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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa reflete sobre diferentes formas a atividade econômica informal que se
tem verificado de forma intensiva na província de Luanda. A partir da mesma encontra-se possíveis
resposta para mitigação do informal sem descurar os resultados alcançados pelas políticas públicas
adoptadas até a data presente
Este trabalho encontra-se estruturado por três principais capítulos. O primeiro capitulo faz
um enquadramento teórico sobre a personagem do estado na visão de Adam Smith e Keynes,
conceito e origem da informalidade na economia, assim como, uma análise minuciosa sobre o
mercado de trabalho e a economia informal.
Na segunda sessão, e apresentado uma visão geral sobre a informalidade em Luanda, suas
causas e consequências, como também os desafios macroeconômicos face a existências deste
sector.
Finalmente, o terceiro capitulo o terceiro capitulo destaca-se pela aplicação de metodologia
de analise fatorial exploratória (AFE) e pela apresentação do quadro temático da operação resgate
levada a cabo pelo executivo angolano desde novembro de 2018 para mitigar a atividade informal.
Para a obtenção da amostra, foi necessário a realização de uma sondagem via entrevista e inquérito
para aferir a veracidade, consequências e benefícios do processo de resgate, respetivamente nos
municípios de Viana, Cacuaco, Luanda e Cazenga, concretamente nos mercados do KM 30,
Kwanza, Kikolo e do São Paulo.
A informalidade da economia é toda a atividade econômica legal, mas não licenciada,
realizada por agentes econômicos ilegais e muitas vezes até legais, que usualmente escapam ao
sistema fiscal, laboral e outras legalmente estabelecidos que estruturam o sistema formal de
produto e troca (ERNESTO E CAPILO, 2018).
O sector informal em Angola surge como consequência da Guerra hoje, passamos 17 anos
depois do fim do conflito que durou 30 anos, sector informal continua a ater uma ligação com o
mercado formal, cujos agentes econômicos, por um lado, queixam-se da competição desigual do
mercado informal (por não pagar impostos), mas este, por outro lado, serve de saída aos grossistas
do sector formal.
A informalidade de economia advém em grande parte da má afetação dos recursos
econômicos e financeiros, tanto nacionais como proveniente dos estrangeiros, tais como comercio,
investimentos e ajuda bilateral ou multilateral. Em geral, temos como resultado uma deficiência
implementação das estratégias para o desenvolvimento e uma dificuldade acrescida da pretendida
modernização das economias (SILVA, 2010 p. 2). Todavia, é um meio de sobrevivência perante a
ineficácia do estado e fruto dos mercados internos. A informalidade seria a saída espontânea e
criatividade, encontradas principalmente pelas camadas pobres, face a capacidade do estado em
satisfazer a suas necessidades mais básicas. Em consequência, a opção pela ilegalidade no seu
negócios e ocupações constituiria a única possibilidade aberta desta classe de renda baixa pela
busca de sobrevivência como fome, mas produtiva do trabalho (Ibidem).
Segundo BIT (2014) no relatório V da conferência internacional do trabalho em Genebra
no parágrafo 1, a economia informal desenvolve um contexto de elevadas taxas de desemprego,
subemprego, pobreza, desigualdade de gênero e trabalho precário. Desempenha um papel
significativo nessas circunstancias, especialmente na criação de rendimento, devido a relativa
facilidade de entrada e aos baixos requisitos de educação, qualificações, tecnologia e capital. Mas
a maioria das pessoas entram na economia informal, não por escolha, mas sim, por necessidade de
sobreviver e, sobretudo, ter acesso a atividades que lhes permitam obter um rendimento básico.
O trabalho informal pode tanto indicar uma estratégia de sobrevivência face à perda de uma
ocupação formal, como uma opção de vida de alguns segmentos de trabalhadores que preferem
desenvolver o seu próprio negócio. Permite também satisfazer as necessidades dos consumidores
pobres, oferecendo bens e serviços acessíveis a preços baixos (SILVA, 2010).
Ainda segundo o BIT (2014) no relatório V da conferência supracitada no parágrafo 2,
expressa que a maioria dos trabalhadores da economia informal são caraterizados por:
 Condições de trabalho inadequadas e inseguras;
 Níveis de baixa qualificação acadêmica;
 Oportunidade de formação desajustadas;
 Trabalharem mais horas;
 Não terem direitos de representação;
 Possuírem u estatuto de emprego ambíguo ou dissimulado;
 Estarem fisicamente mais vulneráveis, porque o trabalho na economia informal está
fora, ou efetivamente para além do âmbito dos regimes de segurança social, de
segurança e de saúde, maternidade e outra legislação de proteção no trabalho;
Por legislação, Angola é um pais de direito à livre iniciativa econômica. A constituição da
república de Angola (CRA, 2010), no seu artigo 38º, expressa que a iniciativa econômica privada
