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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000795020

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1001052-04.2020.8.26.0102, da Comarca de Cachoeira Paulista, em que é
apelante/apelado PAG SEGURO INTERNET LTDA, é apelado/apelante MATEUS
DE OLIVEIRA LOMBARDI (JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso do réu e deram provimento ao recurso do autor.V.U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MENDES


PEREIRA (Presidente sem voto), RAMON MATEO JÚNIOR E ELÓI ESTEVÃO
TROLY.

São Paulo, 29 de setembro de 2022.

ACHILE ALESINA
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº: 25.675


Comarca: Cachoeira Paulista – 2ª Vara
Apelante/Apelado: Pag Seguro Internet Ltda
Apelado/Apelante: Mateus de Oliveira Lombardi

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E


MORAL – Sentença de parcial procedência - Recurso do
réu e Recurso adesivo do autor.

RECURSO DO RÉU Dano decorrente de negócio jurídico


fraudado, consistente em transferência bancária via PIX
Golpe perpetrado por terceiro Banco réu não demonstrou
a regularidade da abertura da conta corrente utilizada
pelo fraudador para aplicação do golpe - Assunção de
risco do prestador de serviço bancário para utilização da
plataforma Pix - Falha na prestação dos serviços
evidenciada - Responsabilidade objetiva da instituição
financeira - Fortuito interno - Súmula nº 479 do STJ -
Dever de indenizar pelos danos materiais Precedentes
Recurso não provido.

RECURSO ADESIVO DO AUTOR - Falha na prestação


de serviço Dano moral caracterizado - "Quantum"
indenizatório arbitrado em R$ 8.000,00, que se mostra
adequado para cumprir com sua função penalizante, sem
incidir no enriquecimento sem causa do autor
Observância dos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade Precedentes Recurso provido.

SUCUMBÊNCIA REVISTA Deverá o réu arcar com as


custas, despesas processuais e honorários advocatícios
fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos
do art. 85, § 2º do CPC.

DISPOSITIVO - Recurso do réu não provido e recurso do


autor provido.

Apelação Cível nº 1001052-04.2020.8.26.0102 -Voto nº 25.675 - psmm 2


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Recursos à r. Sentença de fls. 134/138 proferida pela MMa.


Juíza de Direito Dra. Vanessa Pereira da Silva da 2ª Vara da Comarca de
Cachoeira Paulista, que nos autos da ação de indenização por danos
materiais e morais, julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para
condenar a ré a restituir ao autor o valor de R$ 3.800,00 e ambas as partes
a arcarem, proporcionalmente, com as custas, despesas processuais e
honorários advocatícios fixados em 10% da diferença entre o valor da causa
e o da condenação em favor da ré e fixados em 10% sobre o valor da
condenação em favor do autor.

Recorrem o réu e, na forma adesiva, o autor, ambos


trazendo argumentos que entendem socorrer seus posicionamento.

Recursos regularmente processados e respondidos.

É o relatório.

Trata-se de ação de indenização por danos materiais e


morais ajuizada por Mateus de Oliveira Lombardi contra Pag Seguro Internet
Ltda.

Narra a inicial que, em 23/09/2020, o autor sofreu golpe


financeiro no valor de R$ 3.800,00 perpetrado por Guilherme Eduardo
Menezes Vieira que, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram, clonou
o perfil da irmã do requerente para se fazer passar por ela.

Afirma que o golpista simulou urgência e solicitou a


transferência do valor para pagamento de um fornecedor.

Aduz que para socorrer a irmão emprestou o montante do


amigo Gabriel Neves da Silva e, logo que houve a transferência, recebeu
um comprovante de transferência bancária para Guilherme Eduardo
Menezes Vieira.

Relata que após pouco tempo o golpista solicitou, ainda, o


valor de R$ 5.800,00, momento em que o autor desconfiou de que havia
sido vítima de crime.

Alega haver entrado em contato com seu banco para pedir o


cancelamento da transferência, porém não foi possível, sendo orientado a
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entrar em contato com o Banco Pagseguro o qual que afirmou que não
devolveria o dinheiro, eis que já havia sido sacado pelo meliante.

Sustenta que o réu contribuiu para o resultado, pois mesmo


ciente da fraude informada, não impediu a movimentação da conta dita
suspeita.

Sofreu danos morais.

Requer a condenação do réu a ressarcir o valor de R$


3.800,00 e a pagar o montante de R$ 8.000,00 a título de danos morais.

