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LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

Conteudista Associado: Eduardo Antonio Andrade Amorim

CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL


POLÍCIA PENAL – MG

MINAS GERAIS
2023
SUMÁRIO

1 ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO DE MINAS


GERAIS (LEI ESTADUAL Nº 869, DE 05 DE JULHO DE 1952) ................................ 4

1.1 Frequência e horário; horário especial para estudante ............................................ 6

1.2 Vacância (exoneração, demissão, promoção, transferência, aposentadoria, posse em


outro cargo, falecimento) ............................................................................................ 10

1.3 Férias e férias-prêmio ........................................................................................... 12

1.4 Provimento (nomeação, promoção, transferência, reintegração, readmissão,


reversão e aproveitamento) ......................................................................................... 14

1.5 Estágio Probatório e Estabilidade ......................................................................... 17

1.6 Posse e Exercício .................................................................................................. 23

1.7 Licenças (para tratamento de saúde, à funcionária gestante, por motivo de doenças
em pessoas da família, para serviço militar, para tratar de interesses particulares, à
funcionária casada com funcionário) .......................................................................... 26

1.8 Ação Disciplinar (das responsabilidades, da prisão preventiva e suspensão


preventiva), Deveres e Proibições (assiduidade, pontualidade, discrição, urbanidade)
.................................................................................................................................... 29

1.8.1. Das responsabilidades ...................................................................................... 29

1.8.2 Da Prisão Preventiva e Suspensão Preventiva .................................................. 33

1.8.3 Dos Deveres e Proibições (assiduidade, pontualidade, discrição, urbanidade) 34

1.9. Apuração de Irregularidades (processo administrativo), Criação do Núcleo de


Correição Administrativa, Passo a Passo para Instrução Processual ......................... 39

1.10 Penalidades (repreensão, multa, suspensão, destituição da função, demissão,


demissão a bem do serviço público) ......................................................................... 44

2 CÓDIGO DE CONDUTA ÉTICA DO AGENTE PÚBLICO E DA ALTA


ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL (DECRETO ESTADUAL Nº 46.644, DE 06 DE
NOVEMBRO DE 2014) ................................................................................................. 53
2.1 Dos Princípios e Valores Fundamentais ............................................................... 54

2.2 Dos Direitos e Garantias no Ambiente de Trabalho ............................................. 55

2.3 Dos Deveres Éticos Fundamentais........................................................................ 55

2.4 Das Vedações ........................................................................................................ 56

2.5 Conselho de Ética Pública (Conset) ...................................................................... 58

2.6 Comissões de Ética ............................................................................................... 58

2.7 Conduta Ética do Gestor Público .......................................................................... 59

2.8 Do Procedimento e das Sanções Éticas ................................................................ 60

3 ASSÉDIO MORAL (LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 116, DE 11 DE


JANEIRO DE 2011, E DECRETO ESTADUAL Nº 47.528, DE 12 DE NOVEMBRO
DE 2018) ........................................................................................................................ 63

3.1 Noções Preliminares ............................................................................................. 63

3.2 Modalidades de Assédio Moral ............................................................................ 65

3.3 Da Prevenção à Prática de Assédio Moral ............................................................ 67

3.4 Da Saúde do Trabalhador ..................................................................................... 69

3.5 Acolhimento do Reclamante e Registro da Denúncia .......................................... 69

3.6 Comissão de Conciliação ...................................................................................... 70

3.7 Punição à prática de Assédio Moral ..................................................................... 71

4 LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI Nº 13.869, DE 05 DE SETEMBRO DE


2019) ............................................................................................................................... 76

4.1 Noções sobre Direitos e Garantias Fundamentais e a Lei de Abuso de Autoridade


.................................................................................................................................... 76

4.2 Direito de Representação ...................................................................................... 80

4.3 Sujeito Ativo, Sujeito Passivo, Elemento Subjetivo e Tentativa .......................... 81

4.4 Da Responsabilidade Administrativa, Civil e Penal ............................................. 83

4.5 Crimes de Abuso de Autoridade .......................................................................... 83

4.5.1 Decretar Prisão Manifestamente Ilegal (Artigo 9º) .......................................... 84

4.5.2 Constrangimento Ilegal do Preso (Artigo 13) ................................................... 84


4.5.3 Constrangimento a Depor (Artigo 15) .............................................................. 84

4.5.4 Obstrução Ilegal de Pleito de Preso (Artigo 19) ............................................... 85

4.5.5 Impedimento de Entrevista do Preso com Advogado (Artigo 20).................... 85

4.5.6 Violação à Separação de Presos (Artigo 21) .................................................... 85

4.5.7 Inovação Artificiosa (Artigo 23)....................................................................... 86

4.5.8 Constrangimento para Admissão Hospitalar de Pessoa em Óbito (Artigo 24) . 86

4.5.9 Obtenção ou Uso de Prova Manifestamente Ilícita (Artigo 25) ...................... 87

4.5.10 Requisição ou Instauração de Procedimento Investigatório Penal ou


Administrativo sem Qualquer Indício (Artigo 27) .................................................... 87

4.5.11 Negativa de Acesso aos Autos de Procedimento Investigatório e Cópia de


Documentos (Artigo 32) ............................................................................................ 87

4.6 Procedimento ........................................................................................................ 88

4.7 Efeitos da condenação .......................................................................................... 88

5 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429, DE 02 DE JUNHO DE


1992) ............................................................................................................................... 91

5.1 Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito (artigo


9º) ................................................................................................................................ 92

6 LEI DE TORTURA (LEI Nº 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997) ............................. 96

6.1 Dos Crimes em Espécie: Tortura-Prova, Tortura para a Prática de Crime e Tortura-
Discriminatória, Tortura-Castigo, Tortura do Preso ou de Pessoa Sujeita à Medida de
Segurança, Omissão perantea Tortura ........................................................................ 97

6.2 Formas Qualificadas e Causas de Aumento de Pena ............................................ 99

6.3 Efeitos da Sentença Condenatória ........................................................................ 99

6.4 Vedações Processuais e Penais ............................................................................. 99

6.5 Regime Inicial de Cumprimento de Pena ........................................................... 100

6.6 Revogação do artigo 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente...................103

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 103


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1 ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO DE


MINAS GERAIS (LEI ESTADUAL Nº 869, DE 05 DE JULHO DE 1952)

O vocábulo “estatuto” significa regulamento ou conjunto de regras de organização


e funcionamento de uma coletividade, instituição, órgão, estabelecimento, empresa. No
Direito Administrativo, diz-se que o agente público é estatutário quando se submete a um
regime jurídico decorrente de lei (e não de contrato, por exemplo).
A Lei Estadual nº 869/52 dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis
do Estado de Minas Gerais, isto é, estabelece a relação jurídica existente entre empregado
e empregador, fixando os direitos e deveres do servidor público civilperante o seu patrão,
o Estado de Minas Gerais.
Cada um dos entes federados que integram a República Federativa do Brasil
(União, Estados, Municípios e Distrito Federal1) possui autonomia para criar seu próprio
regime estatutário para os seus servidores, a exemplo da União, que adotou o estatuto
funcional previsto na Lei Federal nº 8.112/09, que dispõe sobre o regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
No âmbito do Estado de Minas Gerais, existem estatutos funcionais específicos
para determinadas categorias de servidores, como acontece, por exemplo, com os
policiais militares, submetidos à Lei Estadual nº 5.301/69, que contém o Estatuto dos
Militares do Estado de Minas Gerais, ou com os policiais civis, regidos pela Lei
Complementar Estadual nº 129/13, que contém a Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado
de Minas Gerais - PCMG -, o regime jurídico dos integrantes das carreiras policiais civis.
Ainda na seara estadual, a categoria de servidores civis, que não dispõe de regime
jurídico próprio, fica subordinada ao Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado
de Minas Gerais (Lei Estadual nº 869/52), como é o caso, ainda, dos servidores da Polícia
Penal. Por isso a relevância do estudo dessa legislação no Curso de Formação Técnico-
Profissional.
Para aprofundar o exame desse tema, destaca-se a doutrina do administrativista
José dos Santos Carvalho Filho (2008, p.563):

Regime jurídico, como se sabe, é o conjunto de regras de direito que


regulam determinada relação jurídica.

1
Constituição Federal de 1988: “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos
desta Constituição.”.
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[...]
Regime estatutário é o conjunto de regras que regulam a relação
jurídica funcional entre o servidor público estatutário e o Estado.
Esse conjunto normativo, como vimos acima, se encontra no estatuto
funcional da pessoa federativa. As regras estatutárias básicas devem
estar contidas em lei; há outras regras, todavia, mais de caráter
organizacional, que podem estar previstas em atos administrativos,
como decretos, portarias, circulares etc. As regras básicas,
entretanto,devem ser de natureza legal. A lei estatutária, como não
poderia deixar de ser,deve obedecer aos mandamentos constitucionais
sobre servidores. Pode, inclusive, afirmar-se que, para o regime
estatutário, há um regime constitucional superior, um regime legal
contendo a disciplina básica sobre a matéria e um regime
administrativo de caráter organizacional. (grifo nosso)

Pode-se inferir que o regime estatutário do servidor público opera em três esferas
normativas. São elas:
➢ Norma constitucional (Ex: artigos 37 ao 42 da Lei Maior);
➢ Norma legal (prevista em lei propriamente dita, editada pelo Poder Legislativo,
que estabelece as regras básicas do regime funcional. Ex: Lei Estadual nº 869/52);
➢ Norma infralegal (prevista em ato administrativo como decretos e portarias
expedidos pelo Poder competente, revestidos de caráter organizacional,
operacional. Ex: Decreto nº 47.528/18, que regulamenta, no âmbito do Poder
Executivo, a Lei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011, que dispõe sobre
a prevenção e a punição do assédio moral na administração pública estadual).
O vínculo jurídico entre o Estado e seus servidores repousa em um grande e
pulverizado arcabouço normativo, que transita por diferentes níveis legislativos
(constitucional, legal e infralegal), daí a complexidade que marca o regime estatutário.
Adverte-se que a Lei Estadual nº 869/52 foi editada na década de 1950 e,apesarde
já ter sofrido alterações pontuais ao longo de todos esses anos, é certo que alguns dos seus
dispositivos, que serão aqui trabalhados, não estão em conformidade com nova ordem
constitucional instaurada em 1988, motivo pelo qual, ainda que o texto normativo
pemaneça inalterado, a sua aplicabilidade no caso concreto foi abolida. Essas situações
serão expressamente apontadas no momento oportuno. É importante ressaltar que, apesar
das profundas mudanças sociais e da própria condução daadministração pública ocorridas
nas últimas décadas, uma lei produzida em 1952 permanece regulandoo vínculo
jurídicotravado entre o servidor público civil com o Estado de Minas Gerais.
Por fim, vale destacar conceitos trazidos pela Lei Estadual nº 869/52que servirão
de embasamento para a melhor compreensão da matéria estudada:
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Art. 1º – Esta lei regula as condições do provimento dos cargos


públicos, os direitos e as vantagens, os deveres e responsabilidades
dos funcionários civis do Estado.
[...]
Art. 2º – Funcionário público é a pessoa legalmente investida em
cargo público.
Art. 3º – Cargo público, para os efeitos deste estatuto, é o criado por lei
em número certo, com a denominação própria e pago pelos cofres do
Estado.
[...]
Art. 4º – Os cargos são de carreira ou isolados.
Parágrafo único – São de carreira os que se integram em classes e
correspondem a uma profissão; isolados, os que não se podem integrar
em classes e correspondem a certa e determinada função.
Art. 5º – Classe é um agrupamento de cargos da mesma profissão e de
igual padrão de vencimento.
Art. 6º – Carreira é um conjunto de classes da mesma profissão,
escalonadas segundo os padrões de vencimentos.
Art. 7º – As atribuições de cada carreira serão definidas em
regulamento.
[...]
Art. 8º – Quadro é um conjunto de carreiras, de cargos isolados e de
funções gratificadas. (grifo nosso)

1.1 Frequência e horário; horário especial para estudante

A temática referente à frequência e ao horário de trabalho do servidor está prevista nos


artigos 92 a 101 da Lei Estadual nº 869/52. Vejamos:

Da Frequência e do Horário
Art. 92 – O expediente normal das repartições públicas será
estabelecido pelo Governo, em decreto, no qual a determinará o
número de horas de trabalho normal para os diversos cargos e funções.
Art. 93 – O funcionário deverá permanecer na repartição durante
as horas do trabalho ordinário e as do expediente.
Parágrafo único – O disposto no presente artigo aplica-se, igualmente,
aos funcionários investidos em cargo ou função de chefia.
Art. 94 – A frequência será apurada por meio do ponto.
Art. 95 – Ponto é o registro pelo qual se verificarão, diariamente, as
entradas e saídas dos funcionários em serviço.
§ 1º – Nos registros de ponto deverão ser lançados todos os
elementos necessários à apuração da frequência.
§ 2º – Salvo nos casos expressamente previstos em lei ou
regulamento é vedado dispensar o funcionário de registro de ponto
e abonar faltas ao serviço.
Art. 96 – O período de trabalho poderá ser antecipado ou
prorrogado para toda repartição ou partes, conforme a necessidade
do serviço.
Parágrafo único – No caso de antecipação ou prorrogação desse
período, será remunerado o trabalho extraordinário, na forma
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estabelecida no Capítulo VII do Título VII.


Art. 97 – Nos dias úteis, só por determinação do Governador do Estado
poderão deixar de funcionar as repartições públicas, ou ser suspensos
os seus trabalhos, em todo ou em parte.
Art. 98 – Para efeito de pagamento, apurar-se-á a frequência do
seguinte modo:
I – pelo ponto;
II – pela forma que for determinada, quanto aos funcionários não
sujeitos a ponto.
Parágrafo único – Haverá um boletim padronizado para a comunicação
da frequência.
Art. 99 – O funcionário perderá:
I – o vencimento ou remuneração do dia, se não comparecer ao serviço;
II – um quinto do vencimento ou remuneração, quando comparecer
depois da hora marcada para início do expediente, até 55 minutos;
III – o vencimento ou remuneração do dia, quando comparecer na
repartição sem a observância do limite horário estabelecido no item
anterior;
IV – quatro quintos do vencimento ou remuneração, quando se retirar
da repartição no fim da segunda hora do expediente;
V – três quintos do vencimento ou remuneração, quando se retirar no
período compreendido entre o princípio e o fim da terceira hora do
expediente;
VI – dois quintos do vencimento ou remuneração, quando se retirar no
período compreendido entre o princípio e o fim da quarta hora;
VII – um quinto do vencimento ou remuneração, quando se retirar do
princípio da quinta hora em diante.
Art. 100 – No caso de faltas sucessivas, serão computados, para efeito
de descontos, os domingos e feriados intercalados.
Art. 101 – O funcionário que, por motivo de moléstia grave ou súbita,
não puder comparecer ao serviço, fica obrigado a fazer pronta
comunicação do fato, por escrito ou por alguém a seu rogo, ao chefe
direto, cabendo a este mandar examiná-lo, imediatamente, na forma do
Regulamento. (grifo nosso)

ATENÇÃO!
Vale lembrar que a lei estabelece as normas básicas, que terão, quando necessário, a
operacionalização e a regulamentação detalhadas por meio de ato(s) normativo(s)
infralegal(is), a exemplo da Resolução Conjunta SEPLAG/SEDS nº 92, de 12 de
dezembro de 2014, que estabelece normas complementares relativas ao registro, ao
controle e à apuração da frequência dos servidores públicos em exercício nas Unidades
Prisionais, Socioeducativas e demais Unidades da Secretaria de Estado de Defesa Social,
fora do âmbito da Cidade Administrativa; e da Portaria SUAPI 039/2014, que uniformiza
o regime de plantão e carga horária nas Unidades Prisionais.
Dos mencionados artigos 92 a 101 da Lei Estadual nº 869/52, podemos extrair as
seguintes regras relativas à frequência e ao horário de trabalho do servidor público civil:
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a) O expediente normal das repartições públicas é definido pelo Órgão de lotação


do servidor. Este, em regra, deverá permanecer na repartição durante as horas
da jornada laboral. O período de trabalho não é engessado, ou seja, poderá ser
antecipado ou prorrogado, conforme a necessidade do serviço. Nesses casos,
a prestação de serviço extraordinário (“hora extra”) pode ensejar o pagamento
em pecúnia do valor correspondente, mas, no dia a dia, prioriza-seo sistema
de compensação de horas (“banco de horas”), com base no artigo 13, §1º do
Decreto Estadual nº 48.348/222.
b) A frequência do servidor será apurada por meio do ponto, isto é, o registro
pelo qual se verificarão, diariamente, as entradas e as saídas dos funcionários
em serviço e, por essa razão, onde deverão ser lançados todos os elementos
necessários à apuração da frequência (Ex: o registro de saída antecipada em
virtude de consulta médica, devidamente comprovada por atestado de
comparecimento). O ponto pode ser manual (através do lançamento em folha
própria, a chamada folha de ponto ou folha de frequência) ou eletrônico (por
meio de sistema eletrônico específico).
c) O servidor está obrigado a registrar seu ponto para fins de apuração da
frequência, salvo nos casos expressamente previstos em lei ou regulamento3.
É proibido o abono injustificado de faltas, sendo consideradas aptas a abonar
as ausências somente asjustificativas devidamente comprovadas e previstas
em regulamento.

ATENÇÃO!
É por meio do registro do ponto do servidor que será apurada a sua frequência para fins
de pagamento do seu salário. Portanto, é o próprio servidor o maior interessado no
preenchimento correto do ponto para evitar inadequações na frequência e, via de efeito,
o pagamento equivocado da remuneração.
O funcionário que, em razão de doença restar incapacitado para o exercício laboral

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O Decreto nº 48.348/22 estabelece normas gerais para o cumprimento da jornada de trabalho e a apuração
de frequência dos servidores públicos civis da Administração Pública direta, autárquica e fundacional do
Poder Executivo.
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Os Secretários de Estado, os Secretários Adjuntos de Estado, os Chefes de Gabinete, os Subsecretários,
por exemplo, estão dispensados de registrarem o ponto, conforme previsão do artigo 15, §1º, do Decreto
nº 48.348/22.
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e, assim, não puder comparecer ao serviço, fica obrigado a comunicar o fato à sua chefia
imediata.
O cumprimento parcial e injustificado da jornada de trabalho (atraso para o início
ou saída antecipada) implicadescontos no salário, de acordo com as frações estabelecidas
pelo artigo 99 da Lei Estadual nº 869/52, cuja leitura atentaé recomendada.
O artigo 102 da Lei Estadual nº 869/52 possibilita aos servidores que sejam
estudantes, na forma de regulamento específico, tolerância máxima de uma hora e trinta
minutos por dia quanto ao cumprimento normal da jornada de trabalho. Vejamos a sua
redação:

Art. 102 – Aos funcionários que sejam estudantes será possibilitada,


nos termos dos regulamentos, tolerância quanto ao comparecimento
normal do expediente da repartição, obedecidas as seguintes
condições:
a) deverá o interessado apresentar, ao órgão de pessoal respectivo,
atestado fornecido pela Secretaria do Instituto de Ensino comprovando
ser aluno do mesmo e declarando qual o horário das aulas;
b) apresentará o interessado, mensalmente, atestado de frequência às
aulas, fornecido pela aludida Secretaria da escola;
c) o limite da tolerância será, no máximo, de uma hora e trinta
minutos por dia;
d) comprometer-se-á o interessado a manter em dia e em boa ordem
os trabalhos que lhe forem confiados, sob pena de perda da regalia.
(grifo nosso)

Referido Diploma Legal ainda dispõe em seu artigo 207:

Art. 207 – Ao funcionário estudante matriculado em estabelecimento


de ensino será concedido, sempre que possível, horário especial de
trabalho que possibilite a frequência regular às aulas.
Parágrafo único – Ao funcionário estudante será permitido faltar ao
serviço, sem prejuízo do vencimento, remuneração ou vantagens
decorrentes do exercício, nos dias de prova ou de exame. (grifo nosso)

Visando incentivar o aprimoramento e a qualificação do seu quadro funcional e,


de efeito, a ampliação e a melhoria da prestação de serviços públicos à sociedade, o
Estado de Minas Gerais possibilita ao funcionário estudante matriculado em
estabelecimento de ensino a flexibilização de sua jornada de trabalho diária, no limite
máximo de uma hora e trinta minutos. Porém, não se trata de um direito absoluto do
servidor, ficando o exercício dessa regalia condicionado ao preenchimento dos requisitos
legais e atrelado à conveniência e oportunidade da Administração Pública.
O artigo 207 revela a discricionariedade da Administração Pública na análise do
pedido de horário especial de estudante, pois tal pleito será autorizado "sempre que
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possível", e não em qualquer hipótese. Logo, conclui-se que a jornada especial não deve
atender somente a necessidade do servidor, mas, também, e de forma preponderante,o
interesse público.
O Decreto Estadual nº 48.176/21 dispõe sobre as concessões de afastamento para
estudo ou aperfeiçoamento profissional ao servidor público da Administração direta,
autárquica e fundacional do Poder Executivo de Minas Gerais, especificando como essa
faculdade será operacionalizada.
Segundo o Decreto Estadual nº 48.176/21, a flexibilização de horário de trabalho
para estudo importa na tolerância dos horários de início e término de trabalho, concedida
quando for comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e o trabalho na
unidade de exercício e as demais condições previstas no artigo 102 daLei Estadual nº
869/52, condicionado à compensação de horas, dentro do mesmo mês, e sem prejuízo do
desempenho das atribuições do cargo.
Para efeito de concessões, não serão aceitos os cursos de língua estrangeira,
preparatórios para concursos, pré-vestibulares e similares.

1.2 Vacância (exoneração, demissão, promoção, transferência, aposentadoria, posse


em outro cargo, falecimento)

Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2008, p.584), “vacância é o fato
administrativo-funcional que indica que determinado cargo público não está provido, ou,
em outras palavras, está sem titular.”. Vacância é a desocupação do cargo público, ou, de
outra forma, significa que o cargoestá vago ou desocupado em virtude do ocorrência de
certos fatos previstos em lei.
Diversos fatos podem ensejar a vacância do cargo. O artigo 103 da Lei Estadual
nº 869/52 prevê que a vacância do cargo decorrerá de:

a) exoneração;
b) demissão;
c) promoção;
d) transferência;
e) aposentadoria;
f) posse em outro cargo, desde que dela se verifique acumulação vedada;
g) falecimento.
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Alguns desses fatos que ensejam a vacância do cargo geram, via de consequência,
o provimento (preenchimento, ocupação) de outro cargo (ex: promoção). Há, contudo,
alguns fatos que encerram por completo a relação estatutária entre o funcionário e o
Estado (ex: demissão).
Passaremos à definição de cada um desses fatos ensejadores da vacância.
Exoneração é a dispensa do servidor por interesse próprio (“a pedido”) ou por
interesse da Administração (“ex officio”).
Demissão é ato de natureza punitiva, representa a aplicação de uma penalidade ao
servidor que praticou infração funcional grave. Ambas, exoneração e punição, geram a
extinção do vínculo estatutário do servidor público.
Promoção é a passagem do servidor para um nível superior ao que se encontra na
carreira a que pertence, desde que cumpridos os requisitos legais. Trata-se de
movimentação vertical, elevação da “classe”. Com isso, há a vacância de um cargo de
classe inferior e, por efeito, o provimento do cargo de classe superior.
Transferência é a mudança do ocupante de um cargo para outro, inclusive de uma
para outra carreira, gerando a desocupação do cargo anteriormente preenchido. Está
prevista no Art. 44 da Lei nº 869/52, a saber:

Art. 44 – O funcionário poderá ser transferido:


I – de uma para outra carreira;
II – de um cargo isolado, de provimento efetivo e que exija concurso,
para outro de carreira;
III – de um cargo de carreira para outro isolado, de provimento efetivo;
IV – de um cargo isolado, de provimento efetivo, para outro da mesma
natureza.

