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MINAS GERAIS
2023
SUMÁRIO
1.7 Licenças (para tratamento de saúde, à funcionária gestante, por motivo de doenças
em pessoas da família, para serviço militar, para tratar de interesses particulares, à
funcionária casada com funcionário) .......................................................................... 26
6.1 Dos Crimes em Espécie: Tortura-Prova, Tortura para a Prática de Crime e Tortura-
Discriminatória, Tortura-Castigo, Tortura do Preso ou de Pessoa Sujeita à Medida de
Segurança, Omissão perantea Tortura ........................................................................ 97
1
Constituição Federal de 1988: “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos
desta Constituição.”.
5
[...]
Regime estatutário é o conjunto de regras que regulam a relação
jurídica funcional entre o servidor público estatutário e o Estado.
Esse conjunto normativo, como vimos acima, se encontra no estatuto
funcional da pessoa federativa. As regras estatutárias básicas devem
estar contidas em lei; há outras regras, todavia, mais de caráter
organizacional, que podem estar previstas em atos administrativos,
como decretos, portarias, circulares etc. As regras básicas,
entretanto,devem ser de natureza legal. A lei estatutária, como não
poderia deixar de ser,deve obedecer aos mandamentos constitucionais
sobre servidores. Pode, inclusive, afirmar-se que, para o regime
estatutário, há um regime constitucional superior, um regime legal
contendo a disciplina básica sobre a matéria e um regime
administrativo de caráter organizacional. (grifo nosso)
Pode-se inferir que o regime estatutário do servidor público opera em três esferas
normativas. São elas:
➢ Norma constitucional (Ex: artigos 37 ao 42 da Lei Maior);
➢ Norma legal (prevista em lei propriamente dita, editada pelo Poder Legislativo,
que estabelece as regras básicas do regime funcional. Ex: Lei Estadual nº 869/52);
➢ Norma infralegal (prevista em ato administrativo como decretos e portarias
expedidos pelo Poder competente, revestidos de caráter organizacional,
operacional. Ex: Decreto nº 47.528/18, que regulamenta, no âmbito do Poder
Executivo, a Lei Complementar nº 116, de 11 de janeiro de 2011, que dispõe sobre
a prevenção e a punição do assédio moral na administração pública estadual).
O vínculo jurídico entre o Estado e seus servidores repousa em um grande e
pulverizado arcabouço normativo, que transita por diferentes níveis legislativos
(constitucional, legal e infralegal), daí a complexidade que marca o regime estatutário.
Adverte-se que a Lei Estadual nº 869/52 foi editada na década de 1950 e,apesarde
já ter sofrido alterações pontuais ao longo de todos esses anos, é certo que alguns dos seus
dispositivos, que serão aqui trabalhados, não estão em conformidade com nova ordem
constitucional instaurada em 1988, motivo pelo qual, ainda que o texto normativo
pemaneça inalterado, a sua aplicabilidade no caso concreto foi abolida. Essas situações
serão expressamente apontadas no momento oportuno. É importante ressaltar que, apesar
das profundas mudanças sociais e da própria condução daadministração pública ocorridas
nas últimas décadas, uma lei produzida em 1952 permanece regulandoo vínculo
jurídicotravado entre o servidor público civil com o Estado de Minas Gerais.
Por fim, vale destacar conceitos trazidos pela Lei Estadual nº 869/52que servirão
de embasamento para a melhor compreensão da matéria estudada:
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Da Frequência e do Horário
Art. 92 – O expediente normal das repartições públicas será
estabelecido pelo Governo, em decreto, no qual a determinará o
número de horas de trabalho normal para os diversos cargos e funções.
Art. 93 – O funcionário deverá permanecer na repartição durante
as horas do trabalho ordinário e as do expediente.
Parágrafo único – O disposto no presente artigo aplica-se, igualmente,
aos funcionários investidos em cargo ou função de chefia.
Art. 94 – A frequência será apurada por meio do ponto.
Art. 95 – Ponto é o registro pelo qual se verificarão, diariamente, as
entradas e saídas dos funcionários em serviço.
§ 1º – Nos registros de ponto deverão ser lançados todos os
elementos necessários à apuração da frequência.
§ 2º – Salvo nos casos expressamente previstos em lei ou
regulamento é vedado dispensar o funcionário de registro de ponto
e abonar faltas ao serviço.
Art. 96 – O período de trabalho poderá ser antecipado ou
prorrogado para toda repartição ou partes, conforme a necessidade
do serviço.
Parágrafo único – No caso de antecipação ou prorrogação desse
período, será remunerado o trabalho extraordinário, na forma
7
ATENÇÃO!
Vale lembrar que a lei estabelece as normas básicas, que terão, quando necessário, a
operacionalização e a regulamentação detalhadas por meio de ato(s) normativo(s)
infralegal(is), a exemplo da Resolução Conjunta SEPLAG/SEDS nº 92, de 12 de
dezembro de 2014, que estabelece normas complementares relativas ao registro, ao
controle e à apuração da frequência dos servidores públicos em exercício nas Unidades
Prisionais, Socioeducativas e demais Unidades da Secretaria de Estado de Defesa Social,
fora do âmbito da Cidade Administrativa; e da Portaria SUAPI 039/2014, que uniformiza
o regime de plantão e carga horária nas Unidades Prisionais.
Dos mencionados artigos 92 a 101 da Lei Estadual nº 869/52, podemos extrair as
seguintes regras relativas à frequência e ao horário de trabalho do servidor público civil:
8
ATENÇÃO!
É por meio do registro do ponto do servidor que será apurada a sua frequência para fins
de pagamento do seu salário. Portanto, é o próprio servidor o maior interessado no
preenchimento correto do ponto para evitar inadequações na frequência e, via de efeito,
o pagamento equivocado da remuneração.
