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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084043926 (Nº CNJ: 0042751-94.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA.
EMPRÉSTIMO CONTRATADO COM PAGAMENTO
POR MEIO DE BOLETO BANCÁRIO. DESCONTO
DE PARCELAS EM CONTA CORRENTE. AUSÊNCIA
DE AUTORIZAÇÃO. DANO MORAL
CONFIGURADO.
Mostra-se indevido o desconto não autorizado de parcelas
em conta corrente na qual o apelado recebe seu salário,
tendo sido contratado empréstimo com pagamento por meio
de boleto bancário. No caso concreto, em razão dos
descontos incidirem sobre verba alimentar imprescindível ao
sustento do autor, sem previsão contratual, configura-se
hipótese de dano moral, bem como de repetição do indébito,
conforme determinado em sentença. Quantum indenizatório
minorado.
APELO PROVIDO EM PARTE.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70084043926 (Nº CNJ: 0042751- COMARCA DE SÃO FRANCISCO DE


94.2020.8.21.7000) PAULA

BANRISUL APELANTE

VANDERLEI ELIAS MACHADO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao apelo.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA E DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO.
Porto Alegre, 27 de maio de 2020.

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GJWH
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2020/CÍVEL

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Trata-se de apelação cível interposta por BANRISUL contra a sentença que


julgou procedente a ação declaratória de ilegalidade de retenção salarial ajuizada por
VANDERLEI ELIAS MACHADO, tendo a decisão o seguinte dispositivo:
“Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido, na
presente ação, ajuizada por Vanderlei Elias Machado
contra Banco do Estado do Rio Grande do Sul, para tornar
definitiva a tutela provisória deferida e declarar a
ilegalidade da retenção do salário do autor para o
pagamento do débito mencionado na contestação. Condeno
o réu à devolução do valor indevidamente retido, corrigido
pelo IGP-M desde cada desconto e acrescidos de juros
legais moratórios. Condeno o réu ao pagamento de
compensação por dano moral, arbitrada em R$ 19.960,00.
O valor será corrigido pelo IGP-M a contar do presente
arbitramento e sofrerá o acréscimo de juros legais
moratórios, a contar do desconto indevido.

Condeno o réu ao pagamento das custas do processo, bem


como honorários advocatícios, arbitrados em 10% do valor
da condenação (CPC, art. 85, § 2º).

P. R. I.”

Em suas razões recursais, o Banco sustenta, em síntese, a legitimidade da


contratação e a ausência de qualquer ato ilícito que justifique a indenização por danos
morais, bem como a repetição do indébito. Argumenta que o apelado não nega a dívida e que
tinha ciência de que seria cobrado pela instituição financeira. Aponta ainda que não merece
prosperar a alegação de que a conta tem natureza salarial, uma vez que é utilizada para
pagamento de diversos gastos. Aduz que a cláusula 9ª autoriza a retenção salarial. Irresigna-
se com a excessividade do valor arbitrado a título de danos morais. Requer o provimento do

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apelo para que seja julgada improcedente a demanda, afastando-se tanto a condenação a
repetição do indébito quanto ao pagamento de indenização por danos morais.
Subiram os autos, com contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.

Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para


observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados em sua integralidade.

É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Eminentes Colegas.

Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço do apelo.


Merece ser parcialmente confirmada a sentença proferida pela Magistrada a
quo, cujos fundamentos vão aqui adotados como razões de decidir, com a licença de sua
ilustre Prolatora, a fim de se evitar tautologia, nos seguintes termos:

“2. Nas fls. 41/43, o réu juntou cópia de instrumento particular de confissão
de dívida, no valor de R$ 3.534,77. O pagamento será efetuado através de boletos
bancários, conforme cláusula sétima. O contrato foi firmado em 05/11/2015.

Não há, porém, autorização do para o débito em conta-corrente.


De acordo com o art. 833, IV, do CPC/2015, são impenhoráveis “os
vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de
aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o”.

