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SEBENTA TGDC – REGÊNCIA PROFESSOR JOSÉ ALBERTO VIEIRA LPPBT (TB; S12; 2020/2021)

SEBENTA TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL


(TRATADO DE DIREITO CIVIL TOMO II, MC)

ÍNDICE:
CAPÍTULO 1
1§ Coordenadas Históricas ..................................................................... p. 3
2§ Autonomia, Teoria da Ação e Sistema ............................................... p. 3
CAPÍTULO 2
4§ Eficácia Jurídica .................................................................................. p. 6
5§ Factos Atos e Negócios Jurídicos ....................................................... p. 7
6§ Modalidades de Negócios Jurídicos ................................................... p. 7
7§ Atos Jurídicos em Sentido Estrito .................................................... p. 10
8§ Elementos e Pressupostos Negociais................................................ p. 10
CAPÍTULO 3
9§ A Declaração da Vontade.................................................................. p. 12
10§ Tipos de Declaração........................................................................ p. 13
11§ O Surgimento do Negócio............................................................... p. 15
12§ A Forma da Declaração................................................................... p. 16
13§ O Funcionamento das Regras Formais e o Sistema........................ p. 18
14§ A Culpa In Contrahendo.................................................................. p. 21
15§ O Papel da Culpa In Contrahendo................................................... p. 21
16§ A Construção da Culpa In Contrahendo.......................................... p. 23
18§ A Concretização da Culpa In Contrahendo...................................... p. 26
19§ Atos Preparatórios.......................................................................... p. 29
20§ Negócios Mitigados........................................................................ p. 31
21§ O Processo de Formação dos Contratos......................................... p. 32
22§ Contratação Automática e Eletrónica............................................. p. 36
CAPÍTULO 4
23§ O Uso das Clausulas Contratuais Gerais......................................... p. 38
27§ O Regime Geral............................................................................... p. 41
28§ O Controlo Interno.......................................................................... p. 44
29§ Proibição entre Empresários........................................................... p. 46
30§ Proibições com Consumidores........................................................ p. 48
31§ Isenções Legais............................................................................... p. 48
32§ Ação Inibitória................................................................................ p. 49
CAPÍTULO 5
35§ Defesa do Consumidor................................................................... p. 49

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CAPÍTULO 6
37§ Quadros da Eficácia Negocial.......................................................... p. 51
38§ A Possibilidade................................................................................ p. 52
39§ A Determinabilidade....................................................................... p. 53
40§ A Licitude e a Conformidade Legal................................................. p. 54
42§ Bons Costumes............................................................................... p. 55
43§ A Ordem Pública............................................................................. p. 55
47§ A Condição: Função, Modalidades e Afins...................................... p. 55
48§ Natureza, Condicionalidade e Invalidade....................................... p. 57
49§ O Regime da Condição.................................................................... p. 57
50§ O Termo.......................................................................................... p. 58
51§ Outras Clausulas Típicas................................................................. p. 59
CAPÍTULO 7
52§ Aspetos Gerais; Natureza Jurídica.................................................. p. 59
55§ Horizonte do Declaratário (236º/1, 1ª Parte)................................. p. 59
56§ A Imputabilidade ao Declarante (236º/1, 2ª Parte)........................ p. 61
57§ A Vontade Real (236º/2)................................................................. p. 61
58§ A Recondução ao Sistema............................................................... p. 62
59§ Regras Especiais de Integração....................................................... p. 63
CAPÍTULO 8
61§ Pressupostos, Vontade Hipotética e Boa-Fé................................... p. 63
CAPÍTULO 9
62§ Quadro dos Vícios........................................................................... p. 65
63§ A Falta de Consciência da Declaração............................................. p. 66
64§ Incapacidade Acidental................................................................... p. 66
65§ As Declarações Não Sérias.............................................................. p. 66
66§ A Reserva Mental............................................................................ p. 67
67§ Coação............................................................................................ p. 68
69§ O Erro na Declaração (Erro-Obstáculo)........................................... p. 68
70§ O Erro da Vontade (Erro-Vício)....................................................... p. 70
72§ A Simulação no Código Civil............................................................ p. 71
73§ Os efeitos da Simulação.................................................................. p. 71
CAPÍTULO 10
74§ Ineficácia e Invalidade.................................................................... p. 73
75§ A Pretensa Inexistência................................................................... p. 74
76§ Ineficácia Estrita e Irregularidade................................................... p. 74
77§ O Regime das Invalidades............................................................... p. 74

+ Teoria do Duplo Clique....................................................................... p. 75

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CAPÍTULO 1: Os Fundamentos da Doutrina do Negócio

1§ COORDENADAS HISTÓRICAS:

Negócio Jurídico: Pressupõe pessoas e vontade de celebrar um determinado acordo


com outrem (ou consigo próprio). Estuda a vontade humano. Cria o Direito

Þ Vontade: Tem de ser livre, mas não tem de ser racional

História do Negócio Jurídico e do Contrato:

Þ Romanos: O termo “negócio jurídico” era um termo estranho, não existindo


legislação prevista. “Negotium” era algo relativo à gestão (gerere) ou a contratos
(contrahere) que não fossem contra a lei

Þ II d.C. a Gaio (período clássico): alcançada uma ideia geral de contrato como “fontes
de obrigação”

Þ Período Justinianeu (imperador bizantino, 527 a.C.): desapareceram várias


categorias mais clássicas e o contrato passou a ser uma ideia abstrata e mental

Þ São Tomás: veio apurar a noção de “autonomia da vontade” e reforçar a força da


palavra (como algo vinculativo) – “há mentira se alguém não executa o que prometeu”

Þ Direito Comum Medieval: “Negotium” referia-se a qualquer processo

Þ Alemanha (raiz germânica): acrescentou novas componentes ao negócio/contrato


associadas à vontade individual das pessoas e à ideia de negócio jurídico como
“transferência de título”

Þ Escolástica Tardia (Grócio, séc. XVI): acrescentou que a validade dos atos e negócios
dependia da possibilidade de responsabilizar os seus autores

Þ Bifurcação Pandectistica (Pandecta como escola alemã que estudava a lei romana):
veio separar contrato de negócio jurídico
Þ contrato: implica consenso entre as partes
Þ negócio jurídico: atuações lícitas das pessoas que têm como objeto direitos e
obrigações recíprocas que levam à constituição de relações jurídicas

2§ AUTONOMIA, TEORIA DA AÇÃO E SISTEMA:

Autonomia Privada: Espaço de autodeterminação pessoal que abrange aquilo que as


pessoas podem ou não fazer, sem necessidade de fundamentar as opções escolhidas.
Permissão concedida por ordem jurídica para que as pessoas possam determinar a

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produção de efeitos jurídicos. Manifesta-se através da possibilidade de celebração de


negócios jurídicos, baseando-se no princípio de liberdade e na ideia de livre arbítrio.

Þ Ordens de Justificação:
Þ Fundamentos Éticos e Politico-Sociais: mais do que a opção livre do direito
civil, a autonomia privada corresponde às exigências da liberdade geral e
dignidade humana
Þ Fundamentos Económico-Sociais: a História mostra que sob regimes
alargados de autonomia se consegue um máximo de equilíbrio social e de
eficiência económica.

Teoria da Ação: Destinada a conhecer e a explicar a essência da ação humana, sendo


impossível de desassociar do negócio e da autonomia privada

Ação Humana: Essência da eficácia jurídica, preenchendo a autonomia privada.


Geralmente, é conforme o Direito, interessando, sobretudo, ao Direito Civil.

Þ Conceção Normativista da Ação: Tendo em conta as necessidades do penalismo, vê


a ação como a afirmação ou negação de valores, associando as ações à ética, à
racionalidade, à emocionalidade e à fé. Afasta-se de ideias naturalistas/causais devido à
aptidão humana de agir conforme valores, mas levanta a questão de porquê agir
conforme os valores (por se ser humano ou por causa de uma ordenação natural?)

Þ Teoria da Ação Final ou Finalismo (Hans Wezel e Manuel Gomes da Silva): A ação
humana não pode ser entendida como puramente casual, sendo final uma vez que o
agente define previamente o fim que deseja atingir e seleciona, daí, os meios. O próprio
fim é a causa. Assim, os atos humanos que pareçam idênticos podem ter conteúdos e
efeitos muito diferentes tendo em conta o fim que animam.

Þ Doutrina de Von Wright: Distingue orientações “casualistas” de “intencionalistas”


por pressupor que não há racionalidade. Renascimento de um finalismo associado à
natureza teleológica das ações.
Þ Orientações Casualistas: A intenção é a causa do comportamento. Davidson
retomou o casualismo, entendendo como fim a causa da conduta
Þ Orientações Intencionalistas: Veem uma relação lógica entre a intenção e a
conduta.
Þ Crítica: Explica apenas a estrutura da ação

Negócio Jurídico: Ocorrência provocada pelo Homem que causa relações jurídicas –
cria-as, extingue-as ou modifica-as. Atuações lícitas de pessoas que que têm como
objeto direitos e obrigações, estando presente na parte geral do Código Civil, é o passo
inicial na realização do Direito, revolvendo em torno da ação humana. Criação abstrata
do jusracionalismo.

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Þ Como ato de vontade dirigido a certos efeitos, produzidos porque queridos (Savigny
e Pandecta): os efeitos jurídicos produzidos correspondem ao conteúdo da vontade das
partes. Tem de existir uma vontade das partes dirigida à produção de determinados e
precisos efeitos jurídicos – teoria dos efeitos jurídicos
ÞCrítica: O Direito surge do exterior, impondo-se às pessoas, derivando a sua
juridicidade do sistema e não das consciências. É impossível mesmo para o jurista
mais experiente saber todos os efeitos em que uma vontade pode derivar.

Þ Como ato de vontade tendente a um fim protegido e desenvolvido pelo


ordenamento: A juridificação dos efeitos ocorre em consequência de uma proteção
abstratamente conferida, pelo Direito, ao programa básico do declarante, na medida
em que a vontade humana tal via protegida pelo ordenamento, desencadear-se-iam os
efeitos jurídicos, que seriam, ainda, desenvolvidos pelas regras aplicáveis.
Þ Crítica: Permanece a crítica referida acima, pois é impossível prever todos os
efeitos jurídicos que podem surgir da vontade em causa.

Þ Como um ato de autorregulamentação de interesses (Betti e Dias Marques): segue


uma perspetiva normativista kelsiana por sugerir uma pirâmide de normas, cujos níveis
se iriam justificando mútua e sucessivamente, surgindo na base o simples negócio,
legitimado por normas superiores e capaz de regular interesses, como qualquer norma
Þ Críticas: não explica a origem do “poder de regulação”; não prevê, em caso
de ausência de interesse, a possibilidade de haver negócio, apesar de esta existir;
não permite distinguir negócios jurídicos dos atos jurídicos em sentido estrito.

Þ Como ato de autonomia privada a que o Direito associa a constituição modificação


e extinção de situações jurídicas: a positividade do negócio jurídico advém do Direito,
que institui, regula e defende a autonomia privada. Os efeitos concretamente
verificados são, no entanto, os indiciados pelas partes através das suas declarações. O
declarante pretende a verificação de um certo efeito jurídico e pauta a sua atividade em
função desse objetivo, devendo a sua vontade ser dirigida ao efeito pretendido,
enquanto jurídico. Ao reconhecer a autonomia privada as opções das pessoas produzem
os efeitos por elas pretendidos. Em certos negócios é necessária a aplicação de nomas
injuntivas que não podem ser afastadas.

Vontade: Está na origem do negócio, sendo o corpo da sua juridicidade e desenvolvendo


uma atividade criadora do Direito. Atribui consistência técnica e significado ideológico
aos negócios, apoiando-os em mais do que o Direito legislado. (Conceção em linha com
o sistema de geral delineado por Savigny)

Þ Crítica: A natureza do negócio deve vir da vontade do Direito e não da vontade


pessoal. (Subscrita por Karlowa, Alois von Brinz, Thon, Lotmar,...)

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CAPÍTULO 2: Dogmática Geral do Negócio Jurídico

4§ EFICÁCIA JURÍDICA:

Eficácia Jurídica: Quando algo ocorre no mundo do Direito. Sempre que se verificam
determinadas consequências (juridicamente relevantes quando afetas a pessoas) nas
quais, através de critérios reconhecidos, é possível apontar as características da
juridicidade. Reporta-se a situações jurídicas. Resulta de modelos de decisão, ou seja,
dos fatores que compõem o regime jurídico-positivo aplicável. Ponto de partida para o
estudo dogmático do direito civil.

Situação Jurídica: ato ou efeito de realizar o Direito, solucionando um caso concreto.


Resulta de uma decisão jurídica (= decisão humana)

Eficácia Jurídica como dimensão dinâmica das situações jurídicas: Um efeito pode ser
simultaneamente constitutivo e modificativo – ex: hipoteca

Þ Eficácia Constitutiva (= Aquisição Originária): constituição de uma situação antes


inexistente na ordem jurídica.

Þ Eficácia Transmissiva (= Aquisição Derivada): uma situação já existente na ordem


jurídica transita da esfera de uma pessoa para a de outra pessoa. (ex: contrato compra
e venda).

Þ Eficácia Modificativa: Hipótese de uma situação, centrada numa determinada


pessoa, aí se conservar mas com alterações no seu conteúdo

Þ Eficácia Extintiva: desaparecimento de uma situação da ordem jurídica, antes


existente

Transmissão: Passagem de uma situação jurídica da esfera de uma pessoa para a de


outra. A situação pode sofrer alterações.

Þ Situação de Posse: No controlo material de uma coisa corpórea, é transmitido o que


se encontrava na esfera do antecessor, assim, no momento em que aquele que recebe
a posse do transmissor conhecer a má fé deste, passa a estar também em má fé, até lá,
estará de boa fé. (art. 1260/1)

Sucessão: Substituição de uma pessoa por outra mantendo-se estática uma situação
jurídica (não pode sofrer alterações) que, assim, estando inicialmente na esfera de uma
pessoa, surge, depois da troca, na esfera de outra.

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Þ Situação de Posse: Quando, no controlo material de uma coisa corpórea, o sucessor


recebe exatamente o que se encontrava na esfera do antecessor, assim, se este estiver
de boa fé, ele fica de boa fé, e se estiver de má fé, ele fica de má fé.

Eficácia Jurídica Consoante a Natureza das Situações Jurídicas:

Þ Eficácia Pessoal: não tem natureza patrimonial.

Þ Eficácia Obrigacional: reporta a situações obrigacionais.

Þ Eficácia Real: ocorre perante situações próprias do Direito das coisas (art. 413).

5§ FACTOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS:

Facto Jurídico: Evento ao qual o Direito vai associar determinados efeitos,


apresentando-se como a realidade apta, dentro de uma previsão normativa, a
desencadear efeitos jurídicos. Justifica que uma decisão, tomada com base em modelos
que o tenham em conta, seja legítima.

Þ Factos Jurídicos “Strictu Sensu” (em sentido estrito): Eventos naturais, involuntários,
mas juridicamente relevantes. (ex: nascer ou morrer).

Þ Atos Jurídicos: Manifestações da vontade humana, pela autonomia privada,


juridicamente relevantes e com um propósito. (distinção abaixo ¯ conforme a doutrina de Paulo Cunha)
Þ Atos Jurídicos “Strictu Sensu”: Implicam apenas liberdade de celebração, não
controlando os resultados.
Þ Negócio Jurídico: Tem de ser lícito e implica liberdade de celebração e
estipulação.

Ato Lícito Ato Ilícito


Þ Processa-se ao abrigo de uma Þ Comportamento humano desconforme o
permissão genérica ou irrelevante Direito por implicar atuações proibidas ou
para o Direito, ou seja, algo que não resultar no não acatamento de atitudes
seja proibido direta ou indiretamente. prescritas.
Þ São muitas vezes atos jurídicos pois Þ Geralmente, resulta num juízo jurídico de
o Direito ainda lhes associa alguns censura (culpa).
efeitos. Þ Pode produzir alguns dos efeitos que era
suposto desencadear ou ser paralisado por
sanções.

6§ MODALIDADES DE NEGÓCIOS JURÍDICOS:

Parte: Interessado no negócio. Pode ser composta por mais do que 1 indivíduo.

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Negócios Unilaterais: Negócios Multilaterais (ou Contratos):


Þ Os efeitos não diferenciam as pessoas Þ Produto de 2 ou mais partes.
que nele possam, eventualmente, ter
intervindo, por isso tende a existir uma única Þ Os efeitos diferenciam duas ou mais
pessoa, parte, declaração ou interesse. pessoas que desenvolvem regras
próprias que devem ser cumpridas.
Þ Completam-se com 1 declaração,
dispensando-se a anuência dos outros Þ Envolve uma proposta e uma
intervenientes. aceitação – ex: compra e venda

Þ Têm que estar expressamente previstos Þ Contratos Sinalgamáticos e Não


na lei (art. 457), não podendo ser resultado Sinalgamáticos: consoante haja, ou
de autonomia privada. não, obrigações recíprocas - algumas
doutrinas também os chamam de
Þ Negócio Plural: implica várias pessoas “bilaterais“ e “unilaterais”, mas MC
Þ Negócio Conjunto: várias pessoas opõe-se pois todos os contratos são,
são titulares de posições jurídicas que só por natureza, bilaterais (mais que 1
podem atuar em bloco (ex: arrendatários parte).
que denunciam um senhorio)
Þ Deliberação: várias pessoas titulares de Þ Contratos Monovinculantes e
posições jurídicas confluentes que podem Bivinculantes: consoante fique uma só
atuar em sentidos divergentes agem pela parte vinculada ao contrato ou mais.
maioria (ex: em associações ou comissões
especiais, art. 1432/2)

Tipos de Negócios:

Þ Típicos: Þ Atípicos ÞMistos/Coligados


Þ A sua regulação consta na lei e é Þ A sua regulação Þ Apresentam partes
estudada pelo Direito das não consta na lei, típicas e atípicas.
Obrigações. sendo engendrado Þ Vão ser estudados
Þ Se compreenderem elementos pelas partes. pelo Direito das
obrigatórios deixam de ter liberda- Þnominados: vão Obrigações.
de de estipulação, desparecendo a apresentar referen- Þ São diferentes das
natureza negocial. cia legal, contudo uniões ou das conexões
Þ inominados: Negócio com regu- não têm trata- de negócios, em que dois
lação supletiva legal mas que não é mento explícito no ou mais negócios são
apelidado senão pela doutrina. código. (tipos sociais e colocados pelas partes
art. 755 a) e b))
Þ nominados (nomen iuris): a lei numa situação de
designa-o por um nome interdependência. (Art. 405)

Þ Formais: Þ Consensuais:
Para serem concluídos a lei exige um Basta existir consenso entre ambas as
determinado ritual exterior à vontade partes para haver conclusão do contrato.
individual dos sujeitos. (Art. 238º) (Art. 219º)

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Þ Casuais: Þ Abstratos: Þ Presuntivos de Causa:


Þ Para valerem judicialmente Þ Não exigem Þ Não vão exigir fonte
dependem da sua fonte/prova. fonte ou prova. ou prova porque há uma
Þ No Direito Civil os negócios são, Þ Dá azo a promessa ou reconhe-
em princípio, sempre causais. (se eu obrigações cimento da dívida.
comprar uns sapatos vou precisar de prova abstratas. (Art 458/1 – “Abel declara que deve
100€ a Bento”)
da transação para exigir uma devolução)
Þ Origina obrigações comuns

Þ De Disposição: Þ De Administração:
Þ Põe em causa a própria subsistência da Þ Implica modificações
situação. secundárias ou periféricas no
Þ Podem apenas ser pelo próprio titular da esfera seu conteúdo, não atingindo a
jurídica a que compete (a menos que haja algo esfera jurídica em profundidade.
como uma procuração). Þ Reporta-se a patrimónios,
Þ Detêm, em si, alguma gravidade para o indivíduo. bens ou a coisas.

Þ Onerosos Þ Gratuitos Þ Mistos


Þ Implica esforços Þ Dá corpo a manifestações de Þ Inclui uma parte
económicos para ambas as solidariedade importantes para onerosa e outra
partes em simultâneo e a coesão ética e social de gratuita.
com vantagens qualquer comunidade. ex: doação onerosa (art. 963º)

correlativas Þ Só uma parte tem vantagens


Þ A intenção do negócio ou sacríficos.
vai revelar a sua Þ A vontade livre do sacrificador
onerosidade. determina-se pela intenção (que
revela a gratuitidade do negócio)
de dar (animus donandi).

Þ Parciários: Þ De Organização: Þ De Distribuição: Þ Aleatórios:


Þ Implica a Þ Visa montar Þ Visa percorrer o Þ Quando não se
participação uma estrutura circuito económico conhecem as vantagens
dos celebran- que faculte a na parte que liga a patrimoniais
tes nos resul- cooperação per- produção ao resultantes ao momento
tados. manente num vendedor final. da sua celebração, sendo
(≠ de negócio de consumo:
certo quadro de aquisição de bens pelo
celebrado através das
pessoas consumidor) potenciais. (ex: contrato de
seguros)

Þ Instrumentais: Þ Preparatórios: Þ Acessórios:


Þ Vai definir termos para Þ Antecedem outros Þ Só fazem sentido no
contratos semelhantes que se negócios contexto em que se
sigam, regulando os (ex: contrato promessa compra e
venda)
inserem, ligando-se a algo
interesses em jogo. (ex: fiança)

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Þ Inter Vivos: Þ Mortis causa:


Þ Produz efeitos Þ Manifesta-se apenas após a morte do seu autor, assente no
durante a vida valor fundamental da vontade do sujeito. (ex: testamento - art. 2179)
dos celebrantes. Þ Implicam regras de interpretação e de aplicação específicas (art
237º e 2187º)

Þ Reais “Quoad Constitutionem”: Para serem celebrados exigem a tradição (entrega)


de uma coisa de modo a exacerbar a importância do negócio. Sujeitos a registo
constitutivo.

Þ Relativos ao tipo de eficácia (ver p. 7)


Þ Pessoais
Þ Obrigacionais
Þ Reais “Quoad Effectum”

7§ ATOS JURÍDICOS EM SENTIDO ESTRITO:

Atos Jurídicos em Sentido Estrito: Exercício da autonomia privada (sendo a forma mais
baixa desta) com apenas liberdade de celebração. Presentes no início das negociações
em deveres pré-contratuais e suscetíveis à aplicação das regras referentes ao negócio
jurídico (Art. 295º).