O funcionário que, em razão de doença restar incapacitado para o exercício laboral
2
O Decreto nº 48.348/22 estabelece normas gerais para o cumprimento da jornada de trabalho e a apuração
de frequência dos servidores públicos civis da Administração Pública direta, autárquica e fundacional do
Poder Executivo.
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Os Secretários de Estado, os Secretários Adjuntos de Estado, os Chefes de Gabinete, os Subsecretários,
por exemplo, estão dispensados de registrarem o ponto, conforme previsão do artigo 15, §1º, do Decreto
nº 48.348/22.
9
e, assim, não puder comparecer ao serviço, fica obrigado a comunicar o fato à sua chefia
imediata.
O cumprimento parcial e injustificado da jornada de trabalho (atraso para o início
ou saída antecipada) implicadescontos no salário, de acordo com as frações estabelecidas
pelo artigo 99 da Lei Estadual nº 869/52, cuja leitura atentaé recomendada.
O artigo 102 da Lei Estadual nº 869/52 possibilita aos servidores que sejam
estudantes, na forma de regulamento específico, tolerância máxima de uma hora e trinta
minutos por dia quanto ao cumprimento normal da jornada de trabalho. Vejamos a sua
redação:
possível", e não em qualquer hipótese. Logo, conclui-se que a jornada especial não deve
atender somente a necessidade do servidor, mas, também, e de forma preponderante,o
interesse público.
O Decreto Estadual nº 48.176/21 dispõe sobre as concessões de afastamento para
estudo ou aperfeiçoamento profissional ao servidor público da Administração direta,
autárquica e fundacional do Poder Executivo de Minas Gerais, especificando como essa
faculdade será operacionalizada.
Segundo o Decreto Estadual nº 48.176/21, a flexibilização de horário de trabalho
para estudo importa na tolerância dos horários de início e término de trabalho, concedida
quando for comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e o trabalho na
unidade de exercício e as demais condições previstas no artigo 102 daLei Estadual nº
869/52, condicionado à compensação de horas, dentro do mesmo mês, e sem prejuízo do
desempenho das atribuições do cargo.
Para efeito de concessões, não serão aceitos os cursos de língua estrangeira,
preparatórios para concursos, pré-vestibulares e similares.
Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2008, p.584), “vacância é o fato
administrativo-funcional que indica que determinado cargo público não está provido, ou,
em outras palavras, está sem titular.”. Vacância é a desocupação do cargo público, ou, de
outra forma, significa que o cargoestá vago ou desocupado em virtude do ocorrência de
certos fatos previstos em lei.
Diversos fatos podem ensejar a vacância do cargo. O artigo 103 da Lei Estadual
nº 869/52 prevê que a vacância do cargo decorrerá de:
a) exoneração;
b) demissão;
c) promoção;
d) transferência;
e) aposentadoria;
f) posse em outro cargo, desde que dela se verifique acumulação vedada;
g) falecimento.
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Alguns desses fatos que ensejam a vacância do cargo geram, via de consequência,
o provimento (preenchimento, ocupação) de outro cargo (ex: promoção). Há, contudo,
alguns fatos que encerram por completo a relação estatutária entre o funcionário e o
Estado (ex: demissão).
Passaremos à definição de cada um desses fatos ensejadores da vacância.
Exoneração é a dispensa do servidor por interesse próprio (“a pedido”) ou por
interesse da Administração (“ex officio”).
Demissão é ato de natureza punitiva, representa a aplicação de uma penalidade ao
servidor que praticou infração funcional grave. Ambas, exoneração e punição, geram a
extinção do vínculo estatutário do servidor público.
Promoção é a passagem do servidor para um nível superior ao que se encontra na
carreira a que pertence, desde que cumpridos os requisitos legais. Trata-se de
movimentação vertical, elevação da “classe”. Com isso, há a vacância de um cargo de
classe inferior e, por efeito, o provimento do cargo de classe superior.
Transferência é a mudança do ocupante de um cargo para outro, inclusive de uma
para outra carreira, gerando a desocupação do cargo anteriormente preenchido. Está
prevista no Art. 44 da Lei nº 869/52, a saber:
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“Estão, pois, banidas das formas de investidura admitidas pela Constituição a ascensão e a transferência,
que são formas de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o servidor público ingressou por
concurso, e que não são, por isso mesmo, insitas ao sistema de provimento em carreira, ao contrário do
que sucede com a promoção, sem a qual, obviamente não haverá carreira, mas, sim, uma sucessão
ascendente de cargos isolados. O inciso II do artigo 37 da Constituição Federal também não permite o
‘aproveitamento’, uma vez que, nesse caso, há igualmente o ingresso em outra carreira sem o concurso
exigido pelo mencionado dispositivo.” (STF, ADI 231, Relator MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno,
julgado em 05/08/1992, DJ 13-11-1992 PP-20848 EMENT VOL-01684-06 PP-01125 RTJ VOL-00144-
01 PP-00024). A Suprema Corte ainda editou a Súmula Vinculante nº 43 com o seguinte enunciado: “É
inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido. (STF, Sessão Plenária de 08/04/2015, DJe nº 72 de 17/04/2015, p. 1)”.
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5
“II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;”
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A Constituição Federal veda a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto quando houver
compatibilidade de horários e nas hipóteses expressamente autorizadas pelo próprio texto constitucional
(artigo 37, inciso XVI).
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“XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;”
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“§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII,
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados
de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”
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9
“Art. 87 – A apuração do tempo de serviço, para efeito de aposentadoria, promoção e adicionais, será feita
em dias.
[...]