Por sua vez, conforme disposto no art. 7º, inciso X, da CF/88, o salário do
trabalhador tem caráter alimentar e inviolável, pois se destina ao seu sustento e ao de sua
família.
Autorizar a retenção de salários para pagamento de dívidas coloca os
bancos em situação privilegiada, especialmente porque o servidor público não possui
alternativa para receber o seu salário. No caso do Banrisul, existe até mesmo convênio

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entre o banco e o Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se, portanto, de conduta abusiva, ato
ilícito, nos termos do art. 187, do Código Civil.
Por sua vez, o pagamento depende do animus solvendi, vontade de solver
determinada dívida, sem o qual a conduta do credor constitui apropriação indevida.
O débito em conta-corrente depende de contratação, razão pela qual os
descontos são claramente abusivos e os valores devem ser restituídos.
Yussef Said Cahali assinala que dano moral é “tudo aquilo que molesta
gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua
personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado”. De acordo com
Carlos Alberto Bittar: "qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da
subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato
violador, havendo-se como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos das
personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou o da própria
valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração
social)"

O dano moral surge em decorrência de um ato ilícito, que venha a causar


fortes sentimentos negativos em qualquer pessoa de senso comum, tais como vexame,
constrangimento, humilhação, dor, sendo que, havendo simples transtorno ou aborrecimento
e estando ausente uma situação que produza no consumidor abalo da honra ou sofrimento
na esfera de sua dignidade, não há falar em condenação por dano moral.
No caso, o ato ilícito é flagrante. O comportamento contratual do réu violou
claramente o princípio da boa-fé objetiva, com vista ao desconto de valores dos quais tinha
depósito sem autorização do correntista.

De acordo com Caio Mário da Silva Pereira , na reparação do dano moral


estão conjugados dois motivos ou concausas: 1) punição ao infrator pelo fato de haver
ofendido um bem jurídico da vítima, posto que imaterial; 2) pôr nas mãos do ofendido uma
soma que não é pretium dolares, porém o meio de lhe oferecer a oportunidade de conseguir
uma satisfação de qualquer espécie, seja de ordem intelectual ou moral, seja mesmo de
cunho material".

No caso dos autos, fixo a indenização no equivalente a vinte salários-


mínimos, verba que cumpre adequadamente a função sanção - compensação.
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Nos termos da Súmula nº 54, do STJ: "Os juros moratórios fluem a partir do
evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual." Tal entendimento encontra-se
de acordo com o art. 398, do Código Civil: "Nas obrigações provenientes de ato ilícito,
considera-se o devedor em mora, desde que o praticou."
Considera-se, para tanto, a data do desconto indevido.”

Na hipótese dos autos, conforme referido em sentença, o contrato


apresentado não contém autorização expressa para desconto das parcelas em conta corrente.
Logo, a situação narrada configura espécie de penhora administrativa, o que
se mostra repreensível, sobretudo considerando que se trata da conta em que o apelado
recebe seu salário.

Não se sustenta o argumento de que a Cláusula 9ª 1 autoriza o desconto de


parcelas em conta corrente. Conforme se abstrai da leitura de seu caput sua aplicabilidade se
restringe à hipótese de portabilidade salarial, o que não foi noticiado nos autos.
Importante ressaltar que, embora o valor descontado não se afigure elevado
(R$ 385,77), representa considerável percentual do valor líquido recebido naquele mês (R$
1.259,15).

Assim, no caso concreto, é devida a repetição do indébito, bem como a


condenação do Banco à indenização por danos morais em razão dos descontos realizados no
já reduzido valor líquido percebido pelo autor sem a necessária, obstando a este o acesso a
parcela de verba alimentar necessária à sua subsistência.

