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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __

VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARACRUZ – ESTADO DO ESPÍRITO


SANTO

LÓGICA AUTOMAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ n.º 03.030.683/0001-
18, sediada na Rua Padre José de Anchieta, nº 16 -
Praia dos Padres, Aracruz - ES, CEP 29198-612,
mediante seus procuradores regularmente constituídos
(procuração em anexo), com endereço profissional à Rua
Capitão Domingos Corrêa da Rocha, n° 80, salas
611/612, Santa Lúcia, Vitória/ES, vem,
respeitosamente, propor

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE


MULTA CONTRATUAL

em face de TELEFONICA BRASIL S/A, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº
02558157000324, com endereço na Av. Nossa Senhora da
Penha, nº 275, Parte A, Bairro Santa Helena, Vitória-
ES, CEP 29.055022, e-mail: telefonica@telefonica.com,
pelas razões de fato e de direito que passa a expor,
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

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________________ I. DOS FATOS

. A Requerente celebrou contrato com a


Requerida de linhas telefônicas e internet conforme
contrato anexo no ano de 2016.

. Em 2018 a Requerente efetuou o cancelamento


de algumas linhas. Na época a Requerente buscou
contato com a Requerida com o intuito de realizar a
alteração dos planos (para planos mais simples) a fim
de reduzir o valor da conta.

. Entretanto, a Requerente nunca conseguiu


chegar a um consenso com a Requerida, que sempre
dificultou e limitou as reduções para preservar seu
faturamento.

. A solução que foi encontrada e utilizada pela


Requerente foi de ir cancelando as linhas e optar por
mudar a tecnologia que usam para comunicação.

. No ano de 2022, as08 (oito) linhas que ainda


estavam remanescentes,foram alteradas para a
modalidade pré-paga.

. De tal modo, foi solicitada a Requerida que


tirassem do plano 4 linhas das 7 linhas ativas, em
razão de insatisfação com a prestação do serviço, e
com isso foi cobrada multa no valor de R$ 1.916,23
(mil novecentos e dezesseis reais e vinte e três

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centavos) por se tratar de cancelamentos após a
renovação do plano.

. Ocorre que nunca fora autorizado tal


renovação, tão pouco informado para a Requerente que
havia renovação automática e que com a renovação, a
Requerente não poderia estar efetivando o cancelamento
das linhas.

. De tal modo, o Gestor da Requerente contestou


a cobrança, informando sobre a falta de comunicação
bem como esclareceu que em nenhum momento autorizou
tal renovação.

. Para confirmar, a Requerente solicitou para a


Requerida a cópia da autorização da renovação do
contrato, e caso não encontrassem tal autorização,
requereu que a Requerida revisasse sua posição em
relação à contestação antes do vencimento da fatura.

. O retorno da Requerida foi o seguinte:

De: noreply@salesforce.com
[mailto:noreply@salesforce.com] Em nome de
Priscilla Karine Pereira Santos
Enviada em: sexta-feira, 6 de maio de 2022
17:03
Para: gustavo@logica.ind.br
Cc: diego.dualdo@telefonica.com
Assunto: Contestação Improcedente

Olá, Gustavo

Recebemos sua contestação referente a (s):


multa contratual.
Protocolo: 20228084938367
Conta: 0294066417
Fatura:04/2022
Razão: LOGICA AUTOMACAO E SERVICOS LTDA.

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CNPJ/CPF: 03.030.683/0001-18

Realizamos análise no seu pedido de


contestação e não identificamos nenhuma
irregularidade nas cobranças. Como não
encontramos erros, a cobrança será mantida
conforme sua contratação.

Item(s) contestado(s):

Após análise das evidencias sistêmicas e


memória de cálculo, foi detectado
faturamento de acordo com o contratado não
havendo valores a contestar. Tendo em
vista que a multa a plicada na conta é
devida pois as linhas foram canceladas
após sua renovação.