Art. 88 – Serão considerados de efetivo exercício para os efeitos do artigo anterior os dias em que o
funcionário estiver afastado do serviço em virtude de:
I – férias e férias-prêmio;”
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“Os cargos em comissão são os destinados às atribuições de direção, chefia e assessoramento (art. 37, V,
da CF) e podem ser ocupados tanto por indivíduos que não prestaram concurso público (desde que
declarados em lei de livre nomeação e exoneração, conforme art. 37, II, da CF), quanto por servidores de
carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei (art. 37, V, da CF).” (LÉPORE,
Paulo. Direito Constitucional para Concursos de Analista e Técnico de Tribunais e MPU. 6. Ed.
Salvador: JusPodivm, 2018, p. 361)
16
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso
público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada
ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho,
na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
[...]
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo e pensionistas da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não pode exceder os
limites estabelecidos em lei complementar.
[...]
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste
artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as
seguintes providências:
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em
comissão e funções de confiança;
II - exoneração dos servidores não estáveis.
§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem
suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei
complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder
o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes
especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa
objeto da redução de pessoal. (grifo nosso)
11
“§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho
por comissão instituída para essa finalidade.”
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de estágio probatório.”
ATENÇÃO!
Vale lembrar que a avaliação de desempenho (ou avaliação de desempenho individual -
ADI) não se confunde com a avaliação especial de desempenho - AED. Vejamos o
quadro a seguir:
12
1.095 dias correspondem a três anos (365 dias x 3 anos = 1.095 dias).
22
ATENÇÃO!
O servidor que cumprir o período de estágio probatório e obtiver os conceitos apto e
frequente na avaliação especial de desempenho será considerado estável (artigo 18,
Parágrafo único). Contudo, será exonerado o servidor que obtiver o conceito inapto ou
infrequente (artigo 38).
Concurso Público
Nomeação
Posse
Exercício
Estágio Probatório
Estabilidade
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Vacância
se do trabalho, por razão de saúde, por período de até uma jornada por mês, mediante a
apresentação de documentos comprobatórios, que serão arquivados na pasta funcional do
servidor.
ATENÇÃO!
Abono administrativo não se confunde com licença para tratamento de saúde. O abono
é concedido pela chefia imediata do servidor, mediante a apresentação de atestado médico
que indique a incapacidade laboral por um único dia. Já a licença decorre de atestado
médico que revele incapacidade ao trabalho por dois ou mais dias e depende de perícia
realizada pelaSuperintendência Central de Perícia Médica e Saúde Ocupacional
(SCPMSO) da Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag).
O servidor não poderá permanecer em licença por prazo superior a 24 meses salvo
o portador de tuberculose, lepra ou pênfigo foliáceo, que poderá ter mais três prorrogações
de 12 meses cada uma, desde que, em exames periódicos anuais, não se tenha verificado
a cura. Ultrapassado esse prazo, o servidor será submetido à perícia médica e aposentado,
se for considerado definitivamente inválido para o serviço público em geral.
O servidor licenciado para tratamento de saúde não poderá dedicar-se a qualquer
atividade remunerada. Aliás, o artigo 256 Lei Estadual nº 869/52 prevê que“terá cassada
a licença e será demitido do cargo o funcionário licenciado para tratamento de saúde que
se dedicar a qualquer atividade remunerada”.
O funcionário licenciado para tratamento de saúde receberá integralmente a
remuneração e é obrigado a reassumir o exercício se for considerado apto em inspeção
médica.
Durante a licença, fica obrigado a seguir rigorosamente o tratamento médico
adequado à doença, sob pena de lhe ser suspenso o pagamento de vencimento ou
remuneração.
O servidor acidentado no exercício de suas atribuições terá assistência hospitalar,
médica e farmacêutica arcada pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de
Minas Gerais.
A Lei Complementar nº 121/11 confere licença gestante ou maternidade por 120
(cento e vinte) dias à servidora grávida, com remuneração integral, mediante apresentação
de atestado médico oficial, bem como a prorrogação por 60 (sessenta) dias prevista em
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legislação específica13.
A licença por motivo de doença em pessoa de sua família está prevista no artigo
176 do Estatuto funcional e é regulamentada pela Resolução SEPLAG nº 59/05. O
funcionário poderá obter licença por motivo de doença na pessoa do pai, mãe, filhos,
cônjuge ou companheiro de que não esteja legalmente separado, irmãos menores
mediante comprovada dependência e menor que esteja sob tutela judicial ou curatelada,
mediante apresentaçãodo respectivo termo. Essa licença não é remunerada.
A licença para serviço militar, conforme previsto no artigo 177 do Estatuto
funcional, será concedida ao servidor que for convocado para o serviço militar e outros
encargos de segurança nacional, com vencimento ou remuneração e demais vantagens,
descontada mensalmente a importância que receber na qualidade de incorporado.
A licença para tratar de interesses particulares (LIP) está prevista no artigo 179
da Lei Estadual nº 869/52 e é regulamentada pelo Decreto nº 28.039/88. Permite ao
servidor a obtenção de afastamento, sem remuneração, após dois anos de efetivo
exercício, pelo período máximo de dois anos. Trata-se de ato discricionário da
Administração Pública que poderá indeferir o pedido quando o afastamento for
inconveniente ao seu interesse.
O servidor poderá, a qualquer tempo, reassumir o exercício desistindo da licença
para tratar de interesses particulares. Igualmente, a autoridade que concedeu a licença
poderá, a qualquer tempo, desde que o exija o interesse do serviço público, revogá-la,
marcando prazo razoável para que o funcionário licenciado reassuma o exercício.