Às fls. 43 foram concedidos os benefícios da assistência


judiciária gratuita ao autor.

Citado (fls. 47), o réu apresentou contestação às fls. 48/62


arguindo, preliminarmente, inaplicabilidade do CDC, ilegitimidade passiva e
falta de interesse de agir.

No mérito, afirma não haver falha na prestação do serviço e


que o autor colaborou com a ocorrência dos fatos ao transferir quantia
elevada para conta de terceiro, sem maiores desconfianças.

Afirma que na hipótese há culpa exclusiva do consumidor ou


de terceiros, não havendo que se falar na responsabilidade do réu.

Nega do dever de indenizar.

Requer a improcedência dos pedidos.

Sobreveio réplica às fls. 72/78.

Instadas a especificarem as provas a serem produzidas (fls.


79), a parte ré informou não possuir mais provas (fls. 82), e a parte autora
solicitou a expedição de ofícios para as empresa Nubank e Pagseguro (fls.
83/87).

Por decisão de fls. 92/96 as preliminares arguidas em


defesa foram afastadas e foi deferida a expedição de ofícios.

Após a juntada dos links com áudios das gravações de

Apelação Cível nº 1001052-04.2020.8.26.0102 -Voto nº 25.675 - psmm 4


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atendimento ao cliente, as partes se manifestaram às fls. 129/130 e


131/133.

Às fls. 134/138 foi prolatada a r. Sentença, nos termos


acima relatados.

Recurso do réu às fls. 141/158.

Em suas razões alega, em síntese, que não há nexo causal


entre o dano alegado pelo autor e a autuação da empresa apelante.

Afirma que não há falha na prestação do serviço, vez que os


criminosos acessaram perfil de dados personalíssimos da parte apelada.

Aduz a ocorrência de culpa exclusiva do consumidor e que


não praticou qualquer ato ilício a ensejar o dever de indenizar.

Requer a reforma do decidido.

Contrarrazões às fls. 191/201.

Recurso adesivo do autor às fls. 213/223.

Em suas razões, afirma, em suma, que na presente hipótese


estão presentes os requisitos caracterizadores do dano moral.

Aduz que a ré não prestou a devida assistência ao autor e


que poderia ter impedido o saque do valor da conta suspeita.

Requer a reforma do decidido para que a ré seja condenada


a pagar o valor de R$ 8.000,00 a título de danos morais.

Contrarrazões às fls. 227/230.

É a síntese do necessário.

Do Recurso do Réu

De proêmio, insta ponderar que ao caso em apreço se


aplicam as disposições do Código de Defesa do Consumidor, em
consonância com a Súmula nº 297 do STJ.

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O autor alega que foi vítima de golpe perpetrado por terceira


pessoa que detém conta corrente junto a ré nº 15924087.8, agência 0001
de titularidade de Guilherme Eduardo Menezes Vieira, CPF 031.451.541-09,
vez que após efetuar o depósito para essa conta, no valor de R$ 3.800,00,
acreditando ter sido solicitado por sua irmã, a qual teve o perfil e dados
clonados de rede social.

Afirma que ao perceber que a transferência da quantia foi


direcionada para conta de estelionatário, entrou em contato com o banco
réu a fim de bloquear a movimentação da quantia, porém sem êxito.

No bojo da contestação (fls. 48/62), o banco apelado trouxe


tela sistêmica dos dados cadastrais da pessoa que seria titular da conta
bancária afirmando que não havia possibilidade de suspeita quanto à
finalidade da conta em nome de fraudador, o que, todavia, não é suficiente
para comprovar a sua diligência e a segurança de seu sistema ou mesmo a
culpa exclusiva do autor, ônus que lhe é atribuído.

Dessa forma restou evidente a falha na prestação de


serviços do banco réu ao permitir a abertura de conta corrente por terceiro
estelionatário, possibilitando a utilização da conta para a prática de crime
que culminou na transferência de valor para a referida conta.

Os sistemas das instituições financeiras podem ser seguros,


mas isto não significa serem infalíveis, tanto que as fraudes bancárias
existem e não são poucas.

Ademais, cabe às instituições financeiras zelar pela


segurança das operações bancárias realizadas por seus clientes, sob
pena de, não o fazendo, incorrer em falha na prestação dos serviços
contratados.