é livre, sendo exercida com respeito a constituição e pela lei. A todos é reconhecido o direito livre
iniciativa empresarial e cooperativa. A lei promove, disciplina e protege a atividade económica e
os investimentos por parte de pessoas singulares ou coletivas, nacionais e estrangeiras, a fim de
garantir a sua contribuição para o desenvolvimento do pais, defendendo a emancipação económica
e tecnológica dos angolanos e os seus interesses dos trabalhadores.
A cidade de Luanda foi fundada por Paulo Dias de Novais, em 1576. A cidade é a capital
do pais e da província de Luanda, localizado na costa noroeste de Angola, sendo banhada pelo
oceano atlântico. Luanda é a maior cidade de Angola, bem como o principal porto e centro
industrial do pais. As zonas comerciais e industriais estão localizadas próximo do porto de aguas
profundas. O aeroporto de Luanda regista o maior trafego aéreo em angola, e o caminho de ferro
de Luanda estende-se pelo interior até as minas de ferro em Ndalatando (Kwanza-Norte) e campos
de plantação de café na província de Malange (CESOSI PORTUGAL, 2010, pag 3).
Problemática
A economia informal é o menos que uma causa do que uma consequência do não
desenvolvimento, observa-se que, o objetivo das economias do mundo é alcançar índices cada vez
mais elevados de desenvolvimento. O sector informal em Luanda constitui uma ferramenta de
insustentabilidade. As suas atividades são, na maioria, de base mercantil marginalista,
comercializando bens alimentares, vestuário, serviços primários, etc. uma economia na base da
informalidade não consegue atingir os objetivos macroeconómicas e gera condições sanitárias e
de higiene precárias e uma vasta gama de problemas sócias.
Problema
É possível e salutar mitigar a atividade informal em Luanda com a operação resgate levada
a cabo pelo executivo.
Objetivo geral
O objetivo geral desta pesquisa cientifica consiste em analisar as implicações e o resgate
do mercado informal.
Objetivos específicos
 Estudar o paralelismo entre o mercado de trabalho e a economia informal;
 Identificar as implicações do setor informal;
 Descrever o papel do estado na formalização da economia;
 Apresentar as propostas para mitigação do mercado informal em Luanda;
Hipóteses
 O mercado informal em Luanda não deve ser combatido.
 O mercado informa em Luanda deve ser combatido.
Metodologia
Para realização desta pesquisa de monografia, utilizou-se quatro métodos:
 Método descritivo de pesquisa bibliográficas, sites, matérias acadêmicas para sustentação
da parte teórica
 Método investigativo, através de questionários com perguntas abertas, fechadas e
encadeadas, e através das escalas de itens e likert.
 Método dedutivo, através de raciocínios lógicos dos princípios reconhecidos como
verdadeiros e indiscutíveis
 Método de análise fatorial exploratória, através de SPSS para análise e tratamento de dados
Justificativa
Um dos temas que hoje mais têm sobressaído nos discursos oficiais e nas abordagens de
diferentes instituições nacionais e internacionais é o papel da economia informal em Angola. Este
crescente fenómeno da realidade social e económica do país passou a ser o principal fundamento
para o lançamento de instrumentos legais e financeiros para fomentar e oficializar os micros e
pequenos negócios. Entretanto, ao mesmo tempo que esta realidade tem suscitado o surgimento de
leis e produtos financeiros direcionados aos micros e pequenos empresários, porém, estas medidas
não se têm mostrado a altura para impulsionar a reconversão da economia informal. Obviamente,
a reconversão da economia informal passa por instrumentos legais, financeiros, educacionais
perfeitamente adequados aos trabalhadores informais. Entretanto, nenhum desses instrumentos
poderá ser válido se não for conhecido o real perfil do trabalhador informal.
A escolha do tema deve-se ao facto de vivermos um contexto socioeconômico marcado
pela aplicação de políticas que afetam diretamente a camada pobre da sociedade, que tem o
mercado informal como meio de sobrevivência. Além disso, mercado informal é, seguramente,
um dos grandes temas deste século e um fenômeno cada vez mais abrangente e frequente no
mundo, principalmente nos países em vias de desenvolvimento (PVD). A economia angolana
funciona maioritariamente na base da informalidade, o que é preocupante porque oculta dados para
contabilização de grande importantíssimas, como nível de emprego, a quantidade de moeda em
circulação na economia etc.
Delimitação do tema
A nossa análise tem o seu escopo num contexto socioeconômico. Fundamentalmente na
atividade comercial de vendas e mercados locais da província de Luanda nos municípios de Viana,
Cacuaco, Cazenga e Luanda (Mercado do Km30, Mercado do Kwanza, Mercado do Kikolo e
Mercado do São Paulo).
Instrumentos de Pesquisa
 Papel;
 Inquérito;
 Esferográfica;
 Computador;
 Telefone;
 Câmara fotográfica;
FUNDAMENTO TEORICO