Por fim, a licença à funcionária casada com funcionário está prevista no artigo
186 da Lei Estadual nº 869/52. Em verdade, com a nova ordem constitucional inaugurada
em 1988 que consagrou a isonomia entre homem e mulher (artigo 5º, inciso I14) e a
igualdade entre cônjugese companheiros (artigo 226, §5º15), essa liçenca possibilita
afastamento não remunerado do(a) servidor(a), em razão da transferência do cônjuge,
também servidor público, estadual ou federal, civil ou militar, para outra localidade do
Estado, do território nacional ou do estrangeiro.
13
A Lei nº 18.879/10 dispõe sobre a prorrogação, por sessenta dias, da licença-maternidade, no âmbito da
administração pública do Poder Executivo estadual.
14
“I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;”
15
“§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher.”
29
ATENÇÃO!
Como dito, em regra, as instâncias de responsabilidades são independentes e autônomas
entre si. Porém, há casos em que a decisão proferida em sede penal condiciona as esferas
cível e administrativa. Trata-se das hipóteses de absolvição criminal pela inexistência
do fato ou pela negativa da sua autoria. Isto é, quando o juízo penal absolver o réu
(servidor público) em razão de não existiro fato que lhe foi imputado, ou, ainda, em
virtude de não ser ele o autor da infração, a sentença criminal irá repercurtir na esferas
cível17 e administrativa18. Sobre esse questão cabe destacar, também, que a Lei nº
13.869/1919, que dispõe sobre os Crimes de Abuso de Autoridade, prevê que a sentença
penal que absolver o réu sob o fundamento de excludente de ilicitude vincula as esferas
cível e administrativa. Vale frisar que as excludentes de ilicitude são: estado de
16
“II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.”
17
Artigo 935 do Código Civil: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se
acharem decididas no juízo criminal.”
18
Artigo 126 da Lei nº 8.112/90: “A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de
absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.”
19
“Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais
questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo
criminal.
Art. 8° Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito.”
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PARA EXAMINAR:
Aluno(a), segue abaixo notícia divulgada pelo site do Tribunal de Justiça do Estado de
Rondônia em 09/02/2022. Realize a leitura e reflita sobre o conteúdo da matéria a fim de
identificar quais as esferas de responsabilidades foram mencionadas no texto.
buscava a Justiça para voltar ao cargo, sob a alegação de que o processo criminal ainda
se encontra pendente de julgamento dos embargos de declaração do recurso de apelação.
https://www.tjro.jus.br/noticias/item/15941-tjro-mantem-demissao-de-agente-penitenciario-condenado-por-corrupcao
Acesso em: 09/12/22
20
Trata-se de uma declaração emitida pelo diretor da unidade penal onde o custodiado encontra-se
recolhido, que provará que o detento se encontra preso naquele local e data. Esse documento permite ao
segurado da previdência social solicitar ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) o pagamento do
auxílio-reclusão.
37
Para além das proibições elencadas no citado artigo 217 da Lei Estadual nº 869/52,
existem outras vedações previstas ao longo do Estatuto funcional, a exemplo dos artigos
169, 246, incisos II, V e VI, 249, inciso II, e 250, incisos II, IV e V, a saber:
[...]
II – praticar crime contra a boa ordem e administração pública e a
Fazenda Estadual;
[...]
IV – praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcionários ou
particulares, salvo se em legítima defesa;
V – lesar os cofres públicos ou delapidar o patrimônio do Estado;
Caso não tenha ele próprio competência para determinar a apuração do fato, o
servidor que tiver ciência de qualquer irregularidade no serviço público tem o dever de
levar o fato ao conhecimento da autoridade superior, para que sejam tomadas as devidas
providências. Caso deixe de fazê-lo, poderá ser responsabilizado por omissão,
descumprindo o dever funcional previsto no artigo 216, inciso VIII, do Estatuto funcional:
“levar ao conhecimento da autoridade superior irregularidade de que tiver ciência em
razão do cargo.”.
Por sua vez, conforme o artigo 218 da Lei Estadual nº 869/1952, “a autoridade
que tiver ciência ou notícia da ocorrência de irregularidades no serviço público é obrigada
a promover-lhe a apuração imediata por meio de sumários, inquérito ou processo
administrativo”.
A omissão diante do conhecimento de irregularidade no serviço público, seja em
levar o fato à ciência da autoridade competente, seja em determinar a sua apuração, além
de ilícito administrativo-disciplinar, ainda pode configurar o crime de condescendência
criminosa, previsto no artigo 32021 do Código Penal.
A comunicação de irregularidade no serviço público deve ser escrita e estar
acompanhada de um mínimo de provas (documentos, testemunhas etc.) que possam
demonstrar a existência de uma possível irregularidade, justamente para se evitarem
denúncias infundadas e perseguições pessoais ou políticas.
No âmbito da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais
(Sejusp), as atividades relacionadas à correição administrativa e à prevenção da corrupção
“Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração
21
no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”
40
ATENÇÃO!
Pertinente destacar o enunciado da Súmula Vinculante nº 05 editada pelo Supremo
Tribunal Federal: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo
42
disciplinar não ofende a Constituição.” (STF, 2008, p.1)22. A ausência de advogado não
gera nulidade no processo, mas a sua participação, embora não seja obrigatória, fortalece
a defesa e o processo.
Ao final, a comissão elaborará relatório conclusivo e o apresentará para a
autoridade competente julgar o processo, podendo absolver o servidor processado ou
mesmo aplicar alguma sanção administrativa.
O processo administrativo disciplinar possui as seguintes fases:
ATENÇÃO!
Se regularmente citado, o acusado não comparecer para acompanhar o processo ou
promover a sua defesa, será considerado revel. Assim, com a declaração da revelia, o
acusado é tratado como um ausente no processo e sua defesa será exercida por um
defensor designado pela comissão (artigo 226 da Lei Estadual nº 869/52). A revelia não
significa o reconhecimento dos fatos imputados ao processado e nem a renúncia de
22
(STF, Sessão Plenária de 07/05/2008, DJe nº 88 de 16/05/2008, p.1).