Além disso, o entendimento da Segunda Seção do


Superior Tribunal de Justiça, externado no julgamento do REsp.
1.199.782- PR, relatado pelo Min. Luís Felipe Salomão e submetido ao rito
dos recursos repetitivos (art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973):

"Para efeitos do art. 543 C do CPC: As instituições bancárias


respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou
delitos praticados por terceiros como, por exemplo,
abertura de conta corrente ou recebimento de empréstimos
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mediante fraude ou utilização de documentos falsos, porquanto


tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento,
caracterizando-se como fortuito interno".

E, ainda, da Súmula nº 479, do C. Superior Tribunal de


Justiça:

"As instituições financeiras respondem objetivamente pelos


danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias".

Neste sentido, o réu responde objetivamente pelos danos


causados decorrentes de falhas na prestação dos serviços bancários.

E embora o banco apelado afirme ter atuado com diligência


e cautela no momento da abertura da conta bancária utilizada para
perpetração da fraude, deixou de juntar aos autos os documentos hábeis e
suficientes a comprovar a higidez do ato da abertura das contas, a teor do
que determina o Banco Central, por meio das Resoluções nº 2.025/1993 e
4.753/2019:

"Art. 3º As informações constantes da ficha-proposta, bem como


os elementos de identificação e localização do proponente, devem
ser conferidos à vista de documentação competente, observada
a responsabilidade da instituição pela verificação acerca da
exatidão das informações prestadas". (Resolução nº
2.025/1993) controles que permitam verificar e validar a identidade
e a qualificação dos titulares da conta e, quando for o caso, de
seus representantes, bem como a autenticidade das informações
fornecidas pelo cliente, inclusive mediante confrontação dessas
informações com as disponíveis em bancos de dados de caráter
público ou privado." (Resolução nº 4.753/2019).

Não bastasse isso, infralegalmente, no que diz respeito ao


denominado PIX, o fornecedor (instituição financeira) ao aderir ao serviço
declara ciência dos riscos da utilização de tal plataforma, valendo destacar o
risco operacional, consoante art. 88 do Regulamento Anexo à Resolução
BCB nº 01/2020:

“Art. 88. Ao aderir ao Pix, os participantes declaram estar cientes de


que, em decorrência da natureza de suas atividades, estarão
sujeitos, em especial, aos seguintes riscos:

I - operacional, conforme definido no inciso I do art. 2º da Circular nº


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3.681, de 4 de novembro de 2013, e regulamentação posterior;”.

A Circular nº 3.681/2013 acima referida dispõe em seu art.


2º:

“Para os efeitos desta Circular, define-se:

I - risco operacional: possibilidade de ocorrência de perdas


resultantes dos seguintes eventos:

a) falhas na proteção e na segurança de dados sensíveis


relacionados tanto às credenciais dos usuários finais quanto a
outras informações trocadas com o objetivo de efetuar transações
de pagamento;

b) falhas na identificação e autenticação do usuário final;

c) falhas na autorização das transações de pagamento;

d) fraudes internas(...)”

Logo, inclusive, com fundamento no art. 33, inciso V, do


Regulamento do Pix (Resolução BCB nº 01/2020), é dever do fornecedor
“responsabilizar-se por fraudes no âmbito do Pix decorrentes de falhas nos
seus mecanismos de gerenciamento de riscos”.

Portanto, diante da inversão do ônus da prova, quanto à


falha na prestação do serviço decorrente de possível estelionato de que foi
vítima o autor, que cuidou de formalizar a ocorrência policial correlata, o
risco próprio da prática empresarial do apelado, impõe o raciocínio de que a
fraude exemplificou fortuito interno, inerente à atividade desenvolvida e que
não exclui a responsabilidade da instituição financeira em indenizar o
consumidor

Cabe ressaltar que o sucesso de empreitada criminosa


ocorreu apenas porque o banco apelado negligenciou a exigência e
conferência da documentação apresentada no ato da abertura da conta,
permitindo ao fraudador que recebesse depósitos e movimentasse
quantias de dinheiro oriundas de golpes.

Dessa forma, diante da responsabilidade objetiva e do


risco do negócio, correta a r. Sentença ao reconhecer o dever da

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instituição financeira ré em restituir ao autor a quantia depositada na


referida conta bancária que serviu para a prática do ilícito, corrigida desde
o desembolso e acrescida de juros desde a citação.

