical-path-or-critical-chain-difference-caused-resources

As atividades com a sequência em vermelho são aquelas que compõem o caminho


crítico do encadeamento. São as que não têm folga na sua execução, ou seja, se há
a previsão de um determinado período na execução de cada tarefa, ao aumentar-se
tal período, todo o cronograma é alterado, empurrando-se para a frente a sua data
de fim, atrasando, dessa forma, a conclusão do processo, obra ou serviço.

Com os softwares de gerenciamento de projeto citados, os cronogramas gerados,


ao contrário daqueles cronogramas gerados em planilhas de cálculo, permitem o
efetivo controle das atividades, pela identificação do seu caminho crítico. Dessa
forma, o gestor do projeto (arquiteto ou engenheiro residente), ou mesmo o fiscal
de obra, tem a possibilidade de identificar quais são as tarefas que potencialmente
podem atrasar a obra. O cronograma, ao ser atualizado, automaticamente redefine
as datas de execução de todas as atividades interligadas, permitindo assim a
imediata identificação da nova data de fim da obra. Definindo-se tal data como um
marco, pode-se planejar as atividades para que se atinja tal objetivo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 114


Como você pode perceber, embora não obrigatório, o cronograma de atividades
baseado no caminho crítico é o único instrumento que dá o efetivo controle dos prazos
de uma obra ou serviço, sendo uma iniciativa saudável para a sua administração e
deveria sempre ser exigido das contratadas pelo gestor do contrato.

Unidade 4 - A importância da assessoria à


fiscalização

Ao final da unidade, você será capaz de identificar as vantagens


de incluir Assessoria à Fiscalização em diferentes casos.

A fiscalização de um contrato deve ser feita sempre preferencialmente por um


servidor ou empregado público dos quadros permanentes da Administração Pública
(Art. 7°, inciso I, da Lei nº 14.133/2021), que o acompanhará durante todo o período
da sua execução. Essa prerrogativa está determinada na Lei nº 14.133/2021, no seu
Art. 117, abaixo transcrito:

Art. 117. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por 1


(um) ou mais fiscais do contrato, representantes da Administração especialmente
designados conforme requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei, ou pelos
respectivos substitutos, permitida a contratação de terceiros para assisti-los e
subsidiá-los com informações pertinentes a essa atribuição.”

O próprio artigo nº 117, no entanto, abre a possibilidade de contratação de assessoria


ao fiscal do contrato para a sua fiscalização. Essa contratação é permitida, e até
mesmo necessária, sempre que o fiscal do administrativo do contrato não detenha
o conhecimento técnico necessário para a sua completa execução. Dessa forma, a
contratação de um profissional legalmente habilitado complementa as condições
para a eficiente fiscalização da execução do objeto em questão, seja uma obra,
serviço de engenharia ou um projeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 115


Ainda que o órgão da Administração Pública conte nos seus quadros com servidores
que também sejam profissionais legalmente habilitados, dado a característica da
maioria dos órgãos da Administração - salvo aqueles que têm como atividade
fim a construção civil ou obras de infraestrutura viária - é raro que constem dos
seus quadros profissionais (engenheiros e arquitetos) que contemplem todas as
disciplinas envolvidas na elaboração de projetos ou da execução de obras e serviços
de engenharia. Isso somente ocorreria se houvesse servidores habilitados nas áreas
de engenharia estrutural, mecânica, elétrica, hidrossanitária, etc.

Perceba que, mesmo que profissionais habilitados nas áreas específicas de


engenharia e arquitetura façam parte dos quadros do órgão, em muitos casos
a sua função não está vinculada a sua formação técnica, por atuarem em área
fim do órgão, diversa daquela formação. A despeito de considerações sobre as
capacidades técnicas e competências de tais servidores, esses, muitas vezes, por
não terem maior contato com as áreas de atuação oriundas das suas formações
técnicas, declaram-se não capacitados para o exercício daquela atividade específica,
ou mesmo, assumindo tal exercício, o fazem com a condição de serem assessorados
por profissional habilitado e atuante na atividade técnica.

Servidores legalmente habilitados atuando como fiscais de contrato e assessorados


por profissional tecnicamente capacitado só trazem vantagens ao órgão.

No projeto de uma grande obra, edificação ou infraestrutura de obras viárias, muitas


são as disciplinas envolvidas. O projeto de ar condicionado de um edifício deveria
ser analisado e recebido por engenheiro mecânico, cuja formação é em tal área.
O mesmo vale para um projeto de instalações elétricas, que deveria ser analisado
e recebido por engenheiro eletricista. A maioria dos órgãos da Administração
Pública, porém, não dispõe de tais profissionais, quando a sua atividade fim não é a
contratação de projetos ou obras.

É nessa situação que é altamente recomendável a contratação


de pessoa jurídica com profissionais legalmente habilitados,
com capacidades técnicas específicas e que auxiliarão o fiscal
adminitrativo do contrato. Essa contratação, longe de ser um
gasto a mais para a Administração, é, na verdade, iniciativa que
poderá evitar grandes prejuízos e possibilitará o recebimento de
serviço de melhor qualidade.

Uma das grandes vantagens da contratação de uma assessoria à fiscalização, no


caso de uma obra da construção civil, é o fato de o fiscal do contrato poder contar
com representante no local da obra em tempo integral. Muitas obras contratadas
pela Administração Pública estão em local distante daquele de lotação do fiscal do
contrato, o que impede a sua permanência ou mesmo contato direto com a obra.
Há situações, inclusive, em que a lotação do servidor, normalmente em centros
regionais, está distante centenas de quilômetros do local de execução da obra,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 116


dificultando até mesmo suas visitas periódicas. Nesses casos, a contratação de
assessoria à fiscalização, com previsão de alocação de profissional residente, será
de grande ajuda técnica ao fiscal do contrato.

Há ainda outras tantas vantagens para a Administração


Pública quando da contratação de assessoria à fiscalização,
especialmente para ações mais específicas, em que o servidor
não tenha pleno conhecimento, ou o tendo, teria prejuízo na sua
atuação principal pelo tempo demandado por tais atividades.

A assessoria à fiscalização, nesses casos, teria resposta adequada para cada uma
das atividades, ao contar nos seus quadros com profissionais com capacitações
específicas para cada fim. Assim, engenheiros mecânicos, eletricistas, estruturais,
além de contadores e profissionais de segurança do trabalho dariam o suporte
ao fiscal do contrato. Obviamente tal previsão deve sempre constar do edital da
licitação que contratará a assessoria.