43
direito.
A instrução é a fase processual que corresponde à prática de atos que buscam
esclarecer o fato objeto da apuração e preparar o processo para ser decidido. Nessa fase,
a comissão colhe os elementos probatórios que lhe permitam formar a convicção
definitiva sobre a materialidade e a autoria do ilícito ou de sua inexistência. Para tanto,
pode utilizar todos os meios de prova admitidos em direito, podendo atuar de ofício ou
por provocação do interessado (denunciante, vítima ou acusado).
Durante a instrução, em regra, ocorrerá a audiência, isto é, uma sessão solene
designada pelo presidente da comissão para a realização dos interrogatórios,
depoimentos, declarações, esclarecimentos de provas orais e documentais e acareações,
sendo todo o ocorrido registrado em ata.
A defesa é parte obrigatória do processo e pode ser apresentada em dois
momentos:
✓ Defesa prévia: no prazo de 10 (dez) dias contados da citação, o acusado pode
apresentar suas teses preliminares, oferecer documentos e esclarecimentos, rol de
testemunhas, indicar provas que pretende produzir e demais matérias que
interessem à sua defesa;
✓ Defesa: concluída a instrução processual, a comissão deve intimar o processado
para, no prazo de 10 (dez) dias, apresentar sua defesa final.
Recebida a defesa final, a comissão deve elaborar relatório conclusivo quanto à
inocência ou responsabilidade do servidor e o encaminhará à autoridade que determinou
a sua instauração do processo para que profira o julgamento.
Recebido o processo, contendo o relatório da comissão, a autoridade o julgará no
prazo de 60 (sessenta) dias, conforme disposto no artigo 229 da Lei Estadual nº 869/52.
Considerando-se os prazos previstos nos artigos 22323, caput e parágrafo único, e
22924 da Lei Estadual nº 869/52, o prazo para a conclusão de todo o processo
administrativo disciplinar é de 150 (cento e cinquenta) dias, dos quais a comissão terá 60
(sessenta) dias, a contar da instauração, para instruir o feito e elaborar o relatório
23
“Art. 223 – O processo administrativo deverá ser iniciado dentro do prazo, improrrogável, de três dias
contados da data da designação dos membros da comissão e concluído no de sessenta dias, a contar da
data de seu início.
Parágrafo único – Por motivo de força-maior, poderá a autoridade competente prorrogar os trabalhos
da comissão pelo máximo de 30 dias.”
24
“Art. 229 – Entregue o relatório da comissão, acompanhado do processo, à autoridade que houver
determinado à sua instauração, essa autoridade deverá proferir o julgamento dentro do prazo
improrrogável de sessenta dias.”
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conclusivo, podendo ser prorrogado por mais 30 (trinta) dias, e a autoridade competente
terá mais 60 (sessenta) dias improrrogáveis para proferir o julgamento, a partir do
recebimento do relatório conclusivo.
afirmam, respectivamente, que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal” e que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes”, nenhuma sanção administrativa pode ser aplicada sem o prévio
processo administrativo disciplinar, que assegure ao acusado o contraditório e a ampla
defesa.
São 7 (sete) as sanções administrativas previstas na Lei Estadual nº 869/52:
Além dessas penalidades previstas no artigo 244, o Estatuto ainda prevê em seu
artigo 257 a sanção de “cassação de aposentadoria”.
Conforme ressalva do Parágrafo único do artigo 244 da Lei Estadual nº 869/52, a
aplicação das penas disciplinares não segue a sequência estabelecida nos incisos I a VI,
mas é autônoma, de acordo com o caso concreto e consideradas a natureza e a gravidade
da infração e os danos que dela provierem para o serviço público.
aposentadoria
Destituição de função: sanção que consiste na perda de função de confiança pelo servidor
efetivo. Vejamos o dispositivo legal pertinente previsto na Leinº 869/52:
Demissão: sanção que consiste na expulsão do servidor dos quadros de pessoal do serviço
público, gerando o rompimento do seu vínculo jurídico com a Administração, em
decorrência de infração com elevado grau de ofensividade aos deveres funcionais.
Vejamos os dispositivos legais pertinentes previstos na Lei nº 869/52:
Caro Aluno(a), abaixo propomos algumas questões para que você possa revisar os
conceitos estudados até aqui.
3. (Elaboração própria) De acordo com a Lei Estadual nº 869/52, o servidor que comete
infração poderá sofrer punição disciplinar administrativa.
Não é penalidade aplicável ao servidor público civil estadual:
A) Repreensão
B) Advertência
C) Demissão a bem do serviço público
D) Demissão
E) Multa
Gabarito
Questão Questão Questão Questão Questão Questão Questão
1 2 3 4 5 6 7
B D B C C C A
53
1
“ética é um assunto amplo – tanto em termos do alcance das teorias éticas quanto às maneiras como essas
teorias podem ser aplicadas a assuntos morais e sociais. Ela gerou o ímpeto para grande parte da filosofia
como um todo e é a maior área de estudo dentro dos departamentos da filosofia” (THOMPSON, Mel;
tradução Gabriel Carvalhinho Lopes Azevedo. Filosofia: Aprenda em uma semana, lembra por toda
a vida. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p.100).
54
✓ pontualidade;
✓ cuidado e respeito no trato com as pessoas, subordinados, superiores e colegas;
✓ respeito à dignidade da pessoa humana.
Portanto, a atuação funcional que se afaste desses princípios e valores importa em
um comportamento despido da ética profissional que seesperado agente público
integrante da Administração Pública do Poder Executivo de Minas Gerais.
instituição.