. A Requerente enviou para a Requerida


Notificação Extajudicial com o intuito de solucionar a
questão, mas a parte Requerida não retornou, conforme
AR.

. De tal modo, se faz necessária a presente


ação, tendo em vista que não houve retorno da
tentativa de resolução de forma extrajudicial.

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________________II. DO DIREITO

I.1) DA RESCISÃO E DURAÇÃO DO CONTRATO

. O caput e parágrafo único do artigo 56, da


Resolução nº 632/2014 da Anatel, explica sobre a
rescisão do contrato, in verbis:

Art. 56. O Consumidor pode rescindir o


Contrato de Prestação do Serviço celebrado
na Oferta Conjunta de Serviços de
Telecomunicações a qualquer tempo e sem
ônus, ressalvada a multa decorrente da
inobservância do Contrato de Permanência.

. Pois bem. No que tange a vigência do


contrato, eis que conforme contrato em anexo, este
possuía vigência de duração de 12+12:

. Nota-se que o contrato foi firmado em 10 de


novembro de 2016 vejamos:

5
. De tal modo, a vigência do contrato no que
tange a aplicação de multa por rescisão teve como fim
Novembro de 2018.

. Aplicar multa com a alegação de aplicação da


cláusula da renovação automática como pano de fundo é
se valer de prática desleal, enganosa, abusiva,
enriquecimento sem justa causa, fraude ao consumidor,
em suma, conduta incompatível com a boa-fé, sem
deslembrar a mácula a transparência.

. A Requerida não comunicou como deveria os


consumidores, fornecendo informações vagas,
insuficientes, implícitas e imprecisas, quer sobre o
consentimento, quer sobre o aviso prévio da cláusula
da renovação automática.

. Vejamos entendimento jurisprudencial:

EMENTA: CONTRATO DE TELEFONIA. RESCISÃO.


COBRANÇA MULTA DE FIDELIZAÇÃO. ALTERAÇÃO DE
PLANO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. - Não
comprovando a empresa de telefonia móvel que a
multa por rescisão do contrato, bem como, a
exigência de nova fidelização por alteração de
plano, tem previsão contratual, a cobrança da
multa rescisória se mostra inexigível - É
abusiva a prática de imposição da cláusula
penal inerente à fidelização, pois priva o
consumidor do direito de por fim à relação
contratual, colocando o prestador de serviço em
vantagem exagerada, prática vedada pelo inciso
I do artigo 39 do Código de Processo Civil,
ensejando em nulidade de pleno direito (artigo
51, inciso VI e § 1º). (TJ-MG - AC:
XXXXX50430361001 MG, Relator: Luiz Carlos Gomes
da Mata, Data de Julgamento: 16/05/2019, Data
de Publicação: 24/05/2019)

Classedo Processo: 20100610028495ACJ -


(0002849-09.2010.8.07.0006 - Res. 65 CNJ)

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Registro do Acórdão Número: 501390 Data de
Julgamento: 03/05/2011 Órgão Julgador:
2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do
Distrito Federal Relator: FERNANDO ANTONIO
TAVERNARD LIMA Data da Intimação ou da
Publicação: Publicado no DJE : 05/05/2011 .
Pág.: 395 Ementa: CONSUMIDOR. MÁ PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO DE "INTERNET" BANDA LARGA. RESCISÃO
CONTRATUAL. MULTA POR FIDELIZAÇÃO INCABÍVEL.
(...) III. NÃO DESPONTA MÁ-FÉ DAS ALEGAÇÕES DO
APELADO NO SENTIDO DE QUE, DE FATO, OBTEVE UMA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO INADEQUADA E
INSATISFATÓRIA. IV. E IMPOR A "FIDELIZAÇÃO"
PARA QUEM NÃO ESTÁ SATISFEITO COM O SERVIÇO
OFERECIDO IMPLICA EXIGIR UMA OBRIGAÇÃO
MANIFESTAMENTE DESPROPORCIONAL, DE TAL ORDEM
QUE A EXIGÊNCIA, PARA CANCELAMENTO DO CONTRATO,
DO PAGAMENTO DA MULTA SOB TAL RUBRICA MOSTRA-SE
DESPROPORCIONAL AO CASO CONCRETO. O CONSUMIDOR
NÃO SE PODE VER OBRIGADO A MANTER UM VÍNCULO
JURÍDICO NEGOCIAL QUANDO AS CONDIÇÕES NÃO
ATENDEM OS SEUS INTERESSES, DAÍ A PERFEITA
PLAUSIBILIDADE DE SE DECLARAR A RESCISÃO
CONTRATUAL SEM A COBRANÇA DA MULTA DE
FIDELIDADE (CLÁUSULA ABUSIVA - LEI 8.078/90,
ART. 6º, INCISO VI, C/C ARTS. 14 E 51, § 1º,
INCISO III). (...) RECURSO IMPROVIDO. UNÂNIME.