3.1. Conceito de economia informal


Não existe nenhuma descrição ou definição universalmente considerada exata sobre economia
informal, pelo facto desta variar em função do contexto sociopolítico e económico de cada país.
Alguns estudiosos e organizações definem a economia informal da seguinte forma:
OIT (2006) refere que a expressão economia informal, consiste nas atividades económicas
desenvolvidas por trabalhadores independentes e/ou unidades económicas que não são abrangidas
pela legislação vigente, nem apresentam qualquer organização formal. Em síntese, estas
organizações e estes trabalhadores operam à margem da lei, cujo volume de negócios é
desconhecido ou inexato.
Já ONU (1996) define a economia informal como um vasto leque de comportamentos
económicos, socialmente aceites, realizados fundamentalmente com finalidade de sobrevivência e
que escapam parcial ou totalmente ao controlo dos órgãos de poder público estatal em matéria
fiscal, laboral, comercial, sanitária ou de registo estatístico.
A OCDE define emprego informal como sendo “O emprego que está principalmente fora
do âmbito da fiscalidade, segurança social e outros regulamentos (OECD, Employment Outlook,
pág. 226, 2004).
Esta organização sinonimiza os termos “não declarado” e “subterrâneo” ao termo informal,
mas não inclui nessa definição as atividades legalmente proibidas - ilícitas.
Em comparação a equivalência estabelecida pela OCDE entre os termos “informal” e
“subterrâneo”, é importante trazer a visão dos economistas Samuelsom e Nordhaus que acoplam
o ilícito ao conceito.
Estes definem economia subterrânea como “atividade económica que não é registada
oficialmente”. Consideram, portanto, que tanto as atividades “…, que de outra forma seriam legais,
não declaradas às autoridades fiscais (como as fabriquetas de garagem ou serviços trocados entre
amigos) ” como as atividades realmente “Ilegais tais como o tráfico de droga, o jogo ilícito e a
prostituição” são subterrâneas. (Samuelson e Nordhaus, 2011).
Toda a atividade económica legal, mas não licenciada, realizada por agentes
económicos ilegais e muitas vezes até legais, que usualmente escapam ao
sistema fiscal, laboral e outros legalmente estabelecidos ou que estruturam o
sistema formal de produção e troca.

