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Candidato: Supervisor:
O Estado moçambicano nos últimos anos tem o seu foco na visão de "distrito como polo do
desenvolvimento", e tem emendado esforços com vista a alavancar as economias locais na
crença de com isso alcançar o desenvolvimento do país como um todo. Além da sua
intervenção directa no alcance do desenvolvimento, o Estado tem contado com a prestação do
sector empresarial para o alcance desse fim, e recentemente tem movido acções estratégicas
com vista a promover o sector das PMEs, por compreender a sua importância na economia-
pela provisão de bens e serviços e pela criação de postos de trabalho.
É neste âmbito que o presente trabalho busca compreender o contributo das PMEs no
desenvolvimento socioeconómico local. Visto que nota-se uma relação entre essas duas
temáticas, a presente pesquisa buscará trazer evidencias bibliográficas, documentais e
empíricas dessa relação, sem deixar de lado os desafios ou constrangimentos que este sector
tem, e as acções do Governo para o alivio desses constrangimentos, com o objectivo último
de trazer a luz do leitor a importância de se investir neste sector económico (se for constatado
de facto o seu contributo para o desenvolvimento local).
A escolha do ano de 2016 como marco inicial deve-se ao facto do Governo de Moçambique
ter enfatizado nesse ano, apoiado no Programa Quinquenal do Governo (PQG) 2015-2019, o
seu objectivo central de melhoria das condições de vida dos moçambicanos, que se traduz no
aumento do emprego, da produtividade e da competitividade, e com isso mobilizou várias
acções de visem criar mais oportunidades de emprego, melhoria da empregabilidade da força
de trabalho, e outros indicadores de bem estar, através da promoção do sector empresarial,
com destaque para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), por serem uma via para um
capitalismo industrial mais competitivo, flexível e próximo dos mercados e das localidades.
A escolha do ano de 2020, justifica-se pelo facto de nesse ano as PMEs, em Moçambique,
terem-se encontrado numa crise profunda, devido a eclosão da pandemia da Covid-19, que
causou notáveis alterações económicas e sociais. Em 2020 assistiu-se o encerramento da
maioria das PMEs, e juntamente viu-se o agravamento de problemas como desemprego, fome
e pobreza, principalmente a nível dos distritos e localidades do pais, o que levou o
pesquisador a reflectir sobre a relação entre as PMEs e o desenvolvimento local.
1.2. Contextualização
As PMEs constituem, em número, a maioria das empresas em qualquer país e são também
um factor de desenvolvimento. Em muitas economias, as PMEs detêm a maior parte de forca
de trabalho, e contribuem juntamente para as exportações, empreendedorismo, eficiência e
outros pontos importantes do desenvolvimento (Lall, 2000).
Desde 1995, existe, em Moçambique, um diálogo anual contínuo entre o governo e o sector
privado e, desde então, o governo empreendeu uma série de reformas, destinadas a melhorar
o ambiente de negócios, para com isso alavancar a economia e criar maior provisão a
sociedade (IPME, 2016).
A presente pesquisa insere-se num contexto em que o sector das PME apresenta se como um
sector em que engloba maior parte da mão-de-obra em toda parte do mundo, principalmente
em países em desenvolvimento, No entanto, a maioria das PME nos países em
desenvolvimento, como o caso de Moçambique são, segundo a OIT (2015), "microempresas
informais de baixa produtividade que não são nem produtivos nem dignos."
O tema insere-se num momento em que Moçambique enfrenta, de acordo com Ali (2020),
situações indesejáveis como: a multiplicação da precariedade do trabalho e das condições
sociais, o crescente desemprego, o declínio dos rendimentos, a destruição dos modos de vida,
o não acesso a bens e serviços básicos e o aumento da pobreza e da fome, que intensificam as
desigualdades, agravando as crises como a do novo coronavírus (COVID-19) e, assim,
bloqueando a reprodução social da força de trabalho e do sistema socioeconómico global.
1.3. Justificativa
Para a comunidade científica, o tema poderá trazer novos conhecimentos que inspirarão a
criação de novas teorias e modelos nas áreas de economia e administração. Uma vez que há
pouca manifestação literária sobre o assunto, o presente tema poderá trazer uma inspiração
para a realização de pesquisas sobre o sector empresarial, em destaque para o sector das
PMEs, e o seu papel na solução de problemas socioeconómicos como o desemprego, fome e
pobreza.
Outra razão da escolha do tema, deve se ao facto de que, por conta do fenómeno da Covid-19,
várias PME foram encerradas em Moçambique, por conta das medidas de prevenção contra o
novo vírus pandémico, levando o pesquisador a reflectir sobre o contributo deste sector na
economia do país, sobretudo a nível local.
1.4. Problematização
Nas últimas décadas, o debate sobre o desenvolvimento local tem ganho maior espaço e
importância, por este contribuir para o desenvolvimento das populações e na redução da
pobreza absoluta. Sendo assim, reconhece-se a importância do sector privado, concretamente
das PME, para o alcance de objectivos recorrentes para a dinamização do desenvolvimento,
como a provisão do emprego para as populações.
Existe o risco de que a promoção das PME, devido ao seu contributo para o emprego, sem
uma diferenciação adicional por sub-segmentos, privilegie a quantidade face à qualidade do
emprego. Isto é, porque as PME incluem também um grande número de microempresas que
criam postos de trabalho que não são nem produtivos nem dignos (OIT, 2015).
1
Organização Internacional do Trabalho
Moçambique afectaram um total de 80 mil empresas, instituições que foram obrigadas a
encerrar as portas, rescindir ou suspender contratos.
Dadas as acepções acima colocadas, surge a seguinte questão: Até que ponto as Pequenas e
Medias Empresas contribuem na dinamização do desenvolvimento socioeconómico local
em Moçambique?
1.5. Objectivos
1.7. Hipóteses
Para a realização deste trabalho foram empregues diversos métodos e técnicas cuja escolha
deveu- se a natureza, características e objectivos da própria pesquisa.
a) Quanto à natureza
Quanto a natureza a pesquisa é aplicada, pois tem como objectivo gerar conhecimentos para
aplicação prática, dirigidos a solução de problemas específicos, envolve verdades e interesses
locais (Gil, 1999:30). Este tipo de pesquisa permite o pesquisador encontrar possíveis
soluções aplicáveis ao problema identificado no que diz respeito ao contributo das PMEs no
desenvolvimento socioeconómico local.
No que se refere aos objectivos a pesquisa é explicativa: este tipo de pesquisa caracteriza-se
pela identificação dos factores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenómenos, aprofunda o conhecimento da realidade pois explica a razão, ou seja, o porquê
das coisas (Gil, 2010). Este tipo de pesquisa permitirá explicar a questão do desenvolvimento
socioeconómico local do Posto Administrativo de Infulene a partir do contributo das PME.
c) Quanto a abordagem do problema
a) Método de abordagem
Método Hipotético-dedutivo: de acordo com Gil (1999:30), este método se inicia pela
percepção de uma lacuna nos conhecimentos, dai que se formula hipóteses e, pelo processo
de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela hipótese.