A Comissão de Ética é composta por 03 (três) titulares e 2 (dois) suplentes
escolhidos pelo dirigente máximo do órgão entre os agentes públicos em exercício no
órgão ou entidade e com mandatos de 03 (três) anos, sendo facultada uma recondução por
igual período.
Assim como ocorre com o Conselho de Ética, a atuação em Comissão de Ética
não enseja remuneração e os trabalhos nela desenvolvidos são considerados prestação de
relevante serviço público.
Dentre outras atribuições, compete ao Conselho de Ética:
✓ orientar e aconselhar o agente público sobre ética profissional no respectivo órgão
ou entidade;
✓ adotar formas de divulgação das normas éticas e de prevenção de falta ética;
✓ decidir pela instauração e conduzir processo ético, observadas as normas
estabelecidas no Código de Ética e em Deliberações do Conselho de Ética;
✓ exercer outras atividades que lhe forem atribuídas ou delegadas pelo Conselho de
Ética.
Para fins do Código de Ética, “considera-se gestor público, o agente público que
por força do cargo, emprego ou função recebe poder público para coordenar e dirigir
pessoas e trabalhos”.
Considerando-se essa função específica de coordenar e dirigir pessoas e trabalhos,
o Decreto Estadual nº 46.644/14 dedica normas éticas próprias dirigidas ao gestor
público, sobretudo visando conferir transparência e evitar o conflito de interesses na
relação entre o setor público (representado pelo gestor) e a iniciativa privada.
Nesse sentido, o artigo 21 do Código de Ética estabelece que a atuação do gestor
público deve pautar-se especialmente nas seguintes condutas:
✓ adotar medidas para evitar conflitos de interesse privado com o interesse público;
✓ tratar respeitosamente subordinados e demais colegas de trabalho;
✓ combater práticas que possam suscitar qualquer forma de abuso de poder;
✓ utilizar, exclusivamente, o poder institucional que lhe é atribuído por meio do
cargo, função ou emprego público que ocupa, para viabilizar o atendimento ao
interesse público;
60
ao Conselho de Ética.
Na hipótese de aplicação de sanção, após esgotados os recursos, serão informados:
(i) a chefia imediata do agente público sancionado e o dirigente máximo do seu órgão de
exercício; e (ii) o Governador, no caso de sanção de agente da Alta Administração do
Poder Executivo Estadual.
Ademais, no caso de aplicação de sanção também será enviada cópia da síntese
de ocorrência ética para: (i) a unidade de gestão de pessoas a fim de possa ser juntada e
considerada no processo de avaliação de desempenho do agente público sancionado; e
(ii) o Conselho de Ética Pública.
O Conselho de Ética pode avocar (assumir) processo em trâmite na Comissão de
Ética.
Eventual omissão existente no Código de Ética será suprida pela aplicação dos
princípios que regem a Administração Pública, consagrados no artigo 37, caput, da
Constituição Federal: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência.
Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5
D C C B A 3 ASSÉDIO
MORAL (LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 116, DE 11 DE JANEIRO DE
2011, E DECRETO ESTADUAL Nº 47.528, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2018)
ATENÇÃO!
Conforme previsto no artigo 2º, §1º, alínea XII, do Decreto Estadual nº 47.528/18,
“quaisquer outras condutas que tenham por objetivo ou efeito degradar as condições de
trabalho do agente público, atentar contra seus direitos ou sua dignidade, comprometer
sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento profissional” podem configurar a
prática de assédio moral. Portanto, as modalidades de assédio moral previstas na Lei
Complementar Estadual nº 116/11 são exemplificativas, isto é, outras condutas não
elencadas no texto legal também podem caracterizar assédio moral.
Segundo o Decreto Estadual nº 47.528/18, o assédio moral pode ser Vertical,
Horizontal e Misto. Assim são definidos:
I) Assédio Moral Vertical: Ocorre entre pessoas de nível hierárquico diferentes,
chefes e subordinados, e pode ser subdividido em duas espécies: Descendente e
Ascendente.
→ Descendente: aquele praticado pelo superior hierárquico contra o seu
subordinado. É caracterizado pela pressão do chefe em relação ao subordinado. O
superior hierárquico se aproveita de sua condição de autoridade para deixar o subordinado
em situações desconfortáveis, como desqualificá-lo e/ou ofendê-lo na frente da equipe,
por exemplo.
→ Ascendente: aquele praticado pelo subordinado contra o seu superior
hierárquico. Consiste em causar constrangimento ao superior hierárquico por interesses
diversos. Exemplos: ações ou omissões para “sabotar” a gestão e indiretas frequentes
diante dos colegas.
II) Assédio Moral Horizontal: Aquele praticado por agentes públicos que estão no
mesmo nível hierárquico, inexistindo entre eles relações de subordinação. Muitas vezes,
67
é uma prática estimulada pelo clima de competição exagerado entre colegas de trabalho.
O assediador promove liderança negativa perante os que fazem intimidação ao colega,
conduta que se aproxima do bullying por ter como alvo vítimas vulneráveis.
III) Assédio Moral Misto: Aquele praticado contra uma mesma pessoa por mais
de um agente público, simultaneamente, nas modalidades vertical e horizontal. A pessoa
é assediada por superiores hierárquicos e também por colegas de trabalho. Em geral, a
iniciativa da agressão começa sempre com um autor, fazendo com que os demais acabem
seguindo o mesmo comportamento.
ATENÇÃO!
Situações isoladas podem causar dano moral, mas não necessariamente configuram
assédio moral. Para que o assédio seja caracterizado, as agressões devem ocorrer
repetidamente, por tempo prolongado, prejudicando emocionalmente a vítima.