DIREITO DO CONSUMIDOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE


TELEFONIA. APELAÇÃO CÍVEL EM NOMINADA “AÇÃO DE
DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULA C/C
CANCELAMENTO DE COBRANÇA DE MULTA DE FIDELIDADE
C/C PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER
ANTECIPADO PARA A SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE”.
SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA PARA DECLARAR
INDEVIDA E INEXIGÍVEL A MULTA DE FIDELIZAÇÃO.
RECURSO DA PARTE RÉ. CLÁUSULA DE PERMANÊNCIA –
24 MESES RENOVADOS AUTOMATICAMENTE POR MAIS 24
MESES. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO QUE FOI OPORTUNIZADO AO CONSUMIDOR
A CONTRATAÇÃO PELO PERÍODO DE 12 MESES –
PREVISÃO EXPRESSA NO ART. 59 DA RESOLUÇÃO Nº
632/2014-ANATEL. CLÁUSULA INSERIDA NO CONTRATO
DE ADESÃO QUE CONTÉM REDAÇÃO CONFUSA E AMBÍGUA
A RESPEITO DOS PRAZOS E CONDIÇÕES DOS SERVIÇOS
CONTRATADOS.AUTOR QUE REALIZOU A PORTABILIDADE
DAS LINHAS TELEFÔNICAS QUANDO FINDOS OS 24
PRIMEIROS MESES (PRAZO MÍNIMO DE FIDELIDADE) –
OFENSA AO DIREITO BÁSICO DO CONSUMIDOR À
INFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA A RESPEITO DOS
PRAZOS E CONDIÇÕES DOS SERVIÇOS CONTRATADOS –
INTERPRETAÇÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE
DEVE SER FEITA DE MODO MAIS FAVORÁVEL À PARTE
CONSUMIDORA – INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 6º,
INCISO III, E 47, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – DÉBITOS INEXIGÍVEIS. MULTA DE
FIDELIZAÇÃO AFASTADA. SENTENÇA MANTIDA.
SUCUMBÊNCIA RECURSAL – MAJORAÇÃO DA VERBA
HONORÁRIA FIXADA ANTERIORMENTE – INCIDÊNCIA DO
§º 11 DO ART. 85 DO CPC/2015. RECURSO CONHECIDO
E NÃO PROVIDO. (TJPR - 6ª C. Cível - XXXXX-

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33.2020.8.16.0001 - Curitiba - Rel.:
DESEMBARGADOR RENATO LOPES DE PAIVA - J.
04.10.2021) Acórdão I – RELATÓRIO

. Ante a cobrança indevida – impõe-se o


ajuizamento da presente ação, buscando: a) reconhecer
a nulidade da cobrança da multa de R$ 1.916,23 (mil
novecentos e dezesseis reais e vinte e três centavos),
tendo em vista que a vigência era de 12+12 meses,
sendo finalizada em Novembro de 2018, não cabendo,
portanto a multa aplicada, pois o período de vigência
foi devidamente respeitado.