As atividades específicas possíveis de serem executadas por uma assessoria à


fiscalização estão na relação abaixo, não exaustiva:

1. Análise do projeto executivo de uma obra, contratado pela Administração


Pública, considerando todos os seus elementos (Pranchas de desenho,
Caderno de Encargos e Planilha Orçamentária com Cronograma Físico-
Financeiro), bem como todas as disciplinas técnicas (Projeto de
arquitetura, de instalações, de estruturas, de pavimentações, etc.);

2. Exame de todos os elementos técnicos fornecidos pela CONTRATANTE


para a execução da obra, de modo a apontar as eventuais omissões ou
falhas que venham a ser observadas, para que essas sejam sanadas a
tempo;

3. Manifestação quanto à qualidade e rigorosa adequação dos materiais e


serviços a serem empregados na obra, às especificações técnicas, e à
regulamentação aplicável a cada caso;

4. Medições mensais dos serviços, apresentando ao fiscal do contrato, para


cada medição, uma planilha discriminativa indicando o percentual de
execução de cada serviço da planilha orçamentária da obra e o total
acumulado;

5. Elaboração de planilha orçamentária para eventuais serviços não


previstos ou alterações do projeto básico, a fim de subsidiar a Contratante
no caso de aditamentos ao contrato da obra;

6. Verificação da anotação, registro, aprovação, licenças, Cadastro


Específico do INSS (matrícula CEI – Cadastro Específico do INSS) da obra
e outras exigências dos órgãos competentes com relação ao Projeto
Executivo e à obra;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 117


7. Análise e apresentação de parecer relativo à documentação
comprobatória do cumprimento das obrigações trabalhistas e
previdenciárias que acompanha as faturas da empresa executora da
obra;

8. Averiguação e manifestação quanto à qualificação técnica de empresas


que a executora da obra pretenda subcontratar, referente aos serviços
permitidos;

9. Proposição da retirada do local da obra do material rejeitado pela


fiscalização, bem como a demolição e imediata reconstrução do que for
impugnado, quer em razão de material ou da mão de obra;

10. Verificação da entrega, pela empresa executora da obra, dos documentos


exigidos nos prazos fixados pelo Fiscal do Contrato;

11. Alerta ao Fiscal do Contrato da transferência, no todo ou em parte, da


execução da obra sem prévia e expressa anuência da CONTRATANTE,
ressalvadas pequenas subempreitadas ou tarefas que não exijam
responsabilidade técnica;

12. Verificação diária quanto às anotações efetuadas pela empresa


executora da obra no “Diário de Obras”, anotando os eventos ocorridos
e registrando as observações relativas ao desenvolvimento dos trabalhos;

13. Proposição da retirada do local da obra qualquer empregado que não


corresponda à confiança, ou que perturbe a ação da fiscalização;

14. Conferência da documentação contábil, previdenciária e trabalhista


para possibilitar o ateste dos serviços executados, situação em que a
comprovação daquela documentação é requisito.

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Unidade 5 - A atuação do Fiscal de Obras

Ao final da unidade, você será capaz de enfatizar a responsabilidade


técnica e ético-profissional, civil, penal, trabalhista, além das
responsabilidades objetivas e subjetivas do fiscal de obra e da
Administração Pública.

A fiscalização da obra (controle de materiais e


procedimentos, fiscalização de atendimento às
normas legais, etc.)

No módulo 2, unidade 6, falamos sobre a responsabilidade do gestor de contrato


no âmbito da Admistração Pública. Conforme comentado naquela unidade, na
Administração Pública, o gestor de contrato responde solidariamente pelos danos
causados à Administração Pública (Art. 8°, inciso I, da Lei nº 14.133/2021) ou por atos
praticados no exercício das suas funções (Art. 121 e Art. 122 da Lei nº 8.112/1990).

Todo e qualquer ato do servidor público deve ser motivado e sobre ele responde
civil, penal e administrativamente.

O fiscal do contrato, sendo também profissional legalmente habilitado na área de


engenharia ou arquitetura, tem responsabilidade ético-profissional extensiva às
questões do exercício profissional e soma-se, ainda, a essas a responsabilidade
técnica.

Figura 48 – Fiscal de Contrato

Note que a função de fiscal de contrato exercida por servidor com habilitação legal nas
áreas específicas (arquitetura ou engenharia) é complexa e com responsabilidades
bem abrangentes.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 119


O apoio de uma assessoria à fiscalização nesses casos é vital, o que possibilita ao
gestor do contrato maior segurança na sua atuação e tomada de decisões. Isso
porque, dada a condição de formação específica quando da habilitação legal, o
profissional certamente não dominará todos os campos do conhecimento técnico,
o que poderá ser suprido com a contratação do profissional qualificado nas áreas
de não atuação do servidor, através da assessoria à fiscalização.

Essa iniciativa, no entanto, embora altamente recomendável pelas razões já


expostas, não afasta a responsabilidade do servidor fiscal do contrato, visto que
tal responsabilidade, além de solidária, é inicial. No caso do ateste dos serviços
executados, cuidadoso controle deve ter o fiscal, em função dessa responsabilidade.

O Acórdão 2672/2016 – TCU – Plenário, nesse sentido, condenou fiscal de obra a


ressarcir valores à Fazenda Pública por ateste indevido de serviços executados com
deficiência aparente em obra pública executada com recursos oriundos do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

No que diz respeito à responsabilidade técnica, o fiscal de contrato (projetos e obras)


que detenha habilitação legal nas áreas específicas – engenharia ou arquitetura
– sobre elas deve responder quanto ao controle das boas práticas construtivas,
amparadas em normativas técnicas, ou ainda em normas legais a elas aplicadas.

Como fiscal, o profissional deve ter o controle da qualidade do serviço prestado (ou
do objeto recebido), avaliando, por exemplo, a correta especificação dos materiais
empregados em uma obra ou a correta aplicação de norma técnica balizadora de
um projeto.

Para o primeiro caso, deve-se atentar para que as especificações dadas no projeto
confiram com as especificações dos materiais aplicados na obra. Muitas vezes, por
questão de economia, e em alguns casos por má-fé, a contratada oferta insumo de
qualidade inferior àquele definido no projeto, iniciativa que, além de ferir a relação
contratual estabelecida, pode condenar a durabilidade ou o desempenho do objeto
construído.

No segundo caso, a não observância de uma determinada normativa técnica ou legal


pode comprometer futuramente a contratante, trazendo prejuízos à Administração
Pública.

O não atendimento às normativas legais pode ensejar ações judiciais, movidas por
aqueles que presumirem ter seus direitos ofendidos, passíveis de indenizações no
caso de condenação da ré. Isso porque, em relação às normas técnicas, desde o
advento do Código de Defesa do Consumidor, essas passaram a ter força de lei,
embora não tenham tal caráter jurídico.

Como esclarecimento à questão relativa às normas técnicas, tomemos por exemplo


um determinado projeto, de um prédio de uso público, onde não foi previsto o

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 120


conforto acústico determinado na ABNT NBR 10152:2017 – Acústica – Níveis de
pressão sonora em ambientes internos a edificações – para um dado ambiente. O
usuário do prédio, seja servidor ou pessoa do público externo, que sentir-se ofendido
no seu direito quanto a ausência de condição prevista naquela norma, poderá
ajuizar ação exigindo reparação de direitos amparado na determinação do artigo
39, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, lei que legitima juridicamente as
normas técnicas da ABNT e outras normas, tais como as Normas Regulamentadoras
do Ministério do Trabalho, resoluções de agências reguladoras, etc.

A responsabilidade do gestor de contrato, portanto, não se restringe às questões


de ordem administrativa, estendendo-se às questões de ordem legal e técnica, com
responsabilidade objetiva da Administração Pública.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 121


Unidade 6 - A troca das especificações: o
conceito do “Similar-semelhante” e do “Similar-
equivalente”

Ao final da unidade, você será capaz de identificar quando é


possível a alteração das especificações dadas em projeto e como
isso é feito, de acordo com as normativas legais.

Uma das questões mais importantes a serem observadas pelo fiscal de uma
obra é a característica técnica dos materiais empregados na sua execução. Essas
características devem estar perfeitamente definidas no seu projeto, especialmente
no seu Caderno de Encargos.