ATENÇÃO!
No âmbito da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, de onde o
Departamento Penitenciário de Minas Gerais é parte integrante, a prevenção e o
enfrentamento ao assédio moral é atribuição da Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor
(DAS), conforme estabelece o artigo 59 do Decreto Estadual nº 47.795/19.
ATENÇÃO!
A Comissão de Conciliação não se pronunciará sobre a caracterização ou não de assédio
moral no caso concreto apresentado pelo denunciante, sem prejuízo da realização de
recomendação de caráter gerencial (artigo 13, §2º, do Decreto Estadual nº 47.528/18).
A OGE encaminhará à CGE a denúncia de assédio moral em que não foi obtida
conciliação para a formulação de juízo de admissibilidade e, caso necessário, a
instauração do processo administrativo disciplinar.
ATENÇÃO!
Segundo o artigo 6º da Lei Complementar nº 116/11, “a prática de assédio moral será
apurada por meio do devido processo administrativo disciplinar, garantida a ampla
defesa, nos termos do art. 218 e seguintes da Lei nº – 869, de 5 de julho de 1952, ou
72
PARA EXAMINAR:
Aluno(a), para ilustrar o tema estudado, leia abaixo os trechos da matéria jornalística
publicada pelo Portal R7 em 12/09/2022, que trata sobre denúncias de assédio moral
dentro do Ministério Público de São Paulo, e reflita sobre os males pessoais e
institucionais que essa prática gera.
https://noticias.r7.com/sao-paulo/servidores-denunciam-casos-de-assedio-moral-e-sexual-dentro-do-ministerio-
publico-de-sao-paulo-12092022 Acesso em: 10/12/2022.
Com base nessa legislação, julgue como verdadeiro (V) ou falso (F) as afirmativas a
seguir e assinale, ao final, a alternativa que contém a sequência correta:
( ) Considera-se assédio moral a conduta de agente público que tenha por objetivo ou
efeito degradar as condições de trabalho de outro agente público, atentar contra seu
patrimônio pessoal, comprometer sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento
afetivo-familiar.
( ) Somente existe assédio moral praticado pelo superior hierárquico contra o seu
subordinado.
( ) O procedimento para o registro da denúncia de assédio moral pode ser iniciado por
agente público ou terceiro que tenha conhecimento de condutas que possam configurar a
prática de assédio moral em órgão ou entidade da administração pública.
( ) A Comissão de Conciliação será formada por até cinco membros fixos, todos
servidores da Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais.
A) V – F – V – F
B) F – F – F – V
C) V – V – F – V
D) F –F – V – F
75
Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3
D D A
76
O Estado, por meio dos seus agentes, exerce seu poder sobre os cidadãos não de
forma absoluta, mas sim, limitada pela constituição e demais normas legais.
Ocorre que o limite da autoridade estatal através do mero respeito às leis (o que é
a marca do Estado de Direito) não impediu o Estado de cometer arbítrios e graves
violações aos direitos humanos, como ocorreu, por exemplo, no holocausto durante o
regime nazista na Alemanha. Por esse motivo, notadamente após a Segunda Guerra
Mundial, nasceu um movimento de incorporação expressa, sobretudo no texto
constitucional, de princípios e valores que buscavam defender o cidadão dos arbítrios que
poderiam vir a ser cometidos pelo Estado ou por quaisquer detentores do poder.
No Brasil, esse movimento de expressa incorporação de princípios e valores que
protegem o indivíduo contra os abusos do Estado ganhou destaque com a Constituição
Federal de 1988. Vejamos o que ensina a doutrina:
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;
[...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
[...]
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou
à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
[...]
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
dados pessoais, inclusive nos meios digitais.
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.
pessoa de apresentar um pedido ao Poder Público para que adote as medidas adequadas
em relação à situações que envolvem atos ilegais ou abusos de poder.
No caput do artigo 1º, o legislador foi claro ao estabelecer que, além dos atos
praticados no exercício da função pública, também podem configurar crime de abuso de
autoridade as condutas praticadas pelo agente público fora do contexto do trabalho, desde
que se utilize das prerrogativas que o cargo lhe confere.
Dessa forma, se o ato for praticado durante as férias, por exemplo, também haverá
abuso de autoridade, pois está presente o vínculo funcional entre o agente público e o
Estado. Porém, conduta praticada no âmbito da vida privada do agente, desprovida de
qualquer elo ou de alegação de prerrogativa funcional, não caracteriza abuso de
autoridade.
Para a configuração do crime de abuso de autoridade, o §1º do artigo 1º da Lei nº
13.869/19 exige que a conduta praticada pelo agente público tenha como finalidade
específica (dolo específico) prejudicar alguém, beneficiar a si próprio ou a terceiro, ou,
ainda, capricho ou satisfação pessoal. Ou seja, condutas que se afastam do interesse
público e da impessoalidade, princípios que regem a Administração Pública.
Quando o dispositivo impõe dolo específico, fala-se em elemento subjetivo do
delito1, sem o qualnão há crime.
Ademais, considerando que a própria lei exige o dolo específico (artigo 1º, §1º),
o crime de abuso de autoridade será sempre doloso (inexistindo, portanto, sua modalidade
1
Os elementos subjetivos do crime sãoo dolo e a culpa que refletem a intenção, a vontade, do agente ao
praticar determinada conduta delituosa. Esse tema será abordado com maior detalhamento da disciplina
Direito Penal.
82
culposa).
No tocante à tentativa, os crimes de abuso de autoridade podem ou não admiti-la,
a depender da viabilidade do fracionamento dos atos executórios. Logo, a sua
possibilidade deve ser analisada considerando-se cada crime previsto na Lei nº 13.869/19.