A economia informal reflete todas as atividades e práticas econômicas legais realizadas por
agentes econômicos total ou parcialmente ilegais. O sector informal compõe-se assim de atividades
econômicas legais realizadas por agentes econômicos ilegais, não cabendo, por tanto, neste campo
as designadas atividades ilícitas (contrabando, trafico, furto etc.), e engloba geralmente a pequena
produção mercantil (artesanal-industrial, indústria alimentar, confessos, mobiliário etc.), os
transporte, o pequeno comercio (grossista e retalhista), os mercados informais a prestação de
serviços e as atividades de intermediação financeira (CARLOS M.LOPES 2004 apud SILVA 2010
p.16).
H. Soto (1994) caracterizou a economia informal como aquela que se realiza à margem das
normas estatais que regulam as atividades comerciais. Classificou o comércio informal em dois
tipos:
 Comércio informal realizado nas ruas
 Comércio informal realizado nos mercados
O comércio informal realizado na rua está subdividido em comércio fixo e comércio
ambulante. O comércio fixo realiza-se em locais fixos da via pública, frequentemente em frente
ou ao lado das casas onde existe melhor e maior acesso para os clientes. Esta definição assemelha-
se ao conceito de comércio tradicional em Portugal.
Os vendedores que vendiam em determinados locais por si escolhidos exerciam atividades
comerciais de caráter itinerante. Ao fixarem-se num determinado local faz com que criem algumas
infraestruturas simples e rudimentares para a exposição dos seus produtos. Já o comércio
ambulante é uma das principais formas de exercício da atividade comercial informal que se realiza
nas vias públicas, dentro e fora dos mercados.
O comércio informal realizado nos mercados são as atividades desenvolvidas pelos vendedores
informais que não possuem licença para o exercício da atividade, não pagam impostos e nem
emitem faturas relativas às transações comerciais efetuadas.
O comércio informal caracteriza-se pela inexistência de vendas a crédito e ausência de
garantias e serviços pós-venda, pelo facto de não existirem registos, organização e controle dos
produtos por parte dos vendedores o que faz com que não haja a possibilidade de cedência de
crédito aos clientes. (Ibidem).
Adam Smith (1994) define-o como a produção de bens e serviços baseados no mercado, legal
e ilegal, que escapa da detecção das estimativas oficiais do PIB, produto interno bruto.
Para ABC comercial (2001), a economia informal é a prática de atos de comércio de carácter
espontâneo realizado em locais impróprios, nomeadamente na rua, defronte aos estabelecimentos
comerciais e nos mercados paralelos sem obediência a regras e normas técnico-jurídicas,
higiénicas e sanitárias, às obrigações fiscais para como o estado, estabelecidas pela legislação
comercial e de prestação de serviços mercantis, bem como do código comercial vigente.
Carlos Lopes (2007) distingue comércio informal de economia informal. O comércio informal
consiste nas atividades comerciais realizadas, parcial ou totalmente à margem do quadro
legislativo e regulamentar que enquadra o seu exercício, que não cumprem as diversas disposições
legais e que é social e administrativamente tolerado. A economia informal é caracterizada pela
transição de bens e serviços legais, produzidos ou prestados por unidades que operam com pouca
organização e em pequena escala, com pouca ou sem divisão entre fatores de produção, capital e
trabalho, cujo principal objetivo é o de gerar rendimentos e emprego para os indivíduos envolvidos
(Ibidem).
Dados os vários conceitos, termos adotados e as várias controvérsias que existem à volta
do que é formal e do que é ilícito, optaremos pela seguinte descrição de economia informal:
Origens da economia informal