Þ A Doutrina Alemã distingue:


Þ Atos quase-negociais: Atos jurídicos em sentido estrito que se analisam
numa pura manifestação de vontade. (ex: perfilhação)
Þ Atos materiais: Atos jurídicos em sentido estrito, que resultem de atuações
materiais voluntárias. (ex: apossamento)

Þ Alfred Magik Classificou os Atos Jurídicos em Sentido Estrito em:


Þ Puras Atuações Exteriores: como a ocupação de uma coisa ou a perseguição
e captura de animais
Þ Atuações que impliquem certas opções interiores: como a escolha de um
domicílio ou de uma sede para pessoa coletiva.
Þ Atuações que traduzem matéria já prefixada: como perfilhar
Þ Comunicações: podem ser de conhecimento ou vontade.

8§ ELEMENTOS E PRESSUPOSTOS NEGOCIAIS:

Doutrina Tradicional por Manuel de Andrade:

Þ Elementos Essenciais (essentialia negotii): Condição necessária para a existência do


negócio jurídico.
Þ Elementos Essenciais Gerais: Devem surgir em todos os negócios. São a
capacidade das partes, a declaração de vontade e o objeto possível

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Þ Elementos Essenciais Específicos: variam consoante o tipo de negócio.

Þ Elementos Naturais (naturalia negotii): Efeitos que, por sua natureza, os diversos
negócios produzem, mas que as partes podem, ao abrigo da sua autonomia privada,
afastar. Normas cuja aplicação fica ao critério dos indivíduos (normas supletivas).

Þ Elementos Acidentais (acidentalia negotii): Estipulações que não são necessárias


para a consistência do negócio jurídico, mas que podem ser aplicadas, ao abrigo da
autonomia privada, podendo provir de figurinos do Direito ou ser originais.

Doutrina de Paulo Cunha:

Þ Elementos Necessários: Exigidos pela lei para a validade do ato jurídico.


Þ Elementos Necessários Essenciais: Sem eles não há negócio.
Þ Elementos Necessários Habilitantes: Requeridos para a total validade do
negócio.

Þ Elementos Específicos: Requeridos para cada tipo de negócio. (ex: preço numa compra e venda)

Þ Elementos Naturais: Derivam da lei e servem, supletivamente, diversos tipos


negociais, mediante a sua Natureza.

Þ Elementos Acidentais: Introduzidos pela vontade das partes


Þ Típicos: Previstos na Lei. (ex: prazo ou condição)
Þ Variáveis: Derivados da vontade das partes.

Doutrina de Dias Marques, adaptando um esquema de Betti: Não abrange os valores,


os efeitos ou a ineficácia.

Þ Pressupostos: Elementos extrínsecos perante o próprio negócio que abrangem


fatores atinentes ao autor (ex: capacidade), ao objeto (ex: idoneidade) ou à posição do autor em
relação ao objeto do negócio (ex: legitimidade).

Þ Estrutura: Elemento intrínseco ao ato do negócio. Abrange elementos objetivos (como


a forma e o conteúdo) e subjetivos (como a vontade, a consciência,...).

Þ Função: Reporta-se à causa, sendo o objetivo socialmente relevante procurado


através do negócio

Solução Preconizada pelo Professor Menezes Cordeiro: Resulta dos fatores apurados
no decurso da evolução doutrinária.

Þ Elementos do Negócio Jurídico: Associados a normas e princípios ligados à temática


negocial.

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Þ Em Sentido Amplo: os elementos vão traduzir um conjunto de realidades


necessárias para que exista uma outra realidade
Þ Em Sentido Estrito: os elementos exprimem fatores que, num momento
considerado, compõem um quid.

Þ Pressupostos: Os pressupostos do negócio jurídico só podem ser considerados como


seus elementos se, destes, se fizer uso em sentido amplo. Mas isto leva a uma
heterogeneidade inconveniente. Implicam regras relativas às pessoas, aos bens ou às
relações que entrem ambos se estabelecem.

CAPÍTULO 3: A Formação do Negócio Jurídico:

9§ A DECLARAÇÃO DE VONTADE:

Declaração de Vontade: Pressuposto dependente de uma opção humana comunicada


para o exterior de modo a ser reconhecida pelos operadores jurídicos e pelo próprio
sistema para criar um negócio jurídico. Surge intimamente associada ao negócio, pois
este é um efeito da declaração. Comporta a vontade humana e a declaração. (Para Savigny
podemos ir mais longe, tendo a vontade a declaração de ter uma relação de concordância.)

Þ Vontade: Pode ser decomposta em 3 planos.


Þ Vontade do Comportamento (ou da manifestação): Permite constatar a
presença de uma efetiva atuação humana.
Þ Vontade (ou consciência) da Declaração: Implica a consciência das razões
sociológicas ou normativas - o sujeito age voluntariamente, conhecendo a
dimensão jurídica da atuação.
Þ Vontade do Negócio: Desejo de desencadear os efeitos ou o conteúdo do
negócio em causa.

Þ Declaração: Ato de Validade. Ao fazê-la o declarante manifesta uma adstrição da


própria vontade.

Þ A vontade e a declaração constituem um continuum humano e valorativo que pode


ser cindido apenas para efeitos de análise e que pode ser completada:
Þ Na interpretação prevalece a doutrina da impressão do destinatário. (art. 236º/1)
Þ A reserva mental, traduzida numa declaração que não corresponda à vontade
real, para enganar o declaratário, é irrelevante. (art. 244º)
Þ A declaração que não equivalha à vontade real só pode ser anulada em
condições apertadas. (art. 247º)
Þ A declaração feita em situação de incapacidade acidental só pode ser anulada
em, circunstâncias restritas. (art. 257 º/ 1)
(Nota: Um negócio jurídico que se mantenha sem vontade real não é um verdadeiro negócio jurídico, mas antes uma
manifestação de confiança tutelada - MC)

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10§ TIPOS DE DECLARAÇÃO:

Expressa: Tácita: Concludentes: Silêncio:


Þ Feita por pala- Þ Declaração indireta Þ A doutrina atual Þ Total ausência de
vras, escrito ou viável (sempre típica) dá--lhes esta nova comunicação por parte
por qualquer designação, para do sujeito
outro meio direto Þ Deduzida de factos evitar confusões com considerado.
de manifestação com toda a probabilida- o silêncio.
da vontade. de de comportamentos Þ Requer que não seja
“positivos”, “inequívo- Þ Aplicam-se as possível ser retirada
Þ Pode surgir cos” e “significativos”. regras respeitantes nenhuma mensagem
tanto de formas (pelo acórdão do supremo às expressas (com as do contexto.
tribunal de 5/11/1997)
atípicas como necessárias
típicas. (Art.217/1). Þ A possibilidade de adaptações). Þ Inexistência de
haver declarações táci- qualquer ação, ou seja,
ÞExpressa tas exige ter 2 fatores Þ A vontade de meios para chegar a
Objetiva: Atua em atenção: manifesta-se não um fim.
por meios cujo Þ 217º/2: requer-se através de um ato de
sentido declara- que a forma prescrita comunicação a isso Þ Comportamento
tório está fixado tenha sido observada dedicado, mas puramente omissivo
pelos usos, lei ou quanto aos factos de mediante um ou abstentivo.
convenção. que se deduza a comportamento que,
declaração em causa. derivado das Þ Só tem valor como
ÞExpressa Þ Só é legítimo desco- condições em que declaração negocial se
Subjetiva: Resulta brir declarações nego- ocorre, permite a lei, o uso ou a
de uma conduta ciais, ainda que tácitas, inferir a vontade dos convenção assim o
destinada a quando haja verdadeira efeitos do negócio. preconizar (art. 218).
manifestar uma vontade, dirigida aos
vontade. efeitos e minimamente ÞComportamentos ÞRelevância Positiva:
exteriorizada, ainda que Típicos: vale como declaração
de modo indireto. reconhecidos como de aceitação
manifestação da
Þ Tácita Objetiva: Os vontade negocial Þ Caducidade: não
meios em jogo só são tem valor negocial,
possíveis de compre- ÞCondutas mas ao expirar é como
ender tendo em conta o Diversas: permitem se o negócio tivesse
contexto. inferir a vontade sido negado.

(Nota: O destinatário de uma


ÞTácita Subjetiva: proposta contratual cujo
Deriva de uma atuação silêncio não valha como
que tinha outros objeti- aceitação é obrigado a restituir
a coisa que o proponente lhe
vos mas que da qual se tenha enviado, quando ele a for
pode inferir uma vonta- ou mandar buscar, e bem assim
a conservá-la, só incorrendo,
de negocial. porém, em responsabilidade
quando tenha agido com dolo)

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Recipiendas Não Recipiendas:


Þ Visam integrar um negócio contratual, tendo um destinatário, Þ Não têm
vendo a sua eficácia afetada pela relação que tenham com o destinatário,
mesmo. Na doutrina atual, a “receção” implica a chegada da sendo afetas a
declaração ao âmbito do poder do destinatário, de modo a que negócios
este a possa conhecer. A declaração deve ser “acolhida” ou unilaterais
“armazenada” para evitar extraviações. (contém uma
única vontade).
(exceção: oferta ao
Þ Art 224: Eficaz quando: público – art. 225)
Þ Chegue ao poder do destinatário ou é por ele conhecida.
Þ É remetida e só por culpa do destinatário não é oportunamente
recebida (mas ineficaz quando seja recebida pelo destinatário em Þ Segue a teoria
condições de, sem culpa sua, não poder ser conhecida). da exteriorização.

Þ Teorias de receção da declaração:

Teoria da Teoria da Teoria Teoria do Teoria do


Exteriorização Expedição da Acolhimento Conhecimento
Receção
O negócio só A declaração A decla- A declaração A declaração
fica concluído torna-se efi- ração torna-se efi- torna-se eficaz
quando a von- caz quando é torna-se caz quando quando chega
tade tiver ob- remetida pa- eficaz chega ao po- ao conheci-
tido forma de ra o destina- quando der do desti- mento efetivo
se exteriorizar tário. chega. natário. do destinatá-
rio.
(Savingny) (Windshield) (Kohler) (Titze) (Becker)

Subsequentes: Contradeclarações:
Þ Recaem sobre declarações prévias eventual- Þ Declarações subsequentes re-
mente já consubstanciadas em negócios jurídicos. portadas a uma primeira decla-
ração no sentido de a suprimir
Þ Típicas: Geralmente, estão na base de atos ou ou reduzir os efeitos que dela
negócios unilaterais que visam modificar ou extin- resultariam.
guir a eficácia de declarações anteriores, tendo, por
regra, uma natureza não negocial em que o Þ Reserva: Usada para aderir a
declarante tem margem para optar fazê-la mas não uma posição comum, mas não
para estipular os seus efeitos (estão na lei). Tentam totalmente (acontece em
proteger a confiança na primeira declaração. tratados)

(Nota: O protesto como contradeclaração, pode


Þ Atípicas: Acordadas pelas partes ou facultadas pôr em crise a confiança que resulte da primeira
pela situação existente. Postulam um novo negócio declaração. Por isso, não é possível a não ser que
a lei ou o contrato o permitam)
entre as partes (também pode ocorrer em negócios
unilaterais).

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Presumidas: Fictas
Þ A lei associa a um certo comportamento um Þ A lei veda o acesso a
determinado significado, que, contudo, pode ser refutado qualquer refutação que
por provas. (art. 350/2) seria possível nas
Þ Ónus da Prova: Geralmente, quem pretender uma declarações.
dada eficácia de provar os factos de onde ela deriva,
todavia, com o benefício de uma presunção jurídica, passa
a competir à outra parte dar prova (o ónus da prova é
transferido)

Não Negociais: Não comportam liberdade de estipulação, assim, o declarante é livre de


as fazer, mas não de estipular os seus efeitos, que surgem previstos pelo Direito.
Geralmente são subsequentes e unilaterais. ex: ratificação, aprovação, confirmação,
validação, reductio ad equitatem, convalidação de negócios nulos, perdão, anulação,
invocação da nulidade,...

11§ O SURGIMENTO DO NEGÓCIO:

Modelo Básico: Permite fixar regras que são, depois, utilizáveis para compor modelos
mais simples ou mais complexos. A partir deste modelo vai surgir o negócio jurídico,
resultando de uma atividade jurídico-científica.

Þ Processo: Diversos atos jurídicos encadeados de modo a proporcionar um objeto


final que será sempre o negócio jurídico. As normas jurídicas que nele intervêm devem
ser interpretadas e aplicadas em consonância com o objetivo em causa. As conclusões
possíveis podem depender da verificação dos atos processuais e estes só têm sentido
tendo em conta os resultados que pretendem. Analisa-se em factos ou atos.
Þ Atos: Podem ser agrupados ou ordenados em fases, tendo em conta critérios
funcionalidade.
Þ Fases: podem ser necessárias ou eventuais consoante da sua
ocorrência dependa, ou não, a concretização do fim para que tendam.

Negócios Sem Processo: Negócios que dispensam de qualquer processo

Þ Negócios Unilaterais: Ficam completos com a declaração de vontade do seu autor.

Þ Negócios por Minuta: Concluem-se pela adesão ou subscrição de ambas partes a um


documento que comporta o teor negocial (a minuta, é geralmente, preparada por
terceiros especialistas e contém algumas indicações dadas pelas partes).

Negócios comuns: Formam-se entre presentes por simples adesão a fórmulas


apresentadas a todos os interessados. Existe sempre um acordo de facto, fruto de
declarações feitas na base de condutas concludentes de onde induzimos consenso

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negocial jurídico que vai antecipar as declarações. A concordância é prova das


declarações.

Técnica de Contratação: A captação do negócio jurídico permite surpreender o


fenómeno da formação negocial atribuindo às partes o papel que lhes compete.

Þ Os contatos (minimamente complexos) requerem:


Þ Obtenção de Informações: envolve a escolha de parceiros e a intenção de
procurar um dado negócio.
Þ Borrão do Projeto do Contrato: aproveita-se modelos criados ou por
especialistas, ou provenientes dos interessados ou dos seus mandatários.
Þ Aplicação Hipotética do Contrato: revela que as partes se dedicam a exercícios
ou a simulações de modo a apreender o funcionamento do futuro contrato.
Þ Concretização dos Critérios de Decisão: implica uma avaliação do conjunto de
modo a determinar o que irá acontecer.
Þ Escolha das Melhores Opções Técnicas: optar pelo caminho mais seguro,
prático, flexível e menos dispendioso e a celebração dos contratos preparatórios
convenientes.
Þ Superação de Conflitos Objetivos: por envolver várias realidades, um bom
contrato deve solucionar os conflitos.
Þ Negociações Contratuais: é importante verificar se têm presentes alguma
forma restritiva de contratação e maxime perante clausulas contratuais gerais.
Þ Instrução e Aconselhamento: pode ser jurídico ou técnico.
Þ Elaboração do Documento Contratual: ambas as partes devem dar o seu
acordo e deve ser utilizada terminologia jurídica (por ser mais segura e precisa)
e a língua dos contratantes.

12§ A FORMA DA DECLARAÇÃO:

Forma da declaração (ou do negócio): Modo utlizado para externalizar a vontade, desde
que seja minimamente solene, ou seja, acompanhada por sinais exteriores sensíveis
pelas pessoas que presenciem a declaração ou que dela tenham conhecimento. (Pelo BGB:
“um negócio a que falte a forma legalmente prescrita é nulo. A falta de forma prescrita através de negócio tem, na dúvida, como
consequência a nulidade”)

Þ Negócios Formais: Necessitam de uma forma solene

Þ Negócios Consensuais: Produzem efeito por pura manifestação da vontade ou mero


consenso entre as partes, independentemente do modo como surja.

Þ Evolução mais recente:


Þ Tendência constante para a desformalização, de modo a diminuir os custos de
transação das diversas operações e lutar contra a burocratização.
Þ Capacidade concreta do sistema para intervir nas áreas formais.

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Þ Necessidade de absorver novos esquemas de declaração jurídica, com relevo


nos esquemas eletrónicos e automáticos.
Þ Reformalização de certos negócios para facilitar o tráfego jurídico.

Forma ad substantiam e ad probationem:

Þ Forma ad substantiam: Exigida pelo Direito para a sua consubstanciação, quando em


falta, o negócio é nulo.

Þ Forma ad probationem: Requer-se, apenas, para demonstrar a existência do


negócio jurídico, quando em falta, o negócio não pode ser comprovado. O Direito
reconhece dentro destas formalidades aspetos como o reconhecimento presencial na
locação financeira (art.364/2). (o direito vigente em Portugal não apresenta casos destes)

Justificação da Forma (os limites): As razões justificativas são decisivas para interpretar
e aplicar as regras sobre a forma.

Þ Tradicionalmente: Existiam 3 razões:


Þ Solenidade: Publicidade de determinadas ações com o ato ou efeito de as dar
a conhecer a público. Certos negócios só são apenas plenamente eficazes
quando reconhecidos por todos os elementos da comunidade jurídica. (domínio dos
direitos reais)
Þ Reflexão: Relacionada com a gravidade que certos negócios podem ter para
os contratantes, não devendo ser feitos de ânimo ligeiro.
Þ Prova: Liga-se à demonstração da ocorrência dos factos. A natureza formal de
determinados negócios facilita essa demonstração. As dificuldades em
encontrá-la podem pôr em causa o próprio negócio (não só a sua validade).

Þ Atualmente: Visam a reconstrução histórico-cultural que permite, minimamente,


determinar o âmbito da forma legal ou o sentido das declarações de vontade. Existem
18 limites justificativos:
Þ Prova: A presença de um documento facilita a demonstração da existência do
negócio.
Þ Autenticidade: Forma (mais) solene permite fixar, com fidedignidade, o
conteúdo efetivo do negócio.
Þ Identificação: Em caso de dúvidas sobre quem celebra o contrato.
Þ Comunicação: Contratar é comunicar – torna o contrato mais sólido e efetivo.
Þ Informação Material: A leitura de um documento permite entender melhor o
que se irá realizar.
Þ Indício Material: O objeto do negócio fica demarcado, prevenindo equívocos.
Þ Delimitação e Finalização: Depois de vários esboços do contrato,
determinação de uma forma permite apurar o contrato a que se chegou.
Þ Oficialização e Publicidade: Juridicamente relevantes, surgem de forma
solene.

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Þ Sobreaviso e Proteção: Em caso de precipitação, as partes têm tempo de se


aperceber da dimensão daquilo que assumiram.
Þ Consciencialização: Dizer “sim” é fácil, uma assinatura perante notário força
à reflexão sobre o ato decidido.
Þ Segurança dada pela Intervenção de Especialistas: O envolvimento de um
notário ou advogado vai levar a uma revisão e correção do negócio.
Þ Equilíbrio: O negócio solenemente celebrado no notário remove a
possibilidade de sobreposição de autoridade de uma parte sobre a outra.
Þ Regulação: Perante áreas sujeitas a regulação, permite uma supervisão eficaz.
Þ Tutela de Terceiros e do Tráfego: Torna-se possível e importante quando os
negócios possam ser vistos e ponderados por outros.
Þ Fiscalização Pública: A sua investigação depende da objetivação dada pela
forma.
Þ Viabilização de alguns Negócios: os que implicam títulos escritos.
Þ Executoriedade: Certas formas dotam as partes de títulos executivos em caso
de incumprimento.
Þ Proteção do Consumidor: O Direito do Consumo exige a todos os títulos que
os negócios sejam fechados por escrito.

Documentos: Representam pessoas, coisas ou factos (art. 362º). Podem ser classificados
por:

Þ Função de Suporte: Documentos escritos e reproduções mecânicas, subdividindo-se


estas últimas em fotográficas, cinematográficas e fonográficas.

Þ Função de Entidade de Origem: Documentos oficiais (notariais, locais, centrais,...)


e particulares, podendo, estes últimos, ser produzidos pelo autor e pelo réu.

Þ Em Função do País de Origem: Documentos nacionais e estrangeiros, podendo ser


diplomáticos, internacionais ou europeus quando produto da diplomacia ou de
organizações internacionais.

Þ Em Função de Critérios Jurídicos: Documentos autênticos, autenticados e


particulares, originais e cópias, reformados, certidões... (apresentam uma hierarquia,
podendo, face a prova de declaração, ser substituídos por confissões):
Þ Documentos Autênticos ou Particulares: são particulares todos os que não são
autênticos, requerendo uma assinatura que só deve ocorrer depois da
apresentação do texto de modo a ser autenticado (ónus da prova).

§13 O FUNCIONAMENTO DAS REGRAS FORMAIS E O SISTEMA:

Interpretação e Aplicação das Normas: Coloca 3 problemas fundamentais:

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Þ O Direito aplica ao incumprimento da forma legalmente prescrita a sanção máxima


da nulidade. (art 220 do CC)

Þ A manutenção, nos atuais quadros civis, da categoria dos negócios formais, pode ser,
por vezes, uma fonte de desconexões e injustiças.

Þ A invocação de nulidades formais, especialmente quando feita por quem as criou,


pode se revelar injusta

Regras Formais: A sua mera existência origina uma fonte de erros e dispêndios que pode
complicar o tráfego privado e a convivência entre as pessoas. São regras especiais que
estabelecem forma para os negócios, estando sob uma pressão que se reflete na
interpretação e aplicação das regras em causa. Caso seja cumprido livremente um
negócio jurídico sem forma pode haver sanção

Þ Nulidade: Negócio que não aplique as regras da forma, é sempre invocável por
qualquer interessado e pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal (art. 286).

Þ Mecanismos de Redução Teleológica: Restrição das normas relativas à forma dos


negócio. As regras formais e a nulidade visam a publicidade, reflexão e facilidade de
provas. Quando estes valores estão acautelados as regras em causa perdem a sua razão
de ser, deixando de ter aplicação por redução teleológica.

Þ Excecionais: Implicam a inexistência de lacunas ou demonstram uma inaptidão de


princípio para ultrapassar o seu âmbito de previsão. Não comportam uma redução
teleológica. Aqui enquadram-se as regras relativas à forma

Þ Esquemas para amenizar as injustiças que decorrem:


Þ art. 221/1 e 221/2: Podem surgir válidas clausulas acessórias que não
assumam forma legalmente exigida para o negócio.
Þ art. 238/1 e 238/2: É possível retirar de um negócio formal um sentido que
tenha um mínimo de correspondência no texto do respetivo documento, ainda
que imperfeitamente expresso
Þ art. 293: É possível converter um negócio nulo por falta de forma num outro
formalmente menos rigoroso, desde que verificado pelo circunstancialismo.