Como exemplo, no crime de falta de comunicação de prisão, previsto no artigo 12, a
consumação do delito ocorre no exato instante da omissão dolosa, não sendo possível o
fracionamento dos atos executórios. Já o crime de inovação artificiosa, previsto no artigo
23, admite, em tese, a forma tentada.
O §2º do artigo 1º ressalva que a divergência na interpretação de lei ou na
avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade.Dessa maneira, o legislador
buscou resguardar a atividade do intérprete tanto no exame das normas, quanto na análise
de fatos e provas.
Outrossim, como já visto, o artigo 1º da Lei nº 13.869/19 indica que os crimes de
abuso de autoridade são “cometidos por agente público”. Porém, a definição de quem é
considerado “agente público” é feita pelo artigo 2º da referida lei, vejamos:
2
Artigo 301 do Código de Processo Penal: “Art. 301.Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.”.
85
O tipo penal busca proteger o direito fundamental de petição. Não se trata de uma
permissão para o envio de todo e qualquer tipo de manifestação do preso ao Poder
Judiciário, mas somente dos pleitos relativos à legalidade da prisão ou das condições do
encarceramento.
O tipo penal busca proteger o direito do preso à entrevista do preso com o seu
defensor como meio necessário para a efetivação da ampla defesa.
O tipo penal busca proteger o direito à incolumidade física das presas do sexo
feminino e, ainda, a condição especial das crianças e adolescentes como pessoas em
desenvolvimento.
Embora não se limite a tais casos, esse dispositivo tem incidência principal em
mortes decorrentes de intervenção policial.
Busca preservar a investigação criminal sobre condutas de agentes públicos que
ocasionem o óbito de alguém.
87
Esse tipo penal garante que nenhum procedimento investigatório seja aberto sem
um mínimo de indício da prática de crime ou infração ou funcional.
4.6 Procedimento
Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4
B D C Errado
91
1
“§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato
92
ATENÇÃO!
A Lei nº 8.429/92 considera como mais graves os atos que importam enriquecimento
ilícito, cominando, assim, sanções mais duras. Em seguida, estão os atos que causam
prejuízo ao erário. E com menor gravidade, encontram-se aqueles que atentam contra
princípios da Administração Pública.
doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.”
93
Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4
B Errado Certo Certo
96
Nesse contexto, foi editada a Lei nº 9.455/97, conhecida como Lei de Tortura.
1
“O Brasil foi signatário de dois tratados internacionais, por meio dos quais se obrigou a reprimir os crimes
de tortura. O primeiro tratado foi a Convenção contra tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes, de 1984. O segundo tratado foi a Convenção Interamericana para Previnir e
Punir a Tortura, de 1985.” (HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume único. 10. ed. Salvador:
JusPodivm, 2018, p.1071).
97
ATENÇÃO!
O artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal e o artigo 2º da Lei nº 8.072/90
equiparam o delito de tortura a crimes hediondos para efeitos penais e processuais. Frise-
se: tortura não é crime hediondo, mas sim, equiparado, assemelhado, a hediondo.
Como visto, conforme previsto na Lei nº 9.455/97, salvo exceções legais, tortura
é um delito comum, isto é, pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo a
qualidade especial de funcionário público.
As condutas tipificadas no artigo 1º são definidas pela doutrina da seguinte forma:
✓ Tortura-prova (artigo 1º, inciso I, alínea “a”): Constranger alguém com emprego
de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o
fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
O delito se consuma com o constrangimento2 causador de sofrimento à vítima,
2
Constranger no sentido de coagir, obrigar alguém a fazer algo que não queira, restringindo sua liberdade e
anulando completamente a sua vontade.
98
Embora a Lei nº 9.455/97 disponha que o condenado por crime de tortura, salvo a
hipótese do artigo 1º, § 2º (omissão), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado,
o Supremo Tribunal Federal (STF) entende que o “regime inicial fechado” é
inconstitucional por violar o princípio da individualização da pena6.
3
Fiança é uma garantia patrimonial prestada pelo acusado que visa o pagamento das custas processuais,
indenização em caso de condenação e eventual multa, podendo ser aplicada como condição para a
concessão da liberdade provisória e como medida cautelar diversa da prisão.
4
Graça é o perdão da pena concedida a um condenado pelo Presidente da República.
5
Anistia é uma forma de extinção da punibilidade que retroage apagando todos os efeitos criminais da
sentença condenatória. É concedida através de lei pelo Congresso Nacional e está ligada a fatos
específicos de natureza política.
6
Este princípio será abordado com maior detalhamento na discipina Direito Penal.
101
vítima.
Gabarito
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5
A C D A D
103
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos
termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.
Diário Oficial da União: Brasília, 26 de julho de 1990.
BRASIL. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Diário Oficial da União: Brasília, 19 de abril de 1991.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União: Brasília, 11 de janeiro de 2002.
FILHO. José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 20. ed. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008.
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume único. 10. Ed. Salvador: JusPodivm,
2018.
MINAS GERAIS. Lei nº 869, de 05 de julho de 1952. Estatuto dos Funcionários Públicos
Civis do Estado de Minas Gerais. Diário Oficial do Executivo: Belo Horizonte, 6 de
julho de 1952.
MINAS GERAIS. Lei nº 18.879, de 27 de maio de 2010. Dispõe sobre a prorrogação, por
sessenta dias, da licença-maternidade, no âmbito da administração pública direta,
autárquica e fundacional do Poder Executivo estadual. Diário Oficial do Executivo: Belo
Horizonte, 28 de maio de 2010.
NETO, Fernando Ferreira Baltar; TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito
Administrativo – Coleção Sinopses para Concursos. 8. Ed. Salvador: JusPodivm,
2018.