Porém, a transferência foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal


Federal4, pois contraria a regra de investidura do cargo público mediante prévia aprovação

4
“Estão, pois, banidas das formas de investidura admitidas pela Constituição a ascensão e a transferência,
que são formas de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o servidor público ingressou por
concurso, e que não são, por isso mesmo, insitas ao sistema de provimento em carreira, ao contrário do
que sucede com a promoção, sem a qual, obviamente não haverá carreira, mas, sim, uma sucessão
ascendente de cargos isolados. O inciso II do artigo 37 da Constituição Federal também não permite o
‘aproveitamento’, uma vez que, nesse caso, há igualmente o ingresso em outra carreira sem o concurso
exigido pelo mencionado dispositivo.” (STF, ADI 231, Relator MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno,
julgado em 05/08/1992, DJ 13-11-1992 PP-20848 EMENT VOL-01684-06 PP-01125 RTJ VOL-00144-
01 PP-00024). A Suprema Corte ainda editou a Súmula Vinculante nº 43 com o seguinte enunciado: “É
inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido. (STF, Sessão Plenária de 08/04/2015, DJe nº 72 de 17/04/2015, p. 1)”.
12

em concurso contida no artigo 37, inciso II5, da Constituição Federal.


Aposentadoria é a desocupação do cargo público em decorrência da concessão
pela Administração Pública dodireitoà inatividade remunerada ao servidor, desde que
preenchidos os requisitos legais.
Posse em outro cargo, desde que dela se verifique acumulação vedada, promove
vacância quando o servidor é desligado do cargo público que ocupa em decorrência da
posse em outro cargo inacumulável6. Nessa hipótese, o servidor não perderá o tempo de
serviço público prestado no cargo anterior e poderá utilizar os dias trabalhados na
contagem de férias, por exemplo, no novo cargo, desde que o regime jurídico assim
possibilite.
Falecimentoé também hipótese devacânciadocargo público decorrentedo óbito do
servidor que o ocupava.

1.3 Férias e férias-prêmio

Por definição, férias é o período de descanso anual do trabalhador. O direito às


férias remuneradas possui status constitucional (artigo 7º, inciso XVII7) e é aplicável ao
servidor público por expressa previsão do artigo 39, §3º8.
De efeito, a Lei Estadual nº 869/52 assim dispõe:

Art. 152 – O funcionário gozará, obrigatoriamente, por ano vinte e


cinco dias úteis de férias, observada a escala que for organizada de
acordo com conveniência do serviço, não sendo permitida a
acumulação de férias.
§ 1º – Na elaboração da escala, não será permitido que entrem em gozo
de férias, em um só mês, mais de um terço de funcionários de uma seção
ou serviço.
§ 2º – É proibido levar à conta de férias qualquer falta ao trabalho.
§ 3º – Ingressando no serviço público estadual, somente depois do 11º
mês de exercício poderá o funcionário gozar férias.

5
“II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;”
6
A Constituição Federal veda a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto quando houver
compatibilidade de horários e nas hipóteses expressamente autorizadas pelo próprio texto constitucional
(artigo 37, inciso XVI).
7
“XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;”
8
“§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII,
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados
de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”
13

Art. 153 – Durante as férias, o funcionário terá direito ao vencimento


ou remuneração e a todas as vantagens, como se estivesse em exercício
exceto a gratificação por serviço extraordinário.
Art. 154 – O funcionário promovido, transferido ou removido, quando
em gozo de férias, não será obrigado a apresentar-se antes de terminá-
las. (grifos nossos)

Conforme previsão do Estatuto funcional, o servidor público civil gozará,


obrigatória e anualmente, de vinte e cinco dias úteis de férias regulamentares remuneradas
(terá direito ao vencimento e a todas as vantagens, como se estivesse em exercício).
Exceto por necessidade do serviço (que é expressão do interesse público), não é
permitido ao funcionário acumular férias (ex: por interesse pessoal, deixar para gozar as
férias de 2024 no ano de 2025).
É vedado ao servidor compensar faltas ao trabalho com dias de férias.
O período de férias deverá ser previamenteautorizado pela chefia imediata, não se
tratando, pois, de um direito que pode ser exercido observando apenas o interesse
exclusivo do servidor.Na elaboração da escala, a chefia não pode conceder férias, em um
único mês, para mais de um terço de funcionários de uma seção ou serviço.
Após o ingresso no serviço público estadual, o funcionário somente poderá gozar
férias regulamentares depois do 11º mês de exercício.
O servidor que foi promovido, transferido ou removido durante o gozo de férias,
não será obrigado a apresentar-se antes de terminá-las.
Já sobre férias-prêmio, vale transcrever o artigo 31, §4º, da Constituição Estadual
de 1989:

Art. 31 - O Estado assegurará ao servidor público civil da


Administração Pública direta, autárquica e fundacional os direitos
previstos no art. 7º, incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII,
XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, da Constituição da República e os que,
nos termos da lei, visem à melhoria de sua condição social e da
produtividade e da eficiência no serviço público, em especial o prêmio
por produtividade e o adicional de desempenho.
[...]
§ 4º - Serão concedidas ao servidor ocupante de cargo de provimento
efetivo e função pública férias-prêmio com duração de três meses a cada
cinco anos de efetivo exercício no serviço público do Estado de Minas
Gerais.

Férias-prêmio é o direito de afastamento remunerado, com duração de três meses,


concedido ao servidor público ou detentor de função pública a cada cinco anos de efetivo
exercício no serviço público do Estado de Minas Gerais.O gozo desse benefício é
14

regulamentado pelo Decreto Estadual nº 43.285/03.


As férias-prêmio serão concedidas com o vencimento ou remuneração e todas as
demais vantagens do cargo, excetuadas somente as gratificações por serviços
extraordinários, e sem perda da contagem de tempo para todos os efeitos, como se
estivesse em exercício.
Poderão ser gozadas em qualquer época, total ou parceladamente, de acordo com
a conveniência da Administração, respeitado o período mínimo de um mês.
Excepcionalmente, mediante requerimento do servidor e aprovação pela chefia imediata,
sempre em observância ao interesse do serviço, o período mínimo de um mês poderá ser
dividido em dois períodos de quinze dias.
Vale lembrar que a concessão das férias-prêmio depende da análise discricionária
da conveniência e oportunidade da Administração Pública, isto é, a chefia imediata do
servidor irá avaliar se o afastamento pretendido causará ou não prejuízos ou interferências
na continuidade e prestação do serviço, se haverá gastos ao erário decorrente da
necessidade de substituição do funcionário ou se há servidor disponível para substituição,
enfim, fará o cálculo de qualquer outro fator capaz de afetar a qualidade e a eficiência do
serviço público.
Por fim, o artigo 889da Lei Estadual nº 869/52 estabece que os dias em que o
servidor estiver em gozo de férias e férias-prêmio serão considerados como efetivo
exercício para fins da contagem do tempo de serviço, para efeito de aposentadoria,
promoção e adicionais.
1.4 Provimento (nomeação, promoção, transferência, reintegração, readmissão,
reversão e aproveitamento)

Provimento é o ato administrativo pelo qual se efetua o preenchimento de um


cargo ou função pública.
O professor José dos Santos Carvalho Filho (2008, p.580) nos ensina que existem
dois tipos de provimento de cargo público: originário e derivado. Vejamos:

Há dois tipos de provimento, de acordo com a situação do indivíduo

9
“Art. 87 – A apuração do tempo de serviço, para efeito de aposentadoria, promoção e adicionais, será feita
em dias.
[...]
Art. 88 – Serão considerados de efetivo exercício para os efeitos do artigo anterior os dias em que o
funcionário estiver afastado do serviço em virtude de:
I – férias e férias-prêmio;”
15

que vai ocupar o cargo. De um lado, temos o provimento originário,


aquele em que o preenchimento do cargo dá início a uma relação
estatutária nova, seja porque o titular não pertencia ao serviço público
anteriormente, seja porque pertencia a quadro funcional regido por
estatuto diverso do que rege o cargo agora provido. Exemplo: é
provimento originário aquele em que o servidor, vindo de empresa da
iniciativa privada, é nomeado para cargo público após aprovação em
concurso. Também é provimento originário a hipótese em que um
detetive, sujeito a estatuto dos policiais, é nomeado, após concurso, para
o cargo de Defensor Público, sujeito a estatuto diverso.
De outro lado, há também o provimento derivado, aquele em que o
cargo é preenchido por alguém que já tenha vínculo anterior com outro
cargo, sujeito ao mesmo estatuto. Se, por exemplo, o servidor é titular
do cargo de Assistente nível A e, por promoção, passa a ocupar o cargo
de Assistente nível B, o provimento é derivado.

O artigo 12 da Lei Estadual nº 869/52 prevê as formas de provimento dos cargos


públicos:
Art. 12 – Os cargos públicos são providos por:
I – Nomeação;
II – Promoção;
III – Transferência;
IV – Reintegração;
V – Readmissão;
VI – Reversão;
VII – Aproveitamento.

Nomeação é a convocação do aprovado em concurso para ocupar o cargo público


efetivo ou a convocação do indivíduo para ocupar cargo em comissão10. É forma de
provimento originário ou inicial, isto é, independe de vínculo anterior entre servidor e
Administração Pública e pode ser utilizada tanto para o preenchimento de cargo efetivo
(ex: nomeação para o cargo efetivo de Agente de Segurança Penitenciário/Policial Penal)
como de cargo em comissão (ex: nomeação para o cargo em comissão de Diretor Geral
de unidade prisional).
Como já tratado no tópico relativo à vacância, promoção é a passagem do servidor
para um nível superior ao que se encontra na carreira a que pertence, desde que cumpridos
os requisitos legais. Trata-se de movimentação vertical, elevação da “classe”. A
promoção enseja a vacância de um cargo de classe inferior e, via de consequência, o

10
“Os cargos em comissão são os destinados às atribuições de direção, chefia e assessoramento (art. 37, V,
da CF) e podem ser ocupados tanto por indivíduos que não prestaram concurso público (desde que
declarados em lei de livre nomeação e exoneração, conforme art. 37, II, da CF), quanto por servidores de
carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei (art. 37, V, da CF).” (LÉPORE,
Paulo. Direito Constitucional para Concursos de Analista e Técnico de Tribunais e MPU. 6. Ed.
Salvador: JusPodivm, 2018, p. 361)
16

provimento do cargo de classe superior.


A transferência também já foi abordada durante o estudo da vacância. Trata-se da
mudança do ocupante de um cargo para outro, inclusive de uma para outra carreira,
gerando a desocupação do cargo anteriormente preenchido e a ocupação do novo cargo.
Porém, por violar a regra de investidura do cargo público mediante prévia aprovação em
concurso contida no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, a transferência foi
declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Reintegração é o retorno do servidor demitido ilegalmente quando a demissão for
anulada na esfera administrativa ou judicial, voltando para o mesmo cargo que ocupava
anteriormente. Dá-se com o ressarcimento de todas as vantagens que deixou de receber
durante o período em que esteve afastado. Está prevista no artigo 50 da Lei Estadual nº
869/52:

Art. 50 – A reintegração, que decorrerá de decisão administrativa ou


sentença judiciária passada em julgado, é o ato pelo qual o funcionário
demitido reingressa no serviço público, com ressarcimento dos
prejuízos decorrentes do afastamento.

A readmissão estava prevista nos artigos 51 a 53 do Estatuto funcional, porém,


esses dispositivos foram expressamente revogados pelo artigo 42 da Lei Estadual nº
5.945/72. Tratava-se do ato pelo qual o funcionário demitido ou exonerado reingressava
no serviço público sem direito a ressarcimento de prejuízos, assegurada, apenas, a
contagem de tempo de serviço em cargos anteriores, para efeito de aposentadoria.
Reversão é o retorno do servidor aposentado à ativa, após verificação, em
processo, de que não subsistem os motivos determinantes da aposentadoria. Pode ser a
pedido ou de ofício. O aposentado não poderá reverter à atividade se contar mais de
cinquenta e cinco anos de idade. Somente poderár ser efetuada mediante prévia inspeção
médica que declare a capacidade do servidor para o exercício da função. Será cassada a
aposentadoria do funcionário que reverter e não tomar posse e entrar em exercício dentro
dos prazos legais.Está prevista no artigo 54 da Lei Estadual nº 869/52, vejamos:

Art. 54 – Reversão é o ato pelo qual o aposentado reingresse no serviço


público, após verificação, em processo, de que não subsistem os
motivos determinantes da aposentadoria.
§ 1º – A reversão far-se-á a pedido ou "ex-officio".
§ 2º – O aposentado não poderá reverter à atividade se contar mais de
cinqüenta e cinco anos de idade.
§ 3º – Em nenhum caso poderá efetuar-se a reversão, sem que mediante
17

inspeção médica fique provada a capacidade para o exercício da função.


§ 4º – Será cassada a aposentadoria do funcionário que reverter e não
tomar posse e entrar em exercício dentro dos prazos legais.

Aproveitamento é o reingresso no serviço público do funcionário em


disponibilidade* em outro cargo de natureza, vencimentos ou remuneração compatíveis
com o que ocupava. Está previsto nos artigos 57 a 60 da Lei Estadual nº 869/52:

Art. 57 – Aproveitamento é o reingresso no serviço público do


funcionário em disponibilidade.
Art. 58 – Será obrigatório o aproveitamento do funcionário estável em
cargo, de natureza e vencimentos ou remuneração compatíveis com o
anteriormente ocupado.
Parágrafo único – O aproveitamento dependerá de prova de capacidade
mediante inspeção médica.
Art. 59 – Havendo mais de um concorrente à mesma vaga terá
preferência o de maior tempo de disponibilidade e, no caso de empate,
o de maior tempo de serviço público.
Art. 60 – Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a
disponibilidade se o funcionário não tomar posse no prazo legal, salvo
caso de doença comprovada em inspeção médica.
Parágrafo único – Provada a incapacidade definitiva em inspeção
médica, será decretada a aposentadoria.

*Atenção: A definição de disponibilidade reside no artigo 41, §3º, da Constituição


Federal, in verbis: “Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável
ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu
adequado aproveitamento em outro cargo.”. Trata-se de um instituto inerente aos
servidores estáveis que protege o seu vínculo com a Administração Pública quando o seu
cargo é extinto ou declarado desnecessário. Mesmo sem estar trabalhando receberá
proporcional ao tempo de serviço e aguardará um futuro aproveitamento (realocação em
cargo diverso, mascom natureza, vencimentos ou remuneração compatíveis com o que
ocupava). José dos Santos Carvalho Filho (2008, p. 676) adverte que “ocorrendo a
disponibilidade, deve a Administração, da forma mais breve possível, providenciar o
reingresso do servidor em outro cargo”, de modo a se evitar a manutenção da inatividade
remunerada, com evidentes prejuízos aos cofres públicos.

1.5 Estágio Probatório e Estabilidade

É o período dentro do qual o servidor recém nomeado em cargo efetivo é avaliado


quanto à aptidão para o desempenho do cargo que acabou de ocupar. Conforme o artigo
18

23, §1º, da Constituição Estadual de 1989, no período de estágio serão apurados os


seguintes requisitos:
✓ idoneidade moral;
✓ assiduidade;
✓ disciplina;
✓ eficiência.

Embora o Estatuto funcional não conceitue esses requisitos, temos que:


idoneidade moral é a boa reputação do indivíduo, ou seja, qualidades (honra,
respeitabilidade e dignidade, por exemplo) que lhe habilitam para ocupar o cargo público;
assiduidade é a frequência de comparecimento ao trabalho, pontualidade; disciplina é o
respeito às leis, às normas e aos deveres de cidadão e de servidor público; e eficiência é
o exercício da atividade administrativa com presteza, perfeição e produtividade.
O Decreto Estadual nº 45.851/11 regulamenta o estágio probatório e a avaliação
especial de desempenho do servidor público civil ocupante de cargo de provimento
efetivo em virtude de aprovação em concurso público da administração pública do Poder
Executivo Estadual. O seu artigo 4º dispõe que “o estágio probatório tem por objetivo
apurar a aptidão do servidor no desempenho do cargo para fins de aquisição de
estabilidade.”. Nota-se, pois, que o conceito de estágio probatório está relacionado com a
ideia de estabilidade.
A doutrina nos ensina que “estabilidade é o direito outorgado ao servidor
estatutário, nomeado em virtude de concurso público, de permanecer no serviço público
após três anos de efetivo exercício” (FILHO, 2008, p.620). Busca proteger os servidores
de interesses políticos e garantir o adequado funcionamento do Estado.
A estabilidade é uma garantia destinada aos servidores efetivos de que somente
perderão o cargo público nas hipóteses previstas no texto constitucional. Nesse sentido,
destaca a lição do constitucionalista Paulo Lépore (2018, p.363):

A disciplina constitucional da estabilidade está prevista no art. 41 da


CF, que além de estabelecer as condições para sua aquisição, também
arrola as hipóteses em que o servidor estável poderá perder o cargo. São
elas: a) em virtude de sentença judicial transitada em julgado; b)
mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada
ampla defesa; c) mediante procedimento de avaliação periódica de
desempenho, na forma da lei complementar, assegurada ampla
defesa. Além dessas hipóteses previstas no artigo 41 da CF, o
servidor estável também perderá o cargo em razão de excesso de
despesa, nos termos do art. 169, §4º, da CF.” (grifo nosso)
19

Portanto, a estabilidade não significa garantia de permanência plena e irrestrita do


servidor no cargo público, já que pode perdê-lo nas hipóteses previstas na Constituição
Federal, em seus artigos 41, §1º, incisos I, II e III, e 169, §4º, abaixo transcritos:

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso
público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada
ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho,
na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
[...]
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo e pensionistas da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não pode exceder os
limites estabelecidos em lei complementar.
[...]
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste
artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as
seguintes providências:
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em
comissão e funções de confiança;
II - exoneração dos servidores não estáveis.
§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem
suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei
complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder
o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes
especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa
objeto da redução de pessoal. (grifo nosso)

Nesse contexto, o estágio probatório funciona como o instrumento à disposição


da Administração Pública para conceder ou não ao servidor recém nomeado em cargo
efetivo a garantia da estabilidade. Mas não é o único. O §4º11 do artigo 41 da Constituição
Federal também exige, como condição para a estabilidade, a submissão obrigatória do
funcionário à avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa
finalidade.
Por essa razão que o artigo 5º do Decreto Estadual nº 45.851/11 prevê que “a
aquisição da estabilidade pelo servidor fica condicionada à comprovação da aptidão
aferida no processo de avaliação especial de desempenho e ao cumprimento do período

11
“§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho
por comissão instituída para essa finalidade.”
20

de estágio probatório.”

ATENÇÃO!
Vale lembrar que a avaliação de desempenho (ou avaliação de desempenho individual -
ADI) não se confunde com a avaliação especial de desempenho - AED. Vejamos o
quadro a seguir:

Quadro1–Comparativo entre AED e ADI


Avaliação Especial de Avaliação de Desempenho
Desempenho - AED Individual - ADI
Processo de acompanhamento
Processo de acompanhamento
sistemático do desempenho do
Conceito sistemático e contínuo do
servidor em período de estágio
desempenho do servidor estável
probatório
Apurar a aptidão do servidor Identificar ações para o
Principal objetivo para exercício do cargo para o desenvolvimento profissional do
qual foi nomeado servidor
Periodicidade Durante o estágio probatório Anual, após o estágio probatório
Regulamentação Decreto Estadual nº 45.851/11 Decreto Estadual nº 44.559/07

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022.

A Lei Complementar nº 71/03 institui a avaliação periódica de desempenho


individual e disciplina a perda de cargo público e de função pública por insuficiência de
desempenho do servidor público estável. Esse diploma legal alterou a Lei Estadual nº
869/52, conferindo nova redação ao seu artigo 249, a saber:

Art. 249 – A pena de demissão será aplicada ao servidor que:


[...]
V – receber em avaliação periódica de desempenho:
a) dois conceitos sucessivos de desempenho insatisfatório;
b) três conceitos interpolados de desempenho insatisfatório em cinco
avaliações consecutivas; ou
c) quatro conceitos interpolados de desempenho insatisfatório em dez
avaliações consecutivas.
Parágrafo único. Receberá conceito de desempenho insatisfatório o
servidor cuja avaliação total, considerados todos os critérios de
julgamento aplicáveis em cada caso, seja inferior a 50% (cinqüenta
por cento) da pontuação máxima admitida. (grifo nosso)
21

Assim, caso receba conceito insatisfatório na avaliação de desempenho, isto é,


inferior a 50% da pontuação máxima admitida, o servidor poderá perder o cargo se
incorrer nas situações previstas nas alíneas “a”, “b” e “c” do inciso V do artigo 249 do
Estatuto funcional.
A estabilidade relaciona-se diretamente com o instituto da disponibilidade (já
abordada no Tópico 1.4 desse material, durante o estudo da forma de provimento
aproveitamento). Segundo Filho (2008):

A estabilidade não protege o servidor contra a extinção do cargo,


porque nesta se presume o interesse maior da Administração. Por outro
lado, não seria justo que a extinção do cargo carreasse para o servidor
situação de angústia pela perda do trabalho. É com essas vertentes que
nasceu a disponibilidade. (FILHO, 2008, p.673)

Quadro2 - Estabilidade do Servidor Público


Estabilidade do Servidor
a) Cargo de provimento efetivo/ocupadoem razão de concurso
1. Requisitos para público
aquisição de b) 3 anos de efetivo exercício
estabilidade c) Avaliação de desempenho por comissão instituída paraessa
finalidade
a) Em virtude de sentença judicial transitada em julgado
b) Mediante processo administrativoem que lhe seja assegurada
2. Hipóteses em que o
ampla defesa
servidor estável pode
c) Mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho,
perder o cargo
na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa
d) Em razão de excesso de despesa

Fonte: LÉPORE, 2018, p. 364.

Colocadas tais premissas, a seguir serão destacados os principais pontos previstos


no Decreto Estadual nº 45.851/11, que regulamenta o estágio probatório e a avaliação
especial de desempenho do servidor público civil:
O servidor deverá ter 1.09512 (um mil e noventa e cinco) dias de efetivo exercício

12
1.095 dias correspondem a três anos (365 dias x 3 anos = 1.095 dias).
22

na Administração Pública do Poder Executivo Estadual, para cumprimento do período de


estágio probatório, porém, não são considerados como efetivo exercício os afastamentos,
as licenças, as férias regulamentares, as férias-prêmio ou qualquer interrupção do
exercício das atribuições do cargo ou função exercida, superiores a vinte por cento do
total de dias de cada uma das etapas da avaliação especial de desempenho (artigo 4º, §§1º
e 2º).
Para a aquisição de estabilidade, serão exigidos o cumprimento do período de
estágio probatório e a submissão à avaliação especial de desempenho, por ocasião de
cada ingresso em órgão ou entidade da Administração Pública direta, autárquica e
fundacional do Poder Executivo Estadual, após aprovação em concurso público, para
provimento em cargo efetivo (artigo 6º).
A avaliação especial de desempenho é o processo de acompanhamento
sistemático do desempenho do servidor em período de estágio probatório, que tem por
objetivos (artigo 7º):
✓ apurar a aptidão do servidor para exercício do cargo para o qual foi nomeado;
✓ contribuir para a implementação do princípio da eficiência na Administração
Pública do Poder Executivo Estadual; e
✓ aprimorar o desempenho do servidor e dos órgãos ou entidades da Administração
Pública do Poder Executivo Estadual.
Todos os servidores em período de estágio probatório em exercício nos órgãos ou
entidades da Administração Pública do Poder Executivo Estadual, ainda que estejam em
exercício de cargo de provimento em comissão ou de função de confiança, serão
submetidos à avaliação especial de desempenho (artigo 8º).
Para fins de avaliação especial de desempenho, o servidor deverá possuir, no
mínimo, 150 (cento e cinquenta) dias de efetivo exercício (artigo 22).
O servidor que não tiver esse período mínimo não será avaliado, sendo registrado
o motivo de não avaliação e devendo aguardar o início da próxima etapa para fins de
avaliação especial de desempenho (artigo 22, §3º).
A Comissão de avaliação especial de desempenho será composta por, no mínimo,
dois membros, constituída paritariamente por servidores indicados ou eleitos pelos
servidores avaliados e por servidores indicados pelo órgão ou entidade da Administração
Pública na qual o servidor avaliado estiver em exercício (artigo 30). A chefia imediata do
servidor é membro obrigatório da Comissão, sendo a sua presença obrigatória na
realização dos trabalhos (artigo 30, §1º).
23

No Parecer Conclusivo serão adotados os seguintes conceitos (artigo 18):


✓ apto, quando o servidor obtiver o mínimo de sessenta por cento de aproveitamento
na média do somatório dos pontos obtidos em todas as etapas de avaliação especial
de desempenho;
✓ inapto, quando o servidor não atender ao previsto no inciso I, ou seja, no item
anterior;
✓ frequente, quando o servidor obtiver o mínimo de noventa e cinco por cento de
frequência em cada etapa de avaliação especial de desempenho e também ao final
do período de estágio probatório; e
✓ infrequente, quando o servidor não obtiver o mínimo de noventa e cinco por cento
de frequência em cada etapa de avaliação especial de desempenho e também ao
final do período de estágio probatório.