Inalegabilidades Formais: Situações em que a nulidade, derivada da inobservância da


forma legal prescrita para o determinado negócio jurídico, não possa ser alegada sob
pena de se verificar um “abuso de direito” (art. 334º), contrário à boa fé, como quando,
por exemplo, uma das partes desconhecia o incumprimento.

Þ Venire Contra Factum Proprium: Aproxima-se da realidade das inalegabilidades


formais. O agente convence a contraparte a concluir um negócio nulo por falta de forma
ou a não cumprir a forma legal prescrita, de modo a, depois de fechar o negócio, o
considerar nulo quando lhe convier – abuso de direito (art. 334).

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Þ Implica distorções em dois pontos para valer:


Þ Requer boa-fé subjetiva com elementos normativos: Ligada a deveres
de indagação cautela acrescidos
Þ Necessidade de respeito pelo escopo que a forma pretenda prosseguir
Þ Doutrina da confiança: “O doloso provoca, na outra parte, a impressão de que
o negócio é eficaz e assume, assim confiança desta: deve responder, pois, pela
situação de confiança obtida”. A base positiva da confiança está na prescrição
geral da boa-fé (art. 334º) e também para as obrigações (art. 762º /2)
Þ A inalegabilidade aproxima-se do venire contra factum proprium, requerendo
igualmente:
ÞA situação de confiança
ÞA justificação para a confiança
ÞO investimento de confiança
ÞA imputação de confiança ao responsável que irá, depois, arcar com
as consequências

Þ Proposições Essenciais das Inalegabilidades Formais:


Þ Estar em jogo apenas os interesses das partes envolvidas, nunca também os
de terceiros de boa fé.
Þ Situação de confiança censuravelmente imputável à pessoa a responsabilizar.
Þ Investimento da confiança sensível, sendo dificilmente assegurado por outra
via.

Extensão da Forma:

Þ Forma Legal: Forma exigida pela lei para determinada declaração negocial, trata,
fundamentalmente, de apurar o âmbito de aplicação das competentes normas. As
regras que prescrevem uma forma legal devem ser interpretadas em termos diretos,
encostados à letra da lei. Opera perante o cerne negocial, as estipulações acessórias só
lhes sujeitam quando a razão determinante da forma lhes seja aplicável.
Þ Negócios Coligados: Não deve haver acessoriedade (art. 221/1 e 2), seguindo
cada um a forma legal que lhes compita.
Þ Contratos Mistos: Prevalece a forma mais exigente dos elementos presentes.
Þ Estipulações Acessórias: Quando pertencem ao negócio considerado devem
seguir a forma por ele prescrita. Contudo, quando surgem em separado podem
ser anteriores ou contemporâneas à declaração negocial

Þ Forma Voluntária: No campo da autonomia privada, quando não é exigida por lei ou
convenção, mas é adotada, livremente, pelas partes.
Þ Estipulações Acessórias: Têm de observar a forma legal quando tal é exigido,
contudo, quando não existe essa exigência, são válidas independentemente de
serem anteriores, posteriores ou concomitantes, desde que correspondam à
vontade do declarante (art. 221 e 222)

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Þ Forma Convencional: Implica um pacto prévio no qual as partes combinam emitir as


suas declarações por um certo modo. Possibilidade lícita e eficaz ao abrigo da autonomia
privada. Se, em comum acordo, as partes escolherem não cumprir o acordo, este é
revogado de outra forma, só se houver suporte escrito é que o acordo pode ser
distratado (anulado), a menos que se trate de circunstâncias especiais assentes na boa
fé. A convenção de forma é constitutiva e não declarativa.

14§ A CULPA IN CONTRAHENDO:

Origem das Regras Pré-Negociais:

Þ Contratual: As partes decidem concluir pactos preparatórios. Envolve desde


contratos-promessa, a cartas de intenção, a outros negócios preliminares. Estes
contratos podem apresentar processos autónomos de formação, devendo ser
interpretados e aplicados dentro da lógica do processo a que pertençam.

Þ Legal Específica: Pode surgir em diferentes campos. A lei sobre clausulas contratuais
gerais (LCCG) contém preceitos diretamente aplicáveis à formação dos contratos que
caiam sob o seu âmbito. Também as leis da defesa do consumidor abrangem regras pré-
contratuais. A articulação de regras específicas com os princípios gerais coloca questões
complexas a explicar dentro dos institutos a que elas pertençam.

Þ Legal Genérica: Dever de proceder segundo as regras da boa-fé (art. 227/1). Norma
tradicional de teor indeterminado e que se torna incompreensível se não seguirmos as
suas origens e linhas da sua concretização.

Descoberta de Jhering (1861): Jhering demonstra que, na presença de contratos nulos


por anomalias na sua formação, podem ocorrer danos cujo não ressarcimento seja
injusto. Perante tal situação, o responsável, através de regras gerais sobre danos e culpa,
deveria indemnizar pelo interesse contratual negativo, colocando o prejudicado na
situação em que ele se encontraria se nunca tivesse havido negociações contrato nulo.
Não se trata de indagar em termos rigorosos o alcance das fontes, mas antes de apurar
as soluções mais adequadas perante a Ciência do Direito.

15§ O PAPEL DA CULPA IN CONTRAHENDO:

Culpa in Contrahendo (CIC): Antes da formação do contrato, as partes já têm diversos


deveres a respeitar e, designadamente, deveres de proteção, de lealdade e de
informação, tais deveres visam prevenir que, nessa fase pré-contratual, alguma das
partes possa atingir a confiança da outra, provocando-lhe danos.

Þ Casos que a CIC vem contemplar/necessidades que vem satisfazer:


Þ Ressarcimento de Danos Causados na Fase Pré-Contratual a Pessoas ou Bens:
Estão em jogo deveres de segurança que as partes devem providenciar para que,

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nas negociações, ninguém sofra danos, seja na sua saúde ou integridade física,
seja no seu património. Construção de um dever à segurança.
Þ Circulação, Entre as Partes, de Todas as Informações Necessárias para a
Contratação: Dever de informação pré-contratual de toda a informação que
possa, até de modo indireto, afetar os contratantes. Alargamento exponencial
da área dos deveres preliminares.
Þ Ligada à Atuação das Partes: Há deveres de lealdade, as partes não podem,
em contrahendo, adotar comportamentos que se desviem da procura, ainda que
eventual, de um contrato, nem assumir atitudes que induzam em erro ou
provoquem danos injustificados. Os deveres de lealdade distinguem-se dos de
informação por entrarem, mais do que numa questão de comunicação, numa
questão de conduta.

Þ Constelações de Casos: Concretizam os deveres de segurança, informação e lealdade


pré-negociais.
Þ Vulnerabilidade Pré-Negocial: Documenta-se nas múltiplas situações em que,
à mercê de contratos pré-negociais, uma das partes fica nas mãos da outra ou,
pelo menos, se coloca numa situação de especial fraqueza, dependendo de
deveres de segurança, informação, ou lealdade, a cargo dessa outra.
Þ Contratação Ineficaz: Quando se origina um contrato nulo ou um contrato
impugnável (anulável), pode originar responsabilidade pré-negocial. A prática
revela situações de dolo na conclusão do contrato, podendo levar à anulabilidade
ou a CIC.
Þ Interrupção Injustificada de Negociações: Conflito entre a boa fé e a
autonomia privada, podendo levar a CIC, uma vez que o desistente pode, com a
sua conduta, originar, no outro contratante, desconfiança, pois este tinha certeza
na formação do contrato.
Þ Tutela da Parte Fraca: Concretiza-se nas relações com os consumidores e nas
áreas sensíveis de banca e dos seguros através dos deveres de informação. O
desenvolvimento de regras especiais, como clausulas contratuais gerais, vem
concorrer com a CIC.
Þ Responsabilidade por Atos de Terceiros: Casos em que a CIC abrange terceiros
que possam estar envolvidos na conclusão do contrato. Nessa situação, o
representante responde pela CIC, a título pessoal, na hipótese de quebra de
deveres preliminares que lhe sejam dirigidas. O Direito atual dispõe de meios
para ultrapassar as clássicas separações concetuais entre esferas de imputação.

Proteção de Contraente Débil: Na negociação preliminar, as partes são formalmente


iguais, com tudo, por motivos económicos, sociais, de apoio jurídico, ..., tende a existir
uma das partes em situação de supremacia. Assim, são criados diversos dispositivos,
como deveres de informação na Lei das Clausulas Contratuais Gerais, de modo a
proteger estes contraentes débeis. Geralmente, esta parte fraca deve ser vista como o
cidadão comum isolado, daí a ligação deste tema aos direitos dos consumidores. A CIC,
apesar de apresentar um papel fundamental na correção dos contratos injustos através
da boa fé, não pode ser levada ao ponto de pôr em causa a autonomia privada.

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Obrigação de Contratar: Situação jurídica pela qual um sujeito (o obrigado) é forçado à


celebração de um contrato, ou seja, à emissão da declaração de vontade que, em
conjunto com a da outra parte, dá azo a um negócio jurídico bilateral. Esta obrigação
surge como um corpo estranho na lógica civil por colocar em causa a autonomia privada.
Exige uma forte situação de confiança, imputável à contraparte, de que o contrato em
jogo iria ser celebrado. O dever de contratar surge:

Þ Por Expressa Injunção Legal: Em caso de monopólios ou serviços vitais

Þ Na Falta de Previsão Legal Através de:


Þ Um prévio acordo nesse sentido com natural relevo para o contrato-promessa
(art. 410)
Þ Uma exigência de boa-fé (art. 227/1)

Boa Fé e os Valores do Sistema: Apesar da autonomia privada, conserva-se uma


preocupação de equilíbrio e de proporcionalidade no exercício dos direitos e das
diversas posições jurídicas, em geral, através da boa fé, obrigando:

Þ Tutela da Confiança: Na fase de preparação dos contratos, as partes não devem


suscitar situações de confiança que depois venham a frustrar – a violação da confiança
legítima provoca responsabilidade

Þ Primazia da Materialidade Subjacente: A autonomia privada faculta, às partes,


negociar livremente os seus contratos, interrompendo as negociações quando o
entenderem – negociação estranha à autonomia privada é contrária à boa-fé.

16§ A CONSTRUÇÃO DA CULPA IN CONTRAHENDO:

Teorias Contratuais: A natureza jurídica da culpa in contrahendo suscitou largas


divergências doutrinárias. De modo a facultar o desenvolvimento da matéria, surgiram
várias doutrinas explicativas que se agrupam em 2 pólos.

Þ Soluções Negociais: Procuram reconduzir a CIC e os deveres que a ela se ligam a


negócios jurídicos.
Þ Visão de Franz Leonhard: Reconduz a CIC ao contrato posteriormente
celebrado. O efetivo cumprimento de um contrato exige o acatamento de
deveres que se desenham antes da sua celebração. Existe uma “pré-eficácia” –
celebrado um negócio, certos deveres teriam efeitos retroativos até ao início das
negociações. Considera, ao contrário de Jhering, a CIC no domínio dos contratos
eficaezes. Críticas:
Þ Ilógico: Assenta na ideia de pré-eficácia que é contraditória em si
mesma, pois, antes do contrato, não podem dele ser retirados deveres a
observar e depois já não estamos numa fase pré-negocial.

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Þ Excessiva Restrição: Só contempla a hipótese de haver um contrato


válido, mas que causou danos na sua celebração. Não permite resolver os
problemas que causaram a descoberta de Jhering.
Þ Visão de Henrich Siber: Filia os deveres pré-contratuais na celebração de um
contrato preparatório no início das negociações. Ao aceitar negociar a eventual
procura de um consenso contratual, as partes estariam, desde logo, a aceitar,
pelo menos, algumas regras do jogo. Entre outros aspetos, assumiriam o
compromisso de se não prejudicarem mutuamente. Críticas:
Þ Ficciosa: Nas declarações comuns não se descobrem quaisquer
declarações destinadas a originar um consenso que permita retirar
deveres de comportamento minimamente consistentes.

Þ Soluções Legais: Remetem a base de figura para a lei. As partes devem, desde logo,
observar certos deveres que a lei exija. A remissão da CIC para a lei surge, assim,
bastante clara pois qualquer construção jurídica deve radicar no Direito objetivo (lei).
Þ Teoria da Relação Contratual de Facto (Gunther Haupt): As partes
conseguiriam, através de puras condutas materiais, originar situações
semelhantes a contratos, mas sem qualquer declaração a tanto destinado.
Dentro destas situações estariam os negócios preliminares. Aplica-se, por
analogia, o regime dos contratos. Esta doutrina não se limita a CIC.
Þ Teoria dos Deveres Extralegais (Hans Dolle): Aprofundando a ideia das
relações contratuais, apura que, em situações de acrescida proximidade, surgiria
uma especial confiança entre as partes que não poderia ser desamparada.
Impor-se-iam deveres de informação e de comunicação que poderiam ser
apoiados na boa-fé ou numa interpretação alargada da vontade das partes.
(Nota:Há limites para os deveres de informação, art 253º. Há uma distinção entre dolo bónus e dolo malus - no dolo
bónus (art. 253º/2) não há dolo que justifique recorrer ao art. 254º; o dolo malus (art. 253º/1) e é anulável segundo o art
254º)
Þ Teoria da Confiança (Kurt Ballerstedt): Na presença de negociações
assistir-se-ia à criação de uma situação de confiança e ao aproveitamento da
mesma pela outra parte. Esta orientação sublinha a voluntariedade da situação
de base, a presença de confiança e o apelo ao sistema subjacente.
Þ Teoria da Autovinculação Sem Contrato (Johannes Kongden): Análise
comparatística alargada e de uma ponderação sociológica, apresentando uma
ideia de “autovinculação sem contrato”. Os agentes, através de condutas
comunicativas, criam, uns nos outros, expectativas de condutas futuras. Conduz
a uma ideia de autovinculação devido à vinculabilidade da promessa. Apoio
sociológico e proteção da teoria da confiança.
Þ Teoria dos Deveres Unitários (Claus Wilhem Canaris): Sistematiza
pressupostos da tutela da confiança, aplicados pela nossa jurisprudência que
preconizam a existência de um dever unitário de proteção de base legal e que,
surgindo in contrahendo, se mantém na vigência do negócio e na sua própria
nulidade, sobrevivendo-lhe, ainda, post pactum finitum.

Abordagem pela Responsabilidade: Perante a inobservância das condutas permitidas


pela CIC, é colocada a possibilidade de indemnizar. Na base do êxito jurisprudencial da

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CIC esteve a possibilidade de a reconduzir ao instituto da responsabilidade contratual


ou obrigacional. Tipos de Responsabilidade:

Þ Responsabilidade Contratual ou Obrigacional: Tem em causa um vínculo


obrigacional específico. Corresponde à reação do ordenamento mais forte perante o
incumprimento – uma presunção de culpa (art. 799 CC), ficando imediatamente
computados todos os danos correspondentes aos valores assegurados pelo vínculo.

Þ Responsabilidade Delitual ou Aquiliana: Por se julgar de um dever genérico, é


colocado em causa a liberdade das pessoas, reagindo à ordem de modo cauteloso – não
há presunção de culpa (art. 487/1 CC), e a causalidade tem de ser estabelecida para se
calcular a indemnização.

Estimação do Prejuízo da Parte Lesada em CIC:

Þ Pelo Interesse Negativo: Prevalece a ideia de que as próprias negociações foram


ilícitas, devendo ser riscadas do mapa. O lesado vai receber uma indemnização que
permita colocá-lo na situação em que estaria caso nunca tivessem ocorrido tais
negociações. Serão computadas as despesas havidas, os cultos envolvidos e,
eventualmente, o esforço despendido.

Þ Pelo Interesse Positivo: Ilícita foi a interrupção das negociações ou a incapacidade


de, por elas, se chegar a um contrato válido e eficaz. A indemnização vai procurar colocar
o lesado na situação em que estaria caso o contrato tivesse sido válido e eficaz. Interesse
do cumprimento, visa assegurar o valor futuro perdido por via da CIC.

Frustração das Despesas: Quem, tendo em conta a conclusão de um contrato, realize


despesas que, depois, se venham a revelar inúteis pode ser ressarcido pelos seus
montantes. As despesas desaproveitadas integram o interesse negativo. Modos de
imputar as despesas ao agente:

Þ Presunção da Rendibilidade: Parte do princípio que as despesas efetuadas pelo


lesado iriam frutificar, não sendo inúteis, pelo que a sua frustração poria termo a esse
processo.

Þ Equivalência: O lesado assume, ou iria assumir, encargos entre os quais despesas,


numa lógica de equivalência com a contraprestação. Suprimida esta, cair-se-ia na
necessidade de reequilibrar a situação, o que implicaria a indemnização das despesas.

Þ Doutrina da Confiança: Diz-nos que as despesas foram efetuadas na base da crença


legítima que haveria contrato. A CIC quebra essa confiança, justificando a indemnização.

Þ “Solução” (associada ao BGB): Na presença de um vínculo obrigacional há deveres


de proteção na integridade patrimonial que abrangem as despesas alegadamente
realizadas, em função do contrato ou tendo em vista o que se iria contratar. Estes

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deveres de proteção determinam a imputação do dono e delimitam o seu montante,


assentes na boa fé (art. 227/1 e 762/2).

Obrigação In Contrahendo: Une duas pessoas concretas e assume um conteúdo


moldado pelo caso concreto, mas previsível e cognoscível, assim, a sua violação dá azo
a uma clara responsabilidade obrigacional. O teor desta responsabilidade pode ser mais
ténue quando se trata de contratos pouco mais do que ocasionais mas de maior
intensidade em casos que chegue a obrigação de contratar. Estrutura típica da
obrigação:

Þ Prestações Principais: Traduzem atuações primordialmente atribuídos às partes e


que dão o teor básico de obrigação considera.

Þ Prestações Secundárias: Exprimem outras atuações acordadas pelas partes ou


integrantes do tipo negocial perfilhado e que se destinam a complementar as prestações
principais.

Þ Deveres Acessórios: Correspondem a exigências do sistema jurídico, veiculadas pela


ideia de boa-fé. Asseguram que os objetivos últimos do vínculo obrigacional complexo
são, efetivamente, prosseguidos na sua materialidade. Protegem o património em as
próprias partes, prevenindo danos. Dão corpo às exigências axiológicas nucleadas da
tutela da confiança.

Responsabilidade Civil: Visa a repartição de riscos e danos (justiça distributiva)

18§ A CONCRETIZAÇÃO DA CULPA IN CONTRAHENDO:

Doutrina discute a natureza jurídica desta responsabilidade:

Þ Se é responsabilidade extra obrigacional por não se estar perante um contrato:


Þ Aplicam-se pressupostos da responsabilidade extra obrigacional
constantes do art. 483º/1. Se é responsabilidade obrigacional/contratual por já
se estar em ambiente contratual.
Þ São aplicáveis os pressupostos da responsabilidade civil contratual
constantes do art. 798º.

Þ MC: Considera que responsabilidade pela CIC é contratual, porque já se está num
ambiente negocial, a formação do negócio jurídico já cria um ambiente contratual.

Þ Regente: Concorda, exceto no caso dos deveres de proteção em que não há relação
entre o contrato e o dano, e não havendo relação, é responsabilidade aquiliana. Mas,
nos outros casos, ou seja, na frustração deveres de informação e de lealdade há
responsabilidade contratual, o que permite acionar a presunção de ilicitude e culpa do
art.799º/1.

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Análise do art. 227 do CC: Prefigura uma formação de contratos, os seguintes tratam a
conclusão contratual. Aplica-se a negócios e a atos jurídicos (art. 295).

Þ 227/1:
Þ “negociar”: A CIC não se manifesta apenas perante negociações, abrangendo
os deveres de segurança pré-negociais que surgem independentemente de
quaisquer negociações, formais ou informais. Basta uma especial proximidade
que tenha a ver com a conclusão de um negócio para que ocorra a relação
pré-negocial complexa.
Þ “tanto nos preliminares como na forma”:
Þ “preliminares”: Pressupõe toda a troca de informações necessárias
para haver um acordo.
Þ “formação”: Exprime a formalização do acordo, designadamente,
quando é requerida alguma atividade de documentação.
Þ “proceder segundo as regras de boa fé”: Faz apelo à “lisura”, “honestidade”,
“práticas corretas”, “lealdade”, “decência” e “ética dos negócios”.
Þ “boa-fé”: É objetiva, equivalendo a uma remissão para os valores
fundamentais do sistema presentes nas situações consideradas. Os
valores em causa são mediados pelos princípios da tutela, da confiança e
da primazia da materialidade subjacente. O seu alcance é inesgotável,
chegando a deveres como o de segurança, informação ou lealdade
(art. 437/1 e 762/2)
Þ “sob pena de responsabilidade pelos danos que culposamente causar à outra
parte”: Não delimita nem exclui quaisquer danos – são todos os “culposamente
causados”.
Þ “culposamente”: Juízo de culpa, ou seja, censura jurídica sobre quem
não obedeça, conscientemente, a uma norma jurídica. Abrange o dolo e
a negligência. Estamos perante uma situação de responsabilidade
obrigacional quando, pelo art. 799/1 do CC, se presuma culpa.
Inobservância das regras da boa fé.

Þ 227/2: Remete, no tocante à prescrição, para o art. 498 do CC. Previsão de prescrição
subjetiva, pois não começa a correr a partir do momento em que o Direito possa ser
exercido (art. 306/1), mas apenas quando o titular dele tenha conhecimento, ainda que
ignorando a identidade do responsável ou a extensão dos danos.

Não aplicação da Culpa In Contrahendo: Casos em que a parte queixosa ou violara


também a relação pré-contratual ou estava na posse de elementos que lhe permitam
não cair em confiança. E em casos em que se não provem danos, não se mostre que o
interessado desconhecia informação vital ou em que falte causalidade.

Indemnização:

Þ Jhering: Limitou a indemnização ao interesse negativo, ou seja, ao prejuízo que o


indivíduo não teria tido se não tivesse começado as negociações prejudiciais. No

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cômputo da indemnização, haveria que somar os valores relativos a despesas e encargos


suportados por via das negociações falhadas. Restringe a indemnização às despesas
falhadas que podem ser muito difíceis de provar.

Þ Interesse Positivo: A parte lesada tinha o direito à conclusão de um contrato válido,


logo os lucros frustrados que teriam sido proporcionados devem ser a base do cálculo
da indemnização.