OIT (1993) refere que a expressão “economia informal“ ganhou notoriedade em 1977
quando o antropólogo Keith Hart a utilizou com a finalidade de descrever o tipo de inserção dos
migrantes rurais do norte do Gana nas cidades de destino que ficavam situadas mais a sul do país.
A abrangência do termo “economia informal” não tinha grandes ambições conceituais, na
medida em que pretendia apenas englobar várias formas de organização da produção e as
possibilidades de inserção destas no mercado de trabalho. Estas formas de organização eram
distintas das organizações empresariais, vulgo empresas com uma estrutura mais ou menos rígida,
com relações trabalhistas específicas das economias formais (OIT, 2002). Desta forma, e sem
grandes intenções analíticas na sua origem, a expressão visava, simplesmente, representar um
grupo particular da economia que merecia ser estudada e integrada na sociedade em geral e na
comunidade em particular.
A origem desta expressão surgiu em África. No entanto, foi na América Latina que este
conceito teve maior aplicação e desenvolvimento.
O sector informal da economia teve maior relevo em África após a descolonização dos
países África subsaariana.
A questão de desenvolvimento do continente africano começou a ser discutida nos anos 60
do século XX, quando a maioria dos estados se tornou independente. Os estados africanos
apostaram fortemente em modelos econômicos que se baseavam na substituição da importação e
na intervenção do estado na economia. Estes modelos econômicos trouxeram uma urbanização
acelerada e um grande contingente de trabalhadores do campo para a cidade a par de um “boom”
demográfico superior ao crescimento econômico. A adopção destes modelos de desenvolvimento
e de crescimento econômico teve como consequência imediata o êxodo rural que, por sua vez, veio
a facilitar a expansão e o progresso do sector informal (Ibidem).
No entanto, os observadores destes países começaram por notar que perante a falta de
empregos no sector formal, muito dos pobres foram sobrevivendo através do trabalho para eles
próprios ou para familiares. Operando fora das regras e das regulamentações da economia formal,
estas atividades foram fornecendo uma vasta gama de produtos e serviços. A razão da pobreza
dessas pessoas parecia não ser falta de iniciativa empresarial (CHICKERING E SALAHDINE
1991 apud SILVA, p. 12).
Ainda segundo o autor que temos vindo a citar, a incapacidade do estado em responder aos
desafios fundamentais da população nos domínios do emprego, da saúde, e da educação, está na
origem e expansão do sector informal.
Se analisarmos os custos e benefícios para opção do formal ou informal, podemos concluir
que, quando menor os benefícios da formalidade e maiores os seus custos, mais informal (LORD
GRABINER 2000 apud silva, 2010, p. 13).
Na linha da análise econômica do crime de Becker (1968) segundo Omarildo Silva, a teoria
econômica sugere que quanto maior a probabilidade de ser penalizado pelo exercício informal da
atividade e quanto maior as sanções aplicáveis em caso de penalização, menor o incentivo a
informalidade. A proteção da lei, para os cumprimentos, e a punição, para os incumprimentos, só
se materializam se o sistema de justiça for eficaz. Onde o sistema de justiça seja ineficaz ou mesmo
corrupto, o incentivo para a formalização da atividade fica diminuído. As instituições públicas nos
países africanos no Sul do Saara são normalmente frágeis e fragmentadas, o que permite uma
proliferação do sector informal. A crise econômica, que se fez sentir na África subsaariana durante
a década de 1980, fez emergir por completo a importância da economia informal (Ibidem, p.14).
“As dificuldades do continente africano revelam erros de estratégias que
remontam aos primeiros anos ajustamento estrutural nos anos 80 do século XX.
Onde sob pressão do FMI e do Banco Mundial, as culturas alimentares foram
preteridas em função das culturas de exportação”. O resultado não tardou a
chegar: a agricultura fracassou, sob a incapacidade das políticas de ajustamento
estrutural e dos fracos aparelhos estatais dos países da África subsaariana.
Perante isto, o sector informal da economia surge como alternativa, através da
empregabilidade e distribuição de rendimento e vem assegurar a sobrevivência
da esmagadora maioria das populações da África subsaariana.

Adelino torres in África: desenvolvimento adiado e crise econômica (2006)


De acordo o autor Omarildo silva, o sector informal tem uma importância muito grande na
África subsaariana, o que levou o BM e o FMI a integrarem, mais recentemente, este sector na sua
estratégia de desenvolvimento.
3.2. Causas da economia informal