ATENÇÃO!
O servidor que cumprir o período de estágio probatório e obtiver os conceitos apto e
frequente na avaliação especial de desempenho será considerado estável (artigo 18,
Parágrafo único). Contudo, será exonerado o servidor que obtiver o conceito inapto ou
infrequente (artigo 38).

1.6 Posse e Exercício

Entende-se como posse o momento em que se forma o vínculo entre a


Administração Pública e o aprovado no concurso recém nomeado no cargo. Concretiza-
se por meio da assinatura do Termo de Posse, pelo qual o nomeado assume o
compromisso perante a autoridade competente de cumprir fielmente os deveres e as
atribuições do cargo ou da função, passando, a partir de então, a ostentar a condição de
servidor público.
A posse deverá ocorrer no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data da publicação
do ato de nomeação no órgão oficial, mas esse prazo poderá ser prorrogado por igual
período, mediante solicitação escrita e fundamentada do interessado e despacho da
autoridade competente para dar posse.Se o prazo para a posse não for obedecido, o ato de
nomeação será declarado sem efeito.
Vale transcrever os dispositos que tratam sobre a posse previstos na Lei Estadual
nº 869/52:
24

Art. 61 – Posse é o ato que investe o cidadão em cargo ou em função


gratificada.
Parágrafo único – Não haverá posse nos casos de promoção, remoção,
designação para o desempenho de função não gratificada e
reintegração.
Art. 62 – São competentes para dar posse:
I – o Governador do Estado;
II – os Secretários de Estado;
III – os Diretores de Departamentos diretamente subordinados ao
Governador;
IV – as demais autoridades designadas em regulamentos.
Art. 63 – A posse verificar-se-á mediante a lavratura de um termo que,
assinado pela autoridade que a der e pelo funcionário, será arquivado
no órgão de pessoal da respectiva Repartição, depois dos competentes
registros.
Parágrafo único – O funcionário prestará, no ato da posse, o
compromisso de cumprir fielmente os deveres do cargo ou da função.
Art. 64 – A posse poderá ser tomada por procuração, quando se tratar
de funcionário ausente do Estado, em missão do Governo, ou em casos
especiais, a critério da autoridade competente.
Art. 65 – A autoridade que der posse deverá verificar, sob pena de ser
pessoalmente responsabilizada, se forem satisfeitas as condições
estabelecidas no art. 13 e as especiais fixadas em lei ou regulamento,
para a investidura no cargo ou na função.
Art. 66 – A posse deverá verificar-se no prazo de trinta dias, contados
da data da publicação do decreto no órgão oficial.
§ 1º – Esse prazo poderá ser prorrogado, por outros trinta dias, mediante
solicitação escrita e fundamentada do interessado e despacho da
autoridade competente para dar posse.
§ 2º – Se a posse não se der dentro do prazo inicial e no da prorrogação,
será tornada sem efeito, por decreto, a nomeação.

Por sua vez, exercício é o ato de investidura no cargo público praticado


imediatamente apósa posse. Representa o efetivo desempenho das atribuições do cargo e,
por isso, confere ao servidor o direito à remuneração.
Segundo o artigo 70 da Lei Estadual nº 869/52, o exercício se dará no prazo de 30
(trinta) dias contados da data da posse (no caso de provimento originário) ou da data da
publicação do ato em outras hipóteses, como remoção ou reintegração, por exemplo. Esse
prazo pode ser prorrogado por igual período por solicitação do interessado e a juízo da
autoridade competente.
Considerando que após a posse o nomeado já ostenta a condição de servidor
público, a não observância do prazo para o exercício gera a exoneração do cargo.
Para ilustrar a “linha do tempo” do servidor público, segue diagrama contendo os
principais fatos representativos da vida funcional do servidor, desde o seu ingresso,
desenvolvimento e saída do serviço público:
25

Concurso Público

Nomeação

Posse

Exercício

Estágio Probatório

Estabilidade
26

Vacância

1.7 Licenças (para tratamento de saúde, à funcionária gestante, por motivo de


doenças em pessoas da família, para serviço militar, para tratar de interesses
particulares, à funcionária casada com funcionário)

A licença corresponde ao afastamento do servidor, que pode ser remunerado ou


não,das suas atividades funcionais.O artigo 158 daLei Estadual nº 869/52 prevê as
seguintes possibilidades de licença:
✓ para tratamento de saúde;
✓ quando acidentado no exercício de suas atribuições ou atacado de doença
profissional;
✓ por motivo de doença em pessoa de sua família;
✓ para a funcionária gestante;
✓ quando convocado para serviço militar;
✓ para tratar de interesses particulares;
✓ para funcionária casada com funcionário.
A licença para tratamento de saúde (LTS) decorre da incapacidade temporária do
servidor para o exercício de suas atividades laborais. É regulamentada pelo Decreto nº
48.249/21. Depende de inspeção médica (perícia) e será concedida pelo prazo indicado
no respectivo laudo.
A licença para tratamento de saúde poderá ser concedida mediante avaliação
pericial presencial ou documental (realizada por perito oficial atravésdo exame do laudo
emitido por médico ou odontólogo assistente).
A avaliação pericial (presencial ou documental) deverá ser requerida no prazo de
03 (três) dias úteis, contados da data da emissão do atestado médico ou odontológico ou
do primeiro dia de afastamento do servidor, por meio de sistemas disponibilizados pela
Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag), e terá seu resultado publicado no Diário
Oficial de Minas Gerais. A inobservância desse prazo poderá acarretar, a critério da
avaliação pericial, a perda total ou parcial do direito à licença para tratamento de saúde.
A chefia imediata poderá conceder abono administrativo para o servidor afastar-
27

se do trabalho, por razão de saúde, por período de até uma jornada por mês, mediante a
apresentação de documentos comprobatórios, que serão arquivados na pasta funcional do
servidor.

ATENÇÃO!
Abono administrativo não se confunde com licença para tratamento de saúde. O abono
é concedido pela chefia imediata do servidor, mediante a apresentação de atestado médico
que indique a incapacidade laboral por um único dia. Já a licença decorre de atestado
médico que revele incapacidade ao trabalho por dois ou mais dias e depende de perícia
realizada pelaSuperintendência Central de Perícia Médica e Saúde Ocupacional
(SCPMSO) da Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag).

O servidor não poderá permanecer em licença por prazo superior a 24 meses salvo
o portador de tuberculose, lepra ou pênfigo foliáceo, que poderá ter mais três prorrogações
de 12 meses cada uma, desde que, em exames periódicos anuais, não se tenha verificado
a cura. Ultrapassado esse prazo, o servidor será submetido à perícia médica e aposentado,
se for considerado definitivamente inválido para o serviço público em geral.
O servidor licenciado para tratamento de saúde não poderá dedicar-se a qualquer
atividade remunerada. Aliás, o artigo 256 Lei Estadual nº 869/52 prevê que“terá cassada
a licença e será demitido do cargo o funcionário licenciado para tratamento de saúde que
se dedicar a qualquer atividade remunerada”.
O funcionário licenciado para tratamento de saúde receberá integralmente a
remuneração e é obrigado a reassumir o exercício se for considerado apto em inspeção
médica.
Durante a licença, fica obrigado a seguir rigorosamente o tratamento médico
adequado à doença, sob pena de lhe ser suspenso o pagamento de vencimento ou
remuneração.
O servidor acidentado no exercício de suas atribuições terá assistência hospitalar,
médica e farmacêutica arcada pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de
Minas Gerais.
A Lei Complementar nº 121/11 confere licença gestante ou maternidade por 120
(cento e vinte) dias à servidora grávida, com remuneração integral, mediante apresentação
de atestado médico oficial, bem como a prorrogação por 60 (sessenta) dias prevista em
28

legislação específica13.
A licença por motivo de doença em pessoa de sua família está prevista no artigo
176 do Estatuto funcional e é regulamentada pela Resolução SEPLAG nº 59/05. O
funcionário poderá obter licença por motivo de doença na pessoa do pai, mãe, filhos,
cônjuge ou companheiro de que não esteja legalmente separado, irmãos menores
mediante comprovada dependência e menor que esteja sob tutela judicial ou curatelada,
mediante apresentaçãodo respectivo termo. Essa licença não é remunerada.
A licença para serviço militar, conforme previsto no artigo 177 do Estatuto
funcional, será concedida ao servidor que for convocado para o serviço militar e outros
encargos de segurança nacional, com vencimento ou remuneração e demais vantagens,
descontada mensalmente a importância que receber na qualidade de incorporado.
A licença para tratar de interesses particulares (LIP) está prevista no artigo 179
da Lei Estadual nº 869/52 e é regulamentada pelo Decreto nº 28.039/88. Permite ao
servidor a obtenção de afastamento, sem remuneração, após dois anos de efetivo
exercício, pelo período máximo de dois anos. Trata-se de ato discricionário da
Administração Pública que poderá indeferir o pedido quando o afastamento for
inconveniente ao seu interesse.
O servidor poderá, a qualquer tempo, reassumir o exercício desistindo da licença
para tratar de interesses particulares. Igualmente, a autoridade que concedeu a licença
poderá, a qualquer tempo, desde que o exija o interesse do serviço público, revogá-la,
marcando prazo razoável para que o funcionário licenciado reassuma o exercício.
Por fim, a licença à funcionária casada com funcionário está prevista no artigo
186 da Lei Estadual nº 869/52. Em verdade, com a nova ordem constitucional inaugurada
em 1988 que consagrou a isonomia entre homem e mulher (artigo 5º, inciso I14) e a
igualdade entre cônjugese companheiros (artigo 226, §5º15), essa liçenca possibilita
afastamento não remunerado do(a) servidor(a), em razão da transferência do cônjuge,
também servidor público, estadual ou federal, civil ou militar, para outra localidade do
Estado, do território nacional ou do estrangeiro.

13
A Lei nº 18.879/10 dispõe sobre a prorrogação, por sessenta dias, da licença-maternidade, no âmbito da
administração pública do Poder Executivo estadual.
14
“I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;”
15
“§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher.”
29

1.8 Ação Disciplinar (das responsabilidades, da prisão preventiva e suspensão


preventiva), Deveres e Proibições (assiduidade, pontualidade, discrição,
urbanidade)

A Lei Estadual nº 869/52 prevê diversos dispositivos que formam o chamado


“regime disciplinar dos servidores públicos”.
Trata-se de normas que estabelecem deveres, responsabilidades e proibições, bem
como as formas de prevenção, de apuração e de sanção dos servidores que, por meio de
atos e omissões, comprometem o adequado funcionamento da Administração Pública.
Considerando a relevância do serviço público para a sociedade, é certo que
eventuais desvios de conduta repercutem no direito do cidadão a um serviço público de
qualidade. Nesse contexto, é fundamental que o servidor atue sempre de forma lícita,
respeitando as normas do regime disciplinar.

1.8.1. Das responsabilidades

No exercício de suas funções, os servidores públicos podem praticar condutas


ilícitas que produzem efeitos nas eferas cível, penal e administrativa.
Por esse motivo, o artigo 208 da Lei Estadual nº 869/52 assim dispõe: “pelo
exercício irregular de suas atribuições, o funcionário responde civil, penal e
administrativamente.”.
Em regra, as instâncias de responsabilidades (cível, penal e administrativa) são
independentes e autônomas entre si, isto é, a mesma conduta ilícita pode ensejar
consequências para o servidor no campo civil, penal e administrativo. Nesse sentido,
estabelece o artigo 212 do Estatuto funcional: “as cominações civis, penais e disciplinares
poderão cumular-se, sendo umas e outras independentes entre si, bem assim as instâncias
civil, penal e administrativa”.
Sobre o tema, é pertinente a doutrina de José dos Santos Carvalho Filho (2008,
p.701):

a responsabilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada


responsabilidade é, em princípio, independente uma da outra. Por
exemplo, pode haver responsabilidade civil sem que haja
responsabilidade penal ou administrativa. Pode também haver
responsabilidade administrativa sem que se siga conjuntamente a
responsabilidade penal ou civil. Sucede que, em algumas ocasiões, o
30

fato que gera certo tipo de responsabilidade é simultaneamente gerador


de outro tipo; se isso ocorrer, as responsabilidades serão conjugadas.
Essa é a razão por que a mesma situação fática é idônea a criar,
concomitantemente, as responsabilidades civil, penal e administrativa.
Se as responsabilidades se acumulam, a consequência natural será a da
acumulabilidade das sanções, visto que para cada tipo de
responsabilidade é atribuída uma espécie de sanção.

Assim, hipoteticamente, a título de exemplo, temos uma situação em que um


policial penal pratica a conduta tipificada como tortura pelo artigo 1º, inciso II16, da Lei
nº 9.455/97. Essa prática produz efeitos na seara penal (pois configura o crime previsto
no artigo 1º, inciso II, da Lei de Tortura), no campo administrativo (pois caracteriza ilícito
funcional) e na esfera cível (gerando o dever de indenizar a vítima que suportou o dano
causado pelo ato ilícito).

ATENÇÃO!
Como dito, em regra, as instâncias de responsabilidades são independentes e autônomas
entre si. Porém, há casos em que a decisão proferida em sede penal condiciona as esferas
cível e administrativa. Trata-se das hipóteses de absolvição criminal pela inexistência
do fato ou pela negativa da sua autoria. Isto é, quando o juízo penal absolver o réu
(servidor público) em razão de não existiro fato que lhe foi imputado, ou, ainda, em
virtude de não ser ele o autor da infração, a sentença criminal irá repercurtir na esferas
cível17 e administrativa18. Sobre esse questão cabe destacar, também, que a Lei nº
13.869/1919, que dispõe sobre os Crimes de Abuso de Autoridade, prevê que a sentença
penal que absolver o réu sob o fundamento de excludente de ilicitude vincula as esferas
cível e administrativa. Vale frisar que as excludentes de ilicitude são: estado de

16
“II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.”
17
Artigo 935 do Código Civil: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se
acharem decididas no juízo criminal.”
18
Artigo 126 da Lei nº 8.112/90: “A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de
absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.”
19
“Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais
questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo
criminal.
Art. 8° Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito.”
31

necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de


direito (tal matéria será estudada na disciplina Direito Penal).

A responsabilidade civil obriga o servidor a reparar o dano causado à própria


Administração Pública ou a terceiros. Os danos causados pelo servidor à Administração
Pública serão apurados via processo administrativo, que observará ao acusado as
garantias do contraditório e da ampla defesa. Verificada a responsadibilidade do
funcionário, surge o dever de reparar o prejuízo por ele causado. O artigo 209 do Estatuto
funcional assim prevê: “A responsabilidade civil decorre de procedimento doloso ou
culposo, que importe em prejuízo da Fazenda Estadual, ou de terceiro.”.
A responsabilidade administrativa decorre do cometimento, pelo servidor, de
ilícito funcional (condutas vedadas aos servidores previstas no Estatuto ou em outros atos
normativos) que enseja a aplicação de sanção. A Administração Pública não precisa
esperar o início ou a conclusão de processo civil ou criminal para instaurar procedimento
próprio de apuração de responsabilidade funcional. O artigo 211 da Lei Estadual nº
869/52 reza que “a responsabilidade administrativa resulta de atos ou omissões praticados
no desempenho do cargo ou função.”.
Finalmente, a responsabilidade penal decorre da prática de ilícito penal (crimes e
contravenções) por servidor público no exercício de sua função ou a pretexto de exercê-
la. O artigo 210 do Estatuto funcional estabelece que “a responsabilidade penal abrange
os crimes e contravenções imputados ao funcionário, nessa qualidade.”. A condenação
criminal gera como efeito direto da sentença a aplicação da pena prevista para o crime ou
contravenção, e, ainda pode ensejar a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo,
na forma do artigo 92 do Código Penal, abaixo transcrito:

Art. 92 - São também efeitos da condenação


I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou
superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo
superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
[...]
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são
automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.”
(grifo nosso)
32

Quadro 3 - Responsabilidades do Servidor Público


Responsabilidades do Servidor Público
Civil Penal Administrativa
Dano ao erário ou à Crime ou
Ato ilícito Ilícito funcional
terceiros Contravenção
Processo
Apuração Processo civil Processo penal
administrativo
Sanção
Efeito Dever de reparar o dano Sanção penal
administrativa

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022.

PARA EXAMINAR:
Aluno(a), segue abaixo notícia divulgada pelo site do Tribunal de Justiça do Estado de
Rondônia em 09/02/2022. Realize a leitura e reflita sobre o conteúdo da matéria a fim de
identificar quais as esferas de responsabilidades foram mencionadas no texto.

TJRO mantém demissão de agente penitenciário condenado por corrupção

O Tribunal Pleno da Justiça de Rondônia negou o pedido para retornar ao cargo


público feito por um servidor demitido após ser condenado pelo crime de corrupção.
Mesmo que a sentença ainda não tenha transitado em julgado (quando não há mais
recursos), os desembargadores decidiram que não há abuso ou ilegalidade na demissão.
O voto do relator, desembargador Roosevelt Queiroz Costa, foi seguido à
unanimidade pelos demais membros da Corte, que realizaram o julgamento na sessão de
7 de fevereiro, a primeira de 2022. Em seu relatório, o magistrado destacou os precedentes
dos Tribunais Superiores, para determinar que é dispensável o trânsito em julgado da
sentença criminal para a aplicação da pena de demissão oriunda de Procedimento
Administrativo Disciplinar (PAD), visto que as instâncias administrativa e criminal
guardam relativa independência entre si, sendo que esta última instância (criminal)
somente vincula a esfera administrativa quando for reconhecida a inexistência do fato ou
ficar demonstrado que o acusado não foi autor do delito investigado. Para os
desembargadores não existe direito líquido e certo, neste caso.
A demissão
O agente penitenciário foi condenado pela Justiça em Ariquemes, pelo crime de
corrupção passiva, à pena de 6 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão e pagamento de 46
dias-multa, em regime semiaberto. Por conta dessa sentença, foi instaurado o processo
administrativo disciplinar perante a Corregedoria-Geral da Secretaria de Estado de Justiça
e consequentemente, o governador do Estado de Rondônia publicou decreto com a perda
do cargo público, após a sentença condenatória. Era contra essa decisão que o ex-servidor
33

buscava a Justiça para voltar ao cargo, sob a alegação de que o processo criminal ainda
se encontra pendente de julgamento dos embargos de declaração do recurso de apelação.

https://www.tjro.jus.br/noticias/item/15941-tjro-mantem-demissao-de-agente-penitenciario-condenado-por-corrupcao
Acesso em: 09/12/22

1.8.2 Da Prisão Preventiva e Suspensão Preventiva

O artigo 213 da Lei Estadual nº 869/52 prevê a possibilidade de Secretários de


Estado e Diretores de Departamentos, diretamente subordinados ao Governador do
Estado, ordenarem a prisão administrativa de servidor público civil responsável pelos
dinheiros e valores pertencentes à Fazenda Estadual ou que se acharem sob a guarda desta,
nos casos de alcance ou omissão em efetuar as entradas nos devidos prazos.
Ocorre que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXI,
estabelece que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.”. Ou seja, salvo em situação de
flagrante delito ou de transgressão ou crime militar, qualquer prisão somente pode ser
decretada por ordem escrita e fundamentada do juiz competente.
Portanto, não sendo a autoridade administrativa (Secretários de Estado e Diretores
de Departamentos diretamente subordinados ao Governador do Estado) membro do Poder
Judiciário, não pode ordenar a prisão administrativa de servidor público civil, sob pena
de violar direito fundamental constitucionalmente consagrado.
A própria Constituição Mineira de 1989, em seu artigo 4º, dispõe que “o Estado
assegura, no seu território e nos limites de sua competência, os direitos e garantias
fundamentais que a Constituição da República confere aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País.”, de sorte que a garantia prevista no artigo 5º, inciso LXI, da Lei Maior
prevalece em relação ao artigo 213 do Estatuto do Servidor.
Já a suspensão preventiva é uma medida excepcionalque visa afastar o servidor
de suas atribuições, impedindo o seu acesso às dependências da repartição. Não se
confunde com a pena de suspensão, uma vez que o afastamento preventivo não suspende
a remuneração do servidor. Em regra, é aplicada para evitar que o servidor cause qualquer
prejuízo à apuração do fato, tais como: destruição de provas ou coaçãode colegas
arrolados como testemunhas.
Assim, conforme previsão dos artigos 214 e 215 da Lei Estadual nº 869/1952, a
34

autoridade competente (Secretário de Estado e Diretores de Departamentos diretamente


subordinados ao Governador do Estado) pode ordenar a suspensão preventiva do servidor
acusado por até 30 (trinta) dias, prorrogáveis por até 90 (noventa) dias, desde que seu
afastamento seja necessário à apuração dos fatos. Antes ou concomitante ao ato de
afastamento, o servidor deve ser comunicado do processo administrativo disciplinar
contra ele instaurado para, se desejar, exercer o direito de acompanhá-lo pessoalmente ou
por intermédio de advogado, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas,
contraprovas e demais atos necessários à promoção de sua defesa. Findo o prazo da
suspensão, ou da prorrogação, o servidor reassumirá suas funções, ainda que o processo
administrativo disciplinar não esteja concluído.

1.8.3 Dos Deveres e Proibições (assiduidade, pontualidade, discrição, urbanidade)

De inicío, ressalta-se que ilícito administrativo-disciplinar é toda conduta


praticada pelo servidor público, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, que
importe no descumprimento de dever ou no desrespeito à proibição que lhe são impostos
por lei ou por qualquer outra norma que discipline a atuação do agente público, ainda que
prevista fora do Estatuto funcional, como decretos, portarias, resoluções, regulamentos
etc.
O ilícito administrativo pode decorrer de uma conduta irregular dolosa ou culposa.
No ilícito doloso, o servidor age de forma intencional, pretendendo o resultado
(dolo direto) ou apenas assumindo o risco de sua concretização (dolo eventual). Exemplo:
o policial penal, intencionalmente, ingressa com o seu telefone celular no interior da
unidade prisional para manter contato com a sua esposa durante o seu plantão.
Já no ilícito culposo, o servidor, por imprudência, imperícia ou negligência, dá
causa a resultado ilícito, porém, não desejado. Ainda que não previsto pelo servidor, o
fato era previsível e poderia ser evitado. Exemplo: policial penal deixa seu posto de
trabalho com o seu computador "logado", possibilitando que outros colegas tenham
acesso a informações sigilosas.
Os deveres e as proibições estabelecidos pela Lei Estadual nº 869/52 nos seus
artigos 216 e 217, respectivamente, relacionam-se, portanto, com a responsabilidade
administrativa do servidor público.
Vejamos os deveres impostos ao funcionário pelo artigo 216 do Estatuto dos
Servidores:
35

Art. 216 – São deveres do funcionário:


I – assiduidade;
II – pontualidade;
III – discrição;
IV – urbanidade;
V – lealdade às instituições constitucionais e administrativas a que
servir;
VI – observância das normas legais e regulamentares;
VII – obediência às ordens superiores, exceto quando manifestamente
ilegais;
VIII – levar ao conhecimento da autoridade superior irregularidade de
que tiver ciência em razão do cargo;
IX – zelar pela economia e conservação do material que lhe for
confiado;
X – providenciar para que esteja sempre em ordem no assentamento
individual a sua declaração de família;
XI – atender prontamente:
a) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;
b) à expedição das certidões requeridas para a defesa de direito.