Þ Cálculo da Indemnização: O agente deve indemnizar o lesado pelos danos causados


nos bens jurídicos protegidos pela obrigação violada, tendo de ser tomada em atenção
a fase negocial de que se trate, o tipo de dever e o bem jurídico atingido. (art. 562, 564, 798)
Þ Dever de Segurança: Devem ser indemnizados todos os danos pessoais,
patrimoniais e morais que possam, causalmente, ser imputados ao agente. Está
em causa o “interesse de integridade”, que não é positivo nem negativo.
Þ Dever de Informação: Surge na fase exploratória e intensifica-se na das
negociações informais e formais. Incumbem à parte que esteja na posição de
informar - incide sobre a parte forte.
Þ Em Casos de Violação: Obriga a questionar “qual a informação
omitida/falsamente transmitida”, “que valores visava o dever de
informar proteger” e “que danos foram causado nesses valores”.
Þ Deveres de Lealdade: Surgem com as negociações informais e agravam-se nas
etapas subsequentes. Quando impliquem quebras no sigilo ou violações de leal
concorrência ficam abrangidos os diversos danos aferidos pelo interesse
negativo.

Fase dos Deveres Pré-Negociais:

Þ Proximidade Negocial: As partes colocam-se de tal modo que possam ser atingidas
pelas condutas uma da outra – surgem deveres de segurança elementares.

Þ Contactos Exploratórios: As partes comunicam, visitam instalações ou analisam


mercadorias. Existem deveres de segurança acrescidos e, eventualmente, de
informação – estes dois prolongam-se para as seguintes fases.

Þ Negociações Informais: As partes procuram concluir um negócio, podendo ser


trocadas informações sensíveis, haver despesas preparatórias com a contratação de
terceiros. Procura-se assentar num texto com cedências múltiplas, havendo
expectativas para o futuro. Intensificam-se os deveres de confiança e os de lealdade
crescem no sentido de uma obrigação de prevenir, com a necessária veemência, não
haver contrato, se tal for o caso.

Þ Acordo: As partes assentam em todos os pontos e põem-se de acordo, faltando


apenas a formalização e, eventualmente, a preparação dos documentos para tal
necessários. A lealdade atinge um grau máximo, não devendo haver já nada a informar.

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Þ Execução: Por vezes, após o acordo, mas antes da sua formalização, as partes podem
executar, desde logo, o negócio alcançado

19§ ATOS PREPARATÓRIOS:

Atos Preparatórios: Todos os atos que, inserindo-se, pelo seu objetivo, no processo de
formação de um contrato, não possam reconduzir-se à proposta, aceitação ou rejeição,
relativamente ao contrato definitivamente pretendido. São materiais ou jurídicos
consoante tenham efeitos no mundo material ou jurídico. Surgem de tal modo incisivos
e habituais que suscitam, no plano das realidades sociais, a possibilidade de aplicação
de regras adaptadas.

Þ Atos Preparatórios Materiais: Incluem-se neles, como categoria autonomizável os


contactos preliminares em que as partes se procuram conhecer e indagar a possível
negociação dos seus interesses.

Þ Atos Preparatórios Jurídicos: Dizem-se “vinculativos” ou “não-vinculativos”


conforme obriguem, ou não, as partes ulteriores.

Þ Atos Típicos: Atos preparatórios tipificados na lei ou na prática social.


Þ Ato Preparatório Socialmente Tipificado:
Þ Minuta/Punctação: Documento no qual as partes vão registando, por
escrito, os diversos pontos a inserir no futuro contrato, à medida que
sejam acordados. Na doutrina tradicional, o contrato é aprovado no seu
todo, logo, os pontos sectoriais acordados, mesmo quando lançados num
papel, não vinculam os contraentes antes da aprovação global final
(princípio da aprovação global final).
Þ Ato Preparatório Legalmente Tipificado: Surgem diversos contratos
instrumentais, ou seja, contratos que não visam regular, de modo direto, o
conteúdo que integrará o convénio definitivo, mas, tão-só, aspetos que, a ele
irão conduzir. Cabe referir:
Þ Convenção das partes sobre a forma do futuro eventual do contrato.
(art 223)
Þ Convenção das partes sobre o valor do silêncio. (art 218)
Þ Convenção das partes sobre o prazo de subsistência de eventuais
propostas. (art. 228/1, al. a) )
Þ Contrato-Promessa ou contrato pelo qual as partes se obrigam a
celebrar o contrato definitivo. (art. 410 e seguintes)
Þ Pacto de referência ou contrato pelo qual uma das partes se obriga a,
quando contratar, fazê-lo preferencialmente com a outra, desde que esta
acompanhe a oferta de um terceiro. (art. 414 e seguintes)

Concurso para a Celebração de um Contrato: Corresponde a um ou mais atos jurídicos


destinados a promover o aparecimento de uma pluralidade de interessados na
conclusão de um contrato e, depois, a facultar, por escolha, a seleção de um deles, para

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a celebração em causa. Todos os envolvidos no processo contratual, diretamente ou a


título de potenciais interessados, acordam, previamente, regras para encontrar
contratantes definitivos, restando, apenas aplicar o regime do contrato e,
tendencialmente, as regras relativas ao contrato promessa.

Þ Elementos Essenciais: Existência de pluralidade de interessados e a escolha.

Þ Razões para o Concurso:


Þ Escolha do Parceiro Mais Idóneo: Dada a complexidade das sociedades
técnicas, a pessoa interessada em contratar não conhece, muitas vezes, os
potenciais parceiros, assim, o concurso vai criar publicidade alargada, trazendo
possíveis contratempos que irão facilitar a escolha.
Þ Aproveitamento dos Mecanismos de Concorrência: Ao abrir um concurso, o
interessado dirige-se aos eventuais interessados que, para obter o lugar, vão
oferecer melhores condições, procurando ultrapassar-se uns aos outros.
Þ Procura da Melhor Gestão: O dono do curso pode não ter ideias assentes
quanto ao contrato a celebrar, pelo que os interessados a concorrer vão
apresentar propostas globais de onde se irá buscar a melhor proposta de gestão
possível (ex: na recuperação de uma empresa)
Þ Legitimação da Escolha: Para a celebração de um contrato, a legitimidade
material advém da autonomia privada, podendo ir mais longe se ficar na
comunidade jurídica, não só a ideia de que havia o direito de celebrar tal
contrato, como que foi escolhido o melhor contratante.

Þ Tipos de Concurso: Consoante o contrato e pode ser administrativo civil, comercial,


para compra, empreitada, aquisição de móveis ou imóveis ou obtenção de serviços.

Þ Destinatários: Pessoas que podem participar no concurso. Pode ser a nível


internacional, nacional, europeu, regional, local, ...

Concurso Público: Concurso Limitado:


Podem se apresentar quaisquer parceiros Podem se apenas apresentar entidades
que reúnam as condições genericamente especialmente convidadas pelo autor do
referidas nos próprios termos de concurso.
abertura do concurso.

Þ Concurso Unilateral: Apenas o seu dono procede à abertura e aprovação dos termos,
havendo que interpretar a declaração do interessado para apurar as regras aplicáveis.

Þ Finalidade:
Þ Indicativa: Fonte de informações para o autor do concurso.
Þ Vinculativa: Integrar com efetividade num processo tendente à formação de
um contrato.

Þ Abertura: Implica uma série de regras processuais e substantivas

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Þ Regras Processuais: Relacionadas com os comportamentos instrumentais a


observar pelos envolvidos na fase preparatória – entrega de propostas e
documentos, prazos, modo de abertura, ...
Þ Regras Substantivas: Ligam-se aos valores a ponderar por via do concurso e
fixam os quadros relativos próprio contrato a celebrar, isto é, o tipo de contrato
de que se trata.

Þ Regime: Vincula o seu autor e deve seguir 3 princípios:


Þ Princípio do Cumprimento das Vinculações Unilateralmente Assumidas (art. 459)
Þ Princípio da Boa Fé na Vertente de Tutela da Confiança: Não pode uma pessoa
gerar, na comunidade jurídica, a convicção de que, para a celebração de um
contrato será seguida certa metodologia, e depois quebrar essa confiança.
Þ Tutela da Confiança Pré-Contratual: No limite, quem viole normas que o
próprio tenha adotado para um concurso público incorre na culpa in contrahendo
ou em venire contra factum proprium.

20§ NEGÓCIOS MITIGADOS:

Acordos de Cavalheiros: Convénio que as partes pretendem deixar fora do Direito,


podendo, teoricamente, recair sobre quaisquer assuntos patrimoniais ou pessoais.
Assenta na palavra dada e na honra de quem a dá. Mais vinculativo do que qualquer
vínculo jurídico pois o cavalheiro honrará sempre a sua palavra, independentemente do
preço ou circunstâncias. Não é Direito.

Þ Proteção Jurídica: As obrigações naturais não são viáveis nos casos admitidos por lei
(art. 809)
Þ Num acordo de cavalheiros em que alguém compra um automóvel pagando
ao vencedor o preço que entender justo ou é nulo (art. 280/1) ou encontrará um
preço fixado no art. 883/1.
Þ Num acordo de cavalheiros em que alguém empresta uma quantia a outrem
que pagará quando puder (art. 778)
Þ Num acordo de cavalheiros em que as partes vão celebrar um certo contrato,
ou os requisitos legais exigidos na forma são satisfeitos e o contrato vale como
tal, ou não opera, juridicamente.

Contratação Mitigada: Espaço que fica entre a completa ausência de compromisso e


contrato definitivo. São estabelecidos vínculos lassos, de conteúdo variável e com uma
futura composição de interesses. Decorre da prática de negócios. Exemplos:

Þ Tratativas: Troca de correspondência e abordagem preliminar.

Þ Carta de Intenção: Declaração que consigna uma vontade já sedimentada de concluir


certo contrato. Usada muito no comércio internacional onde, devido à diversidade
linguística se recorre, preliminarmente, a instrumentos mais simples. Utilizada para
demonstrar uma vontade séria de adquirir, de modo a dar início às auditorias.

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Þ Acordo de Negociação: Ocorre em negociações complexas e consigna uma vontade


comum das partes de executar, desde logo, certos pontos, prosseguindo na negociação,
dentro de determinados parâmetros.

Þ Acordo de Base: Também em negociações complexas, podem as partes, obtido um


acordo em área nuclear, formalizá-lo desde logo, prosseguindo, depois, as negociações,
a nível técnico, para aplainar aspetos secundários.

Þ Acordo-Quadro: Em negociações tendentes a originar múltiplos contratos, as partes


assentam num núcleo comum todos eles.

Þ Protocolo Complementar: Visando um contrato nuclear, as partes concluem um


convénio acessório, tendente a complementá-lo.

21§ O PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS:

Contrato entre Ausentes: As partes não estão, necessariamente, fisicamente separadas,


apenas de verifica que a proposta não é seguida de aceitação imediatamente. Existe um
período que prevê a manutenção de proposta. (art. 224, 228 e 235)

Þ Desvios Durante a Formação do Contrato:


Þ Limita-se ao contrato de duas partes (bilateral): Exclui negócios unilaterais ou
plurilaterais.
Þ Ignora contratos entre p resentes: Como os negócios do dia-a-dia, em
particular os concluídos por comportamentos concludentes ou por uma simples
aceitação de uma oferta ao público.

Contrato entre presentes: Momentos temporais da proposta e da aceitação tendem a


convergir. É possível ocorrer imediatamente após a proposta, uma aceitação

Proposta: Declaração feita por uma das partes e que, uma vez aceite pela outra, dá lugar
ao aparecimento de um contrato. No contrato entre ausentes é a primeira declaração.

Þ Requisitos:
Þ Ser completa: Deve abranger todos os pontos a integrar num futuro contrato,
incluindo os aspetos necessariamente precisados pelos contratantes (ex: identidade das
partes, objeto a vender, preço) e os que podem ser supridos pela lei. (normas supletivas que as partes
decidem moldar pela sua autonomia privada)
Þ Revelar uma intenção inequívoca de contratar: Não existe proposta quando a
declaração do “proponente” for feita em termos dubitativos ou hipotéticos. A
proposta deve ser firme para poder dar lugar ao contrato.

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Þ Revestir a Forma Requerida o Negócio em Jogo: Não significa que num


negócio formal algo como uma declaração verbal não tenha valor, ela pode valer
para interpretar o negócio, mas como declaração intermédia, não proposta.

Þ Complementações: Aspetos que as partes possam querer adicionar ao contrato.


Þ O contrato pode conter mais aspetos do que a proposta: Adição de normas
supletivas.
Þ O contrato pode ter mais espaços em branco para completar com outras
fontes: Não são competência de normas supletivas. (ex: preço quando não é fixado pelas partes
nos termos do art. 883/1)
Þ O proponente pode remeter para o destinatário a faculdade de complementar
a proposta: O proponente fica, depois, vinculado.
Þ São possíveis lacunas: Dispõe do esquema do art. 239.
Þ As partes podem concluir um negócio incompleto: Remetem para o futuro a
negociação destinada a complementá-lo.

Þ Aceitação: Critério final para decidir a completude de uma proposta pelos art. 232,
236 e 237.

Þ Eficácia da Proposta Contratual: Consiste, essencialmente, em promover, na esfera


do destinatário, o direito potestativo (dependente da vontade de uma das partes) de,
pela aceitação, fazer nascer o contrato proposto.

Þ Duração da Eficácia da Proposta: O momento até ao qual o autor da proposta fica


vinculado por esta está legislado nos art. 224º e 228º.
Þ Art. 228/1 do CC:
Þ Se for fixado um prazo para a aceitação pelo proponente ou por acordo
de partes, a proposta mantém-se até ao seu termo (art. 228/1, al. a) )
Þ Se não for fixado um prazo, mas o proponente pedir resposta imediata,
esta ir-se-á conservar até que, em condições normais, ela e a aceitação
cheguem ao seu destino (art. 228/1, al. b) )
Þ Se nada for dito, a proposta subsiste pelo período que, em condições
normais, possibilite que a proposta e a aceitação cheguem aos seus
destinatários, acrescidos 5 dias (art. 228/1, al. c) )
Þ Determinação do Período de “Condições Normais”: Deve ser determinado em
abstrato e tendo em conta o meio utilizado pelo proponente para enviar a sua
declaração.
Þ Tempo Mínimo: É utilizado um meio rápido de comunicação (ex: fax,
e-mail, telegrama)
Þ Tempo Maior: Utilização do correio, podendo depender da distância e
do tipo de correio.
Þ MC diz que em casos de cartas ou postais conjuga-se o 228º/1
com o 254º/2 do CPC
Þ Salvo em casos de carta registada ou de situação certificada,
quando é utilizado o correio e pedida resposta imediata, esta tem
de chegar nos 6 dias subsequentes (3+3 de envio da carta). O
prazo passa a 11 dias se, ao fim dos 6, não surgir resposta. Se

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acabar num domingo ou feriado, transfere-se para o dia útil


seguinte.
Þ Modos que podem conduzir à extinção da proposta:
Þ Decurso do Prazo: Extingue, por caducidade, a proposta, tendo em
conta o 228/1. Se o proponente declarar que a sua proposta se manterá
indefinidamente, a sua proposta vai expirar ao fim de 20 anos. (art. 309)
Þ Revogação: Ato unilateral praticado pelo proponente que visa a
extinção da proposta emitida. Só é possível enquanto não há contrato só
é possível pelo art. 230, por 2 vias
Þ Se o proponente se tiver reservado a faculdade de revogar (art.
230/1).
Þ Se a revogação for recebida antes ou ao mesmo tempo que a
proposta.
Þ Aceitação: A proposta desaparece, dando lugar ao contrato.
Þ Rejeição
Þ Outras:
Þ Morte ou incapacidade do proponente (art. 231/1 e 226/1)
Þ Morte ou incapacidade do destinatário (art. 231/1)
Þ Ilegitimidade superveniente do proponente anterior à receção
da proposta (art. 226/2)

Oferta ao Público: Dirigida à generalidade das pessoas, deve reunir os três requisitos
(completa, com a intenção de inequívoca de contratar, na forma legal prescrita). Forma
adequada de proporcionar muitos contratos com esforço e custo mínimos, por parte
dos celebrantes. Contida indiretamente na lei, segundo o artigo 230/3

Þ Convite a Contratar: Através de vários meios, as entidades interessadas
incitam pessoas indeterminadas a contratar (ex: publicidade)
Þ Proposta feita a uma pessoa desconhecida ou de paradeiro ignorado:
Proposta comum com destinatários específicos, de quem se desconhece a
identidade ou paradeiro. Há quem procede a um anúncio público (art. 225 CC)
Þ Clausulas Contratuais Gerais: Não surgem como proposta, implicando uma
rigidez que não de transforma, necessariamente, na oferta ao público.

Invitatio ad offerendum (convite a contratar): o “proponente” declara-se pronto a


receber propostas que, depois, poderá aceitar. Falta a firmeza, portadora da vontade de
vinculação, própria de verdadeira proposta. Técnica de contratação típica de
seguradoras, fazendo os seus clientes seguir a ideia das suas clausulas de contratação
gerais. Insere-se numa lógica pré-negocial em que impera o princípio da “boa fé” (art.
227/1)

Þ Leilão: Técnica de contratação pela qual o ofertante declara vender ao interessado


que sugerir o melhor preço. Não deve ser considerado como uma sucessão de contratos
por ter uma estrutura jurídica e social unitária. O seu regulamento é decisivo.

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Þ Regras possíveis na disponibilidade do ofertante (clausulas contratuais


gerais):
Þ Indicação de um valor mínimo que, a não ser lançado, bloqueia a venda
Þ Fixação de lances mínimos durante o leilão
Þ Obrigação de pagar a pronto ou entregar logo parte do preço
Þ Vias de entrega do objeto arrematado

Aceitação de uma Proposta: Declaração recipienda formulada pelo destinatário da


proposta negocial, ou por qualquer interessado em caso de oferta ao público. O seu
conteúdo deve ser de total concordância com o teor da declaração do proponente. Pode
ser expressa ou tácita (art. 217/1)

Þ Características:
Þ Traduzir uma concordância total e inequívoca.
Þ Revestir a forma exigida para o contrato.

Þ Espaços por preencher: O proponente aceita de antemão que sejam completos pelo
destinatário, tornando o conteúdo mais vasto.

Þ Efeitos: Nos termos do art. 224.


Þ Receção Tardia: A aceitação produz os seus efeitos quando a proposta já não
tem eficácia.

Þ Art. 229:
Þ Aceitação expedida fora de tempo: O proponente não tem nada a fazer a não
ser enviar nova proposta, caso continue a querer o negócio.
Þ Aceitação expedida em tempo útil: O proponente deve avisar o aceitante que
não chegou a concluir-se qualquer contrato, sob pena de assumir prejuízos.

Þ Revogação: Deve chegar a declaração revogatória ao poder do proponente, ou ser


por ele conhecida, antes ou em simultâneo com a aceitação.

Rejeição de uma proposta: Ato unilateral recipiendo pelo qual o destinatário recusa a
proposta contratual, renunciando ao direito a que dera lugar. Pode ser expressa ou
tácita. A rejeição pode ser revogada desde que a declaração chegue ao proponente, ou
dele seja conhecida, antes ou ao mesmo tempo da chegada da rejeição. (art 235/1)

Þ Alterações: Qualquer aditamento, modificação ou limitação implica a rejeição da


proposta. (art. 233, 1ª parte)

Contraproposta (ou proposta formulada pelo destinatário da primeira proposta):


Proposta contratual com a particularidade de implicar à rejeição de uma primeira
proposta. Deve ser inequívoca na vontade de contratar e assumir a forma requerida para
o contrato. (art. 233, 2ª parte)

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Dispensa da Declaração de Aceitação: Quando na proposta, a própria natureza,


circunstância do negócio, ou usos, tornam dispensável a declaração de aceitação. Tem-
-se o contrato por concluído logo que a conduta da outra parte mostre a intenção de
aceitar a proposta. (art. 234)

Þ Traduz-se materialmente em:


Þ Atos de Apropriação: Como o uso, a modificação, o consumo ou a disposição
das coisas objeto de oferta. (ex: abrir as páginas de um livro, escrever um nome num livro, por um pão num
cesto)
Þ Atos de Cumprimento: Reserva de um hotel, execução de um negócio
Þ Atos Concludentes: Habituar tráfegos de massas.

Þ Art. 234:
Þ Aspetos materiais de declaração sem aceitação:
Þ Proposta: O proponente pode dispensar a declaração de aceitação,
mas não a aceitação em si.
Þ Circunstâncias do Negócio: Abertura a comportamentos concludentes
e atos de apropriação.
Þ Usos: No CC só são referidos quando há remissão legal. Investigação à
luz da tutela do consumidor.
Þ Teorias que explicam os problemas levantados:
Þ Teoria do exercício da vontade/do negócio de pura vontade: O
preceito não visa qualquer manifestação de vontade para concluir o
negócio.
Þ Teoria de dispensa de comunicação/do destinatário: Existe sempre
uma declaração de vontade de exteriorizada de alguma forma, mas sem
necessidade de envio ao proponente.

Natureza das Declarações Negociais:

Þ Proposta:
Þ Eficaz: Produz efeitos de Direito, fazendo surgir na esfera jurídica do
destinatário o direito potestativo à aceitação (facto jurídico latu sensu).
Þ Livre: O proponente formula-a ao abrigo da sua autonomia privada existe
liberdade de celebração (ato jurídico latu sensu).
Þ Conteúdo Livre: O proponente pode inserir na proposta as clausulas que
entender, devido à liberdade de celebração e surgindo o negócio jurídico.

22§ CONTRATAÇÃO AUTOMÁTICA E ELETRÓNICA:

Autómatos: Dispositivos automáticos capazes de assegurar, mediante um pagamento,


o fornecimento de determinados bens às pessoas interessadas. Dispensam a presença
atuante de um dos parceiros nos contratos. A declaração feita pelo autómato pode ser
de proposta ou aceitação mediante a vontade dos programadores.

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Þ Teoria da Oferta Automática: A simples presença de um autómato pronto a


funcionar, mediante solicitação feita por um utente deve ser vista como uma oferta ao
público. Acionando o autómato, o utente aceitaria a proposta genérica formulada pela
entidade a quem fosse cometida a programação. O autómato é um simples
prolongamento, bastante explícito, da vontade cabal do proponente (pessoa que o
controla), entregando os bens à contraparte. Há contrato com a simples aceitação –
qualquer falha subsequente surgirá como violação do contrato perpetrada pela pessoa
que recorreu ao autómato para celebrar o negócio.