Nesse sentido, julgados desta Corte, inclusive desta Câmara:


APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS
BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE ILEGALIDADE
DE RETENÇÃO DE SALÁRIO. AUTORIZAÇÃO
INEXISTENTE. DANO MORAL. - Inexistente autorização

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CLÁUSULA NONA: A alteração pelo Devedor da Instituição Financeira pagadora de sua folha de
pagamento, subsídios, benefícios de aposentadorias e ou pensões, seja pelo Regime Geral ou
Previdência Privada, só poderá ser realizada após a quitação geral das obrigações e acessórios geradas
pelo presente Instrumento Particular de Confissão de Dívida.
PARÁGRAFO ÚNICO: Ocorrendo a alteração prevista no caput e permanecendo saldo devedor da
obrigação, o Devedor, por meio deste Instrumento Particular de Confissão de Dívida, autoriza de
forma expressa e irretratável o débito em sua Conta Registro das parcelas vencidas e vincendas mês a
mês até a liquidação total e geral da obrigação.
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da parte para descontar os valores diretamente dos ativos


na conta corrente, qualquer desconto é ilegal. - A
responsabilidade das instituições financeiras é objetiva,
encontrando fundamento na Teoria do Risco do
Empreendimento, motivo pelo qual somente não serão
responsabilizadas por fato do serviço quando houver prova
da inexistência do defeito ou da culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3º, da Lei n. 8.078/90 -
CDC). Por isso, devem responder por eventuais danos
causados ao cliente em decorrência de falhas
administrativas e/ou fraudes praticadas por terceiros. -
Caso em que caracterizado o ilícito da ré ao descontar
valores da conta em que a parte recebe seus rendimentos,
sem autorização, configurado o dano moral. - O
arbitramento judicial do dano moral deve respeitar critérios
de prudência e equidade, evitando-se que as ações de
indenização por danos morais se tornem mecanismos de
extorsão ou de enriquecimento ilícito, reprováveis e
injustificáveis. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº 70084045798, Décima
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Gelson Rolim Stocker, Julgado em: 30-04-2020)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER
CUMULADA COM REPETIÇÃO DO INDÉBITO E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS. Trata-se responsabilidade civil pelo fato do
serviço fundada na teoria do risco do empreendimento.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DANO MORAL
CONFIGURADO – DESCONTOS EM CONTA CORRENTE
NÃO AUTORIZADOS. Em consonância com o
entendimento sedimentado pelo STJ, vem decidindo este
Colegiado no sentido da validade dos descontos em conta
corrente, desde que haja cláusula expressa que autorize tal
modalidade de pagamento. No caso dos autos, a parte
demandada, além de não ter sequer trazido aos autos
qualquer documento comprobatório da origem da dívida,
não comprovou a existência de autorização expressa da
parte autora para os descontos em conta corrente, a teor do
art. 373, II, do CPC. Assim, consideram-se indevidos os
descontos realizados pelo banco réu, devendo restituir, de
forma simples, à parte autora, sob pena de caracterizar
enriquecimento ilícito. Quanto ao dano moral, decorre
diretamente do abalo de crédito experimentado pela
autora, que se viu, por meses, privada de valores elevados,
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ficando com sua conta corrente com saldo negativo


durante todo o período em que ocorreram os descontos
indevidos, motivo pelo qual persiste o dever da ré em
indenizar os danos daí advindos. VALOR DA
CONDENAÇÃO. O quantum indenizatório deve ser fixado
de acordo com os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, guardando proporção com a ofensa
praticada, sem representar qualquer enriquecimento
indevido. Valor fixado dentro dos parâmetros adotados por
esta Câmara em casos semelhantes. POR MAIORIA,
APELAÇÃO CÍVEL PARCIALMENTE PROVIDA.(Apelação
Cível, Nº 70081348013, Vigésima Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Altair de Lemos Junior,
Julgado em: 29-05-2019)