A assiduidade é o dever de comparecer com regularidade ao trabalho. Já a


pontualidade é o dever de cumprir a jornada de trabalho. O servidor deve não só ser
assíduo, mas também deve respeitar os horários de entrada e saída do trabalho, reuniões
e demais atividades relacionadas com o exercício de seu cargo.
O dever de discrição impõe ao funcionário reserva quanto a assuntos relacionados
ao trabalho que, embora não sigilosos, não devem ser revelados. O servidor, por vezes,
tem acesso a informações privadas de outros servidores e de particulares que merecem
proteção em razão do direito fundamental de privacidade. Dados sensíveis relativos aos
protocolos de segurança de uma Unidade Prisional, por exemplo, também são
merecedores de discrição e não devem ser revelados de qualquer forma, seja para o
público em geral ou, até mesmo, para outros servidores que não tenham atribuições
pertinentes à informação prestada.
Urbanidade significa conduta que demonstra boas maneiras e respeito entre as
pessoas. Assim o dever de urbanidade obriga o servidor a tratar os usuários do serviço
público e os colegas de trabalho com gentileza, respeito e cortesia.
O dever de lealdade às instituições constitucionais e administrativas a que servir
obriga o servidor a ser fiel com os compromissos institucionais, a conduzir sua conduta
profissional sempre pautado no interesse público, gerando confiança entre a
Administração e o funcionário.
Observância das normas legais e regulamentares impõe ao servidor dever de
36

respeitar e cumprir no exercício de suas funções os mais abrangentes instrumentos


normativos, tais como: Constituição Federal e Estadual, leis, decretos, resoluções,
portarias, etc.
O dever de obediência às ordens superiores, exceto quando manifestamente
ilegais, representa o respeito à hierarquia que é essencial para o bom funcionamento de
qualquer organização. A simples discordância de opiniões entre o servidor e seu superior
não é o suficiente para que não se cumpra a ordem que lhe foi dada. A recusa somente é
aceitável quando a ordem for manifestamente ilegal.
Levar ao conhecimento da autoridade superior irregularidade de que tiver
ciência em razão do cargo obriga o servidor (desde que não tenha competência para
determinar a apuração da conduta funcional irregular) a informar à autoridade superior
qualquer irregularidade de que teve conhecimento. Se o funcionário tem ciência de um
ato ilícito praticado por um colega e se mantém omisso, deixando de comunicar ao seu
superior hierárquico, poderá também ser responsabilizado.
É dever imposto ao servidor zelar pela economia e conservação do material que
lhe for confiado, isto é, deve cuidar e conservar qualquer dos materiais que a
Administração Pública lhe oferece para bem desempenhar as suas atribuições, a exemplo,
de computadores, viaturas, cadeiras, armamentos etc. Além disso, está obrigado a utilizá-
los de modo racional e sem desperdícios.
O funcionário tem o dever de providenciar para que esteja sempre em ordem no
assentamento individual a sua declaração de família, ou seja, manter atualizado os seus
dados pessoais e familiares perante o seu empregador. Será a partir desses dados, por
exemplo, que a Administração Pública saberá quem terá direito a eventual pensão
decorrente do falecimento do servidor.
O dever de atender prontamente às requisições para a defesa da Fazenda Pública
e à expedição das certidões requeridas para a defesa de direito obriga o servidor a prestar
informações ou apresentar documentos requisitados para subsidiar os interesses da
Administração Pública. Esse dever ainda impõe ao funcionário a obrigação de fornecer
ao interessado certidões a que tem direito, a exemplo, do atestado de permanência
carcerária20.

20
Trata-se de uma declaração emitida pelo diretor da unidade penal onde o custodiado encontra-se
recolhido, que provará que o detento se encontra preso naquele local e data. Esse documento permite ao
segurado da previdência social solicitar ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) o pagamento do
auxílio-reclusão.
37

Seguem, agora, as proibições impostas ao servidor, conforme previsto no artigo


217 do Estatuto, in verbis:

Art. 217 – Ao funcionário é proibido:


I – referir-se de modo depreciativo, em informação, parecer ou
despacho, às autoridades e atos da administração pública, podendo,
porém, em trabalho assinado, criticá-los do ponto de vista doutrinário
ou da organização do serviço;
II – retirar sem prévia autorização da autoridade competente qualquer
documento ou objeto da repartição;
III – promover manifestações de apreço ou desapreço e fazer circular
ou subscrever lista de donativos no recinto da repartição;
IV – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal em detrimento da
dignidade da função;
V – coagir ou aliciar subordinados com objetivos de natureza partidária;
VI – participar da gerência ou administração de empresa comercial ou
industrial, salvo os casos expressos em lei;
VII – exercer comércio ou participar de sociedade comercial, exceto
como acionista, quotista ou comandatário;
VIII – praticar a usura em qualquer de suas formas;
IX – pleitear, como procurador ou intermediário, junto às repartições
públicas, salvo quando se tratar de percepção de vencimentos e
vantagens, de parente até segundo grau;
X – receber propinas, comissões, presentes e vantagens de qualquer
espécie em razão das atribuições;
XI – contar a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em
lei, o desempenho de encargo que lhe competir ou a seus subordinados.

Para além das proibições elencadas no citado artigo 217 da Lei Estadual nº 869/52,
existem outras vedações previstas ao longo do Estatuto funcional, a exemplo dos artigos
169, 246, incisos II, V e VI, 249, inciso II, e 250, incisos II, IV e V, a saber:

Art. 169 – O funcionário licenciado para tratamento de saúde não


poderá dedicar-se a qualquer atividade remunerada.”
[...]
“Art. 246 – A pena de suspensão será aplicada em casos de:
[...]
II – Recusa do funcionário em submeter-se à inspeção médica quando
necessária;
[...]
V – Recebimento doloso e indevido de vencimento, ou remuneração ou
vantagens;
VI – Requisição irregular de transporte;”
Art. 249 – A pena de demissão será aplicada ao servidor que:
[...]
II – incorrer em abandono de cargo ou função pública pelo não
comparecimento ao serviço sem causa justificada por mais de trinta dias
consecutivos ou mais de noventa dias não consecutivos em um ano;”
Art. 250 – Será aplicada a pena de demissão a bem do serviço ao
funcionário que:
38

[...]
II – praticar crime contra a boa ordem e administração pública e a
Fazenda Estadual;
[...]
IV – praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcionários ou
particulares, salvo se em legítima defesa;
V – lesar os cofres públicos ou delapidar o patrimônio do Estado;

Algumas proibições serão melhor explicadas:


Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal em detrimento da dignidade da
função: o servidor não pode se aproveitar das atribuições do cargo ou da função para obter
vantagens pessoais, de qualquer natureza, seja patrimonial, moral ou sexual.
Receber propinas, comissões, presentes e vantagens de qualquer espécie em razão
das atribuições: o servidor, no desempenho de suas funções, deve manter uma conduta
desprovida de interesses pessoais. Assim, não lhe é permitido receber qualquer tipo de
vantagem relacionada ao exercício de suas atribuições, seja propina (dinheiro), presentes
ou qualquer outro tipo de vantagem.
Dedicar-se a qualquer atividade remunerada quando licenciado para tratamento
de saúde: o servidor não pode se dedicar a qualquer atividade remunerada se estiver
licenciado para tratamento de saúde.
Recusa do funcionário em se submeter à inspeção médica quando necessária: o
servidor não pode recusar, injustificadamente, a submeter-se à perícia médica.
Recebimento doloso e indevido de vencimento ou remuneração ou vantagens: o
servidor não pode se apropriar de qualquer parcela remuneratória ou indenizatória que
sabe ter recebido por erro da Administração Pública.
Requisição irregular de transporte: o servidor não pode requisitar transporte em
veículo oficial para fins diversos daqueles estabelecidos em regulamento.
Abandonar cargo ou função pública, pelo não comparecimento ao serviço, sem
justa causa justificada, por mais de trinta dias consecutivos ou mais de noventa dias não
consecutivos, em um ano: o servidor que deixar de trabalhar por mais de 30 (trinta) dias
consecutivos ou mais de 90 (noventa) intercalados, em um mesmo ano, está sujeito à
sanção de demissão, portanto, trata-se de conduta vedada. Isto não significa que o servidor
possa faltar em quantidade inferior, pois, nesses casos, poderá sofrer penalidades de
repreensão ou suspensão, por desrespeito ao dever de assiduidade (art. 216, I).
Praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcionários ou particulares, salvo
em legítima defesa: o servidor público deve ser portador de boa conduta no desempenho
39

de suas funções. Assim, é inadmissível a prática de agressões físicas na repartição ou em


local destinado ao serviço público.
Lesar os cofres públicos ou delapidar o patrimônio do Estado: o servidor deve
bem administrar e proteger os bens públicos. Ocorrerá a lesão aos cofres públicos quando
o servidor praticar conduta que gere prejuízo financeiro ao Estado.

1.9. Apuração de Irregularidades (processo administrativo), Criação do Núcleo de


Correição Administrativa, Passo a Passo para Instrução Processual

Caso não tenha ele próprio competência para determinar a apuração do fato, o
servidor que tiver ciência de qualquer irregularidade no serviço público tem o dever de
levar o fato ao conhecimento da autoridade superior, para que sejam tomadas as devidas
providências. Caso deixe de fazê-lo, poderá ser responsabilizado por omissão,
descumprindo o dever funcional previsto no artigo 216, inciso VIII, do Estatuto funcional:
“levar ao conhecimento da autoridade superior irregularidade de que tiver ciência em
razão do cargo.”.
Por sua vez, conforme o artigo 218 da Lei Estadual nº 869/1952, “a autoridade
que tiver ciência ou notícia da ocorrência de irregularidades no serviço público é obrigada
a promover-lhe a apuração imediata por meio de sumários, inquérito ou processo
administrativo”.
A omissão diante do conhecimento de irregularidade no serviço público, seja em
levar o fato à ciência da autoridade competente, seja em determinar a sua apuração, além
de ilícito administrativo-disciplinar, ainda pode configurar o crime de condescendência
criminosa, previsto no artigo 32021 do Código Penal.
A comunicação de irregularidade no serviço público deve ser escrita e estar
acompanhada de um mínimo de provas (documentos, testemunhas etc.) que possam
demonstrar a existência de uma possível irregularidade, justamente para se evitarem
denúncias infundadas e perseguições pessoais ou políticas.
No âmbito da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais
(Sejusp), as atividades relacionadas à correição administrativa e à prevenção da corrupção

“Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração
21

no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”
40

são de atribuição do Núcleo de Correição Administrativa (Nucad), conforme estabelecido


pelo artigo 6º, §1º, do Decreto Estadual nº 47.795/19, que dispõe sobre a organização da
Sejusp.
Vale lembrar que correição administrativa consiste nas atividades relacionadas à
prevenção e à apuração de possíveis irregularidades cometidas por servidores e à
aplicação das devidas penalidades. A unidaderesponsável pelas atividades relacionadas à
“correição” é a Corregedoria. No âmbito da Sejusp, repita-se, essa responsabilidade é do
Núcleo de Correição Administrativa (Nucad).
O Nucad está vinculado à Controladoria Setorial com atuação na Sejusp. Por sua
vez, essa Controladoria Setorial é uma unidade de execução da Controladoria-Geral do
Estado (CGE), a quem se subordina tecnicamente, e tem como atribuições, como
estabelecido pelo artigo 6º do Decreto Estadual nº 47.795/19, dentre outras:
✓ apurar denúncias, de acordo com suas competências institucionais;
✓ sugerir a instauração de sindicâncias e processos administrativos disciplinares
para apuração de responsabilidade;
✓ coordenar, gerenciar e acompanhar a instrução de sindicâncias administrativas e
processos administrativos disciplinares.
Embora a Controladoria Setorial seja uma unidade de execução da própria
Controladoria-Geral do Estado, por imposição do §2º do artigo 6º do Decreto Estadual nº
47.795/19, as suas instalações, materiais e recursos humanos serão disponibilizados pela
Sejusp.
O artigo 220 da Lei Estadual nº 869/52 dispõe que o processo administrativo
constará de duas fases distintas:
a) inquérito administrativo;
b) processo administrativo propriamente dito.
O inquérito administrativo, também chamado de investigação preliminar (IP), é
um procedimento investigatório que visa colher indícios de autoria e/ou de materialidade
de alguma irregularidade. Éuma averiguação sumária (rápida), sigilosa, que deverá ser
concluída no prazo de 30 dias.
A investigação preliminar não gera aplicação de sanção ao servidor, motivo pelo
qual não há ampla defesa e contraditório. É um procedimento de investigação simples e
rápido, sem o rigor procedimental previsto para o processo administrativo disciplinar.
Após a conclusão da investigação, deve ser elaborado um relatório que indique a
necessidade de instauração de processo administrativo disciplinar ou o arquivamento.
41

A investigação preliminar será dispensada quando houver indícios suficientes


sobre a existência do fato e a sua autoria, hipótese em que o processo administrativo
disciplinar será instaurado de imediato.
Oprocesso administrativo propriamente dito ou processo administrativo
disciplinar (PAD) visa apurar possíveis irregularidades e responsabilidades funcionais
cometidas por servidor público no exercício de seu cargo ou em razão dele e, se for o
caso, ensejará a aplicação de sanção.
Será conduzido por uma comissão designada pela autoridade competente que
determinar a abertura do processo, que atuará com isenção, imparcialidade e
impessoalidade, e será composta por três servidores estáveis, em que cada um exercerá
uma das funções a seguir:

✓ Presidente: coordenar os trabalhos, dirigir as audiências, verificar e corrigir


irregularidades, promover a citação do servidor processado, oficiar autoridades,
deferir ou indeferir, fundamentadamente, a produção de prova;
✓ Vogal: elaborar estudo prévio dos autos, sugerindo diligências, prestar suporte
administrativo, acompanhar as oitivas e elaborar perguntas;
✓ Secretário: realizar o trabalho de digitação, receber e expedir documentos,
mediante protocolo, autuar e ordenar os autos, promover a juntada ou
desentranhamento de documentos, agendar audiências, cumprir os despachos do
presidente.
Essa comissão irá instruir o processo, isto é, recolher todas as provas relacionadas
ao fato apurado (tais como coleta de documentos escritos, digitais ou audiovisuais,
perícias, depoimento de testemunhas, interrogatório do acusado, declaração da vítima
etc.), garantindo ao processado a ampla defesa e o contraditório. Dessa forma, o acusado
poderá, pessoalmente ou por advogado, acompanhar os atos processuais, indicar e inquirir
testemunhas, requerer juntada de documentos, vista dos autos e o que mais julgar
necessário para a sua defesa.

ATENÇÃO!
Pertinente destacar o enunciado da Súmula Vinculante nº 05 editada pelo Supremo
Tribunal Federal: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo
42

disciplinar não ofende a Constituição.” (STF, 2008, p.1)22. A ausência de advogado não
gera nulidade no processo, mas a sua participação, embora não seja obrigatória, fortalece
a defesa e o processo.
Ao final, a comissão elaborará relatório conclusivo e o apresentará para a
autoridade competente julgar o processo, podendo absolver o servidor processado ou
mesmo aplicar alguma sanção administrativa.
O processo administrativo disciplinar possui as seguintes fases:

Instauração é o ato da autoridade que dá início ao processo administrativo


disciplinar, que o faz por meio da Portaria de Instauração.

Segundo o artigo 219 do Estatuto dos Servidores, os titulares dos órgãos e


entidades da Administração Pública Estadual têm competência para instaurar o processo
administrativo disciplinar. No caso de processo disciplinar instaurado em desfavor de
servidor do Departamento Penitenciário de Minas Gerais, a autoridade competente é o
Secretário da Sejusp.
A instauração se efetiva com a publicação do extrato da portaria inaugural no
Diário Oficial do Executivo.
A citação é o ato processual pelo qual o acusado é comunicado da existência do
processo. Uma vez citado, o acusado tem o direito de acompanhar o processo desde o
início, pessoalmente ou por meio de procurador legalmente constituído, e, no prazo de 10
(dez) dias, querendo, pode indicar provas e arrolar testemunhas.

ATENÇÃO!
Se regularmente citado, o acusado não comparecer para acompanhar o processo ou
promover a sua defesa, será considerado revel. Assim, com a declaração da revelia, o
acusado é tratado como um ausente no processo e sua defesa será exercida por um
defensor designado pela comissão (artigo 226 da Lei Estadual nº 869/52). A revelia não
significa o reconhecimento dos fatos imputados ao processado e nem a renúncia de

22
(STF, Sessão Plenária de 07/05/2008, DJe nº 88 de 16/05/2008, p.1).
43

direito.
A instrução é a fase processual que corresponde à prática de atos que buscam
esclarecer o fato objeto da apuração e preparar o processo para ser decidido. Nessa fase,
a comissão colhe os elementos probatórios que lhe permitam formar a convicção
definitiva sobre a materialidade e a autoria do ilícito ou de sua inexistência. Para tanto,
pode utilizar todos os meios de prova admitidos em direito, podendo atuar de ofício ou
por provocação do interessado (denunciante, vítima ou acusado).
Durante a instrução, em regra, ocorrerá a audiência, isto é, uma sessão solene
designada pelo presidente da comissão para a realização dos interrogatórios,
depoimentos, declarações, esclarecimentos de provas orais e documentais e acareações,
sendo todo o ocorrido registrado em ata.
A defesa é parte obrigatória do processo e pode ser apresentada em dois
momentos:
✓ Defesa prévia: no prazo de 10 (dez) dias contados da citação, o acusado pode
apresentar suas teses preliminares, oferecer documentos e esclarecimentos, rol de
testemunhas, indicar provas que pretende produzir e demais matérias que
interessem à sua defesa;
✓ Defesa: concluída a instrução processual, a comissão deve intimar o processado
para, no prazo de 10 (dez) dias, apresentar sua defesa final.
Recebida a defesa final, a comissão deve elaborar relatório conclusivo quanto à
inocência ou responsabilidade do servidor e o encaminhará à autoridade que determinou
a sua instauração do processo para que profira o julgamento.
Recebido o processo, contendo o relatório da comissão, a autoridade o julgará no
prazo de 60 (sessenta) dias, conforme disposto no artigo 229 da Lei Estadual nº 869/52.
Considerando-se os prazos previstos nos artigos 22323, caput e parágrafo único, e
22924 da Lei Estadual nº 869/52, o prazo para a conclusão de todo o processo
administrativo disciplinar é de 150 (cento e cinquenta) dias, dos quais a comissão terá 60
(sessenta) dias, a contar da instauração, para instruir o feito e elaborar o relatório

23
“Art. 223 – O processo administrativo deverá ser iniciado dentro do prazo, improrrogável, de três dias
contados da data da designação dos membros da comissão e concluído no de sessenta dias, a contar da
data de seu início.
Parágrafo único – Por motivo de força-maior, poderá a autoridade competente prorrogar os trabalhos
da comissão pelo máximo de 30 dias.”
24
“Art. 229 – Entregue o relatório da comissão, acompanhado do processo, à autoridade que houver
determinado à sua instauração, essa autoridade deverá proferir o julgamento dentro do prazo
improrrogável de sessenta dias.”
44

conclusivo, podendo ser prorrogado por mais 30 (trinta) dias, e a autoridade competente
terá mais 60 (sessenta) dias improrrogáveis para proferir o julgamento, a partir do
recebimento do relatório conclusivo.

Quadro4 – Comparativo IP X PAD


Processo Administrativo
Investigação Preliminar - IP
Disciplinar - PAD
Verificar, de modo sumário, a Apurar responsabilidade de
possível ocorrência de servidor por infração praticada
Objetivo
irregularidade, sua extensão e os no exercício de sua atribuição ou
indícios de autoria com ela relacionada
Procedimento preliminar à
Natureza Processo
instauração de processo
Autoria ou materialidade Autoria e materialidade
Contexto
indeterminadas determinadas
Contraditório e
Não Sim
Ampla Defesa
Aplicação de
Não Sim
penalidade
Prazo 30 dias 150 dias

Fonte: Manual Prático de Prevenção e Apuração de Ilícitos Administrativos da Controladoria-Geral do


Estado de Minas Gerais, 2013.

1.10 Penalidades (repreensão, multa, suspensão, destituição da função, demissão,


demissão a bem do serviço público)

A apuração do ilícito disciplinar, por meio do devido processo disciplinar, pode


resultar na aplicação de uma sanção ou penalidade administrativa ao servidor processado.
Importante frisar que a sanção administrativa não deve ser entendida apenas como
forma de punição, mas também como meio de manutenção da ordem interna da
Administração, de orientação e reeducação do servidor e de desestímulo de novas
condutas irregulares.
Considerando-se os incisos LIV e LV do artigo da Constituição Federal, que
45

afirmam, respectivamente, que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal” e que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes”, nenhuma sanção administrativa pode ser aplicada sem o prévio
processo administrativo disciplinar, que assegure ao acusado o contraditório e a ampla
defesa.
São 7 (sete) as sanções administrativas previstas na Lei Estadual nº 869/52:

Art. 244 – São penas disciplinares:


I – Repreensão;
II – Multa;
III – Suspensão;
IV – Destituição de função;
V – Demissão;
VI – Demissão a bem do serviço público.
Parágrafo único – A aplicação das penas disciplinares não se sujeita à
sequência estabelecida neste artigo, mas é autônoma, segundo cada caso
e consideradas a natureza e a gravidade da infração e os danos que dela
provierem para o serviço público.

Além dessas penalidades previstas no artigo 244, o Estatuto ainda prevê em seu
artigo 257 a sanção de “cassação de aposentadoria”.
Conforme ressalva do Parágrafo único do artigo 244 da Lei Estadual nº 869/52, a
aplicação das penas disciplinares não segue a sequência estabelecida nos incisos I a VI,
mas é autônoma, de acordo com o caso concreto e consideradas a natureza e a gravidade
da infração e os danos que dela provierem para o serviço público.

Quadro 5 – Sanções Disciplinares


Sanções ou penas disciplinares
Repreensão Artigos 244 e 245, caput, Lei nº 869/52
Multa Artigos 244 e 247 Lei nº 869/52
Artigos 244, 245, Parágrafo único, 246, 261 (1ª parte) e 264, caput
Suspensão
(1ª parte) e Parágrafo único, e 271 (1ª parte) Lei nº 869/52
Destituição de função Artigos 244 e 248 Lei nº 869/52
Demissão Artigos 244, 249, 256, 261 (2ª parte) e 271 (2ª parte) Lei nº 869/52
Demissão a bem do
Artigos 244, 250 e 264 (2ª parte) Lei nº 869/52
serviço público
Cassação de Artigo 257 Lei nº 869/52
46

aposentadoria

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022.