A correta especificação técnica de um determinado material (ou mesmo de um


serviço) que será empregado na obra definirá os aspectos da sua durabilidade,
desempenho, atendimento às normativas técnicas e boas práticas da construção.
Respeitará também o direito autoral e a responsabilidade técnica do projetista. Essa
última condição será a que irá trazer segurança à contratante quanto à garantia
intrínseca conferida ao objeto construído, a partir do autor do seu projeto.

Pelas razões descritas, a aceitação dos materiais pelo fiscal da obra deve ser feita
somente após criteriosa análise que traga a certeza do correto atendimento às
especificações do projetista.

O mercado da construção civil traz uma variedade de alternativas para a maioria dos
insumos de obra. Como em qualquer outra atividade econômica, esses materiais
podem apresentar grande qualidade, a partir de marcas consagradas ou de técnicas
de fabricação certificadas, como podem ter qualidade baixa, a partir de métodos não
normatizados de fabricação, ou mesmo pelo emprego de insumos inadequados.

Na construção civil, notadamente em função do seu baixo avanço tecnológico e


especialização, se comparada a outros campos do conhecimento humano tais
como a medicina ou a informática, é comum pequenas indústrias, com pouca ou
nenhuma qualidade, serem os seus fornecedores. Assim, um dado material que
deveria apresentar uma boa qualidade, garantindo, com isso, a integridade da
obra, poderá ser insumo de baixa qualidade, que terá reflexos imprevisíveis no seu
resultado final. Situações como essa podem ser encontradas tanto em um simples
bloco cerâmico (tijolo) como em um complexo sistema de vedação de fachadas
por pele de vidro ou mesmo em um sistema de automação para controle lógico do
sistema de ar-condicionado instalado em uma edificação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 122


A combinação da boa especificação dada no projeto com a correta execução na
obra, com a observância das especificações técnicas nos materiais empregados
e, consequentemente, do processo construtivo empregado para a sua aplicação,
não somente trará a garantia à contratada quanto àquilo que foi contratado, como
possibilitará o correto atendimento às normativas legais ou técnicas, incluindo a
normativa de desempenho das edificações, da Associação Brasileira de Normas
Técnicas, definindo assim a vida útil da obra.

Para que sejam atendidas essas questões, o fiscal e a contratada devem ter claro
conceito quanto à similaridade dos materiais. Esse critério de similaridade deve
estar precisamente definido no edital de contratação da obra para que seja possível
a legitimidade na sua cobrança quando da sua execução. Tem-se dessa condição a
similaridade por semelhança e a similaridade por equivalência.

A legislação de licitações permite a indicação de marcas dos insumos nos editais em


casos específicos, sendo, geralmente, vedada a sua indicação (Lei n° 14.133/2021,
Art. 41, inciso I), não impedindo, porém, que essas sejam citadas como referência,
sendo necessária, no entanto, a sua complementação com os termos “ou similar”,
“ou equivalente” ou “ou de melhor qualidade” (Acórdão 644/2007 – TCU – Plenário).

O insumo “similar-semelhante” é aquele de marca diferente


daquelas citadas como referência no edital, que desempenha
idêntica função que os insumos daquelas, mas que não apresenta
as mesmas características exigidas no projeto. Embora tal insumo
possa ser aceito, desde que atenda ao requisito de qualidade
técnica e normatização, exigirá aditivo, com compensação
financeira, adequando o valor que será pago ao seu preço (IN
COSEG/SAG/MF N° 01).

O insumo “similar-equivalente” é aquele de marca diferente


daquelas citadas como referência no edital, que desempenha
idêntica função e apresenta as mesmas características exigidas
no projeto. Esse insumo pode ter seu uso autorizado diretamente
pelo fiscal da obra, não exigindo a celebração de termo aditivo ou
compensação financeira (IN COSEG/SAG/MF N° 01).

Mas como saber se um insumo de marca alternativa àquelas citadas


no edital é “similar-semelhante” ou “similar-equivalente”?
Essa resposta, inicialmente, deve ser dada pelo critério de similaridade definido
no edital da contratação da obra. Em um segundo momento, deverá ter a sua
comparação feita com as características dos insumos das marcas tomadas como
referência e das especificações do projeto.

Para esclarecer a questão, tomemos como exemplo o insumo torneira de bancada

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 123


para lavatório de sanitários, com acionamento por pressão, cuja referência no
edital remete a um determinado modelo da marca docol®, com acionamento por
sistema pressmatic® após completa especificação. A oferta de insumo alternativo,
de outra marca e modelo, a partir da construtora, deve possibilitar que esse insumo
apresente as mesmas características técnicas da marca e modelo referenciados no
edital e especificadas no projeto. Somente assim este poderá ser considerado como
“similar-equivalente”. Os produtos com qualidade reconhecida trazem nas suas
especificações uma série de requisitos. Esses requisitos devem então ser também
atendidos pelo insumo alternativo. A falta de um deles, apenas, definirá o insumo
como “similar-semelhante”, com a necessidade das iniciativas de ajuste do fiscal já
descritas.

Um dos itens que pode ser o definidor de questões controversas é a garantia oferecida
pelo fabricante. Uma torneira com acionamento por pressão que apresente todos os
requisitos da marca docol®, com acionamento por sistema pressmatic®, apresentada
como referência no edital, mas que não ofereça a mesma garantia dada por
aquele fabricante, será considerado um insumo “similar-semelhante”, por interferir
diretamente no desempenho daquele material, e terá a necessária compensação
financeira através de termo aditivo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 124


Unidade 7 - Os critérios de medição nas obras
(contratos com regime de empreitada por preço
global e contrato com regime de empreitada
por preços unitários)

Ao final da unidade, você será capaz de identificar quais os


possíveis contratos em relação aos tipos de obra e serviços e à
sua forma de medição.

As obras ou serviços de engenharia contratados pela Administração e executadas


indiretamente, ou seja, quando o órgão ou entidade contrata serviços de terceiros,
podem ser feitos por sete regimes distintos: empreitada por preço global, empreitada
por preço unitário, contratação por tarefa, contratação integrada, contratação semi-
integrada, fornecimento e prestação de serviço associado e empreitada integral.
(Lei n° 14.133/2021, art. 46, incisos I a VII.)

O regime por tarefa normalmente é destinado àqueles serviços de pequena monta,


ajustados por preço certo, com fornecimento de materiais ou não. Esse regime é
indicado, por exemplo, para a contratação da limpeza de um terreno.

A empreitada integral é o regime de contratação onde o empreendimento é


integralmente contratado, envolvendo obras, serviços, instalações, licenças, alvarás,
treinamento e demais ações até a sua entrada em operação. Conhecido no mercado
da construção civil como turn key (ou, em tradução livre, “chave na mão”), é um
regime em que a contratada fica obrigada a entregar a obra em condições de pleno
funcionamento. Esse regime é utilizado quando o objeto contratado tem grau de
complexidade elevado ou necessite que sua entrega seja feita com equipamentos
específicos instalados e em funcionamento, tais como hospitais, laboratórios ou
fábricas.

Bastante corrente nas contratações da Administração Pública são os regimes de


empreitada por preço global e de empreitada por preços unitários.