Þ Teoria da Aceitação Automática (Medicus): O simples acionar do autómato (por


exemplo ao colocar uma moeda) não provoca, necessariamente, a conclusão de um
contrato, tal só ocorrerá se o autómato não estiver vazio, ou seja, se o bem poder ser
solicitado. O contrato só se conclui através do funcionamento do autómato. A instalação
prévia deste representa, apenas, uma atividade preparatória, municiando para aceitar,
eventualmente, solicitações que lhe sejam dirigidas. Como o autómato se limita a
receber propostas, se não funcionar, não se dá uma violação do contrato, mas sim uma
não aceitação.

Þ Liberdade de Estipulação: As opções competentes foram feitas pelo programador,


só podendo por ele ser alteradas, pelo que o autómato não tem liberdade de decisão,
sendo a última palavra do utente.
Þ Oferta Ilimitada: Se o autómato poder responder a inúmeras solicitações dos
utentes, passa a caber a estes a iniciativa, e aos autómatos a aceitar ou recusar.

Þ Liberdade de Decisão: As opções foram de feitas pelo programador, só podendo por


ele ser alteradas, pelo que o autómato não tem liberdade de decisão, sendo a última
palavra do utente.

Þ Negócio Celebrado entre Autómatos: Negócio celebrado entre computadores


programados para o efeito.

Contratação por Meios Eletrónicos/Via Internet: Enquadrada com recurso aos


esquemas negociais consagrados, acrescentando-lhe algumas cautelas vantajosas para
as empresas e particulares por tornar acessível bens e serviços numa escala impensável.
Apresenta deveres de informação acrescidos e atribui, ao adquirente, um direito à
resolução do contrato, caso se venha a arrepender da celebração do contrato – decreto
lei 7/2004 de 7 de janeiro.

Tutela do Contraente Aderente: Assente em 3 aspetos:

Þ Direito acrescido à informação

Þ Direito à resolução livre e à restituição do bem ou à desistência do serviço.

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Þ Direito a reaver o valor desembolsado.

Vendas Automáticas: Vendas Especiais Esporádicas:


Þ Dispõe de comandos explícitos (art. 21 e 23).
Þ Realizadas de forma ocasional, fora
Þ Devem respeitar as regras gerais de dos estabelecimentos próprios.
indicação de preços, rotulagem, Þ Aplica-se, com adaptações, o regime
embalagem e condições higieno-sanitárias de vendas ao domicílio (art. 24)
(art. 22/1).
ÞDevem ser previamente comunicadas
Þ Utilizar equipamento que permita a às atividades competentes – como a
recuperação da importância introduzida no ADSE (art 25)
caso de não fornecimento do bem ou Þ Vendas proibidas, depois da revisão
serviço solicitado (art. 22/1) de 2008, podem ser mais vendas ligadas
Þ O equipamento automático deve exibir (art. 30)
uma série de informações (art. 22/2)
Þ Responsabilidade solidária entre o
proprietário do componente e o dono do
local onde ele esteja colocado (art. 23)
(dentro do decreto-lei 143/2001 de 26 de Abril) (dentro do decreto-lei 143/2001 de 26 de Abril)

Documentos Eletrónicos: Aqueles cujo suporte não é físico, mas “eletrónico” no sentido
mais amplo de modo a abarcar soluções eletromagnéticas e óticas. O regime é-lhe
aplicável, com modificações – para além do Decreto-Lei 290-D99 de 2 de Agosto.

Assinatura Digital: Esquema que permite a uma entidade dotada de uma “chave”
reconhecer e autenticar uma sequência digital proveniente do autor de uma missiva
eletrónica, de modo a autenticá-la – Decreto-Lei 290-D99 de 2 de Agosto.

CAPÍTULO 4: As Clausulas Contratuais Gerais

23§ O USO DAS CLAUSULAS CONTRATUAIS GERAIS:

Clausulas Contratuais Gerais (CCG): Proposições impessoais e pré-elaboradas que os


contratantes podem afetar para efeitos de conclusão do negócio. Filtram a doutrina do
negócio jurídico. Permitem uma contratação eficaz e de um elevado número de pessoas.
(Decreto-Lei 446/85 de 25 de Outubro)

Þ Proposta: As CCG podem integrar, mas, em si, nada propõem uma vez que
não têm destinatários. Estão simplesmente disponíveis para a conclusão de
contratos.
Þ Aceitação: Em casos como nos seguros, são aceites propostas, feitas pelos
interessados, que subscrevem as CCG.

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Þ Invitatio ad Offerendum: Apesar de poderem ser acompanhadas de convites


a ofertas, as CCG não têm, em si, esse papel por falta de destinatário.
Þ Publicidade: No campo da atividade destinada a promover vendas ou a
angariar clientes podem surgir, em caso de êxito, CCG, mas que, no entanto, não
integram essa atividade nem são publicadas para o efeito.
Þ Regulamento da Empresa: Adotado pela entidade empregadora, visa reger a
vida empresarial na margem em que ela dependa do poder de direção patronal,
embora de uma fonte privada, o regulamento é puramente unilateral.
Þ Usos: Muitas vezes, as CCG vêm codificar os usos, contudo estes não têm, em
si, força vinculativa, mas quando inseridos nas clausulas, ganham natureza
contratual. Mesmo assim, existem muitas CCG que não derivam de usos.
Þ Negócio de Consumo: As CCG, apesar de muitas vezes utilizados para concluir
negócios com consumidores, nem sempre o são.
Þ Contrato Pré-Formulado: Assenta numa proposta que não admite
negociações e suscita a aplicação de regras semelhantes às das CCG, não se
confundindo com elas, que podem apresentar uma multiplicidade de aplicações.

Þ Funções das Clausulas Contratuais Gerais:


Þ Rapidez: A negociação de um contrato pode ser algo muito demorado, como
não há limite, depende da (boa) vontade dos intervenientes. Algumas situações
da vida económico-social deveriam ocorrer com celeridade, por sua vez, as CCG
conseguem, através de um acordo explícito ou concludente tomar a contratação
imediata.
Þ Racionalização: Necessidade de confecionar contratos idênticos ou paralelos
pode ter expressões variáveis como exigir os contratos com um formato para o
preenchimento (pré)tipificado de conceitos indeterminados. É vantajosa não só
para o utilizador de CCG como também para o aderente por conseguir, mais
facilmente, centrar informação em aspetos sensíveis e consciencializar-se.
Þ Colmatação de Lacunas: Absolutamente necessária perante os tipos sociais
(contratos conhecidos e construídos pela prática, não dispondo de tratamento
legal específico). O recurso às CCG permite transcender o vazio legal, suprimindo,
com flexibilidade, as lacunas da lei e facilitando adaptações.
Þ Ordenação do Risco: Especialização da normalização. Todos os contratos
assumem riscos, normalmente pequenos, contudo, para quem lide com grandes
números, a multiplicidade de “riscos pequenos” pode ser fatal. Assim, é
necessária uma ordenação de riscos e negócios de modo a não inviabilizar o
negócio. No topo, surgiram clausulas limitativas da responsabilidade.
Þ Confiança dos Interessados: Liga-se às regras de igual tratamento e às
necessidades de controlo e supervisão. A presença de companheiros tranquiliza,
numa asserção reforçada pelo igual tratamento que é, a todos, dispensado. O
particular aderente sente-se fortalecido pelos números dos seus pares. E os
Estado pode ter acesso ao figurino geral dos contratos das áreas que
supervisiona. A massificação regulada pode ser uma resposta adequada ao
possível desamparo provocado pelos poderosos.

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Clausulas Internacionais: Destinadas a contratos conectados com mais de um


ordenamento, mas que também podem ser utilizadas no plano interno.

Þ Clausulas Simplificadoras: Geralmente, traduzem-se por sigas e visam agilizar


contratos, especialmente no domínio dos transportes e da compra e venda.
Þ Incoterms (international comercial terms): Traduzem clausulas típicas de
elaboração privadas expressas por siglas de locuções em inglês e cuja inclusão
em contratos de rápida celebração e execução permite fixar regimes claros e
experimentados. Visam contratantes indeterminados e, quando adorados por
uma proposta de uma das partes, uma certa rigidez. Clausulas experimentadas e
equilibradas sozinhas sem incorrer nas proibições das LCCG. Devem seguir o
indicado pela instituição, sempre sem prejuízo da sua articulação global.
Þ Grupos (4):
Þ E (de “ex” – partidas): Obrigação mínima para o exportador da
mercadoria ser entregue no local de produção ou “fábrica”.
Þ F (de “free” – livre): A mercadoria é entregue ao transportador,
não sendo o transporte principal da responsabilidade do
exportador.
Þ C (de “cost”/”carriage” – custo): Custo de transporte principal
assumido pelo exportador, mas não os riscos subsequentes do
embarque.
Þ D (de “delivery” – custo): Obrigação máxima para o exportador
que assume todos os riscos e custos até ao local de entrega.
Þ “Trade Terms”: Clausulas utilizadas no comércio internacional e,
particularmente, na compra e venda. Os nossos tribunais já reconhecem:
Þ CAD (“cash against documents”): O comprador só pode receber
mercadoria depois de comprovado o pagamento do preço faturado.
Þ COD (“cash on delivery/collect”): O comprador deve pagar no ato de
entrega da mercadoria – a clausula não se mostra cumprida da entrega –
a clausula não se mostra cumprida se o transportador se limitar a aceitar
um (mero) cheque.
Þ FCL (“full container load”): Trata-se do transporte de um contentor
selado, compete ao interessado provar que o desaparecimento de carga
se deu durante o transporte

Þ Clausulas Reguladoras: Destinadas a cumprir contratos de grande complexidade para


os quais não há leis aplicáveis. Ocorrem no domínio do Direito Financeiro.
Þ Promessas de Recompensa: Uma parte vende à outra parte determinados
valores mobiliários, prometendo recompra-los, em certas condições. Equivale a
um funcionamento que será devolvido aquando da recompensa, com o
equivalente a juros e custos. Usado para garantir fluxos financeiros dentro do
sistema bancário
Þ Swaps

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Perigos do Uso das CCG:

Þ Falha na Concorrência: O recurso às CCG põe em causa a liberdade dos aderentes,


podem optar se contratam, ou não, mas não podem negociar o que contratam. Em caso
de monopólio, a própria liberdade de contratar é comprometida.

Þ Assimetria Informativa: O aderente normal não tem nem tempo, nem


conhecimentos, nem gosto para estudar as CCG a que adere, não lhes conhecendo o
alcance ou os efeitos. Ao passo que o utilizador de clausulas as preparou e aperfeiçoou
devido ao seu trabalho enquanto especialista, não sendo, para o aderente, transparente
a situação.

Þ Direito à Legítima Ignorância: O aderente prefere o risco de soluções desequilibradas


em relação ao espaço que representaria estudar e procurar alternativas. Direito
fundamental de resguardo e de não ser incomodado.

Þ Possível Captura, pelo Utilizador das CCG, de uma Sobrerrenda Imediata ou


Mediata, à Custa dos Aderentes: O negócio final pode implicar mais valias que provém
de burocracias. Aquele que estude a matéria poderá deslocar, a seu favor, tal dinheiro.

Þ Esquemas de Publicidade ou Facilidade de Contratação pela Net: O particular, agora


como consumidor, pode ser levado a enganos ou contratações inúteis, sendo tudo isso
agravado por regimes contratuais desfavoráveis, emergentes de uma adesão não
melhor pensada às CCG.

Requisitos das CCG:

Þ Juridicidade (proposições negocialmente significativas): Proposições


linguisticamente significativas por escrito nas quais é possível apontar uma juridicidade
negocial. Estruturas vocabulares capazes de exprimir uma volição negocial. Uma vez
subscritas, as CCG passam a clausulas negociais, dotadas de vinculabilidade,

Þ Pré-Formulação: Existem antes da sua eventual inclusão num contrato. A prévia


existência das CCG assegura que elas se mantenham “quae tales”, independentemente
de serem, um dia, incluídas nalgum contrato, o que lhes confere logo alguma
juridicidade.

Þ Multiplicidade: As CCG destinam-se a ser subscritas por proponentes ou


destinatários indeterminados, tendo apetência para dar corpo a diversos negócios (art.
1/1 da LCCG) em duas possibilidades:
Þ Num número indeterminado de negócios singulares: As CCG dirigem-se a
diversos contratos futuros que potenciam um mesmo negócio (criação de um
modelo contratual).
Þ Num modelo determinado de negócios singulares: As CCG foram desenhadas
para um certo caso, mas veio a ser utilizada por outros. A doutrina e a

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jurisprudência alemãs requerem que elas estejam presente em, pelo menos, três
contratos.

Þ Rigidez: Não admissão de uma negociação que possa mudar o seu teor.

Þ Requisitos Frequentes, Apesar de Não Necessários (como os supra são):


Þ Desigualdade entre as partes: O utilizador das CCG goza, em regra, de
marcada superioridade económica e científica em relação ao aderente.
Þ Complexidade: As CCG alargam-se por um grande número de pontos,
cobrindo, com minúcia, todos os aspetos contratuais.
Þ Natureza Formulária: As clausulas constam, com frequência, de documentos
escritos onde o aderente se limita a especificar escassos elementos de
identificação.

27§ O REGIME GERAL:

Decreto-Lei 446/85 (LCCG): Aprovou o regime das clausulas contratuais gerais, não se
limitando a proteger os consumidores, visa todos os utilizadores das CCG, contudo,
dispensa aos consumidores um olhar um olhar especial por prever para eles uma mais
extensa lista de proibições. Relativamente a proibições, articulou uma clausula geral
assente em múltiplas proibições específicas. Associou uma nulidade a clausulas
contrárias à lei a inovar em cada caso um sistema geral de ações inibitórias.

Þ Opções Prévias:
Þ As CCG careciam, em Portugal, de uma intervenção legislativa cuidada desde
a industrialização que as clausulas se tinham generalizado, sem ter havido
qualquer regulação pelo legislador em 66’. Não existia um corpo de decisões
capaz de dar resposta.
Þ A intervenção a realizar tinha de assumir base doutrinária.
Þ A intervenção legislativa procuraria concretizar os grandes princípios civis já
existentes, mas que, por validade ou indeterminação, não impulsionavam a
jurisprudência.
Þ A intervenção não seria integrada no CC.
Þ A intervenção legislativa não deveria ter opções doutrinárias e colher os
ensinamentos da experiência, conjugando uma fiscalização singular e preventiva.

Þ Âmbito:
Þ Da forma da sua comunicação ao público: Tanto se visam os formulários como,
por exemplo, uma tabuleta de aviso ao público.
Þ Da extensão que assumam ou venham a apresentar: Dentro dos contratos a
que se destinam.
Þ Do conteúdo que as enforme: Da matéria que vamos regular.
Þ Elaboração: Proponente, destinatário ou terceiros.
Þ Clausulas Pré-Elaboradas: Também se aplica este regime a clausulas pré-
elaboradas, inseridas em contratos individualizados, relativamente aos quais a

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contraparte não tenha liberdade de estipulação. Não estamos perante CCG, uma
vez que não se encontram presentes as características da generalidade e da
abstração típicas destas cláusulas, mas existe uma extensão deste regime por
estarem presentes a mesma razão de ser.
Þ Regente: Tendo em atenção esta razão de ser do regime, esta norma
(art.1º/2) deve ser interpretada com alguma cautela - só faz sentido a
extensão do regime se o aderente estiver numa posição de inferioridade
negocial.

Þ Exclusões:
Þ Razões Formais: Art. 3/1 al. a) e b) da LCCG.
Þ Em função da matéria: Art. 3/1 al. c), d) e e) da LCCG.

Þ Inclusões: As CCG inscrevem-se no negócio jurídico através de mecanismos negociais


típicos, pelo que os negócios originados podem ser valorados, como os restantes, à luz
das regras sobre a perfeição das declarações. Lidando com figuras como o erro, a falta
de consciência da declaração ou a incapacidade acidental. A inclusão depende de uma
série de requisitos:
Þ Art 5º - Efetiva Comunicação:
Þ Art. 5/1 – Comunicação na Integra: A comunicação deve ser feita a
todos os interessados diretos.
Þ Art. 5/2 – Comunicação Adequada e Atempada: De acordo com bitolas
a apreciar segundo as circunstâncias.
Þ Art. 5/3 – Ónus da Prova: O utilizador que alegue contratos celebrados
na base de CCG deve provar, para além da adesão em si, o efetivo
cumprimento do encargo de comunicar (consultar art. 342 do CC).
Þ Art. 6º - Efetiva Informação: As clausulas devem ser, efetivamente, entendidas. A
LCCG prevê um dever de informação, na medida em que o utilizador das CCG deve
conceder a informação necessária ao aderido, prestando-lhe todos os esclarecimentos
(razoáveis) exigidos. Se não houver uma informação e comunicação efetiva, não há
obrigação de indemnizar, mas sim a não inclusão prevista no art 8º. Isto só pode levar
ao dever de indemnização, quando se verifiquem os pressupostos do art 227º.

Þ Jurisprudência: Tal como a doutrina partiu da condenação de situações em que não


tinham sido comunicadas ao aderente as clausulas a que este teria de aderir. Permite
esclarecer os artigos 5º e 6º (da LCCG), explicando o funcionamento do ónus da prova
neles previsto:
Þ Quando o ónus é adotado pelo aderente:
Þ Cabe ao particular aderente explicitar de que clausulas não tomou
conhecimento.
Þ O aderente que se queira prevalecer desses dispositivos deve, desde
logo, invocar e provar que contratou por adesão, o que se não sucede se
tiver havido negociações.
Þ Encargo do utilizador de provar que houve comunicação:
Þ O teor da informação não deve passar o exigido pela boa fé.

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Þ A comunicação, por parte do utilizador, deve ser integral, de modo


adequado para que se perceba e com bastante antecedência.
Þ A assinatura do aderente a dizer que tornou conhecimento das
clausulas não é suficiente.
Þ Nas CCG, e em caso de dúvidas, a lei manda escolher o sentido que seja mais
favorável ao aderente, porque esta é a parte fraca.

Clausulas Prevalentes: As partes que subscrevem clausulas contratuais gerais podem,


em simultâneo, acordar, lateralmente, noutras clausulas específicas, pois a adesão
faz-se em global sem tomar muita atenção a cada uma das clausulas incluídas no
formulário. O art. 7º da LCCG determina uma prevalência das clausulas específicas entre
as gerais.

Þ Clausulas Específicas Acordadas: Decorrência das regras gerais sobre o ónus da prova
(art. 342 do CC)

Þ Jurisprudência Relativamente ao Art. 7º:


Þ Negociação prévia impede a adesão às CCG.
Þ As “condições especiais” ficam fora da LCCG.
Þ As clausulas especificamente recordadas prevalecem sobre as gerais.

Clausulas Excluídas: Presença num contrato celebrado com recurso a CCG de


dispositivos que não tenham sido devidamente comunicados ou informados, não
correspondendo ao consenso real das partes. O artigo 8º, alíneas a) e b) da LCCG,
solucionam esta situação através da sua exclusão dos contratos singulares atingidos.

Þ “Clausulas Surpresa”: Penalizadas pelas alíneas c) e d) do art. 8º, sendo aferidas pela
lei portuguesa com base em 3 pilares: o contexto, a epígrafe e a apresentação gráfica.
Abrangem as clausulas que passam despercebidas aos contratantes normais.

Þ Clausulas Inseridas depois da assinatura do aderente: Levantam à suspeita de não


terem sido lidas ou levadas a acordo. Penalizadas pelo art. 8º al. d) da LCCG.

Þ Inserção das Clausulas Referenciadas no Art. 8º no Contexto Singular: Coloca em


causa o problema da sua subsistência:
Þ Art. 9º da LCCG: Determina que, quando se assista à não inclusão de CCG nos
contratos singulares, estes, em princípio, se mantenham.
Þ Art. 9/2 da LCCG: Caso soluções de recurso sejam insuficientes ou
conduzam a resultados contrários à boa fé, a nulidade é inevitável.

Integração e Interpretação: O art. 10º da LCCG dispõe sobre a interpretação e


integração das CCG, remetendo, implicitamente, para os art. 236 e seguintes. Os
contactos singulares e as próprias clausulas devem ser interpretados pela LCCG. Impede
as próprias CCG de engendrarem outras regras de interpretação.

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Þ Remete para uma Interpretação que Inclua Apenas o Contrato Singular: Corta a
dúvida bem conhecida da doutrina especializada que se prende com o conforto entre as
tendências generalizadas e individualizadora da justiça:
Þ Tendência Generalizadora: Exige que as CCG sejam interpretadas em si
mesmas, sobretudo quando surgem completas, de modo a obter soluções
idênticas para todos os contratos singulares que se venham a formar com base
nelas.
Þ Tendência Individualizadora: Abre portas a uma interpretação singular de
cada contrato em si. As mesmas CCG podem propiciar diferentes contratos.
Þ Art. 10º da LCCG: Leva os utilizadores das CCG a desenvolver ao
pormenor os seus contratos de modo a prevenir “interpretações
indesejadas”. Por haver margens interpretativas, não se pode tirar das
CCG as vantagens generalizadas que acarretam.
Þ Distinção de 3 Situações Dentro das CCG:
Þ Clausulas de Negócios Correntes e de Execução Instantânea: Interpretação
objetiva, não se aplicando o art. 10º da LCCG.
Þ Clausulas de Negócios Duradouros: Inseridas em áreas dominadas pela
normalização e onde não é possível restituir a vontade das partes ou os termos
concretos da negociação. Interpretação objetiva sem se aplicar o art. 10º.
Þ Clausulas de Negócios Duradouros Altamente Personalizados: Interpretação
pouco objetiva, aplica-se o art. 10º da LCCG e o 237 e 239 do CC.

Þ Art. 11º da LCCG: Precisa a temática das clausulas ambíguas.

28§ O CONTROLO INTERNO:

Controlo Confiado dos Tribunais no Domínio das CCG: As clausulas contratuais gerais
surgem da natureza privada, escapando ao controlo público, legal e constitucional que
recai sobre os diplomas do Estado. Nos tribunais é confiado o controlo da eficácia ou
pela LCCG de eficácia, não estando em causa um controlo de equidade, deontológico
(dos bons costumes – art. 280/1), interpretativo, ou integrativo (art. 237 e 239), ou do
exercício (abuso do Direito – art. 334). Perante CCG o juíz deve abdicar de casuísmos

Nulidade (sui generis): A LCCG veio proibir determinadas clausulas

Þ Pode Ocorrer de Duas Formas:


Þ Derivada da aplicação dos art. 15 a 23: Clausulas vedadas da LCCG
diretamente ao contrato singular onde o problema surge.
Þ Criada pela prévia proibição judicial: Independentemente de situações
concretas pela ação inibitória do art. 25º. Menos envolvente e cuidadosa, mas
mais rápida.