Este método será aplicado nas PME do Posto Administrativo de Infulene, com vista a
verificar a validade e veracidade das hipóteses levantadas, no que diz respeito ao seu
contributo no desenvolvimento socioeconómico.
b) Método de procedimento
Método Monográfico: de acordo com Marconi & Lakatos (2003), este método parte do
princípio de que qualquer caso, estudado com profundidade pode ser considerado
representativo de muitos outros, ou até de todos os casos iguais ou semelhantes. O método
consiste em estudar indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos sociais ou
comunidades. O método monográfico possibilitará ao pesquisador deslocar-se ao Posto
Administrativo de Infulene, com vista a verificar a validade e veracidade das hipóteses
levantadas, no que diz respeito ao contributo das PMEs no seu desenvolvimento.
Este presente trabalho é composto por quatro capítulos. O primeiro capítulo aborda a
introdução do trabalho, onde encontramos elementos como: a delimitação espácio-temporal, a
contextualização da pesquisa, a justificativa do tema, a problematização, os objectivos do
trabalho, as questões de pesquisa e suas hipóteses, e a metodologia do trabalho.
2
Recenseamento Geral da População e Habitação, 2018. INE, Maputo
No terceiro capítulo, apresenta-se a revisão de literatura. Aqui busca-se abordar, de forma
exaustiva, os tópicos relacionados ao contributo das PME no desenvolvimento
socioeconómico local, trazendo abordagens literárias que sirvam de suporte para a pesquisa e
sirvam de base para se realizar o estudo de caso.
O referencial teórico consiste, na escolha de teorias que ajudem a explicar a relação entre as
variáveis do tema em estudo. Dada a natureza do tema, o presente estudo foi analisado a luz
da Teoria do Desenvolvimento Endógeno (TDE) e da Teoria dos Stakeholders.
No entanto, nos finais da década de 1970 e início da década de 1980 surgiu uma colectânea
de trabalhos, inicialmente dispersos, que viriam a convergir, no fim dos anos 80, em uma
nova ortodoxia. Segundo essa nova ortodoxia, o êxito e o crescimento das regiões industriais
implicam em impactos consideráveis, em termos de reestruturação funcional do espaço,
devido ao processo de flexibilização e descentralização, dentro e fora das organizações
produtivas. O argumento se baseava na suposição de que as regiões dotadas de factores de
produção, ou estrategicamente direccionadas para desenvolvê-los internamente, teriam as
melhores condições de atingir o seu desenvolvimento (Campos, Callefi & Sousa, 2005).
Sendo assim, surgem então novos paradigmas no campo da economia regional, marcados
pelo aspecto endógeno das fontes de desenvolvimento. O aspecto endógeno refere-se ao fato
de o desenvolvimento ser determinado por atores internos à região, sejam eles empresas,
organizações, sindicatos ou outras instituições (idem).
A teoria do desenvolvimento endógeno surgiu, então, como uma nova concepção que viria a
responder aos desafios contemporâneos. O surgimento do paradigma do desenvolvimento
endógeno se deveu à insatisfação provocada pelo enfraquecimento e ineficiência do modelo
de desenvolvimento ‘a partir de fora’ proposto nos anos 1960 e 1970” (Barquero, 2002).
Desse modo, segundo Amaral Filho (20023, citado por Campos et al. 2005), o
desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo de crescimento económico
que implica em uma contínua ampliação da capacidade de geração e agregação de valor sobre
a produção, bem como da capacidade de absorção da região, na retenção do excedente
económico gerado na economia local e na atracção de excedentes provenientes de outras
regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda
local/regional gerada por uma determinada actividade económica.
A TDE é fruto dos trabalhos de vários estudiosos das áreas de Economia e Administração,
como Kenneth Arrow (1962), Hirofumi Uzawa (1965) e Miguel Sidrauski (1967); porém as
abordagens mais destacadas são de Paul Romer (1986) e Robert Lucas (1988). (Araújo,
2014).
3
Amaral F. J. (2002) Desenvolvimento regional endógeno: (re)construção de um conceito, reformulação das
Estratégias, Revista Económica do Nordeste, v. 26, n. 3: Fortaleza.
físico. Estes autores estabelecem uma relação directa entre o conhecimento e o crescimento
económico (Silva, 2012 citando Baleiras 20114).
4
Baleiras, R. (2011). Introdução: Economia e política do desenvolvimento regional. In R. BALEIRAS (coord.),
Casos de desenvolvimento regional (pp. 13-78). Cascais: Princípia.
5
Romer, P.M. (1994), Origins of Endogenous Development. Journal of Economic Perspectives, vol.8, n.1.
6
Barquero, A. V. (2001), Desenvolvimento Endógeno em tempos de globalização. Tradução: Ricardo Brinco.
Fundação de Economia e Estatística.
7
Garofoli, G. (1992), Endogenous Development and Southern Europe, Avebury, Aldershot, UK.
8
Romer, P. (1986). Increasing Returns and Long-Run Growth. Journal of Political Economy, 94 (5), 1002-1037.
9
Lucas, R. (1988). On the mechanics of economic development,University of Chicago: Chicago.
10
O desenvolvimento exige a flexibilidade produtiva, no sentido de ser aberto um
espaço para inserção competitiva de pequenas e médias empresas na dinâmica da
acumulação de capital (idem).
Assim, estes modelos denotam algum afastamento dos pressupostos neoclássicos tradicionais.
No entanto, persistem com a hipótese de existência de equilíbrio geral, e portanto, são
considerados modelos de aprofundamento à teoria neoclássica. (idem).
Paul Krugman (1998) criticou a teoria do crescimento endógeno como quase impossível de
ser verificada por evidências empíricas; declarando que “Muito disso envolvia fazer
suposições sobre como coisas imensuráveis afectavam outras coisas imensuráveis."
A TDE foi aplicável para o estudo primeiramente por ajudar na compreensão da variável
Desenvolvimento Local, pois nos moldes desta teoria, o Desenvolvimento é alcançado na
medida que em que se faz a alocação de esforços económicos e sociais locais e a partir da
valorização e utilização dos recursos gerados localmente. Sendo assim, esta teoria serve de
suporte para um estudo orientado ao Desenvolvimento local.
É uma teoria relacional, que permite fazer ligação entre as duas variáveis do Estudo (PME e
Desenvolvimento socioeconómico local), pois esta propõe uma série de possibilidades de
desenvolvimento a partir da utilização dos potenciais económicos, humanos, naturais e
culturais internos a uma localidade; e nas potencialidades económicas é onde encontramos o
contributo das Pequenas e Medias empresas.
2.1.2. Teoria dos Stakeholders
2.1.2.1. Origem
A teoria dos Stakeholders teve como principais defensores Thomas Donaldson e Lee Preston,
nos finais do século XX (Gama et al, 2008).