A existência da Economia Informal reflete um desajustamento dos interesses coletivos da


sociedade, tal como entendidos pelo Estado, e os incentivos individuais (SILVA, Omarildo, pág.
10).
Do ponto de vista da ação do Estado a economia informal tem como origem as seguintes
fontes:
1. Modelos económicos não adaptados à realidade sociocultural dos países (SILVA,
Omarildo, pág. 12);
2. Fraca capacidade de geração de emprego na economia (Checkering e Salahdine, 1991);
3. Inexistência do subsídio de desemprego;
4. Processo de formalização extremamente oneroso:
a. Emolumentos de licenciamento elevados;
b. Encargos fiscais altos;
c. Regulamentação inexistente/inadequada ou excessivamente exigente.
5. Barreiras à entrada de novas micro, pequenas e médias empresas:
a. Falta ou acesso deficiente a informação sobre o mercado;
b. b. Desconhecimento/falta de divulgação de informação sobre os serviços públicos;
c. Fraco acesso a informação sobre novas tecnologias e formação na matéria.
6. Administração burocrática e ineficiente;
7. Corrupção.
8. Do ponto de vista dos fatores socioeconómicos a economia informal tem como origem as
seguintes fontes:
a. Pobreza;
b. Falta de instrução e/ou instrução deficiente;
c. Êxodo rural que tem como origem fundamental: a guerra e a existência de economias
de enclave e/ou centros financeiros de enclave
Diferenças entre economia informal e economia formal
As diferenças entre a economia formal e informal são de ordem variada.
Economia formal: refere-se ao setor da economia que está devidamente registado,
regularizado e tributado pelo governo. Isso inclui empresas legalmente estabelecidas,
trabalhadores com empregos formais, pagamento de imposto e conformidade com regulamentos
trabalhisco.
Economia informal: é o setor da economia que não segue as regulamentações do governo.
Isso inclui atividades não registadas, empregos informais, trabalhadores autônomos que não pagam
impostos e operações comerciais não licenciadas.
Regulamentações e conformidade:
Economia formal: empresas e trabalhadores formais estão sujeitos a regulamentações
governamentais, como leis trabalhistas, ambientais e fiscais. Eles precisam cumprir obrigações
fiscais e contribuir para a previdência social.
Economia informal: a economia informal muitas vezes opera à margem da lei e não está
sujeita às mesmas regulamentações. Isso pode levar a condições de trabalho precários, evasão
fiscal e falta de proteção.
Proteção social
Economia formal: trabalhadores formais geralmente tem acesso a benefícios sociais, como
seguros saúde, aposentadoria e licença remunerada. Eles também têm direitos trabalhistas, como
férias pagas e horas de trabalhos regulamentadas.
Economia informal: trabalhadores informais geralmente não tem acesso a esses benefícios
sociais e muitas vezes enfrentam maior vulnerabilidade econômica.
Contribuição para economia
Economia formal: contribui significativamente para a arrecadação de imposto e o
crescimento econômico. É geralmente, mas estável e oferece maior segurança para os
trabalhadores.
Economia informal: embora seja uma parte significativa da economia de muitos países, a
economia informal tende a ser menos estável e não contribui tanto para arrecadação de impostos.
Tamanho da foça de trabalho
Economia formal: geralmente representa uma parcela menor da força de trabalho em
comparação com a economia informal.
Economia informal: pode abranger uma parte substancial da força de trabalho,
especialmente em países em desenvolvimentos.
Países que vivem o fenómeno da economia informal enfrentam o problema da bipolaridade
na organização quer do sistema económico como do ciclo económico. Por outras palavras, para
um mesmo produto comercializado, há pelo menos dois mercados com regras de organização
diferentes e conceito de produto, preço e qualidade também diferentes. A tabela abaixo demonstra
as principais diferenças entre os dois mercados.
Tabela - Diferenças entre economia informal e economia formal

Diferenciação do ponto de
Formal Informal
vista:

Arranque da atividade Dependentes de autorização


Conta apenas a iniciativa pessoal
oficial

Sociedade legalmente Individual ou familiar, livre e


Organização
constituída flexível.