Repreensão: sanção moral aplicada em caso de desobediência ou descumprimento


(culposo) de dever previsto no artigo 216 do Estatuto. Deve ser aplicada por escrito e
registrada nos assentamentos funcionais do infrator. Exemplo: Falta de respeito e cortesia
no trato com os colegas de trabalho. Vejamos o dispositivo legal pertinente:

Art. 245 – A pena de repreensão será aplicada por escrito em caso de


desobediência ou falta de cumprimento de deveres.
Parágrafo único – Havendo dolo ou má-fé, a falta de cumprimento de
deveres, será punida com a pena de suspensão

Multa: sanção pecuniária que consiste no pagamento ao Estado de uma quantia


em dinheiro, pelo servidor infrator. Vejamos o dispositivo pertinente previsto na Lei nº
869/52: “Art. 247 – A pena de multa será aplicada na forma e nos casos expressamente
previstos em lei ou regulamento.”.
Suspensão: sanção que tem por efeito a suspensão temporária do exercício do
cargo e, de efeito, da remuneração e da contagem de tempo de serviço. Sua duração não
poderá exceder 90 dias. Significa ofensa grave ao ordenamento, decorrente de conduta
dolosa, bem como reincidências em infrações administrativas de menor gravidade.
Vejamos os dispositivos legais pertinentes previstos na Leinº 869/52:

Art. 245 – A pena de repreensão será aplicada por escrito em caso de


desobediência ou falta de cumprimento de deveres.
Parágrafo único – Havendo dolo ou má-fé, a falta de cumprimento
de deveres, será punida com a pena de suspensão.
Art. 246 – A pena de suspensão será aplicada em casos de:
I – Falta grave;
II – Recusa do funcionário em submeter-se à inspeção médica quando
necessária;
III – Desrespeito às proibições consignadas neste Estatuto;
IV – Reincidência em falta já punida com repreensão;
V – Recebimento doloso e indevido de vencimento, ou remuneração ou
vantagens;
VI – Requisição irregular de transporte;
VII – Concessão de laudo médico gracioso.
§ 1º – A pena de suspensão não poderá exceder de noventa dias.
§ 2º – O funcionário suspenso perderá todas as vantagens e direitos
decorrentes do exercício do cargo.
[...]
Art. 261 – Será punido com a pena de suspensão, e, na reincidência,
com a de demissão, o funcionário que, indevidamente, conceder diárias,
47

com o objetivo de remunerar outros serviços ou encargos, ficando ainda


obrigado à reposição da importância correspondente.
[...]
Art. 264 – Será punido com a pena de suspensão e, na reincidência,
com a de demissão a bem do serviço público, o funcionário que atestar
falsamente a prestação de serviço extraordinário.
Parágrafo único – O funcionário que se recusar, sem justo motivo, à
prestação de serviço extraordinário será punido com a pena de
suspensão.
[...]
Art. 271 – Será suspenso por noventa dias, e, na reincidência demitido
o funcionário que fora dos casos expressamente previstos em lei,
regulamentos ou regimentos, cometer à pessoas estranhas às
repartições, o desempenho de encargos que lhe competirem ou aos seus
subordinados.

Destituição de função: sanção que consiste na perda de função de confiança pelo servidor
efetivo. Vejamos o dispositivo legal pertinente previsto na Leinº 869/52:

Art. 248 – A destituição de função dar-se-á:


I – quando se verificar a falta de exação no seu desempenho;
II – quando se verificar que, por negligência ou benevolência, o
funcionário contribuiu para que se não apurasse, no devido tempo, a
falta de outro.

Demissão: sanção que consiste na expulsão do servidor dos quadros de pessoal do serviço
público, gerando o rompimento do seu vínculo jurídico com a Administração, em
decorrência de infração com elevado grau de ofensividade aos deveres funcionais.
Vejamos os dispositivos legais pertinentes previstos na Lei nº 869/52:

Art. 249 – A pena de demissão será aplicada ao servidor que:


I – acumular, ilegalmente, cargos, funções ou cargos com funções;
II – incorrer em abandono de cargo ou função pública pelo não
comparecimento ao serviço sem causa justificada por mais de trinta dias
consecutivos ou mais de noventa dias não consecutivos em um ano;
III – aplicar indevidamente dinheiros públicos;
IV – exercer a advocacia administrativa;
V – receber em avaliação periódica de desempenho:
a) dois conceitos sucessivos de desempenho insatisfatório;
b) três conceitos interpolados de desempenho insatisfatório em cinco
avaliações consecutivas; ou
c) quatro conceitos interpolados de desempenho insatisfatório em dez
avaliações consecutivas.
Parágrafo único. Receberá conceito de desempenho insatisfatório o
servidor cuja avaliação total, considerados todos os critérios de
julgamento aplicáveis em cada caso, seja inferior a 50% (cinqüenta por
cento) da pontuação máxima admitida.
[...]
48

Art. 256 – Terá cassada a licença e será demitido do cargo o funcionário


licenciado para tratamento de saúde que se dedicar a qualquer atividade
remunerada.
[...]
“Art. 261 – Será punido com a pena de suspensão, e, na reincidência,
com a de demissão, o funcionário que, indevidamente, conceder
diárias, com o objetivo de remunerar outros serviços ou encargos,
ficando ainda obrigado à reposição da importância correspondente.
[...]
Art. 271 – Será suspenso por noventa dias, e, na reincidência demitido
o funcionário que fora dos casos expressamente previstos em lei,
regulamentos ou regimentos, cometer à pessoas estranhas às
repartições, o desempenho de encargos que lhe competirem ou aos seus
subordinados.(grifo nosso)

Demissão a bem do serviço público: tal qual a pena de demissão, consiste na


expulsão do servidor dos quadros de pessoal do serviço público, gerando o rompimento
do seu vínculo jurídico com a Administração, em decorrência de infração com elevado
grau de ofensividade aos deveres funcionais. Vejamos os dispositivos legais pertinentes
previstos na Leinº 869/52:

Art. 250 – Será aplicada a pena de demissão a bem do serviço ao


funcionário que:
I – for convencido de incontinência pública e escandalosa, de vício de
jogos proibidos e de embriaguez habitual;
II – praticar crime contra a boa ordem e administração pública e a
Fazenda Estadual;
III – revelar segredos de que tenha conhecimento em razão do cargo ou
função, desde que o faça dolosamente e com prejuízo para o Estado ou
particulares;
IV – praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcionários ou
particulares, salvo se em legítima defesa;
V – lesar os cofres públicos ou delapidar o patrimônio do Estado;
VI – receber ou solicitar propinas, comissões, presentes ou vantagens
de qualquer espécie.”
[...]
Art. 264 – Será punido com a pena de suspensão e, na reincidência,
com a de demissão a bem do serviço público, o funcionário que
atestar falsamente a prestação de serviço extraordinário. (grifo nosso)

Cassação de aposentadoria: sanção que consiste na perda da aposentadoria ou da


disponibilidade do servidor. Vejamos o dispositivo legal pertinente previsto na Lei nº
869/52:

“Art. 257 – Será cassada, por decreto do Governador do Estado, a


aposentadoria ou disponibilidade, se ficar provado, em processo, que o
aposentado ou funcionário em disponibilidade:
49

I – praticou, quando em atividade, qualquer dos atos para os quais é


cominada neste Estatuto a pena de demissão, ou de demissão a bem do
serviço público;
II – aceitou ilegalmente cargo ou função pública;
III – aceitou representação de Estado estrangeiro, sem prévia
autorização do Governador do Estado;
IV – praticou a usura, em qualquer de suas formas.
Parágrafo único – Será igualmente cassada a disponibilidade do
servidor que não assumir, no prazo legal, o cargo ou função em que for
aproveitado.”

O ato de imposição de penalidade administrativa mencionará sempre o


fundamento legal e a causa de sua aplicação.
A execução da sanção aplicada será de responsabilidade do dirigente da unidade
de pessoal do órgão ou entidade em que o servidor estiver lotado.

Questões para revisão e fixação

Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.

1. (FGV - 2022 - PC-RJ - Investigador Policial de 3ª Classe) Rodrigo é servidor público


estável ocupante do cargo de investigador policial da Polícia Civil do Estado Alfa. De
acordo com o texto da Constituição da República de 1988, Rodrigo apenas poderá perder
o cargo em algumas hipóteses, como, por exemplo:
A) em virtude de sentença judicial confirmada em segunda instância, ainda que não
transitada em julgado, assegurados o contraditório e a ampla defesa;
B) mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
complementar, assegurada a ampla defesa;
C) em virtude de sentença judicial, independentemente de confirmação pela segunda
instância ou do trânsito em julgado;
D) mediante sindicância administrativa disciplinar, iniciada por imputação feita pelo
Ministério Público, assegurada a ampla defesa desempenhada pela Defensoria
Pública ou advocacia privada;
E) mediante processo administrativo disciplinar em que lhe seja assegurada a ampla
defesa, sendo que a falta de defesa técnica por advogado ofende a Constituição da
República de 1988 e gera nulidade absoluta e insanável.
50

2. (Elaboração própria) São formas de provimento previstos no artigo 12 do Estatuto dos


Servidores Públicos Civis de Minas Gerais, EXCETO:
A) Reintegração.
B) Promoção.
C) Nomeação.
D) posse em outro cargo, desde que dela se verifique acumulação vedada.
E) Aproveitamento.

3. (Elaboração própria) De acordo com a Lei Estadual nº 869/52, o servidor que comete
infração poderá sofrer punição disciplinar administrativa.
Não é penalidade aplicável ao servidor público civil estadual:
A) Repreensão
B) Advertência
C) Demissão a bem do serviço público
D) Demissão
E) Multa

4. (PR-4 UFRJ - 2021 - UFRJ - Técnico em Laboratório - Patologia Clínica) De acordo


com José dos Santos Carvalho Filho, “a estabilidade é a garantia constitucional do
servidor público estatutário de permanecer no serviço público, após três anos de efetivo
exercício”. (CARVALHO FILHO, 2019, p. 729).
Considerando o que dispõe a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) sobre
o Instituto da Estabilidade, é correto afirmar que:
A) são estáveis, após dois anos de efetivo exercício, os servidores nomeados para
cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público.
B) o servidor público estável só perderá o cargo em virtude de sentença judicial
transitada em julgado.
C) são estáveis, após três anos de efetivo exercício, os servidores nomeados para
cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público.
D) o servidor público só perderá o cargo mediante processo administrativo em que
lhe seja assegurada ampla defesa.
E) o servidor demitido não pode ser reintegrado, ainda que sua demissão seja
invalidada por sentença judicial, em razão da supremacia da decisão
administrativa.
51

5. (FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Santa Vitória - MG -


Assistente) O servidor público adquire estabilidade no serviço público após o período de
estágio probatório de:
A) Um ano.
B) Dois anos.
C) Três anos.
D) Quatro anos.

6. (Máxima - 2021 - Prefeitura de Heliodora - MG - Agente Administrativo I) Assinale a


alternativa INCORRETA:
A) São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo
de provimento efetivo em virtude de concurso público.
B) Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele
reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de
origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em
disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço.
C) Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em
disponibilidade, com remuneração integral, até sua aposentadoria.
D) Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial
de desempenho por comissão instituída para essa finalidade.

7. (CESPE - 2018 - TCE-MG - Analista de Controle Externo - Ciências Contábeis) De


acordo com a Lei Estadual n.º 869/1952, o ato pelo qual o servidor aposentado reingressa
no serviço público, após verificação, em processo administrativo, de que não subsistem
os motivos determinantes da aposentadoria, denomina-se
A) reversão.
B) readaptação.
C) transferência.
D) reintegração.
E) aproveitamento.
52

Gabarito
Questão Questão Questão Questão Questão Questão Questão
1 2 3 4 5 6 7
B D B C C C A
53

2 CÓDIGO DE CONDUTA ÉTICA DO AGENTE PÚBLICO E DA ALTA


ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL (DECRETO ESTADUAL Nº 46.644, DE 06 DE
NOVEMBRO DE 2014)

O Código de Conduta Ética do Agente Público e da Alta Administração Estadual,


ou simplesmente Código de Ética, é o instrumento de orientação e fortalecimento da
consciência ética no relacionamento do agente público estadual com pessoas e com o
patrimônio público.
O Decreto Estadual nº 46.644/14 considera como agente público todo aquele que
exerça, ainda que transitoriamente e sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, convênio, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função pública em órgão ou entidade da Administração
Pública Direta ou Indireta do Poder Executivo Estadual, inclusive os integrantes da Alta
Administração do Poder Executivo Estadual, tais quais Governador e Vice-Governador,
Secretários de Estado, Secretários-Adjuntos, Subsecretários e Chefes de Gabinete.
O Código de Ética estabelece princípios e valores fundamentais que devem reger
a conduta do agente público estadual, bem como os direitos e as garantias no ambiente de
trabalho, além dos deveres e proibições impostas ao agente público.
Ademais, o Decreto Estadual nº 46.644/14 regulamenta o Conselho de Ética
Pública (Conset) e as Comissões de Ética, além de fixar parâmetros para a Conduta Ética
do Gestor Público.
Por fim, o Código de Ética prevê procedimento para a apuração de fato com
indícios de desrespeito às suas normas e prevê a aplicação de sanções para a hipótese de
seu descumprimento.
O Decreto Estadual nº 46.644/14, porém, não traz a definição de “ética”, cabendo
ao intérprete da norma fazê-lo.
Para isso, de plano, é válido registrar que o conceito de ética não é jurídico, mas
sim, filosófico1. Nesse sentido, várias teorias foram criadas buscando explicar o que seria
ética, a exemplo da teoria utilitarista que explica a ética como a coisa certa a ser feita em
qualquer ocasião para proporcionar o máximo de felicidade para todos os envolvidos

1
“ética é um assunto amplo – tanto em termos do alcance das teorias éticas quanto às maneiras como essas
teorias podem ser aplicadas a assuntos morais e sociais. Ela gerou o ímpeto para grande parte da filosofia
como um todo e é a maior área de estudo dentro dos departamentos da filosofia” (THOMPSON, Mel;
tradução Gabriel Carvalhinho Lopes Azevedo. Filosofia: Aprenda em uma semana, lembra por toda
a vida. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p.100).
54

(THOMPSON, 2014, p.94).


De um modo geral, ética está relacionada aos princípios universais que orientam
o comportamento humano, permitindo a avaliação do que é moralmente bom ou mau,
certo ou errado.Serve como importante ferramenta para o bom convívio entre as pessoas
e para o bom funcionamento das instituições.No cenário, seja na família, no trabalho ou
na sociedade como um todo, ser ético significa agir pautado pelo respeito, pelo
compromisso com o bem, pela honestidade, pela dignidade, pela justiça, pela lealdade,
pelo decoro, pelo zelo, pela responsabilidade.
Por esse motivo, a éticaé usada como parâmetro de orientação para o exercício de
diversas atividades profissionais, como ocorre com a ética da advocacia, da medicina etc.
Nesse contexto, surge o Código de Conduta Ética do Agente Público e da Alta
Administração Estadual, com o objetivo, repita-se, de orientar e fortalecer a consciência
ética nas relações travadas entre o agente público estadual com pessoas e com o
patrimônio público. Trata-se da formalização dos compromissos éticos da instituição,
estabelecendo parâmetros para conduta do agente público na busca pelos objetivos
organizacionais.

2.1 Dos Princípios e Valores Fundamentais

O artigo 7º do Código de Ética estabelece 15 (quinze) princípios e valores


fundamentais que devem reger a conduta do agente público integrante da Administração
Pública do Poder Executivo Estadual. São eles:
✓ boa-fé;
✓ honestidade;
✓ fidelidade ao interesse público;
✓ impessoalidade;
✓ dignidade e decoro no exercício de suas funções;
✓ lealdade às instituições;
✓ cortesia;
✓ transparência;
✓ eficiência;
✓ presteza e tempestividade;
✓ respeito à hierarquia administrativa;
✓ assiduidade;
55

✓ pontualidade;
✓ cuidado e respeito no trato com as pessoas, subordinados, superiores e colegas;
✓ respeito à dignidade da pessoa humana.
Portanto, a atuação funcional que se afaste desses princípios e valores importa em
um comportamento despido da ética profissional que seesperado agente público
integrante da Administração Pública do Poder Executivo de Minas Gerais.

2.2 Dos Direitos e Garantias no Ambiente de Trabalho

Como resultantes da conduta ética que deve imperar no ambiente de trabalho e em


suas relações interpessoais, o artigo 8º do Decreto Estadual nº 46.644/14 prevê os direitos
e garantias do agente público:
✓ igualdade de acesso e oportunidades de crescimento intelectual e profissional em
sua respectiva carreira;
✓ liberdade de manifestação, observado o respeito à imagem da instituição e dos
demais agentes públicos;
✓ igualdade de oportunidade nos sistemas de aferição, avaliação e reconhecimento
de desempenho;
✓ manifestação sobre fatos que possam prejudicar seu desempenho ou reputação;
✓ sigilo à informação de ordem pessoal;
✓ atuação em defesa legítima de seu interesse ou direito;
✓ ciência do teor da acusação e vista dos autos, quando estiver sendo investigado.

2.3 Dos Deveres Éticos Fundamentais

O Decreto Estadual nº 46.644/14 impõe os seguintes deveres ao agente público:


✓ agir com lealdade e boa-fé;
✓ ser justo e honesto no desempenho de funções e no relacionamento com
subordinados, colegas, superiores hierárquicos, parceiros, patrocinadores e
usuários do serviço;
✓ observar os princípios e valores da ética pública;
✓ atender prontamente às questões que lhe forem encaminhadas;
✓ ser ágil na prestação de contas de suas atividades;
✓ aperfeiçoar o processo de comunicação e contato com o público;
56

✓ praticar a cortesia e a urbanidade e respeitar a capacidade e as limitações


individuais de colegas de trabalho e dos usuários do serviço público, sem
preconceito ou distinção de raça, sexo, nacionalidade, cor, idade, religião,
preferência política, posição social e outras formas de discriminação;
✓ representar contra atos que contrariem as normas deste Código de Ética;
✓ resistir a pressões de superiores hierárquicos, contratantes, interessados e outros
que visem a obter favores, benesses ou vantagens ilegais ou imorais, denunciando
sua prática;
✓ comunicar imediatamente aos superiores todo ato ou fato contrário ao interesse
público, para providências cabíveis;
✓ participar de movimentos e estudos relacionados à melhoria do exercício de suas
funções, visando ao bem comum;
✓ apresentar-se ao trabalho com trajes adequados ao exercício da função;
✓ manter-se atualizado com instruções, normas de serviço e legislação pertinentes
ao órgão ou entidade de exercício;
✓ facilitar atividades de fiscalização pelos órgãos de controle;
✓ exercer função, poder ou autoridade de acordo com a lei e regulamentações da
Administração Pública, sendo vedado o exercício contrário ao interesse público;
✓ divulgar e estimular o cumprimento deste Código de Ética.

2.4 Das Vedações

O artigo 10 do Código de Ética elenca as condutas que são vedadas ao agente


público, a saber:
✓ utilizar-se de cargo, emprego ou função, de facilidades, amizades, posição e
influências para obter favorecimento para si ou para outrem;
✓ prejudicar deliberadamente a reputação de subordinados, colegas, superiores
hierárquicos ou pessoas que dele dependam;
✓ ser conivente com erro ou infração a este Código de Ética ou ao Código de Ética
de sua profissão;
✓ usar de artifícios para procrastinar ou dificultar exercício de direito de qualquer
pessoa;
✓ deixar de utilizar conhecimentos, avanços técnicos e científicos ao seu alcance no
desenvolvimento de suas atividades;
57

✓ permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses


de ordem pessoal interfiram no trato com o público ou com colegas
hierarquicamente superiores ou inferiores;
✓ pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber ajuda financeira, gratificação,
prêmio, comissão, doação ou vantagem, para si ou outra pessoa, visando ao
cumprimento de sua atribuição, ou para influenciar outro servidor;
✓ alterar ou deturpar teor de documentos;
✓ iludir ou tentar iludir pessoa que necessite de atendimento em serviços públicos;
✓ desviar agente público para atendimento a interesse particular;
✓ retirar de repartição pública, sem autorização legal, documento, livro ou bem
pertencente ao patrimônio público;
✓ usar informações privilegiadas obtidas em âmbito interno de seu serviço, em
benefício próprio, de parentes, amigos ou de terceiros;
✓ apresentar-se embriagado ou drogado para prestar serviço;
✓ permitir ou contribuir para que instituição que atente contra a moral, honestidade
ou dignidade da pessoa humana tenha acesso a recursos públicos de qualquer
natureza;
✓ exercer atividade profissional antiética ou ligar seu nome a empreendimentos que
atentem contra a moral pública;
✓ permitir ou concorrer para que interesses particulares prevaleçam sobre o interesse
público;
✓ exigir submissão, constranger ou intimidar outro agente público, utilizando-se do
poder que recebe em razão do cargo, emprego ou função pública que ocupa;
✓ participar de qualquer outra atividade que possa significar conflito de interesse
em relação à atividade pública que exerce.
✓ aceitar presente, doação ou vantagem de qualquer espécie, independente do valor
monetário, de pessoa, empresa ou entidade que tenha ou que possa ter interesse
em:
– quaisquer atos de mero expediente de responsabilidade do agente público;
– decisão de jurisdição do órgão ou entidade de vínculo funcional do agente
público;
– informações institucionais de caráter sigiloso a que o agente público tenha
acesso.
58

2.5 Conselho de Ética Pública (Conset)

O Conselho de Ética é composto por 07 (sete) membros, escolhidos e designados


pelo Governador do Estado entre brasileiros de reconhecida idoneidade moral, reputação
ilibada e dotados de notórios conhecimentos de Administração Pública, que cumprirão
mandato de três anos, admitida uma recondução.
O exercício da função de conselheiro, no âmbito do Conselho de Ética, é
considerado de relevante interesse público, não gera qualquer espécie de remuneração,
sendo permitido o pagamento de verbas indenizatórias para despesas com deslocamento,
hospedagem e alimentação.
Dentre as competênciasdo Conselho de Ética destacam-se:
✓ assessorar o Governador e os Secretários de Estado em questões que envolvam
normas do Código de Ética;
✓ receber denúncias sobre atos de autoridade praticados em contrariedade às normas
deste Código de Ética e proceder à apuração de sua veracidade, desde que
devidamente instruídas e fundamentadas;
✓ instaurar, após as apurações pertinentes, processo ético que envolva conduta de
integrante da Alta Administração Estadual, assim como decidir sobre recursos
contra decisão sua ou proferida em processos instaurados pelas Comissões de
Ética do Poder Executivo;
✓ convocar qualquer autoridade ou agente público do Poder Executivo para prestar
esclarecimento sobre denúncias em desfavor da respectiva instituição ou de seus
dirigentes;
✓ responder consultas de autoridades e de agentes públicos em matéria regulada
pelo Código de Ética;
✓ emitir parecer acerca de enquadramento em hipóteses de impedimento para fins
de nomeação, designação ou contratação, a título comissionado, de pessoas para
o exercício de funções, cargos e empregos no Poder Executivo Estadual.

2.6 Comissões de Ética

Em todos os órgãos e entidades da Administração Pública do Poder Executivo de


Minas Gerais, haverá uma Comissão de Ética com a finalidade de divulgar as normas do
Código de Ética e atuar na prevenção e na apuração de falta ética no âmbito da respectiva
59

instituição.
A Comissão de Ética é composta por 03 (três) titulares e 2 (dois) suplentes
escolhidos pelo dirigente máximo do órgão entre os agentes públicos em exercício no
órgão ou entidade e com mandatos de 03 (três) anos, sendo facultada uma recondução por
igual período.
Assim como ocorre com o Conselho de Ética, a atuação em Comissão de Ética
não enseja remuneração e os trabalhos nela desenvolvidos são considerados prestação de
relevante serviço público.
Dentre outras atribuições, compete ao Conselho de Ética:
✓ orientar e aconselhar o agente público sobre ética profissional no respectivo órgão
ou entidade;
✓ adotar formas de divulgação das normas éticas e de prevenção de falta ética;
✓ decidir pela instauração e conduzir processo ético, observadas as normas
estabelecidas no Código de Ética e em Deliberações do Conselho de Ética;
✓ exercer outras atividades que lhe forem atribuídas ou delegadas pelo Conselho de
Ética.

2.7 Conduta Ética do Gestor Público

Para fins do Código de Ética, “considera-se gestor público, o agente público que
por força do cargo, emprego ou função recebe poder público para coordenar e dirigir
pessoas e trabalhos”.
Considerando-se essa função específica de coordenar e dirigir pessoas e trabalhos,
o Decreto Estadual nº 46.644/14 dedica normas éticas próprias dirigidas ao gestor
público, sobretudo visando conferir transparência e evitar o conflito de interesses na
relação entre o setor público (representado pelo gestor) e a iniciativa privada.
Nesse sentido, o artigo 21 do Código de Ética estabelece que a atuação do gestor
público deve pautar-se especialmente nas seguintes condutas:
✓ adotar medidas para evitar conflitos de interesse privado com o interesse público;
✓ tratar respeitosamente subordinados e demais colegas de trabalho;
✓ combater práticas que possam suscitar qualquer forma de abuso de poder;
✓ utilizar, exclusivamente, o poder institucional que lhe é atribuído por meio do
cargo, função ou emprego público que ocupa, para viabilizar o atendimento ao
interesse público;
60

✓ buscar a excelência na qualidade do trabalho, utilizando a crítica, quando


necessária, de forma construtiva e em caráter reservado, focando o ato ou fato e
não a pessoa;
✓ apoiar a divulgação e adoção de condutas éticas no ambiente de trabalho.
Também é proibido ao gestor público receber auxílio-transporte, hospedagem e
demais recursos financeiros ou favores de particulares que possam gerar dúvidas quanto
à sua probidade ou imparcialidade.
É permitida a participação do gestor público em eventos, desde que tornada
pública qualquer remuneração, bem como o pagamento de despesas de viagem pelo
promotor do evento, que não poderá ter interesse em decisão a ser por ele proferida.
É vedado ao gestor público opinar publicamente sobre:
✓ honorabilidade e desempenho funcional de outro gestor público estadual;
✓ mérito de questão a ele submetida, para decisão individual ou em órgão colegiado;
✓ matérias não atinentes à sua área de competência.
O gestor público deverá informar a existência de eventual conflito de interesses,
bem como comunicar qualquer circunstância ou fato impeditivo de sua participação em
decisão coletiva ou em órgão colegiado.