Segundo Donaldson e Preston (199511, citados por Gama et al 2008), o termo stakeholder foi
inicialmente empregado na área de administração em um memorando interno do Stanford
Research Institute – SRI em 1963. O conceito inicial do termo era designar todos os grupos
sem os quais a empresa deixaria de existir. De acordo com este memorando, os grupos de
stakeholders incluiriam acionistas, empregados, clientes, fornecedores, credores e a
sociedade. Este memorando ainda propõe que os gestores deveriam compreender os
interesses dos stakeholders e então desenvolver objectivos compatíveis com estes.
Os aspectos envolvendo os stakeholders podem ser usados de formas distintas pelas empresas
e reconhecem três tipos de uso: descritivo, instrumental e normativo. O aspecto descritivo
ocorre quando a empresa utiliza o modelo para representar e entender as suas relações e
papéis nos ambientes: externo e interno. O aspecto instrumental é evidenciado quando o
modelo é usado como uma ferramenta de gestão para os administradores. Já o uso normativo
surge quando a administração reconhece os interesses de todos os stakeholders, conferindo a
estes uma importância intrínseca (Neto,2019).
Segundo esta teoria, o verdadeiro propósito da empresa é servir de veículo para coordenar os
interesses dos stakeholders, e criar e distribuir riqueza aos stakeholders primários (Gama et al
2008).
11
DONALDSON T. PRESTON L E. (1995), The stakeholder theory of the corporation:
concepts, evidence and implications. Academy of Management Review. Ada, v.20, n.1, p.65-
91.
12
FREEMAN, R. E. (1984), Strategic management: a stakeholder approach. Boston: Pitman.
Defensores da teoria fundamentam que, os stakeholders tem poder suficiente para mudar a
empresa, trazendo impacto positivo ou negativo, dai que os seus interesses devem ser levados
em conta na formulação de decisões estratégicas da empresa (Neto, 2019).
Outra característica da teoria dos stakeholders é seu carácter relacional. Neste sentido, a
teoria dos stakeholders apresenta-se como uma teoria das organizações que propõe um
modelo relacional, interligando indivíduos, grupo, comunidade, empresa, instituições e o
Estado (idem).
Alguns autores criticam a teoria dos stakehoders por não oferecer objetivos claros aos
gestores. De acordo com Dufrene e Wong (1996 13 citados por Gama et al 2008) os interesses
dos stakeholders são em muitos casos incompatíveis entre si, fato que não permitiria uma
decisão clara por parte dos gestores (Gama et al 2008).
13
DUFRENE U. WONG, A, (1996) Stakeholders versus Stockholders and Financial Ethics:
ethics to whom? Managerial Finance. Patrington, v.22, n.4, p.1-11.
A teoria dos Stakeholders é aplicável neste estudo, primeiramente por ser uma teoria
organizacional, que retrata a organização empresarial, servindo de referência para
compreensão da variável Pequenas e Medias Empresas. Além disso, a teoria permite
estabelecer uma relação entre as duas variáveis da pesquisa (PME e Desenvolvimento Local),
na medida em que considera que o sucesso das empresas é condicionado pela satisfação
directa e indirecta dos interesses dos Stakeholders, onde encontramos accionistas,
empregados, clientes, fornecedores, credores e a sociedade. Em outras palavras, esta teoria
nos faz perceber que as PME alcançam seu sucesso quando conseguem contribuir para a
sociedade, na eliminação de alguns problemas como fome, escassez de recursos, pobreza e
desemprego; e assim promovendo o seu desenvolvimento.
Embora a abordagem inicial das duas teorias incida sobre cada uma das variáveis em
separado, essas teorias tem em comum uma abordagem relacional, na medida em que a TDE
advoga que o desenvolvimento local será alcançado quando se reúnem esforços económicos,
tecnológicos e sociais, onde nos esforços económicos encontramos as PMEs e seu contributo.
E a Teoria dos Stakeholders defende que o sucesso da empresa não depende somente dos
colaboradores internos a organização, mas da busca em satisfazer também as necessidades da
sociedade que cerca esta empresa.
Após o referencial teórico, onde foram apresentadas as teorias que sustentam o estudo, segue-
se o debate dos conceitos-chave que ajudam na melhor compreensão da pesquisa. Tais
conceitos fundamentais são: empresa, empresa privada, PME, desenvolvimento,
desenvolvimento local.
2.2.1. Empresa
Segundo Maximiano (2008), empresa é uma iniciativa que tem o objectivo de fornecer
produtos e serviços para atender as necessidades das pessoas, ou dos mercados, e por via
disso obter lucro.
Chiavenato (2004), traz uma definição mais integral ao afirmar que, empresa é todo
empreendimento humano que procura reunir e integrar recursos humanos e não humanos
(como os financeiros, físicos, tecnológicos e mercadológicos), no sentido de alcançar
objectivos de auto-sustentação e de lucratividade pela produção e comercialização de
produtos ou serviços.
Perroux (1961:50) concorda com a afirmação acima defendendo que " empresa é uma
organização de produção na qual se combinam os preços de diversos factores de produção,
traduzidos por agentes distintos do proprietário, visando a venda de um bem ou serviço, para
obter a diferença entre os dois preços (do custo e da venda), tirando o maior proveito
monetário possível".
Empresa privada é uma unidade de produção de mercadorias e/ou prestação de serviços, que
reúne um conjunto de recursos físicos, humanos e financeiros, cujo capital e autoridade são
detidos por um individuo ou um grupo de indivíduos, e que visa a prossecução de um
conjunto de objectivos, mediante a aquisição, combinação e transformação de factores de
produção (Ferreira et al, 2017).
Maximiano (2008), traz uma definição mais sintética ao afirmar que, empresa privada é uma
organização de produção ou prestação de serviços, regida por indivíduos do direito privado,
cuja finalidade é maximização do lucro.
Dada a posição dos autores acima citados, podemos compreender empresa privada como uma
unidade organizacional de produção e/ou prestação de serviços, cujo autoridade e capital é
detido por pessoas do direito privado, que têm o objectivo final de maximizar o seu lucro.
2.2.3. PME
As definições de PME variam muitas vezes de país para país e baseiam-se geralmente no
número de trabalhadores, no volume anual de negócios ou no valor do activo das empresas.
Definindo de forma geral, PMEs são empresas com características distintas, tendo uma
dimensão com determinados limites de empregados e financeiros fixados pelos Estados ou
regiões administrativas. São agentes com lógicas, culturas, interesses e espirito empreendedor
próprios. 14
Tedo como base a legislação moçambicana, podemos nos referir a PME como qualquer
empresa com um intervalo de cinco a cem trabalhadores e com um volume anual não superior
a trinta milhões de meticais. Incluem-se todos os tipos de empresas, independentemente da
sua natureza jurídica (como empresas familiares, sociedades unipessoais ou cooperativas) ou
do facto de serem empresas formais ou informais (EGPMEs,2008).