II.2DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

. Situa-se a relação jurídica posta em juízo no


espectro do direito do consumidor.

. A AUTORA é consumidora, na medida em que


adquiriu produto/serviço como destinatária final (art.
2º do Código de Defesa do Consumidor).

. A RÉ, por sua vez, é evidentemente


fornecedora, subsumindo-se à definição constante do
art. 2º do CDC.

. Nessa ordem de ideias, mister que se


determine a inversão do ônus da prova, nos termos do
art. 6º, inc. VIII, do CDC, ante a hipossuficiência da
AUTORA diante da RÉ, notável companhia telefônica,
indubitavelmente mais apta a produzir provas
pertinentes à sua atividade.

8
. Não poderia ser de outro modo,eis que a RÉ
detém amplo acesso aos dados que interessam à presente
demanda - vide os protocolos gerados.

. É por isso que, a despeito da farta


documentação que acompanha esta petição inicial,
incumbe a RÉ a produção das provas desconstitutivas do
direito da AUTORA.

II.3. DA RESPONSABILIDADE CONSUMERISTA

. Segundo a solução unitária de Marton, seguida


por autores do porte de Sérgio Cavalieri Filho,
responsabilidade é o dever jurídico sucessivo
decorrente da violação de um dever jurídico
preexistente, originário (ilicitude).

. Já o dever jurídico, que pressupõe direito


correspondente, é a conduta imposta direta ou, nos
casos dos negócios jurídicos, indiretamente, pela lei.

. A responsabilidade pode ser subjetiva e


objetiva. À primeira subjaz a culpa como fundamento; a
segunda prega a teoria do risco, acompanhada da
extensão “criado”, expressão adotada por parte da
doutrina.

. Nas relações modernas, com o avanço


tecnológico, a quantidade de danos desprovidos de
conduta material humana e a contingência das coisas
inanimadas fizeram com que a culpa, enquanto
pressuposto da responsabilidade, perdesse seu lugar
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absoluto, para predominar, no ordenamento jurídico
pátrio hodierno, a responsabilidade objetiva.

. Nas relações consumeristas, a fragilidade


financeira e probatória dos consumidores impôs a
adoção da responsabilidade objetiva como medida
assecuratória da indenização justa, eximindo-os da
prova de culpa do fornecedor, tornando-a inócua para
sua responsabilização.

. Esse raciocínio jurídico desembocou no art.


14 do Código de Defesa do Consumidor, que preceitua:

 Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

. In casu, não é preciso se deter muito para


evidenciar o dever jurídico infringido pela RÉ e o
direito correlato violado, tendo em vista o
cancelamento das linhas devido à falha na prestação
dos serviços e a cobrança de multa que é totalmente
indevida e abusiva.

III. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se:

a) A citação da RÉ, para resposta no prazo legal,


sob pena de incidirem sobre si os efeitos da
revelia;

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b) seja reconhecida a nulidade da cobrança da
multa de R$ 1.916,23 (mil novecentos e
dezesseis reais e vinte e três centavos), tendo
em vista que a vigência era de 12+12 meses,
sendo finalizada em Novembro de 2018, não
cabendo, portanto a multa aplicada, pois o
período de vigência foi devidamente respeitado,
ressaltando que tal vigência é considerada
abusiva;

c) A designação de audiência de conciliação;

d) A produção de todas as provas em direito


admitidas.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.916,23 (mil, novecentos


e dezesseis reais e vinte e três centavos).

Nestes termos, pede deferimento.

Vitória, 19 de novembro de 2022.

RAPHAEL T. C. GHIDETTI THIAGO DE SOUZA PIMENTA


OAB/ES 11.513 OAB/ES 11.045

FELIPE SANTOS PEREIRA MARIANA S. G. JACCOUD


OAB/ES 17.972 OAB/ES 25.642

THASSYLA SUNDERHUS FERREIRA


OAB/ES 36.851

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