Excetuando-se os regimes de contratação por preço unitário ou fornecimento e


prestação de serviço associado, todos os demais serão licitados por preço global
(Lei n° 14.133/2021, §9°).

A empreitada por preços unitários é aquela em que a contratação da obra ou serviço


se dá por preço certo de unidades determinadas. Esse regime de contratação é

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 125


adotado quando não é possível definir com precisão a quantidade dos insumos ou
dos serviços, devendo estabelecer-se um padrão ou unidade de medida para fins
de aferição, sendo o seu recebimento feito pelo fiscal através de uma “contagem”. A
contratação da realização de um acompanhamento técnico por visitas, por exemplo,
pode ser contada pelo número de visitas, permitindo assim o regime de empreitada
por preços unitários. A unidade de medida “visitas técnicas”, nesse caso, deve estar
definida no instrumento convocatório e a aferição, o pagamento e o recebimento do
serviço será pelo número de visitas. Mesmo em uma obra, como, por exemplo, uma
reforma, esse regime é possível.

Tome-se a situação de instalação de novas esquadrias (janelas) em um prédio


existente para substituição das suas esquadrias. Se for possível definir com precisão
um padrão (características) e uma unidade de medida para essas esquadrias, tal
regime poderá ser adotado, não importando quantas esquadrias serão efetivamente
substituídas, bastando que, para isso, sejam aferidas em contagem pelo fiscal para
o recebimento e pagamento. Entretanto, a empreitada por preços unitários onera
a ação do fiscal e, por essa razão, não é recomendada para contratações mais
complexas.

É o caso das grandes obras. A adoção desse regime tornaria a ação do fiscal
extremamente onerosa, exigindo a sua presença (ou a da sua assessoria) quase
que ininterruptamente na obra, dedicando boa parte do seu tempo à aferição
de quantidades (mapeamento, controles, registros, etc.). Essa condição não traz
vantagem à Administração, fazendo com que o fiscal deixe de dedicar-se a questões
mais importantes envolvidas na execução do contrato.

A empreitada por preço global nessa situação é a mais adequada e a definição do


objeto, com boa margem de precisão para as quantidades que serão executadas,
deve ser feita previamente. Esse regime exige que o projeto tenha nível de informação
suficiente para que o objeto seja claramente definido. A conveniência de adoção do
regime de empreitada por preço global diminui à medida que se eleva o nível de
incerteza sobre o objeto a ser contratado, pela eventual deficiência no projeto.

O critério de medição, para esse regime, será pelo percentual de cada serviço
integrante das subetapas, etapas e parcelas, e que formarão o preço da fase,
devendo tal critério estar claramente previsto no edital.

Serviço: é a identificação de cada uma das atividades construtivas


necessárias à execução da obra, representado por linhas do
orçamento sintético;

Etapa: é o grupo de serviços de características afins, representada


por linhas do orçamento sintético e do cronograma físico-
financeiro;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 126


Subetapa: é a subdivisão de uma etapa, em grupos menores de
serviços, com maior semelhança;

Parcela: é a fração de uma etapa ou subetapa executada no


período de um mês;

Fase: é o conjunto de diversas parcelas do cronograma físico-


financeiro da obra, previstas para execução em um determinado
mês, representada por colunas do cronograma.

Em relação a esses dois regimes de contratação (empreitada por preços unitários


e empreitada por preço global), deve-se ter o cuidado de, adotando-se o segundo,
não tornar a sua medição tão criteriosa a ponto de esse assemelhar-se ao regime do
primeiro. Assim, quando for demasiado o controle das quantidades feito pelo fiscal,
com a sua contagem e não pela aferição por parâmetros percentuais, o resultado é o
surgimento da possibilidade da contratada questionar todo e qualquer quantitativo,
além da desnecessária oneração da ação de controle do fiscal, com as consequências
já descritas.

Esse questionamento não é impedido à contratada, devendo, porém, seguir


determinadas regras, que são pacificadas pelas cortes de controle de contas e que
serão objeto de estudo nas unidades a seguir.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 127


Unidade 8 - Os aditivos de obra: o que deve ser
observado?

Ao final da unidade, você será capaz de identificar as premissas


necessárias para a concessão de aditivos e entender os critérios
para supressões e inclusões de itens ou escopos nos aditivos de
obras.

Nas contratações da Administração Pública sob o regime de empreitada por preço


global, mesmo sendo esse o regime em que o objeto é perfeitamente definido, as
solicitações de aditivos de quantitativos são prática corrente. É comum os contratos
para execução de obras no serviço público, nesse regime de contratação, chegarem
ao seu final com a celebração de mais do que dois aditivos para quantitativos,
respeitando-se os limites indicados no Art. 125 da Lei nº 14.133/2021. Mas, se o
regime de contratação de empreitada por preço global pressupõe a precisa definição
do objeto, por que são necessários os aditivos?

Essa é uma das questões discutidas nas cortes de julgamento de contas. O Acórdão
1977/2013 – TCU – Plenário lança luz sobre tal tema, trazendo já na sua abertura o
entendimento de que “o empreiteiro não teria o direito a solicitar aditivos contratuais
de quantidades nos casos de quantitativos subestimados por erros que pudessem ter sido
detectados ainda durante o processo licitatório (Acórdão 1977/2013 – TCU – Plenário.
p. 5).

O mesmo acórdão, no entanto, faz uma ressalva de que “como regra geral, mas
sempre de modo justificado, admite-se aditivo em contratos regidos por qualquer regime
de execução contratual, haja vista que a Lei 8.666/1993 não fez nenhuma distinção ou
ressalva sobre o assunto” (Acórdão 1977/2013 – TCU – Plenário. p. 5).

O citado Acórdão faz referência à Lei n° 8.666/1993, substituída


pela Lei nº 14.133/2021. Naturalmente, como acórdão de 2013, ele
é anterior a essa lei. A jurisprudência do TCU possivelmente irá
versar sobre temas controversos, como o tema ora apresentado,
à luz da nova lei.

Muito embora tenha havido a substituição da Lei n° 8.666/1993 pela Lei nº


14.133/2021, o que, em teoria, tornaria anacrônico o citado Acórdão, pode-se analisar

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 128


uma questão conceitual importante que é comum tanto ao Acórdão 1977/2013 –
TCU – Plenário, quanto à Lei nº 14.133/2021.

Em relação ao Acórdão tem-se:

admite-se aditivo em contratos regidos por qualquer regime de execução


contratual, haja vista que a Lei 8.666/1993 não fez nenhuma distinção ou ressalva
sobre o assunto.

Em relação à Lei nº 14.133/2021, extrai-se do seu Art. 133:

Art. 133. Nas hipóteses em que for adotada a contratação integrada ou semi-
integrada, é vedada a alteração dos valores contratuais, exceto nos seguintes
casos: ...

Veja que ambos os dispositivos legais não impedem a alteração dos preços
contratuais, mesmo no regime de empreitada por preço global.