2.2.4. Desenvolvimento
Sandroni (199415, citado por Oliveira 2002), assim como Furtado, considera desenvolvimento
como crescimento económico acompanhado por melhorias do nível de vida dos cidadãos e
por alterações estruturais na economia. Para ele, o desenvolvimento depende das
características de cada país ou região; isto é, depende do seu passado histórico, da posição e
extensão geográficas, das condições demográficas, da cultura e dos recursos naturais que
possuem.
14
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Pequena_e_m%C3%A9dia_empresa acessado ao 13/03/2023 as 12:10
15
Sandroni, P. (1994), Dicionário de economia, Atlas: São Paulo.
Sen (2010), traz uma definição mais social do desenvolvimento, ao afirmar que
desenvolvimento é, um processo de transformação social, que visa eliminar privações de
liberdade que limitam as escolhas e oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente
sua condição de agir, trazendo igualdade de oportunidades de índole social, político e
económico, e dando aos indivíduos a liberdade de tomar decisões que se traduzam no seu
bem-estar.
Bartik (2003), define DSEL como o aumento das capacidades da economia local visando
criar riqueza para os seus residentes, se os recursos locais disponíveis forem usados de forma
produtiva, especialmente no que se refere à utilização da mão-de-obra desempregada. Já o
relatório da OIT (2015) enfatiza no DSEL a geração do emprego como o seu objectivo
último, fruto de uma intervenção participativa que proporcione uma parceria entre os
principais actores públicos e privados no território definido na implementação conjunta duma
estratégia concertada, utilizando os recursos locais e as vantagens competitivas num contexto
global.
16
Gwen et al, (2006) - Manual para Desenvolvimento Económico Local – Banco Mundial.
humanos, económicos, institucionais e culturais, bem como de economias de escala não
aproveitadas, que formam seu potencial de desenvolvimento.
Com as diferentes concepções acima trazidas, podemos definir o DSEL como um processo
que faz uso das potencialidades localmente encontradas para gerar riqueza e bem-estar ás
populações, valorizando iniciativas empreendedoras e mobilizadoras da comunidade, que
resultam na criação de emprego digno e crescimento das estruturas económicas.
Conclui-se desta forma o segundo capítulo, que aborda sobre o referencial teórico e debate
conceptual, onde no referencial teórico, fez-se uso da Teoria dos Stakeholders e da Teoria do
Desenvolvimento Endógeno. No debate conceptual, foi trazida uma discussão dos conceitos
de: Empresa, Empresa privada, PME, Desenvolvimento e Desenvolvimento Local. O capítulo
que se segue é o terceiro e nele faz-se a revisão da literatura, para abordar as variáveis do
trabalho de forma aprofundada.
CAPITULO 3: ABORDAGEM SOBRE AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS E
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÓMICO LOCAL
A partir da década de 1980, influenciado por uma nova conjuntura politica e económica,
movido pelo movimento da globalização financeira, e associado às novas tecnologias de
informação e comunicação, surge um novo modelo económico, que permite a coexistência de
diferentes sistemas de produção: a produção em escala em alguns sectores e, em outros, o
modelo de especialização flexível, baseada numa economia personificada, conforme o perfil
do cliente e cujo principal capital está baseado em informação (Oliveira & Bertucci 2003).
As novas tecnologias de informação e comunicação têm papel relevante nesse novo modelo
de produção e atribuem à informação um papel nunca visto anteriormente o qual segundo
Albagli (199918) revoluciona as relações económicas e socioculturais e gera implicações de
várias ordens. É nesse contexto que as PMEs passam a ter papel relevante, em virtude de sua
capacidade de gerar empregos, de mobilizar o crescimento regional e também do movimento
de downsizing, de terceirização e da inovação em busca de uma vantagem competitiva (ibid).
17
LA ROVERE, R. L. (1999) As pequenas e médias empresas na economia do conhecimento, P. 145-163,
LASTRES: Rio de Janeiro.
18
ALBAGLI S. (1999). Novos espaços de regulação na era da informação e do conhecimento, Campus,
LASTRES: Rio de Janeiro.
c. Estratégia para Melhoria do Ambiente de Negócios (EMAN)
d. Estatuto Geral das Micro, Pequenas e Médias Empresas
e. Regulamento do Licenciamento da Actividade Comercial,
f. Política e Estratégia Industrial (2016-2019)
Existem, para além dos acima mencionados, outros documentos legais que suportam a
criação, actividade e desenvolvimento das PMEs em Moçambique.
Kaufmam (2020) afirma que o tamanho e a estrutura das empresas dos países industrializados
e das em vias de desenvolvimento não são comparáveis. Não existe uma relação ou um
padrão ideal.
O Estatuto Geral das MPME, (aprovado pelo Decreto n.º 44/2011, de 21 de Setembro),
oferece uma classificação e definição de caracter uniforme para todas PME em Moçambique.
O Estatuto de 2011 define as MPME em termos de volume de negócios e do número de
empregados, como está contemplado na tabela abaixo.
Tabela 2- classificação quantitativa das PMEs em Moçambique
Os critérios quantitativos são os que geralmente são invocados para compreender a diferença
entre uma pequena empresa e uma média empresa, e dessas com as mini/micro empresas
assim como as grandes empresas. Porém, para uma compreensão integral é importante nos
referimos a critérios de qualidade ou qualitativos (Kaufmam, 2020).
Reacção rápida ao mercado devido a estrutura simples e agilidade. Mas por outro
lado, maior propensão ao risco, causado pela falta de informações sobre o ambiente
externo, oportunidades e ameaças, e pela dificuldade de acesso à tecnologia.
Ausência de burocracia, ciclo decisório curto e estrutura Informal.
No que concerne aos Recursos Humanos, há maior fortalecimento da relação entre a
direcção e a propriedade, pois os proprietários assumem várias atribuições
simultâneas. No, entanto, há falta pessoal especializado para atender a todas as
necessidades internas.
A agilidade, flexibilidade, relação próxima com os clientes. Mas por outro lado,
dificuldade de capital para expansão em novos mercados, e liderança com pouca
experiência para lidar com situações mais complexas.
Segundo Carmo e Pontes (199919 citados por Oliveira e Bertucci 2003),as PMEs pertencem
normalmente a um indivíduo, a grupos familiares ou a pequenas sociedades comerciais.
Normalmente não recorrem ao mercado de capitais, possuem um tipo de administração pouco
especializada e são muito ligadas às características e personalidade de seus proprietários,
como talento, sensibilidade, vontade de realização, dentre outras.
19
Carmo V. B., Pontes C. C. Cunha, (1999), Sistemas de informação gerenciais para programa de qualidade
total em pequenas empresas da região de Campinas, Ciência da Informação, v. 28, n. 1, p. 49-58, jan./abr:
Brasília.
volume anual de negócios é de apenas cerca de 25% (equivalente a 198.000.000 Mt 10ᵌ),
sendo que as grandes empresas detêm 75% (idem).
