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Comarca de Porto Alegre

11ª Vara Cível do Foro Central


Rua Manoelito de Ornellas, 50
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Processo nº: 001/1.16.0019680-3 (CNJ:.0031830-63.2016.8.21.0001)


Natureza: Arbitramento de Honorários
Autor: Daniel Fernando Nardão
Réu: Aloir José de Borba
Juiz Prolator: Juíza de Direito - Dra. Cintia Dossin Bigolin
Data: 22/06/2017

VISTOS.

Trata-se de ação de arbitramento de


honorários contratuais proposta por DANIEL FERNANDO NARDÃO
em face de ALOIR JOSE DE BORBA, alegando, em síntese, que
atuou como procurador do réu no processo n.º
001/3.10.0025949-3, o qual foi julgado procedente sendo
reconhecido o direito do demandado. Referiu que exaurida a
liquidação no mencionado feito e expedido o alvará, o réu
levantou os valores sem fazer qualquer ressalva quanto aos
honorários contratuais que lhes eram devidos. Asseverou que
o réu se comprometeu a pagar os honorários contratuais,
restando incontroversa a existência de relação
contratual. Discorreu acerca da legislação aplicável à espécie.
Mencionou que os honorários advocatícios equiparam-se aos
créditos trabalhistas. Apontou o valor que entende devido
tendo por base a conduta de praxe da área jurídica. Postulou,

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em sede de tutela de urgência, o bloqueio mediante arresto
de 20% do valor total advindo dos autos do precatório n.°
121470. Pediu a procedência do pedido, com a condenação do
réu ao pagamento do valor fixado a título de honorários
advocatícios no montante de R$ 1.357,36. Juntou documentos.

Foi indeferida a tutela de urgência.

Citado, o réu apresentou contestação, arguindo


como prejudicial de mérito, a prescrição. No mérito, alegou que
efetivamente contratou os serviços do autor para propositura do feito
sob o n.° 001/3.10.0025949-3, contudo, antes mesmo do feito ser
sentenciado revogou os poderes do demandante, no ano de 2010.
Aduziu o descabimento do pedido de arresto em valor superior ao
supostamente devido e em processo que não guarda qualquer relação
com o feito ajuizado pelo autor. Requereu a extinção da ação ou o
julgamento de improcedência da com as cominações de estilo.
Postulou pela concessão da AJG. Acostou documentos.

Houve réplica, ocasião em que o autor refutou os


argumentos da contestação.

Instadas a especificar provas, apenas o autor se


manifestou postulando o julgamento antecipado do feito.

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Vieram os autos conclusos.

É O RELATÓRIO.
DECIDO.

Cabível o julgamento do feito no estado em que


se encontra, sendo despicienda a produção de outras provas.

Inicialmente, afasto a alegação de prescrição.

O artigo 25 do Estatuto da Ordem dos Advogados


do Brasil prevê expressamente o prazo de 05 anos para a cobrança de
honorários, a contar da revogação do mandato.

Outrossim, o artigo 206, § 5°, II, do Código Civil,


estabelece que o prazo prescricional aplicável à espécie é de 5 anos, o
qual começa a fluir a partir da data da conclusão dos serviços por parte
do procurador.

Assim, considerando que não houve revogação do


mandato e o alvará foi expedido em favor do réu na data de 21 de
dezembro de 2011, tendo a presente ação sido ajuizada em 29 de
fevereiro de 2016, não há se falar em prescrição.

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Passo a análise do mérito da demanda.

Cuida-se de demanda objetivando o arbitramento


de verba em razão dos serviços advocatícios prestados no patrocínio da
ação ordinária sob n.º 001/3.10.0025949-3, que tramitou perante a
Vara do Juizado Especial da Fazenda Pública.

Os honorários advocatícios, nos termos do artigo


22, caput, da Lei nº. 8.906/94 (Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil), podem derivar de sucumbência, estar pactuados em contrato
escrito ou resultar de arbitramento judicial. Senão vejamos:

“Art. 22 – A prestação de serviços profissionais assegura


aos inscritos na OAB o direito aos honorários
convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos
de sucumbência.”

Inexistindo pactuação a respeito do quantum da


verba honorária contratual, ao advogado é cabível ajuizar a ação de
arbitramento de honorários, medida judicial prevista no artigo 22, §
2.º, da Lei nº. 8.906/94 que assim expressa:

“§ 2.º - Na falta de estipulação ou de acordo, os


honorários são fixados por arbitramento judicial, em
remuneração compatível com o trabalho e o valor
econômico da questão, não podendo ser inferiores aos

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estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho
Seccional da OAB”.

No caso dos autos, restou comprovado que o


autor foi contratado pelo réu para patrocinar a ação de cobrança em
desfavor do Estado do Rio Grande do Sul e Brigada Militar (fl. 26).

O requerido defendeu-se alegando que, naquele


feito, revogou os poderes do autor antes da prolatação da sentença,
razão pela qual afirmou ser descabido o arbitramento de honorários,
considerando a baixa complexidade daquele feito.