Nesse sentido, é o entendimento desta E. Corte


Bandeirante:

"Apelação. Ação de restituição de valores cumulada com


reparação por danos morais. Autora vítima de fraude de
estelionato. Sentença de parcial procedência concedendo os
danos materiais, mas negando os danos morais. Recurso da
empresa Ré. Pagamento efetuado via PIX para conta de instituição
financeira de responsabilidade da empresa Ré que é oriunda de
fraude, através de cadastro em nome de terceira pessoa também
vítima de estelionato. Falha na prestação de serviços. Situação
que comprova a total ausência de cuidado da instituição
financeira em fazer conferência criteriosa e atenta da
documentação do novo correntista como forma de evitar a prática
de fraudes.Responsabilidade objetiva da instituição financeira por
fortuito interno relativo a fraudes e delitos. Inteligência da Súmula
479 do STJ. Dano material mantido. Pedido para que os honorários
advocatícios de sucumbência incidam sobre o valor da
condenação. Procedência em razão do disposto no art. 85, § 2º.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO." (TJ-SP, AP
1000259-21.2021.8.26.0073, Relator: L. G. Costa Wagner, Data de
Julgamento: 29.10.2021, 34a Câmara de Direito Privado).

"Ação de restituição de valores Tentativa de aquisição de veículo


com a transferência de valores para conta corrente aberta por
fraudador Banco réu não demonstrou a regularidade
da abertura da conta corrente utilizada pelo fraudador para
aplicação do golpe - Falha na prestação dos serviços
evidenciada Responsabilidade objetiva da instituição financeira
Fortuito interno Súmula 479 STJ Dever de indenizar pelos danos
materiais Recurso negado". (TJ-SP, AP 1000833-83.2016.8.26.0634,
Relator: Francisco Giaquinto, Data de Julgamento: 06/08/2018, 13a
Câmara de Direito Privado).

Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso do


réu.

Do Recurso Adesivo do Autor

Pretende o autor a condenação do réu a pagar indenização


por danos morais no valor de R$ 8.000,00.

Pois bem.

Insta ponderar que os danos morais, no caso em análise,

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decorre da falha na prestação de serviço do réu, consoante análise acima


exposta.

Sob esse aspecto, a indenização por danos morais não


pode ser exagerada a ponto de causar enriquecimento a quem deve ser
indenizado e nem fixada em valor ínfimo e insuficiente ao fim a que se
destina que é o de evitar e desencorajar futuras desídias e servir como
reparação pelos dissabores experimentados.

Todavia, no que se refere ao quantum indenizatório,


assinale-se que, a respeito do tema, é pacífica a jurisprudência dos nossos
Tribunais Superiores, no sentido de que “a indenização por dano moral deve
atender a uma relação de proporcionalidade, não podendo ser insignificante
a ponto de não cumprir com sua função penalizante, nem ser excessiva a
ponto de desbordar da razão compensatória para a qual foi predisposta”
(STJ, REsp 318379-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.9.2001).

E:

“RESPONSABILIDADE CIVIL DANO MORAL VALOR DA


INDENIZAÇÃO. 1. O valor do dano moral tem sido enfrentado no
STJ com o escopo de atender a sua dupla função: reparar o dano,
buscando minimizar a dor da vítima, e punir o ofensor para que não
reincida. 2. Posição jurisprudencial que contorna o óbice da Súmula
7/STJ, pela valoração jurídica da prova. 3. Fixação de valor que não
observa regra fixa, oscilando de acordo com os contornos fáticos e
circunstanciais. 4. Recurso especial conhecido em parte e, nessa
parte, provido”. (REsp nº 550317/RJ, registro nº 2003/0113870-9 , 2ª
Turma, Relatora Min. Eliana Calmon, j. em 07/12/2004, DJe de
13/06/2005).

Tanto assim que o autor teve que se socorrer ao Judiciário


para que os seus direitos fossem reconhecidos diante da indevida
movimentação em sua conta bancária.

Dessa forma, não há que se falar em mero aborrecimento.

Assim, seguindo tais critérios, a indenização por danos


morais em R$ 8.000,00 (oito mil reais), mostra-se suficiente para compensar
os danos suportados pelo autor, em observância aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.

Apelação Cível nº 1001052-04.2020.8.26.0102 -Voto nº 25.675 - psmm 10


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Sobre a verba indenizatória deverá incidir correção


monetária a partir da publicação deste v. acórdão, ou seja, do arbitramento
(STJ, Súmula 362) conforme os índices da tabela prática deste Tribunal, e
juros de moratórios de 1% ao mês a contar da citação.