A sequência do referido acórdão classifica os dois motivos pelos quais há a


possibilidade de celebração de aditivos em uma empreitada por preço global: as
alterações de projeto propostas pela Administração e as alterações de contrato
decorrentes de erros no projeto, orçamento ou quantitativos. Para esse último, há
casos em que tais erros são de pequena monta, enquanto há outros em que os
erros são relevantes. Dessa forma, entendimento do TCU para o primeiro caso está
abaixo descrito:

9.1.7. quando constatados, após a assinatura do contrato, erros ou omissões no


orçamento relativos a pequenas variações quantitativas nos serviços contratados,
em regra, pelo fato de o objeto ter sido contratado por “preço certo e total”, não se
mostra adequada a prolação de aditivo, nos termos do ideal estabelecido no art.
6º, inciso VIII, alínea “a”, da Lei 8.666/1993, como ainda na cláusula de expressa

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 129


concordância do contratado com o projeto básico, prevista no art. 143, inciso II,
do Decreto 7.983/2013”.( Acórdão 1977/2013 – TCU – Plenário. p. 2). A alínea “a”
do inciso VIII, do Art. 6° da Lei nº 8.666/1993 define o regime de empreitada por
preço global e guarda conceito análogo ao apresentado na Lei n° 14.133/2021,
no seu Art. 6º, inciso XXIX.

A título de esclarecimento, os citados artigo, inciso e alínea da Lei n° 8.666/1993


definem o conceito de regime de execução por empreitada por preço global e
guardam conceito análogo ao inciso XXIX do Art. 6º da Lei nº 14.133/2021, que a
substituiu.

O acórdão passa então a definir as possibilidades de celebração de aditivos para


tal regime, e a sua forma. Nessa condição, uma das regras citadas é que a eventual
imprecisão em algum quantitativo, alegada pela contratada, seja relevante dentro
do empreendimento, devendo ser avaliada de acordo com a metodologia da curva
ABC, que será tratada na unidade seguinte.

A celebração do termo aditivo somente é possível se for mantido o desconto original


ofertado sobre o orçamento-base da Administração pela vencedora da licitação
e se o resultado da licitação não for alterado caso os novos quantitativos fossem
aplicados às demais propostas do certame licitatório.

Quanto às supressões e acréscimos é importante destacar que não pode haver


compensação entre as duas iniciativas. Vejamos o que diz o Acórdão 749/2010
– TCU – Plenário:

(...) as reduções ou supressões de quantitativos


devem ser consideradas de forma isolada, ou seja,
o conjunto de reduções e o conjunto de acréscimos
devem ser sempre calculados sobre o valor original do
contrato, aplicando-se a cada um desses conjuntos,
individualmente e sem nenhum tipo de compensação
entre eles, os limites de alteração estabelecidos no
dispositivo legal.

Assim, para esclarecer o entendimento do acórdão, tomemos como exemplo um


contrato cujo valor original é R$ 100.000,00 que teve supressões de 40% e acréscimos
de 25% (limite máximo permitido, em se tratado de uma obra). Embora o limite de
25% para acréscimo seja calculado sobre o valor original do contrato (R$ 100.000,00),

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 130


o que totaliza R$ 25.000,00, o novo valor do contrato não resulta em R$ 125.000,00
e sim em R$ 85.000,00 pois o acréscimo será computado somente após a supressão
pretendida. O quadro abaixo resume a forma de cálculo:

Fonte: Portaria SEGECEX nº 33, de 07 de dezembro de 2012. p. 91.

Essa regra consolida, portanto, a forma correta do cálculo do limite para aditivos,
definindo que as supressões não devem ser consideradas no cálculo do limite de
25%, no caso de uma obra.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 131


Unidade 9 - O uso da curva ABC como ferramenta
de análise para a concessão de aditivos de obras
de edificações

Ao final da unidade, você será capaz de reconhecer a importância


da elaboração da curva ABC para a análise da concessão de
aditivos e para que se evite o “jogo de planilha”.

É de entendimento pacificado pelo TCU que a concessão de aditivos por alteração


de quantitativos nas obras da construção civil seja precedida pela análise da sua
pertinência amparada no uso do método da curva ABC.

Para iniciar é necessário compreendermos o conceito de curva ABC.

O método baseia-se no princípio de Pareto, economista italiano do século XIX, que


observou que havia uma distribuição desigual da riqueza da Itália, onde 80% estava
nas mãos de apenas 20% da população. Também chamado de princípio 80/20,
sintetiza a ocorrência de um determinado fator frente ao seu universo de amostras.
Exemplificando, o método observou que 80% de um dado problema é causado por
apenas 20% de fatores. Atacando-se esse pequeno universo, resolve-se grande parte
das consequências. Na década de 1940 esse princípio foi desenvolvido por Joseph
Moses Juran, um economista romeno-americano, através da criação da curva ABC.

Segundo CARVALHO (2002), a curva ABC é um método de classificação de


informações, para que se separem os itens de maior importância ou impacto, os
quais são normalmente em menor número. O mesmo princípio pode ser aplicado
às planilhas orçamentárias de obras, onde, teoricamente, 20% dos serviços são
responsáveis por 80% dos custos da obra.

A curva ABC ganha esse nome porque divide-se nas faixas, A, B e C, onde a faixa A,
com 20% dos itens de uma amostra, representa 80% do seu valor ou importância.
Abaixo a representação gráfica de uma curva ABC:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 132


Figura 49 – A curva ABC

Entendimentos do TCU ( Acórdão 394/2007 – TCU – Plenário.) apontam para o uso


dessa metodologia para a identificação dos itens para os quais deve-se aprofundar
a análise para a concessão de aditivos para quantitativos.

Conforme CAMPELO e CAVALCANTE (2014),

os itens mais relevantes do orçamento tendem


a seguir a regra de Pareto: 20% dos serviços (ou
insumos) correspondem a 80% dos custos. Por isso,
o método também é conhecido como ‘Curva 80-20’.
Como se extrai de dezenas de julgados do TCU, as
equipes de fiscalização, como técnica de auditoria,
em vez de avaliar toda a gama de serviços e insumos
contratados, concentram seus esforços em 20% dos
itens mais relevantes da empreitada.

Dessa forma, a solicitação de aditivos por imprecisão de quantitativos pela


contratada (por erro de quantitativos na planilha orçamentária), somente será
admitida para subestimativas ou superestimavas relevantes, assim consideradas
aquelas imprecisões que ultrapassarem a margem de tolerância de 10% do
valor total do contrato, considerando-se os serviços que constarem da faixa A da
metodologia ABC.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 133


As alterações contratuais sob alegação de falhas ou omissões
em qualquer das peças, orçamentos, pranchas de desenho,
especificações, memoriais e estudos técnicos preliminares do
projeto não poderão ultrapassar, no seu conjunto, 10% (dez por
cento) do valor total do contrato, computando-se esse percentual
para verificação do limite do art. 65, § 1º, da Lei nº 8.666/1993
conforme definido no Acórdão n° 1977/2013 – TCU - Plenário.
Como já exposto aqui, muito embora tal Acórdão seja anterior
à promulgação da nova lei das licitações (Lei nº 14.133/2021),
formando jurisprudência sobre a lei anterior (Lei nº 8.666/1993),
o entendimento do TCU para o tema permanece, possivelmente
sendo confirmado à luz da nova lei em jurisprudência a ser
formada.

Entende-se por faixa A da metodologia ABC, a lista de serviços ordenados de forma


decrescente de valor, do maior para o menor, que, somados, representem 50% do
valor total da obra, conforme orientações do TCU (Portaria SEGECEX nº 33). Assim,
a concessão de aditivos por imprecisão de quantitativos justifica-se apenas para
aqueles itens que estejam na faixa A da curva ABC e que tenham variação de custo
que totalize 10% do valor do contrato.