Entretanto, da análise da cópia do processo


patrocinado pelo autor às fls. 18/160, verifica-se que não houve
revogação do mandato, tendo o autor permanecido no patrocínio da
causa até a sua conclusão, em meados do ano de 2012.

Desta feita, na medida em que houve labor, o


autor tem direito à percepção dos honorários referentes ao período em
que defendeu os interesses do réu na demanda, mostrando-se correta
a sua insurgência.

Assim, verifica-se que o réu não logrou êxito em


demonstrar qualquer fato modificativo, extintivo ou impeditivo do

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direito perseguido pelo autor, ônus probatório que lhe confere o artigo
373, II, do Novo Código de Processo Civil.

Não resultando expresso o percentual a ser pago,


resta fazer a quantificação dos honorários advocatícios pelo trabalho
efetivamente realizado, além do bom e fiel desempenho do mandato.

Na ausência de estipulação contratual acerca da


remuneração dos serviços advocatícios prestados não está o julgador
adstrito às diretrizes fixadas pela tabela da O.A.B., a qual serve como
mero indicativo.

Desse modo, há de se considerar os percentuais


alinhados no artigo 85, § 2°, do Novo Código de Processo Civil,
observando-se, especialmente, as circunstâncias da prestação do
serviço e as atividades comprovadamente desenvolvidas pelo
profissional.

Nesse sentido, a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. HONORÁRIOS DE PROFISSIONAIS


LIBERAIS. AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. CONTRATO VERBAL. REVOGAÇÃO DO
MANDATO. POSSIBILIDADE DE ARBITRAMENTO DE
HONORÁRIOS NA FORMA COMO PRETENDIDA. VALOR
FIXADO NA SENTENÇA QUE NÃO ATENDE A
PROPORCIONALIDADE DO SERVIÇO PRESTADO. 1. O
quantum a ser arbitrado a título de honorários contratuais

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deve estar vinculado ao valor econômico das demandas,
observando, outrossim, o trabalho incontroverso prestado
pelo profissional, o tempo e lugar da prestação do serviço,
a complexidade da causa e a qualidade dos serviços, sendo
a tabela da OAB mero indicativo. Valor fixado na sentença
que não atende à proporcionalidade do serviço prestado.
RECURSO DE APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70073160954, Décima Quinta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Adriana da Silva
Ribeiro, Julgado em 24/05/2017) (Grifei)

APELAÇÃO CÍVEL. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS.


DEFERIMENTO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA NÃO IMPEDE
A FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS CONTRATUAIS, QUANDO SE
CONSTATA QUE A CONTRATAÇÃO, COMO NO CASO, NÃO
OCORREU A CARÁTER GRATUITO. ARBITRAMENTO DE
ACORDO COM AS DISPOSIÇÕES DO CPC. TABELA DA OAB
NÃO VINCULA O JULGADOR. PARCIAL PROCEDÊNCIA DA
PRETENSÃO DE ARBITRAMENTO. DERAM PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70073458234, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Paulo Sérgio Scarparo, Julgado em
18/05/2017) (Grifei)

Nessa senda, o início dos trabalhos


desempenhados pelo autor se deu com a procuração, ou seja, em 22
de julho de 2010 e persistiu até meados do ano de 2012 (fl. 160).
Sendo assim, conclui-se que o serviço foi prestado pelo período de,
aproximadamente, dois anos (fls. 18/60). Ademais, depreende-se que
o autor prestou o serviço contratado de forma satisfatória e a contento,
inclusive mediante a obtenção de parcial êxito na demanda.

Portanto, considerando o trabalho desenvolvido


nos autos do processo n.º 001/3.10.0025949-3, entendo por bem fixar

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os honorários em 20% sobre o valor recebido pelo demandado, nos
termos postulado na inicial, considerando o grau de zelo do
profissional, o lugar da prestação do serviço e a natureza e a
importância da causa, o trabalho realizado pelo causídico e o tempo
exigido para o serviço.

DIANTE DO EXPOSTO, julgo PROCEDENTE o


pedido formulado por DANIEL FERNANDO NARDÃO em face de ALOIR
JOSÉ DE BORBA, para CONDENAR o requerido ao pagamento de
honorários advocatícios ao autor no valor equivalente a 20% do valor
recebido nos autos do processo n.º 001/3.10.0025949-3,
correspondente a quantia de R$ 1.357,36, a ser corrigido
monetariamente pelo IGP-M a contar da data da última atualização em
19/02/2016 (fl. 14) e acrescido de juros legais de 12% ao ano a contar
da citação.

Condeno o réu ao pagamento das custas


processuais e dos honorários advocatícios ao procurador do autor estes
fixados em 18% sobre o valor da condenação, na forma do artigo 85,
parágrafo 2.º, do Código de Processo Civil de 2015, tendo em vista a
natureza da causa, o trabalho desenvolvido e a ausência de dilação
probatória.

Diante da concessão do benefício da assistência

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judiciária gratuita que ora defiro, suspendo o pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios em relação ao réu.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.

Porto Alegre, 22 de junho de 2017.

Cintia Dossin Bigolin,


Juíza de Direito

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64-1-001/2017/1969685 - 001/1.16.0019680-3 (CNJ:.0031830-
63.2016.8.21.0001)

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