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAS E MORAIS. DESCONTO INDEVIDO DE
PARCELAS DE MÚTUO EM CONTA-CORRENTE.
ILICITUDE. PAGAMENTO AJUSTADO POR MEIO DE
BOLETOS BANCÁRIOS. PENHORA DE SALÁRIO.
CARACTERIZAÇÃO. REPETIÇÃO DOS VALORES
INDEVIDAMENTE DEBITADOS. CABIMENTO. DANO
MORAL. NÃO OCORRÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS FÁTICOS E
JURÍDICOS. Ato ilícito: É ilícito ao banco valer-se do
salário do correntista que lhe é confiado em depósito, pelo
empregador, para cobrir parcela de mútuo inadimplida, e
que deveria se paga por meio de boleto bancário. Se nem
mesmo ao judiciário é lícito penhorar salários, não será a
instituição privada autorizada a fazê-lo – Precedentes do
Superior Tribunal de Justiça. Dano emergente: Mantida a
sentença que determinou a repetição dos valores
indevidamente descontados da conta-corrente do autor.
Dano moral: Hipótese dos autos em que não restou
comprovada a lesão aos direitos de personalidade do
demandante em razão da cobrança indevida efetuada pela
ré. Ato ilícito que não resultou maiores danos na sua esfera
íntima, como, por exemplo, inscrição nos cadastros
restritivos de crédito. Precedentes desta Câmara. APELOS
DESPROVIDOS. UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº
70078862570, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em:
22-11-2018)

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BANCÁRIOS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO.
RUPTURA DO DEVER DE SEGURANÇA PELA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DANOS MORAIS. DEVER
DE INDENIZAR. Se o requerente, com base em convênio
celebrado entre a instituição financeira demandada e sua
empregadora, autorizou o desconto das parcelas do
empréstimo diretamente em sua folha de pagamento, com o
que concordou o Banco, não pode esse, a seu próprio
talante, passar a debitar as prestações da dívida na conta
do correntista. Hipótese em que, quando da rescisão do
contrato de trabalho, a empresa na qual o autor laborava
descontou dos valores que esse tinha a receber o total das
parcelas vincendas do empréstimo, a fim de repassá-lo a
instituição financeira. Sendo de conhecimento do Banco
que, na extinção do contrato de trabalho, era da empresa e
não do empregado que deveria exigir o montante da dívida
em aberto, constitui evidente abuso de direito o desconto do
valor do empréstimo diretamente na conta do correntista,
assim como o cadastramento do seu nome no rol de
inadimplentes. Eventual ausência de repasse ao Banco, pelo
empregador, do valor descontado em folha de pagamento,
que não pode ser imputada ao autor. Dano moral
configurado na modalidade "in re ipsa". Não comprovado,
pela demandada, a ocorrência de engano justificável,
impõe-se a restituição, em dobro, do valor indevidamente
debitado na conta corrente do autor. Redação do art. 42 do
CDC que não exige a prova da má-fé como pressuposto
para a restituição em dobro. APELO PROVIDO.
UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº 70074835216, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso
Domingos Pereira, Julgado em: 30-08-2017)

Conforme fundamentado pelo Magistrado a quo, inexistindo autorização


para desconto em conta corrente, cabia ao banco realizar a cobrança de forma diversa.
Apropriando-se de verba alimentar sem autorização, como narrado, incorreu a instituição
financeira em ato ilícito passível de reparação.
No que diz respeito ao quantum dos danos morais, importa destacar que o
montante é baseado no prudente arbítrio judicial. Não existe um critério matemático ou uma
tabela para a recompensa do dano sofrido, mas o montante deve representar para a vítima
uma satisfação, capaz de amenizar ou suavizar o mal sofrido.

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Deste modo, o valor não pode ser excessivo a ponto de ensejar o


enriquecimento sem causa, mas também inexpressivo a ponto de ser insignificante.
Diante desses critérios, tenho que o valor fixado pelo Juízo de origem no
montante de R$ 19.960,00 se mostra demasiadamente excessivo, devendo ser minorado para
a importância de R$5.000,00, adequando-se ao parâmetro adotado por esta Câmara em casos
semelhantes.
Pelo exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso apenas para
minorar o valor arbitrado a título de danos morais para R$5.000,00 (cinco mil reais).
Por fim, inaplicável o disposto no art. 85, §11, do CPC, tendo em vista que
não foram arbitrados honorários sucumbenciais na origem em favor do ora apelante e que se
manteve o seu decaimento, modificando-se somente o montante indenizatório.

É o voto.

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).


DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70084043926,


Comarca de São Francisco de Paula: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO.
UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: CARLOS EDUARDO LIMA PINTO

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