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LL.M.

EM DIREITO EMPRESARIAL

ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO

SESSÃO I

ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO. CONCEITOS FUNDAMENTAIS E


INTRODUTÓRIOS DA DISCIPLINA. EFICIÊNCIA DE PARETO E
KALDOR-HICKS. TEOREMA DE COASE E CUSTOS DE TRANSAÇÃO.
PONTO ÓTIMO DO DIREITO E DA ECONOMIA.
PODER JUDICIÁRIO E AED

FGV LAW PROGRAM


RIO DE JANEIRO, 2024
Todos os direitos reservados à Fundação Getulio Vargas.

Organizadores
Assistentes de pesquisa: SHCECHTMAN, David;
THENEVARD, Lucas; ARAGÃO, Igor.
Professores: PORTO, Antônio Maristrello;
ARAÚJO, Thiago; KLEIN, Vinicius; FRANCO,
Paulo.

Análise Econômica do Direito

Atualizada em: janeiro de 2024.

Verificação de plágio pelo sistema TURNITIN 

Bibliografia, Editora FGV, Rio de Janeiro.

A presente apostila tem por intuito orientar o estudo


individual acerca do tema de que trata, antecipando-
se à aula que lhe é correspondente, com a estrita
finalidade de oferecer diretrizes doutrinárias e
indicações bibliográficas relacionadas aos temas em
análise. Nesse sentido, este trabalho não
corresponde necessariamente à abordagem
conferida pelo professor em sala de aula, tampouco
tenciona esgotar a temática sobre a qual versa,
prestando-se exclusivamente à função de base para
estudo preliminar e referência de consulta.

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Análise Econômica do Direito
SUMÁRIO

ROTEIRO DE ESTUDO...................................................................................... 5
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 5
1.1 O que é a Análise Econômica do Direito e por que devemos estudá-la? ... 5
1.2 A importância crescente da AED no ordenamento jurídico brasileiro ..... 6
1.3 Modelos econômicos ....................................................................................... 8
1.4 Custos econômicos .......................................................................................... 9
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANÁLISE ECONÔMICA ............. 10
2.1 Dimensões da análise econômica ................................................................. 10
2.1.1 Dimensão descritiva ................................................................................... 10
2.1.2 Dimensão normativa .................................................................................. 11
2.2 Agentes racionais .......................................................................................... 12
2.2.1 A teoria da escolha racional ...................................................................... 12
2.2.2 Preferências dos agentes ............................................................................ 13
2.2.3 O significado da utilidade.......................................................................... 14
2.3 Eficiência e bem-estar social ........................................................................ 15
2.3.1 Cálculo do bem-estar social ...................................................................... 15
2.3.2 Riqueza vs. Utilidade ................................................................................. 16
3 APLICAÇÕES ................................................................................................. 17
3.1 Mercados competitivos ................................................................................. 17
3.1.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado ............................................... 17
3.1.2 A eficiência do livre mercado sob competição perfeita .......................... 20
3.2 Falhas de mercado ........................................................................................ 22
3.2.1 Concorrência imperfeita: Monopólio....................................................... 22
3.2.2 Externalidades ............................................................................................ 23
3.2.3 Classificação dos bens ................................................................................ 24
3.2.4 Bens públicos e o problema dos “free-riders” ......................................... 26
3.2.5 A Tragédia dos recursos comuns .............................................................. 27
3.3 Falhas informacionais................................................................................... 28
3.3.1 Assimetria de informações ........................................................................ 28
3.3.2 Problema do principal-agente................................................................... 29

3
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Análise Econômica do Direito
3.3.3 Risco moral ................................................................................................. 30
3.3.4 Seleção adversa .......................................................................................... 31
3.4 O Teorema de Coase ..................................................................................... 32
3.4.1 O problema do custo social: como lidar com externalidades................. 32
3.4.2 A negociação como mecanismo de internalização de custos .................. 33
3.4.3 Custos de transação e informações incompletas ..................................... 35
3.4.4 Consequências do Teorema de Coase para o Direito ............................. 36
SUGESTÃO DE CASOS GERADORES ......................................................... 38
JURISPRUDÊNCIA: AED NO BRASIL ......................................................... 41
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 44
Bibliográficas ....................................................................................................... 44
1 Utilizadas .......................................................................................................... 44
2 Complementares .............................................................................................. 47

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Análise Econômica do Direito
ROTEIRO DE ESTUDO
1 INTRODUÇÃO
Nesta primeira parte introdutória, explicamos resumidamente o que é a
Análise Econômica do Direito (AED) e como este curso pretende abordar essa
matéria, ainda pouco conhecida pela maioria dos advogados brasileiros, mas com
importância crescente para o nosso sistema jurídico. Em seguida, são traçados
alguns conceitos iniciais que são de extrema importância, pois indicam diferenças
relevantes entre a forma de pensar dos economistas e dos juristas.

1.1 O que é a Análise Econômica do Direito e por que devemos estudá-la?


Neste curso, você será introduzido à Análise Econômica do Direito - AED
(Law and Economics), um campo de estudos que aplica o instrumental teórico da
Microeconomia à análise das instituições jurídicas. Pode-se dizer que a AED é
essencialmente uma “lente teórica”, a partir da qual podemos interpretar os mais
variados ramos do Direito. Utilizando a AED, obtemos respostas robustas e bem
estruturadas para perguntas de grande pertinência prática, mas que não são
sistematicamente exploradas pela teoria jurídica tradicional. São perguntas que se
referem à promoção da eficiência e às consequências materiais de determinada
norma. Ao final desta aula, você terá entendido um pouco melhor como a AED
formula essas perguntas e busca respondê-las.
Na década de 1880, o interesse dos economistas norte-americanos se voltou
ao ordenamento jurídico, nascendo um intercâmbio importante entre o direito e a
economia. Esta é hoje referida como a primeira onda da análise econômica do
direito. Nela, a AED era frequentemente associada ao estudo do Direito da
Concorrência (Anti-trust Law), havendo ainda alguns trabalhos pioneiros e
exploratórios referentes à regulação de mercados e à intervenção do Estado. Essas
áreas de investigação continuam hoje muito populares e intimamente associadas à
Economia Industrial.
No entanto, a expressão “Law and Economics” consolidou-se após a
publicação de alguns artigos por Ronald Coase e Guido Calabresi em 1960,
alicerçando o seu domínio sobre um conjunto mais amplo de temas, incluindo
propriedade, contratos, responsabilidade civil, criminal, processual, família,

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Análise Econômica do Direito
constitucional, entre outros. Juízes americanos, como Richard Posner, passaram a
aplicar o instrumental teórico da AED em suas decisões, ao mesmo tempo que
economistas consagrados, como Gary S. Becker, vencedor do Prêmio Nobel de
Economia, ampliaram o escopo de investigação da própria ciência econômica. Esta
pode ser qualificada como a segunda onda da análise econômica do direito.
A AED é dividida em dois movimentos em virtude das profundas diferenças
ideológicas que marcaram cada uma dessas fases. Se a primeira onda é uma reação
contra a emergente teoria da utilidade marginal e buscava criar uma alternativa ao
pensamento econômico neoclássico; a segunda foi principalmente inspirada por
esta escola econômica.1
Hoje, esse ramo de análise, que se originou nos países de Common Law,
desperta grande interesse também nos países da Civil Law, pois as sociedades
contemporâneas exigem cada vez mais que o funcionamento do sistema legal seja
eficiente, condição necessária para que as instituições jurídicas promovam o bem-
estar econômico e social. Assim, a abordagem pragmática da AED, centrada em
torno das consequências concretas das normas, é vista como um complemento
indispensável à aplicação adequada do Direito.

1.2 A importância crescente da AED no ordenamento jurídico brasileiro


No Brasil, preocupações com a racionalização da atividade judiciária e com
o funcionamento eficiente da Administração Pública apontam para a crescente
importância do estudo da AED. Concorreram para que a AED começasse a ganhar
destaque no cenário brasileiro trabalhos exploratórios, como o de Gustavo
Binenbojm, que visam à promoção de um Direito mais pragmático e menos
abstrato.
A “virada pragmática” defende que os operadores do Direito enfrentem as
questões legais utilizando-se de interpretações menos filosóficas e mais objetivas.
A urgência do pragmatismo reforça a importância do estudo da AED, pois seus
conceitos econômicos, como eficiência, bem-estar social, minimização de custos,
entre outros, podem auxiliar e incrementar o processo decisório. Além disso, a

1
Hovenkamp, Herbert, The First Great Law & Economics Movement (May 1, 2009). Stanford Law
Review, Vol. 42, p. 993, 1990, U Iowa Legal Studies Research Paper No. 09-22. Acesso em: 04 set
2020. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=1396804.
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Análise Econômica do Direito
própria legislação brasileira começa a indicar a necessidade de inclusão desse tipo
de análise pragmática na implementação e na formulação de normas jurídicas.
Um exemplo claro dessa tendência se manifesta pelas mudanças feitas à Lei
de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) pela Lei nº 13.655/18.
Assim, o artigo 21 da nova LINDB dispõe: “A decisão que, nas esferas
administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.” Tal dispositivo confere explicitamente
um maior espaço ao desenvolvimento e ao uso da AED no Brasil.
Em sentido análogo, a Nova Lei das Agências Reguladoras, Lei nº
13.848/19, estabelece em seu artigo 6º que “A adoção e as propostas de alteração
de atos normativos de interesse geral dos agentes econômicos, consumidores ou
usuários dos serviços prestados serão, nos termos de regulamento, precedidas da
realização de Análise de Impacto Regulatório (AIR), que conterá informações e
dados sobre os possíveis efeitos do ato normativo.”
A Lei nº 13.874/19, por sua vez, estende as hipóteses de necessidade de AIR
em seu artigo 5º, que versa: “as propostas de edição e de alteração de atos
normativos de interesse geral de agentes econômicos ou de usuários dos serviços
prestados, editadas por órgão ou entidade da administração pública federal,
incluídas as autarquias e as fundações públicas, serão precedidas da realização de
análise de impacto regulatório, que conterá informações e dados sobre os possíveis
efeitos do ato normativo para verificar a razoabilidade do seu impacto econômico.”
Ademais, foi aprovada em 2019 a Lei n.º 13.874, que institui a Declaração
de Direitos de Liberdade Econômica e visa a limitar o aumento do número de
medidas regulatórias, condicionar a intervenção estatal a análises prévias
metodologicamente estruturadas e, ainda, reduzir a possibilidade de criação de
barreiras à entrada de agentes econômicos.
Essencialmente, esse novo modelo tem como resultado desejado a
diminuição dos custos de transação incorridos pelos agentes privados. Isto pode ser

7
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Análise Econômica do Direito
percebido de maneira mais clara no art. 4º, V, da Lei2 e será mais detalhadamente
abordado no item 3.4.3.
Observa-se, assim, a importância crescente que vem sendo atribuída pelo
Direito brasileiro à análise de consequências concretas que esses atos geram para
os agentes econômicos. Trata-se de uma nova realidade jurídica que vem exigindo
dos operadores do Direito um domínio cada vez maior do instrumental analítico
utilizado pela AED. Passemos então ao estudo dessa teoria.