De acordo com os dados do segundo CEMPRE (2014-2015), no sector das PMEs, o comércio
é a actividade dominante, ocupando 51% (24 876 empresas) do número total de PMEs,
seguida de actividade de serviços. A indústria processamento (manufactura) também é um
sector de destaque nas PMEs.
Actividades de alojamento e actividades de restauração têm ganho mais espaço nas PMEs
moçambicanas. No tocante aos serviços de transporte, ainda é fraca a afluência das PME; este
serviço geralmente esta á cargo das Grandes Empresas em parceria com o Estado. A
agricultura, que é declarada como a base do desenvolvimento do nosso país, ainda não detém
um número considerável de PMEs, estando apenas com 2.4% (355 PMEs).
5% 2%
Fon
te: CEMPRE 2014-2015
Por sua vez, a EDPME’s (2007 – 2022), declara as PME tem importância para
desenvolvimento socioeconómico, em quatro dimensões:
As PME’s geram o emprego: partindo do princípio de que uma grande empresa e
uma pequena empresa produzem o mesmo artigo ao mesmo valor, a grande empresa
tem a característica de ser de capital intensivo (maquinaria, tecnologias avançadas),
enquanto a pequena, de mão-de-obra intensiva. Isto implica que as PME’s oferecem
maiores oportunidades de emprego à força de trabalho de um país, ao contrário das
grandes empresas.
As PME’s são cruciais para a competitividade do país: elas encorajam a
concorrência e a produção e inspiram inovações e o empreendedorismo. As PME’s
são inerentemente guiadas para o mercado, procurando capturar as oportunidades de
negócio criadas pela procura de mercado. As PMEs, sólidas e competitivas, tornam-se
em grandes empresas sólidas e competitivas, que podem ser traduzidas em
competitividade nacional como um todo.
As PME’s diversificam as actividades, estimulam a inovação e a criatividade: as
PME’s diversificam as actividades económicas oferecendo produtos e serviços que o
mercado procura num determinado momento, disponibilizando assim novas linhas de
produtos e serviços que ainda não foram introduzidos no mercado. Deste modo, as
PME’s estimulam a inovação e a criatividade.
As PME’s mobilizam recursos sociais e económicos: as PME’s são os agentes
sociais que mobilizam recursos sociais e económicos nos distritos e localidades que
ainda não tenham sido explorados. Daí o papel chave desempenhado pelas PME’s no
desenvolvimento socioeconómico local.
A vasta literatura sobre os constrangimentos das PMEs aponta como principais os seguintes:
Acesso a financiamento, tributação, dificuldades de gestão empresarial, qualificação de mão-
de-obra, as infra-estruturas, o acesso a mercados e a coordenação das várias partes
intervenientes (kaufann,2020:47).
Outos desafios complementares aos acima trazidos são: a obtenção de fundos e financiamento
bancário, a falta de pagamento/atraso dos clientes, e os recursos da empresa (equipamento,
transporte, electricidade e armazenagem).
a) Acesso ao financiamento
Segundo a OIT (2015), o acesso ao financiamento está no topo da lista de constrangimentos
que afectam as PMEs em todo mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos, como
Moçambique.
Nesta senda, a EDPME’s (2007 – 2022) revela que o ambiente de negócios das PME’s é
caracterizado pela existência de dois tipos de instituições financeiras: os bancos e as
instituições financeiras não bancárias. Este documento refere ainda que os bancos são a fonte
tradicional de financiamento das actividades das empresas, não obstante a maior parte das
PME’s não use créditos bancários como fonte de financiamento devido ao elevado custo e ao
problema de acessibilidade, recorrendo, para o efeito, às instituições não financeiras, tais
como os fundos e as instituições de microcrédito.
Na mesma linha pensamento, a EMAN (2008) destaca que o problema de acesso ao crédito
foi sempre e repetidamente, colocado como sendo um dos sérios obstáculos ao
desenvolvimento da economia e do sector privado em Moçambique. Devido a elevados
custos de juros, do acesso limitado aos serviços bancários, o empresário moçambicano realiza
os seus investimentos com recurso a fundos próprios e empréstimos a amigos ou familiares.
Um outro constrangimento não menos importante é a insuficiência em quantidade e qualidade
de serviços financeiros no País e a sua concentração na capital do país.
b) Tributação
De acordo com a EDPME’s (2007 – 2022), o ambiente de negócios das PME’s apresenta um
sistema de tributação que dificulta o cumprimento das obrigações fiscais, ou seja, não
favorece o desenvolvimento empresarial.
Ainda segundo a Estratégia, 86% das empresas actuam na informalidade, sem efectuar o
licenciamento das suas actividades. Verifica-se, então que não obstante ao incentivo, a
maioria das PMEs continuam fora do sistema (idem).
A EMAN (2008) demonstra que o sistema fiscal vigente em Moçambique, para além de se
destacar como um dos mais caros do mundo, tem elevados custos administrativos que pesam
no sistema de coleta. Ademais, por causa da existência de diversos tipos de impostos (cerca
de 36), o tempo médio gasto por ano no preenchimento de formulários, deslocações para os
postos de cobrança e outros, é estimado em cerca de 230 horas, o que pesa bastante para o
desenvolvimento do sector das PMEs.
c) Dificuldade de gestão empresarial
d) Qualificação da mão-de-obra
A EDPME’s (2007 – 2022) mostra que o ambiente de negócios das PMEs é caracterizado
pela inexistência de qualidade e produtividade da força de trabalho que é, por tanto,
insatisfatória. A Estratégia revela ainda que a qualidade e produtividade da mão-de-obra
dependem, sobretudo, da educação e cultura; da nutrição e qualidade dos serviços de saúde.
Kaufmann (2020:49) declara que muitas PMEs nacionais não dispõem de políticas de
desenvolvimento de Recursos Humanos e nem de recursos financeiros para investir na
formação dos colaboradores.
e) Infra-estruturas
Ali (2020) afirma que a pandemia da Covid-19 veio revelar a fraqueza das infra-estruturas
das PMEs moçambicanas. Por falta de condições estruturais e higiénicas apropriadas, muitas
PMEs foram enceradas, o que trouxe uma queda considerável nos níveis de emprego,
principalmente na vigência do estado de emergência.
De acordo com a EDPME’s (2007 – 2022), o mercado nacional mostra-se pequeno para que
os empresários corram quaisquer riscos de abertura de novos negócios. Mas uma soma
considerável é gasta mensalmente na vizinha Republica da Africa do Sul. O mercado
nacional é fraco em termos de disponibilidade de produtos, da provisão contínua e profunda
do produto bem como do seu preço, levando a um baixo nível de respostas ao cliente. Este
problema surge da combinação de alguns factores, como a má infra-estrutura e a
competitividade das empresas comparativamente com as empresas da RAS.