Importante aplicação da metodologia da curva ABC recai também sobre a


eventual prática do “jogo de planilha”. Assim definido pelo TCU, o jogo de planilha
é a ocorrência de alterações quantitativas na planilha contratual, modificando o
equilíbrio econômico-financeiro do contrato em desfavor da Administração, com
perda do desconto original (Portaria SEGECEX nº 33, de 07 de dezembro de 2012, p.
126).

Para elucidar a questão, pode-se admitir que o jogo de planilha é a


prática que consiste em oferecer o menor preço global na licitação
com a expectativa de futuros aditivos. Dessa forma, a licitante
percebe que há, no orçamento referência da Administração, itens
com quantitativos subestimados e superestimados, deixando de
fazer o devido alerta e questionamento à comissão de licitação
e, assim, oferta valores maiores para os itens subestimados
e valores menores para os itens superstimados. Celebrado o
contrato, a vencedora da licitação propõe aditamento com
aumento do quantitativo dos itens subestimados e diminuição
do quantitativo dos itens superestimados. Essa prática possibilita
à contratada ganhos indevidos, além de alterar o desconto
oferecido no momento da licitação, configurando prática ilegal.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 134


A curva ABC, nesse caso, elaborada quando da análise da proposição do aditivo,
pode detectar itens que venham a sofrer alteração de faixa (comparado ao resultado
da curva ABC do orçamento referência da Administração elaborada previamente
à licitação). Item que estivesse originalmente na faixa C antes da proposição do
aditivo, que passou à faixa A após a sua proposição, configurará a possibilidade da
ocorrência do jogo de planilha e deve ser tratado com cautela.

Unidade 10 - Acompanhando e recebendo a


obra: a gestão de documentos

Ao final da unidade, você será capaz de reconhecer o papel do


Projeto Executivo, identificar a responsabilidade técnica por ele,
e o limite da sua interferência no Projeto Básico.

A apresentação da documentação técnica da obra:


o projeto executivo

Lembre que no módulo 1 deste curso, na unidade 4, foi feita a conceituação de projeto
básico e projeto executivo, indicando as suas diferenças e particularidades à luz da
legislação de licitações, normas técnicas e resoluções dos conselhos profissionais
relacionados ao tema.

Na Lei nº 14.133/2021, o projeto executivo é descrito no certame licitatório para a


contratação de uma obra como uma das etapas integrantes do processo. O parágrafo
1º do artigo 46 da referida lei determina que é vedada a realização de obras e serviços
de engenharia sem projeto executivo, salvo se para a contratação de obras e serviços
comuns de engenharia, se demonstrada a inexistência de prejuízo para a aferição
dos padrões de desempenho e qualidade almejados, quando a especificação do
objeto pode ser realizada em termo de referência ou projeto básico, dispensando
a elaboração de projetos. A Lei n° 14.133/2021 determina ainda que não haverá
licitação de obra ou serviço de engenharia sem um projeto executivo, salvo nos
regimes de contratação semi-integrada ou integrada, em que este será elaborado
pelo vencedor da licitação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 135


Do conceito do projeto executivo, tomado a partir da Lei nº 14.133/2021, é possível
inferir que esse não representa nada mais do que uma mera complementação
do projeto básico, possível de ser feita para o esclarecimento, em nível de detalhe
técnico peculiar, sobre algum elemento daquele projeto básico para o qual ainda
reste pequena dúvida. Ora, veja que essas condições permitem a conclusão de que
o projeto executivo, embora obrigatório, será desenvolvido somente com o intuito
de trazer esclarecimento para aqueles pontos pouco esclarecidos no projeto básico.

Essa, ao menos, era a condição esperada para tal iniciativa. O que se observa, no
entanto, não é isso. Em grande parte dos processos licitatórios, os projetos básicos
apresentados são elementos deficientes, com informações incompletas e com
grande falta de definições técnicas, muito embora a determinação da lei de licitações
de que o projeto básico seja “conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível
de precisão adequado para definir e dimensionar a obra ou o serviço, ou o complexo de
obras ou de serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos
técnicos preliminares, que assegure a viabilidade técnica e o adequado tratamento do
impacto ambiental do empreendimento e que possibilite a avaliação do custo da obra e
a definição dos métodos e do prazo de execução (...)”.

Essa condição decorre de uma soma de fatores: a incapacidade técnica da licitante,


o desconhecimento ou pouca qualificação técnica dos integrantes da comissão de
licitação dentro do tema específico, o exíguo prazo do processo licitatório e, por fim,
a crença de que, no projeto executivo, o processo será completado pela construtora
quando da execução da obra ou serviço.

Essa situação desvaloriza o trabalho do projetista, remetendo à ideia de que as


eventuais falhas de projeto serão resolvidas pela construtora na execução do objeto.
Intensa atuação dos conselhos profissionais – CAU e CREA – tem sido feita para a
valorização do projeto e, consequentemente, dos seus profissionais. É importante
lembrar que o projeto executivo não pode alterar a intenção conceitual do projeto
básico, o que, em última análise, poderia ferir o direito autoral do projetista, podendo
também trazer responsabilização ao gestor do contrato.

Lembra-se também que o projeto executivo, desenvolvido no momento da execução


da obra, deve vir acompanhado de anotação de responsabilidade técnica (ART/
Sistema CONFEA/CREA) ou de registro de responsabilidade técnica (RRT/CAU/BR).
O que se vê em muitos casos, no entanto, é a indevida busca de soluções técnicas
de projeto, pelo engenheiro ou arquiteto residente, no decorrer da execução da
obra, muitas vezes com a alteração da solução dada no projeto básico, embora essa
solução realmente não seja a mais adequada.

A alternativa de exigência, por parte da Administração, de que a construtora


intensifique a atuação no projeto executivo, seja pela manutenção de profissional
de projeto no canteiro de obras, ou pela contratação de profissionais ou empresas
de projeto para o seu desenvolvimento, tem se mostrado insuficiente. Ainda que

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 136


tal exigência esteja refletida inclusive na planilha orçamentária, com destaque de
item específico para projetos executivos, com valor significativo, boa parte das
contratadas prefere seguir o método errado, com a solução apressada, através
das definições do profissional residente, ou, o que é pior, do mestre de obras, no
momento da execução.

Para que se evitem situações como essas, algumas ações, já enfatizadas ao longo
desse curso, podem ser tomadas:

1. Correta escolha da modalidade e do tipo de licitação para as licitações


de contratação de projetos. Certamente, a modalidade pregão, do tipo
menor preço, não é a modalidade adequada;

2. Contínua qualificação dos servidores que atuam na área, integrantes


das comissões de licitação que contratarão serviços de projeto; ou

3. Inclusão, nos quadros de servidores, de profissionais com habilitação


legal nas áreas de arquitetura e engenharia;

4. Licitação para a execução das obras somente a partir de um projeto


executivo, alinhando-se às orientações dos conselhos profissionais.