2.8 Do Procedimento e das Sanções Éticas

Diante de denúncia fundamentada ou de ofício pela Comissão de Ética ou pelo


Conselho de Ética, será instaurado procedimento para a apuração de fato com indícios de
desrespeito ao Código de Ética.
A apuração será conduzida pela Comissão de Ética ou pelo Conselho de Ética,
segundo respectivas competências, e poderá ocorrer mediante averiguação preliminar ou
processo ético.
A averiguação preliminar pode culminar em processo ético ou arquivamento com
ou sem recomendação.
Já o processo ético será instaurado quando a Comissão ou o Conselho de Ética
entender que a conduta seja passível de sanção.
De efeito, após o devido processo ético, a violação de dispositivo constante no
Código de Ética poderá ensejar as sanções de advertência ou censura, aplicáveis pela
Comissão ou pelo Conselho de Ética. Da decisão final em processo ético caberá: (i)pedido
de reconsideração à instância responsável pela abertura do processo ético; e (ii) recurso
61

ao Conselho de Ética.
Na hipótese de aplicação de sanção, após esgotados os recursos, serão informados:
(i) a chefia imediata do agente público sancionado e o dirigente máximo do seu órgão de
exercício; e (ii) o Governador, no caso de sanção de agente da Alta Administração do
Poder Executivo Estadual.
Ademais, no caso de aplicação de sanção também será enviada cópia da síntese
de ocorrência ética para: (i) a unidade de gestão de pessoas a fim de possa ser juntada e
considerada no processo de avaliação de desempenho do agente público sancionado; e
(ii) o Conselho de Ética Pública.
O Conselho de Ética pode avocar (assumir) processo em trâmite na Comissão de
Ética.
Eventual omissão existente no Código de Ética será suprida pela aplicação dos
princípios que regem a Administração Pública, consagrados no artigo 37, caput, da
Constituição Federal: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência.

Questões para revisão e fixação


Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.

1. (FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2018 - CODEMIG - Assistente Administrativo)


Analise a situação a seguir.
O cidadão João de Oliveira é designado conselheiro do Conselho de Ética do Governo
do Estado de Minas Gerais (Conset).
Considerada a hipótese, é incorreto afirmar:
A) João exercerá função considerada de interesse público, mas não receberá qualquer
espécie de remuneração.
B) João cumprirá mandado de 3 anos, admitida uma recondução.
C) Coube ao governador do Estado a designação de João.
D) Para que integre o Conselho, João terá que ter seu nome aprovado pela Comissão
de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais.

2. (Elaboração própria) O Decreto Estadual nº 46.644/14 dispõe sobre o Código de


Conduta Ética do Agente Público e da Alta Administração Estadual.
62

Sobre esse ato normativo, assinale a alternativa incorreta:


A) O Código de Conduta Ética do Agente Público e da Alta Administração Estadual
é instrumento de orientação e fortalecimento da consciência ética no
relacionamento do agente público estadual com pessoas e com o patrimônio
público.
B) A lealdade às instituições é um dos princípios que deve reger a conduta do agente
público integrante da Administração Pública do Poder Executivo Estadual.
C) O Código de Conduta Ética do Agente Público e da Alta Administração Estadual
é instrumento de orientação e fortalecimento da consciência ética no
relacionamento do agente público estadual com o patrimônio público.
D) São deveres éticos fundamentais do agente público, dentre outros previstos no
Decreto Estadual nº 46.644/14, ser ágil na prestação de contas de suas atividades
e aperfeiçoar o processo de comunicação e contato com o público.

3. (Elaboração própria) Sobre o Conselho de Ética Pública (Conset) previsto no Decreto


Estadual nº 46.644/14, que dispõe sobre o Código de Conduta Ética do Agente Público e
da Alta Administração Estadual, é correto afirmar que:
A) É composto por sete membros, escolhidos e designados pelo Governador do
Estado entre brasileiros de reconhecida idoneidade moral, reputação ilibada e
dotados de notórios conhecimentos de Direito.
B) O exercício da função de conselheiro, no âmbito do Conset, é considerado de
relevante interesse público, não enseja qualquer espécie de remuneração, sendo
proibido o pagamento de verbas indenizatórias para despesas com deslocamento,
hospedagem e alimentação.
C) Tem como uma de suas competências receber denúncias sobre atos de autoridade
praticados em contrariedade às normas do Código de Ética e proceder à apuração
de sua veracidade, desde que devidamente instruídas e fundamentadas.
D) Não tem competência para convocar autoridade ou agente público do Poder
Executivo para prestar esclarecimento sobre denúncias em desfavor da respectiva
instituição ou de seus dirigentes.

4. (Elaboração própria) Sobre o procedimento e as sanções éticas previstas no Decreto


Estadual nº 46.644/14, que dispõe sobre o Código de Conduta Ética do Agente Público e
da Alta Administração Estadual, é correto afirmar que:
63

A) A violação do disposto no Código de Ética acarretará as seguintes sanções:


repreensão ou censura.
B) O Conselho de Ética pode avocar processo em trâmite na Comissão de Ética.
C) A apuração somente será conduzida pelo Conselho de Ética Pública e poderá
ocorrer mediante averiguação preliminar ou processo ético.
D) A apuração será conduzida pela Comissão de Ética ou pelo Conselho de Ética
Pública, segundo respectivas competências, e poderá ocorrer mediante
averiguação preliminar ou processo administrativo disciplinar.

5. (Elaboração própria) Sobre as Comissões de Ética previstas no Decreto Estadual nº


46.644/14, que dispõe sobre o Código de Conduta Ética do Agente Público e da Alta
Administração Estadual, é incorreto afirmar que:
A) Apenas nos órgãos e nas entidades da Administração Pública Direta e Indireta do
Poder Executivo Estadual com atribuições afetas à segurança pública haverá uma
Comissão de Ética com a finalidade de divulgar as normas do Código de Ética e
atuar na prevenção e na apuração de falta ética no âmbito da respectiva instituição.
B) A Comissão de Ética é composta por três titulares e dois suplentes.
C) Os integrantes da Comissão de Ética têm mandatos de três anos, sendo facultada
uma recondução por igual período.
D) A atuação em Comissão de Ética não enseja remuneração e os trabalhos nela
desenvolvidos são considerados prestação de relevante serviço público.

Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5
D C C B A 3 ASSÉDIO
MORAL (LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 116, DE 11 DE JANEIRO DE
2011, E DECRETO ESTADUAL Nº 47.528, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2018)

3.1 Noções Preliminares

Embora seja um tema muito comentado entre os servidores penitenciários, muitos


desconhecem ou têm uma compreensão parcial ou equivocada sobre o que seria realmente
o assédio moral, motivo pelo qual o estudo da legislação que rege a matéria é fundamental
64

para a prevenção e o combate dessa prática no serviço público estadual, inclusive no


ambiente carcerário.
A Lei Complementar Estadual nº 116/11 dispõe sobre as formas de prevenção e
punição do assédio moral na administração pública estadual. Por sua vez, o Decreto
Estadual nº 47.528/18 regulamenta, no âmbito do Poder Executivo, a referida Lei
Complementar, através da previsão de protocolos sobre prevenção, acolhimento do
denunciante, registro da denúncia, conciliação, apuração e punição da prática de assédio
moral.
O artigo 3º da Lei Complementar Estadual nº 116/11 define assédio moral:

Art. 3º – Considera-se assédio moral, para os efeitos desta Lei


Complementar, a conduta de agente público que tenha por objetivo
ou efeito degradar as condições de trabalho de outro agente
público, atentar contra seus direitos ou sua dignidade,
comprometer sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento
profissional. (grifo nosso)

Trata-se da exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras no


ambiente de trabalho, de forma repetitiva e prolongada, no exercício de suas atividades,
gerando danos à dignidade e à integridade do assediado, colocando a sua saúde em risco
e prejudicando o ambiente de trabalho.
Nesse contexto, qualquer agente público pode ser autor ou vítima de assédio
moral, seja chefe ou subordinado.O artigo 2º da Lei Complementar Estadual nº 116/11
nos traz a definição de quem é considerado agente público, para fins de aplicação das suas
normas:

Art. 2º – Considera-se agente público, para os efeitos desta Lei


Complementar, todo aquele que exerce mandato político, emprego
público, cargo público civil ou função pública, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação ou sob amparo de contrato administrativo ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, no âmbito da administração pública.

Assim, no ambiente de trabalho, qualquer conduta abusiva, seja por meio de


palavras, atos, gestos ou escritos que possam trazer danos à personalidade, à dignidade
ou à integridade física e psíquica de um agente público, pode configurar assédio moral.
É uma forma de violência que desestabiliza emocional e profissionalmente o
indivíduo e pode ocorrer por meio de ações diretas (acusações, insultos, gritos,
65

humilhações públicas) e indiretas (propagação de boatos, isolamento, recusa na


comunicação, fofocas e exclusão social).
A humilhação frequente e prolongadaafeta a vida do agente público,
comprometendo a sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando
danos à saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade de trabalhar, para
o desemprego ou, até mesmo, para a morte.
Essas condutas são incompatíveis com a Constituição Federal, que protege a
dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho, razão pela qual devem ser
combatidas.

3.2 Modalidades de Assédio Moral

Constituem modalidades de assédio moral previstas na Lei Complementar


Estadual nº 116/11:

I -desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou


atitudes, a autoestima, a segurança ou a imagem de agente público,
valendo-se de posição hierárquica ou funcional superior,
equivalente ou inferior;
II -desrespeitar limitação individual de agente público, decorrente de
doença física ou psíquica, atribuindo-lhe atividade incompatível com
suas necessidades especiais;
III - preterir o agente público, em quaisquer escolhas, em função de
raça, sexo, nacionalidade, cor, idade, religião, posição social,
preferência ou orientação política, sexual ou filosófica;
IV - atribuir, de modo frequente, ao agente público, função
incompatível com sua formação acadêmica ou técnica especializada ou
que dependa de treinamento;
V - isolar ou incentivar o isolamento de agente público, privando-o de
informações, treinamentos necessários ao desenvolvimento de suas
funções ou do convívio com seus colegas;
VI - manifestar-se jocosamente em detrimento da imagem de agente
público, submetendo-o a situação vexatória, ou fomentar boatos
inidôneos e comentários maliciosos;
VII - subestimar, em público, as aptidões e competências de agente
público;
VIII - manifestar publicamente desdém ou desprezo por agente público
ou pelo produto de seu trabalho;
IX - relegar intencionalmente o agente público ao ostracismo;
X - apresentar, como suas, ideias, propostas, projetos ou quaisquer
trabalhos de outro agente público;
XIV - valer-se de cargo ou função comissionada para induzir ou
persuadir agente público a praticar ato ilegal ou deixar de praticar ato
determinado em lei.
66

ATENÇÃO!
Conforme previsto no artigo 2º, §1º, alínea XII, do Decreto Estadual nº 47.528/18,
“quaisquer outras condutas que tenham por objetivo ou efeito degradar as condições de
trabalho do agente público, atentar contra seus direitos ou sua dignidade, comprometer
sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento profissional” podem configurar a
prática de assédio moral. Portanto, as modalidades de assédio moral previstas na Lei
Complementar Estadual nº 116/11 são exemplificativas, isto é, outras condutas não
elencadas no texto legal também podem caracterizar assédio moral.
Segundo o Decreto Estadual nº 47.528/18, o assédio moral pode ser Vertical,
Horizontal e Misto. Assim são definidos:
I) Assédio Moral Vertical: Ocorre entre pessoas de nível hierárquico diferentes,
chefes e subordinados, e pode ser subdividido em duas espécies: Descendente e
Ascendente.
→ Descendente: aquele praticado pelo superior hierárquico contra o seu
subordinado. É caracterizado pela pressão do chefe em relação ao subordinado. O
superior hierárquico se aproveita de sua condição de autoridade para deixar o subordinado
em situações desconfortáveis, como desqualificá-lo e/ou ofendê-lo na frente da equipe,
por exemplo.
→ Ascendente: aquele praticado pelo subordinado contra o seu superior
hierárquico. Consiste em causar constrangimento ao superior hierárquico por interesses
diversos. Exemplos: ações ou omissões para “sabotar” a gestão e indiretas frequentes
diante dos colegas.

II) Assédio Moral Horizontal: Aquele praticado por agentes públicos que estão no
mesmo nível hierárquico, inexistindo entre eles relações de subordinação. Muitas vezes,
67

é uma prática estimulada pelo clima de competição exagerado entre colegas de trabalho.
O assediador promove liderança negativa perante os que fazem intimidação ao colega,
conduta que se aproxima do bullying por ter como alvo vítimas vulneráveis.

III) Assédio Moral Misto: Aquele praticado contra uma mesma pessoa por mais
de um agente público, simultaneamente, nas modalidades vertical e horizontal. A pessoa
é assediada por superiores hierárquicos e também por colegas de trabalho. Em geral, a
iniciativa da agressão começa sempre com um autor, fazendo com que os demais acabem
seguindo o mesmo comportamento.

ATENÇÃO!
Situações isoladas podem causar dano moral, mas não necessariamente configuram
assédio moral. Para que o assédio seja caracterizado, as agressões devem ocorrer
repetidamente, por tempo prolongado, prejudicando emocionalmente a vítima.

3.3 Da Prevenção à Prática de Assédio Moral

Para fins de prevenção à prática de assédio moral, o Decreto Estadual nº 47.528/18


prioriza a adoçãodas seguintes medidas, sem prejuízo de outras que venham a ser
desenvolvidas:

I - inserir módulo específico sobre saúde do agente público e assédio


moral nos cursos de desenvolvimento gerencial ofertados para
ocupantes de cargos de direção e chefia, bem como no treinamento
introdutório e nas ações de desenvolvimento realizadas pelos órgãos e
entidades do Poder Executivo;
68

II - promover treinamento para agentes públicos que atuam nas


unidades setoriais de recursos humanos, com conteúdo que possibilite
identificar as condutas caracterizadas como assédio moral;
III - promover o acolhimento dos reclamantes e prestar orientações ao
reclamante e ao reclamado;
IV - difundir e implementar medidas preventivas à prática do assédio
moral no respectivo órgão ou entidade e incentivar a conciliação entre
as partes envolvidas;
V - realizar cursos de capacitação em conciliação para os agentes
públicos que atuam nas unidades setoriais de recursos humanos e para
os representantes de entidades sindicais ou associativas, visando à
difusão da cultura do diálogo na administração pública;
VI - efetuar contínuo processo educacional de prevenção à prática de
assédio moral por meio da promoção de debates e palestras, produção
de cartilhas e material gráfico informativo, videoconferência e fóruns;
VII - realizar debates, palestras, seminários, ações itinerantes e outros
eventos, por ocasião da Semana Estadual de Conscientização,
Prevenção e Combate à Prática de Assédio Moral no Âmbito da
Administração Direta e Indireta dos Poderes do Estado;
VIII - executar ações de prevenção, considerando a análise das
informações produzidas a partir do banco de dados do sistema de
registro das reclamações de assédio moral.

A Lei Complementar Estadual nº 116/11 ainda assegura que nenhum agente


público pode ser punido, posto à disposição ou ser alvo de medida discriminatória, direta
ou indireta, notadamente em matéria de remuneração, formação, lotação ou promoção,
por haver-se recusado a ceder à prática de assédio moral ou por havê-la, em qualquer
circunstância, testemunhado.
E, ainda, garante que nenhuma medida discriminatória concernente a
recrutamento, formação, lotação, disciplina ou promoção pode ser tomada em relação a
agente público levando-se em consideração:

I - o fato de o agente público haver pleiteado administrativa ou


judicialmente medidas que visem a fazer cessar a prática de assédio
moral;
II - o fato de o agente público haver-se recusado à prática de qualquer
ato administrativo em função de comprovado assédio moral.

A administração pública tomará medidas preventivas para combater o assédio


moral, com a participação de representantes das entidades sindicais ou associativas dos
servidores do órgão ou da entidade.
Os dirigentes dos órgãos e entidades da Administração Pública criarão comissões
de conciliação, com representantes da Administração e das entidades sindicais ou
associativas representativas da categoria, para buscar soluções não contenciosas para os
69

casos de assédio moral.

3.4 Da Saúde do Trabalhador

O assédio moral implica o comprometimento da saúde do trabalhador. Por essa


razão, a Superintendência Central de Perícia Médica e Saúde OcupacionaL (SCPMSO)
da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) definirá diretrizes para
acompanhamento dos agentes públicos envolvidos em episódios de assédio moral, bem
como para orientação às unidades setoriais responsáveis pelo atendimento biopsicossocial
e interdisciplinar nos órgãos e entidades do Poder Executivo.
O agente público submetido à prática de assédio moral pode estar sujeito à
avaliação da sua capacidade laborativa e a estudo de nexo causal para caracterização de
doença ocupacional.
O Estado providenciará acompanhamento psicológico para as vítimas de assédio
moral, bem como para os autores, em caso de necessidade.

3.5 Acolhimento do Reclamante eRegistro da Denúncia

Segundo o Decreto Estadual nº 47.528/18, o acolhimento do denunciante será


realizado pela Ouvidoria Geral do Estado (OGE) ou pela unidade setorial de recursos
humanos do órgão ou da entidade de lotação ou de exercício do agente público
identificado como parte ofendida, aos quais caberá:
✓ realizar a escuta de modo a garantir a confidencialidade das informações
apresentadas;
✓ informar ao denunciante sobre noções gerais acerca da prática de assédio moral e
os respectivos procedimentos de prevenção e enfrentamento;
✓ orientar a respeito dos elementos relevantes a serem registrados na manifestação.
O procedimento para o registro da denúncia de assédio moral será iniciado:

I - por provocação da parte ofendida ou, mediante sua autorização, por


entidade sindical ou associação representativa da categoria dos agentes
públicos envolvidos;
II -pela autoridade que tiver ciência ou notícia da prática de quaisquer
condutas que possam configurar assédio moral, conforme o disposto
neste decreto.
III - por agente público ou terceiro que tenha conhecimento de condutas
70

que possam configurar a prática de assédio moral em órgão ou entidade


da administração pública.

O registro da denúncia será realizado presencialmente ou através do sistema


eletrônico disponibilizado pela OGE na internet.
Recebida a denúncia, a OGE fará análise prévia quanto à existência de elementos
mínimos da irregularidade ou de indícios que permitam à Administração Pública
identificar a plausibilidade do alegado.
Em seguida, a OGE notificará, via sistema eletrônico, a unidade setorial de
recursos humanos do órgão ou da entidade de exercício do agente público e,
concomitantemente, cientificará o titular máximo do órgão, que deverá garantir a
confidencialidade das informações.
Caso a denúncia seja apresentada por terceiro, a OGE realizará contato com o
assediado para verificar seu interesse em dar continuidade ao processo e, em caso
negativo, será considerada informação para subsidiar ações de prevenção.

ATENÇÃO!
No âmbito da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, de onde o
Departamento Penitenciário de Minas Gerais é parte integrante, a prevenção e o
enfrentamento ao assédio moral é atribuição da Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor
(DAS), conforme estabelece o artigo 59 do Decreto Estadual nº 47.795/19.

3.6 Comissão de Conciliação

A Comissão de Conciliação, que exercerá suas atividades com independência e


imparcialidade, assegurado o sigilo necessário, a fim de preservar a intimidade das partes
envolvidas, será formada por até 05 (cinco) membros, com a seguinte composição:
✓ até 02 (dois) membros, sendo um indicado pelo denunciante e um indicado pelo
denunciado, que poderão ser integrantes de entidade sindical, associação
representativa das respectivas categorias ou agente público;
✓ até 03 (três) membros fixos, preferencialmente da unidade setorial de recursos
humanos, sendo dois titulares e um suplente.
Os membros fixos da Comissão de Conciliação deverão participar de ações de
capacitação cujo conteúdo compreenderá técnicas de conciliação e solução de conflitos e
71

outros temas relacionados à prevenção da prática de assédio moral.


Compete à Comissão de Conciliação:

I -acolher e orientar o agente público que formalizar denúncia sobre


prática de assédio moral;
II -realizar oitiva individual dos envolvidos na denúncia de assédio
moral, verificando se existe interesse dos mesmos na conciliação;
III - solicitar aos envolvidos a indicação de entidade sindical,
associação ou outro representante para acompanhar os trabalhos da
Comissão de Conciliação, caso julguem necessário;
IV - notificar formalmente os agentes públicos envolvidos, constando
data, horário e local da audiência de conciliação;
V - realizar a audiência de conciliação entre as partes envolvidas,
propondo soluções práticas para os conflitos relatados.

Encerrados os trabalhos da Comissão, obtida ou não a conciliação, o resultado


deverá ser reduzido a termo (ata de audiência) e assinado pelas partes, com a declaração
de extinção do procedimento conciliatório.
Não havendo interesse das partes em participar de audiência de conciliação ou não
obtido o acordo na fase de conciliação, a Comissão encaminhará a denúncia com toda a
documentação que instruir o procedimento à OGE, que, por sua vez, a remeterá para a
Controladoria Geral do Estado (CGE) para as devidas providências.

ATENÇÃO!
A Comissão de Conciliação não se pronunciará sobre a caracterização ou não de assédio
moral no caso concreto apresentado pelo denunciante, sem prejuízo da realização de
recomendação de caráter gerencial (artigo 13, §2º, do Decreto Estadual nº 47.528/18).

3.7 Punição à prática de Assédio Moral

A OGE encaminhará à CGE a denúncia de assédio moral em que não foi obtida
conciliação para a formulação de juízo de admissibilidade e, caso necessário, a
instauração do processo administrativo disciplinar.

ATENÇÃO!
Segundo o artigo 6º da Lei Complementar nº 116/11, “a prática de assédio moral será
apurada por meio do devido processo administrativo disciplinar, garantida a ampla
defesa, nos termos do art. 218 e seguintes da Lei nº – 869, de 5 de julho de 1952, ou
72

conforme legislação especial aplicável.”.

O assédio moral será punido com uma das seguintes penalidades:


✓ repreensão;
✓ suspensão;
✓ demissão.
Na aplicação das penalidades disciplinares serão consideradas a natureza e a
gravidade do ilícito, os danos que dele provierem para o serviço público, as circunstâncias
atenuantes e agravantes e os antecedentes funcionais do agente público.
O ocupante de cargo de provimento em comissão ou função gratificada que
cometer assédio moral se sujeita à perda do cargo ou da função e à proibição de ocupar
cargo em comissão ou função gratificada na Administração Pública estadual por 05
(cinco) anos.
O artigo 18 do Decreto Estadual nº 47.528/18 dispõe que “no órgão ou entidade
em cuja estrutura existir corregedoria, o processo administrativo disciplinar será
instaurado pelo seu titular”. Portanto, como já estudado no Tópico 1.9, no âmbito da
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, essa atribuição será do Núcleo de
Correição Administrativa (Nucad).
A responsabilidade administrativa pela prática de assédio moral independe das
responsabilidades cível e criminal.
Os atos praticados sob domínio de assédio moral poderão ser anulados quando
comprovadamente viciados.

PARA EXAMINAR:
Aluno(a), para ilustrar o tema estudado, leia abaixo os trechos da matéria jornalística
publicada pelo Portal R7 em 12/09/2022, que trata sobre denúncias de assédio moral
dentro do Ministério Público de São Paulo, e reflita sobre os males pessoais e
institucionais que essa prática gera.