Þ Art. 286 do CC: Cada um decide se lhe convém invocar determinada invalidade. A
presença das CCG nulas pode ser indiferente para o aderente. Contudo, a invocação

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vitoriosa de invalidades obriga a uma recomposição do contrato singular. As CCG deixam


de o ser se o aderente as (re)confirmar, individualmente e no âmbito de uma negociação
livremente consentida, mostrando que a teoria clássica das invalidades carece de
adaptações.

Þ Art. 12 da LCCG: Deve ser interpretado com algum cuidado. Dispõe que as CCG
proibidas são nulas. Todavia, quando passa de CCG a clausula contratual comum, fica na
liberdade do aderente impugnar ou não a clausula já inserta no contrato singular.
Þ Casos Assaz Raros: O legislador proíbe as CCG, já nulas, nos termos do art. 18
al. a), b), c) e d)

Þ Art. 13 da LCCG:
Þ 13/1: Dispõe que o aderente pode manter os contratos singulares quando
dispõe clausulas nulas,
Þ 13/2: Regula o número anterior, mostrando que não é obrigatória a nulidade
ou a conversão do negócio, podendo, por exemplo, optar por substituir as CCG
inválidas. Existem 2 situações possíveis:
Þ Estamos diante de um contrato que integre um tipo legal cujas regras
supletivas viessem ser afastadas pelas CCG: as regras retomam a
aplicação.
Þ O contrato equivale a um mero tipo social reconhecido pela prática,
mas ausente da lei: como faltam leis negociais, torna-se impossível a
integração da lacuna negocial.

Redução: Perante a invalidade da CCG a parte aderente pode optar pela redução, ou
seja, pela vigência do contrato sem as clausulas viciadas ou pela sua substituição por
regras legais supletivas.

Þ Regime de Redução dos Negócios Jurídicos (previstos no art. 292 do CC): O utilizador
de CCG, confrontado com o art. 14 (LCCG) pode provocar a nulidade total,
demonstrando que o negócio não seria possível sem a parte viciada.

Þ Art. 14 da LCCG: Visa a complementar o quadro das consequências derivadas da


nulidade das CCG. Prevê:
Þ Que o aderente, invocando a invalidade, opte por não apelar à aplicação de
regras supletivas ou à integração negocial.
Þ Tais soluções provocam um desequilíbrio gravemente contrário à boa-fé.

Þ Nulidade: Proveniente do acolhimento de CCG e de não ser, de todo, possível


colmatar a lacuna daí derivada.

Þ Redução Convalidante: O juíz opera como administrador dos interesses do utilizador


da clausula, o aderente perde a possibilidade de se informar dos seus direitos e deveres
e o utilizador fica libertado do risco de total inviabilidade do negócio. Opção não viável.

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Proibição da Contrariedade à Boa-Fé:

Þ Art. 15: Núcleo da lei das CCG.

Þ Art. 16: Indica vias de concretização.


Þ Alíneas a) e b): Configuram as duas grandes vias de concretização da boa-fé -
tutela da confiança e primazia da materialidade subjacente.

Þ Remissão Para a Boa-Fé: Equivalente a delegar no juíz o poder de, perante cada
clausula, concretizar os valores gerais do sistema.

Articulação de Proibições: 4 hipóteses básicas contempladas na lei:

Þ Art. 18: Clausulas absolutamente proibidas entre empresários e equiparados.

Þ Art 19: Clausulas relativamente proibidas entre empresários e equiparados.

Þ Art. 21: Clausulas absolutamente proibidas nas relações com consumidores.

Þ Art. 22: Clausulas relativamente proibidas nas relações com consumidores.

29§ PROIBIÇÕES ENTRE EMPRESÁRIOS:

Proibições Absolutas: Art. 18 da LCCG

Þ Alíneas a), b), c) e d): Proíbem clausulas de exclusão ou limitação da


responsabilidade. O legislador pretendeu deixar, entre empresários, dominar uma
autonomia privada, mas com a responsabilidade inerente aos danos causados.

Þ Alíneas a) e b): Determinam a nulidade das clausulas que afastam a responsabilidade


por danos pessoais ou patrimoniais aquilianos.
Þ Alíneas e): Visa evitar que se procure conseguir, por via interpretativa, aquilo que
diretamente as partes não conseguem alcançar. Esta regra tem a ver com a
interpretação de qualquer preceito, venha ou não ele de clausulas predispostas.

Þ Alíneas f), g), h) e i): Relacionadas com os institutos (garantem ou reforçam o


cumprimento de obrigações) da exceção do não cumprimento do contrato (art. 428 do
CC), da resolução por incumprimento (art. 432 do CC), do direito de retenção (art. 754),
das faculdades de compensação (art. 847) e da consignação em depósito (art. 841)

Þ Alínea j): Visa evitar obrigações perpétuas ou cuja duração ficasse apenas
dependente de quem recorrer às CCG. Pode sustentar-se em termos não absolutos só
viáveis quando a lei o permita ou imponha.

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Þ Alíneas l): Previne que, a coberto de esquemas de transmissão do contrato se venha


a limitar, de facto, a responsabilidade. Pois, basta transmitir a propriedade para uma
entidade que não tenha a adequada cobertura patrimonial para, na prática, esvaziar o
conteúdo de qualquer imputação de danos.

Proibições Relativas: Afetas ao art. 19 da LCCG

Þ Alíneas a) e b): Relacionadas com o prazo dos contratos, no decurso do qual uma das
partes fica submetida à vontade da outra.
Þ Alínea c): Proíbe clausulas penais desproporcionadas aos danos a ressarcir. Proibição
muito aplicada perante contratos locação financeira, cujas condições gerais incluíam,
por vezes, clausulas penais draconianas.

Þ Alíneas d): Inadmissibilidade de recorrer a factos insuficientes para alicerçar a


autonomia privada.

Þ Alínea e): A garantia das qualidades da coisa cedida ou de serviços prestados pode
ser posta na dependência do recurso a terceiros. Contudo, por vezes, tal situação só irá
equivaler a um meio obliquo de limitar a responsabilidade.

Þ Alínea f): Faculdade de, unilateralmente e sem necessidade de justificação, se por


termo a uma situação duradoura.

Þ Alínea g): O estabelecimento de um tribunal competente que envolva graves


inconvenientes para uma das partes, deve ser justificado por equivalência a interesses
da outra parte. Quando tal não se sucede, a clausula competente é nula.

Þ Alíneas h) e i): Concessão de poderes executivos e exorbitantes a uma das partes.

30§ PROIBIÇÕES COM CONSUMIDORES:

Proibições Absolutas: Afetas ao art. 21 da LCCG.

Þ Alíneas a), b), c) e d): Asseguram que os bens ou serviços pretendidos pelo
consumidor final são, de facto, os que ele vai alcançar.

Þ Alíneas e), f), g) e h): Pretendem garantir a manutenção eficaz de uma tutela
adequada, prevenindo a possibilidade de recurso a vias obliquas para a defraudar à lei.
Þ Alínea f): Particularmente visada nas proibições judiciais.

Proibições Relativas: Nas relações com consumidores finais, não se trata apenas de
negar a exclusão da responsabilidade, havendo que, pela positiva, assegurar a própria

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obtenção do bem, já que a obtenção de uma indemnização é aqui problemática.


Relativamente ao art. 22/1 da LCCG:

Þ Diversas Alíneas: Especificam pontos nos quais, segundo a experiência, os


consumidores podem ver em perigo a sua função

31§ ISENÇÕES LEGAIS:

Art. 22/1 da LCCG:

Þ Alínea c): Proíbe as clausulas que atribuam o direito de alterar unilateralmente os


termos do contrato, exceto se existir razão atendível que as partes tenham
convencionado.

Þ Alínea d): Proíbe estipulações da fixação do preço dos bens na data da entrega, sem
que se dê à contraparte o Direito de resolver o contrato, se o preço final for
excessivamente elevado em relação ao valor subjacente às negociações

Art. 22/2 da LCCG: Ressalva, em derrogação da alínea c):

Þ Direito do fornecedor dos serviços financeiros de alterar a taxa de juro ou o montante


de quaisquer outros encargos aplicáveis, desde que correspondam a variações do
mercado e sejam comunicadas de imediato, por escrito, à contraparte.

Þ A atribuição, a quem as predisponha, do direito de alterar unilateralmente o


conteúdo de um contrato de duração indeterminada, contanto que se preveja o dever
de informar a contraparte com pré-aviso razoável e se lhe dê a faculdade de resolver o
contrato.

Art. 22/3 da LCCG: Ressalva, em derrogação às alíneas c) e d) realidades cujas flutuações


o adquirente pode querer assumir:

Þ As transações referentes a valores mobiliários ou a produtos e serviços cujo preço


dependa da flutuação de taxas formadas no mercadas financeiro.

Þ Os contratos de compra e venda de divisas, de cheques de viagem, ou de vales postais


internacionais expressos em divisas.

Art. 22/4 da LCCG: Ressalva clausulas de indexação quando o seu emprego se mostre
compatível com o tipo contratual onde se encontrem inseridas e o mecanismo de
variação do preço esteja explicitamente descrito.

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32§ AÇÃO INIBITÓRIA:

Ação Inibitória: Faculta, quando proceda, a proibição judicial da utilização de certas


clausulas, independentemente da sua inclusão em contratos singulares (art. 25 e
seguintes da LCCG).

Þ Consequências: Depois da proibição, as clausulas atingidas não podem mais ser


incluídas em contratos (art. 32), incorrendo os utilizadores em sanções pecuniárias
compulsórias se não respeitarem a proibição (art. 33).

Þ Importância: A existência e divulgação da LCCG levou grandes empresas a estudar e


rever, cuidadosamente, as clausulas contratuais gerais por elas praticadas, de modo a
expurgar nulidades.

CAPÍTULO 5: Negócios Usurários, Defesa do Consumidor e


Não-Discriminação

35§ DEFESA DO CONSUMIDOR:

Defesa do Consumidor: Determinada no art. 60º da CRP, é um dever dos Estados


Modernos.

Þ Projeções:
Þ É um princípio programático que o legislador deve ter presente nos mais
diversos quadrantes normativos. Relacionado com a concretização do art. 60 da
CRP.
Þ É um vetor sistemático que permite agrupar e interpretar em conjunto
múltiplas normas que visam a tutela do consumidor.
Þ Área formalmente delimitada da ordem jurídica que assume a finalidade
expressa da tutela do consumidor.

Þ Lei da Defesa do Consumidor (LDC, Lei 24/96 de 31 de julho): Abrange 25 artigos


repartidos por 5 capítulos
Þ Capítulo 1 – Princípios Gerais (art. 1º e 2º)
Þ Art. 1º: Dever de proteção do Estado.
Þ Art. 2/1: Define consumidor – O Professor MC considera a definição
indevidamente estreita.
Þ Art. 2/2: Define o âmbito da proteção e das atuações desenvolvidas
pelo Estado.
Þ Capítulo 2 – Direitos do Consumidor (art. 3º a 15º)
Þ Art. 3º: Enumera os direitos que vão ser desenvolvidos nos artigos
seguintes.
Þ Art. 4º: Direito à qualidade de bens e serviços.

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Þ Art. 5º: Direito à proteção da saúde e da segurança física –


desenvolve-se em dois planos:
Þ incompatibilidade de utilizar o bem
Þ dever da Administração Pública para prevenir danos.
Þ Art. 6º: Direito à formação e à educação – atribui ao Estado deveres
formativos e escolares.
Þ Art. 7º: Direito à informação para o consumo (em geral) – impõe ao
Estado múltiplas sanções no domínio da informação do consumidor.
Þ Art. 8º: Direito à informação para o consumo (em particular) – abrange
um dever de informar mais pormenorizado na fase de negociação ou
conclusão do contrato. A violação deste dever dá azo a um direito de
retração por parte do consumidor e de indemnização.
Þ Art. 9º: Direito à proteção dos interesses económicos, implicando
múltiplas cautelas quanto à celebração de contratos de com
consumidores.
Þ Art. 10º a 13º: Direito à prevenção e à reparação de danos patrimoniais
e não patrimoniais.
Þ Art. 14º: Direito à proteção jurídica e a uma justiça acessível e pronta,
implicando deveres do Estado e diversos privilégios processuais.
Þ Direito de participação por via representativa consiste,
nomeadamente, na audição e consulta prévias das associações de
consumidores no tocante a medidas que afetem os seus direitos.
Þ Capítulo 3 – Carácter Injuntivo dos Direitos dos Consumidores (art. 16):
Qualquer clausula que exclua ou restrinja os direitos atribuídos pela LDC é nula.
Þ Capítulo 4 – Instituições de Promoção e Tutela dos Direitos do Consumidor
(art. 17 a 22).
Þ Art. 17: Atribui um estatuto especial às instituições de promoção e
tutela dos direitos do consumidor.
Þ Art. 18: Receção de múltiplos direitos de ordem processual pelas
instituições.
Þ Art. 19: Possibilidade das instituições de negociar com os profissionais
ou organismo que os representem
Þ Art. 20: Prevê uma especial atuação do Ministério Público.
Þ Art. 21: Estabelece Instituto do Consumidor.
Þ Art. 22: Estabelece o Conselho Nacional de Consumo.
Þ Capítulo 5 – Disposições Finais (art. 23 a 25)

CAPÍTULO 6: O Conteúdo do Negócio Jurídico

37§ QUADROS DA EFICÁCIA NEGOCIAL:

Conteúdo do Negócio: Corresponde à regulação por ele desencadeada. Conjunto de


regras que, por ele ter sido celebrado, têm aplicação num tempo e espaço delimitado

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pelas partes. Visa proporcionar uma ponderação global da relação promovida pelo
contrato através de uma base panorâmica do conjunto.

Þ Objeto do Negócio: Aquilo sobre o qual recai a própria relação jurídica – aspeto
fundamental/final.

Þ Elementos do Conteúdo do Negócio:


Þ Elementos Normativos: Regras aplicáveis “ex lege” (a que o Direito associa a
celebração dos negócios, independentemente de uma expressa vontade
negocial nesse sentido).
Þ Injuntivos: Quando não ficam na disponibilidade das partes nem
podem, por isso, ser por elas afastadas.
Þ Supletivos: Quando a sua aplicação se destina a suprir o silêncio ou as
insuficiências do clausulado negocial.
Þ Elementos Voluntários: Regras aprontadas e fixadas pelas partes
Þ Necessárias: Correspondem a fatores que, embora na disponibilidade
das partes tenham, por elas de ser fixadas sob pena de incompletude do
negócio.
Þ Eventuais: Integram elementos que as partes podem assumir no
negócio se assim o entenderem.
Þ Clausulas: Compõe o negócio jurídico
Þ Formais: Proposições afirmadas vocabularmente como autonomia em
regras numeradas pelas próprias partes.
Þ Eventuais: Integram elementos que as partes podem assumir no
negócio se assim entenderem.

Tipo Negocial: Conjunto dos seus elementos valorativos e necessários, exprimindo, ao


mais elevado grau, o equilíbrio que o direito positivo entendeu promover como mais
justo.

Þ No Plano Prático: Recorda que, na generalidade, as partes não se esforçam em


procurar regimes específicos para os seus interesses, limitando-se a eleger um negócio
e a complementar os elementos voluntários necessários. As tarefas de determinação
das regras aplicáveis podem, assim, limitar-se à identificação do tipo negocial eleito
pelas partes.

Þ No Plano Valorativo: Faculta a confluência das composições de interesses mais


ajustadas no momento histórico considerado. Constitui uma lista valorativa adotada a,
por exemplo, à solução de questões deixadas em aberto pela supressão de CCG.

Clausulas Típicas: Dispositivos que o Direito trata expressamente, ficando à disposição


das partes que queiram remeter. Não formam, porém, um todo corrente,
apresentando-se instrumentos em si desconectados, mas que, em conjunto, formam
um todo – elemento voluntário eventual.

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Requisitos do Negócio: Qualidades exigidas para o conteúdo e para o objeto de


qualquer negócio (art. 280º do CC)

Þ Possibilidade

Þ Conformidade com a Lei

Þ Determinabilidade

Þ Conformidade com a Ordem Pública

Þ Conformidade com os Bons Costume

38§ A POSSIBILIDADE:

Possibilidade: Requisito que sofre múltiplos desvios, uma vez que a lei associa à
impossibilidade de certos atos consequências diversas.

Þ Possibilidade Física: Tem o seu objeto na natureza das coisas


Þ Pode ser vedada por falta de substrato (ex: negócio de reparação de uma casa
que ardeu por completo).
Þ Pode perder o conteúdo por supressão do escopo (ex: fornecer o vestido de
noiva depois do seu casamento).

Þ Possibilidade Jurídica: Tem o seu conteúdo no Direito


Þ Absoluta ou Relativa (Objetiva ou Subjetiva):
Þ Absoluta: Conforme atinja o objeto do negócio sejam quais forem as
pessoas envolvidas. Verdadeira impossibilidade, pois o sujeito é
concretamente proibido de atuar certo negócio, podendo, contudo,
celebrá-lo desde que se faça depois substituir na execução. Explica a
possibilidade de negociar coisas futuras (art. 211 e 401/2 do CC).
Þ Relativa: Opera apenas perante os sujeitos concretamente
considerados.
Þ Possibilidade Temporária ou Definitiva: Em função da sua extensão temporal.
A temporária é previsível que cesse e pode ser viável em negócios de coisas
futuras ao contrária da definitiva.
Þ Impossibilidade Efetiva e Meramente Económica:
Þ Impossibilidade Efetiva: O objeto do negócio é ontologicamente
inviável.
Þ Impossibilidade Económica: O objeto do negócio é pensável, mas
surge economicamente tão justo que se torna injusto ou iníquo.
Þ Impossibilidade Inicial e Superveniente:
Þ Impossibilidade Inicial: Opera logo no momento de celebração,
conduzindo à aplicação do art. 280/1 do CC (nulidade do negócio).

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Þ Impossibilidade Superveniente: Manifesta-se mais tarde. Atinge


também os requisitos, sendo a consequência a extinção da obrigação (em
caso de devedor imputável) – art. 790/1, ou a extinção com aplicação de
regras do incumprimento – art. 801/1.
Þ Impossibilidade de Paulo Cunha: Impossibilidade moral com o objeto inviável
por contrariar uma conjunção de normas ou princípios jurídicos.

Þ Delimitação e Negócios Absurdos: Triplo sentido da adstrição à prestação impossível.


Þ Firmar os deveres acessórios que, em qualquer caso, devem ser observados.
Þ Sujeitar o devedor às consequências do incumprimento, que são
determináveis em função da ausência de prestação vedada.
Þ Obrigar o devedor a substituir a prestação em jogo, garantido, no fundo, o
interesse do credor.

39§ A DETERMINABILIDADE:

Determinabilidade: Coloca um tema de consciência na conformação da vontade


negocial.

Þ Negócio Indeterminável: Não deriva de uma informação clara quanto ao seu


conteúdo ou quanto ao seu objeto. Pode resultar de uma confusão vocabular
inultrapassável ou de uma remissão para realidades que, por si, não tenham um teor
percetível. É, de todo, indeterminável.

Þ Negócio Indeterminado: Não permite, de momento, apreender o seu objeto ou


conteúdo. Surge determinável.

Þ Aplicação – Tutela da Parte Fraca: A exigência de determinabilidade de conteúdo e


objeto do negócio é uma exigência material de tutela da parte fraca.

40§ A LICITUDE E A CONFORMIDADE LEGAL:

Licitude e Conformidade Legal:

Þ Licitude: Requisito dos negócios jurídicos que consiste na não ultrapassagem dos
limites injuntivos do ordenamento. Pode ser usada numa aceção ampla ou restrita.
Þ Sentido Amplo: O negócio é lícito quando surge perfeito – integra todos os
requisitos pela lei para a sua plena eficácia. A licitude absorve todos os demais
requisitos (possibilidade, determinabilidade, conformidade com os bons
costumes e a ordem pública). Podem ser chamadas a respeito questões como a
forma ou o processo de formação.
Þ Sentido Estrito: Dele não resultam condutas contrárias a normas jurídicas
imperativas.

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Þ Ilicitude Restrita ou “propu sensu”:


Þ Ilicitude da Conduta em Si: O sujeito obriga-se a passar os limites da
velocidade.
Þ Ilicitude do Resultado: O sujeito obriga-se a furtar uma quantia
Þ Ilicitude dos Meios: O sujeito obriga-se a assistir a um desafio desportivo, sem
pagar o bilhete.
Þ Ilicitude da Relação Meios/Resultado ou Meios/Fim: O sujeito obriga-se a, por
meios em si ilícitos, mas para resultados lícitos, criar entre eles uma relação
inaceitável (ex: comprar uma arma ilegalmente para caçar).

Þ Conformidade Legal: Requisito residual destinado a facultar a sistematização de


fatores na doutrina de Paulo Cunha.

42§ BONS COSTUMES:

Bons Costumes: Traduzem uma referência aprazível sem nada a apresentar, não tendo
nada relacionado com o abuso de direito. São regras de conduta externa. Nas decisões
judiciais seguem três vertentes:

Þ Bons costumes referidos em conjunto com a boa-fé a propósito do abuso de direito


(art. 334 do CC)

Þ Bons costumes como tópico argumentativo destinado a reforçar decisões apoiadas


noutros lugares normativos.

Þ Bons costumes “propriamente ditos” na sua vertente de moral sexual, familiar e das
regras deontológicas aplicáveis, ainda que, por vezes, sem uma referência explícita.

43§ A ORDEM PÚBLICA:

Ordem Pública: Fator sistemático de restrição da autonomia privada. Fatores


importantes apesar de não expressamente legislados, construídos pela ciência jurídica
e muitas vezes aplicados em tribunais.

47§ A CONDIÇÃO: FUNÇÃO, MODALIDADES E AFINS:

Condição: Pode ser tomada como uma “clausula” contratual, como o evento por ela
prefigurado ou como a efetiva ocorrência desse evento. É uma clausula contratual típica
que vem subordinar a eficácia de uma declaração de vontade a um evento futuro e
incerto. Vem satisfazer necessidade práticas importantes, surgindo em tipos negociais
complexos tanto de base legal como social. Também pode ser usada como garantia de
obrigações duradoras ou pressuposto num ato jurídico (art. 270 do CC).

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Þ Condição Suspensiva e Resolutiva:


Þ Suspensiva: O negócio só produz efeitos após a sua eventual ocorrência.
Þ Resolutiva: O negócio deixa de produzir efeitos após a eventual verificação da
ocorrência em causa.