Instalações Obrigatórias Geralmente inexistentes

Capital de Investimento Elevado Fraco

Capital de reserva Essencial Geralmente inexistente

Importada e de alto nível ou Inexistente ou primitiva e


Tecnologia
reproduzida localmente adaptada

Reduzido em relação ao
Abundante, sem
Trabalho volume e ao valor da
especialização
produção

Ao abrigo de contrato de Acordado entre pessoas, sem


Salário e vinculo
trabalho segundo normas legais vínculo

Grandes quantidades e/ou boas Quando muito, pequenas


Armazenamento
qualidade quantidades e de fraca qualidade

Preços Tabelados oficialmente Objeto de negociação


Crédito Operações bancárias; Pessoal ou familiar; recurso a
empréstimos ou subsídios instituições tradicionais
estatais; investimentos (associações de poupança e
estrangeiros crédito, e banqueiros do povo)

Pequena por unidade, mas alta Elevado por unidade, mas


Margem de lucros pelo volume de negócios, pequena por volume de negócios;
capitalização capitalização rara

Custos fixos Substanciais Não contabilizados

Contabilidade e Inexistentes ou, quando muito, a


Ambas obrigatórias por lei
apresentação de contas primeira em moldes rudimentares

Reciclagem de desperdícios Raramente Muito frequente

Importante e intensiva, por


Publicidade meios próprios ou por via da De pessoa a pessoa, quando existe
mídia

Sociedades legalmente
Legalidade dos
Sociedades legalmente constituídas e sociedades ou
fornecedores de bens e
constituídas fornecedores não constituídos
serviços
dentro da legalidade

Dependência do exterior Grande, com contratos Pequena ou nenhuma

Fonte: Ilídio do Amaral - Importância do sector informal na economia urbana em países da África
Subsaariana, pág. 59.
É importante notar que a distinção entre economia formal e informal não é rígida, e alguns países
tem sectores intermediários. Além disso, a transição de atividades da economia informal para a
formalização é um objetivo em muitas políticas governamentais, pois pode melhorar a arrecadação
de impostos, a proteção dos trabalhadores e o crescimento econômico.
3.4. Características da economia informal e suas implicações
A economia informal apresenta várias características e cada uma delas com implicações
diferentes quer sobre a economia formal como para os próprios trabalhadores que veem nas
atividades informais um meio para suprirem as suas necessidades de bens e serviços essenciais. A
tabela 2.2 demonstra as características comumente inerentes à economia informal.
Tabela 2.2 – Características da economia informal e implicações

Características Implicações
Sentimento de impotência, de exclusão e de
Pobreza
vulnerabilidade

Restrições de acesso ao capital e ao crédito

Direitos de propriedade não reconhecido Acesso ao crédito de familiares ou amigos

Acesso ao crédito solidário não oficial (quixiquila)

Não acesso ao sistema judicial para exigir o


cumprimento dos seus contratos
Inexistência jurídica
Não acesso ou acesso dificultado a infraestruturas e
prestação públicas

Concorrência desleal a Economia formal

Não pagamento de obrigações fiscais e sociais Não arrecadação de receitas fiscais (estado)
em relação aos trabalhadores
Limitação da capacidade do estado de alargar os
serviços sócias

Despedimento aleatório
Inexistência do contrato de trabalho
Carga horária laboral excessiva

Não observância de exigências sanitárias

Escape a supervisão administrativa Trabalho infantil

Assédio sexual

Atividade de subsistência Pequena dimensão ou família


Ocupação de espaço públicos (passeios, estradas,
Realidade urbana
parques).

Contabilidade inexistentes

Auto risco de extinção


Conhecimentos adquiridos em trabalho e sem
fundamento cientifico

Alto grau de flexibilidade

Mobilidade Auto grau de competitividade

Falta de horário

Baixa produtividade
Tecnologia rudimentar
Salários baixos

São os principais retalhistas da economia nacional e


as grandes superfícies comerciais (vulgo armazéns)
Muitas vezes abastecido pelo mercado formal dependem largamente deste mercado para a
distribuição dos seus produtos até o consumidor
final