A propósito, "mutatis mutandis" tem-se que a indenização


arbitrada encontra-se dentro dos parâmetros utilizados por esta C. Câmara:

"SEQUESTRO RELÂMPAGO. TRANSAÇÕES BANCÁRIAS NÃO


RECONHECIDAS PELO AUTOR. Ação declaratória de inexigibilidade
de débito cumulada com devolução de valores e indenização por
dano moral julgada improcedente, com consequente apelo do autor.
Utilização indevida de dados bancários por terceiros fraudadores.
Transações realizadas que fugiam do perfil do cliente. Sistema de
detecção de fraudes da instituição bancária falho, pois deveria ter
acusado a realização das transações ilícitas e impedido as suas
efetivações. Má prestação dos serviços bancários caracterizada.
Responsabilidade objetiva do banco. Aplicação dos artigos 186, do
Código Civil, e 14 do Código de Defesa do Consumidor. Inteligência
da súmula 479 do Colendo Superior Tribunal de Justiça. Débito
inexigível, com dever de devolução dos valores relativos ao PIX,
pagamento de boleto e encargos moratórios. DANO MORAL.
Situação vivenciada pelo autor que não se traduz em meros
aborrecimentos ou simples dissabores. Descontos indevidos e
anotação de seu nome em cadastro de inadimplentes, observada a
ausência de anotações preexistentes. Dano "in re ipsa". "Quantum"
indenizatório fixado em R$ 10.000,00 (dez mil reais), em atenção às
circunstâncias que cercam o caso e considerados o caráter punitivo
da medida, o poderio econômico da instituição financeira e os
princípios da equidade, razoabilidade e proporcionalidade.
Sucumbência a cargo do réu. Ação parcialmente procedente.
Sentença reformada. Apelação provida. (TJ-SP - AC:
10140959620218260223 SP 1014095-96.2021.8.26.0223, Relator:
JAIRO BRAZIL, Data de Julgamento: 16/08/2022, 15ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 16/08/2022).

"Apelação. Ação declaratória de inexigibilidade de débito cumulada


com indenizatória. Sentença de parcial procedência. Recursos das
partes. 1. Inépcia recursal, por ofensa ao princípio da dialeticidade,
afastada. Razões de apelação do autor que atacam os fundamentos
da r. sentença. 2. Cerceamento de defesa não configurado.
Adequado julgamento antecipado (art. 355, inc. I, do CPC). Questão
controvertida esclarecida nos autos. 3. Golpe do motoboy.
Responsabilidade objetiva da instituição financeira por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias (S. 479 do STJ). Falha na prestação
do serviço (art. 14, § 1º do CDC). Fragilidade do sistema de
segurança de preservação dos dados pessoais do cliente e de
informações de seu sistema, bem como em relação à eficaz
verificação de operações que destoam do perfil de uso da parte
autora. Débito inexigível, determinando-se o cancelamento da
negativação em nome do autor, devendo o réu, por conseguinte,
emitir nova fatura, sem a incidência dos valores declarados

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inexigíveis e respectivos encargos, ou, eventualmente, na hipótese


de pagamento, restituir tais valores, de forma simples, bem como os
juros e demais encargos correspondentes que eventualmente
tenham sido cobrados em razão de tais transações. 4. Dano moral.
Ocorrência. Indevida inclusão de nome em cadastro de
inadimplentes. Dano indenizável 'in re ipsa'. Valor arbitrado em R$
10.000,00, como sugeriu o autor, em consonância com os princípios
da razoabilidade e proporcionalidade, bem como com os
precedentes desta Câmara. Montante a ser corrigido desde o
arbitramento (S. 362 do STJ), com juros de mora a partir da citação (
CC, art. 405), por se tratar de responsabilidade contratual. Sentença
reformada. Recurso do autor provido. Recurso do réu desprovido".
(TJ-SP - AC: 10323855920218260224 SP 1032385-59.2021.8.26.0224,
Relator: Elói Estevão Troly, Data de Julgamento: 27/07/2022, 15ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 27/07/2022).

Ante o exposto, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso adesivo


do autor.

Por fim, a sucumbência deverá ser revista, em razão do


provimento do recurso do autor.

O réu deverá arcar com o pagamento integral das custas e


despesas processuais, bem como honorários advocatícios fixados em 10%
sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, §2º do CPC.

Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso do réu


e DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso adesivo do autor.

ACHILE ALESINA

Relator

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