Þ Condições Casuais e Condições Potestativas:


Þ Casuais: Conforme o evento incerto de que dependam seja um facto alheio
aos participantes, como um facto natural (ex: chuva), um ato de terceiros (ex:
concessão de fiança) ou de um ato social ou administrativo (ex: autorização de
contruir)
Þ Potestativos: Conforme o evento incerto de que dependam emerja da
vontade deles. O participante em causa recebe o direito potestativo de deter ou
desencadear a eficácia do negócio. Admite-se quando assente em dados
objetivos, de outra forma corresponde a um puro direito potestativo
reconhecido a uma das partes de desencadear efeitos negociais ou revogar o
negócio.

Þ Condições de Momento Certo e de Momento Incerto:


Þ Momento Certo: Ocorrem numa ocasião prefixada, ainda que incerta (ex:
“quando fizeres 30 anos” – podes não viver até lá)
Þ Momento Incerto: Ocorrem numa ocasião indeterminada (ex: “quando
casares” – não consta uma data ou isso acontecer sequer)

Þ Condições Automáticas e Condições Exercitáveis:


Þ Automáticas: Não necessitam de manifestação de vontade para a sua
execução. São mais comuns.
Þ Exercitáveis: Necessita de manifestação da vontade, podendo ser aproximada
de um misto entre a condição casual e potestativa, pois, para além do evento,
requer uma vontade do agente.

Þ Condições Impróprias: Surgem por faltar algum dos requisitos das verdadeiras
condições como a natureza do futuro evento, a sua incerteza ou a voluntariedade da
própria clausula em si:
Þ Condições Presentes ou Passadas: A eficácia fica dependente de algo que,
existindo já, ou não, aquando da celebração, não deixa margem de pendência
para o negócio, deve, no entanto, considerar-se que há condições quando as
partes se reportem, não ao facto em si, mas ao conhecimento dele.
Þ Condições Impossíveis: Por razões físicas ou legais nunca poderão ocorrer. No
âmbito legal pode ser impossível por ser algo vexado por lei ou por princípios
gerais ou clausulas indeterminadas (impossibilidade moral).
Þ Condições Necessárias: Razões naturais ou legais que vão de certeza ocorrer,
mesmo que em momento incerto.
Þ Condições Legais: Abrange factos eventuais ou futuros que a própria lei, a não
as partes, subordinam certa eficácia

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48§ NATUREZA, CONDICIONALIDADE E INVALIDADES:

Teoria da Unidade (PPV e Oliveira Geraldes): A invalidade de uma condição acarreta a


invalidade de todo o negócio.

Condicionalidade: A regra geral no art. 405/1 (liberdade contratual) conduz à livre


aponibilidade de condições, quem é livre de estipular também o é de condicionar.

Þ Inexistente em: Atos em sentido estrito (ex: apossamento, ocupação) e em negócios


que o Direito pretenda firmes (ex: casamento, arrendamento)

Invalidade: Sempre que seja aposta uma condição num negócio incondicionável ou que
a condição seja, em si, ilícita ou impossível o negócio é nulo (vitiat et vitiatur), isto tem
exceções em que apenas a condição, em si, é nula (vitiatur sed non vitiat).

Þ Condições que proíbem o negócio:


Þ Condição, em si, contrária à lei (ex: cometer um crime).
Þ Condição que conduza a resultados indesejáveis ou que o Direito queira livres
(ex: desistir do exame, romper o noivado).
Þ Condição que implica um comportamento repudiado pelo Direito (ex: castigar
os filhos).

49§ O REGIME DA CONDIÇÃO:

Regime da Condição: Procura um equilíbrio de modo a que a condição seja respeitada,


mas o comércio jurídico não se paralisa, podendo ser concretizado pela autonomia
privada (a condição deve ser respeitada por ser imposta pelas partes), pela boa-fé (deve
ser acatada pelas partes para não falsear o objetivo e serem causados danos
desnecessários) e pela distribuição dos riscos (as situações condicionadas são instáveis,
o que pode resultar em danos para as partes).

Þ Pendência (art. 272 e 275 do CC): O negócio está presente desde o momento da sua
celebração até ao da verificação da sua condição. Gera uma situação particular de
conflito de direitos, pois aquele que aliene um direito sob condição suspensiva
mantém-se seu titular, mas deixará de o ser com a verificação dela, enquanto que
aquele que adquira um direito sob condição resolutiva passa a ser seu titular, mas
deixará de o ser com a verificação da mesma. Cessa pela verificação, opou não, da
condição (pode se manifestar pela positiva ou negativa).
Þ Boa-Fé: Com uma manifestação objetiva, exprime a necessidade de, em cada
situação jurídica, se observarem os vetores fundamentais da ordem jurídica,
estando em causa deveres de conduta:
Þ Tutela da Confiança: As partes não podem agir contra a ordem natural
das coisas ou contra as opções contratuais, pois foi provocada uma crença
legítima na outra parte.

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Þ Primazia da Materialidade Subjacente: Obriga a que a condição não se


possa transformar num jogo formal de proposições, devendo exprimir, no
seu fundamento, a vontade condicional das partes, ou seja, a sua
subordinação ao facto futuro e incerto que escapa à vontade de qualquer
delas.

Þ Expectativa: Situação aprazível na qual se espera a constituição de um direito, ou se


adere à manutenção de uma decorrência favorável.
Þ Expectativa Jurídica: Posição jurídica tutelada pelo Direito no âmbito do
Direito Subjetivo. Surge como conceito capaz de enquadrar o beneficiário de uma
condição suspensiva enquanto esta não acontecer.

50§ O TERMO:

Termo: Clausula pela qual as partes subordinam a eficácia de um negócio jurídico à


verificação de um facto futuro efetivo que pode ser certo no sentido de se saber de
antemão quando irá ocorrer ou incerto, quando, sendo de ocorrência segura, se
desconheça o seu momento exato. Surge como uma efetiva limitação temporal a um
negócio jurídico por iniciativa das partes.

Þ Termo Suspensivo e Termo Resolutivo:


Þ Termo Suspensivo ou Inicial: Momento a partir do qual o negócio considerado
produz efeitos.
Þ Termo Resolutivo ou Final: Marca o fim da eficácia.

Þ Termo Certo (fixo) ou Incerto (infixo): É certo quando, de antemão, o momento de


verificação do evento seja conhecido e incerto nas restantes hipóteses.

Þ Modo de Expressão do Termo:


Þ Expresso: Resulta da vontade assumida de uma das partes.
Þ Tácito: Derive das circunstâncias, que, com toda a probabilidade revelem a
vontade das partes.

Þ Termo Legal: Impróprio por não derivar da vontade das partes.

Þ Regime: Pode se aplicar, por analogia, o das condições:


Þ Aposição (aplicação) do Termo quando a Lei o proíbe: Envolve a nulidade de
todo o negócio
Þ Pendência: Desde o momento da estipulação ao da verificação do termo.
Envolve um conflito de direitos entre o atual detentor do Direito e aquele que o
receberá quando ele ocorrer.

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51§ OUTRAS CLAUSULAS TÍPICAS:

Modo (ou encargo): Clausula típica que traduz uma obrigação a cargo do beneficiário.
Se a obrigação modal não for cumprida, a doação subjacente não pode ser resolvida,
salvo clausula em contrário.

Þ Distinção de Condição:
Þ Suspensiva: O modo não suspende, mas adstringe – ex: “deixo este terreno
ao Estado, desde que nele seja construído uma escola” é condição se deve fazer
a escola, modo se fica obrigado a contruí-la.
Þ Resolutiva: O destinatário é beneficiado para prosseguir um efeito secundário
(modo), o efeito lateral é pretendido, sendo usado o negócio para lá chegar
(condição)

Sinal: Clausula típica própria de contratos onerosos. Aquando da celebração de um


contrato, uma das partes entrega à outra uma coisa ou quantia. Se houver
incumprimento provocado por quem o recebe, ele deve retribuí-lo em dobro, se for o
contrário, o sinal dá-se por perdido. Previsto no art. 440 e seguintes do CC. Opera na
junção de diferentes figuras.

Þ Dimensão Confirmatória Penal: Dá consistência ao contrato e funciona como


indemnização.

Þ Dimensão Penitencial: Quando funcione como “preço do arrependimento”,


permitindo ao interessado resolver o contrato, mediante pagamento do que resulte do
próprio sinal.

Clausula Penal: Clausula típica bastante frequente em que as partes estipulam, num
momento prévio, as consequências do eventual incumprimento do negócio jurídico,
estando sujeita à forma e a formalidades exigidas pela obrigação principal (art. 809-812
do CC). Quando as partes a fixam não estão a pensar na hipótese de a virem sofrer.

CAPÍTULO 7: A Interpretação do Negócio Jurídico

52§ ASPETOS GERAIS; NATUREZA JURÍDICA:

Interpretação do Negócio: Tarefa científica tendente a determinar o regime aplicável


aos problemas colocados no seu âmbito, havendo múltiplos fatores a ter em conta. É
algo necessário.

Þ Teoria da Vontade (Willenstherorie): A declaração tem o sentido que lhe queira dar
o autor (pode valer tanto a vontade do declarante como a do declaratário).

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Þ Teoria da Declaração (Erklarungstherorie): Valida o sentido objetivo da própria


declaração.

55§ HORIZONTE DO DECLARATÁRIO (236º/1, 1ª PARTE):

Horizonte do Declaratário (art 236/1 CC): A jurisprudência apela a uma “interpretação


objetiva ou normativa” que não se apegue somente à literalidade do texto, mas capaz
de ter em conta particularidades concretas. Releva todas as circunstâncias que
acompanham a conclusão do contrato e passam, objetivamente, a vincular um
declaratório hipotético, razoável e cuidadoso na posição de declaratário real, um
determinado sentido para a declaração.

Þ Critérios que Integram o Horizonte do Destinatário: A letra do negócio, os textos


circundantes, os antecedentes e a prática negocial, o contexto em jogo e os elementos
jurídicos extra negociais.

Þ Letra (clausulado): Geralmente, um documento escrito, é o ponto de partida para


qualquer interpretação.
Þ Negócio entre Presentes: Maioria dos negócios que suscitam problemas de
interpretação, pois os negócios vão afeiçoando um texto pela negociação,
acabando por assinar o trabalho a que chegam, sendo as duas partes
“destinatários”.
Þ Risco Linguístico: Geralmente, os contratos são celebrados com recurso ao
idioma comum de ambas partes. Contudo, se as partes tiverem línguas maternas
diferentes, devem, primeiramente, selecionar um idioma, criando-se um risco
para quem não conheça suficientemente o idioma em causa. Se nada disserem,
prevalece a língua do local de celebração. Em contratos deslocalizados, a língua
internacional é o inglês.
Þ Negócios Orais: A interpretação ocorre de imediato, perante as circunstâncias
do caso.
Þ Clausulado: Onde as partes exprimem, á partida, a sua vontade
normativamente relevante. Tende a prevalecer sobre outros elementos escritos,
compreendidos no próprio texto contratual, estes outros elementos, como o
preâmbulo, definições, notas explicativas ou exemplificativas e anexos são,
apenas, coadjuvantes.
Þ Clausulado do Negócio Incompreensível ou Contraditório: Ocorre por 2 vias:
Þ Falta de Perícia ou Experiência: Por parte dos redatores do texto,
havendo que procurar esclarecer as dúvidas, recorrendo aos demais
elementos, apenas no limite será declarado como nulo por
indeterminabilidade do seu conteúdo (art. 280/1).
Þ Comportamentos Negociais: As partes pretendem um negócio, mas
não conseguem chegar a acordo sobre algum dos pontos, optando,
então, por inserir, lado a lado, as soluções que ambas pretenderiam ver
consideradas ou por estipular em termos vagos. As partes remetem para
o momento ulterior ao do preenchimento do espaço em branco.

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Þ Declarações “per relationem” de Vontade: Situações nas quais a declaração remete


para um conteúdo ou fontes externas, colocando-se um problema de prova – o de saber
se a vontade foi manifestada e entendida. A “relatio” e o negócio “nuclear” devem ser
interpretas em conjunto.
Þ Negócio “Inter Vivos”:
Þ “Relatio Formal”: O declarante aponta uma fonte externa já
conformada.
Þ “Relatio Material”: O declarante remete para uma ulterior formação
da vontade própria ou de terceiro.

Þ Antecedentes (elemento histórico): Em situações de litígio que envolvam a


interpretação de contratos é de boa prática levar ao decisor os textos que documentem
as negociações preliminares (anúncios, atas de reuniões, pareceres de peritos, minutas
preparatórias, correções) por poderem, eventualmente, revelar contratos previamente
concluídos entre as mesmas partes que possam ter algum paralelismo para o atual
negócio.

Þ Contexto da Prática Negocial:


Þ Contexto das Próprias Clausulas: É decisivo, pois as clausulas operam em
conjunto, como um todo, apenas assim prosseguindo o intento das partes. As
clausulas existem na globalidade do negócio.
Þ Contexto Horizontal: Relativo a todas as circunstâncias que acompanham a
negociação e a conclusão do negócio e as declarações da vontade. Por vezes, só
elas dão sentido à declaração ou são constitutivas do seu teor comunicativo
global. Inclui a lógica social e económica dos contratos. Palco interpretativo.
Þ Contexto Vertical: Abrange o modo como o contrato é entendido e aplicado
pelas próprias partes. O que se sucede antes e depois da conclusão do contrato.

Þ Fim do Negócio: O negócio não surge, em regra, como um fim em si mesmo,


apresentando um papel instrumental. Os fins são típicos quando são consequentes de
um tipo negocial eleito. Para serem relevantes em termos de interpretação têm de
resultar do próprio negócio ou de dados comuns a ambas partes. O negócio que não
tenha satisfeito o fim foi mal interpretado.

Þ Elementos Normativos Extra Negociais: Particularmente valorações gerais do


ordenamento carregadas pela boa-fé. Os declaratários agem conforme as boas práticas
do setor sem necessidade da sua inclusão no contrato. Ponderamos o seu papel na
interpretação negocial, sendo, por isso, de afastar interpretações que conduzam a
invalidades ou que permitam apenas aproveitamentos mínimos do negócio.

Þ Diligência do Declaratório: Surge o problema de como determinar a bitola da


diligência exigida ao declaratário “normal”. Manuel de Andrade explica que, perante
uma declaração que lhe seja dirigida, “o declaratário deve se interrogar sobre o seu
sentido”, podendo-se guiar por um a interpretação mais direta, quando perante
fórmulas muito claras e evidentes, ou por uma interpretação de “boa-fé”
Þ Diligência não observada: O declaratário fica “aquém” do declaratário normal,
sendo tratado “ex lege” como normal e o negócio irá ser interpretado como se

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ele tivesse sido diligente, numa situação desvantajosa ou vantajosa, consoante


os casos. No máximo, a falta de cuidado pode envolver deslealdade “contra
bonam fidem”, aplicando-se a culpa in contrahendo.

56§ A IMPUTABILIDADE AO DECLARANTE (236º/1, 2ª PARTE):

Imputabilidade do Declarante (art. 236/1, 2ª parte, CC):

Þ Fórmula Legal: O declaratório pode, colocado na posição do real declaratário, deduzir


o comportamento do declarante, “salvo se este não poder, razoavelmente, contar com
ele”, retirando do horizonte do declaratário aquilo que não possa, razoavelmente, ser
imputado ao declarante. Compensa a prevalência da teoria da declaração face à
vontade.

Þ Imputabilidade: O significado da interpretação é, geralmente, imputável a ambas as


partes, não existindo na jurisprudência situações em que o sentido acolhido pelo
declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, colocado na posição do
real declaratário não possa ser imputado, razoavelmente, ao declarante. Contudo, em
casos em que a declaração compreenda erros óbvios ou falta de consciência não pode
ser imputada ao declarante.

57§ A VONTADE REAL (236º/2):

Vontade Real (art. 236/2 do CC):

Þ Princípios Básicos:
Þ Existência de uma Declaração: A vontade real resulta da declaração, mas não
é percetível pelo declaratário normal, sendo-o apenas por aquele que conheça a
intenção efetiva do declarante. Deve ser exteriorizada para ser conhecida pela
outra parte.
Þ Concordância: Ambas as partes devem concordar com o que irá integrar o
futuro negócio.

Þ Fórmulas Tradicionais:
Þ “Falsa Demonstratio Non Nocet” (a designação errada não prejudica): Quando
as partes concordam no objeto, mas usam designações diversas, como partilham
do mesmo engano, estão de acordo com a realidade subjacente. Funciona desde
que a vontade real seja conhecida e concorde, pois uma pessoa pode conhecer
a vontade real de outra e, no entanto, não pertencer aceitá-la através de
declaração formal, podendo abrir portas ao regime do erro, do dolo ou da CIC.
Þ “Protestatio Facto Contratio Non Valet” (a afirmação contrária ao facto não é
eficaz): Quando alguém assuma uma atitude com significado negocial e declare,
ao mesmo tempo, uma atitude com significado negocial e declare, ao mesmo
tempo uma vontade contrária (ou não coincidente) a esse significado.

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Þ MC olha para este termo como uma fórmula sugestiva para recordar
que, na formação do negócio, as atitudes das partes não são sempre
uniformes, pelo que no momento da interpretação há que valorar o
conjunto, pois este vai exprimir a efetiva vontade jurígena do declarante.

58§ A RECONDUÇÃO AO SISTEMA:

Casos duvidosos (art. 237 do CC): A interpretação negocial fixa soluções jurídicas para
problemas concretos em termos que possibilitem encontrar nelas uma justeza
constituinte e uma legitimidade controlável. Contudo, por vezes, as regras de
interpretação deixam margem para dúvidas, surgindo os “casos duvidosos” em que se
não aplica o art. 236, mas sim o 237.
Þ Equilíbrio das Prestações: Impõe-se, com regra de bom senso, mas é muito
significativa em termos jurídicos, naquilo deixado em aberto pela margem
interpretativa, deve ser validada a interpretação negocial mais justa, sem infligir danos
despropositados a uma das partes em proveito da outra.
Þ Negócios Onerosos: Fixa o sentido juridicamente relevante.
Þ Negócios Gratuitos: Fixa a solução menos onerosa para o disponente.

Articulação dos Diversos Elementos na Interpretação do Negócio: A doutrina atual


encara a interpretação do negócio jurídico como algo essencialmente objetivo que recai
sobre um comportamento significativo e deve operar de tal modo que, perante um
mesmo negócio, seja possível a vários juristas alcançar idênticas conclusões
interpretativas. Devendo a solução emergir em pontos com os da consciência da
declaração e o regime do erro. Todo o sistema da tutela da confiança pode ser chamado
a contribuir para as soluções interpretativas.

Þ Termos Verticais:
Þ Prática contratual entra as partes.
Þ Negociações (e todos os outros atos nesse âmbito) preliminares.
Þ Teor, circunstâncias e condições da emissão e da receção das declarações
negociais.

Þ Termos Horizontais a ter em conta:


Þ Conjunto no qual a clausula a interpretar se insira.
Þ Tipo contratual em jogo.
Þ Inserção do negócio no todo mais vasto a que possa pertencer.
Þ Execução de contratos similares concluídos entre ambas as partes.

59§ REGRAS ESPECIAIS DE INTERPRETAÇÃO:

Contratos Regulativos: Estabelecem regras de aplicação prolongada, suscetíveis de


transcender o exato momento pontual da execução de um negócio.

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Þ Fontes Privadas: Geralmente, seguem regras próprias da interpretação da Lei.

Þ Contratos aplicáveis a Terceiros: Impossível aplicar os art. 236-239, logo a


interpretação deve seguir cânones objetivos, apreensíveis por quantos entrem em
contacto com a sociedade.

CAPÍTULO 8: A Integração do Negócio

61§ PRESSUPOSTOS, VONTADE HIPOTÉTICA E BOA-FÉ:

Lacuna Negocial: Ponto de partida da integração, tratando-se de um espaço carecido de


regulação privada, mas que, contrariando o plano geral das partes, não obtenha
qualquer resposta, devendo, por isso, ser completado. Por vezes tem de ser preenchida
para permitir a execução global do negócio, por razões de ordem prática ou de justiça.
Surge da interpretação das declarações de vontade. Não existe um procedimento para
a sua deteção. Podem ser supervenientes ou iniciais.

Þ Requisitos:
Þ Representar um ponto que, pela interpretação, devesse ser regulado pelo
contrato.
Þ Inaplicabilidade de regras supletivas existentes ou de a encontrar nos termos
do art. 10º – pode se concretizar em duas hipóteses
Þ Trata-se de uma área a cobrir com elementos voluntários necessários
(não existe na lei)
Þ Das regras negociais já apuradas, resulta a clara intenção de afastar as
regras supletivas ou de estabelecer elementos voluntários eventuais.
Þ Manutenção da validade do negócio – a invalidade só entra em jogo quando
é impossível realizar a integração

Þ Lacunas Contratuais: Áreas que exijam, pelo concreto subsistema negocial adotado,
uma regulação contratual que, sem pôr em causa a subsistência do contrato, falte.

Þ Conclusões que podem ser retiradas:


Þ As partes nada disseram por pretenderem que o ponto omisso ficasse fora de
qualquer regulação jurídica.
Þ As partes deixaram a matéria para as normas supletivas, às quais compete
preencher o ponto.
Þ O negócio foi mal conformado, aplicando-se, no limite, a regra da nulidade
por indeterminabilidade do conteúdo.

Integração da Lacuna Negocial Efetiva: Pauta-se pelo art. 239 do CC. Deve seguir bitolas
objetivas suscetíveis de justificação e de controlo. Deve obedecer à lógica do contrato

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lacunoso, procurando suprir os silêncios indevidos das partes e prolongando as suas


declarações até ao destino natural. Interpretação complementadora.

Art. 239º: Critérios da integração negocial:

Þ Vontade Hipotética das Partes: Vontade que as partes teriam tido se houvessem
previsto o ponto omisso
Þ Vontade Hipotética Objetiva: Efetua-se perante a realidade e os valores em
presença, a reconstrução da vontade justa das partes se, com razoabilidade,
tivessem previsto o ponto o omisso
Þ Vontade Hipotética Individual ou Subjetiva: Procura indagar-se perante os
dados concretos existentes, qual teria sido a vontade das partes se tivessem
previsto o ponto o omisso. Críticas:
Þ Há que ter em conta uma vontade hipotética objetiva que exprima
uma ponderação racional de interesses, numa base puramente objetiva.
A vontade hipotética é, de facto, o produto de uma valoração.