1.3 Modelos econômicos


Antes de analisarmos a AED em si, é importante compreender um aspecto
basilar de toda a teoria econômica: o funcionamento dos modelos econômicos.
Toda teoria econômica é articulada a partir de modelos que estipulam pressupostos
sobre o funcionamento da realidade socioeconômica e sobre o comportamento dos
agentes econômicos. Mas o que, exatamente, é um modelo?
Um modelo pode ser entendido como uma espécie de “mapa”, ou seja, uma
representação simplificada da realidade que se destina a permitir a melhor
compreensão de seus aspectos mais importantes. Pode haver diversos mapas de uma
mesma área (hidrográfico, demográfico, rodoviário, etc.), de acordo com o foco da
análise. Em todos os casos, a imagem final não passa de uma representação
extremamente sucinta e simplificada da realidade, mas ainda assim o mapa poderá
ser muito útil par “navegar” o mundo real.
Algo muito parecido ocorre com os modelos econômicos. Valendo-se
desses modelos, os economistas conseguem descrever fenômenos econômicos
extremamente complexos de forma clara e precisa, e assim tornam-se capazes de
tirar conclusões relevantes sobre o funcionamento da realidade econômica. No
entanto, esse ganho analítico de precisão e clareza só pode ser obtido a partir de
uma simplificação da realidade. Essa simplificação radical significa que, ao analisar

2
Art. 4º É dever da administração pública e das demais entidades que se vinculam a esta Lei, no
exercício de regulamentação de norma pública pertencente à legislação sobre a qual esta Lei versa,
exceto se em estrito cumprimento a previsão explícita em lei, evitar o abuso do poder regulatório de
maneira a, indevidamente:
(...)
V - aumentar os custos de transação sem demonstração de benefícios”.
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Análise Econômica do Direito
o modelo, devemos entender quais são os seus pressupostos básicos e tomá-los
como verdadeiros.
Em um primeiro momento, a adesão aos pressupostos de um modelo pode
ser difícil, sobretudo para o estudante que foi treinado a pensar de modo inquisitivo
e crítico. Os modelos econômicos podem lhe parecer excessivamente reducionistas,
irrealistas ou limitados. Mas é importante ter em mente que os modelos que
estudaremos já foram aplicados repetidas vezes à realidade concreta por meio de
estudos empíricos, e se mostraram capazes de produzir conclusões sofisticadas e
prognósticos úteis.

1.4 Custos econômicos


Em todos os modelos econômicos estudados nesse curso, ao utilizar o
conceito de custo, estamos sempre nos referindo aos custos econômicos. Essa
distinção é importante porque o uso da palavra “custo” em sentido lato geralmente
engloba apenas os custos contábeis, que são mais restritos do que os custos
econômicos. Os custos contábeis são mais facilmente mensuráveis, pois incluem
sobretudo aquilo que é efetivamente pago, ou seja, o dispêndio monetário
decorrente de determinada operação econômica. No entanto, a teoria econômica
parte de um conceito de custo bem mais amplo.
A diferença entre os custos contábeis e os custos econômicos são os
chamados custos de oportunidade. Toda escolha envolve custos de oportunidade.
Podemos imaginar, por exemplo, alguém que esteja cogitando comprar um carro.
Ao analisar os custos contábeis da compra do carro, essa pessoa considerará o preço
pago pelo veículo, além de outros dispêndios diretamente relacionados à compra
do carro, como seguro contra roubos e acidentes, IPVA, etc. No entanto, esses
custos não são suficientes para caracterizar integralmente o custo econômico do
carro. Para tanto, teremos que olhar para a melhor alternativa à compra do carro.
Supondo que aquela pessoa deixaria o dinheiro investido se não fosse comprar o
carro, o custo de oportunidade seriam os juros recebidos por esse investimento, ou
seja, os juros que ela ganharia se não tivesse comprado o carro. Ao decidir comprar
o carro, ela está escolhendo deixar de ganhar esses juros.
O custo de oportunidade é, portanto, o valor da melhor alternativa à decisão
tomada. Sempre que tomamos uma decisão, abrimos mão de algo, de alguma
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Análise Econômica do Direito
segunda melhor escolha que não poderá mais ser usufruída. Assim, é fácil constatar
que ignorar os custos de oportunidade seria o mesmo que desconsiderar o valor do
tempo, que é um recurso escasso para todos nós. Quando escolhemos passar uma
manhã estudando, não podemos passar aquela mesma manhã na praia, ou no
cinema. Perdemos a oportunidade de usufruir dessas alternativas para poder levar a
cabo nossa melhor opção. O custo de oportunidade de estudar naquela manhã
equivale ao valor da melhor alternativa para o uso do nosso tempo, pois estamos
escolhendo abrir mão dessa alternativa.
O emprego do dinheiro, assim como o do tempo, têm sempre um custo de
oportunidade, que pode ser a taxa de retorno de um bom investimento, ou o uso do
dinheiro para outra finalidade conveniente. Dessa forma, custos de oportunidade
estão presentes por toda a parte e têm uma importância central para a teoria
econômica.

2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANÁLISE ECONÔMICA


Nesta seção, serão revistos alguns dos conceitos mais básicos, que
perpassam praticamente todos os modelos de análise microeconômica. São os
conceitos mais basilares da Microeconomia e, por extensão, da AED. A
compreensão cuidadosa desses conceitos é fundamental para que o estudante tenha
facilidade em compreender, posteriormente, as inúmeras aplicações da
microeconomia a diferentes áreas do Direito.

2.1 Dimensões da análise econômica


A AED pode ser compreendida a partir de duas dimensões distintas,
chamadas de dimensão descritiva e dimensão normativa. Essa divisão tem um papel
essencialmente didático, pois, na prática, as duas dimensões são complementares e
os limites entre uma e outra, em muitos casos, não são rigidamente definidos. No
entanto, a divisão entre as dimensões permanece bastante útil para a compreensão
da disciplina.

2.1.1 Dimensão descritiva


A dimensão descritiva é talvez a mais importante da AED, sendo a faceta
que busca entender quais são os reais impactos da norma na conduta dos indivíduos.
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Responderá a perguntas como: Essa lei afetará o comportamento dos regulados? De
que maneira? Como os indivíduos reagirão aos incentivos criados por essa lei ou
interpretação legal?
É importante notar que, muitas vezes, o legislador possui determinado
objetivo, mas os incentivos criados pela norma não atingem ou vão em sentido
contrário a esses objetivos. Isso porque os indivíduos tendem a se adaptar às regras,
ou seja, não se pode prever as consequências de determinada inovação normativa
partindo apenas da forma como as relações socioeconômicas se apresentam no
momento presente. É necessário antecipar como os indivíduos reagirão à nova
norma, como serão as novas relações socioeconômicas depois do estabelecimento
da norma.
Há inúmeros exemplos históricos de políticas públicas que não anteciparam
adequadamente as respostas dos agentes aos quais se destinavam, e acabaram por
gerar resultados opostos aos pretendidos. Assim, quando a Diretoria Geral de Saúde
Pública estabeleceu, em 1904, uma política de “compra de ratos mortos” para
incentivar os moradores do Rio de Janeiro a caçar esses animais, visando diminuir
a proliferação de doenças contagiosas na capital, o resultado foi que muitos
indivíduos começaram a criar ratos em casa para vendê-los ao governo. O exemplo
é quase cômico, mas mostra como uma falha na avaliação cuidadosa dos incentivos
criados por uma nova norma pode comprometer os resultados inicialmente visados
pelo legislador.

2.1.2 Dimensão normativa


A dimensão normativa dá um passo além da simples descrição de como os
agentes econômicos agirão diante de determinada norma. Esse tipo de análise
requer uma comparação entre as consequências das diferentes normas possíveis,
para que possam ser elencadas aquelas que trarão os melhores resultados em termos
de eficiência e bem-estar social.
Aqui se coloca a questão de como o bem-estar social e a eficiência devem
ser definidos. Veremos que existem diferentes conceitos de eficiência e de bem-
estar, mas ainda assim cada uma dessas formulações é razoavelmente precisa, tendo
um significado econômico mensurável. Enquanto os juristas estão acostumados a
operar conceitos abertos, que devem ser interpretados e aplicados a diferentes
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Análise Econômica do Direito
contextos, assumindo um valor polissêmico, os economistas, por sua vez, buscam
o maior nível possível de precisão analítica. Afinal, a teoria econômica deve ser
capaz de permitir análises de custo-benefício, ou seja, a partir dos modelos
econômicos deve ser possível comparar objetivamente as diferentes opções e
escolher aquela que maximiza a eficiência.
A dimensão normativa suscita ainda uma série de questões ligadas às
relações entre justiça e eficiência. Devemos escolher a norma mais eficiente ou a
norma mais justa? Justiça e eficiência são sempre complementares, ou será que em
alguns casos torna-se necessário escolher entre a promoção da justiça e a promoção
da eficiência? Tais questões fornecem o fundo filosófico da AED, sendo objeto do
estudo de cientistas políticos, filósofos e juristas. Por essa razão, voltaremos a
elas muitas vezes ao longo de todo o curso.

2.2 Agentes racionais


2.2.1 A teoria da escolha racional
Como, então, a AED pretende prever os resultados futuros de uma
determinada norma?
Em primeiro lugar, a AED parte de um modelo acerca da forma como os
indivíduos tomam decisões, Teoria da Escolha Racional. A ideia central desse
modelo é que os agentes são racionais, ou sejam, tomam decisões de forma a
maximizar os resultados de suas ações a partir de uma análise de custos e benefícios.
Estes custos e benefícios são avaliados segundo as preferências dos agentes e o
conjunto de informação disponível no momento da avaliação. Esse modelo aplica-
se tanto a decisões de natureza estritamente econômica, quanto a decisões tomadas
em outros contextos (político, social, cultural, etc.).
Diz-se que esse tipo de análise é consequencialista porque o indivíduo leva
em conta o que vai acontecer (em termos probabilísticos) depois de tomada a
decisão, e não as causas que levaram à necessidade de tomar uma decisão. Os
agentes econômicos preocupam-se com o futuro e não com o passado (uma vez que
este não pode ser modificado).
Evidentemente, esse modelo possui limitações. A Teoria da Escolha
Racional interpreta tendências importantes do comportamento do ser humano
médio, mas não descreve bem o comportamento de cada indivíduo particular. Em
12
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Análise Econômica do Direito
outras palavras, assume-se que os desvios individuais do padrão de comportamento
racional são em grande medida aleatórios, de modo que vão se cancelar, fazendo
com que as pessoas, na média, se comportem como seres racionais. De tal modo,
não se propõe que as pessoas, a nível individual, se comportem sempre de forma
racional, mas sim se consideradas no agregado.
Analisaremos posteriormente como esse pressuposto de racionalidade
individual vem sendo questionado pela Economia Comportamental (Behavioral
Economics), uma vertente do pensamento econômico que busca entender em que
medida os seres humanos não são racionais, e possuem desvios sistemáticos de
racionalidade. Contudo, tomaremos a racionalidade individual como um
pressuposto básico, e veremos como é possível chegar a muitas conclusões
interessantes partindo desse ponto.