Kaufmann (2020:52) argumenta que "a inconsistência da qualidade dos produtos e serviços
prestados pelas PMEs nacionais implica, em muitos casos, que sejam preteridos por produtos
que vêm de economias mais industrializadas da região e do resto do mundo que possuem
padrões internacionais de maior qualidade."
Apesar do segmento das PMEs ser considerado como prioritário nos programas orientadores
do Governo, actualmente falta uma coordenação eficaz entre os vários intervenientes no
apoio e desenvolvimento das PMEs, o que leva a uma assimetria de informação e a
duplicação de acções tanto por parte do Governo como por parte dos parceiros de
cooperação.
Esta falta de coordenação pode implicar o uso de recursos de forma excessiva em alguns
sectores e/ ou a não abrangência de sectores importantes. Além disso, a nova classificação
das PMEs, definida pelo Estatuto Geral das MPME’s ainda não foi adoptada em algumas
instituições do Governo e dos parceiros de cooperação facto que pode levar a que alguns
estudos e/ou políticas desenvolvidas não sejam comparáveis e possam criar alguma confusão
e ineficácia na sua implementação.
3.5.1. Acções e medidas de melhoramento do sector das PMEs em Moçambique
Criar condições favoráveis para o sector privado em geral é o grande desafio e a grande
necessidade em Moçambique desde há décadas. O ambiente de negócio ainda não está
favorável para PMEs. Dai a necessidade de haver politicas e acções destinadas a enriquecer o
sector das PMEs (Kaufmann, 2020:28).
Muianga (2012), avança como medidas, face aos desafios que se colocam ao
desenvolvimento das PME’s em Moçambique, a criação de um ambiente de negócios
favorável à constituição e desenvolvimento de projectos empresariais, que se resume na
simplificação dos procedimentos de licenciamento de actividades económicas, e de
pagamento de impostos – incentivos fiscais, entre outros.
Em 1992, ano da assinatura do Acordo Geral de Paz, Moçambique era considerado o país
mais pobre do mundo, devido a factores como: uma colonização de cerca de 500 anos que
não permitiu criação de capital humano na população moçambicana; as falhas do socialismo
adoptado; e uma guerra civil de 16 anos que desestruturou completamente o tecido
económico e social. Porém, desde 1994-95 a sociedade e a economia moçambicana
transformaram-se profundamente, fruto de ambiente de paz, novas estratégias económicas,
implantação de infra-estruturas básicas nas zonas rurais, estabilidade macroeconómica e a
operacionalização mais consistente duma economia de mercado (Vala,2009).
Dai que na década de 1960 a ONU sugere a necessidade de atrelar ao PIB (Produto Interno
Bruto) alguns indicadores da área da saúde, educação, ocupação e habitação para melhor
definir desenvolvimento. Mas só foi em 1990, quando o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) apresentou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que se
considerou este como indicador para medir o desenvolvimento duma nação ou das regiões.
O PIB serve para medir a actividade económica, tendo como base a análise do resultado do
crescimento da região em questão. Ao calcular o PIB, possibilita-se não só analisar o
crescimento económico, mas também permite fazer comparações com outras localidades. Os
níveis de crescimento apresentados podem indicar possíveis problemas (no caso de resultados
não satisfatórios), permitindo assim, diagnósticos que abram caminhos para a melhoria da
economia. O PIB também possibilita analisar quais sectores da economia geram mais ou
menos renda, o que ajuda a identificar fragilidades económicas e perceber em quais sectores
seve-se investir. 20
Apesar do PIB ser eficaz para medir o desenvolvimento, ele apresenta algumas de lacunas: o
facto de considerar relações extra mercado, ou seja, não olha para a economia de subsistência
no meio rural, e o sector infomal, que por ventura compõe a maior parte da população
20
Sousa, R. "O que é PIB?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-
que-e-pib.htm. Acesso em 20 de agosto de 2022.
nacional ; e muitas das vezes a renda per capita das publicações oficiais não reflecte o
verdadeiro poder de compra das populações, pois o PIB muitas vezes não considera o nível
de desigualdades de renda de uma sociedade (Siedenberg, 2003:49).
Apesar das lacunas e das críticas levantadas, o PIB não perde completamente sua importância
como indicador de desenvolvimento. Entre todos indicadores, o PIB ainda dêem o papel de
indicador-chave. Mas para que haja uma análise completa do desenvolvimento, o PIB alia-se
ao IDH.
Para dar complementaridade ao indicador PIB, a ONU através do PNUD, estabeleceu o IDH
como um indicador essencial do desenvolvimento.
O IDH é uma medida utilizada para aferir o grau de desenvolvimento de uma determinada
sociedade sob os componentes de saúde, educação e renda.
Segundo Bila (2007:21), no decorrer dos anos, notou-se que um sector privado em
florescimento, flexível, construído numa base empresarial que inclui as PMEs, tem sido a
chave para a distribuição do crescimento económico nos distritos, cujo um dos objectivos é
retirar pessoas da pobreza. As PMEs correspondem a emergência do sector privado nas
localidades, formando uma base para o seu desenvolvimento.
Dá-se, desta forma, o fim do capítulo terceiro, que fez uma abordagem profunda sobre as
PMEs e sobre o Desenvolvimento socioeconómico local, mostrando de forma sucinta a
relação entre essas duas variáveis. Segue então para o quarto capítulo que irá se desenrolar
em torno da interpretação, análise e interpretação dos dados obtidos no campo.
CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS DA
PESQUISA
O presente capítulo tem como objectivo fazer a apresentação, análise e interpretação dos
dados obtidos no Posto Administrativo de Infulene, para deste modo responder as questões de
pesquisa levantadas no primeiro capitulo e mostrar a relação entre as variáveis da pesquisa.
Com isso, far-se-á a verificação das hipóteses durante a abordagem dos resultados, e no fim
trazer as recomendações e conclusões tiradas com a realização do trabalho.
O PAI situa-se no Município da Matola ocupa uma área de 153,55 Km2 com 12 bairros, que
vão de bairro T3 ate intaka 1. Tem 132.073 habitantes, com uma densidade populacional de
860,1. As principais actividades económicas desenvolvidas são o comércio e agricultura.
Até finais de 2020, o PA de Infulene tem registrada aproximadamente 800 PMEs, dos quais
86% são micro e pequenas empresas e 14% médias empresas. As PMEs no PA de Infulene
são maioritariamente estabelecimentos comerciais, de venda variados tipos de bens e
prestação de diversos serviços considerados necessários para a população dos seus bairros.
No que concerne ao género nas PMEs, há mais presença de mulheres que de homens (62% e
38% respectivamente).