Þ Boa-Fé: Confiança efetiva e legítima que as partes tenham depositado no


funcionamento e na adequação do contrato. A primazia da materialidade subjacente
obriga a atender à lógica imanente do contrato.

CAPÍTULO 9: Vícios da Vontade e da Declaração

62§ QUADRO DOS VÍCIOS:

Quadro dos Vícios: O negócio jurídico vale enquanto manifestação da autonomia


privada, correspondendo a uma determinada vontade, isto é, a uma decisão assumida
na sequência de toda uma ponderação imputável a um sujeito. A decisão tem de ser
exteriorizada para produzir os seus efeitos. Por estarmos perante obra humana, surgem
vários vícios para interferir no processo e que incidem em 2 planos:

Þ Vícios da Vontade: O processo que leva à tomada de decisão pelo sujeito autónomo
é perturbado, o vício ocorre durante a formação da vontade. Podem se dividir em:
Þ Ausência da Vontade:
Þ Art. 246º: Coação física.
Þ Art. 246º: Falta de consciência da declaração.
Þ Art. 247º (em parte): Incapacidade Acidental.
Þ Vontade Deficiente:
Þ Art. 251º e 252º (erros vício) e 253º e 254º (dolo): Por falta de
conhecimento.
Þ Art. 257º: Por falta de liberdade e conhecimento (incapacidade
acidental)
Þ Art. 258º (e seguintes): Por falta de liberdade (coação moral).

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Þ Vícios na Declaração: Algo interfere durante a exteriorização da vontade, de modo a


que a declaração não corresponda à vontade real do sujeito. Pode ser:
Þ Intencional: Surge porque o declarante assim deseja:
Þ Art. 240º (e seguintes): Simulação.
Þ Art. 244º: Reserva Mental.
Þ Art. 245º: Declarações não sérias.
Þ Não Intencional: Lapsos ou dificuldades ocorridas na exteriorização ou na
comunicação.
Þ Art. 247º: Erro obstáculo.
Þ Art. 249º: Erro de cálculo ou escrita.
Þ Art. 250º: Erro na transmissão.

Þ Soluções Para os Vícios: Norteadas por dois princípios fundamentais:


Þ Autonomia Privada: Exige que a vontade juridicamente relevante corresponda
à vontade real, livre e esclarecida do declarante.
Þ Tutela da Confiança: Requer a proteção da pessoa que tenha dado crédito à
declaração de outrem, mesmo quando esta não reúna todos os requisitos que
um puro esquema de autonomia privada requereria.

63§ A FALTA DE CONSCIÊNCIA DA DECLARAÇÃO:

Ausência de Vontade (art. 246): Instituto experimental contrário ao sistema. A falta de


consciência da declaração é percetível do próprio ambiente onde ela se ponha, podendo
ser percebida pelo declaratário normal na posição do declaratário real se a declaração
é feita vidando deveres de lealdade ou de informação, ou se se colocar voluntariamente
na situação de o fazer fica obrigado a indemnizar o declaratário.

Þ Colisão com o Art. 236: Na parte em que se refere à falta de consciência da


declaração choca com as regras de interpretação.

Þ Colisão com o Art. 247: A vontade declarada sobrepõe-se à vontade real, mesmo
havendo erro, desde que o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, ficando o declarante vinculado a um negócio que, de todo, não queria
por se não verificarem os pressupostos de impugnabilidade por erro.

64§ INCAPACIDADE ACIDENTAL:

Incapacidade Acidental (art. 257): Difere das incapacidades legais

Þ Art. 257/1: Fixa o requisito do facto ser notório. Alguém que contrate com outrem
que não esteja na posse de todas as suas faculdades de entendimento e livre decisão
sujeita-se, desde logo, à impugnabilidade do negócio. Aquele que se coloque

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propositadamente nesta situação pode ser detido ao tentar anular o negócio por abuso
de direito. Condições de incapacidade:
Þ Causas Quaisquer: Factos patológicos extrínsecos – embriaguez ou efeito de
estupefacientes; factos psicológicos intrínsecos – doença súbita dos foros
psicológico e psiquiátrico, como um trauma; e factos não patológicos – sono,
euforia, acesso de ira.
Þ Sentido da Declaração: A causa acidentalmente incapacitante atinge a
capacidade intelectual da pessoa:
Þ Perceção: Incompreensão do idioma
Þ Raciocínio: Não percebe o que é dito
Þ Comunicação: Fica bloqueado quanto à emissão de uma declaração.

Þ Art. 257/2: Explicita que o facto é notório quando uma pessoa de normal diligência
o poderia ter notado. Introduz uma dimensão valorativa.

65§ AS DECLARAÇÕES NÃO SÉRIAS:

Declarações Não-Sérias (art. 245): Todas as situações nas quais o declarante não tenha
a intenção de emprestar, à declaração feita uma dimensão jurídico-negocial, esperando
que o declaratário disso se aperceba.

Þ Características:
Þ Declaração linguisticamente capaz de exprimir uma declaração negocial eficaz
Þ Falta de vontade (e consciência) de lhe dar uma dimensão jurídica.
Þ Termos que, de algum modo, reflitam o seu teor (como as circunstâncias).
Þ Se a falta de seriedade não é desconhecida deve alicerçar-se em algo
substancial (como todos perceberem ou ser histórico).

Þ Quadro de Aplicação:
Þ Declaração patente não séria – Art. 245/1
Þ Declaração patente não séria, mas que, por condicionalismos, enganou o
declaratário – Art. 245/2
Þ Declaração secretamente não séria – aplica-se a reserva mental, sendo o
negócio válido e eficaz
Þ Declaração não-séria feita de modo a que a não seriedade não seja percetível,
induzindo a outra parte em erro – Art- 244/2

66§ A RESERVA MENTAL:

Reserva Mental: Por ser puramente interior, não prejudica a validade (art. 244)

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67§ COAÇÃO:

Ausência de Liberdade:

Þ Coação Moral: Emprego da força física ou de quaisquer meios que produzam danos,
ou fortes receios deles relativamente à pessoa, honra ou fazenda do contraente ou de
terceiros.
Þ Características (Manuel de Andrade – Código de Seabra)
Þ Essencialidade: Deverá determinar o núcleo da declaração.
Þ Intenção de Coagir: O declaratário terá de ser vítima de ação humana
de lhe extorquir a declaração pretendida.
Þ Gravidade do Mal: Variável, porém o mal deve ter bastante peso.
Þ Gravidade da Ameaça: Independentemente do seu mal, deve ser
avaliada a sua probabilidade.
Þ Injustiça ou Ilicitude da Cominação: A “ameaça” do exercício de um
direito (ex: “vou a Tribunal) não é coação.
Þ Principal ou Acessória: Consoante atinja o essencial do negócio ou apenas os
aspetos acessórios.
Þ Dirigida ao Próprio ou a Terceiros: Consoante vise a pessoa, a honra ou os
bens do próprio ou de terceiros.

69§ O ERRO NA DECLARAÇÃO (ERRO-OBSTÁCULO):

Erro na Declaração (Erro Obstáculo): A vontade formou-se corretamente, porém,


durante a sua exteriorização houve uma falha, de tal modo que a declaração não retrata
a vontade do declarante.

Þ Elementos Delimitados pela Lei Sobre os Quais Recai o Erro, para ser Relevante:
Þ Elementos Nucleares do Contrato: Objeto, conteúdo do negócio ou outros
aspetos principais.
Þ Elementos Circundantes: Características acessórias do objeto, clausulas
acidentais ou fatores periféricos diversos.
Þ Fatores Relativos às Partes: Identidade, qualidade, função, entre outras...

Þ Essencialidade e o Conhecimento (art. 247):


Þ Essencialidade: Permite excluir o erro indiferente e o erro incidental. É
objetivo.
Þ Erro Indiferente: O declarante teria concluído o negócio tal como
resultou.
Þ Erro Incidental: O declarante teria concluído igualmente o negócio,
ainda que com algumas modificações.
Þ Conhecimento da Essencialidade do Elemento pelo Declaratário: É um dado
subjetivo ou se conhece ou não conhece. Geralmente, deriva de uma
comunicação expressa, contudo, por vezes, pode provir do conjunto, das

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circunstâncias que rodeiam o negócio ou da própria natureza deste. O


conhecimento e a sua exigência constituem uma válvula de segurança do
negócio, devendo ser invocado em conjunto com a essencialidade para a
anulação do negócio.
Þ Dever de Conhecer: É objetivo por ter natureza normativa. Não existe
necessidade de indagar sobre as razões que levaram a outra parte a
contratar.

Þ Anulação do Contrato por erro na declaração: Pode provocar dano ao declaratário.


Existe um dever elementar, imposto pela boa-fé e tutela da confiança de fazer
corresponder as declarações de vontade realizadas ao que efetivamente se pretenda,
podendo o declarante ter de responder por culpa in contrahendo caso isso não
aconteça. O direito vigente não exige desculpabilidade do erro.

Þ Dissenso: As partes formulam declarações não coincidentes, convencionadas de que


concluíram um contrato, nesta eventualidade, não existe contrato. A primeira parte que
se aperceba tem o dever de avisar a outra que não foi formulada nenhuma proposta
que obtivesse aceitação. Verificados os requisitos, as propostas podem ser anuladas,
caso para tal exista interesse, de outra forma, permanecem válidas e eficazes até
caducarem, serem rejeitadas ou aceites.

Þ Validação do Negócio (art. 248): A anulabilidade fundada num erro na declaração


não procede se o declarante aceitar o negócio como o declarante queria. Esta validação
pressupõe uma declaração, quando aceite prevalece a vontade real do declarante. Tem
o limite objetivo da necessidade de respeito às regras formais, não podendo ser validado
um negócio que não respeite as regras formais (obedece na mesma aos art. 238 e 293).

Þ Erro de Cálculo ou de Escrita (art. 249): Têm de ocorrer “erros manifestos” ou


“ostensivos”, não sendo possível, por esta via, complementar puras e simples omissões
ou corrigir peças contratuais. Se o erro não for apanhado imediatamente, recaímos para
o art. 247.

Þ Erro na Transmissão da Declaração (art. 250):


Þ Erro na própria declaração (art. 250/1): Casos em que o intermediário ou
núncio não transmita fielmente a vontade do mandante ou quando o
representante se desvie das informações recebidas. Se o destinatário conhecer
a essencialidade, para o mandante, do elemento deturpado na transmissão, o
negócio é anulável.
Þ Caso particular do dolo do intermédio (art. 250/2): Casos em que se altere a
declaração propositadamente, existindo conflito entre a autonomia privada (a
que a lei vai dar primazia) e a tutela da confiança, sendo a declaração sempre
anulável. O dolo deve ser provado por quem o invoque, contra o seu autor e
verificados os pressupostos legais. Surge um direito à indemnização a todos os
lesados de interesses positivos.

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70§ O ERRO DA VONTADE (ERRO-VÍCIO):

Erro Relativo à Pessoa ou ao Objeto (art. 251): No tocante à pessoa ou ao declaratário,


o erro pode reportar-se à sua identidade ou qualidades, só sendo relevante quando
colha um elemento concretamente essencial. Quando o erro é relativo ao objeto deixa
de estar em causa a identidade do objeto, mas as suas qualidades e valores. Se as
qualidades que constam no contrato não se verificam, a hipótese passa do erro para o
incumprimento (art. 913).

Þ Erro Sobre o Futuro Objeto: art. 252

Erro sobre os Motivos (art 252/1): Provém do erro de facto à cerca da causa (motivo).
O facto de o destinatário conhecer, ou dever conhecer, a essencialidade do motivo não
justifica a supressão do negócio, pois, não se tratando de um elemento nuclear, ele nada
tem com isso.

Þ ≠ de Condição Resolutiva: Implica uma vontade condicional – ex: “só te vendo o


vestido se te casares com ele”. A condição resolutiva opera automaticamente enquanto
que a eventual anulabilidade por erro dos motivos tem de ser exercida potestivamente.

Erro sobre a Base dos Negócio (art. 252/2): A lei manda aplicar o regime da alteração
das circunstâncias. Integram na “base do negócio” os elementos essenciais para a
formação da vontade do declarante e conhecidos pela outra parte. Se estes elementos
não corresponderem à realidade, tornam a exigência do cumprimento do negócio
concluído gravemente contrário aos princípios da boa-fé. Há que aplicar o regime do
comum do erro – a anulabilidade (que tem de ser confirmada – art. 288)

Erro de Direito em Atos “strictu sensu”: O regime do erro da vontade é aplicável, com
adaptações, a atos não contratuais. O declaratário figurado no art. 247 terá de ser
substituído pela figura do interveniente normal que entre em contacto com a situação
criada e possa ser prejudicado pela sua supressão. O art. 295 deve estar sempre
presente.

Dolo (art. 253): Sugestão ou artifícios usados com o fim de enganar o autor da
declaração, criando aparências ilusórias ou destruindo elementos que pudessem instruir
o enganado. Espécie agravada de erro – erro provocado.

Þ É relevante consoante:
Þ O declarante esteja em erro.
Þ O erro tenha sido causado ou dissimulado pelo declaratário ou por terceiros.
Þ O declaratário ou o terceiro recorreram a algum embuste.

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Þ Anulabilidade: Apenas se recair sobre elementos essenciais. É cumulável com


indemnização se dor alegada culpa in contrahendo.

72§ A SIMULAÇÃO NO CÓDIGO CIVIL:

Requisitos da Simulação (art. 240): Devem ser invocados e provados por quem pretenda
prevalecer-se da simulação ou de aspetos do seu regime.

Þ Acordo entre o declarante e o declaratário: Não basta uma das partes manifestar
uma intenção que não corresponda à sua vontade, exige-se sintonia – de outra forma
existe, antes, reserva mental.

Þ Divergência entre a declaração e a vontade das partes: Elemento mais distintivo que
compreende várias modalidades.

Þ Intuito de enganar terceiros: Alguém alheio ao conluio, mas não, necessariamente,


ao contrato simulado, tem de ser impactado pela aparência criada, se não houver
impacto, o engano é virtual.

Modalidades da Simulação:

Þ Inocente: Þ Fraudulenta:
Visa apenas Cria uma falsa aparência para o exterior.
enganar alguém Tem, como fim imediato, retirar benefícios em prejuízo de
terceiros

Þ Absoluta: Þ Relativa:
As partes não Sob a simulação está escondido o negócio realmente pretendido
pretendem cele- (negócio dissimulado)
brar qualquer As partes pretendem uma efetiva alteração do “status” real, mas
negócio, tendo com contornos distintos declarados para o exterior.
como fim evitar
alguma conse- Subjetiva: Objetiva:
quência jurídica Incide sobre A divergência recai sobre o objeto ou
prejudicial. as próprias conteúdo do negócio:
partes. Simulação Relativa Simulação Relativa
Objetiva Total: Objetiva Parcial:
O negócio simulado e Respeita somente par-
o negócio dissimulado te do conteúdo, sem
pertencem a tipos afetar a qualificação do
distintos. contrato concluído

Þ Simulação Subjetiva: Existe uma interposição fictícia das pessoas – “A” vende a “B”,
mas declaram que foi a “C”

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Þ Simulação de valor consubstancial: Simulação imprópria cujo regime aplicável, de


base jurisprudencial, se distingue do regime positivado pelos seus elementos fácticos e
jurídicos daí decorrentes.

Nulidade: Alheia à existência de direitos ou interesses da esfera jurídica do terceiro


enganado.

73§ OS EFEITOS DA SIMULAÇÃO:

Nulidade (240/2): O negócio simulado é nulo, contudo, não pode ser invocado por
qualquer interessado nem ser, oficiosamente, declarada em tribunal, sob pena de se
esvaziar a proteção devida aos terceiros de boa fé. (defendido pelos art. 242 e 243 que
“ganham” ao 238).

Legitimidade de Arguirem a Simulação (art. 242/1): os herdeiros legítimos (art. 2157)


têm uma legitimidade especial para invocarem vício de simulação sempre que haja
intenção de os prejudicar. Cessa com o falecimento do autor da sucessão.

Exceções de Invocação da nulidade (art. 243/1): A nulidade não pode ser invocada
contra terceiros de boa-fé, nem pode ser invocada pelos autores do negócio,
posteriormente.

Conflito de Interesses entre Terceiros Interessados na Nulidade/Validade: A solução


deve surgir procurada no seio do próprio regime simulatório

Þ Tradicionalmente Abarca 3 Situações:


Þ Conflito entre credores comuns do simulador alienante e credores comuns do
simulador adquirente.
Þ Conflito entre credores comuns do simulador alienante e subadquirentes do
simulador adquirente e o seu contrário.
Þ Conflito entre credores comuns do simulador alienante e subadquirentes do
simulador adquirente.

Valor do Negócio Simulado: Não é válido, contudo, também não é inválido (art. 247/1):

Þ Teoria da Forma da Declaração: O negócio dissimulado apenas pode ser válido se as


próprias declarações de vontade respeitarem a forma exigida.

Þ Teoria da Forma do Negócio: A validade deve ser declarada sempre que exista uma
identidade entre a forma exigida e a forma empregue pelo negócio dissimulado.

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Þ Teoria da “ratio” da forma: A validade do negócio dissimulado está dependente do


preenchimento das razões justificativas subjacentes à exigência de uma forma especial
(defendida por Manual de Andrade e Alarcão)

Prova da Dissimulação (art. 394):

Þ Princípio da Prova Escrita: Quando for impossível obter prova escrita ou em caso de
perda não culposa da mesma, é admissível complementá-la através de testemunhas.
Þ Crítica do Professor Menezes Leitão: É inadmissível que uma prova
testemunhal possa por em causa a fiabilidade do documento autêntica, pois esta
será de “conteúdo altamente duvidoso”.

CAPÍTULO 10: A Ineficácia do Negócio Jurídico

74§ INEFICÁCIA E INVALIDADE:

Ineficácia em Sentido Amplo: Ineficácia em Sentido Estrito:


Não-produção normal de efeitos que O negócio, em si, não tem vícios, verifica-
opera à mercê da presença de vícios ou -se, contudo, uma conjunção com fatores
desconformidades com a ordem jurídica. extrínsecos que conduz à referida não-
produção.

Invalidades: Não produção cabal de efeitos (Windscheis associa-as às ineficácias em


sentido amplo):

Þ Nulidade: Deriva da falta de elementos essenciais ou de contrariedade à lei


imperativa. Tipo residual da ineficácia, pois, quando perante uma falha negocial a que a
lei não determine saída, a resposta pode ser a nulidade. Atinge o negócio em si e pode
ser invocada a todo o tempo, por qualquer interessado e declarada oficiosamente pelo
tribunal. Opera “ipsu iure” (independentemente de qualquer vontade a desencadear) –
art. 286.

Þ Anulabilidade: Quando os valores relativos a uma determinada pessoa não foram


suficientemente atendidos, aquando da celebração do negócio. Só pode ser invocada
pelas pessoas em cujo interesse a lei estabelece e no prazo de um ano subsequente à
cessação do vício, mediante a confirmação (art. 287 e 288)

Þ Invalidades mistas ou atípicas: Invalidades que não podem ser reconduzidas aos
modelos puros da nulidade ou anulabilidade.

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75§ A PRETENSA INEXISTÊNCIA:

Inexistência: Apresenta os mesmos pretensos que a nulidade, mas aplica-se a casos


mais graves. Enquanto que na nulidade ainda podem existir alguns efeitos, na
inexistência fica tudo bloqueado.

Þ Divergências Doutrinárias:
Þ Raul Ventura: Aprova a inexistência.
Þ Manuel de Andrade: Aprova a inexistência apenas no casamento.
Þ Galvão Telles: Vê a nulidade igual à inexistência.

76§ INEFICÁCIA ESTRITA E IRREGULARIDADE:

Ineficácia Estrita: Situação do negócio jurídico que, não apresentando vícios, não produz
todos os seus efeitos por via de fatores extrínsecos. Só surge em casos específicos
previstos pela Lei.

Irregularidades: Quando, dentro da autonomia privada num negócio, existem regras


para ser aplicadas, mas que não são observadas.

77§ O REGIME DAS INVALIDADES:

Invocação: A lei é omissa quanto ao regime geral da invocação das invalidades, o que
depõe no sentido da desformalização mau grado os preparatórios perante invalidades
que atinjam situações registadas. Por serem atos secundários subordinados aos
principais (negócios jurídicos viciados), é entendido que devem seguir a forma exigida
por essa exigida por esses mesmo negócios.

Þ Quando a declaração de nulidade ou a anulação “formais” não são aceites: Existe


litígio a dirimir em juízo. O tribunal limitar-se-á a apreciar se a invocação da nulidade ou
se a anulação foi devidamente atuada.

Consequências: Envolve a nulidade dos negócios subsequentes:

Þ Atos Nulos: Não produziram efeitos jurídicos

Þ Atos Inválidos: Produziram efeitos jurídicos, mas não são imputáveis à lei.
Þ Art. 289: A declaração de nulidade e a anulação do negócio têm efeito
retroativo (art. 289/1), obrigam à restituição do que tiver sido prestado que pode
ser decretada pelo Tribunal quando ele reconheça oficiosamente a nulidade.

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Tutela de Terceiros:

Þ Em caso de bens móveis: O terceiro que tenha adquirido de boa fé tem o Direito à
restituição do preço pago a efetuar pelo beneficiário da restituição (art. 1310)

Þ Em caso de bens imóveis: Não são prejudiciais os direitos de terceiros adquiridos de


boa-fé e a título oneroso e que registem a aquisição antes de inscrita qualquer ação de
nulidade ou de anulação ou qualquer acordo relativo à validade do negócio. Este regime
só opera 3 anos após a conclusão do negócio.

+ TEORIA DO DUPLO CLICK:

Art. 29/5 da Lei da Contratação Eletrónica: Quando as cláusulas e os termos em que se


efetua o negócio não constam no formulário disponibilizado online, estamos perante
um simples convite a contratar, devendo, portanto, ser garantida ao utilizador a
possibilidade de confirmar a sua encomenda, através do sistema do “duplo clique”. O
contrato considerar-se-á celebrado no momento em que se dá o encontro das
declarações de vontade das partes, o que só é possível se ambas as partes conhecerem
antecipadamente os seus direitos e obrigações.

Þ Doutrina do duplo clique: A aceitação do contrato faz-se em dois momentos: com a


aceitação e, depois, com a confirmação da encomenda. Os efeitos do contrato ficam
suspensos até à confirmação. Nestes termos, a confirmação constitui uma condição de
eficácia do contrato - o contrato considera-se concluído logo após a aceitação
manifestada pelo utilizador, mas a sua eficácia é condicionada à posterior confirmação
da encomenda.

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