SERVIDORES DENUNCIAM CASOS DE ASSÉDIO MORAL E SEXUAL DENTRO DO


MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO
Em questionário respondido por 777 funcionários, 76,4% afirmaram que já sofreram abuso
moral e 14,3%, sexual na instituição

SÃO PAULO | Joyce Ribeiro, do R7


12/09/2022 - 02H00 (ATUALIZADO EM 12/09/2022 - 09H29)
73

Perseguição, gritaria, desconfiança, pressão na execução do trabalho e diferença


de tratamento entre funcionários e promotores, procuradores e membros da diretoria são
exemplos de assédio moral sofrido por servidores do MP-SP (Ministério Público de São
Paulo). Relatos como esses são comuns entre as vítimas ouvidas pelo R7. Para tentar
modificar a cultura institucional, uma carta anônima foi enviada ao procurador-geral de
Justiça, Mario Sarrubbo.
O estopim foi o suicídio de um funcionário dentro da instituição. O analista
jurídico se jogou do prédio-sede do MP, na capital paulista, em 29 de junho, e morreu na
hora.
[...]
Entre os relatos de assédio sofrido dentro da instituição estão ameaças de que o
funcionário não vai passar em concurso, que vão investigar a vida pregressa do candidato,
que ele não vai ter boas referências, além da execução de funções como servir café ao
promotor, buscar o carro no lava-rápido— em geral, tarefas de cunho pessoal.
Também há casos de gritos e ameaças de abrir indevidamente um processo
administrativo, uma espécie de sindicância interna para apurar a conduta do funcionário.
[...]
Depois de cinco anos de carreira, uma ex-servidora, que também não será
identificada, decidiu deixar a instituição no ano passado. Ela não conseguiu se blindar
contra a pressão, engordou 15 quilos no processo e passou a sofrer de depressão profunda.
Ela denuncia a desigualdade de tratamento.
"Parecem besteiras, mas a água é diferente para servidores e promotores, os
banheiros são diferentes, até o papel higiênico. A gente sofria cobranças e represálias.
Não podia fazer uma pergunta e jogava trabalho no lixo. Chegou a um ponto em que
recebia uma mensagem, eu começava a tremer, chorar, me afetava demais", disse.
Segundo ela, o assédio é forte por parte de promotores, mas também de servidores
mais antigos. Ouviu gritos, reclamações, foi ignorada e sofreu ameaças, até que a
psiquiatra a alertou que não estava mais em condições de continuar na atividade.
"Foi destruindo minha saúde mental. Acordava à noite, do nada, com crises de
ansiedade. Hoje, estou muito melhor, mas não 100%. Continuo em tratamento, terapia, e
buscando outras áreas para trabalhar. Estou me afastando do mundo jurídico", revela. [...]

https://noticias.r7.com/sao-paulo/servidores-denunciam-casos-de-assedio-moral-e-sexual-dentro-do-ministerio-
publico-de-sao-paulo-12092022 Acesso em: 10/12/2022.

Questões para revisão e fixação


Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.

1. (Elaboração própria) Constituem modalidades de assédio moral previstas na Lei


74

Complementar Estadual nº 116/2011, que dispõe sobre a prevenção e a punição do assédio


moral na administração pública estadual:
A) Respeitar limitação individual de agente público, decorrente de doença física ou
psíquica, atribuindo-lhe atividade incompatível com suas necessidades especiais.
B) Fiscalizar o cumprimento das ordens dadas ao agente público, valendo-se do
poder hierárquico.
C) Desqualificar, ocasionalmente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a
autoestima, a segurança ou a imagem de agente público, valendo-se de posição
hierárquica ou funcional superior, equivalente ou inferior.
D) Subestimar, em público, as aptidões e competências de agente público.

2. (Elaboração própria) O Decreto Estadual nº 47.528/2018 regulamenta, no âmbito do


Poder Executivo de Minas Gerais, aLei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011,
que dispõe sobre a prevenção e a punição do assédio moral na Administração Pública
estadual.

Com base nessa legislação, julgue como verdadeiro (V) ou falso (F) as afirmativas a
seguir e assinale, ao final, a alternativa que contém a sequência correta:
( ) Considera-se assédio moral a conduta de agente público que tenha por objetivo ou
efeito degradar as condições de trabalho de outro agente público, atentar contra seu
patrimônio pessoal, comprometer sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento
afetivo-familiar.
( ) Somente existe assédio moral praticado pelo superior hierárquico contra o seu
subordinado.
( ) O procedimento para o registro da denúncia de assédio moral pode ser iniciado por
agente público ou terceiro que tenha conhecimento de condutas que possam configurar a
prática de assédio moral em órgão ou entidade da administração pública.
( ) A Comissão de Conciliação será formada por até cinco membros fixos, todos
servidores da Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais.
A) V – F – V – F
B) F – F – F – V
C) V – V – F – V
D) F –F – V – F
75

3. (Elaboração própria) Sobre a prática do assédio moral e considerando as disposições


contidas na Lei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011, é correto afirmar que:
A) A responsabilidade administrativa pela prática de assédio moral independe das
responsabilidades cível e criminal.
B) A administração pública tomará medidas preventivas para combater o assédio
moral, com a participação de representantes do Ministério Público e da
Defensoria Pública.
C) O Estado providenciará, na forma do regulamento, acompanhamento psicológico
apenas para os sujeitos passivos de assédio moral.
D) O ocupante de cargo de provimento em comissão ou função gratificada que
cometer assédio moral se sujeita à perda do cargo ou da função e à proibição de
ocupar cargo em comissão ou função gratificada na Administração Pública
estadual por três anos.

Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3
D D A
76

4 LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI Nº 13.869, DE 05 DE SETEMBRO DE


2019)

O poder conferido pelo Estado a um indivíduo para atuar em seu nome na


execução dos fins públicos não é um privilégio, mas, sim, um serviço que presta à
sociedade. O seu exercício não é ilimitado, pelo contrário, é condicionado pelo princípio
da legalidade e o seu mau uso sujeitará o titular às responsabilizações cabíveis.
Em qualquer Estado de Direito, as autoridades, eleitas ou não, se submetem às
imposições constitucionais e legais, razão pela qual devem ser punidas quando
ultrapassarem as suas atribuições, fugindo do interesse público, para a satisfação de
objetivos ilícitos ou de meros interesses pessoais.
Nesse contexto, no Brasil, foi editada a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965,
para regular o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de
abuso de autoridade, até ser revogada pela Lei nº 13.869/19.
Assim, a partir de então, a Lei nº 13.869/19 passou a definir os crimes de abuso
de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas
funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.
Embora reconheça a necessidade de uma nova regulamentação mais adequada e
atual para o abuso de autoridade, a doutrina adverte quanto à inconstitucionalidade de
alguns dispositivos da Lei nº 13.869/19. Vejamos:

Não há dúvidas quanto à ineficiência da antiga lei de abuso de


autoridade (Lei Federal nº 4.898/1965) pelas penas, em sua maioria,
baixas e sem real poder dissuassório.
Fazia-se, de fato, imperativa a aprovação de nova regulamentação sobre
o assunto. Já dissemos e repetimos aqui: quem abusa dos poderes
delegados pelo Estado, seja em qual função for, deve ser punido.
Não obstante isso, o texto aprovado, é forçoso reconhecer, padece de
algumas inconstitucionalidades e inconvencionalidades que merecem
reflexões preliminares.
[...]
Existem dispositivos que, a rigor, não obedecem a diversos princípios
constitucionais penais, tais como o da anterioridade e o da taxatividade.
[...]
Ocorre que, a lei é cheia de comandos vagos e imprecisos que impedem
a perfeita compreensão prévia do que se criminalizou. (PINHEIRO;
CAVALCANTE; BRANCO, 2020, p.15-16)

4.1 Noções sobre Direitos e Garantias Fundamentais e a Lei de Abuso de Autoridade


77

O Estado, por meio dos seus agentes, exerce seu poder sobre os cidadãos não de
forma absoluta, mas sim, limitada pela constituição e demais normas legais.
Ocorre que o limite da autoridade estatal através do mero respeito às leis (o que é
a marca do Estado de Direito) não impediu o Estado de cometer arbítrios e graves
violações aos direitos humanos, como ocorreu, por exemplo, no holocausto durante o
regime nazista na Alemanha. Por esse motivo, notadamente após a Segunda Guerra
Mundial, nasceu um movimento de incorporação expressa, sobretudo no texto
constitucional, de princípios e valores que buscavam defender o cidadão dos arbítrios que
poderiam vir a ser cometidos pelo Estado ou por quaisquer detentores do poder.
No Brasil, esse movimento de expressa incorporação de princípios e valores que
protegem o indivíduo contra os abusos do Estado ganhou destaque com a Constituição
Federal de 1988. Vejamos o que ensina a doutrina:

A nova ordem constitucional inaugurada em 1988 atribuiu como eixo


que informa todo o arcabouço jurídico brasileiro a promoção do bem
estar do homem, a partir de garantias das condições mínimas da sua
própria dignidade, que inclui, além da proteção dos direitos
fundamentais, condições materiais e espirituais básicas de existência. A
dignidade do ser humano desponta como valor supremo do
ordenamento jurídico brasileiro, daí erigindo o princípio da dignidade
da pessoa humana como o mais relevante do nosso sistema jurídico,
devendo por isso condicionar a interpretação e aplicação de todo o
direito positivo, seja público ou privado. (AMORIM, 2010)

Portanto, a consagração da dignidade da pessoa humana como princípio


fundamental da República Federativa do Brasil (artigo 1º, incisso III, da Carta Magna de
1988) obrigou que todo o sistema jurídico pátrio seja interpretado e aplicado visando a
promoção do bem-estar do cidadão, assegurando garantias mínimas para uma existência
digna.
Aliás, a própria Constituição Federal elencou um grande rol de direitos e garantias
fundamentais que asseguram valores fundamentais mínimos para uma sobrevivência
digna do ser humano, dentre eles, a proteção contra os abusos do Estado.
O artigo 5º da Lei Maior prevê uma extensa gama de direitos e garantias
fundamentais que protegem valores como vida, igualdade, liberdade, segurança,
propriedade, intimidade, honra, integridade física e moral, inviolabilidade do domicílio,
presunção de inocência e devido processo legal, contraditório, ampla defesa, dentre
outros. Seguem alguns dispositivos do mencionado artigo 5º que mais se relacionam com
a atividade penitenciária:
78

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
[...]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento
de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou
contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de
direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;
[...]
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser,
nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
b) de caráter perpétuo;
79

c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;
[...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
[...]
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou
à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
[...]
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
dados pessoais, inclusive nos meios digitais.
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.

Nesse contexto, surge a nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/19),


como decorrência da vontade constitucional, ampliando a proteção dos direitos e das
garantias individuais contra os abusos dos agentes públicos que atuam em nome do
80

Estadoe assegurando o regular funcionamento da Administração Pública.


Como será estudado, cada crime previsto na lei constitui violação a um direito ou
a uma garantia fundamental previsto na Constituição Federal.

4.2 Direito de Representação

O direito de representação estava expressamente previsto na antiga Lei de Abuso


de Autoridade (Lei nº 4.898/65) da seguinte forma:

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade


administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de
suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para
aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para
iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a
exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas,
no máximo de três, se as houver.

Assim, a Lei nº 4.898/65 possibilitou à vítima de qualquer abuso de poder


praticado por um agente público levar o fato ao conhecimento das autoridades públicas.
Ocorre que, a nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/19)não traz a
previsão do direito de representação por parte da vítima do abuso.Porém, isso não quer
dizer que não mais existe o direito de representação.
Hoje, em verdade, o direito de representação tem fundamento constitucional, pois
está previsto no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea “a”, da Lei Maior, que assim dispõe:
“XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o
direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;” (grifo nosso).
Portanto, ainda que a nova Lei de Abuso de Autoridade não disponha sobre o
direito de representação (diferentemente da lei anterior), a Constituição Federal assegura
o direitoque qualquer pessoa tem de apresentar requerimento ou representar aos Poderes
Públicos, de forma gratuita, em defesa dedireitose contra abusos de autoridade.
Em outras palavras, trata-se do direito fundamental titularizado por qualquer
81

pessoa de apresentar um pedido ao Poder Público para que adote as medidas adequadas
em relação à situações que envolvem atos ilegais ou abusos de poder.

4.3 Sujeito Ativo, Sujeito Passivo, Elemento Subjetivo e Tentativa

O artigo 1º da Lei nº 13.869/19 assim dispõe:

Art. 1° Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por


agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou
a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de
autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade
específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
§ 2° A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e
provas não configura abuso de autoridade. (grifo nosso)

No caput do artigo 1º, o legislador foi claro ao estabelecer que, além dos atos
praticados no exercício da função pública, também podem configurar crime de abuso de
autoridade as condutas praticadas pelo agente público fora do contexto do trabalho, desde
que se utilize das prerrogativas que o cargo lhe confere.
Dessa forma, se o ato for praticado durante as férias, por exemplo, também haverá
abuso de autoridade, pois está presente o vínculo funcional entre o agente público e o
Estado. Porém, conduta praticada no âmbito da vida privada do agente, desprovida de
qualquer elo ou de alegação de prerrogativa funcional, não caracteriza abuso de
autoridade.
Para a configuração do crime de abuso de autoridade, o §1º do artigo 1º da Lei nº
13.869/19 exige que a conduta praticada pelo agente público tenha como finalidade
específica (dolo específico) prejudicar alguém, beneficiar a si próprio ou a terceiro, ou,
ainda, capricho ou satisfação pessoal. Ou seja, condutas que se afastam do interesse
público e da impessoalidade, princípios que regem a Administração Pública.
Quando o dispositivo impõe dolo específico, fala-se em elemento subjetivo do
delito1, sem o qualnão há crime.
Ademais, considerando que a própria lei exige o dolo específico (artigo 1º, §1º),
o crime de abuso de autoridade será sempre doloso (inexistindo, portanto, sua modalidade

1
Os elementos subjetivos do crime sãoo dolo e a culpa que refletem a intenção, a vontade, do agente ao
praticar determinada conduta delituosa. Esse tema será abordado com maior detalhamento da disciplina
Direito Penal.
82

culposa).
No tocante à tentativa, os crimes de abuso de autoridade podem ou não admiti-la,
a depender da viabilidade do fracionamento dos atos executórios. Logo, a sua
possibilidade deve ser analisada considerando-se cada crime previsto na Lei nº 13.869/19.
Como exemplo, no crime de falta de comunicação de prisão, previsto no artigo 12, a
consumação do delito ocorre no exato instante da omissão dolosa, não sendo possível o
fracionamento dos atos executórios. Já o crime de inovação artificiosa, previsto no artigo
23, admite, em tese, a forma tentada.
O §2º do artigo 1º ressalva que a divergência na interpretação de lei ou na
avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade.Dessa maneira, o legislador
buscou resguardar a atividade do intérprete tanto no exame das normas, quanto na análise
de fatos e provas.
Outrossim, como já visto, o artigo 1º da Lei nº 13.869/19 indica que os crimes de
abuso de autoridade são “cometidos por agente público”. Porém, a definição de quem é
considerado “agente público” é feita pelo artigo 2º da referida lei, vejamos:

Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente


público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se
limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei,
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste
artigo. (grifo nosso)

O rol elencado nos incisos do artigo 2º é exemplificativo. O Parágrafo único


estabelece uma definição mais ampla do agente público.
De qualquer forma, os crimes de abuso de autoridade são próprios, isto é, exigem
uma qualidade especial do autor, o sujeito ativo do delito. No caso, essa qualidade
especial é ser agente público na forma definida pelo artigo 2º da Lei nº 13.869/19.
83

Já as vítimas (sujeito passivo) do crime de abuso de autoridade são: a pessoa


diretamente prejudicada pela conduta abusiva e o Estado que teve a sua imagem e
confiabilidade ofendidas quando um agente público pratica ato abusivo.

4.4 Da Responsabilidade Administrativa, Civil e Penal

A Lei nº 13.869/2019 não prevê sanções administrativas ou civis específicas a


serem aplicadas no caso de prática de crime de abuso de autoridade, mas apenas reforça
a independência das instâncias.
Dessa forma, assim como a lei anterior, a Lei nº 13.869/19 manteve a
responsabilização do agente público nas esferas cível, penal e administrativa, sendo que
elas são independentes, podendo o agente ser condenado em todas elas.
As penas cominadas para os crimes previstos na nova Lei de Abuso de Autoridade
serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa
cabíveis.
A notícia de crime de abuso de autoridade que também corresponder à falta
disciplinar será informada à autoridade administrativa competente para fins de apuração
e possível responsabilização funcional do agente público.
As responsabilidades civil e administrativa são independentes da penal, não se
podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões
tenham sido decididas no juízo criminal.
Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a
sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em excludentes de ilicitude
previstas no artigo 23 do Código Penal, são elas: estado de necessidade (conflito entre
bens juridicamente protegidos, de modo que se considera lícito o sacrifício de um deles
para salvar o outro de perigo atual não provocado pela vontade do agente), legítima defesa
(uso moderado dos meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a
direito próprio ou de outrem), estrito cumprimento de dever legal (atuação que obedece
a determinação legal, isto é, aquela decorrente de norma jurídica, como leis, decretos,
regulamentos, etc.) ou exercício regular de direito (prática de uma conduta permitida por
lei).

4.5 Crimes de Abuso de Autoridade


84

A Lei nº 13.869/19 prevê 25 crimes de abuso de autoridade, de modo que serão


abordados apenas os delito sque podem afetar os servidores da Polícia Penal.

4.5.1 Decretar Prisão Manifestamente Ilegal (Artigo 9º)

“Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade


com as hipóteses legais: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”.
O tipo penal busca proteger o direito fundamental à liberdade de locomoção,
evitando a sua restrição indevida por meio de decretação de prisão manifestamente ilegal.
Em regra, apenas magistrados podem decretar prisão, porém, nas hipóteses de
flagrante delito, o policial pode dar voz de prisão a alguém2.
O crime se consuma no momento em que ocorre a decretação da medida privativa
de liberdade.

4.5.2 Constrangimento Ilegal do Preso (Artigo 13)

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave


ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não
autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da
pena cominada à violência.

O tipo penal busca proteger o direito fundamental à honra, à imagem, à dignidade


do preso, assegurando o respeito à sua integridade física e moral.

4.5.3 Constrangimento a Depor (Artigo 15)

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em


razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo
ou resguardar sigilo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o
interrogatório:
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou

2
Artigo 301 do Código de Processo Penal: “Art. 301.Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.”.
85

defensor público, sem a presença de seu patrono. (grifo nosso)

O tipo penal busca proteger o direito fundamental à liberdade individual da pessoa


ameaçada e a garantia de vedação de provas ilícitas.

4.5.4 Obstrução Ilegal de Pleito de Preso (Artigo 19)

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de


preso à autoridade judiciária competente para a apreciação da
legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do
impedimento ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a
saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de
enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.

O tipo penal busca proteger o direito fundamental de petição. Não se trata de uma
permissão para o envio de todo e qualquer tipo de manifestação do preso ao Poder
Judiciário, mas somente dos pleitos relativos à legalidade da prisão ou das condições do
encarceramento.

4.5.5 Impedimento de Entrevista do Preso com Advogado (Artigo 20)

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do


preso com seu advogado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu
solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com
seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência
judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a
audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência
realizada por videoconferência.

O tipo penal busca proteger o direito do preso à entrevista do preso com o seu
defensor como meio necessário para a efetivação da ampla defesa.

4.5.6 Violação à Separação de Presos (Artigo 21)

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de


confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma
86

cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em


ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

O tipo penal busca proteger o direito à incolumidade física das presas do sexo
feminino e, ainda, a condição especial das crianças e adolescentes como pessoas em
desenvolvimento.

4.5.7 Inovação Artificiosa (Artigo 23)

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação


ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de
eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente
alguém ou agravar-lhe a responsabilidade:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com
o intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso
praticado no curso de diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações
incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência ou do
processo.

O tipo criminaliza a conduta humana fraudulenta que altera o estado de lugar, de


coisa ou de pessoa, no curso de diligência, investigação ou processo, com o fim de eximir-
se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a
responsabilidade.

4.5.8 Constrangimento para Admissão Hospitalar de Pessoa em Óbito (Artigo 24)

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou


empregado de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para
tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar
local ou momento de crime, prejudicando sua apuração:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena
correspondente à violência.

Embora não se limite a tais casos, esse dispositivo tem incidência principal em
mortes decorrentes de intervenção policial.
Busca preservar a investigação criminal sobre condutas de agentes públicos que
ocasionem o óbito de alguém.
87

4.5.9 Obtenção ou Uso de Prova Manifestamente Ilícita (Artigo 25)

Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de


investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em
desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de
sua ilicitude.

O tipo busca efetivar o dispositivo constitucional de inadmissibilidade de provas


obtidas por meios ilícitos. Decorre do dever de lealdade do Estado para com o cidadão,
exigindo do agente público um compromisso ético maior ao adotado por delinquentes.

4.5.10 Requisição ou Instauração de Procedimento Investigatório Penal ou


Administrativo sem Qualquer Indício (Artigo 27)

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento


investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de
alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou
investigação preliminar sumária, devidamente justificada.

Esse tipo penal garante que nenhum procedimento investigatório seja aberto sem
um mínimo de indício da prática de crime ou infração ou funcional.

4.5.11 Negativa de Acesso aos Autos de Procedimento Investigatório e Cópia de


Documentos (Artigo 32)

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos


autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito
ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil
ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado
o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a
realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O tipo busca assegurar a garantia constitucional da ampla defesa, por meio de


acesso dos investigados aos autos de qualquer investigação em que esteja envolvido, seja
88

ela criminal, civil ou administrativa.

4.6 Procedimento

A nova Lei de Abuso de Autoridade não estabelece um procedimento próprio para


a apuração dos crimes que prevê. O seu artigo 39 dispõe que se aplicam ao processo e ao
julgamento dos delitos, no que couber, as disposições do Código de Processo Penal e da
Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais).

4.7 Efeitos da condenação

O artigo 4º da nova Lei de Abuso de Autoridade impõe os seguintes efeitos


decorrentes da condenação pelos seus crimes:
✓ tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz,
a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos
danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;
✓ a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período
de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Esse efeito não é automático, devendo ser declarado
motivadamente na sentença, e está condicionado à ocorrência de reincidência em
crime de abuso de autoridade;
✓ a perda do cargo, do mandato ou da função pública. Este efeito não é automático,
devendo ser declarado motivadamente na sentença, e está condicionado à
ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade.
Assim, temos que a condenação por crime de abuso de autoridade não gera
automaticamente a perda do cargo, o que somente irá acontecer como consequência da
condenação se o criminoso for reincidente específico em crime de abuso de autoridade.

Questões para revisão e fixação


Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.

1. (CETAP - 2021 - SEAP - PA - Policial Penal - Agente Penitenciário Masculino)


Considere que determinado agente penitenciário, com a finalidade específica de
beneficiar terceiro, constrangeu preso sob sua custódia, mediante violência, a produzir
89

prova contra si mesmo.


Nesse caso, é correto afirmar, conforme a Lei n.º 13.869, de 05 de setembro de 2019 (Lei
de Abuso de Autoridade) e suas alterações, que:
A) o agente não cometeu crime de abuso de autoridade, eis que não é considerado
como autoridade na forma da Lei n.º 13.869, de 05 de setembro de 2019.
B) o agente cometeu crime de abuso de autoridade, cuja pena cominada é de
detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, sem prejuízo da pena cominada à violência.
C) o agente não cometeu crime de abuso de autoridade, já que a conduta descrita não
está tipificada na Lei n.º 13.869, de 05 de setembro de 2019.
D) o agente cometeu crime de abuso de autoridade, dado o emprego de violência. Se,
no entanto, tivesse constrangido o preso mediante grave ameaça, a conduta seria
atípica, ainda que praticada com as mesmas finalidades.