2.2.2 Preferências dos agentes


A Teoria da Escolha Racional parte de dois conceitos essenciais:
“preferências” e “utilidade”. O conceito de preferências refere-se ao gosto particular
do agente, que é aferido a partir de suas escolhas precedentes.
Por exemplo: alguns indivíduos preferem beber chá de manhã, enquanto
outros bebem café, suco, etc. Essas são diferenças de preferências entre os agentes.
A utilidade, por sua vez, é o nível final de “satisfação” que o agente espera extrair
de uma dada escolha, dadas as suas preferências. Uma xícara de chá terá uma
utilidade maior para um indivíduo que toma chá e gosta da bebida, se compararmos
a um indivíduo que só bebe café.

Dizemos que, se a opção A é preferida à opção B (A ≿ B), a utilidade de A

é maior que a utilidade de B (𝒰(A) > 𝒰(B)). A teoria admite também a hipótese em

que o indivíduo é completamente indiferente entre duas opções A e B (A ~ B) e,

nesse caso, a utilidade associada às duas opções é considerada equivalente (𝒰(A) =

𝒰(B)).

Assim, os modelos utilizados pela AED partem de premissas básicas sobre


o que são custos e o que são benefícios, ou seja, como diferentes aspectos relevantes
do fenômeno estudado afetam os agentes econômicos. Que variáveis geram custos
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Análise Econômica do Direito
para os agentes? Que variáveis geram benefícios? Com essas perguntas, estimamos
quais são as preferências gerais dos agentes.
Em alguns casos, é bastante simples distinguir quais são os custos e quais
são os benefícios e até medi-los quantitativamente. Em outros casos, pode ser
bastante difícil distinguir custos e benefícios, ou compará-los objetivamente. O
custo ambiental é um exemplo de um custo muito debatido na atualidade, devido à
dificuldade de se definir com precisão sua dimensão e de “precificar” esse tipo de
custo para compará-lo com outros valores.

2.2.3 O significado da utilidade


Além disso, não se deve pensar que a utilidade tem sempre um valor
numérico definido, nem que ela pode ser facilmente associada a um valor
pecuniário específico, pois isso seria limitar excessivamente as preferências dos
agentes.
Quando os economistas estudam um fenômeno bem precificado, ou seja,
quando as opções têm um valor monetário definido, é possível tomar esses valores
pecuniários como base para a análise. Diz-se, por exemplo, que se o agente prefere
chá a café, ele estará disposto a pagar um preço maior por uma xícara de chá, em
comparação ao que ele pagaria por uma xícara de café. Como chá e café são
produtos com preços de mercado razoavelmente bem definidos, podemos
identificar quantitativamente essa preferência olhando para o orçamento e as
escolhas de gasto do agente.
No entanto, em muitos casos não é possível aproximar as preferências dos
agentes em termos monetários, pois essas preferências podem ser bastante
diversificadas, de acordo com o contexto específico que está sendo estudado. Ao
analisar o instituto da delação premiada, por exemplo, podemos estipular que os
agentes buscam reduzir o seu tempo de prisão. Não é necessário atribuir um valor
monetário a cada ano de prisão para prever o comportamento desses agentes, basta
pressupor que as escolhas que reduzem o tempo de prisão serão vistas como
preferíveis, ou seja, terão uma utilidade maior para esses agentes. Dizemos,
portanto, que as opções que diminuem o tempo de prisão têm uma utilidade maior
para o agente, ainda que não se possa quantificar com precisão essa utilidade.

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Análise Econômica do Direito
2.3 Eficiência e bem-estar social
2.3.1 Cálculo do bem-estar social
Na linguagem comum, o termo eficiência é associado ao dinamismo da
iniciativa privada, ao empreendedorismo do mundo dos negócios, e essencialmente
à ideia de riqueza. No entanto, em uma acepção mais geral, o termo eficiência
refere-se apenas à otimização de alguma medida de valor. Diante de uma realidade
marcada pela escassez, o que se busca é otimizar o uso de recursos considerados
importantes para aumentar a produção de algum valor específico. Nesse sentido, o
termo eficiência designa apenas uma regra de maximização.
Na análise econômica, a eficiência equivale à maximização do “bem-estar
social". Trata-se de uma medida de agregação do nível de utilidade aferido por cada
membro de uma determinada sociedade em face das consequências resultantes de
determinada escolha política, jurídica ou social. Essa medida não é ambígua, como
no uso cotidiano da expressão “bem-estar”, pelo contrário, ela tem um significado
econômico bastante concreto e, por isso, precisamos de uma compreensão
pormenorizada desse significado.
Como vimos, a Teoria da Escolha Racional presume que o indivíduo
racional tem preferências em relação a quaisquer estados de coisas; ou seja, associa
um nível de utilidade a diferentes situações reais. A utilidade é a medida que orienta
as escolhas dos indivíduos e designa o seu nível geral de satisfação diante dos
variados cenários que enfrenta. O bem-estar social, por sua vez, é a agregação de
todos os níveis de utilidade de todos os indivíduos de uma sociedade.
Podemos calcular essa agregação por meio de um somatório simples. Para
exemplificar esse cálculo, consideraremos uma sociedade hipotética formada por
três indivíduos: João, Pedro e Maria. A fórmula do bem-estar social neste caso seria
dada pela soma dos níveis de utilidade de cada um dos três membros desta
sociedade, ou seja:

Bem-Estar Social = Utilidade de João + Utilidade de Pedro + Utilidade de


Maria
Desta forma, afirmar que o conceito de eficiência está associado à
maximização da fórmula do bem-estar social, é afirmar que será considerada

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Análise Econômica do Direito
eficiente toda medida que tiver como consequência a maior satisfação do maior
número de indivíduos de uma sociedade. Veremos a seguir, contudo, que a
aplicação prática desse parâmetro oferece ainda alguns desafios.

2.3.2 Riqueza vs. Utilidade


A fórmula do bem-estar social é definida a partir da ideia de utilidade. No
entanto, como vimos, a utilidade não pode ser diretamente medida ou igualada a
um valor pecuniário. Não é possível atribuir um preço a todos os fatores que
interferem sobre as escolhas dos indivíduos e afetam o seu nível de satisfação
pessoal. Por essa razão, em muitos casos outras medidas mais objetivas são
utilizadas como uma “aproximação” da utilidade. A medida mais utilizada para
aproximar a utilidade na análise econômica tradicional é o nível de riqueza.
A substituição do nível de utilidade pelo nível de riqueza tem algumas
implicações para a teoria. A principal decorre do fato de que as pessoas podem
associar utilidade à própria escala de valor, ou seja, podem ter preferências distintas
em relação ao dinheiro. Um indivíduo que possui um orçamento reduzido pode
atribuir mais valor a uma pequena quantidade de dinheiro do que uma pessoa com
renda elevada. Esta ideia é importante porque ela é o fator de distinção determinante
ao analisar os dois critérios de eficiência estabelecidos pela economia clássica: a
eficiência de Kaldor-Hicks e a eficiência de Pareto.
O critério da eficiência de Kaldor-Hicks estabelece o parâmetro do
somatório simples dos níveis de utilidades dos indivíduos da sociedade, como visto
com a fórmula do bem-estar social. Segundo esse critério, buscamos qualquer
solução que maximize o valor final do somatório. Essa medida, contudo, enfrenta
um problema importante: ela compara os ganhos e perdas de diferentes indivíduos
como se eles tivessem um peso igual. É fácil perceber que isso nem sempre condiz
com a realidade.
Basta imaginar uma regra que afete apenas dois indivíduos: o primeiro tem
uma renda muito baixa que será reduzida a zero, o segundo tem uma renda muito
alta que será dobrada. Essa regra seria eficiente pelo critério de Kaldor-Hicks, pois
o ganho do indivíduo rico foi quantitativamente maior do que a perda do indivíduo
pobre. Mas será que essa norma maximiza a utilidade? Será que ter perdido toda a

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Análise Econômica do Direito
sua renda não deixou o indivíduo pobre mais insatisfeito do que o ganho de
satisfação do indivíduo que dobrou uma renda que já era alta?
Por conta de problemas como esse, suscitados pela aplicação rígida do
critério de eficiência de Kaldor-Hicks, muitas vezes utilizamos na AED a ideia de
eficiência de Pareto. Para que haja uma melhora no sentido de Pareto, é necessário
que um ou mais indivíduos melhorem sua situação sem que ninguém enfrente
perdas. Ou seja, o critério de eficiência de Pareto considera ineficiente quaisquer
medidas que gerem perdas a algum indivíduo. Somente medidas que geram ganhos
sem gerar perdas são consideradas eficientes. Assim, o modelo de eficiência de
Pareto evita a necessidade de comparar ganhos e perdas de indivíduos distintos.
Apesar de ser mais restrito do que o critério de Kaldor-Hicks, o critério de
eficiência de Pareto pode ser mais flexível do que parece à primeira vista. Vamos
voltar ao exemplo anterior, à análise de uma medida que retira toda a renda de um
indivíduo de renda mais baixa para dobrar a renda de um indivíduo que já era rico.
Nessa formulação inicial, a medida é eficiente no sentido de Kaldor-Hicks, mas não
eficiente no sentido de Pareto, pois ela gera uma perda para um dos membros da
sociedade. No entanto, é possível “consertar” esse problema: basta exigir que o
indivíduo rico, que dobrou sua renda, utilize uma parte do seu ganho para devolver
ao outro indivíduo a renda que ele havia perdido.

3 APLICAÇÕES
Nesta terceira parte da aula estudaremos algumas aplicações dos conceitos
estudados até aqui. Veremos alguns dos modelos econômicos mais básicos, os quais
servem frequentemente como ponto de partida para a AED.