A Lei nº 14.133/2021 buscou atender ao item 4 da lista acima, embora ainda tenha
deixado a possibilidade de o projeto executivo ser elaborado após a licitação, pelo
seu vencedor, no caso dos regimes de contratação semi-integrada ou integrada. É
necessário, no entanto, mais do que isso. Deve-se tomar consciência, pela sociedade
como um todo, da importância dos profissionais de projeto para o avanço da
construção civil e para o desenvolvimento da nação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 137


Unidade 11 - A apresentação dos documentos
de registro da obra: o projeto em as built ou
“como construído”

Ao final da unidade, você será capaz de reconhecer a importância


do registro da obra em projeto as built e o momento certo de
solicitá-lo, e identificar as diferenças existentes entre o projeto
executivo e o projeto de registro em as built.

Na execução de uma obra da construção civil, seja ela uma edificação, obra
viária ou obra de infraestrutura, é situação comum, quando da sua execução, a
complementação de partes do projeto. As razões mais comuns para isso são as
situações imprevistas que requeiram a troca da solução definida pelo projetista,
ou o seu detalhamento. Como exemplo, pode-se citar a identificação de rocha no
subsolo de uma escavação para fundações, obrigando à troca do seu tipo. Em outros
casos, pode-se citar a alteração na legislação e normativas técnicas que exijam a
alteração de partes do projeto no momento da execução da obra.

As complementações ocorrem quando o projeto básico não traz nível de informações


suficiente para uma determinada instalação, por conta da sua tecnologia ou modelo
de equipamentos que serão adotados na obra e definidos somente no momento da
compra. É situação comum, quando são definidos os modelos dos equipamentos
de um sistema de condicionamento de ar do tipo VRF (Variable Refrigerant Flow – ou
Fluxo de refrigeração variável), de acordo com a marca escolhida pela contratada,
onde cada uma tem a sua especificidade.

Nessas situações, a instaladora fará o devido detalhamento técnico baseado na


marca específica, com a sua forma de arranjo, sua tecnologia e seus pré-requisitos.

Pode-se perceber que esses são casos especiais em que não há como apresentar
as soluções definitivas previamente a obra por uma simples razão: o impedimento
legal de especificação de marcas no momento da licitação para que o procedimento
não resulte em restrição à competitividade no certame licitatório.

Há de se ter em mente, no entanto, que o detalhamento técnico executivo é


instrumento para avaliação de alternativa específica e instrumento de tomada de
decisão quando da necessidade de esclarecimento de dúvida técnica. Por essa
razão, a sua elaboração deve ser feita com razoável antecedência ao prazo previsto
para a execução do seu objeto. Assim, essa iniciativa deve ser feita em momento
tal que permita a sua confortável finalização, o encaminhamento ao fiscal e a sua

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 138


análise e avaliação antes mesmo da programação do serviço deque trata o referido
detalhamento.

O que se vê na prática, porém, é situação bem diferente. No


ímpeto de executar os serviços, muitas vezes a contratada
idealiza a solução com algum registro em nível detalhamento
executivo, o entregando no final da obra na condição de “as
built”. Essa prática, nociva ao andamento do processo, tem duas
consequências não aceitáveis: prescinde-se da boa elaboração - e
em momento oportuno desse detalhamento, como instrumento
da boa prática de construção e o define como “as built”, em
momento extemporâneo, com os prejuízos daí advindos.

O registro da execução da obra em nível de “as built”, ou projeto as built como é


conhecido, tem a função de registrar a modificação sofrida pelo objeto construído
no momento da sua execução. Por essa razão, o registro deve ser feito tão logo
a modificação se efetive, através de levantamento fotográfico, croquis, esquemas
gráficos, etc., sempre com o acompanhamento do executor (mestre de obras ou
instaladora) e sob a supervisão e responsabilidade do profissional residente da
obra, engenheiro ou arquiteto.

Dada a sequência da obra, com um grande número de atividades por determinado


período de tempo, é temerário confiar na memória do executor para que se registre
de forma definitiva a alteração, posteriormente à sua execução, ainda que se
arquivem levantamentos fotográficos ou croquis e esquemas gráficos.

Por essa razão, o registro em “as built” deve ser feito ao longo de todo o período
da obra, para cada uma das atividades, desde a primeira movimentação de
terra, desde que haja, logicamente, alterações em relação ao que fora previsto
no projeto. O registro em “as built” então, nada mais é do que um processo
normal de geração de documentação durante a obra, para o qual deve ser
dada a mesma atenção que tem o controle da documentação de projeto.
Instrumentos para esse controle já foram descritos na unidade 2 deste módulo.

Adotando-se tal prática, o profissional residente consegue ter o controle total das
alterações, em tempo real, sem depender da (falível) memória do mestre de obras,
da instaladora ou mesmo da sua e chegará ao final da obra com a fiel documentação
de registro das alterações. Essa documentação, somada ao necessário Manual de
uso e operação, cuja apresentação é obrigatória pelo executor, conforme determina
a ABNT NBR 14037:2014 para o caso de edificações, garante a completa e confiável
fonte de consultas futuras para o usuário quando das necessárias manutenções ao
longo da vida útil da edificação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 139


SÍNTESE
Nesse módulo 4, o tema tratado, a obra e a sua execução, foi abordado com enfoque
na atuação do fiscal. Muito embora a construtora, como contratada, deva apresentar
uma série de garantias e comprovações de capacidade técnica no momento da
licitação que a contratou, a intensa e contínua atuação do fiscal é que garantirá a
correta execução do objeto contratado e o seu recebimento nas condições pactuadas.
Dessa forma, desempenhada por profissional habilitado integrante do quadro do
órgão, ou por fiscal não habilitado nas áreas específicas, com assessoramento, a
fiscalização será responsável pela qualidade final do objeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 140


Referências
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Paulo: PINI, 2012.

BERTIN, J. A neográfica e o tratamento gráfico da informação. Tradução de Célia


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técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos - Parte 1: Diretrizes
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técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos Parte 2: Projeto
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BRASIL. Decreto nº 9.178, de 23 de outubro de 2017. Altera o Decreto nº 7.746, de 5


de junho de 2012, que regulamenta o art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal
direta, autárquica e fundacional e pelas empresas estatais dependentes, e institui
a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública – CISAP.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/
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editados pelo Poder Executivo federal que dispõem sobre gestão coletiva de direitos
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BRASIL. Decreto nº 9.864, de 27 de junho de 2019. Regulamenta a Lei nº 10.295,


de 17 de outubro de 2001, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e
Uso Racional de Energia, e dispõe sobre o Comitê Gestor de Indicadores e Níveis
de Eficiência Energética. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2019-2022/2019/Decreto/D9864.htm Acessado em: 03 mar. 2023.

BRASIL. Decreto nº 9.991, de 28 de agosto de 2019. Dispõe sobre a Política Nacional


de Desenvolvimento de Pessoas da A dministração P ública federal direta, autárquica
e fundacional, e regulamenta dispositivos da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de
1990, quanto a licenças e afastamentos para ações de desenvolvimento. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9991.
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Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 142


BRASIL. Instrução Normativa nº 2, de 04 de junho de 2014, da Secretaria de
Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão. Dispõe sobre regras para a aquisição ou locação de máquinas e aparelhos
consumidores de energia pela Administração Pública Federal direta, autárquica
e fundacional, e uso da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) nos
projetos e respectivas edificações públicas federais novas ou que recebam retrofit.

BRASIL. Instrução Normativa nº 5, de 26 de maio de 2017. Dispõe sobre as regras


e diretrizes do procedimento de contratação de serviços sob o regime de execução
indireta no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional.
Disponível em: https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/
instrucoes-normativas/instrucao-normativa-no-5-de-26-de-maio-de-2017-
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BRASIL. INSTRUÇÃO NORMATIVA SEGES/ME Nº 73, DE 05 DE AGOSTO DE 2020.