2. (CETAP - 2021 - SEAP - PA - Policial Penal - Agente Penitenciário Masculino) De


acordo com a Lei.º 13.869, de 05 de setembro de 2019 e suas alterações, é sujeito ativo
do crime de abuso de autoridade:
A) somente militares ou pessoas a eles equiparadas.
B) somente membros das carreiras de segurança pública.
C) somente membros do Poder Executivo.
D) qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios e de Território.

3. (CETAP - 2021 - SEAP - PA - Policial Penal - Agente Penitenciário Feminino) Elano,


servidor público, praticou, no exercício de suas funções, conduta que se enquadra em um
dos crimes tipificados na Lei n.º 13.869, de 5 de setembro de 2019, e suas alterações. Essa
mesma conduta também é considerada violação a dever funcional, passível de sanção na
esfera administrativa, além de ter causado danos indenizáveis a terceiro.
Nesse caso, é correto afirmar, conforme a Lei n.º 13.869, de 5 de setembro de 2019:
A) A ação penal somente pode ser intentada se forem também adotadas as medidas
judiciais para apuração da responsabilidade administrativa e da responsabilidade
civil.
B) Em razão da independência entre as esferas criminal, administrativa e civil, a
notícia do crime que também descreve falta funcional não poderá ser informada à
90

autoridade competente com vistas à apuração.


C) Se ficar decidido no juízo criminal que Elano não praticou o ato, isso não poderá
ser mais questionado no âmbito civil.
D) Além de independentes, as esferas criminal, administrativa e civil são
incomunicáveis, pelo que caso fique constatado que Elano praticou o ato em
legítima defesa, a sentença penal não fará coisa julgada em âmbito cível e no
administrativo-disciplinar.

4. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-SE - Escrivão de Polícia) Acerca dos crimes de


abuso de autoridade, julgue o item a seguir.
A perda do cargo em razão de condenação por crime de abuso de autoridade é de efeito
automático, procedendo-se o afastamento do servidor público a partir do recebimento
da denúncia.
( ) Certo
( ) Errado

Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4
B D C Errado
91

5 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429, DE 02 DE JUNHO


DE 1992)

Inicialmente, cabe esclarecer que a palavra “probidade” significa integridade,


honestidade.
A Constituição Federal, em seu artigo 37, § 4º, prevê a necessidade de punição
para aqueles que praticam atos de improbidade administrativa:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão


dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos
bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei,
sem prejuízo da ação penal cabível.

De efeito, em 1992, foi editada a Lei nº 8.429, conhecida comoLei de Improbidade


Administrativa, com fundamento no mencionado dispositivo constitucional, a qual dispõe
sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade.Porém,em 2021,
essa lei foi profundamente alterada, trazendo importantes inovações.
A Leinº8.429/92 dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos
de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da Constituição Federal,
como forma de proteger a probidade na organização do Estado e no exercício de suas
funções, além de tutelar a integridade do patrimônio público e social dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no
âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
Assim, por meio de um regime sancionatório específico, o legislador buscou
proteger a probidade no trato com a coisa pública, evitando ou coibindo condutas que
causem lesão patrimonial ou moral à Administração Pública, enriquecimento ilícito, e
responsabilizando o agente público desonesto.
Para tanto, a Lei de Improbidade Administrativa considera agente público o agente
político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
Segundo o artigo 1º, §3º1, da Leinº8.429/92, danos culposos, isto é,

1
“§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato
92

aquelesdecorrentes de imprudência, imperícia ou negligência, não podem mais ser


configurados como atos de improbidade, pois a lei passou exigir o dolo (vontade livre e
consciente de alcançar o resultado ilícito) para responsabilização por improbidade.
Os artigos 9º a 11 da Lei nº 8.429/92 definem trêscategorias de atos de
improbidade administrativa. São eles:
✓ os que causam prejuízo ao erário;
✓ os que importam enriquecimento ilícito;
✓ os que atentam contra os princípios da administração pública.

ATENÇÃO!
A Lei nº 8.429/92 considera como mais graves os atos que importam enriquecimento
ilícito, cominando, assim, sanções mais duras. Em seguida, estão os atos que causam
prejuízo ao erário. E com menor gravidade, encontram-se aqueles que atentam contra
princípios da Administração Pública.

Nessa oportunidade, estadaremos os atos de improbidade administrativa que


importam enriquecimento ilícito, previstos no artigo 9º da Lei nº 8.429/92.

5.1 Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito


(artigo 9º)

Qualquer tipo devantagem patrimonial indevida recebida, mediante a prática de


ato doloso, em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade
pública é considerado ato de improbidade administrativa que importa enriquecimento
ilícito.
O artigo 9º da Lei nº 8.429/92, transcrito a seguir, elenca um rol exemplificativo
de condutas consideradas atos de improbidade administrativa que geram enriquecimento
ilícito. Portanto, a prática de outras condutas que, embora não expressamente previstas na
lei, se enquadrem nas definições de “enriquecimento ilícito”, poderá também ser
caracterizada como ato de improbidade administrativa.

Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando em


enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso,

doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.”
93

qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício


de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas
entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou
qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de
comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha
interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por
ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a
contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço
superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de
serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à
disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei,
bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros
contratados por essas entidades;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de
propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art.
1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados ou de
terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de
lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer
outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em
obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso,
medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos
a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que
envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade,
peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens
fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo,
emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja
desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de
cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de
qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo,
cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do
agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude da
origem dessa evolução;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou
assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse
suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente
das atribuições do agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou
aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a
94

que esteja obrigado;


XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1°
desta lei.

Em consequência da prática de ato de improbidade administrativa que importe em


enriquecimento ilícito, o artigo 12, inciso I, da Lei nº 8.429/92 estabelece as seguintes
sanções, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade
do fato:
✓ perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
✓ perda da função pública;
✓ suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos;
✓ pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial;
✓ proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos;
Além das sanções previstas no referido artigo 12 da Lei nº 8.429/92, o autor ainda
pode ser responsabilizado nas esferas penal, civil e administrativa.

Questões para revisão e fixação


Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.

1. (UNIOESTE - 2022 - Prefeitura de Ramilândia - PR - Auxiliar Administrativo) A Lei


n.º 8.429 disciplina a Improbidade Administrativa e estabelece alguns procedimentos nos
casos de enriquecimento ilícito no exercício de cargo, de emprego ou de função da
administração pública direta, indireta ou fundacional.
Entre as alternativas a seguir, assinale a única exceção que não está prevista nessa lei:
A) Suspensão dos direitos políticos.
B) Disponibilidade dos bens.
C) Perda da função pública.
D) Ressarcimento ao erário.
95

2. (Quadrix - 2022 - CRP 18ª Região MT - Auxiliar Administrativo de Secretaria) À luz


do disposto na Lei n.° 8.429/1992, julgue o item.
As sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa incidirão, exclusivamente,
nos agentes públicos que gozem de vínculo permanente com a Administração Pública.
( ) Certo
( ) Errado

3. (Quadrix - 2022 - CRP 18ª Região MT - Auxiliar Administrativo de Secretaria) À luz


do disposto na Lei n.° 8.429/1992, julgue o item.
Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que
seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.
( ) Certo
( ) Errado

4. (Quadrix - 2022 - CRMV-RJ - Auxiliar Administrativo) De acordo com as disposições


da Lei n.º 8.429/1992, julgue o item.
A comprovação de ato doloso com fim ilícito constitui elemento indispensável para a
caracterização do ato de improbidade administrativa.
( ) Certo
( ) Errado

Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4
B Errado Certo Certo
96

6 LEI DE TORTURA (LEI Nº 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997)

Por meio de tratados internacionais do qual foi signatário, o Brasil se obrigou no


plano internacional a combater os crimes de tortura1.
Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 tratou do delito de tortura em dois
dispositivos que tratam sobre direitos e garantias fundamentais:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;”
[...]
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem;

O artigo 1º da Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanos ou Degradantes traz o conceito de tortura, nos seguintes termos:

Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer


ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são
infligidos intencionalmente a uma pessoaa fim de obter, dela ou de
uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por
ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita
de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras
pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de
qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos
por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos
que sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sanções ou delas decorram.

Nesse contexto, foi editada a Lei nº 9.455/97, conhecida como Lei de Tortura.

1
“O Brasil foi signatário de dois tratados internacionais, por meio dos quais se obrigou a reprimir os crimes
de tortura. O primeiro tratado foi a Convenção contra tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes, de 1984. O segundo tratado foi a Convenção Interamericana para Previnir e
Punir a Tortura, de 1985.” (HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume único. 10. ed. Salvador:
JusPodivm, 2018, p.1071).
97

ATENÇÃO!
O artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal e o artigo 2º da Lei nº 8.072/90
equiparam o delito de tortura a crimes hediondos para efeitos penais e processuais. Frise-
se: tortura não é crime hediondo, mas sim, equiparado, assemelhado, a hediondo.

6.1 Dos Crimes em Espécie: Tortura-Prova, Tortura para a Prática de Crime e


Tortura-Discriminatória, Tortura-Castigo, Tortura do Preso ou de Pessoa
Sujeita à Medida de Segurança, Omissão perante a Tortura

O artigo 1º da Lei nº 9.455/97 define o crime de tortura como:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a
medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da
prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever
de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro
anos.

Como visto, conforme previsto na Lei nº 9.455/97, salvo exceções legais, tortura
é um delito comum, isto é, pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo a
qualidade especial de funcionário público.
As condutas tipificadas no artigo 1º são definidas pela doutrina da seguinte forma:
✓ Tortura-prova (artigo 1º, inciso I, alínea “a”): Constranger alguém com emprego
de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o
fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
O delito se consuma com o constrangimento2 causador de sofrimento à vítima,

2
Constranger no sentido de coagir, obrigar alguém a fazer algo que não queira, restringindo sua liberdade e
anulando completamente a sua vontade.
98

sendo irrelevante a efetiva obtenção da informação pretendida. A informação,


declaração ou confissão obtida por esta via constitui prova obtida por meio ilícito,
o que é vedado pelo ordenamento jurídico.
✓ Tortura-crime (artigo 1º, inciso I, alínea “b”): Constranger alguém com emprego
de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental para
provocar ação ou omissão de natureza criminosa. O delito se consuma com o
constrangimento causador de sofrimento à vítima.
✓ Tortura-discriminatória (artigo 1º, inciso I, alínea “c”): Constranger alguém com
emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental
em razão de discriminação racial ou religiosa. Por ausência de previsão legal, não
caracteriza esse delito se o constrangimento foi motivado por outras formas de
discriminação, como política, de gênero ou de nacionalidade, mas apenas racial
ou religiosa como descrito no tipo penal. Esse tipo de tortura se consuma com o
constrangimento causador de sofrimento à vítima.
✓ Tortura-castigo (artigo 1º, inciso II): Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou
autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo. Somente pode ser praticado por quem esteja em relação de guarda,
poder ou autoridade com a vítima (crime próprio). Esse tipo de tortura se consuma
com o constrangimento causador de sofrimento à vítima.
✓ Tortura do preso ou de pessoa sujeita à medida de segurança (artigo 1º, §1º):
Submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou
mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal. Trata-se de crime próprio que somente pode ser praticado por quem
tiver a guarda de pessoa presa ou sujeita a medida de segurança. Esse tipo de
tortura se consuma com o constrangimento causador de sofrimento à vítima.
✓ Omissão perante a tortura (artigo 1º, §2º): Aquele que se omite em face dessas
condutas que configuram tortura, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las.
Aqui o agente tem o dever de evitar ou apurar a prática dos delitos de tortura, mas
não o faz. Trata-se de crime próprio que somente pode ser cometido por quem tem
o dever de evitar ou apurar a prática dos delitos de tortura. Consuma-se com a
omissão do agente.
99

6.2 Formas Qualificadas e Causas de Aumento de Pena

O crime de tortura adquire forma qualificada em duas hipóteses, ambas


decorrentes da violência empregada para a prática do delito:
✓ Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão
de quatro a dez anos;
✓ Se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
Além das duas qualificadoras mencionadas, a Lei nº 9.455/97 ainda prevê causas
de aumento de pena de um sexto a um terço, aplicáveis a todas as formas de tortura, nas
seguintes hipóteses:
✓ Se o crime é cometido por agente público;
✓ Se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,
adolescente ou maior de 60 (sessenta anos);
✓ Se o crime é cometido mediante sequestro.

6.3 Efeitos da Sentença Condenatória

A condenação pela prática do crime de tortura gera:


✓ a perda do cargo, função ou emprego público;
✓ a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
Sobre os efeitos da sentença condenatória na Lei nº 9.455/97, importante a
doutrina do professor Gabriel Habib (2018, p.1089):

Perda do cargo e interdição para seu exercício. Trata-se de efeito da


condenação, que só pode ser aplicado após o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória. Esse efeito é automático e decorre da
condenação, não sendo necessária motivação expressa na sentença.
[...]
No art. 1º, §5º, da lei 9.455/97, a lei trata não só da perda do cargo,
como também da interdição, que é a impossibilidade de vir a se ocupar
cargo ou função pública, com efeitos futuros.

6.4 Vedações Processuais e Penais

A Lei nº 9.455/97 estabelece que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível


de graça ou anistia.
100

Portanto, fica vedada a concessão de fiança3, da graça4 e da anistia5.

6.5 Regime Inicial de Cumprimento de Pena

Embora a Lei nº 9.455/97 disponha que o condenado por crime de tortura, salvo a
hipótese do artigo 1º, § 2º (omissão), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado,
o Supremo Tribunal Federal (STF) entende que o “regime inicial fechado” é
inconstitucional por violar o princípio da individualização da pena6.

6.6 Revogação do artigo 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente

O artigo 4º da Lei nº 9.455/97 revogou expressamente o artigo 233 do Estatuto da


Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), que previa o crime de tortura praticada contra
criança ou adolescente que estivesse sob autoridade, guarda ou vigilância do autor.
Todavia, essa revogação não importou na abolição do crime de tortura cometida
contra criança e adolescente, conquanto a abrangência da Lei nº 9.455/97 é ampla,
permitindo que qualquer pessoa seja vítima de tortura, inclusive menores.
Vale lembrar que, sendo a tortura cometida contra criança e adolescente, ainda
incide a causa de aumento de pena de um sexto até um terço, na forma do artigo 1º, §4º,
II, daLei nº 9.455/97.

Questões para revisão e fixação


Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.

1. (FUNDATEC - 2022 - SUSEPE-RS - Agente Penitenciário) Octávio, policial penal,


com o objetivo de castigar o preso Daniel, que estava sob a sua custódia, aplicou diversos
golpes, com uma tonfa, no corpo do detento, causando-lhe intenso sofrimento físico. O

3
Fiança é uma garantia patrimonial prestada pelo acusado que visa o pagamento das custas processuais,
indenização em caso de condenação e eventual multa, podendo ser aplicada como condição para a
concessão da liberdade provisória e como medida cautelar diversa da prisão.
4
Graça é o perdão da pena concedida a um condenado pelo Presidente da República.
5
Anistia é uma forma de extinção da punibilidade que retroage apagando todos os efeitos criminais da
sentença condenatória. É concedida através de lei pelo Congresso Nacional e está ligada a fatos
específicos de natureza política.
6
Este princípio será abordado com maior detalhamento na discipina Direito Penal.
101

fato foi descoberto e confirmado em juízo, resultando na condenação de Octávio, com


trânsito em julgado, pela prática do crime de tortura, no exercício de suas funções.
Com base na Lei nº 9.455/1997, assinale a alternativa correta.
A) A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
B) A condenação com trânsito em julgado não acarretará a perda automática do cargo
público, sendo necessária a fundamentação específica no caso concreto.
C) A condenação acarretará a perda do cargo, do mandato ou da função pública e a
inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período
de 1 a 5 anos.
D) A condenação acarretará a perda do cargo, do mandato ou da função pública e a
inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, por até 5 anos.
E) Não há previsão de perda do cargo na lei que define os crimes de tortura.

2. (SELECON - 2022 - SEJUSP-MG - Policial Penal - Agente Penitenciário) No tocante


aos crimes de tortura previstos na Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997, é correto afirmar
que:
A) o início do cumprimento da pena será em regime fechado para o agente que se
omitir em face do sofrimento físico e mental de pessoa presa provocado por
outrem, quando tinha o dever de evitá-lo ou apurá-lo.
B) o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia e sua pena é
reclusão de quatro a dez anos.
C) haverá aumento de pena em um sexto até um terço se o crime for cometido
mediante sequestro.
D) a condenação pelo crime de tortura acarretará a perda do cargo, função ou
emprego público e a interdição para seu exercício pela metade do prazo da pena
aplicada.

3. (CETAP - 2021 - SEAP - PA - Policial Penal - Agente Penitenciário Masculino) Na


chamada tortura para a prática de crime, a consumação ocorre:
A) quando é obtida em razão de discriminação racial ou religiosa.
B) apenas quando ocorre lesão corporal de natureza grave ou gravíssima na vítima.
C) apenas quando a violência ou a grave ameaça causar sofrimento físico na vítima.
D) quando a violência ou a grave ameaça causar sofrimento físico ou mental na
102

vítima.

4. (CETAP - 2021 - SEAP - PA - Policial Penal - Agente Penitenciário Feminino) Ainda


sobre a Lei n.º 9.455, de 07 de abril de 1997, e suas alterações, aquele que se omite em
face das condutas que constituem crime de tortura, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las:
A) incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
B) a pena é de reclusão de quatro a dez anos.
C) a pena é reduzida em até um terço.
D) não será penalizado, vez que não há penalidade prevista na lei para essa conduta.

5. (CETAP - 2021 - SEAP - PA - Policial Penal - Agente Penitenciário Feminino) Em


conformidade com a Lei n.º 9.455, de 07 de abril de 1997, e suas alterações, o crime de
tortura, se cometido por agente público:
A) deixa de ser inafiançável.
B) é suscetível de graça ou anistia.
C) iniciará o cumprimento da pena em regime semiaberto.
D) tem a pena aumentada de um sexto até um terço.

Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5
A C D A D
103

REFERÊNCIAS

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Direito. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2899, 9 jun. 2011.
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AMORIM, Eduardo Antonio Andrade. O superendividamento do consumidor. Revista


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Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17597>. Acesso em: 11 dez. 2022.

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Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. Diário
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Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União: Brasília, 16 de Julho de
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termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.
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BRASIL. Leinº8.429,de02dejunhode1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude


104

da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da


Constituição Federal; e dá outras providências.(Redação dada pela Lei 14.230, de
25/10/2021). Diário Oficial da União: Brasília, 03 de junho de 1992.

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MINAS GERAIS. Decreto nº44.559, de 29 de junho de 2007. Regulamenta a Avaliação


de Desempenho Individual do servidor estável ocupante de cargo efetivo do detentor de
função pública da Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional do Poder
Executivo Estadual. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 30 de junho de 2007.

MINAS GERAIS. Decretonº46.644,de06denovembro2014. Dispõe sobre o Código de


105

Conduta Ética do Agente Público e da Alta Administração Estadual.Diário Oficial do


Executivo: Belo Horizonte, 07 de novembro de 2014, p. 01 – RetificaçãoDiário Oficial
do Executivo, 18 de novembro de 2014.

MINAS GERAIS. Decreto 47.528, de 12 de novembro de 2018. Regulamenta, no âmbito


do Poder Executivo, a Lei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011, que dispõe
sobre a prevenção e a punição do assédio moral na administração pública estadual. Diário
Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 13 de novembro de 2018, p. 01 – Retificação
Diário Oficial do Executivo, 01 de dezembro de 2018.

MINAS GERAIS. Decreto nº 45.851, de 28 de dezembro de 2011. Regulamenta o estágio


probatório e a avaliação especial de desempenho do servidor público civil ocupante de
cargo de provimento efetivo em virtude de aprovação em concurso público da
administração pública direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo
Estadual.Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 29 de dezembro de 2011, p. 10.

MINAS GERAIS. Decreto nº47.795, de 19 de dezembro de 2019.Dispõe sobre a


organização da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Diário Oficial do
Executivo: Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2019.

MINAS GERAIS. Decreto nº 47.528, de 12 de novembro de 2018. Regulamenta, no


âmbito do Poder Executivo, a Lei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011, que
dispõe sobre a prevenção e a punição do assédio moral na administração pública
estadual.Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 13 de novembro de 2018, p. 01 –
Retificação em 01 de dezembro de 2018.

MINAS GERAIS. Decreto nº 48.176, 15 de abril de 2021. Dispõe sobre as concessões de


afastamento para estudo ou aperfeiçoamento profissional ao servidor público da
Administração direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo e dá outras
providências. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 16 de abril de 2021.

MINAS GERAIS. Decreto nº 48.249, de 05 de agosto de 2021. Dispõe sobre a concessão


de licença para tratamento de saúde para servidores ocupantes de cargo de provimento
efetivo no âmbito da Administração Pública direta, autárquica e fundacional do Poder
Executivo.Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 05 de agosto de 2021.

MINAS GERAIS. Decreto nº48.348, de 10 de janeiro de 2022. Estabelece normas gerais


para o cumprimento da jornada de trabalho e a apuração de frequência dos servidores
públicos civis da Administração Pública direta, autárquica e fundacional do Poder
Executivo. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 11 de janeiro de 2022.

MINAS GERAIS. Decreto nº 48.419, de 16 de maio de 2022. Dispõe sobre a Política


106

Mineira de Promoção da Integridade. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 17


de maio de 2022.

MINAS GERAIS. Lei nº 869, de 05 de julho de 1952. Estatuto dos Funcionários Públicos
Civis do Estado de Minas Gerais. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 6 de
julho de 1952.

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quadros de pessoal, diretrizes para a classificação e avaliação de cargos, Conselho
Estadual de Política de Pessoal e reajustamento de vencimentos e dá outras
providências.Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 12 de julho de 1972.

MINAS GERAIS. Lei nº 18.879, de 27 de maio de 2010. Dispõe sobre a prorrogação, por
sessenta dias, da licença-maternidade, no âmbito da administração pública direta,
autárquica e fundacional do Poder Executivo estadual. Diário Oficial do Executivo: Belo
Horizonte, 28 de maio de 2010.

MINAS GERAIS. Lei Complementar nº 71, de 30 de julho de 2003. Institui a avaliação


periódica de desempenho individual, disciplina a perda de cargo público e de função
pública por insuficiência de desempenho do servidor público estável e do detentor de
função pública na Administração Pública direta, autárquica e fundacional do Poder
Executivo e dá outras providências. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 31 de
julho de 2003.

MINAS GERAIS. Lei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011. Dispõe sobre a


prevenção e a punição do assédio moral na administração pública estadual. Diário Oficial
do Executivo: Belo Horizonte, 12 de janeiro de 2011, p. 01.

MINAS GERAIS. Lei Complementar nº 121, de 29 de dezembro de 2011. Altera a Lei


Complementar nº 64, de 25 de março de 2002, que institui o Regime Próprio de
Previdência e Assistência Social dos servidores públicos do Estado de Minas Gerais e dá
outras providências.Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 30 de dezembro de
2011.

MINAS GERAIS. Portaria SUAPI 039, de 19 de dezembro de 2014. Diário Oficial do


Executivo: Belo Horizonte, 23 de dezembro de 2014.

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2014. Estabelece normas complementares relativas ao registro, controle e apuração da
frequência dos servidores públicos nos termos da Lei nº 869/1952 e Lei n.º 18.185/2009
em exercício nas Unidades Prisionais, Socioeducativas e demais Unidades da Secretaria
de Estado de Defesa Social, fora do âmbito da Cidade Administrativa. Diário Oficial do
107

Executivo: Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2014.

MINAS GERAIS. Resolução SEPLAG nº 59, de 28 de novembro de 2005. Regulamenta


a concessao de licenca por motivo de doenca em pessoa da familia para servidores
ocupantes de cargo de provimento efetivo e funcao publica no ambito da Administracao
Publica Direta, Autarquica e Fundacional do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais,
prevista no art. 176 da Lei Estadual nº 869 de 05 de julho de 1952. Diário Oficial do
Executivo: Belo Horizonte, 30 de novembro de 2005.

NETO, Fernando Ferreira Baltar; TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito
Administrativo – Coleção Sinopses para Concursos. 8. Ed. Salvador: JusPodivm,
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