3.1 Mercados competitivos


3.1.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado
Partindo dos conceitos definidos até aqui e adotando algumas premissas
bastante flexíveis a respeito das preferências econômicas dos agentes, podemos
chegar às leis da demanda e da oferta e ao princípio do equilíbrio eficiente dos
mercados perfeitamente competitivos.
A Lei da Demanda estabelece uma relação inversa entre o preço de um
bem e a quantidade demandada pelos consumidores. Para compreender essa
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Análise Econômica do Direito
relação, basta pensar que a um preço elevado, poucos consumidores comprarão o
bem, ao passo que, à medida que o preço decresce, uma quantidade maior daquele
bem será demandada. Essa relação é uma consequência lógica da Teoria da Escolha
Racional se considerarmos que o bem é escasso e desejável por consumidores com
graus de preferência e capacidade de pagamento diferentes. Podemos então
representar a Lei da Demanda por uma curva decrescente em um gráfico que

relaciona o preço do bem à quantidade demandada, como na figura 1.

A Lei da Oferta, por sua vez, estabelece uma relação direta entre o preço e
a quantidade ofertada, ou seja, a quantidade do bem que as empresas que atuam
naquele mercado estarão dispostas a ofertar. As empresas buscam obter o maior
lucro possível, equilibrando receita (preço x quantidade vendida) e os custos de
produção. Nesse caso, quanto maior for o preço do bem, mais as empresas
conseguirão produzir e ofertar, tendo em vista as diferentes estruturas de produção
e os custos específicos que cada empresa enfrenta para produzir. Essa relação pode
ser descrita por uma curva crescente, como a da figura 2.

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Análise Econômica do Direito
A partir das curvas de demanda e de oferta, podemos encontrar o preço que
iguala a quantidade demandada à quantidade ofertada. Esse ponto descreve um
equilíbrio eficiente nos chamados “mercados perfeitamente competitivos”. Nesse
tipo de mercado, o bem analisado é homogêneo, ou seja, não há qualquer diferença
de qualidade entre o bem oferecido por uma ou outra empresa, todos os ofertantes
oferecem o mesmo bem. Além disso, os consumidores e ofertantes são tomadores
de preço, o que significa que há um número suficientemente grande de empresas e
consumidores para que ninguém consiga influenciar diretamente o preço.
Sob essas condições, os mercados competitivos tendem sempre ao
equilíbrio entre a oferta e a demanda, como se fossem guiados por uma “mão
invisível”, na expressão consagrada por Adam Smith. A um preço superior ao preço
de equilíbrio, os consumidores demandam menos do que está sendo ofertado, ou
seja, há um excesso de oferta, sobram produtos nas lojas, e o preço tende a cair. A
um preço inferior ao preço de equilíbrio, os consumidores demandam mais do que
a quantidade que está sendo ofertada, há um excesso de demanda, os consumidores

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Análise Econômica do Direito
fazem filas nas portas das lojas e os ofertantes percebem que podem elevar o preço

cobrado, ou seja, o preço tende a subir. A figura 3 representa essas relações.


Esse resultado é uma consequência necessária das escolhas racionais dos
agentes, descritas pelas leis da demanda e da oferta, sob as condições descritas no
modelo dos mercados perfeitamente competitivos. Em seguida, vamos analisar
porque esse equilíbrio é eficiente.

3.1.2 A eficiência do livre mercado sob competição perfeita


Para medir os efeitos de uma economia de mercado sobre o bem-estar social,
devemos primeiramente entender quais são os ganhos dos ofertantes e
consumidores, ou seja, como o equilíbrio final afeta o bem-estar de cada
participante no mercado. Para isso, calculamos os excedentes gerados pelas
transações econômicas que ocorrem no mercado. Podemos aferir isso
objetivamente quando conhecemos as curvas de oferta e de demanda.
Sabemos que a curva de demanda indica quantas unidades do bem seriam
demandadas pelos consumidores a cada preço. A curva de demanda indica,
portanto, quanto os consumidores estão a pagar pelo produto. A partir desse dado,
podemos calcular o valor que os consumidores estão “ganhando” ao praticarem o
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Análise Econômica do Direito
preço de mercado, ou seja, a diferença entre o preço que eles pagam e o preço
máximo que estariam dispostos a pagar. A soma desses valores para todos os
consumidores do mercado é chamada de excedente do consumidor. Esse montante
representa o ganho monetário total que os consumidores adquirem no mercado.
Analogamente, podemos calcular o excedente do produtor. Partimos do
preço mínimo necessário para que os produtores ofertem uma dada quantidade do
produto, que é o custo econômico dos produtores para uma dada quantidade
ofertada. Calculamos em seguida a diferença entre esse preço mínimo, para cada
quantidade, e o preço efetivamente praticado no mercado, e chegamos então ao
excedente do produtor. As áreas sombreadas na figura 4 representam o montante

total dos excedentes econômicos gerados pelo mercado em concorrência perfeita.


Dizemos que o livre mercado sob concorrência perfeita é eficiente porque
qualquer ingerência externa sobre o preço geraria perdas de excedente. Veremos a
seguir, contudo, que as condições ideais estipuladas pelo modelo da concorrência
perfeita são pouco realistas e que, em muitos casos, os mercados não funcionam de
acordo com as hipóteses estabelecidas pela teoria.

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Análise Econômica do Direito
3.2 Falhas de mercado
A seguir, vamos analisar as chamadas falhas de mercado, que são condições
nas quais o equilíbrio eficiente descrito até aqui não é atingido espontaneamente
pelo livre-mercado. Nesses casos, há algum fator que impede o mecanismo de livre-
mercado de atingir o equilíbrio eficiente. As falhas de mercado são utilizadas pelos
economistas para analisar as situações em que a intervenção do Estado pode ser
necessária, embora haja muito debate a esse respeito entre diferentes correntes
econômicas. Alguns economistas defendem a intervenção do Estado sempre que
for constatada uma falha de mercado, para corrigi-la. Outros argumentam que a
atuação do Estado também apresenta falhas e que, em muitos casos, o Estado não é
capaz de corrigir as falhas de mercado adequadamente, gerando mais custos do que
benefícios. Permanece na teoria econômica um debate em aberto a respeito do nível
desejável de atuação do Estado diante das falhas de mercado. Para compreender
esse debate, primeiro analisemos quais são as falhas de mercado.

3.2.1 Concorrência imperfeita: Monopólio


Como vimos, uma das premissas básicas de mercados perfeitos é que ambos
os lados, os consumidores e os fornecedores, são tomadores de preço. Em outras
palavras, nenhuma das partes nas transações é capaz de determinar unilateralmente
qual o valor da transação. Evidentemente, a situação que se descreve não é a de
haver um preço determinado por um governante que todos devem seguir, mas sim
que, pelo grande número de consumidores e fornecedores, uma parte não é capaz
de impor seus interesses sobre a outra, uma vez que sempre haverá um substituto.
Por exemplo, um fornecedor em um mercado perfeito – competitivo - não
conseguirá aumentar unilateralmente seu preço uma vez que se tentar fazê-lo o
consumidor poderá comprar de outro fornecedor com o preço mais baixo.
Uma observação que deve ser feita é que o preço utilizado como parâmetro
é o definido pelo mercado e, de acordo com a teoria econômica, será equivalente
ao custo econômico total enfrentado por cada ofertante. Esse custo econômico
abrange todos os gastos do ofertante para produzir, mas também os chamados
custos de oportunidade do dos investimentos de recursos, tempo, know-how, etc.
Sob competição perfeita, os ofertantes são forçados a reduzir seu preço até o custo
econômico.
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Análise Econômica do Direito
O monopólio ocorre em situações em que alguma das partes da transação
tem a capacidade de impor seus próprios interesses no mercado pela falta de
competidores. A empresa monopolista não é, portanto, tomadora de preços, ela
pode influenciar diretamente a quantidade ofertada e o preço cobrado.
Visando maximizar seus ganhos, o monopolista irá aumentar o preço do
mercado, o que ocasionará uma queda da demanda. Assim, o monopolista cria uma
restrição artificial da oferta para cobrar um preço mais elevado, aumentando seu
próprio lucro às custas dos consumidores. Isto ocorre somente até certo limite, pois
à medida que o monopolista aumenta seu preço, um número menor de
consumidores estará disposto a comprar o produto. O desafio do monopolista é
determinar o preço ótimo para equilibrar o aumento do lucro na venda de cada
produto individualmente e a diminuição da demanda gerada pelo aumento do preço.
Essa análise leva em consideração a estrutura da própria firma (receita marginal,
custo médio e custo marginal) e também a estrutura da demanda.

3.2.2 Externalidades
Mercados perfeitos também pressupõem que os benefícios e custos de cada
transação somente são sentidos pelas partes da respectiva transação. Não podem
ocorrer as chamadas externalidades, ou seja, efeitos negativos ou positivos que são
produzidos pelo mercado sobre terceiros, sem que seus custos e benefícios sejam
devidamente incluídos no mecanismo de preços do mercado. Podemos ter dois tipos
diferentes de externalidade.
As externalidades negativas são as mais comuns. Elas ocorrem toda vez
que o mercado gera prejuízos sobre terceiros sem que esses custos sejam
precificados dentro do mercado. A poluição é um exemplo clássico de externalidade
negativa, pois gera efeitos negativos sobre o meio ambiente. Esses efeitos são
repassados para todos os membros da sociedade, mesmo aqueles que não
participam do mercado. Em regra, o preço do produto não reflete adequadamente o
custo social gerado pela poluição. Apenas os custos privados são contabilizados
pela oferta do mercado. Ignorando esse custo social, a estrutura de livre-mercado
produz em excesso, acima do nível ótimo social, o que gera uma perda de bem-
estar.

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Análise Econômica do Direito
No caso das externalidades positivas, em contrapartida, ocorre
precisamente o fenômeno inverso. Existem ganhos sociais relevantes que não são
integralmente percebidos ou remunerados no interior do mercado, o que leva a uma
exploração sub-ótima daquela atividade. A educação é uma atividade
frequentemente associada às externalidades positivas. Os integrantes do mercado
buscam educar-se para garantir o seu próprio bem-estar, ou seja, levam em
consideração os seus próprios objetivos pessoais, suas perspectivas de emprego e
salário, seus gostos e preferências individuais. No entanto, o aumento da educação
dos indivíduos gera uma série de benefícios para a sociedade como um todo, pois
está associado à diminuição de crimes violentos, à melhoria de padrões de vida, ao
próprio funcionamento das instituições públicas, entre outros. Ou seja, o valor
social gerado pela educação é superior ao valor privado percebido pelos indivíduos
que buscam educar-se.
As externalidades geram, portanto, uma diferença entre o resultado do ponto
de vista social, e o equilíbrio praticado no interior do mercado. Como então
podemos solucionar esse problema? O remédio típico preconizado pelos
economistas para a solução das externalidades é a internalização desses fatores
externos, ou seja, por meio de uma norma estatal, busca-se reinserir no mercado os
efeitos externos daquela atividade econômica. Isso pode ser feito por meio da
imposição de tributos sobre atividades que possuam externalidades negativas, ou
de subsídios ou incentivos fiscais para atividades que possuam externalidades
positivas. A principal dificuldade que emerge do equacionamento adequado das
externalidades, contudo, é que, para que a solução eficiente seja encontrada, o
montante de externalidades geradas pelo mercado deve ser conhecido da autoridade
reguladora, o que nem sempre ocorre na prática.