Forte influencia na especulação dos preços das


Não raras vezes abastece o mercado formal
mercadorias e serviços
3.5. A Economia Informal e o Emprego
A Economia Informal nasce como substituto e não como complemento da Economia
formal (SILVA, Omarildo, pág. 8). A maior parte das pessoas decide por se envolver ou
desenvolver algum trabalho na economia informal por sobrevivência. A necessidade de obter um
rendimento, por menor que seja, para satisfazer necessidades básicas diárias faz com que muitos
(essencialmente pobres), sem outra escolha, se submetam a trabalhos pouco dignos ou
desenvolvidos em condições pouco dignas.
Num ambiente socioeconómico de altas taxas de desemprego, de subemprego e de níveis
acentuados de pobreza, a impossibilidade de aceder ao mercado formal de emprego é vencida pela
facilidade de acesso na economia informal com as suas baixas exigências em termos de
qualificações, capital e tecnologia. No entanto, pela falta de proteção, de direitos e de
representação, acaba por quase raramente tirar esses trabalhadores da condição de pobreza.
Em conformidade com essas acepções o Relatório V (1) - Transição da economia informal
para a economia formal do Bureau Internacional do Trabalho (2014, pág. 7) descreve o seguinte:
“Uma ampla pesquisa empírica demonstrou que os trabalhadores na economia informal
enfrentam maiores riscos de pobreza do que aqueles da economia formal. Como resultado destes
e de outros fatores, há uma coincidência significativa, mas não total, entre o trabalho informal e a
pobreza e a vulnerabilidade. Enquanto algumas atividades oferecem meios de subsistência e
rendimentos razoáveis, a maioria dos trabalhadores da economia informal está exposta a condições
de trabalho inadequadas e inseguras, e tem níveis elevados de analfabetismo, níveis de baixa
qualificação e oportunidades de formação desajustadas; têm rendimentos inferiores, mais incertos
e mais baixos do que aqueles na economia formal, trabalha mais horas, não está coberta pela
negociação coletiva e não têm direitos de representação e, muitas vezes, possuem um estatuto de
emprego ambíguo ou dissimulado; e estão física e financeiramente mais vulnerável porque o
trabalho na economia informal está fora, ou efetivamente para além do âmbito dos regimes de
segurança social, de segurança e de saúde, maternidade e outra legislação de proteção no trabalho”.
Sem garantias nenhumas para os trabalhadores, a economia informal, segundo a OIT, é
caracterizada por trabalhadores assalariados e trabalhadores por conta própria, sendo que a maioria
dos trabalhadores por conta própria são tão vulneráveis e carecem de tanta segurança quanto os
assalariados e, com facilidade, passam de assalariados para trabalhadores por conta própria e vice-
versa. De acordo com o Bureau Internacional do Trabalho (Relatório V, 2014, pág. 7), em todas
as regiões em desenvolvimento, o trabalho por conta própria constitui uma parcela maior do
emprego informal (não-agrícola) do que o emprego remunerado.
Representa quase um terço do total do emprego não-agrícola em todo o mundo,
contabilizando até 53% do emprego não-agrícola na África Subsaariana, 44% na América Latina,
32% na Ásia e 31% no Norte de África. A proporção de trabalhadores por conta própria e
trabalhadores familiares no emprego total era de 81% nos países menos desenvolvidos em 2008,
em comparação com 59% nos países em desenvolvimento. As estimativas mais recentes para a
região da América Latina e Caraíbas (ALC) mostram que, do número total de trabalhadores do
setor informal, 38,6% são trabalhadores assalariados nas empresas, 10,9% são assalariados do
agregado familiar e 41,4% são trabalhadores por conta própria.
Os postos de trabalho na economia informal são ocupados maioritariamente por mulheres.
Segundo a OIT esse facto deve-se a feminização da pobreza, as várias formas de discriminação e
à realidade observável da responsabilidade feminina múltipla de garantir a subsistência da família,
tratar das tarefas domésticas e cuidar dos idosos e das crianças, aliado a discriminação no acesso
à educação, à formação e a recursos económicos (OIT, 90ª Conferência Internacional do Trabalho,
2002, pág. 12).
Dados do Bureau Internacional do Trabalho (2014) apontam que na África Subsaariana
74% do emprego das mulheres (não-agrícola) é informal, em contraste com 61% para os homens;
na América Latina e Caraíbas, os números são 54% e 48%; no sul da Ásia, 83% e 82%; e na China
urbana, 36% e 30%.

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