Para esta pesquisa foram seleccionadas como amostra quatro (4) PMEs, que actuam em
diferentes actividades, nomeadamente: (1) Ferragem Ka Moiane, uma loja que se dedica na
venda a grosso e a retalho de variado tipo de material e ferramenta de construção; (2) um
mini restaurante e bar Kadiwa Ka Vovo Gina; (3) CasteloBranco Lda (ZIZA), uma loja de
comercio a retalho de Calçado e artigos de couro; (4) Bassissa Kamantsolo, uma empresa de
recolha de lixo e variados serviços de limpeza.
No que diz respeito a distribuição por género, a maior parte da amostra é do sexo masculino,
representando 53% e o sexo feminino com 47%. Essa disparidade na percentagem do género
deve-se sobretudo a disposição em responder as questões dos inquéritos; os homens
mostraram-se mais abertos a receber os questionários. Nas PMEs seleccionadas, os
questionários foram distribuídos de forma equitativa entre os trabalhadores de forma a
alcançar maior equilíbrio no género.
18 a 24 anos
25 a 34 anos
35 a 44 anos
mais de 45 anos
Segundo o observado nos inqueridos do PA de Infulene, a maioria dos mesmos têm o ensino
médio concluído, poucos são com formação técnica e superior- isso inclui os trabalhadores
das PMEs visitadas.
40
35
30
25
20
Nivel de Escolaridade(%)
15
10
5
0
Basico Medio Tecnico Superior
Dos desafios supracitados, a tributação é o que foi mais mencionado pelos entrevistados.
Segundo Namburete (202221), os contribuintes que mais reclamam no acto de pagamento de
impostos e taxas, são os proprietários de PMEs, que alegam que as taxas são elevadas e
superam sua dimensão como Pequenas Empresas; e afirmam que, se o Governo quer ver esse
sector a crescer deve rever a questão da tributação. A mesma entrevistada concorda com a
posição negativa dos pequenos empresários, mas argumenta, que o PAMI tem criado
mecanismos de aliviar a carga fiscal, através redução das taxas para as PMEs localizadas em
21
Namburete, Cidalia (2022), Chefe do departamento de atividades economicas no PAMI.
zonas menos desenvolvidas, e uma espécie de isenção fiscal para as PMEs nos seus primeiros
meses de actividade.
Segundo os empresários, a questão dos problemas de acesso a electricidade vem mesmo pela
elevada taxa de energia, que por vezes limita a empresa de adquirir material mais moderno
para suas actividades, assim como maior iluminação no exterior da empresa para, de entre
outras funções, espantar ladroes, uma vez que nem todas zonas dispõem de iluminação nos
postes. Outra situação constrangedora são os cortes exagerados durante o dia, o que atrapalha
as suas actividades, e a noite, pondo em causa a segurança, segundo afirmam os trabalhadores
da Ferragem Ka Moiane,, em kongolote.
22
Gina (2022), Proprietária e gerente do mini restaurante e bar Kadiwa Ka Vovo Gina: T3.
23
Massango Nino (2022), proprietário da empresa Bassissa Kamantsolo: Zona Verde.
(2022), face a concorrência de empreendedores informais na área de recolha de lixo, declara
que este é um ponto negativo e positivo ao mesmo tempo, negativo porque sua empresa paga
impostos por realizar essas actividades, enquanto há quem o faz livre disso; e positivo porque
no final das contas a comunidade fica mais limpa e desenvolve mais.
Segundo Namburrete (2022), existem ainda várias PMEs que operam na informalidade;
pequenas empresas que realizam actividades sem sequer se registrar, de forma a fugir de suas
obrigações tributarias. Contudo, a Administração Pública no PAMI, tem movido esforços
para combater tais irregularidades, através de campanha de fiscalização nos bairros com vista
a identificar PMEs que operam sem licença ou sem cumprimento das obrigações tributarias.
Segundo Oliveira e Berticci (2003), as PMEs têm maior propensão ao risco. Em outras
palavras, devido a sua dimensão e capacidade económica, a ocorrência de crises (sejam de
ordem económica, ambiental, politica ou social) afecta o crescimento efectivo e continuo
deste sector.
De acordo com o INE (2020) nos resultados do inquérito sobre o Impacto da COVID-19 nas
empresas, para lidar-se com o estado de emergência, mais de metade (56%) das empresas
afectadas adoptou o regime de rotatividade, seguido de redução de horas de trabalho e
teletrabalho. Os resultados do inquérito indicam ainda uma queda do número de
trabalhadores, horas trabalhadas per capita, Dias trabalhados per capita e volume de
negócios nas empresas afectadas. O impacto da COVID-19 no emprego foi mais severo em
trabalhadores do sexo feminino, ao reduzir 7% face aos homens que reduziram 5,5%.
Desde início de 2016 o PAMI introduziu um novo sistema de cobrança das taxas às empresas
(uma plataforma digital). Esse sistema divide as zonas em índices de acordo com o seu grau
de desenvolvimento (de índice 1 a 1.5), onde temos o índice 1 para zona rural, e índice 1.3
para a zona suburbana, desta forma as empresas são cobradas de acordo com a sua
localização, isso com o objectivo de aliviar a carga fiscal das PMEs nas zonas mais
recônditas e economicamente mais fracas.
Esse sistema, olhado numa primeira fase, mostra-se eficiente no auxílio às novas empresas
nas zonas rurais, por cobrar menos as PMEs localizadas em zonas menos desenvolvidas,
promovendo desta forma o desenvolvimento dessas localidades. No entanto, também cria
desvantagens para as PMEs localizadas nas zonas mais "desenvolvidas" do PA de Infulene, e
24
Namburrete C. (2022), Chefe do Departamento de Actividades Económicas do PAMI.
os novos empreendedores, sabendo desse sistema de cobrança, constroem suas empresas nas
zonas de índice 1.3 para ter menor carga fiscal possível.25
O sistema de cobrança por índice do PAMI, apesar da sua contribuição para alavancar a
economia rural (pela redução tributária das PMEs localizadas ai), falha por ser estático; pois
desde a sua concepção em 2016 nunca sofreu alterações, o que reflecte alguma injustiça na
sua abordagem. Porque algumas zonas consideradas rurais aquando da separação das zonas,
hoje são aproximadamente desenvolvidas como as zonas de índice 1.3, mas têm carga fiscal
reduzida e as zonas suburbanas continuam a pagar taxas elevadas (Namburrete, 2022).
Outro aspecto a destacar são os métodos de pagamento adoptados pelo PAMI, que se aplicam
no pagamento das taxas anuais por actividade económica, para as PMEs e pequenos
estabelecimentos comerciais.
O pagamento da taxa por actividade económica no PAMI é feito faseado e com redução. O
valor anual da taxa por actividade económica na área do comércio, que corresponde Janeiro a
Dezembro, é de 4639Mt, e é feito entre Janeiro e Março, para as empresas já cadastradas; e
pagam com multa se o fizerem depois desse prazo. As novas empresas pagam a partir de
Abril, com alguma redução, porque nesse sistema a taxa por actividade económica vai
reduzindo conforme os meses que faltam para o fim do ano. Ora, se uma empresa é registrada
em Outubro por exemplo, ela só pagará como taxa anual aproximadamente 2000Mt (se tiver
25
Por causa da reduzida carga fiscal, cerca de 80% dos novos licenciamentos de empresas são de zonas rurais.