3.2.3 Classificação dos bens


Até agora tratamos de mercados que transacionam bens, mas não
oferecemos uma classificação econômica dos tipos de bem. Os economistas
classificam os bens a partir de dois critérios principais: exclusão e rivalidade.
Um bem é excludente sempre que podemos impedir que um indivíduo em
particular desfrute daquele bem. A propriedade privada via de regra segue a lógica
da exclusão, pois dizemos que ela traz efeitos erga omnes, ou seja, o proprietário
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Análise Econômica do Direito
tem o direito de excluir todos os demais do uso daquele bem. No entanto, quando
os economistas se referem a um bem, eles não estão necessariamente se referindo a
um objeto que possa ser guardado. Assim, do ponto de vista econômico, existem
bens que não são excludentes, porque, na prática, é muito difícil ou impossível
impedir que alguém desfrute deles. Um exemplo é a iluminação pública. Quando
garantimos a iluminação adequada de uma área, todas as pessoas que utilizam
aquela área serão imediatamente beneficiadas. Não é possível, na prática, selecionar
quem será beneficiado pela luz e quem não será beneficiado, todos que transitem
por aquela área de noite serão beneficiados. Por isso, dizemos que a iluminação
pública é um exemplo de bem não excludente.
Um bem é rival, por outro lado, quando o seu consumo por um indivíduo
diminui a disponibilidade do bem para os demais. Podemos pensar em uma maçã:
a maçã é um bem rival porque se um indivíduo come a maçã, um outro indivíduo
não poderá comer a mesma maçã. Mas, novamente, podemos pensar em bens que
não são rivais. Vamos pensar em uma apresentação de fogos de artifício. Quando
um indivíduo tem prazer admirando os fogos de artifício, isso não diminui em nada
o prazer de um segundo indivíduo que está ao lado dele admirando a mesma
apresentação. Ao desfrutar do bem, um indivíduo não diminui a disponibilidade do
bem para os demais. Por isso, dizemos que uma apresentação de fogos de artifício
é um bem não rival.
Partindo desses dois critérios de classificação, podemos descrever as quatro
categorias existentes de bens econômicos: (1) os bens privados, que são
excludentes e rivais; (2) os bens públicos, que são não excludentes e não rivais, (3)
os recursos comuns, que são não excludentes e rivais; e (4) os monopólios
naturais ou bens de clube, que são excludentes e não rivais.
Das quatro categorias de bens econômicos, apenas uma não oferece nenhum
desafio à lógica do livre-mercado: os bens privados. Essa é a categoria de bem
analisado tradicionalmente no modelo dos mercados sob competição perfeita. As
demais categorias, por sua vez, suscitam falhas de mercado. Analisaremos a seguir
algumas delas.

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Análise Econômica do Direito
3.2.4 Bens públicos e o problema dos “free-riders”
Como afirmamos anteriormente, os bens públicos são aqueles que não são
nem excludentes nem rivais. Isso significa que não podemos impedir que um
indivíduo em particular desfrute daquele bem, e que o benefício gerado para cada
indivíduo não afeta a disponibilidade do bem para os demais. Um exemplo de bem
público seria a segurança. Com efeito, não podemos impedir que um membro
específico de uma sociedade se beneficie da segurança pública, pois a garantia de
segurança gera benefícios, necessariamente, para todos. Por outro lado, ao desfrutar
da segurança pública, o indivíduo não diminui a disponibilidade desse bem para os
demais.
O problema de bens públicos como a segurança é que eles não podem ser
apropriáveis por ninguém em particular e, como consequência, eles também não
são facilmente transacionáveis. Como não é possível excluir um indivíduo do
usufruto do bem, mesmo que uma empresa privada tente vender aquele bem, ela
não vai conseguir. Os indivíduos podem simplesmente não pagar o preço e
continuarão desfrutando do bem. Chamamos esses indivíduos que desfrutam de um
bem sem pagar pelos custos do bem de “caronas” ou “free-riders”. A principal
forma de combater os caronas é a existência de uma regra que imponha ao carona
a obrigação de contribuir para financiar os custos do bem de que desfruta.
Nos edifícios de apartamentos privados, são prestados serviços a todos os
moradores (portaria, elevadores, segurança, etc.) e, para que esses serviços possam
ser mantidos, é necessário que todos os moradores paguem um valor de
condomínio. Na sociedade, de maneira mais ampla, algo similar acontece: o Estado
presta uma série de serviços indispensáveis ao bem comum e, para financiar essas
atividades, cobra impostos dos cidadãos. A teoria econômica atribui ao Estado o
papel de prover bens públicos para a sociedade. O problema com esse sistema,
entretanto, é que ele não dispõe de um mecanismo de controle de eficiência
equivalente ao que existe nos mercados. Como não é possível criar um mercado
para comprar e vender bens como segurança, bens desse tipo não possuem um preço
bem definido. Do ponto de vista econômico, isso gera problemas.
O principal desses problemas decorre do fato de que é muito difícil realizar
análises de custo e benefício de bens que não têm um parâmetro adequado de
preços. Não há uma referência objetiva para determinar o quanto o Estado deve
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Análise Econômica do Direito
gastar em segurança, ou mesmo se uma determinada política custosa, mas que traga
benefícios em termos de segurança, deve ou não ser implementada. Quanto vale a
segurança? Não podemos dizer com precisão, e, sem essa informação, não podemos
saber quanto exatamente devemos gastar com a segurança. Na maior parte dos
casos, políticas públicas destinadas a fornecer bens como segurança partem de
parâmetros bastante ambíguos de quanto o Estado pode gastar e buscam
implementar as medidas mais eficazes o possível com um orçamento pré-
determinado.

3.2.5 A Tragédia dos recursos comuns


Como vimos, os recursos comuns são bens que são rivais e não excludentes.
Isso significa que não podemos excluir um indivíduo em particular do acesso ao
bem, mas ao consumir aquele bem, o indivíduo diminui a disponibilidade para os
demais. Ora, não é difícil imaginar o que pode acontecer com um bem assim: a
exploração predatória e excessiva do bem. Essa é exatamente a previsão da teoria
econômica, que descreve essa situação como a “tragédia dos recursos comuns”.
A tragédia dos recursos comuns evidencia a importância do direito de
propriedade para a preservação e a exploração adequada dos bens. Para entender
esse fenômeno, podemos utilizar um exemplo histórico concreto: a revolução
agrícola vivenciada pela Inglaterra pouco antes da revolução industrial. Um dos
fatores apontados pelos historiadores e economistas como uma condição importante
para que a Inglaterra viesse a assumir um papel de pioneirismo na revolução
industrial foi justamente a política dos “enclosures” ou cercamentos, que viabilizou
uma revolução agrícola naquele país. Essa política consistiu na concessão de títulos
privados de propriedade sobre terras que anteriormente eram consideradas
comunais, ou seja, eram exploradas coletivamente.
A exploração coletiva da terra permitia um amplo acesso à terra nos campos
ingleses, mas, por outro lado, reduzia a eficiência da exploração econômica da terra.
Como ninguém detinha a propriedade exclusiva das terras comunais, os agricultores
exploravam excessivamente a terra e deixavam de adotar medidas preventivas para
garantir a produtividade da terra. Quanto mais cada indivíduo explorasse aquelas
terras, mais ganho pessoal ele obtinha; já as perdas geradas pela depredação das

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Análise Econômica do Direito
terras eram coletivizadas, ou seja, recaíam sobre o grupo, e não sobre aquele
indivíduo em particular. Com a política dos cercamentos, cada lote de terra foi
atribuído a um proprietário exclusivo. Esses proprietários passaram a preocupar-se
em utilizar técnicas mais avançadas de cultivo, para aumentar a produtividade da
terra no médio e longo prazo. O resultado foi um aumento muito expressivo da
produção agrícola inglesa naquele período.
Esse exemplo evidencia como os direitos de propriedade são instrumentos
relevantes. Em muitos casos, direitos de propriedade podem ser utilizados para
transformar recursos comuns em bens privados, reduzindo o problema da
exploração predatória.

3.3 Falhas informacionais


O último grupo de falhas de mercado de que vamos tratar decorre de
problemas informacionais, ou seja, da ausência de informações adequadas para os
agentes que atuam no mercado. As falhas informacionais são bastante
diversificadas, e nesse estudo inicial serão explorados, de forma introdutória, três
conceitos importantes ligados às falhas informacionais. Trataremos dos conceitos
de: assimetria de informações, seleção adversa e risco moral.

3.3.1 Assimetria de informações


A assimetria de informações ocorre quando os agentes que atuam em um
determinado mercado possuem níveis diferentes de informações sobre os bens que
estão sendo transacionados. Quando uma das partes possui mais informações
relevantes sobre o bem do que a outra, trocas ineficientes podem ocorrer. A parte
com menos informações pode tomar uma decisão equivocada por não ser capaz de
estimar corretamente a utilidade que extrairá daquele bem. Podemos pensar em um
indivíduo que compre um imóvel por um valor elevado e descubra um problema
estrutural grave no imóvel, ou em um consumidor que compre um eletroeletrônico
com a expectativa de utilizá-lo por vários anos sem saber que a durabilidade daquele
produto é muito reduzida.
Nesses casos, é comum a existência de regulações específicas para impedir
que esse tipo de prejuízo ocorra às partes que possuem menos informações (como
leis que obrigam o proprietário a informar ao comprador sobre problemas
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Análise Econômica do Direito
estruturais, ou padrões mínimos de qualidade dos produtos eletrônicos do mercado).
Essas regras buscam prevenir que a situação de incerteza gerada pela assimetria de
informações impeça os agentes de realizar transações nesses mercados, ou que o
custo associado a essas transações se torne elevado. Em outras palavras, se não
existisse um padrão mínimo de qualidade e proteção aos consumidores de
eletrônicos, estes poderiam deixar de consumir ou teriam que incorrer em custos
elevados de pesquisa antes de ingressar no mercado em questão.