Dispõe sobre o procedimento administrativo para a realização de pesquisa de
preços para a aquisição de bens e contratação de serviços em geral, no âmbito
da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Disponível em:
https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-
normativas/instrucao-normativa-no-73-de-5-de-agosto-de-2020. Acesso em: 09 fev.
2023

BRASIL. INSTRUÇÃO NORMATIVA SEGES/ME Nº 91, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2022.


Estabelece regras para a definição do valor estimado para a contratação de obras
e serviços de engenharia nos processos de licitação e de contratação direta, de
que dispõe o § 2º do art. 23 da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021, no âmbito
da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional. Disponível em:
https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-
normativas/instrucao-normativa-seges-me-no-91-de-16-de-dezembro-de-2022.
Acesso em: 09 fev. 2023.

BRASIL. Lei n° 13.647, de 9 de abril de 2018. Obriga a instalação de equipamentos


economizadores de água nos sanitários públicos de todas as novas edificações
públicas a partir da data da sua vigência. Brasília: Imprensa oficial, 2018

BRASIL. Lei n° 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a


legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 1998.

BRASIL. Lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001. Dispõe sobre a Política Nacional de


Conservação e Uso Racional de Energia, e dá outras providências. Brasília: Imprensa
oficial, 2001. Acessado em: 03 mar. 2023.

BRASIL. Lei nº 12.853, de 14 de agosto de 2013. Altera os arts. 5º, 68, 97, 98, 99 e
100, acrescenta arts. 98-A, 98-B, 98-C, 99-A, 99-B, 100-A, 100-B e 109-A e revoga o art.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 143


94 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, para dispor sobre a gestão coletiva de
direitos autorais, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973. Regula os direitos autorais e dá


outras providências. Brasília: Imprensa oficial, 1973.

BRASIL. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico


dos servidores civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília: Imprensa oficial, 1990.

BRASIL. Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
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Área de Infraestrutura e da Região Sudeste. Brasília: TCU, 2014.

BRASIL. Ministério da Fazendo. Portaria nº 389, de 23 de agosto de 2017.


Determina a adoção das minutas padronizadas da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional na elaboração de instrumentos de contratação pública pelos órgãos do
Ministério da Fazenda.

BRASIL. Parecer nº 00001/2021/CNS/CGU/AGU. Critérios e práticas de


sustentabilidade nas contratações públicas.

BRASIL. Portaria RFB/SUCOR/COPOL nº 566, de 30 de novembro de 2011. Dispõe


sobre os procedimentos relativos à elaboração de projetos básicos e executivos,
bem como à execução de obras, serviços de engenharia, reparos e adaptações no
âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil.

BRASIL. Portaria RFB/SUCOR/COPOL nº 566, de 30 de novembro DE 2011. Dispõe


sobre os procedimentos relativos à elaboração de projetos básicos e executivos,
bem como à execução de obras, serviços de engenharia, reparos e adaptações no
âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil.

BRASIL. Portaria SEGECEX nº 33, de 7 de dezembro de 2012. Aprova a segunda


revisão do Roteiro de Auditoria de Obras Públicas, declarando-o documento público,
revoga suas versões anteriores, e dá outras providências.

BRASIL. Resolução CONFEA nº 1010, de 22 de agosto de 2005. Sistematização das


atividades profissionais.

BRASIL. Resolução CONFEA/CREA nº 1048, de 14 de agosto de 2013. Consolida as


áreas de atuação, as atribuições e as atividades profissionais relacionadas nas leis,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 144


nos decretos-lei e nos decretos que regulamentam as profissões de nível superior
abrangidas pelo Sistema Confea/Crea.

BRASIL. SEGES/ME. Instrução Normativa nº 98, de 26 de dezembro de 2022.


Estabelece regras e diretrizes para o procedimento de contratação de serviços sob
o regime de execução indireta, de que dispões a Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021,
no âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Nota Técnica n° 3/2009 – SCI. Brasília: STF, 2009.
p. 4.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão TCU 2.401/2022 – Plenário. Brasília:


TCU, 2022.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão TCU 713/2019 – Plenário. Brasília:


TCU, 2019.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1.067/2016 – TCU – Plenário.


Brasília: TCU, 2016.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1.266/2011 – TCU – Plenário.


Brasília: TCU, 2011.

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Brasília: TCU, 2013.

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Brasília: TCU, 2007.

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Brasília: TCU, 2010.

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Brasília: TCU, 2015.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Portaria Segecex nº 33, de 7 de dezembro


de 2012. Aprova revisão do Roteiro de Auditoria de Obras Públicas, declarando-o
documento público, revoga suas versões anteriores, e dá outras providências.
Brasília: TCU, 2012.

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2001.

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1:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais. Rio de
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BRASIL. ABNT NBR 10152:2017 – Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes
internos a edificações.

BRASIL. ABNT NBR 14037: 2011 – Versão Corrigida: 2014 - Diretrizes para elaboração
de manuais de uso, operação e manutenção das edificações — Requisitos para
elaboração e apresentação dos conteúdos.

BRASIL. ABNT NBR 16636-1:2017 – Elaboração e desenvolvimento de


serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos -
Parte 1: Diretrizes e terminologia.

BRASIL. ABNT. NBR 16636:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos


especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos.

BRASIL. ABNT. NBR 16636-2: 2017 - Elaboração e desenvolvimento de


serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos -
Parte 2: Projeto arquitetônico.

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Conceitua o termo “Projeto” e define suas tipificações.

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Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 147


Glossário

N°: Termo: Definição / significado:

Expressão da língua inglesa que significa “como


construído”. Forma final da apresentação de uma obra
1 As built
da construção civil, tal como executado, através do
registro em documentos técnicos.

2 Diedro É a união de dois semiplanos perpendiculares entre si.

É um sistema de ar condicionado de pequena


capacidade composto de unidades separadas para
condicionamento interno (evaporadoras) e troca de calor
(condensadoras), daí o seu nome (split, na língua inglesa
significa “dividido”), que é indicado para pequenos ou
3 Minisplit
médios ambientes e com controle de acionamento
localizado, muito utilizado em instalações residenciais,
exigindo, portanto, menor conhecimento técnico na sua
instalação, se comparado a um sistema VRF, ou sistemas
mais complexos.

Elemento da geometria espacial composto de oito lados,


4 Octaedro
ou oito planos.

Quintessência
Segundo Houaiss, o que há de mais refinado, de mais
5 (ou Quinta-
precioso.
essência)

É o estudo e caracterização dos signos, ou significado e


significante, abrangendo linguagem verbal e não verbal,
6 Semiótica
conforme síntese das definições dadas nos estudos de
Peirce, Santaella e Morin.

Elemento da geometria espacial composto de três lados,


7 Triedro
ou três planos.

Variable Refrigerant Flow, ou Fluxo de Refrigeração


Variável: é um sistema de ar condicionado que tal
qual dito no nome, utiliza variação no fluxo do gás
8 VRF refrigerante no processo de climatização do ambiente
condicionado. Esse sistema tem maior eficiência e maior
complexidade tecnológica se comparado com sistemas
mais tradicionais.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 148

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