26
Romer, P.M. (1994), Origins of Endogenous Development. Journal of Economic Perspectives, vol.8, n.1.
como valor anual 4639Mt). E se uma empresa tem como taxa anual 3000Mt, e é registrada
em Outubro paga apenas cerca de 500Mt, por conta da redução mensal.
Esse modo de cobrança mostra-se eficiente no primeiro ano da empresa, mas isso se empresa
se registar a partir de Abril, para beneficiar da redução. Mas no ano seguinte, de Janeiro a
Março, paga o valor total como as outras PMEs. Infelizmente muitas PMEs não tem
conhecimento dessa facilidade, e muitas vezes isso traz reclamação nos contribuintes, no
sentido de pagar, por exemplo, 500Mt em Dezembro, mas entre Janeiro e Março pagar
5000MT. "Este sistema não se mostra eficaz para promover o desenvolvimento das PMEs;
pelo menos não no Posto Administrativo de Infulene" (Namburrete, 2022).
Licenciamento empresas
Vejamos no quadro abaixo a variação do cadastro de PMEs entre 2016 a 2020 no PAMI.
120
100
80
60
40
20
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Financiamento
O governo de Moçambique, no que toca ao desenvolvimento das PMEs, tem como meta
prover e facilitar o acesso ao crédito. Porém, na realidade, segundo afirmam os pequenos
empresários entrevistados, isso ainda constitui um sonho, pois o acesso ao crédito é um dos
maiores constrangimentos para eles. Umas das formas de materialização do objectivo de
facilitar acesso ao crédito às PMEs é a criação de uma instituição de garantia de crédito. Este
sistema serve para se conseguir uma solução em que tanto as PMEs, como os bancos saem a
ganhar.
Para mitigar o problema da falta de financiamento das PMEs, muitos países adoptaram o
sistema de garantia de crédito como um meio de assistência às PMEs. Mas infelizmente, em
Moçambique ainda não há um sistema eficaz de garantia de crédito. Simango (2022), afirma
que ainda não há muita motivação por parte dos bancos comerciais em conceder crédito aos
pequenos empresários. O que se explica, dentre outros factores, pela fraca estabilidade
económica das PMEs a longo prazo, e pela grande vulnerabilidade dessas perante crises, o
que gera falta de confiança por parte dos bancos bancos, e preferência desses em investir nas
grandes empresas.
27
José Nhambire, gerente da Ferragem Ka Moiane em Kongolote
O sistema de previdência social, ao assegurar o apoio em casos de risco como a perda de
rendimentos (por exemplo, doença, velhice, desemprego), é um canal importante para a
reprodução social da força de trabalho, porém conflituoso. As tensões nas possibilidades de
acesso a benefícios sociais realçam-se, num contexto em que várias formas de trabalho,
embora fundamentais para a reprodução da sociedade, são tratadas como residuais nos
processos de acumulação.
Hipótese 2: "As políticas de melhoramento do sector das PME têm eficácia positiva no
PAMI. No tocante a problemas como falta de acesso ao financiamento e formação
profissional, o governo cria plataformas de formação e prestação de aconselhamento aos
intermediários financeiros sobre como lançar novos produtos financeiros e como adaptar os
produtos existentes às necessidades das PME; também são concedidos empréstimos as start-
ups e PME, e são disponibilizados outros produtos financeiros. São aumentados subsídios e
garantias as empresas iniciais para seu incentivo." Esta hipótese é inválida. Contudo, viu-se
algum esfoço do governo em melhorar o sector das PMEs, através de campanhas de
licenciamento de empresas informais, e introdução de sistema de cobrança por índice de
localização. Porém, esse sistema não mostra eficácia na melhoria deste sector, apesar de em
parte promover o desenvolvimento das zonas mais fracas economicamente.
Dito isto, importa agora perceber a opinião dos cidadãos inqueridos, sobre o contributo das
PMEs na dinamização do desenvolvimento do Posto administrativo de Infulene.
84%
Essa é uma posição a considerar, porém, visto que a maioria (84%) defende positivamente o
contributo das PMEs, nos focaremos em perceber os argumentos que sustentam esse
posicionamento positivo. Em outras palavras, busca-se a seguir abordar as formas de
contribuição das PMEs na dinamização do desenvolvimento do PAMI.
As PMEs no PAMI têm sua contribuição notória no que diz respeito a provisão de bens e
serviços. Como já referido anteriormente, as PMEs no PAMI actuam em várias actividades
económicas, com destaque para o comércio (de produtos alimentares, artigos de roupa,
material de construção, e vários outros produtos), e prestação de serviços (de restauração,
reparação de veículos, trabalhos académicos, tratamento e recolha de lixo, e outros).
A provisão de bens e serviços pelas PMEs trouxe, nos últimos anos, um conjunto de
benefícios para o PAMI. Primeiro, nota-se uma melhoria na problemática da concentração de
produção de bens e prestação de serviços na cidade de Maputo, pois agora, os cidadãos
podem adquirir vários bens e serviços de primeira necessidade sem precisar de deslocar a
cidade. Como afirma Hélio (2022), gestor da loja Ziza em T3, as actividades das lojas nessas
localidades minimizam os gastos para aquisição dos produtos (gastos de tempo e dinheiro
com transportes), pois antes os cidadãos dependiam das lojas da cidade; alem disso, a loja
Ziza opta por vender os seus bens a preços acessíveis, por conhecer a realidade económica
dos munícipes do PAMI, mas claro sem comprometer o seu lucro.
Como podemos ver no quadro acima, as PMEs geram receitas para o Município em
diferentes modalidades, desde pela licença para iniciar as actividades até ao pagamento de
taxas mensais pelo desempenho de suas actividades. Consta pelo quadro, que as taxas
mensais geram mais receitas, seguidas das taxas por actividade económica que são pagas
anualmente.
Kaufmann (2020) afirma que há evidências consistentes de que uma elevada percentagem de
PMEs estimula o crescimento a nível dos sectores de actividade ou a nível subnacional, mas
não há clareza quanto ao seu impacto a nível nacional.
Uma definição de Responsabilidade Social das PMEs é trazida pela Comissão Europeia na
sua publicação "Responsible Entrepreneurship" de 2003, em que se define "empreendedor
responsável" como aquele que: 1) trata os clientes, os fornecedores e os concorrentes com
justiça e honestidade; 2) se preocupa com a saúde, segurança e o bem-estar dos trabalhadores
e dos clientes; 3) motiva os seus trabalhadores através da formação e do desenvolvimento de
competências; 4) actua como um "bom cidadão" na comunidade local; 5) respeita e preserva
os recursos naturais e o ambiente (CE, 2001:04).
…
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