3.3.2 Problema do principal-agente


Na economia contemporânea, cada vez mais os agentes econômicos se
especializam em atividades específicas, contratando terceiros para representá-los
ou atuarem em parceria, por meio de contratos. Neste cenário, acaba surgindo uma
relação entre os agentes chamada de principal-agente, na qual há uma parte a ser
representada e outra a ser o representante dos interesses do primeiro.
Essa relação só pode produzir os efeitos desejados caso os interesses das
partes estejam alinhados, ou seja, sem que existam grandes conflitos. Entretanto,
esta premissa pode nem sempre ocorrer, especialmente se considerarmos que
pessoas racionais tendem a maximizar os benefícios.
Em situações nas quais os interesses entre o representante e o representado
fossem conflitantes ou até distintos, a probabilidade de desvio ou de traição pelo
agente, em relação aos interesses do principal, tende a aumentar. É o que se chama
de problema do principal-agente.
Esse modelo pode ser aplicado em uma gama bastante ampla de situações.
Um dos casos mais notórios se dá na representação política entre eleitos e eleitores,
pois havendo um conflito de interesses entre os agentes em qual sentido tendem a
agir os representantes políticos? Também podemos imaginar um simples contrato
de prestação de serviços em que haja um contratante (principal) e um contratado
(agente). Se, ao agente, o interesse mais forte é o de reduzir os custos de prestação
de serviços e, ao principal, o interesse maior será a maior qualidade de prestação
do serviço contratado, como será possível a redução de conflitos de interesses?
A literatura costuma apontar entre as principais variáveis a ensejar esta
desorientação de interesses: a) a dificuldade de monitoramento do agente pelo
principal e b) a assimetria de informações entre o agente e o principal. Por isso, a
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Análise Econômica do Direito
adoção de práticas de maior monitoramento e de redução de assimetrias
informacionais tendem a ser extremamente proveitosas ao alinhamento de
interesses.
A representação da interação humana por meio da relação agente-principal
permite observar algumas situações de ineficiência que podem surgir, o que
justifica as expressões “dilema agente-principal” ou custos de agência. Os
principais problemas são o risco moral e a seleção adversa, analisados a seguir.

3.3.3 Risco moral


Por fim, a análise de uma última falha informacional, o chamado risco
moral. Esse tipo de problema ocorre quando aspectos importantes da transação
dependem do comportamento de um dos agentes e a outra parte não tem
informações que permitam a devida fiscalização desse comportamento. Vamos
tomar como exemplo o seguro contra roubo de carros.
As empresas que oferecem seguros contra roubos de carros fazem uma
estimativa da probabilidade de um determinado carro ser roubado em uma cidade
ou localidade e, diante do preço de reposição do carro, estimam o prêmio que
cobrarão pela apólice. O problema é que a probabilidade de um carro ser roubado
depende do comportamento do proprietário do carro. O risco moral, nesse caso, é o
risco de que o dono do carro deixe de tomar precauções básicas, como trancar o seu
carro após estacionar ou não deixar o carro em locais perigosos. Esse tipo de
conduta aumentaria muito o risco de roubo do carro e poderia gerar ineficiências
para o mercado, ou elevar excessivamente os prêmios que as seguradoras teriam
que cobrar de seus clientes.
Esse problema é conhecido pelas seguradoras e, para incentivar os clientes
a manter um comportamento desejável, as seguradoras muitas vezes não cobrem
integralmente o valor do carro, mantendo uma parte das perdas com os clientes.
Esse mecanismo busca limitar os efeitos adversos do problema do risco moral. A
teoria econômica chama de sinalização os dispositivos contratuais que buscam
revelar informações importantes sobre o comportamento futuro das partes.
Mantendo a cobertura parcial, a seguradora sinaliza para o segurado que este deve
manter um nível adequado de precaução em relação ao seu carro e, ao aceitar essa
cláusula, o segurado sinaliza que está disposto a cumprir essa exigência. Meras
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Análise Econômica do Direito
manifestações de vontade não oferecem sinalizações adequadas quando não são
acompanhadas de meios de efetivação, ou seja, quando não há consequências
concretas em caso de desvio de comportamento. A cobertura parcial permite a
sinalização porque alinha os incentivos econômicos da seguradora e do segurado.
Assim, diante do risco moral, surge a necessidade de criação de mecanismos
efetivos de sinalização.

3.3.4 Seleção adversa


O fenômeno da seleção adversa ocorre situações em que a diferença de
informações leva os agentes econômicos a selecionar sistematicamente transações
indesejáveis. Podemos pensar no mercado de seguros de saúde. Imagine o que
ocorreria se as seguradoras fossem proibidas de adotar preços distintos para
segurados diferentes, independentemente de sua idade ou histórico médico.
Ora, a seguradora poderia fazer uma estimativa do custo médio que ela tem
com os segurados e adotar esse valor como seu preço de mercado, ou seja, como
prêmio pela apólice de seguro. O problema é que este novo valor de prêmio seria
mais alto para as pessoas que usam menos o seguro, enquanto, por outro lado,
ficaria mais baixo para as pessoas que usam mais.
A consequência, se imaginarmos que os segurados sabem mais ou menos
quanto eles gastariam na ausência do plano de saúde, é que as pessoas mais jovens
e com uma saúde melhor teriam incentivos para abandonar a seguradora, porque o
preço intermediário não vale a pena para elas. Já as pessoas mais idosas ou com
saúde mais frágil, por sua vez, teriam grande incentivo de ingressar na seguradora,
porque o preço fica mais vantajoso para elas.
O resultado é que o perfil dos segurados iria mudar, e a seguradora seria
forçada a rever o seu preço de mercado, adotando novamente uma média, agora
mais alta. Esse fenômeno se repetiria inúmeras vezes, e cada vez a seguradora
estaria “selecionando” o perfil menos desejável de clientes, aumentando os seus
custos e se forçando a aumentar cada vez mais seu preço.
Essa situação seria, por óbvio, insustentável, motivo pelo qual as
seguradoras buscam reduzir ao máximo o problema da seleção adversa
classificando os clientes de acordo com seus prováveis custos futuros e adotando
prêmios diferentes para cada apólice contratada. Uma parte elevada dos recursos
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Análise Econômica do Direito
das seguradoras acabam sendo destinados a classificar adequadamente os clientes
de acordo com as suas respectivas estimativas de gastos médicos.

3.4 O Teorema de Coase


3.4.1 O problema do custo social: como lidar com externalidades
As normas jurídicas desempenham sempre um papel importante para o
funcionamento dos mercados, pois garantem direitos básicos, como a propriedade
privada e a implementação dos contratos, entre outras condições indispensáveis à
atividade econômica. O modelo dos mercados competitivos evidencia que, sob
certas condições, essas instituições básicas são suficientes para que agentes
racionais atinjam autonomamente soluções eficientes. O teorema de Coase nos
mostra como, mesmo diante de aparentes externalidades, quando a interferência do
Estado pareceria, à primeira vista, indispensável, soluções eficientes podem ser
alcançadas de forma independente pelos agentes econômicos. Para que isso seja
possível, basta que direitos básicos como o direito de propriedade e a validade dos
contratos estejam garantidos e que não haja empecilhos significativos à negociação.
Vamos imaginar a hipótese de uma fábrica que, para operar, precisa emitir
ruídos muito altos e desagradáveis. A fábrica produz, portanto, um elevado nível de
poluição sonora para a vizinhança do local em que está instalada. Surge um claro
conflito de interesses entre a empresa que opera a fábrica, que precisa produzir seus
produtos, e os moradores da vizinhança da fábrica, que querem viver sem o
desconforto da poluição sonora. Uma abordagem jurídica tradicional buscaria
decidir de forma geral e cogente qual é a solução “correta”, ou seja, quem tem razão
e o que deve ser feito. Uma provável solução seria impedir a fábrica de produzir,
uma vez que sua atividade gera danos aos moradores da vizinhança. A empresa
seria forçada a procurar outra localidade para instalar sua fábrica, ou até mesmo ser
forçada a parar de produzir, caso o seu método de produção fosse considerado
excessivamente danoso.
Antes da teoria desenvolvida por Coase, muitos economistas classificariam
essa situação como uma “externalidade negativa” gerada pela empresa, ou seja, um
custo associado à atividade produtiva que é externo ao mercado (afinal, os
moradores arcariam com os custos gerados pela poluição sonora, e não a empresa

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Análise Econômica do Direito
ou os consumidores do produto). Diante de uma externalidade desse tipo, a solução
preconizada pela teoria econômica, como vimos anteriormente, seria “internalizar”
esses custos externos, ou seja, forçar a empresa a arcar com todos os custos sociais
que ela gera. Um mecanismo típico de internalização seria a imposição de uma taxa
equivalente aos danos que foram gerados. Assim, a desvalorização dos imóveis no
entorno da fábrica poderia ser adotada como um parâmetro aproximado para o
cálculo do montante de danos gerado pelas atividades da fábrica.
Note que essa solução econômica não necessariamente impede a
continuidade das atividades da fábrica, pois a empresa só “fecharia as portas” da
fábrica se percebesse que a taxa cobrada inviabiliza economicamente aquela
atividade. Um economista seria reticente em afirmar categoricamente que qualquer
atividade que cause dano deve ser impedida, pois a maximização bem-estar coletivo
depende de uma análise comparativa dos custos e benefícios gerados para todos. É
possível que os danos que a fábrica gera sejam muito menores do que os benefícios
sociais criados pela sua atividade econômica. Assim, o mecanismo de
“internalização” de custos procura repassar essa decisão para os próprios agentes
econômicos.

3.4.2 A negociação como mecanismo de internalização de custos


O que Coase demonstrou, contudo, é que podem haver soluções mais diretas
para esse tipo de problema, que não dependem da intervenção de um agente externo,
como o Estado. A imposição de uma taxa depende do cálculo do valor da taxa, de
mecanismos de cobrança da taxa, de um aparato fiscalizatório, de atualizações
periódicas do valor cobrado, entre outros fatores. Todo esse processo é burocrático,
custoso e suscetível a imperfeições. Coase argumentou que os agentes podem
atingir por si mesmos a solução eficiente desde que três condições sejam garantidas:
(1) a titularidade dos direitos seja bem definida, (2) não haja custos elevados
associados à negociação, (3) os agentes tenham as informações necessárias sobre
as suas preferências e as preferências dos demais envolvidos.
Voltamos assim ao exemplo da fábrica. Como esse conflito poderia ser
solucionado de forma eficiente sem a intervenção do Estado? Segundo Coase,
bastaria que a titularidade a respeito do direito de poluir estivesse bem definida e

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Análise Econômica do Direito
os agentes interessados (nesse caso, a fábrica e os moradores) pudessem negociar
livremente esses direitos com informações adequadas. O insight interessante
desenvolvido por Coase é o de que a eficiência seria garantida independentemente
a quem fosse atribuído o direito. A atribuição do direito teria apenas efeitos
distributivos, mas não interferiria na eficiência econômica.
Vamos imaginar inicialmente que os moradores tivessem o direito de
impedir a fábrica de produzir poluição sonora. Nesse caso, a fábrica seria forçada a
procurar os moradores para tentar convencê-los de permitir a manutenção de suas
atividades, ou seja, a fábrica tentaria comprar o direito de poluir. Essa compra só
seria viável se o benefício auferido pela fábrica fosse superior aos danos causados
aos moradores. Ora, essa é justamente a única hipótese em que a manutenção das
atividades da fábrica seria eficiente. Justamente nesse caso, ela conseguiria comprar
o direito de poluir, mas no caso oposto, ela não conseguiria comprar esse direito.
Vemos assim que a solução eficiente poderia ser alcançada pela fábrica, desde que
todos os envolvidos pudessem negociar livremente e as informações relevantes
fossem conhecidas por todos.
Vamos imaginar agora o cenário oposto, em que as normas jurídicas
garantissem à fábrica o direito de causar poluição sonora. Essa situação pode
parecer bastante injusta, mas percebemos com facilidade que a eficiência ainda
seria alcançada se os agentes estivessem aptos a negociar livremente. Agora seriam
os moradores que se veriam forçados a procurar a fábrica e tentar convencê-la de
interromper suas atividades. Caso o custo gerado para os moradores fosse superior
ao lucro auferido pela fábrica, os moradores poderiam pagar à fábrica o equivalente
a esses lucros cessantes para convencê-la a interromper suas atividades. Apenas se
os custos para os moradores fossem superiores aos lucros cessantes da fábrica essa
transação seria viável e, novamente, essa hipótese corresponde justamente ao único
caso em que a interrupção das atividades da fábrica seria eficiente do ponto de vista
econômico. Vemos assim como, independentemente da alocação inicial dos
direitos, desde que os agentes possam negociar livremente seus direitos sob
condições de informação adequadas, a solução eficiente poderá sempre ser
alcançada pelos próprios agentes sem interferência do Estado.

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Análise Econômica do Direito
3.4.3 Custos de transação e informações incompletas
O teorema de Coase nos oferece um insight bastante interessante, pois ele
nos mostra como soluções eficientes podem ser alcançadas pela livre negociação
entre os agentes privados em casos em que a intervenção estatal poderia parecer
necessária. Mas, por outro lado, sabemos que essas soluções eficientes nem sempre
são alcançadas, e sabemos também que o Estado é constantemente acionado para
dirimir conflitos de direitos entre os agentes. Por que, então, a negociação não
parece suficiente para a solução de inúmeros conflitos?
Um primeiro motivo para isso está ligado ao fato de que a teoria de Coase
trata apenas da eficiência, e não da distribuição dos recursos. No exemplo da
fábrica, vimos que a solução eficiente é alcançada nas duas hipóteses, tanto quando
os moradores têm o direito de se verem livres da poluição sonora, quanto quando a
fábrica é quem tem o direito de poluir. No entanto, há uma diferença crucial entre
essas duas situações: na primeira hipótese, é a fábrica quem arca com os custos
referentes à poluição, ao passo que na segunda hipótese, são os moradores quem
arcam com esses custos. Coase demonstrou que a negociação conduz ao resultado
eficiente independente da alocação inicial dos direitos, mas ainda assim, essa
alocação traz efeitos substanciais sobre a distribuição final dos recursos.
Um segundo fator que limita a eficácia da negociação para resolver conflitos
está ligado às premissas básicas do teorema de Coase. Como vimos, os agentes
atingem soluções eficientes sempre que podem negociar sem entraves e com
informações completas. No entanto, esse cenário não é tão frequente. O processo
de negociação geralmente envolve custos, os quais são classificados pelos
economistas como custos de transação. Esses custos decorrem do próprio processo
negociador, que leva tempo, envolve coordenação de comportamentos de diferentes
indivíduos, etc. Na prática, sabemos que quanto maior o número de pessoas
envolvidas em uma negociação, mais complexa e custosa se torna a negociação, até
um ponto proibitivo, em que é praticamente impossível atingir resultados práticos
por meio da negociação.
No exemplo da fábrica, podemos comparar a hipótese em que 5 moradores
são afetados pela poluição com outra hipótese em que 1.000 moradores são
afetados. No primeiro caso, é razoável esperar que a negociação traga os resultados
desejáveis, mas no segundo caso sabemos que a negociação é praticamente
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Análise Econômica do Direito
impossível. Na linguagem econômica, dizemos que isso ocorre porque os custos de
transação tornam-se proibitivos.
Custos de transação estão presentes não apenas em cenários envolvendo
externalidades ou conflitos de direitos, mas também no funcionamento regular de
diversos mercados. Os custos de transação podem ser vistos também como uma
falha de mercado, pois eles oneram o funcionamento dos mercados impedindo que
o resultado ideal previsto pelo modelo de competição perfeita seja integralmente
atingido na prática. Basta pensar que quando um consumidor decide comprar um
produto, ele deve deslocar-se até a loja, escolher a variedade daquele produto que
deseja adquirir, escolher o método de pagamento que será utilizado (caso ele queira
pagar em espécie, por exemplo, ele pode se ver forçado a ir ao banco para sacar
dinheiro). Todas essas tarefas geram um custo para o consumidor, custo este que é
indissociável da transação. Não existe, na realidade, nenhuma transação totalmente
livre de custos, mas em alguns casos esses custos podem ser mais elevados do que
em outros.

3.4.4 Consequências do Teorema de Coase para o Direito


O debate suscitado pelas ideias de Coase e pelo mecanismo das transações
tem reflexos profundos para o funcionamento do Direito.
O primeiro desses reflexos está ligado à definição clara dos direitos de
propriedade e à segurança jurídica. Como Coase demonstrou, sempre que a
titularidade do direito for clara, os indivíduos podem transacionar seus direitos para
atingir um resultado eficiente. No entanto, sabemos que nem todos os direitos são
claramente estabelecidos. Em muitos casos, surgem dúvidas ou incertezas a respeito
de quem tem a titularidade do direito. Nesses casos, ao invés de acordarem uma
solução eficiente, os agentes podem ser incentivados a buscar uma solução jurídica
que nem sempre atenderá ao critério do bem-estar social. O próprio funcionamento
do sistema judicial envolve inúmeros custos burocráticos que podem recair sobre a
sociedade como um todo, não sendo integralmente pagos pelas partes litigantes.
Além disso, em um ambiente de alta incerteza a respeito da definição judicial dos
direitos, as possibilidades de negociação podem ser muito limitadas. As partes não
podem negociar pois não dispõem de informações suficientes sobre seus direitos ou

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Análise Econômica do Direito
porque acreditam que o resultado da negociação poderá ser questionado
posteriormente em juízo.
No Direito brasileiro, observamos uma série de tendências que buscam
enfrentar os problemas suscitados pela insegurança jurídica. Constatamos nos
últimos anos uma série de inovações institucionais e práticas jurisprudenciais que
buscam racionalizar a atividade judiciária. Um exemplo claro desse fenômeno é a
chamada abstrativização do controle difuso de constitucionalidade, por meio da
qual confere-se efeitos gerais, erga omnes e vinculantes, a sentenças que teriam
efeitos difusos. Com efeito, a uniformização jurisprudencial decorrente da adoção
de súmulas vinculantes traz dois efeitos interessantes que podemos associar à teoria
desenvolvida por Coase: (1) esses mecanismos buscam facilitar e acelerar a prática
judiciária, reduzindo os custos burocráticos associados aos processos; e (2) esses
instrumentos buscam esclarecer a titularidade de direitos anteriormente
controversos reduzindo a necessidade de ingresso no Judiciário para esclarecer e
interpretar as normas pertinentes.
Outra questão levantada por Coase diz respeito à própria possibilidade de
transacionar livremente os direitos estabelecidos. Coase usa o termo “sticky rights”,
em uma referência à clássica ideia de “sticky wages” criada por Keynes, para

designar direitos que “grudam” em um determinado agente, ou seja, direitos dos


quais esse agente não pode dispor. Com efeito, temos em nosso ordenamento um
amplo conjunto de direitos indisponíveis, que não podem ser objeto de transações
pelos agentes envolvidos. Em muitos casos, contudo, o uso inteligente de direitos
de propriedade pode criar mecanismos eficientes, capazes de alinhar os incentivos
de diferentes agentes para promover um determinado objetivo.
Um exemplo particularmente interessante e elucidativo é o do mercado de
créditos de carbono criado pelo Protocolo de Quioto. O Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) criado nesse documento estabelece as condições
pelas quais é possível emitir um título que confere o direito de poluir. A ideia de
estabelecimento de um direito de poluir é extremamente controversa e foi objeto de
profundos debates durante a COP de Quioto. No entanto, os Estado-Membros da
Convenção-Quadro sobre o Clima perceberão que um mercado em que se pudesse
transacionar o direito de poluir era um mecanismo particularmente eficiente de

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Análise Econômica do Direito
atribuir um valor econômico à proteção do meio ambiente, criando
simultaneamente dois incentivos distintos: (1) por um lado, o mecanismo
promoveria o desenvolvimento de novas tecnologias limpas, pois essas atividades
geram a emissão de créditos transacionáveis, que teriam um valor econômico
definido; (2) por outro lado, o mecanismo oneraria as atividades mais poluentes,
forçando os produtores que atuam nesses setores a repassar recursos para setores
menos poluentes.
A aplicabilidade do MDL é limitada pelo fato de que apenas algumas
economias nacionais, a dos países de chamada “industrialização antiga”, se viram
forçadas a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Mesmo entre essas
economias, países importantes, como os EUA, optaram por manter-se fora do
Protocolo de Quioto, não aderindo integralmente ao mercado de créditos de
carbono. Apesar disso, o MDL demonstra como direitos de propriedade
transacionáveis podem ser mecanismos extremamente robustos para a geração de
incentivos e para a persecução de resultados econômicos eficientes. Esse resultado
sugere que, se tomamos como prioridade a promoção da eficiência, devemos ter
cautela ao estabelecer que um determinado direito é indisponível, pois a livre
transação de direitos pode ser uma poderosa ferramenta de solução de conflitos e
de promoção do bem-estar social.

SUGESTÃO DE CASOS GERADORES


CASO 1
A empresa de produção de plásticos do João emite fuligem, que suja a roupa
lavada e que está em processo de secagem na lavanderia da Maria (esta é a única
consequência causada pela fuligem emitida pela empresa de João). João pode
acabar com a poluição instalando purificadores nas chaminés de sua empresa e
Maria pode livrar-se dos danos causados pela poluição da empresa de João
instalando filtros no sistema de ventilação da lavanderia. A instalação dos
purificadores por João ou dos filtros por Maria eliminariam completamente a
poluição ou o dano causado por ela.
Maria e João são próximos um do outro, mas longe de qualquer outra
empresa ou residência, portanto, ninguém mais é afetado pela poluição emitida pela
empresa de João. Se João não instala purificadores em suas chaminés, seu lucro é
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Análise Econômica do Direito
de R$ 1.000,00. Se Maria não instala filtros e não sofre os danos causados pela
poluição de João, o lucro de Maria é de R$ 300,00. A poluição emitida pela empresa
de João destrói R$ 200,00 do lucro de Maria. Maria pode evitar esta destruição
instalando filtros a um custo de R$ 100,00. João pode evitar essa destruição
instalando purificadores a um custo de R$ 500,00. Suponha que três normas legais
alternativas possam ser aplicadas na solução do problema:
a) Direito do poluidor: João é livre para poluir;
b) Direito do poluído de receber indenização pelas perdas e danos: João tem que
pagar indenização para Maria pelos danos causados por ele;
c) Direito do poluído de fazer cessar a interferência: Maria tem direito de fazer
cessar a poluição causada por João.
A tabela a seguir determina o valor da solução não cooperativa e cooperativa
sob cada uma das normas descritas.

Não cooperação Excedente Com cooperação

João Maria João Maria

Norma 1
Direito do R$ 1.000,00 R$ 200,00 0 R$ 1.000,00 R$ 200,00
poluidor

Norma 2
Indenização R$ 800,00 R$ 300,00 R$ 100,00 R$ 850,00 R$ 350,00
danos

Norma 3
Cessação da R$ 500,00 R$ 300,00 R$ 400,00 R$ 700,00 R$ 500,00
interferência

a) Sob a conjectura mais pessimista, em que João e Maria não cooperaram (alto
custo de transação), apenas uma das normas legais terá resultado eficiente, qual
delas? Explique sua resposta.

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Análise Econômica do Direito
b) Conforme podemos verificar na tabela anterior a solução cooperativa é eficiente
independentemente da norma legal adotada, em caso de custos de transação igual a
zero qual a importância das normas jurídicas para as barganhas cooperativas?

CASO 2
Uma determinada pessoa jurídica de direito privado foi investigada e
condenada pelo Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (CADE) por
infração contra a ordem econômica e, sentindo-se prejudicada, recorreu ao Poder
Judiciário em busca da anulação dessa sanção administrativa.
Esta sociedade empresária apenada questionou na Justiça vários aspectos do
processo administrativo que resultou na condenação. Assim, não só se insurgiu
contra o mérito da decisão, como também atacou questões procedimentais que
supostamente teriam promovido a violação do direito ao devido processo legal.

1) Considerando o conteúdo técnico do tema, o Poder Judiciário pode


reanalisar o mérito da decisão?
2) As capacidades institucionais de instituições reguladoras devem ser sempre
consideradas na atuação jurisdicional a fim de se adotar posturas diferentes?
3) Quanto à tutela do devido processo legal no processo administrativo, o
argumento das capacidades institucionais continua sendo relevante?
4) Quais os efeitos sistêmicos e de longo prazo de intervenções constantes do
Poder Judiciário no mérito e no procedimento de decisões regulatórias?
5) Como essa decisão pode ser vista sob a ótica do bem-estar social e da
eficiência?

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Análise Econômica do Direito
JURISPRUDÊNCIA: AED NO BRASIL
Caso 1: Financiamento imobiliário
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CONTRATOS DE
FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO. SISTEMA FINANCEIRO DE
HABITAÇÃO. LEI N. 10.931/2004. INOVAÇÃO. REQUISITOS PARA
PETIÇÃO INICIAL. APLICAÇÃO A TODOS OS CONTRATOS DE
FINANCIAMENTO. 1. A análise econômica da função social do contrato,
realizada a partir da doutrina da análise econômica do direito, permite
reconhecer o papel institucional e social que o direito contratual pode oferecer
ao mercado, qual seja a segurança e previsibilidade nas operações econômicas
e sociais capazes de proteger as expectativas dos agentes econômicos, por meio
de instituições mais sólidas, que reforcem, ao contrário de minar, a estrutura
do mercado. 2. Todo contrato de financiamento imobiliário, ainda que pactuado
nos moldes do Sistema Financeiro da Habitação, é negócio jurídico de cunho
eminentemente patrimonial e, por isso, solo fértil para a aplicação da análise
econômica do direito. 3. A Lei n. 10.931/2004, especialmente seu art. 50, inspirou-
se na efetividade, celeridade e boa-fé perseguidos pelo processo civil moderno, cujo
entendimento é de que todo litígio a ser composto, dentre eles os de cunho
econômico, deve apresentar pedido objetivo e apontar precisa e claramente a
espécie e o alcance do abuso contratual que fundamenta a ação de revisão do
contrato. 4. As regras expressas no art. 50 e seus parágrafos têm a clara intenção de
garantir o cumprimento dos contratos de financiamento de imóveis tal como
pactuados, gerando segurança para os contratantes. O objetivo maior da norma é
garantir que, quando a execução do contrato se tornar controvertida e
necessária for a intervenção judicial, a discussão seja eficiente, porque somente
o ponto conflitante será discutido e a discussão da controvérsia não impedirá
a execução de tudo aquilo com o qual concordam as partes. 5. Aplicam-se aos
contratos de financiamento imobiliário do Sistema de Financiamento Habitacional
as disposições da Lei n. 10.931/2004, mormente as referentes aos requisitos da
petição inicial da ação de revisão de cláusulas contratuais, constantes do art. 50 da
Lei n. 10.931/2004. 6. Recurso especial provido. (REsp 1163283/RS, Rel. Ministro

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Análise Econômica do Direito
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe
04/05/2015)

Caso 2: Custos de produção


DIREITO CONSTITUCIONAL, PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.
LICENÇA-GESTANTE. SALÁRIO. LIMITAÇÃO. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 14 DA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15.12.1998. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO
DISPOSTO NOS ARTIGOS 3º, IV, 5º, I, 7º, XVIII, E 60, § 4º, IV, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. O legislador brasileiro, a partir de 1932 e mais
claramente desde 1974, vem tratando o problema da proteção à gestante, cada vez
menos como um encargo trabalhista (do empregador) e cada vez mais como de
natureza previdenciária. Essa orientação foi mantida mesmo após a Constituição de
05/10/1988, cujo art. 6° determina: a proteção à maternidade deve ser realizada "na
forma desta Constituição", ou seja, nos termos previstos em seu art. 7°, XVIII:
"licença à gestante, sem prejuízo do empregado e do salário, com a duração de cento
e vinte dias". 2. Diante desse quadro histórico, não é de se presumir que o legislador
constituinte derivado, na Emenda 20/98, mais precisamente em seu art. 14, haja
pretendido a revogação, ainda que implícita, do art. 7º, XVIII, da Constituição
Federal originária. Se esse tivesse sido o objetivo da norma constitucional derivada,
por certo a E.C. nº 20/98 conteria referência expressa a respeito. E, à falta de norma
constitucional derivada, revogadora do art. 7º, XVIII, a pura e simples aplicação do
art. 14 da E.C. 20/98, de modo a torná-la insubsistente, implicará um retrocesso
histórico, em matéria social-previdenciária, que não se pode presumir desejado. 3.
Na verdade, se se entender que a Previdência Social, doravante, responderá
apenas por R$1.200,00 (hum mil e duzentos reais) por mês, durante a licença
da gestante, e que o empregador responderá, sozinho, pelo restante, ficará
sobremaneira, facilitada e estimulada a opção deste pelo trabalhador
masculino, ao invés da mulher trabalhadora. Estará, então, propiciada a
discriminação que a Constituição buscou combater, quando proibiu diferença
de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão, por motivo de
sexo (art. 7º, inc. XXX, da C.F./88), proibição, que, em substância, é um
desdobramento do princípio da igualdade de direitos, entre homens e
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Análise Econômica do Direito
mulheres, previsto no inciso I do art. 5º da Constituição Federal. Estará, ainda,
conclamado o empregador a oferecer à mulher trabalhadora, quaisquer que
sejam suas aptidões, salário nunca superior a R$1.200,00, para não ter de
responder pela diferença. Não é crível que o constituinte derivado, de 1998,
tenha chegado a esse ponto, na chamada Reforma da Previdência Social,
desatento a tais consequências. Ao menos não é de se presumir que o tenha
feito, sem o dizer expressamente, assumindo a grave responsabilidade. 4. A
convicção firmada, por ocasião do deferimento da Medida Cautelar, com adesão de
todos os demais Ministros, ficou agora, ao ensejo deste julgamento de mérito,
reforçada substancialmente no parecer da Procuradoria Geral da República. 5.
Reiteradas as considerações feitas nos votos, então proferidos, e nessa manifestação
do Ministério Público federal, a Ação Direta de Inconstitucionalidade é julgada
procedente, em parte, para se dar, ao art. 14 da Emenda Constitucional nº 20, de
15.12.1998, interpretação conforme à Constituição, excluindo-se sua aplicação ao
salário da licença gestante, a que se refere o art. 7º, inciso XVIII, da Constituição
Federal. 6. Plenário. Decisão unânime. (ADI 1946, Relator(a): Min. SYDNEY
SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2003, DJ 16-05-2003 PP-00090
EMENT VOL-02110-01 PP-00123, grifou-se)

Caso 3: Efeitos da pandemia na locação de imóveis


EMENTA: Locação de imóvel não residencial. Ação revisional de contrato.
Demanda de locatária em face de locadora - Decisão que indeferiu a liminar
Recurso da autora/locatária - Parcial reforma Cabimento Pretensão inicial voltada
à revisão do pacto em decorrência dos efeitos provocados pela pandemia do novo
Coronavírus - Presença dos elementos constantes no art. 300, do CPC
Circunstâncias do caso concreto que justificam a redução dos aluguéis devidos
pela autora ao patamar de 50% e pelo período de 90 dias. Divisão do ônus que,
ao menos por ora, se apresenta como caminho adequado, razoável e que
também prestigia aos postulados da equidade e da boa-fé - Questão, ademais,
que guarda estreita relação com o mérito da causa e merece profunda e acurada
análise no decorrer da lide, certo que os critérios utilizados para revisão do pacto
poderão ser revisitados, inclusive caso a questão seja eventualmente disciplinada
de modo diverso pelo Poder Legislativo. (TJ-SP – AI: 2072070-83.2020.8.26.0000,
43
_______________________________________________________________
Análise Econômica do Direito
Relator: Marcos Ramos, Data de Julgamento: 30/06/2020, 30ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 30/06/2020)

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Análise Econômica do Direito
2 Complementares
CALABRESI, Guido; MELAMED, Douglas. Property Rules, Liability Rules, and
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DAU-POSNER, Richard. A. Economic Analysis of Law. Parte I. Cap. I. New York:
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SALAMA, B. M. O que é "Direito e Economia"? In: L. B. Timm (Ed.). Direito &
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SCHMIDT, Kenneth; ULEN, Thomas. Law And Economics Anthology. 2. ed. Cap.
3. Cincinnati, OH: Anderson Publishing Co, 2002.
ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito & Economia - Análise
Econômica do Direito e das Organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

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